Volume 2 / Número 1 / Jan-Mar - 2011
O Aedes (Stegomyia) aegypti (DIPTERA: CULICIDAE) L. 1735, ANTE OS
HÁBITOS CULTURAIS HUMANOS EM DOIS BAIRROS DA CIDADE DE
CAMPINA GRANDE - PB
Carlo Rivero Moura Fernandes1; Renata da Silva Leandro2, Humberto Silva3, Francisco Pires de
Castro Júnior2.
1 Doutorando em Ciências Biológicas/UFPB; 2 Mestranda em Ciências e Tecnologias do Ambiente/UEPB; 3 Professor
Doutor da Universidade Estadual da Paraíba; 4 Mestre em Ciências e Tecnologias do Ambiente/ UEPB
Resumo
O comportamento social humano tem impacto marcante na presença do Aedes aegypti nos centros
urbano. Este trabalho objetivou verificar, a importância dos hábitos culturais humanos na ocorrência
desse mosquito nos centros urbanos e, relacionar o nível de conhecimento da população humana
sobre como evitar a dengue com os cuidados que são tomados para atingir tal propósito. A pesquisa
foi feita em cem domicílios, através de entrevistas semi-estruturadas, nos bairros da Prata e invasão
do Tambor em Campina Grande, PB. Após a realização da entrevista procedeu-se uma vistoria no
entorno das residências, para se relacionar as respostas dadas pelos entrevistados com o que era
visto encontrada. Os dados foram tabulados em planilha do Excel (versão 2003), com a confecção
de gráficos e analisados com estatística descritiva. 63% dos moradores entrevistados no bairro da
Prata e 58% na invasão do Tambor afirmam ter cuidados em não deixar água em recipientes
abertos, enquanto 27% e 39%, respectivamente, afirmam fazer limpeza regular em locais de risco.
Quanto ao nível educacional, a Prata apresentou maior grau de escolaridade, tendo 17 % de
moradores com nível superior, enquanto no Tambor nenhum dos entrevistados disse ter grau
superior. O entorno dos 97% de domicílios visitados apresentaram condições favoráveis para o
desenvolvimento do mosquito. Os resultados corroboram a ideia corrente na literatura de que os
hábitos culturais humanos são determinantes para a permanência e infestação do A. aegypti no
Ambiente urbano.
Palavras-chave: Aedes aegypti, Hábitos culturais, Ambiente Urbano, Ecologia.
Abstract
The human social behavior has impact in the presence of Aedes aegypti in the centers urban. This
work objectified to verify the importance of the human cultural habits for infestation and
establishment of the populations of the A. aegypti in the cities. The research was made in one
hundred domiciles, through half-structuralized interviews, in the quarters of the Prata and Tambor
in Campina Grande, PB, Brazil. After the accomplishment of the interview proceeded, an inspection
in was proceeded from the residences to become related the answers given for the interviewed ones
with what he was seen. The data had been tabulated in spread sheet of Excel (version 2003), with
the confection of analyzed graphs and with descriptive statistics. 63% of the inhabitants interviewed
in the quarter of Prata and 58% in the Tambor affirm to have cares in not leaving water in opened
containers, while 27% and 39%, respectively, affirm to make regular cleanness in risk places. How
much to the educational level, the residents of Prata had a higher education degree having 17% of
inhabitants with superior level, while in the Tambor none of the interviewed ones said to have
superior degree. 97% of visited domiciles had presented favorable conditions for the development
of the mosquito. The results corroborate the current idea in the literature of that the human cultural
habits are determinative for the permanence and infestation of the A. aegypti in the urban
environment.
Keywords: Aedes aegypti, Cultural habits, Urban environment, Ecology.
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FERNANDES, C. R. M.; LEANDRO, R. S.; SILVA, H.; CASTRO JÚNIOR, F. P. O Aedes (Stegomyia) aegypti (DIPTERA:
CULICIDAE) L. 1735, ante os hábitos culturais humanos em dois bairros da cidade de Campina Grande - PB. Revista Brasileira de
Informações Científicas. v. 2, n. 1, p. 104-113. 2011. ISSN 2179-4413
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1 INTRODUÇÃO
Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae) é vetor de grande
importância em saúde pública devido ao seu papel como transmissor da dengue e da febre amarela.
É um mosquito com ampla distribuição geográfica, predominando nas áreas tropicais e subtropicais
entre os paralelos de latitudes 45° Norte e 40° Sul (FORATTINI, 2002) e as zonas isotermais
intermediadas a 20 ºC (GADELHA, 1985), estando presente em diferentes hábitats florestais, rurais
e, principalmente urbanos onde se encontram perfeitamente adaptados, co-habitando o peri e o intra
domicílio com os humanos (MARCONDES, 2001). Nas cidades brasileiras é encontrado nos locais
de maior concentração humana, sendo mais rara a sua presença em ambientes semi silvestres ou
onde a população de seres humanos é menos concentrada (CONSOLI; LOURENÇO-DEOLIVEIRA, 1994).
Possui grande capacidade de adaptação a criadouros artificiais o que possibilita o aumento
de sua população e, por conseguinte, o aparecimento de epidemias de dengue (LOZOVEI, 2001).
A ampla distribuição desse Culicídeo ao redor do planeta, deve-se em boa medida, à ação
humana, especialmente nos países do terceiro mundo, onde as condições de infra-estrutura social
são muito deficientes (FORATTINI, 2002).
O alto grau de adaptação do principal vetor da dengue nas Américas ao ambiente urbano
tornou-se viável graças às relações destes com a espécie humana, uma vez que esta última propicia
aquele, ótima condições de desenvolvimento quando deixam recipientes, com água, acessíveis à
atividade de oviposição pela fêmea. Hoje o A. aegypti encontra-se altamente dependente dos
invólucros manufaturados pelos humanos, já que estes, ao serem utilizados, tornam-se descartáveis,
constituindo-se em potenciais criadouros das formas imaturas do mosquito (NATAL, 2002).
Decorre daí que o comportamento social humano tem impacto marcante na presença do A.
aegypti nos centros urbanos. Com isso, este estudo objetivou verificar a importância dos hábitos
culturais humanos para infestação e estabelecimento das populações do Aedes aegypti na cidade de
Campina Grande-PB, avaliando o nível de conhecimento da população humana de dois bairros da
cidade de Campina Grande - PB sobre como evitar o Aedes aegypti e não ter dengue e relacionando
o conhecimento das pessoas entrevistadas com o que dizem e o que fazem para não ter dengue e o
que realmente ocorre no entorno de suas residências.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 A área de estudo
O trabalho foi realizado em 2 bairros, Prata e Tambor (região do Catolé) do município de
Campina Grande (07° 13’ 32 “Sul e Longitude 35° 54' 15” Oeste). O município apresenta duas
estações climáticas bem definidas; o período chuvoso que compreende os meses de abril a agosto e
o período quente e seco que ocorre entre os meses de setembro a março, (Departamento de
meteorologia e sensoriamento remoto da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG), com
população de 376.132 habitantes (IBGE, 2005).
O Bairro da Prata apresenta uma população de 3.884 habitantes e apresenta 1.060
domicílios, sendo todos servidos com abastecimento de água na rede geral e coleta de lixo. A renda
média geral por chefe de domicílio é de R$ 1718,50 (IBGE, 2000).
O Tambor (região do bairro do Catolé) apresenta uma subdivisão que corresponde a área
67(657 habitantes) e 68(853 habitantes), que refere-se a região “Invasão” do Tambor. Nesta área a
população é de 1.510 habitantes e apresenta 354 domicílios, dos quais 264 têm abastecimento de
água na rede geral e 177 têm esgotamento sanitário pela rede geral. A renda média mensal do chefe
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de família é de R$ 406,12 (SEPLAN-CG - Secretaria de planejamento do município de Campina
Grande, 2002).
2.2 Estudo prévio
Foi realizado um estudo prévio, junto com a SEPLAN-CG - Secretaria de planejamento do
município de Campina Grande - PB e à Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) visando a
obtenção de informações acerca dos bairros com perfil adequados à pesquisa.
A entrevista foi elaborada com cincos perguntas. A mesma foi realizada no bairro do Zé
Pinheiro localizado no município de Campina Grande - PB. Esta população possui características
semelhantes a um dos bairros estudados, a fim de serem encontrados erros de interpretações
referentes às questões apresentadas podendo, assim aperfeiçoar as mesmas, assegurando confiança e
validade aos dados obtidos na pesquisa.
O resultado do pré-teste demonstrou que os moradores compreenderam as questões
propostas, e tiveram uma boa receptividade.
2.3 Amostragem
A coleta dos dados se deu através de entrevistas abertas e semi-estruturadas, com cem
moradores de cada bairro, entre os dias 18 a 21 de setembro de 2007 no bairro da Prata e 02 a 05 de
Outubro de 2007 na “Invasão” do Tambor. Antes do início da entrevista foi explicado aos
moradores o objetivo e a natureza da pesquisa, dando-lhes a liberdade de participar ou não da
entrevista, assim como garantindo-lhes o anonimato.
Após a realização da entrevista procedeu-se uma observação no entorno da residência
(jardim, beco ou quintal) para se relacionar as respostas dadas pelos entrevistados com a realidade
encontrada.
Nas entrevistas abertas e semi-estruturadas o informante falava livremente sobre o tema
proposto.
Para Gil (1991) pode-se definir entrevista como técnica em que o investigador se apresenta
ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que interessam a
investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Especificamente, é uma forma
de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como
fonte de informação.
2.4 Análise dos dados
O estudo das representações sociais foi abordado através de pesquisa qualitativa e
quantitativa. Os dados foram tabulados em planilha do Excel (versão 2003), com a confecção de
gráficos e analisados com estatística descritiva a partir de porcentagens.
A estatística descritiva tem por objetivo reduzir um universo de informações, até o ponto em
que se possa interpretá-las de forma mais clara. Possibilita, portanto, reduzir os dados a proporções
mais facilmente interpretáveis. Entretanto, deve-se tomar cuidado, pois através deste procedimento,
muita informação poderá se perder, além de ser provável a obtenção de resultados distorcidos, a
menos que eles sejam interpretados com muita precaução, segundo sugere Barreta (2003).
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nível educacional e qualidade de infra-estrutura das cidades apresentam do ponto de vista
social, grande importância no estabelecimento do Aedes aegypti no ambiente urbano e,
consequentemente, na epidemiologia da dengue.
Quanto ao nível educacional, os moradores do bairro da Prata apresentaram maior grau de
escolaridade, tendo 17 % dos entrevistados com nível superior, enquanto no Tambor 51% tem
apenas o ensino fundamental e nenhum entrevistado afirmou ter, pelo menos frequentado a
Universidade (Figura 1).
Figura 1 Distribuição Percentual das respostas dos entrevistados da Prata e invasão do Tambor,
Campina Grande, Paraíba, no período de setembro a outubro de 2007, com relação ao nível
educacional do entrevistado.
51%
40%
0 a 60%
34%
28%
PRATA
TAMBOR
21%
17%
9%
0%
Superior
Ensino Médio
Ensino
Fundamental
Analfabeto
As entrevistas com os 100 moradores de cada área de estudo, produziram os seguintes
resultados: 62% dos entrevistados do bairro da Prata acreditam que se contrai dengue através da
picada do mosquito, enquanto 47 % dos entrevistados da invasão do Tambor acreditam que a água
funciona como veículo de transmissão da Dengue. Na Prata, 3% acreditam em outras formas de
transmissão (Figura 2).
Percebe-se, que há falta de entendimento dos entrevistados da invasão do Tambor acerca de
como se contrai a dengue, ao afirmarem que o homem é infectado por essa arbovirose através da
água. Isto pode ser justificado pelo fato das pessoas deste bairro apresentarem nível educacional
inferior ao dos moradores do bairro da Prata. O que está de acordo com Forattini (2002) que afirma
que fatores sociais são fundamentais para o estabelecimento da dengue nas cidades, sendo o fator
educacional aquele que apresenta maior grau de importância, pois quando o índice educacional de
uma população é baixo, constitui-se em um importante entrave para que a informação das
campanhas de controle do vetor, promovidas pelos órgãos públicos, sejam compreendidas
adequadamente.
Por outro lado, as respostas mostram que há uma compreensão de que a dengue tem relação
com o mosquito e com a água, o que deixa claro, que a informação está chegando aos lares.
Segundo Tauil (2002) a informação é o ponto de partida para desencadear ações de controle.
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Figura 2 Distribuição Percentual das respostas dos entrevistados da Prata e invasão do Tambor,
Campina Grande, Paraíba, no período de setembro a outubro de 2007 a respeito de como
se contrai a dengue.
62%
47%
0% a 70%
44%
PRATA
TAMBOR
24%
11% 9%
3% 0%
Através de
picada de
mosquito
Através de
água
Não sei
Outras
respostas
Quando se questionou sobre qual a melhor maneira de se evitar a dengue, foi verificado que
74% e 63% das respostas obtidas na Prata e invasão do Tambor, respectivamente, apontaram para o
cuidado com a água acumulada em recipientes abertos, outros 18% e 37% das pessoas
entrevistadas, respectivamente na Prata e Tambor, afirmaram que procuravam evitar a dengue,
tomando cuidados com a higiene (Figura 3).
Essa relação do mosquito e da dengue com a água está evidenciada também pela grande
maioria das respostas voltadas para o cuidado com a água acumulada em recipientes abertos como a
melhor maneira de evitar a dengue, o que revela a eficiência da informação, mesmo, muitas vezes,
incompreendida. Segundo Brassolatti e Andrade (2002) os trabalhos educativos no controle do A.
aegypti têm sido os da veiculação pela mídia, outdoors, faixas, painéis, cartazes, folhetos, ou
palestras em escolas e outros núcleos sociais.
Figura 3 Distribuição Percentual das respostas dos entrevistados nos bairros da Prata e
Tambor, Campina Grande, Paraíba, no período de setembro a outubro de 2007, a
respeito de qual a melhor maneira de se evitar a dengue.
74%
0% a 80%
63%
PRATA
37%
TAMBOR
18%
8%
0%
Ter cuidado
com a água
ter higiene
Não sei
0% 0%
Outras
respostas
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Em outro ponto da entrevista foi perguntado sobre quais os cuidados que eram tomados, nas
residências, para se evitar a dengue. 63% dos moradores entrevistados no bairro da Prata e 58% na
invasão do Tambor responderam que tomam todos os cuidados para não deixar água acumulada em
recipientes abertos (Figura 4), demonstrando que os mesmos têm uma boa noção acerca de como se
deve proceder para evitar a dengue. Entretanto, quando foi realizada a vistoria no entorno das
residências, verificou-se que grande parte dos domicílios visitados apresentava condições
favoráveis ao desenvolvimento do A. eagypti e, consequentemente, da dengue, tanto no bairro da
Prata como no do Tambor. Este último foi o que apresentou as melhores condições para a
ocorrência do mosquito com 74 % dos domicílios apresentando potenciais criadouros, nos becos,
quintais, jardins e, em muitos casos, dentro das próprias residências. No bairro da Prata 56% dos
domicílios visitados também apresentavam condições ambientais adequadas ao desenvolvimento do
mosquito, a despeito do melhor nível educacional dos moradores desse bairro em relação aos
daquele último (Figura 5) e das respostas de 26% e 38% dos entrevistados do bairro da Prata ao
afirmarem que dispensam relevantes cuidados no ambiente interno e externo de suas casas para
afastar o mosquito do ambiente em que vivem, assim como 71% e 29% dos moradores
entrevistados do bairro do Tambor afirmaram que tomavam os mesmos cuidados no ambiente
interno e externo, respectivamente, de suas residências. (Figura 6).
Figura 4 Distribuição Percentual das respostas dos entrevistados da Prata do Tambor, Campina
Grande, Paraíba, no período de setembro a outubro de 2007, a respeito do que é feito,
nos seus domicílios, para evitar a dengue.
0 a 70%
63% 58%
39%
PRATA
27%
TAMBOR
8%
Tomo todos os Fazer limpeza
cuidados para
regular em
não deixar
locais de risco
água em
recipientes
abertos
3%
Não sei
2% 0%
Outras
respostas
Fica evidente que os hábitos culturais humanos em manter entulhos, garrafas, recipientes
abertos com água (usados para uso doméstico), dentre outros, são, de fato, determinantes para o
estabelecimento de criadouros favoráveis ao desenvolvimento do mosquito, independente do nível
cultural. O que corrobora os relatos de Oliveira e Vala (2001) de que o problema nas favelas e
conjuntos habitacionais de bairros populares do Rio de Janeiro, era a falta de serviços regulares de
abastecimento de água e coleta de lixo, que obrigava a população a adotar medidas de
acondicionamento de água e destinação de lixo criando hábitos culturais que dão condições para a
reprodução do vetor da dengue. Segundo Silva et al. (2003) por hábito, por falta de serviços de
saneamento ou por questões financeiras, os indivíduos jogam o lixo no fundo dos quintais, gerando
entulhos e condições propícias para o desenvolvimento de vetores de doenças no Peri domicílio.
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Figura 5. Vistoria no entorno das residências vistoriadas (jardim, beco, quintal) no bairro da Prata
e Tambor, em Campina Grande, Paraíba, entre setembro e outubro de 2007.
44%
26%
74%
56%
Condições desfavoráveis ao
mosquito e a dengue.
Condições favoráveis ao
mosquito e a dengue.
TAMBOR
PRATA
Figura 6: Distribuição Percentual das respostas dos entrevistados da Prata e invasão do Tambor,
Campina Grande, Paraíba, no período de setembro a outubro de 2007 a respeito do local
da residência onde há o maior controle do mosquito.
29%
38%
Ambiente externo
71%
26%
Ambiente interno
TAMBOR
PRATA
Brassolatti e Andrade (2002) avaliando a intervenção educativa na prevenção da Dengue
referenciam que o processo educativo, como medida importante no controle dos vetores da dengue,
teve um percentual muito baixo (7%), indicando que a educação associada com a mudança de
hábitos, poderia ser muito importante para se evitarem criadouros do mosquito da dengue nas casas,
bairros e cidades.
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Segundo Donalísio e Glasser (2002) o comportamento da população humana exerce pressão
seletiva sobre a população do vetor no processo de domiciliação, o que está de acordo com os
resultados obtidos neste trabalho.
5. CONCLUSÕES
O hábito cultural de deixar entulhos no entorno das residências e de acumular água em
recipientes abertos da população entrevistada mostrou ter grande importância no estabelecimento de
condições favoráveis à ocorrência do Aedes aegypti no ambiente.
A população entrevistada revelou ter assimilado relativo grau de conhecimento de como
evitar a dengue, mas negligencia esse conhecimento, criando condições para a proliferação de
potenciais criadouros do mosquito nas suas residências
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O Aedes (Stegomyia) aegypti (DIPTERA: CULICIDAE) L