município de leiria MUNICÍPIO DE LEIRIA Uma Cidade, uma Estratégia município de leiria 135 leiria uma cidade, uma estratégia António Martinho Vereador da Mobilidade e Trânsito Resumo A cidade de Leiria, situada na Região (NUT III) do Pinhal Litoral, é a mais populosa de todo o território litoral entre Coimbra e Lisboa. O seu crescimento urbano, sobretudo nas décadas 80 e 90, provocou uma oferta significativa de construção nova a preços relativamente baixos. Nos últimos anos, a Câmara Municipal de Leiria definiu como prioridade estratégica a acessibilidade e mobilidade para todos, implementando um conjunto de medidas: eliminação de barreiras arquitectónicas e urbanísticas, criação de condições para a circulação pedonal e ciclável, o controlo do estacionamento abusivo e o desenvolvimento de projectos de desenho urbano. A importância do Programa Polis na Requalificação Urbana da Cidade de Leiria, operada entre 2001 e 2007 com apoio no III QCA, foi determinante para a criação e qualificação de espaços públicos, valorização da frente ribeirinha, melhoria da acessibilidade e mobilidade, reestruturação viária e a melhoria da qualidade visual da paisagem urbana. Com o projecto Eco-cidade, enquadrado por um estudo de requalificação urbana da parte central da cidade, a autarquia pretende reduzir o tráfego automóvel de atravessamento na zona central da cidade. Subverte-se a habitual hegemonia do automóvel nas grandes cidades, permitindo que a mobilidade passe a ser considerada como forma de habitação do meio e de socialização. Palavras chave: Polis, espaço público, frente ribeirinha, mobilidade, circulação pedonal e ciclável. Abstract Leiria is at the center of a vast area of municipalities with urban characteristics, and is the largest and most populous city of the whole coast between Lisboa and Coimbra. Its urban growth, especially during the 80’s and 90’s, caused a significant supply of new construction at relatively low prices. In recent years, the Municipality of Leiria defined as strategic priority the accessibility and mobility for all, by implementing a set of actions: overcoming urban and architectural barriers, setting better conditions for walking and cycling, controlling illegal parking and urban requalification programes. The major importance of Programa Polis in the urban renewal of Leiria, operated between 2001 and 2007, was crucial to create new public spaces, for the reinstaintment of the riverfront, restructuring the road network and improving the image of the city. With the Projecto Eco-Cidade, supported by a study of urban regeneration for the central part of the city, the municipality aims to reduce the crossing of the central area of Leiria by car traffic. The municipality aims to subvert the usual dominance of cars in cities, allowing mobility to be considered a form of socialization of the space. Keywords: Polis, public space, riverfront, mobility, cycling and pedestrian circulation. município de leiria 137 1 Mobilidade, acessibilidade e reabilitação urbana em cidades médias Os temas da mobilidade e da acessibilidade estão na ordem do dia. Associados intrinsecamente á reabilitação urbana, tanto do ponto de vista conceptual, tanto do ponto de vista da sua aplicabilidade, sendo hoje um dado adquirido que estão na relação directa da utilização do espaço por todos, independentemente das diferentes capacidades de mobilidade de cada um de nós. Esta evolução do conceito surge do exercício da cidadania, ao mesmo tempo que resulta da aplicação de uma nova perspectiva de planeamento do território urbano público e privado, enquanto espaço integrador à escala local. Existe, hoje em dia, a convicção de que a mobilidade e a acessibilidade, como conceito transversal e multidisciplinar, implica o desenho de um território para todos, numa lógica participada e planeada. Com um público multifacetado, com diferentes características, a mobilidade para todos abrange áreas diferentes como o desenho urbano do espaço público, o edificado, os transportes, as actividades económicas e a inclusão social. Os municípios, tendo em conta a importância das questões de equidade social, num quadro de desenvolvimento sustentável, estão a intervir nos territórios, procedendo a correcções que visam a resolução dos problemas com as acessibilidades. Nos países do Norte da Europa, bem como em França, Itália, Espanha, Suíça, Alemanha, Estados Unidos da América e Reino Unido, e muitos outros países em todos os continentes, têm vindo a desenvolver experiências e intervenções nas cidades para devolver ao peão o espaço urbano que o automóvel tem vindo a ocupar, alterando a fisionomia das zonas de circulação, moldando à sua medida o desenho das ruas, praças e outras áreas públicas. Os estudos e as experiências levadas a cabo em muitos países, revelam que as áreas pedonalizadas dos centros urbanos, potenciam as relações comerciais dado o aumento médio do tempo de permanência nessas áreas pela população e pelo consequente aumento do consumo. figura 1 Praça em Gdansk, Polónia 138 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias Na prática, os centros urbanos, geralmente associados à malha histórica da cidade, revelam apetência para se apresentarem como uma grande área comercial a céu aberto, no qual o peão pode circular livremente, apoiado por estacionamento periférico a estas áreas, potenciando o comércio tradicional, de preferência de origem nacional, estimulando a economia do país em detrimento da perspectiva única de consumo. A participação de todos no espaço público, independentemente das suas convicções, só é possível se este for considerado como parte integrante da comunidade, mesmo considerando a diversidade dos seus utilizadores. Em 1967, Aaron Sussman e Ruth Goode, abordaram a questão da mobilidade pedonal colocando a questão: Porquê andar? Ao mesmo tempo elencaram um conjunto de argumentos que não carecem de demonstração: • Andar é uma das primeiras coisas que uma criança deseja fazer e é uma das últimas que qualquer um de nós quer deixar de fazer. • Andar é um exercício físico que não necessita de ginásio. • É uma receita sem necessidade de médico, uma forma de controlar o peso sem dieta e é um cosmético que não se encontra nas boticas. • É um tranquilizante sem comprimidos, uma terapia sem psicanalista e uma forma de se deslocar gratuita. • Ainda mais, não polui, não consome recursos naturais e é altamente eficiente. • Andar é conveniente, não necessita de equipamento especial, é auto regulável e seguro por natureza. • Andar é tão natural como respirar. Portanto os temas da mobilidade e da acessibilidade tem ganho importância crescente ao longo do tempo. Conceitos como Mobilidade sustentável e modos suaves, fazem parte do nosso dia-a-dia de forma natural e gradual. A mobilidade dos cidadãos impõe um grande esforço de reflexão, sobre inúmeras condicionantes ligadas a componentes ambientais, sociais, económicas e de lazer, deve ser encarada não como um meio, ou um fim, mas como um ponto de partida para o desenvolvimento sustentável da cidade. Uma questão se coloca. Em que Cidade queremos viver? Fruir a cidade não será como sentir o bem-estar do espaço em que vivemos quando todos os dias fechamos a porta ao entrar em casa? E da mesma forma que organizamos vida quotidiana, adoptando um conjunto de regras na tranquilidade do nosso espaço, não o deveremos fazer também para a comunidade? Impõe-se pensar a mobilidade, isto é, pensar como se organizam os diversos fluxos na cidade, a melhor forma de garantir o acesso das pessoas ao que a cidade oferece de modo mais eficiente em termos socioeconómicos e ambientais, e implementar as acções necessárias de uma forma organizada e selectiva, mantendo a funcionalidade da cidade, definindo como objectivo cuidar, preservar e devolver a cidade aos cidadãos num quadro de conforto e segurança. Significa estruturar um projecto para transformar Leiria numa Eco-Cidade. município de leiria 139 figura 2 Imagem do centro de Leiria Nos últimos anos, a Câmara Municipal de Leiria definiu como prioridade estratégica a acessibilidade e mobilidade para todos, implementando um conjunto de medidas: eliminação de barreiras arquitectónicas e urbanísticas; criação de condições para a circulação pedonável e ciclável; o controlo do estacionamento abusivo; a relocalização de sinalética; a melhoria da iluminação pública e o desenvolvimento de projectos de desenho urbano. Com o projecto Eco-cidade, enquadrado por um estudo de requalificação urbana da parte central da cidade, destinado a dar mais espaço aos peões, a autarquia pretende reduzir o tráfego automóvel de atravessamento na zona central da cidade, que é o principal factor de congestionamento e consequente perturbação da normal circulação na urbe. Subverte-se a habitual hegemonia do automóvel nas grandes cidades, permitindo que a mobilidade passe a ser considerada como forma de habitação do meio e de socialização. 140 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias 2 Caracterização O Concelho de Leiria ocupa uma posição privilegiada no quadro do nosso País e particularmente no regional. Com uma área de 565 Km2, estende-se entre os 38o 38’ 07’’ e os 39o 37’ 49’’ de latitude Norte e os 8o 58’ e os 8o 37’ 19’’ de longitude Oeste. Confina a Norte com o Concelho de Pombal, a Este também com Pombal e com Ourém, a Sul com a Batalha, Porto de Mós, e Alcobaça e a Oeste é limitado pelo Concelho da Marinha Grande e pelo Oceano Atlântico. Está inserido na Região Centro e situa-se na Zona do Pinhal Litoral, apresentando-se como área de grande influência sócio - económica e fortemente representativa do total da Região, com os seus 126 mil habitantes e uma densidade populacional actual de 210 hab./Km2. figura 3 Localização de Leiria ao nível nacional e regional A cidade de Leiria, sede de Concelho e capital de Distrito, fica a uma distância de 146 quilómetros de Lisboa, 72 quilómetros de Coimbra e 184 quilómetros do Porto, sendo a sua localização um dos elementos principais que concorre para o seu crescimento e desenvolvimento, e a área urbana um importante nó viário resultante do cruzamento de algumas das principais estradas do País. Aqui se cruzam e sobrepõem o IC2, a A1, a A8 e, recentemente, a A17 e as EN 109, 242 e 113. As actividades associadas à agricultura e à pecuária tradicionais, as indústrias de alimentos, compostos para animais, moagem, serração de madeiras, resinagem, cimentos, metais, serração de mármores e construção civil, caracterizam o sector secundário, com destaque ainda neste sector para as indústrias de moldes, e no sector terciário o comércio e os serviços, e mais recentemente, o turismo, e nos últimos anos com destaque o incremento do ensino superior tecnológico. município de leiria 141 figura 4 Evolução da população residente no Concelho de Leiria (triplo da taxa de crescimento nacional) 140.000 130.000 127.468 120.000 119.847 110.000 102.762 100.000 96.517 90.000 80.000 70.000 1981 1991 2001 2011 A cidade de Leiria é o centro de uma vasta área de concelhos de características predominantemente urbanas, situando-se na Região (NUT III) do Pinhal Litoral, sendo a cidade mais populosa de todo o território litoral entre Coimbra e Lisboa. O seu crescimento urbano sobretudo nas décadas 80 e 90 provocaram uma oferta significativa de construção nova a preços relativamente baixos. Leiria, área urbana, estruturou-se sobretudo com base em loteamentos (457 entre 1963 e 2002) os quais acabaram por ser responsáveis pelo desenho da cidade sem que se estruturasse com coerência uma ideia/conceito que a conformasse. Uma análise sumária da estrutura urbana da cidade revela a existência de duas áreas distintas fisicamente identificáveis: Uma coroa externa que compreende a sua máxima dimensão (círculo exterior de 3,5 km) e que é delimitada interiormente pelas vias da circular interna da cidade. Uma coroa interna, ou área central que compreende aproximadamente os limites da cidade dos anos 60 (círculo aproximado de 1,2 km). Esta área correspondendo a 13% da área da zona urbana, concentra no entanto, cerca de 50% da população da cidade e do alojamento. figura 5 Coroas da Área Urbana de Leiria, com as respectivas áreas e habitantes Hectares 4000 3500 3622 3000 2500 2000 1500 COR OA E PER ÍMET XTE RO U 1000 RNA 498 500 RBA COR OA IN TER CEN NA TRO URB ANO NO 0 Coroa Externa Coroa Interna Habitantes 50000 | esc ola P 45000 OLIS 48141 40000 35000 30000 25000 20689 20000 15000 10000 5000 0 Coroa Externa Coroa Interna 142 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias 3 Polis A aplicação da estratégia definida pelo Programa Polis no sentido da requalificação urbana do designado “Sistema Rio” e da sua relação através da requalificação do espaço público com o seu centro histórico. A importância do Programa Polis na Requalificação Urbana da Cidade de Leiria, operada entre 2001 e 2007 com apoio no III QCA, foi determinante para a criação e qualificação de espaços verdes urbanos, valorização da frente ribeirinha, melhoria da acessibilidade e mobilidade, reestruturação viária, circulação ciclável e pedonal, supressão de barreiras arquitectónicas, recuperação e qualificação do espaço público, incluindo mobiliário urbano e equipamento estruturante e a melhoria da qualidade visual da paisagem urbana. figura 6 Área do Programa Polis e imagens dos projectos de requalificação ambiental e de espaço público A oportunidade que o QREN veio criar para 2007-2013, permitirá completar um ciclo determinante na história urbanística da cidade. A requalificação do espaço público, e de equipamentos no tecido urbano, operada no âmbito do Programa Polis, implementando uma prática de apoio à reabilitação do edificado privado, e dos espaços públicos do Centro Histórico com destaque para a mobilidade inclusa, deu início a um processo de renovação urbana, que incidiu sobre a requalificação de ruas, praças, infraestruturas e também património edificado do centro histórico, com recurso aos métodos tradicionais e ao apoio fotogramétrico corrigido, tem permitido conhecer e caracterizar o centro histórico, e contribuir de forma significativa para a valorização arquitectónica das soluções e das abordagens levadas a cabo nos trabalhos de reabilitação. município de leiria 143 4 Centro histórico Este trabalho acompanhado de um Estudo sócio - demográfico do Centro Histórico, permitiu uma nova visão integrada dos seus problemas, identificando oportunidades e constrangimentos que fundamentaram opções municipais, quer no âmbito do ordenamento com a elaboração de um Plano de Pormenor do Centro Histórico de Leiria, quer na definição de Estudo de Enquadramento Estratégico (Parque Expo) que permitiu fundamentar o acesso a financiamentos comunitários no âmbito do QREN e que determinam um programa de acções para o Centro Histórico. Com 200 edifícios que precisam de obras com diversos graus de intervenção, desde a pintura até obras profundas com substituição da estrutura, sendo que destes, 98 estão bastante degradados e cerca de 20 em ruína, 34 estão localizados na zona alta do centro histórico (zona habitacional) estando 15 parcial ou totalmente ocupados e 19 devolutos, e 64 estão localizados na zona baixa (comercial), as opções a tomar em cada edifício são muito diversas, sendo que cada um é um caso. O apoio à iniciativa dos proprietários tem implicado uma gestão urbana e controlo das operações urbanísticas caracterizando-se por: atendimento personalizado dos munícipes; Informação prévia das condicionantes inerentes às intervenções; Fornecimento dos estudos patrimoniais, levantamentos fotogramétricos dos edifícios, quando existentes e caderno de encargos para a contratualização dos trabalhos de arqueologia; Acompanhamento da elaboração do projecto; Resolução de problemas processuais; Apoio técnico à execução das obras; Acompanhamento dos trabalhos de arqueologia; Coordenação com as entidades responsáveis pelas infra-estruturas no que diz respeito à integração dos elementos (caixas, armários, cablagens, etc.) nas fachadas. figura 7 A Baixa de Leiria 144 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias 4.1 Linhas de orientação Pretende-se dotar Leiria e em particular o Centro de Leiria como ponto de partida de uma área suficientemente funcional e confortável em que o peão possa de forma segura circular e utilizar as funções e equipamentos disponíveis, assegurando apenas as acessibilidades a veículos prioritários, actividades económicas e moradores. Com uma “vida intensa” é na zona central da cidade, que diariamente as pessoas, se deparam com grandes dificuldades de vária ordem, tanto na normal utilização do espaço público como na utilização do edificado, devido, quer ao conjunto de obstáculos existentes na via pública ou nos transportes, quer à falta de condições de acesso e de circulação, nas ruas e nos edifícios de utilização colectiva. Deste modo, construir cidades acessíveis a todos, constitui um imperativo ético e social, que traduz o respeito pelos valores fundamentais da solidariedade, da liberdade e da equiparação de oportunidades. Esta abordagem conduziu à operacionalização de um conjunto de Acções de Promoção da Acessibilidade e ao desenvolvimento dos Planos Local e Municipal de Promoção da Acessibilidade, transportando Leiria para um patamar de qualidade do ambiente urbano, respondendo às novas exigências das sociedades contemporâneas. Leiria integra, assim, a 1ª Geração dos Planos de Promoção de Acessibilidade. A elaboração dos referidos planos tem, intrínseco, um conjunto de importantes objectivos: a) Pensar estrategicamente a nível local ou municipal evitando a adopção de medidas avulsas; b) Articulação com as políticas sectoriais definidas pelo município; c) Identificar a população envelhecida e/ou incapacitada, de forma a melhorar a sua integração; d) Encontrar as principais fragilidades físicas do território do ponto de vista da acessibilidade, nomeadamente as barreiras arquitectónicas; e) Envolver as entidades locais, para em conjunto, encontrarem as principais soluções e as orientações; f) Criar um plano de auscultação|debate com as diferentes entidades de solidariedade relevantes, em particular com as entidades sem fins lucrativos que prestam serviço cultural, social e educativo; 4.2 Espaço Público A maior parte das cidades não apresenta um plano original homogéneo, mas sim a sobreposição de dois ou mais tipos de plantas, correspondendo cada um deles a épocas distintas. Este facto resulta numa série de problemas urbanos, principalmente nas áreas mais antigas das cidades, em que as ruas estreitas e tortuosas dificilmente conseguem garantir uma mobilidade eficaz para as pessoas, já que as cidades a elas pertencem. A resolução dos problemas urbanos é um enorme e dinâmico desafio, dada a constante mutação dos espaços e dos comportamentos dos seus intervenientes. Devido à falta de espaço nas cidades, torna-se difícil encontrar soluções, pelo que se torna necessário fazer uma adequação específica a cada tipo de cidade e ainda de métodos e instrumentos que possam implementar, sem prejuízo de muitos e em benefício de todos, medidas eficazes e contemporâneas, sem nunca descorar a história e a identidade de cada cidade. Quando falamos da cidade de Leiria, em termos de espaço público, o estudo tem como propósito o diagnóstico (e respectivas propostas de intervenção) das barreiras existentes na via pública, bem como dos níveis de acessibilidade dos corredores que interligam a rede pedonal das áreas de intervenção dos Planos. município de leiria 145 O espaço público e o modo como o mesmo se tem desenvolvido, centra, neste ponto, uma importante reflexão na medida em que se verifica que o mesmo, sendo de todos, é polvilhado de elementos e situações que potenciam a exclusão. De facto, são muitas as imobilidades que existem nas nossas cidades e vilas, impedindo um número muito significativo de pessoas de vivenciarem espaços que também lhes pertencem. As barreiras, urbanísticas e arquitectónicas ou móveis, assumem-se como um factor muito relevante na forma como as cidades propiciam ambientes e experiências mais ou menos agradáveis, seja a quem a vive, a quem lá trabalha ou a quem a visita. A condição de cidadão com mobilidade condicionada coloca importantes desafios à forma de prensar a cidade, quer em termos de infra-estruturas quer em termos de edificado, impondo que a sociedade se torne mais inclusiva, e se adeque à diferença. Desta forma, têm vindo a ser, ao longo do tempo, tomadas medidas, de eliminação gradual de barreiras arquitectónicas, quer ao nível de projecto de regeneração urbana, quer ao nível físico da execução em obra. É de referir que também têm sido desenvolvidos ao nível da educação programas sensibilizando crianças e jovens para o tema tão actual da acessibilidade, em que as autarquias, se constituem como parceiros decisivos. O espaço público ao ser intervencionado, tendo em conta a diversidade de utilizadores, contribui decisivamente para a promoção da qualidade de vida de cidadãos. Por exemplo os passeios são a base da circulação pedonal do espaço público e, no entanto, são raras as vezes em que o seu tratamento é pensado em conformidade com a importância que têm. Os problemas geralmente associados ao espaço público prendem-se com a má organização do mobiliário urbano, deficiente qualidade e conforto dos pavimentos, ou mais grave ainda, a ausência de rebaixamentos ou má execução dos mesmos nos atravessamentos, impedindo a continuidade pedonal. Aliando estes problemas à falta de civismo e ao incumprimento da lei, reflectidos sobretudo no estacionamento abusivo, à forma desregrada e desordenada como o espaço é ocupado por um leque diferente de actividades (obras, comércio, etc.) e ao modo como a falta de articulação e coordenação entre serviços (obras, ambiente, fiscalização) gera novas barreiras, concluímos que estamos perante um desafio que tem de ser encarado de fundo. No entanto, existem soluções. Formas de abordar estes problemas que aos poucos vão sendo sistematizadas, testadas e assumidas por toda a Europa e um pouco pelo nosso país. Impõe-se, pois, que exista vontade de encarar este problema como ele tem de ser assumido, reequacionando-o como uma prioridade no sentido de dar mais qualidade à forma como se vive cada cidade ou vila. De forma sistematizada, subdividem-se as barreiras em Urbanísticas, Arquitectónicas e Móveis. Entenda-se por barreiras urbanísticas e arquitectónicas as fixas, e, por barreiras Móveis aquelas que se caracterizam por uma mudança incerta de posição e local, como são os automóveis em cima dos passeios, as esplanadas e objectos comerciais colocados de forma anárquica, ou mercadorias junto à entrada dos estabelecimentos comerciais. De facto, ao passo que as barreiras fixas se assumem, muitas vezes, como tendo uma resolução difícil, por – eventualmente – poderem implicar um trabalho mais profundo, e um esforço financeiro mais significativo, as barreiras móveis afiguram-se como as mais complexas, tendo em conta a constante variação da sua localização. 146 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias Esta característica, dificulta o reconhecimento por parte das pessoas portadoras de deficiência ou incapacidades, na habituação ao percurso que de resto, deve ser tendencialmente intuitivo. No entanto, simultaneamente, são as mais fáceis de remover, caso haja vontade por parte da sociedade civil. Contudo, o que importa sublinhar é que, no fundo, toda esta problemática tem a ver, obviamente, com a má organização do espaço: por um lado, a deficiente gestão do espaço público, por outro, o incumprimento eficaz das leis. Muitas vezes, as (i)mobilidades são o reflexo da ausência total de planos estratégicos definidores das principais orientações, do que se pretende realmente para a cidade. Esta total ignorância abre brechas à desorganização, à criação de uma cidade não pensada, não desejada, enfim, à construção de uma não-cidade. Com o diagnóstico dos problemas associados a cada barreira e com as soluções propostas para cada uma, pretende-se criar uma metodologia que contrarie o referido anteriormente, de forma a criar cidades para todos. 4.3 Edificado Reorganizar, esboçar e projectar espaços é garantir continuidades, é incluir crianças, grávidas, mães com carrinhos de bebé, deficientes de cadeira de rodas, invisuais, idosos e pessoas temporariamente incapacitadas. Estas pessoas representam cerca de 60% da população total, tornando-se essencial fomentar a mobilidade integrada. A acessibilidade nos edifícios e equipamentos que todos utilizamos é, portanto, uma condição essencial para o uso do espaço urbano e da cidade. O acto de liberdade que está implícito no desenho da cidade e no âmbito deste projecto deve estar presente no edificado, nas suas soluções e funcionalidades. Outorgando o princípio, de que a Arquitectura deve servir o homem e ser funcional, o construído revela-se uma peça fundamental na criação de uma cidade acessível a todos e sem limites de mobilidade. Neste contexto, verificando as diversas escalas entre o Homem e as formas construídas é iminente analisar e diagnosticar os problemas inerentes aos edifícios, designadamente os de utilização pública. Assim, os edifícios que representam serviços importantes no contexto do município, espaços de excelência para a vida municipal, com utilização pública e com serviços aos munícipes, deverão contemplar, com rigor, as actuais condições de acessibilidade. 4.4 Transportes A acessibilidade de um município deve contemplar não só o espaço público e o edificado, mas também as redes de transporte que permitem aos cidadãos, deslocações dentro do espaço funcional definido. Os transportes colectivos têm um efeito de inclusão social, se permitirem o acesso de todos, independentemente das suas capacidades. Permitir o acesso, quer aos veículos de transporte, quer aos locais de paragem, resulta na criação de uma maior independência para as pessoas com mobilidade condicionada construindo-se, deste modo, uma cidade mais democrática, livre e segura. A acessibilidade aos transportes tem-se tornado cada vez mais indispensável como elemento diferenciador de sustentabilidade. Torna-se assim importante apostar na diferenciação com o objectivo de cada vez mais responder às necessidades das populações. É necessário identificar os principais problemas associados a infra-estruturas de apoio aos transportes colectivos e a veículos, apresentando orientações para correcção e adaptação dessas tipologias de problemas. município de leiria 147 Estas orientações fundamentam-se na acessibilidade dos transportes tendo em conta as etapas que constituem uma viagem. Não se pode encarar a “viagem” como sendo apenas e só o transporte de pessoas de um determinado local para outro. A “viagem” tem início no acesso dos transeuntes à paragem e tem o seu término assim que o transeunte sai do transporte. A paragem deve ter informação sobre os transportes e seus horários. Entre o início e o fim está o percurso efectuado pelo veículo que também ele deve ser optimizado de maneira a servir mais e melhor os utilizadores. Tendo em conta que todos estes elementos estão interligados, os problemas associados a uma determinada etapa vão contribuir para os níveis de acessibilidade de toda a viagem. No que diz respeito às infra-estruturas serão apresentadas orientações para a correcção dos problemas associados: as plataformas de acesso; à localização de abrigos e/ou postiletes; ao acesso ao interior do abrigo; à informação disponibilizada; à existência de lugares reservados para acomodação de cadeira de rodas no abrigo; à sinalização de paragens reservadas a autocarros; ao design dos abrigos; ao Mobiliário Urbano (design inclusivo). Para além disso são feitas recomendações para aplicação de faixas tácteis de acesso aos veículos paralelas à guia e conjugação com faixas tácteis de direcção e a criação ou adaptação de bilheteiras que sejam acessíveis a pessoas com deficiência física ou de baixa estatura. No que diz respeito aos veículos são apresentados os principais problemas associados: o acesso ao interior do veículo; a dimensão dos corredores no interior dos veículos; a existência e sinalização de lugares reservados a pessoas com mobilidade condicionada; a existência de espaços de acomodação de cadeiras de rodas e carrinhos de bebé, sistemas de retenção utilizados, e botões de paragem específicos; a utilização de cores contrastantes, adequação a diferentes alturas e dimensão dos botões de paragem e apoios; a disponibilização de informação sobre redes, horários, preços e indicação de paragens seguintes. Ressalvando que no caso dos veículos, algumas das tipologias de problemas podem ser facilmente corrigidas de acordo com as orientações, e outras passam pela substituição das frotas, por veículos mais recentes e adaptados. Deste modo, e pela abrangência das áreas em estudo no Município de Leiria, optou-se pelo estudo do Transporte Colectivo Rodoviário. A análise do estudo dos Transportes irá operacionalizar-se em dois níveis distintos: 1) Análise dos veículos de transporte rodoviário (frota de autocarros utilizados pelos diferentes operadores, definindo linhas acessíveis ou inacessíveis; 2) Análise das infra-estruturas de apoio ao meio de transporte (paragens de autocarro, centrais de camionagem, no caso dos transportes rodoviários). Este estudo permite diagnosticar a acessibilidade dos veículos, bem como a acessibilidade de paragens, para que se possam estabelecer percursos acessíveis em transporte colectivo, tanto as infra-estruturas como os veículos têm de ser completamente acessíveis. De facto, se considerarmos as múltiplas etapas de uma viagem, verificamos que as barreiras ao uso independente do transporte público podem aumentar consideravelmente, deixando de ser apenas um problema do veículo. Independentemente das capacidades físicas e/ou sensoriais do passageiro, a realização de uma viagem segue sempre um número de passos fixos. 148 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias Os sistemas de transporte colectivo são considerados acessíveis, quando todos os seus elementos são concebidos, organizados, implantados e adaptados tendo em conta o conceito do design universal. Estas condições só estarão reunidas quando forem garantidos o seu uso pleno, autónomo e seguro dos transportes por Todos. 4.5 Percursos acessíveis pedonais • As áreas urbanizadas devem ser servidas por uma rede de percursos pedonais, designados de acessíveis, que proporcionem o acesso seguro e confortável das pessoas com mobilidade condicionada a todos os pontos relevantes da sua estrutura activa. • A rede de percursos pedonais acessíveis deve ser contínua e coerente, abranger toda a área urbanizada e estar articulada com as actividades e funções urbanas realizadas tanto no solo público como no solo privado. A criação, e consequente definição, pela legislação do percurso acessível, assumiu-se como um importante “instrumento legal”, que potencia e salvaguarda os propósitos inerentes aos conceitos de acessibilidade e mobilidade para todos e o que vem sendo referido a propósito de cada uma das barreiras urbanísticas e móveis atrás abordadas. De facto, com a criação da “figura” do percurso acessível surge a definição de que os objectos e elementos no espaço público têm de ter um espaço próprio e organizado que, seja simples, claro e ainda, intuitivo. Ao definir-se este conceito como uma rede de trajectos acessíveis que garantem o acesso cómodo de todas as pessoas a todos os pontos relevantes da sua estrutura activa de qualquer área urbanizada, estes factos estão deveras implícitos. 4.6 Percursos acessíveis Cicláveis O fomento da utilização da bicicleta como alternativa credível à utilização desproporcionada que hoje é dada ao transporte individual motorizado é um aspecto importante na adopção de padrões de mobilidade ambientalmente sustentáveis. De facto, as desvantagens associadas à utilização do automóvel nomeadamente no que concerne às questões energéticas, de poluição ambiental e de ocupação do espaço urbano têm vindo a colocar uma pressão negativa neste modo de transporte. A bicicleta surge assim como um modo de transporte desprovido da maior parte dos inconvenientes apontados ao automóvel. Não é poluente, não consome combustíveis fosseis, ocupa pouco espaço, o custo de aquisição é baixo e para alem disso é benéfico para a saúde. Trata-se de um conjunto de vantagens que importa aproveitar e potenciar no contexto da mobilidade global de uma região urbana. Deve ser enfatizado que a bicicleta é vista não só como um modo de transporte autónomo mas também como um transporte complementar que pode servir de suporte a outros modos de transporte. Foi desenvolvido um aturado trabalho de procura de soluções, no espaço urbano da cidade de Leiria e também ao nível concelhio, que possam potenciar as vantagens da utilização/integração da bicicleta como alternativa modal viável minimizando os inconvenientes acima mencionados. Foram pesquisados, maioritariamente na rede viária existente, percursos com aptidão para a construção de ciclovias, permitindo assim alguma segregação em relação ao tráfego automóvel. Foram vários os critérios utilizados nesta analise sendo de salientar entre estes o espaço disponível, a orografia local, o interesse do percurso e as dificuldades a ultrapassar. Os percursos foram classificados com base na sua presumível utilização maioritária tendo-se optado por três tipologias: percursos puramente lúdicos, percursos com carácter funcional e mistos. município de leiria 149 figura 8 Rede ciclável de Leiria No Município estão construídos cerca de 25 km de ciclovias, 12 km na Cidade de Leiria e 13 km junto à costa (Estrada Atlântica). Actualmente encontra-se em concurso público uma empreitada para a construção de 3 km de novas ciclovias, no âmbito de candidatura ao “RUCI – Redes Urbanas para a Competitividade e a Inovação”. Leiria dispõe de um sistema de utilização colectiva gratuita de bicicletas (Leiribike), encontrando-se em fase experimental um sistema automático de dispensa de bicicletas, desenvolvido totalmente por uma empresa de Leiria. 4.7 Características da via urbana Vários são os paradigmas que definem e orientam o desenho urbano. As cidades vão sofrendo inevitáveis mutações na sua forma. Contudo, em função da idade e do modo como se estruturaram muitas das nossas cidades, a morfologia que hoje apresentam não se coaduna com um dos principais paradigmas da sociedade dos nossos dias, nomeadamente a Acessibilidade e Mobilidade para Todos. Assim, propõe-se a adopção de cinco Perfis-tipo definidos de acordo com os princípios e normas legais em vigor, capazes de se adaptar às nossas vilas e cidades. De salientar, o facto de serem, como se refere, Perfis-tipo. A sua adopção obriga, como é evidente, à interpretação à luz da dimensão da rua onde se vai intervir, ponderando as especificidades no desenho de cada rua, de forma a manter o percurso acessível. 150 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias Estes Perfis-tipo são balizados por intervalos de dimensões, de acordo com normas de Desenho Urbano. Assim, associado a este conceito de percurso acessível, é definido de forma mais clara e objectiva o que são os corredores de infra-estruturas, resultado inevitável da aplicação da legislação na obrigatoriedade de deixar exclusivamente para os peões o espaço que lhes é destinado. A criação de passeios devidamente dimensionados e organizados de várias formas, deve passar pela criação de um corredor livre (percurso acessível) de, pelo menos, 1.20m ou 1.50m (em função da hierarquia da via) e pela colocação do mobiliário urbano no que se designa de “corredor de infra-estruturas”. O canal mais afastado das vias de circulação automóvel – eventualmente mais próximo das construções, caso existam – é estritamente dedicado à circulação pedonal sendo que o canal mais próximo da rua serve para a colocação de todo o mobiliário urbano, da sinalização, árvores, no que até aqui temos designado de “corredor de infra-estruturas”. Considerou-se portanto fundamental elaborar um estudo no âmbito do conceito Eco-Cidade para a A ÁREA CENTRAL DE LEIRIA. O estudo surge na sequência de ter sido considerado como intenção do vereador com delegação de competências na área da mobilidade e trânsito, promover uma nova mobilidade na zona baixa da cidade de Leiria, como desígnio determinante, do conforto urbano, segurança dos peões, melhoria das condições para o desenvolvimento das actividades comerciais, em condições ambientais e eco-urbanas saudáveis, que conduzam a um conceito de eco-cidade. Pretende-se dotar o centro de Leiria de uma área suficiente funcional e confortável em que o peão possa de forma segura circular e utilizar as funções e equipamentos disponíveis, assegurando apenas as acessibilidades a veículos essenciais ao funcionamento das actividades económicas, segurança e acesso a moradores. figura 9 Integração sistema pedonal - estacionamento município de leiria 151 Para este efeito realizaram-se reuniões de trabalho com uma equipe representativa dos serviços municipais com maior proximidade à matéria de forma a criar uma síntese de informação que permitisse estabelecer os princípios para a tomada de uma decisão do executivo. O centro de Leiria, charneira entre o Norte e Sul da cidade, foi sempre ao longo dos anos uma área essencial na afirmação da sua centralidade, cuja polaridade tem vindo a ser reposicionada em função do seu crescimento e da sucessiva transformação funcional fruto especialmente da segunda metade do século XX e da primeira década do actual. As intenções de pedonalização do centro da cidade (ainda não concretizadas na totalidade) estão presentes nas várias decisões da câmara municipal dos últimos 25 anos, cuja estratégia tem sido proceder de forma faseada à pedonalização das áreas centrais de Leiria, em articulação com o Centro Histórico assegurando contudo o acesso a moradores e a veículos prioritários. É ter como objectivo uma cidade acessível, a partir do seu núcleo central. Mas não passará de intenção se não for feita uma correcta abordagem às pessoas. As cidadãs e cidadãos são o epicentro de uma vida urbana multifacetada, participada, solidária dinâmica e amiga do ambiente. O processo iniciou-se no final dos anos 80 com a pedonalização da Rua D. Dinis, inserida numa candidatura ao PRAUD, ainda na sequência do trabalho do GTL. Seguiram-se a Rua da Graça, Rua Vasco da Gama e Rua Francelino Pimentel na envolvente da Caixa Geral de Depósitos, tendo sido estabelecido sucessivamente o fecho das ruas perpendiculares à Praça Rodrigues Lobo, cujo pedonalização foi totalmente conseguida já no âmbito do PROCOM nos anos 90. Com a elaboração do plano estratégico do Programa Polis, foi estabelecido uma forte intenção de proceder à ligação da cidade histórica ao rio e à sua margem direita, tirando partido dos vários atravessamentos pedonais existentes, conseguindo pelo desnivelamento viário do Rossio a pedonalização do Largo 5 de Outubro e Jardim Luís de Camões. Numa fase inicial a proposta de pedonalização abrangia a Av. Heróis de Angola até ao Teatro José Lúcio da Silva. figura 10 Repedonalização do espaço público 152 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias Esta intenção projectada na primeira versão do Plano de Pormenor de Leiria Centro, não foi no entanto implementada, atendendo aos resultados da participação pública na avaliação das propostas do plano, que recusou o desnivelamento, tendo-se optado por uma solução condicionadora da circulação automóvel, cuja concretização depende da vontade do executivo em função das suas necessidades e orientação programática. Em paralelo com a intervenção Polis foi desenvolvido pela CML um programa de obras para áreas centrais da cidade no âmbito da mobilidade para todos, programa cuja implementação faseada contribuiu para uma acentuada melhoria das condições de circulação pedonal, inclusa. Recentemente foi apresentado o Plano Municipal de Promoção da Acessibilidade que pretende estender à cidade e ao concelho um conjunto de melhorias a implementar e que confirmam a intenção do município de valorizar de forma significativa a circulação pedonal. Finalmente e já no âmbito do PALOR, cujas acções vão permitir concluir a ligação central da intervenção Polis, se irá reforçar os aspectos da mobilidade, nomeadamente no reforço das circulações pedonais da EPA 8 – Rua Tenente Valadim, e EPA 1 – Requalificação entre a Ponte Afonso Zúquete e Santo Agostinho. Da análise das áreas comerciais da baixa de Leiria para além do Centro Histórico que se pretende renovar e reforçar nas funções comerciais e de habitação, ressalta a Av. Heróis de Angola como eixo estruturante e fundamental. Implantada nos anos 60 só nos anos 80 é que esta via teve continuidade na malha urbana, sendo também o local da principal sala de espectáculos do concelho, o Teatro José Lúcio da Silva para além de funções de terciário e habitacionais. É pois intenção deste estudo que se programe e projecte um reforço da pedonalização desta área, assegurando também o tratamento paisagístico da avenida com a criação de um sistema arbóreo adequado em tipo e dimensão que melhore o conforto na circulação dos peões, condicionando a circulação automóvel, à semelhança de outras intervenções na cidade. As soluções de pedonalização a encontrar para estas áreas devem salvaguardar as acessibilidades decorrentes de situações de emergência e segurança, bem como as funções ligadas ao abastecimento das unidades comerciais, e acessos a moradores, funções vitais para o bom funcionamento do sistema. Nas intenções expressas neste documento ressalta para além dos aspectos já focados uma intenção de relocalização do Terminal Rodoviário. Este equipamento/serviço polarizador dos fluxos de passageiros da cidade poderá ser relocalizado junto mercado municipal ou noutro local a ser equacionado com a Rodoviária do Tejo, concessionário dos transportes, conforme se indica na Figura 11, potenciando o espaço actualmente ocupado por este equipamento para actividades comerciais na linha do esforço de modernização do comércio central da cidade. Pretende-se igualmente com a proposta a desenvolver que se melhore o funcionamento da Rotunda no Largo Alexandre Herculano, vulgarmente conhecida como do “sinaleiro”, com a diminuição do número de entradas sendo uma das hipóteses a considerar ficar apenas com acesso pela Ponte Afonso Zuquete e pela Av. Dos Combatentes mantendo-se quatro saídas, nomeadamente Rua Tenente Valadim, Largo 5 de Outubro, acesso à Rua João de Deus, estacionamento da Fonte Luminosa e Rua Machado dos Santos. Pretende-se deste modo reduzir os fluxos de chegada a este ponto da malha urbana citadina, cujo funcionamento em horas de maior movimento se torna difícil. município de leiria 153 figura 11 Reforço da pedonalização do Centro de Leiria O estudo deve ainda valorizar a imagem urbana da Av. Heróis de Angola e da Rua Mouzinho de Albuquerque, esta com o seu reperfilamento, eliminando a mancha de betuminoso que caracteriza aquela avenida tornado através da nova pavimentação e da arborização um prolongamento natural do Jardim como continuidade de um passeio público oitocentista, o Jardim Luís de Camões, que á escala da cidade de Leiria seja um novo paradigma dos bons exemplos de intervenção no espaço público. A racionalização dos estacionamentos impõe que seja reforçada a utilização dos estacionamentos já existentes junto ao centro, Fonte Luminosa, Santo Agostinho, Fonte Quente, Maringá, Paço e uma futura área a criar sob o actual edifício da Rodoviária Tejo, em função da proposta urbanística a apresentar, com acesso pela Rua Américo Cortês Pinto. Reforçar significativamente a oferta de lugares com os parques periféricos de Porto Moniz e Olhalvas, e incentivando os utentes à utilização de transportes públicos, dos quais o Mobilis é desde já um modelo a potenciar e reforçar. 154 movilidad sostenible en ciudades medias mobilidade sustentável em cidades médias A avaliação do impacte desta intervenção no que se refere ao nº de estacionamentos suprimidos, a criar e a rentabilizar nos actuais parques subaproveitados, deve ser complementada com uma política de parquímetros que enquadrando as necessidades inerentes aos moradores, discipline a utilização do espaço público pelos veículos automóveis e articule de forma concertada as grandes circulações internas da cidade, cuja rede viária em renovação com o aumento da capacidade de circulação do IC2, e das vias associadas pode e deve contribuir para o descongestionamento do centro da cidade, cujo atravessamento não corresponde a nenhuma mais-valia funcional, ambiental ou de conforto urbano. Em função da operação urbanística resultante da relocalização do Terminal da Rodoviária poderá ser considerada pedonalização das áreas constantes na planta que se anexa, incluindo para além do centro histórico o troço da Av. Heróis de Angola entre o Largo 5 de Outubro e o Largo Comendador José Lúcio da Silva, a Rua Coronel Teles Sampaio Rio e o troço da Avenida Heróis de Angola até à Rua de S. Francisco que deve assegurar uma faixa de circulação a ecoveículos de forma a permitir o seu acesso ao posto de carregamento recentemente implantado junto ao Teatro, para veículos eléctricos. Este acesso prevê também que numa primeira fase se possa circular em regime de baixa velocidade, mantendo-se um estacionamento longitudinal de proximidade e apoio aos moradores. A sua implementação permitirá conciliar o papel essencial dos transportes com o desenvolvimento sustentado da Cidade, dando prioridade aos Transportes Públicos e outros modos alternativos de transporte não poluentes. Além dos benefícios para a mobilidade, a diminuição do tráfego automóvel na Avenida Heróis de Angola e na Rua Capitão Mouzinho de Albuquerque terá ainda reflexos positivos a nível ambiental e, consequentemente de saúde, ao permitir a redução do ruído e dos níveis de dióxido de azoto e de monóxido de carbono, como sucedeu nas diversas edições do Dia Europeu sem Carros. figura 12 Proposta de reperfilamento da Avenida Heróis de Angola município de leiria 155 Este projecto começará a ser estruturado e dimensionado após a conclusão das obras no IC2, nomeadamente a construção da rotunda aérea, próximo da rotunda D. Dinis, que irá facilitar a circulação automóvel periférica e na entrada sul da cidade, evitando assim o atravessamento do centro no sentido norte-sul e vice-versa. O tratamento dos pavimentos, mobiliário urbano e arborização deverá ser desenvolvido em projecto próprio, de forma a dar resposta às regras estabelecidas na actual regulamentação legal sobre mobilidade, devendo prever-se para além destes itens o estudo e concepção de uma nova iluminação pública adequada às funções urbanas em presença, bem como a avaliação das infra-estruturas, no sentido de se acautelar a sua renovação. figura 13 Perfil tipo da Avenida Heróis de Angola Tendo em atenção as acções já adjudicadas do PALOR, as ligações que a EPA 1 e EPA 8 irão permitir com uma nova apropriação pelo peão dos espaços de circulação que reforçarão certamente a utilização pedonal da cidade, potenciando e justificando que seja dado mais um passo na melhoria das condições ambientais de Leiria.