hipertexto Veleiros do mundo no Guaíba Camila Domingues/ Hiper AN O 11 Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril 2009 – Ano 11 – Nº 70 Página 12 Universidade retoma sonho de Coester Bernardo Ribeiro/ Hiper Campus da PUC terá aeromóvel Mortos-vivos chineses em exposição inquietante Página 3 Página 5 Bruno Todeschini/ Hiper Lívia Stumpf/ Hiper Júlia Schwarz/ Hiper Desfiles no sofisticado Donna Fashion e na passarela montada no novo shopping popular da cidade AS DUAS FACES DA MODA Página 6 e 7 Coester concede entrevista exclusiva ao Hipertexto e percorre interior do aeromóvel 2 abertura Porto Alegre, março-abril 2009 EDITORIAL Saudade da alegria e da irreverência de João hipertexto A IMAGEM Diogo Lucato/ Hiper Estudante de Relações Públicas da Famecos, cheio de sonhos, foi assassinado antes de completar 20 anos Por Morgana Laux e Yasmine Santos doces preferidos, conforme pessoa muito diplomática, o seu perfil. se adaptar a qualquer siNo Orkut, o estudante tuação e a tipos de pessoas Alunos e professores também se dizia ateu e in- diferentes.” da Famecos, assim como tegrante de comunidades A professora de Ciências familiares de João Fran- que abominavam a homo- da Comunicação e do curso cisco Arnizaut fobia (aversão de Relações Públicas Neka Machado de a homossexu- Machado, coordenadora Vargas, coais). Destacava do Núcleo de Eventos da nhecido como também a expe- Famecos, acompanhou a João Arnizaut, riência de via- trajetória de João na Falamentaram a jar ao exterior, culdade de Comunicação. morte do jovem, referindo sua “Ele tinha uma alegria ocorrida em 17 passagem pelos imensa no coração, era de março. O esEstados Unidos. participativo e também tudante do curEle falava idio- uma pessoa especial, pois so de Relações mas como inglês sua formação cultural era Públicas, de 19 e francês e era muito interessante. João anos, foi vítima fã dos livros de se destacava por ser quem de um crime naClarice Lispec- era. Eu o conheci no segunquela madrutor, Lya Luft e do semestre e, atualmente, gada, em Porto Agatha Christie. ele estava no quinto. TiAlegre. J o h n n y , vemos uma aproximação Nascido na João tinha 19 anos como era cha- muito forte na disciplina de Capital, João m a d o p e l o s Negociação, uma vez que, viveu a infância em Barce- amigos, era um menino nela, a gente conhece um lona e recentemente havia divertido. Segundo sua pouco de como a pessoa é, passado um ano em Loui- amiga Briane Caroline sua personalidade.” João, conforme a prosiana (EUA) em intercâm- Andreis Soares, 19 anos, bio de estudo. No quinto ele adorava brincar, fazer fessora Neka, deixará saudades para semestre de Relações Pú- piadas e rir. muitas pessoblicas, havia concluído “Não se im“Era uma pessoa as, por ter sido um curso para comissário portava com encantadora, cheia um menino esde bordo recentemente. quem estaEm sua página pessoal no va olhando. de planos e projetos, pecial, querido, doce e inOrkut, suas comunidades João aproum garoto muito teligente. “Era evidenciam o amor pelas veitava cada afetivo.” uma pessoa cantoras Britney Spears m o m e n t o . encantadora, e Madonna, assim como A d o r a v a a admiração pelo grupo dançar, curtia as festas cheia de planos e projetos, T.A.T.U e por Jay Vaquer, ao máximo, mas odiava um garoto muito afetivo. além de música eletrônica. bebidas e drogas.” Briane Ele estava pronto para Bárbara Mori – atriz da também comentou sobre a vida, fazendo uma trajetónovela Rubi – era sua pai- opção profissional de seu ria de continuar voando, xão, e balas de goma e ge- amigo. “Ele escolheu Rela- continuar vivendo o munlatina estavam entre seus ções Públicas por ser uma do”, lamentou. Hipertexto Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora de Jornalismo: Cristiane Os filhos da terra lembram o antes de uma Porto Alegre que festejou 237 anos Sindicato tem núcleo Acadêmico Por Raíssa Genro Um grupo de estudantes criou o Núcleo Acadêmico do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. Mais de 30 universitários participaram da reunião em 14 de março, no Sindicato, formando o novo núcleo. A reunião começou com o debate sobre o objetivo da iniciativa, que prevê a discussão e defesa da obrigatoriedade do diploma, bem como capacitação e encaminhamento de propostas sobre diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo, em discussão no Ministério da Educação. A idéia do Núcleo surgiu em reunião, em fevereiro, da direção do Sindicato com alunos da Famecos que estiveram no 16º Congresso Brasileiro de Estudantes de Comunicação Social (Cobrecos), realizado em janeiro. Laion Espíndula, aluno do Jornalismo da PUC, explica que, “além das discussões específicas queremos levantar a noção de categoria que será importante no futuro”. O encontrou contou com alunos da PUCRS, UFRGS, Unisinos, Ulbra e Santa Maria. A primeira atividade foi participar da passeata de 31 de março em defesa do diploma. O presidente do Sindicato, José Maria Nunes, louvou a iniciativa. Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Finger Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). Estagiários matriculados e voluntários: Gerente de produção: Rodolfo Soares Manfredini Editores: André Di Giorgio Mantese, Pedro Palaoro, Joyce Copstein e Mariana Pires. Editor de Fotografia: Bruno Todeschini e Camila Domingues. Redação: André Di Giorgio Mantese, Cássio Hübner Santestevan, Danielle Brites Rodrigues, Eduardo Silveira, Fernando Soares, Flávia Drago Gordim, Joyce Copstein, Júlia Schwarz Moreira, Júlia Souza Alves, Lorenço Oliveira Borba, Marcus Perez, Marina Sant’Anna de Oliveira, Mariana de Mattos Pires, Morgana Laux, Natalia Rech, Rodolfo Soares Manfredini, Shaysi Melate, Stéfano Aroldi Santagada, Tiago Kern do Amaral e Yasmine Santos. Repórteres Fotográficos: Bárbara Winckler Arena, Bernardo Ribeiro, Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Clarissa Leite Caum, Diogo Lucato Oliveira, Fernanda Vergara Grabauska, Guilherme Herz, Guilherme Santos, Henry Soares, Jonathan Gabriel Klippel Heckler, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado, Mariana Gomes da Fontoura e Paula Cunha Tanscheit. hipertexto geral 3 Porto Alegre, março-abril 2009 No olho do furacão em Canoas Por Eduardo Silveira O ex-secretário de governo da Prefeitura de Canoas, na administração passada, Chico Fraga, é o centro das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que relaciona empresários e políticos, acusados de irregularidades em licitações para fornecimento de alimentação escolar e realização de obras de infraestrutura, com recursos municipais, estaduais e federais, que foram iniciadas e estão paralisadas pelo fim da remessa das verbas. O ex-prefeito Marcos Ronchetti (PSDB) e seu mais próximo colaborador foram indiciados e tiveram bens bloqueados a pedido do MPF. Levantamento policial indica que Chico Fraga é detentor de um patrimônio constituído de 25 imovéis e uma dezena de veículos, registrados no seu nome, de familiares e terceiros. Segundo a Federal, os bens são incompatíveis com a renda declarada à Re- ceita Federal. As provas estão em documentos e diálogos telefônicos encontrados durante as investigações. As escutas em fevereiro de 2008 mostram que Fraga ligou para um dos seus interlocutores avisando que iria passar um imóvel adquirido para o nome de seu irmão Jorge Armando. A devassa policial na Prefeitura de Canoas iniciou em dezembro de 2007. O prefeito e o secretário de Governo foram acusados pelo MP por fraudar, entre os anos de 2005 e 2006, os processos de licitação para o fornecimento de merenda escolar na cidade. A investigação surgiu a partir da Operação Solidária que apontou desvio de 6 milhões de reais. Em gravações telefônicas, apareceram nomes de deputados federais e estaduais, que gozam de Foro privilegiado e só poderão ser processados com permissão do Supremo Tribunal Federal, que ainda não se pronunciou. Os desvios de recursos, que começaram com a merenda das crianças, teria chegado a licitações para obras de saneamento básico, construção de estradas e irrigação no Rio Grande do Sul, segundo a Operação Solidária da PF. Duas empresas de engenharia foram arroladas. Em setembro do ano passado, o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo, enviou um parecer, através do Inquérito Parlamentar 2741, autorizando a quebra do sigilo telefônico e de e-mail dos deputados federais Eliseu Padilha (PMDB) e José Otavio Germano (PP), além do exsecretário de governo de Canoas, Francisco Fraga. A deputada Luciana Genro (Psol) acredita numa articulação da corrupção de Canoas com a frade no Detran. “Esse esquema demonstra indícios de que o Estado do Rio Grande do Sul precisa de transparência nas suas relações”, disse. O advogado Ricardo Cunha, defensor de Fraga, garante que há apenas indícios contra seu cliente e ele vem respondendo todos os questionamentos levantados. O DIPLOMA É NOSSO Por Fernando Rotta Weigert A permanência da exigência do diploma para o exercício do jornalismo continua indefinida. Em 1º de abril, a questão estava na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF), mas foi adiada. O STF ainda não definiu a nova data para apreciação do tema. Desde 2006, depois de liminar do presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, não se faz mais necessária a formação acadêmica para trabalhar na área, regulamentada por lei em 1969. A discussão sobre o diploma começou em 2001, quando o Sindicato dos Rádios e Televisões de São Paulo, em conjunto com o Ministério Público daquele estado, entraram na justiça reclamando a inconstitucionalidade da exigência da formação acadêmica para ser jornalista. Segundo os autores da ação, a obrigatoriedade “fere a liberdade de expressão”. “Isso é uma falácia”, contesta o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sergio Murilo, “me mostre algum cidadão brasileiro que foi impedido de manifestar sua opinião devido à regulamentação profissional da categoria”, desafia. Em frente ao tribunal, cerca de 70 estudantes com dois tambores gritavam por um bem que ainda nem lhe foi concedido, o diploma. Vanessa Gonçalves, da Unimep, de Piracicaba, que viajou 15 horas até Brasília em um dos três ônibus que foram à Praça dos Três Poderes, estava indignada pela ausência de manifestantes. “A gente fez questão de vir de tão longe para defender algo tão importante. Nem jornalistas, nem estudantes, aqui de perto apareceram”. Em 31 de março, estudantes de todo o estado se reuniram, em Porto Alegre, para gritar em favor do diploma: “jornalismo só com diploma”. Um olhar para dentro do corpo humano Exposição itinerante que chegou a Porto Alegre mostra os seres humanos por baixo da pele Guilherme Herz/ Hiper Por Júlia Souza Alves e Morgana Laux As pessoas atônitas ou fascinadas diante do espectro de si mesmas “Estudos mostram que tomar café da manhã pode melhorar a memória. Mamãe estava certa o tempo todo”. Essa é a apenas uma das placas que compõe o conjunto de dicas da exposição Corpo Humano Real e Fascinante, localizada no Centro de Convenções do BarraShoppingSul, no período de 7 de março a 10 de maio. São 16 corpos e 225 órgãos verdadeiros expostos e acessíveis ao público. A forma utilizada para a preservação desses corpos e órgãos impressiona os visitantes. A polimerização, técnica desenvolvida a partir da evolução da mumificação dos cadáveres, é considerada por espectadores da ciência como uma verdadeira “arte anatômica”, de aparência e textura plástica. Com esse recurso, pode-se dizer que a mostra é totalmente crua, apresenta secções transversais do corpo, veias, cérebros e sistemas complexos, que não parecem complicados aos olhos do público, de diversas faixas etárias, que recebem orientação de monitores. Curiosamente, os olhos são falsos nos corpos. Em um deles, vê-se o único par verdadeiro, em uma criança de cinco anos. A monitora esclarece “o tamanho dos olhos não muda entre a infância e a idade adulta, dessa maneira, os olhos são maiores em comparação ao cérebro, dando a impressão de que eles estão com os olhos arregalados”. Outras surpresas despertam a atenção do público que ganha espaço para esclarecer suas dúvidas e receber explicação por meio de textos rápidos ou comentários de especialistas que circulam pelo ambiente. Os visitantes também percorrem uma sala especial com fetos das principais fases embrionárias, isolada com a intenção de respeitar questões éticas e religiosas. “Me surpreendi com o ser humano. Fiquei em dúvida se realmente era um ser humano. Só não me choquei com os fetos porque a monitora garantiu que eram decorrentes de fatalidades espontâneas”, comenta Lorena Laux, 60 anos. Os órgãos saudáveis fazem um contraponto aos prejudicados pelo hábito do fumo. Pulmões doentes agredidos por enfisema geram o sentimento de conscientização aos que observam com atenção a mensagem transmitida por uma urna envidraçada contendo cigarros abandonados pelo público. A ação estimula o anti-tabagismo e desperta uma reação dos visitantes. Corpo Humano Real e Fascinante conquista também aprova- ção e admiração de profissionais da área da saúde. Luciano Scopel, 22 anos e estudante de medicina, qualifica a exposição como a melhor aula de anatomia de sua vida: “Não é apelativa e sim essencial, pois quanto mais se conhece o corpo, melhor se entende e se previne as doenças. Ainda pretendo trazer a minha família aqui”, diz o jovem empolgado. Para Eduardo Buttelli, 40 anos, médico cardiologista, a amostra é um verdadeiro espetáculo: “Concede ao público uma ideia geral e correta de nossa espécie. Nem na faculdade pude observar tão bem o corpo. Mesmo para os leigos, é interessante e de fácil entendimento.” Apesar das referências e do alto número de visitações (450 mil em São Paulo, em 2007, e 220 mil no Rio, ano passado), Corpo Humano Real e Fascinante não foi autorizado pelo presidente Hugo Chávez de expor na Venezuela. A origem dos corpos cria dúvidas e aguça o interesse mórbido das pessoas. Boatos dizem que os cadáveres são de criminosos executados na República Popular da China. Segundo a assessoria de imprensa do evento, todos os indivíduos foram acometidos de morte natural, “optando” por participar de um programa de doação dos corpos em benefício da ciência e educação. 4 geral Porto Alegre,março-abril 2009 Nova paisagem no Centro EXCESSO DE ÔNIBUS PREOCUPA Espaços vazios dão início à revitalização da zona central de Porto Alegre Bernardo Ribeiro/ Hiper Por Stéfano Aroldi Santagada A prefeitura pretende iniciar ainda esse ano a revitalização da Praça 15 de Novembro e de seu entorno. Possibilitada pela transferência dos camelôs para o Centro Popular de Compras (CPC), o Camelódromo, a reforma faz parte do processo de revitalização do Centro da capital. Pelo projeto, a praça será reformulada e o Chalé, ampliado. Em março, o prefeito José Fogaça assinou o termo de aditamento de contrato de permissão de uso do espaço. Segundo o acordo, os atuais permissionários do local ficarão responsáveis pela restauração e ampliação do Chalé, que ganhará um novo salão com cafeteria e deques externos. Além disso, o terraço e o segundo piso serão liberados para uso exclusivo de mesas, ampliando a capacidade de atendimento em 50%. As melhorias no entorno do estabelecimento ficarão sob responsabilidade do poder público. O plano prevê ainda o alargamento de calçadas e a abertura de vias para o trânsito de veículos, como na Marechal Floriano e José Montaury. Em frente ao Mercado Público, no Largo Glênio Perez, um deque será instalado para a colocação de mesas, incentivando o lazer e o turismo no local. Os projetos integram o programa O deslocamento dos camelôs situados na Praça XV para o Centro Popular de Compras facilitou a circulação no local “Viva o Centro”, desenvolvido desde 2005 pela prefeitura e que visa o resgate e a reabilitação do Centro Histórico de Porto Alegre. Uma das principais obras realizadas até o momento pelo programa foi a construção do Camelódromo. No espaço, inaugurado em fevereiro, estão reunidos os 800 ambulantes que ocupavam e tumultuavam as vias centrais da cidade. Para a prefeitura, o maior desafio agora é manter os antigos camelôs longe das ruas. Glenio Bohrer, arquiteto e gerente do “Viva o Centro”, confia no envolvimento da sociedade para o êxito do projeto e no engajamento dos vendedores para o sucesso do CPC. “Os camelôs saíram das ruas por adesão. Eles estão interessados que o camelódromo dê certo”, garante o arquiteto. Ainda para esse ano, em parceria com o programa Monumenta do Ministério da Cultura, o município pretende investir aproximadamente R$ 3 milhões na reforma da Praça da Alfândega, que receberá nova iluminação, novo paisagismo e pavimento – reconstituindo o antigo traçado dos canteiros. A obra, já licitada, inclui ainda a abertura controlada de veículos na rua dos Andradas, no trecho entre a General Câmara e a Caldas Junior. Também estão previstas a reforma da Praça da Matriz, a revitalização da rua General Câmara, a conclusão das obras de urbanização da praça Revolução Farroupilha – em parceria com a Trensurb – e a inauguração do Centro Cultural da Caixa, no antigo Cine Imperial. Com essas intervenções, o governo municipal espera mobilizar a sociedade e atrair novos investimentos para o Cent ro. “A expectativa é que essas obras gerem interesse para outras obras”, imagina Bohrer, citando como exemplo o plano de reforma da Galeria Chaves, uma iniciativa sob responsabilidade do setor privado. A tradição popular passou dos quintais cheios de plantas, que a cada sintoma indicava um chá, para a oficialização de seus efeitos curativos e implantação da fitoterapia pelo SUS na rede pública. Medicamentos fitoterápicos são aqueles preparados a partir de plantas, ou parte delas, com efeito preventivo ou de cura à doença. A implantação da fitoterapia como prática médica significa a pesquisa de produtos até serem considerados eficazes e seguros, garantido o controle de produção e qualidade. A indústria farmacêutica já adota a produção de medicamentos com base de ervas e plantas medicinais. Nos anos anos 80, a consagração popular e a tradição passaram para a medicina oficial. Um dos primeiros fitoterápicos distribuídos na rede pública foi o Bactrim, que tem dois princípios ativos, o sulfametoxazol e trimetoprima. É encontrado nas farmácias. O agente de pressão para que esses medicamentos chegassem às drogarias foi a própria população, pelo alto preço dos produtos químicos. Mercado de ervas No Mercado Público, em Porto Alegre, há bancas que vendem chás e ervas de todos os tipos. A promessa de antiinflamatórios naturais, como a arnica, malva, tanchagem (também conhecida como transagem), faz pessoas, como o vendedor de plantas medicinais Cláudio Daniel, utilizaremse delas sem procurar um especialista no caso. “Quando a gente procura um médico, ele receita um remédio que vai fazer a gente ficar bom de uma coisa e estragar outra”, brinca. Ele crê mais na tradição passada de família. Lair Groff diz que muito do que sabe sobre os chás que vende, aprendeu com o próprio freguês. Ele sempre tem sugestões prontas para fazer um chá milagroso. Para quem sofre de pressão alta, Outro problema a ser enfrentado pelo poder público é a grande concentração de ônibus nas ruas centrais de Porto Alegre. Hoje, de acordo com a prefeitura, são 33 mil viagens de coletivos que chegam ao Centro diariamente, com apenas 30% de ocupação. Os congestionamentos na Avenida Salgado Filho, por exemplo, e nas proximidades da Estação Rodoviária já fazem parte do cotidiano porto-alegrense. Para contornar a situação que ajuda na degradação da área, a prefeitura aposta na implantação dos Portais da Cidade. De acordo com o projeto, orçado em cerca de R$ 300 milhões, serão construídos três terminais que ligariam os ônibus procedentes dos bairros ao Centro. As estações seriam edificadas na Cairú (Zona Norte), na Azenha e nas proximidades do estádio Beira-Rio. O plano também prevê a construção de um túnel subterrâneo na avenida Borges de Medeiros e de um viaduto próximo à rodoviária, ligando a Rua da Conceição a Júlio de Castilhos. A intenção da prefeitura é iniciar as obras em 2010 e financiá-las por meio de uma Parceria Público-Privada. Diogo Lucato/ Hiper Implantação da fitoterapia pelo SUS Por Yasmine Santos hipertexto folha de chuchu ou casca de noz pecã é infalível. Mamica de cadela com tanchagem cura gastrite. Em hematomas, basta passar arnica. Pó amargo, pó ferro e pixirica são recomendados aos diabéticos. Se o problema é colesterol alto, há mais de 15 ervas. “Chá, via oral, não tem contra-indicação”, garante. Restrições O médico Mario Biancamano se mostra incomodado quanto ao uso de fitoterápicos sem a estandardização – padronização no processo de elaboração para garantir a eficácia e segurança. “Onde há a estandardização, tem um controle maior. Mas quando é colocada água quente em cima de uma planta, são extraídas substâncias que você não sabe o que podem causar. A plantas secas ou verdes provocam reações diferentes”, pondera. A tradição popular passada ao longo das gerações sobre o uso de chás não alerta sobre como deve O uso popular provocou a implantação dos fitoterápicos pela rede pública ser preparado para servir como medicamento. Assim como Lair Groff acredita não haver mal algum, Mario Biancamano discorda e exemplifica: “Pela sabedoria popular, a babosa, se colhida depois da chuva, pode ser tóxica. No chá, outros princípios podem ser ativados.” Biancamano cita também o jambolão, utilizado pela cultura popular no tratamento da diabetes. “A nossa faculdade de farmácia da Federal fez uma pesquisa tentando identificar os princípios ativos encontrados no jambolão. Nenhum deles conseguiu ter uma ação. O que acontece é que a população usa, pode funcionar por um sinergismo de ação daquela planta, mas isso não tem como estandardizar. Poder ser bom para um, não para outro”, alerta. Constatado pela Organização Mundial de Saúde que cerca de 80% da população usa e confia nos produtos medicinais de origem vegetal, o SUS acredita que possa ser uma alternativa para reduzir custos no sistema público. hipertexto transporte 5 Porto Alegre, março-abril 2009 MOBILIDADE Fotos Bruno Todeschini Oskar Coester, o criador do Aeromóvel, em frente a unidade do transporte estagnada no Gasômetro, em Porto Alegre Aeromóvel terá trecho experimental na PUC A partir de agosto, começam os ensaios pelo campus Por Marina Sant’Anna de Oliveira Mais cedo do que imaginam, os alunos da PUCRS serão surpreendidos com uma inovadora alternativa de transporte ambientalmente sustentável. O projeto do Aeromóvel, implantado no Campus da Universidade, foge das ruas movimentadas e ganha as alturas. Com estilo aerodinâmico, produzido em alumínio (razão de sua leveza) e com vastas janelas de vidro, este "trem aéreo" terá linha experimental concluída em agosto próximo pela empresa Aeromóvel Brasil S/A (ABSA). O projeto deste sistema de mobilidade urbana simples, econômico e não poluente é do técnico aeronáutico gaúcho Oskar Coester que realizou os primeiros testes, em Porto Alegre, em 1978. A tecnologia foi exportada para Jakarta, Indonésia, onde funciona com sucesso desde 1989. O Aeromóvel servirá para deslocamento dos acadêmicos, professores e funcionários no interior do campus central. A linha do Aeromóvel terá quatro estações no campus. Partirá da Faculdade de Engenharia, prédio 30; ultrapassando em tempo estimado de um minuto a Avenida Ipiranga sobre o Arroio Dilúvio, chegando ao ponto final, no Centro Clínico do Hospital São Lucas, próximo ao Complexo Esportivo da PUCRS. Como o trajeto é curto e a velocidade de até 40 quilômetros por hora, as pessoas ficarão em pé. No interior, haverá somente assentos preferenciais para idosos, gestantes ou portadores de deficiência. O veículo terá apenas um carro, com a capacidade para 100 passageiros. A diferença do Aeromóvel para o trem convencional é sua locomoção silenciosa. Por não ser movido a gasolina, não polui o ar. No lugar do tradicional motor, causador do conhecido ruído de trem, há um motor elétrico, fonte de vibração que se encontra afastada do veículo, em módulos facilmente isoláveis. Propulsores pneumáticos a gás natural, ou energia elétrica, que controlam pressão, direção e velocidade do ar (pressurizado por ventiladores estacionários), darão movimentação ao veículo, resultando na viagem silenciosa e sem impactos ambientais. Outro benefício do sistema Aeromóvel é o compromisso com a segurança. Por exemplo: se dois veículos viessem a se aproximar, o ar comprimido entre as placas de propulsão atuaria como um colchão de ar, impedindo o choque e o possível descarrilamento. Segundo o professor de Engenharia e coordenador institucional do Projeto Aeromóvel na PUCRS, Edgar Bortolini, estiveram envolvidos na primeira etapa de desenvolvimento mais de 100 professores e estudantes bolsistas da PUCRS e UFRGS. O traçado experimental, com viagem de dois minutos, "será um pequeno trecho de 100 a 150 metros, que será utilizado para a realização de ensaios na estrutura", diz Bortolini. A linha regular, prevista para 2010, terá aproximadamente 1.300 metros, com uma duração horária de quatro minutos, sem incluir o tempo de intervalo em cada estação. Serão investidos, até o final da primeira fase de experimentos, cerca de R$ 3,4 milhões. Não foi determinado ainda se haverá ou não cobrança de tarifa para a utilização do veículo. Oskar Coester, um inventor persistente Enquanto a Indonésia já ade- com isto, a preservação do meio riu ao uso do Aeromóvel, em ambiente. Depois de trabalhar 13 Porto Alegre, o protótipo desse anos na Varig, o técnico em aeromeio de transporte e sua linha náutica e fundador da empresa piloto estão prontos desde 1982, Coester Automação S.A., se fez a porém nada mais aconteceu. Ain- seguinte pergunta: por que não da assim, o criador da invenção, percorrer mil quilômetros em meOskar Coester, idealiza um dia nos tempo que dez quilômetros concretizar o seu plano. nos grandes centros urbanos? Era Com aproximadamente um 1963 e ele queria resolver o proquilômetro, ao longo da Aveni- blema do espaço físico e reduzir da Loureiro da Silva, em Porto o peso morto dos veículos. Onde Alegre, próximo achar espaço? A a Usina do Gasôidéia era arrumar Ele criou uma via expressa metro, o protóexclusiva elevada, tipo está parado um trem-aéreo fora do alcance há anos. Apesar não poluente de quaisquer obsde ter sofrido detáculos das ruas predações de pie avenidas, a um chadores, está em ótimas condições de uso. “É só baixo custo, colocando os veículos acima do tráfego congestionado. acionar”, garante Coester. Um homem simples e cheio de Assim, surgiu a expressão "trem ideias, ele foi capaz de inovar no aéreo". Como fazer para evitar o sistema de transportes e de mobi- excesso de peso morto e garantir lidade urbana em todo o mundo, a principal função, em conceito mas em algumas capitais brasilei- de aeromóvel, a de transportar ras, como Porto Alegre, não teve gente? Era preciso construir um sucesso. Mesmo assim, nunca se veículo leve. Em seguida, veio o grande cansou de lutar a favor da humanidade. Sua invenção é prova desafio: fazê-lo andar ecologicadisto. Coester acredita que o valor mente, mas com a mesma capadas coisas está na capacidade de cidade das tecnologias correntes. compreender o novo em nossas Foi simples como o princípio do vidas, deixando a arrogância e o barco à vela. Em vez de colocar a vela em cima e esperar o vento individualismo de lado. Muitas pessoas desconhecem soprar, a colocaram embaixo. Em o que é um Aeromóvel. O novo 1977, veio a confirmação. O conassusta e pode tirar o interesse sumo de energia era viável e para de conhecimento das pessoas, percorrer um quilômetro foram pensar desta forma, para Coester, gastos apenas 40 watts de eneré burrice. “Sempre foi assim. Tu gia. O projeto Aeromóvel estava queres coisa mais irracional do pronto para se mostrar ao mundo. que as guerras? Então, as pessoas "É importante lembrar que a linha fazem coisas difíceis de acreditar. piloto não é obra realizada com Eu acho que as mudanças, real- dinheiro público. Isto aqui fui eu mente, vêm com a crise. Situações que paguei", desabafa Coester, na quase desesperadoras fazem visita ao protótipo. Na luta pela aceitação de pensar em mudar. Infelizmente é assim. Eu não tenho dúvida que seu projeto no Brasil, ele entrou a gente terá que mudar, porque em contato com o ministro de continuar nesse ritmo não dá", Ciência e Tecnologia, entre o lamenta o empresário pelo atraso 1985 e 1987, Renato Archer, da mentalidade, não só dos brasi- que audaciosamente lhe propôs: "por que nós não pensamos em leiros, mas do mundo todo. Muitos fatores impediram o fazer um Centro Tecnológico de sucesso do Aeromóvel no País, Mobilidade Urbana lá no Rio como a falta de investimentos Grande do Sul, envolvendo unifinanceiros e de incentivo gover- versidades, empresas privadas e namental para este meio como o poder público?” Surgiu, então, transporte público. A viabilidade a cartada final que contribuiu técnica e a questão econômica já para o início de diálogos entre foram comprovadas, o projeto professores e alunos de diversas está apto a ser implantado. É áreas, ganhando a oportunidade considerado um planejamento de poderem estar por dentro do racional e gasta menos da metade projeto Aeromóvel e estudarem da energia de um ônibus. Além todos os aspectos técnicos que de tudo, é elétrico, garantindo, envolvem o transporte em si. 6 variedades hipertexto Porto Alegre, março-abril 2009 Por Natália Rech Fotos Júlia Schwarz/ Hiper ANTISSOCIAL Brasil afora A Feira do Peixe, junto ao Mercado Público, é porto-alegrense. Porém, na montagem do complexo de sua última edição, teve a mãozinha de várias partes do Brasil, inclusive do Nordeste. A falta de operários qualificados fez com que gente, como Silvidio Ramos Santos, viesse buscar aqui o dinheiro que falta na Bahia, seu estado natal. Vindo de São Paulo, diz ter adorado o Rio Grande do Sul. A sua estadia aqui foi curta, porém, no final da obra, ele recomeça uma longa jornada. O operário quer agora construir sua própria vida, nem que pra isso viaje Brasil afora. Fotos Guilherme Herz/ Hiper Torcidas entusiasmadas acompanharam o desfile apresentado pelos repórteres do programa Patrola, da RBS TV Camelódromo fashion Centro Popular de Compras faz seu primeiro desfile de moda, antes do décimo Donna Fashion Por Júlia Schwarz Uma guitarra na praça Com apenas guitarra, amplificador e bateria, Geraldo Lopes faz do público que circula pela área central seu auditório. Músico eclético com 40 anos de carreira, quatro CDs gravados, encanta e canta todos os dias na Praça Uruguai. Os admiradores o acompanham, tal como o flautista de Hamelin a tocar Jair Rodrigues e Roberto Carlos. Segundo o povo, “quem canta, seus males espanta”. Sobre esses males, Lopes prova que pouco sabe. O sorriso no rosto é a prova. Antônio Conselheiro A ronda da morte é sua história de vida. F.P. perambula pela Capital, distribuindo folhetos de sua igreja. Conta a sua vida permeada pelo cortejo da morte. Garante que há um ano teve mais de 10 tipos diferentes de cânceres. Atualmente, se diz curado de todos e atribui o feito a fé em Deus. Figura carimbada, esse “Antônio Conselheiro” urbano faz convites a todos para comparecer às missas diárias e afirma: “Eu fui curado, juro. Você também pode”. Café amargo Eroldina Ribeira vende café há 15 anos no Centro da capital. No bairro Sarandi, mora com mais quatro famílias, todas de vendedores ambulantes. Seus clientes, os mesmos há anos, já viraram amigos. Por isso, percebem seu sorriso amargo nos últimos dias. Acontece que desde que abriu o Camelódromo, no Centro, os filhos foram trabalhar lá e os negócios não vão nada bem. Além de assegurar seu ganhapão, ainda tem outro exercício: driblar a fiscalização da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (SMIC) em suas rondas, na Praça da Alfândega. Centro Popular de Compras (CPC) também teve seu desfile de modas. Por uma hora e 15 minutos, dia 31 de março, 70 modelos, escolhidos na comunidade local pelo olheiro Ademir Gewher, vestiram a moda e os sonhos escondidos atrás do balcão de cada estande. O frisson entre os espectadores era o mesmo de qualquer desfile de moda e não se resumia à expectativa de conhecer as tendências populares pesquisadas pela produtora de moda Isabela Tonin. À beira da passarela, havia espaço apenas para autoridades e familiares dos modelos. Espremidas no pequeno espaço e ansiosas pela estreia de filhos, sobrinhos ou amigos, selecionados e treinados dias antes, algumas pessoas nem sabiam que o evento era um desfile de modas. A professora de educação física Val Soares, ex-jurada de concursos de beleza, acreditava que iria torcer pela sobrinha na disputava do título de ‘rainha do Camelódromo’. Ao descobrir a verdadeira natureza do evento, reclamou da pouca divulgação da primeira exibição de moda do estabelecimento. “Importante para Porto Alegre por tirar essa gente do comércio de rua”, comentou. A estudante Ariane Pasinato sabia bem porque estava ansiosa. Tinha dois motivos: a estreia da irmã como modelo e a sua, como expectadora de um evento de moda. Argumentou que o desfile é válido por atrair a população ao Camelódromo, promovendo a circulação de pessoas entre as bancas. Serve também para divulgação dos produtos aos clientes, que podem reconhecer melhor a moda nas roupas populares. Gerente da construtora Verdi e responsável pela administração do Centro Popular de Compras, Noedi Casagrande, explicou que a proposta é divulgar a moda exposta e produzida pelos próprios lojistas. Segundo ele, as confecções vendidas por cerca de metade dos comerciantes locais são de produção própria “o que torna alguns itens únicos”. Para aprimorar as criações, os vendedores fizeram recentemente uma excursão às lojas da rua 25 de Março, em São Paulo. Em breve, terão oportunidade de realizar cursos de venda, criação e produção de moda de vestuário, calçados e assessórios. Os apresentadores do programa Patrola (RBS TV), Rodaika Daudt e Ico Thomas, comandaram o desfile que teve música pop e gritos dos familiares dos modelos a cada entrada na passarela. A intensidade da vibração lembrava um estádio de futebol. A torcida não era apenas pela exibição das peças e dos corpos, mas o sonho de prosperidade que se anunciava. Para o lojista, a possibilidade de ter reconhecimento e aumentar suas vendas; pais e amigos dos modelos, o glamour de uma profissão. O secretário municipal da Indústria e Comércio, Idenir Cecchin, destacou a função integradora do desfile na medida em que filhos servem de manequins para as produções dos pais, além da experiência empreendedora. O fato só é possível com a instalação destes comerciantes no CPC, longe das intempéries das ruas. Independentemente da demora na entrega do Camelódromo, a construção foi embargada três vezes, alguns sonhos de prosperidade desfilados na passarela se mostraram viáveis. A comerciante Janete Conceição reconheceu que estava apreensiva quanto ao futuro dos negócios na inauguração do CPC. Depois do desfile, admitiu já ter obtido lucros suficientes para expandir sua banca. Setenta modelos vivem dia de glória hipertexto variedades 7 Porto Alegre, março-abril 2009 O glamour da moda Donna em Porto Alegre Lívia Stumpf/ Hiper Entre os dias 1º e 5 de abril, o Shopping Iguatemi de Porto Alegre recebeu pelo décimo ano seguido o maior evento de moda do Estado, o Donna Fashion Por Shaysi Melate A 10ª edição do Donna Fashion Iguatemi, principal evento de moda do Rio Grande do Sul, utilizou o tema ‘Ano da França no Brasil’ para apresentar ao público as tendências do outono-inverno 2009. Além da inspiração francesa, outras referências de estilo estiveram presentes de 1º a 5 de abril no Shopping Iguatemi. O país que deu origem a renomados estilistas, como Coco Chanel, Yves Saint Laurent e Christian Dior, é o berço das grandes inovações da moda. Quem compareceu à primeira edição do Donna Fashion deste ano presenciou o estilo francês na decoração do ambiente e na passarela, em releituras de fortes tradições do vestuário parisiense. Tendências Nos desfiles, viu-se o branco e o preto predominarem nas modelagens elegantes. Intensas representantes da moda francesa, ambas as cores, neutras e práticas, permanecem sendo referência de sofisticação. Unidas ou isoladas, caracterizaram a coleção cheia de contrastes da Colcci, que teve como convidada especial a atriz gaúcha Juliana Didone. O poder do preto foi reforçado pela grife Cori, com muitas peças de alfaiataria escuras, e pela vencedora do concurso Next Generation, Carla Bal, estudante de moda, que apresentou uma coleção só de roupas pretas. Outras sugestões apareceram, como o estilo boyfriend, que consiste em roupas levemente masculinas, jeans soltos e paletós de ombro largo. A modelo Marcele Bittar, convidada da Bob Store, abriu o desfile vestindo uma calça do gênero. Ainda assim, o jeans skinny (calça bem justa, com corte reto até o tornozelo) mantém seu lugar garantido no guarda-roupa por mais uma temporada. Paola Deodoro, editora de moda do jornal Zero Hora, ao falar dos opostos estilos de jeans, afirmou que “todos os movimentos da moda funcionam assim: usam uma ideia à exaustão, aí vem uma virada muito grande”. Comentou também que a tendência boyfriend ganhará destaque no inverno. “É a mais forte e a mais nova”, explicou. O tricô pesado, como o blusão de lã, também ganhou espaço. Linhas grossas compõe casacos que podem terminar até mesmo no pé, como mostrou uma peça da TNG, utilizada pela atriz Fernanda Machado. A pantalona voltou com tecidos refinados em calças sociais, associando classe a conforto. A estilista da Le Lis Blanc, que convidou a atriz Letícia Birkheuer para o desfile, confirmou a referência em sua coleção, com vários modelos sofisticados, além de tons variados. O xadrez, característico de todo inverno, não é nada parecido com aquele dos anos noventa, da época grunge. Agora, apresenta misturas bem femininas, ao estilo francês. O desfile da marca Lua, influenciado pelas cidades Paris, Londres e Barcelona, trouxe um O Donna Fashion teve desfiles de 22 coleções dedicadas ao outono e inverno toque romântico aos tecidos. A Renner reforçou uma ideia que já se observa no visual dos porto-alegrenses: lenços. Com diversas cores e estampas, é o acessório da estação e pode ser utilizado tanto por mulheres quanto por homens. O ator Eriberto Leão, que usava o adereço, recebeu muitos aplausos ao entrar na passarela. Na moda masculina, a Spirito Santo chamou atenção. Seus convidados, todos músicos, como Frejat, desfilaram com roupas modernas e descontraídas. O destaque vai para a camiseta cuja estampa é o rosto do presidente norte-americano Barack Obama, o funk brother, segundo a grife. Vai virar hit. Durante os cinco dias de evento, 22 coleções foram apresentadas na passarela montada no 5º andar do estacionamento do shopping Iguatemi. Criado há oito anos, o Donna Fashion mostrou aos gaúchos as novidades em moda e estilo para o inverno que está chegando. Que venha o frio. Começam os eventos do Année de la France au Brésil Por Shaysi Melate Este é o ano certo para conhecer os encantos da cultura francesa. A iniciativa dos governos francês e brasileiro em promover o Ano da França no Brasil é uma retribuição à homenagem feita ao nosso país pela França em 2005. Assim, ao longo de 2009, o Brasil sediará eventos de grande, médio e pequeno portes em todo seu território, cujos objetivos são apresentar uma França atual, diversa e aberta. No Rio Grande do Sul, o Donna Fashion Iguatemi inaugurou o projeto. Mais de dois milhões de franceses foram mobilizados pelo Ano do Brasil na França, há quatro anos, além da atenção que o evento ganhou nos principais veículos de comunicação da mídia francesa durante boa parte do ano. Juremir Machado da Silva, professor da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), esteve em Paris em 2005. Ao recordar a viagem, comenta que foi montada uma praia brasileira na beira do Rio Sena, com o característico som do samba envolvedo o cenário: “Eu lembro que foi muito intenso, só se falava no Brasil”. O projeto apresentou bons resultados, como o aumento de turistas franceses no Brasil em 27% e 450 milhões de dólares em produtos brasileiros exportados para a França. A ideia de intercâmbio cultural não só aproxima as relações econômicas e políticas entre os países, mas também liga as populações envolvidas, as quais abrem seus horizontes ao influenciar uma a outra com suas diferentes culturas. Desse modo, através de uma programação cultural e cooperativa de qualidade, o evento objetiva aperfeiçoar e consolidar a presença da França no Brasil, valorizando a parceria franco-brasileira em ascensão. Oficialmente, o Ano da França no Brasil está previsto para acontecer de 21 de abril a 15 de novembro de 2009 e será financiado por ambos os países. A programação gira em torno de três eixos. O primeiro é a França hoje, com suas criações artísticas, inovações tecnológicas, pesquisas científicas, debates de ideias e dinamismos econômicos. O segundo, a França diversa, com suas diferentes regiões, culturas e costumes. O terceiro, a França aberta, que busca mais parcerias franco-brasileiras. O projeto, que foi anunciado em 2006, consiste em mostras, palestras, espetáculos, atividades culturais, encontros universitários, científicos e comerciais. Porto Alegre sediará eventos como o Seminário Malraux e a exposição fotográfica Reflexio, ambos no Santander Cultural. Os 100 Anos de Arte na França, no Margs, apresentará pinturas de Manet, Van Gogh, Monet, Picasso, entre outros. A Feira do Livro receberá escritores, pensadores e intelectuais franceses, além de grandes obras, tanto clássicas como atuais, da literatura francesa. Ronan Prigent, adido cultural da França em Porto Alegre, acredita que o evento representa a compatibilidade que sempre existiu entre os dois países. Para ele, seu país influencia o Brasil “sobretudo no pensamento, na cultura, nos estudos”. E conclui: “É um momento bom para que as relações voltem a ser baseadas no que realmente tem valor, que é a inteligência”. 8 ciência Porto Alegre, março-abril 2009 No caminho de Darwin hipertexto Fotos Mariana Fontoura/ Hiper Brasileiro refez a trajetória do naturalista em 2008 Por Mariana Pires ver a marca da descendência com modificação em cada animal das Há 178 anos, na manhã de 27 ilhas. As espécies relacionadas de dezembro, partia de Plymoun- como lagartos, tartarugas, serth, Inglaterra, o H.M.S. Beagle, pentes ou pássaros eram muito Luciana M. Lobo semelhantes e, ao “navio de sua majestade”, para expedição mesmo tempo, clade mapeamento ao ramente distintas de redor do mundo. Na local para local. viagem que durou Para Grazziotin, cinco anos, estava biologia é evolução Charles Darwin, nae o trabalho de Daturalista autor da Terwin, como sua vida, oria da Evolução, que são uma aula de fazer desenvolve o princíciência. “Detalhista e pio da descendência meticuloso, tentancom modificação e do responder todas Felipe Gobbi Grazziotin a explicação para a as críticas, buscando diversidade da vida na terra ativamente todos os pontos fracos através da seleção natural (onde e discordantes dentro da hipóteo mais adaptável ao ambiente se formulada, Darwin viajou e sobrevive). coletou dados por cinco anos e Darwin percorreu ao redor do passou 23 escrevendo sua obramundo, passando pela América prima. Dessa forma, subverteu o do Sul, onde esteve no Brasil, e pensamento popular da época ao pelo Oceano Pacífico, nas Ilhas de não acreditar em um ser divino Galápagos. Nesta última teve suas que molda cada uma das espécies melhores idéias de pesquisa. Na terrestres, e explicou a variação época, com 22 anos, o britânico dos organismos através de leis deixou uma teoria que seria discutida pelos próximos 200 anos e levou um biólogo brasileiro a refazer em 2008 seu trajeto. Felipe Gobbi Grazziotin, formado em Biologia, já trabalhou com plantas, bactérias e verNo ano de seu bicentenário, tebrados. Hoje faz doutorado Charles Darwin recebe uma hocom ênfase em Zoologia, na menagem no Museu de Ciência Universidade Estadual Paulista. e Tecnologia da PUCRS. A expoAs pesquisas sobre serpentes o sição “(R) Evolução de Darwin” levaram a diversos arquipélagos, reconstitui o barco H.M.S Beagle, entre eles, Galápagos, no Pacífico. onde o naturalista viajou durante Em 2006, seu orientador Hussam cinco anos com a frota inglesa, Zaher, do Museu de Zoologia da fazendo suas coletas sobre botâUSP, estabeleceu que deveria nica, a evolução e as etapas desse estudar a herpetofauna (fauna de mapeamento. répteis e anfíbios) no Equador. O Aberta em 25 de março, a exprojeto financiado pela Fundação posição permanece até dezembro. de Amparo à Pesquisa do Estado Junto são promovidas palestras, de São Paulo e aprovado pelo debates e conferências. Dividida Parque Nacional de Galápagos e em “A Viagem do Beagle”; “A OriFundação Charles Darwin, que gem da Vida”; “A Evolução”; “A fiscaliza e desenvolve pesquisa no Biodiversidade” e “A Vida e Obra arquipélago, coletaria serpentes de Darwin”, a exibição mostra as das 13 ilhas. A investigação visa origens e pesquisas do pensador. compreender as relações evoluAo entrar no museu, uma tivas entre elas e as serpentes do réplica de nove metros de comcontinente, assim como estudar o primento e 12 metros de altura processo de diferenciação dessas do Beagle é avistada. Segundo espécies nas distintas ilhas. o coordenador da exposição, Em junho de 2008, Grazziotin Luiz Felipe Scolari, é uma cópia e 12 tripulantes partiram no barco fiel, realizada pelos próprios Queen Mabel, uma pequena trai- funcionários do MCT. O painel neira de 14x5 metros, saindo da eletrônico com todo o percurso Ilha de Santa Cruz, Porto Ayora. de Darwin está ao lado de outro Igual a Darwin, as condições de com um mapa detalhado da Ilha pesquisa não eram muito favo- de Galápagos. A cabine do naturáveis e todos dormiam em alto ralista nos cinco anos de pesquisa mar, nos cômodos do barco equi- também foi reproduzida, com a pado também com um pequeno rede em que Darwin dormia, em laboratório. O que mais surpreen- cima de uma mesa de madeira, deu o biólogo, em Galápagos, foi totalmente desprovida de con- naturais”, esclarece. Falar de Teoria da Evolução é se referir a Charles Darwin. Quase dois séculos após se constata a contribuição de outros pesquisadores que explicaram e corrigiram alguns pontos do estudo evolutivo. A Teoria da Evolução, como qualquer pesquisa científica, não está pronta, é sempre sujeita a reformulações e reinterpretações baseadas em novas evidências. Grazziotin considera que o principal empecílio para se acreditar na evolução está na dificuldade de vê-la no dia-a-dia e no bloqueio de alguns preceitos religiosos. “Infelizmente ainda falta muito tempo para que a evolução seja completamente aceita e compreendida pela população. Mesmo assim o processo evolutivo acontece todos os dias, nos hospitais, por exemplo, a cada momento necessitamos de antibióticos mais potentes porque a população bacteriana evolui e fixa genes para resistência”, completa. A reprodução de Darwin, exposta no Museu da Pucrs, é tão fiel que assusta O H.M.S Beagle aporta em Porto Alegre forto e espaço. Há também cartazes e jogos interativos explicando a Teoria da Evolução e a Seleção Natural. No segundo andar do museu, é possível encontrar o próprio inventor, sentado em seu escritório, ao redor de livros. O corpo do boneco de Charles Darwin, constituído basicamente de sucata, recebeu um toque final com próteses dos pés e das mãos vindas dos Estados Unidos. A veracidade chega a assustar. O espaço está aberto à visitação de terça a domingo, das 9h às 17h, na Avenida Ipiranga 6681. O ingresso geral custa R$ 12 e para crianças, idosos, estudantes e professores, R$ 9,00. Réplica do barco em que Darwin pesquisou espécies durante cinco anos Uma péssima impressão do Brasil Após passar por Fernando de Noronha e pela Bahia, em 1° de abril de 1832 o navio H.M.S Beagle chegou ao Rio e lá permaneceu por três meses. O naturalista Charles Darwin aventurou-se pelas matas atrás de novos animais e plantas exóticas. Mas sua decepção foi com os brasileiros. Os dias no solo do Brasil pareceram-lhe extremamente desagradáveis no contato com o povo nativo: “Todos aqui podem ser subornados. Um homem pode tornar-se marujo ou médico, ou assumir qualquer outra profissão, se puder pagar o suficiente. Os brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, possuem só uma pequena quantia daquelas qualidades que dão dignidade à humanidade.” A descrição dos brasileiros em seu diário é cruel: “São ignorantes, covardes e indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem-humorados enquanto isso não lhes causar problemas; temperados, vingativos, mas não explosivos; satisfeitos com suas personalidades e seus hábitos.” Da justiça, sua impressão não foi melhor: “Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra homem de posses, é seguro em pouco tempo estará livre”. Parece que mudou pouco. hipertexto esporte 9 Porto Alegre, março-abril 2009 Pedro Revillion/ Hiper TÊNIS Nome comum, talento especial Camila Domingues/ Hiper Por Flávia Drago Kaká e Pato no campus Seleção treina na PUCRS Por Fernando Soares No dia 30 de março, a Seleção Brasileira de futebol esteve na PUCRS. Jogadores e comissão técnica utilizaram o Parque Esportivo da universidade para a preparação pro jogo contra o Peru, ocorrido em 1° de abril, no Estádio Beira-Rio. “O local foi escolhido por reunir uma estrutura e localização que beiram a perfeição”, afirmou Guilherme Ribeiro, administrador da Seleção. Os titulares na partida disputada no dia anterior, frente à seleção equatoriana, em Quito, realizaram trabalhos na piscina. Os reservas, acrescidos de Kaká, que se recuperava de uma lesão e não havia integrado a delegação no Equador, fizeram um jogotreino com os juniores do Grêmio. O treinamento foi fechado aos visitantes, somente profissionais da imprensa previamente credenciados tiveram acesso. Mesmo assim, muitas pessoas permaneceram do lado de fora do complexo na tentativa de ver alguns dos principais jogadores do futebol mundial. Das janelas dos prédios das faculdades de Educação Física e Medicina, alguns curiosos estudantes também observavam as atividades realizadas no gramado. A passagem do Brasil em Porto Alegre foi bem sucedida. O time comandado pelo técnico Dunga derrotou os peruanos por 3 a 0 e, com o resultado, assumiu a vice-liderança das Eliminatórias. Elson Sempé Pedroso/ Hiper Relax no Parque Esportivo Os 885 tenistas que vieram de 39 países na Copa Gerdau de Tênis deste ano não ofuscaram o brilho de um jovem tenista com um apelido tipicamente brasileiro: Zé. Mas este novo talento está longe de ser um qualquer, sua energia vibrante o destaca dos demais. José Pereira Junior, carinhosamente chamado de Zé, confirmou o seu favoritismo ao vencer o badalado evento que aconteceu na Associação Leopoldina Juvenil, repetindo a dose de 2008. Todos queriam ver o Zé em ação, traçando sua trajetória rumo ao bicampeonato - por esse motivo, seus jogos eram sempre os mais movimentados. Alguns dos sócios, enrolados em suas toalhas (já que a piscina do clube é praticamente ao lado das quadras) buscavam algum lugar, mesmo em pé, para assisti-lo. A torcida gaúcha representava bem o País, dando-lhe o apoio, fazendo reclamações e incendiando o clima a favor do brasileiro. Logo após sua vitória nas semifinais contra o eslovaco Filip Horansky, que deu sua passagem às finais, Zé foi direto para uma piscina mais afastada do burburinho das quadras para se alongar e relaxar. “Se eu não faço isso, não presto amanhã”, confidencia. José Pereira Junior, de 18 anos, é pernambucano, mas hoje em dia mora em Florianópolis, onde treina. Antes, morou em Curitiba e foi nesta cidade que teve seu primeiro contato com o esporte. Seu pai trabalhava em uma academia de tênis, enquanto os filhos, Zé é o mais novo de três irmãos, tornaram-se bolerinhos (os gandulas do tênis). A irmã mais velha, Teliana, 20 anos, hoje tenista profissional, foi a primeira a se envolver com o jogo. “Eu fiquei mais na minha, não tinha aquele negócio de jogar sempre. A minha paixão pelo tênis surgiu mesmo foi com meus irmãos, vendo eles jogarem. Foi graças a minha família”, conta. Não parou mais. Com 13 anos já faturava torneios importantes, ganhou o patrocínio do Instituto Tênis e começou a viajar para disputar. E foi com essas experiências que adquiriu uma grande característica sua que expõe com o maior orgulho: ele não desiste. Foi se inspirando no primeiro do ranking atual da ATP, o espanhol Rafael Nadal, que ele tornou-se tão otimista: “A raça, aquela motivação dele que eu não sei de O pernambucano Zé conquistou o bicampeonato da Copa Gerdau de Tênis, na Leopoldina Juvenil, em março onde que ele tira... eu estou tentando me espelhar bastante nisso aí, não desistir jamais.” Outro ídolo dele é o Guga, pela simplicidade e humildade, que são duas qualidades que o pernambucano diz ter aprendido na própria Copa Gerdau. “Pelo fato de eu ter sido o campeão ano passado, eu vim aqui e todo mundo me parabenizava. Eu poderia muito bem não olhar, dar um de ‘mascarado’, mas eu não sou assim. Acho que isso aqui me ensinou bastante a ser simples e ser humilde”. Essa foi a 4ª Copa Gerdau para o Zé, e também a última, já que atingiu a idade máxima para competir. Ganhou três delas, consecutivas (uma, porém, na chave de 16 anos). O sentimento? “É um sentimento gostoso. Mas não por estar na final, de estar até aqui. Te dá um ‘negocinho’ frio assim na barriga sabendo que você nunca mais vai voltar a jogar nesse torneio. Uma despedida. Vou sentir muita falta disso aqui, é como se eu tivesse em casa mesmo”. O jovem diz que sempre vai lembrar a motivação que teve na quadra. “Eu ia para um canto da quadra e uma pessoa falava : ‘vamo!’, ia para outro e ouvia também: ‘vamo!’. Em nenhum momento desisti, sempre pensei: vai dar, vai dar!”, diz o menino que não se intimida com a pressão, pelo o contrário, ele até gosta. Agora, pretende disputar os futures, challengers e até o Rolland Garros juvenil para profissionalizar-se com a categoria que já lhe pertence. No ensolarado domingo, ao conquistar o bicampeonato em cima do estadunidense Tennys Sandgrend, Zé agradeceu à torcida, alegando: “nunca conseguiria sem vocês”. Dedicou o prêmio ao Pedro Revillion/ Hiper Todos os anos, novos talentos são revelados no campeonato mundial juvenil pai, da mesma forma que fez no ano passado, como presente de aniversário. O bicampeão provou que veio para ficar. Sai de Porto Alegre para conquistar o mundo. Copa Gerdau, o berço de novos talentos Todo o final do mês de março, Porto Alegre torna-se o palco principal para o tênis juvenil mundial. Ocorre na Associação Leopoldina Juvenil, nas chaves de 18 anos, e na Sogipa, com as chaves de 12, 14 e 16, com entrada franca. O evento, além de internacional, é considerado um dos mais importantes junto com os quatro Grand Slam desta categoria (Aberto da Austrália, Rolland Garros, Aberto dos Estados Unidos e Wimbledon). A Copa é patrocinada durante todos os anos pela mesma empresa, e foi, em 2007, elevada ao Grupo A, que é o mais alto nível que uma competição pode chegar. Por ser uma verdadeira lapidadora de jóias no esporte, já recebeu em diversas edições, nomes que integram, ou já integraram, o topo do ranking da ATP e WTP, como Gustavo Kuerten, Andy Roddick, David Nalbadian, Fernando Gonzáles, Mario Zabaleta, Jo-Wilfried Tsonga, Svetlana Kuznetsova e Ana Ivanovic. 10 entrevista Por Fernando Soares O Internacional chegou ao ano de seu centenário como clube vitorioso dentro e fora de campo. Um processo de reestruturação, iniciado há sete anos, transformou o colorado em colecionador de títulos. Campeão de tudo, orgulham-se os torcedores. A revolução administrativa, responsável por elevar o clube ao patamar alcançado, foi idealizada por Fernando Carvalho ao assumir a presidência do Sport Clube Internacional, em 2002. Incluído no seleto rol de nomes importantes da história do Internacional, Carvalho foi presidente entre 2002 e 2006. Com um faro que raros dirigentes possuem, ele percebeu as mudanças que o futebol moderno começava impor às agremiações. Consciente de que o sucesso no campo estava diretamente relacionado à boa administração, tomou medidas, até então, pouco usuais nos clubes brasileiros como pagar os funcionários em dia e fazer contratos de longo prazo com atletas. Além disso, valorizou o patrimônio colorado através de melhorias na infraestrutura e investiu recursos substanciais nas categorias de base, tornando a venda de jogadores um relevante incremento na receita anual. Os frutos do trabalho de remodelação perduram até hoje, e são simbolizados principalmente pela conquista dos títulos da Libertadores da América e do Mundial, ambos em 2006. Modesto, ele recusa o rótulo de maior presidente da história do Internacional. “O Inter teve diversos dirigentes importantes, muitos deles são meus ídolos, não posso achar que tenha sido superior a eles”, afirma. No entanto, essa opinião não é compartilhada pela maioria dos torcedores. Irrefutavelmente, os colorados afirmam, com brilho nos olhos e gratidão, que o atual vice-presidente de futebol foi o melhor mandatário que o clube já teve. – Como começou sua ligação com o Internacional? – Começou muito cedo, por volta dos sete ou oito anos de idade. Meu pai era colorado fanático e meus tios também. Assim me tornei colorado, até porque não havia espaço para ser diferente. Em 1961, fui ao meu primeiro jogo. Desde então, passei a acompanhar o clube. Lia o jornal de trás para frente e acompanhava os plantões esportivos das emissoras de rádio. Isso continua até hoje. – Imaginava, um dia, tornarse dirigente do Inter? – Isso era uma coisa inalcançável, quase impossível. Na faculdade, era reconhecido como Porto Alegre, março-abril 2009 EXCLUSIVA / Fernando Carvalho Senda de vitórias é com ele um colorado. Estava sempre discutindo com os gremistas. Até que o meu, então, professor de direito financeiro assumiu como vice-presidente do Departamento Financeiro e me convidou para ser diretor em 1982. Assim comecei minha vida de cartola. Fiquei como advogado do clube durante algum tempo e depois passei para outros setores como marketing e administração, mas sempre na assessoria jurídica. Em 1988, fui vice de futebol na gestão do pre- – O Inter foi totalmente remodelado a partir de 1969 pelos mandarins e tornou-se o grande time da década de 1970. Existem algumas semelhanças nos trabalhos. Os mandarins tinham uma ideia de futebol que é a mesma que eu tenho: futebol de competição, onde se privilegia o coletivo em detrimento do craque, muito treinamento, foco, cuidar de detalhes e enfrentar os adversários em todas as áreas. Essa filosofia nós tivemos ao assumirmos. EstrutuBernardo Ribeiro/ Hiper De Belém a Yokohama: da beira do inferno à glória de campeão mundial sidente Pedro Paulo Záchia. Nem gosto de lembrar porque não tinha experiência e fui mal. Eu não estava preparado para aquilo. A partir daí, pela primeira vez, comecei a pensar em ser presidente. – O processo iniciado pelos mandarins (dirigentes que reformularam o clube e montaram o grupo vitorioso dos anos 70) é semelhante ao trabalho feito na sua gestão de presidente? ramos o clube para enfrentamentos no tribunal, na imprensa e em todos os lugares. – O senhor procurou se espelhar em algum outro dirigente? – Na vida, a gente se espelha em várias pessoas. Quando mais jovem, tinha como exemplo meu tio José Carlos Costa Gama. Depois, como dirigente, Aldo Dias Rosa, Ibsen Pinheiro e até os do Grêmio Rudi Armin Petry e Fábio Koff. Nem todos fazem tudo certo, mas fazem a maior parte das coisas de forma correta. – Percebe-se que o senhor como dirigente procura não criar polêmicas e atritos. Isso é raro no futebol brasileiro. Como o senhor separa o torcedor do dirigente? – Quem assiste jogo ao meu lado, sabe que sou completamente torcedor. Xingo o árbitro, reclamo do zagueiro que não voltou, do lateral que não apoiou. No entanto, após o jogo, preciso ter maturidade, pois represento o clube. Não posso dizer nada que vá prejudicar o Internacional. – Ao encerrar seu mandato em 2006, o senhor se afastou do clube por mais de um ano. Retornou em 2008, após eliminação na Copa do Brasil. O que motivou sua volta? – Retornei devido às circunstâncias. Na época, estávamos sem treinador e não havia nome de consenso entre Vitório (Piffero) e Giovanni (Luigi). Embora fossem grandes amigos, havia uma discussão pública entre eles que não era boa para o clube. Na minha avaliação, o treinador que preenchia os requisitos era o Tite, que tinha contra ele o fato de ter trabalhado no Grêmio. O que é uma grande bobagem, mas no Rio Grande do Sul é assim. Então, para tentar resolver a questão e minimizar uma eventual contrariedade à contratação do Tite, me propus a ajudar e assumi a posição de assessor do Departamento de Futebol. Foi muito bom. O ambiente no clube se acalmou e ganhamos a Copa Sul-Americana. No final do ano, tinha a ideia de ir para o Clube dos 13, tornando-me executivo remunerado. Isso não se concretizou e fiquei para o centenário, por ser um ano diferenciado. – Em 2010 haverá eleição para a presidência do Clube dos 13. Há possibilidade de o senhor concorrer ao cargo e ser sucessor de Fábio Koff? – É muito cedo para falar disso, ainda não é hora. A eleição é só no final de 2010. Fábio Koff é um grande presidente e tem gás para mais uma gestão. – O Internacional priorizará alguma competição no ano de centenário? – Queremos sair bem em todas as competições. Porém, o Campeonato Brasileiro, por todo esse charme do centenário, 40 anos do Beira-Rio e 30 anos do último título, tem valor um pouco superior. Disputaremos seis campeonatos, quando o calendário ficar apertado, vamos ter de optar e utilizar o grupo que temos. – O que o Internacional faz para não repetir os erros que outros clubes brasileiros cometeram em seus centenários? – A primeira coisa foi isolar o vestiário da festa e da come- hipertexto moração. Jogadores e comissão técnica não participam de nada, o único foco é nos jogos e nas competições. Com trabalho e cuidado tudo dará certo. É claro, deve-se ter qualidade, acho que temos um grupo de atletas qualificados. – O grupo de jogadores do Inter é um dos melhores do país. O plantel é suficiente ou ainda existe alguma carência? – O grupo é adequado para enfrentar essa campanha. Por enquanto, não pretendemos acrescentar nenhuma peça. Na metade do ano, se não conseguirmos renovar alguns contratos, talvez tenhamos que contratar e fazer alguma reposição. – Nos últimos dois anos, o Inter passou por remodelações no meio da temporada. O desempenho em campo foi prejudicado com entradas e saídas de atletas e técnicos. Neste ano, a situação mudará? – Este ano será diferente. Se houver alguma saída, temos 32 jogadores e a reposição já está no grupo. Dificilmente haverá movimentação. Se houver, serão poucas. – O Inter venderá alguém na metade da temporada? – Alguém sairá na metade do ano. Ano passado, não vendemos ninguém importante. O Alex era pra ter sido vendido em julho, ficou e foi somente agora. Então, houve um represamento em alguns compromissos do clube. Assim, na metade do ano, certamente venderemos alguém. – A cada temporada, o clube aposta em promessas oriundas das categorias de base e de outros times. A busca por jovens atletas de qualidade ainda em formação é uma tendência a ser mantida? – Sim. Continuaremos fazendo isso, porque o objetivo é ter jogadores formados e, quando houver a necessidade de substituição, contar com garotos que estão aqui há seis meses ou um ano. Eles são preparados para um futuro próximo, aí o ingresso no time é natural. – No seu primeiro ano como presidente, o Inter escapou do rebaixamento no Brasileirão na última rodada, em Belém. Ao deixar a presidência, o clube era campeão do mundo. Como o senhor descreve essa trajetória de Belém a Yokohama? – De Belém a Yokohama é o nome do livro que eu estou fazendo, relata dificuldades, caminhos que traçamos e percorremos. É um script de um filme que deu certo. Cada vez que recordo, me emociono. Como as coisas deram tão certo. Foi uma coisa maravilhosa, é quase indescritível. – Qual a escalação do Inter dos teus sonhos? – Manga (Clemer); Cláudio Duarte, Figueroa, Índio e Vacaria; Carpegiani, Falcão, Jair e Fernandão; Valdomiro e Claudiomiro. hipertexto perfil 11 Porto Alegre, março-abril 2009 Edgar Vasques, a mão por trás do Rango Com 40 anos de carreira, o desenhista continua a criar a todo nanquim Lívia Stumpf/ Hiper Por Natália Rech Edgar Vasques está contente. Apesar do sangue, suor e aquarela, acaba de finalizar mais uma obra, “a mais trabalhosa de todas”. Num bar pitoresco do viaduto da Borges de Medeiros, cartunistas, parceiros do desenhista, o parabenizam interrompendo sua tradicional batata com mostarda picante, prato obrigatório do Tutti Giorni. A comemoração tem nome e motivo: um ano e seis meses de trabalho e pesquisa intensos para trazer aos quadrinhos, em 60 páginas, a obra de Lima Barreto, O triste Fim de Policarpo Quaresma. A adaptação entra para a lista dos 18 trabalhos próprios, sem contar diversas parcerias, deste porto-alegrense que aportou desde cedo no mundo dos grafismos e continua a abrir portas para outros talentos gráficos, independente do mau tempo. “Cartunista, chargista, ilustrador, quadrinhista, caricaturista, tudo no mesmo cara pelo preço de um”, como diz na sua autopropaganda, Vasques é tudo isso e ainda mais. Quando possível, se dedica às artes plásticas, tendo feito algumas vernissages. Formado em Arquitetura, diz ter se aposentado no mesmo dia que finalizou o curso. Como prova só buscou o diploma 25 anos após a formatura. Não é preciso saber muito do mundo do humor gráfico para ver nele um porta-estandarte apaixonado do tema. Isso fica claro já no primeiro contato. O homem baixinho, de barba saliente, expressões fortes ditas sem receio, mesmo entre goles de uísque, faz qualquer ouvinte imaginar que seu desenho tem mais do que tinta, talvez sangue encorpado. Aliás, Vasques parece um típico personagem de quadrinhos, porém inadaptável às margens do papel. Uma criatura que nem seu mestre, desenhista Canini, seria capaz de inventar. Criador do personagem Rango, colaborador de jornais que fizeram história como Folha da Manhã e Pasquim, Vasques nasceu em 5 de outubro de 1949, no Hospital São Francisco, na Capital. “Quando minha mãe me deu à luz, a luz que me deu foi essa: um céu do entardecer da primavera, às 18h”. Aliás, mesma hora em que a entrevista começou, com meia hora de atraso perdoada pelo seu jeito boa praça. Vasques vê o desenho como uma linguagem base, comum a todos, principalmente na infância. Questiona o abandono dessa atividade quando a escrita e a fala surgem. Desenho é prosseguimento, e os desenhistas não param. “Tu risca na parede, leva um pau e vira bancário. Já meus pais achavam meus rabiscos bonitinhos”, observa, falando dos desafios da arte na infância. Seus pais, habituados à cultura, desde cedo o apresentavam como artista aos amigos. Neste ambiente de respeito às artes, quarto dos seus cinco irmãos se tornaram artistas, caso de Oscar Simch, ator da peça Homens de Perto. Se sua vida daria um romance, nem ele sabe. Porém, um quadrinho, já é uma cogitação. Trocando a modéstia pela realidade, afirma: “Eu sou um dos melhores desenhistas do Brasil”. Vasques está sempre à procura do próximo desenho, enquanto veste a realidade com seus tons, criando um jogo de palavras e uma relação genial entre os fatos mundanos, que mais tarde resultará em um trabalho. O artista gaúcho se diz ciumento com o desenho. De Millôr Fernandes recebeu o conselho de deixar seu talento encontrar o próprio limite. Pela falta de oportunidade e situação financeira, a necessidade de remuneração ocupou espaço na sua agenda de criação. Além de ser contador de histórias, teve outro mérito. Incentivou jovens de lápis trêmulos a fortificar o traço. A Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul), criada na década de 80, teve suas primeiras reuniões em sua casa. Hoje, acontecem no bar citado acima, onde desenhistas variados e agregados trocam experiências. Nesse ponto, o círculo de artistas como o estradeiro Augusto Bier e o jovem Rodrigo Rosa se encontram para garantir a tradição do grafismo gaúcho que Vasques define como a “junção da verve brasileira com grafismo platino, faz piada e coloca o dedo na ferida.” Nada de teste vocacional ou algo do tipo. Ser desenhista era o único Ilustrador exibe seu caderno com desenhos de pessoas que costuma retratar percurso. Em 1969, ingressou na UFRGS, em Artes Plásticas e Arquitetura. Com a efervescência do contexto social da época, o estudo artístico não bastava. “Sentíamos que precisávamos fazer algo”, conta. Acabou se dedicando apenas à Faculdade de Arquitetura que, longe do marasmo das Artes, fervia idéias, contestação e vontade política. Com o Centro Acadêmico ativo, inventar era a ordem e desse vocabulário surgiu a Grillus, revista que lançou Rango, seu trabalho mais conhecido. Dois anos depois, foi chamado para a Folha da Manhã, e a tira se tornou diária. Lá, lançou outros cartunistas na sessão O quadrão, como Schröder e Santiago. Quadrinho denuncia miséria e injustiça Mais um dia de trabalho na Caldas Júnior, e Vasques procura algo para ler na banca. Observa que um camburão da polícia o acompanha até sua casa. O recado é claro: “Estamos de olho em você”. Naquela época, o Brasil era comandado por homens de farda e neste meio nasceu Rango. Mas se nem a fome matou o personagem, não seria a censura a conseguir. Com Porto Alegre como playground, mesmo estando no Cais do Porto ou na Andradas, uma semelhança era latente: a miséria. Ao avistar a fauna humana degradante que se acumulava mais do que o crescimento incensado na década de 70, Vasques via nas ruas o inferno da renda nas mãos de poucos. Rango é um miserável, moribundo e desempregado que vive no lixo. Com outros ícones da miséria, o humor crítico se desenvolve. O quadrinho foi o responsável pela apreensão de uma edição do jornal O Pasquim das bancas, em 1977. Porém, pela graça do público, o livro foi o mais vendido da Feira do Livro de 1974. Vasques acredita que o pior da ditadura não é o impedimento de divulgar a mensagem, mas o artista ter que mandá-la de forma cifrada e elitizada. O ilustrador também atuou em publicidade, na LP&M editores e na prefeitura de Porto Alegre por 10 anos, até 2004. Ultimamente, foi premiado pelas cartilhas desenvolvidas para Refinaria Alberto Pasqualini, da Petrobras. O parceiro da família Verissimo, deu cara (e coração?) ao Analista de Bagé, publicado durante sete anos na revista Playboy. Agora, Vasques tem uma consultoria para desenhistas. Enfrenta a dificuldade de viver da arte em uma época que viver é difícil. Contudo, sua inquietude artística não cessa, está cheio de ideias.É possível encontrá-lo sempre com um sketchbook, onde desenha o mundo como vê. ”As meninas bonitas não vão embora, ficam aqui”, demonstra o caderno. Todo lugar é lugar de desenhar. As tarefas de aula ou reuniões dançantes concorriam com arte. “Eu me defini no mundo como desenhista. Eu não posso fugir disso”, diz. Sensível, tem olhos de lupa para captar as falhas sociais e transpor para o papel. Seus temas são de impacto, mostram estrago e exigem conserto. A fome de Rango é de justiça e, mesmo tendo um estômago forrado de esperança, até a própria vira piada. O sarcasmo de sua obra procura passar um entendimento da realidade, comunicar-se além de se expressar. “Se entendem outra coisa, mas melhorarem a piada, tudo bem”, brinca. Esse é Edgar Vasques, cujo talento foi confundido com arma pelos militares. 12 ponto final Porto Alegre, março-abril 2009 hipertexto Pedro Revillion/ Hiper Quando o importante é chegar Competição de Vela trouxe equipes de todos os continentes à capital gaúcha Por Joyce Copstein A Copa do Mundo chegou mais cedo a Porto Alegre. Mas, no lugar do futebol, que só virá à capital em 2014, foi a Vela que roubou a atenção do público. No final de março, a Nations Cup 2009 levou sete equipes femininas e dez masculinas ao Clube Veleiros do Sul, durante cinco dias, para disputar o pódio de melhor do mundo. Ao todo, atletas de 13 países correram a Match Race nas águas do Guaíba. Representando o Brasil estavam os times de Henrique Haddad, que chegou em segundo lugar, e de Juliana Senfft, que ficou em sexto. Aos 21 e 20 anos, respectivamente, Haddad e Juliana se submetem, junto aos colegas de equipe, a uma preparação física como a de qualquer outro esporte. Além dos treinos n’água – que podem durar até quatro horas –, praticam musculação e exercícios aeróbicos. “São 15 minutos de regata, mas é muito cansativo”, constata um esporte mais light, mas na competição a pressão é forte”, comenta Haddad. Além da navegação de regata, há a de cruzeiro, modalidade favorita de Danilo Ribeiro, editor do portal Popa.com.br e velejador há cerca de 40 anos. “Na Camila Domingues/ Hiper regata, o que importa é ver quem anda mais rápido, e é necessário ter muita habilidade”, afirma Ribeiro, “mas o velejador de cruzeiro quer apenas passear e tem outros tipos de preocupações”. E quais seriam? “É preciso ver se fará tempo bom na ida e na volta, pegar uma carta náutica para saber onde há pedras, certificar se existe profundidade suficiente para passar, se podem ter navios no caminho, conhecer as regras”, explica ele, que tem habilitação de Capitão. As meninas lutaram com o barco e chegaram em sexto Todo esse conhecimento pode lounge, a disputa durante uma regata é ser obtido em cursos de navegação – o estressante e exigente. “Teoricamente é Veleiros do Sul é um que oferece aulas, Haddad. Na rotina, entram ainda as aulas na faculdade. Há, também, o fator psicológico. Afinal, se, de um lado, a vela pode ser uma atividade mansa, tranquila, embalada por música inclusive para crianças – e certificado em exames de habilitação, necessários para velejar. É como tirar uma carteira de motorista, com a diferença de que os testes para a obtenção do título de Arrais, Mestre e Capitão são apenas teóricos. Feito isso, um bom barco com cabine custa por volta de 36 mil reais, e é possível mantê-lo em um clube ou marina por uma mensalidade que parte de duzentos reais. De resto, é só subir no veleiro e aproveitar o dia. Para o velejador de cruzeiro, o objetivo não é chegar, mas ir. “Velejar proporciona o contato com a natureza e belas paisagens”, afirma Ribeiro, que vê, no barco, apenas a moldura de um quadro: os amigos são a tela. “Para praticar a Vela, basta ter vontade”, comenta o vice-campeão Haddad, que veleja há 13 anos. Já Juliana Senfft começou mais cedo, aos quatro. Filha de medalhista olímpico, tem como objetivo chegar também às Olimpíadas. Definitivamente, uma velejadora de regata. Jonathan Heckler/ Hiper OBSERVATÓRIO DO SAGUÃO Brincadeira séria Os assuntos que não são manchetes, mas que os leitores curtem saber, agora, passam a figurar neste espaço. O nome da coluna surgiu de uma brincadeira com o famoso site, Observatório de Imprensa, fórum que reúne leitores, telespectadores e interessados na área da mídia, onde são manifestadas opiniões sobre o que rola no mundo dos veículos de comunicação, especialmente no jornalismo. O Observatório do Saguão brinca com duas idéias: o site sobre mídia e o novo saguão da Famecos. Mesmo assim, a proposta é séria, aqui serão abordados informações que circulam nos corredores da faculdade e no campus, buscando estar mais perto do leitor. Surpresa! Surpresa! Uau! Foi assim que muitos reagiram, quando chegaram ao saguão da Famecos no início do semestre. Mesinhas, cadeiras, poufs, uma nova pintura, tudo isso em um design arrojado e cores bem chamativas. Mas como tudo na vida, há os que gostam e os que criticam. Como dizem, gosto é que nem…, deixa pra lá. Em um ponto todos concordam: as mudanças surpreenderam. Das pessoas com opinião formada – sim, sempre tem aquele que não sabe o que pensar, vai entender! – dois grupos despontam em seus quadrados: os que aprovam a mudança e os contrários. Estilo profissional Oba, até que enfim, o sofá veterano de guerra perto do CAAP foi aposentado! Ainda assim a turminha não perdeu um lugar para sentar. Foi mais ou menos essa a reação dos que curtiram as reformas. O melhor é poder assistir de camarote o desfile diário de famequianos, ou seria das Por Marcus Perez e Júlia Alves famequianas? Dizem que o visual do saguão ficou “a cara” dos profissionais de comunicação. Outras línguas de trapo falam: “o bar veio pro saguão, olha só, até fica vazio no intervalo”. Tem o malandrinho que reconhece: “agora, posso fazer o que mais gosto e em grande estilo: matar aula”. Muita cor e brilho na entrada da faculdade Coisa infantil A turma do contra alega que a entrada do prédio ficou muita parecida com certa escola de uma novela juvenil da TV Globo (seria a tal Malhação?). Outros acham que a decoração e a pintura deu um certo ar infantil ao ambiente, que devia ser um pouco mais sério. Pois é, onde estará o tal espírito acadêmico? Os chatos se queixaram de tudo, de que as reformas não haviam acabado quando as aulas começaram e era um transtorno, pois atrapalhava a passagem.. Projeto irado O look moderninho da faculdade mexe com a galera seja no real ou no virtual. Enquanto alguns buscam melhor se acomodar aumentando ou diminuindo a altura das poltronas (os reguladores sumiram) e até mudando a posição das cadeiras (estão presas ao piso!), outros viajam se inspirando no visual, no vaivém da turma. E quando o novo ficar velho e datado, o que vai acontecer? Bem, chama o professor Fabian que ele faz outro projeto irado na moda.