Abertura Boas Vindas Tema do Congresso Comissões Sessões Programação Áreas II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores Títulos Trabalho Completo O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA NAS MODALIDADES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA Sandra Regina Gardacho Pietrobon, Angela Maria Corso, Miriam Adalgisa Bedim Gogoy Eixo 8 - Educação a distância na formação de professores - Relato de Experiência - Apresentação Oral Este relato de experiência tem como objetivo apresentar os elementos organizativos do estágio supervisionado no curso de Pedagogia, nas modalidades presencial e a distância da Universidade Estadual do Centro Oeste, do Campus de Irati – Paraná. O estágio é um dos pilares do curso de Pedagogia, para tanto, possui espaço no seu currículo em quatro áreas distintas: educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental, matérias pedagógicas do ensino médio (magistério) e, na gestão educacional. O curso de Pedagogia possui um total de aproximadamente 300 alunos na modalidade presencial e 250 alunos na modalidade a distância. Na modalidade a distância, o curso é desenvolvido por meio da Plataforma Moodle pela Universidade Aberta do Brasil – UAB, sendo que os alunos do curso são professores que atuam na rede pública e, todavia, ainda não possuem a formação em Pedagogia. Em ambas as modalidades o curso é integralizado em quatro anos, com estágios semestrais a partir do 3º ano, organização implementada em função das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Pedagogia (1996). Além das práticas vivenciadas nas instituições de ensino, os acadêmicos do curso tem a possibilidade de participarem de seminários finais em cada área desenvolvida, o que mobiliza a reflexão sobre a ação realizada. Embora se tenham muitos pontos favoráveis no que tange a essa organização, percebe-se que há a necessidade de um melhor acompanhamento in loco dos estagiários, o que é inviabilizado pelo grande número destes e apenas um (01) professor supervisor. Diante dessa fragilidade, espera-se que, possa-se discutir e buscar vias de melhoria no campo de estágio, considerando este como espaço de construção da identidade docente. Palavras-chave: Estágio supervisionado. Curso de Pedagogia. Educação a distância e presencial. Apoio: Fundação Araucária 11360 Ficha Catalográfica O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA NAS MODALIDADES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA Sandra Regina Gardacho Pietrobon (Depto de Pedagogia-UNICENTRO/I), Angela Maria Corso (Depto de Pedagogia-UNICENTRO/I), [email protected] Miriam Adalgisa Bedim Godoy (Depto de Pedagogia – UNICENTRO/I), e-mail: [email protected] Eixo temático: Educação a distância na formação de professores Introdução O presente trabalho 1 tem como objetivo apresentar alguns aspectos do estágio supervisionado curricular no curso de Pedagogia, da UNICENTRO, Campus Irati-PR, nas modalidades presencial e a distância, enquanto um relato da organização dos mesmos na proposta curricular. Apresentam-se as etapas e áreas de estágio que são desenvolvidas no curso, considerando a obrigatoriedade legal dessa prática. O estágio é entendido como espaço de socialização e construção da identidade do pedagogo, portanto, é um dos pilares do curso de formação. O ponto fundamental, que se busca estabelecer nas ações de estágio supervisionado, é a relação teoria-prática, como eixo norteador do trabalho do professor que desenvolve a disciplina no curso de formação, bem como a orientação da ação do estagiário nas instituições de ensino. O estágio supervisionado no curso de Pedagogia O estágio supervisionado é parte da formação curricular do professor pedagogo, como também, é a possibilidade de contato com a realidade à qual será inserido como profissional da educação. O estágio possibilita, na prática, a “vivência das relações sociais com os sujeitos do cotidiano escolar” (FONTANA; GUEDES-PINTO, 2002, p. 9). Além disso, o estágio associa a relação teoria-prática, no que se refere às epistemologias pedagógicas, administrativas, jurídicas e financeiras da unidade 1 Agradecemos à Fundação Araucária pelo apoio financeiro à divulgação do trabalho. 1 11361 escolar. Nesse sentido, o estágio é o momento em que o acadêmico vai até a escola para conhecê-la e desenvolver várias atividades, espaço esse que será seu futuro campo de trabalho. Assim, o estágio supervisionado possibilita a articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão, pois dialoga com as teorias confrontando, ressignificando, ampliando e socializando os conhecimentos. Dessa maneira, não devemos dicotomizar a teoria da prática e, sim, ter um olhar dialético sobre essas. Para Fávero (2001), tanto a teoria quanto a prática devem ser consideradas como o âmago mediador na formação do professor. Logo, esses dois eixos devem estar articulados de forma integrada, indissociável e complementar. O olhar dialético possibilita a ação reflexiva do professor orientador do estágio, assim como do estagiário. Isto porque os elementos apreendidos no campo de estágio não são objetos de críticas e de denúncia, mas sim, materiais de estudo e de aprofundamento teórico e prático, com vistas a propiciar uma nova amplitude e profundidade do olhar do professor no contexto de sua prática cotidiana. Para Barreiro e Gebran (2006, p.22), “a aquisição e a construção de uma postura reflexiva pressupõe um exercício constante entre a utilização dos conhecimentos de natureza teórica e prática na ação e a elaboração de novos saberes, a partir da ação docente”. Diante do exposto, fica evidente a relevância do estágio supervisionado na formação inicial e continuada do profissional da educação. Pimenta e Lima (2004, p.34) compreendem “o desenvolvimento do estágio como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade”. Assim, sintetiza-se que, o olhar de pesquisador frente à realidade iniciase, ainda, nas práticas do estágio supervisionado no curso de formação de professores. Ainda, para Barreiro e Gebran (2006, p. 90), “o estágio não se resume à aplicação imediata, mecânica e instrumental de técnicas, rituais, princípios e normas aprendidas na teoria. O estágio é o ponto de convergência e equilíbrio entre o aluno e o professor”. Dessa maneira, estes sujeitos necessitam ter o diálogo e a discussão presentes no processo, considerando o estágio como espaço crucial de formação. O estágio curricular pode se constituir no locus de reflexão e formação da identidade ao proporcionar embates no decorrer das ações vivenciadas pelos alunos, desenvolvidas numa perspectiva reflexiva e crítica, desde que efetivado com essa finalidade. O processo curricular não pode ser unilateral, ele demanda proposições reflexivas do curso formador, dos docentes e dos alunos. Dessa forma, a identidade que o curso pretende legitimar deverá ser explicita nos paradigmas formativos e vivenciada na prática formativa. Isso exige um exercício constante de reflexão a respeito da 2 11362 problemática relação entre teoria e prática e na busca de alternativas para equacioná-la (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 20). Na mesma linha de raciocínio, Buriolla (1999, p.10), sinaliza que o estágio é: O lócus onde a identidade profissional é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativa e sistematicamente com essa finalidade. O futuro professor pode gestar a sua identidade profissional por meio do arcabouço teórico e de suas experiências junto ao coletivo de seus pares e das suas relações educativas. Conforme Dubar (1997, p.13) [...] a identidade humana não é dada, de uma vez por todas, no ato do nascimento: constrói-se na infância e deve reconstruir-se sempre ao longo da vida. O indivíduo nunca constrói {sua identidade] sozinho: depende tanto dos julgamentos dos outros, como das suas próprias orientações e autodefinições. [Assim] a identidade é produto de sucessivas socializações. Em relação à identidade docente, Pimenta e Lima (2004, p. 63) elencam alguns elementos que merecem procedimentos de pesquisa no estágio supervisionado, como por exemplo: a profissão docente; a qualificação; a carreira profissional; as possibilidades de emprego; a ética profissional; a competência técnica e o compromisso político. As autoras sinalizam que os aportes teóricos do currículo, da didática e de prática de ensino contribuem significativamente para compreender a própria prática pedagógica que ocorre nas escolas. No que se refere à identidade profissional, é importante que ela seja, [...] analisada na perspectiva individual e coletiva. Enquanto a primeira é constituída pela história – a experiência pessoal, que se expressa no sentimento de originalidade e continuidade -, a segunda é uma construção desenvolvida no interior dos grupos e das categorias que se estruturam na sociedade, conferindo à pessoa um papel e um status social (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 112-113). Nesse aspecto, as autoras supracitadas destacam que a possibilidade de estágio na escola não é para o aluno estagiário apenas observar a aula. A maneira e os procedimentos, com que o professor conduz a classe, são para além do verificado e 3 11363 diagnosticado, é um espaço de possibilidades investigativas e questionamentos onde a identidade do professor é constituída individual e coletivamente. A experiência no cotidiano escolar contribui para a construção da identidade profissional do estagiário, fazendo com que futuramente ele assuma determinadas posturas e consolide suas ações e intenções. Por meio de critérios, objetivos e subjetivos, nesse momento de sua trajetória acadêmica, os futuros professores e pedagogos estão fazendo escolhas (MIRANDA, 2008, p. 18) Portanto, refere-se a uma identidade em gestação, fundamentada em saberes instituídos pela constatação e pelo confronto desses saberes nos espaços educacionais e a ressignificação desses saberes. O estágio deve ser visto numa perspectiva de ritual de passagem, onde as atividades desenvolvidas contribuam para a reafirmação da escolha por essa profissão e de crescimento pessoal objetivando que, ao término deste, os acadêmicos possam dizer “abram alas para a minha bandeira, porque está chegando a minha hora de ser professor” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 100). A identidade constrói-se, então, nos momentos em que os professores em formação mobilizam saberes que podem resultar em experiências cruciais para a análise e reflexão da prática pedagógica. Elementos componentes do estágio curricular nas modalidades presencial e a distância O curso de Pedagogia, nas modalidades presencial e a distância, está organizado de forma a propiciar a experiência do estágio supervisionado em quatro áreas: Educação Infantil, Séries Iniciais do ensino fundamental, Matérias Pedagógicas do ensino médio e, Gestão Educacional. Segundo as Diretrizes Nacionais do curso de Pedagogia, o estágio curricular é visto como momento de estudo que deverá ser realizado, ao longo do curso, em Educação Infantil e nos Anos Iniciais do ensino fundamental, em disciplinas pedagógicas dos cursos de nível médio, na modalidade Normal e/ou de Educação Profissional na área de serviços e de apoio escolar, ou ainda, em modalidades e atividades como educação de jovens e adultos e na gestão dos processos educativos, como: planejamento, implementação e avaliação de atividades escolares e de projetos, reuniões de formação pedagógica, de modo a assegurar aos graduandos experiências de exercício profissional em ambientes escolares e não escolares. 4 11364 No entanto, apesar das diretrizes curriculares sugerirem os estágios nos espaços não escolares, de educação não formal, considera-se na proposta do curso a docência e a gestão em espaços escolares como a especificidade e a identidade do curso de pedagogia e, com esse fim, os estágio curriculares foram elaborados. No que se refere às disciplinas relacionadas aos estágios, no curso de Pedagogia presencial, no 3º ano do curso conta-se com uma disciplina de 68 horas/aula de estágio supervisionado em educação infantil e, outra de 68 horas/aula de estágio supervisionado nas séries iniciais, com uma organização semestral. Quanto à operacionalização na escola, ambas as áreas contemplam 60 horas de efetiva prática no cotidiano de Centros de Educação Infantil e escolas da rede municipal de séries iniciais, além de carga horária destinada para a organização de relatório das ações realizadas, no intuito de que se reflita sobre o que fora realizado e, também, o fechamento das práticas em apresentação de seminários das disciplinas. No estágio o acadêmico tem condição de pensar e agir sobre as várias nuances da Educação Infantil, já estudadas nas disciplinas teóricas. Por exemplo, o estabelecimento da rotina na Educação Infantil, a variação de atividades e sua organização no tempo, a construção do espaço físico e pedagógico. A interação da família-escola-comunidade e a convivência no cotidiano do trabalho na instituição de Educação Infantil. O foco da prática pedagógica nas Séries Iniciais tem sido os conteúdos fornecidos pelos professores regentes de turmas em que os acadêmicos atuam. Estes elaboram planos de ensino ou de aulas, preferencialmente, com cunho interdisciplinar, atendendo aos itens: temática, objetivos, esquematização dos conteúdos (embasamento teórico da aula), desenvolvimento (pauta, etapas a ser seguida), avaliação, recursos, referências. Nesse caso, para Pietrobon (2009) os acadêmicos necessitam mobilizar saberes curriculares, disciplinares e profissionais, trabalhados no curso de formação de professores. Já no 4º ano do curso, tem-se uma disciplina de 68 horas/aula de estágio supervisionado nas matérias pedagógicas do ensino médio e, outra disciplina de 68 horas/aula de estágio supervisionado em gestão educacional. O estágio no Ensino Médio é realizado, prioritariamente, nos cursos de formação docente, nas disciplinas pedagógicas. A formação do professor para essa modalidade constitui-se, de acordo com as novas diretrizes, atribuição do licenciado em Pedagogia. Contudo, a falta de demanda para atender à necessidade de colocação dos acadêmicos no estágio na 5 11365 formação docente, neste nível de ensino, tem gerado novos desafios, principalmente, em relação à questão de inserir os acadêmicos para estagiarem nas disciplinas de filosofia e sociologia, no ensino médio. Porém, esses novos desafios trazem questões importantes e necessárias para a formação do pedagogo que irá atuar nesta etapa de ensino, independentemente se na docência, na função de pedagogo ou na gestão escolar. Pois nesse caso, os acadêmicos se deparam com outras questões específicas desta etapa de ensino, nas suas diferentes formas de organização curricular, ensino médio integrado, geral, em bloco, na modalidade EJA ou, ainda, o ensino médio noturno, também este com suas especificidades. A prática pedagógica tem sido organizada a partir dos conteúdos sugeridos pelos professores regentes de turmas em que os acadêmicos atuam. Quanto ao estágio na Gestão Escolar, a proposta de estágio em questão atende ao prescrito nas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Pedagogia (BRASIL, 2006), na qual a gestão é entendida como a organização do trabalho pedagógico em termos de planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação nos sistemas de ensino. A organização do estágio curricular da gestão está relacionada às etapas comuns no estágio da docência, porém com sua especificidade - observação, participação e atuação na organização do trabalho escolar, que compreende o currículo, a organização pedagógica (planejamento, metodologias, organização dos níveis escolares e modalidades, horários, calendários, distribuição de alunos por classe, distribuição de aula); assistência pedagógica sistemática aos professores, avaliação, ações de formação continuada, atendimento sistemático aos alunos e à família do aluno. A partir de dados teóricos obtidos em estudos propostos na Disciplina de Pressupostos da Gestão, e da etapa de observação na escola escolhida e conveniada com a instituição, os acadêmicos dão início aos primeiros passos rumo à organização e desenvolvimento do Projeto de Estágio Supervisionado em Gestão Educacional. Segundo a proposta pedagógica do curso de Pedagogia Unicentro/Irati, no Estágio em Gestão Educacional, os trabalhos práticos terão uma carga horária de 68 horas para atuação e mais 25 horas destinadas à avaliação dos trabalhos, elaboração do relatório final e seminário das atividades desenvolvidas, acompanhado também de uma análise crítica das etapas realizadas. No que diz respeito ao curso de Pedagogia, na modalidade a distância, as disciplinas são trabalhadas na Plataforma Moodle, com a seguinte formatação: os professores produzem material didático, ou seja, o livro da disciplina ministrada; organizam por unidades/semanas os conteúdos e as atividades a serem trabalhados; produzem 6 11366 vídeo-aula apresentando a disciplina; realizam WEB´s de esclarecimentos teóricopráticos; disponibilizam permanentemente fóruns de notícias e fóruns tira-dúvidas, assim como, fórum de aprofundamento do conteúdo estudado pelos acadêmicos; mantêm contato por meio de mensagem ou pelos fóruns com os acadêmicos e tutores presenciais e a distância. Além das orientações e correções via moodle, são organizados dois seminários presenciais nos Polos, com objetivo do acadêmico apresentar sua proposta de estágio aos demais colegas, tutores presenciais e ao professor de estágio, a fim de explorar ao máximo essa etapa de formação, no sentido de socializar e ampliar suas ações no ambiente escolar. Etapas do estágio supervisionado O estágio supervisionado é organizado em etapas, a saber: observação, participação e atuação. Cada etapa tem a duração de vinte horas, perfazendo-se um total de sessenta horas. Antes de o aluno iniciar o estágio supervisionado na instituição escolhida, é apresentada ao responsável pelo estabelecimento uma carta de solicitação de anuência para os acadêmicos realizem essa atividade na escola. Em todas as etapas, os estagiários têm uma ficha de frequência, a qual registra suas atividades desenvolvidas na instituição. É imprescindível a assinatura do responsável pela unidade escolar, todas as vezes em que se realizar o estágio na instituição. Após obter a autorização para a realização do estágio supervisionado, o acadêmico deve arquivar esta carta em uma pasta pessoal. Ao término do estágio, elabora-se um relatório reflexivo de conclusão de estágio supervisionado, contendo todas as modalidades e etapas. Neste relatório devem constar, em anexo, todas as fichas de estágio, inclusive a de autorização. É importante salientar que, todas as fichas devem estar preenchidas, sem rasuras e entregues de acordo com a data estipulada. O estagiário não deve esquecer que a unidade escolar está contribuindo com a sua formação e oferecendo o espaço para a realização e cumprimento dessa atividade curricular. Portanto, muito zelo e cuidado nas práticas pedagógicas, não estão para ver “o que tem de errado” e/ou limites, mas sim uma reflexão, pois A prática da reflexão tem construído para o esclarecimento e o aprofundamento da relação dialética prática-teoria-prática: tem implicado um movimento, uma evolução, que revela as influências teóricas sobre a prática do professor e as possibilidades e/ou opções de modificação na realidade, em que a prática fornece elementos para teorizações que podem acabar transformando aquela prática primeira. Daí a razão de ser um movimento na direção da práticateoria-prática recriada. O processo de conscientização inicia-se com o 7 11367 desvelamento da realidade. E só se torna completo quando existe uma unidade dinâmica e dialética entre a prática do desvelamento da realidade e a prática da transformação da realidade (PICONEZ, 1991, p.23). Pimenta e Lima (2004, p.116) revelam que, muitas vezes, o estagiário entende que sua presença na escola é para coletar dados com o objetivo de expor as falhas e insuficiências, quando, na verdade, “o período de estágio, ainda que transitório, é um exercício de participação, de conquista e de negociação do lugar do estagiário na escola”. Sendo assim, cabe ao aluno manter a atenção seletiva, concentrada e executiva em todas as atividades realizadas, demonstrando solicitude, zelo, cuidado, ética e moral. Além disso, “demonstrar seu conhecimento pela teoria aprendida, realizar seu trabalho com dignidade, procurando em sua área de atuação, demonstrar que tem competência, com simplicidade, humildade e firmeza (BIANCHI; ALVARENGA; BIANCHI, 2011, p. 8). A primeira etapa do estágio é a observação, a qual tem um papel importante na experiência que o estágio deve propiciar ao futuro docente. “É a etapa que o leva a perceber o processo educativo em seus vários aspectos e a refletir sobre a realidade observada, a proceder ao seu diagnóstico e a buscar alternativas para a solução dos problemas encontrados” (GUIA CURRICULAR apud TORRE; OLIVIERI, 1983, p. 11). O momento da observação, para Barreiro e Gebran (2006), diz respeito ao conhecimento da escola como um todo, como por exemplo: espaço físico, seu entorno e sua relação com a comunidade. A partir de observações, relatórios, investigações e análise do espaço escolar e da sala de aula, esse processo ultrapassa a situação dinâmica ensino-aprendizagem, favorecendo os espaços de reflexão e o desenvolvimento de ações coletivas e integradoras (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 91). No estágio de observação, além do espaço da sala de aula, é importante observar a escola como um todo e seu entorno. Com o objetivo de organizar e aperfeiçoar a etapa de observação, são desenvolvidos e discutidos alguns roteiros à observação, os quais devem ser preenchidos pelo estagiário na instituição de ensino. Como nem tudo é possível ser traduzido em fichas, o estágio não deve se limitar ao preenchimento dessas, pois há dados que requerem maiores esclarecimentos e explicações. As fichas são apenas um roteiro para guiar a observação (adaptadas de TORRE; OLIVIERI, 1983). 8 11368 Conforme Barreiro e Gebran (2006, p.96), o estágio de participação refere-se ao “envolvimento do estagiário nas diferentes ações e projetos na escola, o aprofundamento das relações estabelecidas com alunos e professores da educação básica e o confronto dessas vivências com aquelas trazidas da universidade”. Neste momento, o estagiário já está mais familiarizado com a organização escolar, bem como já estabeleceu maiores vínculos afetivos com a turma, professores e funcionários da escola. Em todo momento, o processo de formação do professor deve ser dinâmico e não estático, pautado sempre na relação teoria-prática. Sendo assim, as atividades que o estagiário pode realizar na etapa da participação são diversas, como por exemplo: correção das tarefas no caderno; realizar a chamada; distribuir materiais para os alunos; tomar a leitura; explicação individual do conteúdo; elaborar projetos de acordo com a necessidade da turma; auxiliar na correção de atividades; confecção de jogos e materiais pedagógicos; buscar respostas educativas, na instituição de ensino superior. Dependendo da necessidade ou solicitação da professora regente da classe, sugerir a disposição das carteiras de modo diferente e observar se há influência no processo de ensino e de aprendizagem; levar sugestões de atividades para a professora de acordo com o que está sendo trabalhado (nesse caso lembrar das metodologias estudadas em literatura infantil, matemática e outras); acompanhar alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem; aplicar teste de acuidade visual e auditiva; preparar uma atividade recreativa para realizar com os alunos no recreio; aplicar jogos e brincadeiras para fixação do conteúdo; contar histórias e outros. Em relação ao estágio de atuação “o estagiário deve agora também se pautar por uma perspectiva investigativa da realidade e ter clareza do que fará neste espaço – sala de aula – que serve para a construção de habilidades e competências, apoiadas em conhecimentos” (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 97). O momento de atuação gera grande expectativa de aprendizagem e de ensino no estagiário, é uma etapa singular, pois, ao mesmo tempo em que ensina os alunos, o mesmo aprende e se desenvolve como discente-docente. A função dessa etapa do estágio é o ensino-aprendizagem. Para tanto, o acadêmico deve, sobretudo, lançar mão das metodologias e da didática na preparação e execução das atividades em sala de aula, pois A sala de aula se vincula à dimensão física-local apropriado para a realização de ações, ao passo que a aula assume a dimensão de organização do processo educativo, tempo e espaço de aprendizagem, de desconstrução e construção e não se vincula a um lugar específico, uma vez que a aula pode realiza-se em espaços não 9 11369 convencionais, para além de uma sala retangular com cadeiras e mesas dispostas linearmente, com um quadro de giz na parede e um espaço central para o professor (SILVA, 2008, p. 36) O tempo e o espaço da sala de aula são elementos que merecem destaque para a compreensão das relações que se estabelecem com os sujeitos dessa dinâmica, de modo que a dimensão temporal e espacial impõem limites e possibilidades para a ação docente. Ao elaborar o planejamento, o professor deve ter claro que os conteúdos a serem ministrados em sala de aula não podem se limitar apenas à dimensão conceitual, mas também às dimensões procedimentais e atitudinais. A dimensão conceitual refere-se ao “saber”, são as informações, os fatos, os conceitos científicos, as imagens, os fenômenos, as leis, os princípios, as ideias, os esquemas, os quais são representados em nível de consciência. A dimensão procedimental diz respeito ao “saber fazer”, são as habilidades, os hábitos, as aptidões, os procedimentos, as competências, as destrezas, as capacidades, o método de pesquisa e de análise, o desenvolvimento de operações mentais, os quais se manifestam por meio dos mecanismos operatórios. Por fim, a dimensão atitudinal é o “ser/saber ser”, que são os envolvimentos, as disposições, os interesses, as posturas, os valores, os posicionamentos, as normas, as regras, as convicções, ou seja, são os modos de agir, sentir e se posicionar do sujeito frente às diferentes situações (VASCONCELLOS, 2006). O planejamento é uma necessidade humana, pois “planejar permite ao homem definir para que, onde, como e quando realizar determinadas atividades” (VILARINHO, 1979, p. 1). O planejamento em educação não é algo recente. Tradicionalmente, tem uma organização didática e metódica a ser seguido. É comum, por exemplo, o plano de aula do professor apresentar a seguinte sequência: conteúdo, objetivos (gerais e específicos), metodologia, recursos e avaliação. De acordo com a concepção teórica adotada, o planejamento pode seguir diferentes formas de organização, a depender da proposta pedagógica da instituição educacional e o viés teórico adotado pela mesma. Conclusões A função precípua do estágio supervisionado é possibilitar a articulação teoria e prática de forma dialética, contextualizada e interdisciplinar por meio do tripé - ensino, pesquisa e extensão. O estágio curricular, no curso de Pedagogia, portanto, é compreendido como um espaço relevante e crucial para que a mobilização, reflexão e construção de novos 10 11370 saberes sejam efetivadas. Nos momentos de prática na escola, os acadêmicos necessitam lançar mão de todos os saberes disciplinares, profissionais, curriculares, para então, organizar seus próprios saberes – aqueles que, aos poucos, são efetivados a partir da experiência, mas não são apenas da experiência, estes passam antes por um processo de análise, de pesquisa, de discussão, de mobilização de saberes já internalizados/assimilados (PIETROBON, 2009). Este pode ser um caminho para uma ação docente mais refletida e reflexiva. Referências BARREIRO, I. M. de F.; GEBRAN, R. A. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, licenciatura. Res. nº1, de 15 de maio de 2006, CNE. BIANCHI, Anna C. de Moraes, ALVARENGA, Mariana e BIANCHI, Roberto. Manual de Orientação: estágio supervisionado. São Paulo: Pioneira, 1998. 101p. BURIOLLA, M. A. F. O estágio supervisionado. São Paulo: Cortez, 1999. DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto (Portugal): Editora LDA, 1997. FAVERO, M. de L.. Universidade e Estágio Curricular: Subsídios para discussão. In: ALVES, N. (Org.). Formação de professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 2001. FONTANA, R. A. C.; GUEDES-PINTO, A. L. Trabalho escolar e produção do conhecimento. In: NETO, A. S.; MACIEL, L. S. B. (Org.). Desatando os nós da formação docente. Porto Alegre: Mediação, 2002. MIRANDA, M.I. Ensino e pesquisa: o estágio como espaço de articulação. In: SILVA, L.C.; MIRANDA, M.I. (Orgs.). Estágio Supervisionado e Prática de Ensino: desafios e possibilidades. Araraquara: Junqueira & Marin; Belo Horizonte: FAPEMIG, 2008. p. 15-36. PICONEZ, S. C. B. A Prática de ensino e o estágio supervisionado: a aproximação da realidade escolar e a prática da reflexão. In: PICONEZ, S. C. B. (Org.). A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, 1991. PIETROBON, S.R.G. A prática de ensino nas séries iniciais – espaço de construção dos saberes docentes. In: PIETROBON, S.R.G. Estágio supervisionado curricular na graduação: experiências e perspectivas. 1ª Ed. Curitiba: Editora CRV, 2009. PIMENTA, S. G.; LIMA, M. do S. L.. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004. SILVA, E. F. da. A aula no contexto histórico. In: VEIGA, I. P. A. (Org.). Aula: gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas, SP: Papirus, 2008. 11 11371 TORRE, D. M. B. L.; OLIVIERI, F.. Caderno de orientação dos estágios. São Paulo: T. A. Queiroz, 1983. VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: plano de ensino, aprendizagem e projeto educativo. São Paulo, SP: Libertad, 2006. VILARINHO, L.R.G.. Didática: temas selecionados. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979. 12 11372