Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Curso de Pós-graduação em química Inorgânica Mestrado em Química Inorgânica Reforma Catalítica do Metano com Dióxido de Carbono Usando Catalisadores de Níquel Dopados com Ce, Nb e Sn Aluno: Rafael Saraiva Nunes Orientador: Antoninho Valentini Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Curso de Pós-graduação em química Inorgânica Mestrado em Química Inorgânica Reforma Catalítica do Metano com Dióxido de Carbono Usando Catalisadores de Níquel Dopados com Ce, Nb e Sn Dissertação apresentada à coordenação do Curso de Pós-Graduação em Química Inorgânica da Universidade Federal Do Ceará para a obtenção do grau de mestre em Química Inorgânica Aluno: Rafael Saraiva Nunes Orientador: Antoninho Valentini Fortaleza 2008 N928r Nunes, Rafael Saraiva Reforma catalítica do metano com dióxido de carbono usando catalisadores de níquel dopados com Ce, Nb e Sn / Rafael Saraiva Nunes. 2008. 60 f. ;il. color. enc. Orientador: Prof. Dr. Antoninho Valentini Área de concentração: Catálise heterogênea Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências. Depto. de Química Orgânica e Inorgânica, Fortaleza, 2008 1. Catálise heterogênea 2. Metano 3. Reforma 4. Processo Fischertropsch I. Valentini , Antoninho (orient.) II. Universidade Federal do Ceará – Curso Pós-Graduação em Química Inorgânica III.Título CDD 546 Agradecimentos: - A Deus, por me dar o dom da sabedoria e me iluminar nos momentos mais difíceis; - Ao professor Antoninho Valentini, pelo apoio, paciência e orientação recebida; - Ao professor Sasaki, pelas análises de DRX e FRX; - A técnica Tereza, do laboratório de análises técnicas, pelas análises de TGA e DSC; - A todos os colegas do Langmuir - Laboratório de Adsorção e Catálise, especialmente os colegas Narcísio e Tiago pelo apoio dado; - Aos professores Belmino e Sandro, pela amizade e apoio em orientações anteriores; - Aos meus pais Iara e Washington, por me dar educação, caráter e personalidade; - Aos meus irmãos Rebeka e Renato; - A todos os meus amigos; - Ao CNPQ, pela bolsa concedida; - Em especial, a minha namorada Juliana, por me dar forças, apoio e companheirismo nas horas mais difíceis; Sumário 1. Introdução ........................................................................................................................ 7 1.1 Revisão da Teoria Sobre Catálise ........................................................................... 7 1.1.1 Definições ........................................................................................................... 7 1.1.2. Conceitos e teorias em catálise heterogênea...................................................... 10 1.1.3. Adsorção ............................................................................................................ 11 1.1.4. Seletividade ....................................................................................................... 14 1.1.5. Atividade ........................................................................................................... 15 1.1.6. Estabilidade e Regenerabilidade. ...................................................................... 16 1.1.7. Propriedades mecânicas e térmicas ................................................................... 17 1.2. Preparação dos catalisadores: ................................................................................... 18 1.2.1. Catalisadores mássicos ...................................................................................... 18 1.2.2. Catalisadores Suportados................................................................................... 19 1.3. Reações Catalíticas ................................................................................................. 19 2. Justificativa ................................................................................................................... 23 3. Objetivos.......................................................................................................................... 25 4. Metodologia .................................................................................................................... 25 4.1. Síntese dos catalisadores ....................................................................................... 26 4.2. Caracterização dos catalisadores ........................................................................... 28 4.2.1. Análise Termogravimétrica (TGA) .................................................................. 28 4.2.2. Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC).................................................. 28 4.2.3. Difratograma de Raios-X (DRX) ..................................................................... 28 4.2.4. Refinamento de Rietveld ................................................................................... 29 4.2.5. Redução em Temperatura Programada (TPR).................................................. 29 4.2.6. Fluorescência de Raios-X (FRX) ..................................................................... 29 4.2.7. Reação de Hidrogenação do Benzeno .............................................................. 29 4.2.8. Reforma do Metano com Dióxido de Carbono ................................................ 30 5. Resultados e Discussão................................................................................................. 32 5.1. Análise termogravimétrica (TGA)......................................................................... 32 5.2. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)....................................................... 34 5.3. Fluorescência de Raios-X ..................................................................................... 39 5.4. Difração de Raios-X ............................................................................................. 40 5.5. Atividade Catalítica .............................................................................................. 45 5.6. Avaliação da Área Metálica Relativa: Hidrogenação do Benzeno........................ 50 5.7. Redução em Temperatura Programada.................................................................. 52 6. Conclusões .................................................................................................................. 56 7. Referências Bibliográficas.......................................................................................... 57 Lista de Figuras Figura 1: Diagrama de energia potencial para uma reação R Æ P. Comparação dos percursos catalíticos e não catalíticos. Figura 2: Efeito do catalisador sobre a velocidade de aproximação do equilíbrio (AÆ reação não catalisada; BÆ reação catalisada). Figura 3: Representação esquemática da energia superficial de um sólido Figura 4: curva de energia potencial para adsorção física e química Figura 5: isobárica de adsorção; a) adsorção física no equilíbrio; b) adsorção química no equilíbrio; c) adsorção química e física. Figura 6: fluxograma da metodologia de preparo e caracterização dos catalisadores Figura 7: Linha reacional para a hidrogenação do Benzeno. Figura 8: Sistema catalítico para a reforma do metano com gás carbônico. Figura 9: Difratograma de raio-x dos catalisadores sob fluxo de N2. Figura 10: Calorimetria diferencial por varredura (DSC) dos catalisadores em atmosfera inerte de N2 Figura 11: Difratograma de raio-x após tratamento térmico: a) Ni/Al2O3 em 300, 360 e 700 ºC; b) Ni/AlCe-4 em 360, 400 e 700ºC; c) padrões de difração. Figura 12: Difratograma de raio-x após tratamento térmico: a) Ni/AlNb-2 em 408, 530 e 700 ºC; b) Ni/AlSn-4 em 400, 515 e 700ºC; c) padrões de difração. Figura 13: Perfis de difratograma de raios-x dos catalisadores dopados com cério e da amostra de referência (Ni/Al2O3) Figura 14: Perfis de difratograma de raios-x dos catalisadores dopados com nióbio Figura 15: Perfis de difração de raios-x dos catalisadores dopados com estanho. Figura 16: Conversão do CH4 em função do tempo dos catalisadores ativados a 650ºC durante 1h em hidrogênio. Temperatura da reação: 630 ºC. Tratamento térmico prévio a ativação: a) sob fluxo de N2 a 700ºC, b) sob fluxo de ar a 700ºC. Figura 17 – Conversão do CH4 em função do tempo dos catalisadores ativados a 650ºC durante 1h. Temperatura da reação: 630 ºC. Tempo de Teste: 24h Figura 18: Seletividade catalítica na forma de razão H2/CO para testes catalíticos. Figura 19: Reação de Hidrogenação do Benzeno. Temperatura da reação: 100ºC Figura 20: Análise termogravimétrica em atmosfera de ar dos catalisadores Ni/Al2O3 e Ni/AlCe-4 após teste catalítico de 5h. Figura 21: Redução A temperatura Programada (TPR) Figura 22: Reação de hidrogenação do benzeno para a amostra Ni/AlCe-2 após redução em diferentes temperaturas. Temperatura da reação: 100ºC. 5 Lista de Tabelas Tabela 1: Reações do gás de síntese (CO + H2) Tabela 2: Classificação de Catalisadores Heterogêneos Tabela 3: Comparação entre Adsorção Física e Química Tabela 4: Denominação assumida para os catalisadores sintetizados para reforma do CH4 com CO2 Tabela 5: Resultados obtidos por refinamento de Rietvield Tabela 6: Fluorescência de Raios X 6 1. Introdução 1.1 Revisão da Teoria Sobre Catálise 1.1.1 Definições Catálise é o fenômeno em que uma quantidade relativamente pequena de um material estranho à estequiometria - o catalisador - aumenta a velocidade de uma reação química sem ser consumido no processo. Seja a reação R Æ P, cuja velocidade é pequena ou desprezível. Em presença de uma substância X pode tornar-se possível um novo mecanismo reacional, envolvendo o intermediário RX: R + X Æ RX RX Æ P + X Se o processo é agora significativamente mais rápido, X é um catalisador. A reação catalítica é uma seqüência fechada de etapas elementares, análogas a propagação de uma reação em cadeia. O catalisador intervem no mecanismo, mas é regenerado a cada ciclo reacional. A introdução do catalisador no sistema proporciona, portanto um novo percurso reacional energeticamente mais favorável, o que se traduz por uma diminuição da energia de ativação, com o conseqüente aumento da velocidade. Na figura 1, compara-se a reação catalítica com a reação na ausência de catalisador. Uma vez que o estado inicial e o estado final são os mesmos, a variação de energia livre ∆G é igual nos dois processos. Então, como constante de equilíbrio K = e - ∆Gº/RT , conclui-se que a posição de equilíbrio não é alterada pelo catalisador, este se limita a aumentar a velocidade de aproximação ao equilíbrio (fig. 2). Em geral, a partir dos mesmos reagentes haverá várias reações termodinamicamente possíveis, isto é, para os quais ∆G<0. Por exemplo, na tabela 1, apresentam-se vários processos baseados no gás de síntese (H2 + CO), onde se verificam que os catalisadores diferentes originam produtos diferentes. Em cada caso, o catalisador favorece uma entre várias reações possíveis. Essa propriedade do catalisador designa-se por seletividade. 7 Figura 1. Diagrama de energia potencial para uma reação R Æ P. Comparação entre os percursos catalítico e não catalítico. A atividade do catalisador é a medida do seu efeito sobre a velocidade da reação. Para comparar as atividades de vários catalisadores relativamente a uma dada reação podem determinar-se as velocidades nas mesmas condições de temperatura e concentração. É, no entanto, mais prático determinar a chamada “temperatura isocinética”, isto é, a temperatura para a qual se obtém a mesma velocidade de reação, ro. O catalisador mais ativo será aquele no qual sua presença possui ro a uma temperatura mais baixa. Quando o catalisador e os reagentes estão dispostos na mesma fase, a catálise diz-se homogênea. Quando o catalisador constitui uma fase distinta a catálise é heterogênea. Neste caso a reação química ocorre na interface entre as fases, e sua velocidade será, em princípio, proporcional a área respectiva. 8 Figura 2. Efeito do catalisador sobre a velocidade de aproximação do equilíbrio (AÆ reação não catalisada; BÆ reação catalisada) Tabela 1 – Reações do gás de síntese (CO + H2) Catalisador Condições Produtos Ni 100-200ºC, 1-10 atm CH4 + H2O ZnO-Cr2O3 400ºC, 500 atm CH3OH + H2O Co/ThO2 190ºC, 1-20 atm CH4, C2H6 e alcanos superiores + H2O Fe + alcali 315ºC, 15 atm Idem + olefinas, álcoois e ácidos Ru 200ºC, 200 atm Alcanos de peso molecular elevado + H2O ThO2 400ºC, 200 atm Alcanos de cadeia ramificada + H2O Em catálise heterogênea são possíveis diversas combinações de fases, mas em geral o catalisador é um sólido, enquanto que os reagentes e produtos se distribuem por uma ou mais fases fluidas. A catálise enzimática tem caráter intermediário entre os dois anteriores. O catalisador é uma macromolécula (enzima) que por um lado podemos considerar dispersa juntamente com os reagentes formando uma só fase, mais que já é suficientemente grande para serem considerados centros ativos na sua superfície. 9 1.1.2. Conceitos e teorias em catálise heterogênea A superfície dos catalisadores não é uniforme. As reações ocorrem em locais específicos da superfície, os centros ativos. A concentração de centros ativos é da ordem dos 1015/ cm2 nos metais, e de 1011/ cm2 nos catalisadores ácidos. Os catalisadores podem classificar-se em condutores, semicondutores e isolantes de acordo com a mobilidade dos seus elétrons. Os metais são condutores, sendo particularmente importantes em catálise os metais de transição. Os óxidos não-estequiométricos e sulfuretos são semicondutores a temperaturas elevadas. Os óxidos estequiométricos são isolantes e funcionam como ácidos ou bases. Conforme se verifica na tabela 2, a cada uma destas classes corresponde um determinado tipo de atividade catalítica. Para compreender essa correlação entre a natureza química e a atividade do catalisador, é necessário examinar em detalhe as possibilidades de interação entre os reagentes e a superfície. Tabela 2: Classificação de Catalisadores Heterogêneos Classe Funções Exemplos Metais Hidrogenação Fe, Ni, Pd, Ag, Cu Desidrogenação Hidrogenólise (Oxidação) Óxidos semicondutores Hidrogenação NiO, ZnO, MnO2, Cr2O3, e sulfuretos Bi2O3, MoO3, WS2. Desidrogenação Dessulfuração (hidrogenação) Óxidos estequiométricos Desidratação Ai2O3, SiO2, MgO Ácidos Polimerização H3PO4, H2SO4 Isomerisação SiO2 – Al2O3 Craqueamento zeólitos Alquilação 10 A reação catalítica envolve a adsorção transitória de um ou mais reagentes na superfície do catalisador, rearranjo das ligações e dessorção dos produtos. As teorias geométricas procuram explicar a catálise com base na correspondência entre a configuração geométrica, dos centros ativos e a configuração dos átomos nos reagentes. As teorias eletrônicas procuram relacionar a atividade catalítica com as propriedades eletrônicas do catalisador. Contrastando com estas interpretações de natureza física, as teorias químicas visualizam o catalisador como um intermediário que forma com os reagentes um complexo de superfície instável e transitório, que por decomposição origina os produtos e regenera o catalisador. 1.1.3. Adsorção A interação entre os reagentes e a superfície do catalisador é o fenômeno de adsorção e resulta de existirem forças atrativas não compensadas na superfície (fig. 3). Conforme a natureza das forças envolvidas, podemos distinguir dois tipos de adsorção: a) Adsorção física. - é um processo semelhante à condensação envolvendo forças não específicas - forças de van der Waals. Não há alteração química das moléculas adsorvidas, e o calor de adsorção é pequeno (da mesma ordem de grandeza do calor de condensação). Figura 3. Representação esquemática da energia superficial de um sólido. b) Adsorção química – envolve a formação de ligações químicas, pelo que o calor de adsorção é da ordem da grandeza dos calores de reação. 11 No primeiro caso, podem formar-se camadas moleculares sobrepostas, e a força de adsorção vai diminuindo a medida que o número de camadas aumenta. No segundo caso forma-se uma única camada molecular adsorvida (monocamada ou camada monomolecular) e a força de absorção diminui a medida que a extensão de superfície ocupada aumenta. Na tabela a seguir, comparam-se os dois tipos de adsorção. Tabela 3: Comparação Entre Adsorção Física e Química Critério Adsorção Física Adsorção Química Adsorvente Todos os sólidos Alguns sólidos Adsorvido Todos os vapores Alguns gases Zona de temperatura Baixa Geralmente alta Adsorção Baixa Alta Adsorção a alta pressão Alta Ligeiro aumento Especificidade Baixa (toda superfície Alta disponível) disponível) Cobertura superficial Camadas múltiplas Monocamada Reversibilidade Reversível Frequentemente a baixa pressão (toda superfície irreversível Calor de adsorção Baixo (0,5-5 Kcal/mol) Alto (5-500 kcal/mol) Energia de ativação Baixa (<1 kcal) alta A adsorção química diz-se não dissociativa quando a molécula é adsorvida sem fragmentação. Quando a molécula é adsorvida com dissociação em dois ou mais fragmentos ligados à superfície, o processo é dissociativo. A adsorção reduz o desequilíbrio das forças atrativas que existe na superfície e, portanto a energia livre superficial (∆G<0). Por outro lado, o fenômeno é acompanhado de uma diminuição do número de graus de liberdade, pois as moléculas do adsorvido só podem deslocar-se sobre a superfície; isto é, ∆S < O. Como ∆G = ∆H - T∆S, terá que ser ∆H < O ou seja, a adsorção é um processo exotérmico. A quantidade de gás adsorvido 12 diminui, portanto, quando a temperatura aumenta (princípio de Le Chatelier). Figura 4. Curva de energia potencial para adsorção física e química. A natureza da adsorção física e química é ilustrada pelas curvas de energia potencial da figura 4, para o caso da adsorção de um gás diatômico X2 sobre um metal M. A curva P representa a interação entre M e X2 enquanto que a curva C representa á adsorção química, tendo o gás sofrido uma dissociação a 2X (ex. adsorção de H2 em Ni). Daqui se conclui que a adsorção física inicial é uma etapa importante na adsorção química. Com efeito, na sua ausência, seria necessário ativar as moléculas do gás fornecendo-lhes uma energia igual à energia de dissociação, muito elevada. Na realidade, as moléculas gasosas sofrem primeiro uma adsorção física, isto é, aproximam-se da superfície através de um caminho de baixa energia. No ponto de intersecção das curvas P e C ocorre a passagem a adsorção química. Quando esse ponto se situa acima do eixo das abscissas, como no caso da figura 4, a adsorção química é ativada. Note-se, no entanto que o valor da energia de ativação é muito inferior ao da energia de dissociação das moléculas. No caso do hidrogênio em Ni, tem o valor de 103kcal/mol. Todos os sólidos adsorvem gases fisicamente, mas a quantidade adsorvida diminui rapidamente à medida que a temperatura aumenta, e é geralmente muito pequena para temperaturas superiores à temperatura crítica. Por outro lado, devido à existência de uma energia de ativação, a adsorção química é em geral muito lenta a temperaturas baixas. Na figura 5 mostra-se como pode variar a quantidade de gás adsorvido com a temperatura, a pressão 13 constante. Adsorção química é a primeira etapa da reação catalítica, permitindo o enfraquecimento das ligações das moléculas reagentes e facilitando a sua conversão em produtos. Uma espécie adsorvida quimicamente e o átomo ou átomos da superfície com o qual está ligada constituem um composto químico superficial, o complexo de adsorção. Note-se que as moléculas saturadas só podem ser adsorvidas dissociativamente, enquanto que as moléculas com elétrons pi ou elétrons desemparelhados podem ser adsorvidas sem dissociação adsorção não dissociativa. Figura 5. Isobárica de adsorção; a) adsorção física no equilíbrio; b) adsorção química no equilíbrio; c) adsorção química e física 1.1.4. Seletividade Seletividade é usada para comparar as velocidades relativas de duas ou mais reações simultâneas. É a propriedade mais importante do catalisador industrial, já que na maior parte dos processos existe a possibilidade de ocorrerem reações secundárias. A seletividade pode ser expressa como: S= velocidade de formação do produto desejado ∑ velocidades de formação dos produtos secundários Embora seja por vezes definida em termos de rendimento relativo: S '= velocidade de formação do produto desejado velocidade de de conversão do reagente 14 Fatores como concentração dos reagentes e temperatura afetam na seletividade já que as velocidades das várias reações envolvidas são em geral funções desses parâmetros. Por outro lado, os tamanhos das partículas e dos poros do catalisador podem afetar a seletividade quando houver limitações difusionais. No entanto é a formulação do catalisador que determina fundamentalmente a seletividade intrínseca. Uma vez conhecido o mecanismo reacional, pode se definir as condições que o catalisador deve obedecer para favorecer a reação. Quando essas condições forem diferentes para as várias reações possíveis, o catalisador que satisfizer os requisitos de apenas uma delas será seletivo para essa reação particular. 1.1.5. Atividade A atividade do catalisador pode exprimir-se pela velocidade da reação que ele catalisa, embora outras medidas de atividade relativa sejam por vezes usadas: a) A temperatura necessária para atingir uma conversão fixada; b) A temperatura necessária para obter uma dada especificação do produto; c) A conversão obtida em condições pré-fixadas das variáveis processuais; d) O tempo de contato para o qual se obtém, com um dado reator, uma conversão pré-fixada; e) Constantes cinéticas. Em geral, os catalisadores sofrem uma perda de atividade ao longo da sua vida útil pelo que pode ser conveniente exprimir a atividade pelo quociente r/ro, em que r é a velocidade da reação nas condições atuais, e ro é a velocidade obtida com a carga de catalisador novo, medidas nas mesmas condições operatórias. Uma medida absoluta da atividade catalítica seria o número de moléculas que reagem na unidade de tempo por cada centro ativo; contudo, é geralmente difícil determinar inequivocamente o número de centros ativos do 15 catalisador. A formulação do catalisador é também o fator mais importante que determina a sua atividade intrínseca. De notar que, em geral, quanto mais ativo for o catalisador, menos seletivo ele é. A seleção das espécies ativas faz-se não só em função das reações que se quer catalisar, mas também tomando em consideração as (possíveis) reações secundárias que é necessário evitar. Em particular, é necessário saber quais as ligações das moléculas reagentes que devem ser quebradas e quais não convém ativar. Note-se ainda que, nas condições do processo, as espécies catalíticas podem existir no estado livre (metais) ou combinado (óxidos, sulfuretos, cloretos, etc.). No caso de catalisadores metálicos, verifica-se que a velocidade de certas reações é independente do tamanho, forma e outras características dos cristais sendo proporcional apenas ao número de átomos metálicos expostos aos reagentes. Tais reações dizem-se insensíveis a estrutura ou fáceis. Noutros casos, a reação é sensível a estrutura. 1.1.6. Estabilidade e Regenerabilidade. A estabilidade do catalisador é fundamental para que ele possa ter uma vida útil longa, e é determinada pela estabilidade das diversas fases sólidas e pela sua resistência aos diversos processos de desativação entre os quais avulta a sinterização. Com efeito, se os íons constituintes de um sólido tiverem mobilidade suficiente, podem ocorrer processos tendentes a diminuir sua energia superficial como alterações da forma das partículas e junção das partículas pequenas formando partículas maiores de menor razão área/volume. Estes processos são tanto mais rápidos quanto menores forem as partículas e maior a temperatura e recebem a designação genérica de ´´sinterização´´. A mobilidade dos íons no interior do sólido torna-se apreciável a temperaturas Tt = 0,5Tf (temperatura de Tammann) e na superfície para temperaturas Tt=0,3Tf (temperatura de Huttig), em que Tf(K) é o ponto de fusão da substância. Para impedir a sinterização do catalisador com a conseqüente diminuição da atividade e seletividade, suporta-se a fase ativa sobre um material refratário (Al2O3, SiO2, MgO). Daqui se conclui que, para a maioria das aplicações, os metais dos grupos IB e os metais de transição devem ser sempre 16 suportados. Os metais nobres do grupo VIII têm pontos de fusão mais elevados; contudo são também em geral suportados por razões de economia. Neste caso, a espécie catalítica encontra-se dispersa sobre o suporte, geralmente Al2O3. O refratário pode constituir apenas um suporte, isto é, uma superfície sobre a qual se distribuem os cristais da fase ativa (exemplo: Ni / Al2O3) ou pode ser usado sob a forma de uma dispersão fina que, colocada entre as partículas da fase ativa, evita a coalescência dos seus cristais. Neste último caso, o volume da fase ativa é geralmente superior ao do refratário, que se designa por estabilizador. (exemplo: catalisador para a síntese do amoníaco, Fe/Al2O3/K2O). Por outro lado, é frequentemente inevitável que o catalisador sofra uma desativação mais ou menos rápida, podendo em certos casos recuperar-se total ou parcialmente a sua atividade inicial - regeneração do catalisador. A maior ou menor facilidade com que o catalisador se presta a esta operação é uma das propriedades que podem determinar o sucesso ou insucesso do processo catalítico. 1.1.7. Propriedades mecânicas e térmicas A forma e tamanho dos catalisadores industriais dependem do processo a que se destinam e, sobretudo do estado físico dos reagentes. Assim, quando os reagentes são gases usam-se frequentemente reatores de leito fixo, e o catalisador é empregado sob a forma de pastilhas, esferas ou grânulos de dimensões normalmente compreendidas entre 1,5 e 12 mm. Para tamanhos maiores (12-25 mm) usam-se partículas com a forma de anéis de Raschig. O qual fornece a existência de vazios no enchimento, de modo a reduzir a perda de carga através do reator. Por outro lado, em reatores de leito fluidizado, pretende-se uma distribuição de tamanhos na gama 20-300 micrômetros a fim de permitir uma boa fluidização. Com reagentes líquidos podem usar-se reatores agitados e o catalisador deve ser também microparticulado (75-200 micrômetros de diâmetro) para se manter em suspensão no líquido. A separação dos produtos faz-se geralmente por filtração, O que impõe o limite inferior ao tamanho das partículas que se podem usar. Cada tipo de reator faz exigências diferentes do ponto de vista das propriedades mecânicas do catalisador. Em reatores de leito móvel, exige-se uma elevada resistência ao atrito para reduzir as perdas do 17 catalisador. Em reatores de leito fixo, o fator mais importante é a perda de carga através do leito, que deve ser minimizada e e que determina o tamanho mínimo das partículas a usar (quanto menor, maior a perda de carga). É vital que o catalisador apresente uma elevada resistência a compressão para poder suportar as cargas a que fica sujeito (pressão e peso do próprio leito) e para evitar a sua desagregação durante as cargas e descargas do reator. A forma e resistência mecânica das partículas do catalisador são os fatores que determinam o correto escoamento do fluido do reator. Outra característica importante do catalisador é a condutividade térmica. Uma boa condutividade favorece as transferências de calor e ajuda a diminuir os gradientes de temperatura. 1.2. Preparação dos catalisadores: As principais propriedades dos catalisadores (atividade, seletividade, resistência mecânica e condutividade térmica) estão intimamente ligadas a sua composição e tecnologia de preparação. Para facilitar o acesso dos reagentes aos centros ativos localizados na superfície dos poros do catalisador, deve-se facilitar seu acesso diminuindo o diâmetro dos grãos do catalisador e aumentando sua porosidade. Quando se quer preparar um catalisador, tem que fazer uma seleção entre diversos materiais de base e escolher o método de preparação. Por exemplo, se quer preparar um catalisador de níquel suportado em alumina, deve-se escolher o precursor do níquel (nitrato e cloreto) e o método de impregnação do suporte. 1.2.1. Catalisadores mássicos Num catalisador mássico toda a sua massa é constituída por substâncias ativas. É o caso dos óxidos de bismuto e molibdênio para a oxidação desidrogenante das olefinas, do zeólito Y na forma protônica para o craqueamento de hidrocarbonetos, dos óxidos de cromo. O esquema geral de preparação dos catalisadores mássicos e suportes é o seguinte: precipitação, transformações hidrotérmicas, filtração, lavagem, secagem, calcinação e ativação. A precipitação é uma técnica que permite obter uma fase sólida a partir da fase líquida. Uma operação muito importante é a calcinação, que influencia 18 nas propriedades texturais como área específica, volume poroso, repartição porosa e, indiretamente, na atividade, seletividade e estabilidade do catalisador. Realiza-se sob ar ou nitrogênio, a temperaturas elevadas, e seu objetivo é gerar porosidade e dar resistência mecânica ao catalisador. Durante a calcinação, podem-se ocorrer alguns fenômenos como, por exemplo, alteração da estrutura cristalina com mudança de fase do catalisador, modificação da textura por sinterização, processo físico que modifica o tamanho das partículas e, consequentemente, a área específica. Outro aspecto importante é o precursor da fase ativa. No caso do níquel, o nitrato de níquel é um bom precursor porque atinge uma elevada área específica antes de iniciar a sinterização. Outra operação importante é a ativação, que consiste num tratamento térmico a temperaturas elevadas sob gás inerte (azoto) com o intuito de eliminar as substâncias voláteis existentes nos poros, sendo efetuado dentro do reator catalítico. 1.2.2. Catalisadores Suportados São catalisadores com maior utilização industrial, sendo constituído de um suporte sobre o qual se dispersa uma substância ativa. O suporte confere ao catalisador porosidade e resistência mecânica, podendo ser inativo do ponto de vista catalítico e o catalisador será monofuncional , ou ativo, e o catalisador será bifuncional. Para preparar um catalisador suportado, seguem-se as seguintes etapas: a) preparação do suporte de acordo com o esquema já deferido para catalisadores mássicos, b) impregnação das espécies ativas, c) secagem, d)calcinação e ativação. 1.3. Reações Catalíticas O crescimento industrial e todos os benefícios que o mesmo proporciona ao homem, como prolongamento da expectativa de vida média, mesmo que não seja comum a todos, resultam em uma crescente demanda energética. Um dos problemas decorrentes da vida moderna é o consumo cada vez maior dos recursos naturais, a necessidade mínima energética, per capita, cada vez maior, a geração ou emissão de poluentes através da queima de combustíveis fosseis. 19 Todos estes fatores têm sofrido um acréscimo significativo nas últimas décadas. Umas das conseqüências é a elevação da temperatura média do planeta (efeito estufa) provocada pela emissão de poluentes como o CO2. O desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem a substituição das fontes energéticas poluentes por fontes limpas e renováveis, em curto prazo, é uma excelente opção. Visando o menor consumo energético e melhores benefícios ao homem, há a possibilidade de, através de processos catalíticos, promover ou facilitar o consumo de parte dos gases poluentes, considerados nocivos ao planeta (quando em excesso), tais como metano e dióxido de carbono, principais responsáveis pelo aquecimento global. Frente a estas possibilidades, a necessidade de obtenção de processos quimicamente limpos e com baixo custo de produção tem incentivado a pesquisa na área de catálise heterogênea. Nunca é demais afirmar que diferentes e importantes processos industriais encontram aplicação de catalisadores sólidos com metais de transição como sítio ativo. Um exemplo clássico é o processo inovador desenvolvido por Fischer e Tropsch, no uso de gás de síntese para a obtenção de produtos químicos de elevado valor comercial e industrial [12]. O mesmo foi inventado na década de vinte, e ainda hoje requer pesquisa na melhoria do processo e dos catalisadores para que sejam mais seletivos e de menor consumo energético. Catalisadores para aplicação em tal síntese (Fischer- Tropsch) usualmente contêm metal do Grupo. VIII como sítio ativo. Em particular, ferro, cobalto, níquel e rutênio têm sido grandemente utilizados. Cobalto e rutênio são tidos como os mais adequados para o processo, no qual o gás de síntese é convertido, com elevada seletividade, em hidrocarbonetos possuindo cinco ou mais átomos de carbono. No processo Fischer-Tropsch (PFT) para a produção de hidrocarbonetos, apenas a obtenção do gás de síntese purificado pode atingir valores entre 60 a 70% do total dos custos do processo [13]. Portanto, diminuir os custos de produção do gás de síntese é um importante item a ser considerado na implantação do PFT. A proporção molar entre H2 e CO requerida é dependente da síntese em questão, do catalisador utilizado e da temperatura do processo [13,14], sendo que a mesma varia entre 1 e 2. A reforma a vapor do metano (Equações 1 e 2), usada extensivamente na indústria, produz uma mistura rica em H2.[15,16] 20 CH4(g) + H2O(l) ÅÆ CO(g) + 3 H2(g), (∆Ho298 = + 206 Kj/mol) (1) CO(g) + H2O(l) ÅÆ CO2 (g) + H2(g) (∆Ho298 = -41Kj/mol) (2) Para a obtenção de gás de síntese com uma razão molar menor entre H2/CO, a reforma do metano com dióxido de carbono (Equação 3) é um processo que merece destaque: (∆Ho298= + 247 Kj/mol) (3) CH4(g) + CO2(g) ÅÆ 2 CO(g) + 2 H2(g) Além da obtenção de produtos com maior valor agregado, este processo é interessante, também, por consumir gases que provocam o efeito estufa [16-19]. Sabe-se que a viabilidade econômica do processo Fischer-Tropsch (PFT) é dependente do preço do óleo cru (petróleo), atualmente a fonte de energia com melhor relação custo e benefício. Porém a possibilidade de otimizar as condições experimentais para aumentar a vida útil do catalisador nos processos catalíticos, especialmente na reforma do gás natural, é um dos fatores importantes para viabilizar e implementar a utilização do PFT [13]. Durante a II Guerra Mundial a Alemanha e, mais recentemente, a África do Sul, desenvolveram tecnologia para diminuir o custo de uma planta baseada no processo Fischer-Tropsch [15] e mostraram que pode ser vantajoso obter combustível a partir do gás de síntese. Muitos trabalhos foram realizados sobre a reação de reforma catalítica do metano com CO2 empregando-se diferentes catalisadores, com ênfase para o Ni suportado em SiO2, α-Al2O3 ou MgO [20-27]. O problema mais importante encontrado neste processo é a desativação catalítica devida à deposição de coque [20]. O desenvolvimento de catalisadores que apresentem elevada resistência ao depósito de coque é, então, fator importante para aumentar a vida útil do catalisador, contribuindo, na atualidade, para um grande número de pesquisas na área. As estruturas carbonadas formadas por reações na fase gasosa, que incluem alcatrões e fuligens, podem, depois de passarem por uma etapa de difusão, sofrer precipitação sobre a superfície dos catalisadores metálicos (geralmente Ni, Fe e Co suportados). Desta forma, podem ocasionar a formação de filamentos (tubos de carbono) que, embora não obstruam de imediato a superfície metálica, provocam a fratura dos grãos do catalisador, com a posterior possibilidade de encapsulamento. Este fenômeno ocasiona o aumento 21 da perda de carga nos reatores, em seguida à sua desativação [26-29]. O planejamento do sistema catalítico resulta em definir estratégias que, em condições normais de operação, possibilitem a supressão ou decréscimo da quantidade de coque depositado. A menor deposição de coque dependerá do balanço entre as reações que produzem carbono e seus precursores, e das reações que conduzem ao desaparecimento dessas espécies. Prevenir a deposição de coque equivale a favorecer as reações que inibem a formação de carbono; assim sendo, uma das soluções amplamente usada para evitar a formação de coque na fase gasosa, é o uso de agentes gaseificantes (por exemplo, MgO e K2O), em conjunto com condições operacionais que desfavoreçam o aparecimento de radicais livres ou ainda por diminuição dos tempos de residência [26]. Diferentes processos têm sido usados para minimizar o depósito de materiais carbonosos. Por intermédio de reativações consecutivas do catalisador (Ni suportado em alumina) com atmosfera rica em CO2, foi possível eliminar o carbono remanescente do processo catalítico, por oxidação do mesmo, com formação de CO. 22 2. Justificativa Apesar do avançado desenvolvimento das técnicas de caracterização dos sólidos inorgânicos possibilitarem a obtenção de informações estruturais, morfológicas e texturais dos materiais catalíticos, no sentido de explicar as variações das propriedades observadas, são ainda colocadas diversas hipóteses, tais como: o efeito eletrônico, o efeito da força das ligas metálicas, o efeito geométrico, bem como o conjunto deles, sem, contudo, poder atribuir precisamente a um dentre eles, as variações experimentais observadas no desempenho catalítico. A etapa de preparação, de ativação e de redução do catalisador tem um papel muitas vezes determinante na origem dos efeitos citados acima e, portanto sobre as propriedades catalíticas dos sólidos. Um esforço significativo deve ser então, empregado para compreender e melhorar as propriedades existentes e conseqüentemente desenvolver novos catalisadores. No campo do desenvolvimento tecnológico ouvem-se constantemente a palavra nanotecnologia, obtenção de dispositivos de escala nanométrica (10-9m) e suas aplicações. Catalisadores são típicos nanomateriais, talvez o primeiro nanomaterial com grande aplicação. No entanto, apenas após a disposição de modernas técnicas de caracterização de materiais é que se tem dado maior ênfase à obtenção de nanopartículas metálicas com aplicação catalítica. O estudo desenvolvido relacionado a nanopartículas e o conhecimento acumulado pelos alunos e professores do laboratório Langmuir - Laboratório de Adsorção e Catálise podem contribuir para a compreensão de propriedades e características de catalisadores nanoparticulados através da síntese, caracterização e aplicação em reações de reforma catalítica. Estes estudos nos conduziram a estabelecer um plano de trabalho compreendendo sistemas Ni/Al2O3/X, onde X é um dopante a ser usado justificando-se: - o alumínio, por ser um composto que na forma de óxido é um suporte largamente empregado na obtenção de catalisadores. O mesmo apresenta a possibilidade de obtenção de um material com boas propriedades como alta área superficial e estável termicamente numa grande faixa de temperatura. - o níquel pelas suas propriedades já conhecidas (elevada atividade 23 catalítica em muitos processos), pelo seu baixo custo, e pelo que se pode prever do desenvolvimento em razão do aumento do interesse por reações de valorização de hidrocarbonetos, da conversão de óxidos de carbono e do tratamento de compostos poluentes. - o cério, um elemento 4f que, em razão de sua estrutura eletrônica particular, promove mudanças nas propriedades eletrônicas dos metais de transição 3d (Ni). Em adição, a presença de cério possibilita mudanças na morfologia do catalisador (área específica, porosidade). Modificações estas que. podem favorecer sensivelmente as propriedades catalíticas do metal de transição. - Aos óxidos de estanho e nióbio, por apresentarem propriedades responsáveis pela melhora na acidez e seletividade do catalisador. - A escolha do método de preparo dos catalisadores, pelo sistema de precursores poliméricos, visando um melhor controle da área superficial, uma distribuição de tamanho e volume de poros mais adequado e tamanho de partículas com baixo grau de aglomeração. Espera-se que estes compostos possam servir de modelo, pois pela substituição parcial do metal de transição d, pode-se fazer variar a ocupação da banda d e tentar correlacionar este fator com as variações das propriedades catalíticas. No sentido de aprofundar a compreensão dos sistemas catalíticos por nos elaborados, procuramos, dentro do quadro de colaboração com outros laboratórios, caracterizar, empregando as técnicas disponíveis, tais como: - Análise termogravimétrica - Calorimetria Exploratória Diferencial - Fluorescência de Raios-X - Redução em temperatura programada. - Difração de raios - X. Todas as técnicas citadas foram acessíveis na Universidade Federal do Ceará. 24 3. Objetivos O principal objetivo do presente trabalho é contribuir para o estudo e desenvolvimento de um catalisador que apresente resultados (desempenho) que viabilize ou justifique seu emprego na implementação do processo de reforma a seco do metano em escala industrial, na produção de hidrogênio e gás de síntese. Com este intuito esse trabalho visa: 1 – Sintetizar via precursores poliméricos, catalisadores a base de óxidos de alumínio como matriz mesoporosa, que contenha níquel (Ni) disperso homogeneamente na matriz em escala nanométrica. 2 – Estudar o efeito da presença de dopantes como o cério, estanho e nióbio nas propriedades do catalisador. 3 - Analisar a atividade catalítica das amostras na reação de reforma do metano com dióxido de carbono. 4 - Caracterizações dos materiais catalíticos sintetizados. 4. Metodologia As diversas técnicas de síntese de partículas metálicas encontradas na literatura conduzem à obtenção de materiais alternativos com diferentes propriedades catalíticas. Sendo assim, alguns dos parâmetros mais importantes a serem observados na escolha do método de síntese são aqueles que se direcionam a um melhor controle da área superficial, menor tamanho de partículas, ou seja, baixo grau de aglomeração. A utilização de precursores orgânicos na síntese de materiais finamente divididos proporciona características importantes às amostras, pois através da degradação do polímero no interior do sólido ocorre a abertura de poros ou canais, através dos quais os produtos da decomposição térmica são liberados. Posteriormente, esses poros resultantes podem atuar como fatores determinantes na seletividade catalítica da amostra. 25 Ni(NO3) 2 Etilenoglicol Ácido Cítrico dissolvido em volumes Iguais de água e etanol Óxido do Metal Cromatógrafo Gasoso (FID E DCT) Al(NO3)3 Seco a 80ºC sob agitação Testes Catalíticos (reforma do Metano e Hidrog. Do benzeno) Catalisador em Forma de gel Tratamento Térmico a 300ºC TGA e DSC DRX FRX TPR Catalisador Em pó Figura 6: fluxograma da metodologia de preparo e caracterização dos catalisadores 4.1. Síntese dos catalisadores De posse de tais informações foi optado por sintetizar os catalisadores pelo método dos precursores poliméricos, o qual consiste na formação de quelatos entre os cátions metálicos (dissolvidos em solução aquosa) com ácidos carboxílicos (ácido cítrico) e posterior polimerização através de uma reação de poliesterificação com poliálcoois (etilenoglicol), visando uma elevada distribuição dos cátions (aleatoriamente) a nível atômico na estrutura polimérica. A reação de poliesterificação é promovida através do aquecimento em temperaturas moderadas (100°C), com eliminação do excesso de água; resultando em uma “resina” polimérica sólida que pode ser dissolvida em água dependendo da relação estequiométrica dos reagentes. O citrato metálico foi obtido através da simples dissolução de ácido cítrico em etanol e água sob agitação mecânica. Após a completa dissolução do ácido cítrico adicionou-se a quantidade necessária do precursor da matriz cerâmica (solução aquosa de nitrato de alumínio), seguido do acréscimo de solução de nitrato do metal (Ni) hidratado bem como dos dopantes, sendo posteriormente adicionado o etilenoglicol. As amostras catalíticas com diferentes composições foram sintetizadas seguindo-se o procedimento descrito acima, variando-se a quantidade de 26 dopante. Foi mantida uma relação molar de 3/1 entre ácido cítrico e o total de cátions de metal presente (Al, Ni, Sn, Ce e Nb) e uma relação mássica de 6/4 entre ácido cítrico e etilenoglicol, para todas as amostras. Os precursores empregados foram: 1) Nitrato de níquel hexaidratado [Ni(NO3)2.6H2O], 2) ácido cítrico mono hidratado [C6H8O7.H2O], 3) etileno glicol [C2H6O2], 4) nitrato de alumínio nonaidratado [Al(NO3)3.9H2O], 5) nitrato de cério hexaidratado [Ce(NO3)3.6H2O], 6) óxido de nióbio (Nb2O5), e 7) cloreto de estanho [SnCl2]. Após o processo de poliesterificação o material foi submetido ao tratamento térmico em forno mufla na temperatura de 300°C durante uma (1) hora. O tratamento térmico em temperatura mais elevada foi realizado em forno tubular sob fluxo de gás, sob taxa de aquecimento controlada (10°C/min). Na tabela abaixo estão apresentados os valores dos teores (percentagem em massa) dos dopantes empregados e a denominação assumida para cada amostra. O teor de níquel foi mantido fixo em 10%, percentagem em massa. Tabela 4: Denominação assumida para os catalisadores sintetizados para reforma do CH4 com CO2 Catalisador Ni/AlX Amostra CeO2 (%)* SnO2 (%)* Nb2O5 (%)* Ni/Al2O3 - - - Ni/AlCe-2 2 - - Ni/AlCe-4 4 - - Ni/AlCe-10 10 - - Ni/AlNb-2 - - 2 Ni/AlNb-4 - - 4 Ni/AlNb-10 - - 10 Ni/AlSn-2 - 2 - Ni/AlSn-4 - 4 - Ni/AlSn-10 - 10 - - X representa o dopante utilizado (Ce, Sn ou Nb). - * os números representam os teores em massa previstos considerando-se o óxido aqui representado. 27 4.2. Caracterização dos catalisadores 4.2.1. Análise Termogravimétrica (TGA) Para se determinar as condições para o tratamento térmico, as amostras de catalisadores foram submetidas à análise termogravimétrica (TGA), empregando-se um equipamento TGA-50 Shimadzu - Thermogravimetric Analyser. As amostras pré-calcinadas em 300°C foram submetidas a um aumento programado de temperatura sob fluxo de gás inerte (nitrogênio) a uma vazão de 20 mL/min com uma taxa de aquecimento de 10°C/min desde a temperatura ambiente até 1000°C, a análise foi realizada em cadinho de platina e massa próxima de 10 mg. 4.2.2. Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) Para obter informações das possíveis transições térmicas com o aumento da temperatura, utilizou-se a técnica de calorimetria diferencial de varredura (DSC). Durante o ciclo de aquecimento a amostra foi aquecida até 600°C sob atmosfera de nitrogênio em uma taxa de 10°C/min. Utilizou-se um calorímetro diferencial de varredura Shimadzu, modelo DSC-50. 4.2.3. Difratograma de Raios-X (DRX) Com o intuito de se verificar as possíveis fases cristalinas formadas as amostras, posteriormente ao tratamento térmico em atmosfera de nitrogênio (no forno tubular) na temperatura de 700ºC, foram submetidas à análise de Difração de Raios–X. O aparelho empregado foi um difratômetro para amostras policristalinas modelo DMAXB fabricado pela Rigaku (Japão) constituído de um gerador de raios-X com potência máxima de 2kW, usando radiação CuKα de λ= 1.5405 Å, com variação 2θ de 10 a 80 graus e com uma taxa de 0,5°/min. 28 4.2.4. Refinamento de Rietveld O refinamento de Rietveld é um método de estrutura cristalina a partir de dados de difração de raios X ou nêutrons. Este método propõe obter valores refinados para os parâmetros da estrutura cristalina de um material utilizando dados coletados de difração, que serão denominados a partir deste momento de difratograma observado. Para realizar o método de refinamento de Rietveld (RIETVELD, 1969) foi utilizado o programa DBWS-tools. O método foi usado para confirmar e quantificar as fases cristalinas formadas após o processo de calcinação. 4.2.5. Redução em Temperatura Programada (TPR) Para se avaliar a temperatura de redução dos óxidos dos metais presentes, foram realizadas análises de TPR. Nos ensaios de redução a temperatura programada (TPR) as amostras previamente calcinadas foram introduzidos em um reator de quartzo, alimentado com uma mistura gasosa redutora (5% em vol. de H2 em N2), a uma vazão de aproximadamente 30 mL/min. O aumento da temperatura foi programado para uma taxa de aquecimento de 10°C/min, desde a temperatura de 100°C até aproximadamente 950°C. Ao longo da análise foi registrado o consumo de hidrogênio, utilizando um detector de condutividade térmica, em função da temperatura da amostra. 4.2.6. Fluorescência de Raios-X (FRX) Para se avaliar a razão atômica entre os componentes dos catalisadores sintetizados, foi realizada a análise de fluorescência de raios-X das amostras, posteriormente ao tratamento térmico em 700ºC. O aparelho empregado foi um ZSM Mini com tudo de raios-X de Pd, cristais difratores LiF200, PET, TAP e detector F-PC. 4.2.7. Reação de Hidrogenação do Benzeno A reação de hidrogenação catalítica do benzeno é um processo extensivamente estudado. Devido a isso, hoje se pode empregar esta reação para se classificar, relativamente, uma série de catalisadores quanto à área metálica 29 ativa (Ni) exposta; visto que a atividade na hidrogenação do benzeno depende basicamente da área metálica. Como os catalisadores do presente estudo possuem o mesmo teor de níquel (Ni) para todas as amostras (10% em massa), pode-se empregar esta reação química para se verificar o efeito da presença do dopante na área superficial ativa, e relacionar com o desempenho na reforma do metano. A reação de hidrogenação do benzeno foi conduzida em reator de leito fixo e fluxo contínuo confeccionado em aço inox (mesmo sistema usado na reforma do metano), conforme esquema na Figura 7. A ativação do catalisador foi realizada no próprio leito catalítico com a utilização de 70 mg de catalisador através de fluxo de 20mL/min de H2 sob temperatura de 650ºC durante 1 hora. O gás de arraste reacional, H2, foi introduzido ao sistema, passando-se o mesmo pelo saturador onde se encontrava o reagente (benzeno) sob temperatura controlada (5ºC). A mistura reacional (H2 com benzeno) foi introduzida no reator, o qual se encontrava na temperatura 100ºC. Os produtos reacionais foram analisados por cromatografia gasosa empregando-se o aparelho Simple Chrom II dotado com detector de ionização de chama e coluna capilar apolar (Ciola 1). 2 H2 1- Saturador 2- Reator 3- Forno 3 1 CG (coluna capilar apolar, Ciola-1) (FID) Injetor Figura 7: Linha reacional para a reação de hidrogenação do Benzeno 4.2.8. Reforma do Metano com Dióxido de Carbono A Figura 8 representa a linha reacional utilizada no processo de reforma catalítica do CH4, cujo reator foi confeccionado em aço inoxidável. A ativação catalítica foi realizada sob fluxo de H2 em 650ºC durante 1h. Massa de catalisador 30 utilizada foi de 0,070 g com temperatura reacional de 630ºC. Foi empregado fluxo total dos reagentes de 35cm3/min e composição molar de 4:1:1 entre N2:CH4:CO2 para os testes catalíticos. Foi empregado N2 como gás diluente sendo o mesmo utilizado como padrão interno para a análise cromatográfica. A análise foi efetuada com a utilização de duas colunas de separação, peneira molecular 5A (PM5A) e porapak-Q, detector de condutividade térmica (TCD) com Ar como gás de arraste. CH4 CO2 CG N2 H2 Injetor (coluna empacotada PM-5A, Porapak-Q) (TCD) Figura 8: Representação da linha reacional utilizada para o teste catalítico de reforma do metano. A escolha das condições reacionais de reforma catalítica do metano: ativação em 650ºC durante 1h, reação em 630ºC a composição selecionada bem como o fluxo e o tempo reacional se devem a observações feitas na literatura relacionada e em resultados experimentais. A temperatura reacional de 630ºC foi escolhida devido ao fato de que a reação de reforma do metano com dióxido de carbono quando conduzida em elevadas temperaturas (800, 900ºC) é observada menor deposição de coque, sendo assim, trabalhar em condições que favoreçam a deposição de coque pode ser mais indicado para se levantar informações quanto à estabilidade catalítica da amostra. A presença de nitrogênio na mistura reacional é bastante útil, principalmente na determinação dos valores de conversão dos reagentes, pois o mesmo atua como um padrão interno na análise cromatográfica, sendo este o melhor método de determinação quantitativa em cromatografia gasosa. 31 5. Resultados e Discussão 5.1. Análise termogravimétrica (TGA) Após o processo de pré-calcinação realizado a 300ºC no forno mufla, as amostras foram submetidas à análise termogravimétrica (TGA), com o intuito de se obter informações a respeito das melhores condições para o tratamento térmico. Nos ensaios de análise térmica e também no tratamento térmico imposto posteriormente foi utilizado atmosfera inerte (N2), pois se sabe que em tais condições não se observa a total eliminação do material precursor [30, 31]. Após o tratamento térmico em elevada temperatura é observada a presença de carbono residual [30], tal resíduo de carbono auxilia (fisicamente) na obtenção de partículas de pequenas dimensões, ou seja, o carbono residual dificulta o processo de sinterização e também a formação de outras fases, tal como o aluminato de níquel (NiAl2O4). Os perfis de TGA apresentados na Figura 9 mostram que a eliminação mais acentuada de matéria ocorre até a temperatura de 500ºC; sendo observada ainda, em pequena extensão para algumas amostras, eliminação de matéria acima de 800ºC. A eliminação de massa que ocorre até 200ºC é atribuída principalmente à umidade retida pelo material pré-calcinado em 300ºC. Para a faixa de temperatura entre 200ºC e 400ºC, na qual se observa uma taxa mais acentuada de eliminação de matéria, tem-se a decomposição térmica de resíduos dos reagentes precursores na forma de CO2 e CO; sendo que o ponto de inflexão, o qual acusa a temperatura na qual ocorre a taxa máxima de eliminação de matéria, se encontra por volta de 350 a 400ºC conforme indicado nos gráficos. 32 100 100 90 90 80 479 70 354 0 200 50 378 400 1000 100 0 800 90 80 80 70 70 344 60 200 400 600 800 1000 583 350 Ni/AlCe-10 60 Ni/AlCe-4 260 50 50 40 40 258 30 30 20 0 200 400 600 800 1000 220 0 200 400 600 800 1000 100 90 90 467 80 80 Ni/AlNb-2 448 Ni/AlNb-4 70 70 60 60 318 0 200 400 600 50 1000 100 800 100 DTG Massa residual (%) 263 40 600 90 100 354 60 50 Ni/AlCe-2 70 60 40 100 465 80 Ni/Al2O3 363 0 200 400 600 800 1000 90 90 80 80 448 275 70 50 363 0 200 400 600 40 800 1000 100 100 90 90 457 80 Ni/AlSn-4 60 200 400 200 400 600 800 1000 600 800 O T ( C) 50 1000 0 Ni/AlSn-10 430 70 60 364 0 363 0 80 70 50 Ni/AlSn-2 297 60 60 50 452 70 Ni/AlNb-10 365 200 400 600 O 800 T ( C) 1000 Figura 9: Análise termogravimétrica dos catalisadores sob fluxo de N2. Com auxílio das curvas referentes às derivadas (DTG) observamos que a adição do dopante Ce promoveu uma mudança no perfil das curvas TG e DTG, com o evidente surgimento de um ponto de inflexão, referente à eliminação de matéria em temperaturas inferiores (próximo de 260°C), com deslocamento para temperaturas inferiores com o acréscimo do teor de Ce. Tal evento pode estar relacionado ao fato de o Ce4+ é facilmente reduzível 33 para Ce3+, isto significa que durante o tratamento térmico, o Ce ao passar de Ce4+ para Ce3+ libera oxigênio, o qual estaria disponível para reagir com a matéria orgânica residual e ser então eliminado como CO ou CO2, observando-se deste modo a eliminação de matéria em temperaturas inferiores. Tal fenômeno torna-se mais evidente ao se observar que o aumento do teor de Ce torna menos significativo o evento em 350°C. Por outro lado, a presença de Nb ou Sn não afeta significativamente o perfil de eliminação de matéria devido ao aumento de temperatura em atmosfera inerte. 5.2. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) A análise de DSC nos traz informações interessantes a respeito das transições de fase que podem ocorrer durante o procedimento de tratamento térmico. Apesar da limitação técnica do aparelho empregado, temperatura máxima de trabalho de 600ºC, os eventos observados no intervalo de temperatura em questão nos fornecem dados e observações que merecem ser destacados. Observa-se, para todas as amostras, uma transição endotérmica que se estende em todo intervalo inicial, até aproximadamente 200ºC, relacionado à eliminação de umidade retida pela amostra. O efeito da adição de cério (Ce), observado anteriormente no TGA, está evidente no DSC. Para as amostras contendo Ce, a partir de 200ºC observa-se a presença de evento exotérmico, o qual se torna mais intenso com o acréscimo do teor de Ce. Em adição, a banda endotérmica próxima de 370ºC torna-se menos significativa. Tais eventos concordam com as observações obtidas por TGA; o fato de os eventos exotérmicos com máximo em 205 e 250 ºC ocorrerem com eliminação de matéria, está relacionado com a facilidade de o Ce4+ sofrer redução para Ce3+ e deste modo, disponibilizar oxigênio para reagir com o carbono residual (trata-se de uma reação de combustão). 34 Ni/AlCe-2 Ni/Al2O3 368 369 335 Ni/AlCe-10 Ni/AlCe-4 355 456 mW/g (u.a.) 367 Ni/AlNb-4 Ni/AlNb-2 468 350 302 Ni/AlSn-2 Ni/AlNb-10 470 338 461 350 Ni/AlSn-10 Ni/AlSn-4 349 0 100 200 300 470 400 500 543 345 468 600 0 100 200 300 400 500 548 600 O O T ( C) T ( C) Figura 10: Calorimetria diferencial por varredura (DSC) dos catalisadores em atmosfera inerte (N2). Para os demais catalisadores, dopados com nióbio ou estanho, apenas a amostra Ni/AlSn-2 apresentou em seu perfil a presença de um evento exotérmico com máximo em 265ºC. Portanto, se o evento exotérmico estiver relacionado ao processo de “liberação” de oxigênio (oxidação-redução), pode-se, neste instante, prever que uma baixa taxa de estanho oferecerá resultados positivos quanto às propriedades do catalisador frente a reação de reforma do metano com dióxido de carbono. Tal observação é realizada com base nas evidências e propostas mecanísticas da reação [32], a qual cita que no ciclo reacional o catalisador é 35 oxidado e posteriormente reduzido. Por outro lado, existem fatores não menos importantes tais como a dispersão do sítio ativo (níquel) e o livre acesso dos reagentes (CH4 e CO2) ao sítio ativo, os quais são significativamente afetados pela presença de um dopante. De modo geral, os perfis de DSC das amostras nos indicam que a presença dos dopantes promove o surgimento de novos eventos, exotérmicos e endotérmicos, e por vezes a supressão de outros. Não se trata apenas de deslocamento da faixa de temperatura dos mesmos eventos, isto é evidenciado pelo aparecimento dos eventos exotérmicos e pela presença de ombros em 300 e 370 ºC nas amostras Ni/AlNb-10 e Ni/AlSn-2, os quais estão presentes na amostra de referência (Ni/Al2O3). Os eventos endotérmicos a partir de 300ºC possivelmente estão relacionados à formação de fase de um dos metais presentes na composição, tais como Ni ou NiO. O fato de se observar também a eliminação de matéria por TGA na mesma faixa de temperatura é coerente com a formação das fases, visto que ao ser eliminado como CO2 ou CO, o carbono demanda oxigênio, o que pode promover mudança do arranjo estrutural dos metais presentes. Com o intuito de se verificar quais as fases que estariam sendo formadas em determinadas faixas de temperatura (correlacionadas a um evento no DSC), foram selecionadas as amostras Ni/Al2O3 e Ni/AlCe-4 e estas foram submetidas, separadamente, a um tratamento térmico (em fluxo de N2) até a temperatura imediatamente anterior ao início do evento (300ºC para o Ni/Al2O3 e 360ºC para o Ni/AlCe-4) e analisadas por DRX. Posteriormente, novas amostras (Ni/Al2O3 e Ni/AlCe-4) foram submetidas ao tratamento térmico, porem a uma temperatura imediatamente acima do final do evento (360ºC para Ni/Al2O3 e 400ºC para Ni/AlCe-4) e em seguida analisadas por DRX. Os resultados das análises por DRX destas amostras encontram-se na Figura 11, em conjunto com o perfil obtido para as amostras tratadas em 700ºC (temperatura escolhida para o tratamento térmico das amostras antes da realização do teste catalítico). Após as análises dos perfis obtidos e em comparação com padrões de difração, pode-se afirmar que o evento entre 300 e 360ºC para a amostra Ni/Al2O3 é referente à formação de NiO; e tal fase é observada também para o catalisador Ni/AlCe-4 com tratamento térmico em 360ºC. A partir de 360ºC até 400ºC teríamos a formação de níquel no estado de oxidação zero (Niº), Figura 11-a. 36 4 Ni/AlCe-4 360ºC Ni/AlCe-4 400ºC Ni/AlCe-4 700ºC DSC 2 0 100 200 300 400 500 300 400 500 Intensidade (u.a.) a Ni/Al2O3 300ºC Ni/Al2O3 360ºC Ni/Al2O3 700ºC 0 DSC -2 100 200 b Ni NiO c 20 30 40 50 60 70 80 Ângulo 2θ Figura 11: Difratogramas de raios-X após tratamento térmico: a) Ni/Al2O3 em 300, 360 e 700 ºC; b) Ni/AlCe-4 em 360, 400 e 700 ºC; c) Padrões de difração. Inseridos encontram-se os perfis de DSC para as amostras correspondentes. Nesse processo, em temperaturas a partir de 350ºC, houve formação e liberação de CO, o qual é um forte agente redutor que estaria sendo formado devido a forte demanda por oxigênio no processo de degradação térmica, o que promoveria a redução do óxido de níquel a níquel metálico, sendo observados CO e CO2 na mistura gasosa de saída do reator, conforme equação abaixo. NiO(s) + CO(g) Ni(s) + CO2(g) De modo similar, porém para as amostras Ni/AlNb-2 e Ni/AlSn-4 e em temperaturas distintas, foi realizado o mesmo experimento com o intuito de se verificar quais as fases que estariam sendo formadas na faixa de temperatura 37 relacionada ao evento com intensidade máxima de fluxo de calor em 470ºC. Os resultados das análises por DRX destas amostras encontram-se na Figura 12, em conjunto com o perfil obtido para as amostras tratadas termicamente em 700ºC. Ni/AlNb-2 2 1 0 -1 -2 0 100 200 300 400 500 600 700ºC 530ºC 408ºC a 0 Intensidade (u.a) Ni/AlSn-4 -2 0 100 200 300 400 500 600 700ºC 515ºC 400ºC b Ni NiO c Nb2O5 NiAl2O4 d 10 20 30 40 50 60 70 80 Ângulo 2θ Figura 12: Difratogramas de raios-X após tratamento térmico: a) Ni/AlNb-2 em 408, 530 e 700 ºC; b) Ni/AlSn-4 em 400, 515 e 700 ºC; c) Padrões de difração. Inseridos encontram-se os perfis de DSC para as amostras correspondentes. 38 Os resultados apontam que o evento endotérmico em 470ºC observado no DSC para a amostra Ni/AlSn-4 é devido a formação da fase Ni. No entanto, o evento não claramente definido nesta mesma faixa de temperatura apresentado pela amostra Ni/AlNb-2 não apontou para a formação de fases, visto que os perfis de difração são idênticos para as diferentes temperaturas de difração (408 a 700º). 5.3. Fluorescência de Raios-X Foi realizada a análise por Fluorescência de Raios-X dos catalisadores, após o processo de tratamento térmico a 700ºC sob fluxo de nitrogênio (N2), com o intuito de se obter a proporção molar entre os componentes presentes nas amostras e, também para se verificar a coerência entre os valores obtidos e os previstos na síntese. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 5. Tabela 5: Composição dos catalisadores obtida por Fluorescência de Raios-X. Amostra Fração mássica Proporção Atômica Ni Al Ni/Al Ni/Ce Ni/Nb Ni/Sn Ni/Al2O3 0.379 0.613 0.284 Ni/AlCe-2 0.375 0.600 0.287 49.8 Ni/AlCe-4 0.330 0.607 0.249 12.8 Ni/AlCe-10 0.334 0.519 0.296 5.7 Ni/AlNb-2 0.386 0.595 0.298 39.3 Ni/AlNb-4 0.306 0.653 0.215 14.1 Ni/AlNb-10 0.310 0.627 0.227 8.1 Ni/AlSn-2 0.353 0.611 0.265 48.8 Ni/AlSn-4 0.362 0.575 0.290 34.5 Ni/AlSn-10 0.847 0.055 7.2 48 Deve ser salientado que na análise por Fluorescência de Raios-X não foi considerado o óxido do metal, mas apenas o metal, visto que nem todo metal presente possui uma fase definida; assim como não foi obtido o teor de carbono (sistema utilizado não detecta o carbono). 39 5.4. Difração de Raios-X As análises por difração de raios-X (DRX) para identificação das fases presentes foram realizadas após as amostras terem sido submetidas ao tratamento térmico sob fluxo de N2 na temperatura de 700ºC. Tais condições foram estabelecidas com base no perfil obtido no TGA. Na Figura 13 estão apresentados os difratogramas obtidos para as amostras contendo o dopante cério (Ce) e da amostra de referência (Ni/Al2O3). Conforme os padrões de difração de Ni e NiO inseridos (Figura 13-b), observa-se que para esta série de catalisadores houve a formação das fases Ni e NiO. O fato de apenas a amostra Ni/AlCe-4 ter apresentado majoritariamente uma fase (Ni), provavelmente está relacionado ao pré-tratamento térmico. Ou seja, após o pré-tratamento esta amostra pode ter retido uma quantidade maior de matéria orgânica, que as demais, deste modo ao se realizar o tratamento térmico sob fluxo de N2 a 700ºC, a demanda por oxigênio foi superior às outras; promovendo assim a redução do óxido de níquel em maior extensão. Intensidade (u. a.) Ni/Al2O3 Ni/AlCe-2 Ni/AlCe-4 Ni/AlCe-10 a NiO Ni b 10 20 30 40 50 60 70 80 Ângulo 2θ Figura 13: Perfis dos difratogramas de raio-X dos catalisadores dopado com cério e da amostra de referência (Ni/Al2O3). 40 Os perfis aqui apresentados (Figura 13-a) não sugerem a formação, ou presença, de fases cristalinas de óxido de alumínio ou óxido de cério. Para o caso do cério, por estar em pequena proporção, sua aglomeração para formar cristalitos de uma fase definida, torna-se mais difícil que a de alumínio, sugerindo uma elevada dispersão, ou partículas com diâmetro muito pequeno. Por outro lado, o alumínio se encontra com elevado teor, mesmo assim não foi observado picos de difração de óxido de alumínio. Sabe-se que é possível se obter as fases Al2O3 ou NiAl2O4 com tratamento térmico à 500ºC, mas sob fluxo de oxigênio [33]. Nas condições impostas no presente trabalho, atmosfera inerte (N2), uma determinada fração do carbono (precursores) permanece na amostra, a presença deste carbono residual pode dificultar ou impedir fisicamente a formação de tais fases. Em adição, com atmosfera inerte ocorre uma demanda por oxigênio no processo de eliminação de carbono (CO ou CO2), deste modo a formação as fases Al2O3 ou NiAl2O4 estaria também comprometida pela falta de oxigênio no meio. Diferentemente das amostras contendo cério (Ce), os catalisadores dopados com nióbio apresentaram a formação do óxido do dopante (Nb2O5), sendo que para as amostras Ni/AlNb-4 e Ni/AlNb-10 a intensidade dos picos principais do Nb2O5 (em ângulo 2θ de 22,7 e 28) estão bem evidentes, Figura 14. O perfil de difração apresentado pela amostra Ni/AlNb-2 indica a formação de NiO, Al2O3 e NiAl2O4. A formação de tais fases indica que esta amostra provavelmente sofreu uma eliminação mais significativa da matéria orgânica devido ao pré-tratamento térmico, em comparação com as demais amostras. Ao se analisar o perfil de TGA (Figura 9) e DSC (Figura 10) para a amostra Ni/AlNb-2, percebe-se um comportamento diferenciado. A temperatura do ponto de inflexão (DTG) e a porcentagem de massa eliminada são inferiores às demais amostras contendo nióbio. O perfil de DSC para esta amostra apresentou um evento endotérmico em 302ºC e outro evento (ou eventos) não claramente definido entre 400 e 500ºC, no entanto bem diferente das demais amostras. Por outro lado, as amostras Ni/AlNb-4 e Ni/AlNb-10 apresentaram a formação das fases Nb2O5 e Ni, conforme apontado pelos padrões inseridos (Figura 14 – b e c). Tal comportamento pode estar associado à maior energia necessária para 41 que o Nb2O5 seja reduzido, quando comparado ao NiO, sendo observadas, portanto, as fases Nb2O5 e Ni nas amostras Ni/AlNb-4 e Ni/AlNb-10. Não estão evidentes os picos de difração da fase Nb2O5 para a amostra Ni/AlNb-2, provavelmente devido ao baixo teor de nióbio. Ni/AlNb-2 Intensidade (u.a) Ni/AlNb-4 Ni/AlNb-10 a Ni NiO b Nb2O5 NiAl2O4 c 10 20 30 40 50 Ângulo 2θ 60 70 80 Figura 14: Perfis dos difratogramas de raios-X dos catalisadores dopados com nióbio. O esclarecimento da diferença de comportamento apresentado pela amostra Ni/AlNb-2 é atraente. No entanto, pelo fato de o mesmo demandar um período de tempo mais prolongado, tal estudo será conduzido por estudantes que derem seqüência ao projeto, no futuro. 42 A Figura 15 apresenta os perfis de difração de raios-X obtidos para as amostras contendo estanho como dopante. Para todas as amostras desta série é observada a presença da fase Ni (níquel zero), conforme sugere o padrão inserido na Figura 15 c. Por outro lado, quanto às outras possíveis fases presentes, foi detectado que cada amostra apresentou uma segunda fase, mas não comum às três amostras. Enquanto o catalisador Ni/AlSn-2 apresentou Ni e Al2O3, a amostra Ni/AlSn-4 apresentou Ni e NiO, e o catalisador Ni/AlSn-10 apontou para a formação de Ni e Ni3Sn, conforme padrões nas Figuras 15 b e c. Intensidade (u.a.) Ni/AlSn-2 Ni/AlSn-4 Ni/AlSn-10 a Al2O3 Ni3Sn b Ni NiO c 10 20 30 40 50 Ângulo 2θ 60 70 80 Figura 15: Perfis dos difratogramas de raios-X dos catalisadores dopados com estanho. 43 Nas condições de tratamento térmico impostas, não foi observada a formação da fase SnO2, o que sugere uma elevada dispersão do estanho. O fato de a fase Ni3Sn ter sido observada apenas na amostra Ni/AlSn-10 pode estar relacionado com o baixo teor de estanho presente nas outras amostras. O quê concorda com resultados obtidos por Xie e colaboradores [34], que por sua vez observaram o pico de difração referente à fase Ni3Sn apenas para as amostras com razão Ni/Sn abaixo de 20; conforme resultado de Fluorescência de raios-X (Tabela 5) a razão Ni/Sn ficou entre 50 e 25, para as amostras do presente trabalho. Com o intuito de se estimar da quantidade relativa entre as fases cristalinas presentes e também de se obter o valor médio do diâmetro das partículas, foi realizado o refinamento pelo método de Rietvield dos difratogramas obtidos para os diferentes catalisadores. Os resultados dos cálculos realizados estão expostos na Tabela 6. Tabela 6: Resultados obtidos por refinamento de Rietvield. Fase Cristalina Observada (% em mol) Diâmetro da partícula (nm) Catalisador Ni NiO Ni/Al2O3 53,1 Ni/AlCe-2 Ni NiO 46,9 51,5 13,3 74,9 25,1 69,5 10,8 Ni/AlCe-4 95,4 5,0 27,6 4,4 Ni/AlCe-10 69,4 30,6 39,6 32,7 Ni/AlNb-2 47,9 NiAl2O4 52,0 Nb2O5 Al2O3 Ni3Sn 0,1 13,8 Ni/AlNb-4 98,2 1,8 38,3 Ni/AlNb-10 93,9 6,1 37,2 Ni/AlSn-2 37,7 Ni/AlSn-4 64,9 33,5 Ni/AlSn-10 61,9 28,9 62,3 3,0 32,3 1,6 27,0 5,6 15,3 28,1 9,2 44 5.5. Atividade Catalítica Como evidenciado pelos resultados das análises de DRX (Figuras 13 a 15) em 90% das amostras sintetizadas e submetidas ao tratamento térmico sob fluxo de N2, a fase níquel (Ni) foi detectada, sendo que a fase óxido de níquel (NiO) se fez presente em 70% das amostras, incluindo a que não apresentou a fase Ni (Tabela 6). Diante disso e dos resultados obtidos por Fluorescência de raios-X quanto a razão atômica entre Ni e Al (Ni/Al) que ficou entre 0,2 e 0,3 (Tabela 1), o qual nos indica um elevado teor de níquel, espera-se que todas as amostras após um processo de ativação em 650ºC sob fluxo de H2, apresentem atividade catalítica frente a reação de reforma do CH4, visto que a mesma é dependente da fase Ni. Deste modo, com o objetivo de se verificar a atividade das amostras, foi realizado um teste catalítico preliminar frente à reação de reforma do CH4; teste apenas para se verificar a atividade das amostras em um curto período de tempo. Tais resultados preliminares estão expressos na Figura 16. Figura 16: Conversão do CH4 obtida com os catalisadores ativados a 650ºC durante 1h em hidrogênio. Temperatura da reação de 630ºC. Tratamento térmico prévio a ativação: a) sob fluxo de N2 a 700ºC, b) sob fluxo de ar a 700ºC. Deve-se ressaltar na Figura 16-a a ausência de dados de conversão do CH4 para algumas amostras (Ni/AlNb-4, Ni/AlNb-10, Ni/AlSn-2, Ni/AlSn-4 e Ni/AlSn-10), mesmo após um segundo teste. Diante de tais resultados, os quais a 45 princípio não concordam com os dados de DRX, foi realizado um novo tratamento térmico com tais amostras, porém em atmosfera oxidante. Esta condição foi escolhida, pois o carbono residual poderia estar obstruindo o acesso dos reagentes ao sítio ativo (Ni), ou ainda, o dopante pode estar recobrindo a superfície do Ni (fenômeno conhecido como SMSI - strong metal support interaction) [36], e através da calcinação seria promovida uma sinterização do dopante (na forma de óxido) e consequentemente expor o níquel. Deste modo foi conduzida a calcinação na temperatura de 700°C sob fluxo de ar e realizado o teste catalítico, após a ativação sob fluxo de H2 em 650°C durante 1h; os resultados assim obtidos estão expostos na Figura 16-b. Como indicado na Figura 16-b, apenas a amostra Ni/AlSn-2 apresentou atividade, as demais permaneceram com o mesmo comportamento. Tal observação deve-se, provavelmente, ao fato de esta amostra possuir um baixo teor de estanho quando comparado aos catalisadores Ni/AlSn-4 e Ni/AlSn-10, e através do tratamento térmico ao ar foi possível expor o Ni aos reagentes. Obtendo-se, deste modo, valores de conversões do CH4 comparáveis aos demais catalisadores ativos. Por outro lado, as amostras com maior teor de dopante podem ter apresentado tal comportamento devido ao fenômeno classificado como SMSI [36]. Tal fenômeno é observável quando o catalisador é composto por um metal e um óxido (o qual pode ser um suporte ou um dopante) redutível ou parcialmente redutível [35]. O dopante Nb2O5 empregado, é parcialmente redutível e forma espécies NbOx, os quais são móveis, recobrindo assim a superfície do metal, provocando uma redução do número de sítios ativos disponíveis para a reação [35]. Deve ser considerado ainda que, a presença do metal (Ni) pode proporcionar que a redução parcial do dopante ocorra em temperaturas inferiores à qual ocorreria normalmente, ou seja, o metal (Ni) pode catalisar a redução do dopante, facilitando assim a ocorrência da SMSI. Portanto, os resultados dos testes catalíticos apresentados na Figura 16 indicam claramente que a adição do dopante em elevados teores (4 e 10%) pode ser prejudicial ao processo catalítico. Com a finalidade de se verificar o desempenho catalítico, capacidade de conversão e estabilidade, comparativamente entre as amostras com diferentes dopantes, os catalisadores com menor teor de dopante, os quais apresentaram 46 atividade (NiAlCe-2, Ni/AlNb-2 e Ni/AlSn-2) em conjunto com a amostra de referância, foram submetidos a um teste catalítico com tempo reacional de 24 horas e sob melhores condições de controle de fluxo e composição reacional. Os resultados obtidos na conversão percentual do CH4 estão apresentados na Figura 17. A Figura 17 mostra que os valores de conversão inicial de CH4 para todas as amostras apresentaram-se similares, entre 50 e 55%, ou seja, para testes catalíticos com intervalo de tempo até 5 horas não é observada diferença entre os catalisadores, dopados ou não. 70 Ni/Al2O3 Ni/AlCe-2 Ni/AlNb-2 Ni/AlSn-2 Conversão do CH4(%) 60 50 40 30 20 10 0 5 10 15 20 25 Tempo (h) Figura 17: Conversão do CH4 em função do tempo dos catalisadores ativados a 650ºC durante 1h. Temperatura da reação: 630 ºC. Tempo de Teste: 24h Por outro lado, a partir de períodos reacionais acima de 5 horas o efeito do dopante passa a ser perceptível. Observa-se na Figura 17 que todas as amostras apresentam queda de conversão do CH4 com o tempo reacional. No entanto, o decréscimo da capacidade de conversão do CH4 após 24 horas é menos pronunciado para os catalisadores em cuja composição possui dopantes, o que é 47 positivo. A maior estabilidade na conversão do CH4 observada para as amostras contendo dopante, quando comparadas a amostra Ni/Al2O3, concorda com resultados apresentados na literatura [38], os quais mostram que a adição de um dopante contribui para a obtenção de um grau maior de dispersão do metal (níquel). Isso significa maior área ativa por massa de amostra. Em adição, as amostras contendo dopantes contam ainda com a superior capacidade de adsorção de CO2, o que possibilita uma maior estabilidade na conversão do CH4. O efeito da adição de dopantes no sistema Ni/Al2O3 não é apenas na conversão do CH4. Como pode ser observado na Figura 18, a presença dos dopantes a base de cério, estanho e nióbio influenciaram na seletividade dos produtos. Enquanto que a amostra não dopada apresentou uma razão H2/CO entre 0,4 e 0,6, os catalisadores dopados apresentam uma razão H2/CO entre 0,5 e 0,7. Portanto, a seletividade para H2 aumenta com a presença de Ce, Sn ou Nb. Observa-se também que a razão H2/CO depende da taxa de conversão do CH4. 1,0 Ni/A2O3 Ni/AlCe-2 Ni/AlNb-2 Ni/AlSn-2 Razão H2/CO 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 5 10 15 20 25 Tempo (h) Figura 18: Seletividade catalítica na forma de razão H2/CO para testes catalíticos. A queda da razão H2/CO com o decréscimo da conversão do metano podem estar relacionados com a mudança de propriedades dos sítios ativos do 48 catalisador devido à desativação. Uma baixa razão H2/CO está relacionada com a formação de água, subproduto reacional, CO + H2 ÅÆ C + H2O (1) CO2 + H2 ÅÆ CO + H2O (2) Sendo que a reação reversa de Shift (2) pode ser a principal responsável, visto que a mesma promove o consumo de H2 e a produção de CO. O coque (depósito de carbono) é outro subproduto que se forma no processo de reforma do metano com dióxido de carbono e que pode afetar na seletividade dos produtos, ou seja, na razão H2/CO. CH4 ÅÆ C + 2 H2 (3) A principal reação responsável pela deposição de coque é a decomposição do CH4 (3), a reação de numero 1 também é responsável, porém passa a ser significativa quando a produção de CO é elevada [32]. Portanto, levando em consideração as reações apresentadas (1 e 2), a análise da Figura 17 indica que tais reações paralelas ocorreram com maior afinidade no catalisador Ni/Al2O3, ocasionando uma maior deposição de coque e um decréscimo na seletividade por intermédio do consumo de H2. O CO2 desempenha um importante papel na eliminação do coque através da reação com o carbono (4) depositado pela reação de decomposição do CH4. Porém, sua pressão parcial não pode ser muito elevada para que não haja o favorecimento da reação reversa de Shift (2). CO2 + C ÅÆ 2 CO (4) Deste modo prefere-se promover a reação de reforma do metano com dióxido de carbono com misturas estequiométricas. A queda de conversão do CH4 e da razão H2/CO apresentada para todas as amostras no intervalo de tempo estudado, indica que os catalisadores tendem a uma desativação total em intervalo de tempo não muito prolongado. Por outro lado, estes mesmos resultados nos indicam que a adição do dopante apresentou 49 melhoria no desempenho catalítico. É importante também ressaltar que, os valores iniciais de conversão (50 a 55%) e seletividade (razão H2/CO de 0,7) estão próximos dos previstos pelo equilíbrio termodinâmico [32] para as condições reacionais empregadas, o que é um bom indicativo quanto ao material sintetizado, ou seja, os materiais atingiram inicialmente a conversão máxima prevista para o processo em estudo. 5.6. Avaliação da Área Metálica Relativa: Hidrogenação do Benzeno Como exposto anteriormente no Procedimento Experimental, a reação de hidrogenação catalítica do benzeno foi empregada para se classificar, relativamente, a série de catalisadores quanto à área metálica ativa (Ni) exposta; visto que a atividade na hidrogenação do benzeno depende basicamente da área metálica. Todas as amostras catalíticas foram submetidas ao teste de hidrogenação do benzeno e, o resultado obtido para esta reação encontra-se exposto na Figura 19. Conversão (%) 25 Ni/Al2O3 Ni/AlCe-2 Ni/AlCe-4 Ni/AlCe-10 Ni/AlNb-2 Ni/AlSn-2 20 15 10 5 0 20 40 60 80 100 Tempo (min) Figura 19: Reação de Hidrogenação do Benzeno. Temperatura da reação: 100ºC Observa-se que apenas os catalisadores que se mostraram ativos na 50 reação de reforma do metano, apresentaram atividade de hidrogenação. Tal resultado nos leva a concluir que realmente o níquel encontra-se recoberto pelo dopante ou pelo suporte nas amostras Ni/AlNb-4, Ni/AlNb-10, Ni/AlSn-4 e Ni/AlSn10. Como as condições de redução (ativação) para a reação de hidrogenação foram as mesmas que as do processo de reforma do metano, através da análise dos perfis dos dados de hidrogenação, percebe-se que as amostras contendo dopante apresentam área ativa exposta inferior à amostra de referência. Tal conclusão está baseada no fato de que todas as amostras contendo dopante apresentaram menor capacidade de conversão do benzeno que a amostra de referência (Ni/Al2O3). Deste modo, a atividade catalítica frente ao processo de reforma do metano, similar e/ou superior, das amostras contendo dopante deve-se, provavelmente, à maior capacidade de adsorção do CO2, o que leva a maior capacidade de conversão do CH4 e menor deposição de coque, melhorando a estabilidade catalítica, conforme observado na Figura 17. Com o objetivo de verificar se a amostra contendo dopante apresentou menor teor de coque depositado, foi realizada análise termogravimétrica em atmosfera oxidante dos catalisadores Ni/Al2O3 e Ni/AlCe-4 após o teste catalítico de reforma do metano com tempo de 5 horas. 100 Ni/Al2O3 Ni/AlCe-4 Massa resídual (%) 98 96 94 92 0 200 400 600 800 1000 0 T ( C) Figura 20: Análise termogravimétrica sob fluxo de ar dos catalisadores Ni/Al2O3 e Ni/AlCe-4 após teste catalítico de 5h. 51 Os resultados obtidos e apresentados na Figura 20 apontam para a maior deposição de coque na amostra não dopada (Ni/Al2O3), cerca de 2% maior, no intervalo de tempo em questão (5h). Portanto, a maior estabilidade catalítica observada no processo de reforma do metano para as amostras contendo dopante deve-se à menor deposição de coque. 5.7. Redução em Temperatura Programada. Para se obter um número maior de informações a respeito dos catalisadores sintetizados, os mesmos foram submetidos a análise de Redução em Temperatura Programada (TPR). Como indicado pelos perfis de DRX (Figuras 13 a 15) para algumas amostras não seriam observadas curvas de consumo de H2 no TPR, visto que os mesmos apresentaram basicamente níquel no estado de oxidação zero. Deste modo, os catalisadores foram submetidos à análise TPR somente após um longo período de exposição ao ar (posteriormente a sua preparação) e, os resultados obtidos estão expostos na Figura 21. Os perfis foram separados em grupos, na Figura 21 a estão as amostras contendo cério e a amostra de referência, enquanto que as amostras contendo nióbio e estanho estão nas Figuras 20 b e 20 c, respectivamente. As diferenças entre os perfis de consumo de H2, para as séries, são pronunciadas, porém é importante destacar os perfis apresentadas pelas amostras que não se mostraram ativas na reforma do metano (Ni/AlNb-4, Ni/AlNb-10, Ni/AlSn-4 e Ni/AlSn-10). Percebe-se que estas quatro amostras apresentaram um baixo consumo de H2, principalmente na faixa de temperatura de 100 a 650°C. 52 Ni/Al2O3 Ni/AlCe-2 Ni/AlCe-4 Consumo de H2 (u.a.) Ni/AlCe-10 Ni/AlNb-2 Ni/AlNb-4 Ni/AlNb-10 Ni/AlSn-2 Ni/AlSn-4 Ni/AlSn-10 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 O T ( C) Figura 21: Redução em temperatura programada (TPR). Por outro lado, percebe-se que as amostras com menor teor de nióbio e estanho apresentam uma banda de consumo de H2 com máximo por volta de 53 430°C, a qual seria referente à redução do óxido de níquel. Nas demais amostras contendo nióbio ou estanho a ausência de uma banda de consumo de H2, significativa, em temperaturas abaixo de 650°C pode estar diretamente relacionado à possibilidade de o dopante estar recobrindo o níquel; deste modo o níquel pode nem mesmo ter sofrido a oxidação para posteriormente ser reduzido. Tais observações concordam com os resultados obtidos nos testes catalíticos. Em elevadas temperaturas, o dopante pode sofrer uma redução mais significativa, observando-se assim uma maior consumo de H2. Os gráficos de consumo de H2 para as demais amostras, principalmente as com menores teores de cério e a de referência, apresentam perfis diferenciados. A redução se inicia por volta de 200°C, porém apresenta a formação de um patamar de consumo de H2, para posteriormente apresentar uma banda de consumo de H2 típica de perfis de TPR. Tais patamares podem estar associados com a presença de nanopartículas de óxido de níquel com fraca interação com o suporte, as quais estariam mais propensas ao processo de redução. A presença de partículas de níquel ou de óxido de níquel em tais dimensões (nanométricas) foi indicada no resultado do refinamento pelo método de Rietvield (Tabela 2). Para se certificar que as bandas de consumo de H2 em baixas temperaturas estão relacionadas à redução do óxido de níquel, a amostra Ni/AlCe-2 foi submetida ao teste de hidrogenação do benzeno após os seguintes processos: 1) a amostra foi tratada termicamente até a temperatura de 230°C sob fluxo de H2, 2) tratamento térmico até a temperatura de 360°C sob fluxo de H2, e 3) tratamento térmico até a temperatura de 440°C sob fluxo de H2. Após cada tratamento térmico, foi realizado o teste catalítico de hidrogenação, cujos resultados estão expostos na Figura 22. 54 16 Conversão (%) 14 0 360 C 0 440 C 0 650 C 4 2 0 5 10 15 20 25 30 35 tempo (min) Figura 22: Reação de Hidrogenação do Benzeno para a amostra Ni/AlCe-2 após redução em diferentes temperaturas. Temperatura da reação: 100ºC. A falta de conversão para a amostra tratada termicamente em 230ºC confirma que o catalisador se encontrava no estado oxidado. Com maior temperatura de redução o catalisador apresenta maior capacidade de conversão, como previsto. Todavia com a temperatura de redução de 360ºC a amostra se mostrou mais estável se comparado ao teste com as outras temperaturas de ativação. 55 6. Conclusões De acordo com os resultados de Difração de Raios-X e do refinamento pelo método de Rietvield, observou-se que a metodologia de síntese permitiu a formação de nanopartículas de níquel e de óxido de níquel, dispersas em um suporte. O efeito da adição de dopantes no sistema Ni/Al2O3 foi positivo ao que se refere à estabilidade catalítica, visto que esta aumentou com a presença dos dopantes. Através de reações de hidrogenação do benzeno, perfis de TPR, DRX e reforma catalítica do metano, observa-se que a concentração do dopante tem papel decisivo na atividade do catalisador, visto que baixas concentrações melhoraram o desempenho catalítico enquanto que altas concentrações do dopante promoveram a desativação catalítica, fato esse justificado pelo recobrimento do metal ativo por parte do dopante. Portanto, deve-se buscar o teor ideal de dopante para se obter um catalisador ativo e estável frente ao processo de reforma do metano. 56 7. Referências Bibliográficas [1] Figueiredo, J.L.; Ribeiro, F.R. Catálise Heterogênea. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. 353p. [2] Ciola, R. Fundamentos da Catálise. 1. ed. Editora Moderna, São Paulo, 1981. 378p.. [3] Bowker, M. 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