Interações Eletromagnéticas1 I.H.Hutchinson 1 ©I.H.Hutchinson 1999 Capítulo 1 Equações de Maxwell e Campos Eletromagnéticos 1.1 Introdução 1.1.1 Equações de Maxwell (1865) As equações que governam o eletromagnetismo ∇⋅E = ρ ε0 ∇⋅B = 0 (Lei de Coulomb) ∂B ∇× E = − ∂t (Lei de Faraday) 1 ∂E ∇ × B = µ0 j + 2 c ∂t (Lei de Ampère) (1.1) E: campo elétrico que descreve a força que atua sobre a carga q (estacionária): F = qE B representa o campo magnético que descreve a força que atua sobre corrente, isto é, uma carga em movimento (velocidade v): F = qv × B . Assim a força de Lorentz (sobre a carga q) é dada por: F = q ( E + v × B) (1.2) ρ : Densidade volumétrica de carga (Coulomb/m3). Carga total: Q = ∫ ρ d 3 x V 2 j : Densidade superficial de corrente elétrica (Coulombs/m ) j idA : Corrente que atravessa um elemento de área dA , Coulomb/s = Ampère. 5 1.1.2 Notas Históricas Na segunda metade do século XIX, houve muita controvérsia científica sobre se E e B eram quantidades físicas reais da ciência ou se tratavam de meras conveniências matemáticas para expressar as forças que cargas elétricas exerciam umas sobre as outras. A ciência inglesa (Faraday, Maxwell), dava ênfase aos campos; Os alemães, na sua grande maioria, Figura 1.1: Densidade de Carga é a carga local por unidade de volume. Densidade de Corrente é a corrente por unidade de área. aceitavam a idéia de ação a distância. Desde 1900 esta questão foi considerada como resolvida a favor dos campos. E da física moderna, se é que estamos aptos a considerar o campo mais fundamental que a partícula. 1.1.3 Campos Auxiliares e Meios Eletromagnéticos. Textos eletromagnéticos discutem freqüentemente dois campos "auxiliares" adicionais, o "deslocamento elétrico" D e a "intensidade magnética" H que contam para dielétricos e propriedades magnéticas dos materiais. Estes campos não são fundamentais e introduzem complicações desnecessárias e possíveis confusões para a maioria dos tópicos que iremos tratar. Então nós os evitaremos tanto quanto for possível. Para o vácuo, ε 0E = D, e B = µ0 H . 1.1.4 Unidades Historicamente havia dois (ou mais!) sistemas diferentes de unidades, um que define a quantidade de carga em termos da força entre duas cargas estacionárias (as unidades "Eletrostáticas") e um outro que define a quantidade de carga em termos de forças entre correntes (sem carga), o sistema "Eletromagnético". As unidades Eletrostáticas são baseadas na lei de Coulomb ∇ ⋅ E = ρ / ε 0 e as unidades eletromagnéticas (versão do estado estacionário) na lei de Ampère ∇ × B = µ0 j . Portanto, as quantidades 1/ ε 0 e µ0 são fundamentalmente fatores de calibração que determinam o tamanho da unidade de carga. Escolhendo uma ou outra quantidade como sendo igual a 4π , temos as unidades eletrostáticas ou eletromagnéticas. Porém, com a unificação de eletromagnetismo, e a subseqüente compreensão de que a velocidade de luz é uma constante fundamental, ficou claro que as unidades do eletromagnetismo deveriam ser definidas somente em termos de uma destas leis e da velocidade de luz. Então o “Sistema Internacional” SI (ou às vezes MKSA) de unidades adota a definição eletromagnética, porque pode ser medida mais 6 facilmente, mas com um µ0 diferente, como segue. "Um Ampère é a corrente que, ao fluir por dois fios paralelos e infinitesimais, distantes 1m um do outro, produz uma força de 2 ×10−7 Newtons por metro de seu comprimento”. Um Ampère é um Coulomb por segundo. Assim, isto define a unidade de carga. Mostraremos depois que esta definição chega a definir µ0 = 4π ×10−7 (Henry/metro) (1.3) e isto porque a razão entre as unidades eletromagnéticas e eletrostáticas é c 2 . ε0 = 1 c µ0 2 = 8,85 ×10−12 (Farad/metro) (1.4) µ0 é chamado de “permeabilidade do vácuo”. ε 0 é chamado de “permissividade do vácuo”. [Veja J.D. Jackson 3a edição, Apêndice para uma discussão detalhada.] 1.2 Cálculo Vetorial e Notação. Quantidades eletromagnéticas incluem campos vetoriais E, B etc. e assim o eletromagnetismo utiliza vastamente o campo vetorial. ∇ é a taquigrafia para o operador vetorial (gradiente) ⎛ ∂φ ∂φ ∂φ ⎞ ∂φ ∇φ = ⎜ , , ⎟ = ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎠ ∂xi (notação indexial) (1.5) que fornece o vetor gradiente a partir do campo escalar φ . ∇ pode também operar sobre campos vetoriais através dos produtos escalar ( ⋅) e vetorial (× ) . 1.2.1 Divergente. ∇⋅ E = ∂Ex ∂E y ∂Ez ∂Ei + + = ∂x ∂y ∂z ∂xi (1.6) 1.2.2 Rotacional. ⎛ ∂E ∂E y ∂Ex ∂Ez ∂E y ∂Ex ⎞ ∂Ek ∇× E = ⎜ z − − − , , ⎟ = ε ijk ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y ⎠ ∂x j ⎝ ∂y 7 (1.7) 1.2.3 Integração Volumétrica. ∫ V d 3x (1.8) d 3 x é a taquigrafia para dxdydz = dV , o elemento diferencial de volume. Figura 1.2: Elementos para integrais de superfície e de linha. 1.2.4 Integração de Superfície. ∫ v ⋅ dA S (1.9) O elemento diferencial de superfície dA ou frequentemente dS é um vetor normal ao próprio elemento. 1.2.5 Integração de Linha (Contorno) ∫ v ⋅ dl (1.10) C Elemento diferencial de linha dl. 1.2.6 O Significado da Divergência: ∇ Figura 1.3: Elemento diferencial de volume em coordenadas cartesianas. 8 Considere o elemento diferencial de volume. Calcule o fluxo total do campo vetorial v através da superfície do elemento. O fluxo é dado pela soma de v ⋅ dA sobre todas as faces do cubóide ⎡⎣ vx ( x + dx ) − vx ( x ) ⎤⎦ dydz + ⎡⎣ v y ( y + dy ) − v y ( y ) ⎤⎦ dzdx + ⎡⎣ vz ( z + dz ) − vz ( z ) ⎤⎦ dxdy = ⎡ dv dv dv ⎤ dxdydz ⎢ x + y + z ⎥ = d 3 x∇ ⋅ v = dV ∇ ⋅ v ⎣ dx dy dz ⎦ (1.11) Então para este volume elementar: ∫ dS v ⋅ dA = ∫ ∇ ⋅ vd 3 x dV (1.12) Figura 1.4: As faces adjacentes se cancelam na soma da divergência para muitos elementos. Mas qualquer volume finito e arbitrário pode ser considerado como sendo a soma de muitos elementos cuboidais pequenos. As contribuições das faces adjacentes internas se cancelam mutuamente e conseqüentemente só as contribuições da superfície externa permanece, assim ∫ v ⋅ dA = ∫ S V ∇ ⋅ vd 3 x (1.13) para qualquer volume V com superfície S, e campo vetorial arbitrário v. Este é o Teorema de Gauss. 9 1.2.7 O Significado do Rotacional: ∇ × . Figura 1.5: Elemento de superfície retangular com eixos escolhidos de forma que a normal à superfície esteja na direção z. Considere um elemento de superfície retangular arbitrário e escolha os eixos coordenados de forma que a normal esteja na direção z e os eixos sobre x e y. Considere também um campo vetorial arbitrário v ( x ) . Calcule a integral de contorno de v ( x ) , no sentido horário do contorno dC, ao redor da fronteira do elemento. ∫ dC v ⋅ dl = v ( x ) ⋅ dx + v ( x + dx, y ) ⋅ dy + v ( x, y + dy ) ⋅ ( − dx ) + v ( x ) ⋅ ( − dy ) ⎛ dv dv ⎞ = ⎜ y − x ⎟ dxdy = ( ∇ × v ) z dA = ( ∇ × v ) ⋅ dA ⎝ dx dy ⎠ (1.14) Assim a integral v ⋅ dl ao redor do elemento é igual ao produto escalar entre o rotacional do campo e o elemento de área. Aplicando o resultado para uma superfície arbitrária; divida a superfície em muitos elementos de área dA. Todas as integrais de contorno internas se cancelam. Por esta razão ∫ C v ⋅ dl = ∫ ( ∇ × v ) ⋅ dA S (1.15) Este é o Teorema de Stokes. 1.3 Eletrostática e o Teorema de Gauss O teorema de Gauss é a chave para o entendimento da eletrostática em termos da lei de Coulomb ∇ ⋅ E = ρ / ε 0 . 10 Figura 1.6: A superfície arbitrária pode ser dividida em uma soma de muitos elementos retangulares. As contribuições das integrais de contorno adjacentes se cancelam. 1.3.1 Carga Pontual q Aplicando o teorema de Gauss em uma esfera que engloba a carga q Figura 1.7: Volume esférico V, sobre o qual efetuamos a integral de superfície da lei de Coulomb para deduzir o campo elétrico ∫ S ρ 3 q d x= V ε ε0 0 E ⋅ dA = ∫ ∇ ⋅ Ed 3 x = ∫ V E. (1.16) Mas por simetria esférica E deve estar na direção radial e ter módulo constante por sobre a esfera E r . Por esta razão ∫ E ⋅ dA = ∫ Er dA = Er ∫ dA = Er 4π r 2 . Assim S S S Er 4π r 2 = q ε0 11 ou (1.17) Er = q 4πε 0 r E= isto é, 2 q r 4πε 0 r 3 (1.18) Como conseqüência do campo obtido, a força sobre uma segunda carga à distância r é dada por F= q1q2 4πε 0 r 2 (1.19) lei do inverso quadrado da força eletrostática. 1.3.2 Carga Simetricamente Esférica ρ ( r ) Note que a obtenção do campo para uma carga pontual só dependeu da simetria. Assim para uma densidade de cargas simetricamente distribuída, o argumento funciona da mesma maneira, isto é E = rˆEr Er = q 4πε 0 r 2 (1.20) r onde agora q = ∫ ρ d x = ∫ ρ ( r ) 4π r 2 dr 3 V (1.21) 0 O campo elétrico devido a uma densidade de cargas que apresenta simetria esférica, é igual ao campo de uma carga pontual, de carga igual a carga total da distribuição, posta no centro da esfera. 1.3.3 Distribuição Arbitrária de Carga O Teorema de Gauss ainda se aplica mesmo quando não há nenhuma simetria específica: Figura 1.8: Volume arbitrário para o Teorema de Gauss. 12 ∫ S E ⋅ dA = ∫ ∇ ⋅ Ed 3 x = ∫ V V ρ 3 q d x= ε0 ε0 (1.22) q é a carga total (integral da densidade de carga) sobre o volume. A integral ∫ S E ⋅ dA fornece o fluxo total do campo elétrico, através da superfície S. 1.3.4 Quadro Intuitivo Cada carga ( + ve ) é um ponto de origem de uma linha de campo elétrico. [Cada carga ( −ve ) , ao contrário, é um ponto de destino das linhas de campo]. A carga total no volume V determina o número de linhas de campo que se iniciam no volume. As linhas de campo somente começam/terminam sobre as cargas (lei de Coulomb) de maneira que todas as linhas devem escapar do volume, cruzando a superfície S (em algum lugar). [linhas de campo que começam e terminam em V não contribuem para ∫ E ⋅ dA e nem para q, por S causa do cancelamento]. O fluxo ∫ S E ⋅ dA pode ser encarado como um contador do “número de linhas de campo” que cruzam a superfície. [Claro que é uma escolha arbitrária saber qual deve ser o valor da carga que dá origem a uma linha de campo]. Visão “intuitiva” da intensidade do campo elétrico: intensidade de E é proporcional ao número de linhas de campo por unidade de área. Todas estas visões intuitivas são conceitualmente úteis mas não são formalmente necessárias. O eletromagnetismo é considerado completamente descrito pelas equações de Maxwell sem a necessidade dessas descrições. Figura 1.9: Descrição intuitiva de cargas e das linhas de campo. 13 Figura 1.10: O espaçamento das linhas de campo é inversamente proporcional a intensidade do campo. 1.3.5 Potencial Elétrico (para problemas estáticos ∂ → 0) ∂t Na situação estática não há indução e a lei de Faraday se torna ∇ × E = 0 . A propósito, esta equação també poderia ser obtida através da lei do inverso quadrado notando que ∇× r =0 r3 (1.23) assim pela linearidade do operador ∇ × , a soma (integral) de todas as contribuições do campo elétrico de qualquer distribuição de carga é de rotacional zero “irrotacional”: ∇× ∫ ρ ( r ') r − r ' 3 d r'=0 4πε 0 r − r ' 3 (1.24) [Isto mostra que o argumento de simetria esférico somente funciona na ausência de i indução, B definiria uma direção preferida; assimétrica!] Para qualquer campo vetorial E, ∇ × E = 0 é uma condição necessária e suficiente para que E possa ser escrito como o gradiente de uma função escalar E = −∇φ . Necessária ( ∇ × ∇φ ) z = ∂ ∂φ ∂ ∂φ − =0 ∂x ∂y ∂y ∂x 14 (assim como x,y) (1.25) Figura 1.11: Cada elemento contribui com uma componente irrotacional para E. Portanto o campo total E é irrotacional. Rotacional do gradiente é zero. Suficiente (prove por construção) Figura 1.12: Dois caminhos diferentes que vão de 0ax constroem um contorno fechado quando um deles é invertido. Aplicando o teorema de Stokes para um contorno fechado que consiste de dois caminhos quaisquer entre os pontos 0 e x. ∫ C x x 0 0 Caminho 2 Caminho 1 E ⋅ dl = ∫ E ⋅ dl − ∫ E ⋅ dl = ∫ ∇ × E ⋅ d S = S 15 0 por hipótese (1.26) x Então ∇ × E = 0 ⇒ ∫ E ⋅ dl é independente do caminho escolhido, isto é, ele define uma 0 quantidade única . Chamemos esta quantidade de −φ ( x ) . Considere ∇φ definido como o 2 limite de δφ entre pontos adjacentes. ⎛x ⎞ −∇φ = ∇ ⎜ ∫ E ⋅ dl ⎟ = E ⎝0 ⎠ (1.27) Muitos problemas eletrostáticos são mais facilmente resolvidos em termos do potencial elétrico φ , devido ao fato de ser uma função escalar (tão mais fácil). Equação que governa o potencial: ∇ ⋅ E = −∇ ⋅∇φ = −∇ 2φ = ∇2 = ∂2 ∂2 ∂2 + + ∂x 2 ∂y 2 ∂z 2 ∇ 2φ = −ρ ε0 ρ ε0 è o operador “Laplaciano” “Equação de Poisson” (1.28) (1.29) (1.30) 1.3.6 Potencial de uma Carga Pontual [Solução Geral do Potencial] Podemos mostrar através de diferenciação direta que 1 r ∇ =− 3 r r Assim através de nossa expressão prévia para E = φ= (1.31) q r podemos identificar 4πε 0 r 3 q 1 4πε 0 r (1.32) Como o potencial da carga q (situada na origem x = 0 ). 2 O potencial pode sempre ser alterado somando uma constante a ele, sem alterar com isso E. Esta liberdade pode ser considerada equivalente à escolha da origem no qual φ = 0 . 16 1.3.7 Função de Green para o Laplaciano Para um operador diferencial linear L , os matemáticos definem a chamada “função de Green” simbolicamente através da equação LG ( x , x ' ) = δ ( x − x ' ) (1.33) Se pudermos resolver esta equação em geral, então podemos construir soluções Lφ = ρ ( x ) (1.34) para um ρ arbitrário como φ ( x ) = ∫ G ( x , x ') ρ ( x ') d 3 x ' (1.35) Devido à propriedade da função δ (definição) ∫ f ( x ') δ ( x − x ') d 3 x ' = f ( x) (1.36) Quando L é o Laplaciano, ∇ 2 , a função de Green é dada por G ( x, x ') = −1 4π x − x ' (1.37) Este fato pode ser obtido diretamente da solução para o potencial de uma carga pontual. Realmente, uma carga pontual se enquadra exatamente na situação da função delta cuja solução é a função de Green. Em outras palavras, a densidade de carga para uma carga pontual de magnitude q na posição x ' é ρ ( x ) = qδ ( x − x ') (138) Assim o potencial de uma carga pontual, a saber, φ= 1 1 x− x' (1.39) δ ( x − x ') (1.40) 4πε 0 é a solução da equação ∇ 2φ = − q ε0 17 Conseqüentemente, a solução da equação de Poisson pode ser escrita como a integral da função de Green: ⎛ − ρ ( x ') ⎞ ⎛ −1 ⎟ ⎜⎜ ⎝ ε 0 ⎠ ⎝ 4π x − x ' φ ( x) = ∫⎜ ⎞ 3 ρ ( x ') d 3 x ' d x ' = ⎟⎟ ∫ 4πε 0 x − x ' ⎠ (1.41) Uma distribuição regular de cargas ρ pode ser aproximada informalmente como sendo a soma (→ ∫ ) de muitas cargas pontuais ρ ( x ') d 3 x ' , e o potencial é a soma de suas contribuições. 1.3.8 Condições de Contorno Estritamente falando, a solução da equação de Poisson não é única. Podemos sempre adicionar a φ uma solução da equação homogênea (Laplace) ∇ 2φ = 0 . A solução somente se torna única quando especificamos as condições de contorno. A solução ρ ( x ') d 3 x ' φ ( x) = ∫ 4πε 0 x − x ' (1.42) é correta quando as condições de contorno são tais que φ → 0 para x → ∞ (1.43) campo externo não aplicado. Na prática os cálculos eletrostáticos mais interessantes envolvem contornos específicos. A maior parte do trabalho consiste em resolver a equação de Laplace com condições de contorno apropriadas. Essas são freqüentemente as especificações de φ sobre as superfícies (condutoras). A densidade de carga nos condutores raramente é especificada no início. 1.3.9 Capacitor de Placas Paralelas Idealize o problema como sendo unidimensional, ignorando os efeitos de borda. A equação de Laplace unidimensional no vácuo (onde ρ = 0 ) é d 2φ =0 d 2z 18 (1.44) Figura 1.13: Capacitor de placas paralelas Solução φ = a − Ez , onde a e E são constantes. Conseqüentemente o campo elétrico é E = Ezˆ Note como a forma do campo surge exclusivamente da invariância translacional de ⎛ d ⎞ d = = 0⎟ . ⎝ dx dy ⎠ φ⎜ Escolha como z = 0 a posição de uma das placas do capacitor. A outra então estará em z=d. Faça φ ( z = 0 ) = 0 : potencial de referência, fazendo a = 0 . Potencial da outra placa: V = φ ( d ) = − Ed . Questão: Qual será a carga por unidade de área sobre as placas quando o campo elétrico é E? Responda considerando um elemento de volume plano, de área A envolvendo a placa + ve . Figura 1.14: Volume elementar para o calcular a relação carga/campo. Aplicando a lei de Gauss ∫ E ⋅ dS = ∫ A ⎡⎣0 + ( − E ) ⎤⎦ dS = − EA S ρ 3 Q 1 d x= = σA V ε ε0 ε0 0 =∫ (1.45) Conseqüentemente σ = −ε 0 E = ε 0 19 V d (1.46) Se a área total é A, a carga total Q e a voltagem entre as placas V, então essas grandezas estão relacionadas por: ⎛ε A⎞ Q = ⎜ 0 ⎟V ⎝ d ⎠ (1.47) e o coeficiente ( ε 0 A / d ) é chamado capacitância, C. Note a nossa abordagem: • • Resolva a equação de Laplace escolhendo as coordenadas de forma consistente com a simetria do problema. Obtenha a carga através da lei de Gauss empregando para tanto um volume apropriado. 1.3.10 Carga sobre um Condutor Arbitrário Considere um condutor carregado em equilíbrio eletrostático. A corrente elétrica é nula. Figura 1.15: Condutor de forma arbitrária possui somente cargas superficiais relacionadas ao campo local, normal à superfície. Devido a condutividade, o campo no interior do condutor é zero. Escolha um volume interno arbitrário: E = 0 ⇒ ∇ ⋅ E = 0 ⇒ ρ = 0 . Não há cargas internas. Todas elas residem na superfície. Na superfície existe apenas um campo E externo ao condutor. O campo E é normal à superfície ds porque a superfície é uma equipotencial (e E = −∇φ ). Assim, aplicando a lei de Gauss a uma “caixa de pílulas” ∫ ∇ ⋅ Ed V =∫ 3 x = ∫ E ⋅ dS = Eds S ρ 3 σ σ d x = ∫ ds = ds ε0 ε0 ε0 (1.48) onde σ = densidade superficial de carga. Portanto σ = ε 0 E . É evidente que para este caso geral E ( = Enormal ) não é uniforme sobre a superfície do condutor mas varia de ponto a 20 ponto. Novamente o procedimento seria: resolva φ através de ∇ 2φ = 0 ; então deduza σ ; em vez do contrário. 1.3.11 Visualizando o Potencial Elétrico e o Campo Considere um gráfico bidimensional de φ . O valor de φ pode ser encarado como sendo o valor da energia potencial de uma carga de 1 Coulomb. Assim há uma analogia perfeita com a energia potencial gravitacional e com as curvas de nível. A força em qualquer ponto da curva de nível é descendente (sobre uma carga + ve ) que é perpendicular ao gráfico de φ = constante. A intensidade da força (E) é proporcional à declividade da curva: isto é, quão próximos os contornos são (de φ ). Quando mapeamos as linhas de campo, isto é linhas que seguem a direção do campo elétrico, consideramos geralmente também a intensidade do campo elétrico como sendo o número de linhas de campo por unidade de área. Também indicamos a intensidade do campo através da proximidade entre as linhas de campo. Em regiões livres de cargas ∇ ⋅ E = 0 implica que as linhas de campo não possuem nenhum começo ou fim. Porém se ρ ≠ 0 , então as linhas de campo elétrico podem possivelmente ter fim (nas cargas). Os contornos dos potenciais nunca têm fim. Figura 1.16: Contornos do potencial e as correspondentes linhas de campo (marcadas com flechas). Somente são desenhadas as linhas de campo que emanam do condutor elíptico maior. 1.3.12 Representação em 2D do Potencial Complexo Em uma região livre de cargas, ∇ ⋅ E = 0 ⇒ ∇ 2φ = 0 . Este é o motivo para que haja uma íntima relação entre linhas de campo e os contornos de φ . Esta relação nos permite usar o 21 cálculo de variáveis complexas para fazer uma análise poderosa dos problemas de potenciais em duas dimensões. Considere uma função complexa f ( z ) = φ ( z ) + iψ ( z ) , onde z = x + iy é o argumento complexo com partes real e imaginária x e y ; f(z) tem parte real e imaginária φ e ψ . A função f é “analítica” se existir e for bem definida a derivada complexa df / dz (que é também analítica), definida da maneira usual como ⎡ f ( z ') − f ( z ) ⎤ lim ⎢ ⎥ . Para que este limite seja o mesmo não importando a direção ( x, y ) z '→ z − z ' z ⎣ ⎦ que ela é levada, f (z) deverá satisfazer as “relações de Cauchy-Riemann” ∂φ ∂ψ = ∂x ∂y ; ∂φ ∂ψ =− ∂y ∂x (1.50) A qual, por substituição, implica ∇ 2φ = 0, ∇ 2ψ = 0 , e também ∇φ ⋅∇ψ = 0 (1.51) relativamente às coordenadas bidimensionais x,y. Isto mostra que 1. A parte real da função analítica soluciona ∇ 2φ = 0 . 2. Os contornos da parte imaginária correspondente, ψ , coincidem então com as linhas do campo elétrico. Encontrar a representação complexa para os problemas de potencial consiste em empregar uma das técnicas mais poderosas de solução analítica. Porém, para cálculos práticos, as técnicas de solução numérica são agora predominantes. 1.4 Corrente Elétrica Distribuída em um Meio A lei de Ohm, V = RI , relaciona tensão, corrente e resistência para um circuito ou para um elemento discreto. Porém, com freqüência, não nos preocupamos apenas com a corrente total mas também com a densidade de corrente em condutores finitos (por exemplo eletroímãs). Isto requer a lei de Ohm local que é dada por E =η j (1.52) onde η é a resistividade elétrica do meio. Freqüentemente a condutividade σ = 1/ η é usada. j = σ E , (mas eu tentarei evitar confusão com a densidade de carga σ ). Tal relação linear se aplica para a maioria dos metais. 22 1.4.1 Condução em Estado Estacionário A conservação de carga pode ser escrita como ∇⋅ j = − ∂ρ ∂t (1.53) então, no estado estacionário, ∇ ⋅ j = 0 , isto é ⎛1 ⎞ 1 1 ∇ ⋅ ⎜ E ⎟ = ( E ⋅∇ ) + ∇ ⋅ E = 0 η η ⎝η ⎠ (1.54) Se a condutividade é uniforme ∇ (1/ η ) = 0 ou invariante ao longo de E, temos portanto ∇ ⋅ E = 0 ⇒ ρ = 0 . “Condutores de condutividade volumétrica de carga nula no estado estacionário”. uniforme adquirem densidade 1.4.2 Condições de Contorno para Condutores (Correntes Estacionárias) Figura 1.17: Um condutor de condutividade finita, e que carrega uma corrente distribuída. Se a corrente está fluindo, de maneira que E ≠ 0 no condutor, então o condutor não é mais uma superfície equipotencial para as soluções da equação de Laplace externas. Cargas de superfície (só) estão presentes sobre o condutor (η uniforme). Nenhuma corrente flui através da superfície do condutor (exceto no contato) assim j⋅n = 0 ⇒ E ⋅n = 0 dentro do condutor, enquanto que no lado externo temos 23 (1.55) E ⋅ n = ε 0σ densidade superficial de cargas. As componentes normais (1.56) Figura 1.18: Condições de contorno através de uma interface condutor/vácuo (ou isolante). En dentro = 0 [ En ]dentro = σ / ε 0 fora (1.57) Componentes Tangenciais. [ Et ]dentro = 0 fora (1.58) Em particular, para resolver ∇ 2φ = 0 no interior de um condutor uniforme η , na fronteira do condutor: ∇ 2φ ⋅ n = 0 (C. C. de Newman) (1.59) ao contrário da condição de contorno usual da eletrostática ( φ = dado). Nos contatos elétricos, poderia ser apropriado conhecer o valor de φ . Um método geral para resolver o problema de distribuição de corrente estacionária em um meio com η uniforme: 1. Resolva a equação de Laplace ∇ 2φ = 0 no interior do condutor usando a condição de contorno de Dirichlet ( φ dado) ou possivelmente a de Neumann não homogênea ( ∇φ n = dado) e ∇φ ⋅ n = 0 na fronteira do isolante. 2. Resolva a equação de Laplace ∇ 2φ = 0 no exterior do condutor usando a condição de contorno de Dirichlet ( φ dado) com φ tomado da solução interna. 24 1.5 Potencial Magnético O campo magnético possui divergência zero ∇ ⋅ B = 0 . Para um campo vetorial3 qualquer B, ∇ ⋅ B = 0 representa uma condição necessária e suficiente para que B possa ser escrito como o rotacional de um potencial vetor B = ∇ × A . 1.5.1 ∇ ⋅ B = 0 Necessária ( y) ∂ ⎛ ∂Az( z ) ∂Ay ⎞ ∇ ⋅ ( ∇ × A) = ⎜ − ⎟ ∂x ⎜⎝ ∂y ∂z ⎟⎠ (1.60) ∂ ⎛ ∂Ax( ) ∂Az( z ) ⎞ − ⎜ ⎟ ∂y ⎜⎝ ∂z ∂x ⎠⎟ (1.61) x + ( y) ∂A( x ) ⎞ ∂ ⎛ ∂A + ⎜ y − x ⎟=0 ∂z ⎜⎝ ∂x ∂y ⎟⎠ (1.62) somente campos de divergente nulo podem ser representados. 1.5.2 ∇ ⋅ B = 0 Suficiente (prova por construção) Considere a quantidade K ( x) = ∫ B ( x ') 4π x − x ' d 3x ' (1.63) um vetor construído através da integral de cada componente cartesiana de B. Aplicando o conhecimento que temos sobre o método da função de Green para obtenção das soluções da equação de Poisson, Sabemos que: ∇2 K = −B (1.64) Identidade do operador vetorial (para qualquer v): ∇ × ( ∇ × v ) = ∇ ( ∇ ⋅ v ) − ∇ 2v 3 Satisfazendo B → 0 conforme x → −∞ rápido o suficiente. 25 (1.65) Conseqüentemente B = −∇ 2 K = ∇ × ( ∇ × K ) − ∇ ( ∇ ⋅ K ) (1.66) Provamos o teorema de Helmholtz que qualquer campo vetorial pode ser representado como a soma de um [gradiente + rotacional]. Quando ∇ ⋅ B = 0 e B → 0 (rápido o suficiente) conforme x → ∞ , pode-se mostrar que ∇ ⋅ K = 0 e assim construímos o potencial vetor requerido. A = ∇× K = ∇× ∫ B ( x ') d 3 x ' 4π x − x ' (1.67) Note que construímos A tal que ∇ ⋅ A = 0 . Porém A é indeterminado a partir de B porque podemos acrescentar ao vetor A o gradiente de um escalar arbitrário sem com isso alterar o valor de B, desde que ∇ × ∇χ = 0 . Assim, como efeito, podemos fazer ∇ ⋅ A igual a qualquer quantidade desejada ψ ( x ) somando ao vetor A um ∇χ tal que ∇ 2 χ = ψ . Escolher o ∇ ⋅ A é conhecido como escolha de “Gauge”. ∇ ⋅ A = 0 é conhecido como o “Gauge de Coulomb”. 1.5.3 Solução Geral para o Potencial Vetor (Magnetostática) Lei de Ampère Estática ∇ × B = µ0 j . Agora µ0 j = ∇ × ( ∇ × A ) = ∇ ( ∇ ⋅ A ) − ∇ 2 A = −∇ 2 A (gauge de Coulomb) (1.68) Conseqüentemente as componentes cartesianas de A são soluções da equação de Poisson ∇ 2 Ai = − µ0 j (1.69) Usando a nossa solução geral da equação de Poisson (veja 1.37): A( x) = µ0 4π ∫ Resultando B: 26 j ( x ') x− x' d 3x ' (1.70) B = ∇× A = = j ( x ') 3 µ0 ∇× d x' ∫ x− x' 4π µ0 µ 1 − j ( x ') × ∇ d 3x ' = 0 ∫ x− x' 4π 4π ∫ j ( x ') × ( x − x ') x − x' 3 d 3x ' (1.71) Esta é a versão da lei de Biot e Savart para a densidade de corrente (datando de ∼ 1820). Para um fio percorrido por corrente, a integral sobre o volume de j é substituído pela integral de Idl, isto é: B= ( x − x ') × j x ' d 3 x ' = µ0 − ( x − x ') × Idl ' µ0 − ( ) 3 ∫ 4π 4π ∫ x − x ' 3 x− x' (1.72) A lei de Biot-Savart nos oferece um meio direto para calcular B através da integral por sobre o volume de j ( x ' ) , que pode também, se necessário, ser calculada através de métodos numéricos. Porém esta integração representa um método de força bruta, pois é excessivamente trabalhosa e de difícil obtenção, se o problema não apresentar simetria. Caso haja simetria, o procedimento se torna bem simples. 1.5.4 Simetria Translacional Cartesiana. (2-d x, y) Figura 1.19: (a) As coordenadas referentes a um fio reto e infinito percorrido pela corrente I, e (b) O contorno e a superfície adequados para o uso da lei de Ampère. Se consideramos uma situação onde ∂ / ∂z = 0 , correspondendo a correntes retas, paralelas e infinitas na direção z, teremos j = j ( x, y ) zˆ . Nossa solução geral para o potencial vetor nos mostra imediatamente que A = Azˆ, Ax = Ay = 0 . (Asumindo que A, B → 0 no ∞ , isto é, não há fontes “externas”). Este fato nos diz que Bz = ( ∇ × A ) z . Podemos considerar que o filamento infinitesimal de corrente é o bloco elementar de construção do nosso problema. 27 Formalmente j = I δ ( x ) δ ( y ) . Poderíamos calcular B ( x ) integrando este filamento de corrente. Porém é muito mais simples usar a Lei de Ampère diretamente ∫ ( ∇ × B ) ⋅ ds = ∫ S Por simetria ∫ C C B ⋅ dl = ∫ µ 0 j ⋅ d s = µ 0 I S (1.73) B ⋅ dl = 2π rBθ Então Bθ = µ0 I 2π r (1.74) Também Br = 0 , como se verifica através do Teorema de Gauss , aplicado a um volume (de comprimento unitário na direção z) 0 = ∫ ∇ ⋅ Bd 3 x = ∫ B ⋅ dS = 2π rBr V S (1.75) por simetria. Assim as equações de Maxwell nos mostram imediatamente que a função de Green que resolve a equação ∇ × B = µ0 Izˆδ ( x − x ') é µI B = θˆ 0 2π 1 ( x − x ') + ( y − y ') 2 2 (1.76) Qualquer função geral j ( x, y ) pode ser tratada por integração dupla usando esta função. 1.5.5 Simetria Cilíndrica (Espira Circular com eixo comum) Se existirem coordenadas cilíndricas ( r , θ , z ) tais que ∂ / ∂θ = 0 , j = jθˆ . Então por simetria A = A θˆ , B = 0 . Esta situação se mostra solúvel apenas em termos das funções θ θ especiais conhecidas como Integrais Elípticas. Se 28 Figura 1.20: Coordenadas Cilíndricas nas proximidades de um filamento circular percorrido por corrente. jθ = I δ ( r − a ) δ ( z ) (1.77) Então 2 µ0 a ⎡ ( 2 − k ) K ( k ) − 2E ( k ) ⎤ ⎢ ⎥ Aθ = 2 4π r ⎢ k ⎥ ⎣ (1.78) ⎦ onde k2 ≡ 4ra (r + a) 2 + z2 (1.79) e K, E são as integrais elípticas completas de primeira e segunda ordens. Esta forma geral é muito incômoda pois não faz cálculos analíticos gerais tratáveis, mas ao invés disso, faz uma avaliação numérica fácil, usando rotinas tabeladas para K ( k ) e E ( k ) . Sobre o eixo ( r = 0) o campo é muito mais simples B = Bzˆ = µ0 I 2π a 2 ẑ 4π ( z 2 + a 2 )3/ 2 (1.80) 1.5.6 Propriedade Geral de Situações de Simetria: Função de Fluxo Quando há uma direção de simetria, a componente de B que é perpendicular àquela direção, pode ser expressada em termos de uma “função de fluxo”. O fluxo magnético entre duas posições é definido como o fluxo do campo B que cruza uma superfície que atravessa a abertura (por comprimento de unidade se translational). Desde que ∇ ⋅ B = 0 não importa como a superfície obtém do ponto de ref a P (contanto que permaneça simétrica) 29 Figura 1.21: Caminho que vai de um ponto de referência para um ponto de campo define uma superfície para qual se aplica o teorema de Stokes, em uma situação de simetria translacional. Assim a função ψ ≡ ∫ B ⋅ dS S (1.81) é bem definida. Para simetria translacional ( ẑ ) , uma conseqüência é B⊥ = − zˆ × ∇ψ (1.82) ψ = ∫ B ⋅ dS = ∫ ∇ × A ⋅ dS = Az ( P ) − Az ( 0 ) (1.83) Isto surge porque S De fato ψ é idêntico à componente z do potencial vetor e B = ∇ × A = Bz zˆ + ∇ × ( Az zˆ ) = Bz zˆ + B⊥ B⊥ = Az ∇ × zˆ + ( ∇Az ) × zˆ (1.84) = − zˆ × ∇Az = − zˆ × ∇ψ B⊥ é a parte do campo perpendicular a ẑ . Também poderia ser Bz Do sistema de coordenadas curvilíneas surgem outras tantas variações de simetria cilíndrica. Há ainda outras simetrias até mesmo, por exemplo, a helicoidal. 30 1.6 Eletromagnetismo e Imãs 1.6.1 Solenóide Simples Figura 1.22: Solenóide longo ideal bobina magnética Um solenóide “longo” possui simetria translacional de forma que B é independente de z, como também de θ (exceto nas extremidades). Então 0 = ∇⋅B = 1 ∂ ∂ ∂ rBr + Bθ + Bz ∂z r ∂r r∂θ =0 (1.85) =0 então rBr = const. e conseqüentemente Br = 0 (1.86) Também ⎛1 ∂ ⎞ ⎛ ∂ ⎞ rBθ ⎟ zˆ + ⎜ − Bz ⎟ θˆ = µ0 j ∇× B = ⎜ ⎝ r ∂r ⎠ ⎝ ∂r ⎠ (estacionária) (1.87) No interior do solenóide, j = 0 então rBθ = const. e conseqüentemente Bθ = 0 . (1.88) (de fato se jz = 0 em toda a parte então Bθ = 0 em toda parte também, como pode ser visto imediatamente da lei de Biot-Savart). Também ∂Bz = 0 e conseqüentemente Bz = const. ∂r Use a superfície e a curva mostrada e escreva 31 .89) ∫ S µ0 j ⋅ dS = ∫ ∇ × B ⋅ dS = S ∫ C B ⋅ dl (1.90) Então µ0 × corrente por unidade de comprimento (denotada por Jθ ) fornece µ0 Jθ = Bz dentro − Bz fora (1.91) Mas (pelo mesmo procedimento) se B = 0 no infinito Bz fora = 0 . Então, no interior Bz = µ0 Jθ (1.92) Perfil do campo na bobina: É determinado pela densidade de corrente na bobina: Figura 1.23: O perfil do campo no interior da região condutora da bobina depende do perfil da densidade de corrente. dBz = − µ0 jθ dr (1.93) b Bzb − Bza = − ∫ µ0 jθ dr = − µ0 Jθ (1.94) a (como antes). Note que tudo isso é independente da espessura da bobina ( b − a ) . As bobinas geralmente possuem muitas espiras, logo Bz = µ0 nI (1.95) onde n é o número de espiras por unidade de comprimento, I é a corrente em cada espira. Jθ = nI 32 (1.96) 1.6.2 Solenóide de Seção Transversal Arbitrária ∂ =0 ∂z (1.97) Considere a lei de Biot-Savart, expressa como potencial vetor: A(r ) = µ0 4π j ( r ') ∫ r −r' d r' 3 (1.98) Se todas as correntes fluirem na direção azimutal, isto é, jz = 0 , então Az = 0 . ⇒ Bx = By = 0 (por toda parte) (1.99) Então a forma integral da lei de Ampère é ainda Bz (dentro) = µ0 J p onde J p é a corrente total na direção azimutal por unidade de comprimento. Figura 1.24: Solenóide de seção transversal arbitrária. 33 (1.100) 1.6.3 Tipos de Bobinas (a) Fio (Filamento): Figura 1.25: Seção de corte transversal de uma bobina magnética. Camadas múltiplas sobrepostas sobre um molde cilíndrico. Normalmente são utilizadas só para correntes e campos baixos. (b) Fita: Cada bobina consiste de uma fita espiral, nt voltas. Várias bobinas empilhadas formam um solenóide. Digamos nc bobinas por unidade de comprimento n = nt nc . (c) Placa: Similar ao de fita mas usa como base um condutor de seção quadrada ou retangular. (menos voltas/bobina). (d) Bobina de Folhas: Cada volta é feita de uma folha. A bobina completa é uma espiral (topologicamente). As folhas podem ser espaçadas por ar ou algum isolante sólido. n = nc . 34 Figura 1.26: Bobinas de Fita são empilhadas para formar um solenóide. Figura 1.27: Uma armação quadrada tipo folha e a configuração de um solenóide Há muitas outras configurações de eletroímã, projetadas para uma variedade enorme de aplicações. A maioria delas exige computação numérica para determinação do campo e sua variação de espaço. 1.6.4 Dipolo Magnético Figura 1.28: Correntes localizadas em uma pequena região, próxima da origem, com o campo medido num ponto bem distante da origem. 35 O campo magnético de uma distribuição “localizada” de correntes. Suponha que nós queiramos determinar o campo magnético em um ponto x que está localizado numa região distante das correntes, no sentido que para todos os pontos x’ onde j ( x ' ) não é desprezível, x ' << x , (relativo a uma origem próxima das correntes). A fórmula geral para A A( x) = µ0 4π ∫ j ( x ') x− x' d 3x ' (1.101) pode ser aproximada escrevendo ⎞ 1 1 1 ⎛ x⋅ x' = ≈ ⎜1 + + …⎟ 1/ 2 2 ⎟ x − x ' ( x 2 − 2 x ⋅ x '+ x '2 ) x ⎝⎜ x ⎠ (1.102) ⎤ µ0 1 ⎡ 1 ⎢ ∫ j ( x ' ) d 3 x ' + 2 ∫ x ⋅ x ' j ( x ' ) d 3 x '⎥ 4π x ⎢⎣ x ⎥⎦ (1.103) então A Agora converteremos estas integrais em expressões mais convenientes usando ∇ ⋅ j = 0 . De fato a primeira é zero. Isto segue imediatamente da identidade ∇ ⋅ ( jx ) = x ( ∇ ⋅ j ) + ( j ⋅∇ ) x = j (1.104) (a qual usa ∇x = I , isto é, ∂xi / ∂x j = δ ij , e ∇ ⋅ j = 0 ). Então ∫ jd 3 x ' = ∫ ∇ '⋅ ( jx ' ) d 3 x ' = ∫ x ' j ⋅ dS = 0 S (1.105) Para qualquer superfície S que encerra todas as correntes de forma que j = 0 em S. O segundo termo, que usa a mesma identidade, é simplificado mas seja cuidadoso em distinguir entre x e x ' , e usando anotação ∇ ' para denotar o operador de gradiente que opera sobre x ' , j ( x ' ) , não em x. ∫ ( x ⋅ x ') j ( x ') d 3 x ' = ∫ ( x ⋅ x ') ∇' ⋅ ( jx ') d 3 x ' = ∫ ⎡⎣∇' ⋅ ( jx ' ( x ⋅ x ') ) − x ' j ⋅∇ ' ( x '⋅ x ) ⎤⎦ d 3 x ' = − ∫ x ' j ⋅ ( ∇ ' x ') ⋅ xd 3 x ' 36 = − ∫ x ' j ⋅ I ⋅ xd 3 x ' = − ∫ x ' ( j ⋅ x ) d 3 x ' (1.106) x × ( x '× j ) = ( j ⋅ x ) x '− ( x ⋅ x ' ) j (1.107) ∫ x × ( x '× j ) d (1.108) Mas Assim 3 x ' = −2 ∫ x ⋅ x ' j d 3 x ' pela relação integral há pouco provada. [Esta identidade é verdadeira para qualquer x]. Então nossa aproximação para A é A( x) = − µ0 x ⎛ 1 ⎞ × ⎜ ∫ x '× j ( x ' ) d 3 x ' ⎟ 3 4π x ⎝ 2 ⎠ (1.109) Ou A= µ0 m × x 4π x 3 (1.110) onde o momento de dipolo magnético da distribuição localizada de corrente é m≡ 1 x '× j d 3 x ' ∫ 2 (1.111) Nós derivamos esta expressão para uma distribuição j arbitrária; mas se a corrente localizada é um circuito filamentar de corrente, Figura 1.29: Circuito de integração percorrido por corrente que dá origem a um momento de dipolo. 37 m= 1 1 x '× jd 3 x ' = ∫ x × Idl ∫ 2 2 (1.112) Se o circuito é plano, 1 x × dl = ds 2 (1.113) onde ds é o elemento de superfície. Assim m é (corrente × área) para um filamento plano. O campo magnético é obtido de B = ∇ × A B= µ0 4π ⎡ x⎛ x ⎤ 1 ⎞ ⎢3 ⎜⎜ ⋅ m ⎟⎟ − m ⎥ 3 ⎢⎣ x ⎝ x ⎥⎦ x ⎠ (1.114) 1.6.5 História Revisionista da Indução Eletromagnética Michael Faraday foi o primeiro a mostrar o efeito de indução: uma corrente transitória pode ser induzida em um circuito através das mudanças em outro circuito. Isto foi ∼ 1830. [Faraday não conhecia nenhuma matemática além da idéia de proporcionalidade FEM ∝ taxa de variação do fluxo de B]. Suponha que a história tivesse sido diferente e soubéssemos somente a lei que rege a força de Lorentz: F = q ( E + v × B) (1.114) poderíamos ter “provado” a necessidade da indução através de “puro pensamento”. Assuma a invariância Galileana: As leis físicas devem ser invariantes com respeito a mudança do sistema de coordenadas x ' = x − vt , t ' = t . [Universalmente assumidas no tempo de Faraday. Einstein não vem até 1905!]. Considere um circuito rígido (fio de arame) movendo-se para além de um ímã: Cada elétron no circuito (revisionista!) sofre a ação da força de Lorentz F = q (v × B ) (1.116) conforme ele é arrastado pelo campo magnético. O campo elétrico no referencial de repouso do imã é zero. E a força eletromotriz (integral da força por unidade de carga) em torno de todo o circuito é 1 q ∫ C F ⋅ dl = ∫ C 38 v × B ⋅ dl (1.117) Figura 1.30: Uma espira rígida que move passado um ímã fixo. Figura 1.31: Elementos de superfície na aplicação da lei de Gauss para instantes sucessivos de tempo. Esta é uma quantidade geralmente não nula. Na realidade, ela pode ser transformada basicamente em considerações puramente geométricas. Vamos calcular a taxa de variação do fluxo magnético total devido a movimento do circuito, em um campo estático B. Aplicando a lei de Gauss ao volume 0 = ∫ ∇ ⋅ Bd 3 x = ∫ V S total B ⋅ dS = ∫ s' −∫ S −∫ Faixa B ⋅ dS = ∫ B ⋅ dS − ∫ B ⋅ dS − ∫ B ⋅ ( vdt × dl ) S' S = d Φ − dt ∫ ( v × B ) ⋅ dl C (geometria pura quando ∂B / ∂t = 0 ). 39 (1.119) Esta equação pode, de modo alternativo, ser obtida algebricamente escrevendo dΦ dB =∫ ⋅ dS = ∫ ( v ⋅∇ ) B ⋅ dS dt dt (1.120) e usando ∇ × ( B × v ) = ( v ⋅∇ ) B + ( ∇ ⋅ v ) B − ( B ⋅∇ ) v − ( ∇ ⋅ B ) v = ( v ⋅∇ ) B (1.121) Assim dΦ = ∇ × ( B × v ) ⋅ dS = dt ∫ ∫ ( B × v ) ⋅ dS C (1.122) De qualquer maneira FEM é 1 q ∫ C F ⋅ dl = dΦ ∫ ( v × B ) ⋅ dS = − dt C (1.123) Iremos agora considerar a situação completa. Quando mudamos o referencial para aquele em que o circuito é estacionário e o ímã se move. Através da invariância Galileana a FEM total é a mesma, e 1 q ∫ C F ⋅ dl = − dΦ dt (1.124) Mas agora v = 0 , e ao invés, B está mudando dΦ ∂B =∫ ⋅ dS dt ∂t (1.125) Neste caso a força de Lorentz sobre a carga é também F = q ( E + v × B ) = qE , (desde que v = 0 ) (1.126) Deve haver um campo elétrico neste sistema de referência. E também 1 q ∫ F ⋅ dl = ∫ E ⋅ dl = − dΦ ∂B = −∫ ⋅ dS dt ∂t Aplicando o Teorema de Stokes para a integral E ⋅ dl : 40 (1.127) ∂B ⎤ ⎡ ∇× E + ⋅ dS = 0 ⎢ S ∂t ⎥⎦ ⎣ ∫ (1.128) Mas esta integral deve ser nula para todo S (e C), que só se verifica se o integrando for zero em toda a parte: ∇× E = − ∂B ∂t (1.129) Que é a Lei de "Faraday" (expressa na forma diferencial), (a qual Faraday entendeu intuitivamente mas não poderia te-la formulado matematicamente). 1.6.6 Indutância Suponha que temos um jogo de circuitos com correntes I i ( i = 1,… N ) . Esses circuitos estão indutivamente acoplados, se a corrente em um deles acarreta o surgimento de um fluxo concatenado com os demais. Devido a lei de Ampère ser linear ( B ∝ j ) , o fluxo que une circuito j da corrente I i é proporcional a I i . Consequentemente, o fluxo total que une circuito j pode ser escrito Φ j = ∑ M ji I i (1.130) i (somatório sobre I i ) correntes diferentes. M é uma matriz. O elemento M ij é a indutância entre as correntes i e j. Suas unidades são fluxo Wb ↔ ↔ Henrys corrente A (1.131) A força eletromotriz, ou voltagem, V j induzida na j-ézimo circuito é então: Vj = i d φ j = ∑ M ji I i dt i (1.132) Para o caso mais simples N = 1 circuito. M ii → L a auto-indutância i V = LI Podemos demonstar a partir das equações de Maxwell que M ij é simétrico. 41 (1.133)