CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL MARCO TÚLIO CARVALHO DE SOUZA ANDRADE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO Belo Horizonte 2014 MARCO TÚLIO CARVALHO DE SOUZA ANDRADE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Área de concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Educação e Desenvolvimento Local. Orientadora: Drª Lucília Regina de Souza Machado. Belo Horizonte 2014 A553o Andrade, Marco Túlio Carvalho de Souza Orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do Prouni com foco nos desafios da transição escola-trabalho. / Marco Túlio Carvalho de Souza Andrade. – 2014. 131f. Orientadora: Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado. Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2014. Curso do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Bibliografia f. 97-104. Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras AGRADECIMENTOS Aos meus pais, José e Maria Alice, que sempre me incentivaram a acreditar nas conquistas. Ao meu querido irmão, Paulo César, O irmão. Ao João, pela presença marcante, sempre. Aos amigos e colegas de trabalho do Centro Universitário UNA. Aos amigos, por aceitarem minhas ausências. À Lucília, orientadora ímpar, transformadora. RESUMO Investigam-se os processos de orientação profissional que precisam ser promovidos pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG, com foco no jovem das camadas populares e beneficiário do ProUni – Programa Universidade para Todos –, visando ao seu desenvolvimento como sujeito autônomo e emancipado na transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. A investigação se orienta por esta questão central: que elementos e dimensões precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da orientação profissional, direcionada aos jovens oriundos das camadas populares e beneficiários do ProUni, para caracterizá-la como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local? No primeiro capítulo, apresentam-se elementos da revisão teórica que deram suporte à investigação e que tratam: 1) do cenário educacional brasileiro quando da criação do ProUni; 2) dos objetivos desse programa e sua evolução no País e no contexto do Centro Universitário UNA; 3) do conceito de juventude, das especificidades da condição juvenil nas camadas populares; 4) do processo de transição escola-trabalho; e 5) dos desafios da orientação profissional considerando-se tais circunstâncias. No segundo capítulo, apresentam-se os resultados da pesquisa de campo, realizada no Centro Universitário UNA, por meio de três grupos focais: o primeiro, constituído por profissionais do Núcleo de Carreira dessa instituição; o segundo, por discentes beneficiários do ProUni; e, o terceiro, por membros do corpo docente e gestores acadêmicos do Centro Universitário UNA. Os dados obtidos evidenciam a necessidade de um novo olhar para a orientação profissional realizada pela instituição, que considere as especificidades do alunado do ProUni e sua efetiva e qualificada inserção profissional. Propõe-se, então, um protocolo ou metodologia sobre orientação profissional dirigida aos jovens universitários do ProUni. Trata-se de proposta de intervenção que visa promover inovação social e pedagógica na implementação dessa política de ação afirmativa e a concretização do seu potencial de contribuição para o desenvolvimento local. Palavras-chave: ProUni. Orientação Profissional. Juventude. Educação Superior. Desenvolvimento Local. ABSTRACT Research on the professional orientation that need to be promoted by the Career Center at Centro Universitário UNA, in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil, focusing on the low income young people who are beneficiaries of ProUni – Programa Universidade para Todos –, aiming at their development as an autonomous and emancipated individual in the transition from higher education to the work world. The research is based on this central question: what elements and dimensions need to be considered in the social and pedagogical intervention of the professional orientation directed to young people from lower social stratum who benefit from ProUni, in order to characterize it as a social innovation with educational effect and in accordance with the requirements for local development? The first chapter presents the theoretic review elements which supported the research, as follows: 1) the Brazilian educational scenario when ProUni was launched; 2) the objectives of ProUni and its evolution in the country and at Centro Universitário UNA; 3) the young people concept and its specific characteristics inherent to young students from lower social stratum; 4) the transition from higher education to work market; and 5) the professional orientation challenges, taking these circumstances into account. The second chapter presents the results of the field research carried out at Centro Universitário UNA, through three focal groups: the first one with the institution Career Center professionals; the second one, composed by students who benefit from ProUni; and, the third one, with professors and academic management professionals of Centro Universitário UNA. The collected data evidence the need of a new look towards the institution’s professional orientation that considers ProUni students specific realities and their effective and qualified employability. Therefore, this research proposes a professional orientation protocol or methodology addressed to ProUni young university students. It is an intervention proposal that seeks to promote social and pedagogical innovation with the implementation of this affirmative politic action and achievement of its potential contribution to local development. Keywords: ProUni. Professional Orientation. Young People. Higher Education. Local Development. LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Evolução do Número de Instituições de Educação Superior Públicas e Privadas Brasil – 2001-2010 ……………………………………………………..…… 23 GRÁFICO 2 - Evolução do Número de Bolsistas ProUni - UNA - 2005-2012 …….. 26 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Abmes - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior Cofins - Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido EaD - Educação a Distância ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio Febraban - Federação Brasileira de Bancos FIES - Financiamento ao Estudante do Ensino Superior GF - Grupo Focal IES - Instituição de Ensino Superior INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio Teixeira” IRPJ - Imposto de Renda de Pessoa Jurídica ISOP - Instituto de Seleção e Orientação Profissional MEC - Ministério da Educação NAP - Núcleo de Apoio Psicopedagógico MG - Minas Gerais OP - Orientação Profissional P – Participante PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação PNE - Plano Nacional de Educação PIS - Programa de Integração Social ProUni - Programa Universidade Para Todos SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................………..………………........ 8 1 PROUNI, JUVENTUDE, TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL .……………………………………………………….………..…… 20 1.1- O cenário educacional brasileiro na criação do ProUni – Programa Universidade para Todos – e sua evolução …………….… 20 1.2 - O ProUni e o Centro Universitário UNA ……………………….…..… 25 1.3 - O cenário atual e a legitimidade do ProUni ………………………..… 26 1.4 - A juventude e o jovem das camadas populares …………………..… 31 1.5 - O processo de transição escola-trabalho e um novo olhar para a orientação profissional ……………………………………………….. 39 2 RELATO DA PESQUISA COM ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, PROFESSORES E GESTORES DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA .……………………………………………….………..…… 52 2.1 Introdução ……………………………………………………………...…. 52 2.2 O perfil do aluno ProUni e sua relação com os alunos não-beneficiários do Prouni ……………………………………………………………..….... 55 2.2.1 Engajamento e comprometimento ………………….…... 55 2.2.2 Desempenho acadêmico ……………………………..….. 58 2.2.3 A integração com os colegas ……………………….…… 60 2.3 A transição escola-trabalho …………………………………………...… 61 2.3.1 As expectativas do mundo do trabalho..............…….…... 61 2.3.2 O processo de transição e seus desafios ..……………… 66 2.3.3 O potencial dos alunos ProUni ………………………...…. 70 2.3.4 A escolha profissional ……………....……………………. 73 2.4 A Orientação Profissional ……………………………..……………..….. 74 2.5 Considerações finais ...………..…………………………………………. 77 3 UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA................................78 3.1 Introdução …………….....…………………………….…..………….…...78 3.2 Desenvolvimento …………………………….....…………………….….. 80 3.3 Descrição detalhada da intervenção ………..………………….…….... 83 CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………..………………… 90 REFERÊNCIAS ………………………………………………………………….……….. 97 Apêndice A – Artigo derivado da dissertação ..........................................................105 Apêndice B ………………………………………………………………......……………125 Apêndice C ………………………………………………………………………......……126 Anexo A …………………………………………………………………….…......………128 8 INTRODUÇÃO Definiu-se como tema dessa pesquisa a orientação profissional oferecida aos jovens das camadas populares e com acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni – Programa Universidade para Todos –, com vistas à sua efetiva e qualificada inserção no mundo do trabalho. O problema aqui circunscrito, a partir do tema da investigação, pode ser assim sintetizado: a formação dos jovens universitários das camadas populares e beneficiários do ProUni, compreendida na perspectiva de uma qualificada e efetiva transição escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo de orientação profissional fundamentado nas origens, condições e identidades socioculturais desses jovens. Contudo, tal compreensão do ponto de vista teórico e, sobretudo, da intervenção social e pedagógica, ainda se mostra insuficiente. A dúvida que surge se refere à especificidade da orientação profissional a ser desenvolvida; especialmente, sobre os elementos e dimensões que precisam ser considerados para que tal intervenção possa se caracterizar como uma inovação social e pedagógica e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local. O objeto da presente investigação se refere aos processos de orientação profissional, que precisam ser promovidos pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG, com foco no jovem das camadas populares e beneficiário do ProUni, visando ao seu desenvolvimento como sujeito autônomo e emancipado na transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. A investigação se orientou pela seguinte questão central: que elementos e dimensões precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da orientação profissional aos jovens oriundos das camadas populares e beneficiários do ProUni, que possam a caracterizar como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local? 9 A partir dessa indagação, foram formuladas quatro assertivas, com o sentido de orientar e encaminhar a realização dos objetivos da pesquisa. São elas: 1. o aluno do ProUni oriundo das camadas populares apresenta dificuldades para a sua inserção no mundo do trabalho; 2. o aluno do ProUni é percebido, pela instituição universitária, como um jovem com uma série de capacidades não percebidas ou não valorizadas pelo mundo do trabalho e pelas organizações empresariais; 3. os profissionais de recursos humanos, ao difundir o que creem ser as expectativas das organizações empresariais, apresentam requerimentos de qualificação exigidos dos egressos do Ensino Superior segundo uma tipologia pré-estabelecida e com características de padronização; e 4. faz-se necessária uma proposta inovadora de orientação profissional, que considere, de um lado, o preparo para a transição escola-trabalho, tomandose como referência as características socioculturais dos jovens do ProUni, e, de outro, que estabeleça diálogos com os profissionais de recursos humanos responsáveis pelas atividades de recrutamento e seleção de pessoas para atuar nas organizações. O interesse do pesquisador pela temática surgiu por volta do ano 2010, quando, como coordenador do Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, passou a lidar diretamente com projetos de orientação profissional e de desenvolvimento de carreira dos alunos dessa instituição universitária, defrontando-se com a complexidade do processo de transição dos alunos universitários para o mundo do trabalho. Inicialmente, essa inquietação o levou a desenvolver, em conjunto com uma equipe de profissionais da Psicologia, o Programa de Desenvolvimento de Carreira, projeto voltado aos discentes da graduação do Centro Universitário UNA e pautado no processo de autoconhecimento por meio de análise de perfil e mapeamento de competências. 10 Em contato com programas de estágios das organizações parceiras do Centro Universitário UNA, passou, então, a realizar processos seletivos para inserção de jovens universitários no mercado de trabalho por meio dos programas de estágio, incluindo alunos do ProUni oriundos de camadas populares. Nesse momento, pôde constatar as vulnerabilidades que atingem esses alunos nos processos seletivos das organizações. Por falta de aderência aos quesitos exigidos pelas empresas, especialmente pela carência de uma visão mais global por parte desses jovens, percebeu que eles experimentam maior dificuldade de aprovação em processos seletivos destinados a estágios. Anteriormente, entre os anos 1991 e 2009, havia acompanhado a trajetória profissional de jovens que realizaram programas de intercâmbio cultural e estudantil e que, ao retornarem aos seus ambientes locais, apresentaram um nível de preparo mais próximo daquele exigido pelo setor produtivo, realidade diversa daquela encontrada entre os alunos do ProUni. Os alunos provenientes de camadas sociais com acesso amplo a bens culturais valorizados na concorrência de mercado, viagens e visão aderente à dinâmica da globalização, mostravam-se mais propensos a se destacarem nos processos seletivos. São jovens que apresentam diferenciais com relação ao que conseguem pelo simples acesso ao Ensino Superior, o que lhes confere vantagem competitiva em relação aos alunos oriundos das camadas populares. Com essa inquietação, iniciou, em 2011, o Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, com o desejo de pesquisar, compreender e propor ações com efetividade social, levando em conta que os alunos de Ensino Superior oriundos das camadas populares são diferentes, com especificidade que representa valores que precisam ser (re)conhecidos, inclusive por eles, que podem torná-los preparados para ultrapassar a ponte para o mundo do trabalho, respeitando-se suas identidades socioculturais. Seu desejo investigativo se fez cada vez mais presente e, atualmente, à frente do Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, e, ainda, como responsável pela coordenação dos programas de orientação profissional destinados aos discentes 11 dessa instituição de ensino, percebe que há uma situação propícia à valorização institucional de sua pesquisa, proposta e desenvolvida para este mestrado. Compreende, também, que a investigação que realizou é de grande relevância social, porque a temática proposta foi planejada para possibilitar o desenvolvimento de instrumental técnico sobre processos educacionais com perspectiva de inovar socialmente e contribuir para promover o desenvolvimento local. O estudo foi motivado pela necessidade de uma intervenção voltada para a melhoria dos processos educacionais e dos percursos formativo e profissional de jovens universitários oriundos das camadas populares, visando garantir a elevação da sua qualidade de vida e reflexos positivos no desenvolvimento local. Diante dessa perspectiva, vale lembrar que o acesso ao Ensino Superior tem sido um desafio constante para determinados segmentos da sociedade brasileira, especialmente o acesso ao Ensino Superior privado. Visando estreitar a distância entre milhões de jovens brasileiros e o Ensino Superior, o Governo Federal pôs em marcha, em 2005, o Programa Universidade para Todos - ProUni, uma política pública de Educação com foco na inclusão social no Ensino Superior. O ProUni surge, então, em um momento de redefinições acerca da política de Educação no Brasil, reforçando o que viria a ser debatido e incluído no PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação –, instituído em 2007. A partir de uma agenda educacional estabelecida pelo MEC – Ministério da Educação –, o PDE contemplou, em seus mais de 40 (quarenta) programas, 4 (quatro) eixos norteadores: Educação Básica, Educação Superior, Educação Profissional, e Alfabetização. No âmbito da Educação Superior, estabeleceu, como princípios: a expansão da oferta de vagas, a garantia da qualidade do ensino e a inclusão social por meio da democratização do acesso ao Ensino Superior privado. Nesse contexto, o ProUni assume papel relevante para o alcance dos objetivos e das metas desse plano governamental. Criado em 2004, pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 11.096/05 (BRASIL, 2005), o ProUni tem por finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de Educação Superior. 12 Embora esse programa possa ser considerado eficaz como política pública garantidora da inclusão de jovens oriundos das camadas populares no Ensino Superior, não se mostra eficaz no combate à evasão e consequente permanência desses jovens na escola e, muito menos, na complexa transição escola-trabalho. O mercado de trabalho espera e exige, cada vez mais, que os jovens egressos do Ensino Superior tragam em sua formação um acervo de vivências e um amplo repertório cultural e comportamental. As empresas exigem, portanto, que o universitário esteja inserido na discussão sobre os atuais requisitos de qualificação profissional e demonstre ter informações, conhecimentos, competências, habilidades, atitudes e valores ligados a uma vivência e visão ampla do mundo das empresas, das relações interprofissionais e do mercado. Essas exigências ficam evidentes na condução das entrevistas e dinâmicas realizadas com os candidatos a vagas em processos seletivos de estágios em diversas organizações. Por carência desse repertório e por não estarem devidamente orientados a explorar as potencialidades culturais e pessoais que possuem, os jovens oriundos das camadas populares têm mais dificuldade de aprovação nesses processos seletivos de estágios, que são, via de regra, a porta de entrada para o mercado de trabalho. Por outro lado, alunos provenientes de camadas sociais mais favorecidas por bens culturais de acesso mais restrito, com viagens e visão globalizada do mundo do trabalho, destacam-se mais nos processos seletivos. São jovens que, embora vivam localmente, estão conectados a informações e valores mais próximos das relações ditadas pelo mundo capitalista globalizado, o que lhes dá um diferencial, em termos de vantagem competitiva, em relação ao universitário oriundo das camadas populares. Por esse motivo, em 2011, o MEC – Ministério da Educação – e a Febraban – Federação Brasileira de Bancos – firmaram parceria com o objetivo de estabelecer cotas para alunos do ProUni nos programas de estágio em bancos. Isto é: os jovens do ProUni, embora tenham excelente desempenho acadêmico, são considerados mais vulneráveis nos processos seletivos e, por essa razão, foi necessário criar um programa que lhes direcionasse um número garantido de vagas de estágios. Tal fato reforça os questionamentos acerca da fragilidade dos jovens das camadas 13 populares candidatos às vagas de estágios. O ProUni se, de um lado, garante a inclusão no Ensino Superior; como política pública, abraça a concepção de cotas também na inserção dos alunos beneficiários em programas de estágios. Essa situação tem se agravado em virtude tanto da falta de preparo dos discentes (em sua maioria, vulneráveis às exigências do mercado de trabalho) quanto pela falta de informação dos profissionais de recursos humanos responsáveis pelos processos de recrutamento e seleção acerca dos potenciais desses jovens e dos valores que eles possuem. Ora, os alunos oriundos do ProUni não são capazes de concorrer em igualdade de condições com alunos não-bolsistas para as vagas de estágio nas organizações? Tal questionamento coloca em debate a noção de falsa democratização do Ensino Superior e de reforço das estratégias de ação afirmativa em face da reposição dos pressupostos da estratificação social. Afinal de contas, além de ser uma política pública do campo educacional, o ProUni também pode ser visto como política pública para o jovem brasileiro. Entre os desafios do Governo Federal, inclusive dentro da Política Nacional de Juventude,1 estão o preparo para o mundo do trabalho e a geração de trabalho e renda para os jovens. E os jovens oriundos das camadas populares não podem ser colocados à margem desse processo. Portanto, para garantir o que preconiza o governo federal e os anseios de famílias e dos jovens das camadas populares, o significado do ProUni assume novos contornos e inaugura um novo dilema: deixar os egressos desse programa à própria sorte ou lhes oferecer atenção específica ainda como estudantes e condições para que desenvolvam percepções mais ampliadas do mundo do trabalho e de seus desafios. Constata-se, assim, que mudanças nas abordagens educacionais aos universitários beneficiários do ProUni precisam ser feitas, que reflitam positivamente em seus desempenhos em processos seletivos das organizações. Percebe-se, por outro lado, a importância da promoção de uma Educação Superior que também não dê as costas aos conhecimentos e valores que os jovens das camadas populares trazem e que lhes despertam sentimentos de pertencimento e de (auto)afirmação sociocultural. 1 http://www.juventude.gov.br/politica. 14 Vale salientar que a estratégia de criação de cotas para estagiários ProUni, por si, não é capaz de lhes dar autonomia para prosseguir nas suas carreiras profissionais. A estratégia mais consistente remete a intervenções na formação e orientação desses jovens com sentido de fortalecimento dos seus potenciais e valores e de redução das suas vulnerabilidades. A realização profissional desses jovens se reflete na sua qualidade de vida, e na de suas famílias, e, consequentemente, no desenvolvimento local, e isso pode ser feito ou requer ser feito articulando-se os requisitos do agir localmente, considerando-se suas determinações particulares, com as exigências do pensamento mais universalizado, mais global, que o mundo do trabalho hoje apresenta. A pesquisa se apoiou em revisão teórica e documental compreendendo três eixos. O primeiro abordou o cenário educacional brasileiro na criação do ProUni, objetivos desse programa, sua evolução no País e no contexto do Centro Universitário UNA. Para tanto, foram utilizados dados secundários proporcionados por pesquisas e censos realizados entre 2005 e 2012 e dados primários referentes à participação do Centro Universitário UNA nesse programa. O segundo cerniu o conceito de juventude, juventudes e a condição do jovem das camadas populares. O terceiro tratou do processo de transição escola-trabalho e da orientação profissional, considerando as condições socioculturais dos jovens universitários das camadas populares. Tais análises foram apresentadas no primeiro capítulo desta dissertação. Essa pesquisa objetivou sistematizar e gerar conhecimentos, tendo em vista a solução de um problema específico, de caráter social e educacional. Trata-se, portanto, de uma pesquisa que tem o sentido claro e intencional da inserção social, ao qual agrega a preocupação de contribuir com a transformação social. A pesquisa de campo se beneficiou da abordagem qualitativa, tendo em vista a necessidade de expressar e descrever as representações e interpretações dos sujeitos que foram consultados. Ela foi realizada, no Centro Universitário UNA, por meio de três grupos focais:2 o primeiro, constituído por profissionais do Núcleo de 2 O APÊNDICE C desta dissertação traz os roteiros para a realização dos grupos focais. 15 Carreira dessa instituição; o segundo, por discentes beneficiários do ProUni; e, o terceiro, por membros do corpo docente e gestores acadêmicos do Centro Universitário UNA. Os resultados das discussões que se verificaram nesses grupos focais são descritos e apresentados no segundo capítulo desta dissertação. Entre os autores que serviram de suporte técnico para a revisão teórica e documental e para a análise dos dados obtidos na pesquisa de campo, alguns tiveram relevante papel. O trabalho de Costa (2012) foi a base para toda a contextualização e análise do ProUni. Spósito (2008) e Dayrell (2003) contribuíram com uma abordagem ampliada sobre a juventude e suas diversas faces. Snyders (1977) trouxe a perspectiva do “duplo rosto do proletariado”, o que foi decisivo para a abordagem do potencial, não percebido, dos estudantes das camadas populares. Bello (2008), Machado (2009) e Duarte (2011) foram decisivos para a análise dos processos de orientação profissional e para um novo olhar para essa intervenção. Ramírez (1994), Coimbra (2010) e Valore (2012) trouxeram importante contribuição no âmbito da transição escola-trabalho e seus desafios para os jovens oriundos das camadas populares. Estudos semelhantes e complementares foram realizados, anteriormente, por outros pesquisadores e revelam conclusões importantes para esta dissertação. Simões (2011), por exemplo, em tese de doutorado, pesquisou as mudanças e possibilidades na vida social dos bolsistas do ProUni, considerando aspectos socioeconômico e cultural-afetivo, bem como possibilidades sociais ensejadas por meio da Educação, concluindo que o ProUni representa uma oportunidade e um sonho, mas que ainda há questões a serem enfrentadas para que ocorram mudanças e efetiva inclusão social dos bolsistas. Costa (2012), uma das autoras-base para o estudo sobre o ProUni, por sua vez, investigou, em seu doutorado, se essa política pública possibilitou melhores condições de inserção no mercado de trabalho e melhorias nas condições socioeconômicas dos egressos do Ensino Superior ex-bolsistas do ProUni, tendo concluído que o ingresso no Ensino Superior ampliou os horizontes dos jovens de baixa renda, possibilitou alguma ascensão profissional e melhorias nas condições de 16 trabalho, mas que ainda há desafios e obstáculos na transição escola-trabalho desses jovens [ex-]bolsistas do ProUni. Rizzo (2010), por seu turno, propôs um trabalho investigativo no sentido de entender a perspectiva da inclusão ou exclusão social do jovem bolsista do ProUni. A investigação trabalhou com a hipótese de que a inserção no Ensino Superior não implica, necessariamente, inclusão social do sujeito. Rizzo faz uma reflexão, ao final do relato da investigação, sinalizando que, entre os sujeitos pesquisados, há um sentimento de bem-estar, por conseguirem se inserir no Ensino Superior, mas há, ao mesmo tempo, um cenário de incertezas em relação ao futuro profissional. Ele concluiu que há inclusão no Ensino Superior, mas indícios de exclusão no futuro desses jovens. Esse mesmo autor (RIZZO, 2010) realizou outro estudo, também sobre estudantes bolsistas do ProUni, com o objetivo de verificar se, além do crescimento acadêmico, esses jovens experimentavam, também, mudança nos seus capitais cultural e social, e se ampliavam sua rede de relacionamentos com jovens de outros estratos sociais. O pesquisador afirma no final da pesquisa, que acredita, sim, que os alunos desenvolvem outras dimensões além do universo acadêmico e que essa mudança perpassa, também, seus familiares e amigos. Ainda, para esse pesquisador, a bolsa do ProUni é um “passaporte” para a saída da pobreza, uma vez que dá oportunidades de ascensão profissional, em algum nível. Dessa forma, há um conjunto de pesquisas que abordam tanto o [ex-]bolsista ProUni quanto a inserção dos jovens no mundo do trabalho. Entretanto, o que se pretendeu aqui foi abordar os desafios da transição do jovem oriundo de estratos sociais mais baixos e bolsista do ProUni da escola para o mundo do trabalho, tendo como pano de fundo os processos de orientação profissional. Essa perspectiva traz uma nova contribuição ao que já foi pesquisado, porque as pesquisas mencionadas discutem a efetividade do ProUni como política pública ou a potencial transformação gerada nos jovens beneficiários e em seus meios sociais. Esta investigação propõe um novo olhar para a orientação profissional que considere o preparo para a transição escolatrabalho tomando-se como referência as características socioculturais dos jovens do ProUni. Entre os conceitos centrais que nortearam e fundamentaram a análise estão 17 as diversas faces da juventude, ou, como ressalta Dayrell (2003), as diversas “juventudes”; as expectativas padronizadas do mundo do trabalho em relação aos jovens que realizam a transição escola-trabalho; os atuais processos de orientação profissional reducionistas se confrontados com o processo de globalização e com a diversidade humana em todas as suas dimensões; e um novo olhar para a orientação profissional, considerando que o jovem precisa ser considerado como indivíduo e orientado de acordo com seus aspectos socioculturais e sua trajetória de vida, ao mesmo tempo compreendendo que o profissional atual precisa gerenciar o uso de suas capacidades e saberes, equilibrando-as com as expectativas das organizações no mundo do trabalho. A escolha foi pela pesquisa qualitativa, utilizando como técnica de coleta de dados o grupo focal. A pesquisa qualitativa foi pertinente, uma vez que o objetivo geral da investigação foi analisar percepções e propostas sobre elementos e dimensões da orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do ProUni, considerando-se a realidade da transição escola-trabalho e perspectivas de inclusão social. Há, portanto, um aspecto que perpassa toda a pesquisa e reforça a adequabilidade do estudo qualitativo que é o senso comum dos sujeitos. Como os grupos focais são grupos de discussão que permitem diálogo sobre temas específicos a partir de estímulos para o debate, considerou-se ser essa a técnica mais adequada para a presente investigação. Os grupos focais promovem a integração do grupo, favorecem o engajamento e a troca de experiências e opiniões, essenciais para a abordagem do tema em questão. Por não ser estruturado com base em perguntas direcionadas individualmente, o grupo focal permite, também, maior descontração entre os participantes, o que pode gerar descobertas e novas ideias. Cabe salientar que o grupo focal também permite ao pesquisador explorar não somente o tema em si, mas, também, fatos relacionados ao tema são articulados, percebidos e confrontados entre o grupo, bem como os reflexos que o tema gera no cotidiano dos participantes. Portanto, com base nesses atributos dos grupos focais, foi essa a técnica escolhida para condução da investigação. 18 Foram realizados três grupos focais, organizados de acordo com cada perfil de participantes e conduzidos em ambiente adequadamente preparado, utilizando-se a sala de Psicologia do Centro Universitário UNA. O ambiente foi climatizado, as cadeiras foram dispostas em semicírculo, houve grande cuidado com ruídos e com a criação de um espaço propenso à exploração de ideias. Após a apresentação do mediador e do observador, todos os participantes se apresentaram, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A) e reiteraram interesse em contribuir com a investigação. As discussões foram devidamente registradas em formato de gravação de áudio e, posteriormente, transcritas com exatidão. O primeiro grupo focal foi composto por profissionais especialistas em orientação profissional, todas com formação na área da psicologia e que atuavam como orientadoras de alunos de Ensino Superior do Centro Universitário UNA. O grupo conduzia um projeto denominado Programa de Desenvolvimento de Carreira que consistia na análise de perfil e mapeamento das competências de alunos oriundos de todos os cursos e campi daquele centro universitário. O segundo grupo foi composto por alunos beneficiários do ProUni, oriundos de diferentes cursos e institutos do Centro Universitário UNA, quais sejam: Engenharia, Direito, Farmácia e Análise e Desenvolvimento de Sistemas. O terceiro grupo foi composto por diretores dos campi Barreiro, Barro Preto, Guajajaras, Betim, Contagem, Raja e Liberdade, o que permitiu uma cobertura geográfica bastante abrangente. Além dos diretores acadêmicos, contou-se com a participação de dois professores da área de comunicação e gestão. Durante os três grupos focais realizados estabeleceu-se um roteiro de questões norteadoras que seguiram uma ordem bastante clara. Inicialmente buscou-se informações acerca do perfil do aluno bolsista do ProUni e comparações com o perfil dos estudantes não bolsistas oriundos de estratos sociais mais elevados. Em seguida foi abordada a questão das expectativas do mundo do trabalho e dos recrutadores em relação aos perfis dos jovens do Ensino Superior quando da transição escola-trabalho. Nessa perspectiva, foram abordados também os desafios dessa transição e como essa transição pode ocorrer entre os alunos oriundos dos 19 estratos sociais mais baixos. A última dimensão abordada foi a orientação profissional e suas diversas nuanças atuais e perspectivas futuras. Nessa abordagem, debateu-se como a orientação profissional pode contribuir para o percurso profissional dos jovens bolsistas do ProUni e como a IES pode desenvolver um processo de orientação profissional voltado à realidade desses estudantes. A partir do próprio roteiro estabelecido e das respostas ao longo dos grupos focais, foi realizada a transcrição exata das discussões e em seguida categorização em cinco grandes áreas, quais sejam: o perfil do aluno ProUni e uma análise comparativa com os alunos não-beneficiários do ProUni; as demandas do mundo do trabalho; o processo de transição escola-trabalho; o processo de escolha; e a orientação profissional e a orientação profissional com foco no aluno ProUni. Essas categorias levaram a subcategorias que em seguida foram analisadas à luz dos conceitos centrais e debates entre os participantes. Para cada categoria foram feitas análises considerando os debates e percepções dos três grupos focais. A revisão teórica e as pesquisas documental e de campo forneceram subsídios para o desenvolvimento de uma contribuição técnica ao Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, município de Belo Horizonte - MG, tendo em vista a promoção dos jovens beneficiários do ProUni a sujeitos autônomos e emancipados na transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. Trata-se de um protocolo ou metodologia sobre orientação profissional a eles destinada, especificamente, de uma proposta de intervenção com o sentido de favorecer a inovação social e pedagógica na implementação dessa política de ação afirmativa e a concretização do seu potencial de contribuição para o desenvolvimento local. Essa contribuição técnica integra o terceiro capítulo desta dissertação. 20 1 PROUNI, JUVENTUDE, TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL. 1.1 O cenário educacional brasileiro quando da criação do ProUni – Programa Universidade para Todos – e sua evolução. Criado, em 2004, pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 11.096/2005 (BRASIL, 2005), o ProUni – Programa Universidade para Todos – tem por finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de Educação Superior. Em contrapartida, o Governo isenta as instituições que aderirem ao programa de pagamento de certos tributos. A adesão, por parte da IES – Instituição de Ensino Superior – privada, com ou sem fins lucrativos, beneficente ou não, é facultativa. Nesse contexto, o FIES – Financiamento ao Estudante do Ensino Superior3 – assume papel relevante para o alcance dos objetivos e das metas desse programa governamental. Do lado dos alunos, para que sejam elegíveis às bolsas do ProUni, alguns prérequisitos precisam ser atendidos. O candidato deve ser egresso do Ensino Médio da rede pública ou, na condição de bolsista integral, ser oriundo da rede particular de ensino. Em ambos os casos, desde que ainda não tenha concluído curso superior. Além disso, a renda per capita familiar não pode ultrapassar um saláriomínimo e meio, para bolsas integrais, e três salários-mínimos, para bolsas parciais. Entre os possíveis beneficiários estão, também, os professores da rede pública, para os cursos de Licenciatura, Normal Superior e Pedagogia; esses últimos, sem vínculo ou restrições no que diz respeito à sua renda familiar. Também estão previstas bolsas para deficientes físicos e autodeclarados indígenas e negros. Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM. 3 O FIES - Fundo de Financiamento Estudantil – é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na Educação Superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas. Durante o período de duração do curso, o estudante paga, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50,00 (cinquenta reais), referente aos juros incidentes sobre o financiamento. Após a conclusão do curso, o estudante tem 18 (dezoito) meses de carência para recompor seu orçamento e quitar o financiamento. 21 Assim, conforme se lê na Lei nº 11.096/05, [a]rt. 1º - [f]ica instituído, sob a gestão do Ministério da Educação, o Programa Universidade para Todos - PROUNI, destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50% (cinqüenta por cento) ou de 25% (vinte e cinco por cento) para estudantes de cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. (BRASIL, 2005) Do lado das IES, estas ficam obrigadas a oferecer, para cada 10,7 alunos matriculados e pagantes, uma bolsa integral e ou, ainda, conforme o parágrafo quarto do artigo quinto dessa mesma lei: [...] oferecer 1 (uma) bolsa integral para cada 22 (vinte e dois) estudantes regularmente pagantes e devidamente matriculados em cursos efetivamente nela instalados, (...) desde que ofereça, adicionalmente, quantidade de bolsas parciais de 50% (cinqüenta por cento) ou de 25% (vinte e cinco por cento) na proporção necessária para que a soma dos benefícios concedidos na forma desta Lei atinja o equivalente a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos por cento) da receita anual dos períodos letivos que já têm bolsistas do ProUni. (BRASIL, 2005) Essa questão, inclusive, esteve na pauta de inúmeras discussões entre as IES privadas e o Governo Federal. Embora a Medida Provisória do ProUni (BRASIL, 2004)4 estabelecesse um percentual de 10% da receita anual, as IES pleiteavam que esse valor fosse reduzido para 7,0%. Ao final, ficou em 8,5%. Isso quer dizer que a IES deve dedicar, em média, no mínimo, 8,5% de sua receita ao programa de concessão de bolsas (CATANI et al., 2006). Essa discussão sobre o percentual de receita anual dedicada pelas IES privadas ao ProUni aqueceu os debates acerca da legitimidade do programa e de sua real função social. Muitas IES privadas se encontravam em situação econômica delicada e o ProUni, como estratégia de captação de alunos, poderia ensejar a sobrevida delas. Nesse contexto, quanto menor o investimento da receita anual das IES no ProUni, tanto melhor para seus resultados financeiros. O ProUni seria, portanto, uma política pública que favoreceria a sobrevivência e até mesmo o crescimento das IES privadas. O fato é que a evolução do número de IES privadas apresentou crescimento de 75%, contra 53% das IES públicas, entre os anos 2001 e 2010 4 Medida Provisória nº 2013, de 10 de setembro de 2004, que foi, posteriormente, convertida na Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005 (BRASIL, 2005). 22 (BRASIL, 2011). Em 2004, no auge da discussão e aprovação da Lei do ProUni (BRASIL 2005), o presidente da Abmes – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – aqueceu ainda mais esse debate, ao afirmar que “[a] proposta não saiu como pretendíamos, mas é razoável e favorece as instituições privadas” (MENA, 2004, p. 2). Para Carvalho (2006, p. 986), “[o] ProUni surge como excelente oportunidade de fuga para frente para as instituições ameaçadas pelo peso de vagas excessivas”. Surge, aqui, uma questão sobre a relação do Estado com o setor privado de Educação Superior, qual seja: a concepção do governo de que seria mais factível e favorável, financeiramente, investir no ProUni do que nas escolas públicas de Ensino Superior. Isso se explica, em parte, pelo lado das IES privadas que, em contrapartida à liberação do pagamento das mensalidades pelos alunos, ficam isentas do pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS). Vale ressaltar que a isenção ocorre somente na proporção das bolsas efetivamente ocupadas. Fica, portanto, em evidência a questão acerca dos impostos que o governo deixaria de receber. Segundo cálculos do próprio Governo Federal, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 350.000.000,00 (trezentos e cinquenta milhões de reais) nas IES públicas, para que estas conseguissem suprir a demanda pelo Ensino Superior. Por meio das políticas de incentivo fiscal do ProUni, o governo deixaria de receber cerca de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), para atingir o mesmo objetivo; ou seja: há uma desoneração de R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais). Leher (apud COSTA, 2012) reforça tal entendimento, ao afirmar que [...] O ProUni é um mecanismo, uma modalidade de parceria públicoprivada, que repassa recursos públicos às instituições particulares. Essa aprovação da MP se dá num contexto em que as universidades públicas e as escolas públicas de um modo geral vivem um momento de muita dificuldade. (LEHER, 2004 apud COSTA, 2012, p. 69) 23 As opiniões de pesquisadores sobre a legitimidade do ProUni são divergentes. Para Marinho (apud COSTA, 2012), [...] Este programa deve ser encarado como uma ação emergencial, enquanto a política educacional se constrói, reconhecendo-se que o Brasil não poderia continuar dando as costas para aqueles que querem cursar uma faculdade e, para isso, dependem de bolsas de estudo. (MARINHO, 2005 apud COSTA, 2012, p. 69) Para outros, o ProUni é controverso como política pública garantidora de uma efetiva democratização do Ensino Superior. Coelho (2004) afirma que o ProUni é contraditório, em relação ao anteprojeto de Reforma Universitária, porque defende a expansão do Ensino Superior por meio do investimento de recursos públicos em instituições privadas. Os dados estatísticos reforçam a percepção em relação a esse entendimento. De 2001 a 2010, o número de IES no Brasil passou de 1.391 (mil, trezentos e noventa e uma) para 2.378 (dois mil, trezentas e setenta e oito), um aumento de 71,0%. Esse crescimento foi influenciado pelo aumento do número de IES privadas que passou de 1.208 (mil, duzentas e oito), em 2001, para 2.100 (duas mil e cem), em 2009 (73,8%). O número de IES públicas cresceu 51,9%, passando de 183 (cento e oitenta e três) para 278 (duzentas e setenta e oito), no mesmo período, conforme o GRÁF. 1, a seguir. GRÁFICO 1 - Evolução do Número de Instituições de Educação Superior Públicas e Privadas Brasil - 2001-2010. Fonte: MEC/Inep. 24 O ProUni pode, portanto, ter sido um dos fatores responsáveis pelo reforço na ampliação da rede privada de Ensino Superior no País. Almeida (2006) chama a atenção para o favorecimento das IES privadas com relação aos investimentos na Educação, uma estratégia compensadora para o Governo, que concede isenção fiscal de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), mas evita despender R$ 350.000.000,00 (trezentos e cinquenta milhões de reais) necessários à ampliação de vagas no Ensino Superior público. Catani, Hey e Gilioli (2006) questionam se o ProUni é, mesmo, um instrumento efetivo de democratização ou mero programa de estímulo à expansão das IES privadas. Segundo eles, o ProUni não é uma política de afirmação dos direitos de cidadania e entendem que [...] ao invés de privilegiar as IES privadas, o governo poderia investir no setor público, capaz de democratizar a educação superior. Todavia, para cumprir a meta do PNE de ampliar de 9% para 30% a população de 18 a 24 anos no ensino superior até 2010, o MEC optou por conceder benefícios e não promover direitos. (CATANI et al., 2006, p. 137) Embora sejam divergentes as opiniões acerca da legitimidade do ProUni, os números surpreendem e mostram que o programa atendeu, desde sua criação até o processo seletivo do primeiro semestre de 2012, cerca de um milhão e seiscentos mil alunos, sendo 67% por cento de bolsistas integrais e 33% por cento de bolsistas parciais. A evolução de alunos beneficiários mostrou um crescimento de 250% (duzentos e cinquenta por cento), entre 2005 e 2012 (BRASIL, 2012, p. 1). Considerando-se a categoria administrativa das instituições de ensino, os dados mostram que as IES com fins lucrativos representam 53% do total de instituições que aderiram ao programa, seguidas daquelas sem fins lucrativos e não beneficentes, que representam 28% e das entidades beneficentes de assistência social, com 19% de participação. A região Sudeste é a que mais reúne estudantes beneficiários, concentrando 52% por cento do total de alunos bolsistas. Em seguida, aparece a região Sul, com 19%; a Nordeste, com 15%; a Centro-Oeste, com 9,0%; e a região Norte, com 5%. Na 25 região Sudeste, o Estado de São Paulo, maior em número de beneficiários, 326.950 (trezentos e vinte e seis mil, novecentos e cinquenta) bolsistas, aparece com mais do que o dobro de beneficiários, se comparado ao Estado de Minas Gerais, segundo colocado, que, no período de 2005 a 2012, apresentou um total de 127.144 (cento e vinte e sete mil, cento e quarenta e quatro) bolsistas. Os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo aparecem em terceiro e quarto colocados, com 66.925 (sessenta e seis mil, novecentos e vinte e cinco) e 16.604 (dezesseis mil, seiscentos e quatro) bolsistas, respectivamente (BRASIL, 2012, p. 1). Considerando-se que as regiões que também reúnem parcela considerável da população de jovens no País que mais necessitam de políticas de inclusão social efetivas estão fora do eixo Sul/Sudeste, os números do ProUni merecem uma análise mais profunda. O fato de ser a região Sudeste a economicamente mais desenvolvida e, também, a mais beneficiada pelo programa traz à tona a reflexão se o Prouni promove, de fato, a democratização do acesso ao Ensino Superior para quem efetivamente precisa dele. Essa questão não se limita apenas às regiões do País, mas, também, à natureza dos cursos e dos alunos beneficiários. Não foram poucos os casos em que estudantes de Medicina, em condições de pagar pelo curso, foram beneficiados pelo ProUni. Nesse aspecto, os processos de concessão, acompanhamento e controle das bolsas precisam estar constantemente em sintonia com as reais necessidades sociais. 1.2 O ProUni e o Centro Universitário UNA O Centro Universitário UNA aderiu ao ProUni desde o seu início, em 2005, abrindo a possibilidade de concessão de bolsas parciais e integrais, por esse programa, em todos os seus processos seletivos. Entre os anos de 2005 e 2012, foram concedidas 4.186 (quatro mil, cento e oitenta e seis) bolsas, sendo 3.529 (três mil, quinhentos e vinte e nove) integrais (84,3%) e 657 (seiscentas e cinquenta e sete) parciais (15,7%) (GRÁF. 2). 26 GRÁFICO 2 - Evolução do Número de Bolsistas ProUni - UNA - 2005-2012. 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Bolsas Integrais Bolsas Parciais 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Total Fonte: Centro Universitário UNA. O ano de 2011 apresentou, na IES, uma queda no número de bolsas ProUni, em razão de maior concessão de bolsas aos seus alunos feitas por esse programa no ano anterior. No primeiro semestre de 2012, a IES registrou 327 (trezentas e vinte e sete) bolsas para ingressantes. Do total de bolsas integrais concedidas até 2012, quase 300 (trezentos) alunos apresentam desempenho acadêmico inferior àquele exigido pelo MEC. Isso quer dizer que quase 10% (dez por cento) dos alunos bolsistas integrais que ingressaram na instituição desde 2005 tinham rendimento abaixo de 75%. Segundo o Manual do Aluno Bolsista ProUni (MEC, 2012), a não-aprovação, com no mínimo 75% de aproveitamento nas disciplinas cursadas em cada período, pode ensejar o encerramento da bolsa. Em 2013, a IES registrou 538 (quinhentas e trinta e oito) bolsas integrais e parciais. 1.3 O cenário atual e a legitimidade do ProUni A permanência dos estudantes nas instituições é um dos dados que devem ser considerados acerca da eficiência do ProUni. Há dois aspectos a serem considerados, quanto a isso: o primeiro, supramencionado, em relação ao mínimo de aproveitamento de 75% exigido pelo MEC; o segundo está ligado à capacidade econômica do aluno bolsista de se manter enquanto realiza o Ensino Superior. Para 27 Catani et al. (2006), até como mera política assistencialista o ProUni é fraco, porque espera que as IES privadas "cuidem" da permanência do estudante. O programa abre o acesso à Educação Superior, “[…] mas não oferece mais do que um arremedo de cidadania de segunda classe aos contemplados” (CATANI et al., 2006, p. 135). Cabe lembrar que o ProUni previa, em sua primeira versão, cobrir 20,0% das vagas de todo o setor privado, percentual que caiu, por falta de adesão, para 8,5%. Diante desses dados, esse programa pode estar se desfigurando. Na melhor das hipóteses, seria assistencialista, ao priorizar apenas o acesso do estudante ao Ensino Superior (CATANI et al., 2006). Até mesmo os representantes das mantenedoras levantaram a questão da permanência: "[…] um dos pontos criticados por representantes das instituições e dos estudantes é a renda per capita exigida, de um salário mínimo, o que impossibilitaria o estudante de se manter na universidade" (TAKAHASHI, 2004 apud CATANI et al., 2006, p. 129). Verifica-se, portanto, um questionamento com relação à oferta de bolsas parciais, porque, em razão da renda baixa, o problema crônico da evasão escolar nas IES privadas seria reforçado. A solução encontrada pelo Governo foi ampliar a renda exigida para três salários-mínimos. Considerando os diversos cenários e possibilidades de evasão, o ProUni foi obrigado a desenvolver ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes nas instituições. A criação da Bolsa Permanência, prevista na Lei nº 11.180, de 23 de setembro de 2005 (BRASIL, 2005), é um exemplo claro desse direcionamento. De acordo com esse dispositivo legal, além da bolsa do ProUni, [a]rt 11 – [f]ica autorizada a concessão de bolsa-permanência, até o valor equivalente ao praticado na política federal de concessão de bolsas de iniciação científica, exclusivamente para custeio das despesas educacionais, a estudantes beneficiários de bolsa integral do Programa o Universidade para Todos (Prouni), instituído pela Lei n 11.096, de 13 de janeiro de 2005, matriculado em curso de turno integral, conforme critérios de concessão, distribuição, manutenção e cancelamento de bolsas a serem estabelecidos em regulamento, inclusive quanto ao aproveitamento e à frequência mínima a ser exigida do estudante. (BRASIL, 2005, p. 1) 28 Em seguida surgiram outras iniciativas nesse sentido, a exemplo dos convênios de estágio com a Febraban – Federação Brasileira de Bancos5 – e o próprio Fies – Fundo de Financiamento Estudantil –, que possibilita ao bolsista parcial do ProUni financiar até 100% da mensalidade não coberta pela bolsa. De fato, a evasão no Ensino Superior merece um olhar atento, não somente restrito ao universo dos alunos beneficiários do ProUni, mas no cenário do Ensino Superior privado como um todo. De acordo com estudo realizado pelo MEC, a partir de dados do resumo técnico do censo da Educação Superior do ano de 2010, observa-se que foi de 15,6% o percentual de alunos que deixaram o Ensino Superior antes da conclusão de seus cursos em instituições privadas. Esses dados têm como referência os anos de 2009 e 2010 (MEC, 2011). Embora possa o ProUni ser considerado uma política pública efetiva no combate à exclusão do Ensino Superior, especialmente em termos quantitativos, pois, permitiu o acesso a esse nível de ensino a mais de um milhão e meio de jovens brasileiros, está ainda aquém das expectativas do governo federal e das necessidades sociais. De acordo com o PNE – Plano Nacional de Educação –, aprovado em 2001, a meta era elevar, até 2010, a taxa de escolarização líquida de 8,9% para 30%, entre os jovens de 18 a 24 anos. Isso significava que 30% desses jovens estivessem cursando o Ensino Superior até 2010. Entretanto, o último Censo da Educação Superior, cujos dados foram apresentados pelo INEP em 2010, aponta para outra direção. Verifica-se, por meio das taxas de escolarização bruta e líquida6 que, embora tenha ocorrido um significativo crescimento do atendimento na Educação Superior, com a taxa de escolarização líquida subindo de 8,9% para 14,4% em 2009, ainda ficou muito distante dos desejados 30%. A taxa de escolarização bruta passou de 15,1% para 26,7%. Incluindo-se no cálculo da taxa de escolarização 5 O MEC firmou, com a Federação Brasileira de Bancos – Febraban –, um Termo de Cooperação Técnica visando à implementação conjunta de ações, em âmbito nacional, pelos bancos privados, associados à Febraban, destinando 10% das respectivas vagas dos seus programas de estágio a estudantes participantes do Prouni (BRASIL, 2010). 6 Taxa de escolarização bruta é um indicador que permite comparar o total de matrículas de determinado nível de ensino com a população na faixa etária teoricamente adequada a esse nível. O indicador taxa de escolarização líquida, por sua vez, identifica o percentual da população matriculada em determinado nível de ensino na faixa etária teoricamente adequada em relação à população na faixa etária teoricamente adequada ao mesmo nível de ensino (BRASIL, 2010, p. 35). 29 líquida o percentual da população da faixa etária de 18 a 24 anos graduada e que está fora da escola, esse provimento correspondeu a 17,2%, em 2009. O II PNE, previsto para o decênio 2011-2020, cujo Projeto de Lei nº 8.035 (BRASIL, 2012) foi aprovado pela Câmara somente em junho de 2012, após 18 (dezoito) meses de tramitação, prevê uma meta ainda maior, qual seja: a de elevar para 33% a taxa de jovens entre 18 e 24 anos matriculados no Ensino Superior. Apesar dos avanços observados no acesso a esse ensino no País, o salto projetado pelo PNE 2011-2020, que define a elevação da taxa bruta para 50% e da líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, apresenta-se um tanto desafiador. Mas não são somente os aspectos quantitativos a serem avaliados. O ProUni é, realmente, uma alternativa efetiva para a democratização do Ensino Superior? Para Catani et al. (2006), o ProUni [...] traz uma noção falsa de democratização, pois legitima a distinção dos estudantes por camada social de acordo com o acesso aos diferentes tipos de instituições (prioridade para a inserção precária dos pobres no espaço privado), ou seja, contribui para a manutenção da estratificação social existente. (CATANI et al., 2006, p.137) Se for levado em consideração o fato de que o ProUni, como política pública, abraça a concepção de cotas, inclusive com a inserção dos alunos beneficiários em programas de estágios, essas noções de falsa democratização e de reforço à estratificação social podem ficar mais evidentes. Vale, portanto, repetir a pergunta: [o]s alunos oriundos do ProUni não são capazes de concorrer em igualdade de condições com alunos não bolsistas, para as vagas de estágio nas organizações, via de regra a porta de entrada para o mercado de trabalho? É importante salientar, entretanto, que o ensino de qualidade é um dos ingredientes fundamentais do processo de geração de trabalho e renda e, portanto, as IES e o Governo Federal precisam estar atentos a essa questão também para os alunos do ProUni. 30 Tal fato desdobra-se em outra discussão. Andrade (2007) analisa a probabilidade de programas como o ProUni reduzirem a qualidade da força de trabalho que está sendo preparada nas IES privadas. Segundo ele, [d]ependendo da curva de oferta e demanda, três possibilidades podem ocorrer. Primeira: a mensalidade da universidade aumenta e o total de alunos permanece o mesmo, quando a curva de oferta e demanda é perfeitamente inelástica. Segundo: o valor das mensalidades não altera, e a demanda pelos cursos cresce, quando a curva de oferta e demanda é perfeitamente elástica. Finalmente, preço e quantidade aumentam, quando a curva de oferta e demanda experimenta uma inclinação ascendente. (ANDRADE, 2007, p. 678.)7 Dentre essas três possibilidades apontadas pelo autor, uma se refere à concepção da relação entre oferta e procura: em função do aumento da demanda de alunos nos cursos superiores, pode ocorrer aumento de preços das mensalidades e, consequentemente, redução de alunos mais bem preparados, se eles evadirem em função desse aumento. Com a redução de ingresso de alunos melhor preparados, pode ocorrer uma redução da qualidade de formandos e, consequentemente, uma queda na qualidade da força laboral. Andrade (2007) afirma que [q]uando o programa é introduzido, há um aumento da demanda no setor universitário […] Finalmente, preço e quantidade aumentam, quando a curva de oferta e demanda experimenta uma inclinação ascendente. Famílias não contempladas pelo programa são penalizadas, quando a mensalidade da universidade aumenta. Algumas delas podem decidir por retirar seus filhos da universidade. Se seus níveis de preparação são inferiores aos dos filhos de famílias contempladas pelo programa que receberam as bolsas, então o programa é capaz de melhorar a qualidade da mão-de-obra, por promover a eliminação da restrição de crédito a estudantes com melhor qualificação. É mais provável, porém, que o nível de preparação dos indivíduos do grupoalvo seja inferior. Nesse caso, quanto mais inelástica for a curva de oferta e demanda, maior será o aumento das bolsas, após a introdução do programa, e mais indivíduos do grupo-não-alvo deixarão de ingressar na universidade. Na medida em que eles forem substituídos por indivíduos do grupo-alvo que reúne estudantes menos preparados, a qualidade da mão8 de-obra cai. (ANDRADE, 2007, p. 678) 7 Tradução, do autor desta dissertação, de: “[d]epending on the supply curve, three possibilities can occur. First, university tuition rises and total number of university students does not change, when the supply curve is perfectly inelastic. Second, price does not change and quantity increases, when the supply curve is perfectly elastic. Finally, price and quantity increase, when the supply curve has an upward slope. 8 Tradução, do autor desta dissertação, de: [w]hen the program is introduced, there is an increase in demand in the university sector […] Finally, price and quantity increase, when the supply curve has an upward slope. 31 Portanto, além do número de jovens que acessam o Ensino Superior no País, a manutenção da qualidade de ensino nas IES privadas é também fundamental para que o ProUni não seja reduzido a uma mera política de inclusão social, mas que também resulte na formação de uma força laboral de qualidade, deixando os jovens mais preparados para enfrentar os desafios da transição escola-trabalho, após a conclusão do curso superior. É dentro desta perspectiva que a presente pesquisa propõe-se a refletir sobre a orientação profissional dos jovens beneficiados pelo ProUni no Centro Universitário UNA, visando ao seu desenvolvimento autônomo e emancipado, suas especificidades socioculturais e seu sucesso na transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. 1.4 A juventude e o jovem das camadas populares O tema juventude ganhou maior relevância nos últimos quinze anos. no Brasil. Seja pelo envolvimento de pesquisadores, de gestores públicos ou dos movimentos juvenis, as temáticas ligadas aos jovens passaram a marcar diversas pautas, inclusive as das políticas públicas. O ProUni é um exemplo de política pública com foco na juventude. A Política Nacional da Juventude (SECRETARIA NACIONAL DA JUVENTUDE, 2014), implementada pelo Governo Federal, estabelece uma série de desafios a serem vencidos com o objetivo de atender os anseios do público juvenil. Esses sujeitos passam a ser percebidos como portadores de direitos e encarados como protagonistas do desenvolvimento nacional (COSTA, 2006). Non-target families are penalized when the university tuition rises. Some of them may decide to withdraw their children from university. If their levels of preparation are lower than the ones of the children from the target families who received the scholarships, then the program is capable of increasing the quality of the labor force by eliminating the credit constraint of better qualified students. However, it is more likely that the level of preparation of the individuals from the target group be lower. In this case, the more inelastic the supply curve, greater is the increase in tuition after the program’s introduction and more individuals from the non-target group do not go to university. As they are replaced by individuals from the target group who are less prepared students, the quality of the labor force drops. (ANDRADE, 2007, p. 678) 32 Uma questão essencial emerge nessa discussão, a dificuldade de delimitação conceitual da noção de juventude. A adoção de critérios como a faixa etária pode ser limitante, pois se resume a uma etapa do ciclo de vida construído a partir de matrizes socioculturais. Além disso, os critérios de idade para estabelecer os limites da juventude divergem. Há países, especialmente os europeus, em que a juventude é considerada ainda em idades mais avançadas (SPÓSITO, 2009). Organismos internacionais também adotam tal prática. Para Margulis (2001), a idade aparece como um dos ordenadores das atividades sociais, e tanto a idade como o sexo são a base de classificações sociais. Entretanto, juventude vai muito além de uma classificação por faixa etária ou por gênero e não há um padrão conceitual universal. Tal abordagem é reforçada por Carrano (2007), ao afirmar que [a]s idades não possuem um caráter universal. A própria noção de infância, juventude e vida adulta é resultante da história e varia segundo as formações humanas. Os estudos antropológicos nos mostram que os sentidos dos relacionamentos entre as gerações se distinguem nos tempos e espaços das sociedades. (CARRANO, 2007, p. 1) Para Margulis (2001), é necessário considerar outros aspectos para delinearmos um conceito de juventude, tais como a diversidade de situações sociais nas quais se encontra o jovem nessa etapa da vida. Para o autor, [e]s necesario, entonces, acompañar la referencia a la juventud con la multiplicidad de situaciones sociales en que esta etapa de la vida se desenvuelve; presentar los marcos sociales historicamente desarrollados que condicionan las distintas maneras de ser joven. (MARGULIS, 2001, p. 1) Isso quer dizer que a juventude pode ser impactada por diferentes variáveis, entre elas a idade, a geração, a classe social, o gênero e o contexto histórico-cultural. No âmbito das gerações e da classe social a que pertencem, por exemplo, Margulis (2001) afirma que, nas gerações atuais, os jovens oriundos das classes economicamente e culturalmente mais favorecidas usufruem de uma moratória social, podendo postergar, por algum tempo, sua entrada nas responsabilidades da vida adulta, prolongar os estudos e adiar a constituição de família e a entrada no mundo do trabalho. Esses jovens gozam de um contexto social protetor e com menos exigências. 33 Melo et al. (2007) resgatam a noção de moratória social de Margulis (2001), afirmando que é: “[…] o prazo concedido a certa classe de jovens que lhe permite gozar de uma menor exigência, enquanto completam sua instrução e alcançam sua maturidade social e econômica”. É uma condição mais específica de jovens da classe média e alta (com poder econômico e cultural), que se incorporaram à universidade e postergaram sua inserção plena no mercado de trabalho, e, por conseguinte, receberam a legitimidade social de seu tempo livre. (MELO et al., 2007, p. 380) Cabe ressaltar que Margulis (2001) exclui dessa condição de moratória social os jovens inseridos no mundo do trabalho e que constituem família logo cedo, por considerá-los adultos, além de jovens. Em geral, são jovens oriundos dos extratos sociais mais baixos. Esse conceito ampliado de juventude também é corroborado por Carrano (2007), ao afirmar que a juventude precisa ser compreendida com uma complexidade variável, assumindo contornos distintos, de acordo com o espaço de tempo e meio social nos quais reside. Portanto, o jovem não é entendido como uma categoria social com características homogêneas. Ele pertence a um grupo com características flutuantes e que variam constantemente, de acordo com os movimentos da realidade (CARRANO, 2007). Seguindo essa mesma lógica, diversos autores e pesquisadores caminham na mesma direção; qual seja: a de entender e estudar os jovens tendo como pano de fundo a realidade na qual estão inseridos e do mundo em que vivem, “... e não apenas comparados a grupos que viveram em outras décadas ou a certos modelos ou padrões de comportamento tornados hegemônicos” (SCHWERTNER; FISCHER, 2012, p. 398). Portanto, não cabe falar de juventude no singular, mas de “juventudes”, uma vez que não há consenso sobre a faixa etária que define esse conceito, que também é histórico e variável do ponto de vista social e cultural. No Brasil, também há diferença de critérios considerando-se aspectos jurídicos, referências usadas em censos estatísticos ou as praticadas pelas políticas públicas. 34 É nesse sentido que Dayrell (2003) enfatiza a noção de juventudes para destacar a pluralidade de modos de ser jovem, existentes no meio social atual. Em seu estudo entre jovens das camadas populares, esse pesquisador sinaliza diversos modos de ser jovem, com suas inúmeras especificidades e características e ressalta que a juventude não é uma passagem, mas um processo influenciado pelo meio social e pelas trocas realizadas entre o jovem e esse meio. Nas palavras do autor, [...] construir uma noção de juventude na perspectiva da diversidade implica, em primeiro lugar, considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas sim como parte de um processo de crescimento mais totalizante, que ganha contornos específicos no conjunto das experiências vivenciadas pelos indivíduos no seu contexto social. (DAYRELL, 2003, p. 42) Melo et al. (2007) adotam os seguintes critérios para delinearem quem é o jovem: [...] (a) a busca de participação ativa na sociedade, com a superação das mudanças biopsicossociais da adolescência (por exemplo, término da puberdade) e a conscientização cada vez maior do seu papel social; (b) o início da formação de uma identidade profissional, que diz respeito ao contato e ao compromisso com uma determinada área de trabalho; (c) a capacidade decisória sobre sua vida pessoal e profissional, sem, necessariamente, depender da opinião familiar; (d) o processo de construção da independência financeira, para uma possível separação plena da família de origem. (MELO et al., 2007, p. 380) Oliveira, Rios-Neto e Oliveira (2006) lembram que a literatura sociológica defende quatro etapas no processo de transição para a vida adulta: 1) formar uma primeira relação estável; 2) constituir uma família, inclusive tendo um primeiro filho; 3) sair de forma definitiva da escola; e 4) encontrar um trabalho por meio do qual possa o jovem obter os recursos materiais necessários para a sua subsistência e a de seus dependentes. Para os mesmos autores, a literatura econômica brasileira destaca a entrada no mundo do trabalho como a principal ruptura nessa transição. O destaque para a entrada no mundo do trabalho como importante marco conceitual de juventude e a transição para a vida adulta encontra ressonância, também, em Agulló-Tomás (1997), para quem o jovem é aquele indivíduo que, uma vez superada a fase da adolescência, será reconhecido, socialmente, como adulto e independente somente quando [...] possuir um emprego relativamente estável e seguro, ou seja, quando a sua inserção no mercado de trabalho tiver ocorrido de forma plena, após o 35 enfrentamento dos obstáculos socioeconômicos da sociedade em que vive e aqueles advindos da sua relação com o mundo do trabalho. (AGULLOTOMÁS, 1997 apud MELO et al., 2007, p. 380) À luz das diversas possibilidades de conceituação do que é ser jovem e da juventude, a questão do ingresso no mundo do trabalho ganha destaque na literatura sobre o assunto. O status de adulto só é socialmente aceito quando o jovem participa ativamente da sociedade por meio de sua inserção no mundo do trabalho, encontrando sua identidade profissional, gozando de autonomia para tomar suas próprias decisões profissionais, bem como ganhando sua independência financeira (MELO et al., 2007). Por outro lado, vale ressaltar outro movimento no sentido de retardar o ingresso do jovem no mundo do trabalho. Essa inserção, como exigência social para o alcance de responsabilidades adultas, dá lugar à exigência de qualificação mais ampla desse jovem antes se seu ingresso no mundo do trabalho, determinando, muitas vezes, que ele estenda seus anos de estudo, inclusive passando pelo ensino técnico ou superior. Ao mesmo tempo em que ele precisa ingressar no mundo do trabalho para atender os anseios sociais também precisa qualificar-se cada vez mais. Essa dicotomia leva a aspectos relevantes acerca das relações do jovem com o mundo do trabalho, especialmente considerando o meio social no qual o jovem está inserido. Se não há um conceito padrão de juventude ou uma homogeneização do que é ser jovem em função de diversas variáveis que impactam essa definição, incluindo o meio social e a história de vida do jovem, isso fica ainda mais nítido mediante análise da relação do jovem com o mundo do trabalho. O jovem, especialmente das camadas menos favorecidas, está mais próximo do mundo do trabalho do que da escola, o que reforça a dicotomia supracitada. A conclusão do Ensino Médio já é, em muitos casos, uma grande conquista, e ultrapassar essa barreira por meio da prolongação dos estudos para o Ensino Superior não é uma realidade para todos. Em muitos casos, o jovem é inserido de forma precária no mundo do trabalho e não faz a transição para o Ensino Superior. Essa questão está ligada a outra: a de que o tempo livre juvenil é o tempo legítimo apenas para jovens privilegiados. Para a grande maioria dos jovens brasileiros, “a 36 possibilidade da fruição e o acesso aos bens simbólicos, às suas formas de produção cultural, de expressão, de mobilidade e lazer, típicas do tempo livre, estariam interditados” (SPÓSITO, 2009, p. 94). Para muitas famílias das camadas populares, o jovem deve estar inserido no mundo do trabalho desde muito cedo, o que lhe impede a prolongação dos estudos e o lazer. A realidade dos jovens das classes sociais menos favorecidas é, muitas vezes, de uma trajetória marcada por sofrimento e, em geral, por escassez de recursos. Desde a infância, a desigualdade social interfere no percurso educacional desses jovens. Trazem, quase sempre, um histórico de acesso ao ensino da rede pública, por vezes precário, ou, então, de passagens por instituições educacionais particulares noturnas frequentadas depois de jornadas cansativas de trabalho, perfilando um itinerário de formação, via de regra, descontínuo e limitado, quanto aos recursos encontrados. A baixa escolarização dos pais e a frágil imersão na cultura letrada reforçam as debilidades desse percurso formativo. Poucos desses jovens enxergam uma oportunidade de escolarização prolongada, com acesso ao Ensino Superior, por exemplo; especialmente, ao Ensino Superior de qualidade, que fica reservado a uma parcela da sociedade já favorecida. Snyders afirma que “[…] a escola favorece os já favorecidos, socialmente favorecidos, exclui, repele, desvaloriza os outros” (SNYDERS, 1977, p. 17). Não é novidade afirmar que as instituições de Ensino Superior brasileiras com os melhores desempenhos acadêmicos são, também, as que recebem jovens oriundos das classes sociais mais favorecidas e que tiveram melhores oportunidades educacionais. Conforme mencionado anteriormente, o ProUni resolve parte dessa questão ao possibilitar a inserção desses jovens no Ensino Superior, mas não apresenta uma solução para a distância entre a realidade sociocultural em que vivem e aquela encontrada no ambiente universitário ou entre o percurso universitário e a transição ao trabalho. Segundo pesquisa realizada com jovens universitários de camadas populares, “o caminho percorrido pelos estudantes entrevistados até a universidade é marcado pela solidão e pelo desenraizamento” (PIOTTO, 2010, p. 232). Muitos jovens nem mesmo acreditam que poderão ter acesso ao Ensino Superior. Quando o têm, não se sentem à vontade no ambiente universitário e não desenvolvem o 37 sentimento de pertencimento a esse universo. Piotto (2010) cita casos em que os jovens, pertencentes a cursos superiores com alto grau de seletividade, sentiram-se intimidados nas relações com seus colegas oriundos das classes mais favorecidas e não estabeleceram laços de amizade ou convivência com eles. Um dos jovens informantes da pesquisa afirma [...] Era diferente! A gente era diferente. A gente se vestia pior, os meninos chegavam e diziam que foram para Nova York, viajou, não sei o quê, a gente (...) Até hoje eu não andei de avião, né! Então, já cria um abismo socialmente entre nós e eles. E, não se juntou, simplesmente não se juntava! (PIOTTO, 2010, p. 235). Nessa pesquisa, alguns jovens relatam que a convivência se restringia à sala de aula e mesmo assim, num ambiente acirrado de competição pelo melhor desempenho acadêmico entre os colegas. Essa realidade levanta outro aspecto: o da forma como jovens das camadas populares e os das camadas mais favorecidas encaram suas relações. Em sua pesquisa, Piotto (2010) aponta para um maior espírito colaborativo entre os jovens do primeiro grupo, enquanto os demais são altamente competitivos. Também nas situações de dificuldade e frustração, há distinções entre esses dois universos. Piotto (2010) aponta, na pesquisa, casos em que jovens das camadas populares foram mais solidários e colaborativos com os demais colegas. Tal fato levanta outra discussão ancorada nas diferenças entre as capacidades dos jovens das camadas populares e os jovens das camadas mais favorecidas. Possivelmente, os jovens das camadas populares têm capacidades colaborativas e de resiliência mais desenvolvidas, em função de suas histórias de vida. Atualmente, fala-se cada vez mais em protagonismo jovem, em função da participação efetiva dos jovens nas instituições e nos movimentos sociais. Os jovens das camadas populares são, em muitos casos, engajados nesse contexto, o que lhes proporciona ainda mais a habilidade de trabalhar em sistemas colaborativos. Em contrapartida, teriam pouca familiaridade com práticas competitivas, que são as que costumam contar quando se trata de disputar vagas em estágios. Essa perspectiva encontra ressonância em Charlot (2000), quando apresenta a ótica da “sociologia das diferenças” em seus estudos sobre o fracasso escolar, afirmando 38 que “essas diferenças se produzem em função da experiência que o aluno vive e interpreta e que, na maioria das vezes, é vista não como “diferença”, mas como “falta”” (CHARLOT, 2000 apud OLIVEIRA, 2000, p. 23). O autor ressalta que, de forma geral, [...] a análise do fracasso escolar considera que as crianças que não aprendem, sobretudo aquelas dos meios populares, são vítimas de uma carência de experiências que estão disponíveis às crianças da classe média e então, concluem que estas crianças não aprendem porque “falta” a elas essas condições de vivência e não porque tiveram trajetórias “diferentes”, experiências de outra ordem. (CHARLOT, 2000 apud OLIVEIRA, 2000, p. 23) Snyders (1977), em seu livro Escola, Classe e Luta de Classes, contribui para essa reflexão, ao considerar uma perspectiva bastante interessante, denominada o “duplo rosto das crianças do proletariado”. Ele retrata que a burguesia se satisfaz dando ênfase a essa “falta” nas pessoas oriundas das camadas populares – especialmente, nas crianças – e que toda diferença é interpretada como inferioridade. Mas o outro lado desse rosto mostra especificidades e potenciais ligados aos valores desses grupos, porque: [...] se esta criança reage pior às experiências escolares, é só porque ela é distinta da criança burguesa, por isso, não deve ser considerada como uma “criança burguesa inacabada”, com fraco êxito; ela é diferente, representa outra forma de equilíbrio e coerência. Sua cultura possui uma especificidade ligada aos valores populares: os pais operários passam a vida a manipular as coisas, e não as idéias, suas práticas educativas são absolutamente coerentes com as suas condições de vida. (OLIVEIRA, 2013, p. 31.369) Para Freire (1991 [2006] apud PELUSO et al., 2010, p. 257), desde a infância, as experiências trazidas pelas crianças, suas vidas e suas histórias devem ser consideradas. Todos esses registros constituem, inclusive, parte das identidades pessoal e profissional dos jovens. Nesse momento da vida, os desafios para a construção das identidades tornam-se mais fortes, e a busca por respostas para as perguntas quem sou? e como me aproximo e me diferencio do outro? torna-se presença constante (SOUZA, 2004, p. 60). Essa realidade diferenciada e contraditória, caracterizada por negatividades, mas, também, por positividades, não pode ser esquecida, quando se busca compreender e intervir no processo de transição escola-trabalho dos jovens oriundos das camadas populares. 39 1.5 - O processo de transição escola-trabalho e um novo olhar para a orientação profissional A transição escola-trabalho, mais especificamente a transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho, é uma das questões centrais na vida do jovem universitário e muito marcante no seu ingresso na vida adulta. Trata-se de um momento que muito contribui para a construção da identidade profissional desse jovem. Sarriera e Verdin (1996 apud MELO et al., 2007, p. 382) consideram que esse momento de transição é “crítico para o desenvolvimento da juventude, porque certas implicações – como a perda da condição de aluno e do apoio da escola, a perda da influência da família, pela necessidade de o indivíduo construir uma identidade própria.” Nesse sentido, é importante destacar o processo de construção de identidade do jovem. Nessa etapa da vida, o indivíduo precisa de autorreconhecimento e, também, do reconhecimento alheio, o que o coloca numa discussão que, segundo Souza (2004), envolve quatro polos da identidade: 1) a identificação que o indivíduo opera; 2) a identificação por parte dos outros; 3) a diferença como o indivíduo se afirma; e 4) a diferença como ele é reconhecido pelos outros. Complementa a autora que ninguém constrói a própria identidade sozinho e, para o jovem, essa construção encontra desafios mais fortes nessa etapa da vida uma vez que o jovem precisa dar respostas a si mesmo de quem ele é e como ele se diferencia do outro como indivíduo ou como grupo. Além disso, na medida em que o campo de experiências vividas é ampliado nessa fase da vida, a construção dessa identidade também é impactada e o jovem precisa fazer escolhas; em geral, rápidas. Para Melucci, [a]o se ampliar o campo da experiência, perde-se a segurança do referencial de identidade. O sujeito sente que a certeza de uma direção final lhe escapa, porém é impelido a escolher. Esta necessidade de escolher, quase sempre, num quadro de escassez de tempo, pode tornar ameaçador este destino de escolhas. Neste sentido, a aquisição de uma identidade adulta pode ser entendida como a capacidade continuada de produzir nova identidade, integrando passado e presente, na unidade e na continuidade de uma biografia individual. (MELUCCI, 1991, p. 37 apud CARRANO, 2000, p. 1). A transição escola-trabalho caminha, portanto, de mãos dadas com a construção das identidades pessoal e profissional do jovem, que precisa fazer escolhas cada 40 vez mais cedo e com maior rapidez e que carrega consigo uma carga de expectativas e incertezas em relação ao seu futuro. Interessante destacar essa noção de futuro no âmbito da juventude ou do jovem. Há um conceito arraigado de que a juventude é uma condição de transitoriedade; ou seja: uma passagem do passado para o futuro e que as ações do presente somente se confirmarão com a realização de projetos futuros. É como se o presente fosse uma mera transição e a juventude fosse sempre um “vir a ser”, nas palavras de Dayrell (2003) e Carrano (2003). Os mesmos autores consideram isso como uma forma de encarar a juventude em sua negatividade, aquilo que ainda não aconteceu. Nessa direção, nega-se o presente como espaço válido para a formação e construção da identidade do jovem (DAYRELL, 2003, p. 2). Essa abordagem reforça o fato de que o jovem carrega consigo uma carga de expectativas em relação ao seu futuro e que esse futuro está, também, ancorado na forma como ele fará sua transição para o mundo do trabalho. Essa transição não depende somente das capacidades individuais do jovem, mas é impactada por outras variáveis, tais como a dinâmica dos mercados de trabalho e dos sistemas educacionais nos diversos meios sociais e culturais (TARTUCE, 2006, p. 1). Tartuce (2006) considera que a relação escola-trabalho pode variar de acordo com o mercado de trabalho e de como os sistemas educacionais operam, citando como exemplo países nos quais os cursos técnicos são mais valorizados e países em que há uma preferência social pelo ensino geral, como é o caso do Brasil. Tais aspectos podem impactar na transição escola-trabalho, porque, em casos como a sociedade brasileira, que valoriza cada vez mais o Ensino Superior, a transição pode ocorrer mais tarde já que o jovem precisará prolongar seus anos de estudo. Dentro dessa perspectiva da transição e da inserção do jovem universitário no mundo do trabalho, Gazo-Figuera (1996 apud MELO, 2007) aponta a necessidade de articulação de diferentes variáveis contextuais, tanto macro como microeconômicas. No âmbito das variáveis macroeconômicas, menciona a quantidade e a qualidade da oferta e da demanda do mercado de trabalho; entre as variáveis microeconômicas, estão: a titulação, a qualidade da instituição de Ensino Superior e a dinâmica particular dos mercados de trabalho. Esse pesquisador 41 aponta, também, para os aspectos pessoais que devem ser considerados nessa transição; entre eles:o gênero, a classe social, a procedência geográfica, o desempenho acadêmico, a formação complementar, a construção da identidade profissional e o significado subjetivo que o jovem, em transição, atribui ao trabalho. Por fim, Gazo-Figuera destaca que o jovem graduado deve ser considerado o sujeito ativo de sua própria inserção (GAZO-FIGUERA, 1996 apud MELO, 2007, p. 383). Em sua análise do jovem como esse sujeito social ativo, Dayrell (2003) adota a posição de Charlot, para quem “o sujeito é ativo, age no e sobre o mundo, e nessa ação se produz e, ao mesmo tempo, é produzido no conjunto das relações sociais no qual se insere” (CHARLOT, 2000 apud DAYRELL, 2003, p. 43). Esse sujeito carrega desejos, expectativas e é movido por eles. Conforme abordado anteriormente, essas expectativas e desejos serão projetados num futuro e em consonância com as identidades pessoal e profissional do jovem. Ao mesmo tempo, esse jovem é um sujeito e é um ser social, “com uma determinada origem familiar, que ocupa um determinado lugar social e se encontra inserido em relações sociais” (DAYRELL, 2003, p. 43). Para o autor, esse sujeito tem uma identidade própria, é um ser singular, que tem uma história de vida, que interpreta o mundo e dá-lhe sentido, assim como dá sentido à posição que ocupa nele, às suas relações com os outros. Nesse contexto é que a transição escola-trabalho pode apresentar diferentes nuanças entre os jovens de estratos mais elevados e os oriundos das camadas populares, uma vez que suas histórias de vida, suas origens familiares, suas identidades profissionais, suas expectativas em relação ao futuro e a forma como se enxergam no mundo são distintas. A realidade dos jovens das camadas populares impacta na forma como se relacionam com o mundo do trabalho. Nas palavras de Souza (2004), [a] realidade da desocupação ou da ocupação precária transformou as relações da juventude com o sentido do trabalho, gerando muitas incertezas. Diante da baixa capacidade da economia brasileira em gerar postos de trabalho, resta aos jovens, principalmente das camadas mais pobres, os setores de serviços básicos (limpeza, segurança, garçom, etc.), muitas vezes postos não assalariados ou sem registro formal. Assim, a escassez de empregos torna os jovens um dos principais segmentos da população ativa mais fragilizados. (SOUZA, 2004, p. 51) 42 Considerando esse contexto e a abordagem anterior de como os sistemas educacionais podem interferir na transição escola-trabalho, Fresneda (2009) debate em que medida habilidades adquiridas, nos diferentes sistemas educacionais, são capazes de inserir o jovem no mercado de trabalho sem reproduzir a estratificação social, promovendo igualdade de oportunidades. Nesse caso a autora analisa o impacto do ensino vocacional nos resultados educacionais e profissionais alcançados pelos jovens. Por um lado, ele pode ser uma alternativa eficiente para reduzir o desemprego juvenil, mas, por outra via, ele é acusado de aprisionar os jovens provenientes das classes baixas em ocupações sem perspectivas de crescimento e que impedem o acesso futuro dos mesmos a níveis educacionais mais elevados, reduzindo as chances de mobilidade social (FRESNEDA, 2009, p. 1). O ProUni é, de alguma forma, uma resposta a essa equação ao possibilitar a esses jovens o acesso a níveis educacionais mais elevados. Ainda assim, o processo de transição da escola-trabalho dos jovens provenientes de estratos econômicos mais baixos apresenta características específicas e limitadoras. A falta ou precária experiência profissional desses jovens, a baixa qualidade da Educação Básica e o contexto, muitas vezes penoso, da vida pessoal e familiar estão entre os fatores principais que interferem nessa transição. Aliadas a essas questões, surgem ainda as exigências do mercado de trabalho e a alta competitividade entre os egressos do Ensino Superior na busca por uma oportunidade profissional em suas respectivas áreas de formação. Ramírez (1994) afirma que esses jovens, para atenderem as expectativas do mercado de trabalho, precisam ser capacitados em competências específicas, entre elas o desenvolvimento de atributos pessoais como motivação, disciplina, persistência e capacidade para tomar decisões. Os processos de trabalho demandam atualmente, muito além das competências técnicas e formalmente desenvolvidas no Ensino Superior, amplas habilidades cognitivas e comportamentais, tais como capacidade de abstração e de domínio de símbolos, iniciativa, responsabilidade e trabalho em equipe. O mundo do trabalho não quer mais um trabalhador especializado, mas multifacetado e polivalente, para lidar com tarefas cada vez mais abstratas, complexas e imprevisíveis (TARTUCE, 2007, p. 57). 43 Em pesquisa conduzida por Melo et al. (2007) com jovens em processo de transição para o mundo do trabalho, os jovens pesquisados aplicam categorias de respostas que explicitam vivências de sofrimento durante esse período de transição, como a desorientação, o desgaste e a incerteza. Em outras categorias as pesquisadoras revelam [...] a percepção do ambiente interpessoal e de relação do iniciante com a realidade do mercado de trabalho percebida no período entre o estágio e o início da vida profissional, sendo essas categorias o contexto de competitividade e, por conseguinte, de falta de oportunidades ocasionada pela alta demanda por vagas no mercado de trabalho. (MELO et al., 2007, p. 387) E tudo isso ocorre, muitas vezes, num ambiente hostil e de poucos recursos, como é o caso dos jovens oriundos das camadas populares. Nas palavras de Coimbra et al., “a complexidade do mundo do trabalho, associada à sua permanente instabilidade, vem desafiar as formas tradicionais de encarar a transição efectiva dos estudantes para o mundo do trabalho.” (COIMBRA et al., 2006, p. 1). De fato, o mundo do trabalho contemporâneo apresenta novos desafios aos jovens que nele ingressam. São diversas as dúvidas, entre elas a avaliação do que são sucesso e realização profissionais, como medi-los e com base em que critérios (COIMBRA et al., 2006). E esse processo de transição se reveste de uma série de implicações psicossociais em diversos níveis e que influenciam, de alguma forma, o modo como os egressos do Ensino Superior vivenciam e dão sentido à construção de suas carreiras (COIMBRA et al., 2010). No ambiente do ensino superior, as diferenças na qualidade de formação escolar básica bem como as relativas ao repertório cultural entre os alunos pobres e os alunos pertencentes aos estratos econômicos mais altos da sociedade ficam ainda mais nítidas. Isso torna o processo de transição ou espaço de transição ao mundo do trabalho (RAMÍREZ, 1994) ainda mais árduo para os jovens das camadas populares. Um estudo global, realizado, em 2012, com 352 (trezentos e cinquenta e dois) profissionais de recursos humanos, em 46 (quarenta e seis) países, conduzido pela Oxford Economics, em parceria com a consultoria Towers Watson, aponta que os empregadores demandarão profissionais com as seguintes competências nos 44 próximos cinco ou dez anos: comunicação oral e escrita, domínio de línguas estrangeiras; sensibilidade cultural e conhecimento do mundo digital. Essas expectativas por parte do mundo do trabalho, a baixa qualidade na formação básica e o repertório cultural diferenciado e distante do que tende a ser considerado modelar deixam os jovens pobres em situação de desvantagem. Nesse contexto, a orientação profissional surge como elemento essencial nessa construção, especialmente para jovens oriundos das camadas populares que, após a implementação do ProUni em 2005, passaram a ter acesso ao Ensino Superior em maior escala e que pouco ou nenhum contato tiveram com programas de orientação profissional ao longo de suas vidas. Isso se deve ao fato de esses jovens, ao pleitearem vagas no mercado de trabalho, serem submetidos a testes, dinâmicas de grupo e entrevistas, sendo avaliados e selecionados a partir de vieses pouco favoráveis aos seus perfis socioculturais. É o que pode estar acontecendo com grande parte dos beneficiários do ProUni nas instituições de Ensino Superior brasileiras. Historicamente, a orientação profissional no Brasil deu seus primeiros passos no início do século XX. Pode-se dizer que a regulamentação dos cursos profissionalizantes nos setores do comércio, indústria e agricultura, na década de 1920 do século XX, ensejou a aplicação da Psicologia às relações de trabalho no Brasil. Surgem, aí, os primeiros sinais de atenção da Psicologia às questões relacionadas ao trabalho. Na década de 1940, a Fundação Getúlio Vargas cria o Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP. Voltado para as camadas mais favorecidas da sociedade e para a constituição de possível futura elite dirigente, durante os primeiros dez anos de existência, o ISOP atuava na implantação de técnicas de seleção e orientação profissional. O objetivo era o de contribuir para a relação da pessoa com o trabalho, especialmente por meio de estudos acerca das aptidões e vocações de cada um (ABADE, 2005). A partir da década de 1980, a OP passa a ser discutida como processo no qual a escolha profissional é determinada por diversos fatores, “a profissão e o indivíduo têm 45 caráter dinâmico e o coordenador o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos indivíduos” (ABADE, 2005, p. 16). A partir da década de 1990, quando o ISOP foi extinto, os profissionais da Psicologia percebem que a OP assume novos contornos, focando-se em outras direções: a Psicometria, a perspectiva clínica e a perspectiva que valoriza as discussões sobre o trabalho no modo de produção capitalista (ABADE, 2005). Atualmente, o termo orientação profissional convive com diversos outros termos recorrentes nas organizações e na literatura, tais como mentoring, coaching e counseling. São iniciativas que embora estejam em consonância com práticas da Psicologia, da Pedagogia e da Administração, propõem intervenções muitas vezes sem levar em consideração os objetivos a serem alcançados e somente reforçam jargões ditados pelas organizações (SILVA, 2010). Em muitos casos são iniciativas, que seguem um padrão, que se esquecem de considerar o indivíduo, sua história, seus registros, sua vida, suas vantagens socioculturais específicas. Essa proposta homogeneizante de orientação profissional deixa de levar em consideração a diversidade sociocultural dos sujeitos e, por causa desse olhar, não dá conta de perceber que há diferenças entre os jovens das camadas populares e aqueles dos estratos sociais mais elevados, que podem ser de valor fundamental. Nas palavras de Bello (2008), verifica-se [...] la debilidad de una Orientación homogeneizante, frente a la realidad de un mundo global, diverso y multicultural. Atender la diversidad es el desafío que la orientación aún no ha resuelto, ya que ésta plantea una multiplicidad de conflictos y paradojas para las cuales no son válidas recetas específicas. (BELLO, 2008, p. 3) Os modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional podem ser reducionistas, se confrontados com o processo de globalização e com a diversidade humana em todas as suas dimensões. Podem, ainda, condicionar e limitar o desenvolvimento e a criatividade individuais e, consequentemente, “delimitar o papel que cada indivíduo deve assumir na construção do bem-colectivo” (DUARTE, 2011, p. 145). 46 Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que apresentam um extenso repertório de vida, habilidades e potencialidades, que podem ser positivamente relevantes para as organizações do setor produtivo, mas possivelmente desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem modelos de inclusão tradicionalmente estabelecidos. Tais padrões tendem a ser replicados nos programas de orientação profissional, em geral alicerçados em análises de perfil e mapeamento de competências, realizados por meio de testes psicológicos. Tendem a repetir o modelo de recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no mercado de trabalho. E este modelo pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens das camadas populares que carregam registros de vida muito distintos dos padrões pré-estabelecidos. De acordo com Machado (2009), [...] o campo da Orientação Profissional se voltou, então, para a Psicologia Diferencial e a Psicometria, e até hoje, parte significativa dos seus esforços se centra no debate sobre concepções e aplicações de testes construídos especialmente para aferir atributos como inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade. (MACHADO, 2009, p. 90) Para Machado (2009), as pessoas precisam, hoje, gerenciar não somente suas escolhas profissionais, mas também o uso de suas capacidades e saberes. Na perspectiva da autora, as pessoas são motivadas por interesses diversos, seus próprios, das organizações e da sociedade em geral. Além disso, se encontram, muitas vezes, em momentos de tensão e contradições e precisam, portanto, compreender melhor o mundo do trabalho em que atuam e o meio social em que vivem para que possam estar envolvidas numa atividade laboral decente (MACHADO, 2009). Dessa forma, faz-se necessário um novo olhar para a orientação profissional. Será necessário mudar a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como repensar seus objetivos e enfoques (DURANT, 2004, p. 21 apud BELLO, 2008). Duarte (2011) propõe que seja uma “tentativa de encontrar e desenhar outras formas de reflectir sobre a orientação enquanto processo de autoconstrução” (DUARTE, 2011, p. 143). Enquanto processo de construção, a orientação pode tirar partido de cada um individualmente, de acordo com suas experiências e história de vida. Duarte (2011) propõe 47 [...] lançar um olhar para a orientação considerando as características e as capacidades de cada um para, não perdendo a sua condição de elemento activo e solidário numa cadeia histórica de onde emerge, nela se alimentar para depois, com o conhecimento assim obtido, e integrando as suas próprias experiências e as leituras que delas faz. Em síntese, dar continuidade à mesma cadeia, projectando-a para o futuro. Continuando a mesma linha de pensamento, procurando reflectir sobre a orientação enquanto processo de construção, procure-se agora entender como a orientação pode ajudar a tirar partido da experiência de cada um. (DUARTE, 2011, p. 147) Trata-se, portanto, de potencializar o que os jovens já trazem de suas experiências de vida (DAYRELL et al., 2003, p. 43). Pelo mesmo autor, o pleno desenvolvimento ou não das potencialidades que caracterizam o ser humano vai depender da qualidade das relações sociais com o meio no qual se insere e se as relações sociais entre os jovens das camadas populares e o mundo do trabalho não considerarem os registros de vida desses jovens, suas potencialidades que podem passar invisíveis ou não apresentarem uma evolução no ambiente laboral. Surge, então, a perspectiva de um novo olhar também para a orientação profissional dos jovens oriundos das classes menos favorecidas. Machado (2009) propõe no artigo “Orientação Profissional: a necessária renovação conceitual e reorganização política” uma nova visão dos processos de orientação profissional. Segundo a autora A Orientação Profissional, atualmente, se depara, assim, com a necessidade urgente de buscar referências fora do seu contexto tradicional de atuação e de si mesma como um campo de linguagem e testes que, muitas vezes, são tomados como universais, para interagir com outros campos, pensar junto e ser referenciada por pactos e alianças. (MACHADO, 2009, p. 91) Este novo modelo de OP precisa considerar os contextos existentes, as culturas locais, tendo sempre o sujeito no centro (DUARTE, 2011, p. 150). Nessa vertente, não se pode desconsiderar, no trabalho de orientação profissional, a realidade socioeconômica e sociocultural dos jovens das camadas populares e suas vulnerabilidades (VALORE et al., 2012, p. 358). Na pesquisa realizada por Valore et al. (2012) com jovens oriundos das camadas populares, constatou-se [...] a relevância da orientação profissional na formação cidadã dos jovens, pois independente das restrições impostas pelas condições socioeconômicas desses jovens na construção de seus projetos de vida e carreira, a realização de uma escolha consciente, autônoma, emancipada, apresentou-se comum a todos os jovens participantes da pesquisa. (VALORE et al., 2012, p. 361) 48 Afinal de contas, é próprio da natureza humana o desejo por escolhas conscientes e que levem à auto-realização e, para os jovens oriundos das camadas populares, isso não é diferente. Esses jovens também buscam a realização de projetos de vida e de carreira e têm desejos de mobilidade social. O acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni é visto como uma oportunidade para atingirem esses objetivos. Em pesquisa realizada com jovens, Camarano (2012) analisa que a escolaridade leva a uma participação maior nas atividades econômicas e, consequentemente, a uma renda mais elevada. Por outro lado, não estar no mercado de trabalho resulta em menor rendimento médio domiciliar per capita, o que deverá afetar a frequência à escola. O acesso ao Ensino Superior, portanto, pode, sim, ser a ponte para que esses jovens alcancem seus objetivos pessoais e profissionais. Todas essas reflexões fazem sentido quando confrontadas com o projeto institucional do Centro Universitário UNA, que se propõe a ter foco na formação integral de seus alunos em suas diversas dimensões, como indivíduo, como cidadão e como profissional. Isso é importante para que cada um encontre seu caminho, construa suas trajetórias de vida pessoal e profissional, sem perder sua identidade e o sentido de si próprio (DUARTE, 2011). Além disso, como bem afirma Valore (2012), a OP não pode ser uma intervenção isolada, por iniciativa apenas de psicólogos em escolas e consultórios, mas deve estar articulada em rede com as práticas sociais do corpo docente e dos profissionais em geral das instituições de Ensino Superior. Para Valore, “[…] tal premissa parte do pressuposto de que a transição para o mundo do trabalho não é tema exclusivo da OP, posto que configura um trabalho mais abrangente que, em outros países, vem sendo denominado de Educação para a Carreira” (VALORE et al., 2012, p. 414). Esse papel de Educação para a carreira pode ser também o papel da instituição de Ensino Superior como provedora de apoio ao jovem em transição para o mundo do trabalho. Para Gazo-Figuera (1996 apud MELO, 2007) a instituição de Ensino Superior precisa assumir um papel de apoio ao estudante para facilitar a inserção no mercado de trabalho. Sugere, ainda, que, como política educacional, a instituição deve criar uma estrutura informacional sobre a operação do mercado de trabalho que possa ser utilizada tanto para decisões institucionais como também como 49 referência para os projetos profissionais dos estudantes. No âmbito da orientação universitária, Gazo-Figuera (1996) sugere que [...] o desenvolvimento de programas de orientação e de intervenção, durante a fase de transição ao mercado de trabalho, que sigam as seguintes recomendações: (a) aplicação em contextos próximos do aluno; (b) treinamento em habilidades de tomada de decisão e busca de emprego; (c) desmitificação de percepções e de conceitos que reforcem a conduta passiva frente ao mercado de trabalho; (d) construção de programas de desenvolvimento pessoal para estudantes com problemáticas específicas; (e) integração a uma política de emprego que facilite a atuação em nível microcontextual. (GAZO-FIGUERA, 1996 apud MELO, 2007, p. 387) São iniciativas que podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a vida adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os obstáculos inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e com que tenha mais oportunidades para alcançar seus objetivos de vida. Quando a autora cita a necessidade de cuidado com jovens que tragam problemáticas específicas, pode-se considerar, dentre eles, o jovem de baixa renda como aquele que precisa de uma orientação que leve em conta suas vulnerabilidades. Nesse contexto, a instituição de Ensino Superior precisa repensar o seu papel diante das transformações no mundo do trabalho, no sentido de levar em conta questões relevantes enfrentadas pelos jovens no mercado de trabalho atual, que necessitam ser refletidas criticamente, durante o seu processo de formação, e incluir, em suas atividades acadêmicas, projetos voltados para a inserção do graduando no mercado de trabalho, considerando-se as vivências dos jovens nesse período de transição. Um programa de orientação profissional que leve em conta todas essas questões e as particularidades do jovem de baixa renda pode não só oferecer maior suporte institucional a esse jovem, mas, efetivamente, colocá-lo em uma posição mais favorável e competitiva em relação às demandas do mundo do trabalho (MELO et al., 2007, p. 388). Essa orientação, conforme já abordado, deve considerar os aspectos pessoais desse jovem. Em sua pesquisa, Melo (2007) observou que os jovens percebem, com maior frequência, que as dificuldades para conquistar uma oportunidade no mundo do trabalho estão ligadas mais à responsabilidade do indivíduo do que propriamente ao contexto econômico, político e social do País. Esses jovens, se aprendessem a 50 planejar a sua carreira antecipando-se às tendências do mercado de trabalho, provavelmente, reduziriam suas vivências de angústia e incertezas e se tornariam indivíduos com mais iniciativa e visão ampliada das oportunidades ligadas ao trabalho e não, necessariamente, ao emprego, o que os tornaria mais empreendedores e sujeitos ativos de seus projetos de carreira (MELO, 2007, p. 389). Na ótica de uma orientação profissional ofertada pela instituição de ensino, essa responsabilidade individual pode ser trabalhada de forma que o jovem encontre seu próprio caminho e mostre seu potencial ao mundo do trabalho, especialmente aos recrutadores em processos seletivos das organizações em geral. Embora o foco da orientação profissional individual seja um dos caminhos, a instituição de ensino poderia também desenvolver projetos de extensão e pesquisa mais coerentes com as necessidades do mercado de trabalho, introduzindo o jovem mais cedo no contexto em que irá atuar como profissional, preparando-o em aspectos psicossociais (identidade profissional, imagem pessoal, socialização organizacional, etc.), que interferem no projeto da carreira. Assim, a Universidade poderia oferecer um programa de orientação profissional e de preparo para o trabalho, uma vez que muitos jovens mudam de curso ou pela falta de maturidade para a escolha da profissão ou pelas oportunidades que vão aparecendo na sua vida. Portanto, é fundamental olhar para os jovens oriundos das camadas populares no momento de transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho com outra proposta de orientação profissional, conduzida e apoiada pela instituição de Ensino Superior e que leve em conta o preparo para essa transição, alicerçado em suas habilidades e saberes, e que se proponha a realizar a conscientização de profissionais de recursos humanos das organizações. Trata-se de buscar referências e de realizar reflexões sobre como dar mais um passo importante para a verdadeira inclusão social dos jovens das camadas populares e beneficiários do ProUni. Significa franquear a esses jovens não somente a oportunidade de acesso ao Ensino Superior, mas de dar continuidade ao seu desenvolvimento como indivíduo, 51 cidadão e profissional, proporcionando uma transição para o mundo do trabalho de forma autônoma e emancipada, valorizadora de seus atributos socioculturais, promovendo uma melhoria em sua qualidade de vida e, consequentemente, o próprio desenvolvimento local. 52 2 RELATO DA PESQUISA COM ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, PROFESSORES E GESTORES DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA. 2.1 Introdução A realidade da transição escola-mundo do trabalho dos jovens oriundos das camadas populares carrega em seu arcabouço uma série de elementos subjetivos, o que remete para a necessidade de se considerar a pertinência da abordagem qualitativa de pesquisa. Segundo Minayo (1993), tal abordagem “[…] trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões.” Segundo a autora, ela “adequa-se a aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensão e capazes de serem abrangidos intensamente” (MINAYO, 1993, p. 247). A escolha pela pesquisa qualitativa fêz, portanto, sentido, porque o objetivo geral da investigação foi o de analisar percepções e propostas sobre elementos e dimensões da orientação profissional de jovens das camadas populares e beneficiários do ProUni, considerando-se a realidade da transição escola-trabalho e perspectivas de inclusão social. Há, portanto, um aspecto que perpassa toda a pesquisa e reforça a adequabilidade do estudo qualitativo que é o senso comum dos sujeitos com os quais a pesquisa se propôs interagir. Para Minayo, [o] senso comum pode ser definido como um corpo de conhecimentos provenientes das experiências e das vivências que orientam o ser humano nas várias ações e situações de sua vida. Ele se constitui de opiniões, valores, crenças e modos de pensar, sentir, relacionar e agir. O senso comum se expressa na linguagem, nas atitudes e nas condutas e é a base do entendimento humano. Dado o seu caráter de expressão das experiências e vivências, o senso comum é o chão dos estudos qualitativos. (MINAYO, 2012, p. 622) Dimensões quantitativas também foram consideradas. Como já mencionado no primeiro capítulo, o ProUni tem sido objeto de pesquisas desde 2005, ano de sua implantação. Assim, esta pesquisa se beneficiou da análise de alguns dados dessas pesquisas, fazendo o recorte para o Centro Universitário UNA no município de Belo Horizonte - MG. Realizou-se, assim, uma sistematização e análise da realidade do 53 ProUni a partir de dados do relatório do SisProUni, sistema de consulta elaborado pelo MEC e de pesquisas acadêmicas sobre o tema. A pesquisa de campo teve como referência as atividades de OP realizadas pelo Núcleo de Carreira junto aos alunos de graduação do Centro Universitário UNA. Essas atividades são conduzidas por um grupo de profissionais da Psicologia Organizacional que atendem, em média, 700 (setecentos) alunos por ano, promovendo uma série de encontros e análises de perfil profissional e comportamental desses discentes. A partir desses dados, foram discutidos os impactos e a pertinência desse programa de orientação profissional na transição escola-mundo do trabalho, com recorte específico aos alunos beneficiários do ProUni e oriundos das classes populares. Nessa etapa, foram consideradas as particularidades socioculturais desses sujeitos no que diz respeito à transição para o mundo do trabalho como egressos do Ensino Superior. Essas discussões foram conduzidas por meio da realização de três grupos focais, prevendo-se um encontro de noventa minutos para cada grupo. O primeiro grupo (GF1) foi composto pela equipe responsável pela OP no Centro Universitário UNA, atualmente composta por cinco profissionais. O segundo grupo (GF2) foi composto por quatro discentes beneficiários do ProUni, representando quatro diferentes cursos e campi do Centro Universitário UNA. O terceiro grupo (GF3) foi composto por sete participantes acadêmicos, representando os cinco institutos do Centro Universitário UNA e sua coordenação acadêmica: cinco diretores de institutos, um coordenador acadêmico e um docente. Grupos focais são grupos de discussão que permitem diálogo sobre temas específicos a partir de estímulos para o debate. Trata-se de uma técnica que permite integração do grupo, favorece engajamento e troca de experiências e opiniões. Por não ser estruturado com base em perguntas direcionadas individualmente, o grupo focal permite, também, maior descontração entre os participantes, o que pode gerar descobertas e novas ideias. Cabe salientar que o grupo focal também permite ao pesquisador explorar não somente o tema em si, mas, ainda, como os fatos 54 relacionados ao tema são articulados, percebidos e confrontados no interior do grupo, bem como os reflexos que o tema gera no cotidiano dos participantes (RESSEL, 2008, p. 780). Conforme afirma Kind (2004), [o]s grupos focais utilizam a interação grupal para produzir dados e insights que seriam dificilmente conseguidos fora do grupo. Os dados obtidos, então, levam em conta o processo do grupo, tomados como maior do que a soma das opiniões, sentimentos e pontos de vista individuais em jogo. (KIND, 2004, p.125) Portanto, o grupo focal, como técnica de coleta de dados, se mostra bastante adequado para investigações qualitativas e foi pertinente para o propósito dessa pesquisa. Pretendeu-se, por meio dos grupos focais, promover discussões e conhecer a opinião dos seus integrantes sobre a inserção dos jovens beneficiários do ProUni no mundo do trabalho. A proposta foi conhecer as experiências vividas pelos sujeitos participantes e sua percepção acerca do tema, identificando elementos novos ou divergentes com relação às assertivas que balizaram o desenvolvimento do projeto desta pesquisa. Os grupos focais foram organizados de acordo com os perfis dos participantes. Os roteiros de cada um deles estão registrados no APÊNDICE B. O primeiro grupo focal foi composto por profissionais especialistas em orientação profissional, todas com formação na área de Psicologia e que atuavam como orientadoras de alunos de Ensino Superior do Centro Universitário UNA. O grupo conduzia um projeto denominado Programa de Desenvolvimento de Carreira que consistia na análise de perfil e mapeamento das competências de alunos oriundos de todos os cursos e campi daquele centro universitário. O segundo grupo foi composto por alunos beneficiários do ProUni, oriundos de diferentes cursos e institutos do Centro Universitário UNA; quais sejam: Engenharia, Direito, Farmácia e Análise e Desenvolvimento de Sistemas. 55 O terceiro grupo foi composto por diretores dos campi Barreiro, Barro Preto, Guajajaras, Betim, Contagem, Raja e Liberdade, o que permitiu uma cobertura geográfica bastante abrangente. Além dos diretores acadêmicos, contou-se com a participação de dois professores das áreas de Comunicação e Gestão. A partir do próprio roteiro estabelecido e das respostas fornecidas pelos grupos focais, foi possível categorizar grandes áreas, quais sejam: o perfil do aluno ProUni e uma análise comparativa com os alunos não beneficiários do ProUni; o processo de transição escola-trabalho; o processo de escolha e a orientação profissional e a orientação profissional voltada ao aluno ProUni. Essas categorias levaram a subcategorias que foram abordadas na análise que se segue. 2.2 O perfil do aluno ProUni e sua relação com os alunos não-beneficiários do ProUni O primeiro objetivo dos grupos focais era discutir o perfil do aluno ProUni e entender se esse perfil difere dos perfis dos demais alunos. 2.2.1 Engajamento e comprometimento Constatou-se que, para todos os participantes dos grupos focais, o aluno beneficiário do ProUni apresenta um perfil de elevado engajamento e comprometimento com sua formação, com a faculdade e com os estudos. Para P4 do GF1, o aluno do ProUni tem, realmente, maior dedicação aos estudos e apresenta, em geral, destaques acadêmicos, sobressaindo-se em termos de desempenho acadêmico. Corroboram essa percepção as opiniões dos participantes do grupo focal GF3, composto por professores e gestores acadêmicos. O participante P1 salienta que, em um primeiro momento, não é possível fazer essa distinção entre alunos ProUni e 56 os demais, mas no decorrer do semestre letivo ela percebe, como professora, que o aluno do ProUni apresenta um melhor desempenho acadêmico. P4, também professor, afirma que a distinção entre aluno ProUni e os demais é nítida desde os primeiros dias de aula, porque “ele é um aluno diferenciado”, mais responsável. Ele, inclusive, refere-se àquele aluno que senta na frente em sala de aula e não tem vergonha em dizer que é “proUnista”,9 porque, na visão do professor, o aluno acredita que ser beneficiário do ProUni é um diferencial. O professor P7 destaca que há distinções entre os alunos “proUnistas” de bacharelado e os dos cursos de formação de tecnólogos. Segundo ele, nos bacharelados, os alunos, em geral, são menos compromissados e, portanto, os alunos do ProUni se destacam mais. Nos cursos de Graduação Tecnológica, essa distinção é mais sutil, porque os alunos, em geral, já têm perfis que os caracterizam como mais comprometidos com os estudos. O participante P6, diretor de um dos institutos do Centro Universitário UNA, reforça essa questão citando o exemplo de uma aluna de Comunicação, beneficiária do ProUni, que se revelou como destaque no curso, mas observa que essa aluna não revela ser do ProUni “[…] na conversa, nem nas roupas, nem na sua gestalt”.10 Nesse momento, P7, também professor de Comunicação, lembra que conquistas como essa dependem do esforço do aluno do ProUni, já que ele teve menos oportunidades na vida. Para esse professor, cursos como o de Cinema e Moda, nos quais os perfis dos alunos apontam jovens oriundos de estratos sociais mais elevados, a distinção entre eles e o aluno do ProUni é maior. Ele cita as viagens internacionais e “bagagem cultural” como exemplos de vivências às quais o “proUnista” não teve acesso. Retoma o exemplo da aluna destaque citada por P6 e afirma que, ao se aprofundar a conversa com ela, percebe-se que ela não teve as mesmas oportunidades dos demais alunos. 9 Doravante, neste trabalho, usa-se esse neologismo para se fazer referência a aluno beneficiário do ProUni. Usa-se, também, alternativamente, para essa mesma finalidade, as expressões “aluno do ProUni”, “aluno oriundo do ProUni” e “beneficiário do ProUni”. 10 Os excertos de informações dadas por informantes são transcritos conforme as informações expressas por eles, ipsis litteris, e sua identididade é preservada. 57 A professora P2 ressalta, ainda, que o ProUni é um meio para realizar um sonho e que, portanto, esse jovem enxerga no programa um “oportunidade de transformação da sua vida” e, também, da de sua família. Dessa forma, para P2, ele não estuda só pelo diploma, mas por algo mais amplo: uma oportunidade de vida. Outro ponto levantado foi o de que o aluno do ProUni, por ser bolsista, é mais parceiro da instituição e tem uma postura mais solidária em relação aos demais alunos. Essa percepção corrobora outros relatos que destacam casos em que jovens das camadas populares foram mais solidários e colaborativos com os demais colegas, em circunstâncias diversas. Vale salientar que realmente esses jovens buscam realizar seus sonhos e o curso superior pode sim ser uma oportunidade de vida. O ingresso no mundo do trabalho pode ser um importante marco conceitual da juventude e da transição para a vida adulta, e esses jovens enxergam o acesso ao Ensino Superior como uma via para entrada no mundo do trabalho. Um ponto que surgiu na revisão teórica foi o de que a realidade dos jovens das classes sociais menos favorecidas, muitas vezes, tiveram trajetórias marcadas pelo sofrimento e, em geral, por escassez de recursos. E isso pode, muitas vezes, gerar maior engajamento em oportunidades que são vistas como uma possibilidade de mudanças da vida do jovem. Possivelmente ele enxerga a bolsa como uma dessas oportunidades. P4 destaca outra questão, em relação ao perfil do aluno “proUnista”. Para ele, essa distinção pode não ser muito nítida numa instituição como o Centro Universitário UNA, na qual o perfil dos alunos é, em geral, de baixa renda, mas ressalta que, em uma escola mais elitizada e que também acolha bolsistas ProUni, essa distinção poderá ficar mais nítida. Na visão dos próprios alunos bolsistas do ProUni, participantes do GF2, eles se enxergam mais comprometidos e engajados do que a maioria dos demais alunos, mas por uma questão objetiva: precisam obter notas altas, como forma de garantia 58 de manutenção da bolsa, o que abriu ensejo para um novo debate; qual seja: o do desempenho acadêmico do aluno “proUnista” em relação aos outros alunos. 2.2.2 Desempenho acadêmico Os participantes dos três grupos focais fizeram referência à necessidade do aluno do ProUni apresentar, constantemente, um bom desempenho acadêmico, uma vez que, para conseguir a bolsa e mantê-la, ele precisa obter uma boa nota no Enem e, posteriormente, resultados acima de oitenta por cento ao longo do curso superior. Para P1 do GF1, esse jovem já vem com um histórico de vida de dedicação e comprometimento com os estudos, porque conquistar uma bolsa integral, num ambiente bastante concorrido, não é fácil. Esse mesmo ponto foi levantado por P3, professor participante do GF3. Segundo ele a questão da nota reforça “a necessidade de entregar mais”. Ele ressalta que, como professor, tem uma visão menos “romântica” sobre o desempenho desse aluno; ou seja: o comprometimento vem da necessidade de se obter um desempenho acima da média. Possivelmente essa necessidade de comprometimento com o bom desempenho acadêmico reforça a fala de P6 quando afirma que o aluno do ProUni é “mais aberto, mais propenso a buscar, a correr atrás”. Para ele esse é um diferencial competitivo para o aluno do ProUni. Conforme mencionado anteriormente, segundo a visão dos alunos “proUnistas” participantes do GF2 não há distinção entre alunos “proUnistas” e os demais, exceto pelo fato de precisarem ser mais dedicados em função das notas que precisam obter. Os alunos do ProUni são mais preocupados com desempenho acadêmico. Os alunos do GF2, portanto, enxergam maior engajamento por parte deles meramente em função da necessidade de obterem resultados acadêmicos elevados e não por serem “diferentes” dos demais alunos. 59 Um contraponto interessante surgiu quando se perguntou ao grupo se esse engajamento e comprometimento diferiam do aluno que não era ProUni, mas que financiava seu curso superior e que também tinha como pré-requisito obter notas acima de setenta e cinco por cento. A participante P3 do GF1 comentou então que na percepção dela esse engajamento não decorria do fato de ser ou não beneficiário do ProUni, mas sim da história de vida do indivíduo. Ele sempre foi comprometido e dedicado aos estudos e como consequência conseguiu a bolsa do ProUni e não o contrário. Ela acredita que o ProUni pode sim contribuir para uma maior dedicação, mas não é a única razão, já que isso vem do próprio indivíduo e de sua história de vida. Nesse sentido P4 do mesmo grupo focal afirmou conhecer um aluno beneficiário do ProUni que vivia em um aglomerado urbano de baixa renda e apresentava alto nível de engajamento político e nas atividades da comunidade, exercendo até um papel de liderança local. Isso, por si só, já indicava histórico de vida de um indivíduo engajado com as questões sociais. Ela acredita que esse histórico pessoal contribuiu muito para que ele fosse aluno destaque do ProUni, com notas e desempenho acadêmico altos. Para P3 e P4, portanto, o perfil engajado decorre mais da história de vida do indivíduo do que pelo fato de ele ter conquistado a bolsa do ProUni. P1 do GF3 também salienta que ele tem um bom desempenho não somente pelas notas, como pré-requisito, valorizando muito essa oportunidade e tem “vontade de estudar”. P4 destaca que o aluno ProUni tem melhor desempenho porque ele carrega desde cedo essa história de engajamento nos estudos e por isso conquistou a bolsa. Embora essa seja a percepção dos professores e profissionais de OP, os próprios alunos não se enxergam dessa forma e não se acham mais comprometidos por uma questão de história de vida. Conforme observado anteriormente, para esses alunos, o comprometimento com o desempenho acadêmico deve-se exclusivamente à 60 necessidade de manterem médias de rendimento acadêmico acima de oitenta por cento. Outro ponto que também surgiu na discussão do grupo foi de o aluno ProUni nem sempre precisar trabalhar para pagar os estudos, já que muitos recebem bolsa integral, o que os difere dos demais alunos não beneficiários, que precisam trabalhar para arcar com os estudos. Desse fato, decorre que o aluno ProUni tem mais tempo para os estudos e, portanto, maiores chances de apresentar melhor desempenho em relação aos demais alunos. 2.2.3 A integração com os colegas Um ponto que foi levantado nas discussões diz respeito à integração do aluno do ProUni com os demais colegas; isto é: se o aluno do ProUni integra-se com os colegas de turma. Os participantes do GF2, alunos do ProUni, consideram que a integração com os colegas é boa; muitas vezes, nem mesmo mencionam que são do ProUni. Para o grupo, há uma visão, por parte dos colegas, de que o aluno “proUnista” é “mais inteligente”, mas, ainda assim, a integração é natural, como qualquer outro colega. Para os alunos, não há qualquer dificuldade ou barreira nesse processo de integração. Para o grupo de professores e gestores, essa integração parece não ser tão equilibrada, como a enxergam os alunos. O professor P6, por exemplo, lembra-se de uma aluna “proUnista” do curso de Comércio Exterior da UNA que, recorrentemente, sinalizava certo desconforto em sala de aula e na relação com os colegas, por nunca ter tido experiências internacionais e vivências, como os demais alunos tinham. Vale lembrar que o curso de Comércio Exterior está entre os mais elitizados desse centro universitário e, por esse motivo, pode apresentar contrastes socioeconômicos mais explícitos. Essa visão é corroborada por Piotto (2010), que apresentou resultado de uma pesquisa realizada com alunos universitários querelataram sofrer esse mesmo incômodo. 61 O professor P2 lembra também de casos em que, por uma questão de zelo a condição “proUnista”, ao passar em sala de aula para dar avisos ou colher assinaturas de alunos em listas de presença, havia um cuidado em não expor os alunos do ProUni para que não ficassem rotulados como de baixa renda; isto é: estão todos ali na mesma condição, “no mesmo nível de igualdade”. A professora destaca que pode haver algum nível de diferença entre os alunos ProUni e os demais, mas que isso é “absolutamente velado”; não é explícito. Dessa forma, ressalta que podem surgir conflitos, rejeição ou outros comportamentos sociais nessa direção. De toda forma, em geral, os participantes dos três grupos focais corroboram o fato de que é boa a integração entre alunos do ProUni e os demais alunos, mesmo que essa integração possa se configurar, em certos momentos, como uma questão delicada. 2.3 A transição escola-trabalho Na perspectiva da transição escola-trabalho, os grupos fizeram reflexões relevantes, sumariamente comentadas a seguir. 2.3.1 As expectativas do mundo do trabalho Diante do dinamismo do mundo de trabalho, exige-se do profissional uma série de habilidades dentro da profissão escolhida, conforme assinalou P3, do GF1, porque ele precisa desenvolver um rol de competências que o levarão a uma posição de destaque e a um diferencial competitivo, uma vez que há competitividade no mundo do trabalho e nas organizações que “não dá pra negar”. Provocadas com a pergunta sobre quais diferenciais se referiam, P1 e P5, do mesmo GF1, afirmaram depender da vaga e do cargo a serem ocupados pelo 62 profissional. A flexibilidade surgiu como primeira competência apontada por P1 e P3, que se referiram a ela como aquela habilidade de atuar em diversas áreas e como habilidade social ou comportamental de se adaptar a diversos cenários. O grupo apontou, também, outras competências como relacionamento (interpessoal), habilidade de criar redes de relacionamento, uma vez que o jovem profissional precisa mostrar-se à sociedade. Para o grupo, as organizações são, atualmente, muito mais exigentes e esperam, nos processos seletivos para estágio, um candidato polivalente e com um leque de atributos mais “requintado”. Nesse momento, discutiu-se se há, por parte das empresas e do mundo do trabalho, um rol de competências padronizado que é exigido dos candidatos a vagas de estágio. Ficou claro, no debate, que há, sim, um espelho de competências esperado pelas organizações e que não há como fugir dele ou não abordá-lo junto aos estudantes. Há um parâmetro de competências comportamentais observado nas ofertas de vagas de estágio administradas pelas profissionais do GF1. O que ocorre é que, muitas vezes, esse padrão é velado, mas existe um “clichê” do que se espera de um candidato a vaga de estágio. Na opinião de P2, do GF1, por erro do recrutador ou por hábito mesmo, ele repete o mesmo padrão de avaliação dos candidatos e espera o mesmo perfil de todos; aquilo que considera o perfil “ideal”. Quando foi debatida essa questão com o GF3, o grupo de professores e gestores corroborou o que fora dito pelas profissionais de OP, no sentido de que há características predeterminadas, mas não há, necessariamente, um padrão, e que para cada oportunidade no mundo do trabalho exige-se um perfil. Existem, portanto, perfis definidos para cada empresa e cargo. P2 acredita que as empresas querem um profissional completo, pronto, “quase um Deus”, retratando uma expectativa distante da realidade, mas acredita que, em 63 geral, as empresas pedem um sujeito comprometido, responsável, que tenha atitude e seja engajado: “[…] eu vejo que é um padrão, todo mundo quer”. É interessante notar que é exatamente esse rol de características que os dois grupos focais – o de profissionais de OP e o de professores – apontam como mais presentes nos alunos beneficiários do ProUni e que não necessariamente são observadas pelos recrutadores nos processos seletivos. O professor P1 citou um exemplo ilustrativo de uma empresa que só recrutava jovens oriundos de estratos mais elevados, com perfil socioeconômico e cultural elevados, domínio de Inglês e de outros idiomas. Após dez anos, sentiram que esse perfil não era mais o desejável, já que nem sempre esses jovens eram os mais comprometidos e, muitas vezes, ficavam pouco tempo no cargo e ansiavam por uma progressão excessivamente rápida. Por fim, decidiram mudar o perfil desejado para o de um jovem que fosse efetivamente mais engajado e comprometido, independentemente de seu repertório cultural ou de domínio de idiomas. Outro ponto levantado pelos grupos é o de que os estudantes de um mesmo curso terão acesso a uma mesma formação, mas isso não quer dizer que serão formados da mesma forma. A participante P3, do GF1, cita um exemplo de alunos da Engenharia cujo curso tem a mesma matriz curricular, as mesmas disciplinas e, em um processo seletivo, o recrutador sabe o que o aluno já estudou até determinado período do curso. Portanto, o que o recrutador fará é buscar os diferenciais comportamentais e pinçar, entre os candidatos, aqueles que melhor se adequarem ao rol de competências desejáveis pela organização recrutadora, de acordo com o espelho previamente determinado. Na visão do grupo de alunos participantes do GF2, o que as empresas mais exigem é experiência prévia na área; isto é: buscam o jovem que já tenha tido alguma vivência prática na sua área de atuação como estudante. Para eles, isso é incoerente, uma vez que a busca pelo estágio é exatamente a busca por conhecimento prático e experiência na área. Outro ponto levantando pelos quatro alunos dos quatro diferentes cursos foi o de que as organizações também valorizam muito os cursos extracurriculares, 64 certificações adicionais e domínio de idiomas. Para eles, o domínio de idiomas deixou de ser desejável e passou a ser um pré-requisito quase obrigatório. Observou-se que, diferentemente dos demais grupos focais, em nenhum momento o grupo de alunos se referiu às competências comportamentais como sendo as mais demandadas pelas organizações. O grupo ficou preso às competências e habilidades técnicas. Foi nesse momento que foi exibido um vídeo intitulado O candidato (2013), que retrata um processo seletivo diferente, pautado em competências e habilidades meramente comportamentais e com cunho de solidariedade e construção de sistemas colaborativos. Após o vídeo, foi refeita a pergunta acerca do que eles acreditavam serem as características exigidas pelas empresas ao contratar profissionais. Dessa vez, elencaram o entusiasmo e a proatividade. Destacaram, também, que o processo apresentado no vídeo esperava um candidato mais humano, solidário. Para os alunos, poucas empresas adotam essa postura nos processos seletivos, porque, em geral, estão mais ligadas ao currículo do aluno e às competência técnicas requeridas para um cargo. De certa forma, essa percepção mostra que os alunos conhecem pouco sobre os processos seletivos das empresas, já que grande parte desses processos valoriza mais as questões comportamentais do que as competências técnicas. P3 compartilhou, então, uma experiência que teve em um processo seletivo de empresa de grande porte na área de Engenharia. Ele relatou que passou nas primeiras etapas do processo, mas que, nas etapas presenciais e de dinâmicas de grupo, percebeu que os recrutadores separaram os candidatos que apresentavam perfis mais “espontâneos”. Ele foi contratado, meses depois, e, em conversa com seu líder sobre o que o levou a contratá-lo, o líder afirmou que foi contratado por sorrir muito, por ser espontâneo. Ele achou interessante a abordagem do líder e disse que, a partir daquele momento, passaria a “[…] prestar mais atenção em algumas atitudes pra melhorar”. 65 Em seguida, perguntou-se, junto aos estudantes participantes do GF2, se acreditavam possuir algumas daquelas características sugeridas no vídeo. Todos concordaram que possuem como característica a iniciativa de ajudar. Nas palavras de P2: “[…] quando eu trabalho eu vou tentar ajudar, é minha característica”. Ao se abordar, novamente, com o grupo, após assistirem ao vídeo, se aquelas características estavam presentes também nos demais colegas, o grupo continuou com a mesma opinião, afirmando que não vê diferenças entre eles e que depende de cada indivíduo; ou seja: eles não se enxergam como sujeitos mais solidários, se comparados com os demais colegas. Após assistirem ao vídeo, afirmaram, também, que tinham como característica a determinação, em função da dificuldade de conseguir e manter a bolsa do ProUni, única forma de que dispõem viabilizar os estudos em uma instituição particular de Ensino Superior. Para P2, aluno de Farmácia, criatividade, disposição e dinamismo são essenciais para as empresas. Quando indagados sobre quais dessas características eles tinham, P3 disse que tinha algumas; especialmente, dinamismo, “ter jogo de cintura” e conseguir contornar algumas situações. P1 destacou ter como característica principal a solidariedade, mas que precisaria ainda desenvolver muito outras habilidades. A estudante P1 ainda mencionou a postura como característica exigida pelas organizações. Em seguida, todos concordaram que postura, a forma como o profissional de relaciona com os pares, com seu líder, com clientes, é muito exigida pelas empresas. Outro ponto levantado pelo professor P6 no GF3, e que tem certa afinidade com essa discussão, diz respeito ao fato de nosso modelo de ensino ser excessivamente conteudista, desenvolvendo pouco as habilidades comportamentais dos alunos. Ele aponta que o aluno “proUnista” é vítima desse processo, porque precisa estudar muito os conteúdos para manter a média necessária à manutenção da bolsa e a instituição não desenvolve nele habilidades comportamentais necessárias à sua inserção no mundo do trabalho. Para esse professor, as seguintes habilidades são 66 demandadas pelas empresas: trabalho em equipe, relação interpessoal, habilidade para fazer gestão de conflitos, comunicação, habilidade de autoapresentação. 2.3.2 O processo de transição e seus desafios Quando foi abordado o tema do processo de transição escola-trabalho e seus desafios, o grupo dos professores e gestores trouxe uma contribuição complementar bastante convergente com a dos profissionais de OP. Para ambos os grupos, esse processo de transição dependerá da trajetória que o aluno percorreu ao longo de sua formação e das exigências do mercado de trabalho debatidas anteriormente. Vale ressaltar que essa transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho, é uma das questões centrais na vida do jovem universitário e muito marcante no seu ingresso na vida adulta. Trata-se de um momento que contribui significativamente para a construção das identidades profissional e pessoal, e o estágio é a porta de entrada para essa nova etapa da vida dos jovens. Os estágios surgem como um dos meios de realizar essa transição, mas o grupo destacou, ainda, trabalhos voluntários e experiências de intercâmbio como sendo essenciais para essa transição. Essa percepção se repete em todos os institutos do centro universitário, segundo a visão dos seus respectivos diretores. Nas Engenharias, o professor P6 destaca que o estágio extracurricular é muito importante. Entretanto, o aluno do ProUni posterga muito sua entrada, porque, como precisa obter notas mais altas do que os demais alunos, ele se vê obrigado a se dedicar mais aos estudos do que ao trabalho. É comum o aluno “ProUnista” retardar sua entrada no mundo do trabalho. Esse é um fato que difere dos demais jovens das camadas populares. À luz do conceito de moratória social – isto é: do tempo maior que o jovem oriundo das camadas mais altas tem para ingressar no mundo do trabalho –, o mesmo não ocorre com os jovens de baixa renda que, por necessidade, inserem-se no mundo do trabalho mais cedo. Ao que parece, o bolsista do ProUni não se insere tão rápido 67 porque precisa estudar mais para assegurar o desempenho acadêmico que se espera ou se exige dele. Para os alunos do ProUni participantes do GF2, a dificuldade de inserção está pautada na exigência de experiência por parte dos empregadores. Para os alunos, experiência e cursos extracurriculares são os pontos mais relevantes para uma contratação. Mais uma vez, constatou-se que o grupo atribuiu pouca relevância às questões comportamentais. É interessante observar que, mesmo quando provocados sobre outros fatores que poderiam dificultar sua inserção no mundo do trabalho, os alunos mantiveram o discurso da experiência prévia e cursos adicionais. Mencionaram, também, a necessidade de domínio de idiomas. Além disso, um dos pontos que dificulta a inserção do estudante no mundo do trabalho por meio do estágio é que as organizações desejam estudantes com experiência e exigem qualificações que os alunos ainda não possuem em sua formação acadêmica. E isso vale tanto para alunos do ProUni como para os demais estudantes. Para P2, do GF1, há um descompasso entre o que as empresas exigem e a formação dos estudantes de Ensino Superior, o que pode causar certa frustração a ambos os lados. O GF das profissionais de OP trouxe ainda uma questão crucial nessa análise. Na ótica de P1, o ProUni “é até um pouco perverso”, porque ele dá a oportunidade de entrar no Ensino Superior, mas as histórias de vida, as oportunidades educacionais, de inclusão social, de visão ampla de mundo e de vivências culturais dos estudantes “proUnistas” diferem muito dos alunos oriundos dos estratos sociais mais elevados. Essa realidade impacta na transição escola-trabalho se se considera que esses jovens não apresentarão, necessariamente, o comportamento e o padrão desejados ou pré-estabelecidos pelos recrutadores ou pelo mundo do trabalho. É possível refletir que o ProUni resolve parte dessa questão, ao possibilitar a inserção desses jovens no Ensino Superior, mas não apresenta uma solução para a distância entre a realidade sociocultural em que vivem e aquela encontrada no 68 ambiente universitário ou entre o percurso universitário e a transição ao trabalho. Foi colocada em discussão, então, a transição escola-trabalho; especificamente, do aluno ProUni, e se ela se dá de forma distinta da que experimentam os demais alunos. O GF1 destaca que há distinções sim, uma vez que a formação do aluno oriundo de estratos sociais mais elevados contemplou escola particular, acesso a cursos de idiomas e/ou experiências internacionais. As profissionais de OP consideram esses alunos parte de um grupo privilegiado, o que pode proporcionar seu melhor desempenho em processos seletivos e maior facilidade de inserção no mundo do trabalho. O aluno do ProUni que não teve acesso a esses recursos sente-se mais intimidado ou com a autoestima mais baixa no momento dos processos seletivos, “se sente menos”. Nessa mesma linha de pensamento, a professora P1, do GF3, reforça que acredita que o aluno do ProUni possa ter “autoestima diminuída”. Nesse contexto, P1, do GF1 destacou, ainda, que há um cenário preconceituoso em relação a esse jovem oriundo das camadas populares, até mesmo na postura, na apresentação, nas roupas, “[…] eu percebo que ela impacta nas seleções do mercado porque a própria visão de mundo dele é diferente”. Especialmente, as grandes empresas buscam o jovem com repertório cultural mais amplo, que tenha viajado, dominado idiomas e que seja “mais articulado”. Na opinião de P2, isso ocorre, de fato, porque o “[…] mercado é isso... o mercado é agressivo, o mercado é competitivo”. A abordagem da questão cultural encontrou ressonância no GF dos professores, uma vez que consideram o berço cultural como dimensão essencial e facilitadora ou dificultadora para uma efetiva transição escola-trabalho. Muito embora o grupo deixe claro que isso independe somente da condição de ser aluno ProUni e, consequentemente, de baixa renda, já que esse jovem também pode buscar seus próprios meios para seu desenvolvimento nesse campo, os professores sinalizam um tripé como eixo para uma boa transição: 1) berço cultural; 2) formação acadêmica consistente e de qualidade; e 3) oportunidades econômicas de mercado. No âmbito das variáveis macroeconômicas, é preciso levar-se em consideração a quantidade e a qualidade da oferta e demanda do mercado de trabalho. 69 Para P2, no âmbito do berço cultural o aluno do ProUni precisará se esforçar um pouco mais, porque ele apresenta, em geral, um “[…] déficit em relação às questões culturais”. P3 rebate defendendo que muito embora o aluno do ProUni não tenha tido as mesmas oportunidades de acesso às questões culturais se comparado aos demais alunos, hoje em dia, com a ajuda do mundo digital, é possível que esse aluno percorra um vasto campo virtual cultural e crie seu próprio repertório nesse sentido. Ele lança mão do termo “travar”, no sentido de que não é a condição socioeconômica do aluno que travará o progresso ou o percurso dele, mas o que ele faz com essa condição. P2 menciona que, realmente, não irá travar, mas o aluno do ProUni terá que fazer um esforço para enxergar essa questão, porque, no contexto social em que ele vive, questões culturais não são marcantes e ele terá que questionar o modelo por ele vivido, “[…] sabendo que ele pode construir uma história diferente da realidade social dele”. Essa posição corrobora o que as profissionais de OP também sinalizaram; ou seja: o aluno precisa querer sair desse lugar e promover seu próprio crescimento. É uma questão, também, de atitude. Portanto, para o grupo, berço cultural é uma questão cobrada pelos empregadores em geral e que dificulta a transição escola-trabalho. Vale salientar que a pesquisa, realizada em diversos países, e com diferentes profissionais de recursos humanos, sobre a qual se discutiu no primeiro capítulo deste trabalho, deixa claro que a sensibilidade cultural como competência para o mundo do trabalho é cada vez mais exigida pelas organizações, no momento da contratação. A equipe de OP sinalizou, ao final da discussão, que mesmo observando uma tendência de dificuldade na transição escola-trabalho de alunos do ProUni e de baixa renda, não é possível generalizar, porque isso depende do sujeito e de sua história de vida. Nessa perspectiva é que a transição escola-trabalho pode apresentar diferentes dimensões entre os jovens de estratos mais elevados e os oriundos das camadas 70 populares, uma vez que suas histórias de vida, suas origens familiares, suas identidades profissionais, suas expectativas em relação ao futuro e a forma como se enxergam no mundo são distintas. A realidade dos jovens das camadas populares e seus repertórios de vida impactam na forma como se relacionam com o mundo do trabalho. E, conforme se viu em Ramírez (1994), no ambiente do Ensino Superior, as diferenças na qualidade de formação escolar básica, bem como as relativas ao repertório cultural entre os alunos pobres e os alunos pertencentes aos estratos econômicos mais altos da sociedade, ficam ainda mais nítidas. Isso torna o processo de transição ou espaço de transição para o mundo do trabalho ainda mais árduo para os jovens das camadas populares. Por fim, ressaltaram que políticas públicas como o ProUni promovem a inclusão no Ensino Superior, mas não contemplam uma preparação do mundo do trabalho para receber esses egressos do Ensino Superior que demandam particular atenção. 2.3.3 O potencial dos alunos ProUni Considerando que o aluno do ProUni pode não possuir o rol-padrão de características ou competências exigidas pelo mundo do trabalho, foi colocado em debate o potencial desses estudantes frente às expectativas das organizações. O GF1 acredita que o aluno do ProUni pode apresentar características oriundas de sua história de vida, muito valiosas para as organizações, mas que não são vistas pelo recrutador, que avalia somente os currículos e/ou comportamentos padronizados esperados. Para P3, “[…] às vezes tá ali na mão uma joia, e você vai abrir mão dele porque ali ele não mostrou todo o potencial dele”. Quando perguntado sobre como esse jovem pode sair desse lugar, o grupo GF1 destacou que “[...] a gente tem que explorar o que ele tem de melhor”, porque a condição dele, com poucas oportunidades, fez dele um sujeito com outras habilidades comportamentais que podem, inclusive, suplantar as técnicas. 71 O grupo cita casos como o do jovem que precisou trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da família e isso o tornou mais comprometido, mais independente. Muitas vezes, esse jovem precisou cuidar dos irmãos desde cedo e “administrar essas crianças”. Esse jovem acabou vivendo uma realidade e “[…] às vezes na experiência dele ele vai saber um pouco de tudo porque ele precisou saber um pouco de tudo” e, se o mercado exige profissionais multifacetados, é possível que esse jovem atenda aos anseios desse mercado de maneira mais efetiva do que outros jovens que não tenham vivido nesse contexto. Essas percepções levam à discussão ancorada nas diferenças entre as capacidades dos jovens das camadas populares e as dos jovens das camadas mais favorecidas. Possivelmente, os jovens das camadas populares têm capacidades colaborativas e de resiliência mais desenvolvidas, em função de suas histórias de vida. Atualmente, fala-se cada vez mais em protagonismo jovem em função da participação efetiva dos jovens nas instituições e nos movimentos sociais. Os jovens das camadas populares são, em muitos casos, engajados nesse contexto, o que lhes proporciona ainda mais habilidade de trabalhar em sistemas colaborativos, o que reforça sua habilidade em trabalhar em equipe, uma das mais expressivas demandas do mundo do trabalho. Essa abordagem encontra ressonância em Charlot (2000), quando ele fala da “sociologia das diferenças”, questão abordada no primeiro capítulo desta dissertação. Por outro lado, esses jovens demonstram pouca familiaridade com práticas competitivas, que são as que costumam contar quando se trata de disputar vagas em estágios. Dessa forma, o desafio, conforme mencionou P2, do GF3, é maior. Para P3, do GF1, esse jovem é mais “descolado” e P5 cita como exemplo o filme Quem quer ser um milionário? (2008), que retrata exatamente esse olhar para o potencial de habilidades dos jovens das camadas populares. P3, participante do grupo de professores, citou o caso de uma professora incomodada com alunos de baixa renda por não possuírem um berço cultural, não conhecerem um escritor ou artista plástico específico e que isso os limitava no 72 processo de desenvolvimento de um projeto. Em seguida, refletiram que o que, de fato, contava era o repertório que eles traziam de suas vidas, aquilo que vivenciaram, outras influências menos padronizadas e que podem trazer algo novo, um novo olhar. Para o professor, corre-se o risco de se prender a modelos prontos e padronizados, enquanto o “ponto chave está na atitude”. O mesmo professor lembrou outro exemplo de uma aluna do ProUni que conquistou um espaço relevante no mundo do trabalho e que há questões a serem considerados, como o fato do aluno ter “[…] outros elementos que subsidiam um acesso a cultura”. Esse professor salienta que o aluno oriundo das camadas populares pode ter acesso à cultura por meios como a Internet ou atividades gratuitas. Duas questões ficaram claras nesse debate. A primeira é a de que existe outra face dos bolsistas, com saberes não legitimados pelo mundo do trabalho, em processos seletivos, e pelos recrutadores, mas que podem contribuir muito com as organizações. A segunda é a de que é preciso entender e estudar os jovens tendo como pano de fundo a realidade na qual estão inseridos e do mundo em que vivem, e não apenas compará-los com certos modelos ou padrões de comportamento hegemônicos. Por fim, o grupo de profissionais de OP reforçou que o reconhecimento dessas habilidades do jovem de baixa renda depende, em grande parte, de ele se posicionar nas dinâmicas de grupo, nos processos seletivos e, ao mesmo tempo, de o próprio recrutador ter sensibilidade para reconhecer essas habilidades e sua importância para as organizações. Essa sensibilidade dos recrutadores é vital para o reconhecimento dessas habilidades, uma vez que, ao pleitearem vagas no mercado de trabalho, esses jovens são submetidos a testes, dinâmicas de grupo e entrevistas, sendo avaliados e selecionados a partir de vieses pouco favoráveis aos seus perfis socioculturais. 73 2.3.4 A escolha profissional Uma questão relevante surgiu em relação às escolhas profissionais do aluno beneficiário do ProUni. Uma vez que a escolha do curso superior e da instituição de ensino depende da nota no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio –, o aluno, muitas vezes, escolhe não necessariamente o que quer ou sonha, mas o curso e escola onde é possível conseguir a bolsa ProUni com os pontos obtidos no ENEM. Para todas as participantes do GF1, o aluno ProUni não escolhe aquilo que sonha, necessariamente, mas o que dá para escolher. E, como ele teve poucas oportunidades na vida e inúmeras dificuldades, oriundas, muitas vezes, da baixa renda, nas palavras de P5, “[…] a primeira que aparece ele se agarra”. Isso quer dizer que, para o grupo, o aluno do ProUni nem sempre faz suas escolhas de acordo com aquilo que sonha fazer no âmbito profissional, mas o que chega para ele como única oportunidade, e ele tenta se adaptar, da melhor forma, com o melhor desempenho possível, a essa oportunidade. Quando provocado por uma nova pergunta em relação à orientação de escolha profissional e se essa orientação poderia mudar a escolha do aluno ProUni, fazendo com que ele abrisse mão da oportunidade conquistada em nome de tentar buscar o seu sonho, o grupo afirmou que não acreditava nessa possibilidade. Para elas, o aluno não abriria mão da oportunidade que surgiu, mesmo que essa não fosse aquilo com que sonhara, mas a orientação profissional poderia ajudá-lo a se apropriar melhor dessa escolha e até alertá-lo para as diversas possibilidades de atuação dentro dela, já que o mundo do trabalho é dinâmico e permite especializações e mudanças de (e dentro de uma) área de atuação. Essa é uma questão delicada, porque os jovens precisam fazer escolhas cada vez mais cedo e com maior rapidez, carregam consigo uma carga de expectativas e incertezas em relação ao seu futuro e, ao mesmo tempo, ainda acabam escolhendo aquilo que é possível escolher e não necessariamente o que desejam escolher, considerando seus sonhos de vida. 74 2.4 A Orientação Profissional Na perspectiva da orientação profissional e de seu conceito, P3, do GF1, afirmou existirem dois pontos relevantes: o primeiro é o de alinhar o perfil do indivíduo com as possibilidades de atuação profissional e, o segundo, o de ajudá-lo a compreender a escolha feita e se apropriar dela. Para P1, o jovem, muitas vezes, sabe que não fez sua escolha prioritária ou preferencial por não conseguir nota suficiente no Enem, mas ter consciência da escolha que fez pode ajudá-lo no percurso profissional, e esse é um dos papéis da orientação profissional. Outro ponto apontado por P3 é que a OP também contribui para que o jovem entenda que suas escolhas não são definitivas e que dependem, também, do momento de vida, e não somente do histórico de oportunidades surgidas ou de sua história de vida. É possível fazer novas escolhas, especialmente em função da dinamicidade do mundo do trabalho mencionado por P1. Quando abordamos, então, a questão da OP específica para alunos do ProUni, o grupo sinalizou que o primeiro passo é explicar como opera esse mundo do trabalho e deixar o jovem consciente dessas exigências. Na opinião das profissionais de OP, porém, essa abordagem não é só para o aluno do ProUni, mas para todos os alunos que chegam para uma orientação. Para o grupo, o aluno do ProUni não precisa de uma OP “com muitos dedos” e deve ser orientado da mesma forma que os demais alunos. Nessa perspectiva, o que se espera não é impor uma realidade padronizada do mercado de trabalho, mas explicar que essa realidade existe, e considerando os aspectos pessoais, de história de vida desse jovem, construir com ele um caminho de que ele “dê conta”, que seja compatível com seus anseios e expectativas de vida. Aproveitando a discussão sobre as dificuldades e exigências para inserção dos estudantes no mundo trabalho, perguntou-se ao grupo de profissionais de OP como se dava o processo de orientação profissional conduzido pelo grupo e se elas 75 abordavam as dificuldades apontadas e falavam das competências exigidas pelo mundo do trabalho com os estudantes atendidos. Para o grupo de OP, o processo de orientação profissional se dá de forma muito individual, considerando-se o que cada estudante traz no momento da orientação profissional. Por outro lado, o trabalho na OP considera, também, o que as organizações esperam desse jovem profissional. Quanto à sua atuação como profissional de OP, P3 afirma que mostra essa expectativa do mercado, mas também leva em conta questões pessoais do estudante, sendo flexível para considerar os dois lados. Não há como valorizar somente as potencialidades e pontuar vulnerabilidades do estudante, sem mostrar a ele o que o mundo do trabalho demandará dele como profissional. Entretanto, o grupo procura não buscar a reprodução de pessoas iguais ou a valorização dos rótulos do mundo do trabalho, durante o processo de OP. Elas acreditam que, embora exista uma base de competências desejáveis, as empresas também desejam um ambiente heterogêneo de profissionais, com características diferentes e, ao mesmo tempo, complementares. Um candidato a estágio pode não ter as competências exigidas, mas pode apresentar outras características pessoais também interessantes para a organização recrutadora. Para P3, o candidato pode ser ousado ou ter facilidade para aprender, o que implica que ele, não tendo as competências necessárias, poderá desenvolvê-las com agilidade. A questão que dificulta o processo é que, na maioria das vezes, o recrutador não observa bem – ou não tem oportunidade de conhecer bem – o candidato, com todo o seu potencial e seus atributos pessoais, porque isso só ocorreria em uma entrevista individual ou em uma dinâmica de grupo bem concebida e conduzida. Para o grupo, essa avaliação mais individualizada dependerá da flexibilidade de cada empresa e do recrutador, e o grupo concluiu que o trabalho da OP é, também, fazer com que os estudantes com os quais trabalham mostrem seu potencial e sejam escolhidos pelas organizações nos processos seletivos. 76 Nesse momento, P5 citou o exemplo de um aluno do ProUni atendido por ela. Ela percebeu uma grande preocupação dele para se inserir no mundo do trabalho e enxergou nele um aluno com posição de liderança em sala de aula. Entretanto, ao relatar a participação do aluno em um processo seletivo de uma grande empresa, ele destacou a dificuldade que teve ao participar da dinâmica de grupo, sentindo-se intimidado e sem saber como se colocar no grupo. Para os estudantes do GF2, a OP é muito importante. Todos já haviam participado de algum trabalho de orientação profissional, sendo que P3 a fez dentro da UNA, por meio das atividades do Núcleo de Carreira. Ele relata “[…] a melhor coisa que eu fiz... me ajudou muito”. P3 trocava de empregos com frequência, sempre por questões salariais e, para ele, a OP o ajudou a entender que as escolhas devem ser pautadas em uma análise do todo, do “conjunto da obra”. Nesse sentido, a OP foi muito assertiva. Os demais participantes relataram participações em orientações ainda no Ensino Médio, com foco na escolha do curso superior. No âmbito da OP, os professores e gestores lembram que o professor tem um papel relevante nesse processo, porque ele é de fato uma referência para o aluno. Ele deveria fazer uma conexão com as questões do mundo do trabalho e enxergar, de forma individualizada, os anseios e desejos do aluno. A partir daí, desempenharia o papel de estimular e orientar o aluno nessa transição escola-trabalho. Poucos professores, porém, conseguem, efetivamente, contribuir para esse processo, ficando focados nos conteúdos programáticos de suas disciplinas. Da mesma forma pensam os alunos do GF2. Quando indagados sobre a OP e o que uma instituição poderia fazer para contribuir para a sua efetiva inserção no mundo do trabalho, sinalizaram a importância do papel dos professores. Para esse grupo, os professores podem trazer “a experiência de mercado deles pra dentro de sala”. Além do professor, os alunos destacaram que as palestras, simpósios e encontros são também importantes para essa transição escola-trabalho. Para P3, esses eventos trazem para a faculdade a realidade do mundo do trabalho e suas exigências. Seria uma “via de mão dupla”, em que o aluno passa a (re)conhecer as 77 exigências do mundo do trabalho e passa a “exigir um pouco mais da faculdade”. Para ele, se o mundo do trabalho exige dele um perfil, a instituição também deve fazer as mesmas exigências, em relação ao aluno, para que ele saia com o perfil desejado pelas empresas. Por outro lado, para o grupo, fica claro que cumpre à OP, também, fomentar e provocar, nesse estudante, o desejo de mudar, “de quebrar esse discurso” de que ele “nasceu assim”, de uma família pobre e com poucas oportunidades, e será sempre assim. Para as profissionais do Núcleo de Carreira, a OP pode mostrar as inúmeras possibilidades existentes e tirá-lo desse lugar do sujeito sem oportunidades. 2.5 Considerações finais Para Machado (2009), as pessoas precisam, hoje, gerenciar não somente suas escolhas profissionais, mas, também, o uso de suas capacidades e de seus saberes. Segundo ela, as pessoas são motivadas por interesses diversos: seus, das organizações e da sociedade em geral. Ainda é possível que enfrentem situações de tensão e contradições e precisam, portanto, compreender melhor o mundo do trabalho em que atuam e o meio social em que vivem, para que possam se envolver em uma atividade laboral decente. A OP, portanto, pode desempenhar papel fundamental nesse processo; qual seja: o de contribuir com os jovens na gestão de suas escolhas, capacidades e saberes, bem como o de minimizar suas inquietações e situá-los no mundo do trabalho. É essa a essência da proposta de intervenção que, a seguir, se apresenta. Entendese que iniciativas dessa natureza podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a vida adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os obstáculos inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e com que tenha mais oportunidades de alcançar seus objetivos de vida. E os jovens oriundos dos estratos sociais mais baixos, com problemáticas específicas, precisam de cuidado, de uma orientação que leve em conta suas vulnerabilidades e que mostre seu potencial frente às exigências do mundo do trabalho. 78 3. UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA. 3.1 Introdução Esta proposta de intervenção, um Protocolo de Orientação Profissional - ProUni, é destinada ao Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, mas está aberta ao conhecimento e à utilização por outras instituições universitárias interessadas. Ela trata de princípios, diretrizes, ações e aspectos das estruturas física, institucional e social para uma concepção de programa de orientação profissional fundamentado nas identidades socioculturais e necessidades dos jovens beneficiários do ProUni, visando à sua exitosa transição escola-mundo do trabalho. A proposta da referida intervenção propõe um novo olhar para a questão da orientação profissional a partir do tema da investigação, assim delineado: a orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do ProUni com foco nos desafios da transição escola-trabalho. A questão foi problematizada na perspectiva de que a formação dos jovens universitários das camadas populares e beneficiários do ProUni, compreendida na ótica de uma positiva e efetiva transição escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo de orientação profissional fundamentado nas origens, condições e identidades socioculturais desses jovens. Por outro lado, tal compreensão sob o ponto de vista teórico e, sobretudo, da intervenção social e pedagógica, ainda se mostra pouco esclarecida. Por essa razão, decidiu-se aprofundar na discussão sobre o tema, atendendo-se aos objetivos da presente investigação. Inicialmente, descreveu-se e analisou-se o ProUni e suas configurações, considerando-o como uma política pública de inclusão na Educação Superior. Em seguida, descreveu-se e compreendeu-se o processo de transição escola-trabalho na atualidade, considerando-se as especificidades do mundo do trabalho e das condições socioculturais de jovens universitários de 79 camadas populares. Conhecidos esses elementos, procedeu-se à descrição e à discussão das possibilidades de inovação na orientação profissional com foco em jovens universitários oriundos de camadas populares e beneficiários do ProUni, a ser promovida pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG. Buscou-se conhecer percepções e propostas sobre elementos e dimensões da orientação profissional de jovens de camadas populares e beneficiários do ProUni, com o sentido de desenvolver uma contribuição técnica a esse setor dessa instituição universitária, de modo a contemplar o desenvolvimento desses jovens como sujeitos autônomos e emancipados na transição da Educação Superior ao mundo do trabalho e a promover inovação social e desenvolvimento local. A temática estudada é de grande relevância social e espera-se que esta proposta de intervenção também o seja. Buscou-se desenvolver um instrumental técnico considerando-se a atividade de orientação profissional como um processo educacional e a perspectiva de se inová-lo, contemplando seu sentido social e sua importância para o desenvolvimento local. O estudo foi motivado, portanto, pela necessidade de intervenção voltada para melhoria dos processos educacionais e do percurso formativo e profissional de jovens universitários oriundos de camadas populares, visando contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida, com reflexos positivos no desenvolvimento local. Em outras palavras: a intenção é elaborar uma proposta de intervenção relativa à orientação profissional de jovens oriundos do ProUni no Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento pessoal autônomo e emancipado e em atenção às identidades socioculturais desses sujeitos, com foco na transição da Educação Superior para o mundo do trabalho. Dúvidas surgiram no que se refere à especificidade da orientação profissional a ser desenvolvida; especialmente, sobre os elementos e dimensões que precisam ser considerados para que tal intervenção possa se caracterizar como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local. A partir dessa reflexão é que surgiu a questão central em relação à proposta de intervenção: que elementos e dimensões precisam ser considerados(as) na intervenção social e pedagógica da orientação profissional, direcionada a jovens oriundos das camadas populares e beneficiários do ProUni, 80 para caracterizá-la como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local? Apoiada nos dados e referenciais obtidos com a revisão teórica e pesquisa de campo, esta proposta centra-se nos elementos considerados essenciais para uma orientação profissional inovadora do ponto de vista social e pedagógico e comprometida com o fortalecimento do ProUni como política pública de fundamental importância para o desenvolvimento local. Identificada como Protocolo de Orientação Profissional - ProUni, esta proposta de intervenção foi construída a partir das seguintes interlocuções: a) com a produção acadêmica expressa na revisão teórica sobre o tema; b) com os dados sobre a evolução do ProUni no País e no Centro Universitário UNA; c) com o contexto e práticas do Centro Universitário UNA de relacionamento com os jovens do ProUni; e d) com a realidade sociocultural e educacional desses jovens. 3.2 Desenvolvimento Algumas premissas oriundas dos grupos focais merecem destaque como norteadoras dessa proposta de intervenção. Entre elas, está a necessidade de que o aluno “ProUnista” compreenda o cenário do mundo do trabalho atual, reconheça suas demandas e deseje sair do lugar de poucas oportunidades onde se encontra. Mas acima de tudo, compreender que embora seu repertório de vida possa não atender as demandas pré-estabelecidas pelas organizações e traduzidas nos processos seletivos, sua história de vida permitiu e permite desenvolver outros saberes e formas de agir também importantes para a sociedade e para o mundo do trabalho, inclusive o das organizações. 81 Ou seja: é fundamental resgatar o que o pedagogo e cientista da Educação francês Georges Snyders (1917-2011) chama de “dupla face do proletariado” (1977), compreender a positividade do que é visto como negativo nas crianças e jovens das camadas trabalhadoras. Esse outro lado precisa ser considerado, ganhar visibilidade e, sobretudo, não ser motivo de autocomiseração dessas crianças e jovens. Nesta proposta de intervenção, busca-se afirmar a importância do reconhecimento e da legitimação dos saberes e expertises desenvolvidos pelos jovens ao longo de seus percursos de vida e de trabalho, que se constituir em diferencial afirmativo dos seus valores nas relações sociais e no contexto das organizações. Esta proposta conta, também, com o suporte da perspectiva da “sociologia das diferenças”, de Bernard Charlot (2000), professor titular emérito da Universidade Paris VIII, professor catedrático convidado da Universidade do Porto, Portugal, e, atualmente, professor-visitante da Universidade Federal de Sergipe, cujas pesquisas e publicações têm sido uma referência para todos os que se interessam por compreender a relação dos alunos com o saber e a escola. Charlot (2000) ressalta que, especialmente com relação às classes menos favorecidas, a diferença cultural tende a ser vista como uma falta, como resultado de carências. No contexto da intervenção aqui proposta, o que se pretende é trazer à tona, destacar e valorizar as diferenças que o jovem do ProUni carrega em seu repertório de vida e como essas diferenças podem se constituir em diferencial positivo para si próprios, para a sociedade e o mundo do trabalho. É mister ressaltar que, esse processo de intervenção, no âmbito de uma orientação profissional inovadora, cumpre considerar, também, que as “juventudes” são muitas, que não há uma definição única do que é ser jovem. São muitas as juventudes e todas carregam, ancoradas em suas histórias de vida, sonhos, desejos e expectativas em relação à sua transição da Educação Superior para o mundo do trabalho. Esse arcabouço de sentimentos também precisa ser considerado no processo de orientação profissional direcionada ao jovem de baixa renda do ProUni. Como política pública o ProUni pode promover a qualidade da inclusão na Educação Superior, mas o olhar inovador para uma orientação profissional que atenda aos anseios desse jovem pode promover efetiva qualidade de participação do mesmo nos processos sociais. 82 Esta proposta de intervenção surge de uma experiência prévia com o programa de orientação profissional desenvolvido pela equipe do Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA. Ao perceber que não é possível replicar procedimentos e orientações padronizados para utilização em larga escala, inclusive para jovens do ProUni, surgiu a oportunidade de se pensar algo novo a partir da investigação realizada. Inicialmente, foi pensada na inovação de incremento; isto é: inovar a partir de um modelo já pronto e aplicado. No entanto, o desafio mostrou outra perspectiva: conseguir atender um número grande de jovens “proUnistas” sem perder o olhar para a pessoa. No modelo em vigor, isso se mostra impossível. O desafio exigiu descolamento dos modelos padronizados, pautados em análise de perfis, mapeamento de competências por meios de ferramentas que rotulam e préestabelecem padrões comportamentais. Surgiu, assim, a oportunidade para se pensar na promoção da inovação, o que requer ruptura. Assim, esta proposta de intervenção se constitui modelo inédito, na instituição, de orientação profissional, distante do modelo psicológico pautado na lógica das competências e do ajustamento do indivíduo a padrões ditados pelo mercado de trabalho. Em parceria do Núcleo de Carreira com a área de ensino a distância do grupo Anima,11 esta nova proposta de orientação profissional prevê momentos coletivos, bem como momentos individuais, presenciais e virtuais, o que dará escala e a garantia de que todos os alunos “proUnistas” terão acesso ao programa proposto. Além disso, ela considera a importância da análise do contexto dos estudantes e de suas decisões, enxergando a orientação profissional (doravante, OP) como um processo formativo para o desenvolvimento pessoal e social e uma intervenção que deve ter caráter emancipatório, e não meramente compensatório. A proposta de intervenção contará, também, com a parceria do NAP – Núcleo de Apoio Psicopedagógico – do Centro Universitário UNA. Entre os objetivos do escopo de trabalho do NAP estão: diagnosticar, preventivamente, dificuldades comportamentais de alunos do Ensino Superior e a adaptação e acompanhamento 11 http://www.animaeducacao.com.br/. 83 aos alunos com realidades específicas; orientar sobre hábitos de estudo e relacionamentos interpessoais - individual ou em sala de aula. A proposta dessa parceria é deslocar de um campo único de linguagem e testes que, muitas vezes, são tomados como universais, para interagir com outros campos. Pretende-se, também, interagir com atividades extensionistas da instituição, por meio de projetos que envolvam os alunos bolsistas e que reforcem seus atributos e saberes. Portanto, a abordagem da proposta de intervenção se propõe a ser educativa, dialógica, processual e integrada com a vivência escolar, inclusive com diferentes áreas de apoio ao aluno. 3.3 Descrição detalhada da intervenção Protocolo de Orientação Profissional - ProUni Objetivos 1 Desenvolver junto ao aluno UNA beneficiário do ProUni, um programa de orientação e planejamento profissional, proporcionando-lhe formação integral nas dimensões pessoal, de cidadania e profissional e em conjunto com organizações e instituições parceiras, considerando sua realidade sociocultural e educacional. Esse objetivo geral se desdobra nestes, de caráter específico: 1.1 orientar acerca das características e exigências do mundo do trabalho e dar suporte institucional em parceria com o NAP – Núcleo de Apoio Psicopedagógico; 1.2 sensibilizar o aluno como sujeito de seu próprio percurso profissional e como gestor do uso de suas capacidades e saberes; 1.3 promover o autoconhecimento por parte do aluno e realizar seu inventário de saberes, considerando o que mais sentido faz para ele daquilo que ele aprendeu em sua trajetória de vida; 84 1.4 estabelecer um plano de desenvolvimento individual, visando ao aumento das chances profissionais do aluno, colocando-o em uma posição mais favorável e valorizada em relação às demandas do mundo do trabalho; e 1.5 sensibilizar os recrutadores quanto ao potencial dos alunos do ProUni e encaminhar os jovens às vagas em empresas parceiras. Etapas 1ª) Em grupo – 2 encontros com 30 alunos por grupo. Apresentação deste Projeto de Orientação Profissional com todas estas etapas: a) sensibilização dos alunos por meio de dinâmica de grupo sobre o conceito de carreira segundo a visão deles e suas referências de vida; b) debate sobre mundo do trabalho, mercado de trabalho e carreira, abordando aspectos específicos ao curso com a participação de um convidado externo; c) aplicação aos alunos do inventário Âncoras de Carreira – questionário de Edgar Schein, autor de Career Anchors: Discovering your real values (1990), que tem por objetivo pesquisar a âncora de carreira do indivíduo; ou seja: o que o motiva a buscar o seu desenvolvimento profissional. Baseia-se na suposição de que a análise do momento presente da carreira e das decisões futuras poderá ser mais fácil e ter mais valor se o aluno tiver claro entendimento de sua orientação pessoal para o trabalho, seus motivos, seus valores e sua autopercepção de saberes e recursos pessoais; d) contrato de compromisso por parte do aluno em relação à sua participação em todas as etapas do programa e início da criação do banco de dados dos alunos participantes para controle e avaliação da participação de cada aluno; 85 e) dinâmica de grupo para apresentação e análise dos inventários de saberes com o objetivo de conhecer os sentidos atribuídos pelo aluno às suas aprendizagens, tais como capacidades de trabalho em equipe, comunicação, persuasão, flexibilidade, liderança, relacionamento interpessoal, dentre outras; f) dinâmica Passado / Presente / Futuro, para favorecer a percepção do aluno sobre onde se encontra no presente e onde pretende chegar; e g) autobiografia – 360 graus com família e círculo social: o aluno se apresenta e é apresentado por um terceiro, à sua escolha (como me vejo, como o outro me vê). 2ª) Etapas individuais – 40 horas de aula distribuídas ao longo do curso – Modalidade EAD e presencial Nas etapas individuais, o que se pretende é contextualizar o jovem face ao mundo do trabalho e às suas demandas e orientá-lo individualmente, considerando-se sua trajetória de vida e aspectos socioculturais. Nessa etapa, será utilizada, também, a metodologia do inventário de saberes, com o objetivo de se conhecer os sentidos atribuídos pelo aluno às suas aprendizagens. Ao final dessas etapas, o jovem poderá ser encaminhado a oportunidades de estágio e emprego nas empresas parceiras do Núcleo de Carreira. As etapas individuais são divididas em 35h (trinta e cinco horas) de atividades virtuais (ensino a distância) e 5h (cinco horas) de atividades presenciais com a equipe do Núcleo de Carreira. As atividades virtuais serão divididas em módulos e o aluno poderá realizá-las ao longo de seu percurso formativo. Nesses módulos, serão tratados temas gerais ligados ao mundo do trabalho, a expectativas dos empregadores e a planejamento de carreira. Serão abordados os estes temas: 86 Módulo A - Inventário de saberes (presencial) Nessa etapa, a Equipe do Núcleo de Carreira realizará, de forma individual, um inventário de saberes, para, efetivamente, conhecer a trajetória de vida do aluno e sua realidade, abordar aspectos social, afetivo, acadêmico e profissional do aluno, bem como validar suas características e seus saberes percebidos nos demais momentos do programa. O inventário de saberes é um instrumento que mostra o que faz sentido para esse jovem e o que ele realizou ao longo de sua trajetória de vida. Essa metodologia foi desenvolvida por Bernard Charlot (2000, 2011, 2013). A análise do inventário de saberes pretende fazer uma leitura positiva da vivência dos jovens “proUnistas” e reafirmar seus diferenciais. Nessa etapa, será aplicado, também, o RH Profiler (2014)12 ferramenta eletrônica que fornece informações individualizadas a respeito do perfil comportamental do aluno, considerando-se quatro dimensões (Comunicador / Analista / Executor / Planejador), e destaca a melhor área de atuação do estudante, sua forma de atuação, influência no ambiente de trabalho, formas de tomada de decisão e adequação do perfil à atividade profissional. Inventário de Saberes NÚCLEO DE CARREIRA Centro Universitário UNA Data: ____/____/____ Meu nome é:_________________________________________________________ Nasci em: ___________________________________________________________ Meu curso_______________________. Faço o ___ período, no turno da_____ Tenho ____anos e nasci no dia _____do mês de ___________ do ano de ________ Meu estado civil é ______________ Meu telefone e e-mail são:____________________________________________ Meu endereço é:_____________________________________________________ 12 http://rhpro.com.br. 87 Aspectos afetivos e familiares - pais / cônjuge / filhos / amigos / namorado(a) Aspectos sociais e pessoais: Relato do dia a dia Em meu tempo livre gosto de___________________________________________ Sobre trabalhos voluntários, eu já realizei__________________________________ Ao longo da minha vida aprendi__________________________________________ Eu sou______________________________________________________________ Os outros me veem como_______________________________________________ Minhas características que podem contribuir para um mundo melhor são_________________________________________________________________ A história da minha vida é_______________________________________________ Para mim é importante_________________________________________________ Meu legado será______________________________________________________ Aspecto Acadêmico: Escolhi esse curso de graduação porque___________________________________ Já frequentou outro curso? Qual? Onde? Por quê? Quando? O que agregou? O que aprendeu até o momento? Informática / Idioma Aspecto Profissional: Histórico Profissional Minha ocupação Profissional é __________________________________ Meu Local de Trabalho é____________________________________________ Quanto tempo trabalha nesta empresa? ________________________________ Remuneração atual___________ Meus objetivos financeiros são__________ Eu executo as seguintes tarefas no meu trabalho: __________________________ Avalio essa experiência como__________________________________________ Meu relacionamento com a liderança e com os colegas é_____________________ O que você aprendeu nessa experiência profissional? As minhas qualificações que fazem diferença em relação a outros profissionais são Meus objetivos em curto prazo são______________ e em longo prazo são_______ Minhas expectativas como trajetória profissional são__________________________ 88 Módulo B – Mundo do trabalho e processos seletivos (EAD) Abordagem: o O cenário no mundo do trabalho e as diferentes gerações o Segmentos do mercado de trabalho o O que as empresas esperam dos jovens o Identificar oportunidades de carreira o Diferenças entre as empresas o Vida escolar e vida profissional o Postura profissional e cultura das organizações o Situações gerais do dia-a-dia de trabalho o Elaboração de currículo e carta de apresentação o Destaque dos saberes pessoais o Participação em dinâmicas de grupo e entrevistas Módulo C – Planejamento e Gestão de carreira (EAD) Abordagem: o Distinção entre profissão e carreira o Planejamento e fases da carreira o Objetivos de vida e carreira – expectativas, sonhos e valores o Desenvolvimento profissional o Avaliar o momento atual da carreira e identificar os próximos passos o Auxiliar na elaboração de um Plano de Autodesenvolvimento o Aproveitando o tempo o Rede de relacionamentos e redes sociais o A imagem profissional D - Devolutiva com relatório geral consolidado e orientação do Plano de Autodesenvolvimento– “Projeto de Vida” 89 E - Avaliação do projeto – nessa etapa final o aluno participante fará uma avaliação do programa por meio da ferramenta Google Docs. Iniciativas complementares: • Incentivo à participação em projetos extensionistas e de iniciação científica que tenham temas relacionados ao mundo do trabalho e à visão mais ampla de mundo. • Mesas redondas com profissionais de recrutamento e seleção de pessoas. F – Capacitação docente - considerando a relevância do papel do professor no processo de orientação profissional, pretende-se organizar o trabalho docente e sua atuação em rede interdisciplinar, promovendo debates e oficinas de capacitação semestrais durante os simpósios de professores. Essa proposta de capacitação pretende empoderar e emancipar o docente no sentido de atuar como um dos agentes de orientação profissional. 90 CONSIDERAÇÕES FINAIS O tema dessa pesquisa foi definido como a orientação profissional aos jovens das camadas populares e com acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni – Programa Universidade Para Todos com vistas à sua efetiva e qualificada inserção no mundo do trabalho. O problema foi circunscrito à formação dos jovens universitários das camadas populares e beneficiários do ProUni que, para garantir uma qualificada e efetiva transição escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo de orientação profissional fundamentado nas origens, condições e identidades socioculturais desses jovens. Entretanto, percebeu-se que essa questão ainda se mostrava pouco esclarecida; especialmente, em relação à intervenção social e pedagógica que poderia ser ofertada aos jovens. A dúvida que surgiu se referiu à especificidade da orientação profissional a ser desenvolvida; especialmente, sobre os elementos e dimensões que precisam ser considerados(as) para que essa intervenção possa se caracterizar como uma inovação social e pedagógica e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local. Dessa forma, a investigação se orientou por uma questão central que indagou os elementos e dimensões que precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da orientação profissional aos jovens oriundos das camadas populares beneficiários do ProUni, que possam se caracterizar como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local. O tema da investigação realizada foi escolhido considerando-se sua grande relevância social. Ela foi planejada para possibilitar o desenvolvimento de instrumental técnico sobre processos de orientação profissional com perspectiva de inovar socialmente e contribuir para promover o desenvolvimento local. O estudo foi motivado pela necessidade de uma intervenção voltada para melhoria dos 91 processos educacionais e dos percursos formativo e profissional dos jovens universitários oriundos das camadas populares, visando garantir melhoria da qualidade de vida e reflexos positivos no desenvolvimento local. Na realização dessa investigação, buscou-se, inicialmente, descrever e analisar o ProUni e seus efeitos como política pública de inclusão no Ensino Superior, a partir de dados primários e secundários, referentes às pesquisas e aos censos do INEP realizados de 2005 a 2012, bem como descrever e discutir as atividades de orientação profissional voltadas aos jovens universitários, realizadas pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG. Em seguida, descreveu-se o processo de transição escola-mercado de trabalho entre os jovens oriundos das camadas populares e, a partir desse estudo, elaborar uma proposta de intervenção relativa à orientação profissional dos jovens oriundos do ProUni matriculados no Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento autônomo, emancipado e segundo os interesses desses sujeitos, com foco na transição da Educação Superior para o mercado de trabalho. No primeiro capítulo, estampou-se o entendimento do cenário educacional brasileiro na criação do ProUni – Programa Universidade para Todos – e sua evolução, o ProUni e o Centro Universitário UNA e, finalmente, o cenário atual e a legitimidade do ProUni como política pública. Em seguida, abordaram-se questões relativas à juventude e ao jovem das camadas populares, ao processo de transição escola-trabalho e à orientação profissional voltada para esses jovens. Nesse capítulo, concluiu-se sobre diversos conceitos de juventude e a necessidade de se considerar as histórias de vida e particularidades dos jovens oriundos das camadas populares nos processos de orientação profissional e de transição para o mundo do trabalho. Argumentou-se que processos padronizados de avaliação de competências consideradas como as exigidas pelo mundo do trabalho nem sempre refletem os saberes dos jovens “proUnistas”. 92 No segundo capítulo, relata-se a pesquisa feita por meio de três grupos focais, reunindo estudantes, profissionais de orientação profissional, professores e gestores do Centro Universitário UNA. Nesse capítulo, registrou-se que, embora elevado desempenho acadêmico dos bolsistas seja relatado por todos os participantes, isso não garante a efetiva transição escola-trabalho. Há um padrão, em algum nível, de expectativas das organizações em relação ao aos perfis dos candidatos participantes de processos seletivos e que não corresponde, necessariamente, aos da maioria dos jovens de baixa renda. Por outro lado, esses mesmos jovens apresentam características que podem, embora de forma atualmente não legitimada, contribuir para o sucesso das organizações. No terceiro e último capítulo, propôs-se um novo olhar institucional para a orientação profissional; isto é: uma proposta de intervenção social e pedagógica que considerasse a necessidade do reconhecimento e da legitimação dos saberes e experiências de jovens oriundos dos segmentos sociais populares. Os percursos da investigação, incluindo revisão teórica, análises documentais e de dados empíricos, ofereceram os elementos necessários para se entender a importância do debate sobre a transição de concluintes da Educação Superior para o mundo do trabalho quando esses são jovens de baixa renda e beneficiários do ProUni. Percebeu-se que existem progressos sociais com relação à inclusão na Educação Superior, que há uma política pública inclusiva representada pelo ProUni, mas, ao mesmo tempo, verificou-se que pouco se fala sobre a transição dos concluintes para o mundo do trabalho e sobre a qualidade das conquistas dos jovens beneficiários com relação às suas trajetórias profissionais. Os grupos focais com estudantes e educadores mostraram que nem sempre a escolha por determinado curso ou profissão está alinhada com os anseios e sonhos desses jovens, ocorrendo, em muitos casos, em função do curso para o qual foi possível conquistar a bolsa. 93 A pesquisa realizada se insere nesse processo de busca de promoção de inclusão social na Educação Superior, sabendo que ela não garante uma efetiva transição para o mundo do trabalho que atenda os anseios dos jovens “proUnistas”. O ProUni, como política pública de inclusão no Ensino Superior, pode ser efetivo, mas não se propõe a responder ao processo de inserção qualificada dos estudantes no mundo do trabalho. Há, portanto, indícios de qualidade do acesso, mas não necessariamente de qualidade de participação no mundo do trabalho com vistas a atender as expectativas dos jovens; ou seja: o jovem pode conquistar um espaço no Ensino Superior particular, obter um bom desempenho acadêmico, o que inclusive constatou-se durante a investigação em relação aos “proUnistas”, mas, ainda assim, esse resultado não é garantia de uma transição que satisfaça seus desejos e expectativas quanto à oportunidade de se emancipar socialmente. Embora as juventudes sejam muitas, os jovens carregam, em geral, sonhos, desejos, anseios de realização pessoal e profissional e buscam no Ensino Superior uma oportunidade para realizá-los. Uma vez dentro do Ensino Superior, percebeu-se, especialmente nas colocações dos educadores, um [entre]cruzamento de culturas entre os bolsistas e alunos de estratos sociais mais elevados. Tal fato remete à perspectiva da “sociologia das diferenças”, objeto das pesquisas de Bernard Charlot (2000, 2004, 2011, 2013); isto é: que as diferenças se produzem em função da inserção do aluno na estrutura de classes da sociedade e das experiências que ele vive e interpreta, diferenças que, na maioria das vezes, são vistas como “falta” ou “carência”; em especial, pelo mundo do trabalho. Os jovens “proUnistas”, de fato, dificilmente acessam as experiências que estão disponíveis para aqueles das classes mais altas e isso entra como um fator que dificulta suas transições escola-trabalho, uma vez que o mercado do trabalho segue um padrão de recrutamento e de seleção pautado em competências predeterminas e padronizadas não correspondentes, em geral, com o histórico de vida do jovem oriundo das camadas populares. Por outro lado, esses jovens são portadores de histórias de vida, subjetividades e singularidades que lhes permitiram construir patrimônios cultural, intelectual e social 94 com significados importantes que, muitas vezes não são percebidos e/ou valorizados pelos recrutadores. Embora diferentes ou não legitimados pelo mundo do trabalho, esses são atributos socioculturais que precisam ser valorizados e que muito podem contribuir para a sociedade e, inclusive, para as organizações. Afinal de contas, cada pessoa se constrói no social, como sujeito ativo e consciente, por meio de singularidades próprias de suas histórias. Ele, portanto, projeta-se não somente pelo que determina o mercado do trabalho ou um perfil profissional padronizado, mas por quem ele é e pelo que viveu e como reagiu a imposições de modelos prefigurados. Nesse contexto, a proposta de intervenção por meio da orientação profissional diferenciada, que a investigação realizada permitiu elaborar, pretende inovar socialmente e pedagogicamente o trabalho educacional realizado em favor da emancipação do aluno ProUni, mostrando e valorizando seus atributos, com base em suas vivências e repertórios de vida. Pretende-se, assim, favorecer uma leitura abrangente e não restritiva de suas vivências e de seus diferenciais, tendo em vista a inserção qualificada desses jovens no mundo do trabalho, e sua permanência exitosa nele. Ocorre que, em geral, os modelos tradicionais de orientação profissional se pautam por conceitos e procedimentos padronizados que nem sempre consideraram as singularidades das pessoas e seus contextos de vida, suas histórias, seus registros, suas características socioculturais específicas. Esses modelos homogeneizantes de orientação profissional não levam em consideração a diversidade sociocultural dos sujeitos e, por isso, não dão conta de perceber que há diferenças importantes, mas nem sempre piores ou melhores, entre os jovens das camadas populares e aqueles dos estratos sociais mais elevados. Com isso, corre-se o risco de se adotar modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional reducionistas, que, inclusive, colocam-se na contramão da flexibilidade e da abertura que o processo de globalização tem requerido das organizações e, consequentemente, de seus profissionais. Esses modelos podem, ainda, condicionar e/ou limitar o desenvolvimento e a criatividade individuais e, consequentemente, predeterminar papéis que o jovem profissional deverá assumir no mundo do trabalho. 95 Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que apresentam extensos repertórios de vida, habilidades e potencialidades, que podem ser relevantes para suas comunidades, para sociedade e, inclusive, para as organizações, mas, possivelmente, são desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem modelos de seleção tradicionalmente estabelecidos, com padrões que tendem a ser replicados nos programas de orientação profissional que são, geralmente, alicerçados em análises de perfis e mapeamento de competências, realizados(as) por meio de testes psicológicos, e tendem a repetir o modelo de recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no mercado de trabalho; um modelo pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens das camadas populares que carregam registros de vida muito distintos dos padrões pré-estabelecidos. A partir dos resultados da pesquisa realizada, chegou-se ao modelo que propõe um novo olhar para a orientação profissional. Esse modelo é inovador, por propor mudar a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como por repensar seus objetivos e enfoques. Nessa proposta, o jovem é considerado o protagonista principal dos processos do seu autorreconhecimento e autoconstrução. Ela busca tirar partido de cada participante da OP, individualmente, de acordo com suas experiências e história de vida. O que se pretende é que o jovem, como protagonista, seja capaz de conhecer a dinâmica do mundo do trabalho, conhecer a si mesmo, refletir sobre seus saberes por meio do inventário de saberes e, a partir daí, construir seu percurso profissional de modo que possa se apresentar ao mundo do trabalho valorizando seus atributos. O que se propõe, portanto, é que os bolsistas entendam que precisam participar ativamente do processo de suas escolhas profissionais; que caminhem além, gerenciando, também, o uso de suas capacidades, competências, habilidades e saberes, de modo que sejam os primeiros a valorizar seus interesses e a se colocar com dignidade e autoconfiança frente às exigências das organizações e da sociedade em geral. Pautado nessa perspectiva é que esta proposta de OP contempla, de forma inovadora, a combinação de atividades em grupo e individuais, presenciais e a 96 distância, com o propósito de municiar o jovem com informações e orientações sobre o mundo do trabalho e suas peculiaridades, mas, acima de tudo, visando contribuir para o seu “empoderamento” para o uso de suas capacidades e saberes a partir das análises do seu inventário de saberes. Significa franquear a esses jovens não somente a oportunidade de acesso ao Ensino Superior, mas, também, a de dar continuidade ao seu desenvolvimento como indivíduo, cidadão e profissional, proporcionando-lhes uma transição para o mundo do trabalho de forma autônoma e emancipada, valorizadora de seus atributos socioculturais, promovendo melhoria da sua qualidade de vida e, consequentemente, desenvolvimento local. Inspirado em Abade (2005, p. 143), acredita-se que o papel da OP “[…] não é prescrever um modelo de sociedade e de homem, mas construir propostas que possam convergir para a transformação de nossas condições de existência, no sentido de uma sociedade mais democrática e menos desigual”. Finalmente, esta investigação não tem a pretensão de encerrar a discussão sobre o tema e o problema selecionados para estudo, mas a de contribuir para o alargamento do espaço para novas reflexões e a de provocar interesse por novas pesquisas sobre as condições e situações de estudantes de instituições de ensino onde os contrastes sociais são ainda muito nítidos e sobre as mudanças que se fazem necessárias nas políticas e práticas de recrutadores para o mundo do trabalho. 97 REFERÊNCIAS ABADE, F. L. Orientação Profissional no Brasil: Uma Revisão Histórica da Produção Científica. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 6, n. 1, p. 15-24, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v6n1/v6n1a03.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2012. AGÊNCIA B. Câmara aprova Plano Nacional de Educação com destinação de 10% do PIB. Estado de São Paulo, São Paulo, 26 jun. 2012, Educação. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,-camara-aprova-plano-nacional-deeducacao-com-destinacao-de-10-do-pib,891996,0.htm>. Acesso em: 08 ago. 2012. AGULLÓ-TOMÁS, E. Jóvenes, Trabajo e Identidad. Oviedo: Universidad de Oviedo, 1997. ALMEIDA, S. C. O avanço da privatização na educação brasileira: o ProUni como uma nova estratégia para a transferência de recursos públicos para o setor privado. Dissertação (mestrado em educação). Universidade Federal Fluminense. Niterói, Rio de Janeiro. 2006. Disponível em: <http://www.uff.br/pos_educacao/joomla/images/stories/Teses/almeidad2006.pdf>. Acesso em: 20 jul 2013. ANDRADE, E. C. Effects of the Brazilian university policy of targeting the poor. Estud. Econ., São Paulo, v. 37, n. 3, p. 663-683, jul./set. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ee/v37n3/08.pdf>. Acesso em: 09 set. 2012. ANIMA. Disponível em: <http://www.animaeducacao.com.br/>. Acesso em: 11 nov. 2013. BELLO, J. G. Reconceptualización de la Orientación Educativa en los tiempos actuales. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 9, n. 2, p. 1-8, 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v9n2/v9n2a02.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2012. BLAS, F. A.; PLANELLS, J. Desafios atuais da educação técnico-profissional. Madri: OEI; Fundação Santillana, 2009. BRASIL. Medida Provisória nº 213, de 10 de setembro de 2004. Institui o Programa Universidade para Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 set. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2004/Mpv/213.htm>. Acesso em: 08 dez. 2013. 98 BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade para Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior; altera a Lei no 10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 13 jan. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Lei/L11096.htm>. Acesso em: 08 dez. 2013. BRASIL. Lei nº 12.431, de 24 de junho de 2011. Dispõe sobre a incidência do imposto sobre a renda nas operações que especifica; altera as Leis nos 11.478, de 29 de maio de 2007, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 9.430, de 27 de dezembro de 1996, 12.350, de 20 de dezembro de 2010, 11.196, de 21 de novembro de 2005, 8.248, de 23 de outubro de 1991, 9.648, de 27 de maio de 1998, 11.943, de 28 de maio de 2009, 9.808, de 20 de julho de 1999, 10.260, de 12 de julho de 2001, 11.096, de 13 de janeiro de 2005, 11.180, de 23 de setembro de 2005, 11.128, de 28 de junho de 2005, 11.909, de 4 de março de 2009, 11.371, de 28 de novembro de 2006, 12.249, de 11 de junho de 2010, 10.150, de 21 de dezembro de 2000, 10.312, de 27 de novembro de 2001, e 12.058, de 13 de outubro de 2009, e o Decreto-Lei no 288, de 28 de fevereiro de 1967; institui o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Usinas Nucleares (Renuclear); dispõe sobre medidas tributárias relacionadas ao Plano Nacional de Banda Larga; altera a legislação relativa à isenção do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM); dispõe sobre a extinção do Fundo Nacional de Desenvolvimento; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 jun. 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12431.htm>. Acesso em: 08 dez. 2014. CAMARANO, A. Amélia; KANSO, Solange. O que estão fazendo os jovens que não estudam, não trabalham e não procuram trabalho? Boletim 53, Mercado de Trabalho. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/boletim_mercado_de_trabalho/1 21204_bmt53.pdf>. Acesso em: 03 dez. 2013. CARRANO, Paulo C. R. Juventudes: as identidades são múltiplas. Movimento: Revista da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, n. 1, p. 11-27, mai. 2000. Disponível em: <http://www.revistamovimento.uff.br/index.php/revistamovimento/article/view/189>. Acesso em: 10 set. 2013. CARVALHO, C. H. A. O PROUNI no governo Lula e o jogo político em torno do acesso ao ensino superior. Educ. Soc. [online], v. 27, n. 96, p. 979-1000, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n96/a16v2796.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2012. CATANI, A. M.; HEY, A. P.; GILIOLI, R. S. P. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior? Educar [online], Curitiba, n. 28, p. 125-140, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/n28/a09n28.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2012. 99 CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução de Bruno Magne. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 2000. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber e com a escola entre estudantes de periferia. Tradução de Neide Luzia de Rezende. Cad. Pesq., São Paulo, n. 97, p. 4763, mai. 1996. Disponível em: <Http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/373.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013. v. 1. (Coleção Docência em Formação) CHARLOT, Bernard (Org.). Juventude popular e permanência. São Cristóvão, SE: Editora UFS, 2011. Universidade: acesso e CHARLOT, Bernard. Bernard Charlot: uma relação com o saber (entrevista). Espaço Pedagógico, v. 10, n. 2, p. 159-178, 2003. CHARLOT, Bernard. Educação, Trabalho: problemáticas contemporâneas que convergem. Educação, Sociedade & Culturas, Universidade de Porto, Portugal, v. 22, p. 9-25, 2004. COIMBRA, J. L.; VIEIRA, D. Sucesso na Transição Escola-Trabalho: A Percepção de Finalistas do Ensino Superior Português. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 7, n. 1, p. 1-10, 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v7n1/v7n1a02.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2012. COIMBRA, J. L.; GONÇALVES, C. M.; PAULINO, A. R. S. Diplomados do ensino superior na transição para o trabalho: vivências e significados. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 11, n. 2, p. 177-188, jul./dez. 2010. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v11n2/v11n2a03.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2012. COSTA, F. ProUni: o olhar dos estudantes beneficiários. Rio de Janeiro: Michelotto, 2012. COSTA, F. O ProUni e seus egressos: uma articulação entre educação, trabalho e juventude. 2012. Disponível em: <http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=15286>. Acesso em: 04 fev. 2014. DAYRELL, J.; CARRANO, P. C. Jovens no Brasil: difíceis travessias de fim de século e promessas de um outro mundo. 2003. Disponível em: <http://www.uff.br/obsjovem/mambo/images/stories/Documentos/JOVENS_BRASIL_ MEXICO.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2013. DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Rev. Bras. Educ. [online], n. 24, p. 40-52, set./dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141324782003000300004&script=sci_arttext>. Acesso em: 08 dez. 2013. 100 DONAS, S. (Org.). Adolescencia y Juventud en América Latina. Cartago: Libro Universitario Regional, 2001. DUARTE, M. E. Desaprender para ensinar os princípios (ou um outro modo de enfrentar a orientação). Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 12, n. 2, p. 143-151, jul./dez. 2011. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v12n2/02.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2012. FERREIRA, G. B. Os impactos diretos e indiretos do proUni em trajetórias juvenis: estudo de caso de jovens em uma IES de Salvador. 2009. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania) - Universidade Católica do Salvador, Salvador, 2009. Disponível em: <http://tede.ucsal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=133>. Acesso em: 02 fev. 2014. FREIRE, P. Educação na cidade. 7. ed. São Paulo: Olho d’Água, 2006. FRESNEDA, B. Transição da escola para o trabalho e estratificação social. Segurança Urbana e Juventude, Araraquara, v. 2, n. ½, 2009. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/seguranca/article/viewFile/2383/1917>. Acesso em: 10 jan. 2014. GAZO-FIGUERA, P. La Inserción del Universitario en el Mercado de Trabajo. Barcelona: EUB, 1996. INEP. Censo da Educação Superior no Brasil. Brasília, 2010. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/resumo_tecnico/res umo_tecnico_censo_educacao_superior_2010.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2012. KIND, Luciana. Notas para o trabalho com a técnica de grupos focais. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 10, n. 15, p.124-136, jun. 2004. Disponível em: < http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI2004121311 5340.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2012. LEHER, Roberto; BRASILINO, Luís; ALVES, Mateus. ProUni é bóia de salvação do ensino privado. Brasília, 21 set. 2004. Disponível em: <http:// www.iq.unesp.br/daws/universidade/arquivos/boia.pdf> apud COSTA, F. ProUni: o olhar dos estudantes beneficiários. Rio de Janeiro: Michelotto, 2012. MACHADO, Lucília. Orientação Profissional: a necessária renovação conceitual e reorganização política. In: BLAS, F. A.; PLANELLS, J. Desafios atuais da educação técnico-profissional. Madri: OEI; Fundação Santillana, 2009. p. 89-100. MARGULIS, M. Juventud: una aproximación conceptual. In: DONAS, S. (Org.). Adolescencia y Juventud en América Latina. Cartago: Libro Universitario Regional, 2001. p. 41-56. MARGULIS, Mario; URRESTI, Marcelo. La juventud es más que una palabra. Disponível em: <http://perio.unlp.edu.ar/teorias/index_archivos/margulis_la_juventud.pdf>. Acesso em: 02 dez. 2013. 101 MARINHO, Luís. Prouni é passo para democratizar o ensino. Disponível em: <http://www.Ipp-uerj.net/olped/documentos/0804.pdf> apud COSTA, F. Prouni: o olhar dos estudantes beneficiários>. Rio de Janeiro: Michelotto, 2012. Acesso em: 27 jul. 2012. MEC. Plano de Desenvolvimento da Educação. Razões, princípios e programas. Portal do Ministério da Educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/livro.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2012. MEC. FIES – Programa de Financiamento Estudantil. Condições de Financiamento. Portal do Ministério da Educação. Disponível em: <http://sisfiesportal.mec.gov.br/condicoes.html>. Acesso em: 12 set. 2012. MEC. Prouni – Programa Universidade para Todos. Programa. Portal do Ministério da Educação. Disponível em: <http://siteProuni.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124&I temid=140>. Acesso em: 16 jul. 2012. MEC. Prouni – Bolsas ofertadas por ano. Portal do Ministério da Educação. 2012. Disponível em: <http://prouniportal.mec.gov.br/images/arquivos/pdf/Representacoes_graficas/bolsas _ofertadas_ano.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2012. MEC. Prouni – Manual do bolsista. Portal do Ministério da Educação. 2012. Disponível em: <http://prouniportal.mec.gov.br/images/arquivos/pdf/manual_bolsista_prouni.pdf>. Acesso em: 17 set. 2012. MEC. Notícias. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15715:con venio-assegura-a-bolsistas-vagas-em-programas-de-estagio&catid=212>. Acesso em: 03 jul. 2012. MELO, S. L.; BORGES, L. O. A Transição da Universidade ao Mercado de Trabalho na Ótica do Jovem. Psicologia Ciência e Profissão, v. 27, n. 3, p. 376-3952007 Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v27n3/v27n3a02.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2013. MELUCCI, Alberto, (1991). L’invenzione del presente. Bologna: Il Mulino, 1991 apud CARRANO, Paulo C. R. Juventudes: as identidades são múltiplas. Movimento: Revista da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, n. 1, p. 11-27, mai. 2000. p. 1. Disponível em: <http://www.revistamovimento.uff.br/index.php/revistamovimento/article/view/189>. Acesso em: 10 set. 2013. MENA, F. Pareceres da FGV e de consultoria divergem sobre número de vagas. Folha de São Paulo, São Paulo, 17 dez. 2004, ”Cotidiano”. Disponível em: <http//:www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u16741.shtml>. Acesso em: 12 set. 2012. 102 MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 239-262, jul./set., 1993. MINAYO, M. C. S. Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141381232012000300007&script=sci_arttext>. Acesso em: 01 dez. 2012. O CANDIDATO. Vídeo. Heineken, 2013. son., color, legendado. Tradução de: The Candidate. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=VqtPQlj-N6I>. Acesso em: 17 set. 2013. OLIVEIRA, E. L. de; RIOS-NETO, E. G.; OLIVEIRA, A. M. H. C. Transições dos jovens para o mercado de trabalho, o primeiro filho e saída da escola: o caso brasileiro. Revista Brasileira Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 1, p. 109-127, jan./jun. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v23n1/v23n1a07>. Acesso em: 01 dez. 2013. OLIVEIRA, L. M. S. A relação professor-aluno – traços culturais presentes na interação em sala de aula. 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, São Paulo, 2000. Disponível em: <http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=9908>. Acesso em: 01 nov. 2013. OLIVEIRA, L. M. S. A relação entre professores e alunos, os processos de socialização e a cultura escolar. 2013. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/ANAIS2013/pdf/12453_6955.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2013. PELUSO, F. C.; PAULA, E. M. A. T. de. A educação da infância das classes populares: uma releitura das obras de Paulo Freire. Educ. rev. [online], v. 27, n. 3, p. 251-280, 2011. PIOTTO, D. C. Universitários de camadas populares em cursos de alta seletividade: aspectos subjetivos. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 11, n. 2, p. 229242, jul./dez. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v11n2/v11n2a08.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2012. QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. Direção: Danny Boyle, Loveleen Tandan. Canadá, 2008 (120min). RAMÍREZ, J. Estrategias para generar una transición formativa escuelatrabajo en los jóvenes pobres urbanos. El papel de los actores sociales involucrados. Parte 3, Estrategias de Transición, p. 333-354.2001. Disponível em: <http://www.uia.mx/campus/publicaciones/jovenes/pdf/epieck11.pdf>. Acesso em: 20 set. 2013. 103 RESSEL, L. B. O uso do grupo focal em pesquisa qualitativa. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 779-786, out./dez. 2008. RH PROFILER. 2014. Disponível em: <http://rhpro.com.br>. Acesso em: 09 jan. 2013. RIZZO, L. A. Entre a realidade e a possibilidade: proUni e a dinâmica inclusão exclusão. 2010. Disponível em: <http://www4.uninove.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=319>. Acesso em: 15 fev. 2014. SARRIERA, J. C.; VERDIN, R. Os Jovens à Procura do Trabalho: uma análise qualitativa. Revista PSICO, Porto Alegre, v. 27, n. 1, p. 59-70, 1996. SCHEIN, E. H. Career Anchors: Discovering Your Real Values. San Diego, CA: University Associates, 1990. SECRETARIA NACIONAL DA JUVENTUDE. Política Nacional da Juventude. 2014. Disponível em: <http://www.juventude.gov.br/politica>. Acesso em: 10 fev. 2014. SILVA, C. R. E. Orientação Profissional, mentoring, coaching e counseling: algumas desigualdades e similaridades práticas. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 11, n. 2, p. 299-309, jul.-dez. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v11n2/v11n2a14.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2012. SIMÕES, P. R. R. ProUni – Programa Universidade para Todos: mudanças e possibilidades na vida dos sujeitos bolsistas. 2011. Disponível em <http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=13849>. Acesso em: 10 fev. 2014. SCHWERTNER, Suzana Feldens; FISCHER, Rosa Maria Bueno. Juventudes, conectividades múltiplas e novas temporalidades. Educ. rev. [online], v. 28, n. 1, p. 395-420, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010246982012000100017>. Acesso em: 12 dez. 2013. SNYDERS, G. Escola, classe e luta de classes. Tradução de Maria Helena Albarrán. Lisboa: Moraes Editores, 1977. SOUZA, Carmem Zeli Vargas Gil. Juventude e contemporaneidade: possibilidades e limites. Ultima década. [online], v. 12, n. 20, p. 47-69, jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S071822362004000100003&lng=es&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 15 dez. 2013. SPÓSITO, M. P. Juventude e Educação: interações entre a educação escolar e a educação não-formal. Revista Educação e Realidade, v. 33, n. 2, p. 83-98, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/7065/4381>. Acesso em: 11 dez. 2012. 104 SPÓSITO, M. P. O Estado da Arte sobre juventude na pós-graduação brasileira: Educação, Ciências Sociais e Serviço Social. Belo Horizonte: Argumentum, 2009. Disponível em: <http://www.emdialogo.uff.br/sites/default/files/EstadoArte-Vol-1LivroVirtual.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2012. TAKAHASHI, Fábio. ProUni pode ter meia bolsa e vestibular a beneficiados. Folha Online, 01 jul. 2004, “Educação”. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u15709.shtml. Acesso em: 12 dez. 2005 apud CATANI, A. M.; HEY, A. P.; GILIOLI, R. S. P. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior? Educar [online], Curitiba, n. 28, p. 125-140, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/n28/a09n28.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2012. TARTUCE, G. L. B. P. Tensões e intenções na transição escola-trabalho: um estudo das vivências e percepções de jovens sobre os processos de qualificação profissional e (re)inserção no mercado de trabalho na cidade de São Paulo. 2007. Orientadora: Nadya Araújo Guimarães. Tese (Doutorado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde31012008-105554/pt-br.php>. Acesso em: 20 dez. 2013. VALORE, L. A.; CAVALLET, L. H. R. Escolha e orientação profissional de estudantes de curso pré-vestibular popular. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 2, p. 354-363, mai./ago. 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010271822012000200013&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 10 dez. 2013. Valor Econômico. Disponível em: <http://www.valor.com.br/carreira/2759010/estudomapeia-competencias-profissionais-exigidas-nos-proximos-anos#ixzz2KsS9iWde>. Acesso em: 20 jul. 2012. 105 Apêndice A – Artigo derivado da dissertação ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO MARCO TÚLIO CARVALHO DE SOUZA ANDRADE Centro Universitário Una - [email protected] LUCÍLIA R. DE SOUZA MACHADO Centro Universitário Una – [email protected] RESUMO Investigam-se os processos de orientação profissional que precisam ser promovidos pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG, com foco no jovem das camadas populares e beneficiário do ProUni – Programa Universidade para Todos –, visando ao seu desenvolvimento como sujeito autônomo e emancipado na transição do Ensino Superior para o mundo do trabalho. A investigação se orienta por esta questão central: que elementos e dimensões precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da orientação profissional, direcionada aos jovens oriundos das camadas populares e beneficiários do ProUni, para caracterizá-la como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local? Inicialmente são apresentados elementos da revisão teórica que deram suporte à investigação e que tratam do processo de transição escola-trabalho e dos desafios da orientação profissional considerando-se tais circunstâncias. Em seguida, apresentam-se os resultados da pesquisa de campo, realizada no Centro Universitário UNA, por meio de três grupos focais: o primeiro, constituído por profissionais do Núcleo de Carreira dessa instituição; o segundo, por discentes beneficiários do ProUni; e, o terceiro, por membros do corpo docente e gestores acadêmicos do Centro Universitário UNA. Os dados obtidos evidenciam a necessidade de um novo olhar para a orientação profissional realizada pela instituição, que considere as especificidades do alunado do ProUni e sua efetiva e qualificada inserção profissional. Propõe-se, então, um protocolo ou metodologia sobre orientação profissional dirigida aos jovens universitários do ProUni. Trata-se de proposta de intervenção que visa promover inovação social e pedagógica na implementação dessa política de ação afirmativa e a concretização do seu potencial de contribuição para o desenvolvimento local. Palavras-chave: ProUni. Desenvolvimento Local. Orientação Profissional. Juventude. Educação Superior. 106 ABSTRACT Research on the professional orientation that need to be promoted by the Career Center at Centro Universitário UNA, in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil, focusing on the low income young people who are beneficiaries of ProUni – Programa Universidade para Todos –, aiming at their development as an autonomous and emancipated individual in the transition from higher education to the work world. The research is based on this central question: what elements and dimensions need to be considered in the social and pedagogical intervention of the professional orientation directed to young people from lower social stratum who benefit from ProUni, in order to characterize it as a social innovation with educational effect and in accordance with the requirements for local development? The first chapter presents the theoretic review elements which supported the research, as follows:the transition from higher education to work market and the professional orientation challenges, taking these circumstances into account. Following, this article presents the results of the field research carried out at Centro Universitário UNA, through three focal groups: the first one with the institution Career Center professionals; the second one, composed by students who benefit from ProUni; and, the third one, with professors and academic management professionals of Centro Universitário UNA. The collected data evidence the need of a new look towards the institution’s professional orientation that considers ProUni students specific realities and their effective and qualified employability. Therefore, this research proposes a professional orientation protocol or methodology addressed to ProUni young university students. It is an intervention proposal that seeks to promote social and pedagogical innovation with the implementation of this affirmative politic action and achievement of its potential contribution to local development. Key-words: ProUni. Professional Orientation. Young people. Higher Education. Local Development INTRODUÇÃO O tema deste trabalho foi definido como a orientação profissional aos jovens das camadas populares e com acesso ao Ensino Superior por meio do ProUni – Programa Universidade Para Todos com vistas à sua efetiva e qualificada inserção no mundo do trabalho. O problema foi circunscrito à formação dos jovens universitários das camadas populares e beneficiários do ProUni que, para garantir uma qualificada e efetiva transição escola-trabalho, requer que se considere a oferta de um determinado tipo de orientação profissional fundamentado nas origens, condições e identidades socioculturais desses jovens. Entretanto, percebeu-se que essa questão ainda se mostrava pouco esclarecida; especialmente, em relação à intervenção social e pedagógica que poderia ser ofertada aos jovens. A dúvida que surgiu se referiu à especificidade da orientação profissional a ser desenvolvida. Dessa forma, a investigação se orientou por uma questão central que indagou os 107 elementos e dimensões que precisam ser considerados na intervenção social e pedagógica da orientação profissional aos jovens oriundos das camadas populares beneficiários do ProUni, que possam se caracterizar como uma inovação social com pertinência educacional e em consonância com os requerimentos do desenvolvimento local. O estudo foi motivado pela necessidade de uma intervenção voltada para melhoria dos processos educacionais e dos percursos formativo e profissional dos jovens universitários oriundos das camadas populares, visando garantir melhoria da qualidade de vida e reflexos positivos no desenvolvimento local. Na realização dessa investigação, buscou-se, inicialmente, descrever e analisar o ProUni e seus efeitos como política pública de inclusão no Ensino Superior, a partir de dados primários e secundários, referentes às pesquisas e aos censos do INEP realizados de 2005 a 2012, bem como descrever e discutir as atividades de orientação profissional voltadas aos jovens universitários, realizadas pelo Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA, no município de Belo Horizonte - MG. Em seguida, descreveu-se o processo de transição escola-mercado de trabalho entre os jovens oriundos das camadas populares e, a partir desse estudo, elaborou-se uma proposta de intervenção relativa à orientação profissional dos jovens oriundos do ProUni matriculados no Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento autônomo, emancipado e segundo os interesses desses sujeitos, com foco na transição da educação superior para o mercado de trabalho. A TRANSIÇÃO ESCOLA-TRABALHO O mercado de trabalho espera e exige, cada vez mais, que os jovens egressos da educação superior tragam em sua formação um acervo de vivências e um amplo repertório cultural e comportamental. As empresas exigem, portanto, que o universitário esteja inserido na discussão sobre os atuais requisitos de qualificação profissional e demonstre ter informações, conhecimentos, competências, habilidades, atitudes e valores ligados a uma vivência e visão ampla do mundo das empresas, das relações interprofissionais e do mercado. Essas exigências ficam evidentes na condução das entrevistas e dinâmicas realizadas com os candidatos a vagas em processos seletivos de estágios em diversas organizações. Por carência desse repertório e por não estarem devidamente orientados a explorar as potencialidades culturais e pessoais que possuem, os jovens oriundos das camadas populares têm mais dificuldade de aprovação nesses processos seletivos de estágios, que são, via de 108 regra, a porta de entrada para o mercado de trabalho. Por outro lado, alunos provenientes de camadas sociais mais favorecidas por bens culturais de acesso mais restrito, com viagens e visão globalizada do mundo do trabalho, destacam-se mais nos processos seletivos. São jovens que, embora vivam localmente, estão conectados a informações e valores mais próximos das relações ditadas pelo mundo capitalista globalizado, o que lhes dá um diferencial, em termos de vantagem competitiva, em relação ao universitário oriundo das camadas populares. Ora, os alunos oriundos do ProUni não são capazes de concorrer em igualdade de condições com alunos não-bolsistas para as vagas de estágio nas organizações? Tal questionamento coloca em debate a noção de falsa democratização do acesso à educação superior e de reforço das estratégias de ação afirmativa em face da reposição dos pressupostos da estratificação social. Afinal de contas, além de ser uma política pública do campo educacional, o ProUni também pode ser visto como política pública para o jovem brasileiro. Entre os desafios do Governo Federal, inclusive dentro da Política Nacional de Juventude13, estão o preparo para o mundo do trabalho e a geração de trabalho e renda para os jovens. E os jovens oriundos das camadas populares não podem ser colocados à margem desse processo. Portanto, para garantir o que preconiza o Governo Federal e os anseios de famílias e dos jovens das camadas populares, o significado do ProUni assume novos contornos e inaugura um novo dilema: deixar os egressos desse Programa à própria sorte ou lhes oferecer atenção específica ainda como estudantes e condições para que desenvolvam percepções mais ampliadas do mundo do trabalho e de seus desafios. Constata-se, assim, que mudanças nas abordagens educacionais aos universitários beneficiários do ProUni precisam ser feitas, que reflitam positivamente em seus desempenhos em processos seletivos das organizações. Percebe-se, por outro lado, a importância da promoção de uma educação superior que também não dê as costas aos conhecimentos e valores que os jovens das camadas populares trazem e que lhes despertam sentimentos de pertencimento e de afirmação sociocultural. Vale salientar que a estratégia de criação de cotas para estagiários ProUni, como tem ocorrido em alguns casos, por si, não é capaz de lhes dar autonomia para prosseguir nas suas carreiras profissionais. A estratégia mais consistente remete a intervenções na formação e orientação desses jovens com sentido de fortalecimento dos seus potenciais e valores e de redução das suas vulnerabilidades. 13 http://www.juventude.gov.br/politica. 109 A realização profissional desses jovens se reflete na sua qualidade de vida, e na de suas famílias, e, consequentemente, no desenvolvimento local, e isso pode ser feito ou requer ser feito articulando-se os requisitos do agir localmente, considerando-se suas determinações particulares, com as exigências do pensamento mais universalizado, mais global, que o mundo do trabalho hoje apresenta. A realidade dos jovens das classes sociais menos favorecidas é, muitas vezes, de uma trajetória marcada por sofrimento e, em geral, por escassez de recursos. Desde a infância, a desigualdade social interfere no percurso educacional desses jovens. Trazem, quase sempre, um histórico de acesso ao ensino da rede pública, por vezes precário, ou, então, de passagens por instituições educacionais particulares noturnas frequentadas depois de jornadas cansativas de trabalho, perfilando um itinerário de formação, via de regra, descontínuo e limitado, quanto aos recursos encontrados. A baixa escolarização dos pais e a frágil imersão na cultura letrada reforçam as debilidades desse percurso formativo. Essa realidade diferenciada e caracterizada por negatividades, mas, também, por positividades, não pode ser esquecida, quando se busca compreender e intervir no processo de transição escola-trabalho dos jovens oriundos das camadas populares A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL As expectativas por parte do mundo do trabalho, a baixa qualidade na formação básica e o repertório cultural diferenciado e distante do que tende a ser considerado modelar, deixam os jovens pobres em situação de desvantagem. Nesse contexto, a orientação profissional surge como elemento essencial nessa construção, especialmente para jovens oriundos das camadas populares que, após a implementação do ProUni em 2005, passaram a ter acesso à educação superior em maior escala e que pouco ou nenhum contato tiveram com programas de orientação profissional ao longo de suas vidas. Isso se deve ao fato de esses jovens, ao pleitearem vagas no mercado de trabalho, serem submetidos a testes, dinâmicas de grupo e entrevistas, sendo avaliados e selecionados a partir de vieses pouco favoráveis aos seus perfis socioculturais. É o que pode estar acontecendo com grande parte dos beneficiários do ProUni nas instituições brasileiras de educação superior. Atualmente, o termo orientação profissional convive com diversos outros termos recorrentes nas organizações e na literatura, tais como mentoring, coaching e counseling. São iniciativas que embora estejam em consonância com práticas da Psicologia, da Pedagogia e da 110 Administração, propõem intervenções muitas vezes sem levar em consideração os objetivos a serem alcançados e somente reforçam jargões ditados pelas organizações (SILVA, 2010). Em muitos casos são iniciativas, que seguem um padrão, que se esquecem de considerar o indivíduo, sua história, seus registros, sua vida, suas vantagens socioculturais específicas. Essa proposta homogeneizante de orientação profissional deixa de levar em consideração a diversidade sociocultural dos sujeitos e, por causa desse olhar, não dá conta de perceber que há diferenças entre os jovens das camadas populares e aqueles dos estratos sociais mais elevados, que podem ser de valor fundamental. Nas palavras de Bello (2008), verifica-se [...] la debilidad de una Orientación homogeneizante, frente a la realidad de un mundo global, diverso y multicultural. Atender la diversidad es el desafío que la orientación aún no ha resuelto, ya que ésta plantea una multiplicidad de conflictos y paradojas para las cuales no son válidas recetas específicas. (BELLO, 2008, p. 3) Os modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional podem ser reducionistas, se confrontados com o processo de globalização e com a diversidade humana em todas as suas dimensões. Podem, ainda, condicionar e limitar o desenvolvimento e a criatividade individuais e, consequentemente, “delimitar o papel que cada indivíduo deve assumir na construção do bem-colectivo” (DUARTE, 2011, p. 145). Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que apresentam um extenso repertório de vida, habilidades e potencialidades, que podem ser positivamente relevantes para as organizações do setor produtivo, mas possivelmente desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem modelos de inclusão tradicionalmente estabelecidos. Tais padrões tendem a ser replicados nos programas de orientação profissional, em geral alicerçados em análises de perfil e mapeamento de competências, realizados por meio de testes psicológicos. Tendem a repetir o modelo de recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no mercado de trabalho. E este modelo pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens das camadas populares que carregam registros de vida muito distintos dos padrões préestabelecidos. De acordo com Machado (2009), [...] o campo da Orientação Profissional se voltou, então, para a Psicologia Diferencial e a Psicometria, e até hoje, parte significativa dos seus esforços se centra no debate sobre concepções e aplicações de testes construídos especialmente para aferir atributos como inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade. (MACHADO, 2009, p. 90) 111 Para Machado (2009), as pessoas precisam, hoje, gerenciar não somente suas escolhas profissionais, mas também o uso de suas capacidades e saberes. Na perspectiva da autora, as pessoas são motivadas por interesses diversos, seus próprios, das organizações e da sociedade em geral. Além disso, se encontram, muitas vezes, em momentos de tensão e contradições e precisam, portanto, compreender melhor o mundo do trabalho em que atuam e o meio social em que vivem para que possam estar envolvidas numa atividade laboral decente (MACHADO, 2009). Dessa forma, faz-se necessário um novo olhar para a orientação profissional. Será necessário mudar a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como repensar seus objetivos e enfoques (DURANT, 2004, p. 21 apud BELLO, 2008). Duarte (2011) propõe que seja uma “tentativa de encontrar e desenhar outras formas de reflectir sobre a orientação enquanto processo de autoconstrução” (DUARTE, 2011, p. 143). Enquanto processo de construção, a orientação pode tirar partido de cada um individualmente, de acordo com suas experiências e história de vida. Duarte (2011) propõe [...] lançar um olhar para a orientação considerando as características e as capacidades de cada um para, não perdendo a sua condição de elemento activo e solidário numa cadeia histórica de onde emerge, nela se alimentar para depois, com o conhecimento assim obtido, e integrando as suas próprias experiências e as leituras que delas faz. Em síntese, dar continuidade à mesma cadeia, projectando-a para o futuro. Continuando a mesma linha de pensamento, procurando reflectir sobre a orientação enquanto processo de construção, procure-se agora entender como a orientação pode ajudar a tirar partido da experiência de cada um. (DUARTE, 2011, p. 147) Trata-se, portanto, de potencializar o que os jovens já trazem de suas experiências de vida (DAYRELL et al., 2003, p. 43). Pelo mesmo autor, o pleno desenvolvimento ou não das potencialidades que caracterizam o ser humano vai depender da qualidade das relações sociais com o meio no qual se insere e se as relações sociais entre os jovens das camadas populares e o mundo do trabalho não considerarem os registros de vida desses jovens, suas potencialidades que podem passar invisíveis ou não apresentarem uma evolução no ambiente laboral. Surge, então, a perspectiva de um novo olhar também para a orientação profissional dos jovens oriundos das classes menos favorecidas. Machado (2009) propõe no artigo “Orientação Profissional: a necessária renovação conceitual e reorganização política” uma nova visão dos processos de orientação profissional. Segundo a autora 112 A Orientação Profissional, atualmente, se depara, assim, com a necessidade urgente de buscar referências fora do seu contexto tradicional de atuação e de si mesma como um campo de linguagem e testes que, muitas vezes, são tomados como universais, para interagir com outros campos, pensar junto e ser referenciada por pactos e alianças. (MACHADO, 2009, p. 91) Este novo modelo de OP precisa considerar os contextos existentes, as culturas locais, tendo sempre o sujeito no centro (DUARTE, 2011, p. 150). Nessa vertente, não se pode desconsiderar, no trabalho de orientação profissional, a realidade socioeconômica e sociocultural dos jovens das camadas populares e suas vulnerabilidades (VALORE et al., 2012, p. 358). Na pesquisa realizada por Valore et al. (2012) com jovens oriundos das camadas populares, constatou-se [...] a relevância da orientação profissional na formação cidadã dos jovens, pois independente das restrições impostas pelas condições socioeconômicas desses jovens na construção de seus projetos de vida e carreira, a realização de uma escolha consciente, autônoma, emancipada, apresentou-se comum a todos os jovens participantes da pesquisa. (VALORE et al., 2012, p. 361) Afinal de contas, é próprio da natureza humana o desejo por escolhas conscientes e que levem à auto-realização e, para os jovens oriundos das camadas populares, isso não é diferente. Esses jovens também buscam a realização de projetos de vida e de carreira e têm desejos de mobilidade social. Todas essas reflexões fazem sentido quando confrontadas com o projeto institucional do Centro Universitário UNA, que se propõe a ter foco na formação integral de seus alunos em suas diversas dimensões, como indivíduo, como cidadão e como profissional. Isso é importante para que cada um encontre seu caminho, construa suas trajetórias de vida pessoal e profissional, sem perder sua identidade e o sentido de si próprio (DUARTE, 2011). Além disso, como bem afirma Valore (2012), a OP não pode ser uma intervenção isolada, por iniciativa apenas de psicólogos em escolas e consultórios, mas deve estar articulada em rede com as práticas sociais do corpo docente e dos profissionais em geral das instituições de educação superior. Para Valore, “[…] tal premissa parte do pressuposto de que a transição para o mundo do trabalho não é tema exclusivo da OP, posto que configura um trabalho mais abrangente que, em outros países, vem sendo denominado de Educação para a Carreira” (VALORE et al., 2012, p. 414). Esse papel de educação para a carreira pode ser também o papel da instituição de educação superior como provedora de apoio ao jovem em transição para o mundo do trabalho. Para Gazo-Figuera (1996 apud MELO, 2007) tal instituição precisa assumir um papel de 113 apoio ao estudante para facilitar a inserção no mercado de trabalho. Sugere, ainda, que, como política educacional, ela deve criar uma estrutura informacional sobre a operação do mercado de trabalho que possa ser utilizada tanto para decisões institucionais como também como referência para os projetos profissionais dos estudantes. No âmbito da orientação universitária, Gazo-Figuera (1996) sugere que [...] o desenvolvimento de programas de orientação e de intervenção, durante a fase de transição ao mercado de trabalho, que sigam as seguintes recomendações: (a) aplicação em contextos próximos do aluno; (b) treinamento em habilidades de tomada de decisão e busca de emprego; (c) desmitificação de percepções e de conceitos que reforcem a conduta passiva frente ao mercado de trabalho; (d) construção de programas de desenvolvimento pessoal para estudantes com problemáticas específicas; (e) integração a uma política de emprego que facilite a atuação em nível microcontextual. (GAZO-FIGUERA, 1996 apud MELO, 2007, p. 387) São iniciativas que podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a vida adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os obstáculos inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e com que tenha mais oportunidades para alcançar seus objetivos de vida. Quando a autora cita a necessidade de cuidado com jovens que tragam problemáticas específicas, pode-se considerar, dentre eles, o jovem de baixa renda como aquele que precisa de uma orientação que leve em conta suas vulnerabilidades. Nesse contexto, a instituição de educação superior precisa repensar o seu papel diante das transformações no mundo do trabalho, no sentido de levar em conta questões relevantes enfrentadas pelos jovens no mercado de trabalho atual, que necessitam ser refletidas criticamente, durante o seu processo de formação, e incluir, em suas atividades acadêmicas, projetos voltados para a inserção do graduando no mercado de trabalho, considerando-se as vivências dos jovens nesse período de transição. Um programa de orientação profissional que leve em conta todas essas questões e as particularidades do jovem de baixa renda pode não só oferecer maior suporte institucional a esse jovem, mas, efetivamente, colocá-lo em uma posição mais favorável e competitiva em relação às demandas do mundo do trabalho (MELO et al., 2007, p. 388). Na ótica de uma orientação profissional ofertada pela instituição de ensino, essa responsabilidade individual pode ser trabalhada de forma que o jovem encontre seu próprio caminho e mostre seu potencial ao mundo do trabalho, especialmente aos recrutadores em processos seletivos das organizações em geral. 114 Embora o foco da orientação profissional individual seja um dos caminhos, a instituição de ensino poderia também desenvolver projetos de extensão e pesquisa mais coerentes com as necessidades do mercado de trabalho, introduzindo o jovem mais cedo no contexto em que irá atuar como profissional, preparando-o em aspectos psicossociais (identidade profissional, imagem pessoal, socialização organizacional, etc.), que interferem no projeto da carreira. Assim, a Universidade poderia oferecer um programa de orientação profissional e de preparo para o trabalho, uma vez que muitos jovens mudam de curso ou pela falta de maturidade para a escolha da profissão ou pelas oportunidades que vão aparecendo na sua vida. Portanto, é fundamental olhar para os jovens oriundos das camadas populares no momento de transição da educação superior para o mundo do trabalho com outra proposta de orientação profissional, conduzida e apoiada pela instituição universitária e que leve em conta o preparo para essa transição, alicerçado em suas habilidades e saberes, e que se proponha a realizar a conscientização de profissionais de recursos humanos das organizações. Trata-se de buscar referências e de realizar reflexões sobre como dar mais um passo importante para a verdadeira inclusão social dos jovens das camadas populares e beneficiários do ProUni. PESQUISA COM ESTUDANTES, PROFISSIONAIS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, PROFESSORES E GESTORES DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA. A pesquisa de campo teve como referência as atividades de OP realizadas pelo Núcleo de Carreira junto aos alunos de graduação do Centro Universitário UNA. Essas atividades são conduzidas por um grupo de profissionais da Psicologia Organizacional que atendem, em média, 700 (setecentos) alunos por ano, promovendo uma série de encontros e análises de perfil profissional e comportamental desses discentes. A partir desses dados, foram discutidos os impactos e a pertinência desse programa de orientação profissional na transição escola-mundo do trabalho, com recorte específico aos alunos beneficiários do ProUni e oriundos das classes populares. Nessa etapa, foram consideradas as particularidades socioculturais desses sujeitos no que diz respeito à transição para o mundo de trabalho como egressos da educação superior. Essas discussões foram conduzidas por meio da realização de três grupos focais. O primeiro grupo (GF1) foi composto pela equipe responsável pela OP no Centro Universitário UNA, atualmente composta por cinco profissionais. O segundo grupo (GF2) foi composto por quatro discentes beneficiários do ProUni, representando quatro diferentes cursos e campi do 115 Centro Universitário UNA. O terceiro grupo (GF3) foi composto por sete participantes acadêmicos, representando os cinco institutos do Centro Universitário UNA e sua coordenação acadêmica: cinco diretores de institutos, um coordenador acadêmico e um docente. Pretendeu-se, por meio dos grupos focais, promover discussões e conhecer a opinião dos seus integrantes sobre a inserção dos jovens beneficiários do ProUni no mundo do trabalho. A proposta foi conhecer as experiências vividas pelos sujeitos participantes e sua percepção acerca do tema, identificando elementos novos ou divergentes com relação às assertivas que balizaram o desenvolvimento do projeto desta pesquisa. A partir do próprio roteiro estabelecido e das respostas fornecidas pelos grupos focais, foi possível categorizar grandes áreas, quais sejam: o perfil do aluno ProUni e uma análise comparativa com os alunos não beneficiários do ProUni; o processo de transição escolatrabalho; o processo de escolha e a orientação profissional e a orientação profissional voltada ao aluno ProUni. Inicialmente, estamparam-se nesse trabalho o entendimento do cenário educacional brasileiro na criação do ProUni – Programa Universidade para Todos – e sua evolução, o ProUni e o Centro Universitário UNA e, finalmente, o cenário atual e a legitimidade do ProUni como política pública. Em seguida, abordaram-se questões relativas à juventude e ao jovem das camadas populares, ao processo de transição escola-trabalho e à orientação profissional voltada para esses jovens. Nessa abordagem concluiu-se sobre diversos conceitos de juventude e a necessidade de se considerar as histórias de vida e particularidades dos jovens oriundos das camadas populares nos processos de orientação profissional e de transição para o mundo do trabalho. Argumentou-se que processos padronizados de avaliação de competências consideradas como as exigidas pelo mundo do trabalho nem sempre refletem os saberes dos jovens “proUnistas”. Ao longo dos grupos focais, registrou-se que, embora elevado desempenho acadêmico dos bolsistas seja relatado por todos os participantes, isso não garante a efetiva transição escola-trabalho. Há um padrão, em algum nível, de expectativas das organizações em relação ao aos perfis dos candidatos participantes de processos seletivos e que não corresponde, necessariamente, aos da maioria dos jovens de baixa renda. Por outro lado, esses mesmos jovens apresentam características que podem, embora de forma atualmente não legitimada, contribuir para o sucesso das organizações. 116 Finalmente, propôs-se um novo olhar institucional para a orientação profissional; isto é: uma proposta de intervenção social e pedagógica que considerasse a necessidade do reconhecimento e da legitimação dos saberes e experiências de jovens oriundos dos segmentos sociais populares. É essa a essência da proposta de intervenção que, a seguir, se apresenta. Entende-se que iniciativas dessa natureza podem garantir ao jovem uma passagem mais amena para a vida adulta, fazendo com que ele consiga ultrapassar, com maior apoio social, os obstáculos inerentes ao período de transição universidade-mercado de trabalho e com que tenha mais oportunidades de alcançar seus objetivos de vida. E os jovens oriundos dos estratos sociais mais baixos, com problemáticas específicas, precisam de cuidado, de uma orientação que leve em conta suas vulnerabilidades e que mostre seu potencial frente às exigências do mundo do trabalho. UM NOVO OLHAR INSTITUCIONAL PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA. A proposta da referida intervenção propõe um novo olhar para a questão da orientação profissional a partir do tema da investigação, assim delineado: a orientação profissional de jovens das camadas populares beneficiários do ProUni com foco nos desafios da transição escola-trabalho. Ela trata de princípios, diretrizes, ações e aspectos das estruturas física, institucional e social para uma concepção de programa de orientação profissional fundamentado nas identidades socioculturais e necessidades dos jovens beneficiários do ProUni, visando à sua exitosa transição escola-mundo do trabalho. Buscou-se desenvolver um instrumental técnico considerando-se a atividade de orientação profissional como um processo educacional e a perspectiva de se inová-lo, contemplando seu sentido social e sua importância para o desenvolvimento local. Em outras palavras: a intenção foi elaborar uma proposta de intervenção relativa à orientação profissional de jovens oriundos do ProUni no Centro Universitário UNA, visando ao desenvolvimento pessoal autônomo e emancipado e em atenção às identidades socioculturais desses sujeitos, com foco na transição da Educação Superior para o mundo do trabalho. Apoiada nos dados e referenciais obtidos com a revisão teórica e pesquisa de campo, esta proposta centrou-se nos elementos considerados essenciais para uma orientação profissional inovadora do ponto de vista social e pedagógico e comprometida com o fortalecimento do ProUni como política pública de fundamental importância para o desenvolvimento local. 117 Identificada como Protocolo de Orientação Profissional - ProUni, esta proposta de intervenção foi construída a partir das seguintes interlocuções: a) com a produção acadêmica expressa na revisão teórica sobre o tema; b) com os dados sobre a evolução do ProUni no País e no Centro Universitário UNA; c) com o contexto e práticas do Centro Universitário UNA de relacionamento com os jovens do ProUni; d) com a realidade sociocultural e educacional desses jovens. Algumas premissas oriundas dos grupos focais mereceram destaque como norteadoras dessa proposta de intervenção. Entre elas, está a necessidade de que o aluno “ProUnista” compreenda o cenário do mundo do trabalho atual, reconheça suas demandas e deseje sair do lugar de poucas oportunidades onde se encontra. Mas acima de tudo, compreender que embora seu repertório de vida possa não atender as demandas pré-estabelecidas pelas organizações e traduzidas nos processos seletivos, sua história de vida permitiu e permite desenvolver outros saberes e formas de agir também importantes para a sociedade e para o mundo do trabalho, inclusive o das organizações. Ou seja: é fundamental resgatar o que o pedagogo e cientista da educação francês Georges Snyders (1917-2011) chama de “dupla face do proletariado” (1977), compreender a positividade do que é visto como negativo nas crianças e jovens das camadas trabalhadoras. Esse outro lado precisa ser considerado, ganhar visibilidade e, sobretudo, não ser motivo de autocomiseração dessas crianças e jovens. Nesta proposta de intervenção, busca-se afirmar a importância do reconhecimento e da legitimação dos saberes e expertises desenvolvidos pelos jovens ao longo de seus percursos de vida e de trabalho, que se constituir em diferencial afirmativo dos seus valores nas relações sociais e no contexto das organizações. No contexto da intervenção aqui proposta, o que se pretende é trazer à tona, destacar e valorizar as diferenças que o jovem do ProUni carrega em seu repertório de vida e como essas diferenças podem se constituir em diferencial positivo para si próprios, para a sociedade e o mundo do trabalho. Uma vez dentro da educação superior, percebeu-se, especialmente nas colocações dos educadores, um [entre]cruzamento de culturas entre os bolsistas e alunos de estratos sociais mais elevados. Tal fato remete à perspectiva da “sociologia das diferenças”, objeto das pesquisas de Bernard Charlot (2000, 2004, 2011, 2013); isto é: que as diferenças se produzem em função da inserção do aluno na estrutura de classes da sociedade e das experiências que ele vive e interpreta, diferenças que, na maioria das vezes, são vistas como “falta” ou “carência”; em especial, pelo mundo do trabalho. Os jovens “proUnistas”, de fato, 118 dificilmente acessam as experiências que estão disponíveis para aqueles das classes mais altas e isso entra como um fator que dificulta suas transições escola-trabalho, uma vez que o mercado do trabalho segue um padrão de recrutamento e de seleção pautado em competências predeterminas e padronizadas não correspondentes, em geral, com o histórico de vida do jovem oriundo das camadas populares. Por outro lado, esses jovens são portadores de histórias de vida, subjetividades e singularidades que lhes permitiram construir patrimônios cultural, intelectual e social com significados importantes que, muitas vezes não são percebidos e/ou valorizados pelos recrutadores. Embora diferentes ou não legitimados pelo mundo do trabalho, esses são atributos socioculturais que precisam ser valorizados e que muito podem contribuir para a sociedade e, inclusive, para as organizações. Afinal de contas, cada pessoa se constrói no social, como sujeito ativo e consciente, por meio de singularidades próprias de suas histórias. Ele, portanto, projeta-se não somente pelo que determina o mercado do trabalho ou um perfil profissional padronizado, mas por quem ele é e pelo que viveu e como reagiu a imposições de modelos prefigurados. Nesse contexto, a proposta de intervenção por meio da orientação profissional diferenciada, que a investigação realizada permitiu elaborar, pretende inovar socialmente e pedagogicamente o trabalho educacional realizado em favor da emancipação do aluno ProUni, mostrando e valorizando seus atributos, com base em suas vivências e repertórios de vida. Pretende-se, assim, favorecer uma leitura abrangente e não restritiva de suas vivências e de seus diferenciais, tendo em vista a inserção qualificada desses jovens no mundo do trabalho, e sua permanência exitosa nele. Ocorre que, em geral, os modelos tradicionais de orientação profissional se pautam por conceitos e procedimentos padronizados que nem sempre consideraram as singularidades das pessoas e seus contextos de vida, suas histórias, seus registros, suas características socioculturais específicas. Esses modelos homogeneizantes de orientação profissional não levam em consideração a diversidade sociocultural dos sujeitos e, por isso, não dão conta de perceber que há diferenças importantes, mas nem sempre piores ou melhores, entre os jovens das camadas populares e aqueles dos estratos sociais mais elevados. Com isso, corre-se o risco de se adotar modelos tradicionais e padronizados de orientação profissional reducionistas, que, inclusive, colocam-se na contramão da flexibilidade e da abertura que o processo de globalização tem requerido das organizações e, consequentemente, de seus profissionais. Esses modelos podem, ainda, condicionar e/ou limitar o desenvolvimento e a 119 criatividade individuais e, consequentemente, predeterminar papéis que o jovem profissional deverá assumir no mundo do trabalho. Essa limitação pode ficar evidente no caso dos jovens das camadas populares, que apresentam extensos repertórios de vida, habilidades e potencialidades, que podem ser relevantes para suas comunidades, para sociedade e, inclusive, para as organizações, mas, possivelmente, são desconhecidas pelos próprios sujeitos e pelos profissionais de recrutamento e seleção, cujas atuações ainda seguem modelos de seleção tradicionalmente estabelecidos, com padrões que tendem a ser replicados nos programas de orientação profissional que são, geralmente, alicerçados em análises de perfis e mapeamento de competências, realizados(as) por meio de testes psicológicos, e tendem a repetir o modelo de recrutamento e seleção conformado pela lógica dominante no mercado de trabalho; um modelo pode não atender os anseios e as necessidades dos jovens das camadas populares que carregam registros de vida muito distintos dos padrões pré-estabelecidos. É mister ressaltar que, esse processo de intervenção, no âmbito de uma orientação profissional inovadora, cumpre considerar, também, que as “juventudes” são muitas, que não há uma definição única do que é ser jovem. São muitas as juventudes e todas carregam, ancoradas em suas histórias de vida, sonhos, desejos e expectativas em relação à sua transição da educação superior para o mundo do trabalho. Esse arcabouço de sentimentos também precisa ser considerado no processo de orientação profissional direcionada ao jovem de baixa renda do ProUni. Como política pública o ProUni pode promover a qualidade da inclusão na Educação Superior, mas o olhar inovador para uma orientação profissional que atenda aos anseios desse jovem pode promover efetiva qualidade de participação do mesmo nos processos sociais. Esta proposta de intervenção surgiu de uma experiência prévia com o programa de orientação profissional desenvolvido pela equipe do Núcleo de Carreira do Centro Universitário UNA. Ao perceber que não é possível replicar procedimentos e orientações padronizados para utilização em larga escala, inclusive para jovens do ProUni, surgiu a oportunidade de se pensar algo novo a partir da investigação realizada. Inicialmente, foi pensada na inovação como incremento; isto é: inovar a partir de um modelo já pronto e aplicado. No entanto, o desafio mostrou outra perspectiva: conseguir atender um número grande de jovens “proUnistas” sem perder o olhar para a pessoa. No modelo em vigor, isso se mostra impossível. O desafio exigiu descolamento dos modelos padronizados, pautados em análise de perfis, mapeamento de competências por meios de ferramentas que rotulam e pré-estabelecem padrões comportamentais. 120 Surgiu, assim, a oportunidade para se pensar na promoção da inovação, o que requer ruptura. Assim, esta proposta de intervenção se constitui modelo inédito, na instituição, de orientação profissional, distante do modelo psicológico pautado na lógica das competências e do ajustamento do indivíduo a padrões ditados pelo mercado de trabalho. Em parceria do Núcleo de Carreira com a área de ensino a distância do grupo Anima,14 esta nova proposta de orientação profissional prevê momentos coletivos, bem como momentos individuais, presenciais e virtuais, o que dará escala e a garantia de que todos os alunos “proUnistas” terão acesso ao programa proposto. Além disso, ela considera a importância da análise do contexto dos estudantes e de suas decisões, enxergando a orientação profissional como um processo formativo para o desenvolvimento pessoal e social e uma intervenção que deve ter caráter emancipatório, e não meramente compensatório. A proposta de intervenção precisa da parceria do NAP – Núcleo de Apoio Psicopedagógico – do Centro Universitário UNA. Entre os objetivos do escopo de trabalho do NAP estão: diagnosticar, preventivamente, dificuldades comportamentais de alunos do Ensino Superior e a adaptação e acompanhamento aos alunos com realidades específicas; orientar sobre hábitos de estudo e relacionamentos interpessoais - individual ou em sala de aula. A proposta dessa parceria é deslocar de um campo único de linguagem e testes que, muitas vezes, são tomados como universais, para interagir com outros campos. Pretende-se, também, interagir com atividades extensionistas da instituição, por meio de projetos que envolvam os alunos bolsistas e que reforcem seus atributos e saberes. Portanto, a abordagem da proposta de intervenção se propõe a ser educativa, dialógica, processual e integrada com a vivência escolar, inclusive com diferentes áreas de apoio ao aluno. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os percursos da investigação, incluindo revisão teórica, análises documentais e de dados empíricos, ofereceram os elementos necessários para se entender a importância do debate sobre a transição de concluintes da educação superior para o mundo do trabalho quando esses são jovens de baixa renda e beneficiários do ProUni. A pesquisa realizada se insere nesse processo de busca de promoção de inclusão social na educação superior, sabendo que ela não garante uma efetiva transição para o mundo do 14 http://www.animaeducacao.com.br/. 121 trabalho que atenda os anseios dos jovens “proUnistas”. O ProUni, como política pública de inclusão educacional, pode ser efetivo, mas não se propõe a responder ao processo de inserção qualificada dos estudantes no mundo do trabalho. Percebeu-se que existem progressos sociais com relação à inclusão na educação superior, que há uma política pública inclusiva representada pelo ProUni, mas, ao mesmo tempo, verificouse que pouco se fala sobre a transição dos concluintes para o mundo do trabalho e sobre a qualidade das conquistas dos jovens beneficiários com relação às suas trajetórias profissionais. Os grupos focais com estudantes e educadores mostraram que nem sempre a escolha por determinado curso ou profissão está alinhada com os anseios e sonhos desses jovens, ocorrendo, em muitos casos, em função do curso para o qual foi possível conquistar a bolsa. Há, portanto, indícios de qualidade do acesso, mas não necessariamente de qualidade de participação no mundo do trabalho com vistas a atender as expectativas dos jovens; ou seja: o jovem pode conquistar um espaço na instituições particulares de educação superior, obter um bom desempenho acadêmico, o que inclusive constatou-se durante a investigação em relação aos “proUnistas”, mas, ainda assim, esse resultado não é garantia de uma transição que satisfaça seus desejos e expectativas quanto à oportunidade de se emancipar socialmente. Embora as juventudes sejam muitas, os jovens carregam, em geral, sonhos, desejos, anseios de realização pessoal e profissional e buscam na educação superior uma oportunidade para realizá-los. A partir dos resultados da pesquisa realizada, chegou-se ao modelo que propõe um novo olhar para a orientação profissional. Esse modelo é inovador, por propor mudar a forma de desenhar e executar a prática de OP, bem como por repensar seus objetivos e enfoques. Nessa proposta, o jovem é considerado o protagonista principal dos processos do seu autorreconhecimento e autoconstrução. Ela busca tirar partido de cada participante da OP, individualmente, de acordo com suas experiências e história de vida. O que se pretende é que o jovem, como protagonista, seja capaz de conhecer a dinâmica do mundo do trabalho, conhecer a si mesmo, refletir sobre seus saberes por meio do inventário de saberes (CHARLOT, 2000) e, a partir daí, construir seu percurso profissional de modo que possa se apresentar ao mundo do trabalho valorizando seus atributos. O que se propõe, portanto, é que os bolsistas entendam que precisam participar ativamente do processo de suas escolhas profissionais; que caminhem além, gerenciando, também, o uso de suas capacidades, competências, habilidades e saberes, de modo que sejam os primeiros a valorizar seus 122 interesses e a se colocar com dignidade e autoconfiança frente às exigências das organizações e da sociedade em geral. Pautado nessa perspectiva é que esta proposta de OP contempla, de forma inovadora, a combinação de atividades em grupo e individuais, presenciais e a distância, com o propósito de municiar o jovem com informações e orientações sobre o mundo do trabalho e suas peculiaridades, mas, acima de tudo, visando contribuir para o seu “empoderamento” para o uso de suas capacidades e saberes a partir das análises do seu inventário de saberes. Significa franquear a esses jovens não somente a oportunidade de acesso ao Ensino Superior, mas, também, a de dar continuidade ao seu desenvolvimento como indivíduo, cidadão e profissional, proporcionando-lhes uma transição para o mundo do trabalho de forma autônoma e emancipada, valorizadora de seus atributos socioculturais, promovendo melhoria da sua qualidade de vida e, consequentemente, desenvolvimento local. Inspirado em Abade (2005, p. 143), acredita-se que o papel da OP “[…] não é prescrever um modelo de sociedade e de homem, mas construir propostas que possam convergir para a transformação de nossas condições de existência, no sentido de uma sociedade mais democrática e menos desigual”. Finalmente, esta investigação não tem a pretensão de encerrar a discussão sobre o tema e o problema selecionados para estudo, mas a de contribuir para o alargamento do espaço para novas reflexões e a de provocar interesse por novas pesquisas sobre as condições e situações de estudantes de instituições de ensino onde os contrastes sociais são ainda muito nítidos e sobre as mudanças que se fazem necessárias nas políticas e práticas de recrutadores para o mundo do trabalho. 123 REFERÊNCIAS ABADE, F. L. Orientação Profissional no Brasil: Uma Revisão Histórica da Produção Científica. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 6, n. 1, p. 15-24, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v6n1/v6n1a03.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2012. AGULLÓ-TOMÁS, E. Jóvenes, Trabajo e Identidad. Oviedo: Universidad de Oviedo, 1997. ALMEIDA, S. C. O avanço da privatização na educação brasileira: o ProUni como uma nova estratégia para a transferência de recursos públicos para o setor privado. Dissertação (mestrado em educação). Universidade Federal Fluminense. Niterói, Rio de Janeiro. 2006. Disponível em: <http://www.uff.br/pos_educacao/joomla/images/stories/Teses/almeidad2006.pdf>. Acesso em: 20 jul 2013. BELLO, J. G. Reconceptualización de la Orientación Educativa en los tiempos actuales. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 9, n. 2, p. 1-8, 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v9n2/v9n2a02.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2012. CARRANO, Paulo C. R. Juventudes: as identidades são múltiplas. Movimento: Revista da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ, n. 1, p. 11-27, mai. 2000. Disponível em: <http://www.revistamovimento.uff.br/index.php/revistamovimento/article/view/189>. Acesso em: 10 set. 2013. CARVALHO, C. H. A. O PROUNI no governo Lula e o jogo político em torno do acesso ao ensino superior. Educ. Soc. [online], v. 27, n. 96, p. 979-1000, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n96/a16v2796.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2012. CATANI, A. M.; HEY, A. P.; GILIOLI, R. S. P. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior? Educar [online], Curitiba, n. 28, p. 125-140, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/n28/a09n28.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2012. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução de Bruno Magne. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 2000. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber e com a escola entre estudantes de periferia. Tradução de Neide Luzia de Rezende. Cad. Pesq., São Paulo, n. 97, p. 47-63, mai. 1996. Disponível em: <Http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/373.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013. CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013. v. 1. (Coleção Docência em Formação) CHARLOT, Bernard (Org.). Juventude popular e Universidade: acesso e permanência. São Cristóvão, SE: Editora UFS, 2011. CHARLOT, Bernard. Bernard Charlot: uma relação com o saber (entrevista). Espaço Pedagógico, v. 10, n. 2, p. 159-178, 2003. CHARLOT, Bernard. Educação, Trabalho: problemáticas contemporâneas que convergem. Educação, Sociedade & Culturas, Universidade de Porto, Portugal, v. 22, p. 9-25, 2004. COIMBRA, J. L.; VIEIRA, D. Sucesso na Transição Escola-Trabalho: A Percepção de Finalistas do Ensino Superior Português. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 7, n. 1, p. 1-10, 2006. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v7n1/v7n1a02.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2012. COSTA, F. ProUni: o olhar dos estudantes beneficiários. Rio de Janeiro: Michelotto, 2012. COSTA, F. O ProUni e seus egressos: uma articulação entre educação, trabalho e juventude. 2012. Disponível em: <http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=15286>. Acesso em: 04 fev. 2014. 124 DAYRELL, J.; CARRANO, P. C. Jovens no Brasil: difíceis travessias de fim de século e promessas de um outro mundo. 2003. Disponível em: <http://www.uff.br/obsjovem/mambo/images/stories/Documentos/JOVENS_BRASIL_MEXI CO.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2013. DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Rev. Bras. Educ. [online], n. 24, p. 40-52, set./dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141324782003000300004&script=sci_arttext>. Acesso em: 08 dez. 2013. DONAS, S. (Org.). Adolescencia y Juventud en América Latina. Cartago: Libro Universitario Regional, 2001. DUARTE, M. E. Desaprender para ensinar os princípios (ou um outro modo de enfrentar a orientação). Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 12, n. 2, p. 143-151, jul./dez. 2011. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v12n2/02.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2012. GAZO-FIGUERA, P. La Inserción del Universitario en el Mercado de Trabajo. Barcelona: EUB, 1996. INEP. Censo da Educação Superior no Brasil. Brasília, 2010. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/resumo_tecnico/resumo_tec nico_censo_educacao_superior_2010.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2012. MACHADO, Lucília. Orientação Profissional: a necessária renovação conceitual e reorganização política. In: BLAS, F. A.; PLANELLS, J. Desafios atuais da educação técnicoprofissional. Madri: OEI; Fundação Santillana, 2009. p. 89-100. MARGULIS, M. Juventud: una aproximación conceptual. In: DONAS, S. (Org.). Adolescencia y Juventud en América Latina. Cartago: Libro Universitario Regional, 2001. p. 41-56. MEC. Prouni – Programa Universidade para Todos. Programa. Portal do Ministério da Educação. Disponível em: <http://siteProuni.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124&Itemid =140>. Acesso em: 16 jul. 2012. MELO, S. L.; BORGES, L. O. A Transição da Universidade ao Mercado de Trabalho na Ótica do Jovem. Psicologia Ciência e Profissão, v. 27, n. 3, p. 376-3952007 Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v27n3/v27n3a02.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2013. SILVA, C. R. E. Orientação Profissional, mentoring, coaching e counseling: algumas desigualdades e similaridades práticas. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 11, n. 2, p. 299-309, jul.-dez. 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v11n2/v11n2a14.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2012. SNYDERS, G. Escola, classe e luta de classes. Tradução de Maria Helena Albarrán. Lisboa: Moraes Editores, 1977. SPÓSITO, M. P. Juventude e Educação: interações entre a educação escolar e a educação não-formal. Revista Educação e Realidade, v. 33, n. 2, p. 83-98, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/7065/4381>. Acesso em: 11 dez. 2012. VALORE, L. A.; CAVALLET, L. H. R. Escolha e orientação profissional de estudantes de curso pré-vestibular popular. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 24, n. 2, p. 354-363, mai./ago. 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010271822012000200013&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 10 dez. 2013. 125 Apêndice B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Título da Pesquisa: ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS DAS CAMADAS POPULARES BENEFICIÁRIOS DO PROUNI COM FOCO NOS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO ESCOLATRABALHO Nome do Pesquisador Principal ou Orientador(a): Marco Túlio Carvalho de Souza Andrade. 1. Natureza da pesquisa: o sra. (sr.) está sendo convidada (o) a participar desse grupo focal que tem como finalidade promover uma discussão e conhecer a opinião dos integrantes do grupo acerca da inserção dos jovens beneficiários do ProUni no mundo do trabalho e do papel que a orientação profissional pode ter nesse processo. 2. Participantes da pesquisa: as discussões serão conduzidas por meio da realização de três grupos focais, prevendo-se dois encontros de sessenta minutos para cada grupo. O primeiro grupo será composto pela equipe responsável pela OP no Centro Universitário UNA, atualmente composta por seis profissionais. O segundo por 12 membros representando os cinco institutos do Centro Universitário UNA e sua coordenação acadêmica: cinco diretores de institutos, dois coordenadores acadêmicos e cinco docentes, um por instituto. O terceiro será composto por oito discentes beneficiários do ProUni representando cada um dos oito campi do Centro Universitário UNA. 3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a(o) sra (sr) permitirá que o (a) pesquisador (a) conheça as experiências vividas pelos participantes bem como sua percepção acerca do tema, identificando elementos que possam comprovar as hipóteses do projeto . A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa por meio do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. 4. Sobre as entrevistas: não aplicável. 5. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. 6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e o (a) orientador (a) terão conhecimento dos dados. 7. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o processo de transição escolatrabalho de alunos beneficiários do ProUni no Centro Universitário UNA, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa contribuir para o desenvolvimento de um programa de orientação profissional voltado para esses alunos. O pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos em sua dissertação de mestrado. 8. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. Consentimento Livre e Esclarecido Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. Nome do Participante da Pesquisa: Assinatura do Participante da Pesquisa: Assinatura do Pesquisador: Assinatura do Orientador: Pesquisador Principal: Marco Túlio Carvalho de Souza Andrade / tel.: 31-99582111 Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG Contato: email: [email protected] / tel.: 3508-9136 / 3508-9108 126 Apêndice C Roteiros para a realização dos grupos focais I. Questões propostas para a sessão de grupo focal com os profissionais do Núcleo de Carreira da UNA – GF1 Qual o perfil do aluno do ProUni? Este perfil difere ou é similar ao dos demais alunos? O que é Orientação Profissional? Como ela é realizada junto aos alunos do Centro Universitário UNA? Qual a opinião sobre a forma como é realizada? Como é o processo de transição escola – trabalho dos alunos atendidos pelo Núcleo de Carreira? O aluno do ProUni apresenta dificuldade(s) nesse processo de transição? Se sim, qual ou quais? Esse processo difere dos demais alunos? A proposta de orientação profissional é adequada ao aluno ProUni? Se não, o que sugeriria como proposta de orientação profissional voltada para esse perfil de aluno? II - Questões propostas para a sessão de grupo focal com os alunos beneficiários do ProUni – GF2 O que motivou a escolha pelo curso superior? Quais as expectativas em relação ao futuro profissional? O que acredita ser preciso fazer para alcançá-las? Você está inserido no mundo do trabalho? Se sim, como? Se não, por que não? Categorias: - Dificuldades para inserção no mundo do trabalho na área de formação e fora dela. - Características pessoais exigidas pelas empresas para inserção no mundo do trabalho. - Alunos do ProUni e outros que não são do ProUni frente às características pessoais demandadas pelas empresas. - Expectativas com relação ao que as IES podem e devem fazer para contribuir com a inserção dos alunos que apresentem dificuldades para isso. Qual o grau de dificuldade de inserção no mundo do trabalho? Já vivenciou alguma dificuldade? Se sim, relate como foi. Há características específicas que são exigidas pelas organizações para a inserção no mundo do trabalho? Se sim, quais? Acredita possuir essas características? E seus colegas que não são do ProUni possuem essas características? Como é sua relação com os colegas dentro e fora de sala de aula? Já participou de algum processo de orientação profissional? Se sim, como foi? Como acredita que uma instituição de ensino deva contribuir para a inserção de alunos no mundo do trabalho? 127 III – GF3 Questões propostas para a sessão do grupo focal com diretores, coordenadores e docentes do Centro Universitário UNA -GF3 1. Perfil do aluno ProUni Quais são os elementos que caracterizam o perfil do aluno ProUni? Eles divergem daqueles que caracterizam os alunos de estratos sociais mais favorecidos? Se sim, como? Se não, em que são comuns? Como percebem a integração dos alunos do ProUni com os demais alunos dentro e fora da sala de aula? 2. A transição escola-trabalho Como acredita que ocorra o processo de transição escola-trabalho dos discentes do ensino superior? Em que momento essa transição ocorre? Percebe alguma dificuldade? Percebe alguma facilidade? Qual é o perfil de egresso do ensino superior desejável pelo mundo do trabalho? O aluno do ProUni apresenta esse perfil? Se não, o aluno ProUni apresenta características que poderiam ser consideradas positivas pelo mundo do trabalho? Se sim, quais? O professor exerce algum papel no processo de orientação profissional do aluno? Se sim, qual? Se não, acha que deveria exercer? De que forma? 128 Anexo A - Cópia do parecer da Plataforma Brasil 129 130 131