ALTERAÇÕES DO CLIMA ACÚSTICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO AEROPORTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA - DF Wesley Cândido de Melo Fabiana Serra de Arruda Sérgio Luiz Garavelli ALTERAÇÕES DO CLIMA ACÚSTICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO AEROPORTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA – DF Wesley Cândido de Melo Laboratório de Física Aplicada ao Meio Ambiente - Universidade Católica de Brasília (UCB) Programa de Pós-Graduação em Transportes – PPGT Departamento de Engenharia Civil e Ambiental/Universidade de Brasília–UnB Fabiana Serra de Arruda Programa de Pós-Graduação em Transportes – PPGT Departamento de Engenharia Civil e Ambiental/Universidade de Brasília–UnB Sérgio Luiz Garavelli Laboratório de Física Aplicada ao Meio Ambiente - Universidade Católica de Brasília (UCB) RESUMO Devido ao aumento do fluxo aéreo, rodoviário e a implantação de outros modais de transporte na região onde está localizado o Aeroporto Internacional de Brasília, este estudo visa determinar o clima acústico (situação atual) na região diretamente afetada, e através de modelagem predizer as alterações neste cenário em função do aumento do tráfego dos modais previsto para ocorrer num futuro próximo. Os resultados encontrados poderão subsidiar na gestão de conflitos entre os atores envolvidos, gerir e preservar a qualidade do conforto acústico da região e proporcionar a articulação com o planejamento de transporte e de ordenamento territorial. 1. INTRODUÇÃO A evolução do transporte aéreo no Brasil tem seguido tendências mundiais crescentes há várias décadas (IPEA, 2010). Tais projeções indicam que o transporte de passageiros, no mercado aéreo nacional, deverá triplicar nos próximos anos. Segundo esse estudo haverá, nas próximas duas décadas uma das maiores expansões do tráfego aéreo no país. Atualmente o governo brasileiro tem destinado investimentos significativos na ampliação da infraestrutura de transporte, dando prioridade aos modais: aéreo, férreo e hidroviário. De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO, 2009), o Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitscheck (AIB), é o terceiro em movimentação de aeronaves e de passageiros. Ele possui localização estratégica e é considerado ponto de conexão para destinos em todo o país, tendo a movimentação de pousos e decolagens bastante intensa. Estima-se que em 2018 este aeroporto atenda cerca de 25 milhões de passageiros por ano (INFRAERO, 2012). A Inframerica, consórcio que administra o AIB, pretende transformar o terminal e a região onde se encontra instalado em um grande ponto varejista da cidade e inclui-lo no modelo de outros aeroportos internacionais, como o “London Luton Airport”, no Reino Unido, e o “Hong Kong Airport System” na Ásia. As vias de acesso ao AIB foram ampliadas e o VLP (Veículo Leve sobre Pneu), apesar de não estar conectado ao aeroporto, passa pela região. Existe, ainda, a possibilidade de implantação de uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) ligando o AIB a área central da cidade. As intervenções, em conjunto, poderão acarretar alterações no clima acústico da região. Estudos que predizem as alterações no clima acústico em regiões provocadas pelo aumento do tráfego são de extrema relevância, pois servem como subsídio para a tomada de decisão na adoção de medidas mitigadoras que minimizem os efeitos nocivos sobre a população e o meio ambiente. Nesse contexto, este trabalho irá determinar as alterações no clima acústico 1 na região do AIB devido aos diversos modais que atendem a região e, a partir dos resultados encontrados, contribuir com o planejamento de transporte na região. 2. OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é predizer as principais alterações no clima acústico na região diretamente afetada pela operação do AIB devido ao tráfego aeroviário, rodoviário (automóveis e VLP) e pela implantação do modal ferroviário (VLT), de modo a contribuir com o planejamento de transporte da região. Os objetivos específicos deste estudo são: • Elaborar mapas estratégicos de ruído devido ao tráfego aeroviário; rodoviário e ferroviário; • Comparar resultados de medições in situ e da modelagem com os limites estabelecidos pelas legislações vigentes para esta região; • Estimar o percentual da população exposta ao ruído proveniente dos diferentes modais de transportes; • Estimar o grau de incômodo sonoro sentido pela população exposta na região do AIB; • Subsidiar a gestão do conflito entre os atores envolvidos em áreas de aeroportos, operadores de aeroportos, governos locais e comunidade, para gerir e preservar a qualidade do conforto acústico da região em questão além de proporcionar o planejamento de transportes por meio da articulação com os Planos de Ordenamento Territorial. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A evolução do transporte aéreo tem seguido uma tendência crescente há várias décadas, devido principalmente ao aparecimento e expansão de companhias aéreas de baixo custo, as quais impulsionaram o setor. A necessidade da ampliação das principais estruturas aeroportuários brasileira é incontestável principalmente pela realização dos eventos como a Copa do Mundo e Olimpíadas (IPEA, 2010). Essa demanda por transportes é acompanhada de impactos ao meio ambiente e uma das principais externalidades negativas é o ruído aeronáutico, que já é um dos distúrbios mais comumente relatados em áreas residenciais (BASTOS et al., 2007). Isso se deve ao fato da operação de uma aeronave gerar barulho facilmente identificável e que frequentemente impacta o meio ambiente com energia sonora excessiva (GROUP, 2003; CARVALHO JR e GARAVELLI, 2010 a). Em Brasília, o adensamento urbano próximo a regiões circunvizinhas ao AIB já configura um problema de difícil solução, devido à incompatibilidade da atividade aeroportuária com o uso do solo para fins residenciais, comerciais, educacionais e para atividades hospitalares, alterando significativamente o clima acústico da região, essa alteração ocorre também é devido ao ruído proveniente do tráfego rodoviário. A definição do conceito de “ruído” é complexa. No entanto, deve-se sempre mencionar que (1) “ruído” é um som composto por vibrações não harmônicas, em comparação com o som musical: (2) “ruído” é entendido muitas vezes, mas nem sempre, como som indesejável ou desagradável e que este entendimento depende de uma variedade de fatores físicos e não físicos (PAUL, 2010). O tráfego rodoviário gera o ruído rodoviário que é devido à combinação do ruído gerado por veículos, leves e pesados, deslocando-se em vias urbanas ou em rodovias. Pode apresentar dois componentes: o ruído devido à linha principal de tráfego de veículos, comportando-se 2 como uma fonte linear e o ruído gerado por cada veículo, assemelhando-se a uma fonte pontual (OUIS, 2011). Para determinar o clima acústico de uma localidade devido aos níveis de ruídos emitidos por fontes de ruído (aviões, automóveis, locomotivas, etc.) são utilizados mapas de ruído, que representam a distribuição geográfica dos níveis de ruído possibilitando a compreensão da propagação do ruído de maneira espacial e a visualização de possíveis pontos sensíveis. Tornando-se uma ferramenta útil para apoio a decisões sobre planejamento e ordenamento do território, sendo fundamental para o Planejamento de Transportes, garantindo o correto uso e ocupação do solo e prevenindo problemas ligados a poluição sonora (PINTO et al., 2004). Mapas de ruído, de acordo com PINTO et al., (2004) propiciam: preservar zonas com níveis sonoros regulamentares, corrigir zonas com níveis sonoros não regulamentares, criar novas zonas sensíveis ou mistas com níveis sonoros compatíveis, avaliar a evolução das emissões sonoras de infraestruturas de transporte existentes e de atividades econômicas instaladas, identificando a eventual necessidade de medidas de redução de ruído e a influência sonora de projetos (incluindo alternativas) de futuras infraestruturas de transporte e de desenvolvimento industriais, comerciais, possibilitando a escolha da alternativa de menor impacto. Para tanto, é importante estudar o clima acústico da região do AIB, de modo a determinar as curvas de ruído através do mapa de ruído por modal de transporte com a indicação dos locais mais atingidos pelo ruído gerado na região atualmente e em um futuro próximo. Esse estudo servirá como parâmetro para estudos semelhantes em outras cidades brasileiras, pois trará subsídios para que os gestores possam gerir o conflito entre os atores envolvidos em áreas de aeroportos, operadores, governos locais e comunidade, obtendo uma qualidade de vida para a população envolvida. Além disso, irá contribuir com argumentos técnicos para o controle da poluição sonora. 4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO A metodologia proposta para a dissertação em desenvolvimento é apresentada na Figura 1. Figura 1: Estrutura da Dissertação Cápitulo 1 Introdução Cápitulo 2 Referencial Teórico Ruído e Poluição Sonora Legislação e Normas sobre Ruído Transporte Aéreo, Ferroviário e Rodoviário Planejamento de Transportes Obtenção de Dados Cápitulo 3 Método Tratamento dos Dados Aplicação do Algoritmo do Software Modelagem e Predição Cenários Acústicos por Modais Cápitulo 4 Análise dos Dados Gestão do Ruído Planejamento de Transportes Cápitulo 5 Conclusões e Recomendações 3 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo proposto está em andamento e, encontra-se nas etapas: Revisão Bibliográfica e Elaboração dos Mapas. Para a Elaboração dos Mapas estão sendo utilizados os softwares: INM e SoundPLAN® cujas características e disponibilidade de licenças para as simulações permitirão que os objetivos propostos sejam atendidos. O trabalho tem previsão para término em dezembro de 2014. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas, Visando o Conforto da Comunidade. Associação Brasileira de Normas Técnicas Rio de Janeiro: ABNT, 2000. ____NBR 11.415: Ruído Aeronáutico. Rio de Janeiro: ABNT, 1990. ____NBR 13.368: Ruído Gerado por Aeronaves - Monitoração. Associação Brasileira de Normas Técnicas Rio de Janeiro: ABNT, 1995. Bastos, A. L. D., Baum, D. M. and Dias, D. P. Ruídos e emissões no transporte aéreo. Journal of Transport Literature, vol. 1, n. 1, pp. 66-104, 2007. Carvalho Jr., E. Garavelli, S.: Ruído ambiental e seus efeitos: o ruído aeronáutico no entorno do Aeroporto Internacional de Brasília, PLURIS, 2010 a. Carvalho Jr., E. Garavelli, S.: Avaliação do ruído aeronáutico em regiões circunvizinhas ao Aeroporto Internacional de Brasília, PLURIS, 2010 b. DISTRITO FEDERAL. Lei Distrital Nº 4.092, de 12 de março de 2008. Dispõe sobre o controle da poluição sonora e os limites máximos de intensidade da emissão de sons e ruídos resultantes de atividades urbanas e rurais [Internet]. [acesso em 2012 jul 25]. Disponível em www.sedhab.df.gov.br/sites/300/379/00000924.pdf. European Commission. Position Paper on dose response relationships between transportation noise and annoyance. Luxembourg, Office for Official Publications of the European Communities, 2002 (http://ec.europa.eu/environment/noise/pdf/noise_expert_network.pdf, accessed 31 July 2010). FICAN, Federal Interagency Committe on Aviation Noise, 1997. Effects of Aviation Noise on Awakenings from Sleep. Disponível em: http://www.fican.org/pdf/Effects_AviationNoise_Sleep.pdf. Acessado em: 10/12/2011. FICON- Federal Interagency Committee on Noise, Federal Agency Review of Selected Airport Noise Analysis Issues, Report for the Department of Defense, Washington, DC, 1992. INFRAERO, 2012 – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária. Disponível em: http://www.infraero.gov.br. Acesso 20/05/2012. IPEA, 2010. Campos Neto, C. A. S. e Souza, F. H. (2010) Aeroportos no Brasil: investimentos recentes, perspectivas e preocupações. IPEA, Nota Técnica. Paul, S.; Som e ruído – releituras críticas de textos brasileiros, XXIII ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ACÚSTICA, SALVADOR-BA, SOBRAC, 2010. PDTU-DF, 2011 – Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal e Entorno. Disponível em: http://editais.st.df.gov.br/pdtu/andamento/rel_and_4.pdf. Acesso: 11/03/2014. Pinto, F. R.; Guedes, M.; Leite, M. J. Projecto-piloto de demonstração de mapas de ruído - escalas municipal e urbana. Lisboa: Instituto do Ambiente, 2004. 53 p. OUIS, D.; Annoyance from road traffic noise: a review. Journal of Environmental Psychology, 21, p. 101–120 2011. U.S. Environmental Protection Agency. (1974) Information on Levels of Environmental Noise Requisite to Protect the Public Health and Welfare with an Adequate Margin of Safety. Report 550/9-74-004. WHO. Burden of Disease from Environmental Noise-Quantification of Healthy Years Lost in Europe. World Health Organization, 2011. Diponível em: http://scholar.google.com/scholar?hl=en&btnG=Search&q=intitle:Burden+of+disease+from+environmen tal+noise+Quantification+of+healthy+life+years+lost+in+Europe#4. Acesso em 12/03/2013. Wesley Cândido de Melo ([email protected]) Fabiana Serra de Arruda ([email protected]) Sérgio Luiz Garavelli ([email protected]) Programa de Pós Graduação em Transportes - Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro – Faculdade de Tecnologia – Departamento de Engenharia Civil 1° Andar Asa Norte, DF, Brasil. 4