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o exílio português no Brasil: Os "Budas" e a
oposição antisalazarista
Heloisa Paulo
Centro de Estudos Interdisciplinares Universidade de Coimbra/Ceis2o Exilados e emigrantes: O Brasil como porto de abrigo
Hoje, os portugueses estão divididos, de resto em
parcelas extraordinariamente desiguais, entre dois campos
ideológicos diametralmente opostos: uma enorme
maioria, democrata e liberal, debate-se contra a opressãq
de uma escassa minoria, autoritária e reaccionária .
Emigrantes, emigrados políticos e exilados possuem em comum a neces­
sidade de sobreviver num país estrangeiro, mas são muitas as diferenças que
2
os distanciam. Para o emigrante comum, o objectivo único é a construção
de uma nova vida que, nem sempre, inclui o retorno definitivo à terra de
origem. A sua relação com os poderes estatais do seu país natal é marcada
pelo culto constante dos vínculos que se possam estabelecer entre a colónia
e o seu lugar de origem, numa demonstração constante da preocupação em
afirmar a sua ligação com a terra, com o intuito de se fazerem sempre
"presentes". Neste quadro, as contrapartidas oferecidas pelos regimes aos
pedidos e ofertas da colónia são fundamentais no reforço das amostras de
"fidelidade" que a colónia pode vir a demonstrar.
Para o emigrado político ou para o exilado, a partida do país de origem
é sempre algo imposto, fruto do seu descontentamento ou revolta contra
o poder de um Estado. Ao contrário da grande maioria dos emigrantes, o
emigrado/exilado possui uma cultura e uma formação profissional que o
distingue do restante da colónia, permitindo a sua sobrevivência de meios
poucos usuais para os seus "patrícios".3 Assim sendo, é comum o contacto
I Jaime de Morais, "Divagações ao redor de uma data," Correio da Manhã, 12 de
Outubro de 1943, 2.
2 Sobre o tema ver, entre outros, Maurizio Degl'Inoccenti, ed., L'exilio nella storia dei
movimento operaio e l'emigrazione economica (Bari/Roma: Lacaita, 1992).
O termo "patrício" é constantemente empregue na colônia portuguesa do Brasil
para designar os seus compatriotas. Sobre o tema ver, entre outros, Heloísa Paulo, Aqui
também é Portugal: A colónia portuguesa do Brasil e o salazarismo (Coimbra: QyartetO,
3
14 (2) 2006-7/Subscription Run 2006/Published in 2009 1057-1515/04-02/$-see back matter. © 2007-2009 Ponuguese Studies Review. Ali rights reserved . 126
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entre emigrados/exilados e os meios mais cultos da sociedade receptora e a
presença destes entre a elite intelectual dos países de acolhimento. De igual
forma, o seu posicionamento político permite a este emigrado/exilado entrar
em contacto com os dirigentes partidários do país receptor, desde que
possuam credos políticos e ideológicos semelhantes. Por outro lado, e apesar
desta maior proximidade entre a sociedade local e a colónia de
emigrados/exilados, a permanência no país de acolhimento nem sempre é
vista como uma realidade "permanente". E, para além da sobrevivência, o
emigrado/exilado tem como primeiro objectivo dar continuidade a luta
política que o levou a afastar~se do seu pais de origem.
Neste quadro, o Brasil sempre foi o destino preferencial da emigração
portuguesa e o refúgio de muitos dissidentes dos diversos governos de
Portugal: o período do conservadorismo de D. Miguel, acolhera os liberais,
quando da República, servira de local de exi1io para os emigrados políticos
monárquicos. Alguns destes emigrados formam associações de cunho
político, como a Liga Monárquica D. Manuel 11, ou ainda, o Grémio
Republicano Português, fundado em 1908. Entre os seus principais
representantes, encontram~se nomes de vulto na colónia, como o do
industrial José Augusto Prestes, e dos comerciantes Ricardo Seabra de
Moura e Francisco Dores Gonçalves. A partir do advento da ditadura em
Portugal, o território brasileiro passa a receber os opositores ao regime, que
são acolhidos pelos seus compatriotas e companheiros de ideais políticos,
mas são olhados com desconfiança pelos membros conservadores da colónia.
Entre os primeiros que escolhem o país como refúgio, está João Sarmento
4
Pimente1. Ele é o elemento de contacto para outros exilados que passarão
a maior parte de suas vidas em território brasileiro.
O presente artigo trata de um sector desta oposição exilada no Brasil,
nomeadamente, o grupo dos "Budas", como são designados Jaime de
Morais, Jaime Cortesão e Alberto Moura Pinto. Na sua essência, eles
comungam o ideal republicano, possuindo pontos fortes de contacto com
o socialismo mas, muitos dos que lhe são próximos possuem uma formação
política diferenciada, como é o caso de Câmara Pires e o seu vínculo ao
anarquismo. A trajectória deste grupo de exilados é marcada pela busca de
apoios de outros sectores da oposição, ultrapassando as divergências políticas
2000).
João Sarmento Pimentel nasceu em 1888, falece em 1987. Oficial do Exército e
membro do grupo Seara Nova, Pimentel participa no movimento de 1927, indo para
o Brasil nos anos trinta. Reside no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, onde está a
frente do Centro Republicano. Vinculado ao grupo dos Budas, é uma das principais
figuras da oposição portuguesa no Brasil. Sobre o tema, ver Noberto Lopes, org.,
Sarmento Pimentel ou uma geração traída (Lisboa: Editora Aster, 1976).
4
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em prol de um objectivo comum: o combate ao salazarismo. 5 Para tal, e
colocando-se como representantes da oposição como um todo, procuram
captar outros apoiantes, tanto na sociedade brasileira, como em outros
grupos de exilados.
A ditadura portuguesa e a "diáspora" dos opositores: O caminho percorrido
o drama dos refugiados que, entre as duas guerras,
inundaram a Europa inteira só dificilmente poderiCf;
ser compreendido fora dela.
Em 28 de Maio de 1926, um golpe militar implanta em Portugal um
regime ditatorial que, ganhando contornos fascistizantes nas décadas seguin­
tes, perdurará 48 anos. Comandado por oficiais, defensores de um exército
intervencionista, o movimento vai gerar oposições; quer no seio das
próprias forças armadas, inclusive dos próprios participantes do movimento;7
quer no seio da sociedade civil, criando uma vaga de inúmeras tentativas
de derrube do regime. Os opositores possuem os mais diferentes matizes,
incluindo republicanos, egrégios do antigo Estado, anarquistas, comunistas
e monárquicos. No seu conjunto, este movimento de oposição recebe na
historiografia portuguesa a designação de "reviralhismo", e os seus parti­
cipantes são conhecidos como os membros do "reviralho".8
A partir da primeira tentativa de revolução, em Fevereiro de 1927,
comandada por republicanos, o exílio é o destino daqueles que teimam em
continuar o combate pela democracia em Portugal. A primeira vaga de
opositores parte para a região da Galiza ou para a França, nomeadamente
5 No entanto, este facto r de "unicidade", não anula as divergências quanto às
estratégias escolhidas para o combate e que apareceram em diversos momentos da luta
política em comum. Sobre o problema da oposição no exílio, ver, entre outros, Tim
Kirk and McElliogtt, eds., Opposing Fascism: Community, Authority and Resistance in Europe
(New York: Cambridge University Press, 1999); José Luis Abellán, dir., EI exaio espaiíol
de 1333: Guerra y política, vols. 1-5 (Madrid: Taurus Ediciones, 1976).
6 Jaime de Morais, "Romance do Exílio," Correio da Manhã, 27 de Agosto de 1943,
2.
Este é o exemplo do General Gomes da Costa, responsável pela revolta da 8. a
divisão militar de Braga, ao norte de Portugal, no dia 28 de Maio. Gomes da Costa,
após ser Presidente do Ministério, é exonerado e preso, em 9 de Julho do mesmo ano.
Sobre o tema ver, entre outros, A.H. de Oliveira Marques, org., O general Sousa Dias
e as revoltas contra a ditadura, I326-I331 (Lisboa: Publicações Dom Qyixote, 1975); Jorge
Campinos, A ditadura militar, I326-I333 (Lisboa: Publicações Dom Qyixote, 1975); Luís
Farinha, O reviralho: Revoltas republicanas contra a ditadura e o Estado Novo, I326-I340
(Lisboa: Editorial Estampa, 1998).
8 O termo "reviralho" é empregue para designar os membros da oposição republicana
ao regime de Salazar. Sobre o tema ver, entre outros, Farinha, O Reviralho.
7
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Paris. Em I93I, após a implantação do regime republicano em Espanha,
Madrid acolhe um incontável número de representantes da oposição ao
salazarismo que já cristalizara a sua posição em solo português. 9 No
entanto, a oposição republicana exilada não representa um grupo coeso, já
que podemos falar em dois sectores distintos, com técnicas de actuação
diferenciadas. De um lado, temos o grupo liderado pelo oficial Ribeiro de
Carvalho, defensor de uma participação dos civis nos movimentos levados
IO
a cabo pelos opositores militares ao regime. De outro, há o grupo
composto pelo ex-governador da Índia e médico oficial da Marinha, Jaime
de Morais, II pelo historiador e igualmente médico, Jaime Cortesão,12 ambos
Ainda é escassa a bibliografia sobre a oposição. Ver, entre outros, Linda Dawn
Raby, A resistência antifascista em Portugal (Lisboa: Edições Salamandra, 1980); A.H. de
Oliveira Marques, A unidade da oposição à ditadura, 1928-1931 (Lisboa: Europa-América,
1973); A. H. de Oliveira Marques, A Liga de Paris e a ditadura militar, 1927/1928 (Lisboa:
Europa-América, 1976); A. H. de Oliveira Marques, A literatura clandestina em Portugal,
1926-1932, 2 vols. (Lisboa: Fragmentos, 1990); Oliveira Marques, O General Sousa Dias;
Campinos, A ditadura militar; Farinha, O Reviralho.
9
Ver, entre outros, Luís Farinha, "António Germano de Carvalho," em Fernando
Rosas e J. M. Brandão de Brito, eds., Dicionário do Estado Novo (Lisboa: Círculo dos
Leitores, 1996), 1: 128.
II Jaime Alberto de Castro Moraes. Nasceu em Chacim, Trás-os-Montes, no dia 13 de
Junho de 1882. Médico, ligado ao corpo médico da Marinha, participa do movimento
republicano e da instauração da República. Com uma larga experiência colonial, é
Governador-geral da Índia, entre 1919 e 1925. Após o 28 de Maio, é indicado para o
cargo de vogal no Conselho Superior das Colónias, que não chega a ocupar. É uma das
principais figuras do movimento revolucionário de 3 de Fevereiro de 1927. Após a sua
derrota, busca refúgio em Espanha, de onde é banido em 1934, acusado de fornecer
armas para o Partido Socialista. Retoma a Madrid, em 1936, quando são iniciados os
esforços em torno do que viria a ser conhecido pelo nome de "Plano Lusitânia": uma
invasão de Portugal capitaneada pelos republicanos e com tropa portuguesa. Em 1940,
após apresentação ao governo de Salazar do manifesto de cessação das actividades da
oposição durante o conflito mundial, retoma ao território português, sendo preso, e
deportado para o Brasil. Ali, retoma a sua actuação oposicionista, juntamente com
Moura Pinto e Cortesão. Impedido de retornar definitivamente a Portugal, permanece
no Brasil, onde falece em 20 de Dezembro de 1973. Dados recolhidos das memórias de
Jaime de Morais, texto manuscrito, Arquivo Jaime de Morais, Fundação Mário Soares,
e de depoimentos de familiares.
12 Nasceu a 29 de Abril de 1884, e, apesar de ter optado pela medicina, desde cedo
Cortesão manifesta o gosto pelas letras, colaborando na edição de revistas literárias e
de crítica social, como a Nova Silva e A Vida Portuguesa, e, posteriormente, a Seara
Nova. Como médico, participa da La Grande Guerra e ganha a Cruz de Guerra, após
ser vitimado por um ataque inimigo. Entre 1919 e 1927, exerce o cargo de director da
Biblioteca Nacional de Lisboa, já voltado para a investigação e para a sua grande paixão
intelectual, a história. Com o advento da ditadura, participa na revolta de 3 de
Fevereiro de 1927, sendo obrigado a exilar-se na Espanha. Em Janeiro de 1939, junta­
mente com Jaime de Morais e as respectivas famílias, atravessa os Pirineus a caminho
de França, onde permanece até 1940, quando retoma ao território português, sendo
IO
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participantes do movimento de 1927, e, ainda, Alberto Moura Pinto/ 3
advogado e antigo Ministro da Justiça do governo de Sidónio Pais,
integrante da tentativa revolucionária levada a cabo pela oposição em 1928.
Tornam-se conhecidos pelo epíteto de "Budas". O grupo passa esta deno­
minação graças às críticas de "imobilismo" que lhe são lançadas por um
suposto companheiro de exílio, Leonel Ferro Alves, mas, que, na verdade,
actua como "espião" do governo de Salazar. Numa obra publicada em Por­
tugal, Os Budas e o contrabando de armas, Ferro Alves acusa o grupo de não
levar a cabo acções concretas contra o regime, denegrindo a sua imagem
como "profissionais da revolução". 14
A eclosão da Guerra Civil em território espanhol cria 'um laço entre
espanhóis e portugueses, irmanados na luta pelo republicanismo e no com­
1s
bate ao avanço das forças fascistas, apoiantes de Franco. A proximidade
ideológica, ou a existência de um objectivo comum, leva os opositores
portugueses a participarem activamente no combate e nas diligências do
Estado espanhol durante todo o período de guerra. Figuras do movimento
republicano como Jaime de Morais, Jaime Cortesão, Alberto Moura Pinto,
deportado para o Brasil. Trabalha como professor no Ministério das Relações Exteriores
brasileiro, para além de leccionar em universidades. Volta a Portugal em 1955, ali se
fixando em definitivo. Em 1958, é lançado pelo Directório Democrático como candidato
à Presidência da República, o que não aceita, apoiando o candidato da oposição, Hum­
berto Delgado, sendo preso logo a seguir. Protestos de intelectuais de todo o mundo
contribuem para que seja solto. Debilitado e doente, vem a falecer em 1960. Ver
Alfredo Ribeiro dos Santos, Jaime Cortesão, um dos grandes de Portugal (Porto: Fundação
Engenheiro de Almeida, 1993).
13 Alberto Moura Pinto nasceu no dia 5 de Abril de 1883 na cidade de Coimbra.
Formado em Direito, participa nas movimentações para a implantação da República,
tendo entrado nas Constituintes de 19II, como deputado. Com a ascensão de Sidónio
Pais, Moura Pinto passa a exercer o cargo de Ministro da Justiça, entre II de Fevereiro
de 1917 e 7 de Março de 1918. Em desacordo com a ditadura militar, participa de na
revolta de Junho de 1930, sendo preso e deportado para os Açores no dia 20 de Julho
de 1930. No ano seguinte, no entanto, já está em Espanha, actuando na oposição. Logo
se aproxima de Jaime de Morais e Jaime Cortesão, dando origem ao grupo conhecido
como os Budas, sendo o contacto do grupo com o Estado Espanhol, transitando entre
Barcelona, Madrid, Marselha e Paris. Em 1939, está em Marselha, donde segue para o
Brasil, participando activamente nas manifestações da oposição. Retoma definitivamente
a Portugal em 1957, já muito adoentado e sem condições económicas. Falece em 1960.
Dados recolhidos na documentação existente no Arquivo Moura Pinto, em posse da
família.
14 Ver Leonel Ferro Alves, Os Budas e o contrabando de armas (Lisboa: s.e., 1934), 30.
15 A participação dos republicanos e demais opositores antisalazaristas portugueses
na Guerra Civil espanhola já foi tema de inúmeros estudos da historiografia espanhola
e portuguesa. Ver, entre outros, César de Oliveira, Salazar e a Guerra Civil de Espanha
(Lisboa: O Jornal, 1987).
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I6
Francisco Oliveira Pio estão na frente de batalha, coordenando as acções
militares e diplomáticas. Outros elementos, vinculados ao movimento comu~
7
nista, como Francisco Cachapuz/ ou ao anarquismo, como Inocêncio
Câmara Pires,I8 também participam no esforço de guerra contra os rebeldes
franq uistas.
A colaboração entre espanhóis e portugueses está na base da elaboração
de um grande plano a ser levado a cabo contra o regime de Salazar, o Plano
Lusitânia. Este projecto de invasão e de derrube do salazarismo em Portugal
seria encabeçado pelos republicanos, chefiados por Jaime de Morais, e
apoiados pelo governo republicano de Espanha, que, em troca, obteria do
país vizinho mais um apoio no combate contra as forças de Franco. O
rápido avanço das tropas revoltosas e a falta de respostas vindas dos pontos
de apoio dos portugueses no seu país, levam ao fracasso da empreitada e
a busca do refúgio em França, seguindo os passos de milhares de espanhóis
refugiados.
Francisco Oliveira Pio nasceu em 17 de Janeiro de 1897. Em 1921, é nomeado
Comissário da Divisão de Policia de Segurança Pública de Lisboa. Após o 28 de Maio,
participa no movimento de 3 de Fevereiro de 1927, fugindo para a França, Bélgica, e
finalmente para a Espanha. Participa activamente como combatente na guerra civil, e,
após o seu término, é internado no campo de concentração na região de Montauban,
na França, de onde escapa para Argel. Nesta cidade, combate na resistência junto ao
General Bethouart. Em 1955, parte para o Brasil, retomando a resistência antisalazarista
através do Movimento Nacional Independente, vinculado ao General Humberto
Delgado. Falece em 1972, no Rio de Janeiro. Dados recolhidos das mémorias de Oliveira
Pio, texto manuscrito, Arquivo da Biblioteca e Museu da Resistência., Lisboa, e de
depoimentos de contemporâneos.
17 Francisco Cachapuz, nasceu em 1914 em Chaves, falecendo em 1993, no Rio de
Janeiro. Jornalista e escritor, está ligado à oposição comunista. Participa na Guerra Civil
em Espanha, onde conhece o grupo dos Budas. No final do conflito, parte para a
França, donde retorna a Portugal, seguindo, em 1946, para o Brasil. Ali, passa a escrever
para diversos jornais no Rio e em São Paulo com o nome de Paulo de Castro. Membro
activo da oposição, após a Revolução de 25 de Abril, em Portugal, é nomeado
Conselheiro Cultural da embaixada de Portugal no Brasil, cargo que exerceu até 1980.
Dados recolhidos no Arquivo de Francisco Cachapuz, em posse da família e em
depoimento de familiares.
18 Nasce a 4 de Março de 1898, em Luanda. Mulato, formado em Medicina, reside
em Paris, mantendo contacto com os republicanos exilados, em especial, com os Budas.
Durante a Guerra Civil de Espanha, é um dos contactos do grupo dos Budas em França
e na Inglaterra. Em 1939, parte para o Brasil. No Rio de Janeiro, participa nos primeiros
movimentos oposicionistas capitaneados pelos seus antigos amigos. Ligado ao
anarquismo, escreve no jornal anarquista Ação Direta, em 1947. Retorna a Luanda na
década de sessenta, seguindo depois para Paris, onde se liga aos movimentos
independentistas das colónias portuguesas. Dados recolhidos no arquivo da família e
depoimentos de familiares.
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Uma vez em solo francês, os portugueses buscam o apoio das autoridades
francesas, sem contudo obter grandes sucessos, diante da ameaça nazi que
se concretiza com a ocupação alemã. Alguns dos opositores republicanos,
como José Domingues dos Santos, antigo deputado da República, há muito
radicado em Paris, ainda tentam granjear apoios para a causa da oposição
portuguesa sem nenhum sucesso. Outros, como Francisco Oliveira Pio e
Emídio Guerreiro, também interveniente no movimento de 1927, partici~
pam do combate contra as forças de ocupação, lutando juntos dos membros
da resistência em França e no território argelino.
Uma parcela dos exilados decide retornar a Portugal, diante do destino
inevitável que lhes reservaria o governo alemão, frente à sua activa parti~
cipação em Espanha e à sua expressiva representatividade enquanto oposi~
tores de Salazar. É o caso de Bernardino Machado, antigo presidente da
República portuguesa, Jaime de Morais e Jaime Cortesão. Estes dois últimos
seguem expulsos para o Brasil, iniciando uma longa peregrinação em terras
brasileiras, onde encontram muitos dos seus antigos companheiros.
Durante a estada no Brasil, estes exilados participam de uma "frente
comum", na qual o objectivo primeiro é a mobilização da opinião pública
e a busca de apoios políticos internacionais para o combate ao salazarismo.
Tal como acontece em Espanha e em França, estabelecem contactos com
os meios políticos que comungam de ideais que lhes são comuns, no caso
dos republicanos, os socialistas e dos comunistas e dos anarquistas, os seus
respectivos congéneres em terras brasileiras.
A chegada dos Budas ao Brasil e a reacção da colónia portuguesa: Da desconfiança à condenação Meu caro dr. Jaime de Morais
Pensava eu que v. exc. se limitava a escrever os
seus artigos tratando, com a alta competência que lhe
reconhecemos, assuntos coloniais. vejo agora-e com
que desgosto-que v. exc. além de ter assinado essa
verdadeira monstruosidade que é o telegrama dirigido
a Truman, comparece a reuniões onde, insistindoÍ~
na intervenção, se insulta o Governo legal da nossa terra .
No período do chamado "entre-guerras", o Brasil não escapa aos modelos
ditatoriais surgidos na esteira dos movimentos fascistas europeus. Entre 1937
e 1945, o país está sob o "Estado Novo", uma cópia do sistema implantado
Carta de Simão de Laboreiro, antigo funcionário do governo português em Angola,
radicado no Rio de Janeiro na década de trinta, ao seu antigo companheiro em
território africano, Jaime de Morais, sem data, Arquivo Jaime de Morais, Fundação
Mário Soares.
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20
em Ponugal, sob o comando de Getúlio Vargas. Não sendo um Estado
Fascista, a sua censura proíbe manifestações contrárias aos países com os
quais mantém relação, extinguindo as associações de emigrantes que
possuem algum carácter político. No entanto, a chegado dos exilados ponu­
gueses, sobretudo após 1940, despena mais cuidados entre os membros mais
antigos da colónia, do que o alerta do governo brasileiro. Na verdade, as
autoridades brasileiras não demonstram um cuidado especial para com os
que chegam com os passaportes carimbados pela Polícia de Vigilância e
21
Defesa do Estado. Mas, ao contrário dos agentes brasileiros de segurança,
os representantes consulares demonstram um interesse constante com rela~
22
ção às actividades dos seus emigrados políticos. As suas "influências
políticas deletérias",2 3 como afirmam os porta~vozes oficiais do regime, são
alvo de muitos ataques, apoiados pelos membros mais conservadores da
colónia.
Em finais de 1941, com o alinhamento gradativo das autoridades brasi~
leiras ao lado dos aliados, inicia-se naquele país um período de afastamento
e contestação aos modelos totalitários. Os exilados portugueses aproveitam­
se do clima de relativa liberdade para dar início a uma discreta "campanha"
contra o regime de Salazar. Alguns nomes de relevo, como Jaime de
4
Morais, passam a escrever para os jornais brasileiros,2 aproveitando o
espaço das suas crónicas para dar a conhecer a realidade da ditadura por­
tuguesa e o cenário de terror ditatorial vivido pela Península Ibérica após
a vitória de Franco. Só ele escreve cerca de ISO artigos, entre 18 de N ovem­
bro de 1941 e 14 de Agosto de 1944, muitos deles atacando e criticando a
25
política de Salazar, e também a de Franco.
20 Sobre o tema, ver, entre outros, Thomas Skidmore, De Getúlio a Castelo, I930-I964
(Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979); e Bóris Fausto, org., I-!istória geral da civilização
brasileira, tomo 3, vols. 1-4 (São Paulo: Difel, 1984).
21 Sobre o tema, ver Maria da Conceição Ribeiro, A polícia política no Estado Novo,
I926-I945 (Lisboa: Editorial Estampa, 1995).
22 São inúmeros os ofícios sobre os emigrados políticos. Ver, por exemplo, 3.° piso,
armário II, maço 441, Ministério dos Nogócios Estrangeiros, Lisboa (M.N.E.).
23 Ofício da Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro, de 30 de Dezembro de 1933,
3·° piso, armário I, maço 743, M.N.E.
24 Os jornais brasileiros passam a poder contar com a colaboração de nomes que não
fazem parte do círculo de intelectuais ligados ao regime, como os exilados políticos ou
até elementos "à esquerda" do Estado Novo. Sobre o tema ver, entre outros, Skidmore,
De Getúlio a Castelo.
25 Na série de três artigos intitulada "Problemas da Europa futura," o grande tema
é a incapacidade de uma Europa unida no após guerra incorporar regimes como o de
Portugal e Espanha. Ver "Problemas de Europa futura: Portugal e Espanha," Diário Cari­
oca, 2 de Maio de 1943, 3; "Problemas de Europa futura: Desencontro de economias,"
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Em 1942, com a entrada do Brasil na guerra ao lado dos aliados, a
censura passa a não existir no que se refere as críticas direccionadas aos
regimes fascistas. As autoridades portuguesas vigilantes relativamente às
manifestações da oposição, recorrem a pedidos de intervenção do governo
brasileiro para a não realização ou a cessação de actos contrários ao regime
salazarista. Em documentação reservada, a Embaixada informa o governo
de Lisboa sobre as suas interpelações junto do Ministério das Relações Exte~
ri ores do Brasil no sentido de corrigir "os desmandos da imprensa brasileira
em correlação com a propaganda e acção antipatriótica de certos dos nossos
emigrados pOlíticos".26 Como resposta ao Memoradum da Embaixada,
endereçado às autoridades brasileiras, o representante do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil afirma já terem sido tomadas providências
27
contra "as insinuações de carácter político" dos exilados. A partir de 1943,
no entanto, nem o governo de Vargas, nem a interferência do embaixador,
conseguem calar as vozes que, no Brasil, proclamam a sua oposição ao
"fascismo". Nas vésperas do final da guerra, os ofícios da Embaixada de Por~
tugal no Rio de Janeiro para Lisboa falam das manifestações dos "portu~
gueses antifascistas", assegurando, porém, a "indignação da colónia portu~
guesa" ante tais actos.
N o entanto, durante todo o período de vigência do governo ditatorial
em Portugal e da actividade dos oposicionistas no Brasil, a reacção maior
contra os oposicionistas vem dos próprios emigrantes "salazaristas". Nos
jornais oficiosos da colónia, os artigos publicados demonstram a "aversão"
a toda e qualquer acção realizada pelos opositores contra o regime de
Lisboa, como a condenação da acção dos oposicionistas aquando da exibição
da Semana de Filmes Portugueses, apoiada pelas autoridades consulares por­
28
tuguesas. Preocupados com um possível avanço dos oposicionistas nos
órgãos da colónia, vão denunciar e "conspirar" para a segregação dos emi~
grados políticos:
Foi tentado sem êxito impedir reeleição actual Presidente Clube Português em
São Paulo. Golpe Assembleia Geral não teve consequências. Comendador
Santos Costa foi reeleito. Presidente da Casa de Portugal e Câmara Portuguesa
Diário Carioca, 9 de Maio de 1943, 3; "Problemas de Europa Futura: Para onde caminha
a Península," Diário Carioca, 23 de Maio de 1943, 3·
26 Ofício reservado da Embaixada no Rio de Janeiro, datado de 20 de Fevereiro de
1942, dirigido a António de Oliveira Salazar. 2.° piso, armário 50, maço 68, M.N.E.
27 Cópia do Memoradum do Ministério das Relações Exteriores do Brasil ao
Embaixador de Portugal no Rio de Janeiro, datado de II de Fevereiro de 1942, anexa
ao Ofício citado na nota 26.
28 Voz de Portugal, 18 de Maio de 1947, 2.
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de Comércio, Com. Pereira Olleiroz e Afonso Salgado, foram pacificamente
reeleitos. Eleições Centro Transmontano, agremiação com maior número
associados, elementos da oposição, dirigidos pelo comunista ponuguês Manuel
Marujo, tentaram falsificar grosseiramente listas de votação para impedir
reeleição actual Presidente Francisco Barreiro. Manobra descobena a tempo
de evitar pretendidas consequências. Ficam assim nos postos chaves Asso­
. - Ponuguesas pessoas a bso Iuta con filança. Bastos. 29
claçoes
Os ((Budas" ao Brasil e a busca de apoios: Da opinião pública aos
partidos políticos
o apoio dos democratas brasileiros e,-seja-nos permitido
especificar-dos escritores e jornalistas-será dum valor
inestimável na luta, que há 19 anos sustentamos, muito
de nós em meio de calados e indivisíveis sofrimento
pela restauração e actualização da Democracia em Portugal.
ró
Impossibilitados de contar com o esteio da maioria da colónia, a oposição
procura apoios nos grupos dos velhos republicanos, radicados há muito no
Brasil, e em intelectuais e políticos brasileiros, eles próprios defensores dos
ideais da democracia. Em 1942, quando o clima de contestação ao fascismo
atinge também o próprio regime de Getúlio Vargas, os grandes periódicos
da então capital do Brasil abrem espaço para os opositores do salazarismo.
Unindo a necessidade económica de sobrevivência ao combate político, o
2
monárquico Tomás Ribeiro Colaço/I o jornalista exilado, Novais Teixeira,3
e o deputado e antigo professor da Universidade do Porto, Lúcio Pinheiro
3
dos Santos/ e o já citado Jaime de Morais, escrevem artigos condenando
Telegrama do Consulado de São Paulo, datado de 27 de Fevereiro de 1961, em
código, decifrado em 28 de Fevereiro do mesmo ano. P.E.A. 426, M.N.E.
30 Abaixo-assinado dos Democratas portugueses endereçado a Hermes de Lima,
datado de 15 de Setembro de 1945, 1. Arquivo de Alberto Moura Pinto, em posse da
família, em Lisboa.
31 Nasceu em 1899, em Lisboa. Formado em Direito, simpatizante monárquico,
escritor, exerce vários cargos em Portugal até seguir para o Brasil, em 1941. Fixa a sua
morada no Rio de Janeiro, onde passa a escrever para jornais, como o Diário de Notícias.
Figura polémica da oposição, falece naquela cidade, em 1965. Ver Paulo, Aqui também
29
é Portugal.
32 Jornalista e crítico de cinema, tem uma trajectória política activa, actuando junto
dos republicanos exilados em Espanha nos anos trinta. Em 1937, parte para Paris, onde
fixa residência. Por volta de 1941, já no Brasil, escreve em jornais do Rio de Janeiro.
Retoma a Paris na década seguinte, aonde vem a falecer. Dados recolhidos na docu­
mentação existente nos Arquivos Jaime de Morais e Arquivo Sarmento Pimentel,
Biblioteca Sarmento Pimentel, Mirandela.
33 Não há muitos dados acerca deste opositor a Salazar. Segundo a pesquisa realizada
gentilmente pela técnica superior de arquivo Maria Isabel Cunha Gerós nos livros de
vencimento da Universidade do Porto, o nome de Lúcio Pinheiro dos Santos consta
H.
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o salazarismo, contribuindo com argumentos para os que protestam no
Brasil contra o regime ditatorial de Vargas. Nos seus artigos, os principais
alvos são os fascismos europeus, com especial destaque para a situação
ibérica, sendo a figura de Salazar apresentada pela colónia como o professor
de Coimbra transformado em político ideal, apresentada sob um novo
ângulo:
Sou um autoritário!-grita, confundindo numa ignorância de professor da
34
douta universidade, a autoridade com o autoritarismo, que é a sua negação.
No entanto, as primeiras manifestações públicas da opOSlçao são
realizadas "às portas fechadas", debaixo do clima de controlo imposto pelas
autoridades brasileiras. A data da proclamação da República, o grande
símbolo da oposição durante a vigência da ditadura, dentro e fora de
Portugal, o 5 de Outubro é o momento de confraternização dos exilados
políticos. A frente das comemorações, o grupo dos Budas. Este, a partir de
1943, passa a assumir a condição de representante do combate anti~
salazarista no Brasil, possuindo em Londres, como representante, Armando
Cortesão, nos Estados Unidos, Abílio Águas, e em Paris, José Domingues
dos Santos. É a chamada União dos Democratas Portugueses, presidida por
Morais, Cortesão e Moura Pinto e que reúne uma série de antigos com~
panheiros, como João Sarmento Pimentel, e outros republicanos.
A primeira reunião data de 1941, e congrega um pequeno grupo de
opositores, sem contar com a participação de nenhum "estrangeiro", no
caso, brasileiros. Como acto marcante, um abaixo~assinado, onde os parti­
cipantes afirmam a sua solidariedade ao governo brasileiro e a sua
condenação da ditadura salazarista. 35 Nos anos seguintes, o ritual é repetido,
acompanhado sempre de mensagens de protesto contra o regime de Salazar,
afirmações de fidelidade ao republicanismo, e, a medida que o Brasil se
aproxima politicamente dos aliados, de declarações de solidariedade dos
como "Professor do 6.° Grupo, com data de admissão em 18-10-919". A panir de 1923,
ele rege o curso de Lógica e Moral. É apontado como "deputado da Nação". Em
Fevereiro do mesmo ano, não recebe nenhum abono, já que uma nota da Direccção
Geral do Ensino Superior, datada de 15 de Janeiro de 1923, informa ter sido ele nome­
ado para exercer o cargo de Director dos Serviços de Instrução do Estado da Índia,
"para onde deveria seguir (sic) partir até 31 de Janeiro de 1923'~ Arquivo da Uni­
versidade do Porto. Pelo depoimento de Luís Leite de Vasconcelos, que o conheceu,
Lúcio Pinheiro dos Santos teria morrido no final dos anos cinquenta no Rio de Janeiro,
sem deixar herdeiros.
34 Novais Teixeira, "O enigma do Homem sem lábios," Diário Carioca, 15 de Maio de
1944, 2.
35
Ver "Manifesto de 1941," Arquivo Jaime de Morais, Fundação Mário Soares, Lisboa.
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exilados com o governo brasileiro e com a luta dos aliados em prol da
"liberdade das Nações" e defesa dos "princípios sociais e políticos da Demo~
cracia-contra a tirania que sob vários disfarces, escraviza e algema Povos
e Consciências".36 Em I944, o peso de uma luta sem resultados aparentes,
e centrada em meia dúzia de apoiantes, está presente na solenidade e nos
discursos dos seus membros:
Confesso a minha decepção, que não é desespero, ao comemorarmos no
exl1io, mais um "Cinco de Outubro", a data evocativa de alvoradas e crepú­
sculos, vinudes e erros. E não são de desespero as minhas palavras porque na
alma dos verdadeiros republicanos, forjada no amor à Liberdade, retemperada
na memória dos mánires e no exemplo dos que contam a mor parte da vida,
vivida nos cárceres e campos de concentração, sofrendo vexames e torturas,
h a, uma c'
le em permanente a1erta. 37
Nos meses que antecedem a vitória aliada, a actividade republicana
torna~se cada dia mais intensa e outras associações e grupos surgem no
cenário da oposição portuguesa no Brasil. Durante todo o ano de I945, são
inúmeras as acções levadas a cabo, no sentido de demonstrar a existência
de uma forte oposição ao regime de Salazar, no seio da comunidade de
'
38 N
, . portuguesa ate, entao
- conservad
uma co 1oma
ora e I
sa azansta.
o entanto,
apesar das aparências, são muitas as dissidências entre os exilados. Por vezes,
os vínculos de amizade forjados no passado, como é o caso dos laços entre
Joaquim Novais Teixeira e Jaime de Morais servem para contrabalancear as
diferenças políticas. 39 Em outros casos, a participação de nomes já conhe~
cidos, como Lúcio Pinheiro dos Santos, ou de recém chegados, como Ani~
0
ceto Monteiro, é apresentada como um sinal de unidade entre o grupO.4
Em Abril de I945, temos a criação do Comité Português Anti~Fascista,
do qual participam inúmeros nomes de oposicionistas, englobando ele~
mentos de diferentes matizes políticas, desde comunistas até republicanos,
no qual incluímos republicanos, como Sarmento Pimentel, monárquicos,
"Manifesto de Comemoração da Implantação da República em Portugal," 5 de
Outubro de 1942, Arquivo Jaime de Morais, Fundação Mário Soares.
37 "Discurso de Moura Pinto proferido nas Comemorações do 5 de Outubro de
1944," I, Arquivo Moura Pinto.
38 Sobre o tema, ver Paulo, Aqui também é Portugal!
39 Os dois compartilham do mesmo momento de exílio em Paris, após a Guerra de
Espanha. Ver correspondência nos arquivos de Jaime de Morais e Moura Pinto.
40 Ver, entre outros, convite em nome dos Democratas Portugueses para as come­
morações do 5 de Outubro, datado do Rio de Janeiro, de I de Outubro de 1946, assi­
nado por Ricardo Seabra de Moura, Lúcio Pinheiro dos Santos e Francisco Dores
Gonçalves, e apresentando como oradores, para além do próprio Lúcio, Jaime Cortesão,
Moura Pinto e Aniceto Monteiro. Arquivo Moura Pinto.
36
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como o escritor Tomás Ribeiro Colaço, anarquistas, como Roberto das
41
Neves, ou comunistas, como Joaquim Novais Teixeira e Aniceto Monteiro.
Os diversos grupos de opositores passam a ter relações "cordiais", não sem
42
a existência de críticas veladas de ambas as partes.
No dia 21 do mesmo mês, o Conselho Nacional da Frente de Unidade
Antifascista de Portugal promove, na sede da União Nacional dos Estu~
dantes do Brasil, uma grande manifestação pública que conta com o apoio
de portugueses e brasileiros. Reúne "representantes de todas as correntes
opostas ao fascismo português, desde os sectores monárquicos até aos
comunistas".43 Na ocasião, é lançado o manifesto endereçado ao "Comité
Português pela Democracia de Nova Iorque", para que este, junto dos
Delegados das Nações Unidas à Conferência de São Francisco, afirme o
profundo sentimento antifascista dos portugueses do Brasil, sem distinção de
partidos, e de sua firme resolução de apoiar o Movimento da Libertação de
Portugal que visa instalar um governo provisório, convocar constituintes e
repor Portugal em sua verdadeira posição internacional comprometida desde
44
a cumplicidade oficial de Lisboa com o nazifascismo.
No entanto, ainda em 1945, um novo apoio surge para a actuação dos
combatentes do salazarismo. Um grupo de jornalistas e políticos brasileiros
criam a "Sociedade dos Amigos da Democracia Portuguesa", encabeçada
pelo então jurista, Hermes de Lima,45 com o objectivo de "contribuir para
António Aniceto Monteiro nasceu em 1907. Matemático de renome em Portugal
e na Europa, militante do movimento comunista, é obrigado a sair de Portugal em
1945, por motivos políticos. No Brasil, lecciona na Faculdade Nacional de Filosofia, onde
permanece até 1964, quando, após a implantação da ditadura militar naquele país, segue
para a Argentina. Após 1974, retoma a Portugal, onde falece em 1980. Ver Jorge
Rezende, Luiz Monteiro e Elza Amaral, Elza, eds., António Aniceto Monteiro: Uma foto­
biografia a várias vozes (Lisboa: Sociedade Portuguesa de Matemática, 2007).
42 Nas cartas de Moura Pinto endereçadas a Jaime de Morais, as figuras de Aniceto
Monteiro e Lúcio Pinheiro dos Santos são constantemente criticadas, como ocorre na
correspondência datada de 6 de Novembro de 1946, na qual o antigo ministro se queixa
dos impedimentos do grupo e afirma ser o momento ideal para "os Lucios e Anicetos
exibirem suas habilidades, mas creio que se irão sentir desgraçados ao não nos terem
no campo, pela falta dum obstáculo contra o qual possam fazer [ ... ] ginástica". Arquivo
Jaime de Morais. No seu depoimento o Professor Leite de Vasconcelos afirma que os
"Budas" não queriam uma aproximação maior. Depoimento de Luís Leite de
Vasconcelos, 8 de Abril de 2004. Rio de Janeiro.
43 Programa da Frente de Unidade Antifascista de Portugal. Rio de Janeiro, 1945. Este
programa é distribuído mediante uma contribuição mínima a ser dada em prol do
movimento no valor de Cr$ 2,50, um valor simbólico para a época.
44 Diário Carioca, 22 de Abril de 1945, 1.
45 Nasceu em 1902, no Estado da Bahia, e falece em 1978, no Rio de Janeiro. Foi
professor na Faculdade de Direito de São Paulo e na Faculdade de Direito da
41
138
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6
fortalecer os ideais democráticos na colónia portuguesa do Brasil".4 No dia
da sua primeira reunião pública, realizada a 15 de Setembro de 1945, a
iniciativa é saudada com uma moção de solidariedade do grupo republi­
.
M as, a presença no evento d e um representante
cano, 47 como vemos aCIma.
8
do Partido Comunista do Brasil,4 na figura de Álvaro Ventura, marca uma
outra força oposicionista exilada, a dos comunistas portugueses, que, man­
tendo uma forte ligação aos seus "camaradas" do Brasil, representa um
49
"outro lado" da oposição portuguesa no exílio.
Assim sendo, temos numa mesma associação duas forças distintas. Os
comunistas portugueses, que, aproveitando a legalização do Partido Comu­
nista do Brasil, entre 1945 e Janeiro de 1948, buscam o apoio dos comu­
nistas brasileiros. Tal aproximação favorece o patrocínio de iniciativas
singulares, gerando momento de confraternização entre os defensores do
comunismo em ambos os países, como na inauguração da "Exposição da
Imprensa Clandestina Portuguesa", realizada na Associação Brasileira de
Imprensa, em 25 de Janeiro de 1947, com a presença do líder comunista
brasileiro Luís Carlos Prestes,sO figura carismática da oposição em toda a
,. L . SI
A menca atma.
Universidade do Brasil, Escreve para diversos jornais e entra para a vida política em
1925, como deputado Estadual. Em 1946, é deputado do Partido da Esquerda
Democrática, criado em 1946, o embrião do Partido Socialista No governo de João
Goulart, nos anos sessenta, ocupa o cargo de Ministro do Trabalho e Previdência Social,
de Presidente do Conselho de Ministros e de Ministro das Relações Exteriores. Durante
os anos quarenta e cinquenta, Hermes de Lima mantém um contacto intenso com
Jaime de Morais, Moura Pinto e Cortesão, sendo inúmera a correspondência trocada
entre eles. Sobre o tema, ver, entre outros, Leandro Konder, História das idéias socialistas
no Brasil (São Paulo: Expressão Popular, 2003).
46 Estatutos da SBADP citados no artigo "Atividades da SBADP," Libertação, 1 de
Maio de 1947, 14.
47 Moção enviada a Hermes de Lima, datada de 15 de Setembro de 1945, pela União
dos Democratas Portugueses.
48 Sobre o Partido Comunista do Brasil, ver, entre outros, Edgard Carone, O PCB,
I922-I943 (São Paulo: Difel, 1982); Edgard Carone, O PCB, I943-I964 (São Paulo: Difel,
1982).
49 A partir de 1945, e após a deposição do ditador, o Partido Comunista Brasileiro,
no seu curto período de legalização, vai se aproximar dos elementos comunistas do
exílio português. Sobre o tema ver, Paulo, Aqui também é Portugall, capo 5.
50 Depoimento de Luís Leite de Vasconcelos, 8 de Abril de 2004. Rio de Janeiro. Há
uma fotografia de Prestes na ocasião no arquivo pessoal do Professor Leite de
Vasconcelos.
51 Político, nasceu em 1898 e faleceu em 1990, no Rio de Janeiro. Líder do Partido
Comunista Brasileiro (PCB) por mais de 50 anos, Luís Carlos Prestes é uma das figuras
mais carismáticas do cenário político brasileiro. Em 1945, quando retoma do exílio
imposto pela ditadura de Getúlio Vargas, é eleito senador pelo Partido Comunista
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Por sua vez, no interior desta mesma associação, o grupo de republi~
canos vinculados aos "Budas" mantém a aproximação com os elementos que
formarão no Brasil o futuro Partido Socialista, como os deputados Hermes
de Lima e Osório Borba. De igual forma, são promovidos por ambos os
grupos eventos públicos, como a comemoração do 5 de Outubro, em 1945,
contando com a presença de diversas personalidades brasileiras, entre elas
o escritor Manuel Bandeira e os deputados Hermes de Lima e Lino Teixeira,
52
ambos da Esquerda Democrática.
No entanto, para além do apoio dos brasileiros, os "Budas" buscam
retomar o contacto com os antigos dirigentes espanhóis, procurando forma~
lizar a sua imagem como representantes da oposição portuguesa no estran~
geiro junto do governo republicano de Espanha no exílio. Uma vasta corres~
pondência mantida por Jaime de Morais, Moura Pinto e Cortesão com
figuras de relevo do exílio republicano espanhol, como Julio Alvarez de
Vayo, antigo Ministro de Estado entre Setembro de 1936 e Agosto de 1938,
e Paulino Gomez de Saiz, ministro do governo republicano de Espanha
entre Maio de 1937 e Março de 1938, marcam a tentativa do restabeleci~
mento dos antigos vínculos estabelecidos em Espanha e do esforço do grupo
53
republicano em se fazer reconhecer a nível internaciona1.
No Brasil, os contactos são mantidos através da Sociedade Brasileira dos
Amigos da Democracia Portuguesa e da sua congênere espanhola, a
Associação Brasileira dos Amigos do Povo Espanhol, fundada também em
1945. Juntamente com os sectores da ala comunista e anarquista dos
opositores portugueses e em conjunto com os oposicionistas espanhóis, é
lançado um periódico, comum aos dois núcleos de exilados, de nome
Libertação, que vai ter poucos números, circulando entre Abril e Junho de
1947. No primeiro número, Jaime Cortesão reafirma na nota de abertura
a existência de um compromisso comum entre os combates da democracia
em Espanha e Portugal:
Todas as Nações livres devem aos povos ibéricos, por fraternidade humana e
defesa da liberdade, apoio ao combate que estão travando contra a tirania que
Brasileiro. Em 1947, com a ilegalização do Partido, retoma à clandestinidade, voltando
ao Brasil apenas na década de oitenta. Sobre o tema, ver, entre outros, Anita Leocádia
Prestes, Luís Carlos Prestes: Patriota, revolucionário e comunista (Rio de Janeiro: Editora
Expressão Popular, 2006).
52 Ver recorte do jornal Notícias, datado de II de Outubro de 1945, com o título "Já
que em Portugal se morre de fome é preciso que o povo português compreenda que
vale mais morrer lutando." Arquivo Moura Pinto.
53 Ver correspondência trocada entre Moura Pinto e Jaime de Morais e Vayo e Saiz,
datada entre Junho de 1942 e Julho de 1945. Arquivo Moura Pinto.
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as oprime. Mas ao povo espanhol, em particular, todos devemos os maiores
esforços para ajudá-lo nessa luta. 54
Para além destes contactos, os Budas mantém entre os anarquistas alguns
dos seus mais significativos apoiantes. É o caso de Inocêncio Câmara Pires,
antigo companheiro de exílio europeu, e Roberto das Neves, ambos
colaboradores dos jornais anarquistas brasileiros Relações Anarquistas e Acção
Directa. 55 Ao seu lado, estão os anarquistas portugueses emigrados ainda no
início do século XX, como José de Melo Espínola ou Joaquim Duarte
56
Batista. Tanto Roberto das Neves, quanto Joaquim Duarte Batista tornam~
se propagandistas da oposição, o primeiro através de inúmeras publicações
e da editora GerminaI, e o segundo, a partir dos anos cinquenta, como
57
redactor e director do jornal Semana Portuguesa, editado em São Paulo.
Entretanto, em meados dos anos cinquenta, a morte de alguns dos
antigos republicanos da colónia, como José Augusto Prestes, juntamente
com o retorno a Portugal de Moura Pinto e Cortesão, vai marcar o fim da
importância do republicanismo como elemento actuante na oposição
exilada no Brasil. Apesar disto, o nome de Sarmento Pimentel continuará
a figurar como uma figuras mais importantes da oposição radicada no
Brasil. Junto dele, outras figuras ligadas ao grupo dos Budas, assumem
papéis de importância nos finais dos anos cinquenta, como Francisco de
Oliveira Pio, que liga o seu nome ao Movimento Nacional Independente,
reunido em torno do General Humberto Delgado, também exilado no
J. Cortesão, "Saudação ao Povo Espanhol," Libertação, 14 de Abril de 1947, I.
55 Roberto das Neves, anarquista, mação, formado em Direito pela Universidade de
Coimbra, é obrigado a sair de Portugal após 1926, por razões políticas. Em Espanha,
está vinculado à Federação Anarquista Ibérica. Nos anos quarenta, parte para o Brasil
onde irá permanecer até o fim da vida. Escritor, é proprietário da editora GerminaI que,
durante anos, publica diversas obras contrárias ao Estado Novo Português. Após a
implantação da ditadura militar no Brasil, é preso, mas solto logo a seguir. Possui
diversas obras publicadas, entre elas, Assim cantava um cidadão do mundo, um libelo
irreverente contra o salazarismo. Sobre o tema, ver Edgar Rodrigues, Os companheiros,
vol. 1 (Rio de Janeiro: VJR, 1994).
56 José de Melo Espínola participa em todas as manifestações promovidas pelos
republicanos e, em especial, as comemorações do 5 de Outubro a partir de 1941. Ver
listas de assinaturas na documentação relativa nos Arquivos de Moura Pinto e no
Arquivo de Jaime de Morais.
57 O jornal é fortemente censurado no período da ditadura militar brasileira, sendo
o seu proprietário posto sob suspeita pelo DOPS, Departamento de Ordem Política e
Social, responsável pela repressão durante a ditadura militar no Brasil. Ver documen­
tação disponível sobre o jornal no Arquivo do Departamento Estadual de Ordem Polí­
tica e Social, São Paulo.
54
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141
Brasil, e Ernesto Carneiro Franco, antigo companheiro de Moura Pinto,
Cortesão e Jaime de Morais.
O republicanismo, no entanto, ainda continuará sendo um dos maiores
símbolos para os opositores ao salazarismo, apesar do espaço de militância
ser gradativamente ocupado por comunistas e socialistas. O seu significado
como o primeiro movimento de revolta contra a ditadura, juntamente com
a sua não vinculação explícita a quaisquer outras ideologias políticas, fará
do ideal republicano a grande bandeira defendida pela oposição até as
vésperas da revolução de Abril de 1974.
o significado da oposição republicana: A imagem dos ((Budas!! como
referência para os opositores exilados
Mas o assunto principal é a boa noticia que o Comandante
me dá do seu propósito de escrever também as "Memórias
do Comandante" Jaime de Moraes. Eu tenho essa decisão
como o cumprimento dum dever político e patriótico. A ditadura
procurou ocultar as ações valorosas (e gloriosas) dos republicanos
e quer fazer uma história deturpada onde só erros e dilapidações
nos cabem. Mostrar aos vindouros, nossos filhos e netos até a
vigésima geração! a verdade e ajustiça e a gratidão que n~8
cabem, é dever sagrado.
N a historiografia portuguesa a temática da oposição possui alguns trabalhos
de relevância, ainda que, na sua maioria, estejam voltados para o estudo da
actuação dos partidos políticos, nomeadamente o Partido Comunista. 59 No
entanto, a trajectória dos exilados não tem merecido uma maior atenção,
60
sobretudo no que se refere aos que partiram para o Brasi1. A inexistência
de um arquivo dos movimentos da oposição e a sua dispersão em acervos
de particulares, como os descendentes de Moura Pinto e Jaime de Morais,
58 Carta de Sarmento Pimentel a Jaime de Morais, 17 de Novembro de 1967, Arquivo
Jaime de Morais, Fundação Mário Soares.
59 Um dos trabalhos pioneiros nesta área é o de Raby, A resistência antifascista. Um
outro estudo recente trata da actuação do partido socialista com menções a sua
actuação no estrangeiro: Susana Martins, Socialistas na oposição ao Estado Novo: Um estudo
sobre o movimento socialista português de 1926 a 1974 (Cruz Qgebrada: Casa das
Letras/Editorial Notícias, 2005). No entanto, a grande maioria das publicações ainda está
relacionada com memórias e biografias dos opositores. Sobre o tema, ver António
Ventura, org., Memórias da Resistência: Literatura autobiográfica da resistência ao Estado
Novo (Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa/Biblioteca Museu da Resistência, 2001).
60 Por exemplo, sobre os exilados republicanos temos a dissertação de doutoramento
de Ana Cristina Clímaco, "L'exil politique portugais en France et en Espagne, 1927­
1940" (dissertação de doutoramento, Université de Paris 7, Denis Diderot, 1998).
142
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contribuíram para a falta de estudos sobre algumas das figuras maIS
importantes da oposição no exílio.
No entanto, ao retomarmos a documentação destes personagens, pode­
mos ter em conta a permanência do combate que travaram pelo retorno
da democracia a Portugal, mas, de igual forma, a dimensão com que são
vistos por uma nova geração de opositores, chegada ao Brasil após a vinda
de Humberto Delgado. O próprio General envia telegramas ao "Coman­
dante Jaime de Morais" a informar sobre as suas actividades, mas, não
obtém nenhuma resposta, já que era considerado pelo antigo militante
republicano, "uma cria do regime".61 A referência ao Comandante Jaime de
Morais, assim como ao igualmente tratado como comandante, Sarmento
Pimentel, é uma constante nos depoimentos de todos os membros da
oposição, quer entre os que permaneceram no Brasil, quer entre os que
retornaram a Portugal após o 25 de Abril de 1974.
Com relação ao restante da colónia, porém, a oposição antisalazarista
continua a ser um tabu, com o demonstra a permanência do retrato de
Oliveira Salazar num dos salões do Real Gabinete Português de Leitura, no
Rio de Janeiro, o seu principal bastião, e a não localização nos seus
arquivos de nenhum jornal, boletim ou anuário oriundo de qualquer
associação ou grupo de exilados políticos no Brasil.
61 No Arquivo de Jaime de Morais podemos encontrar inúmeras anotações dispersas
acerca dos que, segundo ele, "desertaram" do Estado Novo.
Download

o exílio português no Brasil: Os "Budas" - CEIS20