Integração de Políticas Sociais e a Garantia dos Direitos à Saúde Reprodutiva e Saúde Sexual Rosane Silva Pinto de Mendonca Brasília - DF, 17 de outubro de 2013 Sumário 1. Direitos à saúde sexual e reprodutiva: o que queremos garantir? 2. Onde estamos no esforço de garantir os direitos à saúde sexual e reprodutiva? 3. Como tem avançado a universalização da garantia desses direitos? 4. Qualidade do processo de universalização da garantia desses direitos – universalização com igualdade. 5. Papel do estado na garantia desses direitos. 6. Vantagens da integração das políticas. 7. Políticas públicas integradas: tipos e exemplos. Direitos à saúde sexual e reprodutiva: o que queremos garantir? Direitos à Saúde Sexual 1. Informação, educação (acesso e interpretação da informação) e aconselhamento (apoio à tomada de decisões) sobre saúde sexual. 2. Promoção e preservação da capacidade de desfrutar plenamente a sexualidade e a possibilidade de ter experiências sexuais prazerosas e seguras. 3. Prevenção, cuidados e tratamento de desordens sexuais não transmissíveis (tais como impotência, entre outras). 4. Prevenção, cuidados e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis. 5. Prevenção e cuidados para as vítimas de discriminação, coerção e violência sexual. Making Reproductive Rights and Sexual and Reproductive Health a Reality for All. Reproductive Rights and Sexual and Reproductive Health Framework, UNFPA, 2008. Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva - Cadernos de Atenção Básica - n.º 26. Ministério da Saúde. Ano: 2010. Direitos à Saúde Reprodutiva 1. Informação, educação (acesso e interpretação da informação) e aconselhamento (apoio à tomada de decisões) sobre saúde reprodutiva. 2. Prevenção, cuidado e tratamento de limitações na capacidade reprodutiva (infertilidade) e tratamento de infecções do sistema reprodutivo. 3. Planejamento familiar: informação, aconselhamento e acesso a métodos e técnicas de concepção e contracepção eficientes, seguros, permissíveis e aceitáveis. 4. Realização do aborto previsto em lei e garantia de atenção humanizada e qualificada às mulheres em situação de abortamento. 5. Assistência pré-natal e puerperal: informação e acesso a serviços apropriados de saúde que deem à mulher condições de passar, de forma segura e saudável, pela gestação, pelo parto e pós-parto, e que proporcionem aos casais a melhor chance de ter um filho sadio. Making Reproductive Rights and Sexual and Reproductive Health a Reality for All. Reproductive Rights and Sexual and Reproductive Health Framework, UNFPA, 2008. Onde estamos no esforço de garantir os direitos à saúde sexual e reprodutiva? Percentual de escolares frequentando o 9º ano do ensino fundamental que receberam orientação na escola sobre aids ou outras doenças sexualmente transmissíveis: Brasil, 2012 96 1,5% Desigualdade 94 1,0% PA Porcentagem de escolares do 9º ano 79% 92 FL 0,5% 0,0% 90 88 Total MN Entre grupos DF JP BH FO TE BV SP PV 86 84 BL 82 RJ 80 0,500 0,550 0,600 0,650 0,700 IDHM Fonte: Dados do IDHM de 2010 e PeNSE de 2012 0,750 0,800 0,850 0,900 Percentual de escolares frequentando o 9º ano do ensino fundamental que receberam orientação na escola sobre prevenção de gravidez: Brasil, 2012 92 90 88 2,0% Desigualdade FL 1,5% 75% Porcentagem de escolares do 9º ano 1,0% 86 0,5% 84 0,0% PA Total MN Entre grupos 82 80 JP BV TE FO DF BH SP PV 78 76 BL 74 72 70 RJ 68 66 0,500 0,550 0,600 0,650 0,700 IDHM Fonte: Dados do IDHM de 2010 e PeNSE de 2012 0,750 0,800 0,850 0,900 Percentual de escolares frequentando o 9º ano do ensino fundamental, dentre os que já tiveram relação sexual, que usaram preservativo na última relação sexual: Brasil, 2012 82 2,0% 80 Desigualdade BH 1,5% 1,0% Porcentagem de escolares do 9º ano MN 74% 0,5% 78 PA PV 0,0% Total Entre grupos FL BV 76 SP 74 FO DF RJ 72 JP TE BL 70 68 0,500 0,550 0,600 0,650 0,700 IDHM Fonte: Dados do IDHM de 2010 e PeNSE de 2012 0,750 0,800 0,850 0,900 Como tem avançado a universalização da garantia dos direitos à saúde sexual e reprodutiva? Qualidade do processo de universalização da garantia dos direitos à saúde sexual e reprodutiva – universalização com igualdade. Papel do estado na garantia desses direitos. Papel do Estado na Garantia dos Direitos à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva Informar • Jovens e adolescentes sobre: • direitos à saúde sexual e saúde reprodutiva • (educação em) saúde sexual e saúde reprodutiva • hábitos e comportamentos que devem ser adotados ou evitados • serviços adequados para cada tipo de situação Regulamentar • A oferta de serviços privados dirigidos à saúde sexual e saúde reprodutiva: regulamentar acesso, qualidade, preço. Gratuidade • Oferecer gratuitamente os serviços necessários à garantia dos direitos à saúde sexual e reprodutiva a todos, em particular, àqueles que não podem pagar. Provisão Pública • Provisão pública de serviços dirigidos à saúde sexual e saúde reprodutiva, em particular, aqueles que não são oferecidos pelo setor privado. Vantagens da integração das políticas. Vantagens da Integração de Políticas Públicas para Garantia do Direito à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva I. Defesa dos direitos: Promove maior visibilidade e melhor compreensão pelos adolescentes e jovens do leque completo de direitos relacionados à saúde sexual e à saúde reprodutiva, facilitando a defesa desses direitos pelo governo e pelas representações da sociedade civil (associações, conselhos, etc). II. Acesso à informação: Promove uma visão clara de quais são os serviços disponíveis localmente – que tipos, onde são oferecidos, horários de atendimento, critérios de acesso, gratuidade. Permite a construção de diagnósticos personalizados e de planos de atendimento integral. Vantagens da Integração de Políticas Públicas para Garantia do Direito à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva III. Acesso e utilização integral dos serviços disponíveis: Facilita o acesso ao leque completo de serviços, permitindo que a complementariedade entre os serviços seja plenamente aproveitada. IV. Integração, integralidade e igualdade: A disponibilidade de um atendimento integrado é mais importante para os mais vulneráveis. Na falta de integração, os menos vulneráveis – na medida em que têm mais acesso e capacidade de processamento da informação – têm maior capacidade de obter um atendimento integral. Lacunas na oferta de serviços (ausência de um atendimento integral) têm maiores efeitos deletérios sobre os mais vulneráveis. Os menos vulneráveis podem com recursos próprios obter acesso aos serviços indisponíveis publicamente. Vantagens da Integração de Políticas Públicas para Garantia do Direito à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva V. Sinergias na provisão: A utilização compartilhada de insumos ou infraestrutura permite ganhos de escopo, com reduções de custo, possibilitando melhorias na qualidade e expansão na oferta de serviços. Políticas públicas integradas: tipos e exemplos. Tipos de Integração 1. Unificação: Junção de programas da mesma natureza, que pode ocorrer pela junção administrativa de programas que oferecem serviços iguais ou similares possivelmente a populações diferentes (ex. Bolsa Família, Pronatec) ou pela consolidação dos benefícios e regras de concessão de programas que oferecem benefícios similares a populações sobrepostas (ex. Abono Salarial e Salário Família). 2. Produção conjunta: Junção dos processos de produção, pelo uso conjunto de insumos ou infraestrutura, com vistas a obter ganhos de escopo e aproveitamento de sinergias. 3. Integralidade: Diagnóstico abrangente das necessidades familiares e de cada membro da família com atendimento concomitante a todos os membros. Tipos de Integração 4. Coordenação: Racionalização da atuação das três esferas de governo e do setor privado, eliminando sobreposições e tirando proveito das vantagens comparativas de cada um na provisão dos serviços. Exemplo: Programa Saúde na Escola – Esse programa é o resultado de estreita cooperação entre os três níveis de governo e organizações sociais (OS). Governo federal: aporta boa parte dos recursos necessários à execução do programa, define o leque de atividades que podem ser realizadas, estabelece critérios para o repasse de recursos, realiza o monitoramento e a avaliação. Governo municipal: seleciona as escolas a serem atendidas e as atividades optativas a serem realizadas, gerencia o programa localmente, executa o programa diretamente ou seleciona e repassa recursos à organização social para executar as atividades. Organizações sociais: executam o programa em alguns casos. Tipos de Integração 5. Integração intersetorial na gestão: Ações intersetoriais requerem necessariamente a integração das equipes gestoras dos correspondentes órgãos setoriais. Essa integração da gestão pode ocorrer em nível federal (quando a ação é interministerial) ou em nível estadual/municipal (quando envolve ações de múltiplas secretarias estaduais/municipais). Exemplo: Programa Saúde na Escola – A gestão desse programa é compartilhada por três grupos gestores intersetoriais: (i) o grupo de trabalho intersetorial municipal (GTI-M), composto ao menos pelas secretarias municipais de saúde e de educação, (ii) o grupo de trabalho intersetorial estadual (GTI-E), composto por membros das secretarias estaduais de saúde e de educação, e (iii) o grupo de trabalho intersetorial federal (GTI-F), composto por membros dos ministérios da saúde e da educação. Tipos de Integração 6. Integração intersetorial na provisão: Ações intersetoriais requerem a atuação coordenada dos profissionais dos diferentes setores diretamente envolvidos na provisão de serviços que compõem a ação. Tipos de Integração 6. Integração intersetorial na provisão: Possibilidades de integração entre a educação e a saúde na provisão de serviços de saúde sexual e reprodutiva i. A escola realiza ações usando apenas seus próprios profissionais (p.e., de informação sobre a existência de serviços e encaminhamento aos serviços prestados pela saúde); protagonismo é da educação e nas ações realizadas na escola não existe integração das equipes; a integração é entre ações realizadas pela escola (triagem) com outras realizadas pela saúde. ii. A escola convida a saúde para fazer uma atividade conjunta – com o envolvimento de profissionais de ambos na execução da atividade; protagonismo é da educação e existe integração das equipes na realização da atividade. Tipos de Integração 6. Integração intersetorial na provisão: Possibilidades de integração entre a educação e a saúde na provisão de serviços de saúde sexual e reprodutiva (continuação) iii. A escola convida a saúde para realizar atividade – a execução da atividade é feita exclusivamente pelos profissionais da saúde; protagonismo é da educação e não existe integração das equipes na realização da atividade. iv. A saúde se convida para atuar no espaço da escola – com o envolvimento de profissionais de ambos na execução da atividade; protagonismo é da saúde e existe integração das equipes na realização da atividade. v. A saúde se convida para atuar no espaço da escola – com o envolvimento exclusivo de profissionais da saúde na execução da atividade; protagonismo é da saúde e não existe integração das equipes na realização da atividade. Tipos de Integração 6. Integração intersetorial na provisão: Exemplo: Programa Saúde na Escola – Esse programa segue a linha de integração intersetorial na provisão do tipo (iv). A saúde se convida para atuar no espaço da escola – com o envolvimento de profissionais de ambos na execução da atividade. Assim, o protagonismo é da saúde, mas existe grande integração das equipes na realização das atividades. Na verdade participam também das atividades pais e outros membros da comunidade e órgãos municipais responsáveis pela proteção social e defesa dos direitos humanos, além dos conselhos tutelares. Tipos de Integração 7. Coordenação da mobilização: Para que os direitos à saúde sexual e reprodutiva sejam efetivamente garantidos, são necessários: Reivindicação dos direitos e, daí, demanda pelos serviços necessários. Alocação de recursos para a provisão dos serviços. Acompanhamento de que os recursos foram alocados, os serviços oferecidos e os direitos efetivamente garantidos. Para que essas três condições se verifiquem, é necessário que exista ação coletiva, que requer mobilização coordenada de lideranças, governo e sociedade civil. Exemplo: Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Resultado da Primeira Conferência Nacional de Políticas para Mulheres (após etapas municipais e estaduais). Comitê de articulação e monitoramento coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). Vale também ressaltar a importância do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), que tem por finalidade formular e propor diretrizes de ação governamental voltadas à promoção dos direitos das mulheres e atuar no controle social de políticas públicas de igualdade de gênero. Muito obrigada! [email protected]