Avaliação de tecnologias visando ao reuso de efluentes Nº 3 • Julho• 2004 Caro leitor, Este é o terceiro informativo da série que irá apresentar os aspectos mais relevantes do estado da arte das tecnologias selecionadas para o tratamento de efluentes visando ao reuso da água. Neste número estaremos apresentando a tecnologia de eletrodiálise reversa, selecionada pelos testes-piloto como a tecnologia mais viável para a remoção de íons nos efluentes de refinarias. O estado da arte foi elaborado pela Química de Petróleo Junior Mara de Barros Machado, responsável no CENPES, pelo acompanhamento operacional e avaliação dos resultados da planta piloto. Para maiores informações, fale com Mara tel. (21) 3865-4932, [email protected] ou consulte o documento MCT 65020652. Equipe CENPES/PDEDS/BTA Vânia Santiago (coordenação) Priscilla Florido, Eduardo Sabóia, Rodrigo Suhett, Ana Paula Torres, Mara Machado, Adriana Valente. Fernando Campos, Hudson Torquato (contratados) REGAP Eloisia Coelho, Cláudia Zanette, Mauro Souza Abast-Ref/AER Tsutomo Iwane, Fátima Ferreira Engenharia Heleno Almeida, Eduardo Ferreira, Montserrat Carbonell SMS corporativo Antônio Peres Operação: Oto, Ângelo, Fabrício Kátia, Fabiana (contratados) Clientes participantes: REVAP: Kayano, Celso Scofield REPLAN: Tadeu Furlan, Bentaci LUBNOR: Romino Ayres Eletrodiálise Reversa Eletrodiálise é um processo de separação eletroquímica, no qual os íons são transferidos através de membranas de uma solução menos concentrada para uma mais concentrada com aplicação de corrente elétrica direta. Quando um potencial é aplicado nos eletrodos, os cátions são atraídos para o eletrodo negativo (catodo) e os ânions para o eletrodo positivo (anodo). Ocorrem reações de dissociação da água envolvendo o ganho de elétrons (redução) no catodo, e perda de elétrons (oxidação) no anodo. Estas reações dão origem à produção de cloro, oxigênio e íons H+ no anodo, hidrogênio e íons hidroxila no catodo. A tecnologia de eletrodiálise reversa baseada neste processo remove essencialmente íons com cargas elétricas positivas e negativas até um peso molecular limite de aproximadamente 3000. Não são removidos materiais particulados e substâncias neutras ou iônicas de peso molecular maior que os poros da membrana. A aplicação de potencial nos eletrodos dá origem a compartimentos de solução desmineralizada e solução concentrada. Em aplicações normais centenas desses compartimentos são agregados em um módulo de membranas para obter a vazão desejada, constituindo-se no coração do processo de eletrodiálise reversa. Plantas de eletrodiálise podem ser operadas por batelada, com recirculação da água tratada ou de forma contínua, e podem conter um ou mais estágios, dependendo do tipo de água de alimentação e das especificações da água tratada. O sistema de eletrodiálise reversa (EDR) objetiva a produção contínua de água desmineralizada sem a adição constante de produtos químicos durante a operação normal, portanto eliminando um dos maiores problemas encontrados em sistemas unidirecionais. O sistema de EDR utiliza polaridade elétrica reversa para controlar continuamente deposições e incrustações. Nesses sistemas a polaridade dos eletrodos é invertida de 3 a 4 vezes a cada hora, mudando o sentido do movimento dos íons dentro do módulo de membranas, e assim controlando a formação de filmes e incrustações. A maneira pelo qual a estrutura do módulo de membranas é montada é chamada de estágio. O objetivo do estágio é prover 1 Efluentes Hídricos: Resultados em P&D • Nº 3• Julho • 2004 área de membrana e tempo de retenção suficiente para remover uma quantidade de sal específica da corrente desmineralizada. Tipicamente, a remoção máxima de sal para cada estágio hidráulico é de 55-70%. Os principais fatores a serem considerados na aplicação de eletrodiálise são: polarização da membrana, eficiência de utilização da corrente elétrica, potencial de formação de precipitados, potencial de fouling e consumo de energia. A Figura 1 abaixo mostra um módulo típico, com espaçadores de polietileno de baixa densidade entre as membranas, que têm por objetivo direcionar o fluxo além de criar turbulência na corrente promovendo a mistura, auxiliando na transferência de íons e diminuindo as camadas-limite e sólidos da superfície da membrana. - - Catodo - (-) - - Membrana Aniônica seguir mostra a estrutura química de uma típica membrana catiônica. O S OO O S OO O S OO Na+ Cátions em movimento Na+ Na+ Sítios aniônicos fixos fij Estrutura de suporte (Polímero) Figura 2: Membrana de troca catiônica A membrana aniônica (Figura 3) é essencialmente uma resina trocadora de ânions moldada em forma de chapa com espessura variável. Durante sua produção, cargas positivas são fixadas em sua matriz. Essas cargas são íons quaternários de amônio, que repelem íons positivos e permitem a transferência de íons negativos. Concentrado Bloqueio do Espaçador Membrana Catiônica Produto desmineralizado CH 3 ClN+ CH 3 CH 3 Concentrado CH 3 ClN+ CH 3 CH 3 Membrana Aniônica Fluxo Turbulento Membrana Catiônica + + Anodo + (+) + + Figura 1: Montagem típica de um módulo de membranas As membranas aniônicas e catiônicas possuem as seguintes propriedades: baixa resistência elétrica, insolúveis em solução aquosa, semi-rígidas para facilitar manuseio durante montagem do módulo, resistentes a mudanças de pH entre 1 e 10 e a temperaturas maiores que 46 °C. As membranas possuem a aparência física de uma chapa plástica, são essencialmente impermeáveis à água sob baixa pressão e são reforçadas por um tecido de fibra sintética. Uma membrana ideal de eletrodiálise deveria ser permeável somente a cátions ou ânions, mas na realidade sempre ocorre algum co-transporte de íons com carga oposta, podendo também ocorrer transferência elétrica da água através das membranas. A membrana catiônica é essencialmente uma resina trocadora de cátions moldada em forma de chapa, com área que varia entre 0,5 e 2 mm, possuindo coloração âmbar. Durante sua produção, cargas negativas, grupos sulfonados, são fixadas em sua matriz, responsáveis por repelir íons negativos e permitir a transferência de íons positivos. A Figura 2 a CH 3 ClN+ CH 3 CH 3 Ânions em movimento Sítios catiônicos fixos Estrutura de suporte (Polímero) Figura 3: Membrana de troca aniônica Os compartimentos dos eletrodos estão normalmente localizados no topo e na base do módulo de membranas. Os eletrodos são usualmente de titânio com capeamento de platina. A vida útil de um eletrodo é geralmente dependente da composição da corrente iônica e da amperagem por unidade de área do eletrodo. Em geral, altas amperagens e águas ricas em cloretos, ou altas tendências de incrustações tendem a diminuir a vida útil do eletrodo. O consumo de energia em sistemas de eletrodiálise é devido principalmente ao fornecimento da corrente contínua necessária para operação e bombeamento de água. Mara de Barros Machado Química de Petróleo Júnior 2