EVAPOTRANSPIRAÇÃO E BALANÇO DE ENERGIA EM MAMONA CULTIVADA EM GARANHUNS Karoline de Melo Padilha1, José Romualdo de Sousa Lima2, Clarissa de Albuquerque Gomes3 e Antonio Marques da Silva4 Introdução Nos últimos anos, o Governo Federal, por meio do PROBIODIESEL, vem incentivando o cultivo de plantas oleaginosas, de acordo com o potencial de cada região, para a produção do biodiesel. No Nordeste brasileiro, devido às condições edafoclimáticas, a cultura escolhida para a produção de biodiesel foi a mamona. Além da sua adaptabilidade a essas condições, a cultura da mamona apresenta elevada potencialidade para gerar empregos e fixar o homem no campo, diminuindo o êxodo rural [1]. A mamona, como qualquer outra cultura comercial, necessita, para produtividades elevadas, de água e nutrientes em momentos e quantidades apropriadas. A falta ou excesso desses insumos são limitantes à produção, determinando em muitos casos a sua diminuição. O conhecimento do uso de água pelas culturas (evapotranspiração) é de grande interesse para estudos que envolvam a dinâmica da absorção de água e de nutrientes. Existem vários métodos para se estimar a evapotranspiração, sendo que o balanço de energia – razão de Bowen vem sendo utilizado com sucesso por diversos pesquisadores nas mais variadas culturas (2, 3, 4). Assim sendo, o objetivo desse estudo foi estimar a evapotranspiração da mamona (ET), bem como os componentes do balanço de energia, por meio do método da razão de Bowen. Material e métodos A. Localização, clima e solo da área experimental As medidas para a realização do balanço de energia foram efetuadas numa área de aproximadamente 9 ha cultivada com mamona, localizada na Fazenda Estivas situada no município de Garanhuns-PE (8o 53’ S, 36o 29’ O, 842 m). O clima na microrregião de Garanhuns é mesotérmico, com temperatura média anual de 20°C e precipitação pluviométrica de 1333,1 mm, sendo os meses mais chuvosos de maio e junho [5]. O solo da área é classificado como Latossolo Amarelo [6]. B. Plantio e período de medição No dia 04 de agosto de 2009, sementes de mamona da cultivar BRS 149 Nordestina foram plantadas manualmente no espaçamento de 4,0 m x 1,0 m, com uma planta por cova. Os dados utilizados nesse trabalho correspondem ao período de 11/08/2009 a 15/19/2009 (07-42 DAP, dias após o plantio). C. Balanço de energia e evapotranspiração da mamona Para a realização do balanço de energia foi instalada uma torre micrometeorológica no centro da área contendo dois sensores de medidas da temperatura e da umidade relativa do ar em dois níveis (z1 = 40,0 cm, e z2 = 110,0 cm) acima do dossel da cultura. Além desses sensores, foi instalado um saldo radiômetro para as medições do saldo de radiação e um pluviógrafo, para a medida da precipitação pluvial, sendo estes sensores instalados na mesma torre, numa altura de 2,0 m da superfície do solo. Para a medida do fluxo de calor no solo, foi instalado um fluxímetro numa profundidade z1 = 5,0 cm, juntamente com um sensor de umidade do solo na mesma profundidade, além de duas sondas térmicas instaladas horizontalmente nas profundidades de z1 = 2,0 cm e z2 = 8,0 cm. Todas as medidas citadas acima foram armazenadas como médias a cada 30 minutos, a exceção da pluviometria onde foi calculado seu valor total, em um sistema de aquisição de dados CR 1000 da Campbell Scientific. O balanço de energia na superfície do solo pode ser calculado por meio da seguinte expressão: Rn G H LE (1) Em que: Rn – saldo de radiação (W m-2); G - fluxo de calor no solo (W m-2); H - fluxo de calor sensível (W m-2); e LE fluxo de calor latente (W m-2). ________________ 1. Primeiro Autor é Graduando em Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55-296-901. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Professor Adjunto da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55-296-901. 3. Terceiro Autor é Graduando em Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55-296-901. 4. Quarto Autor é Graduando em Engenharia Agrícola e Ambiental, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52.171-900 Apoio financeiro: CNPq. A partição da energia disponível (Rn-G) entre fluxo de calor latente e fluxo de calor sensível pode ser obtida pelo método do balanço de energia – razão de Bowen: H T LE e (2) Em que: - constante psicrométrica (0,066 kPa oC-1); T - diferença de temperatura do ar (oC); e e diferença de pressão de vapor (kPa). A partir da equação do balanço de energia, utilizando-se a razão de Bowen (), procedeu-se o cálculo dos fluxos de calor latente (LE) e calor sensível (H): Rn G 1 H Rn G 1 LE (3) (4) A taxa de evapotranspiração da cultura (ET) foi obtida dividindo-se o fluxo de calor latente pelo calor latente de vaporização, considerado como constante (2,45 MJ kg-1). Resultados e Discussão Na Fig. 1 é apresentada a evolução diária da precipitação pluvial e da evapotranspiração (ET) da cultura da mamona. Observa-se para o período estudado que a quantidade total de água precipitada foi 62,4 mm, sendo que a precipitação mais significativa (13,0 mm) ocorreu no dia 25/08/2009. Observa-se que a ET seguiu as variações da precipitação pluvial, com os valores mais elevados, ocorrendo logo após um evento de precipitação, sendo seu valor total de 75,3 mm e seu valor médio de 2,1 mm d-1. Esses resultados estão de acordo com os obtidos por Oliveira [7]. Esse autor estimou a ET da mamona pelo método do balanço de energia – razão de Bowen em Areia-PB, e encontrou que a ET média, para todo ciclo da mamona, foi de 2,3 mm d-1. A evolução diária dos componentes do balanço de energia (saldo de radiação, fluxos de calor no solo, latente e sensível) na cultura da mamona é apresentada na Fig. 2. Observa-se que o fluxo de calor no solo (G) manteve-se quase que regular durante todo o período de estudo. Os fluxos de calor sensível (H) e calor latente (LE) seguiram a distribuição da precipitação pluvial, pois, nos períodos de maior disponibilidade hídrica do solo, o principal consumidor da energia disponível (RnG) foi o LE, e quando existiu restrição hídrica no solo, o principal consumidor foi o H, ou seja, quando não existiu restrição hídrica no solo a maior parte da energia disponível foi utilizada no processo de evapotranspiração. Observou-se, ainda, que o saldo de radiação (Rn) foi utilizado em média como 48%, 45% e 7% para os fluxos de calor sensível (H), latente (LE) e no solo (G), respectivamente. Oliveira et al. [1] avaliando os componentes do balanço de energia em mamona cultivada nas condições do Brejo Paraibano (Areia-PB), encontraram que o saldo de radiação foi utilizado, em média, como 52% no fluxo de calor latente, 38% como fluxo de calor sensível e 10% como fluxo de calor no solo. Uma possível explicação para essa diferença entre os resultados dessa pesquisa e os de Oliveira et al. [1], é que esses autores mediram os componentes do balanço de energia durante todo o ciclo fenológico da mamona, enquanto nessa pesquisa os resultados são de apenas 36 dias. Agradecimentos Os autores agradecem ao Senhor Antonio Carlos, proprietário da Fazenda Estivas, pela cessão da área experimental; ao CNPq/UFRPE pela bolsa de Iniciação Científica ao terceiro autor; e a Unidade Acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAG/UFRPE) pela estrutura acadêmica. Referências [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] OLIVEIRA, I.A. et al. 2009. Balanço de energia em mamona cultivada em condições de sequeiro no Brejo Paraibano. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, 4:185-191. PEACOCK, C.E. & HESS, T.M. 2004. Estimating evapotranspiration from a reed bed using the Bowen ratio energy balance method. Hydrological Process, 18:247-260. LIMA, J.R.S. et al. 2005. Balanço de energia em um solo cultivado com feijão caupi no Brejo Paraibano. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, 9:527-534. AZEVEDO, P.V.; SOUZA, C.B.; SILVA, B.B. & SILVA, V.P.R. 2007. Water requirements of pineapple crop grown in a tropical environment, Brazil. Agricultural Water Management, 88:201-208. MOTA, F.S. & AGENDES, M.O. 1986. Clima e agricultura no Brasil. Porto Alegre, Sagra. 151p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIAEMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de solos. 2006. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro, EMBRAPA solos. 306p. OLIVEIRA, I.A. 2007. Balanço de energia em mamona, cultivada em condições de sequeiro, no Brejo Paraibano. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Manejo do Solo e Água, UFPB, Areia. 14 3 Precipitação ET 2.5 10 2 8 1.5 6 1 4 0.5 2 0 11/8/09 Evapotranspiração, mm Precipitação pluvial, mm 12 16/8/09 21/8/09 26/8/09 31/8/09 5/9/09 10/9/09 0 15/9/09 Tempo, dias Figura 1. Precipitação pluvial e evapotranspiração da mamona durante o período de 11/08/2009 a 15/09/2009 em Garanhuns-PE 18 Energia diária acumulada, MJ m-2 16 14 Rn G LE H 12 10 8 6 4 2 0 11/8/2009 16/8/2009 21/8/2009 26/8/2009 31/8/2009 5/9/2009 10/9/2009 15/9/2009 Tempo, dias Figura 2. Evolução diária dos componentes do balanço de energia sobre a cultura da mamona durante o período de 11/08/2009 a 15/09/2009 em Garanhuns-PE