BO O GLOBO Quinta-feira, 19 de agosto de 2010 I GEM Acesso à cidade inca é restabelecido e Vale Sagrado ganha novas opções de hospedagem e gastronomia Trilhos abertos para Machu Picchu NESTA EDIÇÃO N Luisa Valle o início do ano, dois destinos turísticos importantes tiveram destaque no noticiário internacional por razões nada turísti- cas. Chuvas fortes na Ilha da Madeira, em Portugal, e em Machu Picchu, no Peru, deixaram dezenas de turistas ilhados (ainda que não literalmente) e devastaram os cenários locais. Cerca de seis meses depois, felizmente a situação é outra. Os dois lugares estão restabelecidos e prontos para receber você com novidades. Na Ilha da Madeira, turistas mais jovens são atraídos por esportes radicais e por novos bares e boates abertos a noite inteira. No Peru, a linha férrea que liga Cuzco a Machu Picchu acaba de ser inteiramente liberada e o Vale Sagrado dos incas está com novas e confortáveis opções de hospedagem, como mostra a repórter Luisa Valle a partir da página 22. Além, claro, de muitos restaurantes com a excelente cozinha peruana que cada vez conquista mais adeptos mundo afora. ● CARLA LENCASTRE, EDITORA 6 EXPEDIENTE BO FUNCHAL Esportes e noitadas na Ilha da Madeira 32 RIO SAGRADO, novo hotel de luxo do grupo Orient-Express, em Urubamba, no Vale Sagrado dos incas GIGANTE NOS ARES O novo A380 rouba a cena por onde passa I GEM EDITORA Carla Lencastre ([email protected]) EDITORES ASSISTENTES Cristina Massari ([email protected]) e Gustavo Alves ([email protected]) REPÓRTERES Bruno Agostini ([email protected]), Eduardo Maia ([email protected]) e Luisa Valle ([email protected]) DIAGRAMADORA Raquel Cordeiro Telefones Redação 2534-5000 Publicidade 2534-4310 [email protected] Correspondência Rua Irineu Marinho 35, 2-o andar, Rio de Janeiro, CEP 20230-901/RJ. [email protected] 42 SÃO PAULO Por Gilberto Scofield Jr. CAPA Peruana em trajes típicos vende tecidos feitos com lã de lhama na cidade de Chinchero, no Vale Sagrado. Foto de Luisa Valle oglobo.com.br/viagem ............................................................. NO TWITTER twitter.com/BoaViagemOGlobo Boa Viagem ● 3 Fotos de Luisa Valle OS DIVERSOS tipos coloridos de milho que fazem parte da gastronomia peruana BRAVO RESTOBAR, restaurante do chef Christian Bravo em Lima: gastronomia fusion INCA RAIL: trem começou a operar ano passado NO VALE SAGRADO DE D CAUSAS: prato típico do Peru feito com batatas NOVO HOTEL do Orient-Express, em Urubamba Luisa Valle • LIMA epois das fortes chuvas que fecharam os aces- trimônios ameaçados da Unesco — ou então para passar sos ao Vale Sagrado, no Peru, em janeiro deste uns dias no meio do caminho mesmo, em Urubamba e Ya- ano, os caminhos para Machu Picchu finalmen- nahuara, onde novos hotéis de luxo oferecem aos seus hós- te foram reabertos, junto com sua estrada de ferro, que ga- pedes conforto aliado a uma gastronomia de primeira para nhou uma nova empresa de trens para competir com a Peru mostrar que a região não se resume a Cuzco e a Machu Pic- Rail, do Orient-Express. E o que não faltam são motivos para chu. Adicione ao roteiro um passeio por Lima, com direito uma visita, seja para caminhar pela cidadela perdida dos a uma ótima gastronomia peruana, com ceviches, batatas, incas — que em 2011 completa cem anos de sua descoberta milhos e pimentas, para ter certeza de uma viagem tão in- e hoje comemora o fato de não ter entrado na lista de pa- teressante como saborosa. A VISTA de Machu Picchu, a cidadela perdida dos incas 22 ● Boa Viagem Boa Viagem ● 23 Fotos de Luisa Valle 24 ● Boa Viagem Divulgação HÓSPEDES APRENDEM a cozinhar a pachamanca... chu Picchu Sanctuary Lodge, também do grupo Orient-Express. Aberto em 1999, foi o primeiro hotel de luxo instalado no Vale Sagrado. São apenas 31 quartos, a maioria com vista para o vale. Um pouco antes da entrada da cidadela, no povoado de Aguas Calientes, onde fica a última estação da linha de ....E DEPOIS saboreiam a receita típica do Peru no restaurante Qunuq, do Sumaq Hotel trem Cuzco-Machu Picchu, há outro hotel de luxo, o Sumaq. Aberto há cerca de três anos, entre seus atrativos estão o spa, que oferece oito tipos de tratamentos, como massagem com pedras andinas, e o restaurante Qunuq, comandado pelo chef Carlos Mayta. — Trabalhamos com produtos locais, que repaginaDivulgação CASA ANDINA Private Collection, hotel de luxo que fica em Yanahuara, no Vale Sagrado: novas opções na região para atrair mais visitantes ner, gerente do hotel. O Rio Sagrado tem ainda um spa com 230 metros quadrados, com sala para massagens, sauna e uma jacuzzi com vista para o rio. A gastronomia é outro ponto para atrair novos hóspedes. O restaurante El Huerto é comandado pelo chef Angel Hilaris, que trabalhava no luxuoso Hotel Monasterio, também do Orient-Express, em Cuzco, e oferece uma cozinha regional, feita com ingredientes típicos, como batata, milho e pimenta peruana. Até o fim do ano, o Rio Sagrado pretende ter uma estação de trem privativa para seus hóspedes. O outro novo hotel inaugu- rado no Vale do Urubamba é o Tambo del Inka. Com a bandeira Luxury Collection, do grupo Starwood, em parceria com a rede peruana Libertador, o resort também prevê a construção em breve de uma estação de trem exclusiva. Aberto em maio deste ano, o hotel tem 128 quartos, com janelas que vão do chão ao teto e vista para o Rio Vilcanota e os Andes. Para relaxar, o spa do Tambo del Inka oferece 12 salas de tratamentos — disputadas no fim da tarde, depois dos passeios ao longo do dia — que incluem massagens com chocolate andino e lama terapêutica com ingredientes incas como a folha da coca. O restaurante Hawa, comandado pelo chef Rafael Casin, oferece uma nova cozinha andina, com pratos locais em estilo gourmet, e o cardápio muda de acordo com as estações do ano. A gastronomia também é um ponto forte em outro hotel de luxo da região, o Casa Andina Private Collection, que fica em Yanahuara, entre Urubamba e Ollantaytambo. Ali funciona mais uma filial do restaurante Alma, do chef Javier Morante, que assina todos os cardápios da rede Casa Andina. São pratos sofisticados à base de cordeiro, frango, truta e camarão, todos com temperos regionais. Entre seus drinques fa- mosos estão os feitos com o pisco, bebida típica do país. O Casa Andina, construído há seis anos numa antiga fazenda de três hectares, tem 85 quartos. Além de um spa, como os outros hotéis da região oferece passeios para diversos pontos do Vale Sagrado, além das ruínas de Machu Picchu. Dentro da propriedade existe ainda um planetário, onde os hóspedes podem observar as constelações do hemisfério sul. Quem preferir ficar mesmo ao lado de Machu Picchu também encontra boas opções, ainda que mais concorridas e mais caras. O hotel mais próximo da cidade inca é o Ma- SPA NO TAMBO del Inka, novo hotel em Urubamba O LODGE mais antigo, na entrada das ruínas mos para dar uma cara gourmet e retomar a gastronomia de nossos ancestrais — divaga o chef. A “gastronomia ancestral” é representada por típicas causas, massa à base de batatas, aqui recheada com cubos de frango. Ou pelo milho que vira pastel, feito com rabo de boi, queijo andino e champignon. Os hóspedes também podem ter aulas para aprender a fazer receitas típicas como o ceviche ou a pachamanca, prato inca com carne e legumes cozidos na terra. Hotel Rio Sagrado: Diárias para casal a partir de US$ 205. Km 75,8 Carretera Cuzco, Urubamba. Tel. (51 84) 201 631. www.riosagrado.com Tambo del Inka: Diárias para casal a partir de US$ 341. Avenida Ferrocarril s/n o-, Urubamba. Tel. (51 84) 581 777. www.starwoodhotels.com Casa Andina: Diárias a partir de US$ 102. 5to Paradero, Yanahuara. Tel. (51 84) 98476 5501. www.casa-andina.com Hotel Sumaq: Quarto para casal a partir de US$ 478,50. Av. Hermanos Ayar Mz 1 Lote 3, Aguas Calientes. Tel. (51 84) 211 059. www.sumaqhotelperu.com Machu Picchu Sanctuary Lodge: Diárias a partir de US$ 825. Tel. (51 84) 816 956. machupicchu.orient-express.com DRINQUES feitos com pisco Para preparar um ceviche CEVICHE do Qunuq O ceviche é o prato símbolo do Peru, que disputa com o Equador a sua invenção — assim como existe com o Chile uma discussão sobre a origem do pisco, espécie de aguardente feita de uva. O prato normalmente é feito com peixe cru marinado com suco de limão, mas existem algumas variações. O chef Carlos Mayta, responsável pela cozinha do restaurante Qunuq, do Hotel Sumaq, em Aguas Calientes, sugere uma receita simples feita com truta. Para isso, você vai precisar do ção uem pensa que o Vale Sagrado se limita a Cuzco e Machu Picchu se surpreende ao descobrir que nos cerca de 110 quilômetros que separam os dois pontos se escondem algumas riquezas que merecem uma visita, como o Mercado Artesanal de Chinchero — onde todos os domingos os moradores, vestindo trajes tradicionais, se encontram para trocar produtos agrícolas — ou a Fortaleza de Ollantaybambo, na pequena cidade de casas de pedras. São locais que acabam ficando apenas como parte da paisagem de quem passa pela região, considerada pelos incas a representação do céu na terra. Mas, aos poucos, grandes redes de hotéis estão descobrindo o “meio do caminho”, e oferecendo ótimas opções de hospedagem com preços menos extravagantes que os hotéis próximos de Machu Picchu, normalmente mais concorridos. Melhor para nós, turistas, que podemos curtir o vale sem precisar se preocupar com o horário dos trens para voltar para Cuzco. A cerca de 15 minutos da estação de Ollantaybambo fica o Vale do Urubamba, onde estão dois novos hotéis, entre eles o Rio Sagrado, o mais novo do grupo Orient-Express, inaugurado em abril do ano passado e há seis meses administrado pela rede. — Queremos fazer com que as pessoas possam relaxar, e nossos 21 quartos não possuem televisão. Oferecemos passeios e atividades ao ar livre, como caminhadas e rafting no Rio Urubamba — conta o brasileiro Rodrigo Of- Divulga Q No meio do caminho, há bons hotéis e ‘gastronomia ancestral’ peixe, de limão, gengibre, alho amassado, cebola, coentro, sal e uma pitada de pimenta vermelha, além de milho, batata doce e alface. Para preparar é simples: basta cortar a truta em cubinhos uniforme; colocar numa vasilha grande, junto com o sal, a pimenta, o alho, a cebola e o gengibre, e misturar. Depois, adicione o suco do limão e o coentro. Deixe marinar por cerca de 30 minutos. Na hora de servir, o chef sugere como acompanhamentos milho e batata doce cozidos, e alface. Boa Viagem ● 25 VALE SAGRADO T Ruínas com muitos turistas e novas descobertas Luisa Valle irar uma foto em Machu Picchu sem turistas aparecendo é uma missão quase impossível. Com garrafinha de água, chapéu e protetor solar, é preciso ter paciência para circular pelas ruínas da cidade sagrada dos incas, sempre se desviando dos grupos de visitantes, com cuidado para não tropeçar em alguma pedra. As construções perfeitas, que durante um século foram sendo encontradas pelos pesquisadores, impressionam. A mais recente descoberta aconteceu no fim de julho, quando arqueólogos encontraram três objetos de cerâmica, perto da torre de observação, que seriam utilizados como parte de um ritual de retribuição à terra, uma cerimônia que até hoje é realizada por agricultores da região para agradecer pela colheita. Foram descobertas ainda nove tipos de pedras de outras partes do Vale Sagrado e de Cuzco, o que foi considerado uma prova de que pessoas de outros lugares vinham a Machu Picchu para fazer suas oferendas. Quem já visitou as ruínas costuma comparar as histórias que são contadas pelos guias locais. Alguns falam que Machu Picchu foi uma região onde várias famílias moraram, ou- tros que era uma espécie de cidade universitária, onde apenas homens e sacerdotisas viviam — essa foi a versão que ouvi quando estive por lá. A conclusão é que pouco se sabe das ruínas, apenas que elas até hoje atraem estudiosos para desvendar seus mistérios, um deles a suposta falta de cemitérios, uma dos indícios de que seria um local de estudos. Em 2011, serão comemorados os cem anos de “descoberta” da cidadela pelo americano Hiram Bingham. Machu Picchu é considerada patrimônio mundial pela Unesco desde 1983, mas nos últimos anos o excesso de turistas tem sido uma preocupação constante.No mês de julho passado, os membros do comitê de Patrimônio Mundial da Unesco por pouco não incluíram novamente o monumento na lista de bens em perigo, mas acabaram decidindo pedir ao Peru que se mantenha “vigilante” e que regule o fluxo de visitantes. Essa não seria a primeira vez que a cidadela faria parte da “lista negra” da Unesco. No final dos anos 1990, o número de turistas por dia chegou a mais de quatro mil. Projetos de construção de uma ponte e um teleférico, mais um risco de desabamento, levaram a Unesco a incluir Machu Picchu na lista. A entidade só revogou a decisão em 2008. Atualmente, cerca de 2,5 mil pessoas visitam as ruínas a cada dia, num total de mais de 900 mil turistas por ano. Machu Picchu: As ruínas podem ser visitadas diariamente, das 5h às 17h30m. O ingresso custa o equivalente a R$ 100. O que levar na visita As ruínas de Machu Picchu ficam em uma área aberta, e o sol pode ser inclemente. A seguir, dicas para o seu passeio ficar mais agradável. CALÇADO: A melhor opção é um tênis confortável. Quase seis meses depois das chuvas que provocaram o fechamento dos acessos ao Vale Sagrado, a via ferréa que liga Cuzco a Machu Picchu (estação Aguas Calientes) foi totalmente reaberta no fim de julho Aguas Calientes 2.400m Machu Picchu PERU Lima Chaullay & Quillbamba 5.580m Wakaywillka (Verónica) Yanahuara Ollantaytambo 5.650m Chicón BRASIL Machu Picchu BOLÍVIA Urubamba Pisac sac Rio Ur uba m ba Trilh a inc a 6.271m Salkantay Linha do trem Hospedagem 5.168m Wayanay Abancay & Ayachucho Sacsayhuaman 3.360m Cuzco O percurso de trem de Cuz co e dura quatro horas, com a Machu Picchu tem 110 km parada em Ollantaytambo, que está a 40 km de Machu Pic chu (duas horas de viagem ) ÁGUA: Não há onde comprar água dentro das ruínas. Carregue com você uma garrafinha (ou garrafona) para passar o dia. Só não exagere, porque que os banheiros ficam do lado de fora do santuário. PROTETOR SOLAR: Use mesmo se o tempo estiver encoberto. Nos dias ensolarados, um boné ou chapéu é fundamental. REPELENTE: Os mosquitos atacam mesmo. VISITANTES NA cidadela perdida dos incas: considerado patrimônio mundial pela Unesco, o santuário sofre com o excesso de turistas, que passam de 900 mil em um ano 26 ● Boa Viagem Boa Viagem ● 27 Fotos de Luisa Valle Artistas locais na hospedaria A PLAZA DE ARMAS, em Cuzco, com a Catedral da cidade e emoldurada pelos Andes: de centro do império inca a local frequentado por milhares de turistas de todo o mundo C Boa comida e arte em Cuzco uzco é uma parada obrigatória no caminho para Machu Picchu, mas não apenas por seu aeroporto, que recebe milhares de turistas diariamente com o objetivo de visitar a cidadela. A antiga capital do império inca disputa as atenções com o Vale Sagrado com a bela arquitetura que combina construções de pedras feitas pelos incas ao barroco espanhol, além de artesanato, vida noturna e bons restaurantes, que oferecem o melhor da cozinha peruana. Para ver e comprar artesanato local, uma boa opção é PISCO BAR do restaurante Limo: gastronomia peruana com toque oriental SUSPIRO DE LIMÃO e canela: sobremesa imperdível no Limo SELEÇÃO DE ENTRADAS no Fallen Angel, que chama atenção pela decoração 28 ● Boa Viagem MERCADO MUNICIPAL: artesanato passear pelo Mercado Municipal, onde é possível encontrar de tudo um pouco. Ponchos e casacos de lã e colares e brincos de prata fazem sucesso entre os turistas, principalmente pelos preços, que são mais baixos que no Vale Sagrado e sempre podem ser negociados. Como uma boa cidade cosmopolita, Cuzco não se limita a oferecer apenas artesanato com bons preços. Na Plaza de Armas, a Catedral e a Igreja dos Jesuítas dividem a praça com boates como a Mama África. E a gastronomia peruana está muito bem representada. Ano passado, o chef Gastón Acurio, uma espécie de embaixador da culinária peruana, abriu seu primeiro restaurante na cidade. O Chicha, uma homenagem a bebida feita com milho fermentado — um tipo de cerveja inca — ser ve comida novoandina, na qual Acurio valoriza os ingredientes locais e reinterpreta receitas tradicionais como o ossobuco com vinho tinto e nhoque c o m m o l h o d e h u a c at ay, uma erva peruana. No Limo, um restaurante com uma entrada discreta na Plaza de Armas, a influência da cozinha oriental, que torna a gastronomia do país ainda mais especial, está presente nos pratos idealizados pelo chef Coque Ossio. Especializado em frutos do mar, um dos destaques vai para as entradas, como batatas com sashimi de salmão ou truta assada com abacate e coentro. De sobremesa, há arroz com leite, uma versão de nosso arroz doce, ou suspiro de limão com canela em pó. Imperdível. Outro restaurante que vale a visita é o Fallen Angel (on- Uma televisão dos anos 50 vira uma cômoda no banheiro, a banheira integra a decoração da sala e a cozinha ganha uma geladeira decorada com Luluzinha e Bolinha. Essa é a descrição de um dos quartos da guest house que funciona em cima do restaurante Fallen Angel, em Cuzco. Na pequena hospedaria de apenas cinco quartos, inaugurada em março deste ano, as diárias para casal custam a partir de US$ 280, sem café da manhã. Seu proprietário, Andrés Zúniga, conta que a ideia foi aproveitar a arquitetura da casa, uma construção de cerca de 500 anos, onde já estava instalado o restaurante. A decoração, cujas peças estão todas à venda, aproveita trabalhos de artistas locais como Carlos Bardales e Richard Peralta, que usam principalmente ouro, prata e cobre em suas obras. — Foi a forma que encontrei de incentivar a produção local — diz Andrés. GELADEIRA RETRÔ num quarto da pousada: objetos à venda de também funciona uma guest house), comandado pela chef Claudia Canessa. Assim como no Limo, o cardápio propõe uma gastronomia fusion, com um toque oriental e ingredientes marcantes. Mas é a decoração o que mais chama a atenção no restaurante, onde os clientes são convidados a comer em mesas feitas com banheiras (que funcionam como aquários) e se sentar em camas em vez de cadeiras. Situada a uma altitude de 3.360 metros acima do mar, Cuzco exige algum esforço de quem vem do nível do mar, sobretudo na chegada à cidade. Para evitar dores de cabeça e cansaço físico, siga os conselhos dos peruanos: descanse nas primeiras horas, e abuse do chá de coca ou do ice coca, a versão gelada do chá. Chicha: Calle Plaza Regocijo 261. Tel. (51 84) 240 520. Limo: Portal de Carnes 236. Tel. (51 84) 240 668 Restaurante e Guest House Fallen Angel: Plazoleta Nazarenas 221. Tel. (51) (84) 258 184. Boa Viagem ● 29 ❁ COMO CHEGAR A Fotos de Luisa Valle Em Lima, causas e ceviches cozinha peruana tem conquistado o mundo combinando pescados frescos com ingredientes dos Andes. O ceviche está com tudo em restaurantes de cidades como Rio, São Paulo, Buenos Aires, Nova York, Londres, mas os cubinhos de peixe marinados em limão não são a única atração dos cardápios. Para conhecer melhor a culinária peruana, é fundamental reservar uns dias do seu roteiro para Lima, a capital e porta de entrada no país. A primeira parada de um passeio gastronômico pela cidade banhada pelo Oceano Pacífico pode ser no La Mar, a cevicheria do chef Gastón Acurio, que ano passado inaugurou uma filial de seu restaurante em São Paulo. Em Lima, o La Mar funciona no charmoso bairro à beira-mar de Miraflores. Num clima praiano, para combinar com a região da cidade e o tipo de comida servida, os ceviches, claro, são os destaques da refeição, normalmente acompanhados por uma cerveja ou pela Inca Kola, bebida de cor amarela e com gostinho de chiclete. Os pratos de batatas recheadas com frutos do mar também fazem sucesso. — Em 2011, queremos inaugurar em São Paulo uma filial do Panchita, que é um outro restaurante do chef Gastón Acurio — conta Karla Novoa, AS CAUSAS de frutos do mar, no restaurante de Gastón Acurio (acima); o ceviche servido na colher por Christian Bravo (à esquerda) e a Inca Kola 30 ● Boa Viagem gerente do La Mar original. Especializado em carnes, o Panchita de Lima foi inaugurado ano passado. Karla diz que Gastón Acurio também tem planos de abrir em Lima um restaurante chifa, de comida peruana com influência chinesa, e uma trattoria. Outro que aposta na mistura com a culinária de outros países que torna a cozinha peruana tão especial é o chef Christian Bravo, que em seu Bravo Restobar, no badalado bairro de San Isidro, oferece um cardápio com pratos fusion. — Os espanhóis trouxeram muita coisa para nossa gastronomia, como frango e limão. Já os africanos vieram com suas técnicas, e os chineses e japoneses trouxeram outros ingredientes — diz o chef. Bravo explica que seus pratos, além de carregarem todas as influências locais, são apresentados de uma forma que “os estrangeiros possam entender”. Assim, a causa virou um sushi roll, ou causa roll, em que a batata substitui o arroz. O lomo saltado, o prato típico com tiras de filé, transformou-se um rolinho primavera, e o ceviche é servido numa colher. — Desde 2000 nossa culinária passou a ser reconhecida, EL GRIFO, restaurante que funciona num antigo posto de gasolina e percebemos como somos bons nisso. Acho que agora n o s va l o r i z a m o s m a i s — acrescenta Bravo. Já a chef Jana Escudero, do Grifo, prepara receitas da culinária peruana com um toque de cozinha caseira. Seu carro chefe é o lomo saltado, que ano passado recebeu um prêmio na feira de gastronomia internacional realizada na cidade. Instalado em uma área industrial, El Grifo fica no local de um antigo posto de gasolina — daí seu nome, já que grifo pode significar posto de gasolina. Jana conta que o restaurante começou como uma simples venda, que funcionava no posto de seu pai. Hoje o Grifo vive lotado de executivos durante a semana e de famílias nos fins de semana. Além do lomo saltado, Jana prepara um fettuccine com molho de huacaina (uma espécie de erva peruana) e um filé que derrete na boca. Mas o prato mais interessante e de gosto marcante é o medalhão de filé com purê de ervilhas feito com salsichas de huacho (uma região do país) e ovo poché. Na hora da sobremesa, Jana, que gosta de chocolates Toblerone, resolveu inventar um doce que tira qualquer um da dieta: o cheese cake de Toblerone. Luisa Valle viajou a convite do Hotel Sumaq e da LAN La Mar: Av. La Mar 770, Miraflores. Tel. (51) (1) 421 3365. www.lamarcebicheria.com Bravo Restobar: Av. Conquistadores 1.005, San Isidro. Tel (51) (1) 221 5700. www.bravorestobar.com El Grifo: Av. Colonial 2.703. Tel. (51) (1) 564 7789. De avião: Pela Taca, o bilhete de ida e volta do Rio para Lima, sem escalas, sai a partir de R$ 1.151. Pela Lan, o voo para Lima saindo do Rio (operado pela TAM) com conexão em Guarulhos fica a partir de R$ 1.061. Pela TAM, o bilhete de ida e volta do Rio para Lima, com conexão em Guarulhos, sai a partir de R$ 1.255. Para Cuzco, a Taca voa saindo de Lima a partir de R$ 532. Pela Lan, a passagem de ida e volta para Cuzco, saindo de Lima, fica a partir de R$ 973. Tarifas (com taxas) pesquisadas para a primeira quinzena de setembro. De trem: Pela Peru Rail (www.perurail.com), empresa operada pelo Orient-Express, a viagem de ida e volta de Cuzco a Machu Picchu custa a partir de US$ 96. O trecho de ida e volta entre Ollantaytambo e Machu Picchu sai a partir de US$ 62. Já a Inca Rail (www.incarail.com) oferece apenas o trecho entre Ollantaytambo e Machu Picchu, com bilhetes de ida e volta a partir de US$ 100. De carro: Em Cuzco é possível contratar passeios pela estrada do Vale Sagrado, que nem sempre está em boas condições, ou fazer o percurso de táxi por cerca de 50 novos soles (em torno de R$ 30). ❁ QUANDO IR A alta estação em Cuzco e no Vale Sagrado é nos meses de inverno, quando chove menos e o tempo fica mais seco. Devido à altitude, pode fazer muito frio em Cuzco. A época de chuvas vai de dezembro a março, com médias de 12 graus Celsius. ❁ FEBRE AMARELA É preciso apresentar o certificado internacional de vacinação contra a febra amarela no embarque no Brasil (www.anvisa.gov.br). ❁ CÂMBIO R$ 1 equivale a 1,59 novo sol peruano. O dólar vale 2,80 novos sóis peruanos. ❁ NA INTERNET Sites: Outras informações em www.peru.info e www.peru.gob.pe. Boa Viagem ● 31