13ª aula Sumário: Centro de massa e seu significado físico. Localização do centro de massa de um objecto de espessura uniforme. Centro de massa de um sistema de partículas. Corpos extensos. Centro de massa e seu significado físico Os objectos podem ter os mais variados movimentos: de translação, de rotação ou movimentos combinados de translação e de rotação. Os corpos formados por partículas que mantêm sempre as suas posições relativas durante o movimento dizem-se rígidos (não são deformáveis). No movimento de translação destes corpos todas as suas partículas têm a mesma velocidade. Na Fig. 13.1 mostram-se dois objectos, um com movimento de translação pura e outro só com movimento de rotação. No caso das rotações puras, os pontos sobre o eixo de rotação mantêm-se fixos. v v v v v v Figura 13.1 No estudo dos movimentos apenas de translação, não é necessário considerar cada ponto do sistema, pois todos têm a mesma velocidade. Basta, por isso, considerar o movimento de um ponto chamado centro de massa. É como se o corpo se pudesse reduzir a esse ponto. Por outras palavras, o corpo extenso é substituído por uma só partícula que ocupa a posição do centro de massa. O centro de massa de um sistema de partículas é um ponto onde se supõe estar concentrada toda a massa e onde se considera aplicada a resultante das forças que actuam nesse sistema. Quando um corpo só tem movimento de translação (e não interessa considerar as variações da sua energia interna), pode ser simplesmente representado pelo seu centro de massa (CM), como mostra a Fig. 13.2 v v v v v CM v v v Figura 13.2 A representação pelo centro de massa é um modelo simplificado que reduz um objecto extenso a uma só partícula ou ponto material. Em alguns casos, a representação de um objecto pelo seu centro de massa não retira exactidão ao tratamento do movimento. 1 Localização do centro de massa de um objecto de espessura uniforme Como determinar experimentalmente a posição do centro de massa de objectos de espessura uniforme? Esta localização pode fazer-se da maneira seguinte. Pendura-se o objecto por um ponto qualquer (ponto A, por exemplo) e marca-se no objecto uma linha vertical que passe por esse ponto. Pendura-se depois o objecto por um outro ponto, B, por exemplo, e, de novo, marca-se a linha vertical que passa agora por B. A intersecção da duas linhas indica a posição do centro de massa (claro que o centro de massa está no interior do objecto e não na sua superfície!). B A C B CM A CM C A B C Figura 13.3 Para a localização do centro de massa ser mais rigorosa deve escolher-se pelo menos mais um ponto (ponto C, por exemplo) e pendurar de novo o objecto. Mais uma vez se traça a linha vertical que passa por C. Essa linha deve interceptar as outras duas no mesmo ponto (CM). Pendurando o objecto de qualquer outro ponto e procedendo da mesma maneira podem traçar-se mais linhas todas concorrentes em CM. Centro de massa de um sistema de partículas Se tivermos um sistema formado por N partículas de massas m1 , m2 ,..., m N , localizadas velos vectores posicionais r1 , r2 ,..., rN , a posição do seu centro de massa é obtida a partir da seguinte expressão: N m r + m2 r2 + R= 11 m1 + m2 + sendo M = N i =1 m N rN = mN i =1 mi ri M , (13.1) mi a massa total do sistema. 3 2 1 r3 r2 4 r4 r1 O Figura 13.4 2 A expressão (13.1) é uma “média”, ponderada pelas massas, da localização de todas as partículas. A velocidade do centro de massa, V , relaciona-se com as velocidades de todas as partículas constituintes do sistema. Derivando ambos os membros de (13.1) em ordem ao tempo, encontra-se1 N V = i =1 mi v i . M (13.2) Note-se que o numerador no lado direito da expressão anterior é a soma de todos os momentos lineares das N partículas, o que nos permite escrever MV = N i =1 pi . (13.3) Como já sabemos também da aula nº 11, a soma do lado direito é o momento linear, P , do conjunto. Podemos, então, escrever MV = P (13.4) o que mostra que o centro de massa, que representa todo o sistema, possui momento linear que é igual ao produto da velocidade do centro de massa pela massa total. Derivando agora (13.4) em ordem ao tempo e usando [ver 11ª aula, expressão (11.12)] dP = F exterior , (13.5) dt em que F exterior é a resultante das forças exteriores, obtém-se F exterior = M A . (13.6) Nesta equação, A é a aceleração do centro de massa. É a aceleração que se obtém derivando a velocidade do centro de massa (13.2) e relaciona-se com as acelerações ai das partículas que integram o sistema através de N A= i =1 mi a i M . (13.7) A equação (13.6) permite-nos afirmar que a aceleração do centro de massa só depende das forças exteriores, as quais se consideram aplicadas nesse mesmo ponto. Uma partícula num campo gravítico constante, com velocidade inicial numa direcção diferente de g descreve uma parábola. Esta é também a trajectória descrita pelo centro de massa de um sistema de partículas sobre as quais não actuem mais forças externas para além da gravítica. A Fig. 13.5 mostra a trajectória de uma raquete de ténis que um tenista deixa largar. O movimento do objecto pode ser muito complicado mas o do seu centro se massa não é: descreve uma parábola. 1 Considera-se que as partículas têm massas constantes. 3 Figura 13.5 Corpos extensos A Fig. 13.6 mostra um corpo extenso de volume total V e massa m. Vamos supor que a densidade do corpo não é uniforme. Como determinar o seu centro de massa? dV P r V O Figura 13.6 Comecemos por recordar o conceito de massa volúmica ou densidade. A massa volúmica média, ρ m , é simplesmente a razão entre a massa total e o volume total: ρm = m V (13.7) Ora, no caso de um corpo de densidade não uniforme, esta é uma função de r . Em torno de um ponto P, localizado pelo vector posicional r , consideremos um volume pequeno ∆V e a corresponde massa, também pequena, ∆m . A razão ∆m / ∆V é uma melhor aproximação à massa volúmica no ponto P do que o valor médio sobre todo o corpo dado por (13.7). Para sabermos a densidade no ponto P temos de tomar o limite de volume infinitesimal, ∆V → 0 , tendo-se então, ∆m dm = . ∆V →0 ∆V dV ρ = lim (13.8) Do ponto de vista matemático a densidade é a “derivada da massa em ordem ao volume”. Logo a massa é a primitiva da densidade, De facto, a expressão anterior pode ser reescrita na forma dm = ρ dV que, integrada sobre todo o volume V conduz a M = dm = ρ dV . V (13.9) V 4 Se ρ (r ) for constante em todo o volume V, pode sair para fora do integral e como2 dV = V , obtém-se a expressão familiar M = ρ × V . V A posição do centro de massa do corpo extenso determina-se generalizando (13.1) para “o contínuo”, ou seja, r ρ dV R= V ρ dV r ρ dV = V M . (13.10) V Os integrais chamam-se de volume e mais não são do que uma simples V generalização para três dimensões dos integrais a uma dimensão. b 2 Recordar que dx = b − a . a 5