UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES CURSO DE MESTRADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ENSINO APRENDIZAGEM EM LÍNGUA MATERNA SOELY BETTES UM ESTUDO DAS MONOGRAFIAS DA UNICENTRO/IRATI: ESTRUTURAS, CONSTRUÇÕES E REFLEXÕES MARINGÁ-PR -2003- 2 SOELY BETTES UM ESTUDO DAS MONOGRAFIAS DA UNICENTRO/IRATI: ESTRUTURAS, CONSTRUÇÕES E REFLEXÕES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada (Mestrado) da Universidade Estadual de Maringá como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Lingüística Aplicada, Área de concentração: EnsinoAprendizagem em Língua Materna. Orientadora: Profª Drª Maria do Carmo de Oliveira Turchiari Santos MARINGÁ-PR -2003- 3 FICHA CATALOGRÁFICA Carmen Pegoraro – CRB 9/906 Biblioteca Campus Irati UNICENTRO B565e Bettes, Soely. Um estudo das monografias da UNICENTRO/Irati: estruturas, construções e reflexões / Soely Bettes; Orientação Maria do Carmo de Oliveira T. Santos. – Maringá, PR: UEM, 2003. 124p. 1. Língua Portuguesa – Dissertação. 2. Lingüística. 3. Metodologia – Monografia. I. Santos, Maria do Carmo de Oliveira Turchiari. II. Título. CDD 20 ed. 469.5 4 5 Dedico esta dissertação àquela que foi companheira, nos bons e nos momentos difíceis de minha vida, sempre me incentivando, sempre me apoiando e acompanhou boa parte deste trabalho. Minha mãe, ADAIL. (in memorian) 6 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pela força do iniciar, do chegar, do prosseguir. À Universidade Estadual de Maringá – UEM/PR. À Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO – Guarapuava/PR. À Coordenação do Curso de Pós-graduação – PLA/ Maringá/ PR. À Coordenação do Curso de Pós-graduação – UNICENTRO/ Guarapuava/PR. À Coordenação da Divisão de Pós-Graduação – UNICENTRO/Irati/PR. Ao Prof. Aldo Nelson Bona, Diretor do Câmpus de Irati e mentor do convênio UEM/UNICENTRO, quando Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. À Profª Dra. Maria do Carmo de Oliveira Turchiari Santos, que venceu a doença, e sábia e atenciosamente me orientou. Aos docentes do Curso de Pós-Graduação - PLA: Profª Drª Sonia Aparecida Lopes Benites, Profª Drª Sílvia Inês C. C. de Vasconcelos, Prof. Dr. Renilson José Menegassi, Profª Drª Maria do Carmo de O. T. Santos, Profª Drª Marilurdes Zanini, e Profª Drª Maria Regina Pante, pelos ensinamentos, incentivo e amizade. Aos colegas do Curso de Pós-graduação – PLA: Ângela Helena Bona Josefi, Ari José de Souza, Denise Gabriel Witzel, Líliam Maria Bresciani Heinen, Maria Albany da Costa, Nilsa de Oliveira Pawlas, Raquel Massinhan Bebici, Rosângela do Prado Wolf, Ruth Ceccon Barreiros, pelas experiências vivenciadas e pela amizade. À minha família, com destaque para minha irmã Roseli, incansável incentivadora, também pela colaboração e amizade. Aos professores do Curso de Letras do Câmpus de Irati/PR. Aos pós-graduandos do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, da Unicentro/Irati/PR. À secretária do PLA, Andréa Regina Previati, pela atenção e profissionalismo. Agradeço também aos que, de um modo ou de outro, ajudaram-me na realização deste trabalho. 7 RESUMO TÍTULO: UM ESTUDO DAS MONOGRAFIAS DA UNICENTRO/IRATI: CONSTRUÇÕES E REFLEXÕES ESTRUTURAS, AUTORA: SOELY BETTES ORIENTADORA: Profª Dra. MARIA DO CARMO O. TURCHIARI SANTOS UEM – PLA Este estudo trata da análise de 10 (dez) monografias de alunos do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, realizado em 2000/2001, na Unicentro, Câmpus de Irati. A proposta do estudo justifica-se pelo questionamento dos próprios professores do Curso sobre as monografias que, embora tenham recebido correções e sugestões de modificação, ainda assim, na versão final, apresentavam problemas na produção escrita. O objetivo geral deste estudo é contribuir para a melhoria da qualidade dos trabalhos finais dos Cursos de Especialização da Unicentro/Irati/PR. A análise contempla dois aspectos. Em um primeiro momento, envolve a estrutura organizacional: a subdivisão interna dos trabalhos; os objetivos e a metodologia de pesquisa. Em um segundo momento, é verificada a construção e consistência dos trabalhos: suficiência e adequação das leituras para fundamentação teórica; uso de cópia, apropriação ou paráfrase; problemas de coesão e de coerência e atendimento dos pósgraduandos às observações do orientador. Os resultados da análise mostram problemas na subdivisão interna, na formulação dos objetivos, na abordagem metodológica, na fundamentação teórica e na própria formatação do texto acadêmico. Detectou-se, também, que os professores orientadores não possuem critérios definidos para orientação dos trabalhos, o que agrava os problemas. Palavras-chave: produção escrita – monografia – pós-graduando – curso de Especialização 8 ABSTRACT TITLE: A STUDY OF MONOGRAPHIES CONSTRUCTIONS AND REFLEXIONS FROM UNICENTRO/Irati: STRUCTURES, AUTHOR: SOELY BETTES ORIENTATOR: Profª Dra. MARIA DO CARMO O. TURCHIARI SANTOS UEM – PLA This study shows the analysis of ten monographies of the students from Specialization Course in “Reading and Writing”, that was done in 2000/2001, at UNICENTRO/Campus of Irati. The purpose of this study can be justifyed by the questions from the teachers of the course, about the monographies that, in spite of they had been corrected with suggestions of corrections and modification, and besides that, and at the end of the monographies, they showed problems in writing. The main aim of this study is to contribute with the improvement of the quality of the monographies from Specialization Course from UNICENTRO/Irati/PR. The analysis has two aspects. First, it involves the organizational structure: the internal subdivision of the monographies; the aims and the methodology of the research. Secondly, it is checked the construction and the consistency of the monographies: sufficiency and suitability of the reading to give them the theoretical basis; problems of cohesion and of coherence and concordance from the post-graduated with the orientator’s observations. The results from the analysis show problems in the internal subdivision, formulation of the aims, methodological approaches, theoretical basis and in the format of the academical text. It also was observed that the orientators don’t have definite criteria to orientate the monographies, and this aggravate the problems. Key – words: writing – monography – post-graduated – Specialization Course 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL – A subdivisão interna dos trabalhos – Monografias................................................... 83 Quadro 2 A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS – Fundamentação teórica ................................................... 96 Quadro 3 A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS – Construção da escrita ........................................................... 103 Quadro 4 A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS – Coerência ............................................................................... 107 Quadro 5 A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS – Atendimento dos pós-graduandos às observações do orientador ............................................................................... 115 10 SUMÁRIO RESUMO .............................................................................................................vi ABSTRACT ...........................................................................................................vii LISTA DE QUADROS .........................................................................................viii 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1 2. METODOLOGIA................................................................................................ 3 2.1. SISTEMA OPERACIONAL......................................................................... 3 2.1.1. Critérios para constituição do corpus ............................................... 3 2.1.2. Critérios para análise do corpus....................................................... 5 3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ......................................................................... 6 3.1. O QUE É LER?................................................................................................................ 6 3.1.1. O conhecimento prévio no processo da leitura ............................... 7 3.1.2. Etapas da leitura ............................................................................. 8 3.1.3. A leitura na escola......................................................................... 10 3.2. ESCRITA....................................................................................................12 3.2.1. O que é texto?................................................................................ 13 3.2.2. A produção escrita............................................................................14 3.2.3. Redação e produção textual.............................................................16 3.2.4. A escrita na escola...........................................................................17 3.2.5. O processo da coesão e da coerência textuais................................19 3.2.5.1. A coesão textual..................................................................20 3.2.5.2. Mecanismos de coesão.......................................................21 3.2.6. A coerência textual...........................................................................24 3.2.7. Intertextualidade...............................................................................31 3.2.7.1. Apropriação.........................................................................32 3.2.7.2. Citação................................................................................34 3.2.7.3. Paráfrase.............................................................................36 3.2.8. A produção textual escrita................................................................39 3.2.8.1. Problemas de coesão textual..............................................39 3.2.8.2. Problemas de argumentação .............................................40 4. ANÁLISE DOS TRABALHOS MONOGRÁFICOS...........................................42 4.1. A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL.......................................................42 4.1.1. A subdivisão interna dos trabalhos...................................................43 4.1.2. Os objetivos e a metodologia ..........................................................80 4.2. A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS ....................84 4.2.1. Suficiência e adequação das leituras para fundamentação teórica..............................................................................................84 4.2.2. Uso de cópia, apropriação e paráfrase............................................97 4.2.3. Problemas de coesão e de coerência............................................104 4.2.4. Atendimento dos pós-graduandos às observações do orientador108 5. REFLEXÕES................................................................................................. 116 6. CONCLUSÃO............................................................................................... 119 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 121 1 INTRODUÇÃO A Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Irati – FECLI, passou a Câmpus da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO em 1990, quando, então, algumas atividades foram descentralizadas. E, desde 1991, um total de 10 (dez) cursos de Especialização foram ofertados nas áreas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literatura Brasileira. Em 2000, o Departamento de Letras da UNICENTRO/Irati ofertou o Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita” com o objetivo de fornecer subsídios teóricos e práticos, fundamentados na Lingüística e na Produção Textual, a profissionais do ensino fundamental e médio, principalmente. Como trabalho no Departamento de Letras dessa Instituição, tive a oportunidade de acompanhar as discussões a respeito das monografias de conclusão do Curso. E o que me chamou a atenção foram os questionamentos dos professores orientadores atinentes à elaboração dos trabalhos monográficos pelos pós-graduandos. Declaravam que após seis meses de contato com o professor orientador, de receberem três correções e sugestões a respeito da pesquisa, ainda assim, os trabalhos finais dos alunos apresentavam-se inadequados, sem nenhum posicionamento crítico, além de serem relatos que resultavam em cópias, apropriações, quando muito, paráfrases. Diante desses questionamentos, procedi a uma análise da produção textual escrita dos alunos do curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, a partir de uma amostra de 10 (dez) monografias, verificando os seus principais problemas quanto à estrutura organizacional, quanto à construção e consistência e se estão de conformidade com a linha de pesquisa. Assim, neste estudo, pretendo, de modo geral, contribuir para a melhoria da qualidade dos trabalhos finais dos Cursos de Especialização da UNICENTRO/Irati. E, de modo específico: a) verificar os principais problemas dos pós-graduandos em relação à produção textual escrita; 2 b) discutir problemas de produção escrita que persistem após a graduação; c) tecer reflexões quanto à contribuição dos trabalhos monográficos para futuros alunos de cursos de especialização e à comunidade científica. O trabalho consta de uma exposição metodológica, com a finalidade de esclarecer quais os procedimentos adotados na realização da análise das monografias do Curso de Especialização “Leitura e Produção Escrita” da UNICENTRO/Irati. Além das Considerações Iniciais e da Metodologia, o trabalho se compõe de mais três partes. A terceira parte, dos pressupostos teóricos, aborda posicionamentos de estudiosos a respeito da leitura (o que é ler, conhecimento prévio, a leitura na escola, etapas de leitura). Embora o assunto em relevância seja a escrita, não se pode deixar de abranger a leitura, uma vez que ela precede a escrita e lhe dá subsídios. Nesta parte, também é abordada a questão da escrita (o que é texto, a escrita na escola, redação e produção textual, coesão e coerência, a intertextualidade, a produção textual escrita). A quarta parte é voltada para a análise de 10 (dez) textos monográficos, dos alunos do Curso de Especialização “Leitura e Produção Escrita”, da UNICENTRO/Irati, considerando as três etapas traçadas. Na quinta parte, constam as considerações finais. 3 2 METODOLOGIA 2.1. SISTEMÁTICA OPERACIONAL Nesta parte, serão expostos os procedimentos metodológicos realizados no desenvolvimento da pesquisa. 2.1.1. Critérios para constituição do corpus Primeiramente, entrei em contato com a Divisão de Pesquisa e Pósgraduação - DIPESP, do Câmpus de Irati, para saber da possibilidade de acesso aos trabalhos monográficos dos pós-graduandos, especificamente, do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, trabalhos que seriam corpus da pesquisa. A chefe da DIPESP e a coordenadora do Curso não se opuseram em me fornecer as primeiras versões (última correção por que passam os trabalhos, antes da entrega da versão final) das 10 (dez) monografias que receberam três correções: uma pelo orientador e duas por professores do Curso com experiência de produção científica na área do assunto escolhido pelo aluno da especialização. As versões finais das monografias são encaminhadas à Biblioteca dos Câmpus de Irati e à Biblioteca do Câmpus de Guarapuava, onde são catalogadas. Busquei, ainda, informações a respeito dos critérios que o Setor e a Coordenação adotam em relação ao Curso. Informaram-me que após a conclusão dos módulos, os alunos têm como tarefa a elaboração de monografia, por um prazo de 6 (seis) meses, podendo ser prorrogado, caso haja justificativa plausível. Informaram-me, também, que o tema ficou a critério dos alunos, no entanto, o assunto deveria estar relacionado às disciplinas estudadas no decorrer do Curso. - Aquisição de Linguagem - Lingüística/Alfabetização - Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Leitura - Fundamentos Teóricos da Textualidade - Análise da Produção Textual - Textos e Leituras - Metodologia do Ensino da Leitura e da Produção Escrita - A Pesquisa Aplicada à Leitura a à Produção Escrita 45 horas/aula 45 horas/aula 45 horas/aula 45 horas/aula 45 horas/aula 45 horas/aula 60 horas/aula 45 horas/aula 4 O contato com a DIPESP/Irati foi importante, pois constatei que teria material relevante para desenvolver a pesquisa ”Um estudo das monografias da UNICENTRO/Irati/PR: estruturas, construções e reflexões”. Para delimitar a pesquisa, dentre os Cursos de Especialização ofertados pelo Departamento de Letras do Câmpus de Irati, optei pelo de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, realizado no período de 20 de março de 2000 a 31 de março de 2001, devido ao fato de estar matriculada no Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada (Mestrado) – Área de Concentração: ensino/aprendizagem em Língua Materna, convênio UEM/UNICENTRO. Das 20 (vinte) monografias apresentadas à Divisão de Pesquisa e Pósgraduação – DIPESP, escolhi, aleatoriamente, 10 (dez) trabalhos que constituíram o corpus desta dissertação. Por que aleatoriamente? Porque todos os trabalhos são de alunos do mesmo Curso. Os títulos das monografias selecionadas são os seguintes: 01- A leitura de textos ilustrativos. 02- Refletindo práticas de leitura com Textos Fílmicos no espaço escolar. 03- Uma proposta de leitura: Da poesia a pintura. (não consta sinal de “crase” no título original) 04- Refletindo as práticas de leitura no ensino fundamental. 05- Contando histórias... Formando leitores... 06- Biblioteca Pública e Biblioteca Escolar. 07- A presença de fatores de coesão e coerência em produções orais efetivadas por sujeitos portadores de Sindrome de Down – APAE de Prudentópolis. 08- O Processo de leiturização na Creche. 09- O espaço do texto poético no ensino fundamental. 10- A produção de texto nas séries iniciais: Um estudo sobre a interferência da fala na escrita. 5 2.1.2. Critérios para análise do corpus De posse das monografias que utilizei como corpus da pesquisa, procedi, em um capítulo à parte, à análise. Para tanto, são feitos questionamentos, a partir dos quais são analisados os dados. As perguntas que norteiam a análise são as seguintes: 1- O título do trabalho tem relação com o conteúdo da monografia? 2- As partes que compõem o trabalho são pertinentes? Mantêm articulação entre si? São coerentes em relação ao título, aos objetivos e à metodologia? 3- As leituras realizadas para embasamento teórico são suficientes e adequadas? 4- Ocorrem cópias, apropriações, paráfrases? 5- Os pós-graduandos apresentam problemas na produção textual escrita? 6- Após as correções ou sugestões do orientador, ocorrem alterações na elaboração do trabalho? 7- O conteúdo dos trabalhos contribui como embasamento ou sugestão a futuros pós-graduandos e à comunidade científica? Enfim, o objetivo deste estudo não é ressaltar pontos negativos dos trabalhos monográficos, mas, conforme já afirmado, proceder a reflexões quanto à produção textual escrita dos pós-graduandos do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, procurando contribuir para a melhoria das monografias finais UNICENTRO/Irati. dos Cursos de Especialização oferecidos pela 6 3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Esta seção se apresenta dividida em duas partes. A primeira, 3.1. O QUE É LER?, aborda assuntos voltados à leitura: definição de leitura, conhecimento prévio no processo da leitura, etapas da leitura e leitura na escola. A segunda parte, 3.2. LEITURA, expõe aspectos referentes à escrita: o que é texto, a produção escrita, redação e produção textual, a escrita na escola, o processo de coesão e coerência textuais, a coesão textual, mecanismos de coesão, a coerência textual, a intertextualidade, a produção textual escrita. 3.1. O QUE É LER? Neste subitem são apresentadas considerações acerca da leitura segundo alguns autores que se dedicam ao estudo desse processo. Ler é uma atividade complexa, mas necessária, que envolve aspectos semânticos, filosóficos, culturais, ideológicos e fonéticos. O leque de finalidades e objetivos que nos leva a ler um texto é amplo e variado. Lemos por prazer, para nos informar, para pôr em prática uma informação obtida, para confirmar ou refutar um conhecimento prévio. Solé (1998: p.22) ressalta que a leitura é um “processo de interação entre o leitor e o texto”. Kleiman (2000: p.10) vai mais além, considerando a leitura “um ato social, entre dois sujeitos - leitor e autor - que interagem entre si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinados”. Isto quer dizer que os objetivos da leitura de cada leitor implicam em diferentes leituras, em informações distintas de um mesmo texto. No entanto, não podemos desconsiderar a variedade de textos que afeta o leitor, seus objetivos e conhecimentos prévios. Devido à utilização, pelo leitor, desses níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. O processo de interação entre autor e leitor ocorre quando este se dispõe a escutar, julgar e, depois, aceitar ou rejeitar. Para Orlandi (1991: p.7) o termo “leitura” é polissêmico. Em uma acepção mais ampla pode ser entendida como uma atividade de “atribuição de 7 sentidos”. Pode significar também “concepção”. É neste sentido que é usado o termo quando se diz “leitura de mundo”. Junto à palavra “leitura” há uma relação com a noção de “ideologia”. Ambas as palavras são cheias de meandros porque esbarram na questão de valores, visão de mundo ou cosmovisão, história de vida, só para citar algumas implicações. No sentido mais restrito, acadêmico, “leitura” significa “a construção de um aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto”. Na concepção de Citelli (1994: p. 48), “ler envolve, de um lado, uma competência específica – dada pela escola quando do domínio do código escrito – e, de outro, uma convivência com as complexas instâncias da sociedade global” Diante dos posicionamentos acima, entendemos que “ler” é, realmente, participar de forma ativa e crítica da comunicação humana. O ato de ler enriquece os horizontes do leitor, na direção do conhecimento do mundo e de si, propicia o armazenamento dos conteúdos intelectuais e humanos que vão alimentar o processo da escrita. Kleiman (2000: p. 13) ainda afirma, “é mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto”. O posicionamento de Kleiman (2000) reforça o exposto acima, como também do que será abordado no item seguinte. 3.1.1. O conhecimento prévio no processo da leitura Muitas vezes não conseguimos compreender um texto. A que podemos atribuir este fato? Talvez por não dispormos de conhecimentos relevantes a determinados temas e/ou assuntos. Vários são os níveis de conhecimento que entram em ação durante o processo da leitura. E, para que o leitor obtenha a compreensão do texto como um todo coerente, é necessário ativar os conhecimentos prévios no processo da leitura. Kleiman (2000) classifica esses níveis de conhecimento em três, que são: 1 - O Conhecimento lingüístico (p.13) – é aquele implícito, não verbalizado e abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar português até o 8 conhecimento sobre o uso da língua. É um componente do chamado conhecimento prévio sem o qual a compreensão da leitura não é possível. 2 - O Conhecimento textual (p.16) – como parte do conhecimento prévio, desempenha um papel importante na compreensão de textos. Tipos de textos, formas de discurso, estruturas textuais, constituem o que chamamos de conhecimento textual. 3 - O Conhecimento de mundo (p. 25) – que, na maioria das vezes, é adquirido informalmente, através de nossas experiências e convívio na sociedade, conhecimento este, cuja ativação no momento oportuno é essencial à compreensão de um texto. O leitor, pelo fato de possuir esse conhecimento, é capaz de preencher e/ou descobrir os “vazios”, aquilo que está implícito no texto. 3.1.2. Etapas da leitura Um outro aspecto relevante, neste capítulo, são as “etapas” que ocorrem no processo da leitura e Menegassi (1995: p.86-89), sob uma visão psicolingüística, apresenta quatro tipos de etapas, que são: Decodificação – a partir da decodificação do signo lingüístico é que se dá todo o processo de leitura. Consiste no reconhecimento dos símbolos escritos e da sua ligação com um significado. No entanto, reconhecer letras e ligá-las a um significado não quer dizer leitura. O procedimento de um “leitor maduro”, ao se deparar com expressões ou palavras novas, é apreender seus significados no contexto em que estas estão inseridas. Compreensão – etapa posterior à codificação, mas ambas são imediatamente interligadas. Nessa etapa, o leitor deve captar do texto as informações que ali estão. É um “mergulhar” no texto e retirar dele as idéias principais. Na compreensão é possível pensar em níveis diferentes, que são: literal, inferencial e interpretativo. O nível literal de compreensão ocorre quando o leitor se detém exclusivamente ao texto, à “leitura superficial”, das idéias contidas ali, não faz inferências. O nível inferencial de compreensão permite incursões pelo texto. O uso de inferências permite ao leitor expandir seus esquemas cognitivos, buscando novas informações a partir do que não está implícito no texto. 9 O nível interpretativo de compreensão possibilita ao leitor deixar o texto, expandir sua leitura. Esse nível permite que se faça a ligação dos conteúdos que o texto apresenta aos conhecimentos que o leitor possui. Interpretação – é a fase de utilização da capacidade crítica do leitor, o qual faz julgamentos sobre o que lê. Para que a interpretação ocorra, faz-se necessário que a compreensão a preceda. A interpretação pode ser dirigida ou não. Quando o autor deixa claro suas intenções, a interpretação é dirigida, mesmo inconscientemente. Quando ocorre o contrário, as intenções do autor não são demarcadas, são possibilitadas ao leitor várias interpretações. No entanto, o leitor deve estar consciente da polissemia textual. Também, referindo-se à interpretação, não se pode esquecer da variedade textual e dos objetivos de leitura, o que possibilita ao leitor interpretações diferentes e várias possibilidades de leitura. Retenção – ocorre em dois níveis. O primeiro, dá-se a partir da compreensão, isto é, o leitor não precisa necessariamente fazer uso da interpretação; a simples compreensão do texto permite reter a temática e os tópicos mais importantes do texto. Porém, num segundo nível, a retenção ocorre após a interpretação. Ao leitor é melhor reter informações a partir da interpretação e não só da compreensão. As quatro etapas da leitura não existem separadamente, mas em um conjunto harmônico. Menegassi (1995: p. 92-93) trabalhou as quatro etapas de leitura ao ministrar, de 1991 a 1993, cursos de atualização a professores de Língua Portuguesa do ensino de 1º e 2º graus e, pôde observar que: O processo de má formação de conceitos sobre as etapas da leitura em professores de Língua Portuguesa se deve, em realidade, a alguns fatores. Em primeiro lugar, à formação universitária, que está se tornando mais precária a cada ano. Nossos acadêmicos não têm em suas grades curriculares uma disciplina que trabalhe o processo de leitura. Outro fator é o descaso dos professores do ensino de 1º e 2º graus quanto à continuação de estudos teóricos sobre a língua que ensinam. Não há uma busca aos textos teóricos que podem levar ao encontro de respostas aos anseios pedagógicos. Após o exposto sobre as etapas da leitura, observaremos, no item seguinte, que estas etapas serão de relevância no processo e/ou atividades de leitura na escola. 10 3.1.3. A leitura na escola Existem afirmações de pessoas envolvidas na educação, professores, teóricos, estudiosos, de que a leitura tem sido na escola apenas o cumprimento de uma formalidade, ou seja, consta no programa escolar e deve ser trabalhada. É dada prioridade ao processo de associar sons e letras, decodificar palavras isoladas, formar frases e períodos, afastando, assim, o aluno do real sentido da leitura: um processo interacional entre autor e leitor. Na opinião de Medeiros (2000: p. 76) a leitura se manifesta como o resultado do trajeto percorrido pela consciência do sujeito-leitor no desvelamento do texto, pois quando o sujeito-leitor busca a compreensão do texto, executa as atividades de constatação, de comparação e de transformação. Essa experiência vai permitir a emergência do ser leitor. Para desenvolver esta prática, é importante redimensionar o conceito de leitura, não sendo apenas a decodificação para o domínio dos aspectos mecânicos (como a velocidade), da fluência e da boa dicção. Estes são aspectos necessários, mas não suficientes quando se refere à leitura. Segundo Silva (1993: p.15), encontram-se no ambiente escolar e em seus respectivos profissionais algumas concepções parciais, tais como: 1 – Ler é traduzir a escrita em fala; 2 – Ler é decodificar mensagens; 3 – Ler é dar respostas a sinais gráficos; 4 – Ler é extrair a idéia central. Tais conceituações, seguidas isoladamente, só poderão gerar situações pedagógicas parciais em relação ao ensino da leitura, pois é preciso conceber o ato de leitura como uma atividade que inclui várias ações e todas coordenadas entre si. Uma leitura chama o uso de outras fontes de informação, de outras leituras, possibilitando a articulação de todas as disciplinas da escola. Uma leitura remete a diferentes fontes de conhecimentos, da história à matemática. É preciso que o aluno leia a vida, integre a escola à vida, leia a escola e use a leitura na vida, lendo por prazer, lendo por ler, lendo por pretexto, lendo para estudar o texto ou lendo para buscar outras informações. 11 Para isso, faz-se necessário repensar a prática pedagógica da escola, na compreensão de que o leitor não é um sujeito passivo, mas alguém que constrói, concordando ou discordando do autor do texto, numa relação íntima e dialógica com aquilo que lê. Um dos maiores objetivos da escola é a formação de um leitor crítico. Entende-se por leitor crítico aquele sujeito que infere, reflete e avalia. Para tanto, é importante que, na escola, esse sujeito vivencie experiências de seu cotidiano, aponte problemas e proponha soluções visando, assim, a uma produção escrita competente. No contexto escolar, de modo geral, a leitura ainda é entendida como uma simples compreensão do sentido literal das palavras, ou seja, do sentido contido no dicionário e atribuído aos signos do texto. E como toda palavra é referência lingüística ao mundo, o educador acaba se contentando com a leitura da mensagem literal do texto e com os efeitos empíricos desta mensagem. Muitas vezes, professores, pais, mesmo os alunos consideram a leitura uma atividade restrita à alfabetização e ao ensino fundamental. O que, sabemos, não é verdade. O leitor que leva em consideração os pressupostos e os subentendidos, o contexto situacional, a intertextualidade, enfim, reconhece a formação discursiva e a ideologia, poderá ser considerado leitor competente. É crítico e não mero reprodutor daquilo que o autor diz. Constrói a leitura. A interferência do professor no processo de formação de leitores é fator determinante. O professor lê? Ele lê por necessidade da profissão ou por prazer? É de grande valia que o aluno presencie atitudes dos professores acerca de práticas de leitura. Segundo Silva (1991: p. 49): os professores precisam desenvolver uma intimidade com os textos adotados e possuir justificativas claras para a sua adoção. E mais: devem conhecer a sua origem histórica e situá-los dentro de uma tipologia. Isso exige que professores se situem na condição de leitores, pois sem o testemunho vivo de convivência com os textos ao nível da docência, não existe como alimentar a leitura junto aos alunos. Em relação à escola, Orlandi (1991) afirma que “para resolver a questão da leitura se propõem técnicas para que se dê conta, em algumas horas semanais, dessa propalada incapacidade”. Silva (1993: p.52) complementa, acrescentando: “a leitura é uma atividade que merece ter lugar central na prática 12 escolar, e que, por isso, merece ser ensinada por todo professor, qualquer que seja a matéria que leciona”. Nesta seção, constaram concepções de estudiosos da leitura. Cada concepção traz algo para o aprofundamento do assunto de que trata esta dissertação. O subitem seguinte versará a respeito da escrita, sempre numa concepção interacionista da linguagem, como entende Viana (1998: p.5): ler e escrever são atos indissociáveis. Só mesmo quem tem o hábito da leitura é capaz de escrever sem muita dificuldade. A leitura eficiente de livros, revistas e jornais permite-nos refletir sobre as idéias e formular nossa própria opinião. Sem opinião formada é impossível escrever qualquer texto. 3.2. ESCRITA Para Ferreiro (1985: p.15), “a escrita não é um código de transcrição da fala, mas sim um sistema de representação da oralidade”. Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. É preciso dominar os recursos específicos da modalidade escrita pois quando produzimos um texto escrito estamos promovendo um ato de comunicação. E, neste processo de realização do texto, é de fundamental importância considerarmos: o papel de quem está elaborando a escrita, as características de quem irá ler nosso texto, o domínio do código escrito (tanto por parte do produtor quanto do leitor), pois a eficiência do ato comunicativo exige um trabalho consciente e bem elaborado. Para Britto (1997; p.84) a distinção entre a oralidade e a escrita não se reduz ao modo de representação, por três características: 1º) porque nem tudo o que se fala se escreve; 2º) porque a escrita, por sua natureza, pressupõe o afastamento espaço-temporal dos interlocutores, o que implica uma reorganização da forma do discurso; 3º) e, principalmente, porque à escrita, desde sua origem, foram atribuídas funções específicas e diferentes das que couberam à fala. A escrita se constitui como um (ou vários) sistema discursivo, funcionando "como um complemento da oralidade e cumprindo certas atribuições que se situam além das propriedades inerentes a esta" (Osakabe, 1978: p. 148), dentre as quais se destacam a função documental e legal, o registro e a 13 veiculação de valores culturais e saberes científicos e a organização dos espaços públicos. Nos itens seguintes vamos entender melhor o processo da escrita, a começar por “o que é texto”. 3.2.1. O que é texto? A palavra “texto” é comum na prática escolar, principalmente. Devido à freqüência do seu uso, todo estudante tem “noções” do que significa texto. Uma das noções pode ser de que texto é uma seqüência verbal escrita de forma coerente (real ou ficção), formando um todo acabado à disposição do público para as mais diversificadas e possíveis leituras. Para Kleiman e Moraes (1999: p. 62): texto (do latim textus, tecido) é toda construção cultural que adquire um significado devido a um sistema de códigos e convenções: um romance,um poema, uma carta, uma palestra, um quadro, uma foto, uma tabela, uma música são atualizações desses sistemas de significados, podendo ser interpretados como textos. Koch (1998: p.11) entende o texto como “a realização de uma atividade verbal, numa situação dada, com vistas a certos resultados”. A concepção que se tem hoje de texto não é mais a de produto, mas sim de processo que se constitui através de atividade de interação entre os interlocutores em atitudes discursivas da linguagem. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (Brasil,1998: p.21) defendem a idéia de texto como: função sociocomunicativa e determinam a linguagem oral e/ou escrita como uma forma de interação, através das quais o indivíduo realiza uma atividade discursiva, compreendida aqui como dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico e em determinadas circunstâncias de interlocução. O significado de um texto não se limita ao que apenas está nele, seu significado resulta da interseção com outros textos. Os textos incorporam modelos, vestígios, até estilos (no caso das paródias) e de outros gêneros. Na maioria das vezes, um texto remete a outros textos no passado e aponta para outros no futuro. 14 Segundo Sayeg-Siqueira (1997: p. 5): pensar em texto é pensar em nossa vida diária [...] Quantas vezes, decisões importantes não dependem, única e exclusivamente, de um texto bem escrito? E, de um outro ângulo, quantos problemas um texto mal escrito pode acarretar! Portanto, escrever um texto não é simplesmente lançar no papel uma série de palavras, frases sem sentido, sem nenhuma ordem. Todo texto exige uma unidade de significação em relação ao tema abordado. Escrever é uma arte. Todos procuram conhecer e praticar essa arte. Tentam buscá-la de vários meios e maneiras, de acordo com as necessidades profissionais. Nessa busca, principalmente o aluno se acha despreparado para escrever. Vê-se incapaz, sente-se imaturo e desprovido de condições para pôr no papel as próprias idéias. Sayeg-Siqueira (1997: p. 73) expõe o seguinte sobre a organização do texto: o texto é uma unidade de significação; o texto tem uma referência tematizada; o texto se organiza e se expande: a) pela apresentação de uma situação inicial, em que o autor, recuperando um saber que considera partilhado, apresenta o assunto a ser abordado; b) pela proposição de uma informação nova, assim considerada no texto; c) pela busca de justificativas que dêem credibilidade para a informação nova e a tornem aceita; d) pela conclusão que apresenta uma nova visão sobre o assunto, uma nova possibilidade de conceituar a referência e, assim, ampliá-la. Após alguns posicionamentos sobre texto, passamos à produção escrita, sua importância e características específicas. 3.2.2. A produção escrita Quem escreve, escreve para algum leitor. Por isso, na atividade de escrita, o autor põe em ação o seu conhecimento de mundo, suas crenças e seus 15 pontos de vista, com os conhecimentos lingüísticos e textuais construídos na escola e fora da escola, para expressar aquilo que deseja. Assim, deverá levar em conta seus próprios objetivos e as expectativas que imagina que o leitor tenha, definindo o conteúdo (o quê), a forma de enunciar (como), organizar e articular as idéias, de modo a causar o efeito pretendido (para quê) sobre o seu interlocutor (a quem), numa determinada situação (onde, quando). É a partir dos conhecimentos prévios – do mundo e da língua – que o autor vai estruturar a argumentação que ele julga suficiente e consistente para obter êxito na atividade de seu interesse, considerando as circunstâncias em que se encontra. A prática da redação para Britto (1997: p. 108): relaciona-se com a apresentação da norma, com destaque para a correção dos erros limitados de ortografia, concordância e regência. Efetivamente, ensina-se redação apenas para fixar a norma, ainda que nem sempre se assuma explicitamente esta perspectiva. Esta prática, muitas vezes, desvincula o exercício efetivo da escrita e, por que não, também da leitura, visto que uma precede a outra. Cabe à escola transformar a prática de produção de textos, onde o sujeito apareça como produtor e suas palavras tenham uma razão de ser. E, Geraldi (1999: p. 124) ratifica: é devolvendo o direito à palavra - e na nossa sociedade isto inclui o direito à palavra escrita - que talvez possamos um dia ler a história contida, e não contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos escolares. Não é muito para um aprendiz ou para quem ainda não domina plenamente a escrita? Acontece, porém, que essa competência comunicativa é aprendida também e principalmente, de forma intuitiva, na prática social e no convívio com a linguagem. Mesmo que o aluno/produtor não tenha consciência, nos momentos em que fala ou escreve, ele faz escolhas e toma decisões, em função do seu envolvimento na situação comunicativa. No subitem seguinte, falaremos da diferença entre redação e produção textual. 16 3.2.3. Redação e produção textual Ao longo da década de 80, o ensino de língua portuguesa passou por algumas reflexões e mudanças, por exemplo, a mudança do termo redação para produção de textos. Os professores habituados às atividades de redação foram surpreendidos pela nova expressão. No entanto, não foi somente uma questão de terminologia, mas sim, de concepções e mudanças. Concepções e mudanças pautadas no sujeito produtor (aluno); na produção de textos (unidade de ensino/aprendizagem); na prática pedagógica (interação aluno x professor). Segundo Geraldi (1999: p. 64), há quem não faça distinção entre estes dois termos. Na redação, o aluno não se coloca no texto, o professor é o julgador, sendo, portanto, atividade de aferição de nota, apenas. Na produção textual, numa concepção interacionista, o aluno é previsto como sujeito importante, que vai escrever, considerando o que dizer, por que dizer, para quem dizer, como dizer. Aqui, o sentido atribuído à produção de texto refere-se à interação verbal: aluno e professor se confrontam por meio de seus textos, aprendem e ensinam um ao outro com textos, verdadeiros objetos do processo interativo de ensino e aprendizagem, socialmente constituídos. O aluno deverá ser sujeito consciente do seu “dizer” (dizer e saber o que está dizendo, por escrito) não sujeito assujeitado a condições e limitações (somente preencher um lugar social – a escola). No processo ensino/aprendizagem, a produção de texto deve ser vista como uma unidade que permita o diálogo de um texto (do passado) com outros textos (do futuro). E, o aluno, como produtor de textos e sujeito, capaz de manter o contínuo diálogo do texto produzido com o leitor. A sala de aula deve ser o espaço de interação aluno x professor, uma vez que nela se dá o encontro de saberes e conhecimentos. Aluno e professor aprendem e ensinam um ao outro, ocorrendo, assim, novos textos, novos contextos e, conseqüentemente, reproduzem-se e multiplicam-se os sentidos dentro e fora da escola. Estes sentidos irão constituir, verdadeiramente, o ensino/aprendizagem. Na seqüência, veremos como se processa a escrita na escola. 17 3.2.4. A escrita na escola O ensino-aprendizagem da produção textual tem como um de seus objetivos contribuir para a formação da personalidade do aluno, possibilitando-lhe de uma linguagem rica, diversificada e fluente, desenvolvendo nele a capacidade de compreender, sentir, refletir e julgar, e expressar-se por escrito. Várias são as fontes para esse aprendizado. A primeira é o ambiente familiar: a linguagem dos que convivem com a criança e com o jovem. Essa linguagem, respeitada e tratada pelo professor, será, na escola, o ponto de partida de um enriquecimento cada vez maior, graças às fontes: a conversa em grupo com colegas e professores e a leitura de textos os mais diversificados possíveis. Diante disso, Geraldi (1999) chama a atenção para o papel da escola, pois esta, por não ter clara a função da escrita, passa ao aluno uma falsa imagem. Ou seja, as atividades de escrita, muitas vezes são artificiais e simuladas: escreve-se para o professor corrigir e dar nota. Tal procedimento desfaz o sentido principal dessa atividade, que é ter coisas a dizer para alguém. Escrever apenas para preencher linhas é cumprir mais uma formalidade burocrática na escola. Deste modo, antes de propor conteúdos e estratégias que auxiliem o aluno a se apropriar da linguagem escrita, é importante desenvolver uma concepção de escrita clara e objetiva. Geraldi (1997: p.137) vai mais além, quando se refere à produção de texto, uma vez que, na escola, na maioria das vezes, a produção de texto é pretexto para a realização de questões gramaticais, como modelo para se estruturar frases corretas, como conjunto de informações para se responder questões de interpretação ou, ainda, como portador de belas mensagens e bons conselhos. E, na produção de um texto (em qualquer modalidade), é preciso considerar: a) que se tenha o que dizer – o conteúdo das produções, a temática das produções devem ter sentido para o aluno, além do que só é possível escrever sobre o que conhecemos (sabemos); b) que se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer – está questão está ligada item anterior, pois essa “razão” é que dará sentido às produções do aluno, proporcionando a realização do aluno na prática textual; 18 c) que se tenha para quem dizer o que se tem a dizer – é preciso que o aluno tenha em mente quem vai ler o seu texto, um interlocutor que interaja com o sujeito da produção, estabelecendo, assim, sentido para a escrita; que o professor, nessa atividade, seja sujeito-professor e não somente tenha a função-professor; d) que se constitua sujeito que diz o que diz para quem diz (locutor que se compromete com o que diz) – que o aluno sujeito do processo se comprometa com o que diz, argumente, comprove o que diz; e) que se escolham estratégias para a realização de tal atividade – aqui é papel do professor como “mediador” proporcionar atividades de produção textual significativas, ou seja, as atividades devem ter sentido para o aluno. Essa prática considera o aluno um sujeito ativo; é alguém que concorda ou discorda do autor do texto, uma vez que o texto escrito não é a representação da verdade absoluta. O ponto de partida para se repensar a escrita é ter presente, no ato de escrever, a noção de interlocutor, isto é, o perfil daquele que vai ler nossos escritos, mesmo que não o conheçamos, uma vez que, na escrita, podem-se identificar diferentes tipos de interlocutor, como numa carta, numa petição, num jornal, na ficção literária etc. Esse interlocutor estará sempre interferindo no discurso do locutor. Pécora (1992: p.60) procura explicar certos tipos de problemas das redações escolares, como a incompletude de orações: “em produtores com um leque mais ou menos restrito a interlocutores orais, a ausência do interlocutor na situação de produção escrita pode apresentar uma nova dificuldade para a obtenção de coesão do texto”. Possenti (1981: p. 48-53), estudando um problema de coesão textual, diz que é “dependendo da imagem que o locutor faz do interlocutor no momento da produção do discurso, que ele utiliza um ou outro mecanismo coesivo. [...] Indiretamente, é a imagem do interlocutor que comanda a decisão”. Os textos devem conter os fatores de textualidade para que sejam compreendidos pelos interlocutores. Para Costa Val (1999: p.5), “chama-se textualidade ao conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto e não apenas uma seqüência de frases”. Esclarece que a textualidade é fundamental para a relação coerente entre as idéias. 19 Costa Val (1999) retoma os sete critérios de textualidade, apontados por Beaugrande & Dressler: dois “centrados no texto” – a coesão e a coerência; e cinco “centrados no usuário” – a situacionalidade, a informatividade, a aceitabilidade e a intertextualidade. Os sete critérios, são: • Coesão: elementos lingüísticos presentes no texto. Se não existirem no texto, este não perderá o sentido, desde que saibamos do que se está tratando. • Coerência: é essencial no texto, pois se não houver coerência, não haverá aceitabilidade por parte do interlocutor, inexistindo o que se pode considerar texto. • Situacionalidade: a situação vai informar o que é e o que não é dentro do texto. • Informatividade: informações contidas no texto. • Intencionalidade: é um critério pragmático, o que o locutor precisa ter para atribuir um sentido para o seu texto. • Aceitabilidade: o interlocutor precisa possuir para que o texto tenha sentido para ele. • Intertextualidade: é a junção de vários textos num só texto. Como podemos observar nos itens anteriores, dificilmente se deixou de referenciar os termos “coesão” e “coerência”. No item seguinte, o enfoque será específico a estes termos, como forma de melhor interação do assunto. 3.2.5. O processo da coesão e da coerência textuais A coesão e a coerência constituem dois fatores importantes da textualidade. O conhecimento das questões de coesão e coerência textuais permite que se olhe um texto sob uma ótica diferente, pois não basta que se escreva um conjunto de sentenças ou parágrafos com ortografia e pontuação adequadas. É preciso que se “amarrem” os parágrafos e as sentenças, fazendo do texto um todo semântico que “diga algo a alguém”, isto é, tenha significado. A coesão, segundo Koch (1991: p. 34-41), pode ser descrita como “o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos lingüísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados, por meio de recursos também 20 lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido”. A coerência diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. A relação entre coesão e coerência existe porque a coerência é também estabelecida a partir da seqüência lingüística que constitui o texto. Embora a coesão não garanta a coerência, os elementos lingüísticos podem servir de pistas para o estabelecimento da coerência. 3.2.5.1. A coesão textual Para Abreu (1990: p. 12): um texto não é uma unidade construída por uma soma de sentenças, mas pelo encadeamento semântico delas, criando, assim, uma trama semântica a que damos o nome de textualidade. O encadeamento semântico que produz a textualidade se chama “coesão”. A coesão textual consiste na relação entre orações dentro dos períodos, entre períodos dentro dos parágrafos e entre os parágrafos no texto. Koch (1991: p. 14) define coesão como “ligação entre os elementos superficiais do texto, o modo como eles se relacionam, o modo como frases ou partes delas se combinam”. Essa ligação (combinação) não pode ser feita aleatoriamente, pois é necessário que se empreguem conjunções, advérbios, pronomes, preposições selecionados de tal forma que possam proporcionar a devida coerência interna do texto. Visto que os elementos coesivos apresentam conteúdo semântico e podem alterar o sentido das palavras, frases, períodos ou parágrafos que se relacionam entre si, eles servem tanto à verificação da coesão como à apreensão do sentido. Uma das maiores preocupações, ao escrevemos um texto, é como amarrar a frase seguinte à anterior. Isso só é possível se dominarmos os princípios básicos de coesão. A cada frase enunciada devemos ver se mantém um vínculo com a anterior ou anteriores para não perdermos o fio do pensamento. De outra forma, teremos uma seqüência de frases sem sentido, sucedendo-se umas às outras sem lógica, sem coerência. 21 A coesão, no entanto, não é só esse processo de olhar constantemente para trás. É também o de olhar para adiante. Um termo pode esclarecer-se somente na frase seguinte. Se a frase inicial for: Márcia tem um grande desejo, ocorre um movimento para adiante. Só vou saber de que desejo se trata na próxima frase: Ela quer ser professora. O importante é cada enunciado estabelecer relações estreitas com os outros, a fim de tornar sólida a estrutura do texto. Ainda para Abreu (1990: p.12), “a maior parte das pessoas constrói razoavelmente a textualidade na língua oral, mas, quando se trata de escrever um texto, as únicas palavras para coesão são mesmo e referido”. Não diz que o uso desses anafóricos consistem em erro, mas que indica o desconhecimento de outros mecanismos de coesão. Para exemplificar, é freqüente encontrarmos períodos como: - Troque a lâmpada. A mesma está queimada. - As alunas participaram de um Simpósio. No referido Simpósio, as mesmas falaram sobre Paulo Freire. No entanto, é possível explorar os recursos coesivos de que a língua dispõe e apresentar períodos, como: - Troque a lâmpada. Ela está queimada. - Troque a lâmpada, pois está queimada. - As alunas participaram de um Simpósio. Lá, falaram sobre Paulo Freire. - As alunas participaram de um Simpósio e falaram sobre Paulo Freire. - As alunas participaram de um Simpósio. No Simpósio, elas falaram sobre Paulo Freire. 3.2.5.2. Mecanismos de coesão Segundo Koch (1991: p.17), a coesão, por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio antes, aos recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A cada ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam “laço”, “elo coesivo” A autora distingue, também, relacionados e exemplificados abaixo: cinco mecanismos de coesão, 22 a) referência – componente do texto que faz referência a outro (s) elemento (s) do universo textual. O elemento de referência ou remissão é bastante amplo e pode ser representado por um nome, um sintagma, um fragmento de oração, uma oração ou todo um enunciado. A referência é exofórica quando a remissão é feita a algum elemento da situação comunicativa, ou seja, quando o referente está fora do texto e, endofórica, quando o referente se acha expresso no próprio texto. Neste caso, o referente precede o item coesivo, tem-se a anáfora; após o item coesivo, tem-se a catáfora. Também, na explanação de Koch (19991: p.20), a referência pode ser pessoal (feita por meio de pronomes pessoais e possessivos), demonstrativa (realizada por meio de pronomes demonstrativos e advérbios de lugar), e comparativa (efetuada por via indireta, por meio de identidades e similaridades). Exemplos: - Marta é ótima amiga. Ela sempre me dá provas disso. (referência pessoal anafórica) - Só desejava isto: concluir o curso. (referência demonstrativa catafórica) - É uma atividade igual a de ontem. (referência comparativa endofórica) - Esta é a melhor marca de carro. (referência comparativa exofórica – frase de uma publicidade de automóvel, remetendo para a foto do veículo) b) substituição – ocorre com a colocação de um item no lugar de outro (s) ou até de uma oração inteira. Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais, indefinidos, numerais, nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo “fazer” é substituto dos causativos, “ser” é substituto existencial). Exemplos: - Pedro comprou um carro novo e José também. - O professor acha que os alunos não estão preparados, mas eu não penso assim. - O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo. - Minha prima comprou um Gol. Eu também estava querendo um. - Eduardo comprou um carro. O carro é vermelho. 23 Koch (1991: p.21) explica: a principal diferença entre substituição e referência é que, nesta, há total identidade referencial entre o item de referência e o item pressuposto, ao passo que na substituição ocorre sempre alguma redefinição. c) elipse – omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a substituição por zero (∅). Pode ocorrer elipse de um item lexical, um sintagma nominal, verbal, oracional ou todo um enunciado. Exemplos: Paulo vai à escola? (∅) Vai (∅) - Os convidados chegaram atrasados. (∅) Tinham errado o caminho. - Asse o frango até ficar dourado. Coloque (∅) em uma travessa. - __ Aonde você foi ontem? __ (∅) À casa de Paulo. __ (∅) Sozinha? __ Não. (∅) com uma amiga. - d) conjunção (ou conexão) – tem natureza diferente das outras relações coesivas por não se tratar simplesmente de uma relação anafórica. Os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações específicas que se estabelecem entre as orações, períodos e parágrafos. Os principais tipos de elementos conjuntivos são: advérbios e locuções adverbiais; conjunções coordenativas e subordinativas; locuções conjuntivas, preposições e locuções prepositivas; itens continuativos como então, daí etc. Exemplos: - Depois da ventania, houve um grande silêncio. - Os exemplos abaixo comprovam a teoria. - Vou atender ao seu chamado, mas só o faço (faço isso) porque sou sua amiga. - O torcedor gritou demais, então, {por isso} ficou rouco. - João é, sem dúvida, o melhor candidato. Tem boa formação e apresenta um consistente programa administrativo. Além disso, revela pleno conhecimento dos problemas da população. Ressalta-se, ainda, que, não faz promessas demagógicas. e) coesão lexical – é obtida por meio de dois mecanismos: a reiteração e a colocação. A reiteração se faz por repetição do mesmo item lexical ou através de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos. 24 Exemplos: - O presidente viajou para o exterior. O presidente levou consigo uma grande comitiva. (mesmo item lexical) - Uma menina correu ao meu encontro. A garota parecia assustada. (sinônimo) - O avião ia levantar vôo. O aparelho fazia um ruído ensurdecedor. (hiperônimo: aparelho designa que avião é espécie) Todos ouviram um rumor de asas. Olharam para o alto e viram a coisa se aproximando. (nome genérico) - A colocação, por sua vez, consiste no uso de termos pertencentes a um mesmo campo significativo, como por exemplo: - Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias transportaram os feridos para os hospitais da cidade mais próxima. A questão da coesão referencial é, para Koch (1991), complexa. Isto ocasiona uma diversidade de definições, de posicionamentos entre os autores estudiosos do assunto. Cabe ao produtor de textos empregar adequadamente os mecanismos de coesão ao elaborar seus textos. A utilização desses mecanismos é que constrói o que chamamos textualidade. Mas não basta costurar uma frase a outra para dizer que estamos escrevendo bem. Além da coesão, é preciso pensar na coerência. Há autores que distinguem níveis de análise para a coesão e para a coerência. Outros não fazem distinção entre níveis de análise destes termos e, outros, ainda, estudam vários aspectos da coesão e da coerência sem qualquer rotulação e/ou classificação. 3.2.6. A coerência textual Fiorin & Savioli (1990: p. 261) expõem: Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. No texto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais. 25 A coerência tem a ver com o sentido global do texto, que precisa apresentar, em sua composição, relação entre as idéias. Enquanto a coesão responde acerca das ligações, aponta os elementos relacionais que poderão ser utilizados nessa conexão, a coerência se preocupa com o modo como se dá a conexão entre as idéias no texto. Caso isso não ocorra, o texto se tornará incoerente. O todo será incoerente se quem o produz não souber adequá-lo à situação, considerar a intenção comunicativa, ou seja, o que quer comunicar, o quê pretende comunicar, a quem está se dirigindo, levar em consideração também e, principalmente, o meio social e cultural. Koch (1991: p.45-46) afirma: os prejuízos de incoerência dependem também de conhecimentos prévios sobre o modo e do tipo de mundo em que o texto se insere, isto é, depende da capacidade do leitor de estabelecer a intertextualidade. Sendo assim, os juízos sobre coerência textual estão fundamentalmente ligados também ao processo de recepção, isto é, o texto será tão incoerente quanto for pequena a capacidade de compreensão do leitor, quanto forem pobres suas experiências de leitura. Koch e Travaglia (1991: p. 37-39) apresentam alguns tipos de coerência, abaixo definidos e exemplificados: a) coerência semântica – refere-se à relação entre significados dos elementos das frases em seqüência num texto ou entre os elementos do texto como um todo. O que podemos observar no exemplo: - Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida uma experiência significativa para o alcance de nossos ideais. É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas complexos; ser catarse permanente de doação sincera e espontânea.” (redação de aluno – tema “felicidade”. In: Koch & Travaglia, 1991, p. 36) Ao escrever “executar problemas”, o aluno criou uma incoerência semântica, uma vez que o sentido das duas palavras não condizem. Talvez o aluno quisesse dizer “resolver problemas”. O uso inadequado também dos itens “executar” e “catarse” em relação a “problemas” e “de doação sincera e espontânea”, dificultam ao leitor recuperar o sentido do texto. A contradição de sentidos também cria incoerências semânticas como podemos observar no exemplo abaixo: 26 - A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas as tardes ela fica na varanda em uma cadeira de balanço apreciando o pôr-do-sol. (a posição da frente da casa e o que se diz que a avó faz à tarde são contraditórias, já que o sol não se põe a leste, mas a oeste. In: Koch & Travaglia, 1991: p. 37) Também tem a ver com coerência semântica os termos: hiponímia ou hiperonímia que ocorrem em: - Roberto tem um belo veículo. É um cavalo árabe puro sangue. (cavalo não é hipônimo de veículo e a seqüência aparece como incoerente.) b) coerência sintática – refere-se aos meios sintáticos para expressar a coerência semântica como, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas nominais definidos e indefinidos, etc. No exemplo a seguir temos um caso de incoerência sintática com o uso de “onde”: - A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais... (Redação de Vestibular/1985 – UFU. In: Koch & Travaglia, 1991: p. 36) A coerência sintática pode ser recuperada nesta construção: - A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de pequenos fragmentos. A coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência. c) coerência estilística – o usuário da língua deveria usar em seu texto elementos lingüísticos pertencentes ou constitutivos do mesmo estilo ou registro lingüístico (léxico, frases, estruturas, etc.). No entanto, o uso de estilos diversos parece não criar problemas para a coerência, entendida como princípio de interpretabilidade, o que muitas vezes ocorre é uma quebra estilística, como o uso de gírias, expressões populares, palavras de baixo calão em conversas polidas. O exemplo a seguir, trata de um cartão de condolências, em que há uma incoerência estilística inaceitável pelas normas sociais (que afetam o estabelecimento da incoerência), mas que não é problemática do ponto de vista do estabelecimento do sentido e poderia até ser usada de propósito se a intenção do produtor for passar a idéia de irreverência. 27 - Prezado Antônio, Neste momento quero expressar meus profundos sentimentos por seu pai ter batido as botas. d) coerência pragmática – refere-se ao texto visto como uma seqüência de atos de fala, relacionados de modo que, para a seqüência de atos ser percebida como apropriada, os atos de fala que a constituem devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma dada situação comunicativa. Caso contrário, temos incoerência. Assim, por exemplo, se um amigo faz um pedido a outro, espera-se que tenhamos as seguintes seqüências de atos: • • • • • • • pedido/atendimento pedido/promessa pedido/jura pedido/solicitação de esclarecimento/esclarecimento atendimento ou promessa pedido/recusa/justificativa pedido/recusa e não seqüências como • pedido/ameaça • pedido/declaração de algo que não tem nenhuma relação com o conteúdo do pedido que seriam vistas como incoerentes - A: Você me empresta seu livro de História? B: Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia! Certamente levaria o falante A ao pedir esclarecimento ou se aborrecer, interpretando a fala de B como recusa ou descaso, entre outras possibilidades. Para Koch e Travaglia (19991: p.29): esta divisão da coerência em tipos tem o mérito de chamar a atenção para diferentes aspectos daquilo que chamamos de coerência: o semântico, o pragmático, o estilístico e o sintático (ou gramatical, ou da superfície lingüística). Mas é preciso ter sempre em mente que a coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que a coerência é, basicamente, um princípio de interpretabilidade e compreensão do texto. Fiorin & Savioli (1990: p. 261) apresentam três níveis de coerência: 1) Coerência narrativa - ocorre preocupação com a coerência e a unidade do texto. 28 A título de exemplo, um relato da Profª Diana Luz Pessoa de Barros num livro sobre redação no vestibular: Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela era muito intensa. Meu colega foi à cozinha me deixando sozinho, fiquei encostado na parede da sala e fiquei observando as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas. (In: Fiorin & Savioli, 1990: p.262) 2) Coerência figurativa - entende-se a articulação harmônica das figuras do texto, com base na relação de significado que mantêm entre si. Um exemplo de coerência figurativa: O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida ao livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso: raquete de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesinha, as obras completas de Shakespeare. (In: Fiorin & Savioli, 1990: p.268) 3) Coerência argumentativa - defende-se um ponto de vista, pressupostos, dados, com base em certos argumentos e, permite-se tirar conclusões. Um exemplo de coerência argumentativa: Embora existam políticos competentes e honestos, preocupados com as legítimas causas populares, os jornais, na semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada, praticados por um político eleito pelo povo.(Isso demonstra que o povo não sabe escolher seus governantes.) (In: Fiorin & Savioli, 1990: p.269) Ainda em relação à coerência, é relevante citar Michel Charolles pela contribuição referente à coerência textual em produções textuais escritas. Até o momento expusemos postulados acerca de coerência segundo alguns estudiosos. A seguir, será apresentado o ponto de vista de Charolles, com o qual comungamos, e que subsidiará a análise a ser desenvolvida neste trabalho. Charolles (1978), diferenciando coesão de coerência, trata a coerência tanto a nível micro quanto macroestrutural. Segundo o autor, coerência e linearidade textual estão relacionadas, ou seja, para se questionar a coerência de um texto, deve-se levar em conta a ordem em que aparecem os elementos que constituem o texto. Charolles (1978: p. 49-74) enuncia quatro metarregras de coerência, que são as seguintes: 29 1ª) Metarregra de repetição (MR1): Para que um texto seja (microestruturalmente e macroestruturalmente) coerente é preciso que contenha, no seu desenvolvimento linear, elementos de recorrência escrita. Como elementos de repetição a língua dispõe de recursos numerosos e variados, como: as pronominalizações, definitivações, referenciações contextuais dêiticas, substituições lexicais, recuperações pressuposicionais, retomadas de inferência. Alguns exemplos desses recursos: 1- A criança foi seqüestrada na escola em que estudava. Ela foi encontrada algemada em uma rua deserta. (pronominalização – anáfora) 2- Encontrei-a. Esta jóia é raríssima. (pronominalização – catáfora) 3- Na chácara há árvores frutíferas. As árvores frutíferas são bem cuidadas. (definitivação/referenciação dêitica contextual) 4- Leonardo esteve em Irati em fevereiro de 2003. O cantor veio à cidade prestigiar o time do Goiás Sport Club. (substituição lexical) 5- José comprou sua moto? Respostas: a) Não, ele comprou o carro. b) Não, assaltaram-lhe. c) Não, ele viajou. Observemos que a retomada de elementos nem sempre dá coerência ao texto. 2ª) Metarregra de progressão (MR2): Para que um texto seja microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente renovada. Esta segunda regra completa a primeira. Em um texto coerente, supõe-se que haja um equilíbrio entre continuidade temática e progressão semântica (ou sêmica), não repetição indefinida de termos em um mesmo texto. Um bom desempenho exige as MR1 e MR2. Em textos de alunos, muitas vezes, ocorre a transgressão total da MR2, como exemplifica o texto abaixo: “O ferreiro está vestido com uma calça preta e um chapéu claro e com um paletó cinza e marrom escuro. Tem na mão a ponta da picareta e bate em cima com um martelo, sobre a ponta da picareta. Os gestos que fez, tem a 30 ponta da picareta e com seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta desta ferramenta que se chama a ponta da picareta é pontuda e a outra ponta é quadrada. Para tornar ela vermelha com a ponta da picareta colocou ela no fogo e as mãos estão vermelhas.” (texto original – sem correção de professor) (In: Charolles, 1978: p.59) O que nos chama a atenção é a circularidade do discurso, o aluno não dá progressão às idéias. 3ª) Metarregra de não-contradição (MR3): Para que um texto seja microestruturalmente e macroestruturalmente coerente, é preciso que no seu desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior, ou deduzível desta por inferência. Exemplos: 1- Paulo não gosta de escrever. Fica feliz quando lhe solicitam um artigo. (contradição) 2- Maria lê bastante. Ela gosta de escrever. (não-contradição) 4ª) Metarregra da relação (MR4): Para que uma seqüência ou um texto sejam coerentes, é preciso que os fatos que se denotam no mundo representado estejam relacionados: Exemplo: 1- A mãe levou a criança ao médico. A criança está triste. (embora a frase pareça incoerente, nosso conhecimento de mundo consegue dar sentido a ela). As metarregras apresentadas por Charolles e de outros problemas de coerência, até aqui expostos, levam-nos a ficar alerta, tanto no aspecto lingüístico como pragmático, quando da elaboração ou análise de um texto. No item a seguir, serão apresentados alguns procedimentos retóricos que, constantemente, fazem parte da produção textual de todos aqueles envolvidos com a escrita. 31 3.2.7. Intertextualidade Dos sete fatores da textualidade, a intertextualidade é a que mais se articula ao objetivo de conferir a ocorrência, principalmente, de apropriação, citação e paráfrase, nos trabalhos monográficos dos pós-graduandos do Curso de Especialização “Leitura e Produção Escrita” – UNICENTRO/Irati. Por isso, a importância de um estudo mais específico sobre o princípio da “intertextualidade”. Na concepção de Koch e Travaglia (1991: p.75): “importante fator de coerência é a intertextualidade”, na medida em que, para o processamento cognitivo (produção/recepção) de um texto, recorre-se ao conhecimento prévio de outros textos. Também, na opinião desses autores, a intertextualidade pode ser: a) de forma – ocorre quando o produtor de um texto repete expressões, enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de determinados tipos de discurso. b) de conteúdo – pode-se dizer que a intertextualidade é uma constante: os textos de uma mesma época, de uma mesma área de conhecimento, de uma mesma cultura, etc., dialogam, necessariamente, uns com os outros, podendo essa intertextualidade estar explícita (o texto contém a indicação da fonte) ou implícita (não se tem a indicação da fonte). É o caso de alguns tipos de certas paráfrases, da paródia, etc.). A intertextualidade é comum em letras de músicas, quando o autor retoma trechos de canções próprias (intratextualidades) ou alheias. Em nossos textos orais ou escritos, muitas vezes nos apropriamos de palavras, expressões, provérbios, ditos populares, vindo a ocorrer, também, a intertextualidade. Para Paulino (1995: p.54): toda leitura é necessariamente intertextual, pois ao ler, estabelecemos associações do texto do momento com outros textos já lidos. É livre tal associação e independente da intenção do autor, como também do comando da consciência do leitor. Por isso, os textos podem ser lidos de diversas maneiras, num processo de produção de sentido que dependerá do repertório textual de cada leitor no momento da leitura. Atualmente, a maioria das produções culturais se apresenta marcada por traços impessoais e anônimos, desaparecendo, gradativamente, o sujeito, dificultando, assim, um estudo específico dos procedimentos retóricos intertextuais, uma vez que a maioria das manifestações artísticas, principalmente 32 as mais consagradas, aparecem contaminadas pela paráfrase, pela apropriação, pelo plágio e por outros procedimentos. Didaticamente, os procedimentos retóricos intertextuais mais comuns na produção textual são os seguintes: 3.2.7.1. Apropriação Segundo Paulino (1995: p.22), a apropriação, enquanto prática intertextual, transita do estatuto de ato legítimo e, às vezes, inevitável, até a ilegalidade do plágio. Contemporaneamente, o estabelecimento de tais limites torna-se difícil, já que a prática da apropriação é um traço assumido pela literatura que se quer devoradora de outros textos. Sendo uma prática dos estudos literários, na apropriação os autores se apropriam de palavras, expressões, trechos de outros autores, sem marcá-los (aspas ou outras marcas). Grande parte de textos e/ou produções são retomados constantemente, como por exemplo: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam com lá. (Canção do exílio – Gonçalves Dias.In: Paulino, 1995: p.23) Eu nasci além dos mares: os meus lares, Meus amores ficam lá! __ Onde canta nos retiros seus suspiros, Suspiros de sabiá! (Canção do exílio – Casimiro de Abreu. In: Paulino, 1995: p.24) Já no Modernismo, com um tom de crítica, escreve Murilo Mendes: Minha terra tem macieiras da Califórnia, onde cantam guturanos de Veneza. Ai quem me dera comer uma carambola de verdade e ver um sabiá com certidão de idade. (In: Paulino, 1995: p.24) Ainda mais recentemente, nos anos 70, Cacaso, numa sátira à ditadura, escreve: 33 Minha terra tem palmeiras onde canta o tico-tico Enquanto isso o sabiá vive comendo o meu fubá. (In: Paulino, 1995: p.26) Como podemos perceber nos exemplos acima, são várias as formas de apropriação textual. Para Sant’Anna (1988; p.43), a apropriação é um termo de entrada recente na crítica literária. A rigor, não foi exaustivamente ainda definido, não explorado de modo definitivo. O que se sabe é que a técnica da apropriação, modernamente, chegou à literatura por meio das artes plásticas, experiência do movimento dadaísta, na apropriação o autor não “escreve”, apenas articula, agrupa, faz colagem do texto alheio. Esse autor cita um exemplo significativo de apropriação, que ocorre na poesia de Oswald de Andrade, no livro Pau Brasil (1924), em que o autor recorta textos de Pero Vaz de Caminha, Gândavo e outros viajantes e historiadores coloniais, e os apresenta em textos diferentes, o que podemos observar abaixo: - Seguimos nosso caminho por este mar de longo Até a oitava Páscoa Topamos aves E houvemos vista de terra As meninas da gare - Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olhamos Não tínhamos nenhuma vergonha (In: Sant’Anna, 1988: p.51-52) Ainda, na concepção de Sant'Anna (1988), “na apropriação, um texto, um objeto é desvinculado de seus sujeitos (autores) anteriores e se realiza uma nova leitura da produção alheia”. Numa época em que as produções estão ao alcance de muitos, podese dizer que há uma relação entre a apropriação e a sociedade de consumo. 34 3.2.7.2. Citação Para Paulino (1995: p.28), à retomada explícita de um fragmento de texto no corpo de outro texto, denomina-se citação. Trata-se, tradicionalmente, de um modo convencionado de marcar com aspas ou com outros recursos gráficos a presença do texto do outro para o leitor. Exemplos de citação: Texto original [...] A vinda do Anticristo deu lugar a uma tensão ainda maior. Sucessivas gerações viveram numa constante expectativa do demônio destruidor, cujo reino seria de fato um caos sem lei, uma era votada à rapina e ao saque, à tortura e ao massacre, mas também o prelúdio de um termo ansiado, a Sagrada Vinda e o Reino dos Santos. As pessoas estavam sempre alerta, atentas aos “sinais” que, segundo a tradição profética, anunciariam e acompanhariam o último “período de desordem”; e, já que os “sinais” incluíam maus governantes, discórdia civil, guerra, fome, carestia, peste, cometas, mortes imprevistas de pessoas eminentes e uma crescente pecaminosidade geral, nunca houve dificuldade em detectá-los. (Cohn, 1965, p.128. In: Os Fantásticos do Apocalipse) Cohn é bastante explícito sobre a situação de tensão típica desse período, em que a expectativa do Anticristo e, ao mesmo tempo, a do reino do “demônio destruidor”, inspirado na dor na dor e na desordem, “mas também o prelúdio de um termo ansiado, a Segunda Vinda e o reino dos Santos”. Numa época dominada por acontecimentos sombrios, saques, rapinas, carestia e pestes, não faltavam às pessoas os “sinais” que “segundo a tradição profética, anunciariam e acompanhariam o último período de desordem”. (In: Eco: 1991, p. 129) Outra forma de citação do assunto de um mesmo texto: Para Cohn (1965: p.128): A vinda do Anticristo deu lugar a uma tensão ainda maior. Sucessivas gerações viveram numa constante expectativa do demônio destruidor, cujo reino seria de fato um caos sem lei, uma era votada à rapina e ao saque, à tortura e ao massacre, mas também o prelúdio de um termo ansiado, a Sagrada Vinda e o Reino dos Santos. De acordo com Eco (1991: p.121), em geral citam-se muitos textos alheios numa tese: o texto objeto do trabalho, a literatura crítica sobre o assunto ou as fontes secundárias. Portanto, as citações são praticamente de dois tipos: (a) cita-se um texto a ser depois interpretado e (b) cita-se um texto em apoio à nossa interpretação. 35 O autor também apresenta dez regras para a citação (1991: p.121126): Regra 1 – os textos objeto de análise interpretativa são citados com razoável amplitude; Regra 2 – os textos da literatura crítica só são citados quando, com sua autoridade, corroboram ou confirmam afirmação nossa.(...) se o texto for importante, mas muito longo, é melhor transcrevê-lo por extenso em apêndice ou citar ao longo dos capítulos apenas breves períodos. Em segundo lugar, ao citar a literatura crítica deve-se estar seguro de que a citação diga algo de novo ou confirme o que fora dito com autoridade. Regra 3 – a citação pressupõe que a idéia do autor citado seja compartilhada, a menos que o trecho seja precedido e seguido de expressões críticas. Regra 4 – de todas as citações devem ser claramente reconhecíveis o autor e a fonte impressa ou manuscrita. Este reconhecimento pode dar-se de várias maneiras: a) com chamada e referência em nota, principalmente quando se trata de autor mencionado pela primeira vez; b) com nome do autor e a data de publicação da obra entre parênteses, após a citação. c) com simples parênteses, onde se menciona o número da página quando o capítulo ou toda a tese tratam da mesma obra do mesmo autor; Regra 5 – as citações de fontes primárias devem de preferência ser escolhidas da edição crítica mais conceituada. Para autores contemporâneos, citar, se possível, se há várias edições, a primeira se as seguintes forem meras reimpressões, a última se a obra tiver sido refundida, revisada, ampliada ou atualizada. Regra 6 – quando se estuda um autor estrangeiro, as citações devem ser na língua original. Essa regra é taxativa em se tratando de obras literárias. Nestes casos pode ser mais ou menos útil fazer seguir a tradução entre parênteses ou em nota de rodapé. Regra 7 – a remissão do autor e à obra deve ser clara e fidedigna. Regra 8 – quando uma citação não ultrapassa duas ou três linhas, pode inseri-la no corpo do parágrafo entre aspas duplas. Quando a citação é mais longa, é melhor colocá-la em um espaço (um ou simples) com entrada. Regra 9 – as citações devem ser fiéis. Deve-se transcrever as palavras tal como no texto e/ou na obra original. estão Regra 10 – citar é como testemunhar num processo. Precisamos estar sempre em condições de retomar o depoimento e demonstrar que é fidedigno. Por isso, a referência deve ser exata e precisa (não se cita um autor sem dizer em que livro e em que página), como também averiguável. 36 As dez regras apresentadas por Eco (1991: p.121-126) são, praticamente, orientações a pesquisadores quando necessitarem se valer de uma citação. Nem todos os tipos de regras de citação são utilizados neste trabalho, no entanto, podem ser válidos a futuras pesquisas. Vejamos, a seguir, outro recurso retórico: paráfrase. 3.2.7.3. Paráfrase Em redação de trabalhos científicos, é comum o redator valer-se da paráfrase para expor idéias constantes em outros textos. Transcrever ou copiar trechos, quando é possível parafraseá-los, pode revelar negligência da parte do pesquisador. Logo, o uso da paráfrase é um recurso retórico que faz parte de qualquer trabalho de pesquisa. Vejamos o posicionamento de estudiosos do assunto. Medeiros (2000: p. 150), com esteio em Greimas e Courtés, afirma: a paráfrase consiste em produzir, no interior de um mesmo discurso, uma unidade discursiva que seja semanticamente equivalente a uma outra unidade produzida anteriormente. Embora as palavras sejam diferentes, o sentido continua o mesmo, equivalente ao do texto original. Vejamos um exemplo de paráfrase em poemas de Jorge de Lima: Divina Comédia: De tantas coisas quantas eu ver pude Ao teu grande valor e alta bondade A graça referir, devo e virtude. (...) Sendo eu servo, me deste a liberdade Pelos meios e vias conduzido, De que dispunha a tua potestade. Seja eu do teu valor fortalecido, Porque minha alma, que fizeste pura Te agrade ao ser seu vínculo solvido. (Paraíso, XXXI. In: Sant’Anna, 1988: p.55) 37 Invenção de Orfeu: De tantos climas quantos eu ver pude, a teu grande esplendor e alta porfia, a graça referir, devo Alighieri, nas palavras que a Deus são também minhas: Sendo eu servo me deste liberdade, pelos meios e vias conduzido, de que dispunha a tua potestade. Seja eu do teu valor fortalecido, porque minha alma, que fizeste pura te louve ao ser seu vínculo solvido. (Canto IV, XIX. In: Sant’Anna, 1988: p.56) O que caracteriza o gesto parafrástico é a fidelidade ao modelo original. Vejamos mais este exemplo: Eneida: Irmão, tu te iludias? Que foi isto Que aras, tochas, fogueiras, me aprestavam? Lançam fachos ao cume. À frente Pirro A machadadas racha os umbrais duros, E éreos portões descrava da couceira; Traves descose, firmes robles fende, E cava ampla abertura. O interno centro Aparece e átrios longos patenteia; Aparecem de Príamo os retretes, Mansões de priscos reis; e um corpo em armas Cobre o limiar. Envolta em prantos Longo ecoa; as abóbadas ululam Com femíneo gemer, triste alarido (...) (Eneida, livro II. In: Sant’Anna, 1988: p.57) Invenção de Orfeu Irmã, tu me iludias? Dize irmã, que aras, tochas, fogueiras acendias? Lançam fachos aos lírios. E eis que Duende a machadadas racha esses umbrais; e antro malsão descrava das correntes, traves descose, ferros e aços funde e cava ampla aflição. O interno fogo aparece, e átrios longos escancaram-se. Aparecem do Inferno os capitães. Mansões de Grão-Beliais; e um monstro exangue cobre o limiar. A ilha é um pranto imenso, pranto, pranto; as abóbadas ululam com pânico gemido atormentado (...) (Canto VI, VIII. In: Sant’Anna, 1988: p.58) 38 Paulino (1995: p.30) esclarece: quando a recuperação de um texto por outro se faz de maneira dócil, isto é, retomando seu processo de construção em seus efeitos de sentido, dá-se a paráfrase. Também resumir ou recortar uma história é parafraseá-la. A paráfrase, evidentemente, não se confunde com plágio, porque ela deixa clara a fonte, a intenção de dialogar com o texto retomado, e não de tomar seu lugar. Outro exemplo de paráfrase: Texto original [...] A vinda do Anticristo deu lugar a uma tensão ainda maior. Sucessivas gerações viveram numa constante expectativa do demônio destruidor, cujo reino seria de fato um caos sem lei, uma era votada à rapina e ao saque, à tortura e ao massacre, mas também o prelúdio de um termo ansiado, a Sagrada Vinda e o Reino dos Santos. As pessoas estavam sempre alerta, atentas aos “sinais” que, segundo a tradição profética, anunciariam e acompanhariam o último “período de desordem”; e, já que os “sinais” incluíam maus governantes, discórdia civil, guerra, fome, carestia, peste, cometas, mortes imprevistas de pessoas eminentes e uma crescente pecaminosidade geral, nunca houve dificuldade em detectá-los. (Cohn, 1965, p.128. In: Os Fantásticos do Apocalipse) A esse respeito, Cohn é bastante claro. Debruça-se sobre a situação da tensão típica desse período, em que a expectativa pela vinda do Anticristo e, ao mesmo tempo, a de um período inspirado na dor e na desordem, mas também prelúdio da chamada Segunda Vinda, a Parúsia, a volta do Cristo triunfante. Numa época por acontecimentos sombrios, não faltavam às pessoas “sinais” correspondentes aos sintomas que os textos proféticos haviam sempre anunciado como típicos da vinda do Anticristo. (In: Eco, 1991: p.129) É possível observar nas citações expostas que os autores possuem conceitos parecidos do que é paráfrase, o que ocorre é a utilização de uma linguagem diferenciada para defini-la. Por que parafrasear? A paráfrase, para alguns estudiosos do assunto, contribui para a coesão do texto, já que atua como articuladora entre informações antigas e novas. Medeiros (2000: p. 150-151) explica: os textos originais contêm informações complexas, que podem apresentar dificuldades de entendimento. Desta forma, a paráfrase tem como objetivo traduzir um texto complexo em linguagem mais acessível. Parafrasear é, pois, traduzir as palavras de um texto por outras de sentido equivalente, 39 mantendo, porém, as idéias originais. A paráfrase inclui o desenvolvimento de um texto, o comentário, a explicitação. É comum, em produções textuais, recorrer-se a recursos retóricos como os da apropriação, citação, alusão, e paráfrase, cujo emprego não é negativo, pelo contrário: se utilizados adequadamente, resultam em um texto claro, preciso, coeso. 3.2.8. A produção textual escrita Neste item as considerações se reportam à produção textual escrita, reafirmando ser um problema em todos os graus de escolaridade. E, qual é ou quais são os problemas? Pécora (1992) destaca dois problemas no domínio da produção escrita: problemas de coesão textual e problemas de argumentação. 3.2.8.1. Problemas de coesão textual: Para que se possa produzir um texto, não basta ser alfabetizado no sentido de dominar as regras de construção da oração. É preciso que o produtor domine os elementos que permitam um texto coeso. Um texto forma uma totalidade semântica na medida em que “os virtuais elementos de coesão, relacionando-se entre si segundo as condições específicas que regem uma produção efetiva de linguagem, garantem a esse texto a capacidade de criação de vínculos entre seus interlocutores” (p.72). Existe coesão textual quando um elemento presente no texto, para ser interpretado, exige a consideração do outro, que pode aparecer antes ou depois do primeiro. Ela está, assim, intimamente relacionada à trama argumentativa do texto. Um primeiro problema que compromete (para não dizer inviabiliza) a coesão textual é o problema das frases incompletas no texto, quando os processos lingüísticos se perdem na relação que estabelecem entre si. O texto perde sua unidade quando as orações construídas pelo aluno ficam incompletas ou desconectadas das demais, ou seja, não há articulação entre um conjunto de orações. 40 Esses problemas de incompletude das frases e de desconexão das idéias que comprometem a coesão textual são chamados por Pécora de problemas de “incompletude associativa e de inadequação do relator” (p.75). Ainda em relação à coesão textual, Pécora (1992) apresenta os problemas de “ambigüidade de referência anafórica” (p.76) que, muito embora não seja um problema de coesão em si, torna-se problema para a coesão quando “representa uma impossibilidade de realização da função anafórica presente no texto” (p.77), ou seja, quando não é possível identificar a qual elemento empregado anteriormente o anafórico faz referência. E se o locutor não estiver presente, no momento da leitura de seu texto, para esclarecer as dúvidas dos interlocutores, é necessário que ele, ao produzir um texto, leia-o como se fosse um texto de outro. Assim, “a primeira pessoa deve desdobrar-se na segunda (...) sem que, jamais, esse um possa ser mais do que um” (p.78). Eis uma considerável dificuldade de construção de sentido no texto. 3.2.8.2. Problemas de argumentação: Por argumentação, num sentido aristotélico, segundo Pécora (1992), pode-se entender “o conjunto de procedimentos lingüísticos (as provas técnicas, no dizer do filósofo) mediante os quais o orador é capaz de persuadir ou convencer o seu público, obter a sua adesão (passional ou intelectual – se se quiser manter algumas das dicotomias prezadas pelo pensamento aristotélico)” (p.81). Na verdade, os problemas trabalhados anteriormente podem ser identificados como problemas de argumentação na medida em que comprometem a constituição de um discurso dotado de sentido capaz de comunicar algo a alguém. A construção de um discurso implica na produção de um sentido numa ação intersubjetiva, ou seja, o produtor de um texto escrito deve ter presente, por meio de um jogo de imagens, os seus possíveis interlocutores. Tudo isso evidencia que a escrita exige o domínio de algumas especificidades em relação a qualquer outra modalidade de linguagem. É na dissertação que os problemas de argumentação se tornam mais evidentes, na medida em que o usuário reconhece a necessidade de produzir um texto constituído por argumentos e provas. 41 Diante disso, pode-se reconhecer que os problemas mais recorrentes na produção textual vão desde as dificuldades de domínio das normas técnicas, até problemas de argumentação. Pretendeu-se, nesse item, fazer referência à produção textual, uma vez que o problema básico reside na abordagem da escrita que é operacionalizada, muitas vezes, pela escola. Santos (2000; p.03) também frisa os problemas em relação à produção escrita: “os textos escritos por usuários da língua escrita, profissionais ou falantes, em geral, alunos, costumam ser alvo de numerosas críticas que têm posto em xeque os métodos de alfabetização e ensino adotados na escola”. Na seção seguinte, proceder-se-á a uma análise dos textos monográficos, produzidos pelos pós-graduandos do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, da UNICENTRO/Irati. 42 4 ANÁLISE DOS TRABALHOS MONOGRÁFICOS Nesta quarta parte, proceder-se-á a análise dos 10 (dez) trabalhos monográficos dos pós-graduandos do Curso de Especialização em "Leitura e Produção Escrita", realizado no Câmpus de Irati, no período de 2000/2001 e, apresentados à DIPESP - Divisão de Pesquisa e Pós-Graduação da Unicentro/Irati. Esta parte será dividida em 3 (três) etapas, sendo: 1ª etapa: A estrutura organizacional. 2ª etapa: A construção e consistência dos trabalhos. 3ª etapa: Reflexões. A primeira e segunda etapas serão exemplificadas com trechos retirados da versão final dos trabalhos monográficos, os quais constituem o corpus desta dissertação. 4.1. A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Neste item, objetiva-se responder às seguintes perguntas: 1 - O título do trabalho tem relação com o conteúdo da monografia? 2 - Como está subdividido o trabalho? As partes que o compõem são pertinentes? Mantêm articulação entre si? São coerentes em relação ao título, aos objetivos, à metodologia? Perguntas estas, constantes dos "Critérios para análise do corpus", (p. 5), elaboradas para nortear a presente análise. Assim, pretende-se verificar: • a subdivisão interna dos trabalhos; • os objetivos e a metodologia. 43 4.1.1. A subdivisão interna dos trabalhos Nesta parte, são analisados sumários, relação do título com o conteúdo do texto escrito, a articulação /coerência entre o título e as partes. A seguir, serão expostos os sumários ou índices dos 10 (dez) trabalhos monográficos, seguindo a ordem disposta no item 1.1. Critérios para constituição do corpus (p. 3). Passo, então, à análise das seguintes monografias.* MONOGRAFIA Nº 01 “A leitura de textos ilustrativos” * Os trechos ilustrativos, que constam como exemplos, no decorrer da análise, são retirados da versão final das monografias que se encontram catalogadas na Biblioteca do Câmpus da Unicentro/Irat/PR. 44 Os itens e subitens do sumário da monografia de nº 04 “A Leitura de textos ilustrativos”, quanto à formatação estão coerentes com a parte interna. No Capítulo I – A leitura na escola – o pós-graduando comenta os objetivos dos PCNs em relação à prática da leitura na escola e como o professor deve proceder ao realizar tal atividade, exemplo da p. 11, versão final da monografia. Nos subitens 1.2. “Outras Linguagens na Escola” e 1.2.1. “Novas Linguagens e a Literatura Infantil, o pós-graduando faz um relato a respeito dos meios de comunicação que fazem parte do dia-a-dia dos alunos (rádio, televisão, jornal, internet) e sugere que, dentre essas “novas linguagens” , o professor deve incluir textos infantis, ou seja, explorar os contos de fadas, as ilustrações das histórias infantis. No Capítulo II – O TEXTO ILUSTRATIVO NA SALA DE AULA – ILUSTRAÇÃO E LEITURA, o autor do trabalho relata a opinião de Ruth Rocha e Fanny Abramovich sobre a importância da criança ouvir histórias infantis. Em UMA PROPOSTA DE LEITURA DE TEXTOS ILUSTRATIVOS – Capítulo III, na página 28, versão final, o pós-graduando comenta: 45 E, no mesmo item, encontramos uma análise a que o pós-graduando procedeu do livro infantil “Pêssego, Pêra, Ameixa no Pomar”, de Janete a Alan Ahlberg, cujos trechos constam na versão final da monografia, p. 29 - 32. Na ilustração acima (p.29), o autor do trabalho, em sua interpretação, chama a atenção para a ilustração da capa, a qual considera um “coquetel” (frutas, objetos, seres), aguçando a curiosidade do leitor para a página seguinte, em que será revelado o segredo da história. 46 Pela ilustração da p. 31, percebe-se que o pós-graduando faz breve referência à história “O Pequeno Polegar”, lembrando ao leitor de que é possível, através do não-verbal do texto ilustrativo, “buscar” outros intertextos. 47 No texto acima, p.32, o pós-graduando retoma a ilustração da capa do livro “Pêssego, Pêra, Ameixa no Pomar”, de Janet e Allan Ahlberg. Faz rápida referência ao critério da textualidade – a intertextualidade – mas não expande o assunto. Na “proposta de leitura”, o pós-graduando não envolve alunos na atividade do livro mencionado. O trabalho apresenta boa articulação entre as partes. 48 MONOGRAFIA Nº 02 “Refletindo práticas de leitura com Textos Fílmicos no espaço escolar” Pelo sumário da monografia de nº 02 "Refletindo práticas de leitura com Textos Fílmicos no espaço escolar", é possível observar que o trabalho monográfico se apresenta dividido em cinco partes: Introdução, Capítulo I e Capítulo II (como embasamento teórico), Considerações Finais e Referências Bibliográficas, estas partes estão adequadas à parte interna do trabalho. No entanto, as subdivisões do Capítulo I – A HISTÓRIA DO CINEMA e, no item 2.1. – “A linguagem fílmica”, do Capítulo II – O TEXTO FÍLMICO NA SALA DE AULA, o pós graduando utiliza, das 24 (vinte e quatro) páginas que compõem o trabalho monográfico,14 (catorze), da p. 7 à p. 20, para discorrer sobre os assuntos "cinema" e "linguagem fílmica". No item 2.2. “Discutindo Propostas de Trabalho com o Texto Fílmico na Sala de Aula”, do Capítulo II, destaca, também, a importância de como o professor que se propuser a trabalhar textos fílmicos, em 49 sala de aula, deve proceder. O autor do trabalho destaca, também, da importância do trabalho com textos fílmicos no aprendizado dos alunos. É o que ilustra o trecho da versão final da monografia: O professor ao se dispor realizar trabalhos com textos fílmicos deve preparar-se previamente, ou seja, assistir o filme, pesquisar o significado das expressões desconhecidas, as características da montagem, a estrutura, o tema, o som, enfim todos os meios técnicos utilizados na sua realização, pois o aluno ao deparar-se com alguma dúvida, poderá recorrer ao professor o qual deverá possuir um pouco mais de conhecimento sobre a análise de Textos Fílmicos. Existem várias propostas para se trabalhar com o Texto Fílmico na Sala de Aula. Uma delas é despertar no aluno o interesse pelas transformações que ocorrem no decorrer do filme, ou seja, a mudança de sons, cores, gestos, movimentos. Mudanças estas que dão sentido ao Texto Fílmico. Pode-se trabalhar com a linguagem presente no filme, pesquisar a época em que o filme foi produzido, ver quais expressões que mudaram e se algumas permaneceram até hoje. Também se pode proporcionar ao aluno uma comparação do conteúdo do filme com os acontecimentos da vida “real”. Ainda é possível desenvolver ou possibilitar que o aluno faça uma comparação entre as várias linguagens do filme e também se os elementos e características de uma obra estão presentes em outra (Leitura intertextual). O estudo de alguns textos fílmicos não só enriquece o conhecimento dos alunos, como proporciona também a liberdade de indagação, o conhecimento, possibilitando o desenvolvimento das reações humanas diante das pressões sociais (sic), p. 20-21. Pelo trecho acima é possível notar que a produção escrita do pósgraduando sugere várias possibilidades de leitura de um filme, mas não consta, no trabalho, uma análise de filme (s) como exemplo, como modelo. O título da monografia “Refletindo práticas de leitura com Textos Fílmicos no espaço escolar” leva o leitor a inferir que será discutido, na parte interna do trabalho, o assunto leitura de textos fílmicos, pois o título reforça a idéia. No entanto, isto não ocorre. 50 MONOGRAFIA Nº 03 "Uma proposta de leitura: da poesia a pintura" A monografia de nº 03 “Uma proposta de Leitura: Da poesia a pintura” apresenta um sumário adequado, as divisões e subdivisões se articulam à parte interna do trabalho. No item 1. “A arte pictória e a arte verbal: Leitura do tempo”, deveria constar o número 2 e não o número 1 e no item “Bibliografia”, o número 6. Mas é apenas um detalhe formal que não interfere no conteúdo. O que chama a atenção é uma ampla abordagem sobre leitura de textos poéticos e leitura de telas (pinturas) cujo tema é a mulher. Os trechos abaixo, p. 35 e p. 36, versão final da monografia, ilustram a abordagem feita. 51 O trabalho monográfico está bem elaborado, porém, o pós-graduando não articula a questão da leitura ao ensino de língua materna, ou seja, não faz articulação ao Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”. Faltou esta articulação/coerência entre o título e o conteúdo do texto escrito. Como podemos observar, o título não antecipa expectativas sobre a figura feminina abordado no interior do trabalho. 52 MONOGRAFIA Nº 04 “Refletindo as práticas de leitura no ensino fundamental” Na monografia de nº 04 “Refletindo as práticas de leitura no ensino fundamental”, o índice apresenta: Introdução, Capítulo I, II e II, Considerações Finais e Bibliografia, adequadamente. Porém, alguns pontos chamam a atenção, como por exemplo: no Capítulo I – “Breve Histórico da Leitura no Ensino Fundamental”, o pósgraduando utiliza-se de 7 (sete) páginas (da 7 à 13), no Capítulo II – Leitura e Escola – e para os 6 (seis) subitens deste Capítulo, o pós-graduando utiliza-se de 10 (dez) páginas (da 14 à 24). Apesar de o número de páginas se apresentar pouco para temas importantes, os conteúdos se apresentam breves, mas adequados, relevantes ao trabalho com a leitura no ensino fundamental. 53 Utilizando-se de mais 10 (dez) páginas da monografia, o pósgraduando, no Capítulo III – Para se Construir Bons Leitores... Refletindo as práticas da leitura”, discute a prática pedagógica do professor na formação de bons leitores, relacionando algumas técnicas, como o exemplo da p.29, da versão final da monografia. No mesmo Capítulo III, são apresentadas sugestões metodológicas de como se trabalhar a leitura na escola, como exemplifica o trecho da versão final da monografia, p. 29. 54 Finalizando o capítulo, o pós-graduando acrescenta: Além dessas sugestões, os professores não devem ter preconceitos em levar para a sala de aula outros textos tais como: cinema, pintura, música, lendas, horóscopo, publicidade, enfim, todo material do qual se possa realizar a leitura. Pois é, acima de qualquer coisa, o texto o grande sedutor de leitores. Pode-se também dentro da sala de aula formar a biblioteca de classe que consiste em doações da comunidade e das próprias crianças, que pode conter em seu acervos (sic) livros de literatura, pequenos textos, jornal, revistas e outros materiais de leitura: também se pode montar na escola uma gibiteca (sic), p.34-35. Observamos que as sugestões são pertinentes ao trabalho com a leitura, porém, o pós-graduando, após relacionar uma diversidade de textos e de como trabalhá-los, não apresenta uma prática de leitura realizada com os alunos em sala de aula. O título do trabalho monográfico leva o leitor a pensar que na monografia encontra essa prática pedagógica. MONOGRAFIA Nº 05 “Contando história... Formando leitores...” 55 A monografia de nº 05 “Contando Histórias... Formando Leitores...” apresenta um sumário coerente com a parte interna do trabalho de pesquisa. O Capítulo I – MEMÓRIA DE LEITURA, apesar da palavra “memória” parecer meio estranha ao leitor, o assunto do capítulo refere-se à importância dos alunos ouvirem histórias, contadas pelos pais, avós, familiares e, também, pela professora. Em 1.2. “Leitura e Escola”, embora o tema seja amplo, o pósgraduando utiliza-se de 6 (seis) páginas para expor que a leitura deve funcionar como uma extensão da escola, ou seja, sendo a leitura uma atividade social, deve-se aprender dentro e fora da escola. O trecho, abaixo, retirado da versão final da monografia, exemplifica a fundamentação do item 1.2 – Leitura e Escola, pelo pós-graduando: A leitura é uma atividade social cuja funcionalidade se evidencia e se propaga cada vez mais, mas uma grande parcela da população não tem acesso à leitura porque a escola, como lugar de ensino, acaba sendo bastante elitista, ignorando as camadas populares. Ensinar é uma tarefa difícil, e quando o professor pretende encaminhar seu aluno para os caminhos do mundo da leitura, ensinar passa a ser uma arte. E como toda arte criadora, a preparação antes da leitura é importante, tanto pelas experiências que visam diretamente à correta aprendizagem de ler, escrever e falar, quanto pelas atividades que permitem à criança um crescimento emocional, psíquico, intelectual e físico harmonioso. A forma como se trabalha a leitura em muitas escolas, hoje, é questionável. No período escolar, o livro tem assumido um aspecto de instrumento de cobrança e avaliação, o que lhe retira a magia e o encanto. A leitura é apresentada normalmente como obrigação; crianças que têm problemas de dicção nas séries iniciais são obrigadas a ler em voz alta para os colegas, tornando-se alvos de chacota (sic), p. 9-10. No Capítulo II – A CRIANÇA E OS CONTOS – os itens 2.1. “A Literatura e os Contos” e 2.2. “O Contador de Histórias”, o autor do trabalho relata que os contos de Perrault, Grimm, Andersen, sempre serão universais na literatura infantil, influenciando a imaginação das crianças, e para que essa imaginação ocorra, é relevante o papel do contador de contos, de histórias, como exemplifica o trecho da versão final da monografia, p. 14. 56 No Capítulo III – METODOLOGIA DE PESQUISA – o pós-graduando informa onde e como realizou a pesquisa. É um dos únicos trabalhos que apresenta adequada e clara a metodologia de pesquisa. Nos subitens 4.1. “Um pouco mais de História” e 4.2. “Atividades”, do Capítulo IV – HORA DA HISTÓRIA – o pós-graduando relata como se procederam as atividades de leitura com os alunos (projeção de slides, teatro de fantoches, dramatizações, hora da leitura livre). As atividades foram registradas pelo autor da monografia, por meio de fotos, das quais apresentamos duas delas. “Foto 03 – sala dos fantoches. A história ”Um gato no telhado” de Ana Maria Machado sendo contada com a ajuda de fantoches”. 57 A foto 03 consta na p. 33. versão final da monografia. Na ilustração, o autor do trabalho retrata a atividade que desenvolveu junto aos alunos quando da realização da pesquisa. A foto seguinte está exposta na p. 35, da versão final da monografia. Na ilustração, o autor do trabalho registra outra atividade desenvolvida junto aos alunos, quando realizou o trabalho de pesquisa. “Foto 05 – encenação de uma história”. A fotos contribuíram para a boa articulação da parte interna do trabalho. O pós-graduando, na p.35, da versão final da monografia, expõe a contribuição das atividades desenvolvidas durante a pesquisa para o seu trabalho em sala de aula, no dia-a-dia. Meu trabalho continua em sala de aula, sempre após o recreio é hora de contar história às vezes por mim, outras pelos próprios alunos, às vezes são contadas histórias inventadas por eles mesmos. Partindo disso desenvolvi a seguinte atividade: depois de terem lido e ouvido diversos contos de fadas, começaram a inventar suas próprias histórias e apresentá-las para outras turmas; foi uma mistura divertida entre índios, animais, fadas e até um menino 58 sozinho em busca de um tesouro que no desenrolar da história, esse tesouro era sua própria família (sic), p. 35. MONOGRAFIA Nº 06 “Biblioteca Pública e Biblioteca Escolar” Os itens e subitens do sumário da monografia de nº 06 “Biblioteca Pública e Biblioteca Escolar” estão adequados à parte interna do trabalho. No Capítulo I – Importância das Bibliotecas para os Leitores – o pósgraduando expõe a importância do espaço que as bibliotecas proporcionam aos 59 leitores e/ou freqüentadores delas por ser um espaço propício à leitura, à pesquisa. Em “Pesquisando a Biblioteca Pública e a Biblioteca Escolar “ – Capítulo II, o autor da monografia fala de 2 (duas) bibliotecas: item 2.1. “Biblioteca Pública Municipal de Irati” – para falar sobre esta Biblioteca, o pósgraduando consulta o site [email protected] e comenta sobre o clima, indústrias, comércio da cidade de Irati e, no contexto educação, refere-se à Biblioteca Pública Municipal de Irati: localização, instalação, horário de funcionamento, clientela, acervo bibliográfico, demonstra uma tabela de empréstimos, por disciplina, num total de 779 livros emprestados no mês de outubro de 2000, p. 15, da versão final da monografia. Exemplo: No item 2.2. “Biblioteca do Colégio Estadual Antônio Xavier da Silveira – Irati”, o pós-graduando também expõe dados a respeito da Biblioteca, como: 60 endereço, horário de funcionamento, critérios de empréstimos de livros, clientela e acervo. O autor do trabalho monográfico apresenta três páginas, ou seja, uma relação de 387 livros emprestados no mês de outubro de 2000, cujos títulos se apresentam seguidos uns dos outros, separados por vírgulas, e alguns títulos repetidos. Exemplo: No Capítulo III – Usuários – nesta parte, constam os posicionamentos dos usuários das Bibliotecas visitadas para a realização da pesquisa. Os posicionamentos resultam das entrevistas que o pós-graduando realizou, de acordo com os subitens: 3.1 – “Alunos do Ensino Médio usuários da Biblioteca Pública Municipal de Irati”. Exemplo da p. 23, da versão final da monografia. 61 3.2 – “Usuários não e estudante”. Exemplo da p. 25, da versão final da monografia. 3.3 – Usuária da Biblioteca do Colégio Estadual Antônio Xavier da Silveira”. Exemplo da p. 27, da versão final da monografia. O trabalho monográfico é válido pelas atividades apresentadas, porém, são mais informações quanto ao espaço físico das Bibliotecas, opiniões de freqüentadores das Bibliotecas, não há atividades envolvendo leitura e/ou escrita 62 que viessem contribuir com a prática pedagógica de futuros pesquisadores.O pós-graduando não articula o trabalho monográfico à especificidade do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”. MONOGRAFIA Nº 07 “A presença de fatores de coesão e coerência em produções orais efetivadas por sujeitos portadores de Síndrome de Down – APAE de Prudentópolis” O sumário da monografia de nº 07 “A presença de fatores de coesão e coerência em produções orais efetivadas por sujeitos portadores de Síndrome de Down – APAE de Prudentópolis”, apresenta-se, até certo ponto, inadequado, pois na parte interna da monografia não consta a numeração em algarismos romanos, como se apresenta no sumário. Também, o título dos capítulos, no sumário, está escrito em letras minúsculas; já na parte interna, aparece em letras minúsculas. 63 Em “DESENVOLVIMENTO” – há três subitens, sendo: 2.1. “Características gerais da criança portadora de Síndrome de Down”, em que o pós-graduando relata, em três páginas, as características genéticas e físicas do portador de Síndrome de Down. Da versão final da monografia, p. 10, podemos destacar um exemplo: 2.2. “Linguagem: importância e sua correlação com a Síndrome de Down”; utilizando-se de 11 páginas, o autor do trabalho monográfico, sem citar autores ou estudiosos do assunto, faz um relato a respeito da linguagem do portador de Síndrome de Down. O trecho da p. 17, versão final da monografia, exemplifica. 64 2.3. ”Aspectos da aquisição da leitura e a Síndrome de Down”, neste item, também não há posicionamentos de estudiosos do assunto SD, e o pósgraduando expõe que as histórias em quadrinhos, desenhos animados, literatura infantil contribuem para o desenvolvimento da leitura das crianças portadores da Síndrome de Down. O trecho da p. 23, versão final da monografia, ratifica o exposto. Das 45 páginas que constituem o trabalho, 17 páginas são utilizadas para o item “Desenvolvimento” (embasamento teórico) em que o pós-graduando aborda o assunto “Síndrome de Down” sem fazer uso de citações de autores estudiosos do assunto. No item “LINGUAGEM ENSINO E APRENDIZAGEM PARA A CRIANÇA PORTADORA DE SÍNDROME DE DOWN” – o autor do trabalho comenta: “trabalhar com crianças excepcionais (SD) requer trabalhar mais o lado imaginário”. No subitem 3.1 – “Contos de fadas”, o autor da monografia fala da importância dos professores de escolas especiais trabalharem esse gênero textual, pois “as crianças portadoras de SD são como as normais, dotadas de inteligência e imaginação”. Em 3.1.2 – “A narrativa e a sua importância na Aprendizagem da criança com Síndrome de Down”, este item é uma continuação do item 3.1., porque também fala da importância de se trabalhar contos de fadas, histórias infantis, com crianças portadoras de SD. No item 3.2 – A Produção textual: Coesão e coerência, o pós-graduando fez uso de, praticamente, três páginas sobre “coerência e coesão”, que deveriam ser os assuntos mais 65 explorados para adequar-se ao título da monografia, mas o que consta, nestas poucas páginas, é a opinião do autor do trabalho monográfico que se resume no seguinte: “um texto só será coeso quando as idéias estiverem articuladas, a coerência tem por finalidade dar conta do processo cognitivo do texto e, que para um portador de deficiência (SD) ter a compreensão de um texto, é preciso que o professor trabalhe tais elementos”. O item – METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS 4.1- “Procedimentos Metodológicos” (subitem só citado) e em 4.1.1- “Sujeitos” – o pós-graduando informa que realizou observação na Apae da cidade de Prudentópolis, onde a professora especialista, que trabalha na escola, selecionou três alunos portadores de Síndrome de Down, com idades 17, 16 e 10 anos, e leu para eles a história infantil “Os três porquinhos” (o pós-graduando adota o termo “sujeitos” e não alunos). Em 4.1.2- “Coleta de dados”, o pós-graduando relata que a professora dos alunos fez uso de um gravador para transcrever exatamente como os alunos reproduziram, oralmente, a história ouvida. Em 4.2. “Produção textual oral obtida“, são apresentadas as produções textuais orais dos alunos (escritas pela professora dos alunos). 4.2.1 – Produção textual oral sujeito nº 1, versão final da monografia, p.36. 66 4.2.2 – Produção textual oral sujeito nº 2, versão final da monografia, p.36-37. 4.2.3 – Produção textual oral sujeito nº 3, versão final da monografia, p.37. 67 4. 4. “Discussões a respeito das produções textuais obtidas” – nesta parte, o pósgraduando apresenta as suas conclusões sobre os três textos que os alunos produziram oralmente e a professora deles reproduziu por escrito: 1º) “Apesar das dificuldades, o aluno compreendeu a história e, produziu-a oralmente de modo coerente”. 2º) “Em relação ao segundo texto, pôde-se constatar que o aluno compreendeu a história. Apesar de omitir alguns fatos, o texto é coerente. 3º) ”A terceira produção foi a que mais perto chegou do texto original, contado pelo professor. É um texto coerente, embora apresente uma linguagem difícil e confusa”. Podemos observar que o portador de SD é capaz de elaborar texto coerente, a dificuldade está no emprego de elementos de coesão”. O autor do trabalho não expande, não aprofunda a conclusão a que chegou sobre coerência e elementos de coesão, observados nos textos orais dos alunos. MONOGRAFIA Nº 08 “O Processo de Leiturização na Creche” O sumário da monografia de nº 08 “O Processo de Leiturização na Creche” aparentemente monográfico. parece adequado à parte interna do trabalho 68 O item “DESENVOLVIMENTO” – utilizando 3 parágrafos faz uma compilação sobre o ato comunicativo que acompanha o ser humano desde o nascimento. Este item apresenta 4 subitens, que são: 2.1. “O processo de leiturização”, em que o pós-graduando fala sobre a leitura como um processo que começa com o nascimento e se prolonga por toda a vida do ser humano; 2.2. “ A creche e os processos de aprendizagem”, neste subitem o pós-graduando conta quando e por que do surgimento das Creches, o papel social e a organização da Creche. Um exemplo, versão final da monografia, p. 17. 2.3. “Perfil social das crianças que freqüentam Creches Públicas”, neste subitem, o autor do trabalho monográfico expõe a questão social e econômica das crianças que freqüentam a creche, como exemplo, o trecho da p. 21, versão final da monografia. 2.4. “A leitura e seu espaço antes da Alfabetização”, o pós-graduando comenta que as crianças são capazes de ler o que lhes for apresentado, mesmo não dominando o código escrito, e que a creche deve ser um período de 69 preparação para leituras mais elaboradas, mesmo que esta não possua espaço apropriado para atividades de leitura. Em “PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS” – em duas páginas e onze parágrafos, o autor do trabalho descreve a localização da Creche, o espaço físico, as instalações, o número de funcionários, o número de crianças que a freqüentam, as condições sociais e econômicas das crianças e dos pais dessas crianças. Na realização das atividades de pesquisa, o autor do trabalho monográfico relata que foi lida ao grupo de crianças da pré-escola a obra “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo. Após a leitura, solicitou-se às crianças que respondessem, oralmente, algumas questões (previamente elaboradas) a respeito da história. Na realização dessa atividade, a professora da turma fez uso de um gravador, para melhor entender a história contada pelas crianças. No item “INTERPRETAÇÃO E REESCRITA DA HISTÓRIA OUVIDA” – após ouvida a história, as crianças a reproduziam, à medida que a professora ia lhes perguntando. O pós-graduando pôde perceber, nessa atividade, que as crianças associavam fatos da história com os do dia-a-dia delas e chegou à conclusão de que embora as crianças não dominassem o código escrito, a reprodução decorreu de modo significativo. A história e/ou trechos da história, reproduzida oralmente pelos alunos, não é descrita no trabalho monográfico como ocorre na monografia de nº 07. O autor da monografia explora, praticamente, em quase todo o trabalho monográfico, o papel social da Creche, utilizando catorze páginas (da p. 10 à p. 24) e, para as atividades propriamente de pesquisa, utiliza cinco páginas (da p. 29 à p. 33), sendo que as atividades, junto às crianças, foram realizadas pela professora da turma, e apenas observadas pelo pesquisador. O título da monografia traz expectativas ao leitor, mas as expectativas são frustrantes, pois não há, na parte interna, atividades de leitura na creche que venham servir de base para o trabalho pedagógico de professores e atendentes de creche. 70 MONOGRAFIA Nº 09 “O Espaço do Texto Poético no Ensino Fundamental” O espaçamento do sumário da monografia de nº 09 é irregular, na versão final, ocupando duas páginas. Os títulos dos Capítulos I, II, e III, também 71 Introdução, Considerações Finais, Bibliografia e Anexos, que, no sumário, aparecem escritos em letras minúsculas, no entanto, sumário e parte interna do trabalho monográfico deveriam estar adequados. Outro aspecto, que se pode considerar incoerente, é quanto ao número de páginas, pois, das 56 páginas que perfazem o trabalho monográfico, 20 delas são destinadas aos Anexos (onze textos poéticos trabalhados pela professora no ano letivo e as quatro entrevistas, sendo uma com a professora da turma e quatro com alunos da 2ª série do ensino fundamental), portanto, 36 páginas destinadas, propriamente ao trabalho de pesquisa, sendo que a Introdução inicia-se na página 7. Diante dessa divisão, podemos perceber que poucas páginas são destinadas ao assunto da pesquisa propriamente dita. No CAPÍTULO I – “A POESIA, A ESCOLA E A CRIANÇA”, o pósgraduando aborda, rapidamente, a origem da poesia infantil e sua importância no ensino fundamental. No subitem 1.1. “A poesia e o livro didático”, o autor da pesquisa comenta que o texto poético dos livros didáticos é usado para se trabalhar questões gramaticais. Em 1.2. “A poesia na sala de aula”, o pós- graduando expõe que a poesia, na maioria das vezes, é recitada em comemorações cívicas (foi o que notou, observando as aulas da 2ª série do ensino fundamental, na escola em que a pesquisa foi desenvolvida). No CAPÍTULO II – A PESQUISA PARTICIPANTE E O ENSINO DE POESIA – subitem 2.1. “Entrevista”, o autor do trabalho monográfico conta que realizou entrevista com uma professora e com quatro alunos (uma aluna e três alunos), da 2ª série do ensino fundamental da Escola Municipal Clotilde dos Santos Gomes, município de Prudentópolis, com a finalidade de verificar “qual o espaço do texto poético na sala de aula”, “o que os alunos concebem como poesia” e “como esse tipo de leitura vem sendo trabalhada”. Para executar tal verificação, o pós-graduando elaborou perguntas à professora e aos alunos, perguntas estas, que constam nos itens 3.1.5.1 e 3.1.5.2. do Capítulo III. Subitem 2.2. “Ato Situacional”, nesta parte há um breve histórico da Escola em que foi realizada a pesquisa. Em 2.3. “A educação pública municipal de Prudentópolis”, neste item, há um breve histórico do ensino fundamental de 1ª à 4ª séries, na zona rural de Prudentópolis. No CAPÍTULO III – REPENSANDO A PRÁTICA DE TEXTOS POÉTICOS NA SALA DE AULA” – nos subitens deste Capítulo, 3.1. “O trabalho 72 da Professora”; 3.1.1. “Primeiro momento ‘Paraíso’”; na observação, em sala de aula, o pós-graduando relata como se desenvolveu o trabalho da professora com o poema “Paraíso”, de José Paulo Paes. Num primeiro momento, a professora lê a poesia para a turma, em seguida pede que os alunos comentem o que entenderam. Paraíso Se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, Não para automóvel matar gente, mas para criança brincar. Se esta mata fosse minha, eu não deixava derrubar, Se cortarem todas as árvores, onde é que os pássaros vão morar? Se este rio fosse meu, eu não deixava poluir, Joguem esgotos noutra parte, que os peixes moram aqui. Se este mundo fosse meu, eu fazia tantas mudanças que ele seria um paraíso de bichos, plantas e crianças. José Paulo Paes 3.1.2. “Segundo momento’Poesia em forma de canção’”; dando continuidade ao trabalho com o poema “Paraíso”, a professora pergunta se os alunos conhecem a canção “Se esta rua fosse minha”, após convida-os a cantarem a canção mencionada, usando a letra da poesia “Paraíso” (um exemplo de paródia). Após a atividade musical, a professora da turma não deixa de trabalhar questões gramaticais, como por exemplo, o vocabulário do poema, ou seja, algumas palavras, cujo significado é novo aos alunos. 3.1.3. “Terceiro momento ‘Criando outro mundo’”; neste momento, a professora da turma solicita que os alunos se organizem em grupos e que cada grupo escolha uma estrofe do poema “Paraíso”, representando-a por meio de desenhos, os quais foram expostos no mural da sala. Logo em seguida, a 73 professora elaborou perguntas referentes ao texto poético. No trabalho monográfico não constam as produções dos alunos. 3.1.4. “Moral da história”; neste item, o pós-graduando se contradiz, pois, atribuindo o título “moral da história”, comenta que observou a professora da turma em relação ao trabalho com os textos poéticos que ela desenvolveu no ano letivo, porém, o trabalho monográfico faz referência às atividades da professora e dos alunos quanto ao poema “Paraíso”, tendo sido os demais textos poéticos (10 textos) expostos em anexo. O trecho 3.1.4. “Moral da história”, p. 26, da versão final da monografia, ilustra a interpretação feita. As interpretações dos subitens 3.1.1./3.1.2./3.1.3./3.1.4./, do Capítulo III, basearam-se nos relatos do pós-graduando quanto aos procedimentos pedagógicos da professora alvo da observação. 3.1.5. “A relação professor-poesia – poesia e aluno – poesia”, o pós-graduando descreve os procedimentos metodológicos da professora junto aos alunos da 2ª série do ensino fundamental da escola já mencionada. Em. 3.1.5.1. “Entrevista com a professora”, a professora respondeu o seguinte questionário: 74 Diante das respostas da professora, o pós graduando conclui que para a professora “trabalhar poesias e/ou textos poéticos tornam as aulas mais produtivas”. No item, 3.1.5.2. “Entrevistas com os alunos”, as perguntas feitas aos quatro alunos são as mesmas do exemplo a seguir: 75 Pelos relatos dos alunos, o pós-graduando concluiu: “a professora trabalhou textos poéticos, em sala de aula, durante o ano letivo”. Porém, não esclarece se os objetivos previstos no subitem 2.1. “Entrevista”, do Capítulo II, foram atingidos, como por exemplo: “- texto poético tem espaço na sala de aula”; “- o aluno, a seu modo, concebe poesia”; “- é possível observar como a leitura de texto poético é trabalhada na escola”. O pós-graduando não retoma, no final da análise, os objetivos que traça para o desenvolvimento das atividades propostas. 76 MONOGRAFIA Nº 10 “A produção de textos nas séries iniciais: Um estudo sobre a interferência da fala na escrita” Aparentemente, o sumário da monografia de nº 10 “A produção de textos nas séries iniciais: Um estudo sobre a interferência da fala na escrita” se apresenta adequado, no entanto, a numeração em algarismos romanos: I, II, III, IV, V, VI, VII, não aparece na parte interna do trabalho monográfico, e os títulos dos capítulos que aparecem em letras minúsculas no sumário, na parte interna do trabalho monográfico, estão escritos em letras maiúsculas. No item “FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA” – o pós-graduando utiliza-se de 18 páginas (da p. 09 à p. 26) em três subitens: 2.1. “Diferença da fala na escrita” – o título deste 77 subitem não confirma o que está no título da monografia, como também muda o sentido, pois “interferência da fala na escrita” não significa o mesmo que “diferença da fala na escrita”. Embora usando a palavra “diferença”, o pósgraduando comenta, neste item, e em todo o trabalho, que a fala tem características e momentos de uso, assim como a escrita. Os trechos das p. 12 e 14, da versão final da monografia, exemplificam o comentário sobre o uso da palavra “diferença” e não “interferência”. 2.2. “A produção escrita destinada à criança” – neste tópico, o autor do trabalho monográfico expõe que as cartilhas e os livros didáticos (não cita nenhuma cartilha e nenhum livro didático) pouco se preocupam com as produções destinadas a crianças, as atividades que se observa são: repetição de vocábulos, frases soltas, sílabas, não permitindo que o leitor procure relacionar essas atividades a um contexto. 2.3. “O que é texto”? – nesta parte há 1 (uma) definição de Fávero & Koch, Cagliari e Koch sobre texto, e o autor do trabalho conclui: “pode-se dizer que texto é a capacidade do ser humano em criar de forma verbal ou não verbal uma atividade comunicativa”. Pelo número de páginas destinadas a este capítulo, o pós-graduando poderia ter explorado e exemplificado melhor os assuntos abordados. Em “PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS” – o autor do trabalho monográfico descreve o local em que desenvolveu a pesquisa: espaço físico, número de alunos, número de professores e funcionários. E que, durante 78 duas semanas, observou o trabalho das professoras de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries do ensino fundamental. Cada professora adequou à série em que trabalha o texto poético “Sonho longe”, do livro didático “Como é Fácil! Português (1991, p.53) de Maria Emília Correia e Mauro Galhardi. Na parte interna da monografia, não aparece “IV. Análise de textos” e, sim, “ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS” – nesta parte o pósgraduando explica que, das produções de textos dos alunos das quatro séries, destacou 11 (onze) produções textuais, que constam em anexo, sendo: três produções da 1ª série, três da 2ª série, três da 3ª série e duas da 4ª série, para observar os trabalhos dos alunos em relação à “interferência” e/ou a “diferença” da fala na escrita. Os trechos abaixo, das p. 31 e 32, da versão final da monografia, exemplificam o trabalho que o pós-graduando realizou com os textos dos alunos. Adotando os princípios de Miriam Lemle (1988), estabelece três tipos de falhas ocorridas nas produções textuais dos alunos observados. 79 Os três trechos acima são uma amostra das falhas que o autor do trabalho observou nas onze produções textuais dos alunos, adotando os princípios de Miriam Lemle (1988). No entanto, não há retomada dos princípios de Lemle no final da análise dos textos dos alunos. 80 4.1.2. Os objetivos e a metodologia Nesta parte, será verificado se os trabalhos apresentam objetivo e metodologia de pesquisa claros, e se foram cumpridos. No trabalho monográfico nº 01, consta como objetivo da pesquisa, o seguinte: “Este capítulo tem por objetivo apresentar propostas que permitam repensar sobre o ensino da leitura considerando não só o conhecimento didático acumulado, como também as contribuições de outras áreas, como a psicologia da aprendizagem, a psicologia cultural e as ciências da linguagem” – Capítulo l I, p. 7. O objetivo deveria ser mais delimitado, específico e claro. A metodologia de pesquisa não consta no trabalho. Na Introdução do trabalho monográfico nº 02, os objetivos estão expostos assim: “O presente estudo tem por finalidade mostrar um pouco da história do cinema, seus períodos, os principais filmes, além de discutir propostas de trabalho desenvolvido com Texto Fílmico na sala de aula”. Parte dos objetivos não foi cumprido, como a discussão de propostas de trabalho com textos fílmicos na sala de aula. A metodologia de pesquisa não consta no trabalho. Os objetivos do trabalho monográfico nº 03, são: “Neste trabalho pretende-se traçar um paralelo entre a poesia e a pintura e suas trajetórias, tendo como eixo norteador a representação da mulher (...) com o objetivo desenvolver as relações entre a mulher e a arte, ao longo da história”. O trabalho não apresenta a metodologia de pesquisa. O trabalho monográfico nº 04 não explicita os objetivos a serem atingidos, nem a metodologia de pesquisa. O trabalho monográfico nº 05 traz como objetivo: “Esta pesquisa tem por objetivo apresentar práticas de leitura desenvolvidas na 4ª série do ensino fundamental na qual se buscou estratégias de como contar histórias e formar leitores” – 1º parágrafo, da Introdução. A metodologia de pesquisa é exposta no Capítulo III - Metodologia de Pesquisa, p.23-25. No trabalho monográfico nº 06, o pós-graduando não informa de modo claro, detalhado, os objetivos que pretende atingir, nem a metodologia de pesquisa. No 2º parágrafo, da Introdução, há o seguinte trecho: “Para realizar 81 esta pesquisa, precisei delimitar o espaço em duas bibliotecas, justamente para que a coleta de dados não ficasse restrita apenas a uma delas. Optei, então, por um ambiente público e outro escolar, ambientes diferentes, mas ambos com o intuito de promover a leitura e contribuir para a reflexão sobre o significado político que essas bibliotecas podem representar no interior da nossa sociedade”. O autor do trabalho dá informações, pistas, mas não diz como coletou os dados, que critérios usou. Os objetivos e a metodologia não são delimitados, nem há espaço específico para explicitação de objetivos e metodologia. Os objetivos que se pretende atingir, não são expostos no trabalho monográfico nº 07 e, quanto à metodologia de pesquisa, o pós-graduando expõe, nas páginas 36-37, os procedimentos pedagógicos da professora da turma. No trabalho monográfico nº 08, p. 27, item Procedimentos Metodológicos, consta: “A Creche busca criar um ambiente de cuidados baseando-se nas necessidades de diferentes faixas etárias, organizando os momentos em que são previstos cuidados com o corpo, higiene, repouso e outras atividades, organizadas em função das necessidades dos alunos durante a permanência na Instituição”. Nota-se que há objetivos e metodologia na mesma citação. No entanto, referem-se à Creche e não ao trabalho de pesquisa, mesmo assim, não estão claros, definidos. Talvez tenha faltado, ao autor do trabalho, definir qual era sua pretensão ao elaborar a pesquisa. No trabalho monográfico nº 09, não há um espaço único para exposição dos objetivos. Nota-se, no 2º parágrafo, da Introdução, o seguinte: ”o presente trabalho trata da abordagem do texto poético no Ensino Fundamental visando a saber qual é o espaço dedicado a esse tipo de texto”, ainda, na Introdução, 3º parágrafo: “Este tem como objetivo principal constatar se existem estratégias para o desenvolvimento a leitura poética, de que forma a professora trabalha essa questão dentro da escola e que meios utiliza para desenvolver o crescimento do leitor”. Também, na p. 30, do trabalho, consta: “O objetivo principal da referida é constatar se os alunos reconhecem o texto poético e praticam a leitura, ou se o ignoram enquanto instrumento de abertura para o crescimento da personalidade e desenvolvimento da sensibilidade, imaginação e criatividade, estabelecendo uma ponte entre a criança e o mundo”. Como se pode observar, os objetivos são amplos, não tão claros, 82 dificultando ao leitor entender a intencionalidade do autor do trabalho. Quanto à metodologia, o pós-graduando não expõe a sua metodologia de pesquisa, o que ele faz é um relato extenso dos procedimentos pedagógicos da professora alvo da observação. No trabalho monográfico nº 10, são expostos nas p. 6-7, os objetivos: “é dever da escola propiciar ao aluno, nas séries iniciais do ensino fundamental: - a alfabetização - a aprendizagem sociolingüística - a aquisição de padrões textuais (orais e escritos) - o conhecimento do fenômeno lingüístico E, para verificar se este tipo de trabalho educativo é realizado ou não, desenvolveu-se (por amostragem) uma pesquisa de campo sobre A Produção de texto nas séries iniciais: um estudo sobre a interferência da fala na escrita; em uma escola da cidade de Rio Azul, no Paraná”. Nota-se que o pós-graduando tomou para si alguns objetivos da escola ou de ensino, e acrescentou mais o seu objetivo a atingir. Os objetivos expostos, no trabalho, são muito amplos para serem atingidos em um só trabalho monográfico. Em relação à metodologia de pesquisa, encontramos na p. 7: “A pesquisa será desenvolvida com alunos da 2ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal Clotilde dos Santos Gomes”. No entanto, é muito sucinta, não traz ao leitor visão que possibilite entender como será desenvolvida a pesquisa. 83 Quadro 1 – A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL – A subdivisão interna dos trabalhos – Monografias 01 Articulação do título com o X MONOGRAFIAS conteúdo do trabalho Pertinência das divisões e X subdivisões da parte interna do trabalho Harmonia quantitativa entre as partes Articulação entre as partes que X compõem o trabalho Adequação das partes em relação aos objetivos propostos Adequação das partes em relação à metodologia Pertinência do tema em relação X à linha de pesquisa 02 03 X X 04 05 06 07 X X X 08 09 X 10 X 50% X X 10% X X X X % 40% X X X 50% X 20% X 10% X X X X X 90% Pelos dados do quadro acima, notamos que as dez monografias analisadas apresentam problemas em todos os aspectos constitutivos da estrutura organizacional. O tema dos trabalhos é pertinente à linha de pesquisa, em 90% das monografias. Porém, o titulo está articulado ao conteúdo em somente 40% dos trabalhos monográficos. Dos dez trabalhos, 50% demonstram pertinência nas divisões e subdivisões do sumário e da parte interna. Os textos escritos, com exceção de10%, não articulam as partes, ou seja, abordam assuntos sem que haja articulação de um capítulo, de um item ou de um subitem para outro. Há harmonia quantitativa entre as partes em somente 10% dos textos escritos. Os assuntos são abordados sem considerar a relevância da abordagem ao tema da pesquisa. Não consta, nos textos monográficos, qual a pretensão do pósgraduando ao realizar a pesquisa, visto que não são traçados os objetivos, como também a metodologia de pesquisa, com exceção de 20% dos trabalhos. Diante destes dados, conclui-se que os trabalhos monográficos são exemplos que contribuem para uma reflexão sobre os Cursos de Especialização na UNICENTRO/Irati, por parte dos coordenadores de curso, dos professores orientadores e de futuros alunos de Cursos de Especialização ou Pós-graduação. 84 4.2. A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS As perguntas, abaixo, constam nos “Critérios para análise do corpus”, p. 5 e, também, foram norteadoras para esta análise. 3- As leituras realizadas para embasamento teórico foram suficientes? Adequadas? 4- Ocorreram cópias, apropriações, paráfrases? 5- Os pós-graduandos apresentaram problemas na produção textual escrita? 6- Após as observações do orientador, o pós-graduando faz alterações no trabalho? Diante das perguntas expostas, observar-se-á: • suficiência e adequação das leituras para fundamentação teórica; • uso de cópia, apropriação ou paráfrase; • problemas de coesão e de coerência; • atendimento dos pós-graduandos às observações do orientador. Procederei à segunda etapa da análise: 4.2.1. Suficiência e adequação das leituras para fundamentação teórica: Neste item, serão expostas as Referências Bibliográficas e/ou Bibliografias, da versão definitiva dos 10 (dez) trabalhos monográficos estudados, a fim de observar se houve suficiência e adequação das leituras realizadas pelos pós-graduandos. A monografia nº 04 “A leitura de textos ilustrativos” apresenta um número mínimo de obras na Bibliografia. Faltou ao pós-graduando explorá-las, bem como acrescentar mais algumas para não se prender a um autor especificamente e, assim, obter um embasamento teórico mais consistente a respeito de “literatura infantil”, “leitura”, em especial. No embasamento teórico, o autor da monografia menciona os autores das obras referenciadas, porém pincela os assuntos, não explora de forma adequada as obras referenciadas. 85 As leituras realizadas como embasamento teórico do trabalho monográfico nº 02, "Refletindo práticas de leitura com Textos Fílmicos no espaço escolar", reportam-se, praticamente, aos assuntos "cinema" e "linguagem fílmica", como ratificam as referências bibliográficas. Observando as Referências Bibliográficas, é possível entender que o autor do trabalho não aprofundou suas leituras para obter um embasamento teórico mais consistente sobre “texto poético”, “poesia”, “livro didático”, o que ocorre são abordagens superficiais, curtas, sem progressão dos assuntos, pois as obras consultadas voltam-se ao assunto “cinema” “linguagem fílmica”. 86 A seguir, na monografia nº 03 “Uma proposta de leitura: Da poesia a pintura”, as obras relacionadas na Bibliografia contemplam o tema abordado pelo autor do trabalho, que é a mulher na poesia e na pintura. Logo, o assunto é voltado à disciplina de Literatura, e as obras e autores consultados estão em concordância. Diante da vasta Bibliografia exposta, o pós-graduando apresenta um trabalho monográfico adequado e coerente ao título, porém desarticulado da Área do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”. 87 5. BIBLIOGRAFIA AMARAL, Emilia: ANTÔNIO, Severino; PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Novo Manual Nova Cultural: Redação, Gramática e Literatura. São Paulo: Nova Cultural, 1994. BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo: Fatos e Mitos. Tradução de Ségio Milliet. São Paulo: Nova Fronteira, 5ª ed, 1980. ENCICLOPÉDIA DE ARTE UNIVERSAL. Barroco, Rococó e Neoclássico. Barueri: Videolar Multimídia, 1994. ENCICLOPÉDIA DE ARTE UNIVERSAL. Surrealismo, Arte Abstrata e Arte Pop. Barueri: Videolar Multimídia, 1994. ENCICLOPÉDIA DE ARTE UNIVERSAL. Expressionismo, Cubismo, Futurismo e Dadaísmo. Barueri: Videolar Multimídia, 1994. ENCICLOPÉDIA DE ARTE UNIVERSAL. Romantismo, Modernismo e Impressionismo. Barueri: Videolar Multimídia, 1994. GRÜNEWALD, José Lino. Grandes Poetas da Língua Inglesa do Século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fonteira, 1988. GUIMARÃES, Denise Azevedo Duarte. As Cantadas: Visão Erotizada da Baía da Guanabara. Edição Especial. Santa Maria: Biblioteca Central de UFSM, 1991. LEMINSKI, Paulo. Ensaios e Anseios Crípticos. Curitiba: Pólo Editorial do Paraná. 1997. 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No entanto, o pós-graduando não a explorou adequadamente no embasamento teórico, pois como já foi referenciado na 1ª parte da análise, isto é, nos itens e subitens do sumário, os assuntos são breves, não há aprofundamento. BIBLIOGRAFIA BACHA, Magda Lisboa. Desenvolvimento da leitura na escola primária. 1969. BAMBERG, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. In: CAJADO, Octávio Mendes, São Paulo: Cultrix, 1991. BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1991. BARZOTTO, Valdir Heitor; GHILARD, Maria Inês (org.). Mídia, educação e leitura. São Paulo: Anhembi Morumbi, ALB, 1999. CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e a sua prática. Papirus, 1989. (sic) CHIAPPINI, Ligia (org.). Outras linguagens na escola; publicidade, cinema, TV, rádio, jogos, informática. In: ATELLI, (sic) Adilson (coord.). São Paulo: Cortez, 2000. FEIL, Iselda Terezinha Sausen. Alfabetização um desafio para um novo tempo. Ijuí: Vozes, 1986. LAJOLO, Mansa (sic). 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O leitor e o diálogo dos signos. São Paulo: Cliper, 2000. As Referências Bibliográficas da monografia nº 05 “Contando histórias... Formando leitores...” são diversificadas, extensas e suficientes, no entanto, o autor do trabalho não explora, de modo adequado, as obras referenciadas. Apesar de ser um trabalho que melhor demonstra a metodologia de pesquisa, podendo servir de exemplo à prática pedagógica de professores em sala de aula, deixa a desejar um embasamento teórico mais consistente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVICH, Fany. Literatura Infantil; Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione, 1989. BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990. BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 1964. BETELHEIM, Bruno & ZELAN, Karen. Psicanálise da Alfabetização: um estudo psicanalístico do ler e do aprender. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. BOSI. In: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Salto para o futuro. 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Literatura em crise na Escola. 7. ed. Porto Alegre: Nova Perspectiva, 1986. Das 14 (catorze) obras que constam nas Referências Bibliográficas da monografia nº 06 “Biblioteca Pública e Biblioteca Escolar”, 7 (sete) se referem ao assunto “biblioteca” e 7 (sete) ao assunto “leitura”. Porém, o pós-graduando não realizou adequadamente as leituras, pois o embasamento teórico do trabalho contempla somente a questão “biblioteca”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2ª ed. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1986. COSTA, Cristiane Marinho da. Leitura na formação do cidadão. In: Revista Mundo Jovem. Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 2000. FILHO, Lourenço. O ensino e a biblioteca – 1ª conferência da série educação e biblioteca. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1994. FILIPOVSKI, Ana Maria Ribeiro. Leitura em crise na escola. 6ª ed. Mercado Aberto: Porto Alegre (sic), 1986. Fragoso, Graça Maria. Biblioteca na escola. 3ª ed. 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Mercado Aberto: Porto Alegre (sic), 1986. VARGAS, Suzana. O prazer da leitura. In: Revista Mundo Jovem. Porto Alegre: Editora da PUC-RS, 1999. Na monografia nº 07 “A presença de fatores de coesão e coerência em produções orais efetivadas por sujeitos portadores de Síndrome de Down –APAE de Prudentópolis”, observa-se a expressão “Referência Bibliográfica”, no singular, e nesta parte da monografia, as obras e 1 (um) site da internet são expressivos. Das 16 (dezesseis) obras consultadas, apenas 2 (duas) referem-se ao assunto “coesão e coerência”. Logo, pode-se perceber que o embasamento teórico do trabalho é voltado à questão da Síndrome de Down, e não à coesão e coerência em produções orais dos alunos como o título do trabalho informa. 92 Em “O Processo de Leiturização na Creche”, monografia nº 08, o pós-graduando, nas Referências Bibliográficas, expõe obras voltadas à leitura, língua materna, educação infantil, e nenhuma referência, especificamente, ao assunto Creche. No entanto, o embasamento teórico é voltando à questão “creche”: a organização, a prática pedagógica e a função social, o perfil das crianças que a freqüentam. O pós-graduando não aprofunda suas leituras, 93 desvincula o título do embasamento. Não faz referência a Jean Foucambert, considerado o “criador” do termo “leiturização”. Pelo título da monografia, acredita-se que o trabalho aborda atividades de leituras junto às crianças da creche, mas não é o que se apresenta no embasamento teórico do trabalho monográfico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOWICZ, Anete & WAJSKOP, Gisele. Educação infantil – Creches. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1999. Alves, Nieda & Garcia, Regina. O fazer e o pensar dos servidores e orientadores educacionais. 5ed. , São Paulo: Loyola, 1991. ANPOLL, 3ª ed., São Paulo: Jermanistas Publicações, 1997. BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. 2ª ed., São Paulo: Cortez, 1994. BRYANT, Peter & BRADLEY, Dynette. Problemas de leitura na criança. 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No entanto, com exceção de 20%, os pós-graduandos não fazem uso adequado do suporte teórico, ou seja, não realizam leituras consistentes para embasar a pesquisa. 97 4.2.2. Uso de cópia, apropriação ou paráfrase Em todas as monografias ocorre o uso da paráfrase que, na visão de Paulino (1991) e de Medeiros (2000), p. 34-35, desta dissertação, não é negativo. No entanto, é possível constatar em muitos trabalhos, trechos longos, páginas inteiras, abordando um mesmo assunto, sem citação, sem referência de autores das obras elencadas para embasamento teórico. A ausência de citação e de recursos gráficos adequados, como: aspas, nota de rodapé, fonte, espaçamento diferenciado, pode levar o leitor a julgar que ocorre apropriação ou até mesmo cópia. Para exemplificar os assuntos desta seção, são expostos alguns trechos das monografias analisadas que apresentam casos mais relevantes de cópia e de apropriação. Como primeiro exemplo, a monografia nº 07, em sua versão final, item 2.2 – Linguagem: importância e sua correlação com a Síndrome de Down, o pósgraduando escreve dez (dez) páginas, da 12 à 17, sobre o mesmo assunto, sem uma citação ou outro recursos que informe o autor lido. Exemplos: Trecho da p.12, versão final da monografia. 98 Outro trecho da versão final da monografia, p. 13. Trecho escrito na p. 17, da versão final da monografia. 99 Como se pode verificar, pelos trechos destacados, o pós-graduando recorre à apropriação da linguagem, que, segundo Paulino (1995: p. 22), “a apropriação, enquanto prática intertextual, transita do estatuto de ato legítimo e, às vezes, inevitável, até a ilegalidade do plágio”. Por ser uma linguagem técnica a que o pós-graduando recorre e por não mencionar nenhum autor, nenhuma fonte, pode nos levar a afirmar que houve apropriação ou até mesmo cópia. Na monografia nº 05, item 2.2 – “O Contador de Histórias”, são escritas 5 (cinco) páginas, da p. 18 à 22, sobre o assunto “contar histórias”, porém, o autor do trabalho não embasa, não argumenta o porquê do assunto escrito, como também não recorre à citação nem a outros recursos gráficos. Como exemplos, os trechos das páginas 19-20, da versão final da monografia. 100 Nos trechos expostos, notamos que o pós-graduando expõe o assunto sem apresentar uma citação, um recurso gráfico sequer, o que consideramos uso da apropriação. Na monografia nº 01, em sua versão final, p. 15-16, subitem “outras linguagens na escola” é possível constatar que, além da apropriação do assunto da fonte: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, o pós-graduando recorre ao uso da cópia, como exemplificam os trechos da versão final da monografia, p. 15 e 16. 101 Por que afirmamos que ocorre o uso da cópia? Porque é possível observar que os parágrafos dos trechos ilustrados conferem com o trecho da fonte original, p.145. Exemplo: Outro caso em que podemos constatar o uso da cópia está presente na monografia nº 04, versão final, p. 25-26, CAPÍTULO III - Para se Construir Bons Leitores... Refletindo as práticas de leitura, fonte: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 69-70. Exemplo: 102 Podemos observar que os parágrafos do texto acima, conferem com os dois fragmentos abaixo, extraídos do texto original, fonte já referenciada. 103 Quadro 3 – A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS – Construção da escrita TEXTO ESCRITO Cópia 01 X 02 03 04 X 05 06 07 08 09 10 % 20% X Apropriação X Paráfrase X X X X X X X X X X 20% 100% Citação X X X X X X X X X X 100% De conformidade com o quadro acima, podemos afirmar que o uso da paráfrase se faz 100% presente nos 10 (dez) trabalhos monográficos, e segundo estudiosos do assunto, é comum ocorrer essa prática em trabalhos acadêmicos. O uso da apropriação e da cópia, embora ocorra em 20% das monografias, sabe-se que não é positiva esta prática em trabalhos acadêmicos e científicos. A prática da citação ocorre em 100% das monografias. Algumas citações são adequadas, coerentes; outras, não. Talvez as inadequações ocorram devido ao desconhecimento do pós-graduando quanto a normas de bem elaborar uma citação, embora eles tenham sido orientados a fazer uso delas, quando necessário. 104 4.2.3. Problemas de coesão e de coerência Nesta parte são expostos alguns trechos das monografias, quanto à questão da coesão da coerência, segundo a teoria de estudiosos do assunto, referenciados nos pressupostos teóricos da dissertação, p. 21-33. Na versão final da monografia nº 05, p. 8, nota-se uma incoerência, que segundo à teoria de Charolles (1978), refere-se à 4ª Metarregra da Relação, porque não há relação do que se referencia à citação com o assunto tratado anteriormente. Exemplo: Já, na monografia nº 02, versão final, p. 18, observa-se uma citação coerente, adequada ao assunto anteriormente abordado. Por exemplo: 105 No trecho seguinte, a incoerência está relacionada à parte escrita da monografia nº 03, versão final, pois o pós-graduando, no título da monografia, não faz referência ao tema “mulher”. No entanto, todo o texto monográfico é voltado à mulher, na pintura, na poesia. Como exemplifica o trecho da conclusão do trabalho do aluno. Exemplo: Outro exemplo de incoerência, segundo à teoria de Charolles (1978), quanto à 4ª Metarregra da Relação, ocorre na Introdução da monografia nº 02, versão final. Exemplo: 106 No trecho abaixo, versão final da monografia nº 04, p. 9, notam-se certas incoerências na escrita, pois o autor do trabalho não cita o primeiro livro de Abílio César Borges destinado à leitura e à escrita. Se as obras desse autor foram “aplaudidas pela crítica e reeditadas várias vezes”, parece contraditório o pós-graduando afirmar que muitas gerações educadas com estas obras não guardam boas lembranças, e não é explicado o porquê. Também, o autor do trabalho, no mesmo parágrafo, cita a obra Infância, de Graciliano Ramos sem nenhuma interação com o assunto de que vinha sendo tratado. Exemplo: O trabalho apresenta muitos problemas de coerência. Peca, portanto, quanto às metarregras de Charolles: a da contradição e a da relação, principalmente, pois há contradições na narrativa, e os fatos narrados não estão em concordância, além da escrita não ser clara e objetiva. 107 Quadro 4 – A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHO – Coerência 01 COERÊNCIA Manutenção do tema X 02 X 04 X 05 X 06 07 08 09 X X Progressão Não-contradição 03 X X X X X X X X Relação 10 X % 60% X 20% X 80% X 20% Nesta parte, são retomadas as quatro metarregras, segundo Charolles (1978), p. 27-29, da dissertação. A manutenção do tema ocorre quando o texto escrito apresenta um desenvolvimento linear, ou seja, é dado continuidade ao assunto exposto entre os parágrafos, itens, subitens. E, para se obter essa manutenção, faz-se necessário usar adequadamente os recursos de que a língua dispõe (elementos de coesão, anafóricos), assim, obtém-se textos com coerência. Observamos essa metarregra em 60% das monografias. O equilíbrio entre a continuidade dos assuntos (metarregra de repetição) e sua progressão semântica (metarregra de progressão) resulta em produções escritas consistentes e adequadas. Apenas 20% dos textos monográficos contemplam esse equilíbrio. Na metarregra de não-contradição, como o próprio nome afirma, deve-se ter o cuidado para não empregar termos que sejam contraditórios, afirmações que venham contrapor o exposto anteriormente. Notamos que 20% dos trabalhos monográficos apresentam contradição no texto escrito. Por último, a matarregra da relação explica a importância de uma escrita clara objetiva, onde os fatos narrados estejam em concordância uns com os outros, o que ocorre em somente 20% das monografias. Após a retomada das metarregras, é possível afirmar que poucos textos monográficos contemplam o uso adequado de recursos coesivos, resultando, desta forma, textos incoerentes, inadequados, conforme algumas ilustrações expostas no decorrer da análise. 108 4.2.4. Atendimento dos pós-graduandos às observações do orientador Neste subitem, teço considerações a respeito das sugestões ou correções que os pós-graduandos receberam do professor orientador. Ao comparar as monografias da primeira versão (monografias apresentadas para a última correção antes da entrega da versão final) com as da versão final, constatei que a maioria dos pós-graduandos leva em consideração as sugestões, as correções. Porém, há os que desconsideram algumas ou todas as anotações feitas pelo orientador. A seguir, alguns trechos que exemplificam a questão. trecho, da monografia nº 09, p. 34, primeira versão, demonstra que o orientador discorda da conclusão, do autor do trabalho, referente à resposta da aluna J. K. Exemplo: Na versão final da monografia nº 09, p. 34, o pós-graduando desconsidera o questionamento do orientador e o texto permanece sem alteração. Exemplo: 109 Outro questionamento, do orientador quanto ao texto do pósgraduando, encontra-se, também, na monografia nº 09, p. 32, primeira versão. O exemplo abaixo ilustra. O que se pode observar, na versão final da monografia nº 09, p. 32, é o não cumprimento, por parte do pós-graduando, do que o professor corretor solicitou e/ou alertou. Talvez, o pós-graduando tenha preferido manter o seu posicionamento, a sua interpretação, achando desnecessário aprofundar o assunto. 110 A seguir, o trecho da p. 23, primeira versão, da monografia nº 01, mostra que o orientador faz várias correções. Exemplo: No entanto, o pós-graduando, na versão final, da monografia, desconsidera todas as anotações ou correções feitas pelo orientador. Neste caso, penso que foi falta de atenção do pós-graduando, pois não se trata de interpretações, de posicionamentos divergentes e, sim, falhas que comprometem o texto escrito. Exemplo: 111 Na Introdução da monografia nº 03, primeira versão, p. 23, observamos que o orientador faz várias anotações. Exemplo: Porém, na versão final, da monografia, algumas partes ou expressões são consideradas; outras, desconsideradas pelo pós-graduando. Exemplo: 112 Acredita-se que as observações não consideradas pelo pósgraduando são irrelevantes para ele, ou faltou atenção da sua parte. É complexo avaliar atitudes de orientandos e de orientadores, pois nem sempre os conhecimentos, os posicionamentos, o modo de interpretar de um equivale ao do outro. Nesta parte, também, é possível observar pontos positivos. Há trechos em que, na primeira versão, o orientador sugere reformulações e os pósgraduandos atendem a solicitação, reescrevem os textos. Um primeiro exemplo, constatamos na monografia nº 02, p. 16, primeira versão. O pós-graduando reformula o texto, atendendo às sugestões do orientador. 113 Um segundo exemplo se encontra na p. 10, monografia nº 05, primeira versão. E, o trecho da versão final demonstra que as orientações foram atendidas pelo pós-graduando. Um terceiro exemplo é possível constatar p. 09, versão final da monografia nº 01. 114 No trecho da versão final, o pós-graduando atende às observações feitas pelo orientador. Um quarto exemplo ocorre na p. 14, versão final da monografia nº 04. No trecho da versão final, o pós-graduando atende às observações feitas pelo orientador. 115 Quadro 5 – A CONSTRUÇÃO E CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS Atendimento dos pós-graduandos às observações orientador REFORMULAÇÕES Atendimento dos 01 02 – do 03 04 05 06 07 08 09 10 % pósX graduandos às observações X X X 40% do orientador Atendimento em parte, pelos pós-graduandos, X às 10% observações do orientador Não atendimento dos pósX graduandos às observações X X X X 50% do orientador Pelo quadro acima, podemos notar que 40% dos pós-graduandos atendem às reformulações solicitadas pelo orientador; 10% refazem parte das solicitações, e 50% desconsideram totalmente as observações feitas pelo orientador. Os trechos analisados no item 4.2.4. ilustram as considerações deste quadro. Explicar por que isso ocorreu, é complexo. Há que se considerar as características individuais de orientandos e orientadores, e, também, conhecimentos teóricos dos assuntos ou temas abordados e as influências das suas experiências profissionais. 116 4.3. REFLEXÕES Nesta 3ª etapa, teço reflexões sobre os subitens da 1ª etapa 4.1. A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL e da 2ª etapa 4.2. A CONSTRUÇÃO E A CONSISTÊNCIA DOS TRABALHOS. A análise dos 10 (dez) trabalhos monográficos teve como eixo norteador sete perguntas, que constam na p. 5. e retomadas aqui: 1- O título do trabalho tem relação com o conteúdo da monografia?; 2- As partes que compõem o trabalho são pertinentes? Mantêm articulação entre si? São coerentes em relação ao título, aos objetivos e à metodologia?; 3- As leituras realizadas para embasamento teórico são suficientes e adequadas? 4- Ocorrem cópias, apropriações, paráfrases? 5- Os pós-graduandos apresentam problemas na produção textual escrita? 6- Após as correções ou sugestões do orientador, ocorrem alterações na elaboração do trabalho? 7- O conteúdo dos trabalhos contribuem como embasamento ou sugestão a futuros pós-graduandos e à comunidade científica? Os procedimentos de análise iniciaram-se pelo estudo do sumário de cada um dos trabalhos monográficos. Pelo estudo do subitem 4.1.1. – A subdivisão interna dos trabalhos (p.43-80) e do subitem 4.1.2. – Os objetivos e a metodologia (p.81-83), é possível informar que as monografias 01, 04, 05, apresentam título adequado ao conteúdo do texto escrito. Já, as monografias 02, 03, 06, 07, 08, 09 e 10, título inadequado ao texto escrito. São considerados inadequados os títulos que estão desarticulados ao assunto abordado na parte interna do trabalho. O título das monografias pode até ser pertinente ao tema, mas o conteúdo escrito não contempla o título. Todas as monografias apresentam sumário ou índice, mas sempre com algum problema de formulação: palavras ou expressões, números, divisões, subdivisões, letras (maiúsculas ou minúsculas) que diferem do exposto no sumário e do exposto na parte interna dos trabalhos. Em todos os trabalhos monográficos ocorrem inadequações quanto à harmonia quantitativa, ou seja, quanto ao número de páginas dedicadas a um mesmo assunto. Observa-se que muitos alunos dedicam poucas páginas para embasar assuntos relevantes à pesquisa; outros, já utilizam um número expressivo de páginas. 117 As monografias 02 e 05 apresentam objetivos a serem atingidos, os quais são retomados na conclusão do trabalho. As demais monografias não apresentam objetivos pertinentes ao tema do trabalho. Quanto à metodologia de pesquisa, somente a monografia 05 expõe, adequadamente, como e onde a pesquisa foi desenvolvida. No subitem 4.2.1. – Suficiência e adequação das leituras para fundamentação teórica (p.83-96), as monografias 02, 03, 04, 05, 06, 09 e 10 apresentam um número de obras suficientes, mas não utilizam o suporte teórico, de modo adequado, para a obtenção de leituras consistentes. Somente as monografias 03 e 10 demonstram leituras consistentes e adequadas para o embasamento da pesquisa. No subitem 4.2.2. – Uso de cópia, apropriação e paráfrase (p.97-102), os pós-graduandos fazem uso da paráfrase em todos os trabalhos, o que não é condenável para Medeiros (2000), Paulino (1995). A paráfrase é um recurso retórico intertextual que faz parte de qualquer trabalho de pesquisa, se utilizado adequadamente, páginas 34-35. Em grande parte dos trabalhos monográficos, observamos o uso da apropriação, outro procedimento retórico intertextual, porém, não positivo como a paráfrase. Os pós-graduandos não fazem uso de recursos gráficos adequados (aspas, citações, nota de rodapé, itálico, negrito, tamanho de letra ou outras marcas) para exemplificar, assim, trechos de outros autores e, quando o fazem, nem sempre estão coerentes. Isto nos faz considerar apropriação do texto alheio. Nas monografias 01 e 04 ocorre o uso de cópia fiel de trechos de outros autores. Os trechos são expostos, exemplificando a questão. O subitem 4.2.3. – Problemas de coesão e de coerência (p.104-107) apresenta trechos coerentes, como também trechos incoerentes. A incoerência ocorre devido o emprego inadequado ou devido o não emprego de mecanismos de coesão, segundo os estudiosos do assunto, p. 21-30. Os pós-graduandos não empregam, em seus textos, as quatro metarregas da coerência que Charolles (1978) aborda. Dificilmente, os textos monográficos apresentam uma escrita linear, onde os elementos anafóricos são utilizados de modo a dar coerência à escrita. Também, não há continuidade temática e progressão semântica coerente, ocorrendo, em muitos casos, contradição das idéias entre os parágrafos. Não há seqüência dos assuntos relacionados. 118 No subitem 4.2.4. – Atendimento dos pós-graduandos às observações do orientador (p.114-122), são expostos trechos da primeira versão e da versão final das monografias, onde podemos notar o atendimento ao orientador, por parte de alguns orientandos. Por outro lado, há os que refazem partes das sugestões e os que desconsideram, totalmente, as observações do orientador, permanecendo os textos, inalterados. Ao término das reflexões dos subitens da 1ª e 2ª etapas, p. 43-115), é importante ressaltar o quanto os trabalhos monográficos se apresentam incoerentes, inadequados, problemáticos em muitos aspectos, senão em todos os itens e subitens, do título à Bibliografia. Se, por um lado, as falhas são dos pós-graduandos, por outro, também são do professor orientador. Afinal as monografias passaram por correções e pelo crivo do orientador, antes da entrega da versão final a qual se encontra catalogada na Biblioteca do Câmpus de Irati. Por isso, as monografias deveriam ter uma apresentação (na conteúdo e na organização) de trabalhos científicos. O que se conclui, também, é que os professores orientadores não possuem uma metodologia de trabalho única, com critérios definidos para a orientação e correção dos trabalhos monográficos. Pois, se os alunos tivessem tido uma orientação adequada, se juntamente com o orientador, adequassem o título do trabalho, discutissem os objetivos a serem atingidos, traçassem uma metodologia de pesquisa de conformidade com o perfil do Curso de Especialização, muitas das inadequações, das falhas detectadas, nesta análise, teriam sido evitadas e os trabalhos apresentariam estrutura organizacional, construção e consistência dos conteúdos coesos, coerentes, adequados. Finalizo as reflexões, retomando a pergunta nº 7 que norteou esta 3ª etapa, das Reflexões: O conteúdo dos trabalhos contribui como embasamento ou sugestão a futuros pós-graduandos e à comunidade científica, tanto na organização (forma) quanto na consistência (conteúdo)? Diante deste questionamento, podemos considerar que as questões abordadas nos dez trabalhos monográficos são válidas a futuros pós-graduandos e à comunidade científica, no sentido de alertá-los acerca de procedimentos de re(elaborar) trabalhos de pesquisa, em nível de especialização ou pósgraduação. 119 5 CONCLUSÃO O estudo que realizei, envolvendo o Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, da Unicentro/Irati (PR), foi complexo. Complexo, por envolver pós-graduandos e suas produções escritas, visto cada indivíduo possuir características próprias ao expor suas idéias por escrito. É comum se pensar que, ao terminar a graduação, o formando está apto para freqüentar um Curso de Especialização sem apresentar dificuldades, no decorrer e ao final do Curso, quando terá que desenvolver um trabalho de pesquisa. Muitas vezes, essa prática não ocorre de maneira satisfatória, como foi possível constatar no decorrer da análise das monografias, já referenciadas. Após a análise dos 10 (dez) trabalhos monográficos, observando os itens e subitens da primeira etapa: A estrutura organizacional e da segunda etapa: A construção e consistência dos trabalhos, constatam-se: trabalhos inadequados quanto à estrutura e à consistência; trabalhos que apresentam fuga à Área do Curso de Especialização; trabalhos em que o título se apresenta desarticulado da parte interna; trabalhos com sumários incoerentes à apresentação e às divisões e subdivisões da parte escrita; trabalhos sem objetivos claros nem metodologia de pesquisa; trabalhos onde as leituras são insuficientes e não contemplam o embasamento teórico; trabalhos com problemas de coesão e de coerência no texto escrito; trabalhos em que houve a recorrência a paráfrases, a apropriações e até cópias; trabalhos que demonstram claramente, comparando a primeira versão e a versão final, que os pósgraduandos atenderam as sugestões e/ou correções do orientador; também trabalhos em que as sugestões e/ou correções do orientador foram refeitas, em parte, como também trabalhos onde foram desconsideradas as anotações do orientador. As falhas ortográficas, de concordância, de regência, de formatação, de digitação, não foram referenciadas, nesta análise, não por serem irrelevantes, mas por não constarem dos critérios da análise, por ora. Como foi comentado, na parte das reflexões, muitas falhas demonstradas no decorrer da análise das monografias são atribuídas aos pósgraduandos, mas o orientador tem parte de responsabilidade nessas ocorrências, 120 pois falta um envolvimento maior de sua parte no acompanhamento e na reformulação dos trabalhos. Diante dos resultados da análise, de uma amostra de monografias do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, faz-se necessário uma mudança nos procedimentos pedagógicos, uma nova postura, tanto por parte dos alunos quanto dos orientadores, da Graduação à Pós-graduação, a fim de que haja melhoria nos aspectos metodológicos e, principalmente, de conteúdo nas futuras produções escritas, minimizando as dificuldades de outros pósgraduandos. E que a qualidade dos Cursos de Especialização da Unicentro/Irati (PR) seja uma constante, isto é, que trabalhos consistentes, úteis e eficazes sejam apresentados à comunidade acadêmica e científica. Embora o corpus da análise tenha se constituído de apenas 10 (dez) trabalhos monográficos, creio que os problemas detectados nestas dez produções escritas ilustram os das demais produções do Curso de Especialização em “Leitura e Produção Escrita”, como também os de outros Cursos de Especialização da Unicentro/Irati. Este é um assunto que requer mais pesquisas. 121 BIBLIOGRAFIA ABREU, Antônio Suárez. Curso de Redação. 2. ed., São Paulo: Ática, 1990. BASTOS, Lúcia K. Coesão e coerência em narrativas escolares. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Secretaria de Educação Fundamental. 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