ISSN 2182-6730 MENTAL(IDADES)+ n.º2| Nov./Dez. 2013 Revista da Associação para o Estudo, Reflexão e Pesquisa em Psiquia tria e Saúde Menta l Prática Clínica e Saúde Mental http://www.aerppsm.org/revista.h tml Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 1 | Jun./Jul. 2012|1 FICHA TÉCNICA MENTAL(IDADES) + Revista da AERPPSM DIRETORA CONSELHO CIENTÍFICO Ana Vieira Araújo | [email protected] Ana Vieira Araújo Fernanda Reis Pereira Fernando Manuel Gomes Ilda Vieira Murta Maria Conceição Pascoal Maria Fernanda Duarte Maria Luísa Rosa Reis Marques DIRETORA-ADJUNTA Ilda Murta | [email protected] CONSELHO REDATORIAL Alexandre Mendes Célia Franco Jorge Carvalheiro Lurdes Goretti Neves Maria João Peres Maria José Piçarra Maria Lurdes Sousa Vladimiro Andrade CONSELHO DE HONORÁRIOS Alcino Marques Carlos José Rodrigues Paiva Eurico Allen Revez Joaquim Matos Cabeças José Morgado Pereira José Paulino Rocha Maria Elisa Cortesão Maria Paula Medeiros PROPRIEDADE Associação para o Estudo, Reflexão e Pesquisa em Psiquiatria e Saúde Mental Hospital Sobral Cid. Apartado 1 CP 3031-801 CEIRA - COIMBRA Telefone: 239 796 400 Fax: 239 796 499 NIF: 503351288 CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO Ana Antunes | [email protected] INTERNET http://www.aerppsm.org/revista.html PERIODICIDADE Anual E-MAIL [email protected] TIRAGEM 150 exemplares RECEÇÃO DE ARTIGOS Ilda Murta | [email protected] IMPRESSÃO Gráfica |e-mail EDIÇÃO E REVISÃO Ana Antunes | [email protected] IMAGEM CAPA Guilherme Murta IMAGEM CONTRACAPA Novartis DEPÓSITO LEGAL 000000/14 ISSN 2182-6730 Todos os artigos são da exclusiva responsabilidade dos autores. Os textos da revista foram escritos ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013|2 SUMÁRIO P04 EDITORIAL PRÁTICA CLÍNICA E SAÚDE MENTAL ANA VIEIRA ARAÚJO P05 ENTREVISTA À CONVERSA COM REIS MARQUES ANA VIEIRA ARAÚJO ; ILDA MURTA ; LUÍSA ROSA ; FERNANDO GOMES P07 P07 ESTUDOS EVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA DE LIGAÇÃO NA MATERNIDADE BISSAYA BARRETO AO LONGO DE 12 ANOS LIASION PSYCHIATRY EVOLUTION AT MATERNIDADE BISSAYA BARRETO - 12 YEARS ANALYSIS VERA MARTINS ; HUGO BASTOS ; ILDA MURTA; J. PITORRA MONTEIRO P16 GESTÃO DE RISCO DE SUICÍDIO NA URGÊNCIA PSIQUIÁTRICA DO CENTRO HOSPITALAR DO MÉDIO TEJO MANAGING SUICIDE RISK IN THE PSYCHIATRIC EMERGENCY OF CENTRO HOSPITALAR MÉDIO TEJO FILIPA HENRIQUES ; IRENE COSTA ; HUMBERTO FIGUEIREDO P25 UNIDADE PARA TRATAMENTO DE DOENÇA MENTAL GRAVE - PERFIL DO DOENTE TRATADO NO 1º ANO DE FUNCIONAMENTO UNIT FOR TREATMENT OF SEVERE MENTAL ILLNESS - PROFILE OF THE PATIENT TREATED IN THE FIRST YEAR OF OPERATION LUÍSA ROSA ; JOSÉ TEMOTIO P32 DIVULGAÇÃO FERNANDO GOMES P39 AERPPSM Submissão de artigos P40 NORMAS DE PUBLICAÇÃO REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Mentalidades mais: revista da Associação para o Estudo, Reflexão e Pesquisa em Saúde Mental. [Em linha]. Associação para o Estudo, Reflexão e Pesquisa em Psiquiatria e Saúde Mental, propr. ; Araújo, Ana Vieira, dir. Coimbra: AERPPSM. 2013, n.º 2. [Consult. 31 Dez. 2013]. Títulos resumos e palavras-chave em ingl. Disponível em: <URL:http://www.aerppsm.org/revista.html>. ISSN 2182-6730. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |3 EDITORIAL PRÁTICA CLÍNICA E SAÚDE MENTAL ANA VIEIRA ARAÚJO, Médica Psiquiatra, CHUC, [email protected] Esta segunda revista, com o tema Prática Clínica e Saúde Mental, acredita-se que dá voz à necessidade sentida pelos profissionais, na busca da reflexão sobre a qualidade da prática e do alcançar dos objetivos propostos. Como desenvolver e organizar o trabalho nos diferentes espaços e enquadramentos na organização hospitalar? Onde se integra a prática psiquiátrica, e se daí advém benefícios é a reflexão que se impõe. Analisar e monitorizar o que se faz é imprescindível para que se reflita sobre os objetivos prévios e sua reformulação. A multiplicidade dos conceitos e as dinâmicas organizacionais da prestação de cuidados, tendo em conta a circularidade do processo de planificação, permite voltar ao início e definir os problemas e efetuar mudanças. O caráter implícito nos trabalhos apresentados, quantitativo e formativo, permite aumentar a capacidade da tomada de decisões e de melhoria da forma de trabalhar. É em nosso entender um contributo o que aqui se propõe, neste partilhar de experiências; estimular o necessário e permanente debate, conhecer a eficiência do custo/beneficio, para a tomada de decisão que nos interessa para programar o futuro. Muito Obrigada. Ana Vieira Araújo Diretora da Mental(idades)+ Fotografia: AERPPSM Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |4 ENTREVISTA À CONVERSA COM REIS MARQUES ANA VIEIRA ARAÚJO, Médica Psiquiatra, CHUC, [email protected] ILDA MURTA, Médica Psiquiatra, CHUC, [email protected] LUÍSA ROSA, Médica Psiquiatra, Chefe de Serviço, CHUC, [email protected] FERNANDO GOMES, Enfermeiro Supervisor, CHUC, [email protected] PERFIL Licenciado em pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Chefe de Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra desde 1992. Em 2009 foi nomeado Diretor de Serviço. É atualmente Diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Chefe de redação da Revista "Psiquiatria Clínica" desde a sua fundação em 1981. Desde há 5 anos que é Editor da mesma revista. Foi membro da Direção da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos de 1988 a 1992; de 1992 a 1998 foi Vice-Presidente da mesma direção. Entre 1998 a 2004 foi Presidente da direção da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos. Entre 1992 e 2001 pertenceu ao Comité de Ética dos Médicos Europeus. A fusão do Serviço de Psiquiatria do HUC com o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, instalado no Hospital Sobral Cid, colocou a necessidade de definir e gerir um projeto ambicioso para a Psiquiatria e Saúde Mental para uma vasta região de influência na Zona Centro do País. Como tem decorrido a fusão? A fusão dos HUC com o Hospital Geral e o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra é um enorme desafio e se não for bem conduzido, poderá criar conflitualidades e resistências que de todo não são benéficas. Perante a realidade de existirem dois Hospitais Centrais Gerais e um Centro Hospitalar Psiquiátrico para atender uma população que não ultrapassa as 400.000 pessoas, mesmo considerando as funções de ensino, investigação e a diferenciação clínica obrigatórias; exigidas a um Hospital Central, somos de opinião que não restava outra via, que não fosse a fusão num grande centro hospitalar. Poderá ser discutível o modo de se operacionalizar este conceito, mas o caminho é a otimização dos recursos e a racionalização dos meios, para que se preservem as capacidades instaladas e se potencializem as mais-valias que a junção traz; todo o saudosismo é neste assunto um exercício de autoflagelação. muitas centenas de profissionais, várias culturas organizacionais e não só, mas também, unidades hospitalares diversas e até distanciadas fisicamente umas das outras. Pensamos, na altura, que a melhor estratégia, era elaborar um plano de ação, fornecer a informação a todos os profissionais e descentralizar a gestão. Criamos unidades funcionais, traçamos para cada uma um conjunto definido de objetivos e responsabilizamos os coordenadores destas unidades, delegando competências e motivando as pessoas. Não penso que tenhamos errado na conceptualização, provavelmente já cometemos alguns erros na execução. Os pontos críticos têm sido fundamentalmente ligados à dispersão do Serviço e aos hábitos adquiridos que, em muitos casos, têm que mudar para novos entrosamentos. Há também alguns problemas ligados ao sistema de informação e de registos das prestações assistenciais, que não estão ainda sedimentados. Apesar de tudo, podemos dizer que, pese embora a dimensão e outras dificuldades, fomos o primeiro a terminar o processo de fusão. Que pontos críticos têm sido mais significativos? Decorrido este tempo, a sua visão foi-se alterando em relação ao projeto original, ou não? Na Saúde Mental, a fusão correu, numa visão global, muito melhor que o expectável, na medida em que englobava Passado que é um ano e poucos meses, posso dizer que a visão que tinha mantêm-se, tendo melhorado bastante o Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |5 ENTREVISTA meu otimismo em relação ao que podemos fazer quanto à qualidade da prestação dos cuidados, sendo nosso intenção agora investir num maior controlo do que se faz e aumentar significativamente o potencial de investigação e inovação do Serviço. O redimensionar do internamento com a diminuição de vagas/camas, que implicações pode ter? Que ganhos ocorrem? Julgo que a diminuição das camas não provocou constrangimentos na prestação de cuidados aos doentes, sendo certo que exige maior intensidade terapêutica, baixando os tempos de internamento, maior rigor nos critérios de internamento e termos um maior dinamismo em todas as práticas que se dirijam ao privilegiar do ambulatório. Ganha-se em temos de rentabilidade, uma maior incidência nos cuidados ambulatórios e, em consequência, menor hospitalização e institucionalização dos doentes. Que peso tem e terá a Saúde Mental Comunitária no contexto atual do Serviço? A Saúde Mental Comunitária tem neste contexto importância fundamental, pois pretendemos com a sua dinamização e ampliação a todos os concelhos, que os doentes permaneçam cada vez mais na sua residência. Julgamos que pela diversidade da nossa área de influência, das comunicações difíceis, é obrigatório que esta abordagem se desenvolva. Qual a estratégia que defende em relação à Pedopsiquiatria? A Pedopsiquiatria é a nosso ver uma área que está desprotegida, com escassos especialistas e dificuldades em dar resposta às variadíssimas solicitações. É uma especialidade médica que tendo especificidades próprias, deveria ter maior interligação com a Psiquiatria, principalmente na faixa etária entre os 16 e os 22 anos, onde se cruzam fatores vários e que necessitam de uma abordagem mais global e exigindo competências em vários saberes. Como entende conciliar a atividade assistencial, intra e extra hospitalar com a investigação e ensino, no contexto de um serviço tão vasto e diversificado? A nível do ensino, julgo que a ligação do Serviço à Faculdade de Medicina é imperiosa e os docentes devem ser todos os profissionais que trabalham num hospital com as características do CHUC. Há, contudo, médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e outros profissionais de outras áreas que têm uma carreira em que a docência é proeminente, e que orientam o ensino. Quanto à investigação, estamos a estruturar equipas por patologias, de modo a criarmos “nichos” de saberes e competências que possibilitem uma investigação estruturada, rigorosa, com potencial para ter condição internacional. Nesta perspetiva, anunciamos há dias a criação do “Prémio Sobral Cid”, no valor de mil euros, para premiar em cada ano, o melhor projeto de investigação no CRI de Psiquiatria do CHUC. Temos uma revista antiga, com mais de 30 anos, que estamos a indexar e que servirá para estimular a publicação de artigos e consequentemente a investigação. Que respostas propõem para a área do concelho de Coimbra? A área de Coimbra parece-me privilegiada nos aspetos vários da saúde mental. Temos psiquiatras a colaborar com todos os Centros de Saúde e a acessibilidade à consulta fazse com facilidade. Não é uma área que nos preocupe. Qual o papel da Terapia Familiar Sistémica no contexto da intervenção do Serviço? A Terapia Familiar Sistémica (TFS) é uma intervenção que estamos a ressuscitar agora como um desafio que fiz aos especialistas com competências nesta área, para que se organizar e criar para já, uma consulta e pensar em novos projetos. Temos para nós que todos os conhecimentos são para serem postos ao serviço dos cidadãos e não há motivo, para ser diferente o enquadramento no Serviço da TSF. Qual a sua visão para este serviço no futuro, por exemplo, para daqui a três anos? Para daqui a 3 anos, vislumbramos um Serviço com uma maior dinâmica, com as pessoas mais motivadas, com uma capacidade científica mais afirmada, com um maior rigor no exercício profissional de todos os que trabalham neste Serviço. Desejo que possamos estar menos dispersos, com linhas de investigação estabelecidas, com instalações mais atualizadas e modernizadas e com respostas diferenciadas e de excelência ao sofrimento das pessoas. Como avalia a constituição gestionária em Centro de Responsabilidade Integrado e que vantagem poderá trazer? Que nível de autonomia pensa que é imprescindível? A passagem a (CRI) Centro de Responsabilidade Integrada deveria trazer-nos uma autonomia gestionária perante o Conselho de Administração do CHUC, aumentando a nossa responsabilidade, mas permitindo-nos uma maior capacidade e agilidade de contornarmos as dificuldades. Com o atual panorama nacional e com a situação financeira calamitosa que temos. O CRI é uma forma que vai estar adormecida nos tempos mais próximos. Fotografia: Centro de Responsabilidade Integrada. CHUC Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |6 ESTUDOS EVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA DE LIGAÇÃO NA MATERNIDADE BISSAYA BARRETO AO LONGO DE 12 ANOS LIASION PSYCHIATRY EVOLUTION AT MATERNIDADE BISSAYA BARRETO - 12 YEARS ANALYSIS VERA MARTINS, Médica Interna de Psiquiatria, CHUC, [email protected] HUGO BASTOS, Médico Interno de Psiquiatria, CHUC, [email protected] ILDA MURTA, Médica Psiquiatra, CHUC, [email protected] J. PITORRA MONTEIRO, Obstetra na Maternidade Bissaya Barreto, CHUC Resumo Os autores apresentam uma breve descrição da Consulta de Psiquiatria de Ligação Obstétrica, assim como os principais modelos organizativos, funções e objetivos. A fim de caraterizar esta consulta de ligação nos 12 anos decorridos entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2012 e de avaliar os parâmetros de evolução da qualidade do atendimento, o perfil da doente referenciada e as opções terapêuticas efetuadas, os autores procederam à análise dos processos clínicos e dos registos das consultas efetuadas a 1128 grávidas ou puérperas referenciadas. O principal motivo de referenciação foi depressão, história psiquiátrica prévia e ansiedade e os principais diagnósticos psiquiátricos segundo o DSM-IV foram as perturbações depressivas, quer durante a gravidez quer no pós-parto, as perturbações de ansiedade e as psicoses. O perfil da utente tipo em 2012 é bastante diferente em relação ao ano 2000, nomeadamente em termos de idade mais avançada das grávidas referenciadas. Ao longo dos anos, o perfil de prescrição foi sofrendo alterações, utilizando-se, nomeadamente, inibidores seletivos da recaptação de serotonina e a referenciação passou a ser feita mais cedo, durante a gravidez, resultando num número menor de patologia no pós-parto. A taxa de referenciação para a consulta de ligação tem vindo a aumentar, uma vez que o psiquiatra faz parte da equipa da Unidade de Intervenção Precoce. A colaboração estreita entre obstetras e psiquiatras, inserida numa equipa multidisciplinar, é essencial e permite melhores cuidados no período da gravidez e do pós-parto, constituindo o glod standar para a abordagem da doença mental na gravidez. Abstract The authors present a brief description of Consultation liaison Psychiatry obstetric, as well as, the main organizational models, roles and goals. In order to characterize this liaison consultation in the last 12 years, between January 2000 and December 2012, and to evaluate the evolution of the parameters of quality of care, the profile of the patient treated and the treatment options, the authors examined clinical processes and records of consultations of 1128 pregnant or postpartum women referenced. The main reason for referral was depression, anxiety and prior psychiatric history and the most prevalent psychiatric diagnoses, according to DSM- IV, were depressive disorders, either during pregnancy or postpartum, anxiety disorders and psychoses. The profile of pregnant women seen in 2012 is quite different compared to 2000, mainly in terms of age of reference, that occurs at older ages. Over the years, the profile of prescription was undergoing changes, by using, in particular, selective serotonin reuptake inhibitors. The women are referenced earlier in pregnancy, resulting in fewer postpartum disorders. The rate of referral for liaison consultation has been increasing, since the psychiatrist is part of the Early Intervention Unit team. The close collaboration between obstetricians and psychiatrists, inserted a multidisciplinary team is essential and allows better care during pregnancy and postpartum, constituting the glod standard for addressing mental illness in Palavras-chave: psiquiatria Maternidade Bissaya Barreto Keywords: consultation liaison psychiatry; Obstetrics; Bissaya Barreto Maternity de ligação, obstetrícia, Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |7 ESTUDOS Rececionado em Dezembro 2013. Aceite em Dezembro 2013. INTRODUÇÃO “Organizações excelentes não acreditam excelência, somente na Melhoria Contínua”1. na Entende-se por Psiquiatria de Ligação uma área da psiquiatria clínica que inclui as atividades/discussão de casos/consultas de psiquiatria/psicologia nos serviços não psiquiátricos no Hospital Geral. Entende-se por Psiquiatria de Ligação a valência em Saúde Mental que presta cuidados integrados a doentes acompanhados por outras especialidades médicas/cirúrgicas em estreita colaboração com estas, numa perspetiva biopsicossocial. Estas atividades situam-se a três níveis: 1. Clínico, incluindo diagnóstico e terapêutica; 2. Prevenção; 3. Ensino e formação dos técnicos de outras especialidades1 Iniciando com base nas teorias de LIPOWSKI em 1967, a psiquiatria de ligação consiste numa abordagem holística da Medicina: onde o ser humano é avaliado como um “todo” e não cada sintoma de forma individual2. A consultoria é uma das atividades preferenciais desta área, referindo-se ao fornecimento de opinião diagnóstica especializada e prestando cuidados ao utente entre ambas as especialidades de acordo com o diagnóstico, equacionando os problemas com a equipa e família3. É uma área particularmente importante da psiquiatria, estimando-se que aproximadamente 30% dos doentes assistidos em contexto hospitalar apresentam perturbação psiquiátrica bem caracterizada, havendo autores que chegam a referir para estes casos valores na ordem dos 60%4. Destes apenas uma pequena percentagem de casos são efetivamente referenciados para o Serviço de Psiquiatria de Ligação. Existem pois, numerosos fatores biológicos e psicossociais associados à doença orgânica, que poderão aumentar o risco de manifestação de psicopatologia nestes doentes, como seja frustração da realização de desejos e necessidades, inadequação dos mecanismos de defesa, diminuição da autoestima, isolamento social e o uso de medicamentos que afetam o sistema nervoso central5. A forma como cada indivíduo reage “ao adoecer” depende muito da sua personalidade, da história de vida, das suas crenças, do seu estado emocional, e da sua rede de suporte6. Abordagem histórica Em Setembro de 1993, foi criado um grupo de psiquiatria de ligação com o Serviço de Medicina Dietética e Diabetes (o primeiro serviço implicado) entre o Hospital Sobral Cid e o Centro Hospitalar de Coimbra. Progressivamente a colaboração estendeu-se a outras áreas como a Neurologia, Diabetes, Doenças Infeciosas e Maternidade Bissaya Barreto. Este protocolo permitiu colmatar o fato de o Hospital psiquiátrico se encontrar distanciado do Hospital Geral e assim os técnicos poderem trabalhar de uma forma articulada. Relacionado com a qualidade dos serviços de saúde está a melhoria contínua da mesma. Esta, implica um trabalho conjunto de técnicos que, direta ou indiretamente, estão relacionados com os Serviços de Saúde – responsáveis por políticas de saúde, gestores e líderes de instituições de saúde, médicos, assistentes sociais, psicólogos, profissionais de enfermagem, administrativos, pessoal técnico e auxiliar e os da comunidade onde as organizações se inserem7. Este movimento da Psiquiatria Conciliar/Ligação, saindo das clínicas psiquiátricas ao encontro da restante Medicina, engloba-se numa tendência ampla e geral de não espartilhar o doente na visão restrita e parcelar de cada uma das especialidades8. Com a integração do HSC e do CHC no CHUC (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) o Serviço de Psiquiatria de Ligação foi-se ajustando às necessidades solicitadas, tentando manter alguns dos princípios pelo que os Serviços do antigo Hospital Sobral Cid e do Serviço de Psiquiatria dos HUC se regiam. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |8 ESTUDOS Consulta de Saúde da Mulher A Consulta de Saúde da Mulher / Psiquiatria Obstétrica decorre na Unidade de Intervenção Precoce (UIP) da MBB desde 1995, após ter sido criado um protocolo de colaboração entre o HSC e a MBB e destina-se à consulta de grávidas e puérperas com patologia psiquiátrica. Trata-se de uma equipa multidisciplinar, constituída por psiquiatra, obstetra, pediatra, enfermeiras, assistente social e psicóloga, que interage em prol do bem-estar físico e psíquico da mãe e do feto. Quanto à forma de intervenção, as consultas decorrem quinzenalmente à terça-feira. Podem ser sinalizados diretamente pelo obstetra, serviço social, psicologia, enfermagem, pediatria, psiquiatra assistente ou pedopsiquiatria. Os casos referenciados pelo obstetra são apresentados e discutidos com o psiquiatra regularmente. Nesta consulta são acompanhadas as grávidas e puérperas, até ao 1.º ano após o parto. A reunião de equipa decorre à 4.ª feira, quinzenalmente, destinando-se a apresentação de casos clínicos ou temas teóricos. O Serviço de Obstetrícia assegura o internamento de grávidas e puérperas com patologia psiquiátrica, assim como os exames complementares necessários. São também avaliados os pedidos do serviço de ginecologia na área de psico-oncologia, assim como de reprodução medicamente assistida e presta-se apoio à consulta de diagnóstico e avaliação para IVG – Interrupção Voluntária de Gravidez (5.ª feiras no período da tarde). Apesar de vários estudos de Psiquiatria de Ligação noutros países apontarem para o fato desta especialidade ser uma das que menos solicita o apoio da psiquiatria9, estudos comprovam que o estado psicológico da mulher afeta o desenvolvimento fetal, podendo verificar-se um maior risco de problemas comportamentais, emocionais, défices de concentração e atenção, linguagem ou ansiedade em relação ao feto10. Durante a gravidez tem sido descrito um maior número de acontecimentos de vida negativos, conflitos conjugais e episódios de violência doméstica11, fatores esses que contribuem para o aumento da vulnerabilidade neste período. A ansiedade materna pré-natal pode provocar alterações no eixo hipotálamo- hipofisário da criança, com elevação dos níveis de cortisol, constituindo um mecanismo de vulnerabilidade acrescida para a psicopatologia na criança12. Pode afetar o crescimento fetal resultando em atraso de crescimento intrauterino, parto prematuro e aborto espontâneo. As patologias mais frequentes são sem dúvida as perturbações de humor e ansiedade, podendo também ocorrer casos de psicoses descompensadas, debilidade mental ou consumo de substâncias. A descontinuação súbita do tratamento durante o início da gravidez encontra-se associada a taxas elevadas de recaídas assim como de suicídio. Em relação à terapêutica, os antidepressivos e ansiolíticos são os fármacos mais prescritos, devendo ser utilizados com precaução. Kulin e col. avaliaram o uso dos novos ISRS (fluvoxamina, paroxetina e sertralina) em 267 mulheres, não tendo verificado aumento do risco de malformações congénitas, prematuridade, baixo peso ao nascer ou morte fetal13. A paroxetina tem sido associada a algumas malformações congénitas, nomeadamente cardíacas, no entanto, um estudo avaliou a segurança da paroxetina em 63 crianças expostas à medicação no primeiro trimestre, e nenhuma desenvolveu malformação congénita13. Um outro estudo prospetivo de 969 casos expostos a antidepressivos, entre eles citalopram, paroxetina, sertralina e fluoxetina, não evidenciou aumento na taxa de malformações congénitas nos recém-nascidos14. Um estudo prospetivo que comparou crianças expostas a fluoxetina e amitriptilina e não expostas durante a gestação não encontrou diferença no QI global e desenvolvimento de linguagem nem comportamento na primeira infância14. Em relação aos estabilizadores de humor, os quais têm potencial teratogénico identificado, têm sido relatados defeitos do tubo neural (p. ex. espinha bífida) em cerca de 1-2% de todas as gestantes que tomaram carbamazepina ou valproato de sódio no 1.º trimestre de gravidez. Tem-se recomendado o uso concomitante de ácido fólico e vitaminas do complexo B no intuito de diminuir tais ocorrências16. O carbonato de lítio tem demonstrado teratogenicidade associada à anomalia cardíaca de Ebstein. A prescrição profilática de antidepressivos irá depender da intensidade e frequência dos episódios depressivos Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |9 ESTUDOS e só deverá ser efetuada se o quadro clínico e os antecedentes psiquiátricos assim o justificarem. Com o uso de benzodiazepinas pode ocorrer o síndrome de abstinência que inclui hipertonia, hiperreflexia, inquietação, irritabilidade, convulsões, padrões anormais de sono, choro, tremores, bradicardia, cianose, distensão abdominal. Esses sinais podem aparecer logo após o parto ou até três semanas depois e durar várias semanas19. METODOLOGIA Os autores efetuaram um estudo descritivo, de prevalência, realizado na UIP (Unidade de Intervenção Precoce) da MBB, através da análise dos processos clínicos das utentes observadas na Consulta de Psiquiatria – Obstetrícia, durante o período decorrido entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2012. Até 2010 foram apenas consultados os processos clínicos e em 2011 e 2012 procedeu-se também a entrevista clínica presencial. Foi igualmente contemplado o exame pediátrico da criança, feito por pediatra da MBB, o exame obstétrico da grávida e feto realizado por obstetra da MBB e o exame mental da grávida efetuado por psiquiatra na consulta de ligação. O objetivo deste estudo era, para além de dar a conhecer a experiência da Consulta de ligação na UIP, avaliar a presença de alterações no perfil das utentes referenciadas e na abordagem clínica e de prescrição ao longo dos anos. Os autores pretendiam ainda avaliar a segurança do uso de psicofármacos na gravidez. Foram incluídas neste estudo todas as grávidas e puérperas observadas em consulta de psiquiatria de ligação na UIP entre 2000 e 2012 e que efetuaram medicação psicotrópica durante a gravidez. As doentes foram agrupadas por anos de acordo com o esquema: Grupo 1: 2000 a 2003(4 anos); Grupo 2: 2004 a 2007( 4 anos); Grupo 3: 2008 a 2010(3 anos); e Grupo 4: 2011 a 2012. RESULTADOS Foram incluídas no estudo 1128 utentes, das quais 106 foram observadas entre 2000 a 2003 (4 anos), 298 no período de 2004 a 2007 (4 anos), 321 entre 2008 e 2010 (3 anos) e 403 entre 2011 e 2012 (2 anos). Gráfico 1: Número de utentes observadas na Consulta de Psiquiatria de Ligação segundo os anos. Observando o Gráfico 1,constata-se que o número de utentes observadas foi aumentando progressivamente desde que o Serviço foi criado, sendo que a referenciação para esta Consulta foi aumentando, sendo os últimos 2 anos o período com mais utentes em seguimento. Em relação à idade, é notório um aumento da idade média das utentes observadas em Consulta ao longo destes 12 anos, passando de 29 para 34, tendo a primípara mais velha 47 anos, o que reflete que as mulheres engravidam cada vez em idades mais tardias. Gráfico 2: Média de idades das utentes observadas na Consulta de Psiquiatria de Ligação. Os diagnósticos psiquiátricos mais prevalentes foram as perturbações de humor e de ansiedade, nomeadamente a depressão, assim como a depressão pós parto. A taxa de depressão pós parto sofreu uma diminuição marcada ao longo dos anos, passando de 76 doentes entre 2000 e 2003, para 18 doentes em 2011 e 2012. A prevalência das perturbações depressivas também diminuiu ao longo do tempo. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |10 ESTUDOS As psicoses, nomeadamente a esquizofrenia, também ocorreram apesar de em menor percentagem. A taxa de internamento no pós-parto por motivos psiquiátricos foi decrescendo ao longo dos anos, passando de 17 doentes há 12 anos atrás para 0 doentes nos anos de 2011 e 2012. Os internamentos deveram-se a descompensação das perturbações depressivas ou psicóticas no pós-parto, demonstrando assim a maior gravidade dos quadros clínicos neste período, pois a referenciação fazia-se tardiamente. Gráfico 3: Diagnósticos psiquiátricos das utentes seguidas em consulta de Psiquiatria de Ligação. Quanto à terapêutica, os fármacos mais utilizados foram os antidepressivos e os ansiolíticos, quer na atualidade, quer no passado, seguindo-se os anti psicóticos e os estabilizadores de humor, em menor percentagem. No entanto, a prevalência da utilização de antidepressivos é superior em 2011 e 2012, sendo que de 2000 a 2003 mais utentes permaneciam sem medicação para o seu quadro psiquiátrico. Da análise diferencial dos vários antidepressivos utilizados concluiu-se que o perfil de prescrição tem vindo a sofrer alterações ao longo dos anos, conforme mostra o Gráfico 4. Há 12 anos atrás, os antidepressivos tricíclicos correspondiam à classe mais prescrita, sobretudo a clomipramina, a amitriptilina e a maproptilina, não só porque os seus efeitos na gravidez eram mais bem conhecidos à data, mas também porque só começaram a surgir, nessa época, os primeiros estudos relativos à utilização dos inibidores da recaptação de serotonina nas grávidas, nomeadamente a fluoxetina. A fluoxetina e a venlafaxina foram as únicas moléculas antidepressivas utilizadas até 2003, para além dos tricíclicos, enquanto no panorama atual o uso de antidepressivos é mais diversificado, utilizando-se por norma os ISRS, nomeadamente a fluoxetina e a sertralina, uma vez que têm demonstrado ser seguros na gravidez. A paroxetina, apesar de estar desaconselhada por estar associada a malformações cardíacas, foi utilizada num número reduzido de casos, na maioria porque se tratava de uma opção terapêutica já instituída previamente à gravidez. Em relação aos ansiolíticos (gráfico 5), o diazepam era o mais utilizado até 2007, sendo depois substituído pelo alprazolam, uma vez que tem duração de ação mais curta e um efeito miorrelaxante mais moderado, sendo preferível na fase final da gravidez. Também foram utilizados outros, como o oxazepam e o lorazepam, com bons resultados. Gráfico 5: Análise diferencial dos vários ansiolíticos utilizados ao longo dos anos. Gráfico 4: Análise diferencial dos vários antidepressivos utilizados ao longo dos anos. Os estabilizadores de humor (gráfico 6), apesar de serem necessários em determinadas patologias, devem ser usados com cautela devido aos efeitos teratogénicos conhecidos, nomeadamente do lítio. Assim, na amostra estudada, o estabilizador de humor Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |11 ESTUDOS mais usado ao longo dos anos foi a carbamazepina, sendo que a lamotrigina também começou a ser mais usada nos últimos 2 anos, com bons resultados. Gráfico 6: Análise diferencial dos vários estabilizadores de humor utilizados ao longo dos anos. Relativamente aos antipsicóticos (gráfico 7) utilizados, os antipsicóticos típicos eram os mais utilizados, sendo ainda usados com segurança. No entanto, os atípicos têm tido cada vez mais estudos e têm sido usados com mais frequência, nomeadamente a quetiapina, a olanzapina e a risperidona, não só em quadro psicóticos, mas também como estabilizadores de humor e adjuvantes da terapêutica antidepressiva. Gráfico 7: Análise diferencial dos vários antipsicóticos utilizados ao longo dos anos. Em termos de malformações congénitas, verificaram-se 5 casos que foram acompanhados com precaução. Malformações (n=5) Retinoblastoma Displasia da anca congénita Criptorquidia Comunicação interauricular restritiva Presença canal aurículo ventricular Depressão Depressão SSRI + BZD AD tricíclicos Ansiedade Depressão AD tricilicos + BZD SSRI+AD tricíclicos+BZD SSRI+AD tricíclicos+BZD Depressão Tabela 1: malformações identificadas na amostra em estudo. DISCUSSÃO A referenciação para a consulta de Psiquiatria de Ligação tem vindo a aumentar ao longo dos anos, fruto de uma maior sensibilização para a vulnerabilidade psiquiátrica associada aos períodos da gravidez e pósparto e à evidência de que a doença psiquiátrica não tratada durante a gravidez está associada a maiores taxas de mortalidade e morbilidade quer na mãe, quer para o feto, nomeadamente com complicações periparto e atraso no desenvolvimento psicomotor da criança. A idade média das grávidas observadas tem vindo a aumentar progressivamente, o que se prende com o fato das mulheres terem filhos cada vez mais tarde, não só por motivos académicos e profissionais, mais também por motivos económicos, falta de autonomia financeira e insegurança em relação ao futuro. De qualquer modo, o acompanhamento médico a que são submetidas são fatores tranquilizadores para diminuir as preocupações associadas a este período. A referenciação para acompanhamento psiquiátrico durante a gravidez também tem ocorrido mais precocemente, permitindo um acompanhamento ainda na gravidez, com recurso a tratamento psicofarmacológico caso seja necessário e monitorização mais estreita do período pós-parto, diminuindo assim as descompensações dos quadros psiquiátricos frequentes neste período, por vezes com necessidade de internamento da doente e separação traumática do recém-nascido, interrompendo a interação mãe-filho, tão necessária nas fases precoces do desenvolvimento do bebé. Assim, nenhuma das utentes necessitou de internamento no período pós parto, entre 2011 e 2012, ao contrário do que acontecia há 12 anos atrás, uma vez que a patologia perinatal era mais insidiosa e menos prevenida. O estigma de não efetuar qualquer medicação nesse período e de que os mitos em relação à grávida (desejos, vómitos, ansiedade…). Conforme a análise dos diagnósticos mais prevalentes, a patologia depressiva e ansiosa é a grande responsável pela necessidade de acompanhamento psiquiátrico. No entanto, e fruto de uma intervenção mais precoce, a depressão pós parto tem vindo a diminuir, assim como a prevalência dos quadros de doença menta mais grave, como as psicoses. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |12 ESTUDOS A descontinuação de psicofármacos na grávida deverá ser avaliada de forma cautelosa, ponderando o risco e o benefício de tratar versus deixar que a doença evolua para quadros mais graves, inclusive no pós-parto. Esta decisão também deve ser partilhada pela equipa multidisciplinar, envolvendo Obstetra, Psiquiatra e se necessário Pediatra ou um clínico com formação na área da Genética (consulta de Psiquiatria de Ligação)16. Os investigadores alertam para o facto de que a interrupção do tratamento psicofarmacológico poder resultar numa recaída do quadro psiquiátrico, o que pode colocar a mãe e o bebé em risco. O estudo atual procurou também determinar a associação entre o uso de psicofármacos e o risco de aborto e os efeitos para com o recém-nascido. Nesta população não foi encontrada diferença entre o descrito na literatura e os dados da Consulta de Ligação, no que respeita a malformações no recém-nascido ou desenvolvimento estato-ponderal, motor e cognitivo, não havendo diferenças relativamente ao peso ao nascimento, idade gestacional e prematuridade. Também não foi encontrado aumento das complicações no parto relativamente ao descrito na literatura. Relativamente ao uso de psicofármacos, o diazepam foi associado a um APGAR mais baixo, apesar dos partos em que foram utilizadas benzodiazepinas não terem valores de APGAR mais baixo, havendo no entanto maior necessidade de parto instrumentado. Na fase final da gravidez são preferíveis, se necessário, as benzodiazepinas de semivida curta (lorazepam e alprazolam) e sem efeito miorelaxante.O uso contínuo, em altas doses e por um período prolongado do diazepam permite o aparecimento de “floppy baby” e síndrome de abstinência, devendo ser utilizado com cautela à semelhança de outros estudos efetuados pela mesma equipa nesta Unidade de Saúde. Em relação aos antidepressivos, os ISRS têm-se mostrado seguros em termos de outcomes neonatais e malformações congénitas. A paroxetina foi associada a malformações cardíacas, tendo ocorrido em 2 dos casos seguidos. Não há antidepressivo ideal, no entanto, atualmente existe uma disponibilidade grande de fármacos que atuam através de diferentes mecanismos de ação o que permite que, mesmo em depressões consideradas resistentes, o tratamento possa obter êxito. Os estabilizadores de humor têm sido utilizados apenas quando estritamente necessário, dado o risco teratogénico associado, tentando quando possível substituí-los por antipsicóticos. Dentro da classe dos antipsicóticos, tem vindo a ser privilegiado o uso dos atípicos, uma vez que os estudos de segurança têm sido cada vez mais, não acarretando qualquer complicação na nossa amostra. CONCLUSÕES A gravidez e o pós-parto são períodos de grande vulnerabilidade para as perturbações psiquiatrias, nomeadamente as perturbações do humor, ansiedade e perturbações psicóticas que, quando não tratadas, implicam graves consequências para a grávida e para o feto. A Consulta de Psiquiatria de Ligação na Maternidade Bissaya Barreto faz parte de uma Unidade de Intervenção Precoce constituída por uma equipa multidisciplinar que desempenha uma intervenção específica em grávidas e puérperas, acompanhando as utentes durante 1 ano após o nascimento do bebé. Élhes explicado assim como às famílias o efeito a nível do humor e ansiedade da diminuição súbita dos níveis séricos hormonais no período pós parto de forma a poderem manter-se atentos para qualquer sinal ou sintoma. Uma equipa multidisciplinar, composta por técnicos diferentes, permite uma discussão diagnóstica e terapêutica centrada no risco benefício para a mãe e o feto, constituindo o gold standard para o seguimento de grávidas com doença mental. Esta consulta pretende integrar um grupo de trabalho específico e vocacionado para a investigação nesta área, apostando constantemente na formação dos técnicos da equipa. REFLEXÃO Ao longo dos anos, e desde o início das primeiras consultas de ligação, sentimos que a integração e desempenho das equipas é cada vez mais importante. Parece que, definido o modelo de organização, as equipas de prestação de cuidados se compatibilizarão com os objetivos propostos. Todo este trabalho deverá ter um âmbito multidisciplinar e articular com os Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |13 ESTUDOS Serviços dos Hospitais Gerais e outras equipas de referência. Os protocolos visam melhorar a personalização de cuidados ao doente, acessibilidade e promoção de uma melhoria de recursos nos vários tipos de intervenção. A formação contínua dos elementos da equipa, assim como a investigação, têm em vista uma melhoria da qualidade dos serviços prestados, assim como acesso a formas mais eficazes e inovadoras de atuação. Com as novas Diretivas de Saúde Mental que preconizam um trabalho junto aos serviços, utentes e equipas colocam-nos mais próximo dessa realidade que para esta equipa já existia. A experiência de Ligação com a MBB tem tido resultados que têm tido resultados significativos a melhorar ao longo destes anos. A troca de conhecimentos entre as especialidades transmite-nos uma visão global e multidisciplinar da “utente” de modo a podermos opinar de forma mais fundamentada com a prática clínica, pesquisa e informação sobre a temática e estudos efetuados ao longo deste período nomeadamente o “NEONATAL OUTCOMES AFTER PRENATAL EXPOSURE TO PSYCHOTROPIC MEDICATION – A CASE CONTROL STUDY“ efetuado pelos autores que compararam neonatal outcomes na grávida exposta a psicofármacos observada na consulta de Ligação (n=100), com as que não tinham efetuado qualquer terapêutica (Outubro 2011 – Outubro 2012) ou o “EXPERIENCE OF THE EARLY INTERVENTION UNIT OF BISSAYA BARRETO MATERNITY REVIEW OF SIX YEARS RETROSPECTIVE FOLLOW UP” efetuado em articulação com o serviço de Pediatria onde foram avaliadas crianças atá aos 6 anos de idade filhas de mães medicadas durante a gravidez. Estes e outros estudos transmitiram há equipa segurança em termos de prescrições uma vez que em nenhum deles se encontraram diferenças significativas nas crianças expostas aos psicofármacoso que reforçou positivamente quanto à forma de trabalhar em conjunto manipulando a terapêutica de forma confiante e segura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 LIPOWSKI, Z. J. — Review ofconsultation psychiatry and psycho somatic medicine.General Principles. Psychos. Med. 1967; 29: 153-171. Br J Psychiatry 1986;149:172-90 2VAZ SERRA, AS. - Aspectos psicológicos da dor. Folia medi cipropsiquiatria. PubI. Ciba-Geigy Port., 1979. 3 KUBIE, L.S. — The organization of a psychiatric service for a general hospital. Psychosom. Med. 1944; 6: 252-272. 4 KALTON, G. — Psychiatric Illness in General Practice, 1981, London, Oxford Univ. Press. 5 LIPOWSKI, Z.J. — Idem. Theoreticai Issues. Psychos. Med. 1968; 30: 395-422. 6 Spitzer RL, Kroenke K, Williams JB. 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Homogeneus inhibitory longitudinal and and of non-homogeneus the guinea-pig distribution in Br. ileum. of the J. excitatory adrenoceptors 18 Rigatelli M, Galeazzi GM, Palmieri G. Consultation-liaison psychiatry in obstetrics and gynecology. J PsychosomObstet Gynaecol 2002;23:165-72. 19 Huyse FJ, Herzog T, Lobo A, Malt UF, Opmeer BC, SteinB. European Consultation-Liaison Psychiatric Services:he ECLW Collaborative Study. Acta Psychiatr Scand2000;101:360-6. - Vesga-Lopez O et al. Psychiatric disorders in pregnant and postpartum women in the United States. Arch General Psychiatry 2008; 65(7): 805-15. - Gentile S. Pregnancy exposure to serotonin reuptake inhibitors and the risk of spontaneous abortions. CNS Spectr. 2008; 13(11): 960-6. - Smith MV, Rosenheck RA, Cavaleri MA, et al. Screening for and detection of depression, panic disorder, and PTSD in public-sector obstetric clinics. Psychiatr Serv. 2004; 55(4): 407– 14. - Kelly R, Zatzick D, Anders T. 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Assistente Hospitalar, CHMT a) Baseado num Poster apresentado no XII Simpósio da Sociedade Portuguesa de Suicidiologia que teve lugar nos dias 26 e 27 de Abril de 2013 em Bragança Resumo Abstract Introdução: Compreender o suicídio constitui uma tarefa hercúlea pela complexidade de fatores envolvidos. Cabe aos profissionais de saúde aprenderem a gerir os fatores de risco de suicídio de forma a ajudarem o paciente de forma competente. Objetivos: Caracterizar epidemiologicamente uma amostra de doentes com comportamentos suicidários (CS) que recorreu à Urgência de Psiquiatria do CHMT entre 1 de janeiro e 28 de fevereiro de 2013; estabelecer fatores de risco para esta amostra; compará-los com a literatura vigente; apurar se existem diferenças significativas; e avaliar os mesmos indivíduos daqui a dois anos. Métodos: Consulta e avaliação dos processos clínicos dos doentes que recorreram à Urgência de Psiquiatria do CHMT no período indicado, seleção dos doentes com CS, realização de entrevista clínica, aplicação de instrumento de avaliação do risco de suicídio (TASR) e análise estatística dos dados obtidos. Resultados e Conclusões: Verificou-se predominância do género feminino. A média de idades foi de 42 anos. A maioria apresentava rede de suporte social, estava empregado e era casado. Obtivemos um valor mais elevado do que o esperado para os residentes em Tomar. A maioria tinha seguimento psiquiátrico prévio e diagnosticada uma perturbação do humor. Em termos de psicopatologia, o humor depressivo e a impulsividade tiveram grande destaque. Obtivemos relação estatisticamente significativa entre a desesperança e a intenção letal do ato. A maioria negou consumo habitual de substâncias, mas 30.2% admitiram o consumo no momento do CS. A maioria corresponde a um primeiro CS. Cerca de ¼ da amostra refere história de abuso e antecedentes familiares de CS. O desencadeante imediato mais preponderante foi conflito familiar/afetivo. O método mais utilizado foi o consumo excessivo de fármacos e destacou-se o recurso pelas mulheres a métodos mais violentos/letais. A maioria recorreu ao SU nas primeiras 3h após o CS, existindo correlação entre a gravidade do CS e o tempo até entrada no SU. A maioria negou ideação/intenção/plano suicida no momento da avaliação e no encaminhamento, teve indicação para consulta psiquiátrica. Objetivámos uma relação estatisticamente significativa entre o risco elevado na TASR e o internamento psiquiátrico. Na entrevista, a maioria avaliou subjetivamente o seu estado atual como melhor. Background: Understanding Suicide is an herculean task for the complexity of factors involved. It is for health professionals to learn how to manage the risk factors for suicide in order to help the patient competently. Objectives: To characterize epidemiologically a sample of patients with suicidal behaviors (SB) that appealed to the Urgency of Psychiatry CHMT between January 1 and February 28, 2013, to establish risk factors for this sample, compare them with the current literature; determine whether there are significant differences and to evaluate the same individuals in two years. Methods: Consultation and evaluation of the clinical patients who resorted to the Urgency of Psychiatry CHMT the period indicated, selection of patients with SB, conducting clinical interviews, application tool for assessing the risk of suicide (TASR) and statistical analysis obtained. Results and Conclusions: There was a predominance of females. The median age was 42 years. Most had social support network, was employed and was married. We obtained a higher than expected for residents in Tomar. Most had previous psychiatric follow-up and diagnosed with a mood disorder. In terms of psychopathology, depressed mood and impulsivity had great prominence. We obtained statistically significant relationship between hopelessness and lethal intent of the act. Most denied habitual consumption of substances, but 30.2% admitted consumption at the time of SB. Most corresponds to a first SB. About ¼ of the sample relates history of abuse and family history of SB. The immediate trigger most dominant was family/affective conflict. The method used was excessive consumption of drugs and the highlight was the use by women to more violent/lethal methods. Most appealed to the Hospital in the first 3 hours after the SB. There is a significant correlation between the severity of the SB and the time to enter the Hospital. Most denied suicidal ideation /intent /plan at the time of assessment and was referred for psychiatric consultation. We obtained a statistically significant relationship between elevated risk in TASR and psychiatric hospitalization. In the interview, most subjectively assessed their current status as best. Palavras-chave: Suicídio; Tentativa de suicídio (TS); Parasuicídio (PS); Fatores de Risco. Keywords: Suicide, Attempted Suicide (TS); Para-suicide (PS); Risk Factors. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |16 ESTUDOS Rececionado em Dezembro 2013. Aceite em Dezembro 2013. INTRODUÇÃO Segundo a OMS, todos os anos, cerca de um milhão de pessoas morrem por suicídio. Nos últimos 45 anos as taxas de suicídio têm aumentado cerca de 60% por todo o mundo e representam na clínica psiquiátrica e na sociedade atual, um sério problema de saúde pública. Compreender o suicídio constitui uma tarefa hercúlea pela complexidade e infinidade de fatores envolvidos (biológicos, psicológicos, psicopatológicos, sociais, religiosos e culturais) para cada doente. Assim, os profissionais de saúde devem estudar, reconhecer e gerir os fatores de risco e proteção do suicídio de forma a ser possível ajudar o paciente de forma competente. OBJETIVOS 1. Caracterizar epidemiologicamente uma população de doentes com comportamentos suicidários (CS) que recorreu ao Serviço de Urgência de Psiquiatria do CHMT entre o dia 1 de janeiro e o dia 28 de fevereiro de 2013; 2. Estabelecer perfis/fatores de risco para esta amostra; 3. Compará-los com a literatura vigente; 4. Apurar se existem ou não diferenças significativas; 5. Esta colheita de dados pretende ainda, fora do âmbito deste poster, alargar o estudo a mais dois anos, de forma a avaliar o trajeto destes indivíduos, recorrência ou não destes CS, contextos, consequências e psicopatologia. MATERIAL E MÉTODOS Apesar de não haver uniformidade na literatura quanto ao balizar adequado das definições dos CS, assumimos na seleção da amostra, definições mais restritas e diferenciadoras de suicídio, TS e PS. Excluímos gestos auto-lesivos sem intuito suicidário ou não executados para imitar o suicídio. Assim, tivemos por base a definição de suicídio adotada pela OMS em 2002 como um ato deliberado, iniciado e levado a cabo por um individuo com pleno conhecimento ou expectativa de um resultado fatal. Neste sentido, a TS surge como o ato suicida com intenção de morte, mas que não atinge o seu propósito (suicídio frustrado). Relativamente ao PS, usámos a definição da CID-10, assumindo como o ato não fatal, na sequência de um comportamento de um indivíduo que provoca auto-lesão ou ingere uma substância em sobredosagem para além do prescrito/terapêutico, e que visa mudanças desejadas pelo indivíduo, quer através desse ato, quer através de eventuais consequências. O Método usado englobou: 1. Consulta dos processos clínicos de 596 doentes que recorreram ao SU de psiquiatria do CHMT entre 1.1.2013 e 28.2.2013; 2. Seleção de 43 utentes que recorreram ao SU nesse período em contexto de PS ou TS; 3. Avaliação dos processos clínicos da urgência, internamento e consulta; 4. Realização de entrevista clínica, aplicação do instrumento para avaliação do risco de suicídio TASR (Tool for Assessmentof Suicide Risk) (Kutcher, 2007) e análise estatística dos dados com recurso ao SPSS 17.0. Trata-se de um estudo ambispectivo. Retrospetivo documental no sentido em que é feito a partir da análise casuística, de várias variáveis obtidas do processo clínico: género, idade, residência, estado civil, situação laboral, método usado, tempo decorrido do CS até admissão hospitalar, seguimento psiquiátrico prévio, diagnóstico psiquiátrico prévio, antecedentes pessoais (AP) de CS, uso de substâncias, fatores de personalidade, antecedentes familiares (AF) de CS, história médica de doença crónica, suporte social, psicopatologia (humor, desesperança, anedonia, ansiedade, impulsividade, ideias delirantes, alucinações), violência física, verbal ou sexual, acesso a método letal, desencadeante do CS e encaminhamento. Este estudo foi também prospetivo, por estabelecimento de um novo contacto com os doentes onde se procedia à autoavaliação do estado psicopatológico atual, definição Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |17 ESTUDOS do risco de suicídio relativo ao episódio avaliado usando a TASR, e a definição de risco futuro tendo em conta os diferentes fatores de risco avaliados. Para a estimativa de risco futuro de suicídio elaborámos um “diagrama de risco” para diminuir a subjetividade entre observadores. Foram avaliações “duplamente cegas” uma vez que foram analisadas separadamente e discutidos à posteriori os casos sobre os quais havia discrepância no juízo final. RESULTADOS E DISCUSSÃO A amostra é constituída por 43 doentes, 31 do género feminino (72.1%) e 12 do género masculino (27.9%). Existe uma clara predominância do género feminino o que vai ao encontro da literatura que refere: “o sexo feminino pode fazer mais frequentemente TS ou assumir comportamentos autoagressivos” (Kutcher, 2007). A média de idades dos doentes estudados foi de 42 anos (idade mínima de 18 e máxima de 87 anos). Na nossa amostra, 81.4% dos doentes estavam entre os 20 e os 59 anos, com um ligeiro pico entre os 40-49 anos. Os extremos de idade (intervalos de 10-19 e mais de 70 anos) corresponderam cada um a 7.0% dos casos. O intervalo entre os 10-19 anos é pouco representativo pelo facto do CHMT não ter Pedopsiquiatria de urgência e esses doentes serem encaminhados diretamente para outro centro hospitalar. O grupo etário com mais de 70 anos representou apenas 7.0% da amostra, em contraponto com a literatura que refere que este período é um dos picos de incidência (Kutcher, 2007) de CS (tabela 1). Apesar da literatura associar o idoso a uma taxa de suicídio duas vezes mais elevada que os mais jovens (Wattis, 2008) pela sua fragilidade física, maior probabilidade de viverem sozinhos e maior intenção letal (Firmino, 2006), na nossa amostra, não obtivemos relação estatisticamente significativa entre idades superiores a 65 anos e intenção suicida (p = 0,277) e tentativa grave de suicídio vs PS (p = 0,095). Em relação ao estado civil, grande parte era casado (48,8%), situação que a literatura refere habitualmente como fator protetor, 30,2% solteiros, 4.7% viúvos e 16,3% eram divorciados. Relativamente ao concelho de residência, 3 dos doentes eram fora da área (Santarém, Castelo Branco e Portalegre), pelo que, após avaliação, foram transferidos para o Hospital da área de residência. Comparámos a densidade populacional das regiões com a procura do SU no contexto de CS e obtivemos algumas discrepâncias (tabela 2). Na cidade de Tomar obtivemos um acréscimo no nº de doentes de 10.2% relativamente ao valor esperado que poderia ser explicado pela proximidade do serviço de psiquiatria (situado em Tomar). Em sentido oposto hospitais mais distantes (Abrantes e especialmente Torres Novas) tiveram valores reais menores que o esperado. A maioria dos doentes (83.7%) apresentava rede de suporte social. Apenas 16.3% não apresentavam suporte externo, nomeadamente em casa, escola, emprego, igreja e/ou comunidade, sendo este fator considerado de risco (isolamento social). Apesar do desemprego ser considerado um fator de risco verificámos, na nossa amostra, que apenas 34.9% dos indivíduos eram desempregados (tabela 3). Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |18 ESTUDOS amostra, uma muito clara correlação, com significância estatística, entre a desesperança e a intenção suicida (p = 0,00). Na nossa amostra a maioria das pessoas (60.5%) tinham seguimento psiquiátrico prévio. Em relação aos diagnósticos psiquiátricos prévios, a literatura refere que as perturbações do humor aumentam o risco de morte por suicídio em 20 vezes (Kutcher, 2007). Na nossa amostra as perturbações do humor (em geral), representaram 67.4% dos diagnósticos prévios e a Perturbação Depressiva Major isoladamente, representou 46.5% (gráfico 1). Apenas 14,0% dos casos não tinham antecedentes psiquiátricos. A desesperança (representada na nossa amostra por 7%), funcionou independentemente da variável humor depressivo como indicador de intenção suicida, em consonância com a literatura (Beck, 1985). A desesperança corresponde a expectativas negativas sobre o Eu e o futuro, a culpa nos problemas, a solução dos problemas como inexistente. Estas crenças formam, em termos de modelo cognitivo, um sistema fechado em que a pessoa vê no suicídio a única forma de resolução dos problemas. A literatura reconhece a desesperança como precursora do suicídio. A maioria (69.8%) negava consumo habitual de substâncias, 18.6% apresentavam consumo excessivo habitual de álcool e 9.3% consumos mistos (gráfico 2). Relativamente à psicopatologia encontrada, o humor depressivo (76.7%) e a impulsividade (93.0%) foram os sintomas mais prevalentes (tabela 4). Apesar da tendência, não se atingiu a significância estatística entre humor depressivo e intenção letal no ato (p=0.089). Ao contrário do humor depressivo, verificou-se, na nossa Em relação ao momento do comportamento suicidário, 30.2% admitiram consumo de álcool e/ou drogas. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |19 ESTUDOS Segundo a literatura, o abuso ou a dependência do álcool, podem ser corresponsáveis por 25 a 50% das mortes por suicídio e o álcool está associado a um aumento de seis vezes na taxa de mortalidade por suicídio em relação à população geral (risco vital até 15%) (Kutcher, 2007). Sabemos ainda que o suicídio no contexto de intoxicação por álcool é mais provável que envolva a utilização de um método altamente letal. Na nossa amostra não se verificou uma correlação estatisticamente significativa entre o consumo de álcool ou drogas no momento do CS com a realização de uma TS grave (p = 1.00). Também não se revelou estatisticamente significativa a relação entre abuso de álcool ou drogas no episódio e a intenção letal no ato (p = 0.70). Esta ausência de correlação poder-se-á justificar pelo facto do suicídio neste contexto de intoxicação advir muitas vezes de um ato mais impulsivo do que planeado. Na nossa amostra 60,5% dos casos corresponderam a um primeiro CS (gráfico 3). Questionámo-nos sobre se, na nossa amostra, as pessoas que fizeram uma TS ou PS no passado, fizeram no episódio atual uma TS ou PS respetivamente, e chegámos à conclusão de que há uma correlação estatisticamente significativa. De facto, o para-suicida tendeu a repetir o gesto autoagressivo do tipo PS (p = 0.01), em contraponto os que têm AP de TS tenderam a repetir gestos com intuito suicidário (p = 0.015). presente (gráfico 4). Sabe-se que as taxas de suicídio são, pelo menos, 10 vezes maiores em indivíduos com antecedentes infantis de abuso sexual ou físico. São também 4 a 8 vezes superiores em indivíduos que sofreram violência doméstica recente comparativamente ao resto da população (Kutcher, 2007). AF de CS foram negados por 81.4%. Há que ter em conta que uma percentagem significativa de pessoas pode não ter conhecimento dos AF ou ter relutância em partilhá-los por vergonha. Na amostra, 60.5% dos doentes indicaram como desencadeante imediato do CS um conflito familiar ou na relação afetiva. A doença orgânica e a depressão representaram cada uma 11.6%.As doenças orgânicas implicadas foram Hepatite C, degeneração osteoarticular com dores e limitação funcional, DPOC agudizada, hérnia discal com dores. Há que ter em conta que o desencadeante imediato é apenas um precipitante comportamental e não a causa do suicídio (tabela 5). Na nossa amostra 18.6% dos doentes apresentou história de abuso (físico/ verbal/sexual) passado ou Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |20 ESTUDOS Relativamente à história médica a maioria da amostra negou AP relevantes, 41.9% fizeram referência a doenças crónicas e 4.7% a doenças agudas. A maioria dos doentes da nossa amostra (53.5%) não referiu AP de doença médica. Quanto ao método utilizado no gesto suicidário, 79.1% recorreu ao consumo excessivo de fármacos (gráfico 5). Os perfis dos CS não letais foram diferentes nos dois géneros, tendendo as mulheres para o PS e os homens, com maior frequência, para o suicídio frustrado. Apesar de essa diferença não atingir a significância estatística (p = 0,08), há uma clara tendência, com 79,4% das mulheres sem intenção suicida no ato vs 20,6% sem intenção nos homens (gráfico 7). Curiosamente, na nossa amostra, verificámos o recurso, pelo género feminino, a métodos tradicionalmente associados aos homens, pela sua violência/letalidade (enforcamento, defenestração e organofosforados) (gráfico 6). Na nossa amostra verificámos a existência de uma relação estatisticamente significativa entre o CS em homens e o risco aferido como aparentemente grave de suicídio no futuro (p = 0.028). A grande maioria dos indivíduos da amostra (62.8%) recorreu ao SU nas primeiras 3h após o CS, (gráfico 8). Relacionámos o tempo de chegada ao SU com as cotações do TASR e verificámos que de forma estatisticamente significativa (p = 0.032) os utentes que entravam nas primeiras 3 horas tinham cotações mais baixas na TASR, ou seja, parece haver correlação entre a nossa leitura de gravidade do CS no seu conjunto, e o tempo até à entrada no SU. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |21 ESTUDOS Já no SU, 81.4% dos utentes da nossa amostra negaram ideação suicida no momento da avaliação e 83.7% negaram plano nesse mesmo momento de avaliação. Do total da amostra, 79.1% negaram intenção no ato (tabela 6). No entanto, a abordagem no serviço de urgência com médicos com os quais o individuo não tem qualquer tipo de relação terapêutica pode fazer com que alguns possam sentir relutância em revelar as suas reais ideias, intenções e planos de suicídio. Além disso, a perceção de que muitos destes atos aconteceram de forma impulsiva, representando muitas vezes a expressão de um desejo de mudança, mais do que de morte efetiva, ou a noção de obtenção de um objetivo imediato, real ou imaginado, lhes confere a sensação de resolução da crise aguda, e que por isso, em muitos casos mitiga ou desvanece, ainda que muitas vezes apenas temporariamente, a cadeia de eventos suicidários (ideia, intenção e plano de suicídio). O risco de suicídio para o episódio atual, com aplicação do TASR, foi avaliado como baixo em 53.5% dos casos, como moderado em 34.9%, como elevado em 11.6% dos casos (gráfico 10). Na amostra, com recurso ao “diagrama de risco”, considerámos que 60.5% dos indivíduos tinham um risco moderado de vir a cometer suicídio, 20.9% risco baixo e 18.6% risco elevado (gráfico 11). No encaminhamento após observação psiquiátrica no SU, 60,5% dos casos tiveram indicação para manter cuidados psiquiátricos (20.9% para internamento, 37.2% para consulta e 2.3% para hospital de dia) e 39.5% foram encaminhados para o médico de família (gráfico 9). Estes valores de risco inferido foram, como seria de esperar, superiores aos do episódio atual, uma vez que se trata de uma projeção, em que foram equacionados todos os fatores de risco (no plano teórico) daquele doente e que podem não se ter verificado no episódio atual (gráfico 12). Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |22 ESTUDOS CONCLUSÕES Ao correlacionar as variáveis TASR cotadas como elevado e o internamento psiquiátrico, objetivamos uma relação estatisticamente significativa entre elas (p = 0,000) (gráfico 13). Houve portanto uma correspondência entre o juízo clínico dos médicos do SU relativamente à gravidade dos casos, com consequente encaminhamento para internamento, e o resultado obtido da aplicação formal da escala de risco de suicídio, cotada como de risco elevado. Na entrevista realizada posteriormente ao episódio, para aplicação do instrumento TASR, a maioria dos doentes avaliou subjetivamente o seu estado atual como melhor (83.7%) e apenas 16.3% referiu não existirem alterações relativamente ao seu estado no episódio em causa. Os autores estudaram a população de doentes que recorreu ao SU de psiquiatria do CHMT com CS entre 1.1.2013 e 28.2.2013. Na nossa amostra houve predominância do género feminino, a média de idades foi de 42 anos e 81.4% estavam entre os 20 e os 59 anos. A maioria apresentava rede de suporte social, estava empregado e era casado. Relativamente ao concelho de residência, na cidade de Tomar obtivemos um acréscimo significativo no nº de doentes relativamente ao esperado para a densidade populacional. Em sentido oposto, hospitais mais distantes tiveram valores reais menores que o esperado. A maioria tinha seguimento psiquiátrico prévio, e diagnosticada uma perturbação do humor. Da psicopatologia encontrada no SU, o humor depressivo e a impulsividade tiveram grande destaque. No entanto, foi com a desesperança que obtivemos uma relação estatisticamente significativa com a intenção letal do ato. A maioria negava consumo habitual de substâncias, mas no momento do CS, 30.2% admitiram consumo de álcool e/ou drogas. Foi possível infirmar relação entre este tipo de consumo e realização de uma TS grave ou intenção letal do ato. A grande maioria dos casos corresponderam a um primeiro CS. Dos que já tinham CS prévios, o PS tendeu a repetir o gesto autoagressivo do tipo PS e os que tiveram AP de TS tendem a repetir gestos com intuito suicidário. Cerca de ¼ da amostra admitiu história de abuso (físico/ verbal/sexual) passado ou presente e a mesma proporção admitiu AF de CS. A maioria dos utentes negou AP de relevo. O desencadeante imediato de CS preponderante no nosso estudo foi um conflito familiar ou na relação afetiva. O método mais utilizado no CS foi o consumo excessivo de fármacos e destacou-se o recurso, pelo género feminino, a métodos tradicionalmente associados aos homens, pela sua violência/letalidade. Verificámos a existência de uma relação estatisticamente significativa entre o CS em homens e o risco aferido como aparentemente grave de suicídio no futuro. Os perfis dos CS não letais foram diferentes nos dois géneros, tendendo as mulheres para Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |23 ESTUDOS o PS e os homens, com maior frequência, para o suicídio frustrado. A maioria recorreu ao SU nas primeiras 3h após o CS, e parece haver correlação entre a nossa leitura de gravidade do CS no seu conjunto (cotações mais baixas na TASR) e o tempo até à entrada no SU. No SU, a maioria dos utentes negaram ideação e plano suicida no momento da avaliação e de intenção no ato. No encaminhamento, a maioria teve indicação para manter cuidados psiquiátricos. Ao relacionar as variáveis TASR risco elevado e internamento psiquiátrico, objectivámos uma relação estatisticamente significativa entre elas tendo havido portanto uma correspondência entre o juízo clínico dos médicos do SU relativamente à gravidade dos casos, com internamento, e o resultado das TASR cotada como de risco elevado. Na entrevista clínica realizada posteriormente ao episódio, para aplicação do instrumento TASR, a maioria dos doentes avaliou subjetivamente o seu estado atual como melhor. O risco inferido de suicídio futuro foi superior ao do risco no episódio atual. Este estudo apresenta limitações por ser maioritariamente retrospetivo e ser realizado por leitura de processos clínicos, onde pode ter sido omitida ou sobrevalorizada informação. Será importante avaliarmos dentro de dois anos o trajeto destes indivíduos, recorrência dos CSs, contextos, consequências e psicopatologia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Firmino, H, Psicogeriatria. Psiquiatria Clínica, 2006; Beck, A, Hopelessnessand eventual suicide: A10 yearprospectivestudyofpatientshospitalisedwithsuicidalideatio n. AmericanJournalofPsychiatry 145:559-563, 1985; Kutcher S, Chehil S, Gestão de risco de suicídio. Um manualparaprofissionais de saúde. Lundbeck Institute, 2007; OMS, CartaEuropeia de amibiente e saúde. PrimeiraconferênciaEuropeiasobreambiente e saúde, Frankfurt, Alemanha, 1989; Peixoto, B, Saraiva, C & Sampaio, D, Comportamentos suicidários em Portugal. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Suicidiologia, 2006; Saraiva, C, Estudos sobre o para-suicídio: O que leva os jovens a espreitar a morte. Coimbra: Quarteto, 2006; Saraiva, C, Para-suicídio. Coimbra: Quarteto. 1999; Wattis J, Curran S, GuiaPráticoClimepsi de Psiquiatria da Terceira Idade. Conflitos de Interesse / Conflicting Interests: Os autores declaram não ter nenhum conflito de interesses relativamente ao presente artigo. / The authors have declared no competing interests exist. Fontes de Financiamento / Funding: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. / The author have declared no external funding was received for this study. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |24 ESTUDOS UNIDADE PARA TRATAMENTO DE DOE NÇA MENTAL GRAVE PER FIL DO DOENTE TRATADO NO 1º ANO DE FUNCIONAMENTO UNIT FOR TREATMENT OF SEVERE MENTAL ILLNESS - PROFILE OF THE PATIENT TREATED IN THE FIRST YEAR OF OPERATION LUÍSA ROSA, Psiquiatra, Chefe de Serviço de Psiquiatra do CHUC, [email protected] JOSÉ TEMOTIO, Médico Interno de Psiquiatria, CHUC, [email protected] Resumo Abstract O principal modelo de tratamento para as pessoas com Doença Mental Grave (DMG) tem sido até aqui o psicofarmacológico, apesar deste resultar somente num controle parcial da doença, o que associado a má adesão à terapêutica por parte da maioria destes doentes, aponta para a necessidade de implementação de programas de intervenção baseados numa abordagem mais ampla integrando além das estratégias farmacológica, intervenções psicoterapêuticas e psicossociais. Neste trabalho os autores começam por abordar os objetivos que presidiram à criação da unidade e o conceito adotado de DMG, apresentando depois o programa de atividades terapêuticas e os dados sociodemográficos que permitem traçar o perfil do doente (psicótico) tratado nesta unidade durante o primeiro ano do seu funcionamento. The main model of care for people with severe mental illness has been psychopharmacological, despite achieving only partial control of symptoms witch associated with poor therapy adherence by these patients, points out the need for intervention programs with a broader approach, integrating psychotherapeutic plus pharmacological and psychosocial interventions. In this paper the authors after defining the objectives that guided the creation of the unit, and the adopted concept of Serious Mental Ilness (SMI), they present the program of therapeutic activities and sociodemographic data that allow profiling the patient treated in this unit for psychotic patients with SMI during the first year of work. Palavras-chave: Doença Mental Grave; Doente; Perfil. Keywords: Serious Mental Ilness; Patient; Profile. Rececionado em Dezembro 2012. Aceite em Dezembro 2012. INTRODUÇÃO Esta unidade do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, foi criada em Outubro de 2012 para dar resposta à determinação do Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016 (1) que prevê a criação de “Serviços regionais de internamento para doentes inimputáveis e para “doentes difíceis” nas seguintes instituições: Hospital Júlio de Matos, Hospital Sobral Cid e Hospital Magalhães Lemos.”. Destina-se ao tratamento e reabilitação de doentes portadores de DMG (2), com grau variável de incapacidade e disfunção social, durante um internamento de média duração. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |25 ESTUDOS DEFINIÇÃO DE DOENÇA MENTAL GRAVE A definição de DMG não é consensual, mas considerámos como população alvo os doentes com as psicoses não orgânicas de duração prolongada que conduzam a dificuldades no funcionamento ocupacional e social (2-3), com um tempo de evolução superior a 2 anos e incapacidade funcional marcada. Os diagnósticos considerados DMG segundo a CID - 10 (4) foram os seguintes: 1. Esquizofrenias; 2. Transtorno esquizotípico; 3. Transtorno delirante persistente; 4. Transtorno esquizoafetivo; 5. Outros transtornos psicóticos não orgânicos; 6. Transtorno afetivo bipolar; 7. Depressão Major com sintomas psicóticos; 8. Transtorno Obsessivo Compulsivo. CARACTERIZAÇÃO DAS PRINCIPAIS DIFICULDADES NA DMG Os doentes portadores de doença mental grave têm como características mais comuns (5): 1. Dificuldade para enfrentar situações de stresse; 2. Incapacidade para lidar com as situações sociais e as relações interpessoais de forma adequada; 3. Grande dificuldade na resolução dos problemas do dia-a-dia; 4. Dificuldade/inadequação/ na tomada de decisões vitais; 5. Deficiente organização e autonomia do seu ambiente doméstico, residencial, atividades nas quais ou não participam ou o fazem de forma não estruturada; 6. Deficiente organização dos tempos livre e diminuto leque de interesses; 7. Estão desempregados ou têm dificuldade em manter-se num trabalho; 8. Não têm um papel social próprio da sua idade, trabalhador, estudante etc. 9. Escasso apoio familiar, instabilidade ou flutuação nas relações, vivendo frequentemente situações de conflito familiar; 10. Restrita rede de relações; 11. Fazem pouco uso dos recursos sociais desportivos, culturais ou outros; 12. Sofrem de isolamento social e/ou deterioração do funcionamento com longos anos de evolução. Foram consideradas na elaboração do plano as grandes dificuldades que estão presentes no tratamento destes doentes (6): o escasso insight sobre a doença; a baixa adesão ao tratamento; a dificuldade de vinculação aos profissionais e programas de tratamento; presença de co morbilidade; os fatores de risco associados; o deficitário autocuidado; a alta probabilidade de recaída e de reinternamentos psiquiátricos; a dificuldade na estabilização clínica, o risco de situação aguda continuado e a mortalidade aumentada. Independentemente dos sintomas, a marginalização e a desinserção socioprofissional, conduz a maioria dos doentes psiquiátricos com DMG a uma diminuição progressiva e contínua das suas competências sociais levando-os a uma dependência cada vez maior da família (7), das estruturas de cuidados e do meio social imediato. Os doentes psiquiátricos graves, após longo tempo de evolução na sua maioria passaram por longos períodos de isolamento estando desadaptados das atividades do dia-a-dia, apresentam perda da autonomia pessoal e social, necessitando assim de fazer uma série de treinos que lhes permitam uma melhor qualidade de vida, maior autonomia e se possível o desempenho de uma atividade socialmente útil, integrar programa de reabilitação profissional ou na impossibilidade deste, um programa ocupacional, voluntariado, etc. Devem aprender a ser autossuficientes com a ajuda dos recursos da comunidade e das redes de suporte social. É preciso atuar sobre as grandes dimensões da desinserção destes doentes, a saber: o Isolamento social com estreitamento da rede de suporte social e fragmentação das relações individuais; a degradação ou ausência de competências sociais necessárias à vida em comunidade; a falta de eficácia nas atividades da vida diária, como desempenho de tarefas domésticas, alimentação, transporte; a degradação da capacidade de acesso a uma atividade ou ao trabalho. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |26 ESTUDOS PRINCIPAIS LINHAS ORIENTADORAS DO PROCESSO DE REABILITAÇÃO Na atualidade existem múltiplos tratamentos de reabilitação para a DMG (8), dirigidos a diferentes objetivos como seja melhorar as competências sociais, reabilitação cognitiva, melhorar as relações familiares, lidar com as situações de stresse, aumentar a competência nas tarefas da vida diária, etc. Entre as intervenções com maior apoio experimental estão as intervenções familiares (9,10) e os programas de psicoeducação que pretendem ensinar a lidar com a doença e prevenir as recaídas. Tendo como base quatro eixos importantes: 1. A manutenção do tratamento, redução dos sintomas e prevenção das recaídas; 2. A autonomia; 3. A socialização; 4. A reabilitação profissional. PROGRAMA DE ACTIVIDADES DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA Estabeleceu-se um programa de atividades terapêuticas visando a reinserção dos doentes psiquiátricos na comunidade, desenvolvendo um conjunto de capacidades que lhes permitam encontrar/reencontrar um lugar na sociedade. Nos últimos anos surgiram novas respostas psicofarmacológicas, designadamente os neurolépticos atípicos e os estabilizadores do humor que vieram dar um contributo importante para o tratamento dos doentes com DMG, mas apesar disso, a resposta pode ser apenas parcial e estes necessitam ainda de outras intervenções para melhorar aspetos como o comportamento, funcionamento, integração social, ocupacional e familiar (2). O programa de atividades da UCEP inclui intervenções terapêuticas diversas que preconizam dar resposta às necessidades de tratamento/reabilitação dos doentes: 1) A psicofarmacoterapia que inclui a prescrição, ajustes terapêuticos que são de especial importância pois a resposta a estas terapêuticas é muitas vezes deficiente, e toda a informação/formação do doente para uma boa adesão à terapêutica e um correto uso dos medicamentos, bem como da forma adequada de lidar com efeitos secundários destes; 2) A Psicoterapia Individual, que utilizando fatores como o escutar/falar, fornecer informação, libertação de emoções, e fortalecer a relação terapêutica, permite ajudar a encontrar soluções e atingir a mudança; 3) A Terapia Familiar Sistémica, intervenção terapêutica dirigida ao sistema familiar como um todo, realizada em diversas sessões, em que se lida com a situação atual da família. Os objetivos são provocar a mudança e melhorar o funcionamento do sistema familiar, melhorar a Tabela 1 – Programa de intervenção terapêutica da UCEP 2012-2013. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |27 ESTUDOS comunicação, informar sobre a doença e como lidar com ela, reduzir a emoção expressa e ajudar a família na resolução de problemas. As intervenções familiares têm eficácia comprovada na melhoria da adesão à terapêutica, na diminuição das recaídas e reinternamentos, bem como na qualidade de vida (11); 4) Os Treinos de Autonomia, consideram-se as características da psicopatologia e a especificidade das necessidades de intervenção nos doentes com psicose, esquizofrenias, distúrbio afetivo e outras psicoses, e são elaborados planos individuais de intervenção que visam a autonomia pessoal direcionados à higiene e o autocuidado, a autonomia residencial, incluindo todas as atividades que permitem manter-se autonomamente no seu lar, cuidar da casa, da roupas e cozinhar, para além destes aspetos, na autonomia social são treinados a usar os recursos da comunidade, fazer compras, usar transportes públicos, ir ao banco e repartições públicas, etc. O Programa de Promoção de Competências Sociais e Assertividade tem como objetivo aumentar a capacidade dos doentes nas relações e comunicação interpessoal. Assim, treina-se o desenvolvimento de comportamentos eficazes em situações de interação social desenvolvendo ou potenciando habilidades sociais básicas de comunicação e assertividade, e a sua utilização em diversos contextos sociais. A Estimulação Cognitiva, tem como objetivo a estimulação das funções cognitivas básicas; atenção, concentração, orientação, memória e formação de conceitos, processamento de informação, a melhoria das capacidades cognitivas contribui para um melhor funcionamento social (11). No Grupo de Leitura são utilizadas a leitura de textos, a síntese oral e escrita para treinar a atenção, concentração, memorização e raciocínio. Projeção e Discussão de Filme permitem estimular a discussão de vários temas, auxiliando na expressão de emoções e resolução de problemas. O terapeuta pode compreender o processo cognitivo e emocional do doente quando este se mostra atento ao filme ou a uma determinada cena em particular. Desta forma, podem treinar-se capacidades de atenção, concentração, memória e compreensão, seguindo-se sempre à visualização a avaliação através do preenchimento por parte de cada doente de um questionário que posteriormente é discutido no grupo. O Grupo de Discussão Temática é uma terapia de grupo em que é escolhido um tema que depois de aceite por todos, vai ser refletido e discutido de forma a encontrar algumas respostas para os problemas e dificuldades sentidas nas suas vidas. É nomeado um relator que vai escrevendo as conclusões importantes que vão sendo atingidas no grupo. Posteriormente estes resultados serão escritos e cópias distribuídas a cada um dos participantes. A psicoeducação (12), é uma terapia de grupo destinada a aumentar a adesão à terapêutica, reduzir as crises, prevenir as recaídas, diminuir as tensões familiares. Através da formação/informação, permitindo aumentar o insight do doente, ensiná-lo a lidar com a doença e os sintomas, reconhecer sinais prodrómicos de crise, conhecer os medicamentos e seus efeitos terapêuticos e adversos, para além de aprender os efeitos perturbadores do stresse e tensão emocional, melhorar comunicação e a resolução problemas. Através da Reeducação Funcional, utilizando os exercícios de ginástica e os aparelhos como bicicleta e o remo, os jogos como o ténis de mesa, o futebol e outros é feita a estimulação motora que vai contribuir para a redução do stresse e o bem-estar físico nestes doentes que pelos sintomas da medicação e da doença apresentam alterações da motilidade. Neste sentido, e porque a medicação e a inatividade acarretam alterações do peso, vamos incutir o gosto pelo exercício que ajuda a manter o peso e uma vida ativa. Diariamente é feita uma caminhada, com este exercício físico diário pretende-se incentivar os doentes a esta boa prática que é fácil e acessível, pois não exige recursos, começando no internamento a adquirir o hábito de praticar algum exercício físico. Os Jogos Pedagógicos em Grupo permitem o treino em grupo da assertividade, da comunicação eficaz e da resolução de problemas/conflitos. O Grupo de Famílias, destinado a fornecer informação às famílias e a permitir que partilhem com os técnicos e entre si, dúvidas, preocupações e também a sua experiência de lidar com as situações, é um espaço também importante para que as famílias expressem as emoções e sentimentos (10). Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |28 ESTUDOS Nas Reuniões Temáticas Multifamiliares são convidadas a participar com os doentes e a equipa terapêutica todas as famílias dos doentes internados. Além de ser um momento de balanço em relação ao estado do doente, colocar questões e esclarecer dúvidas, assume grande importância como meio de partilha de experiências e como espaço de intervenção psicopedagógico. A Reunião Comunitária é realizada semanalmente e destina-se estimular a participação ativa dos doentes no dia-a-dia da unidade e a avaliar com os doentes as atividades da semana, as que preferiram, o que lhes agradou e desagradou, as críticas e as eventuais sugestões. Usamos o Modelo do Terapeuta de Referência que deverá centralizar a informação relativa ao doente, acompanhar o processo de tratamento, participar na elaboração do plano individual de reabilitação e articular com todos os elementos significativos desde a família às equipas de saúde, nomeadamente de psiquiatria comunitária e outras instituições. BALANÇO DE UM ANO DE TRABALHO DA UNIDADE A lotação é de 12 vagas de internamento completo, 9 homens e 3 mulheres, que se distribuem em 4 quartos de 3 camas cada, e 10 vagas em área de dia/transição. Dispõe de uma equipa técnica multidisciplinar com dois Psiquiatras, vinte Enfermeiros, uma Psicóloga, uma Assistente social, ambas em tempo parcial, e nove Assistentes Operacionais. Achamos que seria importante a colaboração de um Terapeuta Ocupacional e de um professor de Educação Física. O tempo de internamento previsto é de 90 dias. Atendendo à complexidade das situações é de crucial importância a articulação com os serviços comunitários de saúde mental e outros essenciais à reintegração do doente, bem como o trabalho a desenvolver junto das famílias tendente a uma reintegração familiar destes doentes. Durante o primeiro ano de funcionamento estiveram internados 31 doentes, cinco deles em regime de internamento compulsivo (13), 29 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, sendo que estas últimas, por questões hoteleiras, só começaram a ser internadas a partir de Outubro de 2013, um ano após a inauguração da Unidade em Outubro de 2012. Frequentaram a área de dia 14 doentes, 9 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS Apresentamos de seguida os dados sociodemográficos relativos aos doentes internados entre 8 de Outubro de 2012 e 8 de Outubro de 2013. Gráfico 1 – Distribuição por sexo dos doentes internados. Verificamos que existe uma percentagem muito mais elevada de doentes do sexo masculino, porque só no fim do ano tivemos condições estruturais na Unidade para fazer estes internamentos, para além da proporção de 3 para 1 da lotação masculina versus feminina. Gráfico 2 – Distribuição por grupos etários. Analisando a distribuição de idades no internamento, 48% dos doentes tem uma idade inferior a 40 anos sendo o grupo etário mais representado, destes 32% doentes tem idades entre os 30 e os 40 anos, mas apenas 16 % se encontram na segunda década de vida. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |29 ESTUDOS A média de idades é 42,3 anos. Considerandos a situação profissional 87% dos doentes estão desocupados, 42% reformados por invalidez e 45% desempregados, o que contribui para a perda de capacidades, a baixa autoestima e a desinserção social. Gráfico 3 – Estado civil Com 74% de doentes solteiros e um único doente casado, verificamos que são na sua maioria pessoas que não constituíram família, estão sozinhas ou vivem com a família de origem. Gráfico 6 – Diagnósticos de entrada A Esquizofrenia é o diagnóstico mais frequente representando 56% dos doentes internados. Gráfico 4 – Habilitações literárias No que respeita as habilitações literárias, 65% dos doentes têm níveis de escolaridade entre o 4º e o 9º anos e somente 35% apresenta 11 anos ou mais. Gráfico 5 – Situação profissional Gráfico 7 – Diagnósticos de saída Comparando os diagnósticos de saída e entrada, a esquizofrenia continua a predominar com 39%, a psicose esquizoafectiva mantém-se nos 19%, mas aumenta para 29% a percentagem de doentes diagnosticados de distúrbio bipolar. Os internamentos de média duração possibilitam fazer um estudo mais aprofundado dos quadros clínicos o que permite uma maior eficácia e consolidação do diagnóstico definitivo, originando por vezes algumas reformulações diagnósticas. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |30 ESTUDOS CONCLUSÃO Verificamos que os doentes aqui tratados durante o ano 2012-2013 têm doença mental grave, são maioritariamente jovens que vivem com a família de origem ou sozinhos, muitos apresentando elevados níveis de perturbação familiar, solteiros ou divorciados, desocupados porque estão desempregados ou reformados por invalidez, que sofrem de isolamento social e exclusão, que perderam capacidades e autonomia. Têm pouca crítica para a sua doença, uma resposta insuficiente às terapêuticas farmacológicas, má adesão à terapêutica, e elevados níveis de recaída. Um programa terapêutico com uma abordagem mais ampla, incluindo intervenções psicoterapêuticas e psicossociais além da psicofarmacológica, que melhore a autonomia, a adesão à terapêutica e as relações familiares é de crucial importância para melhorar a qualidade de vida destes doentes e respetivas famílias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Plano nacional de saúde mental 2007 - 2016, Coordenação Nacional para a Saúde Mental, Julho 2008. 2- Guideline development group of the Clinical Practice Guideline on Psychosocial Interventions in Severe Mental Illness. Quality Plan for the National Health System, Ministry of Health and Social Policy. Aragon Health Sciences Institute – I+CS; 2009. Clinical Practice Guidelines in the Spanish NHS: I+CS No 2007/05.r Psy3_ 3-chosocial Interventions 3- Ruggeri Definition and prevalence of severe and persistent mental illness Mirella, Morven Ieese, Graham Thornicroft, Giulia Bisoffi and Michele Tansella BJP 2000, 177:149-155. 4- Organização Mundial da Saúde, CID 10-Classificação Internacional de doenças versão 10. Julho 2010 5- Philip S. Wang, MD, DrPH, Olga Demler, MS, and Ronald C. Kessler, PhD Adequacy of Treatment for Serious Mental Illness in the United States, American Journal of Public Health | January 2002, Vol. 92, No. 1. 6- Ropero, Juan José Belloso Intervención Psicoterapéutica en el TrastornoMental Grave, Clínica Contemporánea Vol. 3, n.° 1, 2012 - Págs. 3-23. 7- Gardilhas, Vicente La Familia del enfermo mental- La otra cara de la psiquiatria, Ediciones Díaz Santos SA Madrid 1998. 8- Bayón, Daniel Navarro How to Apply Interventions Based on Evidence in Psychosocial Rehabilitation of Persons with Severe Mental Illness. Problems, Solutions and Metaperspective Clínica Contemporánea Vol. 2, n.° 2, 2011 - Págs. 229-247. 9- Atkinson, Jacqueline M.; Coia Denise A Families coping with schiszophrenia - A practitioner’s Guide to Family Groups, and., John Wiley and Sons 1995. 10- Reis, F. “Intervenção Psicoeducativa Famílias de Esquizofrénicos” PSILOGOS - Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca, Volume 1 nº 1 Julho de Junho de 2004 11- Craig, Tom “What is psychiatric rehabilitation” cap 1, pp 317 - Enabling Recovery: The Principles And Practice of Rehabilitation Psychiatry , Edited by Glenn Roberts, Sarah Davenport, Frank Holloway and Theresa Tattan Oct 2006 12- Rebolledo Moller, Sergio; Rodríguez, María José Lobato, Cómo afrontar la esquizofrenia Una guía para familiares, cuidadores y personas afectadas , edições Aula médica , Madrid 2005 13 - Lei de Saúde Mental , Lei n.o 36/98 de 24 de Julho Diário da República — 1ª série-A n.º 169 — 24-7-1998. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |31 DIVULGAÇÃO LIVROS RELATÓRIO DO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL Foi publicado o 1.º Relatório do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, o primeiro estudo a avaliar a epidemiologia das perturbações psiquiátricas numa amostra representativa da população adulta de Portugal” O estudo inclui a avaliação da utilização de serviços e do uso de psicofármacos, e permite cruzar estes dados com os dados do diagnóstico psiquiátrico e de gravidade. Os resultados mostram que, no ano anterior às entrevistas, 15% da população da amostra recebeu cuidados de saúde por queixas do foro psiquiátrico. Estes cuidados foram prestados na grande maioria dos casos pelos serviços de saúde, desempenhando os outros tipos de prestadores de cuidados um papel muito pouco significativo. Com seria de esperar, os cuidados de medicina geral e familiar têm um papel fundamental na prestação de cuidados de saúde mental, assegurando o seguimento de um número maior de casos do que os cuidados especializados. Procurou avaliar diferentes áreas, como o diagnóstico psiquiátrico, a avaliação de incapacidades, as doenças crónicas, a utilização de serviços, a infância e os fatores de risco. Alguns Resultados: o “Mais de 1 em cada 5 dos indivíduos da amostra apresentou uma perturbação psiquiátrica nos 12 meses anteriores à entrevista. Esta prevalência é a segunda mais alta a nível europeu, com um valor quase igual à da Irlanda do Norte, que ocupa o primeiro lugar”; o “As perturbações de ansiedade são o grupo que apresenta uma prevalência mais elevada no nosso país (16.5%)”; o “As mulheres, os grupos de menor idade, e as pessoas separadas e viúvas apresentam uma maior frequência de perturbações psiquiátricas.”; o “As pessoas com nível médio-baixo de educação apresentam mais perturbações de controlo de impulsos e de perturbações por abuso de substâncias.”; o “O nível de rendimento, não mostra associações significativas com as variáveis de morbilidade psiquiátrica.”; o “Os cuidados de medicina geral e familiar têm um papel fundamental na prestação de cuidados de saúde mental, assegurando o seguimento de um número maior de casos do que os cuidados especializados.”; o “Um número importante de pessoas (quase 65%) com uma perturbação FICHA TÉCNICA psiquiátrica não teve qualquer tratamento nos 12 meses anteriores. “; Título: Estudo Epidemiológico Nacional o “Em termos de qualidade de cuidados, apenas cerca de um terço dos casos de Saúde Mental - 1º RELATÓRIO recebeu cuidados que cumpriam todos os critérios requeridos para os Autor: Almeida, José Miguel Caldas de ; Xavier, Miguel cuidados serem considerados adequados, sendo a percentagem encontrada Local de Publicação: Lisboa nos serviços especializados mais alta do que a encontrada na medicina geral e Editor: Universidade Nova de Lisboa. familiar”; Faculdade de Ciências Médicas o “Portugal é um dos países com maior uso de psicofármacos, sobretudo entre Ano: 2013 as mulheres.”; Recomenda-se a sua leitura atenta a densidade dos dados e respetivas implicações para a prática. N.º de Páginas: 60 ISBN 978-989-98576-0-5 FERNANDO GOMES, Enfermeiro Supervisor, CHUC, [email protected] Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |32 DIVULGAÇÃO INFORMAÇÃO O Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultura, IP disponibiliza o STT - Serviço de Tradução Telefónica – que foi lançado com o objetivo de ajudar a ultrapassar a barreira da língua, um dos grandes impedimentos a uma boa integração dos imigrantes. Através deste serviço o ACIME fornecerá os meios que garantam, num formato de conferência telefónica, o esclarecimento em simultâneo entre o técnico da instituição, o tradutor e o imigrante. Os tradutores/intérpretes funcionarão como "intermediários" junto das mais diversas instituições que, em Portugal, estão, directa ou indirectamente, implicadas no processo de acolhimento e integração dos imigrantes: câmaras municipais, juntas de freguesia, conservatórias, hospitais, centros de saúde, escolas, PSP, GNR, tribunais e outros organismos públicos. Este serviço está disponível de qualquer ponto do país, gratuitamente, todos os dias úteis entre as 10.00h e as 18.00h, disponibilizando a tradução telefónica em pelo menos cinquenta línguas diferentes Este recurso possibilita uma preciosa ajuda aos técnicos para estabelecer uma comunicação de maior qualidade junto de utentes imigrantes. O cliente, (técnico/utente) liga para a Linha SOS Imigrante - 808 257 257 - através da rede fixa (ou 21 8106191 através da rede móvel) e pede o serviço de tradução telefónica. A chamada será de imediato transferida para o operador do STT, que pede as seguintes informações: • Nome da instituição/serviço • Nome do cliente • Telefone do cliente • Idioma requerido • Data e hora pretendida para o serviço de tradução telefónica. Recomenda-se a marcação antecipada do serviço de tradução telefónica. Fonte: http://www.acidi.gov.pt/noticias/visualizar-noticia/4cdbf76f4b835/o-acime-lancou-stt---servico-de-traducao-telefonica Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |33 AERPPSM Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |34 AERPPSM Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |35 SERVIÇO DE PSIQUIATRIA DOS HUC - CHUC Núcleo de Intervenção e Investigação em Terapia Familiar Sistémica Pedido de consulta: Identificação da família: Paciente identificado ____________________________________________________ Idade___ escolaridade ________ profissão ________ residência___________________ Com quem coabita ______________________________________________________ Idade _____ escolaridade _________profissão ________________________________ Outros elementos da família: _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Pedido / Motivo _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Diagnóstico ____________________________________________________________ Terapêutica ____________________________________________________________ Técnico que orientou_____________________________________________________ ______________________________________________________________________ Marcação para (data) ______________________________________________ Local a comparecer _______________________________________________ O triador ________________________________________________________ Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |36 AERPPSM Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |37 AERPPSM Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |38 AERPPSM SUBMISSÃO DE ARTIGOS A Revista da Associação para o Estudo, Reflexão e Pesquisa em Psiquiatria e Saúde Mental é publicada desde 1995, tendo sido reactivada a sua edição em 2012, num novo formato e com um novo título: Mental(idades)+. A nova revista visa promover a divulgação de investigação avançada produzida no âmbito da Psiquiatria e Saúde Mental, privilegiando perspectivas de reflexão crítica e inter/transdisciplinares. Publicada anualmente em versão electrónica, e ocasionalmente em suporte papel, a revista Mental(idades)+ divulga artigos científicos, de revisão e de prática clínica, bem como relatos de casos clínicos, artigos de opinião e outros, resultantes da investigação científica, projectos, estudos, conferências e seminários, assim como textos de opinião, após um processo de avaliação e revisão. Nesse sentido, aceita-se a submissão de artigos para a publicação do n.º 3 Nov./Dez. 2014 da revista Mental(idades)+. Tema: História, Ética e Sáude Mental. Data Limite : 14 de Outubro 2014 E-mail: [email protected] Web: http://www.aerppsm.org/revista.html Muito Obrigada pela Vossa Colaboração! Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |39 NORMAS DE PUBLICAÇÃO MENTAL(IDADES) + Revista da AERPPSM I. Artigos 1. Os artigos devem ser originais, ainda não submetidos a outras publicações e avaliados previamente. 2. A revista Mental(idades)+ da Associação para o Estudo, Reflexão e Pesquisa em Psiquiatria e Saúde Mental (AERPPSM) não garante a publicação de todos os artigos que lhe sejam remetidos. 3. Os artigos devem versar temas de psiquiatria e de saúde mental. 4. A Revista Mental(idades)+ aceita artigos científicos, artigos de revisão, artigos de prática clínica, relatos de casos clínicos, artigos de opinião, e outros que possam contribuir para o desenvolvimento, estudo, reflexão e pesquisa em psiquiatria e saúde mental. 5. O conteúdo dos artigos publicados é da exclusiva responsabilidade dos seus autores. 6. Os artigos poderão ser redigidos em português, inglês, francês ou castelhano, consoante a sua origem. 7. A revista Mental(idades)+ apresenta as seguintes secções: Editorial; Entrevista; Estudos; Revisões; Opinião; Divulgação e Agenda. 8. O título do artigo deve ser informativo e sucinto, em português e inglês, com um máximo de 16 palavras, sem abreviaturas. 9. Os autores devem estar devidamente identificados, com o nome, habilitações, categoria profissional, instituição onde exercem funções e respetivo endereço de correio eletrónico. 10. O artigo deve ser acompanhado de um resumo, em português e inglês, o qual não deve exceder as 200 palavras, sem abreviaturas. 11. O artigo deve indicar entre 3 a 5 palavras-chave, em português e inglês, que facilitem a indexação do artigo, transcritas de acordo com a lista de descritores médicos MeSH ou de descritores da PORBASE. 12. O texto deve ser apresentado em formato Word, versão 97-2003, letra Times New Roman, tamanho 11, espaço 1,5, justificado, em páginas A4 (210x297mm), em coluna única. 13. As páginas do artigo devem ser numeradas. 14. O artigo não deverá ultrapassar as 20 páginas incluindo referências bibliográficas, tabelas, quadros, figuras, gráficos e outros objetos gráficos. 15. O artigo não deve incluir cabeçalhos nem notas de rodapé. 16. É igualmente de evitar o uso de itálico, mas as palavras em que esse formato seja indispensável, por exemplo, vocábulos estrangeiros, devem ser sublinhadas no original. 17. As tabelas, quadros, figuras, gráficos, e outros objetos gráficos devem ser numerados por ordem de inclusão no texto, em função de cada tipo. As tabelas e quadros devem apresentar o título em cabeçalho e os gráficos, figuras e outros objetos gráficos devem apresentar o título por baixo. 18. As citações devem estar elaboradas de acordo com as normas aceites pela comunidade científica, sobretudo cumprir o ponto 9.4 da NP 405-1. Todos os autores citados devem constar da lista de referências bibliográficas. 19. As referências bibliográficas devem estar elaboradas de acordo com as normas aceites pela comunidade científica nomeadamente a NP 405. Todas as referências bibliográficas devem estar citadas no artigo. As referências bibliográficas devem surgir no final do artigo, por ordem alfabética. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |40 NORMAS DE PUBLICAÇÃO II. Submissão de Artigos Os artigos devem ser submetidos por correio eletrónico para: [email protected], com os seguintes elementos: 1. Carta de apresentação (com título do artigo, identificação dos autores e contactos de e-mail e telemóvel); 2. Anexo do Artigo (ficheiro em formato Word, versão 97-2003); 3. Anexo da Declaração de autorização e originalidade (digitalizada). III. Revisão e Decisão Final 1. Os artigos submetidos são avaliados, numa 1.ª fase, pelo Conselho Científico, e, numa 2.ª fase, pelo Conselho Redatorial. 2. A Direção da revista Mental(idades)+ enviará ao/s autor/es informação sobre a aceitação, aceitação com alterações ou recusa do artigo. 3. No caso de aceitação com alterações, serão enviadas ao/s autore/s um conjunto de recomendações e sugestões de alterações a efetuar. 4. O/s autor/es devem efetuar as modificações e reenviar o artigo, por correio-electrónico, no prazo indicado a definir pelo Conselho Científico e/ou pelo Conselho Redatiorial, sob pena de exclusão do artigo de revisão final. 5. Alterações ao conteúdo original do artigo poderão ser efetuadas com o acordo do/s autor/es, mediante uma Declaração dos mesmos. 6. As normas documentais relacionadas com a bibliografia e a linguagem dos descritores são verificadas por um especialista em Ciências Documentais. 7. A decisão final acerca da oportunidade de publicação dos artigos é da responsabilidade do Diretor da revista Mental(idades)+. 8. Os artigos recusados e o material acompanhante não serão devolvidos, exceto quando expressamente solicitado no momento da submissão. Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |41 NORMAS DE PUBLICAÇÃO A ironia repete-se sem fim, Em todos os dezembros, afinal: Há um presépio, sim, dentro de mim; Porém, fora de mim, não há Natal! Paulo Ilharco Mental(idades)+: Revista da AERPPSM | n.º 2 | Nov./Dez. 2013 |42