CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
MARCO TÚLIO CARVALHO DE SOUZA ANDRADE
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS
POPULARES BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS
DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO
Belo Horizonte
2014
MARCO TÚLIO CARVALHO DE SOUZA ANDRADE
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS
POPULARES BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS
DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO
Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento Local do Centro Universitário
UNA como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento Local.
Área de concentração: Inovações Sociais e
Desenvolvimento Local.
Linha de pesquisa: Educação e Desenvolvimento
Local.
Orientadora: Drª Lucília Regina de Souza
Machado.
Belo Horizonte
2014
A553o
Andrade, Marco Túlio Carvalho de Souza
Orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do
Prouni com foco nos desafios da transição escola-trabalho. / Marco Túlio
Carvalho de Souza Andrade. – 2014.
131f.
Orientadora: Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado.
Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2014. Curso do Mestrado
em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.
Bibliografia f. 97-104.
Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, José e Maria Alice, que sempre me incentivaram a
acreditar nas conquistas.
Ao meu querido irmão, Paulo César, O irmão.
Ao João, pela presença marcante, sempre.
Aos amigos e colegas de trabalho do Centro Universitário UNA.
Aos amigos, por aceitarem minhas ausências.
À Lucília, orientadora ímpar, transformadora.
RESUMO
Investigam-se os processos de orientação profissional que precisam ser promovidos
pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo
Horizonte - MG, com foco no jovem das camadas populares e beneficiário do ProUni
– Programa Universidade para Todos –, visando ao seu desenvolvimento como
sujeito autônomo e emancipado na transição do Ensino Superior para o mundo do
trabalho. A investigação se orienta por esta questão central: que elementos e
dimensões precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da
orientação profissional, direcionada aos jovens oriundos das camadas populares e
beneficiários do ProUni, para caracterizá-la como uma inovação social com
pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do
desenvolvimento local? No primeiro capítulo, apresentam-se elementos da revisão
teórica que deram suporte à investigação e que tratam: 1) do cenário educacional
brasileiro quando da criação do ProUni; 2) dos objetivos desse programa e sua
evolução no País e no contexto do Centro Universitário UNA; 3) do conceito de
juventude, das especificidades da condição juvenil nas camadas populares; 4) do
processo de transição escola-trabalho; e 5) dos desafios da orientação profissional
considerando-se tais circunstâncias. No segundo capítulo, apresentam-se os
resultados da pesquisa de campo, realizada no Centro Universitário UNA, por meio
de três grupos focais: o primeiro, constituído por profissionais do Núcleo de Carreira
dessa instituição; o segundo, por discentes beneficiários do ProUni; e, o terceiro, por
membros do corpo docente e gestores acadêmicos do Centro Universitário UNA. Os
dados obtidos evidenciam a necessidade de um novo olhar para a orientação
profissional realizada pela instituição, que considere as especificidades do alunado
do ProUni e sua efetiva e qualificada inserção profissional. Propõe-se, então, um
protocolo ou metodologia sobre orientação profissional dirigida aos jovens
universitários do ProUni. Trata-se de proposta de intervenção que visa promover
inovação social e pedagógica na implementação dessa política de ação afirmativa e
a concretização do seu potencial de contribuição para o desenvolvimento local.
Palavras-chave: ProUni. Orientação Profissional. Juventude. Educação Superior.
Desenvolvimento Local.
ABSTRACT
Research on the professional orientation that need to be promoted by the Career
Center at Centro Universitário UNA, in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais,
Brazil, focusing on the low income young people who are beneficiaries of ProUni –
Programa Universidade para Todos –, aiming at their development as an
autonomous and emancipated individual in the transition from higher education to the
work world. The research is based on this central question: what elements and
dimensions need to be considered in the social and pedagogical intervention of the
professional orientation directed to young people from lower social stratum who
benefit from ProUni, in order to characterize it as a social innovation with educational
effect and in accordance with the requirements for local development? The first
chapter presents the theoretic review elements which supported the research, as
follows: 1) the Brazilian educational scenario when ProUni was launched; 2) the
objectives of ProUni and its evolution in the country and at Centro Universitário UNA;
3) the young people concept and its specific characteristics inherent to young
students from lower social stratum; 4) the transition from higher education to work
market; and 5) the professional orientation challenges, taking these circumstances
into account. The second chapter presents the results of the field research carried
out at Centro Universitário UNA, through three focal groups: the first one with the
institution Career Center professionals; the second one, composed by students who
benefit from ProUni; and, the third one, with professors and academic management
professionals of Centro Universitário UNA. The collected data evidence the need of a
new look towards the institution’s professional orientation that considers ProUni
students specific realities and their effective and qualified employability. Therefore,
this research proposes a professional orientation protocol or methodology addressed
to ProUni young university students. It is an intervention proposal that seeks to
promote social and pedagogical innovation with the implementation of this affirmative
politic action and achievement of its potential contribution to local development.
Keywords: ProUni. Professional Orientation. Young People. Higher Education. Local
Development.
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Evolução do Número de Instituições de Educação Superior Públicas
e Privadas Brasil – 2001-2010 ……………………………………………………..…… 23
GRÁFICO 2 - Evolução do Número de Bolsistas ProUni - UNA - 2005-2012 …….. 26
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abmes - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior
Cofins - Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social
CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
EaD - Educação a Distância
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
Febraban - Federação Brasileira de Bancos
FIES - Financiamento ao Estudante do Ensino Superior
GF - Grupo Focal
IES - Instituição de Ensino Superior
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio Teixeira”
IRPJ - Imposto de Renda de Pessoa Jurídica
ISOP - Instituto de Seleção e Orientação Profissional
MEC - Ministério da Educação
NAP - Núcleo de Apoio Psicopedagógico
MG - Minas Gerais
OP - Orientação Profissional
P – Participante
PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação
PNE - Plano Nacional de Educação
PIS - Programa de Integração Social
ProUni - Programa Universidade Para Todos
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................………..………………........ 8
1 PROUNI, JUVENTUDE, TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO E ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL .……………………………………………………….………..…… 20
1.1- O cenário educacional brasileiro na criação do ProUni –
Programa Universidade para Todos – e sua evolução …………….… 20
1.2 - O ProUni e o Centro Universitário UNA ……………………….…..… 25
1.3 - O cenário atual e a legitimidade do ProUni ………………………..… 26
1.4 - A juventude e o jovem das camadas populares …………………..… 31
1.5 - O processo de transição escola-trabalho e um novo olhar para
a orientação profissional ……………………………………………….. 39
2
RELATO DA PESQUISA COM ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, PROFESSORES E GESTORES DO CENTRO
UNIVERSITÁRIO UNA .……………………………………………….………..…… 52
2.1 Introdução ……………………………………………………………...…. 52
2.2 O perfil do aluno ProUni e sua relação com os alunos não-beneficiários
do Prouni ……………………………………………………………..….... 55
2.2.1 Engajamento e comprometimento ………………….…... 55
2.2.2 Desempenho acadêmico ……………………………..….. 58
2.2.3 A integração com os colegas ……………………….…… 60
2.3 A transição escola-trabalho …………………………………………...… 61
2.3.1 As expectativas do mundo do trabalho..............…….…... 61
2.3.2 O processo de transição e seus desafios ..……………… 66
2.3.3 O potencial dos alunos ProUni ………………………...…. 70
2.3.4 A escolha profissional ……………....……………………. 73
2.4 A Orientação Profissional ……………………………..……………..….. 74
2.5 Considerações finais ...………..…………………………………………. 77
3
UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL:
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA................................78
3.1 Introdução …………….....…………………………….…..………….…...78
3.2 Desenvolvimento …………………………….....…………………….….. 80
3.3 Descrição detalhada da intervenção ………..………………….…….... 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………..………………… 90
REFERÊNCIAS ………………………………………………………………….……….. 97
Apêndice A – Artigo derivado da dissertação ..........................................................105
Apêndice B ………………………………………………………………......……………125
Apêndice C ………………………………………………………………………......……126
Anexo A …………………………………………………………………….…......………128
8
INTRODUÇÃO
Definiu-se como tema dessa pesquisa a orientação profissional oferecida aos jovens
das camadas populares e com acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni –
Programa Universidade para Todos –, com vistas à sua efetiva e qualificada
inserção no mundo do trabalho.
O problema aqui circunscrito, a partir do tema da investigação, pode ser assim
sintetizado: a formação dos jovens universitários das camadas populares e
beneficiários do ProUni, compreendida na perspectiva de uma qualificada e efetiva
transição escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo
de orientação profissional fundamentado nas origens, condições e identidades
socioculturais desses jovens. Contudo, tal compreensão do ponto de vista teórico e,
sobretudo, da intervenção social e pedagógica, ainda se mostra insuficiente. A
dúvida que surge se refere à especificidade da orientação profissional a ser
desenvolvida; especialmente, sobre os elementos e dimensões que precisam ser
considerados para que tal intervenção possa se caracterizar como uma inovação
social e pedagógica e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento
local.
O objeto da presente investigação se refere aos processos de orientação
profissional, que precisam ser promovidos pelo Núcleo de Carreira do Centro
Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG, com foco no jovem das
camadas populares e beneficiário do ProUni, visando ao seu desenvolvimento como
sujeito autônomo e emancipado na transição do Ensino Superior para o mundo do
trabalho.
A investigação se orientou pela seguinte questão central: que elementos e
dimensões precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da
orientação profissional aos jovens oriundos das camadas populares e beneficiários
do ProUni, que possam a caracterizar como uma inovação social com pertinência
educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local?
9
A partir dessa indagação, foram formuladas quatro assertivas, com o sentido de
orientar e encaminhar a realização dos objetivos da pesquisa. São elas:
1. o aluno do ProUni oriundo das camadas populares apresenta dificuldades
para a sua inserção no mundo do trabalho;
2. o aluno do ProUni é percebido, pela instituição universitária, como um jovem
com uma série de capacidades não percebidas ou não valorizadas pelo
mundo do trabalho e pelas organizações empresariais;
3. os profissionais de recursos humanos, ao difundir o que creem ser as
expectativas das organizações empresariais, apresentam requerimentos de
qualificação exigidos dos egressos do Ensino Superior segundo uma tipologia
pré-estabelecida e com características de padronização; e
4. faz-se necessária uma proposta inovadora de orientação profissional, que
considere, de um lado, o preparo para a transição escola-trabalho, tomandose como referência as características socioculturais dos jovens do ProUni, e,
de outro, que estabeleça diálogos com os profissionais de recursos humanos
responsáveis pelas atividades de recrutamento e seleção de pessoas para
atuar nas organizações.
O interesse do pesquisador pela temática surgiu por volta do ano 2010, quando,
como coordenador do Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, passou a
lidar diretamente com projetos de orientação profissional e de desenvolvimento de
carreira dos alunos dessa instituição universitária, defrontando-se com a
complexidade do processo de transição dos alunos universitários para o mundo do
trabalho. Inicialmente, essa inquietação o levou a desenvolver, em conjunto com
uma equipe de profissionais da Psicologia, o Programa de Desenvolvimento de
Carreira, projeto voltado aos discentes da graduação do Centro Universitário UNA e
pautado no processo de autoconhecimento por meio de análise de perfil e
mapeamento de competências.
10
Em contato com programas de estágios das organizações parceiras do Centro
Universitário UNA, passou, então, a realizar processos seletivos para inserção de
jovens universitários no mercado de trabalho por meio dos programas de estágio,
incluindo alunos do ProUni oriundos de camadas populares. Nesse momento, pôde
constatar as vulnerabilidades que atingem esses alunos nos processos seletivos das
organizações. Por falta de aderência aos quesitos exigidos pelas empresas,
especialmente pela carência de uma visão mais global por parte desses jovens,
percebeu que eles experimentam maior dificuldade de aprovação em processos
seletivos destinados a estágios.
Anteriormente, entre os anos 1991 e 2009, havia acompanhado a trajetória
profissional de jovens que realizaram programas de intercâmbio cultural e estudantil
e que, ao retornarem aos seus ambientes locais, apresentaram um nível de preparo
mais próximo daquele exigido pelo setor produtivo, realidade diversa daquela
encontrada entre os alunos do ProUni. Os alunos provenientes de camadas sociais
com acesso amplo a bens culturais valorizados na concorrência de mercado,
viagens e visão aderente à dinâmica da globalização, mostravam-se mais propensos
a se destacarem nos processos seletivos. São jovens que apresentam diferenciais
com relação ao que conseguem pelo simples acesso ao Ensino Superior, o que lhes
confere vantagem competitiva em relação aos alunos oriundos das camadas
populares.
Com essa inquietação, iniciou, em 2011, o Mestrado Profissional em Gestão Social,
Educação e Desenvolvimento Local, com o desejo de pesquisar, compreender e
propor ações com efetividade social, levando em conta que os alunos de Ensino
Superior oriundos das camadas populares são diferentes, com especificidade que
representa valores que precisam ser (re)conhecidos, inclusive por eles, que podem
torná-los preparados para ultrapassar a ponte para o mundo do trabalho,
respeitando-se suas identidades socioculturais.
Seu desejo investigativo se fez cada vez mais presente e, atualmente, à frente do
Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, e, ainda, como responsável pela
coordenação dos programas de orientação profissional destinados aos discentes
11
dessa instituição de ensino, percebe que há uma situação propícia à valorização
institucional de sua pesquisa, proposta e desenvolvida para este mestrado.
Compreende, também, que a investigação que realizou é de grande relevância
social, porque a temática proposta foi planejada para possibilitar o desenvolvimento
de instrumental técnico sobre processos educacionais com perspectiva de inovar
socialmente e contribuir para promover o desenvolvimento local. O estudo foi
motivado pela necessidade de uma intervenção voltada para a melhoria dos
processos educacionais e dos percursos formativo e profissional de jovens
universitários oriundos das camadas populares, visando garantir a elevação da sua
qualidade de vida e reflexos positivos no desenvolvimento local.
Diante dessa perspectiva, vale lembrar que o acesso ao Ensino Superior tem sido
um desafio constante para determinados segmentos da sociedade brasileira,
especialmente o acesso ao Ensino Superior privado. Visando estreitar a distância
entre milhões de jovens brasileiros e o Ensino Superior, o Governo Federal pôs em
marcha, em 2005, o Programa Universidade para Todos - ProUni, uma política
pública de Educação com foco na inclusão social no Ensino Superior.
O ProUni surge, então, em um momento de redefinições acerca da política de
Educação no Brasil, reforçando o que viria a ser debatido e incluído no PDE – Plano
de Desenvolvimento da Educação –, instituído em 2007. A partir de uma agenda
educacional estabelecida pelo MEC – Ministério da Educação –, o PDE contemplou,
em seus mais de 40 (quarenta) programas, 4 (quatro) eixos norteadores: Educação
Básica, Educação Superior, Educação Profissional, e Alfabetização. No âmbito da
Educação Superior, estabeleceu, como princípios: a expansão da oferta de vagas, a
garantia da qualidade do ensino e a inclusão social por meio da democratização do
acesso ao Ensino Superior privado. Nesse contexto, o ProUni assume papel
relevante para o alcance dos objetivos e das metas desse plano governamental.
Criado em 2004, pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 11.096/05 (BRASIL,
2005), o ProUni tem por finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e
parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em
instituições privadas de Educação Superior.
12
Embora esse programa possa ser considerado eficaz como política pública
garantidora da inclusão de jovens oriundos das camadas populares no Ensino
Superior, não se mostra eficaz no combate à evasão e consequente permanência
desses jovens na escola e, muito menos, na complexa transição escola-trabalho.
O mercado de trabalho espera e exige, cada vez mais, que os jovens egressos do
Ensino Superior tragam em sua formação um acervo de vivências e um amplo
repertório cultural e comportamental. As empresas exigem, portanto, que o
universitário esteja inserido na discussão sobre os atuais requisitos de qualificação
profissional
e
demonstre
ter
informações,
conhecimentos,
competências,
habilidades, atitudes e valores ligados a uma vivência e visão ampla do mundo das
empresas, das relações interprofissionais e do mercado. Essas exigências ficam
evidentes na condução das entrevistas e dinâmicas realizadas com os candidatos a
vagas em processos seletivos de estágios em diversas organizações.
Por carência desse repertório e por não estarem devidamente orientados a explorar
as potencialidades culturais e pessoais que possuem, os jovens oriundos das
camadas populares têm mais dificuldade de aprovação nesses processos seletivos
de estágios, que são, via de regra, a porta de entrada para o mercado de trabalho.
Por outro lado, alunos provenientes de camadas sociais mais favorecidas por bens
culturais de acesso mais restrito, com viagens e visão globalizada do mundo do
trabalho, destacam-se mais nos processos seletivos. São jovens que, embora vivam
localmente, estão conectados a informações e valores mais próximos das relações
ditadas pelo mundo capitalista globalizado, o que lhes dá um diferencial, em termos
de vantagem competitiva, em relação ao universitário oriundo das camadas
populares.
Por esse motivo, em 2011, o MEC – Ministério da Educação – e a Febraban –
Federação Brasileira de Bancos – firmaram parceria com o objetivo de estabelecer
cotas para alunos do ProUni nos programas de estágio em bancos. Isto é: os jovens
do ProUni, embora tenham excelente desempenho acadêmico, são considerados
mais vulneráveis nos processos seletivos e, por essa razão, foi necessário criar um
programa que lhes direcionasse um número garantido de vagas de estágios. Tal fato
reforça os questionamentos acerca da fragilidade dos jovens das camadas
13
populares candidatos às vagas de estágios. O ProUni se, de um lado, garante a
inclusão no Ensino Superior; como política pública, abraça a concepção de cotas
também na inserção dos alunos beneficiários em programas de estágios. Essa
situação tem se agravado em virtude tanto da falta de preparo dos discentes (em
sua maioria, vulneráveis às exigências do mercado de trabalho) quanto pela falta de
informação dos profissionais de recursos humanos responsáveis pelos processos de
recrutamento e seleção acerca dos potenciais desses jovens e dos valores que eles
possuem.
Ora, os alunos oriundos do ProUni não são capazes de concorrer em igualdade de
condições com alunos não-bolsistas para as vagas de estágio nas organizações?
Tal questionamento coloca em debate a noção de falsa democratização do Ensino
Superior e de reforço das estratégias de ação afirmativa em face da reposição dos
pressupostos da estratificação social. Afinal de contas, além de ser uma política
pública do campo educacional, o ProUni também pode ser visto como política
pública para o jovem brasileiro. Entre os desafios do Governo Federal, inclusive
dentro da Política Nacional de Juventude,1 estão o preparo para o mundo do
trabalho e a geração de trabalho e renda para os jovens. E os jovens oriundos das
camadas populares não podem ser colocados à margem desse processo.
Portanto, para garantir o que preconiza o governo federal e os anseios de famílias e
dos jovens das camadas populares, o significado do ProUni assume novos
contornos e inaugura um novo dilema: deixar os egressos desse programa à própria
sorte ou lhes oferecer atenção específica ainda como estudantes e condições para
que desenvolvam percepções mais ampliadas do mundo do trabalho e de seus
desafios. Constata-se, assim, que mudanças nas abordagens educacionais aos
universitários beneficiários do ProUni precisam ser feitas, que reflitam positivamente
em seus desempenhos em processos seletivos das organizações. Percebe-se, por
outro lado, a importância da promoção de uma Educação Superior que também não
dê as costas aos conhecimentos e valores que os jovens das camadas populares
trazem e que lhes despertam sentimentos de pertencimento e de (auto)afirmação
sociocultural.
1
http://www.juventude.gov.br/politica.
14
Vale salientar que a estratégia de criação de cotas para estagiários ProUni, por si,
não é capaz de lhes dar autonomia para prosseguir nas suas carreiras profissionais.
A estratégia mais consistente remete a intervenções na formação e orientação
desses jovens com sentido de fortalecimento dos seus potenciais e valores e de
redução das suas vulnerabilidades.
A realização profissional desses jovens se reflete na sua qualidade de vida, e na de
suas famílias, e, consequentemente, no desenvolvimento local, e isso pode ser feito
ou requer ser feito articulando-se os requisitos do agir localmente, considerando-se
suas determinações particulares, com as exigências do pensamento mais
universalizado, mais global, que o mundo do trabalho hoje apresenta.
A pesquisa se apoiou em revisão teórica e documental compreendendo três eixos. O
primeiro abordou o cenário educacional brasileiro na criação do ProUni, objetivos
desse programa, sua evolução no País e no contexto do Centro Universitário UNA.
Para tanto, foram utilizados dados secundários proporcionados por pesquisas e
censos realizados entre 2005 e 2012 e dados primários referentes à participação do
Centro Universitário UNA nesse programa. O segundo cerniu o conceito de
juventude, juventudes e a condição do jovem das camadas populares. O terceiro
tratou do processo de transição escola-trabalho e da orientação profissional,
considerando as condições socioculturais dos jovens universitários das camadas
populares. Tais análises foram apresentadas no primeiro capítulo desta dissertação.
Essa pesquisa objetivou sistematizar e gerar conhecimentos, tendo em vista a
solução de um problema específico, de caráter social e educacional. Trata-se,
portanto, de uma pesquisa que tem o sentido claro e intencional da inserção social,
ao qual agrega a preocupação de contribuir com a transformação social.
A pesquisa de campo se beneficiou da abordagem qualitativa, tendo em vista a
necessidade de expressar e descrever as representações e interpretações dos
sujeitos que foram consultados. Ela foi realizada, no Centro Universitário UNA, por
meio de três grupos focais:2 o primeiro, constituído por profissionais do Núcleo de
2
O APÊNDICE C desta dissertação traz os roteiros para a realização dos grupos focais.
15
Carreira dessa instituição; o segundo, por discentes beneficiários do ProUni; e, o
terceiro, por membros do corpo docente e gestores acadêmicos do Centro
Universitário UNA. Os resultados das discussões que se verificaram nesses grupos
focais são descritos e apresentados no segundo capítulo desta dissertação.
Entre os autores que serviram de suporte técnico para a revisão teórica e
documental e para a análise dos dados obtidos na pesquisa de campo, alguns
tiveram relevante papel. O trabalho de Costa (2012) foi a base para toda a
contextualização e análise do ProUni. Spósito (2008) e Dayrell (2003) contribuíram
com uma abordagem ampliada sobre a juventude e suas diversas faces. Snyders
(1977) trouxe a perspectiva do “duplo rosto do proletariado”, o que foi decisivo para
a abordagem do potencial, não percebido, dos estudantes das camadas populares.
Bello (2008), Machado (2009) e Duarte (2011) foram decisivos para a análise dos
processos de orientação profissional e para um novo olhar para essa intervenção.
Ramírez (1994), Coimbra (2010) e Valore (2012) trouxeram importante contribuição
no âmbito da transição escola-trabalho e seus desafios para os jovens oriundos das
camadas populares.
Estudos semelhantes e complementares foram realizados, anteriormente, por outros
pesquisadores e revelam conclusões importantes para esta dissertação.
Simões (2011), por exemplo, em tese de doutorado, pesquisou as mudanças e
possibilidades na vida social dos bolsistas do ProUni, considerando aspectos
socioeconômico e cultural-afetivo, bem como possibilidades sociais ensejadas por
meio da Educação, concluindo que o ProUni representa uma oportunidade e um
sonho, mas que ainda há questões a serem enfrentadas para que ocorram
mudanças e efetiva inclusão social dos bolsistas.
Costa (2012), uma das autoras-base para o estudo sobre o ProUni, por sua vez,
investigou, em seu doutorado, se essa política pública possibilitou melhores
condições de inserção no mercado de trabalho e melhorias nas condições
socioeconômicas dos egressos do Ensino Superior ex-bolsistas do ProUni, tendo
concluído que o ingresso no Ensino Superior ampliou os horizontes dos jovens de
baixa renda, possibilitou alguma ascensão profissional e melhorias nas condições de
16
trabalho, mas que ainda há desafios e obstáculos na transição escola-trabalho
desses jovens [ex-]bolsistas do ProUni.
Rizzo (2010), por seu turno, propôs um trabalho investigativo no sentido de entender
a perspectiva da inclusão ou exclusão social do jovem bolsista do ProUni. A
investigação trabalhou com a hipótese de que a inserção no Ensino Superior não
implica, necessariamente, inclusão social do sujeito. Rizzo faz uma reflexão, ao final
do relato da investigação, sinalizando que, entre os sujeitos pesquisados, há um
sentimento de bem-estar, por conseguirem se inserir no Ensino Superior, mas há, ao
mesmo tempo, um cenário de incertezas em relação ao futuro profissional. Ele
concluiu que há inclusão no Ensino Superior, mas indícios de exclusão no futuro
desses jovens.
Esse mesmo autor (RIZZO, 2010) realizou outro estudo, também sobre estudantes
bolsistas do ProUni, com o objetivo de verificar se, além do crescimento acadêmico,
esses jovens experimentavam, também, mudança nos seus capitais cultural e social,
e se ampliavam sua rede de relacionamentos com jovens de outros estratos sociais.
O pesquisador afirma no final da pesquisa, que acredita, sim, que os alunos
desenvolvem outras dimensões além do universo acadêmico e que essa mudança
perpassa, também, seus familiares e amigos. Ainda, para esse pesquisador, a bolsa
do ProUni é um “passaporte” para a saída da pobreza, uma vez que dá
oportunidades de ascensão profissional, em algum nível.
Dessa forma, há um conjunto de pesquisas que abordam tanto o [ex-]bolsista ProUni
quanto a inserção dos jovens no mundo do trabalho. Entretanto, o que se pretendeu
aqui foi abordar os desafios da transição do jovem oriundo de estratos sociais mais
baixos e bolsista do ProUni da escola para o mundo do trabalho, tendo como pano
de fundo os processos de orientação profissional. Essa perspectiva traz uma nova
contribuição ao que já foi pesquisado, porque as pesquisas mencionadas discutem a
efetividade do ProUni como política pública ou a potencial transformação gerada nos
jovens beneficiários e em seus meios sociais. Esta investigação propõe um novo
olhar para a orientação profissional que considere o preparo para a transição escolatrabalho tomando-se como referência as características socioculturais dos jovens do
ProUni. Entre os conceitos centrais que nortearam e fundamentaram a análise estão
17
as diversas faces da juventude, ou, como ressalta Dayrell (2003), as diversas
“juventudes”; as expectativas padronizadas do mundo do trabalho em relação aos
jovens que realizam a transição escola-trabalho; os atuais processos de orientação
profissional reducionistas se confrontados com o processo de globalização e com a
diversidade humana em todas as suas dimensões; e um novo olhar para a
orientação profissional, considerando que o jovem precisa ser considerado como
indivíduo e orientado de acordo com seus aspectos socioculturais e sua trajetória de
vida, ao mesmo tempo compreendendo que o profissional atual precisa gerenciar o
uso de suas capacidades e saberes, equilibrando-as com as expectativas das
organizações no mundo do trabalho.
A escolha foi pela pesquisa qualitativa, utilizando como técnica de coleta de dados o
grupo focal. A pesquisa qualitativa foi pertinente, uma vez que o objetivo geral da
investigação foi analisar percepções e propostas sobre elementos e dimensões da
orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do ProUni,
considerando-se a realidade da transição escola-trabalho e perspectivas de inclusão
social.
Há, portanto, um aspecto que perpassa toda a pesquisa e reforça a adequabilidade
do estudo qualitativo que é o senso comum dos sujeitos. Como os grupos focais são
grupos de discussão que permitem diálogo sobre temas específicos a partir de
estímulos para o debate, considerou-se ser essa a técnica mais adequada para a
presente investigação. Os grupos focais promovem a integração do grupo,
favorecem o engajamento e a troca de experiências e opiniões, essenciais para a
abordagem do tema em questão. Por não ser estruturado com base em perguntas
direcionadas individualmente, o grupo focal permite, também, maior descontração
entre os participantes, o que pode gerar descobertas e novas ideias.
Cabe salientar que o grupo focal também permite ao pesquisador explorar não
somente o tema em si, mas, também, fatos relacionados ao tema são articulados,
percebidos e confrontados entre o grupo, bem como os reflexos que o tema gera no
cotidiano dos participantes. Portanto, com base nesses atributos dos grupos focais,
foi essa a técnica escolhida para condução da investigação.
18
Foram realizados três grupos focais, organizados de acordo com cada perfil de
participantes e conduzidos em ambiente adequadamente preparado, utilizando-se a
sala de Psicologia do Centro Universitário UNA. O ambiente foi climatizado, as
cadeiras foram dispostas em semicírculo, houve grande cuidado com ruídos e com a
criação de um espaço propenso à exploração de ideias. Após a apresentação do
mediador e do observador, todos os participantes se apresentaram, assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A) e reiteraram interesse
em contribuir com a investigação. As discussões foram devidamente registradas em
formato de gravação de áudio e, posteriormente, transcritas com exatidão.
O primeiro grupo focal foi composto por profissionais especialistas em orientação
profissional, todas com formação na área da psicologia e que atuavam como
orientadoras de alunos de Ensino Superior do Centro Universitário UNA. O grupo
conduzia um projeto denominado Programa de Desenvolvimento de Carreira que
consistia na análise de perfil e mapeamento das competências de alunos oriundos
de todos os cursos e campi daquele centro universitário.
O segundo grupo foi composto por alunos beneficiários do ProUni, oriundos de
diferentes cursos e institutos do Centro Universitário UNA, quais sejam: Engenharia,
Direito, Farmácia e Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
O terceiro grupo foi composto por diretores dos campi Barreiro, Barro Preto,
Guajajaras, Betim, Contagem, Raja e Liberdade, o que permitiu uma cobertura
geográfica bastante abrangente. Além dos diretores acadêmicos, contou-se com a
participação de dois professores da área de comunicação e gestão.
Durante os três grupos focais realizados estabeleceu-se um roteiro de questões
norteadoras que seguiram uma ordem bastante clara. Inicialmente buscou-se
informações acerca do perfil do aluno bolsista do ProUni e comparações com o perfil
dos estudantes não bolsistas oriundos de estratos sociais mais elevados. Em
seguida foi abordada a questão das expectativas do mundo do trabalho e dos
recrutadores em relação aos perfis dos jovens do Ensino Superior quando da
transição escola-trabalho. Nessa perspectiva, foram abordados também os desafios
dessa transição e como essa transição pode ocorrer entre os alunos oriundos dos
19
estratos sociais mais baixos. A última dimensão abordada foi a orientação
profissional e suas diversas nuanças atuais e perspectivas futuras. Nessa
abordagem, debateu-se como a orientação profissional pode contribuir para o
percurso profissional dos jovens bolsistas do ProUni e como a IES pode desenvolver
um processo de orientação profissional voltado à realidade desses estudantes.
A partir do próprio roteiro estabelecido e das respostas ao longo dos grupos focais,
foi realizada a transcrição exata das discussões e em seguida categorização em
cinco grandes áreas, quais sejam: o perfil do aluno ProUni e uma análise
comparativa com os alunos não-beneficiários do ProUni; as demandas do mundo do
trabalho; o processo de transição escola-trabalho; o processo de escolha; e a
orientação profissional e a orientação profissional com foco no aluno ProUni. Essas
categorias levaram a subcategorias que em seguida foram analisadas à luz dos
conceitos centrais e debates entre os participantes. Para cada categoria foram feitas
análises considerando os debates e percepções dos três grupos focais.
A revisão teórica e as pesquisas documental e de campo forneceram subsídios para
o desenvolvimento de uma contribuição técnica ao Núcleo de Carreira do Centro
Universitário UNA, município de Belo Horizonte - MG, tendo em vista a promoção
dos jovens beneficiários do ProUni a sujeitos autônomos e emancipados na
transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. Trata-se de um protocolo ou
metodologia sobre orientação profissional a eles destinada, especificamente, de uma
proposta de intervenção com o sentido de favorecer a inovação social e pedagógica
na implementação dessa política de ação afirmativa e a concretização do seu
potencial de contribuição para o desenvolvimento local. Essa contribuição técnica
integra o terceiro capítulo desta dissertação.
20
1 PROUNI, JUVENTUDE, TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO E
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL.
1.1 O cenário educacional brasileiro quando da criação do ProUni – Programa
Universidade para Todos – e sua evolução.
Criado, em 2004, pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 11.096/2005 (BRASIL,
2005), o ProUni – Programa Universidade para Todos – tem por finalidade a
concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e
sequenciais de formação específica, em instituições privadas de Educação Superior.
Em contrapartida, o Governo isenta as instituições que aderirem ao programa de
pagamento de certos tributos. A adesão, por parte da IES – Instituição de Ensino
Superior – privada, com ou sem fins lucrativos, beneficente ou não, é facultativa.
Nesse contexto, o FIES – Financiamento ao Estudante do Ensino Superior3 –
assume papel relevante para o alcance dos objetivos e das metas desse programa
governamental.
Do lado dos alunos, para que sejam elegíveis às bolsas do ProUni, alguns prérequisitos precisam ser atendidos. O candidato deve ser egresso do Ensino Médio
da rede pública ou, na condição de bolsista integral, ser oriundo da rede particular
de ensino. Em ambos os casos, desde que ainda não tenha concluído curso
superior. Além disso, a renda per capita familiar não pode ultrapassar um saláriomínimo e meio, para bolsas integrais, e três salários-mínimos, para bolsas parciais.
Entre os possíveis beneficiários estão, também, os professores da rede pública, para
os cursos de Licenciatura, Normal Superior e Pedagogia; esses últimos, sem vínculo
ou restrições no que diz respeito à sua renda familiar. Também estão previstas
bolsas para deficientes físicos e autodeclarados indígenas e negros. Os candidatos
são selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
3
O FIES - Fundo de Financiamento Estudantil – é um programa do Ministério da Educação
destinado a financiar a graduação na Educação Superior de estudantes matriculados em
instituições não gratuitas. Durante o período de duração do curso, o estudante paga, a cada
três meses, o valor máximo de R$ 50,00 (cinquenta reais), referente aos juros incidentes
sobre o financiamento. Após a conclusão do curso, o estudante tem 18 (dezoito) meses de
carência para recompor seu orçamento e quitar o financiamento.
21
Assim, conforme se lê na Lei nº 11.096/05,
[a]rt. 1º - [f]ica instituído, sob a gestão do Ministério da Educação, o
Programa Universidade para Todos - PROUNI, destinado à concessão de
bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50% (cinqüenta
por cento) ou de 25% (vinte e cinco por cento) para estudantes de cursos de
graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas
de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. (BRASIL, 2005)
Do lado das IES, estas ficam obrigadas a oferecer, para cada 10,7 alunos
matriculados e pagantes, uma bolsa integral e ou, ainda, conforme o parágrafo
quarto do artigo quinto dessa mesma lei:
[...] oferecer 1 (uma) bolsa integral para cada 22 (vinte e dois) estudantes
regularmente pagantes e devidamente matriculados em cursos efetivamente
nela instalados, (...) desde que ofereça, adicionalmente, quantidade de
bolsas parciais de 50% (cinqüenta por cento) ou de 25% (vinte e cinco por
cento) na proporção necessária para que a soma dos benefícios concedidos
na forma desta Lei atinja o equivalente a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos
por cento) da receita anual dos períodos letivos que já têm bolsistas do
ProUni. (BRASIL, 2005)
Essa questão, inclusive, esteve na pauta de inúmeras discussões entre as IES
privadas e o Governo Federal. Embora a Medida Provisória do ProUni (BRASIL,
2004)4 estabelecesse um percentual de 10% da receita anual, as IES pleiteavam
que esse valor fosse reduzido para 7,0%. Ao final, ficou em 8,5%. Isso quer dizer
que a IES deve dedicar, em média, no mínimo, 8,5% de sua receita ao programa de
concessão de bolsas (CATANI et al., 2006).
Essa discussão sobre o percentual de receita anual dedicada pelas IES privadas ao
ProUni aqueceu os debates acerca da legitimidade do programa e de sua real
função social. Muitas IES privadas se encontravam em situação econômica delicada
e o ProUni, como estratégia de captação de alunos, poderia ensejar a sobrevida
delas. Nesse contexto, quanto menor o investimento da receita anual das IES no
ProUni, tanto melhor para seus resultados financeiros. O ProUni seria, portanto, uma
política pública que favoreceria a sobrevivência e até mesmo o crescimento das IES
privadas. O fato é que a evolução do número de IES privadas apresentou
crescimento de 75%, contra 53% das IES públicas, entre os anos 2001 e 2010
4
Medida Provisória nº 2013, de 10 de setembro de 2004, que foi, posteriormente, convertida
na Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005 (BRASIL, 2005).
22
(BRASIL, 2011). Em 2004, no auge da discussão e aprovação da Lei do ProUni
(BRASIL 2005), o presidente da Abmes – Associação Brasileira de Mantenedoras de
Ensino Superior – aqueceu ainda mais esse debate, ao afirmar que “[a] proposta não
saiu como pretendíamos, mas é razoável e favorece as instituições privadas”
(MENA, 2004, p. 2). Para Carvalho (2006, p. 986), “[o] ProUni surge como excelente
oportunidade de fuga para frente para as instituições ameaçadas pelo peso de
vagas excessivas”.
Surge, aqui, uma questão sobre a relação do Estado com o setor privado de
Educação Superior, qual seja: a concepção do governo de que seria mais factível e
favorável, financeiramente, investir no ProUni do que nas escolas públicas de Ensino
Superior.
Isso se explica, em parte, pelo lado das IES privadas que, em contrapartida à
liberação do pagamento das mensalidades pelos alunos, ficam isentas do
pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL), da Contribuição Social para Financiamento da
Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição para o Programa de Integração Social
(PIS). Vale ressaltar que a isenção ocorre somente na proporção das bolsas
efetivamente ocupadas.
Fica, portanto, em evidência a questão acerca dos impostos que o governo deixaria
de receber. Segundo cálculos do próprio Governo Federal, seriam necessários
investimentos da ordem de R$ 350.000.000,00 (trezentos e cinquenta milhões de
reais) nas IES públicas, para que estas conseguissem suprir a demanda pelo Ensino
Superior. Por meio das políticas de incentivo fiscal do ProUni, o governo deixaria de
receber cerca de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), para atingir o
mesmo objetivo; ou seja: há uma desoneração de R$ 300.000.000,00 (trezentos
milhões de reais). Leher (apud COSTA, 2012) reforça tal entendimento, ao afirmar
que
[...] O ProUni é um mecanismo, uma modalidade de parceria públicoprivada, que repassa recursos públicos às instituições particulares. Essa
aprovação da MP se dá num contexto em que as universidades públicas e
as escolas públicas de um modo geral vivem um momento de muita
dificuldade. (LEHER, 2004 apud COSTA, 2012, p. 69)
23
As opiniões de pesquisadores sobre a legitimidade do ProUni são divergentes. Para
Marinho (apud COSTA, 2012),
[...] Este programa deve ser encarado como uma ação emergencial,
enquanto a política educacional se constrói, reconhecendo-se que o Brasil
não poderia continuar dando as costas para aqueles que querem cursar
uma faculdade e, para isso, dependem de bolsas de estudo. (MARINHO,
2005 apud COSTA, 2012, p. 69)
Para outros, o ProUni é controverso como política pública garantidora de uma efetiva
democratização do Ensino Superior. Coelho (2004) afirma que o ProUni é
contraditório, em relação ao anteprojeto de Reforma Universitária, porque defende a
expansão do Ensino Superior por meio do investimento de recursos públicos em
instituições privadas.
Os dados estatísticos reforçam a percepção em relação a esse entendimento. De
2001 a 2010, o número de IES no Brasil passou de 1.391 (mil, trezentos e noventa e
uma) para 2.378 (dois mil, trezentas e setenta e oito), um aumento de 71,0%. Esse
crescimento foi influenciado pelo aumento do número de IES privadas que passou
de 1.208 (mil, duzentas e oito), em 2001, para 2.100 (duas mil e cem), em 2009
(73,8%). O número de IES públicas cresceu 51,9%, passando de 183 (cento e
oitenta e três) para 278 (duzentas e setenta e oito), no mesmo período, conforme o
GRÁF. 1, a seguir.
GRÁFICO 1 - Evolução do Número de Instituições de Educação Superior Públicas e
Privadas Brasil - 2001-2010.
Fonte: MEC/Inep.
24
O ProUni pode, portanto, ter sido um dos fatores responsáveis pelo reforço na
ampliação da rede privada de Ensino Superior no País. Almeida (2006) chama a
atenção para o favorecimento das IES privadas com relação aos investimentos na
Educação, uma estratégia compensadora para o Governo, que concede isenção
fiscal de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), mas evita despender R$
350.000.000,00 (trezentos e cinquenta milhões de reais) necessários à ampliação de
vagas no Ensino Superior público.
Catani, Hey e Gilioli (2006) questionam se o ProUni é, mesmo, um instrumento
efetivo de democratização ou mero programa de estímulo à expansão das IES
privadas. Segundo eles, o ProUni não é uma política de afirmação dos direitos de
cidadania e entendem que
[...] ao invés de privilegiar as IES privadas, o governo poderia investir no
setor público, capaz de democratizar a educação superior. Todavia, para
cumprir a meta do PNE de ampliar de 9% para 30% a população de 18 a 24
anos no ensino superior até 2010, o MEC optou por conceder benefícios e
não promover direitos. (CATANI et al., 2006, p. 137)
Embora sejam divergentes as opiniões acerca da legitimidade do ProUni, os
números surpreendem e mostram que o programa atendeu, desde sua criação até o
processo seletivo do primeiro semestre de 2012, cerca de um milhão e seiscentos
mil alunos, sendo 67% por cento de bolsistas integrais e 33% por cento de bolsistas
parciais. A evolução de alunos beneficiários mostrou um crescimento de 250%
(duzentos e cinquenta por cento), entre 2005 e 2012 (BRASIL, 2012, p. 1).
Considerando-se a categoria administrativa das instituições de ensino, os dados
mostram que as IES com fins lucrativos representam 53% do total de instituições
que aderiram ao programa, seguidas daquelas sem fins lucrativos e não
beneficentes, que representam 28% e das entidades beneficentes de assistência
social, com 19% de participação.
A região Sudeste é a que mais reúne estudantes beneficiários, concentrando 52%
por cento do total de alunos bolsistas. Em seguida, aparece a região Sul, com 19%;
a Nordeste, com 15%; a Centro-Oeste, com 9,0%; e a região Norte, com 5%. Na
25
região Sudeste, o Estado de São Paulo, maior em número de beneficiários, 326.950
(trezentos e vinte e seis mil, novecentos e cinquenta) bolsistas, aparece com mais
do que o dobro de beneficiários, se comparado ao Estado de Minas Gerais, segundo
colocado, que, no período de 2005 a 2012, apresentou um total de 127.144 (cento e
vinte e sete mil, cento e quarenta e quatro) bolsistas. Os estados do Rio de Janeiro e
Espírito Santo aparecem em terceiro e quarto colocados, com 66.925 (sessenta e
seis mil, novecentos e vinte e cinco) e 16.604 (dezesseis mil, seiscentos e quatro)
bolsistas, respectivamente (BRASIL, 2012, p. 1).
Considerando-se que as regiões que também reúnem parcela considerável da
população de jovens no País que mais necessitam de políticas de inclusão social
efetivas estão fora do eixo Sul/Sudeste, os números do ProUni merecem uma
análise mais profunda. O fato de ser a região Sudeste a economicamente mais
desenvolvida e, também, a mais beneficiada pelo programa traz à tona a reflexão se
o Prouni promove, de fato, a democratização do acesso ao Ensino Superior para
quem efetivamente precisa dele. Essa questão não se limita apenas às regiões do
País, mas, também, à natureza dos cursos e dos alunos beneficiários. Não foram
poucos os casos em que estudantes de Medicina, em condições de pagar pelo
curso, foram beneficiados pelo ProUni. Nesse aspecto, os processos de concessão,
acompanhamento e controle das bolsas precisam estar constantemente em sintonia
com as reais necessidades sociais.
1.2 O ProUni e o Centro Universitário UNA
O Centro Universitário UNA aderiu ao ProUni desde o seu início, em 2005, abrindo a
possibilidade de concessão de bolsas parciais e integrais, por esse programa, em
todos os seus processos seletivos. Entre os anos de 2005 e 2012, foram concedidas
4.186 (quatro mil, cento e oitenta e seis) bolsas, sendo 3.529 (três mil, quinhentos e
vinte e nove) integrais (84,3%) e 657 (seiscentas e cinquenta e sete) parciais
(15,7%) (GRÁF. 2).
26
GRÁFICO 2 - Evolução do Número de Bolsistas ProUni - UNA - 2005-2012.
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
Bolsas Integrais
Bolsas Parciais
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Total
Fonte: Centro Universitário UNA.
O ano de 2011 apresentou, na IES, uma queda no número de bolsas ProUni, em
razão de maior concessão de bolsas aos seus alunos feitas por esse programa no
ano anterior.
No primeiro semestre de 2012, a IES registrou 327 (trezentas e vinte e sete) bolsas
para ingressantes. Do total de bolsas integrais concedidas até 2012, quase 300
(trezentos) alunos apresentam desempenho acadêmico inferior àquele exigido pelo
MEC. Isso quer dizer que quase 10% (dez por cento) dos alunos bolsistas integrais
que ingressaram na instituição desde 2005 tinham rendimento abaixo de 75%.
Segundo o Manual do Aluno Bolsista ProUni (MEC, 2012), a não-aprovação, com no
mínimo 75% de aproveitamento nas disciplinas cursadas em cada período, pode
ensejar o encerramento da bolsa. Em 2013, a IES registrou 538 (quinhentas e trinta
e oito) bolsas integrais e parciais.
1.3 O cenário atual e a legitimidade do ProUni
A permanência dos estudantes nas instituições é um dos dados que devem ser
considerados acerca da eficiência do ProUni. Há dois aspectos a serem
considerados, quanto a isso: o primeiro, supramencionado, em relação ao mínimo
de aproveitamento de 75% exigido pelo MEC; o segundo está ligado à capacidade
econômica do aluno bolsista de se manter enquanto realiza o Ensino Superior. Para
27
Catani et al. (2006), até como mera política assistencialista o ProUni é fraco, porque
espera que as IES privadas "cuidem" da permanência do estudante. O programa
abre o acesso à Educação Superior, “[…] mas não oferece mais do que um
arremedo de cidadania de segunda classe aos contemplados” (CATANI et al., 2006,
p. 135).
Cabe lembrar que o ProUni previa, em sua primeira versão, cobrir 20,0% das vagas
de todo o setor privado, percentual que caiu, por falta de adesão, para 8,5%. Diante
desses dados, esse programa pode estar se desfigurando. Na melhor das hipóteses,
seria assistencialista, ao priorizar apenas o acesso do estudante ao Ensino Superior
(CATANI et al., 2006). Até mesmo os representantes das mantenedoras levantaram
a questão da permanência: "[…] um dos pontos criticados por representantes das
instituições e dos estudantes é a renda per capita exigida, de um salário mínimo, o
que impossibilitaria o estudante de se manter na universidade" (TAKAHASHI, 2004
apud CATANI et al., 2006, p. 129). Verifica-se, portanto, um questionamento com
relação à oferta de bolsas parciais, porque, em razão da renda baixa, o problema
crônico da evasão escolar nas IES privadas seria reforçado. A solução encontrada
pelo Governo foi ampliar a renda exigida para três salários-mínimos.
Considerando os diversos cenários e possibilidades de evasão, o ProUni foi
obrigado a desenvolver ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes
nas instituições. A criação da Bolsa Permanência, prevista na Lei nº 11.180, de 23
de setembro de 2005 (BRASIL, 2005), é um exemplo claro desse direcionamento.
De acordo com esse dispositivo legal, além da bolsa do ProUni,
[a]rt 11 – [f]ica autorizada a concessão de bolsa-permanência, até o valor
equivalente ao praticado na política federal de concessão de bolsas de
iniciação científica, exclusivamente para custeio das despesas
educacionais, a estudantes beneficiários de bolsa integral do Programa
o
Universidade para Todos (Prouni), instituído pela Lei n 11.096, de 13 de
janeiro de 2005, matriculado em curso de turno integral, conforme critérios
de concessão, distribuição, manutenção e cancelamento de bolsas a serem
estabelecidos em regulamento, inclusive quanto ao aproveitamento e à
frequência mínima a ser exigida do estudante. (BRASIL, 2005, p. 1)
28
Em seguida surgiram outras iniciativas nesse sentido, a exemplo dos convênios de
estágio com a Febraban – Federação Brasileira de Bancos5 – e o próprio Fies –
Fundo de Financiamento Estudantil –, que possibilita ao bolsista parcial do ProUni
financiar até 100% da mensalidade não coberta pela bolsa.
De fato, a evasão no Ensino Superior merece um olhar atento, não somente restrito
ao universo dos alunos beneficiários do ProUni, mas no cenário do Ensino Superior
privado como um todo. De acordo com estudo realizado pelo MEC, a partir de dados
do resumo técnico do censo da Educação Superior do ano de 2010, observa-se que
foi de 15,6% o percentual de alunos que deixaram o Ensino Superior antes da
conclusão de seus cursos em instituições privadas. Esses dados têm como
referência os anos de 2009 e 2010 (MEC, 2011).
Embora possa o ProUni ser considerado uma política pública efetiva no combate à
exclusão do Ensino Superior, especialmente em termos quantitativos, pois, permitiu
o acesso a esse nível de ensino a mais de um milhão e meio de jovens brasileiros,
está ainda aquém das expectativas do governo federal e das necessidades sociais.
De acordo com o PNE – Plano Nacional de Educação –, aprovado em 2001, a meta
era elevar, até 2010, a taxa de escolarização líquida de 8,9% para 30%, entre os
jovens de 18 a 24 anos. Isso significava que 30% desses jovens estivessem
cursando o Ensino Superior até 2010. Entretanto, o último Censo da Educação
Superior, cujos dados foram apresentados pelo INEP em 2010, aponta para outra
direção. Verifica-se, por meio das taxas de escolarização bruta e líquida6 que,
embora tenha ocorrido um significativo crescimento do atendimento na Educação
Superior, com a taxa de escolarização líquida subindo de 8,9% para 14,4% em
2009, ainda ficou muito distante dos desejados 30%. A taxa de escolarização bruta
passou de 15,1% para 26,7%. Incluindo-se no cálculo da taxa de escolarização
5
O MEC firmou, com a Federação Brasileira de Bancos – Febraban –, um Termo de
Cooperação Técnica visando à implementação conjunta de ações, em âmbito nacional,
pelos bancos privados, associados à Febraban, destinando 10% das respectivas vagas dos
seus programas de estágio a estudantes participantes do Prouni (BRASIL, 2010).
6
Taxa de escolarização bruta é um indicador que permite comparar o total de matrículas de
determinado nível de ensino com a população na faixa etária teoricamente adequada a esse
nível. O indicador taxa de escolarização líquida, por sua vez, identifica o percentual da
população matriculada em determinado nível de ensino na faixa etária teoricamente
adequada em relação à população na faixa etária teoricamente adequada ao mesmo nível
de ensino (BRASIL, 2010, p. 35).
29
líquida o percentual da população da faixa etária de 18 a 24 anos graduada e que
está fora da escola, esse provimento correspondeu a 17,2%, em 2009.
O II PNE, previsto para o decênio 2011-2020, cujo Projeto de Lei nº 8.035 (BRASIL,
2012) foi aprovado pela Câmara somente em junho de 2012, após 18 (dezoito)
meses de tramitação, prevê uma meta ainda maior, qual seja: a de elevar para 33%
a taxa de jovens entre 18 e 24 anos matriculados no Ensino Superior. Apesar dos
avanços observados no acesso a esse ensino no País, o salto projetado pelo PNE
2011-2020, que define a elevação da taxa bruta para 50% e da líquida para 33% da
população de 18 a 24 anos, apresenta-se um tanto desafiador.
Mas não são somente os aspectos quantitativos a serem avaliados. O ProUni é,
realmente, uma alternativa efetiva para a democratização do Ensino Superior? Para
Catani et al. (2006), o ProUni
[...] traz uma noção falsa de democratização, pois legitima a distinção dos
estudantes por camada social de acordo com o acesso aos diferentes tipos
de instituições (prioridade para a inserção precária dos pobres no espaço
privado), ou seja, contribui para a manutenção da estratificação social
existente. (CATANI et al., 2006, p.137)
Se for levado em consideração o fato de que o ProUni, como política pública, abraça
a concepção de cotas, inclusive com a inserção dos alunos beneficiários em
programas de estágios, essas noções de falsa democratização e de reforço à
estratificação social podem ficar mais evidentes. Vale, portanto, repetir a pergunta:
[o]s alunos oriundos do ProUni não são capazes de concorrer em igualdade de
condições com alunos não bolsistas, para as vagas de estágio nas organizações, via
de regra a porta de entrada para o mercado de trabalho?
É importante salientar, entretanto, que o ensino de qualidade é um dos ingredientes
fundamentais do processo de geração de trabalho e renda e, portanto, as IES e o
Governo Federal precisam estar atentos a essa questão também para os alunos do
ProUni.
30
Tal fato desdobra-se em outra discussão. Andrade (2007) analisa a probabilidade de
programas como o ProUni reduzirem a qualidade da força de trabalho que está
sendo preparada nas IES privadas. Segundo ele,
[d]ependendo da curva de oferta e demanda, três possibilidades podem
ocorrer. Primeira: a mensalidade da universidade aumenta e o total de
alunos permanece o mesmo, quando a curva de oferta e demanda é
perfeitamente inelástica. Segundo: o valor das mensalidades não altera, e a
demanda pelos cursos cresce, quando a curva de oferta e demanda é
perfeitamente elástica. Finalmente, preço e quantidade aumentam,
quando a curva de oferta e demanda experimenta uma inclinação
ascendente. (ANDRADE, 2007, p. 678.)7
Dentre essas três possibilidades apontadas pelo autor, uma se refere à concepção
da relação entre oferta e procura: em função do aumento da demanda de alunos nos
cursos superiores, pode ocorrer aumento de preços das mensalidades e,
consequentemente, redução de alunos mais bem preparados, se eles evadirem em
função desse aumento. Com a redução de ingresso de alunos melhor preparados,
pode ocorrer uma redução da qualidade de formandos e, consequentemente, uma
queda na qualidade da força laboral. Andrade (2007) afirma que
[q]uando o programa é introduzido, há um aumento da demanda no setor
universitário […] Finalmente, preço e quantidade aumentam, quando a
curva de oferta e demanda experimenta uma inclinação ascendente.
Famílias não contempladas pelo programa são penalizadas, quando a
mensalidade da universidade aumenta. Algumas delas podem decidir por
retirar seus filhos da universidade. Se seus níveis de preparação são
inferiores aos dos filhos de famílias contempladas pelo programa que
receberam as bolsas, então o programa é capaz de melhorar a qualidade da
mão-de-obra, por promover a eliminação da restrição de crédito a
estudantes com melhor qualificação.
É mais provável, porém, que o nível de preparação dos indivíduos do grupoalvo seja inferior. Nesse caso, quanto mais inelástica for a curva de oferta e
demanda, maior será o aumento das bolsas, após a introdução do
programa, e mais indivíduos do grupo-não-alvo deixarão de ingressar na
universidade. Na medida em que eles forem substituídos por indivíduos do
grupo-alvo que reúne estudantes menos preparados, a qualidade da mão8
de-obra cai. (ANDRADE, 2007, p. 678)
7
Tradução, do autor desta dissertação, de: “[d]epending on the supply curve, three
possibilities can occur. First, university tuition rises and total number of university students
does not change, when the supply curve is perfectly inelastic. Second, price does not change
and quantity increases, when the supply curve is perfectly elastic. Finally, price and quantity
increase, when the supply curve has an upward slope.
8
Tradução, do autor desta dissertação, de: [w]hen the program is introduced, there is an
increase in demand in the university sector […] Finally, price and quantity increase, when the
supply curve has an upward slope.
31
Portanto, além do número de jovens que acessam o Ensino Superior no País, a
manutenção da qualidade de ensino nas IES privadas é também fundamental para
que o ProUni não seja reduzido a uma mera política de inclusão social, mas que
também resulte na formação de uma força laboral de qualidade, deixando os jovens
mais preparados para enfrentar os desafios da transição escola-trabalho, após a
conclusão do curso superior.
É dentro desta perspectiva que a presente pesquisa propõe-se a refletir sobre a
orientação profissional dos jovens beneficiados pelo ProUni no Centro Universitário
UNA,
visando
ao
seu
desenvolvimento
autônomo
e
emancipado,
suas
especificidades socioculturais e seu sucesso na transição do Ensino Superior para o
mundo do trabalho.
1.4 A juventude e o jovem das camadas populares
O tema juventude ganhou maior relevância nos últimos quinze anos. no Brasil. Seja
pelo envolvimento de pesquisadores, de gestores públicos ou dos movimentos
juvenis, as temáticas ligadas aos jovens passaram a marcar diversas pautas,
inclusive as das políticas públicas. O ProUni é um exemplo de política pública com
foco na juventude. A Política Nacional da Juventude (SECRETARIA NACIONAL DA
JUVENTUDE, 2014), implementada pelo Governo Federal, estabelece uma série de
desafios a serem vencidos com o objetivo de atender os anseios do público juvenil.
Esses sujeitos passam a ser percebidos como portadores de direitos e encarados
como protagonistas do desenvolvimento nacional (COSTA, 2006).
Non-target families are penalized when the university tuition rises. Some of them may decide
to withdraw their children from university. If their levels of preparation are lower than the ones
of the children from the target families who received the scholarships, then the program is
capable of increasing the quality of the labor force by eliminating the credit constraint of
better qualified students.
However, it is more likely that the level of preparation of the individuals from the target group
be lower. In this case, the more inelastic the supply curve, greater is the increase in tuition
after the program’s introduction and more individuals from the non-target group do not go to
university. As they are replaced by individuals from the target group who are less prepared
students, the quality of the labor force drops. (ANDRADE, 2007, p. 678)
32
Uma questão essencial emerge nessa discussão, a dificuldade de delimitação
conceitual da noção de juventude. A adoção de critérios como a faixa etária pode ser
limitante, pois se resume a uma etapa do ciclo de vida construído a partir de
matrizes socioculturais. Além disso, os critérios de idade para estabelecer os limites
da juventude divergem. Há países, especialmente os europeus, em que a juventude
é considerada ainda em idades mais avançadas (SPÓSITO, 2009). Organismos
internacionais também adotam tal prática. Para Margulis (2001), a idade aparece
como um dos ordenadores das atividades sociais, e tanto a idade como o sexo são a
base de classificações sociais. Entretanto, juventude vai muito além de uma
classificação por faixa etária ou por gênero e não há um padrão conceitual universal.
Tal abordagem é reforçada por Carrano (2007), ao afirmar que
[a]s idades não possuem um caráter universal. A própria noção de infância,
juventude e vida adulta é resultante da história e varia segundo as
formações humanas. Os estudos antropológicos nos mostram que os
sentidos dos relacionamentos entre as gerações se distinguem nos tempos
e espaços das sociedades. (CARRANO, 2007, p. 1)
Para Margulis (2001), é necessário considerar outros aspectos para delinearmos um
conceito de juventude, tais como a diversidade de situações sociais nas quais se
encontra o jovem nessa etapa da vida. Para o autor,
[e]s necesario, entonces, acompañar la referencia a la juventud con la
multiplicidad de situaciones sociales en que esta etapa de la vida se
desenvuelve; presentar los marcos sociales historicamente desarrollados
que condicionan las distintas maneras de ser joven. (MARGULIS, 2001,
p. 1)
Isso quer dizer que a juventude pode ser impactada por diferentes variáveis, entre
elas a idade, a geração, a classe social, o gênero e o contexto histórico-cultural. No
âmbito das gerações e da classe social a que pertencem, por exemplo, Margulis
(2001) afirma que, nas gerações atuais, os jovens oriundos das classes
economicamente e culturalmente mais favorecidas usufruem de uma moratória
social, podendo postergar, por algum tempo, sua entrada nas responsabilidades da
vida adulta, prolongar os estudos e adiar a constituição de família e a entrada no
mundo do trabalho. Esses jovens gozam de um contexto social protetor e com
menos exigências.
33
Melo et al. (2007) resgatam a noção de moratória social de Margulis (2001),
afirmando que é:
“[…] o prazo concedido a certa classe de jovens que lhe permite gozar de
uma menor exigência, enquanto completam sua instrução e alcançam sua
maturidade social e econômica”. É uma condição mais específica de jovens
da classe média e alta (com poder econômico e cultural), que se
incorporaram à universidade e postergaram sua inserção plena no mercado
de trabalho, e, por conseguinte, receberam a legitimidade social de seu
tempo livre. (MELO et al., 2007, p. 380)
Cabe ressaltar que Margulis (2001) exclui dessa condição de moratória social os
jovens inseridos no mundo do trabalho e que constituem família logo cedo, por
considerá-los adultos, além de jovens. Em geral, são jovens oriundos dos extratos
sociais mais baixos.
Esse conceito ampliado de juventude também é corroborado por Carrano (2007), ao
afirmar que a juventude precisa ser compreendida com uma complexidade variável,
assumindo contornos distintos, de acordo com o espaço de tempo e meio social nos
quais reside. Portanto, o jovem não é entendido como uma categoria social com
características homogêneas. Ele pertence a um grupo com características flutuantes
e que variam constantemente, de acordo com os movimentos da realidade
(CARRANO, 2007).
Seguindo essa mesma lógica, diversos autores e pesquisadores caminham na
mesma direção; qual seja: a de entender e estudar os jovens tendo como pano de
fundo a realidade na qual estão inseridos e do mundo em que vivem, “... e não
apenas comparados a grupos que viveram em outras décadas ou a certos modelos
ou padrões de comportamento tornados hegemônicos” (SCHWERTNER; FISCHER,
2012, p. 398).
Portanto, não cabe falar de juventude no singular, mas de “juventudes”, uma vez que
não há consenso sobre a faixa etária que define esse conceito, que também é
histórico e variável do ponto de vista social e cultural. No Brasil, também há
diferença de critérios considerando-se aspectos jurídicos, referências usadas em
censos estatísticos ou as praticadas pelas políticas públicas.
34
É nesse sentido que Dayrell (2003) enfatiza a noção de juventudes para destacar a
pluralidade de modos de ser jovem, existentes no meio social atual. Em seu estudo
entre jovens das camadas populares, esse pesquisador sinaliza diversos modos de
ser jovem, com suas inúmeras especificidades e características e ressalta que a
juventude não é uma passagem, mas um processo influenciado pelo meio social e
pelas trocas realizadas entre o jovem e esse meio. Nas palavras do autor,
[...] construir uma noção de juventude na perspectiva da diversidade implica,
em primeiro lugar, considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas sim
como parte de um processo de crescimento mais totalizante, que ganha
contornos específicos no conjunto das experiências vivenciadas pelos
indivíduos no seu contexto social. (DAYRELL, 2003, p. 42)
Melo et al. (2007) adotam os seguintes critérios para delinearem quem é o jovem:
[...] (a) a busca de participação ativa na sociedade, com a superação das
mudanças biopsicossociais da adolescência (por exemplo, término da
puberdade) e a conscientização cada vez maior do seu papel social; (b) o
início da formação de uma identidade profissional, que diz respeito ao
contato e ao compromisso com uma determinada área de trabalho; (c) a
capacidade decisória sobre sua vida pessoal e profissional, sem,
necessariamente, depender da opinião familiar; (d) o processo de
construção da independência financeira, para uma possível separação
plena da família de origem. (MELO et al., 2007, p. 380)
Oliveira, Rios-Neto e Oliveira (2006) lembram que a literatura sociológica defende
quatro etapas no processo de transição para a vida adulta: 1) formar uma primeira
relação estável; 2) constituir uma família, inclusive tendo um primeiro filho; 3) sair de
forma definitiva da escola; e 4) encontrar um trabalho por meio do qual possa o
jovem obter os recursos materiais necessários para a sua subsistência e a de seus
dependentes. Para os mesmos autores, a literatura econômica brasileira destaca a
entrada no mundo do trabalho como a principal ruptura nessa transição.
O destaque para a entrada no mundo do trabalho como importante marco conceitual
de juventude e a transição para a vida adulta encontra ressonância, também, em
Agulló-Tomás (1997), para quem o jovem é aquele indivíduo que, uma vez superada
a fase da adolescência, será reconhecido, socialmente, como adulto e independente
somente quando
[...] possuir um emprego relativamente estável e seguro, ou seja, quando a
sua inserção no mercado de trabalho tiver ocorrido de forma plena, após o
35
enfrentamento dos obstáculos socioeconômicos da sociedade em que vive
e aqueles advindos da sua relação com o mundo do trabalho. (AGULLOTOMÁS, 1997 apud MELO et al., 2007, p. 380)
À luz das diversas possibilidades de conceituação do que é ser jovem e da
juventude, a questão do ingresso no mundo do trabalho ganha destaque na literatura
sobre o assunto. O status de adulto só é socialmente aceito quando o jovem
participa ativamente da sociedade por meio de sua inserção no mundo do trabalho,
encontrando sua identidade profissional, gozando de autonomia para tomar suas
próprias decisões profissionais, bem como ganhando sua independência financeira
(MELO et al., 2007).
Por outro lado, vale ressaltar outro movimento no sentido de retardar o ingresso do
jovem no mundo do trabalho. Essa inserção, como exigência social para o alcance
de responsabilidades adultas, dá lugar à exigência de qualificação mais ampla desse
jovem antes se seu ingresso no mundo do trabalho, determinando, muitas vezes,
que ele estenda seus anos de estudo, inclusive passando pelo ensino técnico ou
superior. Ao mesmo tempo em que ele precisa ingressar no mundo do trabalho para
atender os anseios sociais também precisa qualificar-se cada vez mais.
Essa dicotomia leva a aspectos relevantes acerca das relações do jovem com o
mundo do trabalho, especialmente considerando o meio social no qual o jovem está
inserido. Se não há um conceito padrão de juventude ou uma homogeneização do
que é ser jovem em função de diversas variáveis que impactam essa definição,
incluindo o meio social e a história de vida do jovem, isso fica ainda mais nítido
mediante análise da relação do jovem com o mundo do trabalho.
O jovem, especialmente das camadas menos favorecidas, está mais próximo do
mundo do trabalho do que da escola, o que reforça a dicotomia supracitada. A
conclusão do Ensino Médio já é, em muitos casos, uma grande conquista, e
ultrapassar essa barreira por meio da prolongação dos estudos para o Ensino
Superior não é uma realidade para todos. Em muitos casos, o jovem é inserido de
forma precária no mundo do trabalho e não faz a transição para o Ensino Superior.
Essa questão está ligada a outra: a de que o tempo livre juvenil é o tempo legítimo
apenas para jovens privilegiados. Para a grande maioria dos jovens brasileiros, “a
36
possibilidade da fruição e o acesso aos bens simbólicos, às suas formas de
produção cultural, de expressão, de mobilidade e lazer, típicas do tempo livre,
estariam interditados” (SPÓSITO, 2009, p. 94). Para muitas famílias das camadas
populares, o jovem deve estar inserido no mundo do trabalho desde muito cedo, o
que lhe impede a prolongação dos estudos e o lazer.
A realidade dos jovens das classes sociais menos favorecidas é, muitas vezes, de
uma trajetória marcada por sofrimento e, em geral, por escassez de recursos. Desde
a infância, a desigualdade social interfere no percurso educacional desses jovens.
Trazem, quase sempre, um histórico de acesso ao ensino da rede pública, por vezes
precário, ou, então, de passagens por instituições educacionais particulares
noturnas frequentadas depois de jornadas cansativas de trabalho, perfilando um
itinerário de formação, via de regra, descontínuo e limitado, quanto aos recursos
encontrados. A baixa escolarização dos pais e a frágil imersão na cultura letrada
reforçam as debilidades desse percurso formativo.
Poucos desses jovens enxergam uma oportunidade de escolarização prolongada,
com acesso ao Ensino Superior, por exemplo; especialmente, ao Ensino Superior de
qualidade, que fica reservado a uma parcela da sociedade já favorecida. Snyders
afirma que “[…] a escola favorece os já favorecidos, socialmente favorecidos, exclui,
repele, desvaloriza os outros” (SNYDERS, 1977, p. 17). Não é novidade afirmar que
as instituições de Ensino Superior brasileiras com os melhores desempenhos
acadêmicos são, também, as que recebem jovens oriundos das classes sociais mais
favorecidas e que tiveram melhores oportunidades educacionais.
Conforme mencionado anteriormente, o ProUni resolve parte dessa questão ao
possibilitar a inserção desses jovens no Ensino Superior, mas não apresenta uma
solução para a distância entre a realidade sociocultural em que vivem e aquela
encontrada no ambiente universitário ou entre o percurso universitário e a transição
ao trabalho. Segundo pesquisa realizada com jovens universitários de camadas
populares, “o caminho percorrido pelos estudantes entrevistados até a universidade
é marcado pela solidão e pelo desenraizamento” (PIOTTO, 2010, p. 232). Muitos
jovens nem mesmo acreditam que poderão ter acesso ao Ensino Superior. Quando
o têm, não se sentem à vontade no ambiente universitário e não desenvolvem o
37
sentimento de pertencimento a esse universo. Piotto (2010) cita casos em que os
jovens, pertencentes a cursos superiores com alto grau de seletividade, sentiram-se
intimidados nas relações com seus colegas oriundos das classes mais favorecidas e
não estabeleceram laços de amizade ou convivência com eles. Um dos jovens
informantes da pesquisa afirma
[...] Era diferente! A gente era diferente. A gente se vestia pior, os meninos
chegavam e diziam que foram para Nova York, viajou, não sei o quê, a
gente (...) Até hoje eu não andei de avião, né! Então, já cria um abismo
socialmente entre nós e eles. E, não se juntou, simplesmente não se
juntava! (PIOTTO, 2010, p. 235).
Nessa pesquisa, alguns jovens relatam que a convivência se restringia à sala de
aula e mesmo assim, num ambiente acirrado de competição pelo melhor
desempenho acadêmico entre os colegas. Essa realidade levanta outro aspecto: o
da forma como jovens das camadas populares e os das camadas mais favorecidas
encaram suas relações. Em sua pesquisa, Piotto (2010) aponta para um maior
espírito colaborativo entre os jovens do primeiro grupo, enquanto os demais são
altamente competitivos.
Também nas situações de dificuldade e frustração, há distinções entre esses dois
universos. Piotto (2010) aponta, na pesquisa, casos em que jovens das camadas
populares foram mais solidários e colaborativos com os demais colegas. Tal fato
levanta outra discussão ancorada nas diferenças entre as capacidades dos jovens
das camadas populares e os jovens das camadas mais favorecidas. Possivelmente,
os jovens das camadas populares têm capacidades colaborativas e de resiliência
mais desenvolvidas, em função de suas histórias de vida. Atualmente, fala-se cada
vez mais em protagonismo jovem, em função da participação efetiva dos jovens nas
instituições e nos movimentos sociais. Os jovens das camadas populares são, em
muitos casos, engajados nesse contexto, o que lhes proporciona ainda mais a
habilidade de trabalhar em sistemas colaborativos. Em contrapartida, teriam pouca
familiaridade com práticas competitivas, que são as que costumam contar quando se
trata de disputar vagas em estágios.
Essa perspectiva encontra ressonância em Charlot (2000), quando apresenta a ótica
da “sociologia das diferenças” em seus estudos sobre o fracasso escolar, afirmando
38
que “essas diferenças se produzem em função da experiência que o aluno vive e
interpreta e que, na maioria das vezes, é vista não como “diferença”, mas como
“falta”” (CHARLOT, 2000 apud OLIVEIRA, 2000, p. 23). O autor ressalta que, de
forma geral,
[...] a análise do fracasso escolar considera que as crianças que não
aprendem, sobretudo aquelas dos meios populares, são vítimas de uma
carência de experiências que estão disponíveis às crianças da classe média e
então, concluem que estas crianças não aprendem porque “falta” a elas
essas condições de vivência e não porque tiveram trajetórias “diferentes”,
experiências de outra ordem. (CHARLOT, 2000 apud OLIVEIRA, 2000, p. 23)
Snyders (1977), em seu livro Escola, Classe e Luta de Classes, contribui para essa
reflexão, ao considerar uma perspectiva bastante interessante, denominada o “duplo
rosto das crianças do proletariado”. Ele retrata que a burguesia se satisfaz dando
ênfase a essa “falta” nas pessoas oriundas das camadas populares –
especialmente, nas crianças – e que toda diferença é interpretada como
inferioridade. Mas o outro lado desse rosto mostra especificidades e potenciais
ligados aos valores desses grupos, porque:
[...] se esta criança reage pior às experiências escolares, é só porque ela é
distinta da criança burguesa, por isso, não deve ser considerada como uma
“criança burguesa inacabada”, com fraco êxito; ela é diferente, representa
outra forma de equilíbrio e coerência. Sua cultura possui uma especificidade
ligada aos valores populares: os pais operários passam a vida a manipular as
coisas, e não as idéias, suas práticas educativas são absolutamente
coerentes com as suas condições de vida. (OLIVEIRA, 2013, p. 31.369)
Para Freire (1991 [2006] apud PELUSO et al., 2010, p. 257), desde a infância, as
experiências trazidas pelas crianças, suas vidas e suas histórias devem ser
consideradas. Todos esses registros constituem, inclusive, parte das identidades
pessoal e profissional dos jovens. Nesse momento da vida, os desafios para a
construção das identidades tornam-se mais fortes, e a busca por respostas para as
perguntas quem sou? e como me aproximo e me diferencio do outro? torna-se
presença constante (SOUZA, 2004, p. 60).
Essa realidade diferenciada e contraditória, caracterizada por negatividades, mas,
também, por positividades, não pode ser esquecida, quando se busca compreender
e intervir no processo de transição escola-trabalho dos jovens oriundos das
camadas populares.
39
1.5 - O processo de transição escola-trabalho e um novo olhar para a
orientação profissional
A transição escola-trabalho, mais especificamente a transição do Ensino Superior
para o mundo do trabalho, é uma das questões centrais na vida do jovem
universitário e muito marcante no seu ingresso na vida adulta. Trata-se de um
momento que muito contribui para a construção da identidade profissional desse
jovem. Sarriera e Verdin (1996 apud MELO et al., 2007, p. 382) consideram que
esse momento de transição é “crítico para o desenvolvimento da juventude, porque
certas implicações – como a perda da condição de aluno e do apoio da escola, a
perda da influência da família, pela necessidade de o indivíduo construir uma
identidade própria.”
Nesse sentido, é importante destacar o processo de construção de identidade do
jovem. Nessa etapa da vida, o indivíduo precisa de autorreconhecimento e, também,
do reconhecimento alheio, o que o coloca numa discussão que, segundo Souza
(2004), envolve quatro polos da identidade: 1) a identificação que o indivíduo opera;
2) a identificação por parte dos outros; 3) a diferença como o indivíduo se afirma; e
4) a diferença como ele é reconhecido pelos outros. Complementa a autora que
ninguém constrói a própria identidade sozinho e, para o jovem, essa construção
encontra desafios mais fortes nessa etapa da vida uma vez que o jovem precisa dar
respostas a si mesmo de quem ele é e como ele se diferencia do outro como
indivíduo ou como grupo. Além disso, na medida em que o campo de experiências
vividas é ampliado nessa fase da vida, a construção dessa identidade também é
impactada e o jovem precisa fazer escolhas; em geral, rápidas. Para Melucci,
[a]o se ampliar o campo da experiência, perde-se a segurança do
referencial de identidade. O sujeito sente que a certeza de uma direção final
lhe escapa, porém é impelido a escolher. Esta necessidade de escolher,
quase sempre, num quadro de escassez de tempo, pode tornar ameaçador
este destino de escolhas. Neste sentido, a aquisição de uma identidade
adulta pode ser entendida como a capacidade continuada de produzir nova
identidade, integrando passado e presente, na unidade e na continuidade
de uma biografia individual. (MELUCCI, 1991, p. 37 apud CARRANO, 2000,
p. 1).
A transição escola-trabalho caminha, portanto, de mãos dadas com a construção
das identidades pessoal e profissional do jovem, que precisa fazer escolhas cada
40
vez mais cedo e com maior rapidez e que carrega consigo uma carga de
expectativas e incertezas em relação ao seu futuro.
Interessante destacar essa noção de futuro no âmbito da juventude ou do jovem. Há
um conceito arraigado de que a juventude é uma condição de transitoriedade; ou
seja: uma passagem do passado para o futuro e que as ações do presente somente
se confirmarão com a realização de projetos futuros. É como se o presente fosse
uma mera transição e a juventude fosse sempre um “vir a ser”, nas palavras de
Dayrell (2003) e Carrano (2003). Os mesmos autores consideram isso como uma
forma de encarar a juventude em sua negatividade, aquilo que ainda não aconteceu.
Nessa direção, nega-se o presente como espaço válido para a formação e
construção da identidade do jovem (DAYRELL, 2003, p. 2). Essa abordagem reforça
o fato de que o jovem carrega consigo uma carga de expectativas em relação ao seu
futuro e que esse futuro está, também, ancorado na forma como ele fará sua
transição para o mundo do trabalho.
Essa transição não depende somente das capacidades individuais do jovem, mas é
impactada por outras variáveis, tais como a dinâmica dos mercados de trabalho e
dos sistemas educacionais nos diversos meios sociais e culturais (TARTUCE, 2006,
p. 1). Tartuce (2006) considera que a relação escola-trabalho pode variar de acordo
com o mercado de trabalho e de como os sistemas educacionais operam, citando
como exemplo países nos quais os cursos técnicos são mais valorizados e países
em que há uma preferência social pelo ensino geral, como é o caso do Brasil. Tais
aspectos podem impactar na transição escola-trabalho, porque, em casos como a
sociedade brasileira, que valoriza cada vez mais o Ensino Superior, a transição pode
ocorrer mais tarde já que o jovem precisará prolongar seus anos de estudo.
Dentro dessa perspectiva da transição e da inserção do jovem universitário no
mundo do trabalho, Gazo-Figuera (1996 apud MELO, 2007) aponta a necessidade
de
articulação
de
diferentes
variáveis
contextuais,
tanto
macro
como
microeconômicas. No âmbito das variáveis macroeconômicas, menciona a
quantidade e a qualidade da oferta e da demanda do mercado de trabalho; entre as
variáveis microeconômicas, estão: a titulação, a qualidade da instituição de Ensino
Superior e a dinâmica particular dos mercados de trabalho. Esse pesquisador
41
aponta, também, para os aspectos pessoais que devem ser considerados nessa
transição; entre eles:o gênero, a classe social, a procedência geográfica, o
desempenho acadêmico, a formação complementar, a construção da identidade
profissional e o significado subjetivo que o jovem, em transição, atribui ao trabalho.
Por fim, Gazo-Figuera destaca que o jovem graduado deve ser considerado o sujeito
ativo de sua própria inserção (GAZO-FIGUERA, 1996 apud MELO, 2007, p. 383).
Em sua análise do jovem como esse sujeito social ativo, Dayrell (2003) adota a
posição de Charlot, para quem “o sujeito é ativo, age no e sobre o mundo, e nessa
ação se produz e, ao mesmo tempo, é produzido no conjunto das relações sociais
no qual se insere” (CHARLOT, 2000 apud DAYRELL, 2003, p. 43). Esse sujeito
carrega desejos, expectativas e é movido por eles. Conforme abordado
anteriormente, essas expectativas e desejos serão projetados num futuro e em
consonância com as identidades pessoal e profissional do jovem.
Ao mesmo tempo, esse jovem é um sujeito e é um ser social, “com uma determinada
origem familiar, que ocupa um determinado lugar social e se encontra inserido em
relações sociais” (DAYRELL, 2003, p. 43). Para o autor, esse sujeito tem uma
identidade própria, é um ser singular, que tem uma história de vida, que interpreta o
mundo e dá-lhe sentido, assim como dá sentido à posição que ocupa nele, às suas
relações com os outros.
Nesse contexto é que a transição escola-trabalho pode apresentar diferentes
nuanças entre os jovens de estratos mais elevados e os oriundos das camadas
populares, uma vez que suas histórias de vida, suas origens familiares, suas
identidades profissionais, suas expectativas em relação ao futuro e a forma como se
enxergam no mundo são distintas. A realidade dos jovens das camadas populares
impacta na forma como se relacionam com o mundo do trabalho. Nas palavras de
Souza (2004),
[a] realidade da desocupação ou da ocupação precária transformou as
relações da juventude com o sentido do trabalho, gerando muitas
incertezas. Diante da baixa capacidade da economia brasileira em gerar
postos de trabalho, resta aos jovens, principalmente das camadas mais
pobres, os setores de serviços básicos (limpeza, segurança, garçom, etc.),
muitas vezes postos não assalariados ou sem registro formal. Assim, a
escassez de empregos torna os jovens um dos principais segmentos da
população ativa mais fragilizados. (SOUZA, 2004, p. 51)
42
Considerando esse contexto e a abordagem anterior de como os sistemas
educacionais podem interferir na transição escola-trabalho, Fresneda (2009) debate
em que medida habilidades adquiridas, nos diferentes sistemas educacionais, são
capazes de inserir o jovem no mercado de trabalho sem reproduzir a estratificação
social, promovendo igualdade de oportunidades. Nesse caso a autora analisa o
impacto do ensino vocacional nos resultados educacionais e profissionais
alcançados pelos jovens. Por um lado, ele pode ser uma alternativa eficiente para
reduzir o desemprego juvenil, mas, por outra via, ele é acusado de aprisionar os
jovens provenientes das classes baixas em ocupações sem perspectivas de
crescimento e que impedem o acesso futuro dos mesmos a níveis educacionais
mais elevados, reduzindo as chances de mobilidade social (FRESNEDA, 2009, p. 1).
O ProUni é, de alguma forma, uma resposta a essa equação ao possibilitar a esses
jovens o acesso a níveis educacionais mais elevados. Ainda assim, o processo de
transição da escola-trabalho dos jovens provenientes de estratos econômicos mais
baixos apresenta características específicas e limitadoras. A falta ou precária
experiência profissional desses jovens, a baixa qualidade da Educação Básica e o
contexto, muitas vezes penoso, da vida pessoal e familiar estão entre os fatores
principais que interferem nessa transição. Aliadas a essas questões, surgem ainda
as exigências do mercado de trabalho e a alta competitividade entre os egressos do
Ensino Superior na busca por uma oportunidade profissional em suas respectivas
áreas de formação. Ramírez (1994) afirma que esses jovens, para atenderem as
expectativas do mercado de trabalho, precisam ser capacitados em competências
específicas, entre elas o desenvolvimento de atributos pessoais como motivação,
disciplina, persistência e capacidade para tomar decisões. Os processos de trabalho
demandam atualmente, muito além das competências técnicas e formalmente
desenvolvidas
no
Ensino
Superior,
amplas
habilidades
cognitivas
e
comportamentais, tais como capacidade de abstração e de domínio de símbolos,
iniciativa, responsabilidade e trabalho em equipe. O mundo do trabalho não quer
mais um trabalhador especializado, mas multifacetado e polivalente, para lidar com
tarefas cada vez mais abstratas, complexas e imprevisíveis (TARTUCE, 2007, p.
57).
43
Em pesquisa conduzida por Melo et al. (2007) com jovens em processo de transição
para o mundo do trabalho, os jovens pesquisados aplicam categorias de respostas
que explicitam vivências de sofrimento durante esse período de transição, como a
desorientação, o desgaste e a incerteza. Em outras categorias as pesquisadoras
revelam
[...] a percepção do ambiente interpessoal e de relação do iniciante com a
realidade do mercado de trabalho percebida no período entre o estágio e o
início da vida profissional, sendo essas categorias o contexto de
competitividade e, por conseguinte, de falta de oportunidades ocasionada
pela alta demanda por vagas no mercado de trabalho. (MELO et al., 2007,
p. 387)
E tudo isso ocorre, muitas vezes, num ambiente hostil e de poucos recursos, como é
o caso dos jovens oriundos das camadas populares.
Nas palavras de Coimbra et al., “a complexidade do mundo do trabalho, associada à
sua permanente instabilidade, vem desafiar as formas tradicionais de encarar a
transição efectiva dos estudantes para o mundo do trabalho.” (COIMBRA et al.,
2006, p. 1). De fato, o mundo do trabalho contemporâneo apresenta novos desafios
aos jovens que nele ingressam. São diversas as dúvidas, entre elas a avaliação do
que são sucesso e realização profissionais, como medi-los e com base em que
critérios (COIMBRA et al., 2006). E esse processo de transição se reveste de uma
série de implicações psicossociais em diversos níveis e que influenciam, de alguma
forma, o modo como os egressos do Ensino Superior vivenciam e dão sentido à
construção de suas carreiras (COIMBRA et al., 2010). No ambiente do ensino
superior, as diferenças na qualidade de formação escolar básica bem como as
relativas ao repertório cultural entre os alunos pobres e os alunos pertencentes aos
estratos econômicos mais altos da sociedade ficam ainda mais nítidas. Isso torna o
processo de transição ou espaço de transição ao mundo do trabalho (RAMÍREZ,
1994) ainda mais árduo para os jovens das camadas populares.
Um estudo global, realizado, em 2012, com 352 (trezentos e cinquenta e dois)
profissionais de recursos humanos, em 46 (quarenta e seis) países, conduzido pela
Oxford Economics, em parceria com a consultoria Towers Watson, aponta que os
empregadores demandarão profissionais com as seguintes competências nos
44
próximos cinco ou dez anos: comunicação oral e escrita, domínio de línguas
estrangeiras; sensibilidade cultural e conhecimento do mundo digital.
Essas expectativas por parte do mundo do trabalho, a baixa qualidade na formação
básica e o repertório cultural diferenciado e distante do que tende a ser considerado
modelar deixam os jovens pobres em situação de desvantagem.
Nesse contexto, a orientação profissional surge como elemento essencial nessa
construção, especialmente para jovens oriundos das camadas populares que, após
a implementação do ProUni em 2005, passaram a ter acesso ao Ensino Superior em
maior escala e que pouco ou nenhum contato tiveram com programas de orientação
profissional ao longo de suas vidas. Isso se deve ao fato de esses jovens, ao
pleitearem vagas no mercado de trabalho, serem submetidos a testes, dinâmicas de
grupo e entrevistas, sendo avaliados e selecionados a partir de vieses pouco
favoráveis aos seus perfis socioculturais.
É o que pode estar acontecendo com grande parte dos beneficiários do ProUni nas
instituições de Ensino Superior brasileiras.
Historicamente, a orientação profissional no Brasil deu seus primeiros passos no
início
do
século
XX.
Pode-se
dizer que
a
regulamentação
dos
cursos
profissionalizantes nos setores do comércio, indústria e agricultura, na década de
1920 do século XX, ensejou a aplicação da Psicologia às relações de trabalho no
Brasil. Surgem, aí, os primeiros sinais de atenção da Psicologia às questões
relacionadas ao trabalho. Na década de 1940, a Fundação Getúlio Vargas cria o
Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP. Voltado para as camadas
mais favorecidas da sociedade e para a constituição de possível futura elite
dirigente, durante os primeiros dez anos de existência, o ISOP atuava na
implantação de técnicas de seleção e orientação profissional. O objetivo era o de
contribuir para a relação da pessoa com o trabalho, especialmente por meio de
estudos acerca das aptidões e vocações de cada um (ABADE, 2005). A partir da
década de 1980, a OP passa a ser discutida como processo no qual a escolha
profissional é determinada por diversos fatores, “a profissão e o indivíduo têm
45
caráter dinâmico e o coordenador o papel de informar e compreender a realidade
psíquica dos indivíduos” (ABADE, 2005, p. 16).
A partir da década de 1990, quando o ISOP foi extinto, os profissionais da Psicologia
percebem que a OP assume novos contornos, focando-se em outras direções: a
Psicometria, a perspectiva clínica e a perspectiva que valoriza as discussões sobre o
trabalho no modo de produção capitalista (ABADE, 2005).
Atualmente, o termo orientação profissional convive com diversos outros termos
recorrentes nas organizações e na literatura, tais como mentoring, coaching e
counseling. São iniciativas que embora estejam em consonância com práticas da
Psicologia, da Pedagogia e da Administração, propõem intervenções muitas vezes
sem levar em consideração os objetivos a serem alcançados e somente reforçam
jargões ditados pelas organizações (SILVA, 2010). Em muitos casos são iniciativas,
que seguem um padrão, que se esquecem de considerar o indivíduo, sua história,
seus registros, sua vida, suas vantagens socioculturais específicas. Essa proposta
homogeneizante de orientação profissional deixa de levar em consideração a
diversidade sociocultural dos sujeitos e, por causa desse olhar, não dá conta de
perceber que há diferenças entre os jovens das camadas populares e aqueles dos
estratos sociais mais elevados, que podem ser de valor fundamental. Nas palavras
de Bello (2008), verifica-se
[...] la debilidad de una Orientación homogeneizante, frente a la realidad de
un mundo global, diverso y multicultural. Atender la diversidad es el desafío
que la orientación aún no ha resuelto, ya que ésta plantea una multiplicidad
de conflictos y paradojas para las cuales no son válidas recetas específicas.
(BELLO, 2008, p. 3)
Os modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional podem ser
reducionistas, se confrontados com o processo de globalização e com a diversidade
humana em todas as suas dimensões. Podem, ainda, condicionar e limitar o
desenvolvimento e a criatividade individuais e, consequentemente, “delimitar o papel
que cada indivíduo deve assumir na construção do bem-colectivo” (DUARTE, 2011,
p. 145).
46
Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que
apresentam um extenso repertório de vida, habilidades e potencialidades, que
podem ser positivamente relevantes para as organizações do setor produtivo, mas
possivelmente desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de
recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem modelos de inclusão
tradicionalmente estabelecidos. Tais padrões tendem a ser replicados nos
programas de orientação profissional, em geral alicerçados em análises de perfil e
mapeamento de competências, realizados por meio de testes psicológicos. Tendem
a repetir o modelo de recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no
mercado de trabalho. E este modelo pode não atender os anseios e as
necessidades dos jovens das camadas populares que carregam registros de vida
muito distintos dos padrões pré-estabelecidos. De acordo com Machado (2009),
[...] o campo da Orientação Profissional se voltou, então, para a Psicologia
Diferencial e a Psicometria, e até hoje, parte significativa dos seus esforços
se centra no debate sobre concepções e aplicações de testes construídos
especialmente para aferir atributos como inteligência, aptidões, habilidades,
interesses e personalidade. (MACHADO, 2009, p. 90)
Para Machado (2009), as pessoas precisam, hoje, gerenciar não somente suas
escolhas profissionais, mas também o uso de suas capacidades e saberes. Na
perspectiva da autora, as pessoas são motivadas por interesses diversos, seus
próprios, das organizações e da sociedade em geral. Além disso, se encontram,
muitas vezes, em momentos de tensão e contradições e precisam, portanto,
compreender melhor o mundo do trabalho em que atuam e o meio social em que
vivem para que possam estar envolvidas numa atividade laboral decente
(MACHADO, 2009).
Dessa forma, faz-se necessário um novo olhar para a orientação profissional. Será
necessário mudar a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como
repensar seus objetivos e enfoques (DURANT, 2004, p. 21 apud BELLO, 2008).
Duarte (2011) propõe que seja uma “tentativa de encontrar e desenhar outras
formas de reflectir sobre a orientação enquanto processo de autoconstrução”
(DUARTE, 2011, p. 143). Enquanto processo de construção, a orientação pode tirar
partido de cada um individualmente, de acordo com suas experiências e história de
vida. Duarte (2011) propõe
47
[...] lançar um olhar para a orientação considerando as características e as
capacidades de cada um para, não perdendo a sua condição de elemento
activo e solidário numa cadeia histórica de onde emerge, nela se alimentar
para depois, com o conhecimento assim obtido, e integrando as suas
próprias experiências e as leituras que delas faz. Em síntese, dar
continuidade à mesma cadeia, projectando-a para o futuro. Continuando a
mesma linha de pensamento, procurando reflectir sobre a orientação
enquanto processo de construção, procure-se agora entender como a
orientação pode ajudar a tirar partido da experiência de cada um. (DUARTE,
2011, p. 147)
Trata-se, portanto, de potencializar o que os jovens já trazem de suas experiências
de vida (DAYRELL et al., 2003, p. 43). Pelo mesmo autor, o pleno desenvolvimento
ou não das potencialidades que caracterizam o ser humano vai depender da
qualidade das relações sociais com o meio no qual se insere e se as relações
sociais entre os jovens das camadas populares e o mundo do trabalho não
considerarem os registros de vida desses jovens, suas potencialidades que podem
passar invisíveis ou não apresentarem uma evolução no ambiente laboral.
Surge, então, a perspectiva de um novo olhar também para a orientação profissional
dos jovens oriundos das classes menos favorecidas. Machado (2009) propõe no
artigo “Orientação Profissional: a necessária renovação conceitual e reorganização
política” uma nova visão dos processos de orientação profissional. Segundo a autora
A Orientação Profissional, atualmente, se depara, assim, com a
necessidade urgente de buscar referências fora do seu contexto tradicional
de atuação e de si mesma como um campo de linguagem e testes que,
muitas vezes, são tomados como universais, para interagir com outros
campos, pensar junto e ser referenciada por pactos e alianças. (MACHADO,
2009, p. 91)
Este novo modelo de OP precisa considerar os contextos existentes, as culturas
locais, tendo sempre o sujeito no centro (DUARTE, 2011, p. 150). Nessa vertente,
não se pode desconsiderar, no trabalho de orientação profissional, a realidade
socioeconômica e sociocultural dos jovens das camadas populares e suas
vulnerabilidades (VALORE et al., 2012, p. 358). Na pesquisa realizada por Valore et
al. (2012) com jovens oriundos das camadas populares, constatou-se
[...] a relevância da orientação profissional na formação cidadã dos jovens,
pois
independente
das
restrições
impostas
pelas
condições
socioeconômicas desses jovens na construção de seus projetos de vida e
carreira, a realização de uma escolha consciente, autônoma, emancipada,
apresentou-se comum a todos os jovens participantes da pesquisa.
(VALORE et al., 2012, p. 361)
48
Afinal de contas, é próprio da natureza humana o desejo por escolhas conscientes e
que levem à auto-realização e, para os jovens oriundos das camadas populares,
isso não é diferente. Esses jovens também buscam a realização de projetos de vida
e de carreira e têm desejos de mobilidade social. O acesso ao Ensino Superior por
meio do ProUni é visto como uma oportunidade para atingirem esses objetivos. Em
pesquisa realizada com jovens, Camarano (2012) analisa que a escolaridade leva a
uma participação maior nas atividades econômicas e, consequentemente, a uma
renda mais elevada. Por outro lado, não estar no mercado de trabalho resulta em
menor rendimento médio domiciliar per capita, o que deverá afetar a frequência à
escola. O acesso ao Ensino Superior, portanto, pode, sim, ser a ponte para que
esses jovens alcancem seus objetivos pessoais e profissionais.
Todas essas reflexões fazem sentido quando confrontadas com o projeto
institucional do Centro Universitário UNA, que se propõe a ter foco na formação
integral de seus alunos em suas diversas dimensões, como indivíduo, como cidadão
e como profissional. Isso é importante para que cada um encontre seu caminho,
construa suas trajetórias de vida pessoal e profissional, sem perder sua identidade e
o sentido de si próprio (DUARTE, 2011). Além disso, como bem afirma Valore
(2012), a OP não pode ser uma intervenção isolada, por iniciativa apenas de
psicólogos em escolas e consultórios, mas deve estar articulada em rede com as
práticas sociais do corpo docente e dos profissionais em geral das instituições de
Ensino Superior. Para Valore, “[…] tal premissa parte do pressuposto de que a
transição para o mundo do trabalho não é tema exclusivo da OP, posto que
configura um trabalho mais abrangente que, em outros países, vem sendo
denominado de Educação para a Carreira” (VALORE et al., 2012, p. 414).
Esse papel de Educação para a carreira pode ser também o papel da instituição de
Ensino Superior como provedora de apoio ao jovem em transição para o mundo do
trabalho. Para Gazo-Figuera (1996 apud MELO, 2007) a instituição de Ensino
Superior precisa assumir um papel de apoio ao estudante para facilitar a inserção no
mercado de trabalho. Sugere, ainda, que, como política educacional, a instituição
deve criar uma estrutura informacional sobre a operação do mercado de trabalho
que possa ser utilizada tanto para decisões institucionais como também como
49
referência para os projetos profissionais dos estudantes. No âmbito da orientação
universitária, Gazo-Figuera (1996) sugere que
[...] o desenvolvimento de programas de orientação e de intervenção,
durante a fase de transição ao mercado de trabalho, que sigam as
seguintes recomendações: (a) aplicação em contextos próximos do aluno;
(b) treinamento em habilidades de tomada de decisão e busca de emprego;
(c) desmitificação de percepções e de conceitos que reforcem a conduta
passiva frente ao mercado de trabalho; (d) construção de programas de
desenvolvimento pessoal para estudantes com problemáticas específicas;
(e) integração a uma política de emprego que facilite a atuação em nível
microcontextual. (GAZO-FIGUERA, 1996 apud MELO, 2007, p. 387)
São iniciativas que podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a vida
adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os
obstáculos inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e
com que tenha mais oportunidades para alcançar seus objetivos de vida. Quando a
autora cita a necessidade de cuidado com jovens que tragam problemáticas
específicas, pode-se considerar, dentre eles, o jovem de baixa renda como aquele
que precisa de uma orientação que leve em conta suas vulnerabilidades.
Nesse contexto, a instituição de Ensino Superior precisa repensar o seu papel diante
das transformações no mundo do trabalho, no sentido de levar em conta questões
relevantes enfrentadas pelos jovens no mercado de trabalho atual, que necessitam
ser refletidas criticamente, durante o seu processo de formação, e incluir, em suas
atividades acadêmicas, projetos voltados para a inserção do graduando no mercado
de trabalho, considerando-se as vivências dos jovens nesse período de transição.
Um programa de orientação profissional que leve em conta todas essas questões e
as particularidades do jovem de baixa renda pode não só oferecer maior suporte
institucional a esse jovem, mas, efetivamente, colocá-lo em uma posição mais
favorável e competitiva em relação às demandas do mundo do trabalho (MELO et
al., 2007, p. 388).
Essa orientação, conforme já abordado, deve considerar os aspectos pessoais
desse jovem. Em sua pesquisa, Melo (2007) observou que os jovens percebem, com
maior frequência, que as dificuldades para conquistar uma oportunidade no mundo
do trabalho estão ligadas mais à responsabilidade do indivíduo do que propriamente
ao contexto econômico, político e social do País. Esses jovens, se aprendessem a
50
planejar a sua carreira antecipando-se às tendências do mercado de trabalho,
provavelmente, reduziriam suas vivências de angústia e incertezas e se tornariam
indivíduos com mais iniciativa e visão ampliada das oportunidades ligadas ao
trabalho e não, necessariamente, ao emprego, o que os tornaria mais
empreendedores e sujeitos ativos de seus projetos de carreira (MELO, 2007, p.
389).
Na ótica de uma orientação profissional ofertada pela instituição de ensino, essa
responsabilidade individual pode ser trabalhada de forma que o jovem encontre seu
próprio caminho e mostre seu potencial ao mundo do trabalho, especialmente aos
recrutadores em processos seletivos das organizações em geral.
Embora o foco da orientação profissional individual seja um dos caminhos, a
instituição de ensino poderia também desenvolver projetos de extensão e pesquisa
mais coerentes com as necessidades do mercado de trabalho, introduzindo o jovem
mais cedo no contexto em que irá atuar como profissional, preparando-o em
aspectos psicossociais (identidade profissional, imagem pessoal, socialização
organizacional, etc.), que interferem no projeto da carreira. Assim, a Universidade
poderia oferecer um programa de orientação profissional e de preparo para o
trabalho, uma vez que muitos jovens mudam de curso ou pela falta de maturidade
para a escolha da profissão ou pelas oportunidades que vão aparecendo na sua
vida.
Portanto, é fundamental olhar para os jovens oriundos das camadas populares no
momento de transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho com outra
proposta de orientação profissional, conduzida e apoiada pela instituição de Ensino
Superior e que leve em conta o preparo para essa transição, alicerçado em suas
habilidades e saberes, e que se proponha a realizar a conscientização de
profissionais de recursos humanos das organizações. Trata-se de buscar referências
e de realizar reflexões sobre como dar mais um passo importante para a verdadeira
inclusão social dos jovens das camadas populares e beneficiários do ProUni.
Significa franquear a esses jovens não somente a oportunidade de acesso ao
Ensino Superior, mas de dar continuidade ao seu desenvolvimento como indivíduo,
51
cidadão e profissional, proporcionando uma transição para o mundo do trabalho de
forma autônoma e emancipada, valorizadora de seus atributos socioculturais,
promovendo uma melhoria em sua qualidade de vida e, consequentemente, o
próprio desenvolvimento local.
52
2 RELATO DA PESQUISA COM ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, PROFESSORES E GESTORES DO
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA.
2.1 Introdução
A realidade da transição escola-mundo do trabalho dos jovens oriundos das
camadas populares carrega em seu arcabouço uma série de elementos subjetivos, o
que remete para a necessidade de se considerar a pertinência da abordagem
qualitativa de pesquisa. Segundo Minayo (1993), tal abordagem “[…] trabalha com
valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões.” Segundo a autora,
ela “adequa-se a aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos
particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensão e
capazes de serem abrangidos intensamente” (MINAYO, 1993, p. 247).
A escolha pela pesquisa qualitativa fêz, portanto, sentido, porque o objetivo geral da
investigação foi o de analisar percepções e propostas sobre elementos e dimensões
da orientação profissional de jovens das camadas populares e beneficiários do
ProUni, considerando-se a realidade da transição escola-trabalho e perspectivas de
inclusão social. Há, portanto, um aspecto que perpassa toda a pesquisa e reforça a
adequabilidade do estudo qualitativo que é o senso comum dos sujeitos com os
quais a pesquisa se propôs interagir. Para Minayo,
[o] senso comum pode ser definido como um corpo de conhecimentos
provenientes das experiências e das vivências que orientam o ser humano
nas várias ações e situações de sua vida. Ele se constitui de opiniões,
valores, crenças e modos de pensar, sentir, relacionar e agir. O senso
comum se expressa na linguagem, nas atitudes e nas condutas e é a base
do entendimento humano. Dado o seu caráter de expressão das
experiências e vivências, o senso comum é o chão dos estudos qualitativos.
(MINAYO, 2012, p. 622)
Dimensões quantitativas também foram consideradas. Como já mencionado no
primeiro capítulo, o ProUni tem sido objeto de pesquisas desde 2005, ano de sua
implantação. Assim, esta pesquisa se beneficiou da análise de alguns dados dessas
pesquisas, fazendo o recorte para o Centro Universitário UNA no município de Belo
Horizonte - MG. Realizou-se, assim, uma sistematização e análise da realidade do
53
ProUni a partir de dados do relatório do SisProUni, sistema de consulta elaborado
pelo MEC e de pesquisas acadêmicas sobre o tema.
A pesquisa de campo teve como referência as atividades de OP realizadas pelo
Núcleo de Carreira junto aos alunos de graduação do Centro Universitário UNA.
Essas atividades são conduzidas por um grupo de profissionais da Psicologia
Organizacional que atendem, em média, 700 (setecentos) alunos por ano,
promovendo uma série de encontros e análises de perfil profissional e
comportamental desses discentes.
A partir desses dados, foram discutidos os impactos e a pertinência desse programa
de orientação profissional na transição escola-mundo do trabalho, com recorte
específico aos alunos beneficiários do ProUni e oriundos das classes populares.
Nessa etapa, foram consideradas as particularidades socioculturais desses sujeitos
no que diz respeito à transição para o mundo do trabalho como egressos do Ensino
Superior.
Essas discussões foram conduzidas por meio da realização de três grupos focais,
prevendo-se um encontro de noventa minutos para cada grupo. O primeiro grupo
(GF1) foi composto pela equipe responsável pela OP no Centro Universitário UNA,
atualmente composta por cinco profissionais. O segundo grupo (GF2) foi composto
por quatro discentes beneficiários do ProUni, representando quatro diferentes cursos
e campi do Centro Universitário UNA. O terceiro grupo (GF3) foi composto por sete
participantes acadêmicos, representando os cinco institutos do Centro Universitário
UNA e sua coordenação acadêmica: cinco diretores de institutos, um coordenador
acadêmico e um docente.
Grupos focais são grupos de discussão que permitem diálogo sobre temas
específicos a partir de estímulos para o debate. Trata-se de uma técnica que permite
integração do grupo, favorece engajamento e troca de experiências e opiniões. Por
não ser estruturado com base em perguntas direcionadas individualmente, o grupo
focal permite, também, maior descontração entre os participantes, o que pode gerar
descobertas e novas ideias. Cabe salientar que o grupo focal também permite ao
pesquisador explorar não somente o tema em si, mas, ainda, como os fatos
54
relacionados ao tema são articulados, percebidos e confrontados no interior do
grupo, bem como os reflexos que o tema gera no cotidiano dos participantes
(RESSEL, 2008, p. 780). Conforme afirma Kind (2004),
[o]s grupos focais utilizam a interação grupal para produzir dados e insights
que seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos,
então, levam em conta o processo do grupo, tomados como maior do que a
soma das opiniões, sentimentos e pontos de vista individuais em jogo.
(KIND, 2004, p.125)
Portanto, o grupo focal, como técnica de coleta de dados, se mostra bastante
adequado para investigações qualitativas e foi pertinente para o propósito dessa
pesquisa.
Pretendeu-se, por meio dos grupos focais, promover discussões e conhecer a
opinião dos seus integrantes sobre a inserção dos jovens beneficiários do ProUni no
mundo do trabalho. A proposta foi conhecer as experiências vividas pelos sujeitos
participantes e sua percepção acerca do tema, identificando elementos novos ou
divergentes com relação às assertivas que balizaram o desenvolvimento do projeto
desta pesquisa.
Os grupos focais foram organizados de acordo com os perfis dos participantes. Os
roteiros de cada um deles estão registrados no APÊNDICE B.
O primeiro grupo focal foi composto por profissionais especialistas em orientação
profissional, todas com formação na área de Psicologia e que atuavam como
orientadoras de alunos de Ensino Superior do Centro Universitário UNA. O grupo
conduzia um projeto denominado Programa de Desenvolvimento de Carreira que
consistia na análise de perfil e mapeamento das competências de alunos oriundos
de todos os cursos e campi daquele centro universitário.
O segundo grupo foi composto por alunos beneficiários do ProUni, oriundos de
diferentes cursos e institutos do Centro Universitário UNA; quais sejam: Engenharia,
Direito, Farmácia e Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
55
O terceiro grupo foi composto por diretores dos campi Barreiro, Barro Preto,
Guajajaras, Betim, Contagem, Raja e Liberdade, o que permitiu uma cobertura
geográfica bastante abrangente. Além dos diretores acadêmicos, contou-se com a
participação de dois professores das áreas de Comunicação e Gestão.
A partir do próprio roteiro estabelecido e das respostas fornecidas pelos grupos
focais, foi possível categorizar grandes áreas, quais sejam: o perfil do aluno ProUni
e uma análise comparativa com os alunos não beneficiários do ProUni; o processo
de transição escola-trabalho; o processo de escolha e a orientação profissional e a
orientação profissional voltada ao aluno ProUni. Essas categorias levaram a
subcategorias que foram abordadas na análise que se segue.
2.2 O perfil do aluno ProUni e sua relação com os alunos não-beneficiários do
ProUni
O primeiro objetivo dos grupos focais era discutir o perfil do aluno ProUni e entender
se esse perfil difere dos perfis dos demais alunos.
2.2.1 Engajamento e comprometimento
Constatou-se que, para todos os participantes dos grupos focais, o aluno
beneficiário
do
ProUni
apresenta
um
perfil
de
elevado
engajamento
e
comprometimento com sua formação, com a faculdade e com os estudos.
Para P4 do GF1, o aluno do ProUni tem, realmente, maior dedicação aos estudos e
apresenta, em geral, destaques acadêmicos, sobressaindo-se em termos de
desempenho acadêmico.
Corroboram essa percepção as opiniões dos participantes do grupo focal GF3,
composto por professores e gestores acadêmicos. O participante P1 salienta que,
em um primeiro momento, não é possível fazer essa distinção entre alunos ProUni e
56
os demais, mas no decorrer do semestre letivo ela percebe, como professora, que o
aluno do ProUni apresenta um melhor desempenho acadêmico.
P4, também professor, afirma que a distinção entre aluno ProUni e os demais é
nítida desde os primeiros dias de aula, porque “ele é um aluno diferenciado”, mais
responsável. Ele, inclusive, refere-se àquele aluno que senta na frente em sala de
aula e não tem vergonha em dizer que é “proUnista”,9 porque, na visão do professor,
o aluno acredita que ser beneficiário do ProUni é um diferencial.
O professor P7 destaca que há distinções entre os alunos “proUnistas” de
bacharelado e os dos cursos de formação de tecnólogos. Segundo ele, nos
bacharelados, os alunos, em geral, são menos compromissados e, portanto, os
alunos do ProUni se destacam mais. Nos cursos de Graduação Tecnológica, essa
distinção é mais sutil, porque os alunos, em geral, já têm perfis que os caracterizam
como mais comprometidos com os estudos.
O participante P6, diretor de um dos institutos do Centro Universitário UNA, reforça
essa questão citando o exemplo de uma aluna de Comunicação, beneficiária do
ProUni, que se revelou como destaque no curso, mas observa que essa aluna não
revela ser do ProUni “[…] na conversa, nem nas roupas, nem na sua gestalt”.10
Nesse momento, P7, também professor de Comunicação, lembra que conquistas
como essa dependem do esforço do aluno do ProUni, já que ele teve menos
oportunidades na vida. Para esse professor, cursos como o de Cinema e Moda, nos
quais os perfis dos alunos apontam jovens oriundos de estratos sociais mais
elevados, a distinção entre eles e o aluno do ProUni é maior. Ele cita as viagens
internacionais e “bagagem cultural” como exemplos de vivências às quais o
“proUnista” não teve acesso. Retoma o exemplo da aluna destaque citada por P6 e
afirma que, ao se aprofundar a conversa com ela, percebe-se que ela não teve as
mesmas oportunidades dos demais alunos.
9
Doravante, neste trabalho, usa-se esse neologismo para se fazer referência a aluno
beneficiário do ProUni. Usa-se, também, alternativamente, para essa mesma finalidade, as
expressões “aluno do ProUni”, “aluno oriundo do ProUni” e “beneficiário do ProUni”.
10
Os excertos de informações dadas por informantes são transcritos conforme as
informações expressas por eles, ipsis litteris, e sua identididade é preservada.
57
A professora P2 ressalta, ainda, que o ProUni é um meio para realizar um sonho e
que, portanto, esse jovem enxerga no programa um “oportunidade de transformação
da sua vida” e, também, da de sua família. Dessa forma, para P2, ele não estuda só
pelo diploma, mas por algo mais amplo: uma oportunidade de vida. Outro ponto
levantado foi o de que o aluno do ProUni, por ser bolsista, é mais parceiro da
instituição e tem uma postura mais solidária em relação aos demais alunos.
Essa percepção corrobora outros relatos que destacam casos em que jovens das
camadas populares foram mais solidários e colaborativos com os demais colegas,
em circunstâncias diversas.
Vale salientar que realmente esses jovens buscam realizar seus sonhos e o curso
superior pode sim ser uma oportunidade de vida. O ingresso no mundo do trabalho
pode ser um importante marco conceitual da juventude e da transição para a vida
adulta, e esses jovens enxergam o acesso ao Ensino Superior como uma via para
entrada no mundo do trabalho.
Um ponto que surgiu na revisão teórica foi o de que a realidade dos jovens das
classes sociais menos favorecidas, muitas vezes, tiveram trajetórias marcadas pelo
sofrimento e, em geral, por escassez de recursos. E isso pode, muitas vezes, gerar
maior engajamento em oportunidades que são vistas como uma possibilidade de
mudanças da vida do jovem. Possivelmente ele enxerga a bolsa como uma dessas
oportunidades.
P4 destaca outra questão, em relação ao perfil do aluno “proUnista”. Para ele, essa
distinção pode não ser muito nítida numa instituição como o Centro Universitário
UNA, na qual o perfil dos alunos é, em geral, de baixa renda, mas ressalta que, em
uma escola mais elitizada e que também acolha bolsistas ProUni, essa distinção
poderá ficar mais nítida.
Na visão dos próprios alunos bolsistas do ProUni, participantes do GF2, eles se
enxergam mais comprometidos e engajados do que a maioria dos demais alunos,
mas por uma questão objetiva: precisam obter notas altas, como forma de garantia
58
de manutenção da bolsa, o que abriu ensejo para um novo debate; qual seja: o do
desempenho acadêmico do aluno “proUnista” em relação aos outros alunos.
2.2.2 Desempenho acadêmico
Os participantes dos três grupos focais fizeram referência à necessidade do aluno
do ProUni apresentar, constantemente, um bom desempenho acadêmico, uma vez
que, para conseguir a bolsa e mantê-la, ele precisa obter uma boa nota no Enem e,
posteriormente, resultados acima de oitenta por cento ao longo do curso superior.
Para P1 do GF1, esse jovem já vem com um histórico de vida de dedicação e
comprometimento com os estudos, porque conquistar uma bolsa integral, num
ambiente bastante concorrido, não é fácil.
Esse mesmo ponto foi levantado por P3, professor participante do GF3. Segundo ele
a questão da nota reforça “a necessidade de entregar mais”. Ele ressalta que, como
professor, tem uma visão menos “romântica” sobre o desempenho desse aluno; ou
seja: o comprometimento vem da necessidade de se obter um desempenho acima
da média.
Possivelmente essa necessidade de comprometimento com o bom desempenho
acadêmico reforça a fala de P6 quando afirma que o aluno do ProUni é “mais aberto,
mais propenso a buscar, a correr atrás”. Para ele esse é um diferencial competitivo
para o aluno do ProUni.
Conforme mencionado anteriormente, segundo a visão dos alunos “proUnistas”
participantes do GF2 não há distinção entre alunos “proUnistas” e os demais, exceto
pelo fato de precisarem ser mais dedicados em função das notas que precisam
obter. Os alunos do ProUni são mais preocupados com desempenho acadêmico. Os
alunos do GF2, portanto, enxergam maior engajamento por parte deles meramente
em função da necessidade de obterem resultados acadêmicos elevados e não por
serem “diferentes” dos demais alunos.
59
Um contraponto interessante surgiu quando se perguntou ao grupo se esse
engajamento e comprometimento diferiam do aluno que não era ProUni, mas que
financiava seu curso superior e que também tinha como pré-requisito obter notas
acima de setenta e cinco por cento.
A participante P3 do GF1 comentou então que na percepção dela esse engajamento
não decorria do fato de ser ou não beneficiário do ProUni, mas sim da história de
vida do indivíduo. Ele sempre foi comprometido e dedicado aos estudos e como
consequência conseguiu a bolsa do ProUni e não o contrário. Ela acredita que o
ProUni pode sim contribuir para uma maior dedicação, mas não é a única razão, já
que isso vem do próprio indivíduo e de sua história de vida.
Nesse sentido P4 do mesmo grupo focal afirmou conhecer um aluno beneficiário do
ProUni que vivia em um aglomerado urbano de baixa renda e apresentava alto nível
de engajamento político e nas atividades da comunidade, exercendo até um papel
de liderança local. Isso, por si só, já indicava histórico de vida de um indivíduo
engajado com as questões sociais. Ela acredita que esse histórico pessoal
contribuiu muito para que ele fosse aluno destaque do ProUni, com notas e
desempenho acadêmico altos. Para P3 e P4, portanto, o perfil engajado decorre
mais da história de vida do indivíduo do que pelo fato de ele ter conquistado a bolsa
do ProUni.
P1 do GF3 também salienta que ele tem um bom desempenho não somente pelas
notas, como pré-requisito, valorizando muito essa oportunidade e tem “vontade de
estudar”.
P4 destaca que o aluno ProUni tem melhor desempenho porque ele carrega desde
cedo essa história de engajamento nos estudos e por isso conquistou a bolsa.
Embora essa seja a percepção dos professores e profissionais de OP, os próprios
alunos não se enxergam dessa forma e não se acham mais comprometidos por uma
questão de história de vida. Conforme observado anteriormente, para esses alunos,
o comprometimento com o desempenho acadêmico deve-se exclusivamente à
60
necessidade de manterem médias de rendimento acadêmico acima de oitenta por
cento.
Outro ponto que também surgiu na discussão do grupo foi de o aluno ProUni nem
sempre precisar trabalhar para pagar os estudos, já que muitos recebem bolsa
integral, o que os difere dos demais alunos não beneficiários, que precisam trabalhar
para arcar com os estudos. Desse fato, decorre que o aluno ProUni tem mais tempo
para os estudos e, portanto, maiores chances de apresentar melhor desempenho
em relação aos demais alunos.
2.2.3 A integração com os colegas
Um ponto que foi levantado nas discussões diz respeito à integração do aluno do
ProUni com os demais colegas; isto é: se o aluno do ProUni integra-se com os
colegas de turma.
Os participantes do GF2, alunos do ProUni, consideram que a integração com os
colegas é boa; muitas vezes, nem mesmo mencionam que são do ProUni. Para o
grupo, há uma visão, por parte dos colegas, de que o aluno “proUnista” é “mais
inteligente”, mas, ainda assim, a integração é natural, como qualquer outro colega.
Para os alunos, não há qualquer dificuldade ou barreira nesse processo de
integração.
Para o grupo de professores e gestores, essa integração parece não ser tão
equilibrada, como a enxergam os alunos. O professor P6, por exemplo, lembra-se de
uma aluna “proUnista” do curso de Comércio Exterior da UNA que, recorrentemente,
sinalizava certo desconforto em sala de aula e na relação com os colegas, por nunca
ter tido experiências internacionais e vivências, como os demais alunos tinham. Vale
lembrar que o curso de Comércio Exterior está entre os mais elitizados desse centro
universitário e, por esse motivo, pode apresentar contrastes socioeconômicos mais
explícitos. Essa visão é corroborada por Piotto (2010), que apresentou resultado de
uma pesquisa realizada com alunos universitários querelataram sofrer esse mesmo
incômodo.
61
O professor P2 lembra também de casos em que, por uma questão de zelo a
condição “proUnista”, ao passar em sala de aula para dar avisos ou colher
assinaturas de alunos em listas de presença, havia um cuidado em não expor os
alunos do ProUni para que não ficassem rotulados como de baixa renda; isto é:
estão todos ali na mesma condição, “no mesmo nível de igualdade”.
A professora destaca que pode haver algum nível de diferença entre os alunos
ProUni e os demais, mas que isso é “absolutamente velado”; não é explícito. Dessa
forma, ressalta que podem surgir conflitos, rejeição ou outros comportamentos
sociais nessa direção.
De toda forma, em geral, os participantes dos três grupos focais corroboram o fato
de que é boa a integração entre alunos do ProUni e os demais alunos, mesmo que
essa integração possa se configurar, em certos momentos, como uma questão
delicada.
2.3 A transição escola-trabalho
Na perspectiva da transição escola-trabalho, os grupos fizeram reflexões relevantes,
sumariamente comentadas a seguir.
2.3.1 As expectativas do mundo do trabalho
Diante do dinamismo do mundo de trabalho, exige-se do profissional uma série de
habilidades dentro da profissão escolhida, conforme assinalou P3, do GF1, porque
ele precisa desenvolver um rol de competências que o levarão a uma posição de
destaque e a um diferencial competitivo, uma vez que há competitividade no mundo
do trabalho e nas organizações que “não dá pra negar”.
Provocadas com a pergunta sobre quais diferenciais se referiam, P1 e P5, do
mesmo GF1, afirmaram depender da vaga e do cargo a serem ocupados pelo
62
profissional. A flexibilidade surgiu como primeira competência apontada por P1 e P3,
que se referiram a ela como aquela habilidade de atuar em diversas áreas e como
habilidade social ou comportamental de se adaptar a diversos cenários.
O
grupo
apontou,
também,
outras
competências
como
relacionamento
(interpessoal), habilidade de criar redes de relacionamento, uma vez que o jovem
profissional precisa mostrar-se à sociedade. Para o grupo, as organizações são,
atualmente, muito mais exigentes e esperam, nos processos seletivos para estágio,
um candidato polivalente e com um leque de atributos mais “requintado”.
Nesse momento, discutiu-se se há, por parte das empresas e do mundo do trabalho,
um rol de competências padronizado que é exigido dos candidatos a vagas de
estágio.
Ficou claro, no debate, que há, sim, um espelho de competências esperado pelas
organizações e que não há como fugir dele ou não abordá-lo junto aos estudantes.
Há um parâmetro de competências comportamentais observado nas ofertas de
vagas de estágio administradas pelas profissionais do GF1. O que ocorre é que,
muitas vezes, esse padrão é velado, mas existe um “clichê” do que se espera de um
candidato a vaga de estágio.
Na opinião de P2, do GF1, por erro do recrutador ou por hábito mesmo, ele repete o
mesmo padrão de avaliação dos candidatos e espera o mesmo perfil de todos;
aquilo que considera o perfil “ideal”.
Quando foi debatida essa questão com o GF3, o grupo de professores e gestores
corroborou o que fora dito pelas profissionais de OP, no sentido de que há
características predeterminadas, mas não há, necessariamente, um padrão, e que
para cada oportunidade no mundo do trabalho exige-se um perfil. Existem, portanto,
perfis definidos para cada empresa e cargo.
P2 acredita que as empresas querem um profissional completo, pronto, “quase um
Deus”, retratando uma expectativa distante da realidade, mas acredita que, em
63
geral, as empresas pedem um sujeito comprometido, responsável, que tenha atitude
e seja engajado: “[…] eu vejo que é um padrão, todo mundo quer”.
É interessante notar que é exatamente esse rol de características que os dois
grupos focais – o de profissionais de OP e o de professores – apontam como mais
presentes nos alunos beneficiários do ProUni e que não necessariamente são
observadas pelos recrutadores nos processos seletivos. O professor P1 citou um
exemplo ilustrativo de uma empresa que só recrutava jovens oriundos de estratos
mais elevados, com perfil socioeconômico e cultural elevados, domínio de Inglês e
de outros idiomas. Após dez anos, sentiram que esse perfil não era mais o
desejável, já que nem sempre esses jovens eram os mais comprometidos e, muitas
vezes, ficavam pouco tempo no cargo e ansiavam por uma progressão
excessivamente rápida. Por fim, decidiram mudar o perfil desejado para o de um
jovem que fosse efetivamente mais engajado e comprometido, independentemente
de seu repertório cultural ou de domínio de idiomas.
Outro ponto levantado pelos grupos é o de que os estudantes de um mesmo curso
terão acesso a uma mesma formação, mas isso não quer dizer que serão formados
da mesma forma. A participante P3, do GF1, cita um exemplo de alunos da
Engenharia cujo curso tem a mesma matriz curricular, as mesmas disciplinas e, em
um processo seletivo, o recrutador sabe o que o aluno já estudou até determinado
período do curso. Portanto, o que o recrutador fará é buscar os diferenciais
comportamentais e pinçar, entre os candidatos, aqueles que melhor se adequarem
ao rol de competências desejáveis pela organização recrutadora, de acordo com o
espelho previamente determinado.
Na visão do grupo de alunos participantes do GF2, o que as empresas mais exigem
é experiência prévia na área; isto é: buscam o jovem que já tenha tido alguma
vivência prática na sua área de atuação como estudante. Para eles, isso é
incoerente, uma vez que a busca pelo estágio é exatamente a busca por
conhecimento prático e experiência na área.
Outro ponto levantando pelos quatro alunos dos quatro diferentes cursos foi o de
que as organizações também valorizam muito os cursos extracurriculares,
64
certificações adicionais e domínio de idiomas. Para eles, o domínio de idiomas
deixou de ser desejável e passou a ser um pré-requisito quase obrigatório.
Observou-se que, diferentemente dos demais grupos focais, em nenhum momento o
grupo de alunos se referiu às competências comportamentais como sendo as mais
demandadas pelas organizações. O grupo ficou preso às competências e
habilidades técnicas.
Foi nesse momento que foi exibido um vídeo intitulado O candidato (2013), que
retrata um processo seletivo diferente, pautado em competências e habilidades
meramente comportamentais e com cunho de solidariedade e construção de
sistemas colaborativos. Após o vídeo, foi refeita a pergunta acerca do que eles
acreditavam serem as características exigidas pelas empresas ao contratar
profissionais. Dessa vez, elencaram o entusiasmo e a proatividade. Destacaram,
também, que o processo apresentado no vídeo esperava um candidato mais
humano, solidário. Para os alunos, poucas empresas adotam essa postura nos
processos seletivos, porque, em geral, estão mais ligadas ao currículo do aluno e às
competência técnicas requeridas para um cargo.
De certa forma, essa percepção mostra que os alunos conhecem pouco sobre os
processos seletivos das empresas, já que grande parte desses processos valoriza
mais as questões comportamentais do que as competências técnicas.
P3 compartilhou, então, uma experiência que teve em um processo seletivo de
empresa de grande porte na área de Engenharia. Ele relatou que passou nas
primeiras etapas do processo, mas que, nas etapas presenciais e de dinâmicas de
grupo, percebeu que os recrutadores separaram os candidatos que apresentavam
perfis mais “espontâneos”. Ele foi contratado, meses depois, e, em conversa com
seu líder sobre o que o levou a contratá-lo, o líder afirmou que foi contratado por
sorrir muito, por ser espontâneo. Ele achou interessante a abordagem do líder e
disse que, a partir daquele momento, passaria a “[…] prestar mais atenção em
algumas atitudes pra melhorar”.
65
Em seguida, perguntou-se, junto aos estudantes participantes do GF2, se
acreditavam possuir algumas daquelas características sugeridas no vídeo. Todos
concordaram que possuem como característica a iniciativa de ajudar. Nas palavras
de P2: “[…] quando eu trabalho eu vou tentar ajudar, é minha característica”. Ao se
abordar, novamente, com o grupo, após assistirem ao vídeo, se aquelas
características estavam presentes também nos demais colegas, o grupo continuou
com a mesma opinião, afirmando que não vê diferenças entre eles e que depende
de cada indivíduo; ou seja: eles não se enxergam como sujeitos mais solidários, se
comparados com os demais colegas.
Após assistirem ao vídeo, afirmaram, também, que tinham como característica a
determinação, em função da dificuldade de conseguir e manter a bolsa do ProUni,
única forma de que dispõem viabilizar os estudos em uma instituição particular de
Ensino Superior.
Para P2, aluno de Farmácia, criatividade, disposição e dinamismo são essenciais
para as empresas. Quando indagados sobre quais dessas características eles
tinham, P3 disse que tinha algumas; especialmente, dinamismo, “ter jogo de cintura”
e conseguir contornar algumas situações. P1 destacou ter como característica
principal a solidariedade, mas que precisaria ainda desenvolver muito outras
habilidades.
A estudante P1 ainda mencionou a postura como característica exigida pelas
organizações. Em seguida, todos concordaram que postura, a forma como o
profissional de relaciona com os pares, com seu líder, com clientes, é muito exigida
pelas empresas.
Outro ponto levantado pelo professor P6 no GF3, e que tem certa afinidade com
essa discussão, diz respeito ao fato de nosso modelo de ensino ser excessivamente
conteudista, desenvolvendo pouco as habilidades comportamentais dos alunos. Ele
aponta que o aluno “proUnista” é vítima desse processo, porque precisa estudar
muito os conteúdos para manter a média necessária à manutenção da bolsa e a
instituição não desenvolve nele habilidades comportamentais necessárias à sua
inserção no mundo do trabalho. Para esse professor, as seguintes habilidades são
66
demandadas pelas empresas: trabalho em equipe, relação interpessoal, habilidade
para fazer gestão de conflitos, comunicação, habilidade de autoapresentação.
2.3.2 O processo de transição e seus desafios
Quando foi abordado o tema do processo de transição escola-trabalho e seus
desafios, o grupo dos professores e gestores trouxe uma contribuição complementar
bastante convergente com a dos profissionais de OP. Para ambos os grupos, esse
processo de transição dependerá da trajetória que o aluno percorreu ao longo de
sua formação e das exigências do mercado de trabalho debatidas anteriormente.
Vale ressaltar que essa transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho, é
uma das questões centrais na vida do jovem universitário e muito marcante no seu
ingresso na vida adulta. Trata-se de um momento que contribui significativamente
para a construção das identidades profissional e pessoal, e o estágio é a porta de
entrada para essa nova etapa da vida dos jovens. Os estágios surgem como um dos
meios de realizar essa transição, mas o grupo destacou, ainda, trabalhos voluntários
e experiências de intercâmbio como sendo essenciais para essa transição. Essa
percepção se repete em todos os institutos do centro universitário, segundo a visão
dos seus respectivos diretores.
Nas Engenharias, o professor P6 destaca que o estágio extracurricular é muito
importante. Entretanto, o aluno do ProUni posterga muito sua entrada, porque, como
precisa obter notas mais altas do que os demais alunos, ele se vê obrigado a se
dedicar mais aos estudos do que ao trabalho. É comum o aluno “ProUnista” retardar
sua entrada no mundo do trabalho.
Esse é um fato que difere dos demais jovens das camadas populares. À luz do
conceito de moratória social – isto é: do tempo maior que o jovem oriundo das
camadas mais altas tem para ingressar no mundo do trabalho –, o mesmo não
ocorre com os jovens de baixa renda que, por necessidade, inserem-se no mundo
do trabalho mais cedo. Ao que parece, o bolsista do ProUni não se insere tão rápido
67
porque precisa estudar mais para assegurar o desempenho acadêmico que se
espera ou se exige dele.
Para os alunos do ProUni participantes do GF2, a dificuldade de inserção está
pautada na exigência de experiência por parte dos empregadores. Para os alunos,
experiência e cursos extracurriculares são os pontos mais relevantes para uma
contratação. Mais uma vez, constatou-se que o grupo atribuiu pouca relevância às
questões comportamentais.
É interessante observar que, mesmo quando provocados sobre outros fatores que
poderiam dificultar sua inserção no mundo do trabalho, os alunos mantiveram o
discurso da experiência prévia e cursos adicionais. Mencionaram, também, a
necessidade de domínio de idiomas.
Além disso, um dos pontos que dificulta a inserção do estudante no mundo do
trabalho por meio do estágio é que as organizações desejam estudantes com
experiência e exigem qualificações que os alunos ainda não possuem em sua
formação acadêmica. E isso vale tanto para alunos do ProUni como para os demais
estudantes. Para P2, do GF1, há um descompasso entre o que as empresas exigem
e a formação dos estudantes de Ensino Superior, o que pode causar certa frustração
a ambos os lados.
O GF das profissionais de OP trouxe ainda uma questão crucial nessa análise. Na
ótica de P1, o ProUni “é até um pouco perverso”, porque ele dá a oportunidade de
entrar no Ensino Superior, mas as histórias de vida, as oportunidades educacionais,
de inclusão social, de visão ampla de mundo e de vivências culturais dos estudantes
“proUnistas” diferem muito dos alunos oriundos dos estratos sociais mais elevados.
Essa realidade impacta na transição escola-trabalho se se considera que esses
jovens não apresentarão, necessariamente, o comportamento e o padrão desejados
ou pré-estabelecidos pelos recrutadores ou pelo mundo do trabalho.
É possível refletir que o ProUni resolve parte dessa questão, ao possibilitar a
inserção desses jovens no Ensino Superior, mas não apresenta uma solução para a
distância entre a realidade sociocultural em que vivem e aquela encontrada no
68
ambiente universitário ou entre o percurso universitário e a transição ao trabalho. Foi
colocada em discussão, então, a transição escola-trabalho; especificamente, do
aluno ProUni, e se ela se dá de forma distinta da que experimentam os demais
alunos.
O GF1 destaca que há distinções sim, uma vez que a formação do aluno oriundo de
estratos sociais mais elevados contemplou escola particular, acesso a cursos de
idiomas e/ou experiências internacionais. As profissionais de OP consideram esses
alunos parte de um grupo privilegiado, o que pode proporcionar seu melhor
desempenho em processos seletivos e maior facilidade de inserção no mundo do
trabalho. O aluno do ProUni que não teve acesso a esses recursos sente-se mais
intimidado ou com a autoestima mais baixa no momento dos processos seletivos,
“se sente menos”. Nessa mesma linha de pensamento, a professora P1, do GF3,
reforça que acredita que o aluno do ProUni possa ter “autoestima diminuída”.
Nesse contexto, P1, do GF1 destacou, ainda, que há um cenário preconceituoso em
relação a esse jovem oriundo das camadas populares, até mesmo na postura, na
apresentação, nas roupas, “[…] eu percebo que ela impacta nas seleções do
mercado porque a própria visão de mundo dele é diferente”. Especialmente, as
grandes empresas buscam o jovem com repertório cultural mais amplo, que tenha
viajado, dominado idiomas e que seja “mais articulado”. Na opinião de P2, isso
ocorre, de fato, porque o “[…] mercado é isso... o mercado é agressivo, o mercado é
competitivo”.
A abordagem da questão cultural encontrou ressonância no GF dos professores,
uma vez que consideram o berço cultural como dimensão essencial e facilitadora ou
dificultadora para uma efetiva transição escola-trabalho. Muito embora o grupo deixe
claro que isso independe somente da condição de ser aluno ProUni e,
consequentemente, de baixa renda, já que esse jovem também pode buscar seus
próprios meios para seu desenvolvimento nesse campo, os professores sinalizam
um tripé como eixo para uma boa transição: 1) berço cultural; 2) formação
acadêmica consistente e de qualidade; e 3) oportunidades econômicas de mercado.
No âmbito das variáveis macroeconômicas, é preciso levar-se em consideração a
quantidade e a qualidade da oferta e demanda do mercado de trabalho.
69
Para P2, no âmbito do berço cultural o aluno do ProUni precisará se esforçar um
pouco mais, porque ele apresenta, em geral, um “[…] déficit em relação às questões
culturais”.
P3 rebate defendendo que muito embora o aluno do ProUni não tenha tido as
mesmas oportunidades de acesso às questões culturais se comparado aos demais
alunos, hoje em dia, com a ajuda do mundo digital, é possível que esse aluno
percorra um vasto campo virtual cultural e crie seu próprio repertório nesse sentido.
Ele lança mão do termo “travar”, no sentido de que não é a condição
socioeconômica do aluno que travará o progresso ou o percurso dele, mas o que ele
faz com essa condição.
P2 menciona que, realmente, não irá travar, mas o aluno do ProUni terá que fazer
um esforço para enxergar essa questão, porque, no contexto social em que ele vive,
questões culturais não são marcantes e ele terá que questionar o modelo por ele
vivido, “[…] sabendo que ele pode construir uma história diferente da realidade
social dele”. Essa posição corrobora o que as profissionais de OP também
sinalizaram; ou seja: o aluno precisa querer sair desse lugar e promover seu próprio
crescimento. É uma questão, também, de atitude.
Portanto, para o grupo, berço cultural é uma questão cobrada pelos empregadores
em geral e que dificulta a transição escola-trabalho. Vale salientar que a pesquisa,
realizada em diversos países, e com diferentes profissionais de recursos humanos,
sobre a qual se discutiu no primeiro capítulo deste trabalho, deixa claro que a
sensibilidade cultural como competência para o mundo do trabalho é cada vez mais
exigida pelas organizações, no momento da contratação.
A equipe de OP sinalizou, ao final da discussão, que mesmo observando uma
tendência de dificuldade na transição escola-trabalho de alunos do ProUni e de
baixa renda, não é possível generalizar, porque isso depende do sujeito e de sua
história de vida.
Nessa perspectiva é que a transição escola-trabalho pode apresentar diferentes
dimensões entre os jovens de estratos mais elevados e os oriundos das camadas
70
populares, uma vez que suas histórias de vida, suas origens familiares, suas
identidades profissionais, suas expectativas em relação ao futuro e a forma como se
enxergam no mundo são distintas. A realidade dos jovens das camadas populares e
seus repertórios de vida impactam na forma como se relacionam com o mundo do
trabalho. E, conforme se viu em Ramírez (1994), no ambiente do Ensino Superior,
as diferenças na qualidade de formação escolar básica, bem como as relativas ao
repertório cultural entre os alunos pobres e os alunos pertencentes aos estratos
econômicos mais altos da sociedade, ficam ainda mais nítidas. Isso torna o processo
de transição ou espaço de transição para o mundo do trabalho ainda mais árduo
para os jovens das camadas populares.
Por fim, ressaltaram que políticas públicas como o ProUni promovem a inclusão no
Ensino Superior, mas não contemplam uma preparação do mundo do trabalho para
receber esses egressos do Ensino Superior que demandam particular atenção.
2.3.3 O potencial dos alunos ProUni
Considerando que o aluno do ProUni pode não possuir o rol-padrão de
características ou competências exigidas pelo mundo do trabalho, foi colocado em
debate o potencial desses estudantes frente às expectativas das organizações.
O GF1 acredita que o aluno do ProUni pode apresentar características oriundas de
sua história de vida, muito valiosas para as organizações, mas que não são vistas
pelo
recrutador,
que
avalia
somente
os
currículos
e/ou
comportamentos
padronizados esperados. Para P3, “[…] às vezes tá ali na mão uma joia, e você vai
abrir mão dele porque ali ele não mostrou todo o potencial dele”.
Quando perguntado sobre como esse jovem pode sair desse lugar, o grupo GF1
destacou que “[...] a gente tem que explorar o que ele tem de melhor”, porque a
condição dele, com poucas oportunidades, fez dele um sujeito com outras
habilidades comportamentais que podem, inclusive, suplantar as técnicas.
71
O grupo cita casos como o do jovem que precisou trabalhar desde cedo para ajudar
no sustento da família e isso o tornou mais comprometido, mais independente.
Muitas vezes, esse jovem precisou cuidar dos irmãos desde cedo e “administrar
essas crianças”. Esse jovem acabou vivendo uma realidade e “[…] às vezes na
experiência dele ele vai saber um pouco de tudo porque ele precisou saber um
pouco de tudo” e, se o mercado exige profissionais multifacetados, é possível que
esse jovem atenda aos anseios desse mercado de maneira mais efetiva do que
outros jovens que não tenham vivido nesse contexto.
Essas percepções levam à discussão ancorada nas diferenças entre as capacidades
dos jovens das camadas populares e as dos jovens das camadas mais favorecidas.
Possivelmente, os jovens das camadas populares têm capacidades colaborativas e
de resiliência mais desenvolvidas, em função de suas histórias de vida.
Atualmente, fala-se cada vez mais em protagonismo jovem em função da
participação efetiva dos jovens nas instituições e nos movimentos sociais. Os jovens
das camadas populares são, em muitos casos, engajados nesse contexto, o que
lhes proporciona ainda mais habilidade de trabalhar em sistemas colaborativos, o
que reforça sua habilidade em trabalhar em equipe, uma das mais expressivas
demandas do mundo do trabalho. Essa abordagem encontra ressonância em
Charlot (2000), quando ele fala da “sociologia das diferenças”, questão abordada no
primeiro capítulo desta dissertação.
Por outro lado, esses jovens demonstram pouca familiaridade com práticas
competitivas, que são as que costumam contar quando se trata de disputar vagas
em estágios. Dessa forma, o desafio, conforme mencionou P2, do GF3, é maior.
Para P3, do GF1, esse jovem é mais “descolado” e P5 cita como exemplo o filme
Quem quer ser um milionário? (2008), que retrata exatamente esse olhar para o
potencial de habilidades dos jovens das camadas populares.
P3, participante do grupo de professores, citou o caso de uma professora
incomodada com alunos de baixa renda por não possuírem um berço cultural, não
conhecerem um escritor ou artista plástico específico e que isso os limitava no
72
processo de desenvolvimento de um projeto. Em seguida, refletiram que o que, de
fato, contava era o repertório que eles traziam de suas vidas, aquilo que
vivenciaram, outras influências menos padronizadas e que podem trazer algo novo,
um novo olhar. Para o professor, corre-se o risco de se prender a modelos prontos e
padronizados, enquanto o “ponto chave está na atitude”.
O mesmo professor lembrou outro exemplo de uma aluna do ProUni que conquistou
um espaço relevante no mundo do trabalho e que há questões a serem
considerados, como o fato do aluno ter “[…] outros elementos que subsidiam um
acesso a cultura”. Esse professor salienta que o aluno oriundo das camadas
populares pode ter acesso à cultura por meios como a Internet ou atividades
gratuitas.
Duas questões ficaram claras nesse debate. A primeira é a de que existe outra face
dos bolsistas, com saberes não legitimados pelo mundo do trabalho, em processos
seletivos, e pelos recrutadores, mas que podem contribuir muito com as
organizações. A segunda é a de que é preciso entender e estudar os jovens tendo
como pano de fundo a realidade na qual estão inseridos e do mundo em que vivem,
e não apenas compará-los com certos modelos ou padrões de comportamento
hegemônicos.
Por fim, o grupo de profissionais de OP reforçou que o reconhecimento dessas
habilidades do jovem de baixa renda depende, em grande parte, de ele se
posicionar nas dinâmicas de grupo, nos processos seletivos e, ao mesmo tempo, de
o próprio recrutador ter sensibilidade para reconhecer essas habilidades e sua
importância para as organizações. Essa sensibilidade dos recrutadores é vital para o
reconhecimento dessas habilidades, uma vez que, ao pleitearem vagas no mercado
de trabalho, esses jovens são submetidos a testes, dinâmicas de grupo e
entrevistas, sendo avaliados e selecionados a partir de vieses pouco favoráveis aos
seus perfis socioculturais.
73
2.3.4 A escolha profissional
Uma questão relevante surgiu em relação às escolhas profissionais do aluno
beneficiário do ProUni.
Uma vez que a escolha do curso superior e da instituição de ensino depende da
nota no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio –, o aluno, muitas vezes, escolhe
não necessariamente o que quer ou sonha, mas o curso e escola onde é possível
conseguir a bolsa ProUni com os pontos obtidos no ENEM.
Para todas as participantes do GF1, o aluno ProUni não escolhe aquilo que sonha,
necessariamente, mas o que dá para escolher. E, como ele teve poucas
oportunidades na vida e inúmeras dificuldades, oriundas, muitas vezes, da baixa
renda, nas palavras de P5, “[…] a primeira que aparece ele se agarra”. Isso quer
dizer que, para o grupo, o aluno do ProUni nem sempre faz suas escolhas de acordo
com aquilo que sonha fazer no âmbito profissional, mas o que chega para ele como
única oportunidade, e ele tenta se adaptar, da melhor forma, com o melhor
desempenho possível, a essa oportunidade.
Quando provocado por uma nova pergunta em relação à orientação de escolha
profissional e se essa orientação poderia mudar a escolha do aluno ProUni, fazendo
com que ele abrisse mão da oportunidade conquistada em nome de tentar buscar o
seu sonho, o grupo afirmou que não acreditava nessa possibilidade. Para elas, o
aluno não abriria mão da oportunidade que surgiu, mesmo que essa não fosse
aquilo com que sonhara, mas a orientação profissional poderia ajudá-lo a se
apropriar melhor dessa escolha e até alertá-lo para as diversas possibilidades de
atuação dentro dela, já que o mundo do trabalho é dinâmico e permite
especializações e mudanças de (e dentro de uma) área de atuação.
Essa é uma questão delicada, porque os jovens precisam fazer escolhas cada vez
mais cedo e com maior rapidez, carregam consigo uma carga de expectativas e
incertezas em relação ao seu futuro e, ao mesmo tempo, ainda acabam escolhendo
aquilo que é possível escolher e não necessariamente o que desejam escolher,
considerando seus sonhos de vida.
74
2.4 A Orientação Profissional
Na perspectiva da orientação profissional e de seu conceito, P3, do GF1, afirmou
existirem dois pontos relevantes: o primeiro é o de alinhar o perfil do indivíduo com
as possibilidades de atuação profissional e, o segundo, o de ajudá-lo a compreender
a escolha feita e se apropriar dela.
Para P1, o jovem, muitas vezes, sabe que não fez sua escolha prioritária ou
preferencial por não conseguir nota suficiente no Enem, mas ter consciência da
escolha que fez pode ajudá-lo no percurso profissional, e esse é um dos papéis da
orientação profissional.
Outro ponto apontado por P3 é que a OP também contribui para que o jovem
entenda que suas escolhas não são definitivas e que dependem, também, do
momento de vida, e não somente do histórico de oportunidades surgidas ou de sua
história de vida. É possível fazer novas escolhas, especialmente em função da
dinamicidade do mundo do trabalho mencionado por P1.
Quando abordamos, então, a questão da OP específica para alunos do ProUni, o
grupo sinalizou que o primeiro passo é explicar como opera esse mundo do trabalho
e deixar o jovem consciente dessas exigências. Na opinião das profissionais de OP,
porém, essa abordagem não é só para o aluno do ProUni, mas para todos os alunos
que chegam para uma orientação. Para o grupo, o aluno do ProUni não precisa de
uma OP “com muitos dedos” e deve ser orientado da mesma forma que os demais
alunos.
Nessa perspectiva, o que se espera não é impor uma realidade padronizada do
mercado de trabalho, mas explicar que essa realidade existe, e considerando os
aspectos pessoais, de história de vida desse jovem, construir com ele um caminho
de que ele “dê conta”, que seja compatível com seus anseios e expectativas de vida.
Aproveitando a discussão sobre as dificuldades e exigências para inserção dos
estudantes no mundo trabalho, perguntou-se ao grupo de profissionais de OP como
se dava o processo de orientação profissional conduzido pelo grupo e se elas
75
abordavam as dificuldades apontadas e falavam das competências exigidas pelo
mundo do trabalho com os estudantes atendidos.
Para o grupo de OP, o processo de orientação profissional se dá de forma muito
individual, considerando-se o que cada estudante traz no momento da orientação
profissional. Por outro lado, o trabalho na OP considera, também, o que as
organizações esperam desse jovem profissional. Quanto à sua atuação como
profissional de OP, P3 afirma que mostra essa expectativa do mercado, mas
também leva em conta questões pessoais do estudante, sendo flexível para
considerar os dois lados. Não há como valorizar somente as potencialidades e
pontuar vulnerabilidades do estudante, sem mostrar a ele o que o mundo do trabalho
demandará dele como profissional.
Entretanto, o grupo procura não buscar a reprodução de pessoas iguais ou a
valorização dos rótulos do mundo do trabalho, durante o processo de OP. Elas
acreditam que, embora exista uma base de competências desejáveis, as empresas
também desejam um ambiente heterogêneo de profissionais, com características
diferentes e, ao mesmo tempo, complementares.
Um candidato a estágio pode não ter as competências exigidas, mas pode
apresentar outras características pessoais também interessantes para a organização
recrutadora. Para P3, o candidato pode ser ousado ou ter facilidade para aprender, o
que implica que ele, não tendo as competências necessárias, poderá desenvolvê-las
com agilidade.
A questão que dificulta o processo é que, na maioria das vezes, o recrutador não
observa bem – ou não tem oportunidade de conhecer bem – o candidato, com todo
o seu potencial e seus atributos pessoais, porque isso só ocorreria em uma
entrevista individual ou em uma dinâmica de grupo bem concebida e conduzida.
Para o grupo, essa avaliação mais individualizada dependerá da flexibilidade de
cada empresa e do recrutador, e o grupo concluiu que o trabalho da OP é, também,
fazer com que os estudantes com os quais trabalham mostrem seu potencial e
sejam escolhidos pelas organizações nos processos seletivos.
76
Nesse momento, P5 citou o exemplo de um aluno do ProUni atendido por ela. Ela
percebeu uma grande preocupação dele para se inserir no mundo do trabalho e
enxergou nele um aluno com posição de liderança em sala de aula. Entretanto, ao
relatar a participação do aluno em um processo seletivo de uma grande empresa,
ele destacou a dificuldade que teve ao participar da dinâmica de grupo, sentindo-se
intimidado e sem saber como se colocar no grupo.
Para os estudantes do GF2, a OP é muito importante. Todos já haviam participado
de algum trabalho de orientação profissional, sendo que P3 a fez dentro da UNA, por
meio das atividades do Núcleo de Carreira. Ele relata “[…] a melhor coisa que eu
fiz... me ajudou muito”. P3 trocava de empregos com frequência, sempre por
questões salariais e, para ele, a OP o ajudou a entender que as escolhas devem ser
pautadas em uma análise do todo, do “conjunto da obra”. Nesse sentido, a OP foi
muito assertiva.
Os demais participantes relataram participações em orientações ainda no Ensino
Médio, com foco na escolha do curso superior.
No âmbito da OP, os professores e gestores lembram que o professor tem um papel
relevante nesse processo, porque ele é de fato uma referência para o aluno. Ele
deveria fazer uma conexão com as questões do mundo do trabalho e enxergar, de
forma individualizada, os anseios e desejos do aluno. A partir daí, desempenharia o
papel de estimular e orientar o aluno nessa transição escola-trabalho. Poucos
professores, porém, conseguem, efetivamente, contribuir para esse processo,
ficando focados nos conteúdos programáticos de suas disciplinas.
Da mesma forma pensam os alunos do GF2. Quando indagados sobre a OP e o que
uma instituição poderia fazer para contribuir para a sua efetiva inserção no mundo
do trabalho, sinalizaram a importância do papel dos professores. Para esse grupo,
os professores podem trazer “a experiência de mercado deles pra dentro de sala”.
Além do professor, os alunos destacaram que as palestras, simpósios e encontros
são também importantes para essa transição escola-trabalho. Para P3, esses
eventos trazem para a faculdade a realidade do mundo do trabalho e suas
exigências. Seria uma “via de mão dupla”, em que o aluno passa a (re)conhecer as
77
exigências do mundo do trabalho e passa a “exigir um pouco mais da faculdade”.
Para ele, se o mundo do trabalho exige dele um perfil, a instituição também deve
fazer as mesmas exigências, em relação ao aluno, para que ele saia com o perfil
desejado pelas empresas.
Por outro lado, para o grupo, fica claro que cumpre à OP, também, fomentar e
provocar, nesse estudante, o desejo de mudar, “de quebrar esse discurso” de que
ele “nasceu assim”, de uma família pobre e com poucas oportunidades, e será
sempre assim. Para as profissionais do Núcleo de Carreira, a OP pode mostrar as
inúmeras
possibilidades
existentes
e
tirá-lo
desse
lugar do
sujeito
sem
oportunidades.
2.5 Considerações finais
Para Machado (2009), as pessoas precisam, hoje, gerenciar não somente suas
escolhas profissionais, mas, também, o uso de suas capacidades e de seus
saberes. Segundo ela, as pessoas são motivadas por interesses diversos: seus, das
organizações e da sociedade em geral. Ainda é possível que enfrentem situações de
tensão e contradições e precisam, portanto, compreender melhor o mundo do
trabalho em que atuam e o meio social em que vivem, para que possam se envolver
em uma atividade laboral decente. A OP, portanto, pode desempenhar papel
fundamental nesse processo; qual seja: o de contribuir com os jovens na gestão de
suas escolhas, capacidades e saberes, bem como o de minimizar suas inquietações
e situá-los no mundo do trabalho.
É essa a essência da proposta de intervenção que, a seguir, se apresenta. Entendese que iniciativas dessa natureza podem garantir ao jovem uma passagem mais
amena para a vida adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior
apoio social, os obstáculos inerentes ao período de transição universidade-mercado
de trabalho e com que tenha mais oportunidades de alcançar seus objetivos de vida.
E os jovens oriundos dos estratos sociais mais baixos, com problemáticas
específicas, precisam de cuidado, de uma orientação que leve em conta suas
vulnerabilidades e que mostre seu potencial frente às exigências do mundo do
trabalho.
78
3. UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PARA A ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL E
PEDAGÓGICA.
3.1 Introdução
Esta proposta de intervenção, um Protocolo de Orientação Profissional - ProUni, é
destinada ao Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, mas está aberta ao
conhecimento e à utilização por outras instituições universitárias interessadas. Ela
trata de princípios, diretrizes, ações e aspectos das estruturas física, institucional e
social para uma concepção de programa de orientação profissional fundamentado
nas identidades socioculturais e necessidades dos jovens beneficiários do ProUni,
visando à sua exitosa transição escola-mundo do trabalho.
A proposta da referida intervenção propõe um novo olhar para a questão da
orientação profissional a partir do tema da investigação, assim delineado: a
orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do ProUni
com foco nos desafios da transição escola-trabalho.
A questão foi problematizada na perspectiva de que a formação dos jovens
universitários das camadas populares e beneficiários do ProUni, compreendida na
ótica de uma positiva e efetiva transição escola-trabalho, requer que se considere a
oferta de um determinado tipo de orientação profissional fundamentado nas origens,
condições e identidades socioculturais desses jovens. Por outro lado, tal
compreensão sob o ponto de vista teórico e, sobretudo, da intervenção social e
pedagógica, ainda se mostra pouco esclarecida.
Por essa razão, decidiu-se aprofundar na discussão sobre o tema, atendendo-se aos
objetivos da presente investigação. Inicialmente, descreveu-se e analisou-se o
ProUni e suas configurações, considerando-o como uma política pública de inclusão
na Educação Superior. Em seguida, descreveu-se e compreendeu-se o processo de
transição escola-trabalho na atualidade, considerando-se as especificidades do
mundo do trabalho e das condições socioculturais de jovens universitários de
79
camadas populares. Conhecidos esses elementos, procedeu-se à descrição e à
discussão das possibilidades de inovação na orientação profissional com foco em
jovens universitários oriundos de camadas populares e beneficiários do ProUni, a
ser promovida pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de
Belo Horizonte - MG. Buscou-se conhecer percepções e propostas sobre elementos
e dimensões da orientação profissional de jovens de camadas populares e
beneficiários do ProUni, com o sentido de desenvolver uma contribuição técnica a
esse setor dessa instituição universitária, de modo a contemplar o desenvolvimento
desses jovens como sujeitos autônomos e emancipados na transição da Educação
Superior ao mundo do trabalho e a promover inovação social e desenvolvimento
local.
A temática estudada é de grande relevância social e espera-se que esta proposta de
intervenção também o seja. Buscou-se desenvolver um instrumental técnico
considerando-se a atividade de orientação profissional como um processo
educacional e a perspectiva de se inová-lo, contemplando seu sentido social e sua
importância para o desenvolvimento local. O estudo foi motivado, portanto, pela
necessidade de intervenção voltada para melhoria dos processos educacionais e do
percurso formativo e profissional de jovens universitários oriundos de camadas
populares, visando contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida, com reflexos
positivos no desenvolvimento local. Em outras palavras: a intenção é elaborar uma
proposta de intervenção relativa à orientação profissional de jovens oriundos do
ProUni no Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento pessoal autônomo
e emancipado e em atenção às identidades socioculturais desses sujeitos, com foco
na transição da Educação Superior para o mundo do trabalho.
Dúvidas surgiram no que se refere à especificidade da orientação profissional a ser
desenvolvida; especialmente, sobre os elementos e dimensões que precisam ser
considerados para que tal intervenção possa se caracterizar como uma inovação
social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do
desenvolvimento local. A partir dessa reflexão é que surgiu a questão central em
relação à proposta de intervenção: que elementos e dimensões precisam ser
considerados(as) na intervenção social e pedagógica da orientação profissional,
direcionada a jovens oriundos das camadas populares e beneficiários do ProUni,
80
para caracterizá-la como uma inovação social com pertinência educacional e em
consonância com os requerimentos do desenvolvimento local?
Apoiada nos dados e referenciais obtidos com a revisão teórica e pesquisa de
campo, esta proposta centra-se nos elementos considerados essenciais para uma
orientação profissional inovadora do ponto de vista social e pedagógico e
comprometida com o fortalecimento do ProUni como política pública de fundamental
importância para o desenvolvimento local.
Identificada como Protocolo de Orientação Profissional - ProUni, esta proposta de
intervenção foi construída a partir das seguintes interlocuções:
a) com a produção acadêmica expressa na revisão teórica sobre o tema;
b) com os dados sobre a evolução do ProUni no País e no Centro
Universitário UNA;
c) com o contexto e práticas do Centro Universitário UNA de
relacionamento com os jovens do ProUni; e
d) com a realidade sociocultural e educacional desses jovens.
3.2 Desenvolvimento
Algumas premissas oriundas dos grupos focais merecem destaque como
norteadoras dessa proposta de intervenção. Entre elas, está a necessidade de que o
aluno “ProUnista” compreenda o cenário do mundo do trabalho atual, reconheça
suas demandas e deseje sair do lugar de poucas oportunidades onde se encontra.
Mas acima de tudo, compreender que embora seu repertório de vida possa não
atender as demandas pré-estabelecidas pelas organizações e traduzidas nos
processos seletivos, sua história de vida permitiu e permite desenvolver outros
saberes e formas de agir também importantes para a sociedade e para o mundo do
trabalho, inclusive o das organizações.
81
Ou seja: é fundamental resgatar o que o pedagogo e cientista da Educação francês
Georges Snyders (1917-2011) chama de “dupla face do proletariado” (1977),
compreender a positividade do que é visto como negativo nas crianças e jovens das
camadas trabalhadoras. Esse outro lado precisa ser considerado, ganhar visibilidade
e, sobretudo, não ser motivo de autocomiseração dessas crianças e jovens. Nesta
proposta de intervenção, busca-se afirmar a importância do reconhecimento e da
legitimação dos saberes e expertises desenvolvidos pelos jovens ao longo de seus
percursos de vida e de trabalho, que se constituir em diferencial afirmativo dos seus
valores nas relações sociais e no contexto das organizações.
Esta proposta conta, também, com o suporte da perspectiva da “sociologia das
diferenças”, de Bernard Charlot (2000), professor titular emérito da Universidade
Paris VIII, professor catedrático convidado da Universidade do Porto, Portugal, e,
atualmente, professor-visitante da Universidade Federal de Sergipe, cujas pesquisas
e publicações têm sido uma referência para todos os que se interessam por
compreender a relação dos alunos com o saber e a escola. Charlot (2000) ressalta
que, especialmente com relação às classes menos favorecidas, a diferença cultural
tende a ser vista como uma falta, como resultado de carências. No contexto da
intervenção aqui proposta, o que se pretende é trazer à tona, destacar e valorizar as
diferenças que o jovem do ProUni carrega em seu repertório de vida e como essas
diferenças podem se constituir em diferencial positivo para si próprios, para a
sociedade e o mundo do trabalho.
É mister ressaltar que, esse processo de intervenção, no âmbito de uma orientação
profissional inovadora, cumpre considerar, também, que as “juventudes” são muitas,
que não há uma definição única do que é ser jovem. São muitas as juventudes e
todas carregam, ancoradas em suas histórias de vida, sonhos, desejos e
expectativas em relação à sua transição da Educação Superior para o mundo do
trabalho. Esse arcabouço de sentimentos também precisa ser considerado no
processo de orientação profissional direcionada ao jovem de baixa renda do ProUni.
Como política pública o ProUni pode promover a qualidade da inclusão na Educação
Superior, mas o olhar inovador para uma orientação profissional que atenda aos
anseios desse jovem pode promover efetiva qualidade de participação do mesmo
nos processos sociais.
82
Esta proposta de intervenção surge de uma experiência prévia com o programa de
orientação profissional desenvolvido pela equipe do Núcleo de Carreira do Centro
Universitário UNA. Ao perceber que não é possível replicar procedimentos e
orientações padronizados para utilização em larga escala, inclusive para jovens do
ProUni, surgiu a oportunidade de se pensar algo novo a partir da investigação
realizada.
Inicialmente, foi pensada na inovação de incremento; isto é: inovar a partir de um
modelo já pronto e aplicado. No entanto, o desafio mostrou outra perspectiva:
conseguir atender um número grande de jovens “proUnistas” sem perder o olhar
para a pessoa. No modelo em vigor, isso se mostra impossível. O desafio exigiu
descolamento dos modelos padronizados, pautados em análise de perfis,
mapeamento de competências por meios de ferramentas que rotulam e préestabelecem padrões comportamentais.
Surgiu, assim, a oportunidade para se pensar na promoção da inovação, o que
requer ruptura. Assim, esta proposta de intervenção se constitui modelo inédito, na
instituição, de orientação profissional, distante do modelo psicológico pautado na
lógica das competências e do ajustamento do indivíduo a padrões ditados pelo
mercado de trabalho. Em parceria do Núcleo de Carreira com a área de ensino a
distância do grupo Anima,11 esta nova proposta de orientação profissional prevê
momentos coletivos, bem como momentos individuais, presenciais e virtuais, o que
dará escala e a garantia de que todos os alunos “proUnistas” terão acesso ao
programa proposto. Além disso, ela considera a importância da análise do contexto
dos estudantes e de suas decisões, enxergando a orientação profissional
(doravante, OP) como um processo formativo para o desenvolvimento pessoal e
social e uma intervenção que deve ter caráter emancipatório, e não meramente
compensatório.
A proposta de intervenção contará, também, com a parceria do NAP – Núcleo de
Apoio Psicopedagógico – do Centro Universitário UNA. Entre os objetivos do escopo
de
trabalho
do
NAP
estão:
diagnosticar,
preventivamente,
dificuldades
comportamentais de alunos do Ensino Superior e a adaptação e acompanhamento
11
http://www.animaeducacao.com.br/.
83
aos alunos com realidades específicas; orientar sobre hábitos de estudo e
relacionamentos interpessoais - individual ou em sala de aula. A proposta dessa
parceria é deslocar de um campo único de linguagem e testes que, muitas vezes,
são tomados como universais, para interagir com outros campos. Pretende-se,
também, interagir com atividades extensionistas da instituição, por meio de projetos
que envolvam os alunos bolsistas e que reforcem seus atributos e saberes.
Portanto, a abordagem da proposta de intervenção se propõe a ser educativa,
dialógica, processual e integrada com a vivência escolar, inclusive com diferentes
áreas de apoio ao aluno.
3.3 Descrição detalhada da intervenção
Protocolo de Orientação Profissional - ProUni
Objetivos
1 Desenvolver junto ao aluno UNA beneficiário do ProUni, um programa de
orientação e planejamento profissional, proporcionando-lhe formação integral nas
dimensões pessoal, de cidadania e profissional e em conjunto com organizações e
instituições parceiras, considerando sua realidade sociocultural e educacional.
Esse objetivo geral se desdobra nestes, de caráter específico:
1.1 orientar acerca das características e exigências do mundo do trabalho e
dar suporte institucional em parceria com o NAP – Núcleo de Apoio
Psicopedagógico;
1.2 sensibilizar o aluno como sujeito de seu próprio percurso profissional e
como gestor do uso de suas capacidades e saberes;
1.3 promover o autoconhecimento por parte do aluno e realizar seu inventário
de saberes, considerando o que mais sentido faz para ele daquilo que ele
aprendeu em sua trajetória de vida;
84
1.4 estabelecer um plano de desenvolvimento individual, visando ao aumento
das chances profissionais do aluno, colocando-o em uma posição mais
favorável e valorizada em relação às demandas do mundo do trabalho; e
1.5 sensibilizar os recrutadores quanto ao potencial dos alunos do ProUni e
encaminhar os jovens às vagas em empresas parceiras.
Etapas
1ª) Em grupo – 2 encontros com 30 alunos por grupo.
Apresentação deste Projeto de Orientação Profissional com todas estas etapas:
a) sensibilização dos alunos por meio de dinâmica de grupo sobre o conceito de
carreira segundo a visão deles e suas referências de vida;
b) debate sobre mundo do trabalho, mercado de trabalho e carreira, abordando
aspectos específicos ao curso com a participação de um convidado externo;
c) aplicação aos alunos do inventário Âncoras de Carreira – questionário de
Edgar Schein, autor de Career Anchors: Discovering your real values (1990),
que tem por objetivo pesquisar a âncora de carreira do indivíduo; ou seja: o
que o motiva a buscar o seu desenvolvimento profissional. Baseia-se na
suposição de que a análise do momento presente da carreira e das decisões
futuras poderá ser mais fácil e ter mais valor se o aluno tiver claro
entendimento de sua orientação pessoal para o trabalho, seus motivos, seus
valores e sua autopercepção de saberes e recursos pessoais;
d) contrato de compromisso por parte do aluno em relação à sua participação em
todas as etapas do programa e início da criação do banco de dados dos
alunos participantes para controle e avaliação da participação de cada aluno;
85
e) dinâmica de grupo para apresentação e análise dos inventários de saberes
com o objetivo de conhecer os sentidos atribuídos pelo aluno às suas
aprendizagens, tais como capacidades de trabalho em equipe, comunicação,
persuasão, flexibilidade, liderança, relacionamento interpessoal, dentre outras;
f) dinâmica Passado / Presente / Futuro, para favorecer a percepção do aluno
sobre onde se encontra no presente e onde pretende chegar; e
g) autobiografia – 360 graus com família e círculo social: o aluno se apresenta e
é apresentado por um terceiro, à sua escolha (como me vejo, como o outro me
vê).
2ª) Etapas individuais – 40 horas de aula distribuídas ao longo do curso –
Modalidade EAD e presencial
Nas etapas individuais, o que se pretende é contextualizar o jovem face ao mundo
do trabalho e às suas demandas e orientá-lo individualmente, considerando-se sua
trajetória de vida e aspectos socioculturais. Nessa etapa, será utilizada, também, a
metodologia do inventário de saberes, com o objetivo de se conhecer os sentidos
atribuídos pelo aluno às suas aprendizagens. Ao final dessas etapas, o jovem
poderá ser encaminhado a oportunidades de estágio e emprego nas empresas
parceiras do Núcleo de Carreira.
As etapas individuais são divididas em 35h (trinta e cinco horas) de atividades
virtuais (ensino a distância) e 5h (cinco horas) de atividades presenciais com a
equipe do Núcleo de Carreira.
As atividades virtuais serão divididas em módulos e o aluno poderá realizá-las ao
longo de seu percurso formativo. Nesses módulos, serão tratados temas gerais
ligados ao mundo do trabalho, a expectativas dos empregadores e a planejamento
de carreira. Serão abordados os estes temas:
86
Módulo A - Inventário de saberes (presencial)
Nessa etapa, a Equipe do Núcleo de Carreira realizará, de forma individual, um
inventário de saberes, para, efetivamente, conhecer a trajetória de vida do aluno e
sua realidade, abordar aspectos social, afetivo, acadêmico e profissional do aluno,
bem como validar suas características e seus saberes percebidos nos demais
momentos do programa. O inventário de saberes é um instrumento que mostra o
que faz sentido para esse jovem e o que ele realizou ao longo de sua trajetória de
vida. Essa metodologia foi desenvolvida por Bernard Charlot (2000, 2011, 2013). A
análise do inventário de saberes pretende fazer uma leitura positiva da vivência dos
jovens “proUnistas” e reafirmar seus diferenciais.
Nessa etapa, será aplicado, também, o RH Profiler (2014)12 ferramenta eletrônica
que fornece informações individualizadas a respeito do perfil comportamental do
aluno, considerando-se quatro dimensões (Comunicador / Analista / Executor /
Planejador), e destaca a melhor área de atuação do estudante, sua forma de
atuação, influência no ambiente de trabalho, formas de tomada de decisão e
adequação do perfil à atividade profissional.
Inventário de Saberes
NÚCLEO DE CARREIRA
Centro Universitário UNA
Data: ____/____/____
Meu nome é:_________________________________________________________
Nasci em: ___________________________________________________________
Meu curso_______________________. Faço o ___ período, no turno da_____
Tenho ____anos e nasci no dia _____do mês de ___________ do ano de ________
Meu estado civil é ______________
Meu telefone e e-mail são:____________________________________________
Meu endereço é:_____________________________________________________
12
http://rhpro.com.br.
87
Aspectos afetivos e familiares - pais / cônjuge / filhos / amigos / namorado(a)
Aspectos sociais e pessoais:
Relato do dia a dia
Em meu tempo livre gosto de___________________________________________
Sobre trabalhos voluntários, eu já realizei__________________________________
Ao longo da minha vida aprendi__________________________________________
Eu sou______________________________________________________________
Os outros me veem como_______________________________________________
Minhas
características
que
podem
contribuir
para
um
mundo
melhor
são_________________________________________________________________
A história da minha vida é_______________________________________________
Para mim é importante_________________________________________________
Meu legado será______________________________________________________
Aspecto Acadêmico:
Escolhi esse curso de graduação porque___________________________________
Já frequentou outro curso? Qual? Onde? Por quê? Quando? O que agregou? O que
aprendeu até o momento?
Informática / Idioma
Aspecto Profissional:
Histórico Profissional
Minha ocupação Profissional é __________________________________
Meu Local de Trabalho é____________________________________________
Quanto tempo trabalha nesta empresa? ________________________________
Remuneração atual___________
Meus objetivos financeiros são__________
Eu executo as seguintes tarefas no meu trabalho: __________________________
Avalio essa experiência como__________________________________________
Meu relacionamento com a liderança e com os colegas é_____________________
O que você aprendeu nessa experiência profissional?
As minhas qualificações que fazem diferença em relação a outros profissionais são
Meus objetivos em curto prazo são______________ e em longo prazo são_______
Minhas expectativas como trajetória profissional são__________________________
88
Módulo B – Mundo do trabalho e processos seletivos (EAD)
Abordagem:
o O cenário no mundo do trabalho e as diferentes gerações
o Segmentos do mercado de trabalho
o O que as empresas esperam dos jovens
o Identificar oportunidades de carreira
o Diferenças entre as empresas
o Vida escolar e vida profissional
o Postura profissional e cultura das organizações
o Situações gerais do dia-a-dia de trabalho
o Elaboração de currículo e carta de apresentação
o Destaque dos saberes pessoais
o Participação em dinâmicas de grupo e entrevistas
Módulo C – Planejamento e Gestão de carreira (EAD)
Abordagem:
o Distinção entre profissão e carreira
o Planejamento e fases da carreira
o Objetivos de vida e carreira – expectativas, sonhos e valores
o Desenvolvimento profissional
o Avaliar o momento atual da carreira e identificar os próximos passos
o Auxiliar na elaboração de um Plano de Autodesenvolvimento
o Aproveitando o tempo
o Rede de relacionamentos e redes sociais
o A imagem profissional
D - Devolutiva com relatório geral consolidado e orientação do Plano de
Autodesenvolvimento– “Projeto de Vida”
89
E - Avaliação do projeto – nessa etapa final o aluno participante fará uma
avaliação do programa por meio da ferramenta Google Docs.
Iniciativas complementares:
•
Incentivo à participação em projetos extensionistas e de iniciação
científica que tenham temas relacionados ao mundo do trabalho e à
visão mais ampla de mundo.
•
Mesas redondas com profissionais de recrutamento e seleção de
pessoas.
F – Capacitação docente - considerando a relevância do papel do professor no
processo de orientação profissional, pretende-se organizar o trabalho docente e sua
atuação em rede interdisciplinar, promovendo debates e oficinas de capacitação
semestrais durante os simpósios de professores. Essa proposta de capacitação
pretende empoderar e emancipar o docente no sentido de atuar como um dos
agentes de orientação profissional.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema dessa pesquisa foi definido como a orientação profissional aos jovens das
camadas populares e com acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni –
Programa Universidade Para Todos com vistas à sua efetiva e qualificada inserção
no mundo do trabalho.
O problema foi circunscrito à formação dos jovens universitários das camadas
populares e beneficiários do ProUni que, para garantir uma qualificada e efetiva
transição escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo
de orientação profissional fundamentado nas origens, condições e identidades
socioculturais desses jovens.
Entretanto, percebeu-se que essa questão ainda se mostrava pouco esclarecida;
especialmente, em relação à intervenção social e pedagógica que poderia ser
ofertada aos jovens. A dúvida que surgiu se referiu à especificidade da orientação
profissional a ser desenvolvida; especialmente, sobre os elementos e dimensões
que precisam ser considerados(as) para que essa intervenção possa se caracterizar
como uma inovação social e pedagógica e em consonância com os requerimentos
do desenvolvimento local.
Dessa forma, a investigação se orientou por uma questão central que indagou os
elementos e dimensões que precisam ser considerados na intervenção social e
pedagógica da orientação profissional aos jovens oriundos das camadas populares
beneficiários do ProUni, que possam se caracterizar como uma inovação social com
pertinência
educacional
e
em
consonância
com
os
requerimentos
do
desenvolvimento local.
O tema da investigação realizada foi escolhido considerando-se sua grande
relevância social. Ela foi planejada para possibilitar o desenvolvimento de
instrumental técnico sobre processos de orientação profissional com perspectiva de
inovar socialmente e contribuir para promover o desenvolvimento local. O estudo foi
motivado pela necessidade de uma intervenção voltada para melhoria dos
91
processos educacionais e dos percursos formativo e profissional dos jovens
universitários oriundos das camadas populares, visando garantir melhoria da
qualidade de vida e reflexos positivos no desenvolvimento local.
Na realização dessa investigação, buscou-se, inicialmente, descrever e analisar o
ProUni e seus efeitos como política pública de inclusão no Ensino Superior, a partir
de dados primários e secundários, referentes às pesquisas e aos censos do INEP
realizados de 2005 a 2012, bem como descrever e discutir as atividades de
orientação profissional voltadas aos jovens universitários, realizadas pelo Núcleo de
Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG.
Em seguida, descreveu-se o processo de transição escola-mercado de trabalho
entre os jovens oriundos das camadas populares e, a partir desse estudo, elaborar
uma proposta de intervenção relativa à orientação profissional dos jovens oriundos
do ProUni matriculados no Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento
autônomo, emancipado e segundo os interesses desses sujeitos, com foco na
transição da Educação Superior para o mercado de trabalho.
No primeiro capítulo, estampou-se o entendimento do cenário educacional brasileiro
na criação do ProUni – Programa Universidade para Todos – e sua evolução, o
ProUni e o Centro Universitário UNA e, finalmente, o cenário atual e a legitimidade
do ProUni como política pública.
Em seguida, abordaram-se questões relativas à juventude e ao jovem das camadas
populares, ao processo de transição escola-trabalho e à orientação profissional
voltada para esses jovens.
Nesse capítulo, concluiu-se sobre diversos conceitos de juventude e a necessidade
de se considerar as histórias de vida e particularidades dos jovens oriundos das
camadas populares nos processos de orientação profissional e de transição para o
mundo do trabalho. Argumentou-se que processos padronizados de avaliação de
competências consideradas como as exigidas pelo mundo do trabalho nem sempre
refletem os saberes dos jovens “proUnistas”.
92
No segundo capítulo, relata-se a pesquisa feita por meio de três grupos focais,
reunindo estudantes, profissionais de orientação profissional, professores e gestores
do Centro Universitário UNA.
Nesse capítulo, registrou-se que, embora elevado desempenho acadêmico dos
bolsistas seja relatado por todos os participantes, isso não garante a efetiva
transição escola-trabalho. Há um padrão, em algum nível, de expectativas das
organizações em relação ao aos perfis dos candidatos participantes de processos
seletivos e que não corresponde, necessariamente, aos da maioria dos jovens de
baixa renda. Por outro lado, esses mesmos jovens apresentam características que
podem, embora de forma atualmente não legitimada, contribuir para o sucesso das
organizações.
No terceiro e último capítulo, propôs-se um novo olhar institucional para a orientação
profissional; isto é: uma proposta de intervenção social e pedagógica que
considerasse a necessidade do reconhecimento e da legitimação dos saberes e
experiências de jovens oriundos dos segmentos sociais populares.
Os percursos da investigação, incluindo revisão teórica, análises documentais e de
dados empíricos, ofereceram os elementos necessários para se entender a
importância do debate sobre a transição de concluintes da Educação Superior para
o mundo do trabalho quando esses são jovens de baixa renda e beneficiários do
ProUni.
Percebeu-se que existem progressos sociais com relação à inclusão na Educação
Superior, que há uma política pública inclusiva representada pelo ProUni, mas, ao
mesmo tempo, verificou-se que pouco se fala sobre a transição dos concluintes para
o mundo do trabalho e sobre a qualidade das conquistas dos jovens beneficiários
com relação às suas trajetórias profissionais. Os grupos focais com estudantes e
educadores mostraram que nem sempre a escolha por determinado curso ou
profissão está alinhada com os anseios e sonhos desses jovens, ocorrendo, em
muitos casos, em função do curso para o qual foi possível conquistar a bolsa.
93
A pesquisa realizada se insere nesse processo de busca de promoção de inclusão
social na Educação Superior, sabendo que ela não garante uma efetiva transição
para o mundo do trabalho que atenda os anseios dos jovens “proUnistas”. O ProUni,
como política pública de inclusão no Ensino Superior, pode ser efetivo, mas não se
propõe a responder ao processo de inserção qualificada dos estudantes no mundo
do trabalho.
Há, portanto, indícios de qualidade do acesso, mas não necessariamente de
qualidade de participação no mundo do trabalho com vistas a atender as
expectativas dos jovens; ou seja: o jovem pode conquistar um espaço no Ensino
Superior particular, obter um bom desempenho acadêmico, o que inclusive
constatou-se durante a investigação em relação aos “proUnistas”, mas, ainda assim,
esse resultado não é garantia de uma transição que satisfaça seus desejos e
expectativas quanto à oportunidade de se emancipar socialmente. Embora as
juventudes sejam muitas, os jovens carregam, em geral, sonhos, desejos, anseios
de realização pessoal e profissional e buscam no Ensino Superior uma oportunidade
para realizá-los.
Uma vez dentro do Ensino Superior, percebeu-se, especialmente nas colocações
dos educadores, um [entre]cruzamento de culturas entre os bolsistas e alunos de
estratos sociais mais elevados. Tal fato remete à perspectiva da “sociologia das
diferenças”, objeto das pesquisas de Bernard Charlot (2000, 2004, 2011, 2013); isto
é: que as diferenças se produzem em função da inserção do aluno na estrutura de
classes da sociedade e das experiências que ele vive e interpreta, diferenças que,
na maioria das vezes, são vistas como “falta” ou “carência”; em especial, pelo mundo
do trabalho. Os jovens “proUnistas”, de fato, dificilmente acessam as experiências
que estão disponíveis para aqueles das classes mais altas e isso entra como um
fator que dificulta suas transições escola-trabalho, uma vez que o mercado do
trabalho segue um padrão de recrutamento e de seleção pautado em competências
predeterminas e padronizadas não correspondentes, em geral, com o histórico de
vida do jovem oriundo das camadas populares.
Por outro lado, esses jovens são portadores de histórias de vida, subjetividades e
singularidades que lhes permitiram construir patrimônios cultural, intelectual e social
94
com significados importantes que, muitas vezes não são percebidos e/ou
valorizados pelos recrutadores. Embora diferentes ou não legitimados pelo mundo
do trabalho, esses são atributos socioculturais que precisam ser valorizados e que
muito podem contribuir para a sociedade e, inclusive, para as organizações. Afinal
de contas, cada pessoa se constrói no social, como sujeito ativo e consciente, por
meio de singularidades próprias de suas histórias. Ele, portanto, projeta-se não
somente pelo que determina o mercado do trabalho ou um perfil profissional
padronizado, mas por quem ele é e pelo que viveu e como reagiu a imposições de
modelos prefigurados.
Nesse contexto, a proposta de intervenção por meio da orientação profissional
diferenciada, que a investigação realizada permitiu elaborar, pretende inovar
socialmente e pedagogicamente o trabalho educacional realizado em favor da
emancipação do aluno ProUni, mostrando e valorizando seus atributos, com base
em suas vivências e repertórios de vida. Pretende-se, assim, favorecer uma leitura
abrangente e não restritiva de suas vivências e de seus diferenciais, tendo em vista
a inserção qualificada desses jovens no mundo do trabalho, e sua permanência
exitosa nele.
Ocorre que, em geral, os modelos tradicionais de orientação profissional se pautam
por conceitos e procedimentos padronizados que nem sempre consideraram as
singularidades das pessoas e seus contextos de vida, suas histórias, seus registros,
suas características socioculturais específicas. Esses modelos homogeneizantes de
orientação profissional não levam em consideração a diversidade sociocultural dos
sujeitos e, por isso, não dão conta de perceber que há diferenças importantes, mas
nem sempre piores ou melhores, entre os jovens das camadas populares e aqueles
dos estratos sociais mais elevados. Com isso, corre-se o risco de se adotar modelos
tradicionais e padronizados de orientação profissional reducionistas, que, inclusive,
colocam-se na contramão da flexibilidade e da abertura que o processo de
globalização tem requerido das organizações e, consequentemente, de seus
profissionais.
Esses
modelos
podem,
ainda,
condicionar
e/ou
limitar
o
desenvolvimento e a criatividade individuais e, consequentemente, predeterminar
papéis que o jovem profissional deverá assumir no mundo do trabalho.
95
Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que
apresentam extensos repertórios de vida, habilidades e potencialidades, que podem
ser relevantes para suas comunidades, para sociedade e, inclusive, para as
organizações, mas, possivelmente, são desconhecidas pelos próprios sujeitos e
pelos profissionais de recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem
modelos de seleção tradicionalmente estabelecidos, com padrões que tendem a ser
replicados nos programas de orientação profissional que são, geralmente,
alicerçados em análises de perfis e mapeamento de competências, realizados(as)
por meio de testes psicológicos, e tendem a repetir o modelo de recrutamento e
seleção conformado pela lógica dominante no mercado de trabalho; um modelo
pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens das camadas populares
que carregam registros de vida muito distintos dos padrões pré-estabelecidos.
A partir dos resultados da pesquisa realizada, chegou-se ao modelo que propõe um
novo olhar para a orientação profissional. Esse modelo é inovador, por propor mudar
a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como por repensar seus
objetivos e enfoques. Nessa proposta, o jovem é considerado o protagonista
principal dos processos do seu autorreconhecimento e autoconstrução. Ela busca
tirar partido de cada participante da OP, individualmente, de acordo com suas
experiências e história de vida. O que se pretende é que o jovem, como
protagonista, seja capaz de conhecer a dinâmica do mundo do trabalho, conhecer a
si mesmo, refletir sobre seus saberes por meio do inventário de saberes e, a partir
daí, construir seu percurso profissional de modo que possa se apresentar ao mundo
do trabalho valorizando seus atributos.
O que se propõe, portanto, é que os bolsistas entendam que precisam participar
ativamente do processo de suas escolhas profissionais; que caminhem além,
gerenciando, também, o uso de suas capacidades, competências, habilidades e
saberes, de modo que sejam os primeiros a valorizar seus interesses e a se colocar
com dignidade e autoconfiança frente às exigências das organizações e da
sociedade em geral.
Pautado nessa perspectiva é que esta proposta de OP contempla, de forma
inovadora, a combinação de atividades em grupo e individuais, presenciais e a
96
distância, com o propósito de municiar o jovem com informações e orientações
sobre o mundo do trabalho e suas peculiaridades, mas, acima de tudo, visando
contribuir para o seu “empoderamento” para o uso de suas capacidades e saberes a
partir das análises do seu inventário de saberes.
Significa franquear a esses jovens não somente a oportunidade de acesso ao
Ensino Superior, mas, também, a de dar continuidade ao seu desenvolvimento como
indivíduo, cidadão e profissional, proporcionando-lhes uma transição para o mundo
do trabalho de forma autônoma e emancipada, valorizadora de seus atributos
socioculturais,
promovendo
melhoria
da
sua
qualidade
de
vida
e,
consequentemente, desenvolvimento local.
Inspirado em Abade (2005, p. 143), acredita-se que o papel da OP “[…] não é
prescrever um modelo de sociedade e de homem, mas construir propostas que
possam convergir para a transformação de nossas condições de existência, no
sentido de uma sociedade mais democrática e menos desigual”.
Finalmente, esta investigação não tem a pretensão de encerrar a discussão sobre o
tema e o problema selecionados para estudo, mas a de contribuir para o
alargamento do espaço para novas reflexões e a de provocar interesse por novas
pesquisas sobre as condições e situações de estudantes de instituições de ensino
onde os contrastes sociais são ainda muito nítidos e sobre as mudanças que se
fazem necessárias nas políticas e práticas de recrutadores para o mundo do
trabalho.
97
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no 288, de 28 de fevereiro de 1967; institui o Regime Especial de Incentivos para o
Desenvolvimento de Usinas Nucleares (Renuclear); dispõe sobre medidas tributárias
relacionadas ao Plano Nacional de Banda Larga; altera a legislação relativa à
isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM);
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105
Apêndice A – Artigo derivado da dissertação
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES
BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO
ESCOLA-TRABALHO
MARCO TÚLIO CARVALHO DE SOUZA ANDRADE
Centro Universitário Una - [email protected]
LUCÍLIA R. DE SOUZA MACHADO
Centro Universitário Una –
[email protected]
RESUMO
Investigam-se os processos de orientação profissional que precisam ser promovidos pelo
Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG,
com foco no jovem das camadas populares e beneficiário do ProUni – Programa Universidade
para Todos –, visando ao seu desenvolvimento como sujeito autônomo e emancipado na
transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. A investigação se orienta por esta
questão central: que elementos e dimensões precisam ser considerados na intervenção social e
pedagógica da orientação profissional, direcionada aos jovens oriundos das camadas
populares e beneficiários do ProUni, para caracterizá-la como uma inovação social com
pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local?
Inicialmente são apresentados elementos da revisão teórica que deram suporte à investigação
e que tratam do processo de transição escola-trabalho e dos desafios da orientação profissional
considerando-se tais circunstâncias. Em seguida, apresentam-se os resultados da pesquisa de
campo, realizada no Centro Universitário UNA, por meio de três grupos focais: o primeiro,
constituído por profissionais do Núcleo de Carreira dessa instituição; o segundo, por discentes
beneficiários do ProUni; e, o terceiro, por membros do corpo docente e gestores acadêmicos
do Centro Universitário UNA. Os dados obtidos evidenciam a necessidade de um novo olhar
para a orientação profissional realizada pela instituição, que considere as especificidades do
alunado do ProUni e sua efetiva e qualificada inserção profissional. Propõe-se, então, um
protocolo ou metodologia sobre orientação profissional dirigida aos jovens universitários do
ProUni. Trata-se de proposta de intervenção que visa promover inovação social e pedagógica
na implementação dessa política de ação afirmativa e a concretização do seu potencial de
contribuição para o desenvolvimento local.
Palavras-chave: ProUni.
Desenvolvimento Local.
Orientação
Profissional.
Juventude.
Educação
Superior.
106
ABSTRACT
Research on the professional orientation that need to be promoted by the Career Center at
Centro Universitário UNA, in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil, focusing on
the low income young people who are beneficiaries of ProUni – Programa Universidade para
Todos –, aiming at their development as an autonomous and emancipated individual in the
transition from higher education to the work world. The research is based on this central
question: what elements and dimensions need to be considered in the social and pedagogical
intervention of the professional orientation directed to young people from lower social
stratum who benefit from ProUni, in order to characterize it as a social innovation with
educational effect and in accordance with the requirements for local development? The first
chapter presents the theoretic review elements which supported the research, as follows:the
transition from higher education to work market and the professional orientation challenges,
taking these circumstances into account. Following, this article presents the results of the field
research carried out at Centro Universitário UNA, through three focal groups: the first one
with the institution Career Center professionals; the second one, composed by students who
benefit from ProUni; and, the third one, with professors and academic management
professionals of Centro Universitário UNA. The collected data evidence the need of a new
look towards the institution’s professional orientation that considers ProUni students specific
realities and their effective and qualified employability. Therefore, this research proposes a
professional orientation protocol or methodology addressed to ProUni young university
students. It is an intervention proposal that seeks to promote social and pedagogical
innovation with the implementation of this affirmative politic action and achievement of its
potential contribution to local development.
Key-words: ProUni. Professional Orientation. Young people. Higher Education. Local
Development
INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho foi definido como a orientação profissional aos jovens das
camadas populares e com acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni – Programa
Universidade Para Todos com vistas à sua efetiva e qualificada inserção no mundo do
trabalho.
O problema foi circunscrito à formação dos jovens universitários das camadas
populares e beneficiários do ProUni que, para garantir uma qualificada e efetiva transição
escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo de orientação
profissional fundamentado nas origens, condições e identidades socioculturais desses jovens.
Entretanto, percebeu-se que essa questão ainda se mostrava pouco esclarecida;
especialmente, em relação à intervenção social e pedagógica que poderia ser ofertada aos
jovens. A dúvida que surgiu se referiu à especificidade da orientação profissional a ser
desenvolvida. Dessa forma, a investigação se orientou por uma questão central que indagou os
107
elementos e dimensões que precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da
orientação profissional aos jovens oriundos das camadas populares beneficiários do ProUni,
que possam se caracterizar como uma inovação social com pertinência educacional e em
consonância com os requerimentos do desenvolvimento local.
O estudo foi motivado pela necessidade de uma intervenção voltada para melhoria dos
processos educacionais e dos percursos formativo e profissional dos jovens universitários
oriundos das camadas populares, visando garantir melhoria da qualidade de vida e reflexos
positivos no desenvolvimento local.
Na realização dessa investigação, buscou-se, inicialmente, descrever e analisar o
ProUni e seus efeitos como política pública de inclusão no Ensino Superior, a partir de dados
primários e secundários, referentes às pesquisas e aos censos do INEP realizados de 2005 a
2012, bem como descrever e discutir as atividades de orientação profissional voltadas aos
jovens universitários, realizadas pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no
município de Belo Horizonte - MG.
Em seguida, descreveu-se o processo de transição escola-mercado de trabalho entre os
jovens oriundos das camadas populares e, a partir desse estudo, elaborou-se uma proposta de
intervenção relativa à orientação profissional dos jovens oriundos do ProUni matriculados no
Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento autônomo, emancipado e segundo os
interesses desses sujeitos, com foco na transição da educação superior para o mercado de
trabalho.
A TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO
O mercado de trabalho espera e exige, cada vez mais, que os jovens egressos da
educação superior tragam em sua formação um acervo de vivências e um amplo repertório
cultural e comportamental. As empresas exigem, portanto, que o universitário esteja inserido
na discussão sobre os atuais requisitos de qualificação profissional e demonstre ter
informações, conhecimentos, competências, habilidades, atitudes e valores ligados a uma
vivência e visão ampla do mundo das empresas, das relações interprofissionais e do mercado.
Essas exigências ficam evidentes na condução das entrevistas e dinâmicas realizadas com os
candidatos a vagas em processos seletivos de estágios em diversas organizações.
Por carência desse repertório e por não estarem devidamente orientados a explorar as
potencialidades culturais e pessoais que possuem, os jovens oriundos das camadas populares
têm mais dificuldade de aprovação nesses processos seletivos de estágios, que são, via de
108
regra, a porta de entrada para o mercado de trabalho. Por outro lado, alunos provenientes de
camadas sociais mais favorecidas por bens culturais de acesso mais restrito, com viagens e
visão globalizada do mundo do trabalho, destacam-se mais nos processos seletivos. São
jovens que, embora vivam localmente, estão conectados a informações e valores mais
próximos das relações ditadas pelo mundo capitalista globalizado, o que lhes dá um
diferencial, em termos de vantagem competitiva, em relação ao universitário oriundo das
camadas populares.
Ora, os alunos oriundos do ProUni não são capazes de concorrer em igualdade de
condições com alunos não-bolsistas para as vagas de estágio nas organizações? Tal
questionamento coloca em debate a noção de falsa democratização do acesso à educação
superior e de reforço das estratégias de ação afirmativa em face da reposição dos pressupostos
da estratificação social. Afinal de contas, além de ser uma política pública do campo
educacional, o ProUni também pode ser visto como política pública para o jovem brasileiro.
Entre os desafios do Governo Federal, inclusive dentro da Política Nacional de Juventude13,
estão o preparo para o mundo do trabalho e a geração de trabalho e renda para os jovens. E os
jovens oriundos das camadas populares não podem ser colocados à margem desse processo.
Portanto, para garantir o que preconiza o Governo Federal e os anseios de famílias e
dos jovens das camadas populares, o significado do ProUni assume novos contornos e
inaugura um novo dilema: deixar os egressos desse Programa à própria sorte ou lhes oferecer
atenção específica ainda como estudantes e condições para que desenvolvam percepções mais
ampliadas do mundo do trabalho e de seus desafios. Constata-se, assim, que mudanças nas
abordagens educacionais aos universitários beneficiários do ProUni precisam ser feitas, que
reflitam positivamente em seus desempenhos em processos seletivos das organizações.
Percebe-se, por outro lado, a importância da promoção de uma educação superior que também
não dê as costas aos conhecimentos e valores que os jovens das camadas populares trazem e
que lhes despertam sentimentos de pertencimento e de afirmação sociocultural.
Vale salientar que a estratégia de criação de cotas para estagiários ProUni, como tem
ocorrido em alguns casos, por si, não é capaz de lhes dar autonomia para prosseguir nas suas
carreiras profissionais. A estratégia mais consistente remete a intervenções na formação e
orientação desses jovens com sentido de fortalecimento dos seus potenciais e valores e de
redução das suas vulnerabilidades.
13
http://www.juventude.gov.br/politica.
109
A realização profissional desses jovens se reflete na sua qualidade de vida, e na de
suas famílias, e, consequentemente, no desenvolvimento local, e isso pode ser feito ou requer
ser feito articulando-se os requisitos do agir localmente, considerando-se suas determinações
particulares, com as exigências do pensamento mais universalizado, mais global, que o mundo
do trabalho hoje apresenta.
A realidade dos jovens das classes sociais menos favorecidas é, muitas vezes, de uma
trajetória marcada por sofrimento e, em geral, por escassez de recursos. Desde a infância, a
desigualdade social interfere no percurso educacional desses jovens. Trazem, quase sempre,
um histórico de acesso ao ensino da rede pública, por vezes precário, ou, então, de passagens
por instituições educacionais particulares noturnas frequentadas depois de jornadas cansativas
de trabalho, perfilando um itinerário de formação, via de regra, descontínuo e limitado, quanto
aos recursos encontrados. A baixa escolarização dos pais e a frágil imersão na cultura letrada
reforçam as debilidades desse percurso formativo.
Essa realidade diferenciada e caracterizada por negatividades, mas, também, por
positividades, não pode ser esquecida, quando se busca compreender e intervir no processo de
transição escola-trabalho dos jovens oriundos das camadas populares
A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
As expectativas por parte do mundo do trabalho, a baixa qualidade na formação básica
e o repertório cultural diferenciado e distante do que tende a ser considerado modelar, deixam
os jovens pobres em situação de desvantagem.
Nesse contexto, a orientação profissional surge como elemento essencial nessa
construção, especialmente para jovens oriundos das camadas populares que, após a
implementação do ProUni em 2005, passaram a ter acesso à educação superior em maior
escala e que pouco ou nenhum contato tiveram com programas de orientação profissional ao
longo de suas vidas. Isso se deve ao fato de esses jovens, ao pleitearem vagas no mercado de
trabalho, serem submetidos a testes, dinâmicas de grupo e entrevistas, sendo avaliados e
selecionados a partir de vieses pouco favoráveis aos seus perfis socioculturais.
É o que pode estar acontecendo com grande parte dos beneficiários do ProUni nas
instituições brasileiras de educação superior.
Atualmente, o termo orientação profissional convive com diversos outros termos
recorrentes nas organizações e na literatura, tais como mentoring, coaching e counseling. São
iniciativas que embora estejam em consonância com práticas da Psicologia, da Pedagogia e da
110
Administração, propõem intervenções muitas vezes sem levar em consideração os objetivos a
serem alcançados e somente reforçam jargões ditados pelas organizações (SILVA, 2010). Em
muitos casos são iniciativas, que seguem um padrão, que se esquecem de considerar o
indivíduo, sua história, seus registros, sua vida, suas vantagens socioculturais específicas.
Essa proposta homogeneizante de orientação profissional deixa de levar em consideração a
diversidade sociocultural dos sujeitos e, por causa desse olhar, não dá conta de perceber que
há diferenças entre os jovens das camadas populares e aqueles dos estratos sociais mais
elevados, que podem ser de valor fundamental. Nas palavras de Bello (2008), verifica-se
[...] la debilidad de una Orientación homogeneizante, frente a la realidad de un mundo global,
diverso y multicultural. Atender la diversidad es el desafío que la orientación aún no ha
resuelto, ya que ésta plantea una multiplicidad de conflictos y paradojas para las cuales no son
válidas recetas específicas. (BELLO, 2008, p. 3)
Os modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional podem ser
reducionistas, se confrontados com o processo de globalização e com a diversidade humana
em todas as suas dimensões. Podem, ainda, condicionar e limitar o desenvolvimento e a
criatividade individuais e, consequentemente, “delimitar o papel que cada indivíduo deve
assumir na construção do bem-colectivo” (DUARTE, 2011, p. 145).
Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que
apresentam um extenso repertório de vida, habilidades e potencialidades, que podem ser
positivamente relevantes para as organizações do setor produtivo, mas possivelmente
desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de recrutamento e seleção, cujas
atuações ainda seguem modelos de inclusão tradicionalmente estabelecidos. Tais padrões
tendem a ser replicados nos programas de orientação profissional, em geral alicerçados em
análises de perfil e mapeamento de competências, realizados por meio de testes psicológicos.
Tendem a repetir o modelo de recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no
mercado de trabalho. E este modelo pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens
das camadas populares que carregam registros de vida muito distintos dos padrões préestabelecidos. De acordo com Machado (2009),
[...] o campo da Orientação Profissional se voltou, então, para a Psicologia Diferencial e a
Psicometria, e até hoje, parte significativa dos seus esforços se centra no debate sobre
concepções e aplicações de testes construídos especialmente para aferir atributos como
inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade. (MACHADO, 2009, p. 90)
111
Para Machado (2009), as pessoas precisam, hoje, gerenciar não somente suas escolhas
profissionais, mas também o uso de suas capacidades e saberes. Na perspectiva da autora, as
pessoas são motivadas por interesses diversos, seus próprios, das organizações e da sociedade
em geral. Além disso, se encontram, muitas vezes, em momentos de tensão e contradições e
precisam, portanto, compreender melhor o mundo do trabalho em que atuam e o meio social
em que vivem para que possam estar envolvidas numa atividade laboral decente
(MACHADO, 2009).
Dessa forma, faz-se necessário um novo olhar para a orientação profissional. Será
necessário mudar a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como repensar seus
objetivos e enfoques (DURANT, 2004, p. 21 apud BELLO, 2008). Duarte (2011) propõe que
seja uma “tentativa de encontrar e desenhar outras formas de reflectir sobre a orientação
enquanto processo de autoconstrução” (DUARTE, 2011, p. 143). Enquanto processo de
construção, a orientação pode tirar partido de cada um individualmente, de acordo com suas
experiências e história de vida. Duarte (2011) propõe
[...] lançar um olhar para a orientação considerando as características e as capacidades de cada
um para, não perdendo a sua condição de elemento activo e solidário numa cadeia histórica de
onde emerge, nela se alimentar para depois, com o conhecimento assim obtido, e integrando as
suas próprias experiências e as leituras que delas faz. Em síntese, dar continuidade à mesma
cadeia, projectando-a para o futuro. Continuando a mesma linha de pensamento, procurando
reflectir sobre a orientação enquanto processo de construção, procure-se agora entender como
a orientação pode ajudar a tirar partido da experiência de cada um. (DUARTE, 2011, p. 147)
Trata-se, portanto, de potencializar o que os jovens já trazem de suas experiências de
vida (DAYRELL et al., 2003, p. 43). Pelo mesmo autor, o pleno desenvolvimento ou não das
potencialidades que caracterizam o ser humano vai depender da qualidade das relações sociais
com o meio no qual se insere e se as relações sociais entre os jovens das camadas populares e
o mundo do trabalho não considerarem os registros de vida desses jovens, suas
potencialidades que podem passar invisíveis ou não apresentarem uma evolução no ambiente
laboral.
Surge, então, a perspectiva de um novo olhar também para a orientação profissional
dos jovens oriundos das classes menos favorecidas. Machado (2009) propõe no artigo
“Orientação Profissional: a necessária renovação conceitual e reorganização política” uma
nova visão dos processos de orientação profissional. Segundo a autora
112
A Orientação Profissional, atualmente, se depara, assim, com a necessidade urgente de buscar
referências fora do seu contexto tradicional de atuação e de si mesma como um campo de
linguagem e testes que, muitas vezes, são tomados como universais, para interagir com outros
campos, pensar junto e ser referenciada por pactos e alianças. (MACHADO, 2009, p. 91)
Este novo modelo de OP precisa considerar os contextos existentes, as culturas locais,
tendo sempre o sujeito no centro (DUARTE, 2011, p. 150). Nessa vertente, não se pode
desconsiderar, no trabalho de orientação profissional, a realidade socioeconômica e
sociocultural dos jovens das camadas populares e suas vulnerabilidades (VALORE et al.,
2012, p. 358). Na pesquisa realizada por Valore et al. (2012) com jovens oriundos das
camadas populares, constatou-se
[...] a relevância da orientação profissional na formação cidadã dos jovens, pois independente
das restrições impostas pelas condições socioeconômicas desses jovens na construção de seus
projetos de vida e carreira, a realização de uma escolha consciente, autônoma, emancipada,
apresentou-se comum a todos os jovens participantes da pesquisa. (VALORE et al., 2012, p.
361)
Afinal de contas, é próprio da natureza humana o desejo por escolhas conscientes e
que levem à auto-realização e, para os jovens oriundos das camadas populares, isso não é
diferente. Esses jovens também buscam a realização de projetos de vida e de carreira e têm
desejos de mobilidade social.
Todas essas reflexões fazem sentido quando confrontadas com o projeto institucional
do Centro Universitário UNA, que se propõe a ter foco na formação integral de seus alunos
em suas diversas dimensões, como indivíduo, como cidadão e como profissional. Isso é
importante para que cada um encontre seu caminho, construa suas trajetórias de vida pessoal e
profissional, sem perder sua identidade e o sentido de si próprio (DUARTE, 2011). Além
disso, como bem afirma Valore (2012), a OP não pode ser uma intervenção isolada, por
iniciativa apenas de psicólogos em escolas e consultórios, mas deve estar articulada em rede
com as práticas sociais do corpo docente e dos profissionais em geral das instituições de
educação superior. Para Valore, “[…] tal premissa parte do pressuposto de que a transição
para o mundo do trabalho não é tema exclusivo da OP, posto que configura um trabalho mais
abrangente que, em outros países, vem sendo denominado de Educação para a Carreira”
(VALORE et al., 2012, p. 414).
Esse papel de educação para a carreira pode ser também o papel da instituição de
educação superior como provedora de apoio ao jovem em transição para o mundo do trabalho.
Para Gazo-Figuera (1996 apud MELO, 2007) tal instituição precisa assumir um papel de
113
apoio ao estudante para facilitar a inserção no mercado de trabalho. Sugere, ainda, que, como
política educacional, ela deve criar uma estrutura informacional sobre a operação do mercado
de trabalho que possa ser utilizada tanto para decisões institucionais como também como
referência para os projetos profissionais dos estudantes. No âmbito da orientação
universitária, Gazo-Figuera (1996) sugere que
[...] o desenvolvimento de programas de orientação e de intervenção, durante a fase de
transição ao mercado de trabalho, que sigam as seguintes recomendações: (a) aplicação em
contextos próximos do aluno; (b) treinamento em habilidades de tomada de decisão e busca de
emprego; (c) desmitificação de percepções e de conceitos que reforcem a conduta passiva
frente ao mercado de trabalho; (d) construção de programas de desenvolvimento pessoal para
estudantes com problemáticas específicas; (e) integração a uma política de emprego que
facilite a atuação em nível microcontextual. (GAZO-FIGUERA, 1996 apud MELO, 2007, p.
387)
São iniciativas que podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a vida
adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os obstáculos
inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e com que tenha mais
oportunidades para alcançar seus objetivos de vida. Quando a autora cita a necessidade de
cuidado com jovens que tragam problemáticas específicas, pode-se considerar, dentre eles, o
jovem de baixa renda como aquele que precisa de uma orientação que leve em conta suas
vulnerabilidades.
Nesse contexto, a instituição de educação superior precisa repensar o seu papel diante
das transformações no mundo do trabalho, no sentido de levar em conta questões relevantes
enfrentadas pelos jovens no mercado de trabalho atual, que necessitam ser refletidas
criticamente, durante o seu processo de formação, e incluir, em suas atividades acadêmicas,
projetos voltados para a inserção do graduando no mercado de trabalho, considerando-se as
vivências dos jovens nesse período de transição. Um programa de orientação profissional que
leve em conta todas essas questões e as particularidades do jovem de baixa renda pode não só
oferecer maior suporte institucional a esse jovem, mas, efetivamente, colocá-lo em uma
posição mais favorável e competitiva em relação às demandas do mundo do trabalho (MELO
et al., 2007, p. 388).
Na ótica de uma orientação profissional ofertada pela instituição de ensino, essa
responsabilidade individual pode ser trabalhada de forma que o jovem encontre seu próprio
caminho e mostre seu potencial ao mundo do trabalho, especialmente aos recrutadores em
processos seletivos das organizações em geral.
114
Embora o foco da orientação profissional individual seja um dos caminhos, a
instituição de ensino poderia também desenvolver projetos de extensão e pesquisa mais
coerentes com as necessidades do mercado de trabalho, introduzindo o jovem mais cedo no
contexto em que irá atuar como profissional, preparando-o em aspectos psicossociais
(identidade profissional, imagem pessoal, socialização organizacional, etc.), que interferem no
projeto da carreira. Assim, a Universidade poderia oferecer um programa de orientação
profissional e de preparo para o trabalho, uma vez que muitos jovens mudam de curso ou pela
falta de maturidade para a escolha da profissão ou pelas oportunidades que vão aparecendo na
sua vida.
Portanto, é fundamental olhar para os jovens oriundos das camadas populares no
momento de transição da educação superior para o mundo do trabalho com outra proposta de
orientação profissional, conduzida e apoiada pela instituição universitária e que leve em conta
o preparo para essa transição, alicerçado em suas habilidades e saberes, e que se proponha a
realizar a conscientização de profissionais de recursos humanos das organizações. Trata-se de
buscar referências e de realizar reflexões sobre como dar mais um passo importante para a
verdadeira inclusão social dos jovens das camadas populares e beneficiários do ProUni.
PESQUISA COM ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL, PROFESSORES E GESTORES DO CENTRO UNIVERSITÁRIO
UNA.
A pesquisa de campo teve como referência as atividades de OP realizadas pelo Núcleo
de Carreira junto aos alunos de graduação do Centro Universitário UNA. Essas atividades são
conduzidas por um grupo de profissionais da Psicologia Organizacional que atendem, em
média, 700 (setecentos) alunos por ano, promovendo uma série de encontros e análises de
perfil profissional e comportamental desses discentes.
A partir desses dados, foram discutidos os impactos e a pertinência desse programa de
orientação profissional na transição escola-mundo do trabalho, com recorte específico aos
alunos beneficiários do ProUni e oriundos das classes populares. Nessa etapa, foram
consideradas as particularidades socioculturais desses sujeitos no que diz respeito à transição
para o mundo de trabalho como egressos da educação superior.
Essas discussões foram conduzidas por meio da realização de três grupos focais. O
primeiro grupo (GF1) foi composto pela equipe responsável pela OP no Centro Universitário
UNA, atualmente composta por cinco profissionais. O segundo grupo (GF2) foi composto por
quatro discentes beneficiários do ProUni, representando quatro diferentes cursos e campi do
115
Centro Universitário UNA. O terceiro grupo (GF3) foi composto por sete participantes
acadêmicos, representando os cinco institutos do Centro Universitário UNA e sua
coordenação acadêmica: cinco diretores de institutos, um coordenador acadêmico e um
docente.
Pretendeu-se, por meio dos grupos focais, promover discussões e conhecer a opinião
dos seus integrantes sobre a inserção dos jovens beneficiários do ProUni no mundo do
trabalho. A proposta foi conhecer as experiências vividas pelos sujeitos participantes e sua
percepção acerca do tema, identificando elementos novos ou divergentes com relação às
assertivas que balizaram o desenvolvimento do projeto desta pesquisa.
A partir do próprio roteiro estabelecido e das respostas fornecidas pelos grupos focais,
foi possível categorizar grandes áreas, quais sejam: o perfil do aluno ProUni e uma análise
comparativa com os alunos não beneficiários do ProUni; o processo de transição escolatrabalho; o processo de escolha e a orientação profissional e a orientação profissional voltada
ao aluno ProUni.
Inicialmente, estamparam-se nesse trabalho o entendimento do cenário educacional
brasileiro na criação do ProUni – Programa Universidade para Todos – e sua evolução, o
ProUni e o Centro Universitário UNA e, finalmente, o cenário atual e a legitimidade do
ProUni como política pública.
Em seguida, abordaram-se questões relativas à juventude e ao jovem das camadas
populares, ao processo de transição escola-trabalho e à orientação profissional voltada para
esses jovens.
Nessa abordagem concluiu-se sobre diversos conceitos de juventude e a
necessidade de se considerar as histórias de vida e particularidades dos jovens oriundos das
camadas populares nos processos de orientação profissional e de transição para o mundo do
trabalho. Argumentou-se que processos padronizados de avaliação de competências
consideradas como as exigidas pelo mundo do trabalho nem sempre refletem os saberes dos
jovens “proUnistas”.
Ao longo dos grupos focais, registrou-se que, embora elevado desempenho acadêmico
dos bolsistas seja relatado por todos os participantes, isso não garante a efetiva transição
escola-trabalho. Há um padrão, em algum nível, de expectativas das organizações em relação
ao aos perfis dos candidatos participantes de processos seletivos e que não corresponde,
necessariamente, aos da maioria dos jovens de baixa renda. Por outro lado, esses mesmos
jovens apresentam características que podem, embora de forma atualmente não legitimada,
contribuir para o sucesso das organizações.
116
Finalmente, propôs-se um novo olhar institucional para a orientação profissional; isto
é: uma proposta de intervenção social e pedagógica que considerasse a necessidade do
reconhecimento e da legitimação dos saberes e experiências de jovens oriundos dos
segmentos sociais populares.
É essa a essência da proposta de intervenção que, a seguir, se apresenta. Entende-se
que iniciativas dessa natureza podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a
vida adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os obstáculos
inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e com que tenha mais
oportunidades de alcançar seus objetivos de vida. E os jovens oriundos dos estratos sociais
mais baixos, com problemáticas específicas, precisam de cuidado, de uma orientação que leve
em conta suas vulnerabilidades e que mostre seu potencial frente às exigências do mundo do
trabalho.
UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL:
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA.
A proposta da referida intervenção propõe um novo olhar para a questão da orientação
profissional a partir do tema da investigação, assim delineado: a orientação profissional de
jovens das camadas populares beneficiários do ProUni com foco nos desafios da transição
escola-trabalho. Ela trata de princípios, diretrizes, ações e aspectos das estruturas física,
institucional e social para uma concepção de programa de orientação profissional
fundamentado nas identidades socioculturais e necessidades dos jovens beneficiários do
ProUni, visando à sua exitosa transição escola-mundo do trabalho.
Buscou-se desenvolver um instrumental técnico considerando-se a atividade de
orientação profissional como um processo educacional e a perspectiva de se inová-lo,
contemplando seu sentido social e sua importância para o desenvolvimento local. Em outras
palavras: a intenção foi elaborar uma proposta de intervenção relativa à orientação
profissional de jovens oriundos do ProUni no Centro Universitário UNA, visando ao
desenvolvimento pessoal autônomo e emancipado e em atenção às identidades socioculturais
desses sujeitos, com foco na transição da Educação Superior para o mundo do trabalho.
Apoiada nos dados e referenciais obtidos com a revisão teórica e pesquisa de campo,
esta proposta centrou-se nos elementos considerados essenciais para uma orientação
profissional inovadora do ponto de vista social e pedagógico e comprometida com o
fortalecimento do ProUni como política pública de fundamental importância para o
desenvolvimento local.
117
Identificada como Protocolo de Orientação Profissional - ProUni, esta proposta de
intervenção foi construída a partir das seguintes interlocuções: a) com a produção acadêmica
expressa na revisão teórica sobre o tema; b) com os dados sobre a evolução do ProUni no País
e no Centro Universitário UNA; c) com o contexto e práticas do Centro Universitário UNA de
relacionamento com os jovens do ProUni; d) com a realidade sociocultural e educacional
desses jovens.
Algumas premissas oriundas dos grupos focais mereceram destaque como norteadoras
dessa proposta de intervenção. Entre elas, está a necessidade de que o aluno “ProUnista”
compreenda o cenário do mundo do trabalho atual, reconheça suas demandas e deseje sair do
lugar de poucas oportunidades onde se encontra. Mas acima de tudo, compreender que
embora seu repertório de vida possa não atender as demandas pré-estabelecidas pelas
organizações e traduzidas nos processos seletivos, sua história de vida permitiu e permite
desenvolver outros saberes e formas de agir também importantes para a sociedade e para o
mundo do trabalho, inclusive o das organizações.
Ou seja: é fundamental resgatar o que o pedagogo e cientista da educação francês
Georges Snyders (1917-2011) chama de “dupla face do proletariado” (1977), compreender a
positividade do que é visto como negativo nas crianças e jovens das camadas trabalhadoras.
Esse outro lado precisa ser considerado, ganhar visibilidade e, sobretudo, não ser motivo de
autocomiseração dessas crianças e jovens. Nesta proposta de intervenção, busca-se afirmar a
importância do reconhecimento e da legitimação dos saberes e expertises desenvolvidos pelos
jovens ao longo de seus percursos de vida e de trabalho, que se constituir em diferencial
afirmativo dos seus valores nas relações sociais e no contexto das organizações.
No contexto da intervenção aqui proposta, o que se pretende é trazer à tona, destacar e
valorizar as diferenças que o jovem do ProUni carrega em seu repertório de vida e como essas
diferenças podem se constituir em diferencial positivo para si próprios, para a sociedade e o
mundo do trabalho.
Uma vez dentro da educação superior, percebeu-se, especialmente nas colocações dos
educadores, um [entre]cruzamento de culturas entre os bolsistas e alunos de estratos sociais
mais elevados. Tal fato remete à perspectiva da “sociologia das diferenças”, objeto das
pesquisas de Bernard Charlot (2000, 2004, 2011, 2013); isto é: que as diferenças se produzem
em função da inserção do aluno na estrutura de classes da sociedade e das experiências que
ele vive e interpreta, diferenças que, na maioria das vezes, são vistas como “falta” ou
“carência”; em especial, pelo mundo do trabalho. Os jovens “proUnistas”, de fato,
118
dificilmente acessam as experiências que estão disponíveis para aqueles das classes mais altas
e isso entra como um fator que dificulta suas transições escola-trabalho, uma vez que o
mercado do trabalho segue um padrão de recrutamento e de seleção pautado em competências
predeterminas e padronizadas não correspondentes, em geral, com o histórico de vida do
jovem oriundo das camadas populares.
Por outro lado, esses jovens são portadores de histórias de vida, subjetividades e
singularidades que lhes permitiram construir patrimônios cultural, intelectual e social com
significados importantes que, muitas vezes não são percebidos e/ou valorizados pelos
recrutadores. Embora diferentes ou não legitimados pelo mundo do trabalho, esses são
atributos socioculturais que precisam ser valorizados e que muito podem contribuir para a
sociedade e, inclusive, para as organizações. Afinal de contas, cada pessoa se constrói no
social, como sujeito ativo e consciente, por meio de singularidades próprias de suas histórias.
Ele, portanto, projeta-se não somente pelo que determina o mercado do trabalho ou um perfil
profissional padronizado, mas por quem ele é e pelo que viveu e como reagiu a imposições de
modelos prefigurados.
Nesse contexto, a proposta de intervenção por meio da orientação profissional
diferenciada, que a investigação realizada permitiu elaborar, pretende inovar socialmente e
pedagogicamente o trabalho educacional realizado em favor da emancipação do aluno
ProUni, mostrando e valorizando seus atributos, com base em suas vivências e repertórios de
vida. Pretende-se, assim, favorecer uma leitura abrangente e não restritiva de suas vivências e
de seus diferenciais, tendo em vista a inserção qualificada desses jovens no mundo do
trabalho, e sua permanência exitosa nele.
Ocorre que, em geral, os modelos tradicionais de orientação profissional se pautam por
conceitos e procedimentos padronizados que nem sempre consideraram as singularidades das
pessoas e seus contextos de vida, suas histórias, seus registros, suas características
socioculturais específicas. Esses modelos homogeneizantes de orientação profissional não
levam em consideração a diversidade sociocultural dos sujeitos e, por isso, não dão conta de
perceber que há diferenças importantes, mas nem sempre piores ou melhores, entre os jovens
das camadas populares e aqueles dos estratos sociais mais elevados. Com isso, corre-se o
risco de se adotar modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional
reducionistas, que, inclusive, colocam-se na contramão da flexibilidade e da abertura que o
processo de globalização tem requerido das organizações e, consequentemente, de seus
profissionais. Esses modelos podem, ainda, condicionar e/ou limitar o desenvolvimento e a
119
criatividade individuais e, consequentemente, predeterminar papéis que o jovem profissional
deverá assumir no mundo do trabalho.
Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que
apresentam extensos repertórios de vida, habilidades e potencialidades, que podem ser
relevantes para suas comunidades, para sociedade e, inclusive, para as organizações, mas,
possivelmente, são desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de
recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem modelos de seleção tradicionalmente
estabelecidos, com padrões que tendem a ser replicados nos programas de orientação
profissional que são, geralmente, alicerçados em análises de perfis e mapeamento de
competências, realizados(as) por meio de testes psicológicos, e tendem a repetir o modelo de
recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no mercado de trabalho; um
modelo pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens das camadas populares que
carregam registros de vida muito distintos dos padrões pré-estabelecidos.
É mister ressaltar que, esse processo de intervenção, no âmbito de uma orientação
profissional inovadora, cumpre considerar, também, que as “juventudes” são muitas, que não
há uma definição única do que é ser jovem. São muitas as juventudes e todas carregam,
ancoradas em suas histórias de vida, sonhos, desejos e expectativas em relação à sua transição
da educação superior para o mundo do trabalho. Esse arcabouço de sentimentos também
precisa ser considerado no processo de orientação profissional direcionada ao jovem de baixa
renda do ProUni. Como política pública o ProUni pode promover a qualidade da inclusão na
Educação Superior, mas o olhar inovador para uma orientação profissional que atenda aos
anseios desse jovem pode promover efetiva qualidade de participação do mesmo nos
processos sociais.
Esta proposta de intervenção surgiu de uma experiência prévia com o programa de
orientação profissional desenvolvido pela equipe do Núcleo de Carreira do Centro
Universitário UNA. Ao perceber que não é possível replicar procedimentos e orientações
padronizados para utilização em larga escala, inclusive para jovens do ProUni, surgiu a
oportunidade de se pensar algo novo a partir da investigação realizada.
Inicialmente, foi pensada na inovação como incremento; isto é: inovar a partir de um
modelo já pronto e aplicado. No entanto, o desafio mostrou outra perspectiva: conseguir
atender um número grande de jovens “proUnistas” sem perder o olhar para a pessoa. No
modelo em vigor, isso se mostra impossível. O desafio exigiu descolamento dos modelos
padronizados, pautados em análise de perfis, mapeamento de competências por meios de
ferramentas que rotulam e pré-estabelecem padrões comportamentais.
120
Surgiu, assim, a oportunidade para se pensar na promoção da inovação, o que requer
ruptura. Assim, esta proposta de intervenção se constitui modelo inédito, na instituição, de
orientação profissional, distante do modelo psicológico pautado na lógica das competências e
do ajustamento do indivíduo a padrões ditados pelo mercado de trabalho. Em parceria do
Núcleo de Carreira com a área de ensino a distância do grupo Anima,14 esta nova proposta de
orientação profissional prevê momentos coletivos, bem como momentos individuais,
presenciais e virtuais, o que dará escala e a garantia de que todos os alunos “proUnistas” terão
acesso ao programa proposto. Além disso, ela considera a importância da análise do contexto
dos estudantes e de suas decisões, enxergando a orientação profissional como um processo
formativo para o desenvolvimento pessoal e social e uma intervenção que deve ter caráter
emancipatório, e não meramente compensatório.
A proposta de intervenção precisa da parceria do NAP – Núcleo de Apoio
Psicopedagógico – do Centro Universitário UNA. Entre os objetivos do escopo de trabalho do
NAP estão: diagnosticar, preventivamente, dificuldades comportamentais de alunos do Ensino
Superior e a adaptação e acompanhamento aos alunos com realidades específicas; orientar
sobre hábitos de estudo e relacionamentos interpessoais - individual ou em sala de aula. A
proposta dessa parceria é deslocar de um campo único de linguagem e testes que, muitas
vezes, são tomados como universais, para interagir com outros campos. Pretende-se, também,
interagir com atividades extensionistas da instituição, por meio de projetos que envolvam os
alunos bolsistas e que reforcem seus atributos e saberes.
Portanto, a abordagem da proposta de intervenção se propõe a ser educativa, dialógica,
processual e integrada com a vivência escolar, inclusive com diferentes áreas de apoio ao
aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os percursos da investigação, incluindo revisão teórica, análises documentais e de
dados empíricos, ofereceram os elementos necessários para se entender a importância do
debate sobre a transição de concluintes da educação superior para o mundo do trabalho
quando esses são jovens de baixa renda e beneficiários do ProUni.
A pesquisa realizada se insere nesse processo de busca de promoção de inclusão social
na educação superior, sabendo que ela não garante uma efetiva transição para o mundo do
14
http://www.animaeducacao.com.br/.
121
trabalho que atenda os anseios dos jovens “proUnistas”. O ProUni, como política pública de
inclusão educacional, pode ser efetivo, mas não se propõe a responder ao processo de inserção
qualificada dos estudantes no mundo do trabalho.
Percebeu-se que existem progressos sociais com relação à inclusão na educação superior, que
há uma política pública inclusiva representada pelo ProUni, mas, ao mesmo tempo, verificouse que pouco se fala sobre a transição dos concluintes para o mundo do trabalho e sobre a
qualidade das conquistas dos jovens beneficiários com relação às suas trajetórias
profissionais. Os grupos focais com estudantes e educadores mostraram que nem sempre a
escolha por determinado curso ou profissão está alinhada com os anseios e sonhos desses
jovens, ocorrendo, em muitos casos, em função do curso para o qual foi possível conquistar a
bolsa.
Há, portanto, indícios de qualidade do acesso, mas não necessariamente de qualidade
de participação no mundo do trabalho com vistas a atender as expectativas dos jovens; ou
seja: o jovem pode conquistar um espaço na instituições particulares de educação superior,
obter um bom desempenho acadêmico, o que inclusive constatou-se durante a investigação
em relação aos “proUnistas”, mas, ainda assim, esse resultado não é garantia de uma transição
que satisfaça seus desejos e expectativas quanto à oportunidade de se emancipar socialmente.
Embora as juventudes sejam muitas, os jovens carregam, em geral, sonhos, desejos, anseios
de realização pessoal e profissional e buscam na educação superior uma oportunidade para
realizá-los.
A partir dos resultados da pesquisa realizada, chegou-se ao modelo que propõe um
novo olhar para a orientação profissional. Esse modelo é inovador, por propor mudar a forma
de desenhar e executar a prática de OP, bem como por repensar seus objetivos e enfoques.
Nessa proposta, o jovem é considerado o protagonista principal dos processos do seu
autorreconhecimento e autoconstrução. Ela busca tirar partido de cada participante da OP,
individualmente, de acordo com suas experiências e história de vida. O que se pretende é que
o jovem, como protagonista, seja capaz de conhecer a dinâmica do mundo do trabalho,
conhecer a si mesmo, refletir sobre seus saberes por meio do inventário de saberes
(CHARLOT, 2000) e, a partir daí, construir seu percurso profissional de modo que possa se
apresentar ao mundo do trabalho valorizando seus atributos. O que se propõe, portanto, é que
os bolsistas entendam que precisam participar ativamente do processo de suas escolhas
profissionais; que caminhem além, gerenciando, também, o uso de suas capacidades,
competências, habilidades e saberes, de modo que sejam os primeiros a valorizar seus
122
interesses e a se colocar com dignidade e autoconfiança frente às exigências das organizações
e da sociedade em geral.
Pautado nessa perspectiva é que esta proposta de OP contempla, de forma inovadora, a
combinação de atividades em grupo e individuais, presenciais e a distância, com o propósito
de municiar o jovem com informações e orientações sobre o mundo do trabalho e suas
peculiaridades, mas, acima de tudo, visando contribuir para o seu “empoderamento” para o
uso de suas capacidades e saberes a partir das análises do seu inventário de saberes. Significa
franquear a esses jovens não somente a oportunidade de acesso ao Ensino Superior, mas,
também, a de dar continuidade ao seu desenvolvimento como indivíduo, cidadão e
profissional, proporcionando-lhes uma transição para o mundo do trabalho de forma
autônoma e emancipada, valorizadora de seus atributos socioculturais, promovendo melhoria
da sua qualidade de vida e, consequentemente, desenvolvimento local.
Inspirado em Abade (2005, p. 143), acredita-se que o papel da OP “[…] não é
prescrever um modelo de sociedade e de homem, mas construir propostas que possam
convergir para a transformação de nossas condições de existência, no sentido de uma
sociedade mais democrática e menos desigual”.
Finalmente, esta investigação não tem a pretensão de encerrar a discussão sobre o
tema e o problema selecionados para estudo, mas a de contribuir para o alargamento do
espaço para novas reflexões e a de provocar interesse por novas pesquisas sobre as condições
e situações de estudantes de instituições de ensino onde os contrastes sociais são ainda muito
nítidos e sobre as mudanças que se fazem necessárias nas políticas e práticas de recrutadores
para o mundo do trabalho.
123
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125
Apêndice B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Título da Pesquisa: ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES
BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLATRABALHO
Nome do Pesquisador Principal ou Orientador(a): Marco Túlio Carvalho de Souza Andrade.
1. Natureza da pesquisa: o sra. (sr.) está sendo convidada (o) a participar desse grupo focal que tem
como finalidade promover uma discussão e conhecer a opinião dos integrantes do grupo acerca da
inserção dos jovens beneficiários do ProUni no mundo do trabalho e do papel que a orientação
profissional pode ter nesse processo.
2. Participantes da pesquisa: as discussões serão conduzidas por meio da realização de três grupos
focais, prevendo-se dois encontros de sessenta minutos para cada grupo. O primeiro grupo será
composto pela equipe responsável pela OP no Centro Universitário UNA, atualmente composta por
seis profissionais. O segundo por 12 membros representando os cinco institutos do Centro
Universitário UNA e sua coordenação acadêmica: cinco diretores de institutos, dois coordenadores
acadêmicos e cinco docentes, um por instituto. O terceiro será composto por oito discentes
beneficiários do ProUni representando cada um dos oito campi do Centro Universitário UNA.
3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a(o) sra (sr) permitirá que o (a) pesquisador
(a) conheça as experiências vividas pelos participantes bem como sua percepção acerca do tema,
identificando elementos que possam comprovar as hipóteses do projeto . A sra (sr.) tem liberdade de
se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa,
sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a
pesquisa por meio do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário do telefone do
Comitê de Ética em Pesquisa.
4. Sobre as entrevistas: não aplicável.
5. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os
procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres
Humanos conforme Resolução no. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.
6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais.
Somente o (a) pesquisador (a) e o (a) orientador (a) terão conhecimento dos dados.
7. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto,
esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o processo de transição escolatrabalho de alunos beneficiários do ProUni no Centro Universitário UNA, de forma que o
conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa contribuir para o desenvolvimento
de um programa de orientação profissional voltado para esses alunos. O pesquisador se compromete
a divulgar os resultados obtidos em sua dissertação de mestrado.
8. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como
nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento
de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.
Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.
Consentimento Livre e Esclarecido
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu
consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e
autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.
Nome do Participante da Pesquisa:
Assinatura do Participante da Pesquisa:
Assinatura do Pesquisador:
Assinatura do Orientador:
Pesquisador Principal: Marco Túlio Carvalho de Souza Andrade / tel.: 31-99582111
Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG Contato: email:
[email protected] / tel.: 3508-9136 / 3508-9108
126
Apêndice C
Roteiros para a realização dos grupos focais
I. Questões propostas para a sessão de grupo focal com os profissionais do Núcleo de
Carreira da UNA – GF1
Qual o perfil do aluno do ProUni? Este perfil difere ou é similar ao dos demais alunos?
O que é Orientação Profissional?
Como ela é realizada junto aos alunos do Centro Universitário UNA? Qual a opinião sobre a
forma como é realizada?
Como é o processo de transição escola – trabalho dos alunos atendidos pelo Núcleo de
Carreira?
O aluno do ProUni apresenta dificuldade(s) nesse processo de transição? Se sim, qual ou
quais? Esse processo difere dos demais alunos?
A proposta de orientação profissional é adequada ao aluno ProUni? Se não, o que sugeriria
como proposta de orientação profissional voltada para esse perfil de aluno?
II - Questões propostas para a sessão de grupo focal com os alunos beneficiários do ProUni –
GF2
O que motivou a escolha pelo curso superior?
Quais as expectativas em relação ao futuro profissional? O que acredita ser preciso fazer
para alcançá-las?
Você está inserido no mundo do trabalho?
Se sim, como?
Se não, por que não?
Categorias:
- Dificuldades para inserção no mundo do trabalho na área de formação e fora dela.
- Características pessoais exigidas pelas empresas para inserção no mundo do trabalho.
- Alunos do ProUni e outros que não são do ProUni frente às características pessoais demandadas
pelas empresas.
- Expectativas com relação ao que as IES podem e devem fazer para contribuir com a inserção dos
alunos que apresentem dificuldades para isso.
Qual o grau de dificuldade de inserção no mundo do trabalho? Já vivenciou alguma
dificuldade? Se sim, relate como foi.
Há características específicas que são exigidas pelas organizações para a inserção no
mundo do trabalho? Se sim, quais? Acredita possuir essas características? E seus colegas que não
são do ProUni possuem essas características?
Como é sua relação com os colegas dentro e fora de sala de aula?
Já participou de algum processo de orientação profissional? Se sim, como foi?
Como acredita que uma instituição de ensino deva contribuir para a inserção de alunos no
mundo do trabalho?
127
III – GF3
Questões propostas para a sessão do grupo focal com diretores, coordenadores e docentes
do Centro Universitário UNA -GF3
1. Perfil do aluno ProUni
Quais são os elementos que caracterizam o perfil do aluno ProUni? Eles divergem daqueles que
caracterizam os alunos de estratos sociais mais favorecidos?
Se sim, como?
Se não, em que são comuns?
Como percebem a integração dos alunos do ProUni com os demais alunos dentro e fora da sala de
aula?
2. A transição escola-trabalho
Como acredita que ocorra o processo de transição escola-trabalho dos discentes do ensino superior?
Em que momento essa transição ocorre?
Percebe alguma dificuldade?
Percebe alguma facilidade?
Qual é o perfil de egresso do ensino superior desejável pelo mundo do trabalho?
O aluno do ProUni apresenta esse perfil?
Se não, o aluno ProUni apresenta características que poderiam ser
consideradas positivas pelo mundo do trabalho?
Se sim, quais?
O professor exerce algum papel no processo de orientação profissional do aluno?
Se sim, qual?
Se não, acha que deveria exercer? De que forma?
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Anexo A - Cópia do parecer da Plataforma Brasil
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Marco Túlio Carvalho de Souza Andrade