CAMPUS III DEPARTAMENTO DE LETRAS E EDUCAÇÃO CURSO: LICENCIATURA PLENA EM LETRAS MIRIAN RAQUEL BESERRA DA SILVA HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E FÁBULAS NA SALA DE AULA: MOTIVANDO A LEITURA E A PRODUÇÃO TEXTUAL GUARABIRA – PB 2011 MIRIAN RAQUEL BESERRA DA SILVA HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E FÁBULAS NA SALA DE AULA: MOTIVANDO A LEITURA E A PRODUÇÃO TEXTUAL Monografia apresentada à Universidade Estadual da Paraíba – Campus III, em cumprimento aos requisitos para obtenção do grau de licenciado em Letras. Orientadora: Profª. Drª. Iara Ferreira de Melo Martins. GUARABIRA-PB 2011 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB S586h Silva, Mirian Raquel Beserra da. Histórias em quadrinhos e fábulas na sala de aula [manuscrito]:. motivando a leitura e a produção textual. / Mirian Raquel Beserra da Silva. – 2011. 45 f.: il. color. Digitado. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Educação, 2011. “Orientação: Profa. Dra. Iara Ferreira de Melo Martins, Departamento de Letras”. 1. Leitura 2. Gêneros textuais 3. Histórias em quadrinhos 4. Fábulas I.. Título. 21. ed. CDD 372.42 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, Luiz Dias e Marluce. Aos meus irmãos: Ozires, Fátima, Teomar e Melque. Ao meu amado noivo, Walason. Aos meus sobrinhos: Itzhak, Déborah, Daniela e a pequena Giuliany Regina. Aos meus colegas professores que amam sua profissão e se dedicam procurando fazer o melhor por seus alunos. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e pela sabedoria que tem me concedido. A Ele a honra, a glória e o louvor. Obrigada por estar comigo e me confortar nos momentos difíceis. Aos meus pais, Luiz Dias e Marluce, pela educação, incentivo e apoio. Vocês presenciaram de perto as minhas dificuldades e as minhas conquistas. Muito obrigada, eu não chegaria até aqui sem a ajuda de vocês. Aos meus irmãos Ozires, Fátima, Teomar e Melque, pelo carinho a mim dedicado e por me ajudar sempre que preciso. Ao meu noivo Walason, pela paciência, carinho, amor, pela ajuda que tem me dado nas digitações dos meus trabalhos e por incentivar a minha caminhada na carreira acadêmica. Obrigada meu amor, você tem sido muito importante na minha vida. Eu te amo! A minha orientadora professora Iara Martins, pelos ensinamentos e dedicação para a concretização desse trabalho. As minhas tias e avós, por torcerem por mim em todos os momentos. Aos meus sobrinhos, que mesmo ainda pequenos demonstram o amor que sentem por mim. Aos meus primos, em especial, Vitor, Jaciedy e Edinaldo que tem estado sempre perto de mim, ajudando-me quando preciso. Aos meus professores que contribuíram para a construção do meu conhecimento. A todos da Escola Nova Vivência: ao diretor Cosmo, às professoras Marilene e Sandra, e a todos os alunos que cooperaram na construção desse trabalho. Obrigada de coração a todos vocês! Torna-se imprescindível criar o hábito da leitura, uma vez que esta, hoje, pode ser vista como artigo de primeira necessidade, todavia, é mister que cada indivíduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se, para descobrir a força da palavra. (Inajá Martins de Almeida) RESUMO Muitos são os gêneros textuais que circulam na sociedade e no meio midiático e que podem auxiliar na formação de leitores, no entanto, escolhemos as histórias em quadrinhos e as fábulas por serem gêneros que despertam a atenção não só de crianças, mas também de adultos e podem ser classificados como um proveitoso recurso didático-pedagógico a serem utilizados em sala de aula para incentivar a leitura e a escrita. Com essa consciência, traçamos como objetivo principal do presente trabalho incentivar a aquisição de leitura e despertar o gosto pela produção do gênero textual histórias em quadrinhos nos alunos do 1º ao 5º ano, integrantes das salas multisseriadas, da Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Nova Vivência, localizada na Zona Rural do Município de Sapé/PB. A aplicação em sala de aula dos gêneros já citados foi realizada em seis oficinas, na primeira e na segunda oficina os alunos realizaram leituras e estudos dos aspectos composicionais das histórias em quadrinhos; na terceira oficina os alunos do 1º ano construíram histórias em quadrinhos a partir de apresentações das próprias crianças; na quarta e quinta oficinas consideramos a possibilidade da retextualização de gêneros, dessa forma utilizamos duas fábulas como textos motivadores para a produção de histórias em quadrinhos com os alunos do 2º, 3º, 4º e 5º ano; na sexta e última oficina os alunos do 5º ano tiveram a oportunidade de criar as histórias em quadrinhos utilizando um programa de computador. Para a construção desse estudo serviram de aporte teórico os autores: Lajolo (2002), Freire (1982), Martins (2007), Mendonça (2007), Cristóvão e Nascimento (2008). Verificamos que o trabalho com esses dois gêneros é interessante, pelo fato de os dois apresentarem em sua construção características semióticas e por despertarem o gosto pela leitura e pela escrita. Palavras chave: Leitura. Gêneros textuais. Histórias em quadrinhos. Fábulas. RESUMEN Muchos son los géneros textuales, que están presentes en la sociedad y en las nuevas tecnologías que usamos para mejorar la enseñanza, sin embargo, elegimos las fábulas y los comics, por estos son géneros que despiertan la atención, no sólo de los niños, pero, también de los adultos, y pueden ser fijados como un excelente medio didáctico-pedagógico, que serán utilizados en las aulas para motivar la lectura y la escritura. Con esa consciencia, tomamos como objetivo principal de este trabajo, incitar la adquisición de la lectura y el despertar del gusto por la producción de lo género textual comics con los niños del 1º al 5º año, miembros de las aulas multiseriadas de la Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Nova Vivência, ubicada en el área rural de la ciudad de Sapé – PB. La aplicación en el aula, de os géneros textuales ya dichos fue realizada en seis talleres en equipo, en la primera y en el segundo taller los alumnos realizaron lecturas y estudios de los aspectos que componen los comics; en el tercer taller los alumnos del 1º año crearon comics a partir de presentaciones de los propios niños; en el cuarto taller y quinto taller tuvimos en cuenta la posibilidad de “retextualizaçón” de los géneros, de esta manera, utilizamos dos fábulas como textos de motivación para la producción de comics con los alumnos del 2º, 3º, 4º, y 5º; año en el sexto y último taller los alumnos del 5º año tuvieron la oportunidad de crear los comics utilizando un programa de ordenador. Para la construcción de este estudio sirvieron de embaso teórico los autores: Lajolo (2002), Freire (1982), Martins (2007), Mendonça (2007), Cristóvão e Nascimento (2008). Se pudo notar que el trabajo con estos dos géneros es muy interesante, por lo hecho de qué estos dos presentan en su construcción características semióticas y por despertaren el gusto por la lectura y por la escritura. Palabras clave: lectura. Géneros textuales, comics, fábulas. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................09 1 A LEITURA E OS SENTIDOS MÚLTIPLOS ..............................................11 2 HISTÓRIA EM QUADRINHOS E FÁBULAS: BREVE PANORAMA 2.1 O gênero ..........18 .........................................................................................18 2.2 Histórias em quadrinhos ....................................................................21 2.3 Fábulas ....................................................................................................27 3 ANÁLISE DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOSPRODUZIDAS PELOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO 1º AO 5º ANO .........................30 4 CONCLUSÃO ....................................................................................................42 REFERÊNCIAS ....................................................................................................44 9 INTRODUÇÃO A sociedade vem sendo cada vez mais exigente com as pessoas e essas exigências estão relacionadas a diferentes dimensões: trabalho, participação social e política, vida familiar e em comunidade, e entre outras está a leitura e a escrita, que são aspectos considerados essenciais à formação de indivíduos letrados. Considerando a leitura e a escrita primordiais para a formação do sujeito na sociedade moderna em que estamos inseridos, o presente trabalho que tem como tema: “Histórias em quadrinhos e fábulas na sala de aula: motivando a leitura e a produção textual”, objetiva principalmente incentivar a aquisição da leitura e despertar o gosto pela produção do gênero textual histórias em quadrinhos nos alunos do 1º ao 5º ano, integrantes das salas multisseriadas, da Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Nova Vivência, localizada na zona rural do Município de Sapé/ PB. Sabemos da importância de trabalhar com diversos gêneros textuais na formação de leitores, porém, devido ao pequeno espaço neste estudo, escolhemos os gêneros textuais histórias em quadrinhos e fábulas por serem gêneros de fácil linguagem e que despertam a atenção de todos os indivíduos, independente da idade, por permitir a leitura tanto através do texto escrito, como das imagens recorrentes nas histórias em quadrinhos, e por apresentar uma moral, muito importante na formação do caráter da criança, no caso da fábula. Os dois capítulos teóricos que dão sustentação ao estudo proposto se baseiam nos autores: Lajolo (2002), Freire (1982), Martins (2007), Kleiman (2010), Koch e Elias( 2010), Maschuschi (2007), Mendonça (2007), Cristóvão e Nascimento (2008). Com o intuito de facilitar a compreensão desse estudo, optamos por estruturá-lo em três capítulos, organizados da seguinte maneira: No primeiro, capítulo fizemos uma abordagem sobre a leitura e os seus múltiplos sentidos, mostrando que a leitura é uma fonte de conhecimento necessária na formação do aluno-leitor. A leitura nos acompanha desde os nossos primeiros anos de vidas, mesmo antes de entrar na escola, por isso relatamos nesse capítulo três tipos de leitura: sensorial, emocional e racional. No segundo capítulo, procuramos mostrar a diferença entre gêneros e tipos textuais, incentivamos o uso de diversos gêneros textuais na sala de aula, principalmente os gêneros textuais, objeto de nosso estudo, histórias em quadrinhos 10 e fábulas. Buscamos fazer um resgate histórico sobre as histórias em quadrinhos, mostrando que charge, tirinha e cartum não podem ser confundidos com histórias em quadrinhos, apesar de também serem apresentados em quadros; e relatamos um pouco da origem da fábula; logo após, definimos e caracterizamos esse gênero. No terceiro capítulo, realizamos a análise das histórias em quadrinhos produzidas pelos alunos de forma manuscrita e através de um software de criação de histórias da Turma da Mônica. Esse trabalho com os alunos foi realizado em seis oficinas, na primeira oficina contemplou a leitura de gibis; na segunda nos utilizamos das histórias em quadrinhos para fazer um estudo sobre os aspectos composicionais do gênero; na terceira oficina os alunos do 1º ano, mesmo sem dominar a leitura e a escrita, produziram histórias em quadrinhos partindo de apresentações dos próprios colegas da sala de aula; na quarta e quinta oficina utilizamos duas fábulas de Esopo: O pastor brincalhão e A galinha dos ovos de ouro para trabalhar como textos motivadores para a produção das histórias em quadrinhos dos alunos do 2º,3º,4º e 5º ano. Escolhemos essas duas fábulas para realizar esse trabalho por remeter um pouco da realidade da vida do campo, realizando assim um trabalho mais próximo da realidade dos alunos e possibilitando melhor compreensão do texto, como citado em Kleiman (2010) que a compreensão do texto é caracterizada pela utilização do conhecimento prévio, utilizando o conhecimento que ele adquiriu ao longo da vida; na sexta oficina os alunos do 5º ano foram levados até ao laboratório de informática e utilizaram um programa de computador para criar suas histórias em quadrinhos, com esse programa os alunos escolhiam cenários, personagens e balões para compor suas histórias. Esperamos, desta forma, que este estudo possa contribuir no sentido de que, juntamente aos que pesquisam e trabalham com a leitura e produção textual, possamos ajudar na formação de alunos-leitores/escritores competentes. 11 1 A LEITURA E OS SENTIDOS MÚLTIPLOS A leitura tem sido um dos principais temas abordados pela sociedade moderna, por causa da dificuldade em garantir que as crianças alfabetizadas venham a se tornar competentes leitores, pois apesar da leitura ser uma fonte de conhecimento necessária, não é tão fácil de ser adquirida. É possível perceber, historicamente, que apenas uma pequena parte da sociedade teve acesso à educação formal, Lajolo (2002, p. 57) relata um trecho autográfico do escritor José de Alencar, referente aos anos quarenta, de que leitura e livros, no Brasil do seu tempo, fora das escolas, eram coisas raras. A leitura é de imensa importância para a formação do homem, uma vez que desempenha muitas funções no seu desenvolvimento psico-sócio-cognitivo envolvendo compreensão, reconstrução do conhecimento e desenvolvimento do senso crítico e criador, como também componentes emocionais, sensoriais, políticos e econômicos. O hábito de leitura pode vir associado à capacidade de decodificar as palavras e frases grafadas no papel, no entanto, antes mesmo de serem alfabetizadas, as crianças já lêem do seu jeito, folheando, olhando figuras e observando o seu mundo. Segundo Freire (1982, p. 71) “Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e escrever palavras e frases, já estamos “lendo”, bem ou mal, o mundo que nos cerca”. Sendo assim, o indivíduo, ao entrar na escola, traz consigo conhecimentos que devem ser respeitados no processo de ensino/aprendizagem da leitura. De acordo com Martins (2007), a leitura faz referência não apenas ao que está escrito, mas também a outros tipos de expressão do fazer humano, permitindo assim uma relação entre o leitor e o que está sendo lido, o que nos leva a entender que ela está para além do texto. Martins (2007) apresenta três níveis de leitura que aproximam o leitor ao objeto lido, são eles: sensorial, emocional e racional. Cada pessoa irá ler um objeto e reagir de maneira diferente, de acordo com o sentido que eles fazem à sua realidade e ao mundo. A leitura sensorial é apresentada através dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar/gosto) e é iniciada quando a criança começa sua 12 relação com o mundo. Esta é a primeira leitura que se faz de qualquer texto, e pode ser considerada como uma leitura inicial, ao despertar o interesse do leitor através das cores, letras, ilustrações trazidas no livro, ou quando a história é contada por alguém, através da entonação da voz. De acordo com (Martins, 2007, p. 40), “Essa leitura sensorial começa, pois, muito cedo e nos acompanha por toda a vida.” Essa forma de leitura lúdica e prazerosa cria a fantasia e desperta as ilusões que fazem parte da imaginação das crianças. É a partir dessa leitura que o leitor começará a descobrir sua preferência pela leitura, mesmo que de maneira inconsciente: o gosto pela leitura será aguçado sem precisar de racionalizações e análises. A leitura sensorial é de certa forma marcante e é através dela que o leitor terá a oportunidade de ver a leitura se revelando para si, descobrindo, assim, as que lhe agradam e rejeitando aquelas que ao seu gosto é desagradável. De certa forma, a criança sente um prazer singular por essa leitura, pois ela sente mais prazer por um livro com ilustrações coloridas, descobrindo que o livro é um objeto especial, ao mesmo tempo em que esse objeto desenvolve a linguagem, a capacidade de comunicação e a reação ao mundo. Enquanto que nos adultos esse tipo de leitura é observado quando ele compra um livro apenas para deixá-lo na estante; é uma espécie de culto ao livro. A aparência do livro é fundamental aos nossos sentidos; é a resposta sobre aquilo que nos cerca. Porém, essa leitura é limitada e tem prazo de duração por utilizar mais os sentidos e alcançar apenas o presente, o imediato; então a partir do momento em que a leitura começa a despertar a sensibilidade sentimental, ela deixa de ser sensorial e passa a ser emocional. A leitura emocional está relacionada aos sentimentos, por este motivo ela torna-se inferior, pois não tem objetividade. No terreno das emoções as coisas ficam inteligíveis, escapam ao controle do leitor, que se vê envolvido por verdadeiras armadilhas trançadas no seu inconsciente. Não obstante, essa leitura mais comum de quem diz gostar de ler, talvez a que dê maior prazer. E, mais uma contradição, é pouco revelada e muito menos valorizada. (Martins, 2007, pp.48-49) A leitura emocional caminha no terreno das emoções, através dela vivenciamos todos os nossos sentimentos (prazer, ódio, alegria, tristeza etc.), e até mesmo permitimos sentir o que o personagem está experimentando, seja esse uma 13 pessoa, um animal ou um objeto, levando-nos a outros tempos e lugares, a um mundo fora de nossa realidade, fugindo assim do controle racional. Por isso essa leitura é pouco valorizada e também, por voltar ao passado trazendo de volta o que o leitor viveu anteriormente; a ela é atribuído um caráter retrospectivo e implícito. Apesar da pouca valorização da leitura emocional, ela é bastante interessante porque possibilita a identificação do universo social e do inconsciente individual, às vezes utilizada como válvula de escape para alimentar as fantasias emoções e satisfazer curiosidades. Todavia, é importante que entendamos que tudo o que lemos e a forma como lemos é resultado de nossa visão de mundo. Para Martins (2007, p. 60): Tudo o que lemos, à exceção da natureza (isso se não considerarmos a interferência do homem nela), é fruto de uma visão de mundo, de um sistema de ideias e técnicas de produção, caracterizando um comprometimento do autor com o que produz e, por certo, com seus possíveis leitores. A leitura emocional expressa alguns problemas por deixar-se envolver pela ideologia e por permitir a leitura passiva, mas a convivência social, cultural e política nos ajudam a caminhar para outro tipo de leitura – a racional. A leitura racional é o processo da razão, do entendimento, dos intelectuais. Nesse nível, o leitor não se envolve com o texto, ele segue um modo de ler que já existe, que é regido por uma ideologia, tirando apenas o que interessa da leitura que está sendo feita. Segundo Martins (2007, p. 65-66), “Importa, pois, na leitura racional, salientar seu caráter eminentemente reflexivo, dialético”. É importante salientar o caráter reflexivo e dinâmico da leitura racional em que o leitor busca a realidade do texto lido, estabelecendo assim uma ponte entre o leitor e o conhecimento, a reflexão, a reordenação do mundo objetivo, possibilitandolhe no ato de ler, dar sentido ao texto e questionar tanto a própria individualidade como o universo das relações sociais, como bem frisa Martins (2007, p. 66): A leitura racional acrescenta à sensorial e a emocional o fato de estabelecer uma ponte entre o leitor e o conhecimento, a reflexão, a reordenação do mundo objetivo, possibilitando-lhe, no ato de ler, atribuir significado ao texto e questionar tanto a própria individualidade como o universo das relações sociais. 14 Essa leitura não se torna importante por ser racional, mas por tudo que o seu processo permite, tornando os horizontes de expectativa do leitor mais largos e ampliando as possibilidades de leitura do texto e da própria realidade social. Não há como direcionar o leitor para apenas um nível de leitura, pois quando lemos, fazemo-lo da forma como vivemos, em um processo de interação entre as sensações, emoções e pensamentos. Embora exista uma tendência de a leitura sensorial anteceder a emocional e a esta suceder a racional, o que se relaciona com o processo de amadurecimento do homem, entre os níveis de leitura não há uma hierarquia, nem isolamento de cada um deles; os três apresentam aspectos importantes para a formação do sujeito leitor. Os níveis sensorial, emocional e racional são essenciais para a formação do leitor e para a interação do mesmo com o texto, mas para compreender e para a leitura se efetivar, deve preencher uma lacuna em nossa vida, precisa vir ao encontro de uma necessidade, de um desejo da expansão sensorial, emocional ou racional, de uma vontade de conhecer mais.” (Martins, 2007, p.82) Cabe à escola garantir a formação de leitores, de despertar o interesse pela leitura, favorecer a capacitação não só de decodificar os signos escritos da língua, mas também de conquistar a capacidade de manejar com segurança a decodificação e igualmente compreender o texto lido. Levando em conta o conhecimento prévio, que o educando adquiriu ao longo da vida, pois a leitura é marcada pela história do leitor, considerando assim, não apenas o que está dito, mas também o que está implícito. Para Freire (1982, p.11), “a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.” Para que a leitura tenha sentido e seja despertado o gosto pelo ato de ler é essencial criar meios de leitura que estejam de acordo com a realidade do indivíduo, pois só assim poderá se fazer uma leitura crítica, na qual se pode constatar o que está escrito, examinar o que está implícito e refletir sobre o que leu. Dessa forma, a leitura será encarada como um processo de descoberta e ao mesmo tempo de participação com o mundo. Lajolo (2002, p.7) acrescenta: Lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida, mais intensamente se 15 lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela. Entendemos que a escola tem um importante papel na formação dos leitores, que a mesma deve criar condições, estimular a compreensão e melhorar as estratégias, para que a leitura esteja relacionada mais a um desejo, a uma dimensão lúdica e prazerosa que a uma obrigação. Esse desejo deve ser despertado não apenas através da transformação do texto em peças teatrais, jograis, ou outros meios utilizados para que a leitura se torne mais “significativa”, mas através do diálogo abordado a partir da temática do texto, diálogos que dão sentidos e tornam significante a atividade de leitura e que muitas vezes são esquecidos ou substituídos por técnicas sem muita importância para o desenvolvimento e aquisição do hábito de ler. De acordo com os PCNs (2001, p. 55): É preciso oferecer aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons leitores utilizam. É preciso que antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou do conhecimento prévio que possuem, que verifiquem suas suposições tanto em relação à escrita, propriamente, quanto ao significado. No entanto, para que isso aconteça é preciso que o professor também goste de ler, que leia bastante, que se envolva com o que lê, que coloque ao seu próprio dispor a leitura como um instrumento para suas pretensões, pois escutamos diariamente os professores questionando o porquê que seus alunos não gostam de ler ou como incentivar o hábito de leitura, quando na verdade os próprios não são leitores, não gostam de ler. Lajolo (2002, p.108) comenta que a formação de um leitor exige conhecimento de grande números de textos e não apenas conhecimentos mecânicos de metodologias ou técnicas que desenvolvem a leitura, copiadas muitas vezes de outros professores. Para adquirir o hábito de leitura é preciso praticar. Os alunos se interessam mais pela leitura se verem seus educadores praticando-a em sua presença, colocando a leitura como instrumento para suas pretensões. Muitos estudiosos têm debatido acerca da importância da leitura na formação do magistério, pois essa é relevante para a formação do homem, e fundamental na consciência da cidadania por ser um meio de compreensão, desvelamento, reconstrução do conhecimento e desenvolvimento do senso crítico. 16 O processo de leitura é um ato social, entre o leitor e o autor, que obedecem as necessidades determinadas pela sociedade. Para compreender o texto é preciso utilizar o conhecimento prévio adquirido ao longo da vida; o conhecimento lingüístico e textual é necessário à construção do sentido do texto. Segundo Kleiman (2010, p. 13): A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão. É necessário que o leitor utilize diversos conhecimentos quando estiver lendo, pois se um conhecimento não é suficiente para entender o texto, ele utilizará outras informações necessárias para a sua compreensão. Sendo assim, podemos afirmar que no ato de ler não são utilizadas apenas as estratégias cognitivas, isto é, aquelas que regem o comportamento inconsciente do leitor, mas também as metacognitivas, que torna o leitor consciente dos recursos que utiliza no momento da leitura. A leitura de diferentes textos exige compreensão por parte do leitor, estabelecendo assim uma relação entre autor/texto/leitor. O texto é o elo entre o autor e o leitor, estes são sujeitos ativos, que constroem e são construídos no texto, possibilitando várias interpretações detectáveis pelo contexto sociocognitivo, por isso, durante a leitura, é preciso que o sujeito leitor esteja atento, seu olhar deve estar voltado ao texto para que venha entender o que está sendo dito e assim possa captar as ideias do autor. Conforme Koch e Elias (2010, p.11): A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. 17 As estratégias de leitura: Seleção, antecipação, inferência e verificação ajudarão o leitor no processo de leitura fazendo com que o mesmo utilize seus conhecimentos prévios para compreender o texto.Para Koch e Elias (2010, p.57): A leitura é uma atividade altamente complexa de produção de sentidos que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes. A leitura é, pois, um instrumento essencial na aprendizagem, mas a sua aquisição vai depender de vários tipos de conhecimentos para que haja a compreensão do texto, ou seja, é preciso que o sujeito leitor seja conhecedor do contexto para que faça assim uma interpretação dotada de sentido. Koch e Elias (2010, p. 192) afirmam que para a leitura ter sentido, o leitor precisa estar atento ao “vocabulário e a situação de uso, os recursos sintáticos, os blocos textuais, e a associação a fatos históricos, políticos, sociais, culturais, o gênero textual, o propósito comunicacional e a situação comunicativa.” Para a leitura ter sentido, além de estar atento aos aspectos citados por Koch e Elias (2010), é preciso também que ela seja vivenciada e isso só ocorrerá se impressionar aquele que está lendo, e para isso é necessário que haja interação entre as condições internas e externas apresentadas pelo leitor; é indispensável que ele esteja aberto ao processo da leitura e que o ambiente em que ele se encontra seja favorável a sua formação leitora. Através da leitura é possível se comunicar de igual para igual com o restante da humanidade, pois podemos entrar em contato com escritos de pessoas de diferentes épocas, podemos nos apropriar de conteúdos relatados em jornais, revistas e livros que fornecem informações passadas e atuais, ou seja, leitura é uma exigência do mundo letrado que permite a obtenção de conhecimentos e as realizações do homem. É necessário entender que a leitura é formada por acontecimentos das nossas vidas, não é um conjunto de regras, mas é algo que desperta o que temos de interessante guardado no nosso interior, no nosso pensamento. 18 2 HISTÓRIAS EM QUADIRNHOS E FÁBULAS: BREVE PANORAMA 2.1 Gêneros textuais Convivemos com uma multiplicidade de gêneros textuais relevantes à comunicação, e da mesma forma que lemos diversos gêneros também podemos produzi-los de acordo com a necessidade ou para situações comunicativas particulares. Dessa forma, observamos que a leitura e a escrita, vai além do domínio de códigos, pois sugerem relações sócio-histórico-culturais do indivíduo. Existem diversos gêneros como: poemas, romances, notícias, contos, artigos, bulas, panfletos, receitas, fábulas, biografias, entre outros, que exigem do leitor diferentes objetivos que serão definidos a partir das estratégias (meta)cognitivas que implica uma reflexão sobre o próprio conhecimento, pois o leitor tem papel ativo diante do texto. Atualmente, a tecnologia exige que sejamos conhecedores de uma multiplicidade de gêneros existentes de acordo com a forma e o conteúdo que os caracteriza. A própria tecnologia é responsável pelo surgimento e expansão dos inúmeros gêneros, visto que eles facilitam o acesso para que as pessoas tenham contato com outros diversos gêneros que circulam na sociedade. Mas o que é gênero textual? Segundo Marcuschi (2007, p. 25): “Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos.” Podemos dizer que gênero textual são as diferentes formas de linguagem que circulam na sociedade. “Os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem.” (MARCUSCHI, 2007, p. 20) Os gêneros podem variar em composição, conteúdo e estilo, porém não isso que os caracteriza e sim os aspectos sócio-comunicativos e funcionais. Os gêneros existem em grande quantidade, são dinâmicos e servem como práticas sóciocomunicativas e sofrem variações em sua constituição, dando origem a novos gêneros, vejamos a citação: Para falar, utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo. Possuímos um rico 19 repertório dos gêneros do discurso orais (e escrito). Na prática usamo-los com segurança e destreza [...] (BAKTHIN, apud Koch e Elias, 2010, p. 102, grifos do autor). Os gêneros textuais são muito importantes durante o processo comunicativo dos indivíduos. Observamos em Koch e Elias (2010) que as práticas comunicativas possibilitam-nos (re)conhecer e produzir gêneros textuais sempre que necessário, facilitando assim o processo de leitura e compreensão. Vale lembrar que gêneros e tipos textuais não se referem a mesma coisa, Marcuschi (2007) faz essa distinção classificando tipo textual como uma expressão referente a uma sequência definida pela natureza linguística, enquanto que o gênero textual é usado como referência aos textos materializados com características sociocomunicativas, definidas por estilo, conteúdos, propriedades funcionais e composição. Para melhor entendimento, Marcushi (2007, p. 23) elabora um quadro sinótipo diferenciando tipos de gêneros textuais da seguinte forma: TIPOS TEXTUAIS 1. constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas; 2. constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos; 3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal. 4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição. GÊNEROS TEXTUAIS 1. realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sóciocomunicativas; 2. constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; 3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estrilo, conteúdo, composição e função; 4. exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoa, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc. Os gêneros textuais são essenciais à comunicação e neles vão estar inseridos os tipos textuais, formando a sequência linguística do texto. 20 Um texto pode assumir a forma de outro sem dificultar a interpretação do leitor, através da intertextualidade intergêneros, ou seja, podemos encontrar uma carta em forma de poema, uma entrevista em forma de artigo, entre outros exemplos. Por isso, conhecer a funcionalidade dos gêneros textuais é essencial para sua compreensão. Os PCNs (2001) incentivam o ensino dos diferentes gêneros textuais, para que os alunos aprendam suas formas e características e assim venham a produzilos. Segundo Marcuschi (2007), as reflexões pragmáticas de Bakhtin classificam o gênero como um enunciado de natureza histórica, sócio-interacional, ideológica e linguística. O conhecimento dos múltiplos gêneros é primordial para uma sociedade letrada, visto que eles estão presentes em todos os momentos de nossa vida: de uma lista de compras a uma receita de bolo. Isso significa, inclusive, que eles estão presentes nas comunidades que possuem baixo grau de letramento, pois os gêneros circulam constantemente no dia-a-dia de todas as pessoas, mesmo que elas não saibam ler e escrever Assim, o trabalho com gêneros textuais na escola é fundamental, pois o mesmo é utilizado nas práticas sociais, Cristóvão e Nascimento (2008, p.37) relatam que: A tese subjacente ao conceito de gêneros textuais e ensino é a de que o domínio dos gêneros se constitui como instrumento que possibilita aos agentes produtores e leitores uma melhor relação com os textos, pois, ao compreender como utilizar um texto pertencente a um determinado gênero, pressupõe-se que esses agentes poderão agir com a linguagem de forma mais eficaz, mesmo diante de textos pertencentes a gêneros até então desconhecidos. Através de um gênero textual é possível fazer diferentes abordagens possibilitando o conhecimento e aprendizagem em torno da leitura e da produção escrita. Dessa forma, deve-se estar atento ás variedades de gêneros textuais para garantir formas de vivenciar e incentivar os hábitos de leitura e escrita. Dentre os inúmeros gêneros que podem ser trabalhados na escola, destacamos as histórias em quadrinhos e as fábulas. Aquelas atraem tanto as crianças quanto os próprios adultos, por ser um gênero que apresenta dois modos de representação: as palavras e as imagens, ou seja, um gênero multimodal 1. Já as fábulas despertam a 1 Gênero multimodal é aquele que utiliza mais de um código semiótico para construir seu significado. 21 atenção por narrar um fato comum do dia a dia, porém tendo como personagens animais ou seres inanimados, chamando assim a atenção do leitor. 2.1 Histórias em quadrinhos As histórias em quadrinhos estão se tornando leituras preferenciais entre todas as idades e classes sociais, pois elas apresentam narrativas simples, de fácil compreensão e textos curtos representando em balões as falas dos personagens. Os quadrinhos são formas comunicativas que tiveram início com as pinturas rupestres, mas Mendonça (2007, p. 194) acrescenta: [...] embora se possa encontrar rudimentos das HQS na arte pré-histórica, os precursores desse gênero, tal como o conhecemos hoje, surgiram apenas na Europa, em meados do século XIX, com as histórias de Busch e de Topffer. No Brasil, o crédito pela invenção desse gênero é dado a Angelo Agostini que escreveu: As aventuras de Nhô Quim, em 1869; em 1905, apareceu a revista Tico-tico, com a publicação das “Aventuras do gato Felix”. Em 1959, a história em quadrinho se fixou no Brasil com as criações de Maurício de Souza: Bidu e Franjinha; em 1960, Maurício criou o Cebolinha, três anos depois apareceu o Cascão, o Horácio, o Chico Bento, o Astronauta e o Fantasminha Penadinho; a Mônica só surgiu em 1965. Aos poucos foram aparecendo os personagens heróicos e hoje já há personagens criados para fins didáticos com histórias que incentivam a preservação do meio ambiente, o cuidado com o planeta, etc. No século XX, as histórias em quadrinhos passaram a ser veiculadas nos jornais e logo após começaram a se desenvolver e a ser publicadas nos gibis. Cirne apud (MENDONÇA, 2007, p. 195) define história em quadrinhos da seguinte maneira: “Quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual, impulsionada por sucessivos cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e, ou pintadas.” As histórias em quadrinhos são apresentadas em quadros que necessitam da atenção do leitor em relação a sua sequência, apresenta linguagem informal, com presença constante de interjeições e onomatopeias. 22 As histórias em quadrinhos apresentam um jogo de semiótica, ou seja, apresentam a linguagem verbal e não-verbal (texto e imagem) fazendo desse gênero um rico material didático-pedagógico a ser utilizado no processo de leitura, pois a utilização desses códigos contribui com o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Além do mais, elas representam um gênero extremamente rico para trabalhar a competência comunicativa dos alunos, pois estimula a leitura e a escrita, melhora a entonação e desperta o diálogo. As histórias em quadrinhos apresentam uma sequência de acontecimentos que se desenvolvem quadro a quadro, tornando a leitura mais agradável e divertida. Ao observar uma história em quadrinho, é possível de imediato realizar a leitura visual através dos elementos composicionais: cores, fundo, cenário e personagens presentes em cada quadro, despertando assim o leitor a também realizar a leitura do código escrito. A sequência dos quadrinhos nesse gênero nos leva a compreender ainda a cronologia da história, as imagens ajudam o leitor a perceber em que horário (manhã, tarde ou noite) a história acontece, os balões, os símbolos e a linguagem verbal completam o entendimento de quem lê. A história em quadrinho é um gênero utilizado como recurso pedagógico por utilizar os códigs verbo-visuais, muito importantes para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Não obstante, deve-se ter cuidado para não confundir a história em quadrinhos com a caricatura, a charge, o cartum e as tiras, já que estes também são apresentados em quadro. A caricatura apresenta a descrição de uma característica de forma humorística, aumentando aquela que já é visivelmente grande e diminuindo a característica que é aparentemente pequena em uma pessoa. Mendonça (2007, p. 197) esclarece: “[...] a caricatura – deformação das características marcantes de uma pessoa, animal, coisa, fato – pode ser usada como ilustração de uma matéria (fato)”. Como exemplo de caricatura, temos a imagem do jogador de futebol Ronal, conhecido como Ronaldo Fenômeno. Figura 1:Caricatura de Ronaldo 23 Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://2.bp.blogspot.com/_vtqwn7JDozI/TMjaTHQn47I/AAAAAAAAAA4/Xx5C4q vaOyY/s1600/ronaldo-caricatura.jpg&imgrefurl A charge é o fato contado apresentando uma crítica social, esta apresenta uma relação estreita com o tempo histórico em que foi entendida, pois a sua compreensão está ligada a fatos que acontecem na atualidade, vejamos o exemplo: Figura 2: Charge PEC 300 Fonte: http://www.dercio.com.br/blog/pec 24 O exemplo mostra que se o leitor não tiver conhecimento do fato em que o governador da Paraíba se negou a pagar o exigido por militares estaduais, bem como da música que atualmente está fazendo sucesso - por relatar situações em que o esposo não realiza algumas atividades porque a mulher não permite - a charge não será compreendida.Nesse caso, os elementos contextuais são indispensáveis à construção do sentido pelo leitor. O cartum expressa idéias e opiniões tecendo críticas; através de uma ou mais imagens. O cartum pode ser entendido a qualquer tempo (é mais atemporal), não necessitando do leitor reconheça de imediato o contexto histórico referente ao ao contexto expresso no cartum. O cartum surgiu depois da charge, e é uma forma de expressar idéias e opiniões, seja uma crítica política, esportiva, religiosa, social através de uma imagem ou uma sequência de imagens, dentro de quadrinhos ou não; podendo ter balões ou legendas. A charge “envelhece”, como a notícia, enquanto o cartum é mais atemporal. (MENDONÇA, 2007, p. 197) Vejamos o exemplo abaixo: Figura 3: Cartum do salão de volta redonda 2007 Fonte: http://blog.tiburcio.locaweb.com.br/2008/04/26/cartum-do-salao-de-volta-redonda-2007 25 O cartum acima foi produzido no ano 2007, porém ainda podemos entender a mensagem expressa pelo mesmo. Já as tiras são mais curtas que as histórias em quadrinhos e manifestam sátiras em relação aos aspectos políticos e econômicos. Segundo Mendonça (2007), elas podem ser dividida em dois tipos: a) Tiras-piada, em que o humor é obtido por meio das estratégias de um modo geral, como a possibilidade de dupla interpretação, sendo selecionada pelo autor a menos provável; b) Tiras-episódio, nas quais o humor é baseado especificamente no desenvolvimento da temática numa determinada situação de modo a realçar as características das personagens. (MENDONÇA, 2007, p 198) Vejamos o exemplo: Figura 4: Tiras Mafalda e Quino Fonte: http://textosecomputadores.blogspot.com/p/tiras-de-hq.html Podemos classificar a tira da personagem Mafalda, acima, como uma tiraepisódio, pois o seu desenvolvimento vem caracterizar um dos personagens. As tiras aparecem predominantemente nos jornais, revistas e muito encontrada, também, nos livros didáticos. Diferente dos gêneros descritos acima, as histórias em quadrinhos, nosso objeto de estudo, apresentam narrativas longas, com o texto verbal dentro dos balões e geralmente estão presentes nos gibis, quando dedicado a um só 26 personagem (em geral), e em almanaques, quando dedicados a um grupo de personagens. Vejamos o exemplo: Figura 5: Histórias em quadrinhos Seninha Fonte: http://senna.globo.com/senninha/hqint.asp?cod=71 A história em quadrinhos acima, do personagem Seninha, revela o quanto esse gênero é rico, pois faz uso da linguagem verbal e não-verbal, permitindo a construção de sentido por parte do leitor. Porém, percebemos que os quadrinhos ainda não são trabalhados na escola como deveriam. O espaço escolar ainda negligencia esse gênero, talvez por apresentar linguagem informal, não se apropriando da forma culta da língua portuguesa. Mas, essa é uma das características interessantes das histórias em quadrinhos, pois os personagens são caracterizados pela forma como falam, e são 27 essas características que chamam a atenção até mesmo de pessoas não alfabetizadas. De acordo com Mendonça (2007, p. 202): [...], o papel de semioses distintas (verbal e não-verbal) para a construção de sentido termina por tornar as HQS acessíveis não só aos adultos com baixo grau de letramento, mas também as crianças em fase de aquisição de escrita, que podem apoiar-se nos desenhos para produzir sentido. O professor, pois, deve aproveitar as histórias em quadrinhos para tornar suas aulas de leitura mais interessantes, atraentes e divertidas. Afinal de contas, o tempo em que os gibis eram proibidos em sala de aula por serem vistos apenas por seus aspectos lúdicos já passou e, até mesmo os PCNs (2001), incentivam os trabalhos com as histórias em quadrinhos, entre outros gêneros, pois apresentam histórias excelentes, com uma linguagem acessível, o que contribue para um proveitoso trabalho de leitura e produção de texto. 2.3 Fábulas A fábula é um gênero textual muito antigo, não podendo ser determinada com exatidão a sua origem; de acordo com Sousa apud (VIEIRA, 2007, p. 54), “é impossível determinar a época exata do seu aparecimento”. No entanto, sabe-se que esse gênero existe há bastante tempo; podemos deduzir que a fábula surgiu nos primeiros tempos do homem, quando este começou a comunicar-se verbalmente, visto que antigamente as fábulas eram contadas apenas oralmente e só depois de muitos anos é que os fabulistas começaram a registrá-las de forma escrita. Acredita-se que a fábula teve origem no oriente, especificamente na Índia, mas apesar disso, o mérito pela criação desse gênero é atribuído à Grécia, pois é o local onde a fábula passa a ser vista como parte da literatura, por apresentar um tipo específico de criatividade. A fábula é uma narrativa que apresenta uma pequena história com a finalidade de ilustrar um comportamento humano através de personagens, como animais e/ou seres inanimados, mas pode apresentar também seres humanos. No 28 dicionário de Cegalla (2008, p. 408), encontramos a seguinte definição para fábula: “Narrativa de caráter alegórico da qual se depreende uma lição de moral. As personagens de uma fábula geralmente são animais”. O que distingue a fábula de outras narrativas é justamente a presença do animal com atributos humanos e a moralidade que ela tem por objetivo transmitir. No final de muitas fábulas, o autor coloca uma frase que resume a história, é a parte que chamamos de “lição de moral”. A finalidade da fábula é instruir e divertir o leitor ou aquele que a ouve contada oralmente por outra pessoa. A fábula é um gênero que chama a atenção não só das crianças como também dos adultos, por apresentar um texto figurativo, em que os animais como personagens representam características humanas; e um texto temático, ou seja, a moral que vai complementar o significado da narração e indicar como a narração deverá ser interpretada, compreendida. Ao ler a fábula, o leitor deve ser instruído de que esse gênero textual é uma história de homens, apesar de seus personagens serem animais e/ou seres inanimados, pois esses apresentam atitudes humanas. Essa instrução deve ser passada às crianças aos poucos, para que elas entendam que cada fábula tem a intenção de fazer os seres humanos repensarem seus atos e assim corrigi-los. O trabalho com o gênero fábula na escola chega a ser indispensável se bem planejado pelo professor, pois quando as crianças são instruídas a realizarem uma leitura crítica, é possível construir gradativamente sua autonomia como leitoras capazes de enxergar e agir, transformando a realidade. Entre os escritores do gênero fábula, podemos destacar os três mais conhecidos: O grego Esopo (600 a.c), considerado o primeiro grande escritor de fábulas do ocidente. A sua existência, ou não, ainda é muito discutida entre os pesquisadores, no entanto, essa discussão não influencia na qualidade das fábulas que lhe são atribuída a autoria. Tais fábulas apresentam linguagem simples relacionada ao comportamento do cotidiano, elas costumam ser curtas e bemhumoradas. A exemplo de fábulas de Esopo temos: A galinha dos ovos de ouro, O pastor brincalhão e O leão e o rato. O francês La Fontaine (século XVIII), considerado o mais importante fabulista da era moderna, compôs suas próprias fábulas e reescreveu muitas fábulas antigas de Esopo. Em seus textos, ele procura denunciar as misérias e as injustiças 29 sociais vividas em seu tempo. As principais fábulas atribuídas a esse escritor são: A cigarra e a formiga, O corvo e a raposa, O lobo e o cordeiro. O brasileiro Monteiro Lobato (século XX), criador da fábula moderna no Brasil, famoso por suas histórias infantis, recontou em prosa moderna algumas fábulas de Esopo e La Fontaine, além de criar as suas próprias com as personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo. Ele escreveu fábulas como: A garça Velha, As duas cachorras e As duas panelas. A fábula é um gênero textual interessante, divertido e convidativo para ser utilizado na formação de leitores críticos e autônomos, tornando-se assim um excelente recurso didático para incentivar a leitura e a produção de texto. 30 3 ANÁLISE DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS PRODUZIDAS PELOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO 1º AO 5º ANO A presente pesquisa teve como público-alvo os alunos do 1º ao 5º ano, em salas multisseriadas, da Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Nova Vivência, localizada na zona rural do município de Sapé/Pb. A atividade de leitura e produção de histórias em quadrinhos foi realizada através de oficinas, nas quais utilizamos o gênero fábula como motivador para a produção de histórias em quadrinhos, não utilizamos apenas um gênero para evitar cópias por parte dos alunos. Na primeira oficina, realizamos uma sondagem sobre o gênero quadrinhos, suas características e sua função na sociedade. Em seguida, distribuímos gibis e estabelecemos o tempo de trinta minutos para que os alunos pudessem ler (até mesmo os de 1º e 2º ano que ainda se encontram em fase de alfabetização). Na segunda oficina, distribuímos os mesmos gibis da oficina anterior para que analisassem a linguagem dos balões e as imagens dos personagens (formas e cores). Na terceira oficina, começamos com a produção de história em quadrinhos, com o primeiro ano, através de apresentações de personagens, os quais eram os próprios colegas da sala de aula e assim foi trabalhado os nomes das crianças, como mostrado nas histórias em quadrinhos (HQ (1) e HQ (2)) que seguem: 31 HQ (1) 32 HQ (2) Nas produções das histórias em quadrinhos 1 e 2, vemos o uso dos balões da fala e o desenho indicando os próprios colegas da sala de aula. 33 Nessas duas histórias iniciais percebemos que as alunas utilizaram corretamente o balão para expressar seus sentimentos e, mesmo com pouca habilidade na escrita, conseguiram construir a história em quadrinho mostrando a relação de amizade com os colegas da turma, como demonstrado no último quadrinho da HQ (1) em que as crianças estão juntas. Na HQ (2) podemos perceber com qual colega a criança tem mais amizade, pois em volta dele foram desenhados corações. O que nos leva a perceber que esse é um gênero que pode ser utilizado até mesmo por crianças que ainda estão iniciando no mundo da leitura e da escrita. Para a realização da quarta oficina utilizamos a fábula como texto motivador para que em seguida fossem produzidas, pelos alunos do 3º e 4º ano, as histórias em quadrinhos. A escolha do gênero fábula se deu por esse ser um gênero muito interessante e por apresentar linguagem simples, tendo por finalidade transmitir uma lição para os leitores, assim como já foi citado no capítulo anterior. Vejamos, então, a fábula de Esopo, motivadora das histórias em quadrinhos na quarta oficina: O pastor brincalhão Era uma vez um pastor de ovelhas muito Jovem, que era bastante conhecido por fazer gracinhas e inventar situações perigosas. Todos os dias o pastorzinho levava suas ovelhas para pastar no campo, onde ficava observando-as. O tempo passava e, cansado de ficar lá parado sem ter algo excitante para fazer, logo começava com suas brincadeiras:- Socorro! Socoooooorro! Um logo feroz está vindo em minha direção! Os pastores mais velhos e mais experientes sempre corriam para acudir o jovenzinho, que era encontrado às gargalhadas, rolando no chão. -Mas que bobos ! Pensaram mesmo que havia um lobo aqui? - Chegará o dia em que você gritará por socorro, e ninguém virá – Diziam os outros pastores, muito desapontados e bravos com as brincadeiras do garoto. - Claro, claro... -Zombava o pastor brincalhão. E assim, a cada dia o garoto aparecia com uma nova brincadeira de mau-gosto. Certa vez, Quando os outros pastores iam passando, perceberam que o garoto não estava lá perto de suas ovelhas. Preocupados, começaram a procurá-lo, até que... - Grrrraaaaarrr! – O garoto saltou de trás de uma moita soltando um urro, e quase matou os outros pastores de susto, pois eles pensavam ser um lobo. - Garoto malcriado! Esta noite conversaremos com sua mãe! E assim fizeram. Ao anoitecer, foram à casa do pastorzinho e contaram situação para sua mãe, que ficou muito triste. Ela conversou com o Garoto, explicou-lhe a situação e ele entendeu, jurando para sua mãe que não faria mais brincadeiras. No dia seguinte, porém, enquanto o pastorzinho cuidava das ovelhas, aconteceu o inesperado: Um enorme lobo faminto apareceu, disposto a atacar quem estivesse a sua frente. O garotinho, desesperado, gritou por socorro, mas de nada adiantou. 34 - Não acredito! A conversa com a mãe do menino foi em vão! – comentavam ente si os demais pastores. O lobo avançou e deu um salto em sua direção para atacá-lo mas, com um reflexo repentino, o jovenzinho jogou-se para o lado- e o lobo esborrachouse contra uma enorme rocha que estava atrás do menino. Machucado e ganindo, o lobo fugiu correndo e então foi visto pelos demais pastores. Moral: Com situações perigosas, não devemos brincar. Fonte:http://amigosdaeducacao.com/atividades-para-alfabetizacao-fabulas-o-pastorbrincalhao.html. Acesso em:25/04/2011. Após a leitura da fábulaacima, solicitamos que fossem produzidas histórias em quadrinhos a partir da história lida. Cabe ressaltar que os alunos não tiveram contato com o texto escrito, a fábula lhes foi transmitida de forma oral, a fim de despertar neles a leitura sensorial que, segundo Martins (2007), começa muito cedo e nos acompanha pelo resto da vida, e permite que a imaginação da criança seja estimulada, o que se torna essencial para a produção das histórias em quadrinhos. Como resultado dessa oficina selecionamos três histórias em quadrinhos (HQ (3), HQ (4), HQ (5)) para realizar a análise. HQ (3) 35 HQ (4) As produções HQ (3) e HQ (4) acima mostram que os alunos estiveram atentos à leitura e conseguiram expor em suas histórias em quadrinhos os principais pontos da fábula, mencionando a brincadeira do pastor, a insatisfação dos outros pastores ao falarem com a mãe do garoto e a moral da história em que os pastores não acreditaram quando o jovem pastor falou a verdade. É importante ressaltar que os alunos exploraram bem o gênero histórias em quadrinhos, quando utilizaram as sequências dos quadros, os balões para narrar a história e as imagens (formas e cores) para ajudar na contextualização das cenas. Isso significa que eles já dominam a forma composicional, bem como a função social desse gênero, pois, no momento da retextualização foram fiéis ao conteúdo, transpassando-o para outro formato de gênero. As produções HQ (3) e HQ (4) revelam que os alunos conseguiram compreender a fábula trabalhada. Vejamos outra história em quadrinhos de um aluno do 4º ano: 36 HQ (5) Na história em quadrinhos HQ (5), acima, percebemos que o aluno construiu a história dando outro sentido. Ao invés de mencionar aspectos da fábula trabalhada ele produziu uma história mostrando a vida de um pastor trabalhador, utilizando, pois, seu conhecimento de mundo, como cita Freire (1982): o conhecimento de mundo antecede ao conhecimento da palavra. Na quinta oficina, foi trabalhada outra fábula de Esopo, vejamos: A galinha dos ovos de ouro Era uma vez um fazendeiro que, apesar da sua pobreza, era muito avarento e alimentava o desejo de tornar-se rico. 37 Para ele, era incompreensível o fato dos seus vizinhos viverem felizes com tão pouco: Apenas umas poucas verduras e algumas frutas que suas plantações forneciam. O fazendeiro reclamava de tudo, da sua sorte miserável e até da pobre galinha – único bem que possuía e que, apesar de tudo, ainda colocava um ovo por dia e garantia seu principal alimento. Os dias passavam e o homem consumia-se em sua amargura, até que um dia teve uma bela surpresa: Foi buscar o ovo da sua galinha e mal acreditou quando percebeu que o ovo era de ouro maciço! Tomou o ovo e correu até a cidade, onde trocou-o por deliciosas comidas, mercadorias e utensílios para sua casa. Nas manhãs seguintes, o fato repetiu-se: Sempre ao buscar os ovos, via que estes eram de ouro puro. Que galinha extraordinária! O homem, que agora já não podia reclamar da sua situação, tornou-se feliz por algum tempo. Com os ovos vendidos no mercado, o fazendeiro comprava tudo aquilo que sempre desejou, e logo sobraria dinheiro para o resto de sua vida. A galinha ganhou um ninho especial, dentro da casa, onde era vigida constantemente pelo homem. Os dias se passaram e, não se contentando com a situação, começou a passar noites a fio sem dormir. O motivo era uma terrível idéia que não lhe saía da cabeça: Pensava que, se a galinha punha um ovo de ouro maciço a cada dia, dentro dela deveria haver uma quantidade enorme de riquezas. Certo dia, não aguentando mais e querendo possuir também o tesouro que imaginava haver dentro da galinha, pegou uma faca e dirigiu-se ao ninho onde estava a galinha, abriu a galinha como se fosse preparar uma canja, mas não encontrou nada de valor. Desapontado, o homem ficou sem a sua galinha e logo seu dinheiro acabou. Sua vida voltou à mesma condição anterior, e agora o velho fazendeiro voltou a ser uma pessoa amarga e infeliz. Moral: “Aquele que tudo quer, nada terá”. Fonte: http://amigosdaeducacao.com/atividades-para-alfabetizacao-fabulasa-galinha-dos-ovos-de-ouro.html. Acesso em: 25/04/2011. Após a leitura, os alunos produziram as histórias em quadrinhos. Selecionamos, para análise três produções (HQ (6), HQ (7), HQ (8)). Os alunos demonstraram, em suas produções, compreensão da fábula e conseguiram registrar os fatos ocorridos na história de diferentes formas. Observemos as produções: 38 HQ(6) HQ (7) 39 HQ(8) A HQ (6) mostra mais aspectos relacionados à galinha, e utilizou corretamente os balões típicos dos pensamentos e das falas. As histórias em quadrinhos HQ (7) e HQ (8), acima, revelam mais aspectos relacionados à vida do fazendeiro, começando com a lamentação do fazendeiro sobre a vida (as expressões faciais são bem marcadas), em seguida sua emoção ao ver o ovo de ouro e poder comprar muita comida, seus pensamentos maliciosos para com a galinha, sua decepção ao não encontrar ouro dentro da ave e sua tristeza em voltar à vida que tinha antes. As produções dos alunos em histórias em quadrinhos, a partir das fábulas, foram muito proveitosas, pois eles conseguiram identificar na sequência narrativa as falas e pensamentos dos personagens e conseguiram expressar através dos desenhos, balões e falas dos personagens as emoções: raivas, tristezas, alegrias, desapontamento, etc. É importante ressaltar que a maior dificuldade nas produções das histórias em quadrinhos foi na criação dos desenhos, pois os alunos relatavam que não 40 sabiam desenhar, no entanto, após alguns momentos de conversa conseguimos convencê-los e essa passou a ser uma atividade prazerosa. Queremos frisar, também, que as produções não foram modificadas, por isso não houve alteração na estrutura e nem correções ortográficas e de pontuação, pois não objetivamos avaliar a escrita e sim a produção do gênero trabalhado. A sexta oficina foi realizada com um software, um programa de computador de criação de história em quadrinho da turma da Mônica, disponível no site: http://www.monica.com.br/software/quadrinh.htm. Desta forma, os alunos do 5º ano foram levados até o laboratório de informática para produzir suas histórias, todos ficaram bastante entusiasmados com o programa, pois iriam utilizar personagens já conhecidos por eles. Para a produção das histórias, foram sugeridos temas como “o meio ambiente”. Vejamos a HQ (9): HQ(9) 41 A história em quadrinho acima demonstrou a criatividade por parte do aluno, uma vez que ele produziu o cenário, o colorido das cenas, escolheu os personagens e criou sua própria história com coerência, como podemos observar na sequência lógica dos quadrinhos em que demonstrou a preocupação dele com o meio ambiente, chamando a atenção para a preservação do ambiente e dos recursos naturais. Observamos, ainda, nas histórias em quadrinhos produzidas pelos alunos, que a leitura emocional é mais recorrente, pois nesses textos encontramos muita subjetividade, sentimentos pessoais que os autores-alunos experimentam como se fossem os personagens criados por eles. Para a produção das histórias em quadrinhos com o uso do software foi dedicado mais tempo do que para as oficinas anteriores, visto que se tratava de um programa que não era de conhecimento dos alunos e pelo fato de os mesmos não possuírem habilidade no uso dos computadores. 42 4 CONCLUSÃO A leitura, dada a sua importância, não deve ser restrita a aspectos mecânicos, mas deve partir da realidade do sujeito, visto que a leitura do mundo deve proceder à leitura da palavra, por isso é importante trabalhar na escola com diversos gêneros textuais, aqui escolhemos histórias em quadrinhos e fábulas, pois os mesmos contribuem para a aquisição da leitura e para a formação do sujeito leitor. Até mesmo as crianças que ainda não têm o domínio da leitura e da escrita, e até mesmo antes de entrar na escola, já têm contato com os gêneros textuais, sejam eles por escrito ou por meio de discurso oral. Na escola, esse contato deve ser ampliado desde os primeiros anos iniciais, através da leitura feita pelo professor, para que assim os educandos possam apreciá-los. As histórias em quadrinhos e as fábulas são gêneros que despertam o desejo pela leitura, ajudando na formação de leitores dentro e fora da sala de aula, por isso, é ideal trabalhá-los no espaço escolar, ficando a cargo do professor o papel de coordenar, assistir e estimular os alunos durante as atividades de leitura e produção escrita. Através dessa pesquisa, comprovamos que a leitura e a escrita são instrumentos essenciais na vida das pessoas, pois, diante da sociedade, a apropriação desses instrumentos são características de pessoas letradas. Dessa forma, procuramos incentivar a leitura e a produção de histórias em quadrinhos como motivação para trabalhar outros gêneros textuais, não apenas com leitura e interpretação, mas também com a produção desses gêneros; afinal só se aprende a ler, lendo e a escrever, escrevendo. As ferramentas tecnológicas também são recursos que ajudam aos professores na conquista desse processo, pois já é possível encontrar no ambiente digital, softwares educativos, como o utilizado por nós nessa pesquisa. Esse estudo além de nos permitir trabalhar a leitura e a produção de história em quadrinhos serviu para vencermos o preconceito em relação aos alunos da escola do campo e de salas multisseriadas que, na maioria das vezes, são vistos como intectualmente inferiores em comparação aos alunos da zona urbana e, diante dessa pesquisa, eles mostraram que são capazes de vencer os desafios a eles propostos. 43 Acreditamos ter cumprido nosso objetivo, pois as análises dos textos dessa pesquisa, a partir do trabalho com as fábulas, foram extremamente produtivas, visto que esse gênero possui uma base moralística, contribuindo para a formação do caráter da criança; revelando também a motivação dessa aquisição da escrita e o domínio das características do gênero histórias em quadrinhos pelos alunos. Logo, faz-se necessário e urgente que os professores de língua portuguesa ampliem seus conceitos sobre leitura e reflitam para uma metodologia de trabalho com base nos gêneros textuais, para que formem alunos-leitores autônomos e escritores competentes. 44 REFERÊNCIAS CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário escolar da língua portuguesa. 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. CRISTOVÃO, Vera Lúcia. NASCIMENTO, E. L. Gêneros textuais e ensino: contribuição do interacionismo sócio – discursivo. In: KARWOSKI, Acir Mário. GAYDECZKA, Beatriz. BRITO, Karim Siebeneicher (orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. 3ª ed. rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, autores associados: Cortez, 1982. KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 13ª ed., Campinas, São Paulo, 2010. KOCH, Ingedore Villaça.ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: Os sentidos do texto. 3ª ed., 3ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2010. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ª ed., 6ª impressão. São Paulo: ática, 2002. MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela Paiva. MACHADO, Anna Rachel. BEZERRA, Maria Auxiliadora (org). Gêneros Textuais e Ensino. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? (Coleção Primeiros Passos). 19ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2007. MENDONÇA, Márcia Rodrigues de Souza. Um gênero quadro a quadro: a história em quadrinhos. In: DIONISIO, Angela Paiva. MACHADO, Anna Rachel. BEZERRA, Maria Auxiliadora (org). Gêneros Textuais e Ensino. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. 45 Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Ministério da Educação Fundamental. 3ª ed. Brasília: A Secretaria, 2001. VIEIRA, Alessandra Junqueira. Desenvolvendo capacidades de linguagem: uma proposta de sequência didática para a compreensão e produção escrita do gênero textual fábula. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp039177.pdf. Acesso em: 31/05/11.