hipertexto
Veleiros
do mundo
no Guaíba
Camila Domingues/ Hiper
AN
O
11
Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril 2009 – Ano 11 – Nº 70
Página 12
Universidade retoma sonho de Coester
Bernardo Ribeiro/ Hiper
Campus da PUC
terá aeromóvel
Mortos-vivos
chineses
em exposição
inquietante
Página 3
Página 5
Bruno Todeschini/ Hiper
Lívia Stumpf/ Hiper
Júlia Schwarz/ Hiper
Desfiles no sofisticado Donna Fashion e na passarela montada no novo shopping popular da cidade
AS DUAS FACES DA MODA
Página 6 e 7
Coester concede entrevista exclusiva ao Hipertexto e percorre interior do aeromóvel
2 abertura
Porto Alegre, março-abril 2009
EDITORIAL
Saudade da alegria
e da irreverência de João
hipertexto
A IMAGEM
Diogo Lucato/ Hiper
Estudante de Relações Públicas da Famecos, cheio
de sonhos, foi assassinado antes de completar 20 anos
Por Morgana Laux
e Yasmine Santos
doces preferidos, conforme pessoa muito diplomática,
o seu perfil.
se adaptar a qualquer siNo Orkut, o estudante tuação e a tipos de pessoas
Alunos e professores também se dizia ateu e in- diferentes.”
da Famecos, assim como tegrante de comunidades
A professora de Ciências
familiares de João Fran- que abominavam a homo- da Comunicação e do curso
cisco Arnizaut
fobia (aversão de Relações Públicas Neka
Machado de
a homossexu- Machado, coordenadora
Vargas, coais). Destacava do Núcleo de Eventos da
nhecido como
também a expe- Famecos, acompanhou a
João Arnizaut,
riência de via- trajetória de João na Falamentaram a
jar ao exterior, culdade de Comunicação.
morte do jovem,
referindo sua “Ele tinha uma alegria
ocorrida em 17
passagem pelos imensa no coração, era
de março. O esEstados Unidos. participativo e também
tudante do curEle falava idio- uma pessoa especial, pois
so de Relações
mas como inglês sua formação cultural era
Públicas, de 19
e francês e era muito interessante. João
anos, foi vítima
fã dos livros de se destacava por ser quem
de um crime naClarice Lispec- era. Eu o conheci no segunquela madrutor, Lya Luft e do semestre e, atualmente,
gada, em Porto
Agatha Christie. ele estava no quinto. TiAlegre.
J o h n n y , vemos uma aproximação
Nascido na João tinha 19 anos
como era cha- muito forte na disciplina de
Capital, João
m a d o p e l o s Negociação, uma vez que,
viveu a infância em Barce- amigos, era um menino nela, a gente conhece um
lona e recentemente havia divertido. Segundo sua pouco de como a pessoa é,
passado um ano em Loui- amiga Briane Caroline sua personalidade.”
João, conforme a prosiana (EUA) em intercâm- Andreis Soares, 19 anos,
bio de estudo. No quinto ele adorava brincar, fazer fessora Neka, deixará
saudades para
semestre de Relações Pú- piadas e rir.
muitas pessoblicas, havia concluído “Não se im“Era uma pessoa
as, por ter sido
um curso para comissário portava com
encantadora, cheia
um menino esde bordo recentemente. quem estaEm sua página pessoal no va olhando. de planos e projetos, pecial, querido, doce e inOrkut, suas comunidades João aproum garoto muito
teligente. “Era
evidenciam o amor pelas veitava cada
afetivo.”
uma pessoa
cantoras Britney Spears m o m e n t o .
encantadora,
e Madonna, assim como A d o r a v a
a admiração pelo grupo dançar, curtia as festas cheia de planos e projetos,
T.A.T.U e por Jay Vaquer, ao máximo, mas odiava um garoto muito afetivo.
além de música eletrônica. bebidas e drogas.” Briane Ele estava pronto para
Bárbara Mori – atriz da também comentou sobre a vida, fazendo uma trajetónovela Rubi – era sua pai- opção profissional de seu ria de continuar voando,
xão, e balas de goma e ge- amigo. “Ele escolheu Rela- continuar vivendo o munlatina estavam entre seus ções Públicas por ser uma do”, lamentou.
Hipertexto
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,
Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora de Jornalismo: Cristiane
Os filhos da terra lembram o antes de uma Porto Alegre que festejou 237 anos
Sindicato tem núcleo Acadêmico
Por Raíssa Genro
Um grupo de estudantes criou
o Núcleo Acadêmico do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do
Rio Grande do Sul. Mais de 30
universitários participaram da
reunião em 14 de março, no Sindicato, formando o novo núcleo.
A reunião começou com o debate
sobre o objetivo da iniciativa,
que prevê a discussão e defesa
da obrigatoriedade do diploma,
bem como capacitação e encaminhamento de propostas sobre
diretrizes curriculares dos cursos
de Jornalismo, em discussão no
Ministério da Educação.
A idéia do Núcleo surgiu em
reunião, em fevereiro, da direção
do Sindicato com alunos da Famecos que estiveram no 16º Congresso Brasileiro de Estudantes
de Comunicação Social (Cobrecos), realizado em janeiro. Laion
Espíndula, aluno do Jornalismo
da PUC, explica que, “além das
discussões específicas queremos
levantar a noção de categoria que
será importante no futuro”.
O encontrou contou com
alunos da PUCRS, UFRGS, Unisinos, Ulbra e Santa Maria. A
primeira atividade foi participar
da passeata de 31 de março em
defesa do diploma. O presidente
do Sindicato, José Maria Nunes,
louvou a iniciativa.
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Finger
Produção dos Laboratórios de Jornalismo
Gráfico e de Fotografia.
Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição),
Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e
Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
Estagiários matriculados e voluntários:
Gerente de produção: Rodolfo Soares
Manfredini
Editores: André Di Giorgio Mantese,
Pedro Palaoro, Joyce Copstein e Mariana
Pires.
Editor de Fotografia: Bruno Todeschini
e Camila Domingues.
Redação: André Di Giorgio Mantese,
Cássio Hübner Santestevan, Danielle
Brites Rodrigues, Eduardo Silveira,
Fernando Soares, Flávia Drago Gordim,
Joyce Copstein, Júlia Schwarz Moreira,
Júlia Souza Alves, Lorenço Oliveira
Borba, Marcus Perez, Marina Sant’Anna
de Oliveira, Mariana de Mattos Pires,
Morgana Laux, Natalia Rech, Rodolfo
Soares Manfredini, Shaysi Melate, Stéfano
Aroldi Santagada, Tiago Kern do Amaral e
Yasmine Santos.
Repórteres Fotográficos: Bárbara
Winckler Arena, Bernardo Ribeiro, Bolívar
Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Clarissa
Leite Caum, Diogo Lucato Oliveira, Fernanda Vergara Grabauska, Guilherme Herz,
Guilherme Santos, Henry Soares, Jonathan
Gabriel Klippel Heckler, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado, Mariana Gomes da
Fontoura e Paula Cunha Tanscheit.
hipertexto
geral 3
Porto Alegre, março-abril 2009
No olho do furacão em Canoas
Por Eduardo Silveira
O ex-secretário de governo da
Prefeitura de Canoas, na administração passada, Chico Fraga,
é o centro das investigações da
Polícia Federal e do Ministério
Público Federal, que relaciona
empresários e políticos, acusados
de irregularidades em licitações
para fornecimento de alimentação escolar e realização de obras
de infraestrutura, com recursos
municipais, estaduais e federais,
que foram iniciadas e estão paralisadas pelo fim da remessa das
verbas. O ex-prefeito Marcos
Ronchetti (PSDB) e seu mais
próximo colaborador foram indiciados e tiveram bens bloqueados
a pedido do MPF.
Levantamento policial indica
que Chico Fraga é detentor de
um patrimônio constituído de 25
imovéis e uma dezena de veículos, registrados no seu nome, de
familiares e terceiros. Segundo a
Federal, os bens são incompatíveis com a renda declarada à Re-
ceita Federal. As provas estão em
documentos e diálogos telefônicos
encontrados durante as investigações. As escutas em fevereiro de
2008 mostram que Fraga ligou
para um dos seus interlocutores
avisando que iria passar um imóvel adquirido para o nome de seu
irmão Jorge Armando.
A devassa policial na Prefeitura de Canoas iniciou em
dezembro de 2007. O prefeito e
o secretário de Governo foram
acusados pelo MP por fraudar,
entre os anos de 2005 e 2006,
os processos de licitação para o
fornecimento de merenda escolar
na cidade. A investigação surgiu a
partir da Operação Solidária que
apontou desvio de 6 milhões de
reais. Em gravações telefônicas,
apareceram nomes de deputados
federais e estaduais, que gozam
de Foro privilegiado e só poderão
ser processados com permissão
do Supremo Tribunal Federal, que
ainda não se pronunciou.
Os desvios de recursos, que
começaram com a merenda das
crianças, teria chegado a licitações
para obras de saneamento básico,
construção de estradas e irrigação
no Rio Grande do Sul, segundo a
Operação Solidária da PF. Duas
empresas de engenharia foram
arroladas. Em setembro do ano
passado, o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo, enviou
um parecer, através do Inquérito
Parlamentar 2741, autorizando a
quebra do sigilo telefônico e de
e-mail dos deputados federais
Eliseu Padilha (PMDB) e José
Otavio Germano (PP), além do exsecretário de governo de Canoas,
Francisco Fraga.
A deputada Luciana Genro
(Psol) acredita numa articulação
da corrupção de Canoas com a frade no Detran. “Esse esquema demonstra indícios de que o Estado
do Rio Grande do Sul precisa de
transparência nas suas relações”,
disse. O advogado Ricardo Cunha,
defensor de Fraga, garante que há
apenas indícios contra seu cliente
e ele vem respondendo todos os
questionamentos levantados.
O DIPLOMA É NOSSO
Por Fernando Rotta Weigert
A permanência da exigência
do diploma para o exercício do
jornalismo continua indefinida.
Em 1º de abril, a questão estava
na pauta do Supremo Tribunal
Federal (STF), mas foi adiada.
O STF ainda não definiu a nova
data para apreciação do tema.
Desde 2006, depois de liminar do presidente do Supremo,
ministro Gilmar Mendes, não se
faz mais necessária a formação
acadêmica para trabalhar na
área, regulamentada por lei
em 1969. A discussão sobre o
diploma começou em 2001,
quando o Sindicato dos Rádios
e Televisões de São Paulo, em
conjunto com o Ministério Público daquele estado, entraram
na justiça reclamando a inconstitucionalidade da exigência da
formação acadêmica para ser
jornalista. Segundo os autores
da ação, a obrigatoriedade “fere
a liberdade de expressão”. “Isso
é uma falácia”, contesta o presidente da Federação Nacional
dos Jornalistas (Fenaj), Sergio
Murilo, “me mostre algum
cidadão brasileiro que foi impedido de manifestar sua opinião
devido à regulamentação profissional da categoria”, desafia.
Em frente ao tribunal, cerca
de 70 estudantes com dois tambores gritavam por um bem que
ainda nem lhe foi concedido, o
diploma. Vanessa Gonçalves,
da Unimep, de Piracicaba, que
viajou 15 horas até Brasília em
um dos três ônibus que foram
à Praça dos Três Poderes, estava indignada pela ausência
de manifestantes. “A gente fez
questão de vir de tão longe para
defender algo tão importante.
Nem jornalistas, nem estudantes, aqui de perto apareceram”.
Em 31 de março, estudantes de
todo o estado se reuniram, em
Porto Alegre, para gritar em
favor do diploma: “jornalismo
só com diploma”.
Um olhar para dentro do corpo humano
Exposição itinerante que chegou a Porto Alegre mostra os seres humanos por baixo da pele
Guilherme Herz/ Hiper
Por Júlia Souza Alves
e Morgana Laux
As pessoas atônitas ou fascinadas diante do espectro de si mesmas
“Estudos mostram que tomar
café da manhã pode melhorar a
memória. Mamãe estava certa o
tempo todo”. Essa é a apenas uma
das placas que compõe o conjunto de dicas da exposição Corpo
Humano Real e Fascinante, localizada no Centro de Convenções
do BarraShoppingSul, no período
de 7 de março a 10 de maio. São 16
corpos e 225 órgãos verdadeiros
expostos e acessíveis ao público.
A forma utilizada para a preservação desses corpos e órgãos
impressiona os visitantes. A polimerização, técnica desenvolvida
a partir da evolução da mumificação dos cadáveres, é considerada
por espectadores da ciência como
uma verdadeira “arte anatômica”,
de aparência e textura plástica.
Com esse recurso, pode-se dizer
que a mostra é totalmente crua,
apresenta secções transversais do
corpo, veias, cérebros e sistemas
complexos, que não parecem
complicados aos olhos do público, de diversas faixas etárias, que
recebem orientação de monitores.
Curiosamente, os olhos são
falsos nos corpos. Em um deles,
vê-se o único par verdadeiro, em
uma criança de cinco anos. A monitora esclarece “o tamanho dos
olhos não muda entre a infância e
a idade adulta, dessa maneira, os
olhos são maiores em comparação
ao cérebro, dando a impressão
de que eles estão com os olhos
arregalados”.
Outras surpresas despertam a
atenção do público que ganha espaço para esclarecer suas dúvidas
e receber explicação por meio de
textos rápidos ou comentários de
especialistas que circulam pelo
ambiente. Os visitantes também
percorrem uma sala especial com
fetos das principais fases embrionárias, isolada com a intenção
de respeitar questões éticas e
religiosas. “Me surpreendi com
o ser humano. Fiquei em dúvida
se realmente era um ser humano.
Só não me choquei com os fetos
porque a monitora garantiu que
eram decorrentes de fatalidades
espontâneas”, comenta Lorena
Laux, 60 anos.
Os órgãos saudáveis fazem
um contraponto aos prejudicados
pelo hábito do fumo. Pulmões
doentes agredidos por enfisema
geram o sentimento de conscientização aos que observam com
atenção a mensagem transmitida por uma urna envidraçada
contendo cigarros abandonados
pelo público. A ação estimula o
anti-tabagismo e desperta uma
reação dos visitantes.
Corpo Humano Real e Fascinante conquista também aprova-
ção e admiração de profissionais
da área da saúde. Luciano Scopel,
22 anos e estudante de medicina,
qualifica a exposição como a melhor aula de anatomia de sua vida:
“Não é apelativa e sim essencial,
pois quanto mais se conhece o
corpo, melhor se entende e se previne as doenças. Ainda pretendo
trazer a minha família aqui”, diz o
jovem empolgado. Para Eduardo
Buttelli, 40 anos, médico cardiologista, a amostra é um verdadeiro
espetáculo: “Concede ao público
uma ideia geral e correta de nossa
espécie. Nem na faculdade pude
observar tão bem o corpo. Mesmo
para os leigos, é interessante e de
fácil entendimento.”
Apesar das referências e do
alto número de visitações (450
mil em São Paulo, em 2007, e 220
mil no Rio, ano passado), Corpo
Humano Real e Fascinante não foi
autorizado pelo presidente Hugo
Chávez de expor na Venezuela.
A origem dos corpos cria dúvidas e aguça o interesse mórbido
das pessoas. Boatos dizem que
os cadáveres são de criminosos
executados na República Popular
da China. Segundo a assessoria
de imprensa do evento, todos
os indivíduos foram acometidos
de morte natural, “optando” por
participar de um programa de
doação dos corpos em benefício
da ciência e educação.
4 geral
Porto Alegre,março-abril 2009
Nova paisagem no Centro
EXCESSO
DE ÔNIBUS
PREOCUPA
Espaços vazios dão início à revitalização da zona central de Porto Alegre
Bernardo Ribeiro/ Hiper
Por Stéfano Aroldi Santagada
A prefeitura pretende iniciar
ainda esse ano a revitalização da
Praça 15 de Novembro e de seu
entorno. Possibilitada pela transferência dos camelôs para o Centro Popular de Compras (CPC), o
Camelódromo, a reforma faz parte
do processo de revitalização do
Centro da capital. Pelo projeto, a
praça será reformulada e o Chalé,
ampliado.
Em março, o prefeito José
Fogaça assinou o termo de aditamento de contrato de permissão
de uso do espaço. Segundo o
acordo, os atuais permissionários
do local ficarão responsáveis pela
restauração e ampliação do Chalé, que ganhará um novo salão
com cafeteria e deques externos.
Além disso, o terraço e o segundo piso serão liberados para uso
exclusivo de mesas, ampliando a
capacidade de atendimento em
50%. As melhorias no entorno do
estabelecimento ficarão sob responsabilidade do poder público.
O plano prevê ainda o alargamento de calçadas e a abertura de
vias para o trânsito de veículos,
como na Marechal Floriano e José
Montaury. Em frente ao Mercado
Público, no Largo Glênio Perez,
um deque será instalado para a
colocação de mesas, incentivando
o lazer e o turismo no local. Os
projetos integram o programa
O deslocamento dos camelôs situados na Praça XV para o Centro Popular de Compras facilitou a circulação no local
“Viva o Centro”, desenvolvido
desde 2005 pela prefeitura e que
visa o resgate e a reabilitação do
Centro Histórico de Porto Alegre.
Uma das principais obras
realizadas até o momento pelo
programa foi a construção do Camelódromo. No espaço, inaugurado em fevereiro, estão reunidos os
800 ambulantes que ocupavam e
tumultuavam as vias centrais da
cidade. Para a prefeitura, o maior
desafio agora é manter os antigos
camelôs longe das ruas. Glenio
Bohrer, arquiteto e gerente do
“Viva o Centro”, confia no envolvimento da sociedade para o êxito
do projeto e no engajamento dos
vendedores para o sucesso do
CPC. “Os camelôs saíram das ruas
por adesão. Eles estão interessados que o camelódromo dê certo”,
garante o arquiteto.
Ainda para esse ano, em parceria com o programa Monumenta do Ministério da Cultura,
o município pretende investir
aproximadamente R$ 3 milhões
na reforma da Praça da Alfândega,
que receberá nova iluminação,
novo paisagismo e pavimento –
reconstituindo o antigo traçado
dos canteiros. A obra, já licitada,
inclui ainda a abertura controlada
de veículos na rua dos Andradas,
no trecho entre a General Câmara
e a Caldas Junior. Também estão
previstas a reforma da Praça da
Matriz, a revitalização da rua
General Câmara, a conclusão das
obras de urbanização da praça
Revolução Farroupilha – em parceria com a Trensurb – e a inauguração do Centro Cultural da Caixa,
no antigo Cine Imperial. Com essas intervenções, o governo municipal espera mobilizar a sociedade
e atrair novos investimentos para
o Cent ro. “A expectativa é que
essas obras gerem interesse para
outras obras”, imagina Bohrer,
citando como exemplo o plano de
reforma da Galeria Chaves, uma
iniciativa sob responsabilidade
do setor privado.
A tradição popular passou dos
quintais cheios de plantas, que a
cada sintoma indicava um chá,
para a oficialização de seus efeitos
curativos e implantação da fitoterapia pelo SUS na rede pública.
Medicamentos fitoterápicos são
aqueles preparados a partir de
plantas, ou parte delas, com efeito
preventivo ou de cura à doença.
A implantação da fitoterapia
como prática médica significa a
pesquisa de produtos até serem
considerados eficazes e seguros,
garantido o controle de produção
e qualidade. A indústria farmacêutica já adota a produção de
medicamentos com base de ervas
e plantas medicinais. Nos anos
anos 80, a consagração popular e
a tradição passaram para a medicina oficial.
Um dos primeiros fitoterápicos distribuídos na rede pública
foi o Bactrim, que tem dois princípios ativos, o sulfametoxazol e
trimetoprima. É encontrado nas
farmácias. O agente de pressão
para que esses medicamentos chegassem às drogarias foi a própria
população, pelo alto preço dos
produtos químicos.
Mercado de ervas
No Mercado Público, em Porto
Alegre, há bancas que vendem
chás e ervas de todos os tipos. A
promessa de antiinflamatórios
naturais, como a arnica, malva,
tanchagem (também conhecida
como transagem), faz pessoas,
como o vendedor de plantas medicinais Cláudio Daniel, utilizaremse delas sem procurar um especialista no caso. “Quando a gente
procura um médico, ele receita
um remédio que vai fazer a gente
ficar bom de uma coisa e estragar
outra”, brinca. Ele crê mais na
tradição passada de família.
Lair Groff diz que muito do
que sabe sobre os chás que vende,
aprendeu com o próprio freguês.
Ele sempre tem sugestões prontas para fazer um chá milagroso.
Para quem sofre de pressão alta,
Outro problema a ser enfrentado pelo poder público
é a grande concentração de
ônibus nas ruas centrais de
Porto Alegre. Hoje, de acordo com a prefeitura, são 33
mil viagens de coletivos que
chegam ao Centro diariamente, com apenas 30% de
ocupação.
Os congestionamentos na
Avenida Salgado Filho, por
exemplo, e nas proximidades da Estação Rodoviária
já fazem parte do cotidiano
porto-alegrense. Para contornar a situação que ajuda
na degradação da área, a
prefeitura aposta na implantação dos Portais da Cidade.
De acordo com o projeto,
orçado em cerca de R$ 300
milhões, serão construídos
três terminais que ligariam
os ônibus procedentes dos
bairros ao Centro. As estações seriam edificadas na
Cairú (Zona Norte), na Azenha e nas proximidades do
estádio Beira-Rio.
O plano também prevê a
construção de um túnel subterrâneo na avenida Borges
de Medeiros e de um viaduto próximo à rodoviária,
ligando a Rua da Conceição
a Júlio de Castilhos. A intenção da prefeitura é iniciar as
obras em 2010 e financiá-las
por meio de uma Parceria
Público-Privada.
Diogo Lucato/ Hiper
Implantação da fitoterapia pelo SUS
Por Yasmine Santos
hipertexto
folha de chuchu ou casca de noz
pecã é infalível. Mamica de cadela
com tanchagem cura gastrite. Em
hematomas, basta passar arnica.
Pó amargo, pó ferro e pixirica são
recomendados aos diabéticos.
Se o problema é colesterol alto,
há mais de 15 ervas. “Chá, via
oral, não tem contra-indicação”,
garante.
Restrições
O médico Mario Biancamano
se mostra incomodado quanto
ao uso de fitoterápicos sem a
estandardização – padronização
no processo de elaboração para
garantir a eficácia e segurança.
“Onde há a estandardização, tem
um controle maior. Mas quando
é colocada água quente em cima
de uma planta, são extraídas
substâncias que você não sabe
o que podem causar. A plantas
secas ou verdes provocam reações
diferentes”, pondera.
A tradição popular passada ao
longo das gerações sobre o uso de
chás não alerta sobre como deve
O uso popular provocou a implantação dos fitoterápicos pela rede pública
ser preparado para servir como
medicamento. Assim como Lair
Groff acredita não haver mal algum, Mario Biancamano discorda
e exemplifica: “Pela sabedoria
popular, a babosa, se colhida
depois da chuva, pode ser tóxica.
No chá, outros princípios podem
ser ativados.”
Biancamano cita também o
jambolão, utilizado pela cultura
popular no tratamento da diabetes. “A nossa faculdade de farmácia da Federal fez uma pesquisa
tentando identificar os princípios
ativos encontrados no jambolão.
Nenhum deles conseguiu ter uma
ação. O que acontece é que a população usa, pode funcionar por
um sinergismo de ação daquela
planta, mas isso não tem como
estandardizar. Poder ser bom
para um, não para outro”, alerta.
Constatado pela Organização
Mundial de Saúde que cerca de
80% da população usa e confia
nos produtos medicinais de origem vegetal, o SUS acredita que
possa ser uma alternativa para
reduzir custos no sistema público.
hipertexto
transporte 5
Porto Alegre, março-abril 2009
MOBILIDADE
Fotos Bruno Todeschini
Oskar Coester, o criador do Aeromóvel, em frente a unidade do transporte estagnada no Gasômetro, em Porto Alegre
Aeromóvel terá trecho
experimental na PUC
A partir de agosto, começam os ensaios pelo campus
Por Marina Sant’Anna de Oliveira
Mais cedo do que imaginam,
os alunos da PUCRS serão surpreendidos com uma inovadora
alternativa de transporte ambientalmente sustentável. O projeto
do Aeromóvel, implantado no
Campus da Universidade, foge
das ruas movimentadas e ganha
as alturas. Com estilo aerodinâmico, produzido em alumínio
(razão de sua leveza) e com vastas
janelas de vidro, este "trem aéreo"
terá linha experimental concluída
em agosto próximo pela empresa
Aeromóvel Brasil S/A (ABSA).
O projeto deste sistema de
mobilidade urbana simples, econômico e não poluente é do técnico aeronáutico gaúcho Oskar
Coester que realizou os primeiros
testes, em Porto Alegre, em 1978.
A tecnologia foi exportada para
Jakarta, Indonésia, onde funciona
com sucesso desde 1989. O Aeromóvel servirá para deslocamento
dos acadêmicos, professores e
funcionários no interior do campus central.
A linha do Aeromóvel terá
quatro estações no campus. Partirá da Faculdade de Engenharia,
prédio 30; ultrapassando em
tempo estimado de um minuto a
Avenida Ipiranga sobre o Arroio
Dilúvio, chegando ao ponto final,
no Centro Clínico do Hospital São
Lucas, próximo ao Complexo Esportivo da PUCRS. Como o trajeto
é curto e a velocidade de até 40
quilômetros por hora, as pessoas
ficarão em pé. No interior, haverá
somente assentos preferenciais
para idosos, gestantes ou portadores de deficiência.
O veículo terá apenas um
carro, com a capacidade para 100
passageiros. A diferença do Aeromóvel para o trem convencional é
sua locomoção silenciosa. Por não
ser movido a gasolina, não polui
o ar. No lugar do tradicional motor, causador do conhecido ruído
de trem, há um motor elétrico,
fonte de vibração que se encontra
afastada do veículo, em módulos
facilmente isoláveis. Propulsores
pneumáticos a gás natural, ou
energia elétrica, que controlam
pressão, direção e velocidade do
ar (pressurizado por ventiladores
estacionários), darão movimentação ao veículo, resultando na
viagem silenciosa e sem impactos
ambientais.
Outro benefício do sistema
Aeromóvel é o compromisso com
a segurança. Por exemplo: se dois
veículos viessem a se aproximar,
o ar comprimido entre as placas
de propulsão atuaria como um
colchão de ar, impedindo o choque e o possível descarrilamento.
Segundo o professor de Engenharia e coordenador institucional do Projeto Aeromóvel na
PUCRS, Edgar Bortolini, estiveram envolvidos na primeira etapa
de desenvolvimento mais de 100
professores e estudantes bolsistas
da PUCRS e UFRGS. O traçado
experimental, com viagem de
dois minutos, "será um pequeno
trecho de 100 a 150 metros, que
será utilizado para a realização
de ensaios na estrutura", diz
Bortolini.
A linha regular, prevista para
2010, terá aproximadamente
1.300 metros, com uma duração
horária de quatro minutos, sem
incluir o tempo de intervalo em
cada estação. Serão investidos, até
o final da primeira fase de experimentos, cerca de R$ 3,4 milhões.
Não foi determinado ainda se
haverá ou não cobrança de tarifa
para a utilização do veículo.
Oskar Coester,
um inventor
persistente
Enquanto a Indonésia já ade- com isto, a preservação do meio
riu ao uso do Aeromóvel, em ambiente. Depois de trabalhar 13
Porto Alegre, o protótipo desse anos na Varig, o técnico em aeromeio de transporte e sua linha náutica e fundador da empresa
piloto estão prontos desde 1982, Coester Automação S.A., se fez a
porém nada mais aconteceu. Ain- seguinte pergunta: por que não
da assim, o criador da invenção, percorrer mil quilômetros em meOskar Coester, idealiza um dia nos tempo que dez quilômetros
concretizar o seu plano.
nos grandes centros urbanos? Era
Com aproximadamente um 1963 e ele queria resolver o proquilômetro, ao longo da Aveni- blema do espaço físico e reduzir
da Loureiro da Silva, em Porto o peso morto dos veículos. Onde
Alegre, próximo
achar espaço? A
a Usina do Gasôidéia era arrumar
Ele criou
uma via expressa
metro, o protóexclusiva elevada,
tipo está parado
um trem-aéreo
fora do alcance
há anos. Apesar
não poluente
de quaisquer obsde ter sofrido detáculos das ruas
predações de pie avenidas, a um
chadores, está em
ótimas condições de uso. “É só baixo custo, colocando os veículos
acima do tráfego congestionado.
acionar”, garante Coester.
Um homem simples e cheio de Assim, surgiu a expressão "trem
ideias, ele foi capaz de inovar no aéreo". Como fazer para evitar o
sistema de transportes e de mobi- excesso de peso morto e garantir
lidade urbana em todo o mundo, a principal função, em conceito
mas em algumas capitais brasilei- de aeromóvel, a de transportar
ras, como Porto Alegre, não teve gente? Era preciso construir um
sucesso. Mesmo assim, nunca se veículo leve.
Em seguida, veio o grande
cansou de lutar a favor da humanidade. Sua invenção é prova desafio: fazê-lo andar ecologicadisto. Coester acredita que o valor mente, mas com a mesma capadas coisas está na capacidade de cidade das tecnologias correntes.
compreender o novo em nossas Foi simples como o princípio do
vidas, deixando a arrogância e o barco à vela. Em vez de colocar
a vela em cima e esperar o vento
individualismo de lado.
Muitas pessoas desconhecem soprar, a colocaram embaixo. Em
o que é um Aeromóvel. O novo 1977, veio a confirmação. O conassusta e pode tirar o interesse sumo de energia era viável e para
de conhecimento das pessoas, percorrer um quilômetro foram
pensar desta forma, para Coester, gastos apenas 40 watts de eneré burrice. “Sempre foi assim. Tu gia. O projeto Aeromóvel estava
queres coisa mais irracional do pronto para se mostrar ao mundo.
que as guerras? Então, as pessoas "É importante lembrar que a linha
fazem coisas difíceis de acreditar. piloto não é obra realizada com
Eu acho que as mudanças, real- dinheiro público. Isto aqui fui eu
mente, vêm com a crise. Situações que paguei", desabafa Coester, na
quase desesperadoras fazem visita ao protótipo.
Na luta pela aceitação de
pensar em mudar. Infelizmente é
assim. Eu não tenho dúvida que seu projeto no Brasil, ele entrou
a gente terá que mudar, porque em contato com o ministro de
continuar nesse ritmo não dá", Ciência e Tecnologia, entre o
lamenta o empresário pelo atraso 1985 e 1987, Renato Archer,
da mentalidade, não só dos brasi- que audaciosamente lhe propôs:
"por que nós não pensamos em
leiros, mas do mundo todo.
Muitos fatores impediram o fazer um Centro Tecnológico de
sucesso do Aeromóvel no País, Mobilidade Urbana lá no Rio
como a falta de investimentos Grande do Sul, envolvendo unifinanceiros e de incentivo gover- versidades, empresas privadas e
namental para este meio como o poder público?” Surgiu, então,
transporte público. A viabilidade a cartada final que contribuiu
técnica e a questão econômica já para o início de diálogos entre
foram comprovadas, o projeto professores e alunos de diversas
está apto a ser implantado. É áreas, ganhando a oportunidade
considerado um planejamento de poderem estar por dentro do
racional e gasta menos da metade projeto Aeromóvel e estudarem
da energia de um ônibus. Além todos os aspectos técnicos que
de tudo, é elétrico, garantindo, envolvem o transporte em si.
6 variedades
hipertexto
Porto Alegre, março-abril 2009
Por Natália Rech
Fotos Júlia Schwarz/ Hiper
ANTISSOCIAL
Brasil afora
A Feira do Peixe,
junto ao Mercado Público, é porto-alegrense. Porém, na montagem do complexo de
sua última edição, teve
a mãozinha de várias
partes do Brasil, inclusive do Nordeste. A
falta de operários qualificados fez com que
gente, como Silvidio
Ramos Santos, viesse
buscar aqui o dinheiro
que falta na Bahia, seu
estado natal. Vindo de
São Paulo, diz ter adorado o Rio Grande do Sul. A sua estadia
aqui foi curta, porém, no final da obra, ele recomeça uma longa
jornada. O operário quer agora construir sua própria vida,
nem que pra isso viaje Brasil afora.
Fotos Guilherme Herz/ Hiper
Torcidas entusiasmadas acompanharam o desfile apresentado pelos repórteres do programa Patrola, da RBS TV
Camelódromo fashion
Centro Popular de Compras faz seu primeiro
desfile de moda, antes do décimo Donna Fashion
Por Júlia Schwarz
Uma guitarra na praça
Com apenas guitarra, amplificador e bateria, Geraldo Lopes faz
do público que circula pela área central seu auditório. Músico eclético
com 40 anos de carreira, quatro CDs gravados, encanta e canta todos
os dias na Praça Uruguai. Os admiradores o acompanham, tal como o
flautista de Hamelin a tocar Jair Rodrigues e Roberto Carlos.
Segundo o povo, “quem canta, seus males espanta”. Sobre esses
males, Lopes prova que pouco sabe. O sorriso no rosto é a prova.
Antônio
Conselheiro
A ronda da morte é sua história de vida. F.P. perambula
pela Capital, distribuindo folhetos de sua igreja. Conta a sua
vida permeada pelo cortejo da
morte. Garante que há um ano
teve mais de 10 tipos diferentes
de cânceres. Atualmente, se diz
curado de todos e atribui o feito
a fé em Deus. Figura carimbada, esse “Antônio Conselheiro”
urbano faz convites a todos para
comparecer às missas diárias
e afirma: “Eu fui curado, juro.
Você também pode”.
Café amargo
Eroldina Ribeira vende café há 15 anos no Centro da capital. No
bairro Sarandi, mora com mais quatro famílias, todas de vendedores
ambulantes. Seus clientes, os mesmos há anos, já viraram amigos.
Por isso, percebem seu sorriso amargo nos últimos dias. Acontece que
desde que abriu o Camelódromo, no Centro, os filhos foram trabalhar
lá e os negócios não vão nada bem. Além de assegurar seu ganhapão, ainda tem outro exercício: driblar a fiscalização da Secretaria
Municipal de Indústria e Comércio (SMIC) em suas rondas, na Praça
da Alfândega.
Centro Popular de Compras
(CPC) também teve seu desfile de
modas. Por uma hora e 15 minutos, dia 31 de março, 70 modelos,
escolhidos na comunidade local
pelo olheiro Ademir Gewher,
vestiram a moda e os sonhos escondidos atrás do balcão de cada
estande.
O frisson entre os espectadores era o mesmo de qualquer
desfile de moda e não se resumia
à expectativa de conhecer as tendências populares pesquisadas
pela produtora de moda Isabela
Tonin. À beira da passarela, havia
espaço apenas para autoridades e
familiares dos modelos. Espremidas no pequeno espaço e ansiosas
pela estreia de filhos, sobrinhos
ou amigos, selecionados e treinados dias antes, algumas pessoas
nem sabiam que o evento era um
desfile de modas.
A professora de educação
física Val Soares, ex-jurada de
concursos de beleza, acreditava
que iria torcer pela sobrinha na
disputava do título de ‘rainha do
Camelódromo’. Ao descobrir a
verdadeira natureza do evento,
reclamou da pouca divulgação da
primeira exibição de moda do estabelecimento. “Importante para
Porto Alegre por tirar essa gente
do comércio de rua”, comentou.
A estudante Ariane Pasinato
sabia bem porque estava ansiosa.
Tinha dois motivos: a estreia da
irmã como modelo e a sua, como
expectadora de um evento de
moda. Argumentou que o desfile
é válido por atrair a população
ao Camelódromo, promovendo
a circulação de pessoas entre as
bancas. Serve também para divulgação dos produtos aos clientes,
que podem reconhecer melhor a
moda nas roupas populares.
Gerente da construtora Verdi
e responsável pela administração
do Centro Popular de Compras,
Noedi Casagrande, explicou que a
proposta é divulgar a moda exposta e produzida pelos próprios lojistas. Segundo ele, as confecções
vendidas por cerca de metade dos
comerciantes locais são de produção própria “o que torna alguns
itens únicos”. Para aprimorar as
criações, os vendedores fizeram
recentemente uma excursão às
lojas da rua 25 de Março, em São
Paulo. Em breve, terão oportunidade de realizar cursos de venda,
criação e produção de moda de
vestuário, calçados e assessórios.
Os apresentadores do programa Patrola (RBS TV), Rodaika
Daudt e Ico Thomas, comandaram o desfile que teve música
pop e gritos dos familiares dos
modelos a cada entrada na passarela. A intensidade da vibração
lembrava um estádio de futebol.
A torcida não era apenas pela
exibição das peças e dos corpos,
mas o sonho de prosperidade que
se anunciava. Para o lojista, a possibilidade de ter reconhecimento
e aumentar suas vendas; pais e
amigos dos modelos, o glamour
de uma profissão.
O secretário municipal da
Indústria e Comércio, Idenir
Cecchin, destacou a função integradora do desfile na medida em
que filhos servem de manequins
para as produções dos pais, além
da experiência empreendedora.
O fato só é possível com a instalação destes comerciantes no CPC,
longe das intempéries das ruas.
Independentemente da demora
na entrega do Camelódromo, a
construção foi embargada três
vezes, alguns sonhos de prosperidade desfilados na passarela se
mostraram viáveis. A comerciante
Janete Conceição reconheceu que
estava apreensiva quanto ao futuro dos negócios na inauguração do
CPC. Depois do desfile, admitiu já
ter obtido lucros suficientes para
expandir sua banca.
Setenta modelos vivem dia de glória
hipertexto
variedades 7
Porto Alegre, março-abril 2009
O glamour da
moda Donna
em Porto Alegre
Lívia Stumpf/ Hiper
Entre os dias 1º e 5 de abril, o Shopping Iguatemi
de Porto Alegre recebeu pelo décimo ano seguido o
maior evento de moda do Estado, o Donna Fashion
Por Shaysi Melate
A 10ª edição do Donna
Fashion Iguatemi, principal evento de moda do Rio Grande do Sul,
utilizou o tema ‘Ano da França no
Brasil’ para apresentar ao público
as tendências do outono-inverno
2009. Além da inspiração francesa, outras referências de estilo
estiveram presentes de 1º a 5 de
abril no Shopping Iguatemi.
O país que deu origem a renomados estilistas, como Coco
Chanel, Yves Saint Laurent e
Christian Dior, é o berço das grandes inovações da moda. Quem
compareceu à primeira edição do
Donna Fashion deste ano presenciou o estilo francês na decoração
do ambiente e na passarela, em
releituras de fortes tradições do
vestuário parisiense.
Tendências
Nos desfiles, viu-se o branco
e o preto predominarem nas
modelagens elegantes. Intensas
representantes da moda francesa,
ambas as cores, neutras e práticas,
permanecem sendo referência de
sofisticação. Unidas ou isoladas,
caracterizaram a coleção cheia
de contrastes da Colcci, que teve
como convidada especial a atriz
gaúcha Juliana Didone. O poder
do preto foi reforçado pela grife
Cori, com muitas peças de alfaiataria escuras, e pela vencedora
do concurso Next Generation,
Carla Bal, estudante de moda,
que apresentou uma coleção só
de roupas pretas.
Outras sugestões apareceram,
como o estilo boyfriend, que
consiste em roupas levemente
masculinas, jeans soltos e paletós
de ombro largo. A modelo Marcele
Bittar, convidada da Bob Store,
abriu o desfile vestindo uma calça
do gênero. Ainda assim, o jeans
skinny (calça bem justa, com corte
reto até o tornozelo) mantém seu
lugar garantido no guarda-roupa
por mais uma temporada.
Paola Deodoro, editora de
moda do jornal Zero Hora, ao
falar dos opostos estilos de jeans,
afirmou que “todos os movimentos da moda funcionam assim:
usam uma ideia à exaustão, aí
vem uma virada muito grande”.
Comentou também que a tendência boyfriend ganhará destaque
no inverno. “É a mais forte e a
mais nova”, explicou.
O tricô pesado, como o blusão
de lã, também ganhou espaço.
Linhas grossas compõe casacos
que podem terminar até mesmo
no pé, como mostrou uma peça
da TNG, utilizada pela atriz Fernanda Machado.
A pantalona voltou com tecidos refinados em calças sociais,
associando classe a conforto.
A estilista da Le Lis Blanc, que
convidou a atriz Letícia Birkheuer para o desfile, confirmou a
referência em sua coleção, com
vários modelos sofisticados, além
de tons variados.
O xadrez, característico de
todo inverno, não é nada parecido
com aquele dos anos noventa, da
época grunge. Agora, apresenta
misturas bem femininas, ao estilo
francês. O desfile da marca Lua,
influenciado pelas cidades Paris,
Londres e Barcelona, trouxe um
O Donna Fashion teve desfiles de 22 coleções dedicadas ao outono e inverno
toque romântico aos tecidos.
A Renner reforçou uma ideia
que já se observa no visual dos
porto-alegrenses: lenços. Com
diversas cores e estampas, é o
acessório da estação e pode ser
utilizado tanto por mulheres
quanto por homens. O ator Eriberto Leão, que usava o adereço,
recebeu muitos aplausos ao entrar
na passarela.
Na moda masculina, a Spirito Santo chamou atenção. Seus
convidados, todos músicos, como
Frejat, desfilaram com roupas
modernas e descontraídas. O
destaque vai para a camiseta cuja
estampa é o rosto do presidente
norte-americano Barack Obama,
o funk brother, segundo a grife.
Vai virar hit.
Durante os cinco dias de evento, 22 coleções foram apresentadas na passarela montada no
5º andar do estacionamento do
shopping Iguatemi. Criado há oito
anos, o Donna Fashion mostrou
aos gaúchos as novidades em
moda e estilo para o inverno que
está chegando. Que venha o frio.
Começam os eventos do Année de la France au Brésil
Por Shaysi Melate
Este é o ano certo para conhecer os encantos da cultura francesa. A iniciativa dos governos
francês e brasileiro em promover
o Ano da França no Brasil é uma
retribuição à homenagem feita
ao nosso país pela França em
2005. Assim, ao longo de 2009, o
Brasil sediará eventos de grande,
médio e pequeno portes em todo
seu território, cujos objetivos são
apresentar uma França atual, diversa e aberta. No Rio Grande do
Sul, o Donna Fashion Iguatemi
inaugurou o projeto.
Mais de dois milhões de franceses foram mobilizados pelo Ano
do Brasil na França, há quatro
anos, além da atenção que o
evento ganhou nos principais veículos de comunicação da mídia
francesa durante boa parte do
ano. Juremir Machado da Silva,
professor da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da
Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUCRS),
esteve em Paris em 2005. Ao recordar a viagem, comenta que foi
montada uma praia brasileira na
beira do Rio Sena, com o característico som do samba envolvedo o
cenário: “Eu lembro que foi muito
intenso, só se falava no Brasil”.
O projeto apresentou bons
resultados, como o aumento de
turistas franceses no Brasil em
27% e 450 milhões de dólares em
produtos brasileiros exportados
para a França. A ideia de intercâmbio cultural não só aproxima
as relações econômicas e políticas
entre os países, mas também
liga as populações envolvidas, as
quais abrem seus horizontes ao
influenciar uma a outra com suas
diferentes culturas. Desse modo,
através de uma programação cultural e cooperativa de qualidade,
o evento objetiva aperfeiçoar e
consolidar a presença da França
no Brasil, valorizando a parceria
franco-brasileira em ascensão.
Oficialmente, o Ano da França no Brasil está previsto para
acontecer de 21 de abril a 15 de
novembro de 2009 e será financiado por ambos os países. A
programação gira em torno de
três eixos. O primeiro é a França
hoje, com suas criações artísticas,
inovações tecnológicas, pesquisas científicas, debates de ideias
e dinamismos econômicos. O
segundo, a França diversa, com
suas diferentes regiões, culturas
e costumes. O terceiro, a França
aberta, que busca mais parcerias
franco-brasileiras.
O projeto, que foi anunciado
em 2006, consiste em mostras,
palestras, espetáculos, atividades
culturais, encontros universitários, científicos e comerciais. Porto Alegre sediará eventos como o
Seminário Malraux e a exposição
fotográfica Reflexio, ambos no
Santander Cultural. Os 100 Anos
de Arte na França, no Margs,
apresentará pinturas de Manet,
Van Gogh, Monet, Picasso, entre
outros. A Feira do Livro receberá
escritores, pensadores e intelectuais franceses, além de grandes
obras, tanto clássicas como atuais, da literatura francesa.
Ronan Prigent, adido cultural da França em Porto Alegre,
acredita que o evento representa
a compatibilidade que sempre
existiu entre os dois países. Para
ele, seu país influencia o Brasil
“sobretudo no pensamento, na
cultura, nos estudos”. E conclui:
“É um momento bom para que as
relações voltem a ser baseadas no
que realmente tem valor, que é a
inteligência”.
8 ciência
Porto Alegre, março-abril 2009
No caminho de Darwin
hipertexto
Fotos Mariana Fontoura/ Hiper
Brasileiro refez a trajetória do naturalista em 2008
Por Mariana Pires
ver a marca da descendência com
modificação em cada animal das
Há 178 anos, na manhã de 27 ilhas. As espécies relacionadas
de dezembro, partia de Plymoun- como lagartos, tartarugas, serth, Inglaterra, o H.M.S. Beagle, pentes ou pássaros eram muito
Luciana M. Lobo semelhantes e, ao
“navio de sua majestade”, para expedição
mesmo tempo, clade mapeamento ao
ramente distintas de
redor do mundo. Na
local para local.
viagem que durou
Para Grazziotin,
cinco anos, estava
biologia é evolução
Charles Darwin, nae o trabalho de Daturalista autor da Terwin, como sua vida,
oria da Evolução, que
são uma aula de fazer
desenvolve o princíciência. “Detalhista e
pio da descendência
meticuloso, tentancom modificação e
do responder todas
Felipe Gobbi Grazziotin
a explicação para a
as críticas, buscando
diversidade da vida na terra ativamente todos os pontos fracos
através da seleção natural (onde e discordantes dentro da hipóteo mais adaptável ao ambiente se formulada, Darwin viajou e
sobrevive).
coletou dados por cinco anos e
Darwin percorreu ao redor do passou 23 escrevendo sua obramundo, passando pela América prima. Dessa forma, subverteu o
do Sul, onde esteve no Brasil, e pensamento popular da época ao
pelo Oceano Pacífico, nas Ilhas de não acreditar em um ser divino
Galápagos. Nesta última teve suas que molda cada uma das espécies
melhores idéias de pesquisa. Na terrestres, e explicou a variação
época, com 22 anos, o britânico dos organismos através de leis
deixou uma teoria que seria discutida pelos próximos 200 anos
e levou um biólogo brasileiro a
refazer em 2008 seu trajeto.
Felipe Gobbi Grazziotin, formado em Biologia, já trabalhou
com plantas, bactérias e verNo ano de seu bicentenário,
tebrados. Hoje faz doutorado Charles Darwin recebe uma hocom ênfase em Zoologia, na menagem no Museu de Ciência
Universidade Estadual Paulista. e Tecnologia da PUCRS. A expoAs pesquisas sobre serpentes o sição “(R) Evolução de Darwin”
levaram a diversos arquipélagos, reconstitui o barco H.M.S Beagle,
entre eles, Galápagos, no Pacífico. onde o naturalista viajou durante
Em 2006, seu orientador Hussam cinco anos com a frota inglesa,
Zaher, do Museu de Zoologia da fazendo suas coletas sobre botâUSP, estabeleceu que deveria nica, a evolução e as etapas desse
estudar a herpetofauna (fauna de mapeamento.
répteis e anfíbios) no Equador. O
Aberta em 25 de março, a exprojeto financiado pela Fundação posição permanece até dezembro.
de Amparo à Pesquisa do Estado Junto são promovidas palestras,
de São Paulo e aprovado pelo debates e conferências. Dividida
Parque Nacional de Galápagos e em “A Viagem do Beagle”; “A OriFundação Charles Darwin, que gem da Vida”; “A Evolução”; “A
fiscaliza e desenvolve pesquisa no Biodiversidade” e “A Vida e Obra
arquipélago, coletaria serpentes de Darwin”, a exibição mostra as
das 13 ilhas. A investigação visa origens e pesquisas do pensador.
compreender as relações evoluAo entrar no museu, uma
tivas entre elas e as serpentes do réplica de nove metros de comcontinente, assim como estudar o primento e 12 metros de altura
processo de diferenciação dessas do Beagle é avistada. Segundo
espécies nas distintas ilhas.
o coordenador da exposição,
Em junho de 2008, Grazziotin Luiz Felipe Scolari, é uma cópia
e 12 tripulantes partiram no barco fiel, realizada pelos próprios
Queen Mabel, uma pequena trai- funcionários do MCT. O painel
neira de 14x5 metros, saindo da eletrônico com todo o percurso
Ilha de Santa Cruz, Porto Ayora. de Darwin está ao lado de outro
Igual a Darwin, as condições de com um mapa detalhado da Ilha
pesquisa não eram muito favo- de Galápagos. A cabine do naturáveis e todos dormiam em alto ralista nos cinco anos de pesquisa
mar, nos cômodos do barco equi- também foi reproduzida, com a
pado também com um pequeno rede em que Darwin dormia, em
laboratório. O que mais surpreen- cima de uma mesa de madeira,
deu o biólogo, em Galápagos, foi totalmente desprovida de con-
naturais”, esclarece.
Falar de Teoria da Evolução é
se referir a Charles Darwin. Quase dois séculos após se constata
a contribuição de outros pesquisadores que explicaram e corrigiram alguns pontos do estudo
evolutivo. A Teoria da Evolução,
como qualquer pesquisa científica, não está pronta, é sempre
sujeita a reformulações e reinterpretações baseadas em novas
evidências. Grazziotin considera
que o principal empecílio para
se acreditar na evolução está na
dificuldade de vê-la no dia-a-dia
e no bloqueio de alguns preceitos
religiosos. “Infelizmente ainda
falta muito tempo para que a evolução seja completamente aceita
e compreendida pela população.
Mesmo assim o processo evolutivo acontece todos os dias, nos
hospitais, por exemplo, a cada
momento necessitamos de antibióticos mais potentes porque
a população bacteriana evolui
e fixa genes para resistência”,
completa.
A reprodução de Darwin, exposta no Museu da Pucrs, é tão fiel que assusta
O H.M.S Beagle aporta em Porto Alegre
forto e espaço.
Há também cartazes e jogos
interativos explicando a Teoria da
Evolução e a Seleção Natural. No
segundo andar do museu, é possível encontrar o próprio inventor,
sentado em seu escritório, ao redor de livros. O corpo do boneco
de Charles Darwin, constituído
basicamente de sucata, recebeu
um toque final com próteses dos
pés e das mãos vindas dos Estados Unidos. A veracidade chega
a assustar.
O espaço está aberto à visitação de terça a domingo, das 9h às
17h, na Avenida Ipiranga 6681. O
ingresso geral custa R$ 12 e para
crianças, idosos, estudantes e
professores, R$ 9,00.
Réplica do barco em que Darwin pesquisou espécies durante cinco anos
Uma péssima
impressão do Brasil
Após passar por Fernando de
Noronha e pela Bahia, em 1° de
abril de 1832 o navio H.M.S Beagle chegou ao Rio e lá permaneceu por três meses. O naturalista
Charles Darwin aventurou-se
pelas matas atrás de novos animais e plantas exóticas. Mas sua
decepção foi com os brasileiros.
Os dias no solo do Brasil
pareceram-lhe extremamente
desagradáveis no contato com o
povo nativo: “Todos aqui podem
ser subornados. Um homem pode
tornar-se marujo ou médico, ou
assumir qualquer outra profissão,
se puder pagar o suficiente. Os
brasileiros, até onde vai minha
capacidade de julgamento, possuem só uma pequena quantia
daquelas qualidades que dão
dignidade à humanidade.”
A descrição dos brasileiros
em seu diário é cruel: “São ignorantes, covardes e indolentes ao
extremo; hospitaleiros e bem-humorados enquanto isso não lhes
causar problemas; temperados,
vingativos, mas não explosivos;
satisfeitos com suas personalidades e seus hábitos.”
Da justiça, sua impressão não
foi melhor: “Não importa o tamanho das acusações que possam
existir contra homem de posses,
é seguro em pouco tempo estará
livre”. Parece que mudou pouco.
hipertexto
esporte 9
Porto Alegre, março-abril 2009
Pedro Revillion/ Hiper
TÊNIS
Nome comum, talento especial
Camila Domingues/ Hiper
Por Flávia Drago
Kaká e Pato no campus
Seleção
treina na
PUCRS
Por Fernando Soares
No dia 30 de março, a Seleção
Brasileira de futebol esteve na
PUCRS. Jogadores e comissão
técnica utilizaram o Parque Esportivo da universidade para a
preparação pro jogo contra o
Peru, ocorrido em 1° de abril, no
Estádio Beira-Rio. “O local foi escolhido por reunir uma estrutura
e localização que beiram a perfeição”, afirmou Guilherme Ribeiro,
administrador da Seleção.
Os titulares na partida disputada no dia anterior, frente à
seleção equatoriana, em Quito,
realizaram trabalhos na piscina.
Os reservas, acrescidos de Kaká,
que se recuperava de uma lesão e
não havia integrado a delegação
no Equador, fizeram um jogotreino com os juniores do Grêmio.
O treinamento foi fechado
aos visitantes, somente profissionais da imprensa previamente
credenciados tiveram acesso.
Mesmo assim, muitas pessoas
permaneceram do lado de fora
do complexo na tentativa de ver
alguns dos principais jogadores
do futebol mundial. Das janelas
dos prédios das faculdades de
Educação Física e Medicina,
alguns curiosos estudantes também observavam as atividades
realizadas no gramado.
A passagem do Brasil em
Porto Alegre foi bem sucedida.
O time comandado pelo técnico
Dunga derrotou os peruanos por
3 a 0 e, com o resultado, assumiu
a vice-liderança das Eliminatórias.
Elson Sempé Pedroso/ Hiper
Relax no Parque Esportivo
Os 885 tenistas que vieram
de 39 países na Copa Gerdau de
Tênis deste ano não ofuscaram
o brilho de um jovem tenista
com um apelido tipicamente
brasileiro: Zé. Mas este novo
talento está longe de ser um
qualquer, sua energia vibrante
o destaca dos demais. José Pereira Junior, carinhosamente
chamado de Zé, confirmou o
seu favoritismo ao vencer o badalado evento que aconteceu na
Associação Leopoldina Juvenil,
repetindo a dose de 2008.
Todos queriam ver o Zé em
ação, traçando sua trajetória
rumo ao bicampeonato - por
esse motivo, seus jogos eram
sempre os mais movimentados.
Alguns dos sócios, enrolados
em suas toalhas (já que a piscina do clube é praticamente ao
lado das quadras) buscavam
algum lugar, mesmo em pé, para
assisti-lo. A torcida gaúcha representava bem o País, dando-lhe
o apoio, fazendo reclamações e
incendiando o clima a favor do
brasileiro.
Logo após sua vitória nas
semifinais contra o eslovaco Filip
Horansky, que deu sua passagem
às finais, Zé foi direto para uma
piscina mais afastada do burburinho das quadras para se alongar e
relaxar. “Se eu não faço isso, não
presto amanhã”, confidencia.
José Pereira Junior, de 18
anos, é pernambucano, mas hoje
em dia mora em Florianópolis,
onde treina. Antes, morou em
Curitiba e foi nesta cidade que
teve seu primeiro contato com o
esporte. Seu pai trabalhava em
uma academia de tênis, enquanto
os filhos, Zé é o mais novo de três
irmãos, tornaram-se bolerinhos
(os gandulas do tênis). A irmã
mais velha, Teliana, 20 anos, hoje
tenista profissional, foi a primeira
a se envolver com o jogo. “Eu
fiquei mais na minha, não tinha
aquele negócio de jogar sempre.
A minha paixão pelo tênis surgiu
mesmo foi com meus irmãos,
vendo eles jogarem. Foi graças a
minha família”, conta.
Não parou mais. Com 13 anos
já faturava torneios importantes,
ganhou o patrocínio do Instituto
Tênis e começou a viajar para
disputar. E foi com essas experiências que adquiriu uma grande
característica sua que expõe com
o maior orgulho: ele não desiste.
Foi se inspirando no primeiro do
ranking atual da ATP, o espanhol
Rafael Nadal, que ele tornou-se
tão otimista: “A raça, aquela
motivação dele que eu não sei de
O pernambucano Zé conquistou o bicampeonato da Copa Gerdau de Tênis, na Leopoldina Juvenil, em março
onde que ele tira... eu estou tentando me espelhar bastante nisso
aí, não desistir jamais.” Outro
ídolo dele é o Guga, pela simplicidade e humildade, que são duas
qualidades que o pernambucano
diz ter aprendido na própria Copa
Gerdau. “Pelo fato de eu ter sido
o campeão ano passado, eu vim
aqui e todo mundo me parabenizava. Eu poderia muito bem não
olhar, dar um de ‘mascarado’, mas
eu não sou assim. Acho que isso
aqui me ensinou bastante a ser
simples e ser humilde”.
Essa foi a 4ª Copa Gerdau
para o Zé, e também a última, já
que atingiu a idade máxima para
competir. Ganhou três delas, consecutivas (uma, porém, na chave
de 16 anos). O sentimento? “É um
sentimento gostoso. Mas não por
estar na final, de estar até aqui. Te
dá um ‘negocinho’ frio assim na
barriga sabendo que você nunca
mais vai voltar a jogar nesse torneio. Uma despedida. Vou sentir
muita falta disso aqui, é como se
eu tivesse em casa mesmo”. O
jovem diz que sempre vai lembrar
a motivação que teve na quadra.
“Eu ia para um canto da quadra
e uma pessoa falava : ‘vamo!’,
ia para outro e ouvia também:
‘vamo!’. Em nenhum momento
desisti, sempre pensei: vai dar,
vai dar!”, diz o menino que não
se intimida com a pressão, pelo
o contrário, ele até gosta. Agora,
pretende disputar os futures,
challengers e até o Rolland Garros
juvenil para profissionalizar-se
com a categoria que já lhe pertence.
No ensolarado domingo, ao
conquistar o bicampeonato em
cima do estadunidense Tennys
Sandgrend, Zé agradeceu à torcida, alegando: “nunca conseguiria
sem vocês”. Dedicou o prêmio ao
Pedro Revillion/ Hiper
Todos os anos, novos talentos são revelados no campeonato mundial juvenil
pai, da mesma forma que fez no
ano passado, como presente de
aniversário. O bicampeão provou
que veio para ficar. Sai de Porto
Alegre para conquistar o mundo.
Copa Gerdau,
o berço de
novos talentos
Todo o final do mês de
março, Porto Alegre torna-se
o palco principal para o tênis
juvenil mundial. Ocorre na Associação Leopoldina Juvenil,
nas chaves de 18 anos, e na
Sogipa, com as chaves de 12,
14 e 16, com entrada franca.
O evento, além de internacional, é considerado um
dos mais importantes junto
com os quatro Grand Slam
desta categoria (Aberto da
Austrália, Rolland Garros,
Aberto dos Estados Unidos e
Wimbledon). A Copa é patrocinada durante todos os anos
pela mesma empresa, e foi,
em 2007, elevada ao Grupo
A, que é o mais alto nível que
uma competição pode chegar.
Por ser uma verdadeira lapidadora de jóias no esporte, já
recebeu em diversas edições,
nomes que integram, ou já
integraram, o topo do ranking
da ATP e WTP, como Gustavo Kuerten, Andy Roddick,
David Nalbadian, Fernando
Gonzáles, Mario Zabaleta,
Jo-Wilfried Tsonga, Svetlana
Kuznetsova e Ana Ivanovic.
10 entrevista
Por Fernando Soares
O Internacional chegou ao
ano de seu centenário como clube
vitorioso dentro e fora de campo.
Um processo de reestruturação,
iniciado há sete anos, transformou o colorado em colecionador
de títulos. Campeão de tudo,
orgulham-se os torcedores. A
revolução administrativa, responsável por elevar o clube ao
patamar alcançado, foi idealizada por Fernando Carvalho ao
assumir a presidência do Sport
Clube Internacional, em 2002.
Incluído no seleto rol de nomes importantes da história do
Internacional, Carvalho foi presidente entre 2002 e 2006. Com
um faro que raros dirigentes possuem, ele percebeu as mudanças
que o futebol moderno começava
impor às agremiações. Consciente de que o sucesso no campo
estava diretamente relacionado à
boa administração, tomou medidas, até então, pouco usuais nos
clubes brasileiros como pagar
os funcionários em dia e fazer
contratos de longo prazo com
atletas. Além disso, valorizou o
patrimônio colorado através de
melhorias na infraestrutura e investiu recursos substanciais nas
categorias de base, tornando
a venda de jogadores um relevante incremento na receita
anual. Os frutos do trabalho
de remodelação perduram
até hoje, e são simbolizados
principalmente pela conquista
dos títulos da Libertadores da
América e do Mundial, ambos
em 2006.
Modesto, ele recusa o rótulo
de maior presidente da história
do Internacional. “O Inter teve
diversos dirigentes importantes, muitos deles são meus ídolos, não posso achar que tenha
sido superior a eles”, afirma.
No entanto, essa opinião não
é compartilhada pela maioria
dos torcedores. Irrefutavelmente, os colorados afirmam, com
brilho nos olhos e gratidão, que
o atual vice-presidente de futebol foi o melhor mandatário
que o clube já teve.
– Como começou sua ligação com o Internacional?
– Começou muito cedo, por
volta dos sete ou oito anos de
idade. Meu pai era colorado
fanático e meus tios também.
Assim me tornei colorado, até
porque não havia espaço para
ser diferente. Em 1961, fui ao meu
primeiro jogo. Desde então, passei
a acompanhar o clube. Lia o jornal
de trás para frente e acompanhava
os plantões esportivos das emissoras de rádio. Isso continua até
hoje.
– Imaginava, um dia, tornarse dirigente do Inter?
– Isso era uma coisa inalcançável, quase impossível. Na
faculdade, era reconhecido como
Porto Alegre, março-abril 2009
EXCLUSIVA / Fernando Carvalho
Senda de
vitórias é
com ele
um colorado. Estava sempre
discutindo com os gremistas. Até
que o meu, então, professor de
direito financeiro assumiu como
vice-presidente do Departamento
Financeiro e me convidou para ser
diretor em 1982. Assim comecei
minha vida de cartola. Fiquei
como advogado do clube durante
algum tempo e depois passei para
outros setores como marketing e
administração, mas sempre na
assessoria jurídica. Em 1988, fui
vice de futebol na gestão do pre-
– O Inter foi totalmente remodelado a partir de 1969 pelos
mandarins e tornou-se o grande
time da década de 1970. Existem
algumas semelhanças nos trabalhos. Os mandarins tinham uma
ideia de futebol que é a mesma
que eu tenho: futebol de competição, onde se privilegia o coletivo
em detrimento do craque, muito
treinamento, foco, cuidar de detalhes e enfrentar os adversários em
todas as áreas. Essa filosofia nós
tivemos ao assumirmos. EstrutuBernardo Ribeiro/ Hiper
De Belém a Yokohama: da beira do inferno à glória de campeão mundial
sidente Pedro Paulo Záchia. Nem
gosto de lembrar porque não tinha
experiência e fui mal. Eu não estava preparado para aquilo. A partir
daí, pela primeira vez, comecei a
pensar em ser presidente.
– O processo iniciado pelos
mandarins (dirigentes que reformularam o clube e montaram
o grupo vitorioso dos anos 70) é
semelhante ao trabalho feito na
sua gestão de presidente?
ramos o clube para enfrentamentos no tribunal, na imprensa e em
todos os lugares.
– O senhor procurou se espelhar em algum outro dirigente?
– Na vida, a gente se espelha
em várias pessoas. Quando mais
jovem, tinha como exemplo meu
tio José Carlos Costa Gama. Depois, como dirigente, Aldo Dias
Rosa, Ibsen Pinheiro e até os do
Grêmio Rudi Armin Petry e Fábio
Koff. Nem todos fazem tudo certo,
mas fazem a maior parte das coisas de forma correta.
– Percebe-se que o senhor
como dirigente procura não criar
polêmicas e atritos. Isso é raro no
futebol brasileiro. Como o senhor
separa o torcedor do dirigente?
– Quem assiste jogo ao meu
lado, sabe que sou completamente
torcedor. Xingo o árbitro, reclamo do zagueiro que não voltou,
do lateral que não apoiou. No
entanto, após o jogo, preciso ter
maturidade, pois represento o
clube. Não posso dizer nada que
vá prejudicar o Internacional.
– Ao encerrar seu mandato
em 2006, o senhor se afastou do
clube por mais de um ano. Retornou em 2008, após eliminação na
Copa do Brasil. O que motivou
sua volta?
– Retornei devido às circunstâncias. Na época, estávamos
sem treinador e não havia nome
de consenso entre Vitório (Piffero) e Giovanni (Luigi). Embora
fossem grandes amigos, havia
uma discussão pública entre eles
que não era boa para o clube. Na
minha avaliação, o treinador que
preenchia os requisitos era o Tite,
que tinha contra ele o fato de ter
trabalhado no Grêmio. O que
é uma grande bobagem, mas
no Rio Grande do Sul é assim.
Então, para tentar resolver a
questão e minimizar uma eventual contrariedade à contratação
do Tite, me propus a ajudar e
assumi a posição de assessor
do Departamento de Futebol.
Foi muito bom. O ambiente no
clube se acalmou e ganhamos a
Copa Sul-Americana. No final
do ano, tinha a ideia de ir para
o Clube dos 13, tornando-me
executivo remunerado. Isso
não se concretizou e fiquei para
o centenário, por ser um ano
diferenciado.
– Em 2010 haverá eleição
para a presidência do Clube
dos 13. Há possibilidade de o
senhor concorrer ao cargo e ser
sucessor de Fábio Koff?
– É muito cedo para falar
disso, ainda não é hora. A eleição é só no final de 2010. Fábio
Koff é um grande presidente e
tem gás para mais uma gestão.
– O Internacional priorizará alguma competição no ano
de centenário?
– Queremos sair bem em
todas as competições. Porém,
o Campeonato Brasileiro, por
todo esse charme do centenário,
40 anos do Beira-Rio e 30 anos do
último título, tem valor um pouco
superior. Disputaremos seis campeonatos, quando o calendário
ficar apertado, vamos ter de optar
e utilizar o grupo que temos.
– O que o Internacional faz
para não repetir os erros que
outros clubes brasileiros cometeram em seus centenários?
– A primeira coisa foi isolar
o vestiário da festa e da come-
hipertexto
moração. Jogadores e comissão
técnica não participam de nada, o
único foco é nos jogos e nas competições. Com trabalho e cuidado
tudo dará certo. É claro, deve-se
ter qualidade, acho que temos um
grupo de atletas qualificados.
– O grupo de jogadores do
Inter é um dos melhores do país.
O plantel é suficiente ou ainda
existe alguma carência?
– O grupo é adequado para
enfrentar essa campanha. Por enquanto, não pretendemos acrescentar nenhuma peça. Na metade
do ano, se não conseguirmos
renovar alguns contratos, talvez
tenhamos que contratar e fazer
alguma reposição.
– Nos últimos dois anos, o
Inter passou por remodelações
no meio da temporada. O desempenho em campo foi prejudicado
com entradas e saídas de atletas
e técnicos. Neste ano, a situação
mudará?
– Este ano será diferente. Se
houver alguma saída, temos 32
jogadores e a reposição já está
no grupo. Dificilmente haverá
movimentação. Se houver, serão
poucas.
– O Inter venderá alguém na
metade da temporada?
– Alguém sairá na metade do
ano. Ano passado, não vendemos
ninguém importante. O Alex era
pra ter sido vendido em julho,
ficou e foi somente agora. Então,
houve um represamento em
alguns compromissos do clube.
Assim, na metade do ano, certamente venderemos alguém.
– A cada temporada, o clube
aposta em promessas oriundas
das categorias de base e de outros
times. A busca por jovens atletas
de qualidade ainda em formação
é uma tendência a ser mantida?
– Sim. Continuaremos fazendo isso, porque o objetivo é ter
jogadores formados e, quando
houver a necessidade de substituição, contar com garotos que
estão aqui há seis meses ou um
ano. Eles são preparados para um
futuro próximo, aí o ingresso no
time é natural.
– No seu primeiro ano como
presidente, o Inter escapou do
rebaixamento no Brasileirão
na última rodada, em Belém.
Ao deixar a presidência, o clube
era campeão do mundo. Como o
senhor descreve essa trajetória
de Belém a Yokohama?
– De Belém a Yokohama é o
nome do livro que eu estou fazendo, relata dificuldades, caminhos
que traçamos e percorremos. É
um script de um filme que deu
certo. Cada vez que recordo, me
emociono. Como as coisas deram
tão certo. Foi uma coisa maravilhosa, é quase indescritível.
– Qual a escalação do Inter
dos teus sonhos?
– Manga (Clemer); Cláudio
Duarte, Figueroa, Índio e Vacaria;
Carpegiani, Falcão, Jair e Fernandão; Valdomiro e Claudiomiro.
hipertexto
perfil 11
Porto Alegre, março-abril 2009
Edgar Vasques, a mão por trás do Rango
Com 40 anos de carreira, o desenhista continua a criar a todo nanquim
Lívia Stumpf/ Hiper
Por Natália Rech
Edgar Vasques está contente.
Apesar do sangue, suor e aquarela,
acaba de finalizar mais uma obra,
“a mais trabalhosa de todas”. Num
bar pitoresco do viaduto da Borges
de Medeiros, cartunistas, parceiros
do desenhista, o parabenizam interrompendo sua tradicional batata com
mostarda picante, prato obrigatório
do Tutti Giorni. A comemoração tem
nome e motivo: um ano e seis meses
de trabalho e pesquisa intensos para
trazer aos quadrinhos, em 60 páginas,
a obra de Lima Barreto, O triste Fim
de Policarpo Quaresma. A adaptação
entra para a lista dos 18 trabalhos próprios, sem contar diversas parcerias,
deste porto-alegrense que aportou
desde cedo no mundo dos grafismos
e continua a abrir portas para outros
talentos gráficos, independente do
mau tempo.
“Cartunista, chargista, ilustrador, quadrinhista, caricaturista,
tudo no mesmo cara pelo preço
de um”, como diz na sua autopropaganda, Vasques é tudo isso
e ainda mais. Quando possível,
se dedica às artes plásticas, tendo feito algumas vernissages.
Formado em Arquitetura, diz ter
se aposentado no mesmo dia que
finalizou o curso. Como prova só
buscou o diploma 25 anos após
a formatura. Não é preciso saber
muito do mundo do humor gráfico
para ver nele um porta-estandarte
apaixonado do tema. Isso fica
claro já no primeiro contato. O homem baixinho, de barba saliente,
expressões fortes ditas sem receio,
mesmo entre goles de uísque, faz
qualquer ouvinte imaginar que
seu desenho tem mais do que
tinta, talvez sangue encorpado.
Aliás, Vasques parece um típico
personagem de quadrinhos, porém inadaptável às margens do
papel. Uma criatura que nem seu
mestre, desenhista Canini, seria
capaz de inventar.
Criador do personagem Rango, colaborador de jornais que
fizeram história como Folha da
Manhã e Pasquim, Vasques nasceu em 5 de outubro de 1949, no
Hospital São Francisco, na Capital. “Quando minha mãe me deu à
luz, a luz que me deu foi essa: um
céu do entardecer da primavera,
às 18h”. Aliás, mesma hora em
que a entrevista começou, com
meia hora de atraso perdoada pelo
seu jeito boa praça.
Vasques vê o desenho como
uma linguagem base, comum a
todos, principalmente na infância. Questiona o abandono dessa
atividade quando a escrita e a
fala surgem. Desenho é prosseguimento, e os desenhistas não
param. “Tu risca na parede, leva
um pau e vira bancário. Já meus
pais achavam meus rabiscos bonitinhos”, observa, falando dos
desafios da arte na infância. Seus
pais, habituados à cultura, desde
cedo o apresentavam como artista
aos amigos. Neste ambiente de
respeito às artes, quarto dos seus
cinco irmãos se tornaram artistas,
caso de Oscar Simch, ator da peça
Homens de Perto.
Se sua vida daria um romance,
nem ele sabe. Porém, um quadrinho, já é uma cogitação. Trocando
a modéstia pela realidade, afirma:
“Eu sou um dos melhores desenhistas do Brasil”. Vasques está
sempre à procura do próximo
desenho, enquanto veste a realidade com seus tons, criando um
jogo de palavras e uma relação
genial entre os fatos mundanos,
que mais tarde resultará em um
trabalho. O artista gaúcho se diz
ciumento com o desenho. De Millôr Fernandes recebeu o conselho
de deixar seu talento encontrar o
próprio limite. Pela falta de oportunidade e situação financeira,
a necessidade de remuneração
ocupou espaço na sua agenda de
criação. Além de ser contador de
histórias, teve outro mérito. Incentivou jovens de lápis trêmulos
a fortificar o traço.
A Grafar (Grafistas Associados
do Rio Grande do Sul), criada na
década de 80, teve suas primeiras
reuniões em sua casa. Hoje, acontecem no bar citado acima, onde
desenhistas variados e agregados
trocam experiências. Nesse ponto, o círculo de artistas como o
estradeiro Augusto Bier e o jovem
Rodrigo Rosa se encontram para
garantir a tradição do grafismo
gaúcho que Vasques define como
a “junção da verve brasileira com
grafismo platino, faz piada e coloca o dedo na ferida.”
Nada de teste vocacional ou algo
do tipo. Ser desenhista era o único
Ilustrador exibe seu caderno com desenhos de pessoas que costuma retratar
percurso. Em 1969, ingressou na
UFRGS, em Artes Plásticas e Arquitetura. Com a efervescência do
contexto social da época, o estudo
artístico não bastava. “Sentíamos
que precisávamos fazer algo”, conta.
Acabou se dedicando apenas à Faculdade de Arquitetura que, longe
do marasmo das Artes, fervia idéias,
contestação e vontade política. Com o
Centro Acadêmico ativo, inventar era
a ordem e desse vocabulário surgiu a
Grillus, revista que lançou Rango, seu
trabalho mais conhecido. Dois anos
depois, foi chamado para a Folha da
Manhã, e a tira se tornou diária. Lá,
lançou outros cartunistas na sessão O
quadrão, como Schröder e Santiago.
Quadrinho denuncia miséria e injustiça
Mais um dia de trabalho na
Caldas Júnior, e Vasques procura
algo para ler na banca. Observa
que um camburão da polícia o
acompanha até sua casa. O recado é claro: “Estamos de olho em
você”. Naquela época, o Brasil era
comandado por homens de farda e
neste meio nasceu Rango. Mas se
nem a fome matou o personagem,
não seria a censura a conseguir.
Com Porto Alegre como playground, mesmo estando no Cais
do Porto ou na Andradas, uma
semelhança era latente: a miséria.
Ao avistar a fauna humana degradante que se acumulava mais
do que o crescimento incensado
na década de 70, Vasques via nas
ruas o inferno da renda nas mãos
de poucos. Rango é um miserável,
moribundo e desempregado que
vive no lixo. Com outros ícones
da miséria, o humor crítico se
desenvolve. O quadrinho foi o
responsável pela apreensão de
uma edição do jornal O Pasquim
das bancas, em 1977. Porém, pela
graça do público, o livro foi o mais
vendido da Feira do Livro de 1974.
Vasques acredita que o pior da
ditadura não é o impedimento
de divulgar a mensagem, mas o
artista ter que mandá-la de forma
cifrada e elitizada.
O ilustrador também atuou
em publicidade, na LP&M editores e na prefeitura de Porto Alegre
por 10 anos, até 2004. Ultimamente, foi premiado pelas cartilhas desenvolvidas para Refinaria
Alberto Pasqualini, da Petrobras.
O parceiro da família Verissimo,
deu cara (e coração?) ao Analista
de Bagé, publicado durante sete
anos na revista Playboy. Agora,
Vasques tem uma consultoria
para desenhistas. Enfrenta a dificuldade de viver da arte em uma
época que viver é difícil. Contudo,
sua inquietude artística não cessa,
está cheio de ideias.É possível
encontrá-lo sempre com um sketchbook, onde desenha o mundo
como vê. ”As meninas bonitas não
vão embora, ficam aqui”, demonstra o caderno. Todo lugar é lugar
de desenhar. As tarefas de aula ou
reuniões dançantes concorriam
com arte. “Eu me defini no mundo
como desenhista. Eu não posso
fugir disso”, diz.
Sensível, tem olhos de lupa
para captar as falhas sociais e
transpor para o papel. Seus temas
são de impacto, mostram estrago
e exigem conserto. A fome de
Rango é de justiça e, mesmo tendo
um estômago forrado de esperança, até a própria vira piada.
O sarcasmo de sua obra procura
passar um entendimento da realidade, comunicar-se além de se
expressar. “Se entendem outra
coisa, mas melhorarem a piada,
tudo bem”, brinca. Esse é Edgar
Vasques, cujo talento foi confundido com arma pelos militares.
12 ponto final
Porto Alegre, março-abril 2009
hipertexto
Pedro Revillion/ Hiper
Quando o importante é chegar
Competição de Vela trouxe equipes de todos os continentes à capital gaúcha
Por Joyce Copstein
A Copa do Mundo chegou mais cedo
a Porto Alegre. Mas, no lugar do futebol,
que só virá à capital em 2014, foi a Vela
que roubou a atenção do público. No final
de março, a Nations Cup 2009 levou sete
equipes femininas e dez masculinas ao Clube Veleiros do Sul, durante cinco dias, para
disputar o pódio de melhor do mundo. Ao
todo, atletas de 13 países correram a Match
Race nas águas do Guaíba. Representando
o Brasil estavam os times de Henrique Haddad, que chegou em segundo lugar, e de
Juliana Senfft, que ficou em sexto.
Aos 21 e 20 anos, respectivamente,
Haddad e Juliana se submetem, junto aos
colegas de equipe, a uma preparação física
como a de qualquer outro esporte. Além
dos treinos n’água – que podem durar até
quatro horas –, praticam musculação e
exercícios aeróbicos. “São 15 minutos de
regata, mas é muito cansativo”, constata
um esporte mais light, mas na competição
a pressão é forte”, comenta Haddad.
Além da navegação de regata, há a de
cruzeiro, modalidade favorita de Danilo
Ribeiro, editor do portal Popa.com.br e
velejador há cerca de 40 anos. “Na
Camila Domingues/ Hiper
regata, o que importa é ver quem
anda mais rápido, e é necessário ter
muita habilidade”, afirma Ribeiro,
“mas o velejador de cruzeiro quer
apenas passear e tem outros tipos
de preocupações”. E quais seriam?
“É preciso ver se fará tempo bom
na ida e na volta, pegar uma carta
náutica para saber onde há pedras,
certificar se existe profundidade
suficiente para passar, se podem
ter navios no caminho, conhecer
as regras”, explica ele, que tem
habilitação de Capitão.
As meninas lutaram com o barco e chegaram em sexto
Todo esse conhecimento pode
lounge, a disputa durante uma regata é ser obtido em cursos de navegação – o
estressante e exigente. “Teoricamente é Veleiros do Sul é um que oferece aulas,
Haddad. Na rotina, entram ainda as aulas
na faculdade.
Há, também, o fator psicológico. Afinal,
se, de um lado, a vela pode ser uma atividade mansa, tranquila, embalada por música
inclusive para crianças – e certificado em
exames de habilitação, necessários para
velejar. É como tirar uma carteira de motorista, com a diferença de que os testes
para a obtenção do título de Arrais, Mestre
e Capitão são apenas teóricos. Feito isso,
um bom barco com cabine custa por volta
de 36 mil reais, e é possível mantê-lo em
um clube ou marina por uma mensalidade
que parte de duzentos reais.
De resto, é só subir no veleiro e aproveitar o dia. Para o velejador de cruzeiro,
o objetivo não é chegar, mas ir. “Velejar
proporciona o contato com a natureza e
belas paisagens”, afirma Ribeiro, que vê, no
barco, apenas a moldura de um quadro: os
amigos são a tela. “Para praticar a Vela, basta ter vontade”, comenta o vice-campeão
Haddad, que veleja há 13 anos. Já Juliana
Senfft começou mais cedo, aos quatro. Filha
de medalhista olímpico, tem como objetivo
chegar também às Olimpíadas. Definitivamente, uma velejadora de regata.
Jonathan Heckler/ Hiper
OBSERVATÓRIO DO SAGUÃO
Brincadeira séria
Os assuntos que não são manchetes,
mas que os leitores curtem saber, agora,
passam a figurar neste espaço. O nome da
coluna surgiu de uma brincadeira com o
famoso site, Observatório de Imprensa,
fórum que reúne leitores, telespectadores
e interessados na área da mídia, onde são
manifestadas opiniões sobre o que rola no
mundo dos veículos de comunicação, especialmente no jornalismo. O Observatório
do Saguão brinca com duas idéias: o site
sobre mídia e o novo saguão da Famecos.
Mesmo assim, a proposta é séria, aqui serão abordados informações que circulam
nos corredores da faculdade e no campus,
buscando estar mais perto do leitor.
Surpresa! Surpresa!
Uau! Foi assim que muitos reagiram,
quando chegaram ao saguão da Famecos
no início do semestre. Mesinhas, cadeiras,
poufs, uma nova pintura, tudo isso em um
design arrojado e cores bem chamativas.
Mas como tudo na vida, há os que gostam
e os que criticam. Como dizem, gosto é que
nem…, deixa pra lá. Em um ponto todos
concordam: as mudanças surpreenderam.
Das pessoas com opinião formada – sim,
sempre tem aquele que não sabe o que pensar, vai entender! – dois grupos despontam
em seus quadrados: os que aprovam a
mudança e os contrários.
Estilo profissional
Oba, até que enfim, o sofá veterano
de guerra perto do CAAP foi aposentado!
Ainda assim a turminha não perdeu um
lugar para sentar. Foi mais ou menos essa
a reação dos que curtiram as reformas.
O melhor é poder assistir de camarote o
desfile diário de famequianos, ou seria das
Por Marcus Perez e Júlia Alves
famequianas? Dizem que o visual do
saguão ficou “a cara” dos profissionais
de comunicação. Outras línguas de
trapo falam: “o bar veio pro saguão,
olha só, até fica vazio no intervalo”.
Tem o malandrinho que reconhece:
“agora, posso fazer o que mais gosto
e em grande estilo: matar aula”.
Muita cor e brilho na entrada da faculdade
Coisa infantil
A turma do contra alega que a entrada
do prédio ficou muita parecida com certa
escola de uma novela juvenil da TV Globo
(seria a tal Malhação?). Outros acham que
a decoração e a pintura deu um certo ar infantil ao ambiente, que devia ser um pouco
mais sério. Pois é, onde estará o tal espírito
acadêmico? Os chatos se queixaram de
tudo, de que as reformas não haviam acabado quando as aulas começaram e era um
transtorno, pois atrapalhava a passagem..
Projeto irado
O look moderninho da faculdade mexe
com a galera seja no real ou no virtual. Enquanto alguns buscam melhor se acomodar
aumentando ou diminuindo a altura das
poltronas (os reguladores sumiram) e até
mudando a posição das cadeiras (estão presas ao piso!), outros viajam se inspirando
no visual, no vaivém da turma. E quando o
novo ficar velho e datado, o que vai acontecer? Bem, chama o professor Fabian que
ele faz outro projeto irado na moda.
Download

Campus da PUC terá aeromóvel