ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia O Mercado De Trabalho Informal Como Alternativa Na Cidade De Campina Grande-PB Ricardo Pereira Veras1; Suelen Santos Bezerra2; Roberto Pereira Veras3 ( UFCG) RESUMO Este trabalho tem como perspectiva apresentar a problemática do mercado de trabalho informal no município de Campina Grande-PB, cujo estudo de caso se dirigiu aos trabalhadores informais estabelecidos no espaço denominado Arca Titão, localizado na parte central da cidade. A metodologia trabalhada foi tanto a qualitativa quanto quantitativa, tendo sido alcançado os seguintes resultados Faixa etária, grau de escolaridade, Ambulantes com curso profissionalizante, experiência profissional, número de estabelecimentos por sexo, renda mensal, ocupação anterior, condição do estabelecimento. Palavra - Chave: Mercado informal; trabalho informal; desemprego; Poder Publico; Vitimas sociais ABSTRACT This work is to present the problem of perspective informal labor market in Campina Grande-PB, whose case study is directed to informal workers set in space called Titan Ark, located in the central part of the city. The methodology was worked both qualitative and quantitative, have been achieved the following results age group, education level, Ambulantes with vocational course, work experience, number of establishments by gender, income, occupation, previous condition of the property. Word - Key: Market informal, informal work, unemployment; Public Power; Victims social 1 2 3 (UFCG/ FIP / Campina Grande-Brasil; [email protected]; http://lattes.cnpq.br/7359199292746153) (UFCG/ Campina Grande- Brasil; [email protected]; http://lattes.cnpq.br/3671418215431503) (UFCG/ Campina Grande- Brasil; [email protected]; http://lattes.cnpq.br/0641802996742206) Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 194 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia 1. INTRODUÇÃO A economia da cidade de Campina Grande, sempre acompanhou e refletiu o 195 comportamento da economia nacional e, por conseguinte, também da internacional. Hoje, mais uma vez, reflete a tendência (inter) nacional apresentando elevado crescimento das taxas de desemprego e surgimento de um sub-setor dentro do setor terciário: o mercado de trabalho informal institucionalizado. A origem de Campina Grande está intrinsecamente relacionada à origem do comércio realizado pelos tropeiros e viajantes, que faziam a “ponte” entre o Litoral e o Sertão. Com sua vocação para o comércio, que durante dezenas de anos a colocou à frente de muitas grandes cidades no Nordeste e lhe concedeu a alcunha de “capital do trabalho” vem, nas três últimas décadas, enfrentando uma grave crise, no que se refere à extinção de postos de trabalho e à escassez na criação de novos postos (formais) de trabalho; este fenômeno se dá em parte, devido ao acelerado processo de modificação do mercado de trabalho exigente de mão-de-obra super-especializada e ao incremento na tecnologia de produção que, em detrimento do aperfeiçoamento das máquinas, exige cada vez menos mão-de-obra. Com o desenvolvimento do mundo Capitalista, a grande maioria da população dos vários países foi desapropriada dos meios e instrumentos de produção, passando a dispor, para vender, apenas de sua força de trabalho (ANDRADE, 1992). Para os expulsos dos postos de trabalho formais e para aqueles que ainda não conseguiram o primeiro emprego, pelas mais diversas razões, resta a alternativa de tornar-se autônomo. Em se tratando da realidade, significa: ingressar no mercado informal de trabalho, ou seja, virar camelô, vendedor ambulante ou microempresário. No Brasil sobretudo em Campina Grande, esta forma de trabalho vem ganhando cada vez mais adeptos devido à falta de oportunidades no mercado formal. A presença dos trabalhadores na rua, vendendo agulha para desentupir fogão, CD’s, vale-transporte, envelopes, frutas e tapioca, enfim, tudo que se possa imaginar somando-se a isto observa-se ainda crescente, em todas as grandes cidades, na criação de camelódromos; Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia espaços destinados a fixar os trabalhadores que lotam as ruas e avenidas, obstacularizando as calçadas. De acordo com Noronha (2003), a “informalidade” deriva da condição de um país em desenvolvimento no qual muitas atividades não são suficientemente atrativas para o investimento capitalista. Neste contexto se propõe, nesta pesquisa, analisar um destes espaços destinados à fixação dos, antes vendedores ambulantes, na denominada Arca Titão área de estudo, que está situada na parte central do município de Campina Grande, entre a Avenida Floriano Peixoto e a Rua Treze de Maio. O espaço foi escolhido por se constituir de um grande número de trabalhadores informais (ex-ambulantes) que apresentam perfis múltiplos, tanto no que diz respeito ao tipo de comércio quanto às características profissionais. Baseado no proposto, o presente trabalho teve, como objetivo principal, levantar o perfil dos trabalhadores da Arca Titão e identificar suas dificuldades, além de procurar diagnosticar o porquê da opção pelo mercado informal de trabalho. Este diagnóstico serviu para mostrar a faixa etária, o nível de escolaridade, o grau de profissionalização e o número de estabelecimentos em funcionamento e o número de trabalhadores que estão fixados no local desde sua criação, além de buscar elementos que possibilitassem compreender os motivos que os levaram a optarem por este tipo de trabalho. O mercado interno tornou certo aspecto de estabilidade, mesmo sem ter independência econômica que lhe indicou os rumos a tomar para concretização de um grande centro de atividades mercantis que viria a ser dentro em breve (Câmara, 1988, p.55). Objetivou-se através deste trabalho, proporcionar uma visão reveladora acerca da situação do mercado informal realizado na cidade de Campina Grande, para tanto tomou, como objeto de estudo, a Arca Titão, com o intuito de explicitar a realidade local e sua relação com a atual estrutura econômica da cidade e do Brasil. 2. METODOLOGIA Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 196 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia Como na maioria das pesquisas realizadas na área do mercado de trabalho, nesta se utilizou o método analítico descritivo com uma abordagem qualitativa. Quanto aos procedimentos, a pesquisa pode ser classificada como bibliográfica documental e de levantamento diagnóstico. 197 Os procedimentos metodológicos preliminares para a realização da pesquisa, foram os seguintes: elaboração de um plano de abordagem sistemática, reconhecimento “in loco” da área, a fim de se obter uma noção mais precisa do espaço da pesquisa, elaboração do questionário, roteiro para as entrevistas e levantamento dos documentos referentes à área em estudo. Simultaneamente, realizou-se o levantamento bibliográfico, cuja busca previa uma bibliografia que fornecesse, além das informações de caráter teórico sobre o mercado informal, os instrumentos para realização da análise dos dados coletados. A pesquisa empírica foi realizada através do levantamento de informações nos documentos e relatórios dos seguintes órgãos públicos: INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), SINE (Sistema Nacional de Emprego), Ministério do Trabalho, SEPLAM (Secretaria de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente), Secretaria de desenvolvimento Urbano; pesquisou-se o acervo das bibliotecas da UFCG e da UEPB e, primordialmente,aplicaram-se questionários e se realizaram entrevistas (mais conversas informais) com os comerciantes da Arca Titão. Foi elaborado e aplicada quatorze questões para os trabalhadores informais, cujo objetivo era detectar o perfil, faixa etária, grau de escolaridade, quantidade de pessoas com curso profissionalizante, experiência profissional, distribuição dos estabelecimentos por sexo, renda mensal, ocupação anterior, período de funcionamento, identificação dos compradores e, ainda, tentar descobrir as dificuldades encontradas para se trabalhar na arca. Todas as informações coletadas foram valiosas para subsidiar este trabalho. Como já referido, a pesquisa bibliográfica serviu para instrumentalizar e fornecer, subsidio sobre o que foi mostrado, isto é, com esta pesquisa se observou a realidade da forma mais objetiva possível, analisando-a e buscando formas de Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia contribuir, de alguma maneira, para a conscientização dos órgãos públicos acerca da situação do mercado informal do município. 3. APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS RESULTADOS A pesquisa foi realizada na Arca Titão, com os comerciantes locais, funcionários do INSS, Ministério do Trabalho, SEPLAM, PMCG e do SINE, com o objetivo de apresentar o espaço que acolhe o comércio informal, em parte ilegal, de forma institucionalizada e “legalizada”. Através da aplicação de questionários semi-abertos e entrevistas, da pesquisa documental e bibliográfica, buscaram-se informações necessárias para fundamentar a análise e auxiliar no sentido de se aproximar o mais possível da realidade. Para uma percepção melhor sobre o objeto estudado, serão apresentados gráficos e quadros acerca do mercado informal realizado na Arca Titão. A pesquisa para levantamento dos dados foi realizada entre os meses de setembro e outubro de 2011. Responderam ao questionário 30 comerciantes da Arca; no caso das entrevistas, realizadas com alguns vendedores, elas assumiram mais caráter informal, visto que os mesmos não aceitarem a formalização de suas opiniões. O questionário continha 14 questões voltadas à coleta de informações relacionadas à idade, ao nível de escolaridade, à experiência profissional, dentre outros aspectos relevantes para a elaboração do perfil dos comerciantes da Arca. Dentre os objetivos se pretendia detectar os profissionais inseridos no mercado informal, as dificuldades enfrentadas e os motivos por optarem pelo mercado informal de trabalho. Foram realizadas também entrevistas com os funcionários da Arca Titão que forneceram uma série de informações valiosas para subsidiar este trabalho. De acordo com os dados obtidos chegamos aos seguintes resultados: a) Faixa etária dos comerciantes pesquisados da Arca TITÃO: Em sua maioria, a faixa etária dos comerciantes, se concentra acima dos 40 anos (Gráfico 1); dos 30 ambulantes entrevistados, 21 tinham idade superior a 40 anos; enquanto os demais se apresentavam da seguinte forma: 1 pessoa com idade entre 15 a Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 198 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia 20 anos; 3 com idade entre os 21 a 25 anos e 5 pessoas com idade de 26 a 30, fato que leva a se comprovar que em Campina Grande também se excluem do mercado informal, as pessoas com idade relativamente avançada (mais de 40 anos) para o mercado formal de trabalho. O outrossim, muitos desses comerciantes, com idade relativamente avançada para trabalhar, já deveriam estar gozando de uma aposentadoria digna; com isso se vêem obrigados a trabalhar para conseguir uma renda extra e para sua sobrevivência. Faixa etária Número de comerciantes 15 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos Acima de 40 anos 1 3 5 21 Gráfico 1: Faixa etária dos ambulantes da Arca TITÃO Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras b) Grau de escolaridade dos comerciantes: Os dados obtidos acerca do nível de escolaridade dos comerciantes da Arca Titão, mostraram ser baixos; dos 30 ambulantes pesquisados entre 15 a 20 anos, 12 tinham freqüentado a sala de aula de 1 a 4 anos referente ao ensino fundamental, com idade variando dos 21 aos 25 anos; apenas 13 concluíram o ensino fundamental; de 26 a 30 anos apenas 4 o concluíram e acima dos 40 anos apenas 1 concluiu o ensino fundamental; dos que freqüentaram a escola por um período de 9 a 11 anos, o equivalente ao nível médio completo, tem-se o seguinte entre os 30 (gráfico 2): dos trabalhadores entre 15 a 20 anos, apenas 6 completaram o ensino médio; entre os de 21 a 25 anos 9 completaram o ensino médio; já entre 26 a 30 anos, somente 7 concluíram os anos escolares referentes ao ensino médio, e acima de 40 anos nenhum dos pesquisados chegou a completar 8 anos de estudo. Observou-se, portanto que o nível intelectual tem influência direta na migração para o mercado de trabalho formal. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 199 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia Faixa etária Escolaridade de 1 a 4 anos Escolaridade de 9 a 11 anos 15 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos Acima de 40 anos 12 13 4 1 6 9 7 0 200 Gráfico 2: Faixa de escolaridade dos ambulantes da Arca TIÃO Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras c) Ambulantes com curso profissionalizante da Arca TITÃO: Quanto ao número de comerciantes que possuem curso profissionalizante, observou-se que dentre os 30 entrevistados, foi constatado que na faixa etária entre 15 a 20 anos apenas 2 possuem curso profissionalizante; entre os 21 a 25 anos, apenas 6 possuem cursos de habilidade específica (sapateiro, engraxate e outros); já dos 26 aos 30 anos, apenas 4 possuem algum tipo de curso de formação; acima dos 40 anos, constatou-se que 18 pessoas completaram o curso profissionalizante ou uma profissão com a qual trabalharam durante muitos anos (Gráfico 3). A constatação da falta de qualificação profissional revela a opção pelo mercado informal como uma das alternativas possíveis diante de um mercado de trabalho que exige mão-de-obra altamente especializada. Segundo Marcos Vinicius, um dos ambulantes entrevistados “considera que está alternativa de trabalho informal é a sua profissão, mesmo não tendo comprovação oficial, mas é a última forma de trabalho para pessoas honestas antes do crime afirmou ele”, mas que está satisfeito pois consegue, na Arca, dinheiro mínimo para sua sobrevivência, com honestidade. Faixa etária Curso profissionalizante sim 15 a 20 anos 21 a 25 anos 2 6 Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 Curso profissionalizante não 0 0 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - 26 a 30 anos Acima de 40 anos Geografia 4 18 0 0 Gráfico 3: Ambulantes com curso Profissionalizante Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras 201 d) Experiência Profissional dos comerciantes pesquisados: No que diz respeito à quantidade de comerciantes que possuem experiência profissional anterior, ficou constatado que todos já possuíam algum tipo de trabalho antes de se tornarem comerciantes na Arca. Mas devido aos baixos salários pagos pelos empregadores, optaram pelo serviço informal, mesmo sabendo dos riscos existentes no campo da informalidade. Na verdade, a partir das leituras realizadas e da observação de campo, foi possível afirmar que estes comerciantes estão fora do mercado formal de trabalho não apenas porque os salários são baixos, mas principalmente por não possuírem a qualificação profissional adequada e exigida atualmente no mercado de trabalho formal. Faixa etária Experiência profissional sim 15 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos Acima de 40 anos 2 3 5 20 Experiência profissional não 0 0 0 0 Gráfico 4: Experiência Profissional Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras e) Número de estabelecimentos por sexo na Arca TITÃO: Quanto ao sexo dos comerciantes por estabelecimento, observou-se os seguintes dados: dentre os 30 comerciantes entrevistados ( Geafico 5), 10 estabelecimentos são administrados por mulheres e 20 por homens e se encontram assim distribuídos: femininos há 1 mulher com idade inferior a 20 anos, na faixa etária entre os 21 a 25 Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia apenas 2 , dos 26 aos 30 anos apenas 2 estabelecimentos administrados por mulheres, acima de 40 se encontram 5 estabelecimentos administrados por mulheres com relação aos administrados por homens,o quadro e o seguinte: entre os 15 e 20 anos, apenas 1 homem; dos 21 a 25 anos, 5 ; dos 26 a 30 anos se encontram 6 homens e acima de 40 são 8 estabelecimentos administrados por homens. Faixa etária Feminino 10 estabelecimentos Masculino 20 estabelecimentos 15 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos Acima de 40 anos 1 2 2 5 1 5 6 8 Gráfico 5: Número de estabelecimento por sexo Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras f) Renda Mensal dos pesquisados: Constatou-se que, no âmbito da renda média (gráfico 6) dos pesquisados com idade de 15 a 20 anos apenas 1 pessoa ganha ½ salário mínimo; de 21 a 25 anos, 2 pessoa ganha 1/5 do salário e 2 ganham 1 salário mínimo; já entre os pesquisados com idade de 26 aos 30 anos, 2 ganham 1/5 do salário, enquanto 3 recebem 1 salário. Foi observado ainda, que entre os ambulantes com idade acima de 40 anos 8 ganham 1/5 do salário, 10 recebem 1 salário e apenas 2 ganham acima de um salário. Segundo Carlos Alberto Silva, vendedor que chegava a tirar por semana de 80 a 100 reais logo que começou a trabalhar como camelô, hoje não é mais possível ganhar muito devido à enorme quantidade de vendedores, o que ocasionou forte abalo na sua renda; atualmente, chega a fazer em torno de 30 a 50 reais por semana mas, segundo ele, tem que trabalhar muito para conseguir este valor. Faixa etária ½ salario 1 salario Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 1/5 salarios 2 salarios 202 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - 15 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos Acima de 40 anos Geografia 1 2 3 10 2 2 8 2 Gráfico 6: Renda Mensal dos pesquisados da Arca TITÃO Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras g) Ocupação Anterior dos comerciantes da Arca TITÃO: Buscou-se observar qual a ocupação ou atividade desenvolvida anteriormente pelos comerciantes informais pesquisados, com o intuito de se analisar a origem dessa mão-de-obra. Conforme os dados da pesquisa, 30% dos pesquisados são oriundos de empresas privadas, 20% são autônomos, 16,6% estavam desempregados e encontraram, na Arca Titão, como um meio de trabalho, 10% são estudantes, 20% são aposentados e 3,3% donas de casa, salientando-se que, neste caso, na maioria das vezes a comerciante não deixa de ser dona de casa, mas ela passa a exercer uma jornada dupla, assumindo o negócio ( Quadro 3). Quantidade % Funcionário(a) público 0 0 Funcionário de empresa privada 9 30 Autônomo 6 20 Desempregado 5 16.6 Estudante 3 10 Agricultor 0 0 Dona de casa 1 3.3 Aposentado 6 20 Total 30 100 Quadro III - Ocupação anterior Fonte: Pesquisa de campo – Ricardo Veras h) Condição dos estabelecimentos Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 203 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia A pesquisa mostrou que 100% dos estabelecimentos são próprios, haja vista que é vedada qualquer forma de repasse por parte dos comerciantes do local, como afirma o Art. 34. do regimento interno das arcas (em Anexo): “Não será permitido aos concessionários, em nenhuma hipótese, o repasse de quaisquer dos boxes ou lojas pertencentes ao empreendimento, a titulo gratuito ou oneroso.” No entanto, através das declarações informais se soube que não é bem assim que funciona; os estabelecimentos realmente não são oficialmente vendidos mas podem ser cedidos ou até mesmo alugados informalmente. Condição do local Quantidade % Próprio 30 100 Alugado 0 0 Cedido 0 0 Quadro IV - Condição dos estabelecimentos Fonte:: Pesquisa de campo – Ricardo Veras i) Período de Funcionamento da Arca TITÃO: Outro elemento importante para uma percepção mais abrangente em relação ao espaço pesquisado, diz respeito ao período de funcionamento do negócio. Os estabelecimentos funcionam diariamente 100% pois, segundo o regimento interno, as lojas, boxes e barracas instalados no interior das arcas devem funcionar de segunda a sábado, entre as 06h00 e 19h00 (Quadro 5). Período de Funcionamento Quantidade % Diariamente 30 100 Durante a semana 0 0 Sem período definido 0 0 Quadro V - Período de funcionamento da Arca TITÃO Fonte: Arquivo pessoal – Ricardo Veras j) A quem os comerciantes da Arca comercializam Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 204 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia O mostra que o consumidor da Arca Titão se compõe de duas modalidades: o consumidor direto ou seja, aquele que compra apenas para seu próprio consumo e o consumidor e intermediário aquele que, além de comprar para seu próprio consumo, também compra para revender, não constatando a venda a pessoas meramente intermediárias ou a outros comerciantes, razão pela qual seria de extrema importância à aplicação de recursos e incentivos de políticas de atração de consumidores à arca, mas salvo a dificuldade de proporcionar políticas de atração haja vista que no ART. 8 0 do regimento interno em (Anexo) os concessionários e usuários não poderão fazer cartazes comerciais ou distribuir folhetos nas áreas de comuns das ARCAS’s sem previa concordância da Administração, dificultando ainda mais o comércio local. A quem vende Quantidade % Consumidor direto 24 80 Consumidor e Intermediário 6 20 Intermediário 0 0 Outros comerciantes 0 0 Quadro V - Período de funcionamento da Arca TITÃO Fonte: : Arquivo pessoal – Ricardo Veras 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O surgimento da problemática do desemprego no Brasil tem relação direta com o nascimento do capitalismo no País, desde a sua gênese pautada em políticas e modelos econômicos inadequados à realidade. Os modelos aqui desenvolvidos sempre foram concentradores de riquezas, a medida em que foram se sucedendo foram gerando, além da mão-de-obra formalmente aproveitada, um grande contingente de trabalhadores excedentes que deixava de ser aproveitada, restando-lhes as atividades secundárias como alternativa. Nesta perspectiva, o presente trabalho tive por meta fornecer uma Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 205 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia simples contribuição na análise do setor informal de trabalho, especificamente da cidade de Campina Grande, a fim de investigar quem são os trabalhadores que o compõem. Desde o início do seu processo de formação já se observava, no Brasil, a existência de trabalhadores que não possuíam condição de trabalho digno, como os índios e os escravos negros que atuaram, respectivamente, na extração do pau-brasil e na produção da cana-de-açúcar. A relação dos setores produtivos, brasileiro com a mãode-obra, praticamente não se altera com o declínio da produção açucareira. A ascensão e a crise do café só fizeram aumentar o número de desempregados, que já era considerável após a substituição da mão-de-obra escrava pelos dos imigrantes europeus aqui estabelecidos para o trato com a produção cafeeira. Contingente este de desempregados que se constituiu no embrião de um novo setor, hoje conhecido como mercado de trabalho informal. Com o passar dos anos, o setor informal de trabalho só cresceu; vários motivos foram gradativamente surgindo, agravando a situação: o êxodo rural, que expulsou milhões de pessoas do campo, na sua maioria atraídos para a cidade, devido ao desenvolvimento industrial, principalmente durante os anos 1950 que, após duas décadas de desenvolvimento, viria a sofrer com nova crise, em 1973 - a crise do “petróleo”; esta nova crise provocaria desemprego em massa, fato associado ao inchaço dos grandes centros e, somado à mão-de-obra que já não havia sido absorvida, levaram grande parte de brasileiros que habitam nos grandes centros, a viverem do subemprego ou de atividades informais, o que tornaria as condições de subsistência cada vez mais precárias; esta outra fase em que o mercado de trabalho brasileiro ingressa conduziria ao longo das décadas vindouras, a um aumento geométrico do número de trabalhadores jogados na informalidade. Atualmente, é muito comum se deparar com uma situação merecedora de cuidados e preocupação, pois é grande o número de desempregados que batem às portas das grandes e pequenas fábricas e até mesmo das residências, em busca de algum trabalho. A situação está bem grave que as pessoas estão se submetendo a qualquer condição de trabalho, qualquer tipo de salário – inclusive salário abaixo do mínimo legalmente estabelecido, o que implica dizer que a mão-de-obra flutuante e sem rumo Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 206 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia não exige o cumprimento da lei. Quanto ao tipo de trabalho, aceitaram qualquer oferecido, como os bicos ou biscates, definido no Dicionário Aurélio como “trabalho de pouca monta”, ou seja, pouca importância, até certo ponto humilhante para profissionais de determinadas áreas, muitos dos quais especialistas em algumas funções mas que, devido às exigências de (super) especialização, não encontram mais trabalho. Em conseqüência da implantação de novas tecnologias nas indústrias,o Brasil vem expulsando de suas fábricas e empresas os trabalhadores não qualificados; cuja maior parte busca, nas ruas ou no trabalho informal, alternativas, de sobrevivência fato que cada ano vem aumentando, sobretudo nos grandes centros. No caso de Campina Grande a crise tem início também na década de 1970. O sistema capitalista, como um todo, provoca quedas substanciais de lucratividade e produtividade, trazendo um reajuste natural da economia, através de um intenso processo de reestruturação produtiva. Campina Grande, juntamente como os outros municípios brasileiros, não ficou de fora da crise, a indústria local sofreu diminuição da produção, alguns sub-setores sofreram, inclusive falência; começaria aí o processo de agravamento da falta de empregos na cidade e do conseqüente surgimento do setor informal de trabalho, de caráter bem consolidado, no qual se colocaria um grande contingente de trabalhadores nas ruas do município. Na Arca Titão, local onde a pesquisa suporte desta monografia foi realizada, se encontram dezenas de trabalhadores, garantindo através da função que ali exercem, o sustento de suas famílias; são pessoas exercendo atividades tidas como informais ou de pequeno porte, são os representantes fiéis, um retrato do que vem acontecendo com os desempregados brasileiros, assim como com aqueles que buscam o primeiro emprego e não possuem qualificação: estão sendo institucionalmente enquadrados em espaços legais como praticantes de atividades de trabalho informal, ou seja, na formalização da informalidade. A Arca Titão é um desses espaços estratégicos de sobrevivência onde a informalidade (e às vezes a ilegalidade) se torna institucionalizada e reconhecida pelas autoridades como alternativa de trabalho viável. A partir da presente pesquisa, foi possível perceber quem, na realidade, são os trabalhadores informais do município de Campina Grande: uma população de baixa Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 207 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia renda e com pouca instrução; Observou-se que os comerciantes da Arca, ainda que grande parte tenha experiência profissional, não possui qualificação profissional, fato que dificulta o seu acesso mercado de trabalho formal, que se torna cada vez mais inacessível em decorrência da falta de oportunidades para se capacitarem; poderiam contar com a ajuda e apoio governamental, sendo que este pouco investe na qualificação desse grupo de trabalhadores; mesmo assim, é possível perceber uma preocupação constante dos trabalhadores quanto aos futuros, já que não possuem nenhum tipo de seguridade social e ficam aguardando algum tipo de política pública que os beneficie. Os comerciantes (trabalhadores informais) da Arca titão possuem faixa etária considerada alta em relação ao acesso ao mercado formal de trabalho; a maioria apresenta idade acima dos 40 anos. Em relação ao nível de escolaridade os comerciantes não possuem em sua maior parte, nível de escolaridade adequado para uma colocação melhor no mercado de trabalho, tornando claro o porquê de ter restado o trabalho no mercado informal e as ruas como alternativa de sobrevivência. Em relação ao aspecto da experiência profissional, notou-se que todos os entrevistados têm experiência profissional em algum campo de trabalho mas esta experiência, no entanto, não os torna aptos a ocuparem uma vaga no mercado de trabalho formal que hoje, além de exigir a experiência, requer alta qualificação profissional. Constatou-se, ainda, que a maior parte dos comerciantes da Arca Titão já trabalhou em empresas particulares e, por fatores vários, foram demitidos e tiveram, como alternativa, para sobrevivência, o mercado informal e, no caso, a sorte de terem sido contemplados com uma vaga na Arca, porém a fragilidade das atividades pode ser observada pelo faturamento. já que o nível da renda obtida é inferior a 2 salários mínimos. Em uma economia capitalista é comum a competição entre pequenos trabalhadores e quem sai em desvantagem são eles mesmos, pois a concorrência só beneficia os grandes capitalistas e nunca os pequenos, micros ou médios. A luta pela participação na renda do consumidor é grande no que diz respeito ao mercado de produtos; os grandes capitalistas não procuram ajudar aqueles que lhes dão base e sustentabilidade. Por isto, é imprescindível a união de todos nesta luta, que não é Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 208 ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Geografia unicamente dos desempregados e iniciantes no mercado de trabalho mas, também, de toda a sociedade, que precisa caminhar sempre, participando da comunidade com dignidade e desejo de progresso em todos os sentidos. Por fim, salienta-se que a pesquisa de campo foi de suma importância para comprovar e compreender o que vem ocorrendo com o mercado de trabalho no Brasil e em Campina Grande. Demonstra, ainda que o mercado de trabalho informal é, na realidade, o segmento que mais vem “empregando” em todo o Brasil, constituindo-se na principal alternativa de sobrevivência, independente das estratégias que se vem utilizando para existir e resistir. 5. BIBLIOGAFIA ANDRADE, Manoel Correia de. Ciência da sociedade brasileira. São Paulo: Atlas, 1992. CAMARA, Epaminondas. Os Alicerces de Campina Grande. Campina Grande: Caravela, 1999. NORONHA, Eduardo. Revista brasileira de Ciências Sociais. São Paulo: brasiliense 2003. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11 209