Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
Influência de padrões morfométricos sobre as ocorrências de inundações na bacia do Córrego
Cobiça, Cachoeiro de Itapemirim-ES
Luciano Melo Coutinho¹
Kleverson Alencastre do Nascimento²
¹Centro Universitário São Camilo-ES – USC
Rua São Camilo de Léllis, 01 – 29.304-910 – Cachoeiro de Itapemirim-ES, Brasil
[email protected]
²Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
Av. Fernando Ferrari, 514 – 29.075-910 – Vitória-ES, Brasil
[email protected]
Abstract. Watershed are relief features bounded by topographic divides and drained internally by a main river and its
tributaries, this criterion that enables several studies of the physical medium. The geometric characteristics of a basin
can influence the runoff and drainage, which justifies its evaluation based on correlation between measurements
(morphometry). Rounded Watershed can be fully covered by rainfall and concentrate water in less time, the branching
may suffer peaks between flow and concentration and may present elongated profile and balance between flood flows.
We carried out the delimitation and morphometric characterization of the Cobiça Stream watershed by applications of
Geographic Information System (ArcGIS 9.1®), followed by the correlation between the data and parameters identified
with the history of flooding in the area. The digital database used consisted of hydrography and contour mapped and
orbital images (HRC-CBERS 2B). The geometry and the morphometric indexes (Kc: 1.37; F: 0.55; Ic: 0.534 and Dd:
1.77km/km²) indicate that the basin has high circularity, poor drainage and flow concentration trend. It is estimated that
the occurrences of floods in this watershed are influenced by the contrasts of relief and lithology, which intensifies the
stream headwaters and reduces the flow of the central portion toward the mouth. The increases in the level of the
outflow channel may also influence the flow.
Palavras-chave: circularity, form factor, drainage, flood, circularidade, fator de forma, drenagem, deflúvio.
1. Introdução
Na atualidade são crescentes as ações de planejamento para atividades e ocupação antrópica,
principalmente as que utilizam dados de representação espacial e que consideraram as
particularidades dos recursos hídricos, relevo, solos e cobertura vegetal. A falta de planejamento
pode refletir tanto no comprometimento dos recursos naturais, quanto em resultados negativos para
sociedade, a exemplo de inundações em áreas ocupadas (Sais e Beli, 2012). A bacia hidrográfica é
um critério adotado como unidade para estudos ambientais e do meio físico em geral, devido a sua
delimitação precisa e dos seus componentes e processos internos (Rodrigues e Adami, 2005).
Bacia hidrográfica pode ser entendida como um conjunto de terras drenadas por um rio
principal e seus afluentes, a qual abrange obrigatoriamente a existência de divisores de águas,
nascentes, cursos principais e seus afluentes. Seus limites consistem de um conjunto de vertentes de
captação natural da água da precipitação que fazem convergir os escoamentos realizados para um
único ponto de saída, chamada foz ou exutório (Silveira, 2001). A porção de chuva precipitada
sobre sua área (precipitação efetiva) compõe o escoamento superficial, cuja intensidade se relaciona
ao fluxo de energia dos canais, os quais arrastam materiais sólidos e líquidos (deflúvio),
caracterizando um dos processos mais dinâmicos de modelagem do relevo (Christofoletti, 1979).
A localização e delimitação de bacias hidrográficas podem ser feitas manualmente por cartas
topográficas e/ou fotointerpretação, procedimento que deve identificar a drenagem interna ou rede
hidrográfica da seção de interesse, os topos de morros, os divisores de águas e a saída. A partir da
correlação de medidas geométricas de bacias (área, perímetro, comprimento, largura e canal
principal) é possível identificar parâmetros morfométricos, os quais permitem estimar o
comportamento interno de uma bacia (Christofoletti, 1979; Villela e Mattos, 1975).
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Como exemplo de parâmetro morfométrico determinante para o comportamento da dinâmica da
bacia está na forma/geometria que, de acordo com Medeiros (2005) pode interferir no tempo de
concentração da água dentro do sistema e na vazão das bacias (Figura 1). O formato arredondado
(A) torna mais favorável a ser atingida totalmente e uniformemente por precipitações, favorecendo
uma rápida concentração de água no curso principal em menor tempo. O formato ramificado (B)
pode gerar picos de concentração e vazão. A forma alongada (C) apresenta menor possibilidade de
ser totalmente atingida por chuvas, gerando um perfil de equilíbrio entr
entree cheias e vazão.
Figura 1: Bacia arredondada (A), ramificada (B) e elíptica (C), adaptado de Medeiros (2005).
O padrão de drenagem considera o arranjo espacial dos cursos da bacia, os quais podem ser
influenciados pela composição e disposição litológica da área, e ainda pela declividade e dinâmica
do respectivo sistema. A modelagem do relevo, seguido da associação ao comprimento e
sinuosidade dos canais, é importante para estimar a eficiência da drenagem de uma bacia, identificar
trechos de maior velocidade ou estagnação de fluxos, além da comparação entre bacias.
Sistemas de Informação Geográfica (SIG) representam a categoria de softwares utilizados para
manipulação e tratamento de dados espaciais, seja em formato vetorial (pontos, linhas e polígonos)
e/ou matriciais (imagens). Os ambientes de SIG diferenciam-se de outras categorias convencionais
de softwares de representação espacial, pois permitem manipular e gerar dados georeferenciados, ou
seja, dotados de precisão matemática e associados a uma projeção cartográfica (ESRI, 2006).
A bacia hidrográfica do Córrego Cobiça (BHCC) está localizada no Município de Cachoeiro de
Itapemirim, sul do Estado do Espírito Santo (Figura 2). Em períodos de chuvas intensas (meses de
novembro a março) é comum a ocorrência de inundações, destacando-se as dos anos de 2010, 2008,
1996, 1979 e 1960 (Coutinho, 2008). A área urbanizada é a mais afetada, representando riscos às
vidas e diversos prejuízos patrimoniais. O trabalho vem a contribuir na geração de dados a serem
aplicados na gestão da área, fornecendo subsídios às tomadas de decisão.
290000
7700000
7710000
7720000
280000
7720000
270000
7700000
0 32,5 65
200000
300000
400000
130
km
500000
Cachoeiro de
Itapemirim - ES
Bacia Hidrográfica do
Córrego Cobiça
Municipios do ES
Cachoeiro de Itapemirim
Bacia do Rio Itapemirim
Bacia do Cór. Cobica
Canal principal
0 3,75 7,5
250000
260000
7680000
7700000
7690000
7800000
260000
7690000
7800000
8000000
8000000
µ
7900000
250000
500000
7710000
400000
7900000
300000
7700000
200000
15
km
270000
280000
290000
Projeção UTM
SIRGAS 2000 - 24S
Figura 2: Localização da bacia de estudos.
2. Metodologia de Trabalho
A BHCC apresenta características geológicas da Faixa de Agradação Cachoeiro-Castelo, com
altitude entre 80m e 100m, muita ação intempérica e raros afloramentos rochosos, e de Feições de
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Mar de Morros, com maciços rochosos e serras resistentes ao intemperismo, altitude entre 200m e
900m. O relevo acidentado é predominante nas cabeceiras (ao leste) e sua porção mais baixa e plana
se encontra à jusante (nordeste-sul). O clima é quente e úmido com chuvas de verão, tipo Aw pela
classificação climática de Köppen. Encontra-se ocupada por atividades agropecuárias, seguida de
constante avanço da malha urbana e atividades de mineração (Coutinho, 2008).
Gardiman Júnior et al. (2012) interpolaram dados de precipitação diária da bacia do Itapemirim
(anos 1972 a 2002) e estimaram a média real de precipitação mensal em 111,52mm, com variações
de 5% pelo uso de diferentes interpoladores, sendo as menores oscilações pela Krigagem Esférica
(85 a 105mm e 125 a 145 mm). Machado et al. (2010) identificaram valores de vazão (m³/s) do Rio
Itapemirim a partir de série de dados diários (anos 1969 a 2006) obtendo vazão mínima (251,10),
média (461,90) e máxima (725,30), e as probabilidades máximas de retorno de 563,50 (5 anos),
632,32 (10 anos) e 724,85 (25 anos). Os resultados destas pesquisas corroboram com as
informações sobre a variação da disponibilidade hídrica da área de estudos.
Os dados vetoriais utilizados foram os layers digitais de hipsometria e hidrografia mapeada
(carta de Cachoeiro - 426144) originais do IBGE e imagem pancromática de resolução espacial de
2,7m do sensor High Resolution Camera (HRC) a bordo do satélite CBERS 2B (órbita 149-C,
ponto 123-5 de 2008/07/25), disponíveis no site do INPE. Os dados foram georeferenciados pelo
datum SIRGAS 2000, fuso 24S, escala 1: 50.000 com pixels de 10mx10m considerando o RMS
aceitável. As imagens orbitais foram georeferenciadas a partir da hidrografia por 20 pontos, sendo o
erro de 4m inferior a um pixel (ESRI, 2006).
A delimitação manual da bacia em ambiente de SIG adotou os procedimentos propostos por
Rodrigues e Adami (2005) a partir da base de dados, sendo:
- identificação de foz e componentes da drenagem interna (canais e nascentes);
- locação de pontos nos topos de morros e divisores topográficos;
- digitalização da linha divisória a partir da margem do rio principal;
- fechamento da linha (polígono) na margem oposta do início da delimitação; e
- refinamento da delimitação com suporte de imagens orbitais, considerando que apenas o uso de
curvas de nível não permite uma visão tridimensional do terreno e podem omitir informações pela
equidistância (20m), a exemplo de locais de passagem do divisor em áreas planas ou de
contribuição direta para o canal de ordem superior.
O procedimento de interpolação das curvas de nível permitiu a geração de superfície contínua
por Modelo de Digital de Elevação (MDE). Foi utilizado o interpolador Topo to Raster com suporte
de hidrografia (Stream), seguido de pós-processamento para eliminação de espúrias (HydrologyFill), obtendo-se um Modelo de Digital de Elevação Hidrologicamente Consistente (MDEHC). A
identificação da declividade (Suface Analysis-Slope) do terreno é um procedimento importante para
estimativa da velocidade da drenagem e pela sua influência secundária na orientação do relevo
(Suface Analysis-Aspect). As vertentes de orientação W, NW, N e NE recebem maior insolação,
enquanto as voltadas para E, SE, S e SW recebem menor insolação (Souza et al., 2008).
A caracterização morfométrica da BHCC se baseou em parâmetros de avaliação da rede
hidrográfica, das medidas geométricas e do relevo (Christofoletti, 1979; Villela e Mattos, 1975):
- características hidrográficas: o ordenamento dos canais proposto por Strahler (1952, apud
Christofoletti, 1979) considera canais de 1ª ordem (os menores e isolados), de 2ª ordem (encontro
de dois de primeira ordem), de 3ª ordem (formados por dois de segunda) de 4ª ordem (junção de
dois de terceira) e assim sucessivamente de acordo com as bifurcações existentes. Para análise
linear os canais de uma mesma ordem são selecionados, seguido da soma dos comprimentos e
quantidade de canais de cada ordem, cuja equação pode ser verificada na Tabela 1.
- características geométricas ou morfométricas: consiste da identificação e correlação entre
medidas, onde se identificam coeficiente de compacidade, fator de forma, índice de circularidade,
densidade de drenagem, razão de elongação, sinuosidade do curso d’água e índice de sinuosidade.
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- análise hipsométrica: representa a distribuição do relevo em classes de altitude e suas respectivas
áreas na bacia, além da identificação de valores de índice de rugosidade e razão de relevo.
- perfil topográfico ou longitudinal: relaciona o comprimento dos canais principais das sub-bacias e
suas altitudes, representados graficamente pela relação entre hidrografia (eixo X) e altimetria (eixo
Y). Para averiguação do comportamento da drenagem foi gerado em EXCEL o perfil topográfico
dos encontros entre canal principal e cotas altimétricas (20m) da carta topográfica e o perfil do
trecho que compreende a área inundável no bairro Cel. Borges a partir de pontos de GPS.
Tabela 1: Parâmetros e equações de caracterização morfométrica de bacias.
Procedimento
Análise
Linear
Relação de
bifurcação
Coeficiente de
compacidade
Fator de
forma
Índice de
circularidade
Densidade de
drenagem
Objetivo
Avalia a distribuição espacial da
drenagem pelo comprimento
médio dos canais de cada ordem.
Relação dos canais de certa
ordem com os de ordem superior.
Relaciona a bacia a um circulo, e
quanto mais próximo a 1 mais
sujeitas a inundação.
Relação
entre
largura
e
comprimento para avaliação de
geometria bacias.
Quanto mais próximo do valor 1
maior a circularidade e mais
sujeita a inundações.
Fórmula
LU
NU
LM =
Rb =
Ic =
Soma de comprimento dos
canais, em que se verifica a
velocidade da drenagem.
-
NU
NU+1
Kc = 0,28
F=
Tendência a enchentes
P
√A
A
LAX 2
12,57 * A
Dd =
P2
Lt
A
≥ 2 relevo suave
< 2 relevo montanhoso
1,00 - 1,25 = alta
1,25 - 1,50 = média
< 1,50 = baixa
≥ 0,75 = alta
0,75 - 0,50 = média
≤ 0,50 = baixa
> 0,51 = alta
0,51 = média
< 0,51 = baixa
< 5,0 km/km² = baixa
5,0 - 13,5 km/km2 = média
13,5 - 155,5 km/km2 = alta
> 155,5 km/km2 = muito alta
Compara a frequência de cursos
NU
de água e estima a capacidade de
Dh =
A
gerar novos cursos d’água
Relação entre o diâmetro da área
A0,5
Razão de
(circular) e o comprimento do
Re = 1,128 elongação
LAX
eixo da bacia.
< 1 = canal retilíneo
Quanto maior a sinuosidade,
L
Sinuosidade do
1 – 2 = transicional
menor
a
velocidade
de
Sin =
curso d’água
LTV
> 2 = tortuoso
deslocamento da água até a foz.
≤ 20% = canal muito reto
Representação percentual entre
100 L - LTV rio e talvegue, o que sugere que
20 - 30% = canal reto
Índice de
Is =
em maior declividade, maior a
30 - 40% = canal divagante
sinuosidade
L
≥ 40% = canal sinuoso
velocidade de escoamento.
Combina a diferença de nível da
bacia e a densidade de drenagem,
Índice de
Hd = ∆A * Dd
onde valores altos indicam
rugosidade
vertentes íngremes e longas.
0,0 - 0,10 = baixa
Indica a declividade média pela
∆A
Razão de
relação entre a amplitude
0,11 - 0,30 = média
Rv =
relevo
LAX
0,31 - 0,60 = alta
altimétrica e comprimento axial.
Em que: análise linear (LM), soma dos canais por ordem (LU), relação de bifurcação (Rb), número de segmentos (Nu),
segmentos de ordem superior (Nu+1), Kc (Coeficiente de compacidade), perímetro (P), área em metros (A), fator de
forma (F), comprimento do canal principal (L), índice de circularidade (Ic), densidade de drenagem (Dd), densidade
hidrográfica (DH), comprimento total dos canais ((Lt), razão de elongação (Re), comprimento axial (LAX), comprimento
do talvegue (LTV), índice de sinuosidade (Is), índice de rugosidade (Hd), amplitude (∆) e razão de relevo (Rv).
Densidade
hidrográfica
Os produtos cartográficos foram manipulados em ambiente de SIG (ArcGIS 9.1®), cujas
ferramentas e aplicativos possibilitaram a realização dos procedimentos de delimitação da bacia,
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representação do relevo, identificação das medidas geométricas e dos índices morfométricos da área
de estudos, os quais são representados esquematicamente na Figura 3.
Figura 3: Fluxograma de preparo de material e de métodos.
3. Resultados e Discussão
Considerando o critério geométrico da disposição fluvial a BHCC pode ser considerada
dendrítica ou arborescente (Christofoletti, 1979), uma vez que seu desenvolvimento se assemelha a
uma árvore (Figura 4-A), sendo o rio principal o tronco (4ª ordem), os tributários os ramos (2ª e 3ª
ordem) e as correntes menores as folhas (1ª ordem). A quantidade e comprimento dos canais de
cada ordem, assim como os comprimentos médios constam na Tabela 2. Destaca-se a maior
extensão dos canais de 1ª ordem (30,38 km) e a menor de 4ª ordem (4,54km), pois muitos canais de
ordem superior (2ª, 3ª e 4ª) recebem tributários diretos de ordem inferior (1ª), mas o comprimento
médio indica crescimento constante em conformidade com as ordens dos canais. Os altos valores
das relações de bifurcação (> 2) se devem a menor ocorrência das áreas de maior altitude e declive
acentuado, pois os valores inferiores a 2 indicam predomínio de relevo montanhoso.
Tabela 2: Hierarquização dos canais.
Ordem
1ª
2ª
3ª
4ª
Total
Canais
51
12
3
1
67
Rel. de bifurcação
4,25
4
3
-
Comprimento (km)
30,38
12,76
9,02
4,54
56,70
Comprimento médio (km)
0,59
1,06
3,00
4,54
2,30
A avaliação do relevo constou da geração de classes de altitude, declividade e orientação do
terreno (cenas 4-B, C e D) a partir do MDEHC (Cardoso et al., 2006). Os valores de altitude
verificados são máxima (774m), média (192m) e mínima (14m). A maior ocorrência por classe de
altitude é entre 50-100m (14,39km²) e a menor as áreas inferiores a 20m (0,7km²).
A declividade distribui-se em máxima (350%), média (33,7%) e mínima (0%). O relevo plano
(0% a 3%) representa 18% da bacia e o relevo acentuado (20% e acima de 75%) somam 55%,
enquanto as intermediárias entre extremos (3% a 20%) representam 31% da bacia (Tabela 3). A
orientação do relevo indica predomínio do sentido oeste (5,14km), que se inclui na categoria de
menor umidade pela maior exposição à radiação solar, o que se confirma ao comparar direções
principais de relevo, sendo norte 3,80km e sul 3,67km (Souza et al., 2008). As condições do relevo
influenciam as relações de precipitação, escoamento superficial, infiltração, intemperismo e
deflúvio. Cardoso et al. (2006) identificaram predomínio do relevo forte ondulado (46,61%) na
bacia do rio Debossan, ressaltando que a alta velocidade de escoamento, gerada pela declividade,
possa ser compensada pela boa cobertura vegetal.
Os índices morfométricos e medidas geométricas são apresentados na Tabela 4, sendo área total
(23,07km²), perímetro (27,46km), canal principal (11,05km), comprimento axial (7,63km), largura
(5,39km) e talvegue (6,93km). Pela análise morfométrica identificou-se coeficiente de compacidade
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(1,37) de média tendência a inundações, fator de forma alto (0,55), índice de circularidade alto
(0,534) e razão de elongação alta (0,81), o que indica que a bacia tem tendências ao formato
alongado, favorável a inundações e cheias rápidas. Sais e Beli (2012) identificaram na bacia do
Ribeirão Cachoeira (MG) valores corespondentes ao formato alongado (Kc 1,78; F 0,11 e Ic 0,31),
que inferem menor concentração de deflúvio e menor risco de enchentes.
Tabela 3: Declividade da BHCC.
Classe (%)
0–3
3–8
8 – 20
20 – 45
45 – 75
> 75
350
33,70
TOTAL
Definição
plano
suave ondulado
ondulado
forte ondulado
montanhoso
escarpado
Máxima
Média
-
Área (km²)
5,37
1,93
6,27
9,34
5,45
1,96
30,32
Área (%)
18
6
21
31
18
6
100
A densidade de drenagem (1,77 km/km²) e densidade hidrográfica (2,20km-²) indicam,
respectivamente, baixa drenagem e pouca propensão à formação de novos canais. A sinuosidade do
curso d’água (1,59 km/km-1) indica situação intermediária entre formas regulares e irregulares
(transicional). O índice de sinuosidade indica que o comprimento do canal principal é 37,28% maior
que o talvegue, característico de pouco escoamento ou divagante (Coutinho et al., 2011).
Tabela 4: Medidas e valores de parâmetros morfométricos da BHCC.
Item
Área total (A)
Perímetro (P)
Largura (Lg)
Canal principal (L)
Comprimento axial (LAX)
Comprimento de talvegue (LTV)
Coeficiente de compacidade (Kc)
Fator de forma (F)
Índice de circularidade (Ic)
Razão de elongação (Re)
Densidade de drenagem (Dd)
Densidade hidrográfica (Dh)
Sinuosidade do curso d’água (Sin)
Índice de sinuosidade (Is)
Índice de rugosidade (Hd)
Razão de relevo (Rv)
Altitude máxima
Altitude média
Altitude mínima
Maior e menor orientação do relevo (km²)
Medida
30,48 km²
27,46 km
5,39 km
11,05 km
7,63 km
6,93 km
1,37
0,55
0,534
0,81(adimensional)
1,77 km/km²
2,20 km-2
1,59 km/km-1
37,28%
693,84 (adimensional)
51,37 km/km-1
774 m
192 m
14 m
+W (5,14) / –Plano (0,5)
Classificação
Médio
Alto
Alto
Baixa
Transicional
Canal divagante
Alta
N (3,8) / S (3,6)
O índice de rugosidade (693,84) pode ser considerado médio, devido às distintas formas de
vertentes, ou seja, curtas nas porções mais baixas e íngremes nas maiores elevações. A razão de
relevo 51,37 km/km-1 é considerada alta (Alves e Castro, 2003; Coutinho et al., 2011).
O perfil topográfico gerado a partir de elementos cartográficos (canal principal e altimetria) é
representado na Figura 5. Na cabeceira da bacia ocorre mudança brusca de elevação devido às
características de relevo escarpado entre as cotas 120m e 290m, ou seja, uma diferença de 170m de
altitude em uma extensão de 755m lineares. No trecho do perfil entre as cotas 14m e 120m ocorre o
aplainamento do relevo, onde a diferença de nível de 110m é distribuída ao longo de 10,39km.
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O perfil topográfico da área de alagamento da Figura 5 (linha marrom) tem 1311m de extensão.
As altitudes máximas são as cotas de 40m nos dois extremos e a altitude mínima (cota de 14m) é o
nível do canal principal da bacia do Rio Itapemirim (linha azul escura), ponto de deságue da BHCC.
Na margem de ocorrência de inundações (à direita do canal de deságue) nota-se que o canal de
deságue pode sofrer elevação de seu nível em até 8m nos períodos de chuvas intensas, o que
influencia as ocorrências de inundações da área urbana (Figura 6).
Bacia Hidrográfica do Córrego Cobiça
50 - 100m
282000
284000
286000
282000
284000
286000
288000
Nascente
7692000
0 0,75 1,5
290000
7698000
282000
284000
286000
288000
290000
280000
282000
284000
286000
288000
290000
µ
D
Plano
N
NE
7696000
7696000
280000
E
SE
8 - 20%
S
SO
45 - 75%
286000
288000
7692000
0 0,75 1,5
7692000
> 75%
km
> 700m
km
3 - 8%
20 - 45%
3
600 - 700m
3
7694000
7694000
0 - 3%
7694000
7696000
7698000
C
7692000
500 - 600m
Foz
290000
288000
400 - 500m
W
3
NO
km
280000
290000
7694000
2
!
(
km
284000
200 - 300m
300 - 400m
1
!
(
3
0 0,75 1,5
100 - 200m
7692000
1
7698000
20 - 50m
7698000
1
1
µ
7696000
7698000
3ª Ordem
0 0,75 1,5
7692000
B
282000
284000
7696000
1
0
290000
< 20m
2ª Ordem
1
1
1
1
7698000
288000
7694000
1
1
2
4ª Ordem
282000
286000
286000
288000
7692000
1
1ª Ordem
7696000
1
µ
280000
284000
7696000
3
4
2
280000
282000
1
!
(
280000
7698000
!
(
1
7694000
1
1
1
7696000
A
1
2
3
1
280000
7694000
1
1
290000
1
1
1
1
288000
1
1
1
1 2
2
2
2
1
1
2
7698000
1
1
1
7694000
286000
1
µ
284000
7692000
282000
1
280000
290000
Figura 4: Caracterização física da bacia do Córrego Cobiça por hierarquia dos canais (A), altitude
(B), declividade (C) e orientação do terreno (D).
Córrego Cobiça - Perfil Topográfico do canal principal
200
150
100
100
80
0
30
30
30
28
25
22
25
20
25
18
15
40
20
14
0
40
35
60
50
40
40
Altitude (m)
290
280
260
240
220
200
180
160
140
120
250
Altitude (m)
Córrego Cobiça - Perfil Topográfico da área alagável
45
300
22
20
PERFIL TOPOGRÁFICO
NÍVEL DE ENCHENTE
14
NÍVEL DO RIO
10
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
0
Distância (km)
100 200 300 400 500 600 700 800 900 10001100120013001400
Distância (m)
Figura 5: Perfil topográfico do canal principal e da área atingida por enchentes.
As altas declividades e a geologia das cabeceiras indicam ocorrências de baixa infiltração e
rápido escoamento nestas partes, o que pode se refletir em intensificação e concentração de fluxo
nas partes baixas e planas, fatores estes que favorecem as ocorrências de inundações (Alves e
Castro, 2003). Considera-se importante atentar às alterações do nível do canal principal da bacia do
Rio Itapemirim nos períodos de chuvas intensas (Figura 6). Embora não haja registros de
inundações na área decorrentes unicamente da subida do nível do Rio Itapemirim, este pode
influenciar maiores variações de vazão da BHCC.
5775
Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE
4. Conclusões
Avaliou-se a dinâmica interna da BHCC pela correlação entre suas medidas geométricas, relevo
e hidrografia. A interpretação dos dados de morfometria e comportamento de drenagem indicam
tendências ao formato circular, alta sinuosidade e baixa drenagem dos canais, o que pode
representar riscos de enchentes em ocorrências anormais de precipitação.
As características litológicas e de relevo indicam baixa infiltração e rápido escoamento nas
cabeceiras (predomínio de rochas e gradiente topográfico acentuado), seguido de concentração de
fluxo nos fundos de vale (deposicional e de relevo suave). A avaliação do perfil topográfico indica
que as subidas de nível do canal de deságue podem influenciar a vazão desta bacia.
A
B
C
Figura 6: Ocorrência de inundação no Bairro Cel. Borges (A), nível da foz da BHCC em período
seco (B) e nível em ocorrência de cheia (C) do Rio Itapemirim. Fonte: autores.
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5776
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Influência de padrões morfométricos sobre as ocorrências de