Nutrição Florestal para a Região do Cerrado Contribuição ao 2º Congresso Florestal no Cerrado & 4º Simpósio sobre Eucaliptocultura Júlio César Lima Neves Prof. Associado – Dep. Solos/UFV – Campus Viçosa ([email protected]) Loane Vaz Fernandes Pós-doutoranda – Dep. Solos/UFV – Campus Viçosa Nairam Félix de Barros Prof. Titular – Dep.Solos/UFV – Campus Viçosa Goiânia – GO Junho 2015 Historicamente, Florestas sempre foram muito importantes para a Humanidade A Importância da Produção Primária A Vida na Terra é, primariamente, função da Fotossíntese 6 CO2 + 6 H2O + Radiação Solar ---------- > C6H12O6 + 6 O2 (Nutrientes minerais) Recursos (Fatores) de Produção Florestal Radiação Solar, CO2, H2O e Nutrientes Minerais Clima Radiação solar Precipitação Temperatura, etc Fisiografia Interfere nos fluxos dos recursos ou fatores de produção Solo Crescimento de raízes Suprimentos de água, nutrientes e oxigênio Sítio Florestal -> Capacidade Produtiva (Florestas Naturais) Tempo Material genético Manejo Produtividade Florestal, Plantações Florestais Escolha do Material Genético Incremento médio anual em volume de clones de eucalipto de acordo com a precipitação anual Fonte: Xavier (2005) Clone Precipitação média (mm/ano) 900 1200 1400 Volume de tronco (m3/ha/ano) 0321 20 42 66 1249 13 40 61 1280 13 31 56 1341 11 39 42 1407 30 71 - 1423 28 39 - Diferentes Exigências e Padrões de Aquisição e Utilização de Recursos ? Alta tolerância Baixa tolerância Tolerância médi Em 2007, ano com menor pluviometria no cerrado de MG Mecanismos envolvidos nessa tolerância diferencial ? CONCEITO DE NUTRIÇÃO Contínuo Solo – Solução – Planta - Atmosfera Transporte e Aquisição de Nutrientes Raízes Finas – Superfície de Aquisição de Nutrientes TAn = 2.π.r.L.@ C TA – taxa de absorção do íon; r – raio radicular; L comprimento radicular; @ - poder de absorção da raiz (parâmetros cinéticos); C – concentração do íon na superfície radicular Fósforo e o Grande Estímulo às Raízes de Eucalipto Fonte: Neves et al (1987) micorrizas Raízes micorrizadas Fonte: Fox et al. (2004) A absorção de nutrientes em eucalipto ocorre numa regiáo de até 2 a 4 cm a partir da ponta da raiz fina Silva (2011), em tese de DS da ESALQ A aplicação superficial de calcário, sem incorporação, não tem sido eficiente para transferir Ca para o eucalipto! ( A importância dos drenos: solo e planta) Fonte: Fransciscatto, 2010 Bomba de prótons Proteina integral Proteina Sistemas de transporte de íons através de membrana plasmática (Marschner, 2005). Eficiência de eucalipto na absorção e na translocação de P Espécie Absorção Vmax Cmin (mg/g raiz) (umol/g/h) (umol/L) Pi – Folhas (mg/kg) 0 dia 20 dias (%) E. pellita 41 1,33 0,23 9,4 3,3 65 E. grandis 50 0,57 2,08 9,6 2,6 73 E. urophylla 47 1,72 0,27 10,4 2,3 78 (Furtini Neto, 1994) (A) K (umol/g RF/h) 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 K em soluçâo (umol/L) (B) Ca (umol/g RF/h) 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Ca na soluçâo (umol/L) Mg (umol/g RF/h) (C) 0.8 Fonte: Lima et al. (2003) 0.6 0.4 0.2 0.0 0 20 40 60 80 100 120 140 Mg na soluçâo (umol/L) 1213 57 129 7074 Influxos estimados de K (A), de Ca (B) e de Mg (C) em clones de eucalipto em função de suas respectivas concentrações na solução. Três Marias - MG Litoral Norte - ES Guanhães - MG Luiz Antônio - SP Conteúdo de Potássio (kg/ha) 450 400 350 1 300 2 3 250 200 4 150 100 50 0 0 50 100 150 200 250 300 Eficiência de utilização de nutrientes : (CUB) = MS/Conteúdo Biomassa Parte Aérea (t/ha) Taxa de acúmulo de potássio em relação à taxa de acúmulo de biomassa de eucalipto. Resiliência do eucalipto ao défice hídrico e nutricional Crescimento em altura (cm) dos clones GG100 (A), I-144 (B) e 1528 (C), influenciado pelos tratamentos: sDH- controle (sem déficit hídrico (DH) e sem atraso na adubação (At)); DH4- DH de quatro meses e sem At; At2- sem DH e At de dois meses; At2DH4- DH de quatro meses e At de dois meses At4- sem DH e At de quatro meses na adubação, At4DH4- DH e At até quatro meses após o plantio Rocha, 2013 Resiliência do eucalipto ao défice hídrico e nutricional (Conclusóes) • Os défices hídrico e/ou nutricional reduziram o crescimento dos clones, e o ressuprimento de água e de nutrientes promoveu sua recuperação, indicando alta resiliência. • Os mecanismos de tolerância e resiliência ao estresse hídrico foram: – redução de gs, que minimiza a perda de água; – aumento na dissipação de energia regulada do fotossistema II (Y(NPQ)), que dissipa o excesso de energia luminosa absorvida; – acúmulo de açúcares solúveis, que são osmoprotetores. • Os clones submetidos a deficiência nutricional apresentaram alta eficiência na absorção e no transporte dos nutrientes após o ressuprimento via adubação, principalmente para P, K e B. Rocha, 2013 - Transporte no solo, absorção e translocação de Boro em Clones de Eucalipto (Mattiello, 2008) - Crescimento e Expressão Gênica em Clones de Eucalipto Influenciados pelo Boro e Déficit Hídrico (Nunes, 2010) - Expressão de genes relacionados à tolerância à seca influenciada pela aplicação de B em mudas de eucalipto (Reis, 2011) -Discriminação isotópica de 13C e nutrição com Ca e B na tolerância ao défice hídrico em clones de eucalipto (Barros Filho, 2014) - Estratégias Evolutivas do Eucalipto para Tolerância à Seca ( Reis, 2015) Mattiello, 2008 Nunes (2010): Tanto os genes (4) relacionados ao transporte de B e polióis quanto os relacionados à síntese de parede celular (4) apresentaram maior expressão relativa nos tecidos radiculares do clone tolerante, cultivado sob déficit hídrico, na presença de B. Os genes apresentaram maior expressão relativa na raiz, sinalizando maior crescimento do sistema radicular; estratégia para maior aquisição de nutrientes e água, contornando problemas causados por longos períodos de estiagem. Reis (2011): A aplicação de B em folhas maduras em plantas sob condições de reduzida disponibilidade de água se mostrou eficaz na mitigação dos efeitos negativos do estresse hídrico, induzindo o crescimento radicular e aumentando a tolerância á seca pelo genótipo de eucalipto. Fonte: Reis, 2015 Fonte: Reis, 2015 Fonte: Reis, 2015 Aplicação de B via pulverização foliar (jatão) em período seco no cerrado de MG Aplicação de Boro foliar no período seco: Considerando Fertilizante Foliar com 10% B (quelatado) e densidade 1,35 kg/L: Fornecimento via avião: prepara-se uma calda fertilizante, diluindo-se 7,5 L desse fertilizante para cada 30 L de calda; Esta é aplicada, via avião, à razão de 30 L/ha. Dessa forma, aplica-se 1 kg de B por hectare. Fornecimento via jatão: Diluir o fertilizante foliar à razão de 7,5 L para 120 L de calda. Aplicar 120 L / ha, com o pulverizador regulado a 2 - 2,5 bar, e de modo a fornecer em torno de 1 a 1,25 kg B por ha. Em Eucalipto há Substituiçao Parcial de Potássio pelo Sódio Eficiência nutricional de clones de eucalipto Diagrama de distribuição dos clones de eucalipto em função das eficiências de absorção (EA) e utilização (EU) de N Pinto et al., 2011 Alterações nutricionais, fisiológicas e moleculares em clones de eucalipto submetidos à omissão e ao ressuprimento de N ou P Fernandes, 2013 EXPORTAÇÃO RELATIVA DE P + K + Ca Média Florestais Teca Eucalipto Pinus 31% 23% 27% 27% Agricultura Soja Milho Cana 40% 55% 50% 48% Fonte: Barros et al. (2007) Transferência (%) do Carbono Adicionado via Resíduos da Colheita de Eucalipto para a Fração Humina da Matéria Orgânica do Solo 32 26 17 Folha Casca Fonte: Demolinari (2008) Galho A importância de haver balanço positivo de nitrogênio no sistema para a matéria orgânica do solo Ganho de C Perda de C Mudança no C Sem Leg Com Leg. Recuperação (%) do C Adicionado via Resíduos da Colheita do Eucalipto na Fração Pesada da MOS, na ausência ou presença de adição (100 kg/ha) de N ao solo Fonte: Demolinari (2008) Integrando Clima, Solo, Planta Uso de Modelos Ecofisiológicos (p.ex: 3-PG) Exemplo de Estimativa de Produtividade Florestal para uma região do Cerrado (Curvelo – MG): IMA_6 (limitado pelo clima) = 60 x 1,12 = 67 m3/ha/ano Relêvo: Plano -> IQFisiográfica (IQFis) = 1,00 Índice de Qualidade do Solo (IQS), com base em características do solo + estáveis = 0,53 a 0,85 (média 0,69) Produtividade Estimada (IMA_6 estimado): Nos talhóes com IQS 0,53: Nos talhóes com IQS 0,69: Nos talhões com IQS 0,85: 67 x 1,00 x 0,53 = 35,5 m3/ha/ano 67 x 1,00 x 0,69 = 46,2 m3/ha/ano 67 x 1,00 x 0,85 = 57,0 m3/ha/ano Tabela 2. Estimativa da produtividade potencial de povoamentos de eucalipto por classe de solo no Meio-Norte brasileiro. Região Classe de solo Maranhão Latossolo Modulador Pedológico IMA (m3/ha/ano) 1,0 - 0,6 62 - 37 Maranhão Argissolo/Neossolo Quartzarênico 0,7 - 0,4 43 - 25 Maranhão Plintossolo 0,4 - 0,2 25 - 12 Piaui Piaui Piaui Latossolo Argissolo Plintossolo 1,0 - 0,6 0,7 - 0,4 0,4 - 0,2 43 - 26 30 - 17 17 - 10 Borges et al (2015) Modelos Matemáticos para Estimativa da Eficiência de Utilização (Coeficiente de Utilização Biológico (CUB, em kg/kg) de N, P e K na Parte Aérea de Clones de Eucalipto em função de variáveis do clima (precipitação), do solo (teor de argila) e do povoamento (idade, área por planta) Fonte (Valadares, 2015) Conteúdos estimados de macronutrientes em florestas de eucalipto para três produtividades, na idade de corte (6-7 anos) Nut. Prod. Folha Galho Casca Lenho Tronco Raiz Total m3/ha/ano ----------------------------------------- kg/ha ----------------------------------------N 30 40 50 97,39 117,87 136,68 41,74 50,52 58,58 27,93 33,71 39,00 62,22 78,67 94,37 90,15 112,38 133,37 71,33 78,76 85,07 300,61 359,53 413,70 P 30 40 50 4,51 5,55 6,62 4,34 5,34 6,27 3,89 4,86 5,77 4,42 5,41 6,33 8,32 10,27 11,11 2,93 3,05 3,15 19,92 24,01 27,80 K 30 40 50 25,98 32,11 37,84 25,98 32,11 37,84 29,44 36,49 43,10 37,86 47,01 55,61 67,30 83,50 98,71 23,79 25,71 27,30 159,59 193,85 225,75 Ca 30 40 50 28,81 35,88 42,54 43,21 53,82 63,81 144,27 177,76 209,00 66,71 84,22 100,91 210,98 261,98 309,92 39,69 45,16 49,93 322,68 396,84 466,20 Mg 30 40 50 11,20 13,95 16,54 11,20 13,95 16,54 23,86 29,66 35,11 12,33 15,10 17,65 36,19 44,76 52,78 9,39 10,62 11,71 67,97 83,29 97,58 Conteúdos estimados de micronutrientes em florestas de eucalipto para três produtividades, na idade de corte (6-7 anos). Nut. Prod. Folha Galho Casca Lenho Tronco Total m3/ha/ano --------------------------------- kg/ha -------------------------------B 30 40 50 0,255 0,274 0,320 0,088 0,107 0,125 0,180 0,253 0,329 0,266 0,330 0,389 0,446 0,582 0,718 0,758 0,963 1,163 Fe 30 40 50 0,416 0,507 0,592 0,302 0,369 0,430 0,502 0,705 0,919 3,396 4,210 4,973 3,898 4,916 5,892 4,616 5,792 6,914 Mn 30 40 50 1,171 1,429 1,668 2,020 2,464 2,875 2,655 3,732 4,860 0,825 1,023 1,208 3,480 4,755 6,068 6,671 8,648 10,611 Zn 30 40 50 0,068 0,083 0,097 0,160 0,195 0,227 0,180 0,252 0,329 0,672 0,833 0,984 0,851 1,085 1,312 1,079 1,363 1,637 Cu 30 40 50 0,030 0,037 0,043 0,045 0,055 0,064 0,082 0,115 0,149 0,154 0,190 0,225 0,235 0,305 0,374 0,310 0,397 0,481 Utilizando a Análise Foliar, como: - ferramenta para a diagnose nutricional, - avançar o conhecimento sobre nutrição, - separar efeito nutricional de efeitos náo nutricionais - aprimorar a recomendação de adubação A importância da extensáo e qualidade nutricional da superfície de interceptção de luz e fixação de C Lourenço, 2009 O uso de análise foliar como estratégia complementar à análise de solo no manejo nutricional das lavouras Análise de Solo: Estima o Suprimento (potencial) do nutriente pelo solo. E o Suprimento “Real”? Uso de Análise de Tecido (p.ex: foliar) f Teor foliar do nutriente Disponibilidade , transporte, aquisição, alocação do nutriente = f Massa do nutriente Massa de folha Clima, fisiografia, condições químicas e físicas de solo => Fotossíntese e alocação de Carbono A importância de padronização da amostragem foliar (ex: efeito de posição sobre o teor foliar do nutriente em eucalipto) Posição N P K Ca Mg S Cu Fe Zn Mn B mg/kg 24 311 24 Terço apical 24,0 1,5 g/kg 11,1 4,3 Terço médio 21,2 1,1 11,3 5,0 2,4 0,9 7 68 17 283 32 Desvio (%) 13 43 -2 -13 14 69 32 0 37 10 -25 2,7 1,6 9 68 Neves et al. (2013) Há efeito de sazonalidade na análise foliar conforme a mobilidade do nutriente na planta (exemplo em eucalipto) B (CV entre épocas = 65 %) Variabilidade dos teores média (N,P,K,Mg) 16 % média (S, Cu, Fe, Mn, Zn) 39 % média (Ca, B) 49 % N (CV entre épocas = 17 %) Uso da Análise Foliar para Refinar Recomendação de Adubação (Considerando Balanço (IBKW), Equilíbrio (IDRIS, IENm e PRA)) Atualmente há valores de referência de teores e de relações duais entre teores nas folhas para plantios jovens de eucalipto em várias regiões do País Ligando Análise Foliar com Análise de Solo (Exemplo em Eucalipto) Sequeira et al, 2011 Teor de Cobre no Solo (Mehlich-1) vs Dose Adicionada Com calagem Sem Calagem Santos Neto, 2003 Modelando a Taxa de Recuperação do Extrator Em Solos Sem Calagem Zn: TR-Mehlich-1 = 0,69 + 0,0034 (Silte + Arg); R2=0,59 Cu: TR-Mehlich-1 = 1,03 – 0,0048 Arg – 0,0773 MO; R2 = 0,81 B: TR_Água quente = 0,81 – 0,0153 Arg + 0,0001 Arg2`: R2=0,54 Em Solos Com Calagem Zn: TR-Mehlich-1 = 0,78 -0,0650 PRem – 0,0025 PRem2; R2=0,78 Cu: TR-Mehlich-1 = 1,02 – 0,1421 MO; R2 = 0,87 B: TR_Água quente = 1,11 – 0,0264 Arg + 0,0002 Arg2`: R2=0,94 Santos Neto (2003) Obrigado a Todos pela Atenção