Governador do Estado de Santa Catarina: Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte: Presidente da Fundação Catarinense de Cultura: Diretora de Preservação do Patrimônio Cultural: Gerente de Patrimônio Cultural: Gerente de Pesquisa e Tombamento: Luiz Henrique da Silveira Gilmar Knaesel Anita Pires Simone Harger Karla Franciele Fonseca Halley Filipouski Revisão: Daniel Mendonça Coordenação Editorial: Simone Harger Lucília Lebarbenchon Polli Organização: Bianca Melyna Filgueira Priscila Melina Finardi Colaboração: Kathyne Brasil Rodrigues Produção Executiva Editoração e Projeto Gráfico: Nuovo Design As imagens e dados aqui publicados são de autoria dos agentes culturais municipais. Ficha Catalográfica H279c Fundação Catarinense de Cultura Cadernos da Serra / Fundação Catarinense de Cultura. – Florianópolis: Patrimônio Cultural de Santa Catarina: Fundação Catarinense de Cultura, 2009. 200p. 1. Patrimônio cultural . 2. Arquitetura. 3. Etnias. 4.História. 5. Cidadania. 6. Poder Público. 7. Usos e costumes. 8. Identidade. I. Título. Catalogação na publicação por: Onéia Silva Gimarães CRB - 14/071 CDU: 719 ÍNDICE Autoridades Apresentação Mapeamento MUNICÍPIOS 06 10 16 Anita Garibaldi 18 Campo Belo do Sul 45 Bocaina do Sul Bom Retiro Capão Alto Cerro Negro Correia Pinto Lages Otacílio Costa Painel Palmeira Ponte Alta Rio Rufino São Joaquim São José do Cerrito Urupema Agradecimentos 26 37 51 64 75 89 103 116 126 139 150 160 172 186 196 Autoridades Santa Catarina são muitas, são várias, são tantas que capturar toda a sua multiplicidade torna-se um desafio quase inatingível. Multifacetada, qualquer tentativa de apreensão ou enquadramento fica sempre aquém da sua caleidoscópica realidade. Mas sua riqueza cultural e diversidade étnica, suas potencialidades econômicas e belezas naturais revelam-se, ainda que parcialmente (diante do universo a ser mostrado), mas com muito engenho e arte, neste belo “Projeto Identidades”, editado pela nossa Fundação Catarinense de Cultura. Neste belíssimo “Cadernos da Serra”, cada nuance revelada, cada detalhe inusitado, cada ângulo descoberto soma-se para formar um mosaico representativo das gentes catarinenses. Assim como acontece com um bom vinho ou um bom perfume, o caráter e a personalidade de nosso estado não são óbvios nem demasiadamente explícitos, ao contrário, impõem-se, suave mas irresistivelmente, àqueles que se aventuram a desvendar-lhe os mistérios e segredos. Essa obra presta-se às mais variadas visualizações, desvelando uma poética de perfis cambiantes onde o desejado e o desejável se mesclam, onde o possível e o real se tocam, onde o Brasil mais se assemelha com o seu futuro. Luiz Henrique da Silveira Governador do Estado de Santa Catarina Cadernos da Serra Autoridades Conhecida nacionalmente pelo frio e a paisagem que o gelo desenha em altitudes de até dois mil metros, a Serra Catarinense é um espetáculo da natureza na região Sul do Brasil. Cachoeiras congeladas, campos cobertos de neve, temperaturas que remetem aos destinos mais disputados do mundo. O encantamento que a região produz parte não somente das belezas naturais, mas da história e dos costumes preservados nas fazendas centenárias, da cultura campeira. A culinária da Serra é outro importante atrativo, tanto que está presente em todos os grandes eventos de promoção do destino catarinense no Brasil e no exterior. São Joaquim, Lages, Urubici são os mais procurados destinos dessa região do estado e, desde junho de 2009, a Serra Catarinense está unida à igualmente famosa Serra Gaúcha no novo roteiro turístico de Aparados da Serra, que compreende os canions. O lançamento aconteceu durante o Salão Nacional do Turismo, em São Paulo, com apresentações de danças típicas comuns aos dois estados. Pratos típicos como a paçoca de pinhão, da Serra catarinense, foram apreciados por centenas de convidados que participaram do evento turístico-cultural. Santa Catarina é uma referência nacional na condução das políticas de regionalização do turismo, segundo o Ministério do Turismo. Fomos o estado pioneiro no lançamento do Programa Roteiros da Imigração, do Ministério da Cultura e, no programa de Segmentação do Turismo, Santa Catarina possui praticamente todos os segmentos apontados pelo MTur para organização e oferta de roteiros por Autoridades nichos de interesse dos viajantes brasileiros e estrangeiros. Na Serra Catarinense, o Turismo Rural, Turismo Cultural, Enoturismo, Turismo Científico, Gastronômico, de Aventura e Ecológico e o Turismo de Inverno. Atividades como cavalgadas, passeios de charrete e a pesca em açudes remetem à cultura de um povo simples, em um ambiente rústico, porém adaptado para as necessidades de um turista cada vez mais exigente. Assim Santa Catarina constrói sua imagem como destino internacional com grande capacidade competitiva. O aspecto cultural, o acervo arquitetônico, e como as antigas estâncias, as taipas, o sotaque, as tradições, o folclore e o artesanato da Serra valorizam o produto turístico de Santa Catarina. Iniciativa da Fundação Catarinense de Cultura – FCC – o programa Identidades tem sua contribuição na política estadual de integração do Turismo com a Cultura. Gilmar Knaesel Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte Cadernos da Serra Autoridades A identidade é a base e a essência de quem somos. É aquilo que permite que nos reconheçamos no espelho e através dos olhos dos outros. É a identidade cultural que nos serve de bússola para que possamos navegar por tantas outras culturas, sem nunca esquecer de quem somos, nesse processo constante de auto-descoberta e auto-invenção. Segundo a UNESCO, um dos objetivos básicos da política cultural deve ser o de reforçar a identidade cultural, colocando em perspectiva as influências de outras culturas num mundo globalizado e da comunicação. Que se adicionem à nossa cultura, sim, mas que seja substituída, jamais. É com esse conceito e objetivo que a Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), em parceria com os municípios e as Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs), desenvolve o projeto Identidades em Santa Catarina. Neste ano de 2009, ele teve como foco a região da Serra Catarinense. A região Serrana, com suas características específicas, seus ritos, sua gastronomia e seu povo acolhedor, marcou profundamente a história do povo catarinense. Preservar esse patrimônio e transformá-lo em cidadania e desenvolvimento local faz parte da construção da nação barriga-verde, marcando profundamente a construção da nação brasileira. Dessa forma, estamos preservando nossa diversidade cultural, que é o maior patrimônio de Santa Catarina, e que transforma o Estado numa região rica e promissora. Anita Pires Presidente da Fundação Catarinense de Cultura Apresentação OS CAMINHOS Na busca por sua sobrevivência, a humanidade vem se adaptando continuamente a novas condições, seja por razões econômicas, sociais, morfológicas, geológicas e climáticas. Foi assim nos primórdios da humanidade, quando, há dez mil anos, as sociedades nômades estavam constantemente se adaptando e buscando sua subsistência através da caça. Quando descobriu que era possível, também, se alimentar da terra através da agricultura, o que acabou pelo desenvolvimento de outras habilidades e formas de viver e de morar. A partir daí e cada vez mais, começa a inovar e desenvolver novas idéias e tecnologias, levando à crescente urbanização das cidades, complexidade das sociedades, desenvolvimento de transportes que incentivaram a exploração e o consequente colonialismo. Com a colonização de novos territórios, a humanidade se espalha pelos continentes e graças à sua adaptabilidade, instala-se nessas novas terras e repassa as habilidades e conhecimentos desenvolvidos e adquiridos às próximas gerações. Assim, os colonizadores acabam por apreender novos modos de fazer e de viver, agregando-os à sua cultura. À aculturação gerada por esse processo, bem como àquela que o antecedeu, denominamos patrimônio cultural. Os remanescentes dessa história são fundamentais para que possamos nos identificar no meio em que vivemos, mantendo nossas referências e tradições. No Brasil essa aculturação está bastante clara e, em alguns casos, as referências declaradas. Não temos dúvida disso quando falamos do pão de queijo, da arquitetura em pedra e cal, das festas de São João, da feijoada, panelas de cerâmica; no entanto, por mais que essas manifestações e saberes tenham em suas origens elementos diferentes dos atuais, elas representam parte da cultura brasileira. Dentro desse contexto, cada um dos estados e municípios da Federação possui uma forma diferente de entender e desenvolver seus saberes, reconhecer seus lugares e repassar sua história. Os grupos formadores de Santa Catarina a partir do Brasil colônia também apresentam essa característica. Em função disso, podemos reconhecer as 10 Identidades diversas etnias que compõem o território catarinense e nos identificarmos com elas. Isso só foi possível em função da herança cultural passada de pai para filho por gerações, que agora permite que reconheçamos nossa história dentro de um contexto mais amplo e nos dá segurança para que possamos manter esse ciclo e perpetuar essa memória para as gerações futuras. Seja a partir do litoral ou de outros Estados, a ocupação do território catarinense deu-se de acordo com a necessidade e interesses da Província no reconhecimento e produtividade das terras aqui existentes. No caso do planalto, onde a agricultura também acabou mostrando-se viável, os primeiros assentamentos foram conseqüência da necessidade de uma ligação entre o extremo sul e região sudeste do país. Dessa forma, a fundação da cidade de Lages acaba por ser uma consequência desses assentamentos e da necessidade de pouso das tropas durante suas viagens, desenvolvendo, aos poucos, novos assentamentos ao longo do referido caminho bem como, mais tarde, em localidades próximas a ele. O pastoreio e as atividades decorrentes tornam-se a base da estrutura econômica e social da região, que sofre influência dos viajantes do Rio Grande do Sul e São Paulo, assimilando à sua cultura parte daquela decorrente dessas regiões. Com o tempo, surge a necessidade de ligação entre o litoral e o planalto, desencadeando a fixação de moradores às margens desse caminho. A criação de vilas e cidades acaba sendo consequência desse processo, que também permite que os imigrantes ali localizados tenham condições de se deslocar pelo território, gerando uma cultura própria do planalto. Diante desses condicionantes, é natural que possamos identificar elementos diversos àqueles característicos do tropeirismo nos municípios trabalhados nessa região e aqui apresentados. A aculturação decorrente do processo anteriormente descrito está refletida em sua arquitetura, gastronomia, celebrações, saberes, fazeres, lugares e tradições. Dessa forma, podemos encontrar uma arquitetura ricamente ornamentada em madeira – típica do europeu - em municípios que se originaram do tropeirismo. Da mesma maneira, é comum nas cidades que tiveram origem na abertura da estrada litoral-serra – colonizadas por imigrantes – o hábito do chimarrão 11 Apresentação e gastronomia característicos do tropeirismo. Ambos construindo sua história. IDENTIDADES A identidade de um povo depende, em grande parte, da forma como ele se relaciona com sua memória. Desse modo, é fundamental que as comunidades locais tenham condições de avaliar o que pode ser identificado como sua herança cultural, para que possam, inclusive, garantir que ela se perpetue através das gerações. Foi baseado nessa premissa que o IDENTIDADES, desenvolvido anteriormente na região do Alto Vale do Itajaí, envolvendo 28 municípios naquela ocasião, pôde, no ano de 2009, ser estendido à região Serrana, abrangendo 16 municípios catarinenses. O IDENTIDADES atuou no sentido de qualificar agentes culturais municipais envolvendo-os diretamente com as comunidades, representadas pelos proprietários de bens inventariados e pelos que contribuíram com informações acerca dos saberes, celebrações e lugares que contam um pouco de sua história e sua tradição. Foram realizadas quatro oficinas na região Serrana, onde se procurou despertar o olhar dos agentes no que se refere à identificação dos bens dotados de referência histórico-cultural. Para tanto, as oficinas foram concebidas em dois eixos: um de sensibilização e outro teórico, orientando não só sobre formas de identificação, como de proteção do patrimônio cultural, preconizando sempre o diálogo com os participantes – entre os quais, além dos agentes culturais, estiveram presentes representantes da comunidade universitária, pessoas ligadas à cultura e educação em geral (museus, escolas, casas de cultura, associações) e outros servidores das prefeituras e Secretarias de Desenvolvimento Regional envolvidas (Lages e São Joaquim). Paralelo a essas oficinas aconteceram os trabalhos de campo, que possibilitaram conhecer um pouco da realidade dos saberes, do cotidiano, hábitos, tradições, festas e celebrações. Conhecendo um pouco melhor os remanes12 Cadernos da Serra centes materiais e imateriais dessa memória cultural através do mapeamento - e sua apropriação por seus detentores com o passar do tempo - foi possível verificar dentre o legado trazido pelos colonizadores, o que ainda perdura na região preservando a referência histórico-cultural. A partir desse mapeamento, foi possível diagnosticar os bens com os quais os agentes culturais municipais se identificavam enquanto representativos da região trabalhada. Esses bens foram aqueles que surgiram em maior quantidade nessa fase e discutidos com o grupo para verificar a real representatividade regional dos mesmos. No momento seguinte, foram estudados aqueles bens culturais, sejam eles materiais ou imateriais, que pertenciam aos municípios e foram inventariados como representativos da memória daquela coletividade. Assim, foram identificados os bens comuns à maioria dos municípios, e diagnosticados aqueles que guardam certa individualidade decorrente dos processos migratórios do Estado. A partir desse trabalho preliminar de mapeamento, os elementos construídos pertencentes à boa parte dos municípios pesquisados, como os muros de taipas que orientavam as tropas, as invernadas também construídas em taipas, as fazendas - com sua arquitetura embasada em pedras e paredes do mesmo material. Os saberes dessa gente também estão demonstrados na culinária, no artesanato, nas técnicas construtivas e na vivência próprios de seu tempo. Dentro desse contexto, a sabedoria que essa tradição mantém, vai além da gastronomia tropeira, da colheita da macela, do chimarrão, assim como do pinhão na chapa e o tramado de taquara, abrangendo ainda outras manifestações. A habilidade na construção com pedra como matéria prima não é a única demonstrada pelos primeiros construtores da região. A arquitetura em madeira, em alguns casos, demonstra características representativas da colonização européia como lambrequins, encaixes, maçanetas e trancas das casas em madeira. Os usos variam da residência para comércio - ou ainda ambos – de portes variados sendo que algumas famílias mantêm os usos originais. Também são encontradas igrejas em madeira do início do século XX, algumas com pin- 13 Apresentação turas decorativas em seu interior e cuja matéria prima foi trazida inclusive de outras regiões por carro de boi. No que diz respeito às esquadrias, são em sua maioria executadas em madeira, de guilhotina ou abrir e com bandeira fixa. No interior das edificações encontram-se também bastante elaboradas e nas fachadas, não é raro que sejam decoradas e emolduradas. Cemitérios do final do século XIX e do início do século XX são encontrados com lápides esculpidas em pedra, e grande riqueza de detalhes, que não só contam a história das primeiras ocupações e habitantes, mas também seus hábitos e habilidades dos artífices no trato do material. Essas manifestações são expressões dos saberes dos mestres responsáveis por sua execução, que se esmeraram na decoração dos forros em madeira, guarda corpos das varandas e escadas, cunhais e técnicas construtivas. A capacidade de perceber essa riqueza de detalhes, expressões, cores, cheiros, sotaques é conseqüência do olhar lapidado para o reconhecimento dessa memória. Tudo o que faz parte da nossa história pode ser contado em sons, palavras, refrões, gostos e cheiros. Através da janela do tempo reconhecemos nossas tradições e fazemos parte delas, contando, cantando, tecendo, construindo, cozinhando, dançando, trançando. A vida e a lida do campo – o camargo, o bolo de milho, o entrevero, a geléia, a confecção de laços, a coberta de lã - bem como lugares sagrados que o mestre João Maria abençoou, fazem parte do cotidiano dessas pessoas e cidades. A memória e respeito pelas tradições só acontece pelo conhecimento. Esse processo gera a identificação e salvaguarda de sua cultura. O povo precisa se conhecer para poder contar com orgulho sua história. Deparar com a crença de pessoas que seguem procissões e alcançam graças é a demonstração da fé através dos santos. A mesma fé cujo imaginário alcança a cura através das benzeduras. Os encontros realizados entre pessoas são a prova da necessidade de reunião dos indivíduos com 14 Cadernos da Serra seus grupos e famílias, o que em alguns casos, desencadeou manifestações contemporâneas sobre temas regionais. A sabedoria popular encontrada - as fases da lua para o corte da madeira, o uso do sebo de ovelha para fungos no casco dos cavalos, a facilidade de manuseio do vime molhado - deve ser registrada e perpetuada, buscando que esse legado seja preservado. CADERNOS Não está exposta aqui toda a riqueza cultural desses municípios e comunidades, está apresentada, no entanto, uma porção dessa riqueza reconhecida por aqueles que têm condições de legitimá-la. Esse trabalho não seria possível sem a colaboração dessas comunidades e sua gente, que, de bom grado, abriu seus lares e viabilizou a pesquisa do modo de viver, do cotidiano e seu hábito de vida, com peculiaridades aqui reveladas. Nesse sentido, a atuação da AMURES – Associação dos Municípios da Região Serrana -foi fundamental. Principal parceira que, além de disponibilizar apoio na estruturação, divulgação e assessoria de comunicação dos encontros com os representantes municipais, contribuiu com a mediação entre agentes culturais, equipe técnica e FCC em todo o processo. Os bens culturais aqui apresentados foram selecionados a partir do mapeamento e inventário realizados pelos municípios compreendidos pela AMURES e representam uma pequena parcela do árduo trabalho desenvolvido. A intenção de mais esta ação do IDENTIDADES - além de garantir que essa identificação cultural possa acontecer através dos detentores desses bens culturais - é dar às prefeituras e comunidades locais condições de continuar desenvolvendo políticas de salvaguarda e reconhecimento de sua herança cultural. Os catarinenses merecem ter sua história resguardada. Simone Harger Lucília Lebarbenchon Polli 15 Mapeamento Ponte Alta São José do Cerrito Anita Garibaldi Correia Pinto Campo Belo do Sul Cerro Negro Capão Alto Otacílio Costa Palmeira Painel Lages São Joaquim 16 Cadernos da Serra Identidades Bocaina do Sul Rio Rufino Urupema Bom Retiro Urubici Artesanato em madeira Artesanato em palha artesanato em Vime Benzedura CACHAÇA celebração religiosa culinária campeira doces e geléias LINHAS E LÃS Bom Jardim da Serra Ofício campeiro PANIFICAÇÃO QUEIJO SABÃO vinho Mapeamento 17 ANITA GARIBALDI Anita Garibaldi Anita Garibaldi Data de fundação: 4 de dezembro de 1961 População: 9.991 habitantes Principais etnias: Italiana e alemã Localização: Planalto Serrano, a 315 km de Florianópolis Área: 588,612km² Cidades próximas: Abdon Batista, Celso Ramos, Campos Novos História: Anita Garibaldi Por volta de 1800, paulistas e gaúchos faziam da região onde hoje está Anita Garibaldi uma rota de passagem. Em 1825, foi a vez dos tropeiros. Os italianos chegaram em 1900, logo seguidos por imigrantes alemães. Em 1842, Anita Garibaldi, considerada a “Heroína de Dois Mundos”, passou por lá. A bravura da guerreira ganhou a simpatia da população local, que batizou o distrito com seu nome. Anita Garibaldi desmembrou-se de Lages em 1961. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 20 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código ATG-M-01 Denominação: Igreja Matriz Localização: Bairro Centro Ano de construção: 1957 Região: Serrana Município: Anita Garibaldi Fonte: WALDRIGUES, Augusto; MARTELO, Graciano. História de Anita Garibaldi: Antiga Colônia Hercílio Luz. Edições EST, Porto Alegre, 1996 Dados: A primeira igreja inaugurada em 1951 era de madeira e localizava-se onde hoje está o prédio da Prefeitura, mas logo se tornou pequena. A ideia de uma nova igreja amadureceu e, enquanto o projeto era elaborado, foi lançada uma campanha junto à população para arrecadar fundos. Em 3 de março de 1957 a pedra fundamental foi abençoada. A obra foi concluída em poucos anos com o apoio da comunidade e do então padre Antônio Stella. A contribuição espontânea e generosa dos paroquianos facilitou a tarefa. Comerciantes, madeireiros, criadores, lavradores e muita gente simples prestaram ajuda significativa. Novas estruturas foram incorporadas ao longo dos anos, como a Casa Paroquial ao lado da Igreja Matriz, o Salão de Festas e ainda a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Anita Garibaldi 21 Anita Garibaldi Patrimônio Material Denominação: Centro Histórico Cultural Bradamante Salmória Localização: Bairro Centro Ano de construção: 1965 Região: Serrana Município: Anita Garibaldi Fonte: Arquivos públicos da Prefeitura. Anita Garibaldi Código ATG-M-02 Dados: O edifício que abriga o Centro Histórico Cultural era uma igreja localizada na comunidade de Santa Ana. Essa comunidade, a mais antiga do município, foi parcialmente alagada pelo lago da Usina Hidrelétrica Campos Novos e o edifício da igreja foi transferido para o centro da cidade. Em 2005 o imóvel passou a abrigar o Centro Histórico Cultural Bradamante Salmória. Atualmente conta com um acervo composto em sua grande maioria por fotografias, separadas em murais temáticos, em que são abordados aspectos religiosos, educacionais e históricos do município, além de relíquias indígenas, imagens de sítios arqueológicos descobertos durante as obras da Usina Hidrelétrica e material audiovisual. 22 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código ATG-M-03 Denominação: Casa Feltrin Localização: Comunidade de Arrozal Ano de construção: 1903 Região: Serrana Município: Anita Garibaldi Entrevistado(a): Fidencio Feltrin Dados: A Casa Feltrin foi construída por volta do ano de 1903, sendo a mais antiga do município e localizada na comunidade do Arrozal. Foi construída de madeira de araucária, com cobertura de tábuas, trocadas em 1954 por telhas de barro. As paredes são de madeira cerrada à mão, assim como as janelas. Não existe vidro nem pintura na casa, que possui quatro quartos, sótão, varanda, porão, cozinha e sala, além de móveis antigos que a família faz questão de preservar. Anita Garibaldi 23 Anita Garibaldi Saberes Anita Garibaldi Código ATG-S-01 Denominação: Vinho Região: Serrana Município: Anita Garibaldi Entrevistado(a): Alvarino José dos Santos Histórico: 24 Seu Alvarino iniciou a produção de vinhos com amigos da família, que plantavam parreiras para consumo próprio. Ele tem 9 filhos, mas apenas um deles, Nilceu Miguel dos Santos, vive com o pai e o ajuda com as atividades rurais. São produzidos 3 mil litros de vinho tinto e rosé por ano, para consumo familiar e venda para amigos e vizinhos. Cadernos da Serra Identidades Descrição / Observações Gerais: As uvas são cultivadas por seu Alvarino e seu filho Nilceu. A lua minguante é a melhor para fazer a poda. É necessário ter muito cuidado com as formigas, pois representam grande perigo para as parreiras. Depois de colhidas, as uvas são colocadas em uma máquina para moê-las. Depois são depositadas em uma pipa aberta de madeira, onde ficam por cinco dias até acabar a fermentação. Na sequência, a uva é transferida para uma pipa fechada de madeira, por 30 dias. Em seguida, o vinho é transferido para outra pipa de madeira ou inox, onde fica por mais 60 dias. Após esse tempo, o vinho é colocado em outra pipa, garrafa ou garrafão. A pipa de madeira tem capacidade para 300 litros. Quando o tempo é chuvoso demais, coloca-se açúcar cristal no vinho para dar força a este, pois a chuva parte a casca da uva fazendo com que ela perca a doçura. Anita Garibaldi 25 Bocaina do Sul Bocaina do Sul Bocaina do Sul Data de fundação: 16 de julho de 1994 População: 2.980 habitantes Principais etnias: Índios tupi-guarani, kaingang e Xokleng Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 190 km de Florianópolis Área: 495 km² Cidades próximas: Lages, Painel, Rio Rufino, Urupema Bocaina do Sul História: Os primeiros colonizadores de Bocaina do Sul foram imigrantes alemães das famílias Kauling, Wiggers, Hemke-Maier, Warmeling, Feldhaus, Gerber, Assink e Schilisting. Eles chegaram à região por volta de 1870, quando as terras eram habitadas por índios tupi-guarani, kaingang e xokleng, também conhecidos como “bugres”. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 28 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código BDS-M-02 Denominação: Casa Brandes Localização: Estrada Geral de Piurras – localidade de Piurras Ano de construção: 1899 Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Domingos Schlichting Dados: Originalmente de dois pavimentos, a Casa Brandes mantém a mesma cobertura, pavimento térreo e escada de sua configuração original. A alteração foi consequência da mudança de seu uso residencial para galpão para armazenar o vime seco antes de ser vendido. Construída com embasamento em pedra e paredes de tijolos maciços, as esquadrias e o piso permanecem os mesmos, e as paredes internas possuem pintura decorativa. Bocaina do Sul 29 Bocaina do Sul Patrimônio Material Bocaina do Sul Código BDS-M-22 Denominação: Casa Wolniewicz Localização: Estrada da Travessa – localidade de Areião Ano de construção: 1879 Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Wilmar Wolniewicz Dados: Seu Roberto Taruhn construiu a casa com madeiras da serraria movida à água existente dentro da propriedade. Ao comprar a casa, há aproximadamente 45 anos, o senhor Erich, com a ajuda de seus filhos, substituiu a cobertura original de tábuas por nova cobertura de latão de soda. A casa possui paredes internas pintadas em estêncil e sua configuração se mantém original. Demonstra a habilidade de seu construtor na transformação da madeira através de suas esquadrias ricamente emolduradas, fachadas decoradas e encaixes. 30 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código BDS-M-024 Denominação: Igreja Matriz Localização: Av. João Assink, Centro Ano de construção: 1953 Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Fonte: Livro Tombo Dados: No início do ano de 1946, reuniu-se a comissão da então capela para tratar da construção da nova igreja. O barro para sua execução foi extraído de uma propriedade próxima. Foram queimados 25 mil tijolos, levados depois para a praça onde seria construída a igreja. No dia 19 de março de 1947, foi benta a pedra fundamental, e no dia 25 de dezembro de 1952 foi realizada a primeira missa. Bocaina do Sul 31 Bocaina do Sul Patrimônio Material Bocaina do Sul Código BDS-M-48 Denominação: Casa Silva Localização: Estrada de Pessegueiros, aproximadamente 7 km – Localidade de Pessegueiros Ano de construção: 1954-1956 Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Louri Maganin da Silva Dados: Em bom estado de conservação, a casa foi construída pelos pais da senhora Louri. A construção da casa foi iniciada em 1954 e concluída em 1956. Edificação de uso misto, o piso superior era utilizado como residência, enquanto o térreo abrigava comércio de armarinhos em geral. 32 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código BDS-S-01 Denominação: Benzedura Outras denominações frequentes: Benzimento Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Marina Martins Dias Histórico: Desde os 39 anos dona Marina faz benzeduras em crianças, jovens e adultos. Ela aprendeu com seu pai, Leopoldo, que aprendeu com sua mãe, Filomena Hesing. Dona Marina conta que antigamente era muito difícil ter acesso a médicos e por isso a benzedura era frequente. Esse saber era utilizado até mesmo para estancar o sangue, picadas de cobras, entre outras doenças. Leopoldo, já muito doente, lhe passou os ensinamentos. Hoje, aos 66 anos, dona Marina continua benzendo para vermes, quebrante, rendidura, cobreiros e doenças da míngua. Marizete, sua filha, já faz benzeduras contra cobras e tormentas. Dona Marina diz que, no momento certo, passará todos os seus saberes para essa filha, que já tem o dom. Descrição / Observações Gerais: Dona Marina começou a benzer em 1982. Ela recebe as pessoas em sua casa e para cada benzedura o material utilizado é diferente: água, agulha, pano, arruda, rosário, ramos verdes, linha, ovo, azeite e papel. Bocaina do Sul 33 Bocaina do Sul Saberes Bocaina do Sul Código BDS-S-03 Denominação: Ferrador Outras denominações frequentes: Casqueador de cavalos Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Marcio Jose Gambe Coelho Histórico: O avô de Márcio aprendeu com seus antepassados a ferrar os cascos dos animais para que estes não se machucassem nas pedras. O pai, Erizon, desde novo praticou essa atividade com a intenção de aumentar o desempenho dos animais em carreiras. Com isso, acabou por se profissionalizar, pois, além de seus cavalos, arrumava as ferraduras até mesmo dos cavalos adversários nas apostas. Márcio tem muito orgulho em cultivar essa profissão e é muito procurado, principalmente em épocas de torneios e cavalgadas, atividades que faz questão de acompanhar levando as ferramentas e dando toda a manutenção ao trabalho realizado. Descrição / Observações Gerais: Apóia-se o casco do cavalo sobre o joelho do ferrador, dando início ao processo que consiste em: limpar o casco com alegre, cortar com a torquês, aparelhar com a grosa, arrumar a ferradura, pregar com os grampos, cortar as pontas dos grampos que sobram do outro lado do casco e lixá-lo, cortando o ferro. Pode ser queimado com sebo de ovelha bem quente para matar fungos que causam o enfraquecimento dos cascos. 34 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código BDS-S-04 Denominação: Forja Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Lucas Hemkemaier Histórico: Em 1949, o senhor Adolfo montou a primeira ferraria no município. Fabricava diversas peças, como roda de carreta, ferramentas em geral, marcador de gado, soldas, ferraduras, entre outras. Na época, o transporte era realizado com carretas, desencadeando grande demanda de consertos e fabricações de peças. Senhor Adolfo ensinou tudo o que sabia a seu filho José – conhecido como “Zeca Ferreiro” –, que continuou os trabalhos que o pai fazia. Com o falecimento de seus pais, Zeca mudou a ferraria para perto de sua casa. Ele passou alguns ensinamentos a seu filho Lucas, que produz apenas para o próprio uso e de seus familiares. Bocaina do Sul 35 Bocaina do Sul Saberes Bocaina do Sul Código BDS-S-05 Denominação: Artesanato em vime Região: Serrana Município: Bocaina do Sul Entrevistado(a): Leoni Walter Hinghaus Histórico: O saber tradicional foi adquirido por dona Leoni através de um curso ministrado aos produtores do município, que pretendia ensinar a transformar o vime em artesanato para comercialização. Através do repasse da técnica a seus filhos, observa-se a hereditariedade desse saber. Descrição / Observações Gerais: 36 Para tecer o vime, é necessário que ele fique na água por cerca de um dia antes de ser trabalhado, pois se estiver seco ele quebra. Para uma maior agilidade na fabricação, a base, atualmente em madeira, substitui o trançado de vime. Principais produtos: Cesta de café da manhã, cestos de roupas, fruteiras, entre outros. Cadernos da Serra Bom retiro Bom Retiro Bom Retiro Data de fundação: 4 de outubro de 1922 População: 7.967 habitantes Principais etnias: Italiana e alemã Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 134 km de Florianópolis Área: 1.057km² Cidades próximas: Alfredo Wagner, Urubici, Bocaina do Sul, Rio Rufino História: Bom Retiro Os campos de Bom Retiro foram descobertos por volta de 1787, quando o alferes Antônio Marques D’Arzão foi incumbido pelo governo de Desterro (hoje Florianópolis) de abrir uma estrada ligando o litoral e o planalto, partindo de São José e chegando até Lages. As obras foram concluídas em 1790. O nome Bom Retiro foi dado pelo próprio D’Arzão, que considerava a região “um lugar calmo, um bom retiro”. A colonização do local, porém, foi lenta. D’Arzão mandou seus escravos construírem um quartel e uma estrada de 6 km de extensão na localidade, mas o local foi abandonado e só muito tempo depois a estrada foi reaberta. Bom Retiro foi elevado à categoria de município em 4 de outubro de 1922, durante o governo de Hercílio Luz. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 38 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código BRT-M-01 Denominação: Casa Grudtner Localização: Estrada Geral – Localidade de Entrada Ano de construção: 1952 Região: Serrana Município: Bom Retiro Entrevistado(a): Elisiane Grudtner Dados: Foi construída por Samuel Grudtner em 1952, para abrigar uma família de doze filhos. Grande parte do material utilizado na obra veio de Florianópolis e cidades vizinhas. A equipe de construtores veio de Nova Trento para executar essa obra, mas ficaram mais alguns anos na cidade para construir as casas dos irmãos de Samuel. Ao todo foram quatro residências, possuindo as mesmas características arquitetônicas. Todas as peças de madeira, como portas e janelas, foram confeccionadas no local da obra. Bom Retiro 39 Bom Retiro Patrimônio Material Bom Retiro Código BRT-M-02 Denominação: Casa Kuntze Localização: Localidade de Entrada Ano de construção: 1951 Região: Serrana Município: Bom Retiro Entrevistado(a): Louri Grudtner Kuntze Dados: A casa foi construída a pedido de Alberto Grudtner, por uma equipe de pedreiros vinda de Nova Trento para executar um total de quatro casas. O primeiro proprietário é pai da atual moradora. 40 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código BRT-M-03 Denominação: Museu Johann Deucher Localização: Localidade de Entrada Ano de construção: 1925 Região: Serrana Município: Bom Retiro Entrevistado(a): Dario Cesar de Lins Dados: Foi construída em 1925 com madeira de araucária (abundante na época) para abrigar a família de um lojista da cidade. A casa possui dois pavimentos, sendo a varanda protegida por guarda-corpo com elementos em madeira trabalhada. Foi relocada em 2006 para o local atual para abrigar o Museu que concentra a história dessa comunidade. Bom Retiro 41 Bom Retiro Patrimônio Material Bom Retiro Código BRT-M-04 Denominação: Igreja Senhor Bom Jesus Localização: Localidade de Paraíso da Serra Ano de construção: 1944 Região: Serrana Município: Bom Retiro Entrevistado(a): Assis Fernandes de Almeida Dados: Havia uma igreja menor no local, mas com o aumento de moradores viu-se a necessidade de se construir uma que comportasse um maior número de pessoas. O padre da época, que era alemão, chamava-se Reinaldo Luiz Hort e projetou a igreja juntamente com o padre Adriano. A madeira da igreja, de pinheiro brasileiro, foi doada pela comunidade – assim como a imagem do Senhor Bom Jesus e o sino – e retirada em lua minguante para não afetar sua qualidade. A construção também contou com a ajuda da comunidade. A terraplanagem foi feita toda a mão. 42 Cadernos da Serra Identidades Lugares Código BRT-L-01 Denominação: Santuário Nossa Senhora Aparecida. Região: Serrana Município: Bom Retiro Entrevistado(a): Fábio de Almeida Histórico / Descrição: No dia 28 de setembro de 2003, foi inaugurada a Livraria Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, loja de artigos religiosos localizada às margens da BR282, km 137, na localidade de Santa Clara, município de Bom Retiro. Durante a solenidade o Padre Oldemar José Weber avistou um terreno e pensou que este seria apropriado para a construção de um centro de peregrinação, um Santuário Mariano. Os proprietários das terras, José Antonio Philippi e Benito Bertuzzi, ao saberem do interesse, decidiram doar à Mitra Diocesana de Lages uma área de terra que se aproximava dos 7 hectares. Bom Retiro 43 Bom Retiro Para se escolher o nome foi feita uma votação popular, no período de 15 de maio a 16 de junho de 2004. Em 17 de junho, Dom Oneres Marchiori, em visita pastoral à Paróquia, apresentou à comunidade o nome escolhido: Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida. Em 12 de outubro de 2004, aconteceu o lançamento da Pedra Fundamental do Santuário, com uma grande festa que se repete anualmente. Em abril de 2005, foi colocada, no alto do morro, a imagem do Pai Eterno. Em novembro de 2006, durante a obra, o senhor Jair Philippi e sua esposa Luiza foram até o Santuário e acharam que o local merecia um portal de entrada e um estacionamento. Decidiram então doar mais 5 hectares para a realização dessas obras. No dia 12 de outubro de 2007, com grande festa, foi entronizada no Santuário a réplica da imagem original, vinda do Santuário Nacional de Aparecida. Observações Gerais / Curiosidades: Bom Retiro O projeto ainda não está concluído. Futuramente serão implantados casa de eventos, gruta, praça de alimentação e altar para celebração de eventos campais. Apesar de recente, o Santuário significa muito para a comunidade local e demais fiéis de Nossa Senhora Aparecida. A cada ano aumenta o número de visitantes, principalmente no dia da Santa Padroeira. Na semana que antecede o dia de Nossa Senhora Aparecida, acontece a Romaria ao Santuário. O evento dura em torno de 4 dias com carreata, bênçãos, missas, procissão luminosa, caminhada, cavalgada, almoço e homenagem a Nossa Senhora Aparecida. 44 Cadernos da Serra Campo Belo do Sul Campo Belo do Sul Campo Belo do Sul Data de fundação: 3 de dezembro de 1961 População: 8.051 habitantes Principais etnias: Portuguesa e italiana Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 254 km de Florianópolis Área: 1.023 km² Cidades próximas: Capão Alto, Cerro Negro, Lages, Celso Ramos História: Campo Belo do Sul A fundação da cidade data de 10 de maio de 1856, quando Campo Belo do Sul era conhecida como Rincão dos Baguás, por ter sido ponto de parada de tropeiros. Sua emancipação política ocorreu em 3 de dezembro de 1961. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 46 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código CBS-M-01 Denominação: Casa Antunes do Amaral Localização: Quarteirão dos Butiás Ano de construção: Por volta de 1910 Região: Serrana Município: Campo Belo do Sul Entrevistado(a): Osni Antunes do Amaral Dados: O atual morador comprou a casa em 1973 e mantém seu uso original como residência. Detalhes em madeira podem ser vistos nos lambrequins dos beirais, no guarda-corpo, corrimão da escada e no forro, que possui esmerada composição. Campo Belo do Sul 47 Campo Belo do Sul Saberes Campo Belo do Sul Código CBS-S-01 Denominação: Fabricação de laços Região: Serrana Município: Campo Belo do Sul Entrevistado(a): Antônio da Silva Camargo Histórico: Seu Antônio aprendeu a fazer laços com seu pai e ensinou a seus filhos, que o ajudam na fabricação diária. Descrição / Observações Gerais: Modo de fazer: 1° tirar o pelo do couro, lavar e colocar pra secar em estacas; 2° depois de seco vai para a água novamente, para amolecer e poder ser cortado; 3° fazer uma única tira, que segue em círculo até chegar ao centro do couro; 48 Cadernos da Serra Identidades 4º descarne do couro (tirar a carne que ainda resta). Esse procedimento é realizado duas vezes; 5º desflorar: tirar todo o pelo do couro; 6º desquinar: emparelhar o couro na largura do “tento” (aparelho utilizado para deixar as tiras na mesma largura); 7º colocar no estaleiro para secar novamente; 8º depois de seco cortar o couro no tamanho ideal para cada laço, sendo o padrão 18 metros de comprimento; 9° embonecar: existe uma máquina simples em que são feitas “bonecas” que facilitam na hora de trançar o laço; 10º trançar o laço com as “bonecas” de couro e está pronto para ser comercializado. Os laços são fabricados no porão da casa. Campo Belo do Sul 49 Campo Belo do Sul Lugares Campo Belo do Sul Código CBS-L-01 Denominação: Poço de João Maria Região: Serrana Município: Campo Belo do Sul Entrevistado(a): Nildete Aparecida da Silva Histórico / Descrição: Há mais ou menos 100 anos, João Maria acampou alguns dias no local e plantou uma árvore. No local, em cima do poço de madeira, foi construída uma capela doada por um fiel como pagamento de promessa. Observações Gerais / Curiosidades: No poço de João Maria acontecem procissões, batizados, missas, reza de terços antigos e visita de muitos fiéis. Todo dia 15 de setembro as pessoas saem de suas casas com destino ao Poço de João Maria e rezam em sua homenagem. 50 Cadernos da Serra Capão Alto Capão Alto Capão Alto Data de fundação: 29 de setembro de 1994 População: 3.020 habitantes Principais etnias: Indígena Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages Área: 1.350 km² Cidades próximas: Campo Belo do Sul, Lages História: Capão Alto Os primeiros colonizadores, italianos e turcos, procedentes do Rio Grande do Sul, chegaram por volta de 1899, juntando-se aos nativos, de origem indígena. Em 7 de janeiro de 1899 foi criado o distrito, que se emancipou de Lages em 29 de setembro de 1994. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 52 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código CPT-M-02 Denominação: Casa Camargo Localização: Estrada Geral Capão Alto – Santa Terezinha Ano de construção: 1899 Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Lélia Arruda de Camargo Capão Alto 53 Capão Alto Capão Alto Dados: A casa foi construída pelo senhor José há aproximadamente 180 anos. Há 36 anos pertence à família da atual proprietária. Já foi utilizada como pousada, mas, atualmente, mantém uso residencial. A edificação com embasamento em pedra foi inteiramente executada em madeira e possui elementos decorativos em volta de suas janelas. Possui portas trabalhadas em madeira, frontão com varanda central e pinturas decorativas internas. 54 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código CPT-M-04 Denominação: Casa Santos Localização: Estrada Geral de Piurras – localidade de Piurras Ano de construção: 1930 Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Elizete Maria dos Santos Dados: A casa foi construída na década de 1930 pelo senhor Tibúrcio. Era abastecida por energia elétrica gerada por meio de roda d’água, tendo sido uma das primeiras propriedades a ter rádio na voltagem 110. Não havia água encanada no local. A família trouxe a água até a propriedade através de uma vala coberta com pedra, que chegava até um coxo feito de araucária com dois reservatórios onde havia uma bica feita de madeira. Capão Alto 55 Capão Alto Saberes Capão Alto Código CPT-S-01 Denominação: Sabão Caseiro Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Eva de Fátima dos Santos Bróquer Histórico: Dona Eva produz o sabão caseiro para o consumo de sua família, por considerá-lo mais barato e de melhor qualidade que o sabão comercial. Ela aprendeu na adolescência com sua mãe, que aprendeu com sua avó, e já repassou para suas filhas. Descrição / Observações Gerais: Ela utiliza sebo, água, restos de miúdo de porco e soda. 56 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPT-S-02 Denominação: Rédea Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Hélio da Silva Histórico: Seu Hélio aprendeu a técnica há 35 anos em Campo Belo do Sul com seu primo João, grande produtor de rédeas. Mantém a produção como meio de aumentar sua renda. Descrição / Observações Gerais: Seu Hélio utiliza oito fios de lã pra trançar a rédea, quatro de uma cor e quatro de outra. Os fios devem ser bem puxados com a mão para que a rédea fique bem bonita e forte. Capão Alto 57 Capão Alto Saberes Capão Alto Código CPT-S-03 Denominação: Virado de Feijão Outras denominações frequentes: Revirado de Feijão Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Salete Lima da Silva Histórico: Dona Salete diz que aprendeu com a sua avó, que fazia para seu esposo, que era tropeiro e tinha necessidade de uma alimentação reforçada. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Feijão, banha de porco, cebola, alho, cebola de verde, salsinha, torresmo, farinha de milho e sal a gosto. 58 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPT-S-04 Denominação: Compota Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Maria Candido Pagliosi Histórico: Maria diz que aprendeu a fazer com sua mãe, que fazia coleção de compotas e conservas e possuía em torno de 480 vidros decorados de chuchu, pêssego, figo, abóbora, laranja. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Figo, açúcar cristal, canela, cravo-da-índia e baunilha. Modo de fazer: Para descascar o figo, deve-se cozinhar por quarenta minutos, deixar esfriar e colocar no freezer. Depois de três dias, colocar debaixo da água corrente e puxar a sua casca. Capão Alto 59 Capão Alto Saberes Capão Alto Código CPT-S-05 Denominação: Paçoca de pinhão Outras denominações frequentes: Paçoca de Pinhão no Pilão Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Vanderli H. Madruga Histórico: Vanderli Madruga conta que seus avós e seu pai eram tropeiros, dirigindo rebanhos de gado e levando bens dessa região para São Paulo para comercializar. Parte integrante da alimentação tropeira, a paçoca feita no pilão era uma comida caseira nutritiva. Vanderli aprendeu a fazê-la com o pai, e pretende passar a tradição para toda sua família. 60 Cadernos da Serra Identidades Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Charque “demolhado” e aferventado, manteiga, cebola picada, alho amassado, pimenta malagueta farinha de mandioca torrada, pinhão cortado ao meio. Modo de fazer: Escorrer o charque e cortar em pedaços pequenos. Em uma frigideira, colocar manteiga, aquecer em fogo médio, juntar os pedaços de charque, fritar, mexendo até ficarem dourados. Adicionar cebola, alho, pimenta, refogar até a cebola começar a dourar. Tirar do fogo, juntar farinha de mandioca e misturar bem. No processador de alimentos, colocar 1/4 da mistura, bater até obter uma farofa de textura fina, com o charque bem triturado e incorporado à farinha. Tirar do processador, colocar em uma tigela e fazer o mesmo com o restante da mistura até preparar toda a paçoca. Dicas: Para “demolhar” o charque, na véspera colocar em uma tigela grande, juntar bastante água fria e deixar de molho. No dia seguinte, escorrer a água, colocar a carne em uma panela, juntar água fria, levar ao fogo alto, deixar ferver, escorrer a água, verificar se o excesso de sal foi eliminado. Se a carne ainda estiver salgada, aferventar novamente até eliminar o sal, retirar do fogo e escorrer. Tradicionalmente a paçoca é preparada num pilão grande, socando-se a mistura de charque e farinha de mandioca com uma mão de pilão, até a carne ficar completamente triturada. Nesse caso, depois de aquecer a manteiga, juntar cebola, alho, charque e fritar até a mistura ficar bem homogênea. Retirar do fogo, colocar em um pilão, acrescentando farinha de mandioca aos poucos, até o charque ficar bem incorporado à farinha. Retirar do pilão e passar para o prato de servir. Capão Alto 61 Capão Alto Saberes Código CPT-S-06 Denominação: Queijo Colonial Outras denominações frequentes: Queijadinha Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Elizete Maria dos Santos Capão Alto Histórico: Feito artesanalmente principalmente nas áreas rurais, esse queijo possui baixo custo de produção em razão de seu processo simples de manufatura. Elizete tem o objetivo de ensinar seus familiares a fazer o queijo colonial, repassando o saber que aprendeu com sua mãe. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Leite, sal e coalho caseiro. Modo de fazer: Colocar o leite e o sal em uma panela de alumínio para misturar bem. Acrescentar o coalho e deixar descansar por uma hora. Cortar o queijo em pedacinhos, escaldar o queijo com a água fervente e escorrer o soro e a água do queijo. Em seguida, escaldar novamente com mais água fervente. Colocar na caixinha/escorredor e deixar entre 4 a 5 horas em descanso (escorrendo). 62 O processo de cura leva cerca de 2 a 3 dias quando o tempo está bom (seco e de sol), mas pode levar de 8 a 10 dias quando está chuvoso/úmido. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPT-S-07 Denominação: Bolo de coalhada Região: Serrana Município: Capão Alto Entrevistado(a): Suzana Aparecida de Jesus Histórico: Dona Suzana aprendeu a fazer o bolo de coalhada com sua mãe, dona Maria Conceição Madruga, quando era criança, e pretende ensinar para seus filhos. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Leite, sal, azeite, ovos, coalhada e polvilho azedo. Modo de fazer: Bater os ingredientes, untar e levar para assar. Capão Alto 63 Cerro Negro Cerro Negro Cerro Negro Data de fundação: 26 de setembro de 1991 População: 4.098 habitantes Principais etnias: Italiana Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 278 km de Florianópolis Área: 418 km² Cidades próximas: Capão Alto, Anita Garibaldi, Campo Belo do Sul, Abdon Batista História: Cerro Negro O município foi colonizado a partir de 1880, quando os primeiros imigrantes italianos fundaram a Freguesia de São Francisco do Cerro Negro. Dois montes gêmeos, cercados por matas exuberantes e que projetavam sobre eles enormes sombras escuras, deram origem ao nome. O distrito de Cerro Negro foi criado em 6 de julho de 1916 e instalado em 16 de janeiro de 1919. Em 26 de setembro de 1991 obteve sua emancipação política. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 66 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código CEN-M-01 Denominação: Casa Brunetta Localização: Localidade de Tanque, perto da Igreja Senhor Bom Jesus Ano de construção: 1954 Região: Serrana Município: Cerro Negro Entrevistado(a): Inês Faustina Gasperin Brunetta Dados: Dona Inês e seu falecido marido construíram a casa 15 anos após se casarem. Ela mora na casa desde sua construção, em 1954. O imóvel possui estrutura e divisórias de madeira com cobertura de telhas cerâmicas. Foram feitas algumas alterações posteriores no imóvel, como a construção de uma varanda nos fundos e de um banheiro do lado de fora da casa. Cerro Negro 67 Cerro Negro Patrimônio Material Cerro Negro Código CEN-M-02 Denominação: Igreja Senhor Bom Jesus Localização: Localidade de Tanque Ano de construção: 1924 Região: Serrana Município: Cerro Negro Entrevistado(a): Sebastião Antunes de Castro Dados: No local onde está a Igreja Senhor Bom Jesus havia outra igreja que foi desmanchada. A madeira utilizada para a construção dessa igreja foi doada pela comunidade, serrada na serraria dos Brunetta e beneficiada em Celso Ramos. A madeira foi transportada por carretas puxadas por quatro cavalos. A imagem do Senhor Bom Jesus veio de trem até Joaçaba e chegou à localidade de cargueiro (animal utilizado para o transporte de cargas). Para equilibrar o peso no transporte, foram colocadas pedras no outro cesto do cargueiro. O que torna essa edificação importante na localidade é o fato de a própria comunidade ter colaborado na construção, doando a madeira, cortando os pinheiros e conservando-a. 68 Cadernos da Serra Identidades Celebrações Código CEN-C-01 Denominação: Corrida de Boi Carreiro Região: Serrana Município: Cerro Negro Entrevistado(a): João Noelmi Pucci Delfes Histórico / Descrição: No inicio da colonização, a principal atividade econômica era: a criação de gado bovino, muar e cavalar, surgindo as tropeadas para o transporte dos rebanhos. Neste momento surgiu o adestramento de animais para montarias e condução de carretas para o transporte de mercadorias. Com isso vieram as disputas pelos melhores animais, tanto para corridas como para animais de carga. Uma mula de cargueiro transportava em média 100 kg em grandes viagens, como de Cerro Negro a São Paulo, que durava em média 60 dias (ida e volta). A carreta em geral tinha capacidade de 100 arrobas (1500 kg) e era puxada por três juntas de bois (seis bois carreiros). Por volta de 1900, os fazendeiros que em Cerro Negro moravam iniciaram as corridas e montarias em animais xucros ou mal domados. Tal atividade passou a servir de lazer nos finais de semana, surgindo apostas em laçada de Cerro Negro 69 Cerro Negro Cerro Negro boi pelo chifre. Os torneios de laço e as montarias em animais mal domados ou de difícil adestramento são práticas difundidas até hoje nos rodeios e nas festas culturais. As corridas ou carreiras tiveram início com cavalos, utilizando os mais velozes. As raias eram construídas em retas com um bom nível de chão e em média com 500 metros de comprimento. Muitas corridas eram realizadas em duas quadras (264 metros) com animais de menor resistência para corrida. As corridas eram documentadas através de contratos que continham: valor da aposta, metragem a ser percorrida, peso do jóquei e forma da largada do partidor (no baixar de uma bandeira, tiro para o alto, saída combinada entre os jóqueis). Eram sorteados os trilhos (no sistema cara e coroa de uma moeda) tendo dois julgadores, que ficavam na estaca no final da reta demarcada para definir quem ganhava a carreira. Outra regra importante era a aplicação de uma multa, caso o animal não fosse “enfrenado” para correr, penalidade de 50% do valor da aposta. Após as grandes corridas contratadas com antecedência, surgiam as corridas dos animais não preparados para correr. Eram formadas duplas e trios e no mesmo momento enfrenavam para correr. Era dada a largada e vencia quem chegasse primeiro no final da reta. Corriam mulas e até carros de bois nos finais de tarde. Como na época não existiam outras atrações, nos dias de carreiradas, famílias inteiras iam assistir, a cavalo, de carreta e até de carro de boi. Chegavam pela manhã para aproveitar o dia, conversavam com amigos e compartilhavam o revirado de galinha, os pastéis e a paçoca de charque, sempre acompanhados de cachaça. Nesses espaços de tempo surgiam as provocações e discussões para amarrar outras corridas, que aconteciam geralmente no mesmo dia após os grandes páreos. As corridas reuniam cerca de mil pessoas. Conforme a data e o local das corridas (grandes apostas eram realizadas) vinham pessoas de várias localidades, hoje municípios como: Cerro Negro, Campo Belo do Sul, Capão Alto e Anita Garibaldi. Por um longo período, essas atrações foram esquecidas. A partir da década de 80 as corridas de cavalos, foram retomadas com animais de puro sangue, como o cavalo inglês, próprio para corridas. As corridas são realizadas nas festas do município por ocasião do aniversário de emancipação, todos os anos no mês de setembro. 70 Cadernos da Serra Identidades Observações Gerais / Curiosidades: Estes são alguns locais e proprietários das raias que existiram em Cerro Negro: Raia do pinheirinho; proximidades da sede do município, proprietário, Arlindo Ubaldo e Antenor Ubaldo. In memoriam. Raia do Laureano; localidade de Linda Vista, proprietário, Laureano Martins. In memoriam. Raia do Lauro; localidade de Sagrado Coração de Jesus, proprietário, Lauro Ramos. In memoriam. Raia da Santinha; localidade São Jorge, proprietário, Sinsinato Martins. In memoriam. Raia do Detoffol; localidade de Detoffol, proprietário, João Martins. In memoriam. Raia do lagoão; proximidades da sede do município, proprietário Francisco pinheiro de Godoi hoje, família Pucci. Raia da Laide; localidade de Serrinha, proprietária da época, Laide Waldrigues Varela. In memoriam. Raia do Laco Borge, localidade de Amandios, proprietário Aparício Borges do Amaral, hoje Sebastião Boeira de Godói. Raia do Tanque; localidade de Tanque, proprietário Julio Madruga da Silva. In memoriam. Raia dos Fernandes; localidade Rincão do Tanque, proprietário Jose Vitorino Fernandes. In memoriam. Cerro Negro 71 Cerro Negro Lugares Cerro Negro Código CEN-L-01 Denominação: Gruta Nove de Maio das Águas Região: Serrana Município: Cerro Negro Entrevistado(a): Sebastião Antunes de Castro Histórico / Descrição: No local existe um paredão de pedra onde o profeta João Maria começou a visitar durante a Semana Santa. Conta-se que o profeta abençoou o local e desde então a nascente passou a ser milagrosa. Em 9 de maio de 1900 foi construída uma gruta. Observações Gerais / Curiosidades: Todos os anos, na Sexta-feira Santa são feitas procissões até a gruta Nove de Maio, para rezar aos pés das imagens de Nossa Senhora Aparecida e do profeta João Maria. No local existe uma queda d’água, tipo bica, com pouca água, onde, segundo a crença do povo local, para quem não tem fé ou tem muitos pecados a água não cai, e para quem tem fé ela pinga. 72 Cadernos da Serra Identidades Lugares Código CEN-L-02 Denominação: Gruta Linda Vista Região: Serrana Município: Cerro Negro Entrevistado(a): Julia Costa Pereira Histórico / Descrição: Há cerca de 50 anos, um rapaz chamado Orli começou a dizer que estava vendo a imagem de Nossa Senhora Aparecida em um dos galhos do pinheiro. No início não acreditavam nele, até que outras pessoas passaram também a ver a imagem da Santa, inclusive a entrevistada, senhora Julia, quando tinha 34 anos. A partir de então muitas pessoas começaram a fazer romaria ao local e a receber graças, deixando lá retratos, alianças, cabeças, pernas e braços feitos de cera, chaves de casa e outros. A última aparição da imagem da Santa foi em 1992 para Alisson Pereira Martins, que na época tinha dois anos de idade. A fé da comunidade de Linda Vista em Nossa Senhora Aparecida chega ao ponto de acreditarem mais nos poderes da Santa do que nos médicos. Cerro Negro 73 Cerro Negro A romaria em honra a Nossa Senhora Aparecida, à Gruta de Linda Vista, a cada ano tem chamado a atenção pelo número de fiéis, que vão até o local para rezar e pedir graças à Padroeira do Brasil. No dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, fiéis fazem uma caminhada, saindo pela manhã do centro da cidade, com destino à gruta, num trajeto de chão batido, de aproximadamente oito quilômetros. Observações Gerais / Curiosidades: Cerro Negro A entrevistada contou a história de dois amigos que saíram para caçar e um deles disse ao outro que ali naquele pinheiro corriam boatos de que a imagem de Nossa Senhora Aparecida costumava aparecer. O amigo, nesse momento, deu tiros em direção à árvore, para mostrar que não passava de crendice do povo. E o rapaz que contava a história prosseguiu, dizendo que na verdade era em um galho específico que a imagem surgia e foi até lá e cortou o galho do pinheiro. Pouco tempo depois, os rapazes faleceram de causas desconhecidas até hoje. Tinham os rapazes em torno de 18 anos de idade. 74 Cadernos da Serra Correia Pinto Correia Pinto Correia Pinto Data de fundação: 10 de maio de 1982 População: 17.026 habitantes Principais etnias: Portuguesa Localização: Planalto serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 225 km de Florianópolis Área: 623 km² Cidades próximas: Lages, Ponte Alta, Otacílio Costa História: Correia Pinto Em 1766, Antônio Correia Pinto de Macedo chegou à região dos Campos de Lages e estabeleceu-se nas proximidades do Rio Canoas. Desse povoado surgiriam mais tarde Lages e o distrito de Correia Pinto. Alguns anos depois, tudo o que tinha sido construído por Pinto de Macedo foi destruído por uma enchente, fazendo com que o desbravador partisse. O arraial, porém, não foi abandonado – Correia Pinto deixou ali famílias de sua confiança, com o objetivo de povoar e desenvolver as terras. Em 1920, Antonio Laureano Ramos decretou que a vila passaria a distrito, com a denominação de Correia Pinto, tendo como sede o povoado de Bom Jesus de Canoas, atual localidade de Correia Pinto Velho. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 76 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código CPI-M-04 Denominação: Cemitério Nossa Senhora Aparecida (Ponte Canoas) Localização: Bairro de Nossa Senhora Aparecida – Ponte Canoas Ano de construção: 1912 – lápide mais antiga Região: Serrana Município: Correia Pinto Fonte: RIBEIRO, Celso Rogério Alves. A história do município de Correia Pinto. Florianópolis: Lunardelli, 2004 / Dados da Secretaria de Obras. Dados: Neste cemitério encontra-se a sepultura com registro de falecimento mais antigo, remanescente do primeiro povoado à beira do Rio Canoas, oriundo das famílias que acompanhavam o bandeirante Antonio Correia Pinto. Ali estão também muitos antepassados, cujos familiares ainda residem no município. Correia Pinto 77 Correia Pinto Patrimônio Material Correia Pinto Código CPI-M-05 Denominação: Capela São Sebastião e São Bom Jesus Localização: Antiga estrada que liga Curitibanos a Lages, BR-116 - Correia Pinto Velho Ano de construção: 1921 Região: Serrana Município: Correia Pinto Entrevistado(a): João Osni Correa Dados: A história da capela está ligada à própria história de Lages e Correia Pinto Velho. A primeira capela foi fundada em 1766, próxima ao Rio Canoas, mas acabou destruída por uma forte enchente. A segunda capela, que servia também de pouso para os tropeiros, foi queimada. Comenta-se que teria sido amaldiçoada pelo Monge João Maria em 1895, por ter sido mal recebido pelos cristãos do local, que não acreditavam em sua pregação. Segundo o monge, o local voltaria a ser curral de gado, o que de fato foi por muito tempo. Hoje está reflorestado. A terceira capela foi inaugurada no então Distrito de Correia Pinto, em 1921. Executada inteiramente em madeira, possui janelas nas laterais de toda a nave, bem como pequena porta de acesso na lateral esquerda, cobertura em telha francesa e esquadrias em madeira. 78 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código CPI-M-06 Denominação: Cemitério de Correia Pinto Velho Localização: Correia Pinto Velho Ano de construção: 1919 – lápide mais antiga Região: Serrana Município: Correia Pinto Fonte: RIBEIRO, Celso Rogério Alves. A história do município de Correia Pinto. Florianópolis: Lunardelli, 2004. Dados da Secretaria de Obras. Dados: No cemitério de Correia Pinto Velho, encontram-se várias lápides dos fundadores do então Distrito como: o primeiro Juiz de Paz, o primeiro comerciante, o primeiro madeireiro, o Capitão da Guarda Nacional e os primeiros habitantes do povoado. A sepultura mais antiga data de 19 de janeiro de 1919. As lápides antigas são esculpidas em pedra ricamente adornadas e possuem esculturas do mesmo material. Correia Pinto 79 Correia Pinto Patrimônio Material Correia Pinto Código CPI-M-07 Denominação: Estação Ferroviária Localização: Tronco Principal Sul km 628 Ano de construção: 1965 Região: Serrana Município: Correia Pinto Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br Dados: 80 A estação de Correia Pinto foi inaugurada em 1965 no trecho Lombas-Lages, integrante das linhas que vinham de Itapeva via Pinhalzinho e Ponta Grossa, conhecido como Tronco Principal Sul. O nome da estação homenageia o fundador da cidade de Lages. A linha existente fazia tanto o transporte de carga quanto o de passageiros. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPI-S-01 Denominação: Coberta de lã Região: Serrana Município: Correia Pinto Entrevistado(a): Elza Rodrigues Piola Histórico: A confecção das cobertas de lã de ovelha, a forma de costurar, e desfiar a lã, vem passando de geração em geração, só que com o passar dos anos esse costume estava se perdendo. Com a oportunidade de fazer, no ano de 1990, um curso de capacitação no Centro de Formação em São Joaquim, 18 professores do interior da Rede MuCorreia Pinto 81 Correia Pinto Correia Pinto nicipal passaram uma semana aprendendo: tripa de mico, mini-tear, como fazer acolchoados e outras técnicas. A partir desse curso dona Elza iniciou o trabalho com os alunos da escola. Começou com a observação da tosa da ovelha, que geralmente é feita no mês de outubro, passando à lavação manual, que era feita no rio próximo à escola (algumas mães ajudavam), depois desfiavam e enrolavam os fios em um enrolador de fumo doado por um senhor da comunidade, onde faziam fios para confeccionar pequenos tapetes nos teares. Aprenderam também a tingir os fios com produtos que possuíam, como beterraba e folha de São João. Com o passar do tempo começaram a fazer as cobertas. A partir daí, as mães se envolveram nesse projeto e começaram a se reunir quinzenalmente, através da Associação de Mulheres Agricultoras do Sítio Velho, para lavar, desfiar, costurar a mão os acolchoados (hoje já adquiriram máquinas de costura), orientar e conversar. Grande parte dos acolchoados confeccionados é doada para pessoas carentes. A técnica de fazer coberta de lã é antiga e tradicional na região serrana. Embora a senhora Elza tenha aprendido em um curso, vale o registro da tradição de fazer a coberta de lã, onde o processo de lavar e costurar é o mesmo. Atualmente existe a praticidade dos equipamentos, embora o processo continue sendo manual. Descrição / Observações gerais: São utilizados: Lã de ovelha, linha, tecido, agulha 82 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPI-S-02 Denominação: Café Tropeiro Região: Serrana Município: Correia Pinto Entrevistado(a): Zenita Terezinha Pereira e Alexssandra Pereira Histórico: Essa é uma receita muito utilizada por tropeiros e tradicionalistas. Como na época não existia coador de café, a água era fervida na chaleira de ferro no fogo de chão e o café colocado em seguida. Depois de adoçado, retirava-se o café do fogo, deixando descansar por 20 minutos antes de servir. Quem nos ensina é dona Zenita, casada com o senhor Zé Bastos, filho de um tropeiro muito conhecido no município: Sebastião Figueiredo Pereira, mais conhecido como Sebastião Bastos. Correia Pinto 83 Correia Pinto Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Pó de café (feito no pilão de casa), água e açúcar. Modo de fazer original: Ferver a água em chaleira de ferro no fogo de chão. Após ferver, colocar o café e o açúcar e retirar do fogo deixando descansar por 20 minutos. Modo de fazer adaptado: Pó de café industrializado. Atualmente usa-se o coador para filtrar o pó de café. Correia Pinto Pode ser servido com: Bolo frito de fubá: fubá fino, ovo, açúcar, sal, fermento em pó, farinha de trigo e leite. Fritar no óleo; Bolo simples: farinha de trigo, ovo, água e sal. Fritar no óleo; Orelha de gato: leite, fermento em pó farinha de trigo, ovo, fritar e depois passar no açúcar refinado; Bolo de polvilho: leite coalhado, sal, ovo, polvilho azedo enrolado em forma de rosca e assado; Pão de milho: fubá, água morna, fermento de pão, açúcar, banha, sal, farinha de trigo; Chimia de leite: deixar o leite azedar, tirar o soro, colocar sal e mexer levemente. Servir com pão acompanhado de queijo colonial, mel e outros. O café tropeiro é servido na Semana Farroupilha, uma festividade que lembra a história da Guerra dos Farrapos, que durou dez anos e construiu a memória do município com suas tradições. Durante a festa, a cavalgada que os cavaleiros fazem nas ruas da cidade relembra as longas cavalgadas dos tropeiros, assim como as rodas de chimarrão que as tropas faziam planejando suas estratégias de caminhada, de guerra, onde todos se reuniam. 84 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPI-S-03 Denominação: Feijão Tropeiro Região: Serrana Município: Correia Pinto Entrevistado(a): Zenita Teresinha Pereira e Gisele Histórico: Essa receita vem sendo passada de geração em geração. Era um prato muito utilizado pelos tropeiros em suas longas viagens com as tropas, que levavam mantimentos, rebanhos e outros. Os mantimentos, produzidos em suas propriedades ou localidades, eram carregados sobre as mulas e, não podiam ser perecíveis. Quando os tropeiros paravam à noite para descansar e se alimentar, deixavam uma panela de ferro sobre o fogo de chão cozinhando o feijão preto para o dia seguinte. Pela manhã, acrescentavam cebola, cebola verde, toucinho de porca, manjerona, farinha de mandioca, banha, alho e sal. Era a primeira refeição do dia, servido com café tropeiro, pão de milho e bolo de fubá. Correia Pinto 85 Correia Pinto Ainda é consumido por pessoas que trabalham em serviço pesado e servido em festas típicas, cavalgadas e sesteadas, onde se conserva a tradição tropeira. Descrição / Observações gerais: Ingredientes: Feijão preto, cebola de cabeça, toucinho de porca (pois o de porco, quando o animal não é castrado, conhecido como “cachaço”, exala um odor forte), manjerona, farinha de mandioca, banha, alho e sal. Modo de fazer original: Deixar sobre o fogo de chão em uma panela de ferro à noite para cozinhar. No dia seguinte, misturar os temperos e a farinha de mandioca no feijão já cozido. O tempo de preparo é de cerca de 3 horas. Correia Pinto Modo de fazer adaptado: Atualmente é feito o feijão mexido, que leva menos ingredientes (apenas feijão, temperos e farinha). Não é cozido em panela de ferro nem em fogo de chão. O modo de fazer original é seguido apenas nos torneios de laço e festas típicas da região, ou em encontros de tradicionalistas. 86 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código CPI-S-04 Denominação: Carreteiro Região: Serrana Município: Correia Pinto Entrevistado(a): Zenita Teresinha Pereira e Alexssandra Pereira Histórico: Esse é mais um prato típico utilizado por tradicionalistas e tropeiros. A receita vem passando de geração em geração, desde a forma de conservar a carne, para não estragar durante as longas viagens, até o seu preparo. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Carne defumada e salgada (charque), arroz, cebola, tempero verde, alho e banha de porco. Correia Pinto 87 Correia Pinto Modo de fazer original: Cortar o charque em pequenos pedaços e colocar de molho em água fria no tacho (sobre uma trempe no fogo de chão). Pôr para amornar. Quando aquecida, trocar de água e repetir esse processo por três vezes. Depois, voltar ao fogo de chão e deixar fritar na banha de porco junto com os temperos verdes, cebola e alho. Depois de frito, colocar arroz e água suficiente para cozinhá-lo. O principal segredo deste prato é o cuidado que se deve ter com a carne salgada e defumada (charque), que deve ser cortada em pequenos pedaços e colocada de molho em água fria num tacho. Correia Pinto Modo de fazer adaptado: Quando se prepara em casa (pequenas porções), não se utiliza a trempe (estrutura de ferro aonde vai o tacho, no fogo de chão), e sim o fogão a gás ou à lenha com uma panela comum. Este prato é servido com salada de repolho, pão caseiro e vinho. Nas festas típicas do município, são utilizados todos os utensílios tradicionais para fazer o carreteiro, como a trempe, o fogo de chão e o tacho. 88 Cadernos da Serra Lages Lages Lages Data de fundação: 22 de novembro de 1776 População: 160 mil habitantes Principais etnias: Italiana e alemã Localização: Planalto Serrano, a 223 km de Florianópolis Área: 2.645 km² Cidades próximas: São Joaquim, Bom Retiro, Otacílio Costa, Urupema, Correia Pinto História: Lages Em 1766, o governador da Capitania de São Paulo – antiga proprietária da região – incumbiu o bandeirante Correia Pinto de fundar um povoado. A localidade devia servir como defesa contra a invasão dos castelhanos que cobiçavam as terras, ao mesmo tempo que oferecia proteção aos tropeiros e viajantes que cruzavam o Planalto Serrano transportando gado do Rio Grande do Sul para São Paulo. A fundação do povoado de Nossa Senhora dos Prazeres dos Campos das Lajes foi oficializada em 22 de novembro de 1766. Em maio de 1771, a povoação foi elevada à categoria de vila, permanecendo assim até 1820, quando foi desanexada de São Paulo e passou a fazer parte de Santa Catarina. O antigo nome só foi substituído por Lages em 1960. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 90 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código LGS-M-02 Denominação: Igreja e Convento Franciscano São José do Patrocínio Localização: Rua Marechal Deodoro, Centro Ano de construção: 1915 Região: Serrana Município: Lages Fonte e Entrevistado(a): Mitra Diocesana de Lages e Paulo Derengoski Dados: A história do Convento teve início pelos padres franciscanos com a construção de um conjunto de prédios. Após um ano agregou-se a este uma capela. A porta principal da capela tem formato de arco ogival e foi feita em madeira entalhada com desenhos assimétricos. Este conjunto é considerado o mais importante marco em alvenaria de tijolos aparentes do Planalto Serrano, com linhas construtivas de influência neo-gótica. Lages 91 Lages Patrimônio Material Lages Código LGS-M-06 Denominação: Casa da Antiga Cúria Diocesana Localização: Praça João Ribeiro, Centro Ano de construção: Década de1950 Região: Serrana Município: Lages Fonte: FCL – DPHC – SEPLAN – MTC – Mitra diocesana de Lages Dados: Com uma arquitetura de referência na região, destaca-se por sua estrutura e pelos materiais utilizados. Atualmente tem uso institucional, no entanto, originalmente, o edifício foi construído para ser o centro administrativo e receber reuniões do clero. Em 1966, serviu como sede para coordenação da Igreja Católica e sua secretaria. Em 1969 funcionou como sede da recémfundada Caritas. 92 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código LGS-M-07 Denominação: Farmácia América Localização: Rua Nereu Ramos, Centro Ano de construção: 1916 Região: Serrana Município: Lages Fonte: FCL – DPHC – SEPLAN – MTC Dados: Construída no ano de 1916 por Arlindo Silva e, posteriormente, comprada por Manoel Thiago de Castro, esta casa era dividida em residência e loja. Na década de 60, foi ocupada apenas por estabelecimentos comerciais, sendo dividida em Farmácia e Bar. Estes estabelecimentos se tornaram ponto de referência na cidade: a Farmácia América e o Bar Marroquinhos – fazendo parte da história e marcando toda uma geração. Lages 93 Lages Patrimônio Material Lages Código LGS-M-08 Denominação: Casarão Juca Antunes Localização: Rua Coronel Cordova / Rua Benjamin Constant Ano de construção: 1870 Região: Serrana Município: Lages Fonte: FCL – DPHC – SEPLAN – MTC Dados: Construída por volta de 1870, na esquina da Rua Coronel Córdova com Benjamin Constant, consiste em um dos últimos exemplares da tipologia arquitetônica que predominou em Lages até o início do século XX. Foi residência do Coronel Juca Antunes Lima, filho de uma família de origem portuguesa que vivia em Lages. Na segunda metade do século XVIII, fazendeiro e líder influente com importante participação na História. 94 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código LGS-M-09 Denominação: Mercado Público Municipal de Lages Localização: Rua Hercílio Luz, Centro Ano de construção: 1940 Região: Serrana Município: Lages Fonte: FCL – SEPLAN – MTHC Dados: No ano de 1940, na área periférica, iniciou-se uma ação de remodelação e embelezamento da cidade. Havia também a necessidade de se abrigar o mercado em um espaço maior. A construção do novo mercado foi saudada como uma medida modernizadora da cidade e, não por acaso, foi escolhido o estilo art déco para a edificação, como espaço de comércio coberto e fechado, divido em bancadas e estandes fixos. Lages 95 Lages Saberes Código LGS-S-01 Denominação: Laço Região: Serrana Município: Lages Entrevistado(a): Ademir Barbosa Histórico: Lages O laço está ligado às atividades nas fazendas e manejo do gado, sendo a confecção deste uma atividade masculina. Quem trança o laço domina todas as fases de produção, desde a secagem ao corte do couro. Assim, o que antigamente era produzido para o consumo próprio, num processo de aprendizagem cuja escola era o cotidiano, transformou-se hoje em fonte de renda para muitos artesãos, que vendem para todo o Brasil. Descrição / Observações Gerais: 96 São usados para a confecção do laço: Couro curtido e seco; Facas de corte; Suporte em madeira para esticar o couro; Habilidade em trançado; Equipamento (máquina artesanal) para firmar o trançado; Óleo para amaciar o couro. Antigamente o artesão usava apenas a força manual para firmar o trançado, hoje ele adapta equipamentos que reduzem seu esforço. Muitas vezes o óleo usado para amaciar era substituído por sebo de gado. A produção artesanal ocorre no porão da residência do artesão. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código LGS-S-02 Denominação: Charque Outras denominações freqüentes: Carne de sol, carne seca Região: Serrana Município: Lages Entrevistado(a): Célio Castilhos Histórico: Sua cultura e tradição têm origem nos povos que habitavam a região e que utilizavam o charque como base da alimentação para suportar os longos períodos de inverno. Célio aprendeu a fazer com seu pai, ajudando a cortar e salgar. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Carne bovina – coxão de fora, coxão de dentro ou tatu e sal. Modo de fazer: Cortar na horizontal em camadas formando lâminas. Para salgar, colocá-las esticadas em uma salgadeira ou gamela de madeira. Salgar ambos os lados com sal grosso. Deixar em repouso por algumas horas e por fim colocar no varal ao sol para “curtir” e secar durante aproximadamente três dias. A escolha de uma carne de boa qualidade influencia no preparo. Usa-se como proteção caixas com telas para evitar parasitas. Antigamente a secagem era feita sobre cercas de madeira colocadas nas mangueiras das grandes fazendas. Lages 97 Lages Saberes Denominação: Entrevero Outras denominações freqüentes: Entreverado Região: Serrana Município: Lages Entrevistado(a): Julio Cesar Ribeiro Ramos Lages Código LGS-S-03 Histórico: 98 Julio conta que na fazenda de seu pai, Plínio Ribeiro Ramos, tinham o hábito de fazer o chamado “Café com Salgado”. Por volta do ano de 1985 Julio começou a trabalhar com turismo, sendo pioneiro na atividade na região de Lages, e por esse motivo resgatou a gastronomia da região. Ele conta que servia em sua fazenda para os turistas o churrasco de moquém, mas não tinha o hábito de servir junto com aperitivos como linguicinha e outros. Certo dia um turista pediu que ele servisse um aperitivo e então ele resolveu resgatar os ingredientes que eram servidos no café com salgado (linguicinha, pinhão e frescal), e surgiu a ideia de fazer em um disco de arado um prato diferente. Nesse disco ele refogou charque e linguicinha campeira. Percebeu que ficou muito salgado. Nesse momento, viu uma funcionária que estava fazendo almoço passar com um prato de tomates picados e resolveu acrescentá-los Cadernos da Serra Identidades ao refogado. Além deste, acrescentou cebola, pimentão e pinhão cozido. Um amigo, vendo isso, comentou que aquele era um verdadeiro “entrevero”, então batizou esse prato com o nome de Entrevero, ou Entreverado Serrano. Em seguida houve a Festa do Pinhão e o Globo Rural fez uma reportagem com Julio sobre a gastronomia típica serrana. O entrevero foi o prato escolhido para ser apresentado no programa, e eleito o prato do ano do Globo Rural de 1989. Nos concursos gastronômicos da Festa do Pinhão esse prato foi campeão por três vezes consecutivas, tendo participado também de outros concursos gastronômicos em que também foi campeão. Julio afirma que a receita original é feita com ingredientes produzidos em Lages e essa receita é a única verdadeira. Não se opõe que essa receita seja usada ou comercializada. Existem outros tipos de entreveros, mas esse é o típico serrano. Ele fica incomodado quando vê essa receita ser feita de forma diferente usando o nome de entrevero - o seu foi patenteado como Entrevero (ou Entreverado). Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Alcatra, carne de porco, bacon, linguiça calabresa, pinhão cozido, cebola, alho, pimentão verde, pimentão vermelho, cenoura, tomate, óleo, tempero verde e sal. Modo de fazer: Picar todos os ingredientes separados, fritar as carnes aos poucos, num disco ou panela de ferro. Colocar os outros ingredientes, deixando o tomate por último e refogar até o ponto desejado. Lages 99 Lages Saberes Código LGS-S-04 Denominação: Paçoca de Pinhão Região: Serrana Município: Lages Entrevistado(a): Daniel Ubaldo Binatti Histórico: Lages Segundo o senhor Daniel a receita da Paçoca de Pinhão surgiu no século passado, quando os tropeiros notaram que era um prato fácil e rápido de ser feito. Aproveitavam sobras de carne de gado já cozida, misturando a ela o pinhão cozido e temperos. A paçoca de pinhão é um dos pratos tradicionais de Lages e da Festa do Pinhão, maior evento da região. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Pinhão cozido e moído, bacon, carne de gado moída, carne de porco moída, linguiça, cebola, alho, pimenta-do-reino e tempero verde. 100 Modo de fazer: O pinhão, depois de cozido, deve ser socado no pilão, alternando este e a carne cozida. Fritar o bacon, as carnes e a linguiça. Juntar a cebola, o alho e refogar. Juntar o pinhão e o tempero verde. Levar novamente ao fogo e mexer com colher de pau. Cadernos da Serra Identidades Formas de Expressão Código LGS-FE-01 Denominação: Dança do Graxaim Lageano Região: Serrana Município: Lages Entrevistado(a): Mario Sergio Arruda Antunes Histórico / Descrição: O Graxaim é uma dança sobre a qual se tem poucas informações. Está em processo de desaparecimento, deixando de ser executada nos “bailes de campanha” da Coxilha Rica, de onde é originária. Parece estar restrita ao sul da cidade de Lages, principalmente no interior. As escassas informações obtidas fazem referência a uma dança de pares enlaçados e independentes, cuja coreografia é executada ao som de uma música rápida. Existem ainda na região algumas pessoas que tocam a música tradicional do Graxaim, tendo a gaita como principal instrumento musical. Observações Gerais / Curiosidades: No inicio da década de 90, o grupo adulto de danças do Centro de Tradições Gaúchas do Barbicacho Colorado de Lages participou do Rodeio Internacional de Vacaria, no RS. Nessa ocasião, cada grupo deveria apresentar uma coreografia de entrada de sua autoria ou de pesquisa. O coreógrafo e instrutor Mario Arruda fez sua pesquisa sobre a Dança do Graxaim na Região de Lages. Várias pessoas pasLages 101 Lages saram informações sobre a forma de dançar o tema, bem como os passos característicos de cada figura. A melodia e os versos também foram coletados e um casal que sabia dançar fez demonstrações da execução da dança. É dançada com vários casais ao mesmo tempo, uns independentes dos outros, mas os passos se assemelham de acordo com a melodia. É uma espécie de valsa, um passo mais longo e dois mais curtos. A dança imita o “caminhar” do graxaim (mamífero semelhante ao cachorrodo-mato, típico da região), com passos pequenos, que em alguns momentos são executados quase no mesmo lugar. Algumas estrofes registradas: “Com laço nos tentos Desapresilhado É o Graxaim Um churrasco trançado” Lages “Graxaim na campanha É o bicho caborteiro Ele come galinha Ele come cordeiro” 102 Cadernos da Serra Otacílio Costa Otacílio Costa Otacílio Costa Data de fundação: 10 de maio de 1982 População: 14 mil habitantes Principais etnias: Italiana, alemã, açoriana e polonesa Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 315 km de Florianópolis Área: 924,2 km² Cidades próximas: Braço do Trombudo, Agrolândia, Ponte Alta História: Otacílio Costa O município de Otacílio Costa nasceu das terras de um político que atuou desde os 16 anos na vida pública. Otacílio Vieira da Costa ergueu um galpão para pernoite e descanso dos tropeiros na estrada que ligava Lages a Curitibanos, num local que ficou conhecido como Encruzilhada. Mais tarde, a construção de um botequim, sempre pintado de branco, mudou o nome do local para Casa Branca. Com a chegada de fazendeiros e a aquisição de grandes áreas de terra, a região desenvolveu-se com rapidez. Em 1959, a localidade passou à categoria de distrito e, por proposta do vereador Dorvalino Furtado, passou a chamar-se Otacílio Costa. Foi desmembrado de Lages em 10 de maio de 1982. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 104 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código OTC-S-01 Denominação: Sapateiro Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Santim Eliseu Folchini – conhecido como Santos Folchini Histórico: Aqui temos o relato do senhor Santos Folchini: “Aprendi com um amigo que era sapateiro profissional, chamado Benevenuto Dacoregio. Eu tinha 18 anos e comecei a trabalhar com ele na sapataria até os 20 anos, quando também me tornei profissional. Então, abri minha própria sapataria e comecei a produzir botas, sapatos, sapatão e chinelos, trabalhando também com consertos em geral. Ensinei muita gente, e alguns seguiram a profissão de sapateiro.” Otacílio Costa 105 Otacílio Costa Otacílio Costa Com o passar dos anos, Santos Folchini foi se especializando e diversificando os produtos oferecidos. Em Otacílio Costa, onde atualmente está sediada sua empresa, começou suas atividades com a fabricação de botas e acessórios para montaria. Com o passar dos anos, viu a necessidade de expandir e, há 30 anos, participa de feiras e festas de cunho tradicionalista: “O fato de termos sido considerados, durante a Expointer (em Esteio-RS), uma das melhores lojas do gênero do sul do Brasil, é motivo de orgulho e um incentivo para continuarmos sempre oferecendo produtos de alta qualidade, com atendimento diferenciado”. A empresa, embora venda todos os apetrechos de montaria e de vestimenta típica gaúcha, é especialista em botas e chapéus. A loja, além de viajar por todo o sul do Brasil, participa de eventos em Mato Grosso do Sul e São Paulo. No XI Rodeio Crioulo Internacional ocorrido no CTG Porteira do Rio Grande, em Vacaria, no ano de 1976, o senhor Santos Folchini recebeu uma declaração como artesão, artista e vendedor de botas, conquistando o 1º lugar em vendas dos diversos boxes no gênero, presentes na festa. Atualmente existem poucos sapateiros, pois raramente se fazem sapatos sob medida. Com isso, a grande maioria dos sapateiros apenas conserta os sapatos. Descrição / Observações Gerais: Material utilizado: Sola de couro, cromo, tacha ou tachinha, cola, prego, tinta, cadarço. Para fazer as botas é necessário cortar a palmilha, montar na forma e colocar a sola e o salto. Este é colocado no torno, lixado, feito o acabamento e depois pintado. Existe também o solado blaqueado, que é costurado a mão. 106 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código OTC-S-02 Denominação: Peteca Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Jandira de Oliveira Abreu – Tia Janda Histórico: Tia Janda, como é conhecida, aprendeu a fazer peteca de palha de milho com sua mãe, que também aprendeu com a mãe. Começou a fazer aos 15 anos e continua a confeccionar. Com o passar dos anos, tia Janda e seu filho Jocelino Abreu Santos usaram a criatividade para modificar as petecas e ter mais durabilidade, usando um material mais resistente. Tia Janda ensinou muita gente através de cursos em Lages, Ponte Alta, Florianópolis, São Joaquim e em feiras quando vai expor seus artesanatos: “Gosto de dar cursos, ensino nas feiras e até nas escolas para as crianças”. Descrição / Observações Gerais: Material utilizado e Modo de Fazer: Peteca de Palha – uma caixa de fósforos, palha de milho seca, barbante, pena de galinha. Pegar a caixa de fósforos, a palha de milho uma por uma para forrar a caixa até que fique totalmente coberta, dando o formato de um quadrado. Para finalizar, deve-se amarrar bem forte, cortar as sobras da palha e colocar as penas de galinha. Peteca de couro – couro ou curvim, linha, algodão ou retalhos e penas de galinha. Riscar no couro um círculo e cortar. Depois é necessário costurar dois círculos e deixar uma abertura para encher de algodão ou resto de retalhos. As penas são colocadas por último, que antes devem ser lavadas e pintadas. Otacílio Costa 107 Otacílio Costa Saberes Código OTC-S-03 Denominação: Artesanato em porongo Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Jandira de Oliveira Abreu – Tia Janda Histórico: Otacílio Costa O porongo é uma semente que deve ser plantada no mês de julho para nascer em agosto. Se deixar a semente na terra ela nasce sozinha; é uma planta rasteira que também sobe nas árvores. Os indígenas usavam o porongo como utensílio doméstico. Quando iam caçar, colocavam água dentro para manter a temperatura. Tia Janda descobriu a utilidade do porongo aos 15 anos, quando o senhor João Santos fez uma boia para ela nadar. A partir daí, começou a usar sua criatividade fazendo copo para tomar água na roça, pois era mais prático e não quebrava. Mais tarde começou a fazer pratos, cuias, colheres e gamelas. Tia Janda passou esse conhecimento em cursos em várias cidades, como Correia Pinto, Lages, Otacílio Costa, Florianópolis e Curitibanos. Continua a ensinar sempre que solicitam e se orgulha de transmitir seus conhecimentos. São colhidos em torno de 1.000.00 porongos por ano e vendidos em pontos de comercialização em Lages e Florianópolis. Descrição / Observações Gerais: 108 O porongo é colhido e deve ser lavado, passado remédio e colocado para secar. Só então é que está pronto para ser trabalhado. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código OTC-S-04 Denominação: Cuscuz Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Maria Goretti Constante Histórico: Dona Goretti relata que, ao se casar, mudou-se com seu esposo para Otacílio Costa e que sua sogra, a senhora Maria Ferreira, foi quem lhe ensinou o preparo da receita do cuscuz de pano. Também costumam consumi-lo misturado ao leite, porém, como prefere pratos salgados, dona Goretti acrescentou alguns ingredientes. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Fubá, óleo, bacon, cenoura cozida e cortada em cubos, ervilha, ovos cozidos, tomate cortado em cubos e tempero verde. Modo de fazer: Umedecer o fubá com água e sal, cozinhar na cuscuzeira ou em um prato com pano amarrado no fundo. Fritar o bacon e acrescentar os demais ingredientes. Por fim, com o cuscuz já cozido, misturar bem. Otacílio Costa 109 Otacílio Costa Saberes Código OTC-S-05 Denominação: Arroz Carreteiro Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Belarino de Liz Histórico: Otacílio Costa Surgiu em razão dos tropeiros que conduziam as tropas de gado de um município a outro ou até mesmo para diferentes estados. A principal alimentação era a carne seca (charque) e o arroz branco, que eram produtos de fácil manejo e não perecíveis. Cozinhava-se tudo junto na mesma panela, e era servido aos tropeiros por ser uma comida nutritiva. Até hoje esse prato é bastante consumido na região. O senhor Belarino aprendeu esta receita com a mãe, e o prato está presente em todas as reuniões de família e amigos. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Arroz, charque seco, tomate, sal, cebola, temperos verdes, cebolinha, salsa, banha de porco e queijo em fatias. Modo de fazer original: Ferver o charque durante 10 minutos e escorrer a água. Em uma panela de ferro, fritar o charque. Depois de frito, colocar o arroz com água fria, a cebola e o tomate. Quando o arroz estiver quase pronto, acrescentar a salsa e a cebolinha verde, mantendo ainda um pouco umedecido. 110 Modo de fazer adaptado: Depois de pronto, acrescentar fatias de queijo, cobrindo todo arroz. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código OTC-S-06 Denominação: Caldo Verde Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Maria Goretti Constante Histórico: O caldo verde, prato que dona Goretti prepara, é conhecido e aprovado por todos da comunidade de Otacílio Costa. Por ser um prato quente, é preferencialmente servido no inverno. Dona Goretti costuma preparar deliciosas receitas nas festas da comunidade. Ela relata que repassou o saber a suas filhas e netas, bem como a outras mulheres da comunidade. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Peito de frango (cozidos e desfiados), bacon (sem a pele, cortados em quadradinhos), linguiça calabresa (cortadas em rodelas), batatas (cozidas com água do peito de frango e batidas no liquidificador com a água do cozimento), alho e cebolas pequenas (batidos no liquidificador), caldo de galinha, couve (cortada bem fininha), tempero verde, sal, óleo e leite. Modo de fazer: Fritar o bacon em uma panela grande. Acrescentar a calabresa. Fritar um pouco e colocar a cebola e o alho, em seguida o peito do frango desfiado e a couve. Por fim, colocar as batatas batidas, o leite e o tempero verde, acrescentando sal, se necessário. Ferver bem. Otacílio Costa 111 Otacílio Costa Saberes Código OTC-S-07 Denominação: Bijajica Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Michelle Ruth Antunes Histórico: Otacílio Costa Michelle, aos 28 anos, dona de casa, com muita simpatia nos relata que aprendeu essa receita com sua tia Nadir de Souza, moradora do interior da cidade, que por sua vez aprendeu com a mãe. Relembra que, quando adolescente, passava as férias no sítio da sua tia e que sempre a observava quando preparava bijajicas para o lanche da tarde. Hoje, Michelle é quem prepara semanalmente a receita para seu esposo, filhos e amigos que os visitam. Também recebe encomendas de bijajicas dos vizinhos e conhecidos da comunidade de Otacílio Costa. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Ovos, açúcar, polvilho azedo e óleo para fritar. 112 Modo de fazer: Sovar bem a massa, enrolar e fritar em óleo não muito quente para que não fique crua por dentro. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código OTC-S-08 Denominação: Bolo Frito Outras denominações frequentes: Bolo de Biju Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Matilde Capote Carvalho Histórico: Dona Matilde faz esses bolos há 50 anos, e relata que foi um saber passado por sua bisavó. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Farinha de milho, biju, polvilho, açúcar, sal e água. Modo de fazer: Misturar todos os ingredientes, sovar bem a massa e enrolar. Fritar em óleo não muito quente para não estourar Otacílio Costa 113 Otacílio Costa Saberes Código OTC-S-09 Denominação: Doce de abóbora com coco Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Maria Meyer Ribeiro Histórico: Otacílio Costa Dona Maricha, como é popularmente conhecida, relata que, como havia uma grande produção de abóbora, aprendeu com sua mãe a fazer o doce, inventando um modo de aproveitar a fruta. Esse saber, aprendido há 54 anos, já foi repassado a muitas pessoas da comunidade e ainda hoje é preparado no fogão a lenha. O doce também pode ser feito com mandioca, banana e maçã, gila, batatadoce e chuchu. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Abóbora, água, açúcar, coco ralado e cravo-da-índia. Modo de fazer: Descascar a abóbora, cortar em cubos e colocar numa panela. Adicionar o açúcar, a água e colocar para cozinhar em fogo bem baixo. A seguir, misturar o coco e deixar cozinhar por pelo menos mais 5 minutos. Acrescentar o cravo-da-índia. Deixar esfriar para servir. 114 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código OTC-S-10 Denominação: Doce de leite Região: Serrana Município: Otacílio Costa Entrevistado(a): Maria Meyer Ribeiro Histórico: Dona Maricha relata que as vacas leiteiras, quando dão cria, produzem mais leite que o habitual. Para aproveitar este excedente, começou a fazer doce de leite. Segundo ela, chegou a transformar até dez litros de leite em doce numa só vez. Utilizava o fogão a lenha e a técnica de colocar um pratinho emborcado dentro da panela para evitar que transbordasse quando fervia. Mais tarde, essa técnica foi abandonada. Passaram a utilizar uma pá de madeira para mexer o doce na panela para não grudar e evitar o derramamento. Chegou a comercializar até mesmo fora do município, mas sempre para particulares. Ensinou várias pessoas, inclusive sua irmã, e também alguns vizinhos. Dona Maricha, ao saber que muitos países fabricam doce de leite, destaca que sua receita foi inventada por ela mesma. Fica admirada ao saber que na Argentina alguém se diz o inventor desse doce. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Leite, açúcar e bicarbonato de sódio. Modo de fazer: Adicionar os ingredientes numa panela e deixar ferver, mexendo sempre para não grudar no fundo. Otacílio Costa 115 Painel Painel Painel Data de fundação: 07 de agosto de 1994 População: 2.384 habitantes Principais etnias: Italiana, portuguesa, espanhola e alemã Localização: Planalto Serrano, a 225 km de Florianópolis Área: 764,9 km² Cidades próximas: Lages, São Joaquim História: Painel Painel, distrito de Lages desde 1899, quando se chamava Quarteirão do Portão ou simplesmente Portão, obteve sua emancipação política em 1994. Suas terras foram colonizadas por imigrantes italianos, portugueses, espanhóis e alemães a partir do final do século XIX. Os moradores contam duas versões sobre o nome do município. A primeira refere-se à presença de um viajante que, ao passar pelo local, ficou impressionado pela beleza da paisagem e comparou a vista com um painel a ser pintado. A segunda atribui a origem do nome a um cidadão muito querido na região, de nome Noel – como todos o chamavam de Pai Noel, daí o nome Painel. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 118 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código PNL-M-01 Denominação: Clube 1º de Junho Localização: Rua Cel. Caetano Vieira Costa, esquina com a Rua Ramiro Gomes Ano de construção: 1912 Região: Serrana Município: Painel Entrevistado (a): Doroti Maria Broering Alves Dados: Este é o único salão de eventos do município além do Salão Paroquial. Muitas gerações frequentaram o Clube 1º de Junho. Conhecido na região pelo tradicional Baile de São João que acontecia no local, atualmente encontra-se interditado em razão da falta de uso e conservação que vem acontecendo nos últimos anos. Painel 119 Painel Patrimônio Material Painel Código PNL-M-04 Denominação: Cemitério da Fazenda Grande Localização: Estrada municipal da Aroeira Ano de construção: 1866 – lápide mais antiga Região: Serrana Município: Painel Entrevistado(a): Celso Mariano Silva Dados: 120 Feitos de madeira e muito pesados, antigamente os caixões eram carregados a pé. Conta-se que, ao chegarem à fazenda grande, as pessoas que acompanhavam o féretro já estavam cansadas e acabavam por enterrá-lo ali mesmo, surgindo o primeiro sepultamento e o cemitério da fazenda grande. A lápide mais antiga data de 1866, porém, segundo relatos, existem enterramentos anteriores que não são mais conhecidos em razão de as sepulturas serem em madeira. Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código PNL-M-05 Denominação: Fazenda Cascata Localização: Estrada Municipal Belizário Araújo Vieira – Boa Vista Ano de construção: 1879 Região: Serrana Município: Painel Entrevistado (a): Nildo de Liz Vieira Dados: Utilizada como residência e pousada rural, a fazenda Cascata tem como atividade principal a agropecuária. Construída em 1910, toda em madeira, mantém pinturas decorativas originais nas paredes internas. Possui como atividade principal a agropecuária, sendo também uma casa de família que recebe pessoas do município e das cidades vizinhas. Painel 121 Painel Saberes Painel Código PNL-S-01 Denominação: Carreteiro Região: Serrana Município: Painel Entrevistado(a): Suzana S. Branco Histórico: Antigamente o carreteiro era feito pelos tropeiros por ser um alimento rico em nutrientes e de fácil conservação durante as viagens. Seu nome teve origem das carretas puxadas a cavalo que eram utilizadas pelos tropeiros para transportar mantimentos, daí o nome arroz de “carreteiro”. O carreteiro geralmente é feito em cavalgadas, festas municipais e torneios. É utilizada para seu preparo uma única panela de ferro com o auxílio de uma trempe no fogo de chão. 122 Cadernos da Serra Identidades Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Charque, arroz, cebola, tomates sem pele, banha, alho, tempero verde (salsa, cebolinha, manjerona etc.), pimenta e sal. Modo de fazer: Cortar o charque em tiras finas (lascas), colocar em uma panela com água e levar ao fogo por 10 min. Para retirar o excesso de sal, é necessário escorrer e reservar. Em uma panela de ferro colocar a banha, o alho e fritar por cinco minutos. Depois adicionar o charque e a pimenta e fritar por 10 minutos. Adicionar a cebola, o tomate e fritar por quinze minutos. Juntar o arroz e a água, cozinhar por trinta minutos e adicionar mais duas xícaras de água. Não se deve deixar secar por completo e por último colocar o tempero verde. Modo de fazer adaptado: Hoje em dia o carreteiro é feito também com carne de frescal e aproveitamento de carne de churrasco. Painel 123 Painel Saberes Código PNL-S-02 Denominação: Guisado do Painelaço Região: Serrana Município: Painel Entrevistado(a): Cesar Nazareno Vieira Histórico: Painel O Guisado do Painelaço é um dos pratos típicos da região. No mês de dezembro acontece a festa do Painelaço, onde esse prato é um dos principais atrativos, que já é consumido na véspera nos restaurantes da cidade. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Carne em cubos, toicinho defumado, óleo, cebola, cenoura em rodelas, abóbora cortada em cubos, vagem picada, aipins em cubos, louro, vinho tinto seco, vinagre, água quente, sal, pimenta e tempero verde. 124 Modo de fazer: Fritar o toucinho na própria gordura, juntar o óleo e adicionar a carne, fritar até dourar. Adicionar o sal, a pimenta, a cebola, a cenoura, a abóbora, a vagem, o aipim e os demais ingredientes e cozinhar por dez minutos. Adicionar a água quente e deixar cozinhar. Ao final juntar os temperos verdes. Geralmente o Guisado do Painelaço é feito no disco de ferro, com o auxílio de uma trempe e cozido no fogão a lenha ou no fogo de chão. É costume servi-lo com arroz. Cadernos da Serra Identidades Celebrações Código PNL-C-02 Denominação: Festa de São Sebastião Outras denominações frequentes: Festa de Janeiro Região: Serrana Município: Painel Entrevistado(a): Vânia Maria Schuvartz Arruda Histórico: A festa de Janeiro do Município de Painel acontece há muitos anos, mas não se sabe ao certo quando iniciou. Calcula-se que a primeira foi realizada no ano de 1914. Inicialmente eram festas pequenas que tinham a intenção apenas de homenagear o padroeiro da Igreja Matriz. Hoje a festa possui muitos atrativos que, além de prestarem homenagem ao Padroeiro do município São Sebastião, engrandecem o turismo local. Observações Gerais / Curiosidades: A festa acontece no Salão Paroquial e na Igreja Matriz São Sebastião, no centro da cidade de Painel, e tem a duração de quatro dias. Durante esse período passam aproximadamente 500 pessoas do município e de localidades próximas. É realizada por um casal de festeiros (pessoas da comunidade) sorteados durante a festa de ano em ano. Essa festa tem como objetivo arrecadar fundos para a manutenção da Igreja Matriz e do Salão Paroquial. A gastronomia comercializada na festa começa a ser preparada com uma semana de antecedência. A festa é acompanhada pela bandeira e pela imagem do santo. É animada por bandas de música tradicionalistas gaúchas e é realizada uma cavalgada em homenagem ao padroeiro São Sebastião. Produtos comercializados: Doce de figo, cajuzinho, doce de gila, brigadeiro, churrasco, bolo, arroz carreteiro, risoto de frango e diversas bebidas. Painel 125 Palmeira Palmeira Palmeira Data de fundação: 18 de julho de 1995 População: 2.133 habitantes Principais etnias: Italiana, alemã e açoriana Localização: Planalto Serrano, a 225 km de Florianópolis Área: 292,2 km² Cidades próximas: Lages, Otacílio Costa, Correia Pinto, Bocaina do Sul História: Palmeira As belas palmeiras existentes no local deram nome ao município. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 128 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código PAL-M-01 Denominação: Casa Murara Localização: Estrada Geral de Cerro Alto Ano de construção: 1950 Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado (a): Ana Carolina Murara Dados: A residência foi planejada e construída em 1950 por Ludwving Florian Teubner, que desenvolvia atividades madeireiras como montados de serraria. Construiu um gerador de energia a partir da roda d’água que produzia energia elétrica para sua residência e ainda recarregava baterias dos moradores da região. Construída inteiramente em madeira, mantém o uso original e permanece em bom estado de conservação. Palmeira 129 Palmeira Patrimônio Material Palmeira Código PAL-M-02 Denominação: Cemitério Municipal Localização: Estrada geral de Cerro Alto Ano de construção: 1918 – lápide mais antiga Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Walmor Mariano da Silva Dados: Em 1918, quando já havia a igreja na localidade, uma senhora vinha com uma criança na garupa visitar parentes a cavalo. Ao chegar em frente à igreja, o cavalo assustou-se, corcoveando e derrubando a criança, que veio a falecer. Por se tratar de uma criança, os representantes da igreja permitiram que ela fosse enterrada nos fundos desta. Dez anos depois, novamente em razão de um acidente com cavalos, um senhor de nome Jovino de Paula também foi enterrado nos fundos da igreja, dando início ao cemitério. 130 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código PAL-M-03 Denominação: Casa Mariano Localização: Estrada Geral de Cerro Alto Ano de construção: 1948 Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado (a): Walmor Mariano da Silva Dados: Teve início como um pequeno comércio de cachaça e bananas, transformando-se em um armazém onde eram vendidos, além de produtos alimentícios, utensílios domésticos, itens de farmácia e tecidos. O comércio foi de grande importância na região por ser o único existente, transformando-se em lugar de encontro, onde os moradores sabiam das notícias e trocavam informações. Palmeira 131 Palmeira Saberes Palmeira Código PAL-S-01 Denominação: Colcha de Retalhos Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Maria José Muniz Histórico: Por ser uma senhora viúva e idosa, “dona Zezé” ocupa seu tempo com vários afazeres domésticos e trabalhos artesanais e na lavoura. Como ganhava muitos retalhos de uma filha que trabalhava em malharias, resolveu aproveitá-los. O produto que mais se destaca é a colcha de retalhos, mas também faz roupa de cama e cortinas. Além desses trabalhos, freqüenta o grupo de mães da localidade onde mora e passa seus conhecimentos adiante. Descrição / Observações Gerais: Dona Zezé procura juntar os retalhos de formas e tamanhos mais parecidos para que o trabalho fique bonito, além de útil. Desempenha o trabalho minuciosamente, incluindo detalhes como forros e babados. Parte do que produz é doada a hospitais da região e asilos. D. Zezé também faz tricô, crochê, bordados simples, ponto russo e costuras em geral. 132 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código PAL-S-02 Denominação: Arroz de Carreteiro Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Valdemiro Gonçalves de Andrade Histórico: Surgiu a partir da necessidade e pela praticidade em preparar. É um prato cujo ingrediente principal é o charque (carne-seca), que não necessita de refrigeração para conservação. Os tropeiros costumavam preparar a carne-seca juntamente com o arroz durante o trajeto que faziam para conduzir o gado ou para transportar alimentos. Este trajeto durava semanas ou até meses, dependendo das condições climáticas e da agilidade na realização de suas funções. Sendo assim, os tropeiros já saíam munidos de ingredientes práticos e não perecíveis para o preparo de seu alimento. Atualmente este prato é preparado por carreteiros que na mesma situação dos tropeiros ficam dias fora de casa e necessitam preparar alimentos práticos com ingredientes não perecíveis. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Charque, arroz, cebola, alho e tempero. Modo de fazer original: Cortar o charque em cubinhos, escaldar ao menos três vezes em água fervente para retirar o sal. Em uma panela, fritar até que fique com cor escura. Acrescentar cebola e alho bem picados e deixar dourar. Acrescentar o arroz e cobrir com água fervente. Deixar cozinhar até que o arroz fique macio. Por fim, colocar o tempero verde e servir. Modo de fazer adaptado: Atualmente, algumas pessoas incrementam a receita utilizando tomate, pimentão, ervilha e milho verde, porém o prato perde suas características originais. Palmeira 133 Palmeira Saberes Palmeira Código PAL-S-03 Denominação: Pão Nego Deitado Outras denominações freqüentes: Pão de Panela e Pão de Brasa Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Inervina Mariano da Silva – conhecida como dona Enedina Histórico: É um prato de origem cabocla, que surgiu por não haver fogão e forno na época - com isso as pessoas precisavam inventar maneiras de suprir suas necessidades. Poucas pessoas possuem este conhecimento, e quem aprendeu continua fazendo exatamente como antigamente. O pão era feito com bicarbonato, pois era difícil de encontrar o fermento. Em quase tudo o que se fazia à base de farinha se utilizava bicarbonato. Essa receita passou através das gerações. Dona Inervina aprendeu quando criança observando sua mãe. Todas as noites era feito fogo no chão para se aquecer, e aproveitava-se para assar o nego deitado. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Ovos, açúcar grosso, sal, bicarbonato, farinha de milho para dar ponto e banha. Modo de fazer: Misturar todos os ingredientes em uma bacia ou recipiente fundo. Sovar e depois colocar em uma caçarola de ferro, tampar e levar ao fogo de chão no meio das brasas para que possa assar, sobre a tampa também colocar brasas para assar por igual. 134 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código PAL-S-04 Denominação: Requeijão de fatia Outras denominações freqüentes: Requeijão Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Inervina Mariano da Silva Histórico: Devido à sobra de leite nos sítios, as mulheres sempre estavam inventando pratos diferentes para aproveitamento. O requeijão de fatia é um destes. Dona Inervina conta que aprendeu a fazê-lo com sua mãe. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Leite coalhado, leite gordo e sal. Modo de fazer: Utilizar uma quantia de leite já coalhado ou deixá-lo coalhar para a receita. Em uma panela sobre o fogo, colocar o coalho e adicionar leite gordo aos poucos, sempre mexendo. O soro que ficar sem aderir deve ser retirado. Quando adquirir consistência, misturar o sal e despejar em um prato frio. Deixar firmar para cortar em fatias. Palmeira 135 Palmeira Celebrações Código PAL-C-01 Denominação: Novena do Divino Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Wolni Paim de Sousa Palmeira Histórico: A bandeira pertencia primeiramente ao senhor Neco Esmael, da localidade de Cerro Alto. A novena começou em 1913 e circulava de casa em casa desde Cerro Alto até o centro de Palmeira. Após alguns anos, a bandeira foi doada à senhora Georgina Paim, que a guardou durante anos com o desejo de retomar a novena. Alguns anos antes de seu falecimento, a novena foi retomada (2006). O padre, com violão, juntamente com os moradores, percorrem as casas com muita alegria, música e orações, e cada morador que recebe a visita do Divino se junta ao grupo, prosseguindo as visitas até tarde da noite. A bandeira do divino que acompanha geralmente é empunhada por uma criança. A novena é feita duas semanas antes dos 50 dias após a páscoa, para que todas as casas possam receber a visita do Divino. O encerramento é feito com uma grande missa às 6 horas da manhã, seguida de café comunitário. Observações Gerais / Curiosidades: O café servido no encerramento é levado pelos moradores que participam da novena. Cada família leva um prato preparado em casa para repartir com os demais, formando assim um grande banquete. Agora o padre acompanha com violão animando o grupo, mas sabe-se que, na época em que receberam a bandeira, algumas famílias não gostavam de receber a visita e por esse motivo a novena ficou suspensa até o ano de 2006. 136 Cadernos da Serra Identidades Celebrações Código PAL-C-02 Denominação: Festa de Nossa Senhora dos Prazeres Região: Serrana Município: Palmeira Entrevistado(a): Wolni Paim de Sousa Histórico: A imagem de Nossa Senhora dos Prazeres chegou ao pequeno povoado de Palmeira trazida do Rio de Janeiro até Lages, onde ficou no mosteiro franciscano. De Lages ao povoado, a imagem foi levada no lombo de cargueiros. Foi doada pelo senhor Boaventura Coelho de Ávila, que era um homem muito religioso e devoto de Nossa Senhora. A chegada da referida imagem motivou uma festa que durou três dias. Como não havia capela, a imagem ficou na residência do senhor Boaventura, onde as pessoas se reuniam para rezar. Nesse período, foi construída uma pequena capela por Torquato Paim e Valdomiro Alvez Paim, no terreno de 6.050 m2 doado pelo senhor João Xavier, em honra a Nossa Senhora dos Prazeres. Palmeira 137 Palmeira Mesmo com a capela inacabada, faltando janela e teto, no dia 12 de novembro de 1939, a imagem foi conduzida em procissão da casa do senhor Boaventura até a capelinha. Dia 16 de agosto de 1951, nesse mesmo local, foi inaugurada a segunda capela, bem maior. Esteve presente o Bispo Diocesano de Lages, Dom Daniel Hostim. Em 15 de novembro de 1971, foi dada a benção à pedra fundamental e construída a terceira e atual igreja. A Festa de Nossa Senhora acontece todos os anos num domingo próximo ao dia 15 de agosto, que é o dia da Santa. A festa inicia com a Santa Missa às 9 horas, seguida de almoço servido no pavilhão da igreja. O dia segue com festividades, bingos e tarde dançante, que vai até aproximadamente meianoite. O dinheiro arrecadado com a festa serve para suprir as despesas da igreja, construções, reformas e ajuda à comunidade quando necessário. Observações Gerais / Curiosidades: Palmeira No dia 12 de novembro de 1939, além da procissão, Frei Cirilo, que veio de Lages, realizou um casamento e os batizados de Soni Paim e Genina Alves Paim, 13 confissões e 15 comunhões. A primeira catequista foi a senhora Georgina Paim. Produtos comercializados: Churrascos, maionese, saladas, pães, doces, bebidas e lanches diversos, como pastel, cachorro quente etc. 138 Cadernos da Serra Ponte alta Ponte Alta Ponte Alta Data de fundação: 22 de julho de 1964 População: 5.168 habitantes Principais etnias: Miscigenação de raças Localização: Planalto Serrano, às margens da BR-101, a 245 km de Florianópolis Área: 559 km² Cidades próximas: Correia Pinto, Curitibanos, São Cristóvão do Sul, São José do Cerrito História: Ponte Alta No início, a região onde hoje se encontra o município de Ponte Alta era habitada por indígenas. O território, parte das terras contestadas, sofreu ataques de jagunços e foi explorado pelos bandeirantes. Mais tarde, os tropeiros que vinham do Rio Grande do Sul em direção a São Paulo fizeram do lugar um ponto de parada. O nome do município surgiu de uma referência que os tropeiros usavam em seu trajeto: uma ponte alta situada no rio que hoje leva o nome da cidade. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 140 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código PTA-M-01 Denominação: Casa Doutor Francisco Localização: Rua Frei Rogério, 100 Ano de construção: 1940 Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Elisa Arruda de Souza Dados: Essa residência foi a primeira do município a ser construída em alvenaria. Localiza-se no centro da cidade. Ponte Alta 141 Ponte Alta Patrimônio Material Ponte Alta Código PTA-M-02 Denominação: Igreja Matriz Localização: Praça Santana, 2 – Centro Ano de construção: 1960 Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Padre João Carlos de Souza Dados: A primeira igreja foi construída em madeira, doada por Geremias Alves da Conceição. Na época, o capelão era Frei Rogério. Logo depois foi construída a igreja em alvenaria, a atual Matriz, tendo como pároco o Padre Tarcísio Dalcenter. 142 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código PTA-S-01 Denominação: Trabalho em Palha Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Maria Antonia Bianchini Histórico: Dona Maria relatou que aprendeu a fazer crochê na escola quando tinha 10 anos, bordado com a mãe, e que possui toalhinhas de crochê e panos bordados com mais de 50 anos. A pintura em tecido faz pouco tempo que aprendeu, mas o que ela mais gosta de fazer são bonecos, cestas e objetos com palha de milho. É o material mais fácil de conseguir, pois é viúva, mora sozinha, longe do comércio, e planta o milho para tratar os animais, aproveitando a palha para criar seus trabalhos. Dona Maria ensinou algumas moças que moraram com ela, mas diz não ter paciência para ensinar. Descrição / Observações Gerais: As agulhas que ela utilizava eram feitas de nó de pinho e de madeira. Hoje ela utiliza agulhas de metal e, embora afirme que o crochê não fica igual, como a agulha é mais leve, não cansa tanto as mãos. Os materiais utilizados são palha de milho seca, arame, anilina, linhas e retalhos de tecidos. Participou de uma exposição há alguns anos, promovida pela Prefeitura, e vendeu alguns de seus trabalhos. Ponte Alta 143 Ponte Alta Saberes Ponte Alta Código PTA-S-02 Denominação: Artesanato com raízes e madeira Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Osmar Velho Rodrigues – conhecido como “seu Mario artesão” Histórico: Iniciou seus trabalhos somente com raízes, pois não possuía ferramentas nem cola para para a montagem, Com um índio, aprendeu a trançar taquaras, e confeccionava cestos de vários tamanhos, para comercializar. Com o sucesso da venda dos cestos para os agricultores, começou a comprar suas ferramentas, tintas, colas, vernizes, formão e grosa. Utiliza cipós, nó de pinho, madeiras, palhas, taquaras, porongo, sementes e raízes. Vende sob encomendas, além de participar de feiras e exposições. Descrição / Observações Gerais: Sua esposa sempre foi a maior incentivadora para que ele criasse suas obras. Seu Mario não a tem mais ao seu lado, mas quando termina um trabalho sempre dedica a ela. 144 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código PTA-S-03 Denominação: Crochê Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Jandira Moraes Henckemaier Histórico: Aprendeu desde muito jovem a bordar com a mãe, fazendo seu próprio enxoval. Gosta muito de fazer trabalhos manuais, pois é um passatempo, assim aproveita todos os tipos de retalho na confecção de colchas e capas de almofadas. Descrição / Observações Gerais: Procura sempre ensinar outras pessoas, e fica feliz por ainda existirem moças que gostam e se interessam em aprender crochê, bordados, pintura e fuxico. Usa sua criatividade para enriquecer seus trabalhos, sempre pede amostras de amigas ou vizinhas. Quando alguém de sua família faz aniversário, ela mesma confecciona o presente, sempre pensando em algo original. Aprendeu o crochê normal, mas hoje ela sabe escolher a linha que se adapta melhor a cada peça. Ponte Alta 145 Ponte Alta Saberes Código PTA-S-04 Denominação: Moranga Cristalizada Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Fátima Aparecida Farias Pereira Ponte Alta Histórico: Como havia grande produção de moranga no município, diversas pessoas criaram receitas de doces e salgados utilizando-a, o que motivou mais tarde a criação da Festa da Moranga. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Moranga, cravo e açúcar para calda. Modo de fazer: Cortar em gomos, colocar de molho na cal por três horas. Fazer uma calda de açúcar e, quando estiver fervendo, colocar a moranga, apurar até dar consistência, escorrer e polvilhar com açúcar. 146 Sob encomenda, vende para amigos e familiares, em feiras e, principalmente, na Festa da Moranga. Nessa ocasião as mulheres da comunidade que fazem a mesma receita juntam-se em grupo para fazer em grande quantidade no salão de festas. Todas são mulheres agricultoras e ajudam na renda familiar. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código PTA-S-05 Denominação: Enroladinho de Moranga Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Janice Fritz Rech Histórico: Desde pequena, dona Janice gosta de cozinhar e fazer experiências na cozinha. Quando se mudou para Ponte Alta, ganhou de presente um livro de receitas de moranga e passou a testar todas. O prato que mais se destacou foi o enroladinho de moranga. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Manteiga, nata, açúcar, fermento, farinha de trigo e moranga cozida tipo doce de passar no pão. Modo de fazer: Amassar todos os ingredientes, fazer pequenos círculos de massa, colocar o doce de moranga no centro, enrolar, assar e depois passar no açúcar e na canela. Ponte Alta 147 Ponte Alta Celebrações Ponte Alta Código PTA-C-01 148 Cadernos da Serra Denominação: Romaria à Gruta do Cafundó Outras denominações freqüentes: Romaria do Cafundó Região: Serrana Município: Ponte Alta Entrevistado(a): Padre João Carlos de Souza Identidades Histórico / Descrição: Por volta de 1951, o Monge João Maria teria passado por essa gruta deixando uma cruz feita de tronco de bugreiro (espécie de árvore) seco e, meses depois, esse tronco brotou. Famílias que moram próximo ao local deram início às celebrações, fazendo orações e novenas. O local é visitado por muitas pessoas vindas de outras regiões, principalmente por devotos de Nossa Senhora Aparecida. Em novembro de 1999, o padre Zezinho (José Euclides de Oliveira) fez o convite para toda a comunidade para que juntos fizessem a 1ª Romaria à Gruta do Cafundó, que reuniu mais de 3.000 pessoas. Nos anos seguintes, as famílias de Orly Mello, José Oliveira Tobias Pereira e a Paróquia Sant´Ana continuaram promovendo as Romarias de Penitências à gruta. São 16,2 quilômetros com saída em frente à Igreja do Bairro Vila Nova. Para os devotos que percorrem a pé, a saída é às seis horas da manhã, para os que vão de carro, moto e excursões, às oito horas. Em todo o trajeto há atendimento ambulatorial e ônibus para a volta. No local, os romeiros participam da Santa Missa e, ao meio-dia, são vendidos churrasco e bebidas. Os devotos de Nossa Senhora Aparecida levam imagens da santa, fotos, objetos pessoais, e depositam no interior ou fora da gruta, acendem velas e agradecem por graças recebidas. Ponte Alta 149 Rio Rufino Rio Rufino Rio Rufino Data de fundação: 12 de dezembro de 1991 População: 2.405 habitantes Principais etnias: Açoriana, italiana e polonesa Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 198 km de Florianópolis Área: 333 km² Cidades próximas: Bocaina do Sul, Bom Retiro, Urupema História: Rio Rufino A povoação do município começou por volta de 1905, com Rufino Pereira, que morava onde hoje é a cidade de Urupema, mas cultivava as terras férteis das margens dos rios. O primeiro povoado foi fundado por José Serafim dos Santos e Osório Pereira de Medeiros e chamou-se Serra dos Pereiras. Em 29 de dezembro de 1957 foi criado o distrito de Rio Rufino. A emancipação político-administrativa ocorreu em 12 de dezembro de 1991. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 152 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código RRU-M-02 Denominação: Casa da Fábrica Localização: Estrada Geral – s/n – Bairro São Judas Tadeu Ano de construção: 1900 Região: Serrana Município: Rio Rufino Entrevistado(a): Antonio Duarte Dados: A casa foi construída em 1900 pelo senhor Valdir Vieira a pedido do senhor Dagostini para abrigar os operários que trabalhavam em uma fábrica, instalada no mesmo terreno em que a casa está construída. Quando a fábrica parou de funcionar, no ano de 1947, a casa foi ocupada pela família do senhor Antonio Duarte, que nela residiu até 2003. A casa foi construída com madeira falquejada por não existirem serrarias por perto. Seus alicerces foram feitos de tijolos e com o tempo foram colocadas pedras de rio embaixo da casa. A varanda fica na frente da casa e possui guarda-corpo trabalhado em madeira. As janelas são de guilhotina, com veneziana de duas folhas. Rio Rufino 153 Rio Rufino Patrimônio Material Denominação: Casa Manoel Professor Localização: Rua Professor José Ribeiro, 156 Ano de construção: 1942 Região: Serrana Município: Rio Rufino Entrevistado(a): Gil Mário Marcelino Rio Rufino Código RRU-M-03 Dados: Construída no ano de 1942 pelo senhor José Fracetto Canório, mantém sua configuração interna original composta de três quartos, sala, cozinha, copa e despensa. As esquadrias, o forro e o piso são em madeira. As janelas possuem duas folhas de abrir e bandeira fixa. 154 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código RRU-M-04 Denominação: Casa Oselame Localização: Rua José Serafim dos Santos, 67 Ano de construção: 1950 Região: Serrana Município: Rio Rufino Entrevistado(a): Carlos Oselame Dados: Construída em 1950, mantém a configuração original de uso, com comércio no térreo e residência no pavimento superior. Originalmente eram comercializados tecidos e roupas. Atualmente abriga dois comércios distintos. A residência possui sete quartos, sala, cozinha e banheiro – todos ainda na configuração original. Piso, forro, esquadrias e demais elementos ainda remanescentes do período de sua construção. Rio Rufino 155 Rio Rufino Patrimônio Material Denominação: Igreja Senhor Bom Jesus de Iguape Localização: Rua José Oselame, s/n Ano de construção: 1947 a 1972 Região: Serrana Município: Rio Rufino Entrevistado(a): Carlos Alberto Possenti Rio Rufino Código RRU-M-08 Dados: A pedra fundamental da capela foi colocada por Dom Daniel Hostim, no dia 16 de fevereiro de 1947. Foram realizados alguns mutirões para a compra de tijolos, até que em 1972 a Igreja de Senhor Bom Jesus de Iguape ficou pronta. O construtor da capela foi o senhor Marturino, e o doador da imagem de Senhor Bom Jesus foi o senhor Ozório Pereira de Medeiros. 156 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código RRU-S-01 Denominação: Artesanato em vime Região: Serrana Município: Rio Rufino Entrevistado(a): Aguinaldo Capistrano Basquerote Rio Rufino 157 Rio Rufino Histórico: Rio Rufino Em 1940 já havia plantações de vime no município de Rio Rufino, que pertenciam aos senhores João Serafim dos Santos, José Ghizoni e Orgarino de Bona Sartor. O vime foi plantado inicialmente às margens do rio para evitar a erosão. Após, foi usado para amarrar parreiras de uva e com o tempo foi descoberto ser uma planta maleável e que poderia ser usada na confecção de cestas e outras formas de artesanato. A partir de 1970, ao saberem da existência de compradores de vime no Rio Grande do Sul, Orgarino e Írio de Bona Sartor, foram em busca desse comércio em Caxias do Sul e fizeram negócio com a Firma Irmãos Turra. A primeira caldeira de vime foi colocada pelo senhor Antonio Scarbelloti no ano de 1972. O modo da secagem em estaleiros foi trazido ao município pelos senhores Luiz e Geraldo da Firma Irmãos Turra, que orientaram na plantação, na poda, no descasque e na classificação. Com o tempo, o vime passou a ser usado para confeccionar cestas, sendo uma grande fonte de renda. Em Rio Rufino, aproximadamente 200 famílias trabalham com este cultivo. O entrevistado aprendeu a trabalhar com sua família, pois seus pais e avós já o faziam. Descrição / Observações Gerais: O vime é plantado, cortado, colhido, descascado, seco e classificado. Para trabalhar com ele, é necessário deixar de molho em tacho com água, para amolecer e moldar as peças pretendidas. Como ferramentas são usados: máquinas de lascar e descascar o vime, tesouras, tachos, compressores, grampos, grampeadores, madeira, serra fita. Depois desse processo o vime pode ser transformado em: sofás, cadeiras, cestas de café da manhã, cestas para floricultura, cesta de natal, porta-cuias, porta-revistas, estantes, molduras para espelhos e quadros e diversos outros produtos. 158 Adaptação: A única adaptação realizada refere-se ao fundo da cesta, que em alguns casos é feito em madeira. O original é totalmente de vime. Cadernos da Serra Identidades Lugares Código RRU-L-01 Denominação: Gruta Nossa Senhora Aparecida Outras denominações freqüentes: Gruta da Lagoa Preta e Gruta da Lora Região: Serrana Município: Rio Rufino Entrevistado(a): Lorena de Souza Ribeiro Histórico / Descrição: No dia 6 de julho de 1990, Lorena de Souza Ribeiro, em sonho, recebeu o pedido de Nossa Senhora Aparecida para construir uma gruta em sua homenagem. Foi adquirida uma imagem de Nossa Senhora e, após receber a benção na Basílica de Aparecida do Norte, permaneceu na casa de dona Lorena por sete anos. Em 15 de agosto de 1997 foi escolhido o lugar para colocar a imagem. Essa escolha se deu devido a um segundo sonho em que Nossa Senhora Aparecida mostrou uma fenda natural, existente no terreno de dona Lorena. A gruta foi inaugurada em 21 de outubro de 1997. Observações Gerais / Curiosidades: No mês de maio, durante um final de semana, é realizada uma festa em honra a Nossa Senhora Aparecida. A organização da festa é feita pela senhora Lorena e sua família, em parceria com a Igreja Matriz de Urubici e o Pároco. No domingo é rezada missa em honra a Nossa Senhora Aparecida. Em seguida acontece a venda de churrasco, bolos, pães, bebidas em geral. Após o almoço, a tarde dançante é animada por uma banda. Participam das celebrações e festas realizadas na gruta os moradores da comunidade de Lagoa Preta em número aproximado de 70 pessoas, além de moradores das localidades vizinhas, chegando a 300 participantes. Rio Rufino 159 São Joaquim São Joaquim São Joaquim Data de fundação: 07 de abril de 1887 População: 22.790 habitantes Principais etnias: Portuguesa, africana, alemã, italiana, japonesa e gaúcha Localização: Planalto Serrano, a 136 km de Tubarão, 81 km de Lages e 276 km de Florianópolis Área: 1.888 km² Cidades próximas: Lages, Painel, Urubici, Urupema, Orleans, Lauro Müller, Bom Retiro História: São Joaquim São Joaquim foi colonizada por descendentes de portugueses e espanhóis vindos do Rio Grande do Sul e de São Paulo, a partir de 1750. Depois de se fixarem na região, eles fundaram grandes fazendas de gado, que serviam de pouso aos tropeiros que levavam gado do sul para o interior do país. A partir de 1873, com a fundação da freguesia de São Joaquim do Cruzeiro da Costa da Serra, a região recebeu descendentes de alemães e italianos, que se integraram ao processo de colonização. Em agosto de 1886, a freguesia tornouse vila, emancipando-se em 07 de maio de 1887. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 162 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código SJQ-M-01 Denominação: Casa Cruz Localização: Rua Juvenal Matos, 125 – Centro Ano de construção: Década de 1920 Região: Serrana Município: São Joaquim Entrevistado(a): Estela Norma Pereira Campos Dados: A casa foi construída por volta de 1921, por Marcos Fontanella e seus filhos. Possui esquadrias em madeira e beiral adornado com lambrequins. Por ter pertencido a um dos prefeitos da cidade, recebia e hospedava políticos e pessoas ilustres que visitavam o município. São Joaquim 163 São Joaquim Patrimônio Material São Joaquim Código SJQ-M-03 Denominação: Fazenda São Francisco Xavier Localização: Localidade de São Francisco Xavier (Boqueirão) Ano de construção: 1957 Região: Serrana Município: São Joaquim Entrevistado(a): Luiz Gonzaga Dados: Casa construída em estrutura de madeira e embasamento de pedra, constituída de dois pavimentos, galpão e mangueiras para tratamento de bovinos. 164 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código SJQ-M-04 Denominação: Fazenda Alecrim Localização: Localidade de Lomba Seca – Alecrim Ano de construção: 1925 Região: Serrana Município: São Joaquim Entrevistado(a): Mara L. Köerich Vieira Dados: A casa foi feita com madeira de pinheiro, que era encerada e plainada manualmente. O corte do pinheiro acontecia somente nos meses que não possuem em sua grafia a letra R, isto é, em maio, junho, julho e agosto. Acreditavam que, assim, a madeira seria mais resistente ao tempo. A casa possui cinco quartos, uma sala e um corredor no térreo. O sótão abriga dois cômodos. As janelas frontais possuem pinturas que formam um losango, colocados um decalque. São Joaquim 165 São Joaquim Saberes São Joaquim Código SJQ-S-01 Denominação: Artesanato em Madeira Região: Serrana Município: São Joaquim Entrevistado(a): Francisco Medeiros de Abreu (Chico Escultor) Histórico: Há mais de 35 anos, o artesão trabalha com esculturas vendendo para todo o Brasil e exterior. As esculturas em miniaturas mostram a vida no campo. Descrição / Observações Gerais: Além de madeira, faz esculturas em concreto e argila. 166 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código SJQ-S-02 Denominação: Torta de Coalhada com Maçã Região: Serrana Município: São Joaquim Entrevistado(a): Regina Aparecida Córdova Histórico: Começou a cozinhar desde pequena, quando morava com sua mãe e sua avó. Foi quando se interessou pela culinária. Mas foi na década de 1990 que passou a produzir pratos com maçã e começou a participar de concursos culinários. Com essa receita, foi premiada com o 1º lugar. Descrição / Observações Gerais: Massa: Ovo, trigo, margarina, fermento e açúcar. Recheio: Maçã, açúcar e suco de limão Creme: Coalhada, trigo, ovo, margarina, leite e açúcar. Modo de fazer: Bater o creme no liquidificador. Montagem: Forrar a travessa com a massa, colocar o recheio e depois acrescentar o creme. Assar em temperatura de 120ºC por aproximadamente 50 minutos. São Joaquim 167 São Joaquim Saberes Código SJQ-S-03 Denominação: Pernil de porco fatiado com maçã Região: Serrana Município: São Joaquim Entrevistado(a): Regina Aparecida CórdovaAbreu São Joaquim Histórico: Começou a cozinhar desde pequena. quando morava com sua mãe e sua avó, no sítio onde morava. Mais tarde, começou a desenvolver receitas cujo principal ingrediente é a maçã, e se especializou nelas. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Pernil fatiado, azeite, temperos, sal, cerejas e maçã. Modo de Preparo: Fritar bem o pernil em panela de ferro e reservar. Descascar as maçãs pequenas, fazer uma calda média e cozinhar em fogo moderado. 168 Montagem do prato: Ao centro do prato, colocar o pernil picado, ao redor as maçãs e as cerejas. Cadernos da Serra Identidades Celebrações Código SJQ-C-01 Denominação: Festa do Divino Espírito Santo e do Padroeiro São Joaquim Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Pároco Pe. Arnildo Primon Histórico / Descrição: As duas festas acontecem no mesmo período, começando com a do Divino e encerrando com a do Padroeiro São Joaquim. Em São Joaquim, a primeira festa aconteceu no ano de 1965 e foi realizada pelo Padre Blévio Oselame, hoje Monsenhor. São Joaquim 169 São Joaquim Observações Gerais / Curiosidades: São Joaquim Primeiro são escolhidos os festeiros, grupos de até cinco casais. O homem carrega a bandeira, a mulher e a imagem do Santo Padroeiro, e saem às ruas de casa em casa pedindo prendas e abençoando os lares e as famílias. A bandeira e a imagem são entregues ao casal, dono da casa, que as leva aos cômodos pedindo proteção e bênção do Divino e do Padroeiro. A visita também é feita nas capelas do interior de São Joaquim e nas fazendas. As Festas do Divino e do Padroeiro São Joaquim são celebradas na Igreja Matriz. Os casais usam boné vermelho e os homens uma estola da mesma cor. São acompanhados por um ou mais gaiteiros, pandeiros e apitos, cantando o Hino do Divino. Levam a bandeira vermelha com o Símbolo do Divino e a imagem do Santo Padroeiro. A duração das visitas nas casas é de 10 a 15 minutos, sendo visitadas dez casas por dia. Ao todo são quarenta e dois dias de visitas às casas e dois dias de festejo. Durante a festa são comercializados churrasco, bolos e diversas bebidas. A música é feita por gaiteiros. 170 Cadernos da Serra Identidades Celebrações Código SJQ-C-02 Denominação: Festa do Santo Antão Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Pároco Pe. Arnildo Primon Histórico / Descrição: São escolhidos os festeiros e formados grupos de casais, que arrecadam prendas para o dia da festa, realizada sempre aos domingos, no mês de novembro. A festa realiza-se no Capitel do Santo Antão, a 9 km do centro da cidade. Nesse dia, alguns seguem a pé por pagamento de promessa. É celebrada a missa no local e, logo após, serve-se o almoço, com churrasco de frescal e outras carnes em geral. O evento conta com atividades como roletas, bingo, música, remate de gado e apresentação de bandas. Em dia de chuva, é somente celebrada a missa na Igreja Matriz. Observações Gerais / Curiosidades: Santo Antão era um monge que vivia na solidão, unicamente voltado para Deus e para a oração. Nasceu em 251 e morreu em 356, com 105 anos. Não só rezava, mas também trabalhava no campo, sobrevivia com tudo que a natureza produzia. Era vegetariano, razão de sua longevidade. São Joaquim 171 São José do Cerrito ANITASão GARIBALDI José Anita Garibaldi do Cerrito São josé do Cerrito Data de fundação: 07 de dezembro de 1961 População: 10.364 habitantes Principais etnias: Luso-brasileira Localização: Planalto Serrano, na microrregião dos Campos de Lages, a 242 km de Florianópolis Área: 969 km² Cidades próximas: Correia Pinto, Lages, Ponte Alta, Capão Alto História: São José do Cerrito A colonização da região começou no século XIX, com a ocupação e exploração dos campos de Lages pelos bandeirantes paulistas. Os fundadores de Cerrito foram os políticos da época – Anacleto da Silva Ortiz, José Otávio Garcia, Cirilo Antunes Pereira, Dorgelo Pereira dos Anjos, Vidal Gregório Pereira, Sebastião da Silva Ortiz, João Camilo Pereira e dom Daniel Ostin, bispo da diocese de Lages. Apesar de a fundação ter ocorrido no local da primeira capela, construída próxima ao Rio Caveiras, foi formada uma comissão distrital para definir a sede. Por muitos anos, o município usou o nome de Caru, para lembrar as profecias de João Maria de Agostinho, monge da Campanha do Contestado. Ele acreditava que o nome “Caveiras” faria com que mais e mais pessoas morressem afogadas nas águas profundas do rio. Por isso, os moradores passaram a chamar a localidade de Caru, nome de origem indígena que significa “forte e corajoso”, como o rio. Mas, em 1953, o Executivo da comarca de Lages recebeu a proposta do Legislativo para voltar ao antigo nome, São José do Cerrito, em homenagem ao patrono da primeira capela, São José. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 174 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código SJC-M-01 Denominação: Casa Medeiros Localização: Localidade Rincão dos Albinos Ano de construção: 1950 Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Alvenor Rogério Medeiros Dados: Edificação residencial construída em madeira araucária no ano de 1950 para abrigar a família do proprietário, senhor Leopoldo, mantendo a mesma destinação nas duas gerações seguintes. Junto à residência, foi construída uma ala em madeira para uso comercial, tendo servido de armazém geral e de entreposto para troca de mercadorias como fumo em corda, feijão, milho, entre outras, por muitos anos. A residência é constituída de catorze cômodos, mais depósito, garagem, local para máquinas e equipamentos, galpão, aviários e paiol. São José do Cerrito 175 São josé do Cerrito Patrimônio Material São José do Cerrito Código SJC-M-07 Denominação: Casa Tigre Localização: Localidade de Itararé Ano de construção: 1912 Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Afonso Maria Pereira Tigre Dados: 176 Propriedade da família desde 1912, a Casa Tigre foi construída pelo avô de seu atual proprietário para morar depois do casamento. Localizada às margens da BR-282, foi um dos primeiros armazéns do município e ponto de parada dos viajantes e tropeiros que comercializavam a produção agrícola na região. Atualmente, possui uso residencial, mas teve uso comercial até 1995. Muitas mulheres ali se hospedavam para aprender corte e costura com a dona Ivência, esposa do construtor. Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código SJC-M-09 Denominação: Casas subterrâneas Localização: Localidade Rincão dos Albinos Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Elusa Mara Wiggers Ortiz Dados: As casas subterrâneas do município remetem às tribos indígenas Kaingang e Xokleng, e podem ser localizadas em diversas comunidades como: Boa Parada, Bom Jesus, Salto dos Marianos, Rincão dos Albinos entre outras. Caracterizam-se por uma depressão escavada no solo – de formato circular ou oval – sobre a qual é construída uma cobertura com palha e madeira. Arqueologicamente são identificadas pela depressão, já que a palha e a madeira desapareceram com o tempo. As casas subterrâneas eram construídas com instrumentos feitos de pedra e a terra carregada em cestos pelos indígenas. Muitas vezes, encontramos próximos a elas grandes acúmulos de sedimento provenientes deste trabalho de escavação. São José do Cerrito 177 São josé do Cerrito Saberes São José do Cerrito Código SJC-S-01 Denominação: Trama de Taquara Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Simão Pedro Rodrigues Histórico: Seu Simão aprendeu o ofício com os pais aos dez anos de idade. Sua produção é voltada para a venda, mas hoje, devido à seca da taquara e à consequente falta de material, não está mais produzindo com esse fim. Acredita que a causa seja o amadurecimento da taquara, que ocorre de trinta em trinta anos. Ainda assim, a procura pelos produtos é grande. Seu Simão gosta muito do seu ofício e sente-se bem fazendo o que aprendeu. Lamenta o fato de ninguém de sua família ter o interesse em aprender, mas pretende ensinar a suas filhas. Principais produtos: Balaio, peneira, apá, cestos, cestas. Descrição / Observações Gerais: 178 O segredo é preparar a taquara dividindo-a ao meio. Para fazer um balaio menor, às vezes é necessário retirar os filetes para a taquara ficar bem fininha, facilitando seu manuseio. Faz sempre da mesma forma que aprendeu. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código SJC-S-02 Denominação: Revirado de feijão com bolo frito Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Maria Iolita Waltrick Moraes Histórico: A história de São José do Cerrito está vinculada ao caminho das tropas, por ser o berço dos tropeiros que iam a outros municípios levar produtos agrícolas e trazer sal, açúcar, tecidos, rapadura, cachaça, além de outros produtos. Nas paradas, alimentavam-se com revirado de feijão. No dia a dia, a primeira refeição era revirado de feijão com torresmo acompanhado de bolacha frita e café tropeiro, pois precisavam se alimentar bem para ter força e disposição para o serviço pesado. Descrição / Observações Gerais: Revirado Ingredientes: Feijão, cebola, banha e torresmo. São José do Cerrito 179 São josé do Cerrito Modo de fazer: Aquecer a banha e colocar a cebola picada e o torresmo. Esperar fritar, misturar o feijão cozido e deixar ferver. Quando o caldo estiver grosso, misturar a farinha e mexer. Deixar descansar em fogo brando espalhando um pouco de óleo por cima. Bolo frito Ingredientes: Ovo, açúcar, sal, fubá, leite, fermento, amoníaco, farinha de milho/biju/mandioca. São José do Cerrito Modo de fazer: Colocar todos os ingredientes em uma bacia, misturar bem e amassar. Após a massa crescer um pouco, esticar com o rolo de macarrão, cortar em quadrados e fritar em óleo quente. 180 Cadernos da Serra Identidades Celebrações Código SJC-C-01 Denominação: Festa de São Pedro Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Padre Lindomar Borges Histórico / Descrição: A primeira festa de São Pedro foi realizada no dia 22 de março de 1964 em ocasião da inauguração da nova Igreja Matriz de São Pedro. Naquela época, as festas dos santos de devoção e padroeiros eram feitas da seguinte maneira: os festeiros ou responsáveis saíam e pediam ajuda aos amigos e vizinhos e, no dia da festa, reuniam-se para rezar e fazer suas devoções. Tudo era por conta dos organizadores. A fé e a religiosidade prevaleciam; rezavam os terços cantados e faziam orações ao santo que estavam festejando. Os doces eram feitos de gila e sequilhos coloridos, e as bebidas eram em barris. As mulheres faziam e serviam os licores. Algumas festas duravam toda a semana. São José do Cerrito 181 São josé do Cerrito Nos dias de hoje a festa acontece anualmente no mês de junho, iniciando três dias antes com os tríduos e novenas preparatórias, tendo a duração de quatro dias. Nesse período acontecem apresentações culturais e shows musicais com artistas locais e da região. No domingo a festa inicia com a procissão do Padroeiro e a Santa Missa. Durante o dia acontecem os divertimentos populares, culminando com um grande bingo. Produtos comercializados: Churrasco, galinha assada, bolos, ponche, sagu, pipoca, pinhão. Observações Gerais / Curiosidades: São José do Cerrito A imagem do Santo Padroeiro foi trazida da Alemanha. 182 Cadernos da Serra Identidades Formas de Expressão Código SJC-FE-01 Denominação: Recomendação de almas Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Sebastião Rodrigues da Cruz Histórico / Descrição: Aprendeu a rezar as recomendações de alma aos 15 anos com seus tios por motivos religiosos. Chegavam a uma casa, batiam a matraca por três vezes e iniciavam a recomendação, convidando os donos da casa para rezarem com os recomendadores à alma de Jesus Cristo. São José do Cerrito 183 São josé do Cerrito Geralmente o horário de iniciar a reza era por volta de 21 horas no período da quaresma. As pessoas não podem abrir a porta antes do fim da reza, a não ser que queiram rezar o terço em intenção de algum pedido. Na Sexta-feira Santa reza-se o bendito em intenção de despedir-se da quaresma. “Seu Tatão”, como é conhecido, gosta de rezar cuidando da voz e das respostas. Depois de rezar o Pai-Nosso, oferece a oração em intenção de alguma alma sofredora e assim inicia-se a recomendação propriamente dita. São José do Cerrito Canto de recomendação - Senhor Deus (3x) - Senhor Deus de misericórdia - Misericórdia Senhor Deus - Senhor Deus (2x) - Pelas dores de Maria Santíssima, misericórdia Senhor Deus - Bendito, bendito, louvado seja (2x) - É o Santíssimo sacramento (2x) - Os anjos, todos anjos (2x) - Louvemos Deus para sempre, amém Observações Gerais / Curiosidades: Dois grupos de recomendação de almas não podem se encontrar na mesma casa, pois se isso acontece deve haver um duelo de oração e quem perde deve acompanhar o grupo vencedor. 184 Cadernos da Serra Identidades Lugares Código SJC-L-01 Denominação: Morro da Santa Cruz Região: Serrana Município: São José do Cerrito Entrevistado(a): Padre Aduíno Salami Histórico / Descrição: Localiza-se às margens da BR-282, na localidade de Ermida, chamada assim por ser um lugar solitário, calmo e elevado. O monge profeta João Maria confirmou esse nome. No alto do morro surgiu a Igrejinha de Santa Cruz, que mais tarde foi substituída por outra maior e em lugar mais plano. O terreno foi doação de Herculano Pereira dos Anjos. Ermida foi se constituindo com a chegada de diversas famílias à procura de uma vida melhor, sobretudo de novas terras. Observações Gerais / Curiosidades: Quando se realizavam festas e casamentos no alto do morro, eram usados cavalos como meio de transporte da comida e dos noivos. Como não havia água, esta era levada até o alto do morro também no lombo dos animais. O lugar está ligado à figura do monge João Maria. Conta-se que, por onde o profeta passava, uma cruz era plantada, não podendo ser arrancada. Certa vez, feito isso, o fogo tudo consumiu. Nas procissões, a bandeira do Divino era levada, como continua ocorrendo. O povo levava muito em conta as profecias do João Maria, sobretudo aquela em que o monge dizia “virão cobras pretas que morderão as pessoas e elas morrerão”; segundo a comunidade, estava-se falando sobre o asfalto da BR-282. O local tornou-se importante, atraindo pessoas de todas as regiões. No dia da Santa Cruz, após a procissão é realizada a Santa Missa no alto do morro. Hoje é um lugar de encontros religiosos, além de ponto turístico. São José do Cerrito 185 Urupema Urupema Urupema Data de fundação: 25 de março de 1918 População: 2.543 habitantes Principais etnias: Açoriana e italiana Localização: Está a 26 Km de Painel, ligada pela Rodovia das Araucárias, na SC-439, e a 18 km de Rio Rufino. Distante de Lages por 52 km e da Capital por 198 km, via BR-282 Área: 278,7 km² Cidades próximas: Lages, Painel, São Joaquim, Urubici, Rio Rufino História: Urupema O povoado de Santana foi fundado em 25 de março de 1918, por Manoel Pereira de Medeiros. Em 1923 houve a criação do Distrito de Santana, pertencente a São Joaquim. Em 31 de março de 1938 elevou-se a categoria de Vila. No ano de 1944 foram encontrados registros com o nome de Urupema, que significa uma espécie de peneira usada pelos indígenas. A emancipação administrativa do Município foi alcançada em 04 de janeiro de 1988 e sua instalação em 1º de junho de 1989. Fonte: http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm 188 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código URP-M-03 Denominação: Casa Arruda Localização: Rua Evaristo Pereira de Souza nº 120 Ano de construção: 1939 Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): Sadir Ap. Amarante Arruda Dados: Odilon Mello do Amarante e sua esposa, pais da atual proprietária, construíram a residência e moraram nela de 1939 até 1984. A casa foi construída toda em madeira araucária pelo próprio Odilon e um carpinteiro. A madeira foi serrada no mês de maio na lua minguante por se acreditar que nessa lua a madeira não estragava. O assoalho recebeu tratamento de óleo de linhaça. A madeira foi serrada em uma serraria em Rio dos Touros e transportada até Urupema em carro de boi. A cobertura é de telha francesa. As portas e as janelas são de madeira e vidros. Seu uso sempre foi residencial. As janelas e as portas com venezianas de madeira foram feitas com encaixes sem utilizar pregos. Urupema 189 Urupema Patrimônio Material Urupema Código URP-M-05 Denominação: Cemitério da Divisa Localização: Localidade de Rincão dos Papagaios. Ano de construção: 1850 Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): Wilson Macedo Dados: Senhor Euvidio Machado (falecido em 1880) era o dono da fazenda e construiu esse cemitério em 1850 em suas terras para enterrar os familiares. Seu filho, João Amarante, escrivão em Urupema, vendeu o terreno para o pai do atual proprietário, Blevio Pinto de Andrade. As taipas em volta foram feitas por Augusto Teeira. O pinheiro que existe junto à taipa, do lado esquerdo do cemitério, foi plantado por volta de 1950 por Antonio Martins, quando faleceu sua esposa. Esse senhor cuidou do cemitério até a década de 70. Os membros das famílias eram enterrados sempre no mesmo lugar. Os ossos dos que ali jaziam juntavam-se aos recém-falecidos, num mesmo caixão. O último enterramento data de 2005. 190 Cadernos da Serra Identidades Patrimônio Material Código URP-M-06 Denominação: Igreja da Bossoroca Localização: Estrada Geral Urupema, Vila de Bossoroca. Ano de construção: 1964 Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): José Ataíde P. de Mello Dados: Em 1940, a Senhora Florisbela Oliveira Neto (Tia Bela) doou um pequeno terreno localizado na Vila de Bossoroca para a construção da primeira igreja com aproximadamente 30 m de área – até então existia apenas uma cruz no alto do morro, que demarcava o local das orações. Essa pequena igreja foi utilizada até o ano de 1964 quando foi inaugurada a atual construção. Construída pelos senhores Nicanor Pereira de Medeiros e Adenor Ribeiro, carpinteiros, a madeira utilizada nos barrotes foi o pinheiro, com suas peças serradas a mão. Urupema 191 Urupema Patrimônio Material Urupema Código URP-M-09 Denominação: Casa Abreu Localização: Fazenda Santa Cruz – localidade de Bossoroca Ano de construção: 1950 Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): Mauro Muniz de Abreu Dados: Esse imóvel sempre teve uso residencial, pertencendo à família Abreu. A madeira, toda de pinheiros de mais de 100 anos, foi serrada em uma das serrarias existentes em Urupema. Essa madeira foi puxada em carros de boi e levada de Urupema até Bossoroca, num percurso de aproximadamente 40 km. As portas são todas de madeira encaixada, sem a utilização de pregos. As janelas ainda são originais em madeira com vidro e venezianas de madeira de abrir com duas folhas. O forro e o assoalho da sala e dos quartos são de madeira original com os caibros do forro à vista. 192 Cadernos da Serra Identidades Saberes Código URP-S-01 Denominação: Artesanato em Madeira Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): Jocelino de Brito Borges – conhecido como “Kubicheque” Histórico: O senhor Jocelino faz as peças desde os 7 anos de idade. Aprendeu o saber sozinho. Ele recolhe restos de madeira, de vime e pinheiro americano e vai lapidando até dar a forma desejada às peças que se transformam em diversos animais, carros de boi, peças inspiradas no regionalismo, em imagens de santos etc. Descrição / Observações Gerais: Os trabalhos são feitos com o uso de uma serra manual, um canivete e uma pua. Não há uma técnica definida. Os principais produtos são: animais, carros de boi, dançadores, gaiteiros, bilboquê e outros. Urupema 193 Urupema Saberes Código URP-S-02 Denominação: Entrevero Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): Marília Sutil de Oliveira Histórico: Urupema O Entrevero Serrano surgiu na época dos tropeiros. Eles faziam o fogo de chão e colocavam um aro de trator sobre a brasa e iam depositando legumes e carnes. Como acompanhamentos, utilizavam pão ou arroz. A palavra entrevero, conforme o dicionário, significa mistura, desordem. No disco ou aro ela se traduz numa receita rústica e deliciosa, onde carnes suínas, charque, bacon, calabresa e pinhões cozidos se juntam ao colorido dos pimentões, do tomate, da cebola e do alho. Nos dias de hoje é comum que cada família serrana tenha em suas residências um disco de ferro para preparo do entrevero, onde acrescentam os ingredientes de sua preferência. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Pinhão, pimentão verde, pimentão vermelho, cebolas picadas, alho, tomate, linguiça, bacon, frescal, lombinho de porco, sal e tempero verde. 194 Modo de Preparo: Picar todos os ingredientes e colocar em uma panela, preferencialmente de ferro, o óleo, pimentão, cebola, alho e os tomates e refogar. Em seguida, colocar todas as carnes e refogar por mais quinze minutos. Acrescentar sal e temperos verdes a gosto. Cadernos da Serra Identidades Saberes Código URP-S-03 Denominação: Bolo de milho Região: Serrana Município: Urupema Entrevistado(a): Aurora Pagani Histórico: Essa receita do bolo de milho foi ensinada pelos pais e tios de dona Aurora, que na época produziam milho. Transformavam o milho em farinha e faziam, além desse bolo, cuscuz, pamonha e polenta, que era o sustento da família. Descrição / Observações Gerais: Ingredientes: Ovos, farinha de milho, açúcar, trigo, banha, manteiga, sal, fermento, canela e leite. Modo de fazer: Bater bem os ovos com açúcar, manteiga, banha, sal. Depois acrescentar a farinha de milho, de trigo e fermento. Colocar leite aos poucos. A massa tem que ser mole. Por último, espalhar na massa crua, antes de assar, o açúcar e a canela. Levar ao forno por 40 minutos. Urupema 195 Agradecimentos O Cadernos da Serra é resultado de quase um ano de trabalho em equipe. Por isso, gostaríamos de agradecer aos que, com empenho e dedicação, tornaram viável esta publicação. Dessa forma, agradecemos à SDR Lages, SDR São Joaquim, AMURES e Prefeituras Municipais, cujos Agentes Culturais, abaixo relacionados, foram essenciais para a elaboração do mapeamento e inventário através de pesquisa de campo. Nossos agradecimentos também à fundamental contribuição dos entrevistados, cujas informações foram indispensáveis para a realização deste trabalho. Anita Garibaldi Neuza Cechin Antônio Ronaldo Sutil Bocaina do Sul Ana Flavia Oliveira Dejanira E. Beirão Laís Celestino Ferreira Lissandra Assink Bom Retiro Fábio de Almeida Jaqueline Küll Campo Belo do Sul Patrícia Rodrigues Borges Saulo Norberto de Oliveira 196 Cadernos da Serra Capão Alto Deise P. Della Rech Suzana Aparecida de Jesus Cerro Negro Paulo Roberto de Liz Delfes Correia Pinto Claudia R. B. Santos Lages Alberto Werner Neto Jussara Ghizoni Jussara Castilhos Paulo Ramos Derengoski Otacílio Costa Oneide Aparecida Coelho de Farias Painel Ana Maria C. Branco Palmeira Ariana S. Bitencort Elaine D. Andrade Ponte Alta Mari Ângela Liposki Rio Rufino Claudia Della Justina Souza João Oliveira Equipe técnica AMURES Renato Nunes de Oliveira Presidente Gilsoni Lunardi Albino Secretário Executivo Priscila Nunes Analista de Projetos Iraci Vieira de Souza Assessora de Eventos José Hamilton Lemos Motorista São Joaquim Francisco Medeiros de Abreu Nériton Luiz Barbosa Lopes Isabel Aparecida Nunes Zanella Estela Hugen Machado São José do Cerrito Eliane Ramos Albuquerque Urupema Ana Paula da Silva Souza Ângelo Stupp 197