Revendo a Genealogia Pereira
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Revendo a Genealogia Pereira
I - Dos Pereira da Casa da Feira aos Pereira
Sarmento de Lacerda, dos Açores
II - Pereira de Lacerda - Apontamentos
genealógicos sobre as suas origens
Óscar Caeiro Pinto
Pinto, Óscar C. (2010), Revendo a Genealogia Pereira. Boletim do Instituto Histórico
da Ilha Terceira, LXVII e LXVIII: 185 a 224.
Como quando a luz do Sol mais pura
Que segue à parda nuvem, nos anuncia
Em sempre feliz raio o desengano,
Tal do Pereira a fama se assegura
E a protege a tua pena e porfia
Da inveja, do ódio e do engano.1
1
Excerto de um soneto de D. Fradique da Câmara, publicado por Rodrigo Mendez Silva Lusitano,
Vida y hechos heroicos del gran Condestable de Portugal D. Nuño Aluarez Pereyra Conde de
Barcelos. de Orem. de Arroyolos. Mayordomo. Mayor del Rey Don Iuan el primeiro: con los Arboles y decendencias de los Emperadores. Reyes, Príncipes, Potentados, Duq[ue]s Marqueses. y
Condes que del se deriuan, al Ex.mo S.or D. Luiz Mendez de haro Sotomayor Guzman Conde de
Morente gentil hombre de la camara de su Mag.e catholica Ph.e .4. el grande. Cavo de la Orden
militar de Santiago, Madrid, 1640.
186
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Em boa hora chegou dos Açores o amável convite para dar ao público estes
dois apontamentos de cariz genealógico sobre a família Pereira. Começo por dizer
que o meu interesse por este assunto não acontece por acaso, pois diversas ligações
familiares me prendem a esta família – para além de descender dos Pereira de
Sanfins da Beira (que algumas generosas genealogias, dizem derivar do 2º senhor
da Casa da Feira) e de um ramo dos Correia de Lacerda 2 (que derivam do tronco
dos Pereira de Lacerda), os meus filhos, por via materna, descendem dos Pereira
Sarmento Forjaz de Lacerda dos Açores. Estes últimos, segundo a tradição genealógica açoriana, dizem descender por linha varonil dos Pereira senhores da Casa
da Feira, aliados ainda por casamento com um outro ramo desta família, os Pereira
de Lacerda e com os Sarmento, estes provenientes da Galiza.
Acontece, que o entronque destes ramos secundários instalados inicialmente
na ilha do Faial nos troncos originais destas linhagens, anda muito adulterado nas
fontes genealógicas, fruto de erros copiados sucessivamente ao longo de séculos.
Tudo indica que este engano tenha o seu princípio em más interpretações de parentesco referidas numa justificação de nobreza quinhentista. Numa justificação de
1542 as testemunhas inquiridas aproximaram parentescos, informando por exemplo, com pouco rigor, que “se dizia” que Gonçalo Pereira “era Irmão do Conde da
Feira o Velho” Rui Pereira, quando na verdade seria provavelmente irmão do avô
deste conde, como vamos tentar demonstrar nestas linhas. Nas primeiras gerações
dos Pereira do Faial e nas testemunhas ouvidas nas justificações, corria a tradição
que eram provenientes por varonia de um ramo da Casa da Feira, mas o pecado
genealógico das testemunhas e desta família foi transformar um vago parentesco
de memória que corria no seio familiar e público, numa ligação precisa. O erro
na determinação do parentesco que para muitos ganha contornos de falsidade,
para nós prende-se mais com um fenómeno muito comum nos ramos secundários
de velhas linhagens, que sem o prestígio dos troncos principais, tentam sempre
beber da fonte original. Como se constata, os Pereira do Faial tinham um grande
orgulho de serem parentes dos Pereira senhores da Terra e Casa da Feira (depois
condes da Feira), grandes representantes desta família alargada, tanto orgulho que
aproximaram ainda mais o grau de parentesco. Sabemos que os próprios condes
da Feira não negavam este parentesco com os distantes primos açorianos, pois já
o douto e sério cronista açoriano Gaspar Frutuoso, que viveu entre 1522 e 1591
e não estava ligado a esta família, ao falar dos Pereira Sarmento do Faial, atesta
na primeira pessoa que o “Conde da Feira os tratava por parentes”. Os Pereira
do Faial, usaram e abusaram do referido parentesco, tirando alguns benefícios
como vamos ver.
Recentemente, genealogistas com outras intenções, usando do pretexto de mostrarem duas impossibilidades cronológicas nos ascendentes continentais desta gente
2
Pinto, Óscar Caeiro. «Os Correia de Lacerda de Sernancelhe, Representados num Ex-Voto», in
Beira Alta, vol. LXV, nos 3 e 4, 2006.
Revendo a Genealogia Pereira
187
do Faial, escreveram um ensaio 3 pouco construtivo, com lacunas, cujo principal
objectivo é simplesmente insinuar sem provas. Estes tentam a todo custo confundir
os Pereira da ilha do Faial com uns descendentes de um Gonçalo do Pereiro 4 da
ilha do Pico. As verdadeiras motivações do referido ensaio foram recentemente
clarificadas num ensaio resposta 5 que recomendamos.
Ao revisitar as genealogias destes Pereira é pertinente efectuar todo um exercício
de revisão, corrigindo e apontando novas e plausíveis propostas de entronque.
No fundo, esta contribuição genealógica é apenas uma proposta de trabalho
que tenta apurar a ligação de parentesco mais correcta com a Casa da Feira e com
os Pereira de Lacerda de Serpa, assim como desmistificar algumas considerações
sobre as origens dos de Lacerda em Portugal.
3
4
5
Manuel Lamas de Mendonça e Miguel Maria Telles Moniz Côrte-Real, Ensaio ao redor de Pereira Forjaz e Pereira Forjado, Lisboa, Universidade Lusíada, 2009.
http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=1305997
Jorge Forjaz e António Ornelas Mendes, Ensaio sobre o «Ensaio»: Pereiras «forjados» ou Mendonças enlameados?, Lisboa, ed. dos autores, 2010.
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Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Revendo a Genealogia Pereira
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I
DOS PEREIRA DA CASA DA FEIRA
AOS PEREIRA SARMENTO DE LACERDA, DOS AÇORES
1
6
7
D.GONÇALO PIRES PEREIRA, chamado “o Liberal”, senhor da honra
de Pereira, teve “gram casa e estado” e certo dia “estamdo em Pereira,
deu sessenta cavallos e fidallgos que eram chegados a elle”. Foi Freire
comendador da Ordem do Hospital (1271), Comendador de Panóias (em
8.11.1314) 6. Filho de D. Pedro Rodrigues de Pereira, valido do rei D. Sancho
I, rico-homem, tenente de Trancoso e Viseu (entre 1180-1183) e de Maria Pires
Gravel, neto paterno de Rui Gonçalves de Pereira 7, 1º senhor da quinta e
Humberto Nuno Lopes Mendes de Oliveira et alii (coorden.), Olhares de hoje sobre uma
vida de ontem: Nuno Álvares Pereira: homem, herói e santo, Lisboa, Universidade Lusíada,
2009.
Sobre a sua primeira mulher, um dia chegou-lhe a notícia de que a mulher, que estava no Castelo de Lanhoso, o atraiçoava com um frade do Bouro. Correu lá, fechou as portas do castelo
e “queimou ela e o frade e homens, mulheres e bastas, e cães e gatos e galinhas e todas coisas
vivas, e queimou a câmara (o quarto de dormir) e panos de vestir e camas e não deixou coisa
móvel”. Perguntaram-lhe porque é que queimara toda a gente, e não apenas os adúlteros. É
que, explicou ele, aquela maldade durava havia dezassete dias; os outros habitantes do castelo
alguma suspeita deviam ter e, apesar disso, não o preveniram do que se passava (José Hermano
Saraiva, História concisa de Portugal).
190
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
honra de Pereira (donde retirou o apelido de família), situada na freguesia
de Esmeriz e de sua segunda mulher Sancha Henriques de Portocarreiro,
bisneto paterno de Gonçalo Rodrigues 8 “da Palmeira” 9, senhor do couto
de Palmeira e fundador do mosteiro de Landim (filho do conde D. Rodrigo
Forjaz 10 de Trastâmara, que serviu o conde D. Henrique, sendo da importante
linhagem dos Trastâmaras asturianos).
C.c. 11 URRACA VASQUES PIMENTEL, filha do meirinho-mor Vasco
Martins Pimentel e de Maria Anes de Fornelos, neta paterna de Martim
Fernandes Pimentel e de Sancha Martins de Riba-de-Vizela, neta materna de
João Martins de Fornelos e de Urraca Fafes de Lanhoso. Teve bastardos de
MARIA VASQUES.
Filhos:
2
Rui Gonçalves Pereira, que segue.
2
Vasco Gonçalves Pereira, cavaleiro, meirinho-mor de Entre-Douro-eMinho (1324-1327).
C.c. Inês Lourenço da Cunha, filha de Lourenço Martins da Cunha
e de Maria Anes de Louzã, neta paterna de Martim Lourenço da Cunha
e de Sancha Garcia de Paiva.
Filho: (entre outros)
3
8
9
10
11
Rui Vasques Pereira, vassalo do infante do D. Pedro (1355), senhor
de Baltar e Arco de Baúlhe (20.2.1372). A 21.11.1362 teve carta de
Tomara parte numa expedição contra os Mouros, mas quando chegou a altura de repartir o saque
entre os cavaleiros achou que lhe davam menos que o devido e insultou quem fazia a divisão:
chamou-lhe fantasma, querendo com isso dizer que o via sempre na posição de vencedor, mas
nunca na de combatente. Um cavaleiro do injuriado quis desafrontá-lo, mas Gonçalo Rodrigues,
com uma espadeirada, fendeu-o dos ombros à cintura. Isto era punido com pena de morte, e o
assassino fugiu para Portugal, onde D. Sancho II lhe deu o couto de Palmeira” (José Hermano
Saraiva, História concisa de Portugal).
Mordomo-mor da rainha D. Tereza (1114), tenente de Vermoim (1128-46), de Penafiel de Bastuço
e Refóios de Riba de Ava (1146).
Este medieval patronímico Forjaz, indica que é filho de um Froio Bermudes de Trastâmara. Acontece que este nome de origem patronímica não se fixou como a maioria dos patronímicos e não
foi transmitido continuadamente. Os representantes da família Pereira em Portugal, os condes da
Feira, senhores da Casa da Feira, tiveram a iniciativa no séc. XVII de acrescentar ao apelido da
linhagem uma espécie de cognome que lembrasse o fundador dos Pereira em Portugal, D. Rodrigo
Forjaz de Trastâmara. A ideia de reviver este nome foi depois copiada por vários ramos varonis
da família Pereira, como por exemplo os Pereira Sarmento de Lacerda dos Açores e os Pereira
de Sampaio, de Coimbra que no séc. XVIII passaram a juntar ao antiquíssimo apelido Pereira o
recente Forjaz, que hoje os identifica. Actualmente o nome Forjaz é sempre um sinónimo de ser
Pereira!
Felgueiras Gayo, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit.de Pereiras, § 123º.
Revendo a Genealogia Pereira
191
couto para terras em Pinhel que lhe vinham por sua mulher. Casou
com Maria Gonçalves de Berredo, filha de D. Gonçalo Anes de
Briteiros, senhor de Berredo e de Sancha Perez de Gusmão, neta
paterna de D. João Mendes de Briteiros, senhor de Berredo, e de
Urraca Afonso de Portugal (filha bastarda do rei D. Afonso III e de
Madragana, filha do conquistado (1249) alcaide de Faro Aloandro
ben Bekar).
Filho: (entre outros)
4
2
12
13
14
João Rodrigues Pereira, casou com Maria da Silva, pais de
Leonor Pereira 12, casada com Aires Gonçalves de Figueiredo 13.
Estes últimos pais de Oruana Pereira 14, casada com Fernão
Martins do Carvalhal, c.g. nos Pereira de Berredo do Carvalhal
de Tavira.
D. Gonçalo Pereira, que foi prior de S. Nicolau da Feira; Cónego de
Tui (1296); Deão do Porto (1314); Bispo de Lisboa (1322); Arcebispo
de Braga (1325-48). Em 27.4.1334, instituiu a “capela de D. Gonçalo
Pereira”, onde se encontra sepultado jacente. Estudou na Universidade
de Salamanca, onde teve relações com Teresa Pires Vilarinho “a
Salamanquina”.
Felgueiras Gayo, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit.de Pereiras, § 24º, nº 15.
Manuel de Souza da Silva, Nobiliário das Gerações de Entre-Douro-e-Minho, vol. I, tit. Casa dos
Pereiras, senhores de Cabeceiras de Basto, nº 16.
Felgueiras Gayo, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit de Figueiredo, §1º, nº 7.
192
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Filho:
3
2
D. Álvaro Gonçalves Pereira, foi Prior da Ordem do Crato até 1375,
testamenteiro do rei D. Afonso IV (1357) e combatente na Batalha do
Salado (1340). Do seu relacionamento com várias mulheres, dizem que
foi pai de 32 filhos, entre eles o conhecido Santo Condestável D. Nuno
Álvares Pereira e Violante Pereira, referida adiante em “Pereira de
Lacerda – Apontamentos Genealógicos sobre as suas origens”.
RUI GONÇALVES PEREIRA, “o Bravo”, senhor do couto de Covelas
(1347), cavaleiro, legitimado por carta real de 8.8.1312.
Casou com BERINGELA NUNES BARRETO, filha de Nuno Martins
Barreto e de Maria Anes, neta paterna de Martim Fernandes Barreto e de Maria
Rodrigues de Chacim, neta materna de João Esteves, da aldeia do Alcaide e
de Fruilhe Lourenço de Valadares.
Filhos: (entre outros)
3
Álvaro Rodrigues Pereira, que segue.
3
Gonçalo Pereira, referido na lista de Grijó de 1365, juntamente com seus
irmãos. Pode ser o homónimo a quem D. Fernando doou os direitos de
Lima e Pedroso.
3
Rui Pereira, também referido na lista de Grijó de 1365, juntamente com
seus irmãos.
3
Constança Rodrigues Pereira, em 1365 ainda estava solteira, pois aparece
juntamente com seus irmãos na lista dos naturais do mosteiro de Grijó.
C. 1ª vez com Gonçalo Garcia de Figueiredo, sendo já viúva dele
em 1378.
Revendo a Genealogia Pereira
193
C. 2ª vez, segundo Felgueiras Gayo 15 com Aires Pinto, filho de Pedro
Aires, senhor de Tabuado e de Maria Rodrigues de Galafura, neto paterno
de Aires Pires Cascavel e de Guiomar Pinto, neto materno de Rui Martins
de Galafura, este documentado como senhor da honra de Nogueira, em
S. Cipriano de Aregos.
Filha:
4
Briolanja Pinto, casou com seu primo Gonçalo Vaz Pinto, “o
Calado”, filho de Gonçalo Vaz Pinto “o Solardo”, senhor da honra
de Loivos, da beetria de Mesão Frio, alcaide-mor de Lamego, e de
Leonor Afonso da Fonseca, senhora da Torre de Angra em Aregos,
neto paterno de Vasco Martins Pinto, cavaleiro, morador na Torre
da Chã, em Riba-Bestança e de Guiomar Afonso, neto materno de
Afonso Mendes da Fonseca, alcaide-mor de Lamego. C.g. na família
Pinto.
3
ÁLVARO RODRIGUES PEREIRA 16, referido na lista de Grijó de 1365 como
Álvaro Pereira, juntamente com seus irmãos. Em 1360 ainda era escudeiro,
foi depois alcaide-mor de Elvas (27.2.1367) e marechal do reino (1385). Foi
1º senhor de juro e herdade da Feira (25.8.1385), senhor de Cambra de
Refoios, de Sever (20 de Agosto de 1381), e senhor de Avelãs de Cima (2 de
Agosto de 1381).
Casou com MARIA VASQUES PIMENTEL, filha de Vasco Martins
Pimentel “o Patinho” e de Teresa Gil Zote, neta paterna de Estêvão
Vasques Pimentel, neta materna de Gil Martins Zote e de Alda Martins
Alcoforado.
15
Felgueiras Gayo, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit.de Pereiras, § 123º.
A sua ascendência é estudada por José Sotto Mayor Pizarro em Linhagens Medievais Portuguesas, vol. 2, p. 307.
16
194
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Filhos:
4
Gonçalo Álvares Pereira, que segue.
4
João Álvares Pereira 17, n. cerca de 1370, 2º senhor da terra da Feira. A
15.5.1439 D. Afonso V nomeou por cinco anos João Álvares de Azevedo,
escudeiro de João Álvares Pereira, para o cargo de coudel da Feira e
Cabanões, terra de Santa Maria. A 10.9.1450 D. Afonso V confirmou a
doação a João Álvares Pereira das terras e lugares que seu pai Álvaro
Pereira possuía (inserta na carta de D. João I de 19.8.1386).
Casou cerca de 1399 com Leonor Gonçalves de Melo, filha de
Gonçalo Vaz de Melo e de Constança Martins Quaresma, neta paterna de
Vasco Martins de Melo e de Teresa Correia. A 18.8.1399 o rei confirmou
a doação do senhorio de Recardães e Brunhilde que Constança Martins
fez a sua filha Leonor Gonçalves de Mello pelo casamento com João
Álvares Pereira.
Filhos: (entre outros)
5
17
Gonçalo Pereira, falecido em 1453, filho de João Álvares Pereira,
segundo refere Felgueiras Gaio (tit. de Pereiras, § 37), que diz que
este foi casado com Brites de Vasconcelos, filha bastarda (legitimada
por carta régia de 3.5.1408, sendo seu pai já mestre) de Mendo
Rodrigues de Vasconcelos, mestre da Ordem de Santiago (3.2.1387)
e de uma Inês Martins. A documentação confirma este casamento,
pois D. João I, por carta de 27.5.1417, fez mercê de uma dívida
de 2.500 dobras dos Vasconcelos a Gonçalo Pereira, já casado ou
A Casa da Torre das Pedras História, Genealogia e Heráldica, p.446.
Revendo a Genealogia Pereira
195
para casar com D. Beatriz de Vasconcelos, filha do mestre D. Mem
Rodrigues, a quem seu irmão Diogo Mendes de Vasconcelos cedeu
toda a sua legítima a 17 do mês seguinte. A 10.8.1441 D. Afonso
V confirma ao conde de Barcelos, uma venda efectuada por Dona
Beatriz de Vasconcelos, mulher de Gonçalo Pereira, situadas na
vila de Chã, Lalim, couto de Penagate. A 21.9.1452 D. Afonso V
perdoa a 9 lavradores, que a mando de Gonçalo Pereira, senhorio
da terra de Santa Maria, tomaram posse da igreja da dita terra,
sem licença régia, uma vez que Nuno Pires, abade de Santa Maria
do Outeiro, a deixara vaga. A 24.4.1453 D. Afonso V nomeia Luís
Álvares, morador em Nuselos, termo de Celorico, para o cargo de
porteiro do juíz dos orfãos de Vila Real e seu termo, em substituição
de Gonçalo Pereira, que morrera.
5
Fernão Pereira, n. cerca de 1400, 3º senhor de juro e herdade da
terra da Feira (5.4.1453), senhor do castelo da Feira, “obrigando-se a
corregê-lo à sua custa” (19.11.1449), senhor de Cambra e de Refoios.
Fidalgo do Conselho, esteve em Tânger (1437) e em Alfarrobeira.
Foi escudeiro da Casa do infante, futuro rei D. Duarte, quando D.
João I lhe confirmou a 29.2.1428 os senhorios de Refoios e Cambra
que seu pai lhe doara e lhe permitiu dar estas terras como penhor das
6.000 coroas de ouro que ia dar de arras para casar com D. Isabel
de Albuquerque. A 5.4.1453 D. Afonso V confirmou a doação a João
Álvares Pereira, do seu Conselho, pai de Fernão Pereira, das terras e
lugares de Santa Maria da Feira, Ovar, Cambra e Refojos, com seus
julgados e termos (inserta na carta de D. João I de 19.8.1386).
C. 1ª vez em 1428 com Isabel de Albuquerque.
C. 2ª vez em 1451 com Maria de Berredo, donzela da Casa da
Rainha. A 8.10.1451 D. Afonso V confirmou o contrato de casamento
entre Fernão Pereira, fidalgo da sua Casa, e Dona Maria de Berredo,
donzela da Casa da Rainha, bem como lhes concede 4.000 dobras de
ouro pelo dito casamento, pelas quais haverá 40.000 reais de prata,
de tença, por ano. A 13.11.1451 D. Afonso V doou a Dona Maria de
Berredo, donzela da Rainha, casada com Fernão Pereira, uma tença
anual de 40.000 reais de prata, ao preço de 4.000 dobras de bom
ouro e justo peso, a partir de Janeiro de 1452, pelo seu casamento,
a ser paga pelas rendas régias das suas terras e das de João Álvares
Pereira, situadas no almoxarifado de Aveiro, enquanto lhe não for
pago a totalidade da tença.
Filho do 1º casamento:
6
D. Rui Pereira, 1º conde da Feira antes de 16 de Maio de 1481.
C.g. nos condes da Feira.
196
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Armas dos Pereira, no castelo da Feira
18
5
Vasco Pereira. A 17.1.1466 D. Afonso V privilegiou Fernão Pereira
e Vasco Pereira, irmãos, para que pudessem usufruir dos bens que
pertenceram a seus pais, João Álvares Pereira e Leonor Gomes de
Melo.
5
Beatriz Pereira, casada com Martim Vasques de Resende, senhor de
Resende.
5
Leonor Pereira, donzela da Casa da Rainha D. Filipa.
C.c. Gomes Freire de Andrade. C.g. na família Freire de
Andrade.
5
Martim Pereira 18, senhor das quintas de Antemil e Póvoa no Concelho
de Sanfins “q erão unidas a Caza dos Condes da Feira” e “dizem
que veio de Entre Douro e Minho viver à quinta de Antemil, na
freguesia de Santiago de Piães, concelho de Sanfins”. Referido na
carta de Armas de 11.10.1543 de seu bisneto Diogo Álvares Pereira,
Esta filiação dada aqui com algumas reservas, foi retirada Frei Manuel do Amor Divino
Beça, Árvore genealógica da ascendência de João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos e de seus irmãos da Quinta de Pinhete e de outras famílias que lhe pertencem feito no
ano de MDCCLXII, Porto, Livraria Civilização, 1997- Esta filiação também é referida por
Manuel de Castro Pinto Bravo na sua Monografia do extinto Concelho de Sanfins da Beira
: história, arqueologia, heráldica, genealogia, toponímia, etc., etc., Porto, Marânus, 1938.
O mais certo é este Martim Pereira ser filho bastardo de João Álvares Pereira e de uma
Leonor Nunes.
Revendo a Genealogia Pereira
197
como “fidalgo muito honrado e nobre, e do verdadeiro tronco
desta geração”, já na carta de armas de seu sétimo neto 19 vem
indicado como “Martim Pereira Fidalgo de gram Solar, e Cota
de Armas”.
Casou com Beatriz (Pinto de Vasconcelos, da Casa de Casal
Vasco?).
Segundo Alão de Moraes, foi sua
Filha:
6
19
20
Isabel Pereira, que em algumas genealogias vem erradamente
referida como “Isabel Pereira Pinto de Vasconcelos”.
Casou na Quinta de Antemil e da Póvoa, que foram de
seus pais e avós, com Pedro Gonçalves Monteiro 20, que parece
ser filho de um Gonçalo Monteiro. C.g. nos Pereira do antigo
concelho de Sanfins da Beira (Cinfães).
Inocêncio Cardoso Pereira.
Já Felgueiras Gayo, Frei Manuel do Amor Divino Beça e Manuel Pinto Bravo, referem que Pedro
Gonçalves Monteiro é que era filho de Martim Pereira e de Brites Monteiro (esta filha de Gonçalo
Monteiro), colocando assim uma varonia aos Pereira de Sanfins.
198
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
4
GONÇALO (ÁLVARES) PEREIRA 21, n. cerca de 1390, filho 22 segundo da
Casa da Feira. A Justificação de Nobreza de 1542 que seguimos não refere
a filiação, mas tudo indica que este seja o Gonçalo Pereira, referido por
Alão de Morais, (tit. de “Pereiras” § 9º nº 15) como irmão do 2º senhor
da Feira, João Álvares Pereira, ambos filhos de Álvaro Pereira.
A dita justificação, refere que casou com “Donna” FILIPA HENRIQUES,
que era das “geraçons e linhajem dos Hanriques fidalgos mui Nobres deste
Reino de Portugal, e assim dos de Carvalho de Canas de Senhorim 23 e dos
Soares de Albergaria”, e que “era muito parenta de Dom João de Meneses,
e de Lopo Soares Dalvarenga”.
A mesma justificação acrescenta que várias testemunhas dizem que “se
dizia” que Gonçalo Pereira “era Irmão do Conde da Feira o Velho” (Rui
Pereira, 1º conde), quando na verdade seria irmão do avô (João Álvares
Pereira) do 1º conde da Feira. Certamente as testemunhas foram “instruídas”
21
A 30.1. 1450 D. Afonso V privilegia o homem que casar com Constança, moça, a pedido de Gonçalo Pereira de Riba de Vizela, isentando-o de certos encargos e ofícios, de ser posto por besteiro
do conto, bem como do direito de pousada (A.N.T.T., Chanc. de D. Afonso V, L. 34, fl. 9v.). A
20.4.1450 D. Afonso V confirma privilégio a Gonçalo Pereira de Riba de Vizela, coutando-lhe
as suas quintas, herdades, lugares, honras e coutos com as honras, privilégios graças, mercês e
jurisdições.
Esta filiação já foi exposta pelo autor em Ensaio ao redor de Pereira Forjaz e Pereira Forjado,
pp. 90-91.
Sobre os Carvalho de Canas de Senhorim, a 5.10.1475 D. Afonso V doa a Álvaro de Carvalho,
cavaleiro da casa do príncipe D. João, todos os direitos do lugar de Canas de Senhorim, que
indevidamente estavam na posse do cabido da Sé da cidade de Viseu, e que por isso os perdera.
A 25.5.1452 D. Afonso V doa a Álvaro Carvalho, escudeiro de Diogo Soares, todos os bens
que pertenceram a Álvaro Esteves, tesoureiro, beneficiado da Sé da cidade da Guarda, que os
comprara sem licença régia. 16.6.1468 D. Afonso V nomeia Álvaro Carvalho, escudeiro de
Diogo Soares, conselheiro régio, para o cargo de administrador do hospital a que chamam Corpo
de Deus na cidade de Coimbra, em substituição de Catarina Vasques, que morrera. A11.8.1468 D.
Afonso V nomeia Lopo Vasques, criado de Diogo Soares de Albergaria, morador na cidade da
Guarda, para o cargo de tabelião do crime e cível na dita cidade e seu termo, em substituição de
Rui Carvalho, que morrera.
Um Diogo Soares de Albergaria, sucedeu como senhor de juro e herdade de Santar,
Senhorim, Barreiro e Óvoa, e de todas as demais doações feitas a seu pai (confirmações de 21
e 22.2.1434), senhor de juro e herdade de Canas de Senhorim, com todas as rendas, direitos e
jurisdições, em sucessão a seu pai Fernão Gonçalves “de Santar” (este casado com Catarina
Dias de Albergaria, que levou por dote de muitas herdades e quintãs na terra de Senhorim,
3.3.1396). A referida Catarina Dias, é filha de Diogo Soares de Albergaria e de Urraca
Fernandes (a 10.6.1387 o rei doou a Paio Pereira todos os bens móveis e de raiz que “orrraca
Frrz, molher que foe de diego soarez d albergaria, e catelina diaz sua filha”, tinham em
Faro e seu termo, porquanto estão em Castela “em desserviço”).
22
23
Revendo a Genealogia Pereira
199
a aproximar o parentesco 24 que existia aos senhores da Casa da Feira, num
fenómeno de aproximação aos grandes da família, muito usado nas justificações
de nobreza 25.
Existe um auto lavrado em 26.1.1525, pelo seu bisneto Gaspar Garcia
Sarmento, que refere que este Gonçalo Pereira era “Irmão do Conde da Feira
o Velho por serem filhos legítimos de Fernam Pereira terceiro senhor da
Feira”. Ora este auto apresenta uma falsa filiação de Gonçalo Pereira, que só
se pode explicar por uma ignorância genealógica familiar do real parentesco
com a Casa da Feira, ou então foi mesmo intencional, com a finalidade de tirar
benefícios fiscais, pois com esta aproximação radical no parentesco, Gaspar
Garcia Sarmento foi “escuso de pagar” um lançamento.
Filho 26:
5
GARCIA ÁLVARES PEREIRA 27, n. cerca de 1420. Segundo a justificação
de seu bisneto “era hum Fidalgo muito honrado e de Sollar conhecido e
de verdadeiro tronco e linhagem dos Pereiras por linha Direita mascolina
sem bastardia”.
24
A reforçar esta ligação está uma árvore com mais de 2,5 m de comprimento existente na Casa
Brito e Abreu. Esta terá sido debuxada no final do século XVII, uma vez que termina na casa da
Feira com o 7º conde. Ora no canto superior desta encontra-se um ramo titulado “Pereiras das
ilhas morgados da Calheta”, desligada do tronco, mas com a referencia “hera destes Pereiras”.
Esta inicia-se em 1-Álvaro Pereira, que foi pai de 2-Garcia Álvares Pereira, este pai de 3-João
Garcia Sarmento. Como podemos constatar entre Álvaro Pereira e Garcia Álvares Pereira, apenas
omite a geração do Gonçalo Pereira e dá erradamente a João Garcia Pereira o apelido Sarmento
que é da sua mulher.
Por outro lado deveremos ter também presente que em todos os tempos houve e há, em qualquer
texto escrito, ou na simples conversa entre duas pessoas, esse mesmo o fenómeno da aproximação das gerações. Por exemplo, temos um testemunho caseiro, dado por Jorge Forjaz, op. cit..
Refere, que “ainda hoje em minha casa, se fala do carrancudo «Avô João Pereira» cujo quadro a
óleo adorna uma das paredes da sala de estar, e que é 5º avô dos meus netos; ou do «Avô Bento»
cujo belo quadro está dependurado de outra parede, e que é também 5º avô dos meus netos; e a
minha Mãe falava da «Tia Ataíde», irmã da bisavó dela! É fácil de imaginar que se algum dia
no futuro, alguém perguntar aos meus netos quem são aqueles veneráveis cavalheiros, eles dirão
que são o «Avô João Pereira» ou o «Avô Bento», sem se aperceberem que estão assim comendo
3 gerações”.
A.N.T.T. Genealogias Manuscritas, microfilme nº 1772 “Família dos Pereira Sarmentos leada
com as de Gollart e Silveira, das ilhas do Faial e Pico tirada de varios instrumentos, inquirições, testamentos e certidões de baptismo e casamento e outros papeis autênticos dignos de
crédito”.
Felgueiras Gaio, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit. de Pereiras, sub-titulo Pereiras das
Ilhas, §125 apenas diz que este Garcia é filho de um Álvaro Pereira de Lacerda, o primeiro de
que teve noticia.
25
26
27
200
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Será o Garcia Álvares, que se documenta a 19.2.1455 como escudeiro
régio e a quem D. Afonso V perdoa um crime?
Casou com “Donna” INÊS DA SILVA MAGALHÃES, “filha de hum
Irmão do Senhor da Ponte da Barca”.Pela cronologia, pode muito bem ser
filha de Afonso Rodrigues de Magalhães, irmão de João de Magalhães, este
1º senhor de Ponta da Barca, ambos filhos de Diogo Afonso de Magalhães 28
e de Inês Vasques.
Filho:
6
JOÃO GARCIA PEREIRA, n. cerca de 1450, provavelmente no termo de
Guimarães, talvez na freguesia de Cerzedo. Tinha um forte temperamento
e foi duplamente homicida, “era hum Homem Fidalgo que a estas Ilhas
veio ter de Africa por morte de huns homens que matara assim no
Reino como tãobem em Africa”. Segundo as testemunhas ouvidas era
descendente da Casa dos senhores da Feira, “o qual se viera para estas
Ilhas porque matara hum Fidalgo na Serceda” (trata-se de Cerzedo,
freguesia do concelho de Guimarães), “por hua deferença que teve no
Reino deque veio a matar hum parentte do Conde de Marialva se fora
para Africa, elá tivera outra diferença e então se viera para estas Ilhas”.
Esta informação referida pela já citada justificação documenta-se, pois
a 26.5.1508, a um João Lopes de Parada, morador na Castanheira, é feita
quitação de 500 cruzados que se obrigou a pagar como fiador de João
Garcia, morador na ilha do Faial. Apresentou alvará régio de 16.5.1508
(inserido neste diploma) com outorga do perdão dos dez anos de degredo
a que João Garcia fora condenado 29.
28
A 27.5.1436 D. Duarte confirma a Inez Vasques, mulher de Diogo Afonso de Magalhães, criado
da rainha D. Filipa sua mãe, o senhorio da terra de Souto de Rebordães, que tinha sido doado
por D. João I a 27.8.1385 a Álvaro Gil de Urrô, seu escudeiro, e que este vendera à dita Inez
Vasques a 16.7.1389, tendo ela pago 50.000 libras e tendo a transacção sido feita em Lisboa
nas casas de morada de Margarida Esteves, talvez a mãe de Inez Vasques. O referido Diogo
Afonso de Magalhães era filho de Afonso Rodrigues de Magalhães, alcaide-mor da Nóbrega a
15.5.1367, que a 23.8.1372 teve de D. Fernando mercê de Lalim e Vila Chã, em desconto do
soldo e maravedis de duas lanças que havia de sustentar na guerra à sua custa, e de sua mulher
Teresa Freire de Andrade.
ANTT, Chanc. de D. Manuel I, L. 5, fl. 5: “foi condenado Joham Garçia morador na Ilha do
Fayall a hir seguir allem os dez annos em que foy condenado pelo caso da ... de Matos e esto
por se espidir o tempo em que se la começou de presentar e que porquoamto ouveramos
prezente que lhe relevasemos a culpa e pena em que anbos em emcorreram tirando o dicto
perdam de çem cruzados a qual cousa a nos apraz e o avemos por bem que tirando ele o
dicto perdam ... “
29
Revendo a Genealogia Pereira
201
Casou com ISABEL PEREIRA, viúva de Gabriel de Bruges, filha de
Gonçalo Pereira “Roxo”, escudeiro-fidalgo da Casa Real (irmão de Paio Gomes
Pereira e de Afonso Pereira de Lacerda e de João Pereira, morador em
Guimarães) e de Maria Sarmento, natural de Vigo, referidos adiante em “Pereira
de Lacerda – Apontamentos Genealógicos sobre as suas origens”. C.g. que
segue 30 na família dos Pereira Sarmento Forjaz de Lacerda, dos Açores.
II
PEREIRA DE LACERDA
APONTAMENTOS GENEALÓGICOS
SOBRE AS SUAS ORIGENS
Os “de Lacerda” surgem em Portugal nos finais do séc. XIV, radicados inicialmente na vila de Serpa e aliados a uma das mais prestigiadas linhagens da altura,
os Pereira do Santo Condestável.
Acontece que este nome “de Lacerda”, sendo castelhano e ainda por cima um
ramo da família real de Castela, era incómodo. Assim, durante o século XIV, na
documentação portuguesa, este apelido mantém-se oculto, sendo temporariamente
substituído pelo apelido toponímico “de Serpa” e pelo nacionalista e prestigiante
“Pereira”, da família de D. Nuno Álvares.
Segundo as genealogias tradicionais os “de Lacerda” portugueses descendem por
varonia de um Afonso Fernández de La Cerda que passou a Portugal como apoiante
do rei D. Fernando, como refere Fernão Lopes na sua Crónica de D. Fernando. As
mesmas genealogias referem que foi pai de um Martim Gonçalves de Lacerda, cujo
nome próprio correcto é Álvaro Gonçalves “de Serpa”, como vamos ver.
Em 1985, Masnata y de Quesada, Marquês de Santa Ana e Santa Maria, no seu
estudo La Casa Real de La Cerda 31 propõe que o Martim Gonçalves de La Cerda
(na verdade Álvaro Gonçalves), tronco dos de Lacerda portugueses, seja um possível
filho natural de D. Juan de La Cerda e de sua amante, a judia Sol Martinez.
30
31
António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz Genealogias da Ilha Terceira, tit. de Pereira, vol. 7, p.
418.
David E. Masnata y De Quesada, La Casa real de La Cerda, precisiones, rectificationes y ampliaciones, Madrid, 1985, p. 198.
202
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Em 1986, Luiz de Mello Vaz de São-Payo, no seu estudo Origem dos portugueses de La Cerda 32, afasta-se do entroncamento dado pelas genealogias tradicionais e
propõe que Martim Gonçalves de La Cerda, casado com Violante Pereira, seja filho
de um Diogo Nunes de Serpa, comendador de Santos e de uma hipotética senhora
“de Lacerda”, de nome desconhecido, que seria também uma hipotética filha bastarda
de D. Carlos de La Cerda, dito de Espanha, conde de Angoulême que viveu um
França. Mas, Vaz de São-Payo alerta os leitores que “Temos plena consciência do
ambiente de romance que envolve esta filiação…”. Esta teoria genealógica – de
Vaz de São-Payo - não passará mesmo de um romance, pois Diogo Nunes não
casou com uma “de Lacerda” como se documenta: a 17.10.1400, nas casas de
morada de Diogo Nunes, comendador de Santos, que jazia finado, sitas a par
de S. Martinho, Inês Vasques, sua mulher, comprometeu-se a deixar as ditas
casas ao mosteiro de Santos 33.
Em vez de criarmos mais um ensaio sobre a origem dos “de Lacerda” em
Portugal, optamos antes por seguir as genealogias tradicionais desta família, mas
corrigindo estas memórias e documentando informações.
DE LACERDA
1
32
33
D. ALFONSO X, “o Sábio”, 13º rei de Castela, 27º rei de Leão, intitulava-se
Imperador e rei dos Romanos. Nasceu em Toledo a 23.11.1221 e faleceu em
Sevilha a 4.4.1284, e era filho do rei de Castela, Fernando III “o Santo” e de
sua mulher Isabel da Suábia.
«Revista Miscelânea Histórica de Portugal», vol. V, 1986, pp. 7-59.
A.N.T.T., M.C.O., Mosteiro de Santos, M. 10, nº 194.
Revendo a Genealogia Pereira
203
Casou em Valladolid em 1248 com VIOLANTE DE ARAGON, infanta
de Aragão, nascida em 1236 e falecida em Roncesvalles em 1301, filha de
Jaime I “o Conquistador”, rei de Aragão, Valência e Maiorca (nascido em
Montpellier e falecido em Valencia em 1276), e de sua segunda mulher Iolanda,
princesa da Hungria.
Filhos: (entre outros)
2
2
D. Fernando de La Cerda, que segue.
2
D. Sancho IV “o Bravo”, filho secundogénito, foi rei de Castela e Leão,
nasceu a 12.5.1257 e faleceu em Toledo a 25.4.1298.
Casou com D. Maria de Molina. Com geração nos reis de Espanha,
da qual é representante directo o seu 21º neto, actual rei de Espanha
Juan Carlos.
D. FERNANDO DE LA CERDA, N. em Valladolid a 23.10.1255. Príncipe
herdeiro da coroa castelhano-leonesa, por ser filho primogénito e legitimo.
Recebeu a alcunha “de La Cerda” por ter nascido com um tufo de cerdas
(madeixa de cabelo) no peito. Esta alcunha foi logo transformada em apelido
de família passando a identificar este ramo da família real castelhana. Faleceu
em Ciudad Real a 25.7.1275. Foi Regente de Castela em 1274 e morreu em
Imagem, roupa, cinto
e espada do Infante
D. Fernando de La Cerda
Barrete de tecido, com ouro,
prata, marfim e coral e saiote
do Infante D. Fernando de
La Cerda, com o detalhe da
sua heráldica.
204
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
vida de seu pai, deixando dois filhos menores que foram preteridos na sucessão
do trono, abusivamente tomado por Sancho IV o Bravo.
Casou em Burgos a 30.11.1269 com BRANCA DE FRANÇA, princesa de
França, nascida em Jaffa, Palestina, filha de Luis IX, 2º Santo”, rei de França
(São Luis de França), o rei capeto, nascido a 25.4.1214 e falecido a 25.8.1270,
e de sua mulher Margarida da Provença, nascida em St.Maime 1221 e falecida
em Paris, no convento de Cordeliers a 30.9.1295.
Filhos:
3
D. Alfonso de Lacerda, que segue.
3
D.Fernando de La Cerda, nascido póstumo a 27.7.1275 e falecido pouco
depois de 1.6.1322.
Casou em 1308 com Juana Núñez de Lara, “la Palomilla”, senhora
de Lara e Herrera. C.g.
Armas plenas da família de Lacerda
(compostas por 1º e 4º armas da casa real de Castela e Leão, 2º e 3º armas
da casa real de França), no palácio dos Duques de Medinaceli
3
D. ALFONSO DE LA CERDA, “o Deserdado”, nasceu em Valladolid em
1270 e faleceu em Piedrahita a 23.12.1334.
Rei titular de Castela e Leão, afastado da sucessão ao trono por seu tio
Sancho IV “o Bravo”. Infante de Castela, senhor de Alba e Bejar,
Em vão lutou este filho primogénito de D. Fernando, em defesa dos
seus inegáveis direitos ao trono, como chefe da linha varonil de legítima
primogenitura de seu avô, acabando por ser joguete dos interesses de outros
Revendo a Genealogia Pereira
205
príncipes e soberanos, que ora lhe davam apoio ora o retiravam, tudo para que
Sancho de Castela obtivesse maiores ou menores proveitos. Acabou por ser
afastado da sucessão ao trono pelo tio paterno, ao desistir, por fim, das suas
pretensões, o que deveria vir a ser, por direito de nascimento, o rei Afonso XI
de Castela. Ainda obteve de seu primo germano, o rei Afonso de Castela, filho
de Sancho IV, uma grande casa, inúmeros senhorios e vultosas rendas.
Casou em França com Mafalda, senhora normanda.
De mãe desconhecida, teve o filho bastado que a seguir se indica.
Filhos do casamento:
Sepultura de D. Alfonso de La Cerda, nº3,
com as armas de Castela, Leão e França
4
D. Luis de La Cerda “o de Espanha”, falecido depois de 8.3.1351.
Conde de Clermont e de Talmont, senhor de Deza e Enciso.
C. em 1306, com Leonor de Guzmán, senhora de Huelva e do grande
Puerto de Santa María, filha de Alonso Pérez de Guzmán “el Bueno”,
senhor de Medina-Sidonia, e de María Alfonso Coronel.
Teve um filho bastardo
Filhos do casamento:
5
D. Alfonso de La Cerda, falecido joven.
5
D. Luis de La Cerda, Conde de Talmont
5
D. Isabel de La Cerda, casou 1ª vez com Rui Perez Ponce e 2ª vez
com Bernal de Foix, 1º conde de Medinaceli. C.g. nos de La Cerda,
Duques de Medinaceli, grandes de Espanha.
206
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Filho bastardo:
5
4
D. João Alfonso de La Cerda, Infante de Castela, senhor de Gibraleón, el
Real de Manzanares, Huelva e Deza. Viveu em Portugal até 1337, data
em que regressou a Castela pela guerra com Portugal. Casou em Santarém
em 1318 com Maria Afonso, filha bastarda do rei D. Diniz.
4
Margarita de La Cerda, Infanta de Castela, falecida em 1330.
Casou com o Infante Felipe de Castela, senhor de Cabrera e Ribera,
“Pertiguero Mayor de tierra de Santiago”, Mordomo mor do Rei, Adiantado
Mor e Meirinho Mor da Galiza; testou em 12.4.1327 em Madrid, e faleceu
antes de 5.6.1327. S.g.
4
Inês de La Cerda 36, Infanta de Castela, senhora de Bembibre, falecida
pouco depois de 24.10.1362.
Casou com Fernán Ruiz de Villalobos, rico-homem, senhor de
Villalobos e de Autillo de Campos. C.g.
4
D. Afonso de La Cerda, dito “de Espanha”, Infante de Castela, nascido
cerca de 1305, falecido em Gentilly em 1327.
Senhor de Lunel, Arcediago de París (1321), Governador de
Languedoc.
Casou com Isabel d’Antoing, viscondessa de Ghante, senhora
d’Antoing, d’Epinoy, Sothengien e Houdain; viúva de Enrique de Brabante,
Senhor de Gaesbeke.
Filho:
5
34
35
36
D. Juan de La Cerda 34, casou com Maria Coronel. Teve da judia Sol
Martinez 35, uma filha. Esta filha parece que foi Mahalda de La Cerda,
casada com Fernão Gutierrez de Valverde, senhor de Castellanos.
C.g.
D. Carlos de La Cerda, dito “Carlos de Espanha”, faleceu em L’ Aigle
a 6.1.1354, assassinado a mando de Carlos II, rei de Navarra.
Masnata y de Quesada, Marquês de Santa Ana e Santa Maria, na sua obra La Casa Real de La
Cerda;: Precisiones, rectificaciones y amplificaciones; Estudios genealógicos y heráldicos, 1985.
Esta obra refere que provavelmente foi pai (por via bastarda) de Martim Gonçalves de Lacerda,
tronco dos Lacerdas portugueses.
A existência desta relação está confirmada no testamento da mãe de D. Juan de la Cerda, Leonor
Alfonso de Guzman, feito em Sevilla, a 24.4.1341 donde refere: “Ytem mando a Sol Martinez,
que anda con mi hijo Don Johan, cincuenta maravedis”.
José Miguel Lodo de Mayoralgo, em Viejos linajes de Caceres. Caceres, 1971, faz a Mahalda de
la Cerda filha natural de Fernan Rodriguez de Villalobos e neta de outro Fernan Rodriguez de
Villalobos e de Ines de la Cerda, filha por sua vez do Infante D. Alonso de la Cerda e de Mahalda
de Narbona.
Revendo a Genealogia Pereira
207
Condestável de França e Conde de Angoulême, título concedido
em 1353, pelo rei de França João-o-Bom, seu amigo de infância.
Casou em 1320 com Margarida Chatillon-Blois, Senhora de
l’Aigle, falecida em 1354.
Teve um filho natural de Cecília de Lévis, chamado Tibaldo,
legitimado em 1384 por Carlos VI de França. Senhor de Montbrum
e de Lunel.
Filho bastardo:
4
Fernando Alfonso de La Cerda, que segue.
4
FERNANDO ALFONSO DE LA CERDA37 Dele se tem noticias em 1334 e
1340.
Casou com ELVIRA DE AYALA.
Filho:
5
AFONSO FERNANDES DE LA CERDA, n. cerca de 1330.
Passou a Portugal em 1369 como partidário de Pedro I o Cruel na guerra
contra D. Enrique de Trastamara. Com a morte de Pedro I, apoiou as pretensões
de D. Fernando I ao trono castelhano, sendo recompensado pelo rei português
que lhe doou em 1369 as vilas de Sardoal, Golegã, Borralha e Punhete e a
3.5.1372 todas as jurisdições de metade de Amêndoa (freguesia do concelho
de Mação, distrito de Santarém).
C. 1ª vez, segundo algumas genealogias com Leonor de Menezes.
C. 2ª vez, segundo outras genealogias, com VIOLANTE PEREIRA,
também designada Violante Álvares Pereira, n. cerca de 1341 (meia-irmã
do Santo Condestável D. Nuno Álvares Pereira), filha bastarda do Prior
do Hospital D. Álvaro Gonçalves Pereira 38 e de Marinha Domingues, neta
paterna de D. Gonçalo Pereira, Arcebispo de Braga (1326-1348) e de Teresa
37
«Revista Miscelânea Histórica de Portugal«, nº V, 1986, pp 49-50.
Sobre Frei Álvaro Gonçalves Pereira o Livro de Linhagens do Século XVI refere que “este prjor
ouue muytos filhos e filhas amtre os quais foy Dom Nuno Alvarez Pereyra domde vem a casa
de Bragança, a saber”. Posteriormente, e já com letra do século XVII, foi lançado : “(…) a saber: ouue trinta e dous filhos dos quais ouue muitos Pereyras a saber: entre eles a Dona Violante Pereira que casou com Martim Gonçalves de la Cerda fidalgo castelhano da casa dos
duques de Medina Celi e delles descendem os Pereiras Lacerdas deste reino entre os quais
Ruy Dias Pereira seu neto foj alferes mor do senhor rey Dom Manuel, e o mesmo foj seu
filho deste Ruy Dias Nuno Aluares Pereira e este Ruy Dias Pereira he o que na descendência
e linhagem dos Castros cazou com Dona Catherina de Castro filha de Dom Aluaro de Castro
alcajde mor de Penamacor. Tem o alferes mor Ruy Dias Perejra sua sepultura em a capella
mor de Santo Esteuaõ de Lixboa e seus descendentes se chamaõ Perejras de Lacerda”.
38
208
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Pires Vilarinho “a Salamanquina”, mulher solteira, já referidos acima em
“Dos Pereira da Casa da Feira aos Pereira Sarmento de Lacerda, dos
Açores”.
Alão de Moraes refere que “Alguns querem que Afonso Fernandes de
Lacerda, vassalo del-Rei D.Fernando de Portugal, a quem o dito Rei fez
doação do Sardoal, Golegã e Sovereira Formosa, c….c. Violante Pereira,
fª. B. do Prior D. Álvaro Gonçalves Pereira” 39.
Filhos do primeiro casamento:
6
Juan Alfonso de La Cerda, filho herdeiro, senhor de Punhete e Sardoal,
mordomo mor do Infante D. Fernando, falecido depois de 1393. Regressou
a Castela onde foi rico-homem e senhor de Villoria de Cuenca, por
casamento. Casou com Maria Álvarez de Albornoz, senhora de Villoria,
filha de Alvar García de Albornoz, senhor de Torralba, Mordomo Mor do
Rei Enrique II, e de Teresa Rodríguez. C.g.
6
Afonso de Lacerda, casou em Córdova com Maior Martinez de Sousa,
senhora de La Vega de Armijo, filha herdeira de Juan Martinez de Sousa
e de Inês Guillén de Casaus, e dizem que foram os pais de D. Leonor
de La Cerda, senhora de La Vega de Armijo, casada com Luiz Messía.
C.g.
Filho do segundo casamento:
6
Álvaro Gonçalves «de Serpa», que segue.
6
ÁLVARO GONÇALVES, chamado de “DE SERPA”, por viver na vila de
Serpa. N. cerca de 1369. Parece que também viveu algum tempo em Castela,
instalando-se depois na vila de Serpa onde casou.
Chamado erradamente nas genealogias de “Martim Gonçalves de
Lacerda” 40 por confusão com seu filho Martim Gonçalves, ou então por
confusão com seu tio Martim Gonçalves de Carvalhal, este casado com uma irmã
de sua mãe Guiomar Pereira 41. O nome próprio e patronímico foi certamente
buscar ao seu avô materno o conhecido Prior D. Álvaro Gonçalves Pereira,
dando início a uma tradição onomástica nesta família de adoptar o nome e
patronímico do avô materno. Algumas genealogias tardias mudam o patronímico
“Gonçalves”, para “Fernandes”, como é o caso de Felgueiras Gaio que lhe chama
“Martim Fernandes de Lacerda”, certamente com a intenção de o aproximar
do patronímico do seu pai, Afonso Fernandes de Lacerda.
39
Alão de Morais, Pedatura Lusitana, tit. de Pereiras de Lacerda, vol. IV.
“fidalgo castelhano que, por um homízio, veio no tempo de D. João I para Portugal”.
Felgueiras Gaio, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit. Pereiras, § 1º, nº 14, refere esta confusão “D. Violante ou D. Guiomar Per.ª 2ª m.er de Martim Glz Carvalhal”.
40
41
Revendo a Genealogia Pereira
209
Segundo uma genealogia42, Álvaro Gonçalves, foi criado do rei D.
Fernando, viera de Castela e foi pai de Martim Gonçalves de Lacerda. Esta
informação confirma-se, pois documenta-se um Álvaro Gonçalves morador
em Serpa em 1384. Também a 13.71395 D. João I doou a Álvaro Gonçalves
de Serpa, seu escudeiro, para si e seus descendentes, umas casas na vila
de Serpa, depois de a 20.4.1384 lhe ter dado em préstamo essas ou outras
casas em Serpa, sendo ele aqui referido como Álvaro Gonçalves de Serpa,
criado de el rei D. Fernando, “assy como as trazia seu padre em prestemo
do dicto rey dom Fernando”.
Casou em Serpa cerca de 1389, certamente com uma N…DIAS DE
SERPA43, filha de Diogo Nunes de Serpa44, cavaleiro e vassalo de D. João I
(1385), morador na vila de Serpa, mas muito ligado a Castela, referido várias
vezes na Crónica de D. João I de Fernão Lopes. Este autor conta as investidas
de Diogo Nunes no reino de Castela, nomeadamente em Galarrosa, descritas
nos capítulos “Como hos de Serpa emtraram per Castella e do que lhe
acomteceo” e “Como hos portugueses pellejaram com os Castellãos e os
vemceram”. Neste ultimo capítulo Fernão Lopes refere que Diogo Nunes usava
um pendão com a sua heráldica45 “bamdeira temdida dos sinaes de Dieguo
Nunez, a quoall levava huu escudeiro”. Segundo Vaz de São Paio, Diogo
Nunes, identifica-se com o que foi comendador dos Santos46.
Filhos:
7
42
43
44
45
46
47
Martim Gonçalves de Lacerda, n. cerca de 1395, segundo a genealogia
que seguimos47, onde vem referido como filho de Álvaro Gonçalves, que
viera de Castela. Documenta-se apenas como Martim Gonçalves, escudeiro
do Infante D. Duarte, que recebeu de D. João I, os ofícios de escrivão da
Câmara, dos órfãos e da almotaçaria de Serpa, confirmado por D. Duarte
a 13.11.1433, e por D. Afonso V a 18.11.1438 e 15.7.1456; também foi
procurador de Serpa às Cortes de Torres Novas em 1438. A 27.2.1439 é
nomeado pelo rei D. Afonso V, Martim Gonçalves, escudeiro, criado do
rei D. João I, para o cargo de escrivão da coudelaria da vila de Serpa.
A.N.T.T., Colecção Genealógica, ms, 21F18.
Esta senhora deve ter levado em dote a quinta da Torre Velha em Serpa que segue na sua descendência.
A 15.5.1393 D. João I doou a Diogo Nunes de Serpa, cavaleiro seu vassalo, para si e seus sucessores, todos os bens móveis e de raiz que tinha Vasco Rodrigues, que foi almoxarife em Beja e andava em desserviço. Este rei também lhe doou a quinta de Armenta, junto a Sacavém (3, 102v).
Certamente as armas da família Serpa.
A 17.10.1400 nas casas de morada de Diogo Nunes, comendador de Santos, que jazia finado,
sitas a par de S. Martinho, Inês Vasques, sua mulher, comprometeu-se a deixar as ditas casas ao
mosteiro de Santos. (A.N.T.T., M.C.O., Mosteiro de Santos, M. 10, nº 194).
A.N.T.T., Colecção Genealógica, ms. 21 F18.
210
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
Talvez seja o “Martim Gonçalves, criado da comenda de Santos”,
nomeado por D. Duarte a 4.7.1438, para o cargo de branqueador da moeda
de Lisboa.
7
Constança, casada com Garcia Afonso do Casal, também referido nas
genealogias como Afonso Garcia do Casal, que segundo Alão “jaz mirrado
em Santarém”. S.m.n.
7
Isabel Pereira, que segue.
7
Diogo Nunes de Serpa, n. cerca de 1390, seguindo a tradição onomástica
desta família, foi buscar o nome e patronímico ao seu avô materno
Diogo Nunes de Serpa.
Foi vassalo do rei, cavaleiro da Casa do Infante D. Fernando. A
15.9.1454 o rei doou novamente a Diogo Nunes, cavaleiro do infante D.
Fernando, os bens que haviam sido dados a Rui Dias48, compensando este
com o serviço novo dos judeus de Estremoz.
Casou cerca de 1407 com Brites Rodrigues de Abreu, filha de Gonçalo
Anes de Abreu49, senhor de Castelo de Vide e de “Madama” Isabel Falconer.
Como vassalo do rei, Gonçalo Anes de Abreu, doou, em casamento com
sua filha, a Diogo Nunes de Serpa, também vassalo do Rei, a quinta de
Arnenta, no termo de Sacavém, que pertencera a João Fernandes Pacheco,
o qual passara para Castela. Por carta de 20.5.1407 D. João I garantiu
que caso Lopo Fernandes regressasse nos termos das pazes, não lhe seria
restituída a dita quinta.
Filhos:
8
48
49
Rui Dias de Serpa, ou Rui Dias Pereira, a 28.8.1455 D. Afonso V
privilegia Rui Dias de Serpa, fidalgo da sua Casa, coutando-lhe a
seu pedido uma quinta no termo da vila de Serpa a que chamam
Torre Velha, tal como a tivera seu avô e pai. A 22.12.1455 D.
Afonso V perdoou a Rui Dias de Serpa, Nuno Pereira, seu irmão,
João da Fonseca, Rui Pais, Álvaro Vasques e a João Martins, todos
moradores na vila de Serpa, o tempo que lhes faltava cumprir de um
ano de degredo a que tinham sido condenados por umas mortes que
tinham feito em Serpa, numa contenda com João de Melo. Rui Dias
de Serpa e os seus (entre eles seu irmão mais novo Nuno Pereira)
tiveram um grave conflito em Serpa com João de Melo e os seus,
de que resultaram várias mortes e mais de uma vintena de cartas de
Deve ser tio materno deste Diogo Nunes de Serpa.
A 4.4.1409 D. Nuno Álvares Pereira doou a seu neto D. Fernando as rendas e direitos de Estremoz, que terá quando morrer Gonçalo Anes de Abreu, a quem as doou em sua vida.
Revendo a Genealogia Pereira
211
perdão de 1452 para escudeiros, criados e apaniguados seus e desse
seu irmão, igualmente morador em Serpa, sendo nessas cartas Rui
Dias de Serpa referido como fidalgo da Casa Real, mas seu irmão
não. Estaria ainda degredado quando a 6.3.1453 o rei privilegiou
Rui Dias de Serpa, fidalgo da sua Casa, isentando todos os seus
homens de servir na guerra, em serviço régio ou de outrem, salvo
com ele próprio. Pouco depois, a 23.5.1453, concedeu carta de
privilégio a Rui Dias de Serpa, cavaleiro da sua Casa, para todos
os seus caseiros, mordomos, apaniguados e lavradores da comarca
e correição de Entre-Tejo-e-Odiana. A 28.8.1455 privilegiou Rui
Dias de Serpa, fidalgo da sua Casa, coutando-lhe a seu pedido uma
quinta no termo da vila de Serpa a que chamam Torre Velha, tal
como a tivera seu avô e pai.
A 6.1.1469 D. Afonso V nomeou por três anos Rui Pereira,
morador em Serpa, para o cargo de coudel desta vila e seu termo, em
substituição de Antão Gomes, que terminara o tempo de serviço.
C. 1.ª vez com Maria de Melo.
C. 2ª vez com Branca de Ataíde, filha de Nuno Vaz de Castelo
Branco, almirante e monteiro-mor de D.Afonso V.
Filhos do 1º casamento:
9
João Rodrigues Pereira, tomou ordens menores a
8.9.1480 “Johannem Roderici Pereyra legitimum filium
quondam Roderici Didaci de Serpa et donne Marie de
Meello habitancium in Serpa de legitimo matrimonio
procreatum”.
9
Frei Francisco de Serpa (ou de Melo), falecido em 1483.
Filhos do 2º casamento:
9
Diogo Nunes Pereira, morgado de Ficalho. A 30.1.1496 João
Quaresma teve padrão de 20.000 reais de tença, que obteve por
concerto com Diogo Nunes Pereira, fidalgo da Casa del-Rei,
que os tinha por renda dos bens da aldeia de Ficalho, a quem
D. João II os tirara e dera a João Quaresma, cavaleiro de sua
Casa.
Casou com D. Maria de Moura.
Filhos:
10 Esplendião de Lacerda, que teve uma tença de 5 moios de
trigo de tença, por carta de D. João III50.
50
A.N.T.T., Chanc. de D. João III, L. 67, fl. 85.
212
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
10 Heitor Pereira c. em, Serpa com D. Leonor de Góis.
C.g. segundo José de Quevedo. São os prováveis pais de
Manuel de Góis de Lacerda, a quem D. Manuel I mandou
a 15.4.1508 passar carta de armas plenas da “Casa e
linhagem dos de Lacerda”, certamente por ter varonia
Lacerda.
8
Nuno Pereira de Lacerda. Em 1455 documenta-se como Nuno Pereira,
morador em Serpa, quando, com seu irmão Rui Dias de Serpa, viram
perdoados um ano do seu degredo, a que tinham sido condenados
por umas mortes que tinham feito em Serpa, numa contenda com
João de Melo.
C.c. Guiomar da Costa, filha de João Rodrigues da Costa,
almoxarife de Beja que recebeu carta de quitação a 20.3.1443. Por
escritura lavrada em Serpa a 19.6.1485 pela qual se partilharam os
bens deixados por D. Guiomar, mulher de Nuno Pereira, nomeiam-se
os 13 filhos do casal, cinco já casados e oito menores:
Filhos:
9
Nuno Pereira, senhor dos direitos reais da Vidigueira e Vila Nova
de Frades, por carta de 16.9.1483, com as respectivas respectivas
alcaidarias-mores por carta de 30.9.1483.
C.c. Guiomar da Silva, com quem vivia em 1480 em Portel,
quando tiraram ordens de primeira tonsura em Évora os filhos
de ambos Álvaro Pereira, Rui Dias, Garcia Pereira, Henrique
Pereira, Duarte Pereira, Henrique Pereira e João Pereira.
9
Filipa, casada com Álvaro Pereira.
9
Joana Pereira de Lacerda, casada com Álvaro Pinheiro, alcaidemor de Barcelos, filho de Pedro Esteves e de Isabel Pinheiro.
Filhos:
10 Henrique Pinheiro
10 Isabel Pereira, casou com Diogo Correia, senhor de Fralães,
filho de Gonçalo Correia e de Margarida do Prado. Com
geração nos Correia de Lacerda.
9
Diogo Nunes Pereira, casado com D. Filipa.
9
Isabel, casada com João de Faria, s.g. A 25.2.1505 João de Faria,
fidalgo da Casa d’El-Rei e alcaide-mor da vila de Portel, teve
confirmação do privilégio pelo qual lhe é coutada uma herdade
que se chama das Valadas, no termo da vila de Serpa, com as
confrontações declaradas, que lhe fora dada em casamento pelo
Revendo a Genealogia Pereira
213
sogro, Nuno Pereira, fidalgo da Casa d’El-Rei e morador nesta
vila, a quem fora concedido esse privilégio para uma terra e
assentamento de herdades, que se chamam da Figueira, de que
faz parte a herdade citada.
9
Maria
9
Duarte Pereira
9
Rui Dias Pereira, capitão-mor da armada de Moçambique e
alferes-mor de D. Manuel I.
Casou com D. Catarina de Castro, a quem, depois de viúva,
foi mandado pagar, pelo recebedor da sisa dos panos, 477.000
e tantos reais que se ficaram devendo ao dito seu marido, por
carta de 19.9.1516.
9
João Rodrigues Pereira, que seguindo a tradição onomástica desta
família foi buscar o nome e patronímico ao seu avô materno
João Rodrigues.
9
Violante.
9
Margarida, religiosa em Beja.
9
Reimão Pereira de Lacerda, alcaide-mor da Vidigueira, por
carta de 13.9.1483, com 25.000 reais de tença por carta de
30.9.1483
Casou com D. Isabel Pereira, documentada como filha de
Fernão Rodrigues Pereira.
Filhos: (entre outros)
10 Manuel de Lacerda51, moço-fidalgo em 1499, capitão de
Goa, 1º governador e capitão-mor de Goa (1510) e ainda
se documenta como tal a 1.5.1527.
Casou antes de 30.11.1512, data em que Afonso de
Albuquerque, capitão-geral e governador da Índia, ordena
a Francisco Corvinel, feitor de Goa, que pague a Manuel
de Lacerda 6000 réis de seu casamento.
10 Fernão Pereira
10 Henrique Pereira
51
Segundo a justificação de 1542, pela casa dos Pereira Sarmento de Lacerda, passaram
vários parentes do continente que vinham nas armadas da Índia. Temos Lopo Soares de
Albergaria, depois Diogo Pereira de Sampaio que “pousou”, Francisco Pereira Pestana e “Manoel de Lacerda”.
214
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
10 João Rodrigues Pereira, seguindo a tradição onomástica
desta família foi buscar o patronímico a seu avô materno.
Em 1480 vivia em Portel quando tirou em Évora ordens
de prima tonsura. Esteve nas partilhas (10.5.1509) de seu
avô paterno Nuno Pereira, por si e em representação de
seus irmãos Manuel de Lacerda, Fernão Pereira e Henrique
Pereira, e por sua mãe D. Isabel, tutora das filhas menores
D. Violante, D. Margarida e D. Isabel.
Casou com Leonor de Tovar. C.g.
Escudos esquartelados (séc. XVI) : 1º Lacerda52, 2º Melo, 3º Pestana, 4º Pereira.
O primeiro na rua dos Fidalgos e o segundo numa sepultura, ambos na vila de Serpa.
O terceiro escudo, também desta família, esquartelado (datado de 1601): 1º Melo, 2º Pereira,
3º Pestana, 4º Lacerda53. Timbre de Melo.
7
ISABEL PEREIRA DE LACERDA54 N. provavelmente na vila de Serpa.
Segundo as genealogias c. 1ª vez cerca de 1435 com GOMES FERREIRA55
(este teve um curto casamento com Catarina de Meira, sem geração), dizem que
52
Armas simplificadas dos Lacerda da vila de Serpa (apenas Castela, Leão e novamente Castela),
particularidade heráldica também usada pelos seus parentes os Lacerda, dos Açores. Esta
característica heráldica também pode remeter para uma simplificação da heráldica da família
Serpa, da vila de Serpa, antepassados dos Pereira de Lacerda.
Já com as armas completas, Castela, Leão e França.
Nobiliário das Gerações de Entre-Douro-e-Minho, de Manuel de Souza da Silva, Vol. II, tit. Ferreiras, 1§, nº 6. Neste nobiliário vem erradamente referida como filha de Afonso Fernandes de
Lacerda, na verdade seu avô paterno.
Algumas genealogias erradamente referem que este casal foi pai de Gonçalo Aires Ferreira, um
dos descobridores da Madeira, fidalgo da Casa do infante D. Henrique e um dos companheiros
de João Gonçalves Zarco. Ora, o patronímico Aires não se ajusta ao nome de seu pai. Segundo
Abranches Soveral era filho de Aires Ferreira e neto paterno de Gomes Ferreira, morgado de
Cavaleiro e de Maria da Cunha.
53
54
55
Revendo a Genealogia Pereira
215
foi porteiro mor de D. João I e esteve em 1415 com o dito rei na tomada de
Ceuta56. Filho de Martim Ferreira, da Casa e Quinta de Cavaleiros, em Outeiro
Maior, concelho de Vila do Conde e de sua mulher Violante Correia. Segundo
as genealogias Gomes Ferreira era irmão de Leonor Gonçalves Ferreira,
casada com Lopo Afonso de Teive, estes pais do conhecido Diogo de Teive,
descobridor das ilhas das Flores e Corvo, lugar-tenente na ilha Terceira de
Jácome de Bruges. Estas relações familiares dos Ferreira, Teive e Lacerda,
podem explicar as origens do ramo dos Pereira de Lacerda dos Açores.
Segundo as mesmas genealogias Isabel Pereira terá casado57 uma 2ª vez,
o que parece algo duvidoso, com Gonçalo Correia, dando também origem a
um ramo dos Correia de Lacerda.
Possíveis filhos do 1º casamento:
56
57
58
8
Aires Ferreira, filho herdeiro, casou com Genebra Pereira de Sampaio.
C.g.
8
Paio Gomes Pereira, o uso do patronímico “Gomes” reforça a hipótese
proposta para a sua filiação.
8
João Pereira, segundo a justificação seguida, foi morador em Guimarães
e sogro de Diogo Lopes de Lima alcaide-mor de Guimarães. Documenta-se
um João Pereira, almoxarife em Guimarães até 29.2. 1496, e já falecido
a 8.8. 1499, deixando ao mosteiro de S. Domingos da vila de Guimarães
uma quinta no julgado de Rossio com os seus casais58. Em 1496 a João
de Andrade, escudeiro da Casa Real, morador em Foz do Lima, foi feita
mercê do ofício de almoxarife no almoxarifado de Guimarâes, assim como
foi até agora João Pereira, que o dito oficio tinha por carta de D. João II
Felgueiras Gaio, Nobiliário de Famílias de Portugal¸ tit. de Ferreiras, § 1º, nº 9.
Segundo as genealogias, deste segundo casamento nasceu um Frei PAIO CORREIA, referido
em algumas genealogias como “Paio Correia de Lacerda”. Este foi bailio de Leça e cavaleiro da
Ordem de S. João do Hospital de Jerusalém (Malta). A 6.3.1475 D. Afonso V privilegiou Frei Paio
Correa, bailio de Leça, concedendo-lhe licença para arrendar por um ano as suas comendas. Frei
Paio Correia já era falecido a 18.6.1502 quando foi legitimada a sua filha D. Guiomar, havida em
Branca Pires, então viúva e moradora na vila da Amieira. Frei Paio, teve os seguintes filhos naturais: -GUIOMAR CORREIA DE LACERDA, que foi legitimada por carta real de D. Manuel I, a
18.6.1502, como ficou dito. Esta casou a 1ª vez com Nuno Cardoso, morgado da Taipa, com geração, depois casou com D. Sancho de Noronha; -MARIA CORREIA, que foi a 2ª mulher de Gonçalo Pereira (este filho de Vasco Pereira, irmão de Fernão Pereira, senhor da Feira); -VIOLANTE
CORREIA, que casou com João Martins Ferreira, riquíssimo mercador, cidadão, vereador (1503)
e fidalgo inscrito nos livros do Porto, que a 27.10.1491 instituiu o morgadio dos Ferreira nesta
cidade, com capela no mosteiro de S. Domingos; e -PAIO CORREIA (DE LACERDA), que
viveu no termo de Vila Real, na quinta de Cambres, casou com FILIPA DE BARROS CARNEIRO, natural do Porto, com geração nos CORREIA DE LACERDA, de Trás-os-Montes e Beira.
A.N.T.T., Chanc. de D. Manuel I, L. 41, fl. 109 v.
216
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
e renunciou através de um público instrumento feito e assinado por Nuno
Vargas, publico tabelião da dita vila, em 29 de Fevereiro.
8
Afonso Pereira de Lacerda, s.m.n.
8
GONÇALO PEREIRA, também designado Gonçalo Pereira “Roxo”, n. cerca
de 1437. Na justificação de nobreza de seu trisneto, Álvaro Pereira Sarmento,
as testemunhas não referem a sua filiação59, certamente por ignorarem, apenas
declaram que “Gonçallo Pereira era Irmão de Payo Gomes Pereira e de João
Pereira de Guimarans, e de Affonso Pereira de Lacerda”. A determinada
passagem refere novamente outra testemunha que “Gonçalo Pereira era Irmão
inteiro de João Pereira de Guimarans Sogro de Diogo Lopes de Lima
Alcaide Mor da ditta Villa de Guimaraens”. Segundo a mesma justificação “o
qual Gonsallo Pereira era outro sim Fidalgo da Casa DelRey acrescentado
a Escudeiro primo de João Rodrigues Pereira Marramaque Senhor de
Bastos”.
Casou com D. MARIA SARMENTO60, natural da Galiza, Vigo, sobre a
qual, e ao contrário do que se referia ao seu marido, as testemunhas inquiridas
sabiam a sua filiação e declaram ser “filha Legitima de Dom Gracia Sarmento,
e de sua mulher Donna Francisca de Soutos Maior61 filha da Condeça de
Caminha em o reino da Galiza”. Analisando a cronologia dos Sarmiento galegos,
deve haver aqui alguma confusão de casais homónimos, pois Maria Sarmento
só pode ser a filha referida por Felgueiras Gaio (tit. de Souto Mayor, 23§), de
Don Garcia Sarmiento, que foi 3º Adiantado-mor do reino da Galiza, Meirinho
de Toroño, Senhor de Sobroso e Salvatierra (por dote de casamento), do couto
de Canedo, da jurisdição e couto de Parada de Achas, também documentado
como Don Garcia Fernandez Sarmiento, quando recebe em 1428 uma doação
de 5.000 florins de ouro. Este foi casado com Doña Teresa (ou Catarina ou
Francisca) de Sotomayor, filha herdeira de Don Paio Subredia de Sotomayor,
59
Mais recentemente Marcelino de Lima, na sua obra “Famílias Faialenses”, p.413, baseado numa
cópia deturpada e aumentada da justificação de Álvaro Pereira Sarmento, refere um falso entroncamento em João Rodrigues Pereira e Leonor de Tovar, referidos no nº 10, erro copiado por
muitos genealogistas!
O Dr. Gaspar Frutuoso, que viveu entre 1522 e 1591, diz nas suas Saudades da Terra, L. VI,
p.. 279: “Há também no Faial Pereiras, uns descendem da Galiza, como Sebastião Pereira
Sarmento e Gonçalo Pereira Sarmento, que mataram no Faial na entrada da ilha no tempo
das alterações. Estes descendem de Dona Maria Sarmento, a Senhora de Vigo, e o Conde da
Feira os tratava por parentes”.
Confundida nesta Justificação com Francisca de Sotomayor, que também foi casada com um Garcia Sarmiento (f. de Diogo Sarmiento e de Leonor de Meira), mas filha do 2º conde de Caminha
Álvaro de Sotomayor.
60
61
Revendo a Genealogia Pereira
217
Meirinho de Toroño, Alcaide e Governador de Tui, Senhor de Salvatierra, que
recebe das mãos de João I em 1389, do couto de Parada de Achas, de Louriña,
Hermiel, Valdemiñor, Conchelo, dos coutos de Eanes, Pétan e Parada, em
Porriño, e de sua mulher Doña Mencia (ou Maria) de Andrade.
Filha:
9
ISABEL PEREIRA, também designada nas genealogias de Isabel Pereira
Sarmento. N. cerca de 1460, provavelmente na Galiza ou no Norte de
Portugal (Guimarães?) onde parece que seus pais viveram, sendo certo que
seu tio paterno João Pereira, documenta-se a viver em Guimarães.
C. 1ª vez com Gabriel de Bruges62, filho bastardo do já referido Jácome
de Bruges. Este Jácome, nasceu na Flandres, viveu na Galiza, na cidade de
Orense e depois no Porto, foi criado da casa do infante D. Henrique, sendo
seu povoador e depois capitão donatário de toda a ilha Terceira.
Isabel Pereira, tem o nome da suposta avó paterna (Isabel Pereira de
Lacerda) e seu pai seria assim primo direito de Diogo de Teive63, ouvidor de
Jácome de Bruges, o que pode explicar a razão do seu primeiro casamento
nos Açores com um filho deste Jácome de Bruges.
C. 2ª vez com JOÃO GARCIA PEREIRA, N. na freguesia de Cerzedo,
Guimarães, cuja ascendência já foi referida em “Dos Pereira da Casa da
Feira aos Pereira Sarmento de Lacerda, dos Açores”.
Filhos nascidos nos Açores: (entre outros)
10 João Garcia Pereira Sarmento, nascido na Horta, onde casou com Isabel Goulart
da Silveira, pais de Brás Pereira Sarmento, falecido no Faial a 10.3.1606,
onde está sepultado na igreja de Santo Amaro, em campa armoreada 1ºPereira,
2º Albergaria, 3º Magalhães, 4º Lacerda, com a seguinte inscrição “SA /
DE BRAS PR SA / RMENTO PADRO / DESTA IGREIA / D S AMARO / A
QVAL FES CO / DOTE E PECAS / A SVA CVSTA / F A DES DE MARCO
/ DE 1606”.
10 GASPAR GARCIA PEREIRA SARMENTO, N. na Horta cerca de 1480
e faleceu nos Cedros “rico e abastado com Armas, Cavallo, e homens de
seu servisso, e trás boa Casa”. Justificou a sua nobreza a 26.9.1542.
Casou com BEATRIZ GONÇALVES MADRUGA, que herdou
de seus pais uma herdade em Santa Bárbara, no Faial e depois de viúva
professou no Convento da Esperança de Angra, este fundado pelas suas
62
63
António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira, tit. de Bruges.
António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira, tit. de Teive.
218
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
filhas Isabel de Cristo e Mor da Madre de Deus. Filha de André Gonçalves
Madruga, “o Velho”, falecido em Angra (Sé) a 15.11.1558 e de Isabel Dias
Rodovalho64 que segundo parece era natural de Viana do Alentejo.
Filhos: (entre outros)
11
64
65
ÁLVARO PEREIRA SARMENTO65, justificou a sua nobreza a 26.9.1542,
onde consta “ foi nesta Ilha hum dos mais principais homens della, e
viveu sempre muito prospero e honrado, e tinha grande Casa e homens
de servisso”.
Em 11.2.1597 o dito Álvaro Pereira Sarmento, redigiu, pelo seu próprio
punho o testamento de mão comum com sua mulher, aprovado a 19.10.1598
(Livro do Tombo do Convento de S. Francisco, reservados f.389-395vº) no
qual institui o morgado da Quinta da Calheta, a qual entre outras coisas
junta a fazenda do Monte Carneiro a fazenda dos Cedros “e depois da sua
morte em seus filhos e descendentes, de varão em varão legítimo, e em
defeito de filho macho, venha e succeda a filha fêmea, e assim irá até
fim do mundo”. Diz que o morgado tem que ser católico, mas não pode
“ser de ordens sacras nem entrado em Relligião e feito professo salvo sendo
Cavaleiro do hábito de Christo São Thiago e Aviz, de maneira que possa
haver filhos legítimos, o herdeiro terá que casar à vontade de seu pai e
terá e tenha nossos apellidos e trarão as nossas Armas na parte direita
do Escudo e não poderá ser “rendeiro das Rendas e fazendas de El Rey
nosso Senhor, nem seu feitor, nem Almoxarife, nem fiador”; e que não case
com “mulher de Nação ebrea ou agarena” e ainda se “for simples ou bobo
ou mentecato, ou furiozo, ou estragado na vidas e costumes”, herdará o
irmão a seguir. Se o filho Luís Pereira não tiver filho ou filha legítimos e
tiver bastardo que reconheça, mas não lhe deixará nenhum bem livre para ele
não os desbaratar, porque “taes filhos como não são havidos legitimamente
como Deus manda pella maior parte são travessos e estragados na vida” Se
o filho não tiver nenhum descendente poderá então nomear por herdeiro um
“da nossa geração dos Pereiras mais apto e abil quanto lhe parecer”, e
que “fação muito por serem bons christãos, tementes aos mandamentos do
Senhor Deus e que se não misturem com gente da Nação e que folguem
muito de fazer virtudes”, e que o herdeiro “não distraia nem dezordene
em sua vida e costumes antes com prudência, e discripção viva tomando
o pezo com que se puder sustentar por que isso he o que Deus quer e se
Certamente irmã de Braz Dias Rodovalho, “o Velho”, n. em Viana do Alentejo e falecido em
Angra a 21.7.1546, filho de Diogo Vaz Rodovalho, escudeiro que viveu em Viana de Alvito e de
Maria Esteves Cansado (filha de Estêvão Anes Cansado “lavrador honrado e rico” de Viana de
Alvito).
Para mais informações ver António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira,
vol. VII, pp.421-426.
Revendo a Genealogia Pereira
219
serve, e não com vaidades superfulas e desnecessárias”. Mandam que “na
nossa Capella mayor que mandamos fazer no Mosteiro da Esperança desta
Cidade de Angra” refere ainda que “que nella se enterre pessoa nenhuma e
estranha senão nossos descendentes e os que forem herdeiros de nossas terças
por ser cabeça de nosso Morgado se enterrão nas sepulturas emvazadas
da parte direita aonde mando por as minhas Armas, e as porão mais
aonde nosso sucessor mais lhe parecer”.
Casou segunda vez em Angra (Sé) a 28.7.1572 com ANA DE
BELAS DA SILVA, f. em Angra a 19.10.1611, irmã de Fernão de
Freitas Pereira66, moço de Câmara (1567), lealdador dos pasteis da ilha
da Terceira, ambos filhos de Afonso Vaz de Freitas67, natural do Algarve,
comendador de Mosteiros na Ordem de Cristo, que passou aos Açores,
onde faleceu em 1557 e de Beatriz Gomes Pereira68 (ou de Teive), que
viveu nas Velas.
Filhos: (entre outros)
12 LUÍS PEREIRA SARMENTO DE LACERDA69, N. na Sé a 25.4.1573
e f. em Angra entre 1610-1612. Lealdador do pastel e morgado de S.
Mateus da Calheta. Este aparece numa escritura de 1.4.1602 como “Luís
Pereira de Lacerda fidalgo morador na sua quinta de S. Mateus” (Tab.
Manuel Jacome, L.2.fl.99.
Casou com MARGARIDA DE BETTENCOURT DE VASCONCELOS70 (ou DA CÂMARA), nascida na Sé a 2.10.1574 e faleceu
na Conceição a 1.2.1615, filha de João de Bettencourt de Vasconcelos “o
Degolado”, nascido na ilha da Madeira, degolado em Angra a 28.2.1582
e de sua mulher Maria de Vasconcelos da Câmara, neta paterna de
Francisco de Bettencourt e de Joana Mendes de Vasconcelos, neta materna
de Pedro Álvares da Fonseca da Câmara e de Andreza Mendes de
Vasconcelos. Esta Andreza era filha de Sebastião Vaz Homem e de Iria
Mendes de Vasconcelos, neta pelo lado materno de Gonçalo Mendes
de Vasconcelos, natural da ilha da Madeira e de Bartoleza Rodrigues
Carneiro, natural da ilha de S. Miguel, bisneta Martim Mendes de
Vasconcelos, “o Moço”, natural da ilha da Madeira e de Isabel Pereira
66
67
69
70
Códice de D. Flamínio de Sousa, fl. 1273.
E não Afonso Anes de Freitas, como por lapso aparece no livro “Algarve e Algarvios” de Ofir
B.N.P., Reservados, Códice nº 1040, de José de Faria, tit. de “Pereira das
Chagas. 68
ilhas”.
No assento de casamento na Sé de Angra, a 27.4.1609 de Fernão Luís Barreto, já viúvo, com
Luísa Rebelo, foram testemunhas “Luís Pereira Sarmento de Lacerda” e o Padre António Pires
Rebelo.
António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira, tit. de Bettencourt.
220
Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
de Berredo71, trisneta de Diogo Pereira do Carvalhal, “o Bochim”72,
senhor do reguengo de Tavira e de Isabel de Melo, 4ª neta de Fernão
Martins do Carvalhal73, alcaide-mor de Tavira e de Oruana Pereira74 (a
sua ascendência vem referida no texto nº I). C.g.75 na família Pereira
Sarmento Forjaz de Lacerda, dos Açores, morgados de S. Mateus da
Calheta, depois viscondes de Nossa Senhoras das Mercês76.
Sinete dos morgados de S. Mateus
da Calheta (séc. XVIII)79
1º Pereira, 2º Albergaria,
3º Magalhães, 4º Lacerda.
Timbre de Pereira
71
72
73
74
75
76
77
78
79
Pedra de armas da sepultura77
(com a data de 1606)
de Braz Pereira Sarmento.
1ºPereira, 2º Albergaria, 3º Magalhães,
4º Lacerda78. Timbre de Pereira
Alão de Moraes, Pedatura Lusitana, tit. de Vasconcelos, das Ilhas, § 5º.
O Combate da Campina entre Melos e Pessanhas – Cenas da vida Algarvia do século XVI. Genealogias, p. 47.
Alão de Moraes, Pedatura Lusitana, tit. de Carvalhais, vol. III.
Felgueiras Gayo, Nobiliário de Famílias de Portugal, tit de Figueiredo, §1º, nº 7.
António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira, tít. de Pereira, vol. VII, p. 418.
Anuário da Nobreza de Portugal, vol. 3, t. 1, 1985. pp. 719-728.
Recortadas da sepultura e retiradas da capa do livro Ensaio sobre “o Ensaio”: Pereiras “forjados” ou Mendonças enlameados, de Jorge Forjaz e António Ornelas Mendes.
Armas simplificadas dos Lacerda dos Açores, apenas Castela, Leão e Castela, particularidade
heráldica também usada pelos seus parentes os Pereira de Lacerda, da vila de Serpa.
Na posse de Miguel Forjaz de Lacerda.
Revendo a Genealogia Pereira
221
Pedra de armas no jazigo (nº 370) da família
Forjaz de Lacerda (datado de 1842),
no Cemitério dos Prazeres
1ºPereira, 2º Albergaria, 3º Magalhães,
4º Lacerda. Timbre de Pereira
Pedra de armas (séc. XIX)
que estava na Casa dos
Forjaz de Lacerda,
na Praça Velha em Angra.
1ºPereira, 2º Albergaria,
3º Sarmento, 4º Lacerda80.
80
Armas completas dos Lacerda, constituídas por Castela, Leão e França.
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Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira
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Armas dos de La Cerda
http://blogdeheraldica.blogspot.com/2008/10/armas-de-los-de-la-cerda.html
Casa dos de La Cerda, Duques de Medinaceli
http://es.fundacionmedinaceli.org/casaducal/fichacasa.aspx?id=27
Genealogia dos de La Cerda
http://www.abcgenealogia.com/delaCerda01.html
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