UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA TERAPIA DE CASAL PARA A BUSCA DO EQUILÍBRIO POR: SOFIA LOREN DIAS FREITAS Orientador: Prof.º Ms. Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro 2003. UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA TERAPIA DE CASAL PARA A BUSCA DO EQUILÍBRIO Trabalho Monográfico apresentado à Universidade Candido Mendes, condição prévia para conclusão do curso de pós-graduação “lato sensu” em Terapia de Família. Por: Sofia Loren Dias Freitas AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo entendimento que tenho hoje, que é salutar para minha alma. Especial agradecimento aos professores e doutores: Roberto Gomes Lima, Antônio Carlos de Carvalho, Ana Cristina Felisberto, Eduardo Ponte Brandão, Maria Cristina Garay, Maria Poppe e meu orientador Nilson Guedes de Freitas. DEDICATÓRIA A você, Rafael Freitas de Oliveira, tesouro maior da minha da maior existência. “...Obrigado por existir, filho querido...sua presença sempre será necessária para o complemento de minha felicidade” A você, Larissa Freitas de Oliveira, luminosidade de meu caminho “Obrigada por me fazer rever os meus erros diante de tantos obstáculos e perceber que através dos erros vamos acertando o caminho do Amor” A você, Pollyanna Freitas de Oliveira, espelho de minha alegria e espírito justiceiro... “Obrigada por me fazer sorrir de minhas próprias atitudes...” RESUMO A terapia de casal possibilita novas abordagens para a solução dos conflitos que, pela falta de diálogo, acabam por atingir o relacionamento familiar. Rever as regras, as exigências, as expectativas, os sentimentos e a própria falta de identidade de cada cônjuge, são os objetivos que norteiam esse trabalho. Enfim ,a proposta é aumentar a capacidade de comunicação, de expressão de sentimentos e de capacidade de comprometer-se com a relação sem com isso perder-se a individualidade. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 07 1. TERAPIA DE FAMÍLIA. 1.1 Terapia familiar sistêmica 1.2 O papel do terapeuta 1.3 O modelo sistêmico e a compreensão do casal 1.4 A família em terapia 10 14 17 23 25 2.TERAPIA DE CASAL 2.1 A aliança conjugal 28 31 3. PSICOLOGIA DA FAMÍLIA 3.1 Questões de intervenção psicológica com casais 36 38 CONCLUSÃO 45 BIBLIOGRAFIA 48 ANEXO 1 51 ANEXO 2 52 INTRODUÇÃO O casamento, célula de origem da família, é uma instituição em crise. Atualmente, no Brasil, um em cada quatro matrimônios termina em divórcio. Podem ser enumeradas diversas razões para a ocorrência desse índice alarmante, contudo não deter-se-á sobre elas, e sim, sobre a necessidade premente de amplos estudos no campo da terapia de casal a fim de se compreender melhor o fenômeno da conjugalidade e buscar recursos profiláticos e terapêuticos adequados para seus conflitos e distúrbios. O matrimônio implica intimidade, em que um olhar ou um gesto assumem uma gama infinita de variações e expressam diversos significados. A comunicação tem um importante papel na dinâmica conjugal. O dito e o não–dito, circulam pela relação compondo o mito do casal. Um meio provável de avaliar o quão íntimo se é de alguém é mensurar o quanto se pode compreender do outro através do olhar e dos gestos, o quanto pode-se saber do não - dito. Embora o diálogo cumpra um importante papel na integração do casal, não abrange todos as aspectos da relação pois, como falar daquilo que eu mesmo desconheço em mim? A intimidade vivenciada pelo casal pode ser comparada àquela vivida entre mãe e bebê, contudo apresenta um traço diferencial: a escolha. A necessidade de fazer escolhas é algo que sempre está presente na vida de qualquer ser humano, todas as situações em que se está envolvido é resultante do processo de escolha que sempre é avaliado e reavaliado. Uma das escolhas mais complexas que o ser humano se depara no decorrer da vida, é a escolha de quem será seu parceiro, que aspectos racionais e emocionais se relacionam neste processo de escolha. Tanto na família, como no casal, cada pessoa é fonte de percepções, crenças e necessidades únicas num determinado momento. Essas diferenças formam as bases do conflito na família, gerando uma relação de casal que pode ser simétrica ou em escalada. Na maioria das vezes, o casal busca a terapia somente quando enfrenta um período intenso de crise matrimonial. Porém, vale ressaltar que o processo terapêutico conjugal não visa exclusivamente a supressão dos conflitos, pois são justamente as crises que possibilitam oportunidades de crescimento individual para os parceiros e também um incremento de criatividade no relacionamento. O presente trabalho pretende levantar alguns aspectos para discussão do complexo e amplo tema da intimidade no relacionamento conjugal, tentando articular questões fundamentais da terapia de casal. CAPÍTULO I TERAPIA DE FAMÍLIA Apesar da grande divulgação, nos últimos anos, acerca das várias correntes psicoterápicas e do aumento do número de pessoas em busca do auto conhecimento, a terapia de família e casal ainda é desconhecida. A terapia de família é um método de tratamento das relações familiares. Isto significa que não se vai tratar o indivíduo na família e sim o grupo familiar como um todo e o vínculo entre seus membros. A intervenção do terapeuta não se faz no indivíduo A e no indivíduo B mas sim na relação que ocorre entre A e B. Por vezes, quando um indivíduo apresenta um problema este pode ter tido origem num conjunto de relações familiares deficitárias e afetar todos os outros membros. Se tratarmos apenas a pessoa que manifestou o problema deixaremos de tratar todos os outros afetados pela mesma dificuldade. Isto faz da terapia familiar um excelente aliado do tratamento psicoterápico individual. Em toda família coexistem tendências para saúde e para doença, o diferencial se fará a depender de como a família enfrente situações de crise, de como está a afetividade e a comunicação entre seus componentes. Estes serão indicadores de relações saudáveis ou adoecidas. A procura por um terapeuta se dá, geralmente, quando a família apresenta um grave problema. Pode ser um dos membros apresentando transtorno psíquico, a presença de alcóol ou drogas, ou a iminência de uma separação. Uma crise é resultado de pequenos conflitos que se repetem cotidianamente e para os quais não se dá a devida atenção. Não se deve deixar que os problemas tomem proporções alarmantes para se procurar a terapia. Isto evitará o agravamento da situação conflitiva possibilitando rever as bases do relacionamento familiar. Tais afirmativas são válidas também para o casal. A terapia de casal não une nem separa, funciona como acompanhamento do processo e não impõe decisões. Facilita que o casal identifique os problemas, averigüe o que os motivou, verifique a forma como vem reagindo as dificuldades. Propicia que os componentes do casal vejam a si mesmos, ao outro e a relação de forma mais aprofundada e aponta "ferramentas" que poderão auxiliar numa tomada de decisão. Atualmente a família passa por mudanças: os vários casamentos, os filhos de relações diferentes, os casais homossexuais; renovaram-se também as crises. É preciso cuidar da família. O individualismo reinante, muitas vezes impede que atentemos para ela. A procura por um terapeuta, quando isto se fizer necessário, permite dedicar tempo e atenção a família, conferindo-lhe importância, reconhecimento e consideração. O advento da Terapia Familiar foi marcado pela interdiciplinariedade, iniciando-se nos anos 40. O pensamento sistêmico proposto por Von Bertalanffy, casado com a cibernética, originária das idéias de Wiener, derivou-se de campos distantes da psicoterapia e até mesmo da psicologia. Enquanto a teoria geral dos sistemas propunha-se a estudar as correspondências ou isomorfismos entre os sistemas de todo o tipo, a cibernética ocupava-se dos processos de comunicação e controle nestes sistemas. A aplicação deste pensamento à prática psicoterápica teve como perspectiva central o olhar do antropólogo Gregory Bateson (1982), que transforma o conceito de informação para as praticas relacionais e circulares ao dizer que o “observado tem a marca de quem observa”, do psiquiatra Don Jackson que supervisionou o projeto de comunicação desenvolvido por Bateson e foi o primeiro a utilizar o termo homeostasia familiar, e da assistente social Virginia Satir que trabalhava com crianças e famílias. Os primeiros trabalhos em terapia familiar iniciaram-se com famílias de esquizofrênicos na década de 50 e basearam-se na teoria da comunicação elaborada com base nas pesquisas de Weakland, D.Jackson, G. Bateson e Jay Haley. Embora a teoria geral dos sistemas, em parceria com a cibernética, tenha configurado os limites dos paradigmas para uma teoria clinica de psicoterapia, na prática diferentes sistemas de crenças resultaram em distintos modelos de terapia familiar, caracterizando diversos sistemas de inteligibilidade que, praticamente coexistiram. Os diferentes modelos desde o principio de sua evolução até a década de 70, que coexistiram foram: - Comunicacional - Bateson, Haley, Satir e Jackson - Interacional, ou Terapia Estratégica Breve – desenvolvido em Palo Alto no Mental Institute Research - Estrutural - Minuchin - Estratégico – Haley e Madanes - Experiencial Simbólico – Whitaker - Intergeracional – Bowen e Borzomeny-Nagy - Sistêmico de Milão – Selvini-Palazzoli, Prata, Checcin e Boscolo Os modelos com suas distintas maneiras de definir o que vem a ser o problema, a teoria da mudança e a prática psicoterapêutica preocuparam os estudiosos do campo da terapia familiar quanto a precisão conceitual que então, consideraram as práticas da terapia familiar como sistêmicas e a epistemologia como cibernética. 1.1Terapia familiar sistêmica A Terapia Familiar Sistêmica surgiu nos anos 50, Palo Alto, na Califórnia, a partir do trabalho desenvolvido por Gregory Bateson e um grupo de colaboradores, com famílias de esquizofrênicos. Esta teoria baseia-se na teoria Geral dos Sistemas, iniciada por Von Bertallanfy em 1947. A partir desta Teoria não se pode mais ignorar a pluralidade de causas que determinam em um dado momento uma situação, toda conduta é complexa, seja qual for o aspecto que se estiver focando, é uma parte de um todo mais amplo. O universo deixa de ser visto como uma máquina composta de uma infinidade de objetos, para ser visto e descrito como um todo dinâmico, indivisível, cujas partes estão essencialmente inter-relacionadas e só podem ser entendidas como modelos de um processo cósmico. 1 A Teoria da Terapia familiar está fundamentada no fato de que o homem não é um ser isolado, mas um membro ativo e reativo de grupos sociais. O indivíduo é um sistema, que por sua vez é um subsistema de um sistema maior que é a família, que por sua vez é um subsistema de um sistema maior que é a sociedade. A concepção sistêmica da vida baseia-se na consciência do estado inter-relacionado e interdependência essencial de todos os fenômenos-físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Isso significa formular gradualmente uma rede de conceitos e modelos interligados e, ao mesmo tempo, desenvolver organizações sociais correspondentes. Nenhuma teoria ou modelo será mais fundamental do que o outro, e todos eles terão que ser compatíveis. 2 O indivíduo influencia o seu contexto, e é por ele influenciado, este indivíduo que faz parte de uma família, membro de um sistema social, ao qual deve se adaptar. Suas ações são governadas pelas ações do sistema, e estas características incluem os efeitos de suas próprias ações passadas. Em cada membro do sistema existe a tendência integrativa ou autotranscendente participativa que integra o elemento como parte de um todo maior, ou seja, expressa a parceria, e existe a tendência auto-afirmativa, a qual garante a individualidade do elemento. A interação entre elementos dentro e fora do sistema é dinâmica, interdependente, mexendo-se no todo reflete-se nas partes, mexendo-se na parte reflete no todo. 3 1 ASSIS apud EPISTEME (1995) p. 120 CAPRA apud ASSIS (1995) p. 123 3 ASSIS (1997) p. 24 2 O objetivo básico da Terapia Relacional Sistêmica, é trabalhar mudanças para uma melhor qualidade de vida, modificando comportamentos e processos psíquicos internos de uma estrutura familiar. É uma terapia voltada para o sistema, no qual o indivíduo está inserido. Neste sentido, terapeuta e família se associam para formar um sistema terapêutico. Sendo uma terapia de ação, trabalha-se a mudança no funcionamento da dinâmica do sistema familiar, de maneira a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro. A família modificada oferece a seus membros novas circunstâncias e novas perspectivas de si mesmos. O objetivo da terapia é abrir novas possibilidades oportunizando uma mudanças para melhor, é impossível tratar o sistema sem que se produza uma mudança básica na situação, nas relações e inter-relações do cliente. 4 A família é um sistema aberto, em transformação, um conjunto de padrões aos quais os membros interagem, como também regulam o comportamento dos membros da família. Quando pai é pai, e filho é filho, quando o irmão mais velho desempenha o papel de irmão mais velho e o mais novo age de acordo com o papel de irmão mais novo, quando o marido é realmente marido e a esposa é realmente a esposa, então, existe ordem. 5 O processo terapêutico começa pela avaliação do sistema e redefinição deste, mudando a visão do sistema pelo sintoma, fazendo de forma que fique circular, responsabilizando todo o sistema, construindo a partir disso, novas possibilidades, provocando mudanças. "A idéia central 4 5 NASCIMENTO apud ASSIS (1998) p.143 I CHING apud CALIL (1987) p. 34 dessa escola é ser o "doente", ou membro sintomático, apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar". 6 Na verdade, quando alguma pessoa da família apresenta algum problema, este não é responsabilidade apenas desta pessoa. O que parece ser problema de uma única pessoa, vem para avisar que toda a família está com dificuldade. A terapia familiar é útil quando as pessoas têm dificuldades em se relacionarem, marido e mulher, pai e mãe, pais e filhos, irmãos e irmãos, quando alguém está com medo, ansioso, angustiado, deprimido, quando as pessoas fazem ou dizem coisas que podem provocar mágoa ou raiva; quando os filhos apresentam problemas de comportamento ou de aprendizagem, 7 Quando um homem e uma mulher se casam, serão os representantes das suas famílias, duas culturas diferentes, a partir deste momento, quando surge um filho, surgirá também uma nova família, pai, mãe e filho, onde pai e mãe são o eixo familiar, constituindo um equilíbrio, para o desempenho eficaz e funcional da família. Isto é necessário para que a família tenha um ritmo, desde que sejam mutáveis à novos caminhos. Ao invés do equilíbrio, as famílias podem apresentar tensões, rigidez, que impedem a mobilidade do sistema familiar. Neste momento, o terapeuta têm a função de promover a volta à movimentação, ao processo dinâmico da família. O paradoxal é que ela está em crise, revelada através de um membro doente, e, ao mesmo tempo, retrai-se diante da 6 7 CALIL (1987) p. 17 ASSIS (1996) p. 2 possibilidade do terapeuta induzir uma crise que possa levar à renovação de sua estrutura. 8 Em cada tipo de tensão vivida pela família, sejam internos ou externos, exigirá um processo de adaptação, transformações constantes das interações familiares, a fim de manter-se o equilíbrio e a continuidade da família, conduzindo ao crescimento de seus membros. A família é um sistema entre sistemas, a exploração das relações interpessoais e das normas que regulam a vida dos grupos, em que o indivíduo está mais radicado, será um elemento indispensável para a compreensão dos comportamentos dos seus membros e para levar a cabo uma intervenção significativa em situações de necessidade.9 1.2 O papel do terapeuta O terapeuta deve proporcionar um ambiente em que as pessoas se sintam seguras, confiantes, possam assumir o risco de se examinarem objetivamente e claramente, bem como suas ações. Deve também mostrarse seguro, podendo estruturar suas perguntas sobre o que quer saber e o que o paciente pode lhe responder. O terapeuta envolve o paciente em um processo de estabelecimento de sua história para trazer detalhes de sua vida familiar. Cria verbalmente situações, visando coletar fatos. Constrói auto-estima, ao longo das sessões. 8 9 GROISMAN (1991) p. 44 ANDOLFI (1996) p.22 Se a psicoterapia deve ser realmente um encontro humano, ela requer um terapeuta que tenha retido a capacidade de ser uma pessoa. Como terapeuta profissional você precisa inquietar-se o suficiente para entrar no jogo e ficar envolvido. 10 Segundo Whitaker, o terapeuta precisa estar estabelecido quanto à estrutura do seu papel profissional, ou seja, sua individualidade e visão dos outros. O terapeuta é uma pessoa que não acredita em verdades absolutas, pensa circular, é um aprendiz e um especialista. È uma pessoa real, ou seja, têm consciência. Preza o vínculo verdadeiro, não é manipulador, não cura, mas se responsabiliza por tudo que diz respeito à condução do processo terapêutico, está comprometido. Acredita em mudanças, mas a pessoa têm que querer trabalhar às mudanças. Também acredita na sabedoria da vida, trabalha com a saúde, com o óbvio, com a forma, ou seja, com a forma que agem, que se comunicam, que interagem e integram-se. Responsabiliza-se por si mesmo. O terapeuta deve estar atento ao padrão de relação do cliente com ele mesmo, com as outras pessoas, com o mundo, com a vida. Saber conduzir, cuidar e zelar para que o cliente faça o caminho certo para o 10 WHITAKER (1990) p.29 processo. Não se coloca como onipotente, nem desqualifica o outro. Têm zelo pela dor, raiva e desespero dos clientes. O terapeuta deve estar inteiro, comprometendo-se à fazer o melhor para o cliente, neste sentido mudando a sua postura, a qual desenvolve, e que impede à volta ao seu processo de vida. 1.3 O terapeuta familiar na pós-modernidade As contribuições de uma epistemologia sistêmico-cibernética para a prática da psicoterapia implicaram, primeiro na mudança paradigmática que enfatizou a importância do contexto para a compreensão dos problemas do ser humano, que esta em inter-relação com o outro. Segundo, na organização da prática em torno do conceito de causalidade circular e não mais linear, de causa e efeito, portanto entende-se que os seres vivos organizam seus comportamentos dentro de uma trama de relações. Terceiro que isto implica a noção de observador-participante, o que diferencia as terapias familiares quanto a Cibernética de Primeira Ordem e de Segunda Ordem. Se pelo aspecto teórico a terapia familiar permitiu muitas contribuições, no âmbito das práticas gerou um novo olhar sobre o terapeuta dismistificando-o como expert, que passou a assumir um papel de facilitador, cujo conhecimento, como qualquer outro conhecimento esta livre de um status previligiado e, é auto-referencial. A escuta feita pelo terapeuta pressupõe sua formação teórica e prática e sua bagagem transportada por sua própria história de vida, isto implica na formação como especialista em terapia familiar e de casal e na vivência da terapia individual, supervisão e consultoria clínica. Elkain, partindo da auto-referência propõe o conceito de ressonâncias que indica uma intersecção entre as histórias de vida pessoal do terapeuta e da família ou dos clientes atendidos. A terapia propõe que o cliente seja o especialista no que diz respeito ao conteúdo, isto quer dizer que ele sabe sobre suas própria vida e dos motivos que o trouxeram para a terapia, enquanto que o terapeuta é o especialista no processo, permitindo por sua especialidade criar um contexto propiciador e facilitador para uma conversação que permita a reconstrução dos significados da história de vida do cliente. Neste sentido também o sistema terapêutico, passa da família para ser definido como aqueles que estão envolvidos em conversação em torno de um problema. Estes sistemas não são determinados por sua estrutura ou seu papel social, mas por uma dinâmica relacional que se organiza em torno dos significados compartilhados, nos quais estão os problemas que levam as pessoas a buscarem terapia. Tal concepção em primeiro plano coloca ênfase sobre a linguagem e a pessoa do terapeuta, e segundo estende o território da terapia sistêmica, originalmente uma terapia de família como um sistema, para além das fronteiras, ao incluir o indivíduo, as comunidades e outras organizações sociais, envolvidos numa trama significativa. Grandesso diz que estamos “apoiados em torno dos princípios de imprevisibilidade e incerteza, da impossibilidade de um conhecimento objetivo, da auto-referência, da linguagem da autopoiese, o campo da terapia sistêmica construtivistas, organizou-se construcionistas nas chamadas sociais, terapias desenvolvidas sistêmicas nos modelos conhecidos como conversacionais, dialógicos ou narrativos. Em comum pode-se destacar que todas questionam os modelos diagnósticos tradicionais, as teorias clínicas e teorias de mudança, tradicionalmente centradas nos modelos apriorísticos de disfuncionalidades e patologias, ou de funcionamento saudável.” Embora não se possa deixar considerar a interdiciplinariedade da terapia familiar e a diversidade de modelos de atuação nesta área acreditase que a compreensão sobre o que se entende por família e sistema é fundamental para a discussão sobre a atuação clínica da terapia familiar. A terapia sistêmica da família organizou-se em torno de alguns conceitos básicos, definidores de sistemas: - Globalidade - um todo coeso é como se comporta um sistema, o que implica que a mudança de uma parte altera todas as outras partes e o sistema como um todo; - Não-somatividade - um sistema não pode ser considerado como a soma de suas partes; - Homeostase - processo de auto-regulação que mantém a estabilidade do sistema; - Morfogênese - capacidade do sistema em absorver inputs do meio e mudar sua organização (sistemas abertos); - Circularidade - a relação entre quaisquer dos elementos do sistema é bilateral, o que pressupõe uma interação que manifesta-se como seqüência circular; - Retroalimentação - garante o funcionamento circular pelo mecanismo de circulação da informação entre os componentes do sistema por princípio de feedback (negativo funciona para manutenção da homeostasia e o positivo que responde pela mudança sistêmica); - Equifinalidade – independentemente de qual for o ponto de partida, um sistema aberto apresenta uma organização que garante os resultados de seu funcionamento A terapia familiar sistêmica estruturada em torno desses conceitos entende a família como um sistema aberto que se auto-governa através de regras que definem o padrão de comunicação mantendo uma interdependência entre os membros e com o meio no que diz respeito a troca de informações e usa de recursos de retroalimentação para manter o grau de equilíbrio em torno das transações entre os membros. O aspecto fundamental é a de que o ser “doente” ou a pessoa que apresenta problemas, é apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar. Enquanto o modelo tradicional de práticas psicoterapêuticas diria que o transtorno mental se manifesta pela força dos conflitos internos ou intra-psíquicos, tendo sua origem no próprio indivíduo, o modelo sistêmico daria ênfase a tal transtorno como expressão de padrões inadequados de interações familiares. Assim sendo considera-se relevante priorizar o trabalho direto e efetivo com as necessidades da família e do meio ambiente, sendo que esta família é definida pelos seus padrões de interação, em detrimento de rebuscar somente os dificuldades de ordem intra-psíquica individuais. A Terapia Familiar/Casal não é recomendada para qualquer caso, porém tem indicação clara para certas situações: · problemas com várias pessoas da mesma família · problemas evidentes de relacionamentos entre pais · violência, alcoolismo, drogadição, distúrbio psíquico, luto patológico entre outros. Na terapia são consideradas todas as informações levando em conta até três gerações da família envolvidas no tratamento o que caracteriza mais do que um trabalho de remediação às possibilidades preventivas, quando se pensa numa mudança de Segunda Ordem, que implica na transformação dos padrões de transacionais que constituem a estrutura familiar. A mudança terapêutica é decorrente da ampliação de possibilidades de experiências vividas pela família nos diferentes contextos. Em contrapartida ao conceito de mudança próprio das terapias familiares da cibernética do primeiro período está o conceito de reconstrução enfatizado pelos terapeutas que trabalham na perspectiva das (re)construções de narrativas. O tratamento possibilita que mais de uma pessoa seja atendida por um profissional ou uma equipe de profissionais que compartilham da mesma visão de homem e de mundo permitindo o vínculo e a linguagem comum com todos os membros da família, possibilitando uma re-construção dos significados que giram em torno do problema. O terapeuta familiar nem sempre trabalha só, pode estar com um colega (co-terapeuta) ou uma equipe de profissionais, mas ainda assim pode ter a criança como sua principal aliada de trabalho. O atendimento de famílias com crianças geralmente parte de alguma dificuldade observada pelos pais em seus filhos com relação a problemas escolares, psicomotores ou de relacionamento intra e extra familiar. É comum que os pais tragam seus filhos para que a terapia seja realizada somente com eles. A fala dos pais é “meu filho tem o problema” ou então “ele é o problema, nós não sabemos mais o que fazer”. Curiosamente é a criança que pode ser consultora ou co-terapeuta do terapeuta familiar no atendimento, sendo sua ajuda solicitada para que juntos, terapeuta e criança possam ajudar os pais. Imediatamente dissolvese o foco da criança como problema, o “Bode expiatório”. Primeiro promovese a busca de recursos na própria criança fazendo que ela sinta-se capaz, o que faz com que os pais não vejam-na somente como frágil e problemática, mas como gestora de recursos promotores de mudanças e também envolve os pais como participativos no processo de tratamento daquela família. Valorizando a competência da criança indiretamente o terapeuta também cumprimenta os pais que criaram-na tão bem. 1.4 O modelo sistêmico e a compreensão do casal Tanto na família, como no casal, cada pessoa é fonte de percepções, crenças e necessidades únicas num determinado momento. Essas diferenças formam as bases do conflito na família, gerando uma relação de casal que pode ser simétrica ou em escalada. Encontramos em McGoldrick (1996) a afirmação que a formação do casal é um dos momentos mais críticos na formação e estruturação da família e que este processo se inicia na escolha do parceiro em que estão relacionados um conjunto de valores pessoais, familiares e sociais. Este é o momento crucial , podendo estar aí muito da origem dos conflitos familiares. Uma relação conjugal não é apenas a soma de duas personalidades, pois esta propõe um novo nível de organização, originando qualidades novas. Na formação de uma unidade familiar estão em jogo duas unidades sociais distintas: a família de origem de cada um dos cônjuges, que devem fazer parte do processo de um novo núcleo familiar, porém determinante nas crenças e expectativas de cada parceiro, influencia e é influenciado pelo próprio sistema. O modelo sistêmico, considera o casal como um subsistema dentro de uma família. Para esta abordagem, os conflitos na relação do casal aparecem quando as regras que estão no contrato dos dois, não estão em concordância. Para se saber o que é o casamento precisa-se ter pelo menos idéia do que se constitui o indivíduo antes de se unir a alguém e constituir um casal, para depois ser estudado o casal em si. O casamento seria um modelo adulto de intimidade, onde há uma espécie de união e separação seguindo um modelo de normas. O casamento provoca varias mudanças individuais, como um crescimento individual, mudanças corpóreas e no auto-conceito, e uma alienação no passado, tendo uma tendência de se desprender da família de origem e da infância. O crescimento individual se dá a partir do momento que os dois cônjuges crescem juntos no relacionamento. Para haver crescimento na relação é necessário que o casal respeite a individualidade de cada um. A escolha do parceiro se baseia na interação dinâmica, que permite que o relacionamento prossiga e evolua, ou que, pelo contrário, seja interrompido. A pesquisa qualitativa focaliza a compreensão, explicação e interpretação de um dado fenômeno. O entendimento do processo comunicacional do casal a partir da história de vida familiar e das crenças e expectativas que cada parceiro leva para a relação tem como base o entendimento do indivíduo como participante de um sistema de relações e com isso levando para este sistema, todo o sistema de crenças individuais, familiares e sociais. 1.5 A família em terapia O que habitualmente leva uma família à terapia são os sintomas de um de seus membros. Ele é o paciente identificado, a quem a família classifica como “tendo problemas” ou “sendo o problema”. Mas, quando uma família rotula um de seus membros como “o paciente”, os sintomas do paciente identificado podem ser pressupostos como sendo um recurso de um sistema em manutenção ou de um sistema mantido. Os sintomas podem constituir uma expressão de uma disfunção familiar. Ou podem ter surgido no momento individual da família, em razão de circunstâncias de sua vida particular e, então, terem sido apoiados pelo sistema familiar. Em qualquer caso, o consenso familiar de que um membro é o problema indica que , algum nível, o sintoma está sendo reforçado pelo sistema. A família, como um sistema sócio-cultural aberto, enfrenta-se continuamente exigências de mudanças. Estas exigências são incentivadas por mudanças biopsicossociais em um ou mais de seis membros e por vários inputs do sistema social, no qual cada família está assimilada. Uma família disfuncional é um sistema que respondeu, a estas exigências de mudança foram contrapostas por uma concretização da estrutura familiar. Os padrões transacionais costumeiros foram preservados até o ponto de rigidez, que bloqueia qualquer possibilidade de alternativas. Selecionar uma pessoa para ser o problema é um método simples de manter uma estrutura familiar rígida, inadequada. A função do terapeuta de família é ajudar o paciente identificado e a família, facilitando a transformação do sistema familiar. Este processo inclui três passos importantes. O terapeuta se une à família numa posição de liderança. Ele descobre e avalia a estrutura familiar subjacente. E cria circunstâncias que permitirão a transformação desta estrutura. Na terapia real, estes passos são inseparáveis. Como resultado da terapia, a família é transformada. As mudanças são efetuadas num conjunto de expectativas, que dirige o comportamento dos seus membros. Em conseq6Uência, a mente extracerebral de cada membro da família é alterada e a própria experiência do indivíduo muda. Esta transformação é significativa para todos os membros da família, mas particularmente o é para o paciente identificado, que é liberado da posição desviante. Na terapia de família, a transformação da estrutura é definida como mudanças na posição dos membros familiares vis-à-vis um com o outro, com uma modificação conseqüente de suas exigências complementares. Muito embora mudança e transformação sejam termos similares, neste contexto pertencem a linguagens diferentes . Na terapia de família, transformação, ou reestruturação do sistema familiar leva a mudança ou a nova experiência do indivíduo. Habitualmente, a transformação não muda a composição da família. A mudança ocorre nas sinapses – na maneira pela qual as mesmas pessoas se relacionam uma com a outra. Quando o terapeuta se une à família, assume a liderança do sistema terapêutico. Esta liderança envolve responsabilidade pelo que acontece. O terapeuta deve avaliar a família e desenvolver objetivos terapêuticos, baseados nessa avaliação. E deve intervir de maneiras que facilite a transformação do sistema familiar na direção daqueles objetivos. O alvo de suas intervenções é a família. Embora os indivíduos não devam ser ignorados, o foco do terapeuta está na intensificação do sistema familiar. A família será a matriz da cura e do crescimento de seus membros. A responsabilidade de alcançar este estado ou por fracassar em fazê-lo pertence ao terapeuta. CAPÍTULO II TERAPIA DE CASAL Já, há algum tempo os casais brasileiros começam a se aproximar dos Psicoterapeutas, especializados em ajuda-los a solucionar problemas específicos do casamento. Em outros países, essa já é uma condição que faz parte da rotina de uma infinidade de casais, que querem salvar seus casamentos ou, sair deles com conflitos menores. Principalmente, em paises de primeiro mundo. A terapia de casal tem uma função fundamental que é ajudar com que os parceiros compreendam seus conflitos e dificuldades para restabelecer a comunicação. Um casal com dificuldades de comunicação, vai impor um pesado ônus ao relacionamento e aos filhos se os tiverem. Pois é da boa articulação entre o casal que depende a noção de estabilidade da criança. Vou fazer uma rápida explanação do que penso que tenha causado as dificuldades que encontramos hoje nessa dificuldade, na manutenção dos relacionamentos. Até a década de sessenta ou setenta, as pessoas iam para o casamento carregando os valores aprendidos com sua família de origem. Já que a personalidade é uma amalgama de nossos próprios aspectos, com os aspectos de nossos pais, levamos muitos de seus valores na nossa forma de ser. Afinal, se são eles que vão nos ajudar na transição do biológico para o social, nada mais natural que introjetemos, seus valores e padrões. Então, o homem e a mulher tinham papéis bem definidos na sociedade. O homem trabalhava e sustentava a família. A mulher, ficava em casa cuidando da prole. As normas eram machistas, paternalistas e injustas, principalmente para as mulheres. Muitas mulheres, por causa da dependência financeira, viam-se inteiramente castradas e limitadas por seus maridos. Com o progresso e a invenção do anticoncepcional, as coisas mudam. A mulher alterou seu comportamento, em função de dois fatores: 1) Na condição de provedor, o homem, garantia-se uma independência da qual a mulher era privada e da qual o homem se prevalecia para fazer valer seu poder. Muitos tinham outras mulheres; 2) por causa das leis paternalistas e mal feitas de nosso país onde, numa separação, a mulher era sempre prejudicada ficando às vezes desamparada com os filhos. Dessa forma, a mulher teve que começar a trabalhar para garantir sua velhice já que, em muitos casos, depois de décadas de casamento, restava-lhe uma viuvez de parcos recursos, ou então um desquite, sem qualquer recurso. Não haviam leis que dessem à mulher, algum beneficio por ter feito nascer e criado os cidadãos que, mais tarde, serviriam de força de trabalho para o estado. De uns vinte anos para cá, o que se tem visto é que os casais não convivem, apenas moram juntos. Isso acontece porque os dois trabalham e assim, se separaram muito cedo. Quando se encontram à noite, logo se põem à frente da televisão ou vão dormir evitando assim, o diálogo tão precioso na manutenção do vínculo. Por outro lado, as empresas hoje, exigem do indivíduo uma dedicação quase absurda e acabam por afasta-los, ou reduzem a presença dele no convívio familiar, causando conflitos no relacionamento com as esposas (ou esposos) frustradas em suas expectativas. Fatores como: falta de tempo para divertimentos, as dificuldades econômicas, a insegurança, necessidade de manter o status, e as próprias perturbações emocionais pessoais, são as maiores fontes de stress que levam à falta de paciência e conseqüentemente às constantes brigas entre casais e, por fim, tornam-se a causa constante das separações. Jürg Willi, cita um aspecto interessante sobre isso: Quando duas pessoas decidem que daí em diante vão viver juntas, cada qual deve se modificar internamente e se reorganizar. O casamento muda muita coisa. Os parceiros se comprometem numa história comum, em que cada um é realmente afetado pelo comportamento do outro. As decisões importantes que irão determinar o futuro devem ser tomadas pelos dois. Liberdade, opções individuais e independência por definição, ficam reduzidas no casamento.11 Ao iniciar uma relação, tem-se que ter em mente ainda as palavras de Jürg Willi sobre um relacionamento: Cada um tem o direito de pedir, a qualquer momento, que as regras sejam rediscutidas e esclarecidas. Quando duas pessoas resolvem compartilhar suas vidas, começam a elaborar seus construtos em função um do outro.12 As pessoas, hoje em dia, buscam desesperadamente um relacionamento, entretanto, parecem não ter nenhuma disponibilidade para abrir mão de suas idéias e valores. Não há mais tolerância, compreensão e amizade. Então, acabam por estabelecer relacionamentos doentes onde todo o prazer sonhado, vira sofrimento. Isso ocorre porque se buscou uma compensação para conflitos não resolvidos da própria vida e deseja-se, obstinadamente, que o companheiro faça o que se espera dele. 11 12 JÜRG WILLI (1993) p. 84 JÜRG WILLI (1993) 26 É na terapia que se observa a quantidade de expectativas irrealistas que as pessoas levam para a relação e como isso atrapalha o bom funcionamento do casal. Muitos casais à beira da separação, conseguem, quando numa terapia de casal, descobrir que todos os sentimentos iniciais ainda estão vivos e plenos em sua mente, mas que, certas exigências irrealistas de um e a falta de possibilidade de ver o outro no seu próprio jeito, foram lançando algum tipo de névoa na relação e afastando as pessoas uma da outra. Muitos casais retomam avidamente suas expectativas, depois de aprenderem a expor o que desejam e o que podem dar numa relação. Descobrem que muitas coisas podem ser atendidas por seu parceiro e outras não. Surgem as referências necessárias para manter a vida conjunta. Um encantamento ou, re-encantamento despertador. A terapia de casal é um investimento na felicidade, como o é, o próprio relacionamento. Vale a pena na medida em que se pode resgatar vínculos preciosos e descobrir que há muita coisa que ainda não se viu no outro. 2.1 A aliança conjugal O casamento, segundo Whitaker (1995), é definido a partir da eleição mútua que institui uma relação de compromisso, implicando em continuidade temporal e projeto vital compartilhado. Dessa forma, constitui um modelo adulto de intimidade, uma vez que pressupõe firmar um pacto afetivo espontâneo e de contínua ratificação. A escolha mútua entre os parceiros constitui o vínculo conjugal, selado por um contrato secreto, um acordo nunca dito ou escrito, que regulamenta a reciprocidade e complementaridade das necessidades, anseios e medos do casal. Esse contrato serve de base para a formação da aliança conjugal e de acordo com Miermont (1994), apresenta três níveis: consciente, préconsciente e inconsciente, sendo que os dois últimos atuam através de manifestações não-verbais. O contrato consciente contém os elementos discriminados pela consciência como os motivos que justificam a escolha amorosa e podem ser nomeados. O contrato pré-consciente esconde as metacomunicações não verbalizadas das expectativas de mudar alguns traços parceiro. O contrato inconsciente, por sua vez, refere-se ao intercâmbio de sentimentos que satisfazem necessidades inconscientes de ambos. Essa troca ocorre por meio de uma comunicação inconsciente entre os cônjuges, a qual exerce um papel decisivo no casamento e tem antecedentes arcaicos na psique, pois segue o modelo da primitiva relação não–verbal mãe–bebê. Segundo Pincus e Dare (1987), esse contrato teria a seguinte forma: Eu tentarei ser algumas das coisas mais importantes que você quer de mim, ainda que algumas delas sejam impossíveis, contraditórias e loucas, desde que você seja para mim algumas das coisas impossíveis, contraditórias e loucas que eu quero que você seja. Não precisamos contar um ao outro o que estas coisas são, mas ficaremos zangados, aborrecidos ou deprimidos se não formos fiéis a isso.13 A fidelidade às clausulas desses três níveis de contrato possibilita a manutenção da aliança conjugal sem a ocorrência de crises, em uma pretensa estabilidade. Contudo, nem sempre essa harmonia é indicativa de um vínculo saudável. Existem duas principais vertentes em terapia de casal: o modelo sistêmico e o psicanalítico. O primeiro foi influenciado pelo da escola de Palo Alto e o segundo derivou da teoria de relações objetais de Melanie Klein e foi difundido pela Tavistock Clinic. No entanto, nenhuma das vertentes 13 PINCUS e DARE (1987) p. 46 apresenta homogeneidade, englobando variados enfoques divergentes em perspectiva e procedimento terapêutico. O modelo sistêmico enfatiza o aspecto interpessoal: o casal é um subsistema familiar estruturado em forma de díade. Já o psicanalítico enfatiza o aspecto intrapsíquico, considerando os determinantes profundos da relação, sejam estes reais ou fantasiados. A abordagem da Psicologia Analítica, tem a vantagem de integrar diferentes conceitos, sobretudo em função de que “o que caracteriza o trabalho do analista junguiano de casal não é um modo técnico de trabalhar, mas uma visão de ser humano. 14 Por conseguinte, esse autor considera possível inserir a terapia conjugal de abordagem junguiana nos dois modelos. No sistêmico, pelo fato de pressupor um sistema de funcionamento da personalidade arquetipicamente estruturado e, no psicanalítico, por considerar os aspectos inconscientes da psique. Hall (1987) partilha da mesma opinião, apontando que a abordagem junguiana de terapia conjugal não só considera as distorções de comunicação ou os distúrbios vinculares, mas propõe uma visão que congrega ambos aspectos: o interpessoal, na medida em que visa a integração dos papéis de marido/mulher na persona, e o intrapsíquico pois, fundamenta o relacionamento do casal no padrão arquetípico da coniunctio. Segundo Sharp (1993), Coniunctio, é um termo alquímico que define uma operação na qual os opostos de uma massa caótica são separados e depois reunidos em uma forma estável. O Arquétipo da Coniunctio que refere a união e separação, está na base da instituição do casamento e geralmente é responsável pela atração original entre duas pessoas no estágio de enamoramento. Além do papel de homem e mulher, os parceiros exercem os papéis sociais de marido/esposa e de pai/mãe, os quais têm como base as vivências parentais de cada um. 14 VARGAS (1994) p.104 Embora Jung (1995) nunca tenha atuado diretamente como terapeuta de casais, foi um precursor no assunto ao publicar em 1925 o artigo “O casamento como relacionamento psíquico”, postulando que quanto maior for o grau de inconsciência do indivíduo a respeito de si mesmo, menor a possibilidade de livre escolha do parceiro. Por essa razão, considera que quando o casamento ocorre na primeira metade da vida, fundamenta-se exclusivamente na projeção de imagens inconscientes do homem e da mulher, denominadas de anima e animus. A anima é uma massa hereditária inconsciente, gravada no sistema vital e proveniente de todas as experiências que os antepassados tiveram com o ser feminino, é uma imagem de mulher que cada homem carrega dentro de si. O mesmo vale para a mulher, que carrega uma imagem de homem interna, denominada animus. O matrimônio enquanto uma escolha psicologicamente diferenciada só é possível se os parceiros tiverem estabelecido uma relação consciente com o seu processo de Individuação, que é o processo de diferenciação psicológica. A meta da individuação não é tornar-se perfeito e sobrepujar a própria psicologia pessoal, mas familiarizar-se com ela. Por essa razão, envolve uma consciência crescente da realidade psíquica única, inclusive das forças e limitações pessoais, e, ao mesmo tempo, implica em uma apreciação mais ampla da humanidade em geral. Dessa forma, segue dois princípios: em primeiro lugar é um processo interno e subjetivo de integração, e em segundo, é um processo igualmente indispensável de relacionamento objetivo, segundo Jung (1995). A desigualdade de tempo em que os parceiros iniciam esse processo pode dificultar a relação matrimonial do ponto de vista psicológico. Assim, para atingir o relacionamento individual, o casamento passará por crises, condição indispensável para a tomada de consciência. Guggenbuhl-Craig (1980), retoma a questão apontando duas vias para a conjugalidade. A primeira, considerando o casamento como um meio de individuação, ou seja, descobrir a própria alma através do confronto com o outro. Nesse caso, os conceitos de normalidade matrimonial seriam relativos, pois o caminhar de um casal em direção à individuação é singular e não segue um padrão dos costumes e moral vigentes. A segunda, tratando da concepção do casamento de bem-estar, a qual o autor considera falida, uma vez que a convivência diária e rotineira gera inevitáveis confrontos e conflitos. O casamento é visto por Vargas (1994) como um organismo vivo e criativo, que irá gerar filhos concretos ou simbólicos em diferentes áreas da personalidade humana: biológica, social, cultural, psicológica, etc. Dessa forma, o vínculo conjugal sadio é aquele que permite o desenvolvimento individual dos parceiros e é caracterizado por uma vivência dialética criativa. Isso não significa um estado de perfeito entendimento entre o casal ou ausência de conflitos, mas a elaboração dos mesmos de forma dinâmica, transformando-os em aspectos propulsores de crescimento e enriquecendo a relação. CAPÍTULO III PSICOLOGIA DA FAMÍLIA Como instituição, a família atualmente pode ser concebida em um período de mudanças histórico-culturais muito importantes. As formas de "vida familiar" atualmente observadas são tão diversificadas que fica até mesmo difícil encontrar um consenso sobre a definição do que seja a família. Ainda assim, é possível constatar com Duss-von Werdt (1980) que nós humanos todos somos de alguma forma seres familiares, quanto mais não seja pela nossa interdependência mútua enquanto seres humanos. A partir destas constatações impõe-se a necessidade - como outras disciplinas (p. ex.: a sociologia) já o fizeram - de estudar o sistema de relacionamentos interpessoais denominada família e suas implicações para a vivência subjetiva e para o comportamento humano a partir de uma perspectiva psicológica. A partir deste enfoque, a psicologia da família deve ser concebida como uma disciplina básica. Apesar de a interface com outras disciplinas psicológicas ser muito grande - em particular com a psicologia do desenvolvimento, psicologia social, psicologia clínica, etc. -, até hoje o objeto de estudo da psicologia da família não recebeu um tratamento suficientemente abrangente e aprofundado por parte destas outras disciplinas. Desta forma, mesmo em nível internacional, o estado atual da arte na psicologia da família pode ser melhor caracterizado como necessitando ainda de muitos desenvolvimentos (SCHNEEWIND, 1999). Muito mais adiantados encontram-se, por outro lado, os conceitos e abordagens metodológicas da terapia de família. Os modelos da terapia de família foram concebidos, entretanto, quase que exclusivamente a partir da prática clínica. Desta forma, se ressentem ainda de uma fundamentação teórica e empírica com base em estudos de famílias que não apresentam comprometimentos psicológicos, as assim chamadas "famílias normais". 3.1 Questões de intervenção psicológica com casais "O objetivo da terapia marital é aumentar o termostato emocional do casal (…)." (Whitaker, 1981, In Sampaio, Gameiro et al., 1998). O estudo das relações de casal é ainda uma temática pouco estudada por investigadores portugueses. No entanto, parece verificar-se, na nossa sociedade, uma necessidade crescente de procura de ajuda por parte dos cônjuges, o que acentua a importância de um conhecimento profundo ao nível da conjugalidade, sobretudo com finalidades de intervenção. O aumento que se tem verificado nas taxas de divórcio é um aspecto que acentua a necessidade de investigar e compreender a dinâmica das relações conjugais e os fatores a ela associados. As questões relacionadas com a intervenção assumem particular importância se tivermos também em conta a tendência crescente do número de casais que procuram ajuda, tendo em vista a resolução das suas dificuldades. Neste sentido, parece estar a ultrapassar-se a ideia de que os problemas num casamento são atribuíveis apenas a um dos elementos (Sampaio, Gameiro et al., 1998). A importância da intervenção assume também uma relevância particular se tivermos em conta que a insatisfação conjugal tem repercussões a vários níveis, para além do familiar: biológico, psicológico, social, profissional. Parece-nos necessário ter em conta o casal como um todo e cada elemento separadamente, pois só desta forma se conseguirá uma melhor compreensão da dinâmica relacional. Tendo em conta que o todo é maior do que a soma das partes e a soma das partes é maior do que o todo, adotar uma perspectiva dialética tende a ser a melhor forma de articular as inúmeras variáveis inerentes à relação conjugal, com o objetivo da intervenção se adequar às necessidades de cada casal, especificamente. Na experiência e na prática enquanto terapeutas familiares tem-se tendência para considerar a união conjugal inserida no quadro de uma relação familiar mais ampla. A unidade escolhida preferencialmente é o conjunto das três relações (avós, pais e filhos) mesmo que o pedido da terapia tenha sido formulado a partir da díada marital. Esta perspectiva resulta na hipótese de que é difícil compreender as dificuldades atuais da relação conjugal sem ter em conta o passado individual de cada um e a justaposição atual. Quando tem-se um pedido de intervenção, feito por um elemento do casal, centrado na problemática da relação, deve-se procurar desde o início redefini-lo em termos de conjunto familiar, ligando o problema que é trazido as situações passadas e às peças dispersas da atualidade. Esta perspectiva acentua a necessidade do casal ser visto num sistema mais amplo, dados os fatores que sobre ele agem (e vice-versa). Neste sentido, torna-se importante uma visão sistêmica da realidade em que o todo não é igual à soma das partes, nem as partes representam o todo. Assim, apesar da intervenção conjugal se centrar, naturalmente, nos problemas surgidos a partir da interação entre dois elementos que mantêm uma relação de intimidade, esta díade marital não pode ser vista de forma isolada. O sistema conjugal encontra-se, assim, relacionado com os sistemas familiares anteriores, o que pode levar a considerar que a terapia conjugal pode ser vista como um caso particular da terapia familiar. Na primeira consulta deve ser definido o pedido do casal, solicitando a cada elemento que o exprima de forma clara, concreta e individual. Deve-se procurar, depois, explorar a história da relação, desde o momento em que se iniciou até ao presente, com o objetivo de compreender a relação conjugal, as expectativas que cada um levou para a relação e avaliar o grau de diferenciação de cada elemento face à família de origem. Esta centração em situações passadas direciona a atenção do casal para períodos positivos na vivência conjunta, o que poderá contribuir para o desenvolvimento de uma imagem menos ansiogênica das dificuldades conjugais. O objetivo fundamental da primeira consulta não deve ser apenas a recolha de informação, mas a criação de um primeiro momento de mudança psicoterapêutica. O desenrolar da intervenção, ao longo das várias sessões, não deve passar por "receitas" ou métodos padronizados, mas ser direcionada pelas necessidades específicas do casal e pela avaliação feita pelo terapeuta. A avaliação é importante, quer para o psicoterapeuta quer para o casal, na medida em que permite delinear o curso do processo de intervenção. É necessário, então, especificar que a avaliação é uma parte integrante e fundamental da psicoterapia. (Costa, 1994). Os problemas do casal referem-se, freqüentemente, a queixas relativas à falta de intimidade, dificuldades de comunicação e incapacidade de resolução de problemas e conflitos. A terapia deverá representar uma experiência de crescimento para os cônjuges. O terapeuta nunca poderá afirmar o que os elementos do casal devem ou não fazer, uma vez que cabe ao casal tomar iniciativas de mudança. O terapeuta deve ser visto como criador de alternativas, catalisador de afetos e facilitador de interações. Uma das funções da terapia de casal é também a de fazer despertar num elemento o desejo de descoberta do outro, sem que ambos receiem perder a sua individualidade. (Sampaio, Gameiro et al., 1998). Uma outra estratégia, diferente da intervenção em situações de crise, poderá passar pelo desenvolvimento de programas de educação conjugal, destinados aos períodos de pré, neo e pós casamento, funcionando de forma preventiva de situações geradoras de stress (Costa, 1994). Fincham & Beach (1999), a partir de uma revisão de estudos, realizados no âmbito do comportamento conjugal ao longo dos últimos vinte e cinco anos, identificaram a importância de três componentes principais nos programas de prevenção no âmbito das relações conjugais. A primeira componente baseia-se no fato dos comportamentos de defesa estarem subjacentes à adoção de comportamentos de fuga e enfatiza a importância da tomada de consciência da adoção de comportamentos defensivos (auto-protetores). Como forma de promover alternativas à adoção de agressividade, depreciações e reações de ataque salienta a importância da aprendizagem de competências relacionais. A segunda componente refere-se à importância da sensibilidade na relação com o outro. Partindo do pressuposto que existem receios que motivam a adoção de comportamentos de defesa, torna-se importante que a exposição a medos, como forma de reduzir o seu poder e prevenir interações disfuncionais. A terceira componente refere-se à importância de ajudar os casais a perceberem que as relações estão em constante mudança, promovendo uma teoria da relação em que o objetivo é a satisfação conjugal. As atribuições negativas ao parceiro, associadas a expectativas reduzidas de auto-eficácia influenciam negativamente a relação conjugal. Neste sentido, torna-se particularmente importante a promoção da tolerância face a falhas e situações de desilusão desencadeadas pelo cônjuge. Assim, torna-se útil a utilização de metáforas, humor e o desenvolvimento de alternativas à interpretação do comportamento do outro. Birchler et al (1975), citado por Fincham & Beach (1999) concluiu que os casais disfuncionais não são caracterizados por déficits de competências. Neste sentido, salienta que as intervenções não se devem centrar no treino de competências, mas na promoção do insight como forma de cada elemento do casal reconhecer os seus medos e as razões de recusa de resolução de problemas. Uma dimensão particularmente importante na intervenção com casais é a comunicação que pode ser vista como preditora da disfuncionalidade, uma vez que reflete a forma como o casal concebe e mantém esforços para a manutenção da relação. Gilbert, L. & Walker, S. (1999), citados por Adams & Jones (1999), salientam a importância da comunicação nas relações conjugais, que assume um papel particularmente relevante na negociação de regras entre o casal e no pedir e receber apoio. Partindo do pressuposto que o investimento e a estabilidade são influenciados pelo gênero sexual que, por sua vez, reflete discursos e estereótipos sociais, identificaram dois tipos de discursos: o discurso tipicamente masculino e o discurso igualitário. Neste sentido, um dos focos da intervenção deverá ser a comunicação conjugal, procurando promover alternativas de comunicação que atenuem eventuais estereótipos refletidos nos discursos dos cônjuges, os quais podem ser geradores de disfuncionalidade. Salienta-se, também, a importância da promoção de uma visão conjunta da vida e do futuro do casal, baseando-nos em Stanley et al. (1999), citados por Adams & Jones (1999). Este autor chama a atenção para o fato de elevados níveis de compromisso e satisfação estarem relacionados com a partilha de histórias, permitindo a formação do "patrimônio do casal". Por outro lado, casais infelizes tendem a tomar decisões isoladamente, construindo "guiões" de vida individuais. Neste sentido, os autores salientam a importância da intervenção conjugal encorajar os casais a despenderem tempo para contarem histórias um ao outro, construindo um "guião" conjunto, como forma de desenvolvimento de uma visão positiva do futuro, da relação e do crescimento a dois, reduzindo o medo da ruptura conjugal e promovendo o investimento, a satisfação e a estabilidade conjugal. Os casais com elevada satisfação conjugal parecem ser os que mais solicitam apoio psicoterapêutico, particularmente quando atravessam períodos de conflito ao longo da sua vida conjugal. Estes casais tenderão a desenvolver comportamentos no sentido de uma busca contínua da satisfação e da melhoria da relação. Os indivíduos que tendem a percepcionar a ruptura conjugal de forma negativa, não valorizando os aspectos positivos da relação, talvez sejam os que tendem a sentir mais dificuldades de investimentos futuros numa outra relação e os que tendem a procurar ajuda, seja junto de familiares ou amigos, ou uma ajuda mais especializada como o apoio psicoterapêutico. Nestes casos, o terapeuta deverá começar por promover o investimento na própria terapia, demonstrando ao cliente a sua capacidade de investir em novas relações, representando a intervenção uma forma de ensaio de novas relações e sendo a psicoterapia, em si, uma poderosa arma para promover o investimento em novas relações e em novos contextos, que não o psicoterapêutico. A necessidade de recorrer a um apoio especializado, tendo em vista a melhoria da relação conjugal, parece estar relacionado com o desejo de compromisso na relação conjugal, ou seja, a procura da terapia pode ser vista como um investimento na própria relação. Isto é, parece-nos que o fato de um casal recorrer a uma terapia pode revelar, por si só, uma forma de investimento na relação. Alguns estudos indicam que o recurso à terapia conjugal produz efeitos positivos, reduzindo a ansiedade e mal-estar conjugal, produzindo mudanças no comportamento e na satisfação conjugal a curto prazo. Contudo, a terapia conjugal parece também produzir efeitos positivos a longo prazo (Christensen & Heavey, 1999). A terapia conjugal parece ainda ter uma maior eficácia do que a intervenção individualizada com cada cônjuge e há maior probabilidade de êxito se os elementos do casal forem jovens, estiverem emocionalmente comprometidos e apresentarem menor grau de stress no início da intervenção terapêutica (Relvas, 2000). Para finalizar, importa salientar que o principal objetivo da terapia de casal é ajudar os cônjuges a reencontrarem-se com o "nós" que, por vários motivos e circunstâncias, se perdeu ou diluiu, e não a apaixonarem-se porque o terapeuta não tem "varinhas de condão" e a relação do casal é aprendida a partir do “nós”. CONCLUSÃO A terapia pode trabalhar as relações pessoais de maneira individual, mas os resultados são muito mais rápidos se esse trabalho é feito com o casal ou com a família, focalizando as relações em conjunto. Analisando o problema nas relações do cliente e na história que cada um dos componentes do grupo conta sobre sua participação nas suas relações, descobrem-se padrões de comportamento familiar que podem estar encobertos. Assim que cada um começa a ver os outros mais claramente, formas mais simples de relacionamento se desenvolvem. O cliente pode lembrar o que o aproximou dos outros de seu grupo e o que cada um pode oferecer ao outro enquanto seu relacionamento se desenvolve. O casamento pode, ter um aspecto complementar. Isso de alguma forma garante a união, é uma espécie de cola da relação. Mas como tudo na vida, deve haver alguma medida suportável. Casal, dupla, par, são palavras que significam que duas coisas ou pessoas, formam um conjunto que excluí um terceiro. Isso quer dizer que, duas pessoas unem-se para criar uma terceira personalidade que é o casal. Duas individualidades criando uma nova entidade chamada casal e que vai ter personalidade com seu próprio caráter. Quanto maior a convivência, maior a capacidade de apreender os movimentos corporais e sentimentos envolvidos nas palavras do outro. É por isso que, muitas vezes um clima desagradável é sentido e fica, como uma coisa estranha entre as pessoas se o parceiro que não se sente bem, não discute. Por essa razão é que, estabelecer uma comunicação honesta e aberta com o outro, é saudável em todos os sentidos. A agressividade e a raiva, devem estar inseridas no contexto. É extremamente gratificante, poder desabafar com alguém que sabemos, nos ama e nos compreende. Quando conseguimos expressar o que sentimos, isso facilita muita a vida e dá a necessária sensação de confiança. Olha-se e sabe-se que há conforto e paz na medida em que o outro se dá a conhecer e pode nos receber como somos. Quando isso ocorre, sabemos como fazer para agradar e encantar o outro. Se ele se esconde, perdemos as referências e não sabemos com agrada-lo. Surge a paranóia. É a essa compreensão, que chamamos de construir com o outro. Constrói-se a identidade própria do casal que vai assim, num movimento dialético, influenciar a identidade pessoal de cada membro e essa influência mútua, permanece num continuum infindável. Esses são os casos dos casamentos que duram por toda uma vida. Estabelecida a comunicação, pode-se observar que, com ela, virão a amizade, a confiança, a cumplicidade, a tolerância e o respeito, esse é o sentido não romântico dessas palavras. Ao compreender o casamento sob novas perspectivas e com outras expectativas, muitas pessoas refazem a vida e descobrem que o casal pode ter sua própria forma de ser. Então os membros da dupla, podem se encontrar e então fazer o que não tinham feito ainda, casar. A grande dificuldade de comunicação do ser humano, é quase sempre a responsável pelo fracasso nos casamentos. Mas os limites pessoais, os problemas com o medo e a dor, também têm seu papel. Crê-se que a função do ser humano, é antes, aprender a transformar. Grandes problemas, implicam em grandes envolvimentos, e assim podem desembocar em grandes e duradouras soluções. Mas se os evitamos, só restará a sensação de mais uma inutilidade, na sacola da vida. Uma sacola que se há de arrastar eternamente porque, tais coisas, nunca poderão se solucionar. A terapia de casal não une nem separa, funciona como acompanhamento do processo e não impõe decisões. Facilita que o casal identifique os problemas, averigüe o que os motivou, verifique a forma como vem reagindo as dificuldades. Propicia que os componentes do casal vejam a si mesmos, ao outro e a relação de forma mais aprofundada e aponta "ferramentas" que poderão auxiliar numa tomada de decisão. BIBLIOGRAFIA ADAMS, J. & JONES, W. Handbook of interpersonal commitment and relationshion stability. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers. 1999. ANDOLFI et al. Por trás da máscara familiar. 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