23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:41 AM Page 1 Janeiro/Junho Ano XIII / 2010 Nº 42 Revista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim - Desenvolvimento e Solidariedade A Solidariedade conduz a novos comportamentos Entrevista com Alfredo Bruto da Costa Reportag gem:: Escola Fotos Foto otos dde Vittorr Gordo G rdo d / Syncv Syncv ncview iew ew págs. 3 a 5 portuguesa em missão na Guiné-Bissau págs pá gs.. 8 a 10 gs 1 Quem foi Abel Varzim? Testemunho de Fernando Castro Martins pág. 6 pág. 13 23537b_Transformar_Jan_jun5 2 42 4/13/10 9:41 AM Page 2 Janeiro/Junho 2010 Editorial A Pobreza e a Exclusão Social O ano 2010 foi definido como «Ano Europeu do combate à Pobreza e Exclusão Social». É uma decisão louvável, pois é importante que se chame a atenção de toda a sociedade civil e dos pesponsáveis políticos para esta problemática, não só neste ano, mas sempre. Como se sabe, um dos pilares do combate à pobreza é o trabalho remunerado, que permita a segurança das famílias (satisfação das necessidades básicas), que lhes proporcione qualidade de vida e de conforto mínimos. A pobreza é em si um fenómeno de exclusão social. Em Portugal, a pobreza atinge não só os que trabalham auferindo salários de miséria, mas também os desempregados e os reformados com pensões miseráveis. As estatísticas que vão surgindo na comunicação social evidenciam que mais de 21% dos portugueses são pobres e vítimas de exclusão social. Este dado é suficiente para nos sentirmos profundamente incomodados e justifica que este tema mereça estar como ponto principal da agenda política. Não se diminui a pobreza e a exclusão social com medidas dispersas de apoio. Tem de haver políticas integradas e consistentes nas diversas áreas (Saúde, Segurança Social, Emprego, Cultura, Educação, etc.). Também não se pode ignorar que os fenómenos de pobreza e exclusão social atingem de forma particular as mulheres e as crianças. Aquelas tornam-se particularmente vulneráveis, principalmente em determinados momentos da sua vida, nomeadamente gravidez, período em que os filhos são pequenos ou velhice. Também a sua maior participação no trabalho não remunerado, mal remunerado, irregular ou na economia informal, contribui para a vulnerabilidade social. elativamente às crianças, estas são vulneráveis do ponto de vista interno e externo. No plano interno, colocam-se as vulnerabilidades inerentes ao seu desenvolvimento, à sua imaturidade. No plano externo, os responsáveis pelos seus cuidados (pais e outros cuidadores) e o meio envolvente (factores de ordem social, económica, política, entre outros), podem contribuir para enviesar o seu desenvolvimento harmónico. Neste contexto podem surgir os problemas de comportamento, de inadaptação ao meio, bem como a negligência, a violência do adulto, os maus-tratos (a OMS estima que cerca de 40 milhões de crianças são vítimas de alguma forma de maus-tratos). Em Portugal, em 2007, cerca de 64.300 crianças estavam a ser acompanhadas pelas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Robert Castel escreve que a “exclusão social é a fase extrema de um processo de marginalização ao longo do qual se verificam sucessivas rupturas do indivíduo com a sociedade. Também o Padre Joseph Wresinski recorda que “a pior das desgraças do homem não é ter fome, não saber ler ou estar desempregado. A pior das desgraças é a de sabermos que não contam connosco para nada a tal ponto que até os nossos sofrimentos são ignorados”. Em Portugal, onde se registam mais de 2 milhões de pobres e 500 mil desempregados, é urgente debater a pobreza e exclusão social e encontrar caminhos para a sua solução. Ninguém, nem sequer o excluído, pode estar dispensado destas tarefas. R Direcção do Forum Obama apela ao empreendedorismo e ao crédito às pequenas empresas para enfrentar a crise As Empresas americanas serão sempre os verdadeiros motores da criação de empregos no nosso país. Mas o governo pode criar as condições necessárias para as empresas se expandirem e contratarem mais trabalhadores. Devemos começar por onde a maioria dos novos postos de trabalho se criam: nas pequenas empresas, que começam quando um empresário transforma uma oportunidade num sonho ou quando uma trabalhadora decide que é o momento de se tornar na sua própria patroa. Com coragem e determinação, essas empresas têm resistido à recessão e estão preparadas para crescer. Mas quando se fala com donos de pequenos negócios em lugares como Allentown, Pensilvânia ou Elyria (Ohio), descobre-se que, apesar de os bancos de Wall Street estarem a emprestar cada vez mais, a maioria dos empréstimos são feitos às grandes empresas. No entanto, o financiamento continua a ser difícil para os pequenos empresários de todo o país. Assim, nesta noite, eu proponho que 30 mil milhões de dólares do dinheiro reembolsado pelos bancos de Wall Street sejam usados para ajudar os bancos comunitários que dão às pequenas empresas o crédito de que necessitam para se manterem à tona. Proponho também um novo crédito fiscal para pequenas empresas, que abranja mais de um milhão de pequenas empresas que contratem novos trabalhadores ou que subam os salários. E já que falamos disso, eliminemos também todos os impostos sobre ganhos de capital relativos a investimento das pequenas empresas e façamos com que haja um incentivo fiscal destinado a todas as empresas, grandes e pequenas, de modo a que invistam em novas fábricas e equipamentos. (Barack Obama, Presidente dos EUA, durante o discurso do Estado da União, 27 de Janeiro de 2010) 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:41 AM Page 3 42 Janeiro/Junho 2010 3 Entrevista com Alfredo Bruto da Costa A solidariedade conduz a novos comportamentos No ano que a União Europeia instituiu como de particular empenho no combate à pobreza e à exclusão social, Alfredo Bruto da Costa fala-nos da necessidade de mudar as mentalidades. O Presidente da CNJP não se imagina sem ser em actividade e pretende aprofundar algumas questões ligadas à democracia, à pobreza e à justiça. Entrevista e Fotos: Rui Almeida O que falta ainda para acabar com a pobreza e a exclusão? Eu penso que o problema essencial que está por detrás da persistência da pobreza em Portugal, apesar do muito que se faz (e refiro-me ao muito que se faz desde o século XII, quando os próprios monarcas se preocupavam com a pobreza e tomavam partido a favor dos pobres), é que nós hoje sabemos, a partir dos estudos e da análise científicos sobre as causas da pobreza, que esta tem, digamos assim, duas componentes importantes. A primeira, são as situações de carência em que os pobres vivem e que é aquilo que mais salta à vista quando a gente pensa na pobreza. E nós temos a inclinação para tentar acudir a essas situações de carência – e em Portugal temos imensíssimos exemplos de movimentos, instituições, grupos… que tentam matar a fome às pessoas, dar um tecto aos sem-abrigo ou dar de vestir a quem não tem roupa. Mas não vamos às causas da pobreza! Tudo quanto se faz contra a pobreza, a meu ver, mantém o grosso da Sociedade na mesma. E é nesse grosso da sociedade que estão as causas da pobreza. Portanto, enquanto um programa de luta contra a pobreza (seja público, seja privado, seja misto, seja o que for…) mantiver a Sociedade exactamente como está – como se a pobreza fosse um fenómeno periférico, resolúvel por acções periféricas –, nós nunca chegamos a resolver o problema da pobreza. Nesse sentido, pode-se concluir que a causa estruturante da pobreza e da sua persistência é uma falha na cidadania? No fundo, é um problema de cidadania, mas é um problema do modo como a Sociedade está organizada e funciona, que permite ou não que determinados grupos possam exercer a sua cidadania. Passa também pela sensibilização da sociedade? A sensibilização é um segundo problema. É que se nós formos introduzir as alterações que é preciso introduzir para retirar as causas da pobreza, nós vamos ter grandes resistências pela parte da Sociedade que não é pobre. E aí é que se põe o problema da cidadania em termos de dever da justiça e da solidariedade que os cidadãos não pobres têm para, não só consentirem, mas até exigirem, transformações que retirem as verdadeiras causas da pobreza. Portanto, os pobres, por causa da sua pobreza, estão impedidos de exercer plenamente a sua cidadania e uma das causas é que os que não são pobres ainda não se deram conta das transformações que são precisas, que os vão afectar necessariamente, e não deram conta também de que consentir nessas alterações, e até exigi-las por parte das autoridades, faz parte do exercício de cidadania deles. Nesse caso, a actual crise, que se está a manifestar de um modo mais forte e mais globalizado, vem permitir que haja uma maior consciencialização para esta realidade? Vem permitir por parte daqueles que pensam, mas a grande maioria das pessoas não pensa. Veja que os próprios (em certo sentido) autores dos problemas que criaram a crise, se puderem, continuarão a fazer a mesma coisa. Porque para eles aquilo não foi um erro deles, aquilo é uma opção que eles fizeram e, portanto, se tiverem condições, eles tornarão a tomar a mesma opção. Isso quer dizer, então, que a resolução do problema tem de ser mais a nível global e não tanto a nível local? Global também! A pobreza não se resolve, em nenhuma localidade, em nenhum país, sem uma visão global – isso é muito claro. Agora, o que acontece é que há coisas que os governos nacionais podem fazer e que não fazem por causa das resistências internas. Quando, por exemplo, nós estamos na situação em que estamos e se volta a falar do problema dos prémios dos gestores Cont. pag. 4 23537b_Transformar_Jan_jun5 4 42 4/13/10 9:41 AM Page 4 Janeiro/Junho 2010 Entrevista com Alfredo Bruto da Costa dos bancos e das empresas mais florescentes, apenas com o argumento de que conter esses prémios não resolvia o problema, quer dizer que as pessoas não são sensíveis aos sinais da solidariedade, que podem não ter uma expressão quantitativa de poupança, mas significam que a solidariedade conduz a novos comportamentos. Num âmbito mais geral, essa solidariedade implicaria, por exemplo, que houvesse um salário mínimo com um valor mais elevado? Certamente. Como sabe, a OIT [Organização Internacional do Trabalho – organismo da ONU] tem o seu programa de emprego decente e um dos elementos desse “emprego decente” é certamente um salário suficiente. Mas nesse caso, os patrões argumentam que a produtividade também deve ser tomada em conta… Argumentam, em primeiro lugar, sem nós termos à nossa vista as contas da empresa, para sabermos se o que eles dizem é ou não verdade e é ou não inalterável. Você já viu alguma conta duma empresa como deve ser?!... Em segundo lugar, eles falam de produti- Enquanto um programa de luta contra a pobreza mantiver a Sociedade exactamente como está nós nunca chegamos a resolver o problema da pobreza. vidade, como se a produtividade dependesse apenas do lado do trabalho, dos trabalhadores. Ora, nós sabemos que a produtividade de um país depende de vários factores e que o factor do trabalho nem sequer é o principal. Há muitos outros factores que prejudicam a produtividade que não têm nada a ver com o factor trabalho. Por outro lado, a questão que se põe é uma questão mais geral: se uma empresa não pode aumentar (como quis – e fez – o Governo) em 25 euros o ordenado dos que recebem o salário mínimo (e só a esses)… se não tem dinheiro para isso, qual é a viabilidade dessa empresa? Que tipo de estabilidade é que tem? E será que, se não for por esta razão, não irá abaixo por uma outra razão muito mais fundamental? E quanto às qualificações, tanto de empregados como de patrões?... Exactamente. O problema das qualificações é um problema chave. É dos poucos problemas em que estamos todos de acordo. Não estamos todos de acordo é quanto à importância que as pessoas atribuem à falta de qualificação dos empresários. Todos estamos de acordo em que a falta de qualificação dos trabalhadores é um estrangulamento importante e que é urgente ultrapassar, embora, pela sua própria natureza, não possa ser ultrapassada de um dia para o outro. Mas pouca gente fala na baixa qualificação dos empresários, cujas consequências são muitíssimo mais graves e mais bloqueantes do que a dos trabalhadores. Qual é, então, o papel da escola em relação à aquisição de competências? A escola tem uma importância decisiva. Mas isso não quer dizer que também não deva haver condições de qualificação para se ser empresário. Porque, hoje em dia, se se trata de um empresário por conta própria, pode sempre dizer que se há algum inconveniente o prejudicado é o próprio e não faz mal a ninguém mais. Mas quando um empresário tem empregados, a falta de formação dele repercute-se não só sobre ele, mas sobre todos os empregados que ele tem. Portanto, há aqui uma responsabilidade social perante todos quantos trabalham na empresa. Por isso, quando se cria uma empresa, uma das condições que devem ser postas para que a empresa possa existir é que o empresário tenha a qualificação suficiente para isso. Como, aliás, se exige que os trabalhadores tenham as suas carteiras profissionais e a sua qualificação – embora em termos muito menores do que aquela que hoje nós sabemos que é necessária enquanto base para uma empresa sobreviver numa economia moderna. De que modo é que a criação do próprio emprego pode ser um factor de combate à pobreza, nomeadamente no que toca, por exemplo, às potencialidades permitidas pelo microcrédito? É um instrumento. Só que depende muito da divulgação e da generalização que se possa fazer deste tipo de apoio. O microcrédito é um exemplo e um bom exemplo. Mas nós ouvimos falar de microcrédito e ouvimos falar da sua relação sobretudo com a criação de emprego… 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:41 AM Page 5 42 Geralmente também associado à formação específica para a actividade a que se destina… postas mais concretas, em termos de influenciar os centros de vida das pessoas e os comportamentos das pessoas. Ora bem. No Bangladesh, que como sabe, é o país de origem do microcrédito, ele está também relacionado com programas de desenvolvimento comunitário. O que lá acontece tem a ver com aldeias inteiras que são promovidas por um conjunto de iniciativas e actividades, uma das quais é o microcrédito. E nós, aqui, estamos a encarar o microcrédito como se fosse uma coisa única, sem mais ajudas de outras áreas, que têm de complementar a própria maneira de ser, maneira de comportar-se. Passa por qualificações de gestão, por exemplo, que podem ser dadas também pelo projecto de microcrédito, mas que funcionam ao nível de uma vivência social e de desenvolvimento comunitário. Quais foram os principais factores que o levaram a interessar-se pela questão da pobreza? Abel Varzim era um homem que respeitava a sua própria liberdade e que jogava a sua liberdade em benefício da Justiça – duas qualidades que são absolutamente pão para a boca para o mundo de hoje. Em relação à Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), a que preside, quais têm sido os principais frutos dos encontros e reflexões que têm sido desenvolvidos nos últimos anos? Os frutos nunca se conhecem. O que posso dizer é que temos sinais importantes de que são actividades consideradas úteis e necessárias por amplos sectores da Sociedade portuguesa, não só no interior da Igreja, mas até fora dela. Temos tido convites para participação em actividades por parte de instituições que não têm nada a ver com a Igreja. Temos convidado, pela nossa parte também, entidades da Igreja e que não pertencem à Igreja para trabalharem connosco em projectos concretos, nos quais há uma sintonia de pontos de vista sobre a matéria em questão, mesmo que haja divergências noutras matérias e penso que ao nível do interior da Igreja, está, sobretudo, a haver uma certa tradução da Doutrina Social da Igreja em pro- Eu tirei o curso de Engenharia Civil, que no meu tempo era um curso de seis anos. Ao fim do terceiro ano, eu já sabia que não queria ser engenheiro. E a razão porque não queria ser engenheiro, foi ter sentido a importância do meu envolvimento em problemas da justiça social. A partir daí, exerci engenharia só durante um ano e depois toda a minha carreira foi no campo do desenvolvimento económico e social. Ensinei matérias ligadas aos aspectos sociais e já no fim da carreira, fiz um doutoramento sobre a pobreza. Agora, que estou reformado, quero dedicar-me mais profundamente e mais livremente, àquilo que são valores nos quais acredito muito a sério, que são os problemas da justiça, da paz, do desenvolvimento. E, embora tenha outras actividades que me atraem, designadamente aprofundar algumas questões ligadas à democracia, à pobreza ou à justiça, tenciono fazê-lo, o mais possível, no âmbito da CNJP. Considera que o facto de estar reformado e continuar em actividade é um bom exemplo para a Sociedade? Eu não me imagino de outra forma e, aliás, os médicos com quem tenho falado o que me dizem é que o melhor que pode acontecer é a gente, durante o tempo da reforma ter uma actividade que encha, que convença, que deixe ocupado. Claro, sem cair em exageros que possam fazer mal à saúde. Eu neste momento, sinto-me perfeitamente capaz, tirando uma ou outra coisa. Para mim não há nenhuma diferença entre há uns meses atrás, quando tinha uma profissão, e hoje. A única diferença é que antes eu era remunerado com um salário e agora sou remunerado com uma pensão. Do que conhece da vida e da obra do Padre Abel Varzim, considera que pode ser um testemunho válido para os nossos tempos? Evidentemente que pode. O que sobressai da imagem que eu tenho dele, apesar de o conhecer muito pouco (pessoalmente não o conheci), é que era um homem que respeitava a sua própria liberdade e que jogava a sua liberdade em benefício da Justiça – o que são duas qualidades que estão mais do que actuais, são absolutamente pão para a boca para o mundo de hoje. Janeiro/Junho 2010 ALFREDO BRUTO DA COSTA Nasceu em 1938, em Goa (Índia). Casado. Duas filhas e quatro netas. Tirou os preparatórios de Engenharia em Bombaim e ingressou, em 1957, no Curso de Engenharia Civil, do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Fez a sua carreira profissional, desde 1967, no órgão central de planeamento económico. Em 1993 fez o Doutoramento (Ph.D.) na School of Social Sciences, University of Bath, Reino Unido, com tese intitulada “O Paradoxo da Pobreza - Portugal 1980-1989”, com equivalência ao Grau de Doutor em Sociologia, pela Universidade Nova de Lisboa. Foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (19741980), Ministro dos Assuntos Sociais (1979) e Presidente do Conselho Económico e Social (20032009) e é Presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, desde 2008. É membro do Comité Europeu de Direitos Sociais, do Conselho da Europa e do International Advisory Committee on Poverty and Human Rights. Até recentemente, exerceu docência nalgumas universidades portuguesas, no domínio da pobreza e da política social. 5 23537b_Transformar_Jan_jun5 42 4/13/10 9:41 AM Page 6 Janeiro/Junho 2010 Combate à Pobreza e à Exclusão Social Pobreza é Ficar Indiferente! Por decisão do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia, 2010 foi definido como Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social (AECPES). É a ocasião para reafirmar que os actuais níveis de pobreza e de desigualdades são inaceitáveis e que o empenho da UE na solidariedade, na justiça social e no aumento da coesão, são os meios para conseguir um impacto decisivo no sentido da erradicação da pobreza e da promoção da igualdade de oportunidades. É ainda ocasião para reafirmar a sensibilização das populações para os problemas da pobreza e a mobilização de todas as entidades e cidadãos interessados. No site oficial do AECPES – www.2010combateapobreza.pt – estão disponíveis recursos de divulgação, notícias e informação sobre as diversas entidades envolvidas nesta iniciativa. Pobreza: uma pessoa vive na pobreza se o seu rendimento e recursos são insuficientes e a impedem de ter um nível de vida considerado como aceitável na sociedade em que vive. Devido à pobreza a pessoa pode enfrentar múltiplos problemas: desemprego, fraco rendimento, alojamento desconfortável, falta de benefícios de saúde e enfrenta obstáculos nos acessos à aprendizagem ao longo da vida, à cultura, ao desporto e aos lazeres. Ela encontra-se portanto marginalizada e excluída da participação nas actividades (económicas, sociais e culturais) que são norma para as outras pessoas e o seu acesso aos direitos fundamentais pode ser restrito. Pobreza Absoluta: corresponde às necessidades de manutenção da eficiência física, ou seja, como assegurar a subsistência tendo em conta a suficiência/insuficiência de recursos. Trata-se aqui de recursos e necessidades básicas. Este tipo de pobreza é normalmente associado à pobreza que é vivida nos países em subdesenvolvimento (como alguns países africanos, por exemplo, onde ainda persistem problemas como a fome, o acesso a água potável, etc.). Pobreza Relativa: remete para indivíduos que se encontram excluídos da participação plena na sociedade pela ausência de recursos que os distanciam do padrão e do modo de vida mínimo e aceitável do país/estado onde vivem. Este tipo de pobreza é aquela que é medida nos países desenvolvidos, por estar relacionada com o acesso a bens e serviços necessários a uma vida digna (remete para os direitos humanos fundamentais: habitação, saúde, educação, saúde, etc.). Pobreza Subjectiva: percepções/opiniões dos indivíduos em situação de pobreza e da sociedade no seu conjunto acerca da pobreza e daqueles que são considerados pobres. Assim, serão pobres aqueles que dessa forma são percepcionados/vistos pelos outros, ou seja, é um tipo de pobreza que parte das representações das pessoas, sendo por isso um elemento complementar ao estudo da pobreza. Exclusão social: é entendida como um processo através do qual algumas pessoas são atiradas para a periferia da sociedade. A exclusão impede-as de participar plenamente na vida social devido à pobreza, à falta de competências de base e à falta de possibilidades de aprendizagem ao longo da vida ou devido a alguma discriminação. Este processo afasta-as das possibilidades de rendimento e educação, assim como de actividades sociais e comunitárias. Essas pessoas possuem acesso muito restrito ao poder e aos organismos de decisão e sentem-se incapazes de influenciar as decisões que afectam a sua vida quotidiana. Inclusão social: é definida como um processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social tenham acesso aos recursos necessários que lhes permitam participar plenamente na vida económica, social e cultural e que tenham um nível de vida e de bem-estar considerado como normal na sociedade em que vivem. Assim, a inclusão social garante-lhes um melhor acesso à participação aos processos de tomada de decisão que afectam a sua vida e a um melhor acesso aos direitos fundamentais. (Fontes: Relatório Conjunto Sobre Inclusão Social, 2003 e ABC da Inclusão o” – disponibilizados em www.2010combateapobreza.pt). 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:41 AM Page 7 42 Uma iniciativa do Forum Abel Var V zim A Saúde como factor de desenvolvimento do País Prosseguindo na sua missão de contribuir para o debate das grandes questões que afectam o país, o Forum Abel Varzim levou a cabo, no passado dia 24 de Outubro, um Colóquio sobre a saúde em Portugal, na óptica do desenvolvimento. O encontro teve lugar no Auditório «Agostinho da Silva», gentilmente cedido pela Universidade Lusófona, em Lisboa e contou ainda com o patrocínio do Hotel Radisson Sas. Texto e Fotos: Rui Almeida Após as boas vindas e apresentação dos objectivos do colóquio, por parte da Dr.ª Ana Sara Brito, em nome da Direcção do Forum, o Prof. Rui Nunes, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, desenvolveu a sua comunicação, abordando alguns dos problemas que se colocam actualmente na área da Saúde, bem como o acesso aos cuidados médicos, numa perspectiva de aproveitamento dos recursos existentes, em face das necessidades. Seguiu-se o Dr. António Cardoso Ferreira, que foi apresentado pelo Prof. António Gentil Martins e que, a partir da sua experiência de longos anos como médico de saúde pública, sobretudo longe dos grandes centros urbanos, discorreu sobre algumas questões referentes à relação dos serviços clínicos com as populações por eles abrangidas. Depois de um intervalo, durante o qual os participantes puderam, de modo mais informal, prolongar o diálogo iniciado durante os trabalhos, foi a vez da Dr.ª Paula Martinho da Silva, que, enquanto jurista e na sua qualidade de Presidente cessante do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, centrou a sua reflexão nos grandes desafios éticos do nosso tempo, bem como as perspectivas futuras, face aos avanços técnicos que permitem não só perceber melhor os processos biológicos, como prolongar a vida humana e melhorar a sua condição. Finda a comunicação, o Pe. Victor Feytor Pinto, que presidiu à mesa, encetou com a oradora um breve debate que se estendeu à assistência. O colóquio terminou já depois do horário previsto, devido ao entusiasmo dos participantes. O Forum Abel Varzim conta em breve disponibilizar estas comunicações, nomeadamente através do seu portal na internet. O Co Coló Coló lóquio o realiizo zouu-se s n se no o Au Audi ditó tóri r o Ag ri A osti t nh ho da Silva,, da d Universidade Lusófonaa Janeiro/Junho 2010 7 23537b_Transformar_Jan_jun5 8 42 4/13/10 9:42 AM Page 8 Janeiro/Junho 2010 Pró Infinito e Mais Além!* Uma nova Missão para a Escola Portuguesa “E se fossemos a África de jipe e aliássemos a viagem a uma missão humanitária??” As palavras saíram dos ded edos os do Jo oão e estacionaram no ecrã do Ricardo, que as olhou, inc crédu dulo!! No Mes essenger nasceu, naquele momento, o Projectto Missãão 12 2E * que leevou o João e o Ricardo à Guiné-Bissau. qu Do filme me T Toy oy SSto tory ry Texto de Cristina Montei Te teiro Fotoss de Vit V or Gordo Gor o do / Syncvi cview ew A dis discipl p inaa de Áre ea de de Proje jectto le levo vou o João Jo ão e o Ri Ricaard rdo o à Gu uin inéé-Bi Bisssau, co om a 6 Mis 6ª Misssã são o Huma Hu H umani maan niitári ttáári riaa. a. Num Num umaa ca cara raava vana na na de n nov ove ji j pe pess carrreg egad adoss de medi d camentos, to s, mat mat ater eria er ial ho ial hosp spit ital alar al a , allim ar i en enttos, tos, rrou oupas pa as e br brin in nqued quedos dos os,, cruz cruzar uzar aram am ccer erca rcaa d dee 11 1 mill qu mi quilóm ómet óm etro ross em em ttrê rêss sema semanas. Da Da jaja nela ne la do d carro, o viram o mundo m d a mud dar ar,, a terr te rraa a deese sert rtifficar e ass pess peessoa oass a es escu cure r cer ”ti ce tinh nhaa uma um ma ex expe pect ctat ativ ivaa pi piorr d do o que é real re alme al ment nte o continente afric icano o, diz o Ricardo, estes pa p íses mostraram ser mais segu uro ross do oq que ue eu peens nsav avva” a . Depo ois is de Mar Mar arro roco ro cos, co s, d daa Ma Maur uritânia, do o Seenega Sene gall e da Gâm mbi b a ch cheggar aram am,, fi fina naalment ntte, à Gui Gui uiné né. “P né “Pod oder od er com com o un unic icar arr n nov o aov meente nte em portugu uês aao o fim dee maiis de de cin ci nco mil quilómetros foi como mo che chega g ra casa ca sa!””, re rele leemb mbra bra o Jo João ão. Ricaard Ri Rica rdo o e Jo João ão des escarreg eggam o matter eria iall no Hos ospi p ta pi tall de Cum u ur ura, eem m Bi Biss ssaau. ss au Seg nd Segu ndo as ori rien ienta nta tações taçõ çõ ões do do Mi Mini n stério da Ed duc u aç ação ão,, publicadas de Agosto t de de 2006, a Árreaa d de e Prroj ojec ecto ec to o é um es espa paço ç educ ed ducat atiivo, ivo, o ob brig bri igat atór ório ór io o, “c “com m uma ma na n tu tu- Partida para África. Colegas de turma na despedida. r za int re nter erdi disc di sciipli ipli lina na ar e tran transd sdis sd isci is cipl ci plin pl in narr, visa vi sand sa n o a re real eal aliz izaç ação ã de prroj ojec ecto toss co con-c et cr eto os porr p par arrte t dos os aalu lu unos no os, s, com om o fim m de dese dese de senv nvol ollver o ver ne ve nest s es uma vis st isão ão int nteg egra ado o- 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:42 AM Page 9 42 9 Janeiro/Junho 2010 Uma paarageem no o Senegal ra do sa sabe ber, promo ovend veend do a su suaa orie ienttação çã o es esco cola l r e pr la p of ofis issi sion onal on al e ffac a il ac ilit itan and do a do suaa ap su apro apro roxi xima ma açã ção ao mun ção undo do do do trab traba balh ho””. Um pouco por todo o País, escolas, proffes pr e soress e al a un unos os, tall co como mo ori r gina n lmentee pr ment me prev e issto ev o, tê t m co cons n truí ns truído do p pon onte tess entre a es e co ola e a com o unidad adee e co ad conc nccebido bi do p pro roje ject ctos os iné nédi édi dito to os qu que cr que c iam la l ço ç s entr tree as pessoas e são sem emente te d dee um ffuuturo m mai aiss fraterno, tant n o a nível pr p of o issiion nall com omo o co comu muni nitá tári rio. o. Mass é po Ma poss ssív ível ív el ir aiind ndaa ma mais longe. O 2º prroj p ojec e to M Miiss issssão ão 12 E, E, da da turma urrma ma d do o 12 Ano An o E daa Esc Esccol ola Se Secu ecu cund cund ndár ária de Sant SSaan ntta ta Maria de Sin Ma intrra, levou l o João oãão e o Ri Rica card rdo do attra ravé véss do con o tinente africaano no,, ru umo a um ma culttur u a be bem m di dife fere rentee da d del eles es,, po porr caminh ca miinh nhos nho os diffíc ícei ícei e s de e ima m gi gina nar. O so onh nho, ina inacr cred edittáv ável num u pri rime meir iro o momento, ganhou rodas, cresceu, e en envolveu os colegas de turma, que ab aban ando do-naram os respe pect ctiv ivos o proje j ctos par araa see Con ontactám ámos dedi de dicarem a es esta causa.“C empr em pres esas as, um ma paart rtee da turma encarre re-gou go u-se see da da anga an ngari gari ga riaç açção de de di dinh nhei eiro ro para a concretização da viagem, atravéés da da venda de rifas e de produtos, outra parte tratou de recolher alimentos, roupas e brinquedos para levarmos para a Guiné”. Outr tros o , ainda, encar arregaara ram-se da divulg çã ga ção o e da pro romo m çã ç o da Missão.. T Tamb m as fam bé am míl ília i s ad ia ader e ir er i am am.. “O Os meuss paiis o er of erec e er ec eram a -sse paara par am a tiicipaar, o quee ree so solv olv l eu o p prrob blem bl ema da d falltaa de jipe jipe e ain ji nda aaccr da cres esce sce c nto nttou ou uma méd édicaa à Miissão ssssão ã ”,, conta o Rica card rdo o. Co C om m o an ano o a pa pass ssar, o projeccto t ext xtra ravasra ou a turma a e apaix paaix ixon onou ou a eescolaa in nte teira. Impa p rável, estendeu-se a outrass es e cola co ola lass e a ou outras zon onas as do País. A onda nd da de d ent entus tussiiassmo m chegou a alunos do en nsi sino no b bás ásicco e tr tra ansportou os sonhoss de d st s es e men nin inos oss até às aldeias as d da a Gu Guin in néé Bi Biss ssau ss au.. To au T do doss queriam ajud dar e ssab aber er mais sob bre esse Esta tado d que em tempos foi, também, Portuga tu gal. l A Escola em Missão e a Multiplicação dos Saberes A VI Mi Miss ssão ss ão Human nit itár ária ia à Gui u né-Bissau, sa u, ini inici ciat ativa da Tu urm rmaa To Todo do-o do -o-T -Ter e reno no, co om a pa parceria da AMI (Núcleo de Tomar) ma r e do In nstituto Luso-Árabe para a Cooper op eraç ação ão, partiu iu n num um d dia 21, com vinte e um uma a pessoa oas, s, por por vin inte te e u um dias! Do Dois is Conttin i ente tes, s, ssei eiss Pa País íses es.. Vá Vári rias as geraç açõe õess a bo bord rdo, o, qua uase se ttod odos os d des esco conh nhec ecid idos os. Um o obj bjec ecti tivo vo com comum um:: aj ajud udar ar a G Gui uiné né, essee P es Paí aíss a ce cerc rca a de c cin inco co m mill q qui uiló lóm metros os d de e Po Port rtug ugal al,, co cons nsid ider erad ado o um d dos o mais ma is p pob obress do mun undo do, on ond de se fa fala porrtugu tu guês ês e é p pos ossí síve vel c ch hegarr p porr tter erra ra!! On Onde é pos ossí síve vel ir eent ntre regaar pe pess ssoa oalm lm men ente tee ttoodo o materiaal qu q e se con onseegu guir ir jjun unta tarr e… transp s ortar! A viagem é para sul, através de África. O m ndo vai rolando e vai mudando. A mu paisagem transforma-se, as pessoas escurecem, as prioridadees al re a teram-se. As estrad das a qua u se dei eixa xam de o ser ser, as fronttei ei-ras es ra esgo gota go tam m teemp mpo e paaci ciên ên nci c a,, a ass ba barrei ei-ras po oli lici ciai ci aiss c ch heg e am m a sser err de ciin ncco em m ciincco mi minu inu uto toss, a á águ gu ua co c rrre po p r um m fio nass torn na nei eirass e é mu m it itas ass v vez ezes e ter erro rosa ro sa;; … a terra de d sertif ifi ficaica-se se aaté té mai aiss nã n o po pode der, de r, p ra depois rebentar de pa e vida na Guin Gu G uiné in né. O Jo J ão o e o Ri Rica c rd do sonharam, acredita- ram no son ram nho h , trabal a hara am po porr el e e, e a Esco co ola llevvou ou-o os lá! A Escola tornou-se do tamanho do mundo, de desf sfez e barreirras a , anulou quiló ómetrros, valorizou di d feereenças e esbateu problemas. Foi fonte viva de saber e de valores. Apaixono ou os alu alunos. Tiag go – Tu Tudo val Tudo valee a pena quando sabemo os que qu ue aallgu guéém será ajjudado. A nossa turm ma acol olh lheu heu es este pro roje jecto com o ob bject ctiv ivo iv o de de aju aju jud dar aq queles que precisam e, também, m, ccom om o iint ntui uito to d de mostrar qu que projectos como est ste pode d m ser concreti tizaado d s, des esd de q de que u haja mo m tivação. Inês – Esta ta missã issã is são o em m que q par arti tici cipa para r m dois col do oleggas nos ossos,, o Joã oão o e o Ri Rica c rdo, d foii mu fo muito impo port rtan ante te p pel elo o fa facto de sser er umaa acção um o de volun unta tari riad ado. o. C Cad adaa um m de nóss se nó sent ntiu iu o p pro roje jeect c o de m man anei eira ra d dif ifer eren ente. e. A mim im,, pr preenche heuu me e ffez ez ccom om q que ue enca en cara rass ssee a vi vida da d dee ou outr traa fo form rma. a. V Viv ivii-o o com m mu muit itaa in inte tens nsid idad adee e tr trab abal alho ho,, pr p ep parand ndoo-me me p par araa a vi vida da ffut utur uraa como mo cid idad . dã In niccia ialm lmen lm nte te, nã não o es estava va muiito Su S usa sana – Inic di ecc dire ccio iona nada da p par araa o pr proj ojjec ecto to.. No entanto,, ao eenv to nvol olve verr-me, comece ceii a inte tere ress re ssar ss ar-ar me maiis. D Dur uran ante esta experiênciia, a ssen enen ti-me feliz porque não só esta tava va aju uda darr os meus colegas como também estava a ajudar crianças que precisam de todo o nosso apoiio. Sentir as pessoas à minha volta a ajjud u arem incentivou-me imenso. Catarina – Apesar ar de não te ter percorrido todos aquelees quilómetro to os no o con ntiine n ntte a ri af rica c no, si s ntto qu q e um u pouco de mi mim m ch cheg heg egou ou á Gui u néé-B -Bis issau. Foi rea ealmente te um ma experi peeri r ên êncci ci ún cia únic ica es e ta tar en e vo volv lvid lv id da e pode po der ter co de contri ribu buíd ído íd o pa para ra est s a Miss Missão ão. C nt. Co ntt pá pág ág.10 g.10 23537b_Transformar_Jan_jun5 10 0 42 4/13/10 9:42 AM Page 10 Janeiro/Junho 2010 O Regresso a Casa “Apr “A pren endi d imensa coisa, quer a nível humano, quer a nívvel mano e pessoal. Foi bastante gratiffic gr icaante nesse aspecto. Senti-me outro qu tr q ando do regreessei a Portugal e a casa”, rele re lemb mbra ra o Jo J ão o enquanto percorre as m mó me móri r ass. “Á “Áfr f ica é marcante. As criançass a pe ça p direm “cadeaux” sempre que encost co stáv ávam mos os jipes, os carros destruídos, a d do des e orrgaani nização nas estradas, a falta d dee ma manu uteenç nção ão d dos pré rédi dios o , a faalta de infr in f a-es estr trut uturras as… … Fo Foii im i pressionante a sensação ã de perc rcor orrerr qu quil ilóm met e ros e qu quiilómetros no de dese sertto. É alg lgo o do o out u ro mundo, pensar que não si sign nificcam mos n naada ao pé daquela grand ndio osi s daade de… … Fo Foii uma experiên nci ciaa dee vid ida, a, ssem em dúv úvid ida, a que po p de mar a ca carr o me meu u fu futu turo ro a nív íveel prrof ofis issi sion onal al e p pes esso es soal a . A min al nha vis i ão do m nd mu ndo o al alte tero rou-se se… … Dece certto quee vo olt ltaarei arei a Áfr frica” a”. “A A prof prrofes ofes of esso sora so ra Fil Fil ilom omen om enaa Ol Oliv ivei iv eira ei ra deu e -n nos to ota t l libe liibe berd rd dad a e de eesc scol olha h do teema, explic pl icaa o Ri Rica card ca rdo rd o. A pri pri r me m ira irra id deia eiia pa para ra o no noss oss sso o trab trrab abal a ho o foi ccri riiar ria ar um um carr carro ro, já que u part pa rttilha ilhamo il moss o go mo gost sto o por po or auto automó móve veiis is e a vont vo ntad ade estud dar enge genh n arria mec ecân â ic ân ica. a Seria ia um eexc xcel ce ente princ ncíp ípio íp io d dee ca carr rrei eira r ! Mass o Jo Ma João ão d def efen ef endi diaa qu quee o no noss sso so pr proj ojec ecto d dev ever ev eria er ia passar p por algo om mai a s universal e altruísta. Ficou o por isso deciidido que o no ossso trabal alho ho sseriaa b ben enéf en éfic éf ico o pa para ra o João e Ricardo, Mauritânia. Uma pausa no deserto. Hospital de Cumura, em Bissau. João, Ricardo e a mãe do Ricardo mundo o e nã não o ap a en enas as um di dive vert ve rtim men ento o para dua pa para uass pe pessoa o s. Foi eent ntão ão que o JJoã oão o suge su geri riu u fa fazeerm rmoss traba b lh lho o dee vvol olun u ta un tari riaado em do em Áf Áfri rica icaa e eeu u fi fiquei fiqu ei iinc ncré réd édu dulo! lo! ConContudo tu do,, aad der erii raapi pida d meente nt à prrop nt oposta e nas aula lass se segu guin gu inte tes con ntactámo mos várias as org rgaa niiza zaçõ ções çõ es. es No iní níci cio, o vvii a viag o, agem m com com mo a pa part rtee bo boaa e o trab bal a ho de vo v lunt ntaaria ari do d como um u a o ri ob riga gaçã ção. o Mas ago gora pos osso so o sab abor ab orea earr o quee é vo qu volt ltar ar par paraa caasa com a m mis issãão cumprida da e isso é qu ue é a pa part rtee bo boa! a!” João Jo ão – To T do o o p pro roje ject cto, que u r a fasee de deseenvvollvi v ment nto, o queer a co c nccretizaaçã ção oe a pa part rticcip i açção na missão ão,, in ão influe uenc ncia iara ia ram ra m a viisã são o qu q e ti tinh inha nh ha da da eesc sccol scol o a. a Acr cred cred editar edit ittar aram am am em n nó ós e ajud ós udara daramam-no noss em tud no tud udo do o qu quee prrec eciisáámos oss. Rica R card r o – Comp Co ompar araando com a vvid ida no os p íses pa íses por ond ndee pa pass ssám ss ámos os,, ap pós o rreg egre ressso a Por ortu tuga tuga gal pare pareece que já não o ex exisste tem p oble pr ob ble lema m s! Ado ma dopt pteii uma polí lític i a de vid ida “no o st streess s ”, e é a iss s o pr prin inci in cipa ci palm pa lmen lm ente en te que me rref efirro qu quan and do d do dig igo o qu quee volt voltám tám ámos oss di o diiferentes es. Sem m dú úvi vida da que que ssou ou uma nov ovaa pessoa, muito melhor! 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:42 AM Page 11 42 Janeiro/Junho 2010 11 Ruy Ventura* Responsabilidade, Integração e Cidadania S ou professor há quinze anos. Nesta década e meia, circunstâncias voluntárias e involuntárias foram diversificando a minha experiência. Tendo começado o percurso numa escola rural de Trás-os-Montes, logo em 1996 fui colocado numa localidade problemática do concelho de Almada. Desde essa data – tirando três anos em que trabalhei como docente numa instituição de Ensino Superior – toda a minha carreira tem decorrido na Península de Setúbal, tendo a meu cargo turmas heterogéneas, dentro das quais se incluíram alunos em risco de exclusão social, vários caminhando para a marginalidade ou mesmo para uma vida envolvida pela actividade criminosa. Como a maioria dos docentes deste país, durante os quatro anos que durou a minha formação inicial, fui alvo de uma autêntica lavagem cerebral. Os autores da barrela – psicólogos, sociólogos, metodólogos e pedagogos bem intencionados, mas com pouca experiência prática – tentaram convencer-me da inocência de todas as crianças, pré-adolescentes e adolescentes, de que o sistema educativo se deve submeter às “necessidades” e “características” do aluno, de que a aprendizagem deve ser lúdica e brincalhona, de que os valores e o conhecimento são relativos, etc., etc., etc.. S ó quando entrei no sistema como professor me apercebi de que a ladainha não correspondia apenas a teorias ultrapassadas pregadas por gente ingénua e pouco responsável. Comecei a ter consciência de que tudo aquilo era a pregação oficiosa da doutrina defendida pelos burocratas que governavam e governam o Ministério da Educação – na sua maioria rapaziada nova quando ocorreu o 25 de Abril, isto é, cidadãos cuja melhor reacção ao cinzentismo da Instrução Pública salazarista foi a da importação de filosofias educativas que, nos seus locais de nascimento, já haviam sido colocadas nas prateleiras empoeiradas da História da Educação. Entrei no Sistema Educativo português, confesso, com a vista enublada por toda esta lavagem. Mas, como é bom de ver, cirros e nimbos foram-se dissipando, à medida que a realidade do quotidiano escolar se foi sobrepondo às teorias paradisíacas em que fora mergulhado. A experiên- cia obrigou-me a produzir uma síntese entre um olhar realista sobre o processo de ensino-aprendizagem e a doutrina oficial ou oficiosa defendida por pessoas que nunca lidaram de perto (ou não quiseram lidar) com uma turma. Nessa altura tomei ainda contacto com outra dimensão da educação: a relação das famílias com a aprendizagem das suas crianças. Tudo me foi dado observar: pais interessadíssimos e saudáveis no seu relacionamento com a escola, com os professores e com os seus filhos; gente humilde que se dedicava aos filhos, apesar de dificuldades sociais, culturais ou económicas; cidadãos conscientes de que educar implica disciplina, rigor, responsabilidade e exigência; encarregados de educação sobranceiros que abominavam qualquer esforço imposto aos seus filhos; familiares que nos levavam a canonizar os filhos; figuras repugnantes que – se Portugal fosse um país justo – há muito teriam os seus filhos entregues a famílias de acolhimento. Se é impossível o exercício da cidadania sem integração social, essa integração nunca acontecerá sem uma ética de responsabilidade e de exigência. A o longo de quinze anos de serviço, infelizmente, vi também crescer a promoção da irresponsabilidade e da impunidade entre os alunos. Tomei consciência de quanto o sistema protege os prevaricadores e desprotege as vítimas de insultos, de chantagens, de agressões físicas. (Sei do que falo, pois durante vários anos trabalhei voluntariamente com turmas de Currículo Alternativo, com rapazes e raparigas à beira da marginalidade.) Assisti à irresponsa- bilidade promovida por alguns colegas ingénuos ou medrosos, pelas direcções de muitas escolas que achincalham os seus professores, caucionando a pequena e grande indisciplina de alunos sem motivação intrínseca e com muita preguiça, desautorizando-os quando desculpabilizam comportamentos graves, recusando a merecida acção disciplinar, por simples incúria ou miopia ou para que as estatísticas não sejam maculadas. “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. As palavras de São Paulo sublinham que a assunção da cidadania requer uma escolha consciente. A sociedade, através da escola, deve integrar todos os seus membros. Mas os seus membros também devem integrar-se, respeitando a liberdade dos seus semelhantes e as regras mínimas de convivência, assumindo com responsabilidade todos os seus actos e as reacções que possam suscitar. Não é possível instruir sem que a educação esteja consolidada. Não é possível educar enquanto a recusa de integração nas estruturas micro e macrossociais não tiver consequências exemplares. E sta observação com quinze anos tem reforçado a minha convicção de que o relativismo militante, mesmo que se chame “multiculturalismo”, nunca trará bons frutos nem à instrução nem à educação das nossas crianças. Se é impossível o exercício da cidadania sem integração social, essa integração nunca acontecerá sem uma ética de responsabilidade e de exigência. O percurso (perigoso) do sistema educativo português tem sido, quanto a mim, o inverso. Estamos contudo a tempo de mudar a direcção. Se o não fizermos, corremos o risco de mergulhar as nossas escolas num clima de insustentável violência física e psicológica, em que a aprendizagem será de todo impossível. Não sou de todo catastrofista. Estou apenas convicto de que, na ausência de um quadro estável de valores (entre os quais deverão estar o esforço, a responsabilidade, o livre arbítrio, o usufruto da crítica fundamentada, a promoção do conhecimento esclarecido), nunca existirá uma justa democracia. Tudo permitir é também autorizar a tirania e a barbárie. * Professor 23537b_Transformar_Jan_jun5 12 42 4/13/10 9:42 AM Page 12 Janeiro/Junho 2010 António Leite Garcia* A A cimeira de Copenhaga e a busca de uma nova ordem ambiental e fiscal R Cimeira de Copenhaga sobre alterações climáticas, que ocorreu em Dezembro de 2009, contou com o contributo da sociedade civil, positivo e muito promissor. A presença forte e activa das Organizações não Governamentais, e o seu enorme empenho na preservação do ambiente e no avanço das negociações necessárias, são notas positivas a realçar. Os movimentos altero-mundialista e ecologista aliaram-se e colocaram a questão climática entrosada com questões de justiça social, nomeadamente com os infelizmente pouco recordados Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, adoptados pela ONU, em Setembro de 2000. E propuseram que, para além de se utilizar os enormes fluxos financeiros potencialmente gerados pelas taxas de carbono apenas para a promoção de reduções de emissões de gases de efeito estufa (GEE), também se usassem para reduzir as assimetrias de riqueza existentes, através da prossecução dos objectivos do milénio quanto à disponibilização de água potável e educação básica. consignação das receitas da taxa sobre o carbono ou da venda de direitos de emissão de GEE vinha sendo objecto de profunda reflexão e de acesa discussão, desde longa data e não apenas durante a Cimeira. Muitos autores consideravam que as receitas recolhidas não A eram suficientes para a resolução dos problemas ambientais e, não se apercebendo ou menosprezando as enormes consequências das taxas de carbono (ou da venda de direitos de emissão) na redistribuição dos rendimentos, queriam que a colecta fosse reservada para aquele efeito. Posição que parece estar a perder força face à de outros autores que, considerando indispensável uma enorme reforma do sistema fiscal, pensam que a instituição destas taxas oferece uma rara ocasião de melhorar os efeitos redistributivos deste sistema, quer no interior das nações quer nas relações internacionais, envolvendo uma profunda revisão do sentido da economia e dos seus objectivos. Assim, para além duma ajuda aos países mais pobres, não limitada à redução das emissões de GEE, deseja-se que nesta profunda reforma do sistema fiscal seja incluída a manutenção e o alargamento a outros países do sistema social de tipo europeu, cujo financiamento, actualmente baseado em forte tributação do factor trabalho, se considera difícil de manter face à concorrência dos países emergentes, com abundante mão de obra e ainda sem iguais preocupações de justiça social. Manutenção que passaria a beneficiar da substituição de receitas obtidas de taxas sobre o factor trabalho, difíceis de manter, por receitas obtidas de taxas sobre o carbono. eceitas que correspondem a rendas resultantes da utilização da capacidade natural de processamento do CO2 pelo sistema terra, bem comum da humanidade, anteriormente sobrante e de utilização livre, mas que se tornou escasso, proporcionando rendas, que não devem ser apropriadas apenas por alguns povos, mas distribuídas por todos, incluindo os mais pobres, respeitando-os como reais comproprietários. A caracterização fina dum dispositivo fiscal tão abrangente necessita, a nível nacional, da estreita cooperação de muitos serviços de vários ministérios, das finanças à economia, e do ambiente aos assuntos sociais, passando pela energia e pelo trabalho. Cooperação nacional que pressupõe negociações e entendimentos a nível supranacional. E, como aconteceu em Copenhaga, é ilusório e frustrante pretender procedimentos comuns, uniformes e de aplicação simultânea e rápida para todos os países, ignorando interesses prejudicados e sem dar tempo para acordar processos, etapas intermédias e meios de controlo, nem para estabelecer as instituições adequadas a estas funções e serviços. Não se constrói um mundo melhor apenas com a proposição de objectivos muito bons acompanhada de acusações a quem não os aceita e segue. A adesão gradual a etapas intermédias é mais segura e fácil de conseguir com sucesso. Aceitemos passar por acordos de cumprimento compulsivo sobre: a) redução de emissões, eventualmente apenas baseados em taxas de carbono mas sem excluir a adopção complementar de mercados de direitos de emissão; b) de ajuda internacional, explicitando as verbas a doar, eventualmente dependentes das receitas obtidas com as taxas de carbono; e c) de protecção dos países mais avançados de aparentes vantagens competitivas que os mais atrasados poderão tentar aproveitar e que mais não são do que fugas ao pagamento de maiores poluições, protecção eventualmente efectuada através duma taxa compensadora a aplicar nas importações. Cont. pag.14 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:42 AM Page 13 42 Janeiro/Junho 2010 13 Quem foi Abel Varzim? «É ainda ele que age connosco e nós com ele» Abel Varzim - que não me foi dado conhecer pessoalmente -, é uma das minhas maiores referências morais, cristãs e éticas. Agora, no 75º aniversário da fundação da Acção Católica, cujo evento comemorativo decorreu no Porto em Novembro passado, sinto vontade de tornar público o meu apreço por esta tão impressionante figura que me acompanha desde a adolescência, em 1972, altura em que fui convidado a integrar a Juventude Operária Católica, JOC. A JOC, e mais tarde a LOC – Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, moldaram profundamente o meu ser. Ocupei vários cargos nestas duas organizações, nos planos diocesano (diocese de Braga) e nacional. Aos vinte e três anos despedi-me mesmo da minha profissão, no escritório de uma grande empresa têxtil, a Somelos, e entreguei-me, a tempo inteiro, com outros, na direcção nacional da JOC. Foi uma opção bem ponderada que, ainda assim, só me permitia auferir metade do vencimento que antes recebia, no fim de cada mês, na fábrica. Mas era o que nos podíamos auto-remunerar, e eu sabia-o bem, pois fui tesoureiro nacional. Foram três anos inspirados e felizes, também ansiosos, estes de dirigente a tempo inteiro, em que nos sentíamos verdadeiros responsáveis da nossa organização e protagonistas da acção que em conjunto elaborávamos. Estava ainda nos primeiros passos a construção da democracia em Portugal e o apelo social era enorme. E não teremos feito tudo acertado: éramos jovens e a nossa experiência de vida num país livre, ainda era mais jovem. Foi neste período que os bispos portugueses suspenderam o seu reconhecimento da JOC como movimento de Acção Católica, facto que não cabe aqui explicar detalhadamente. Cerca de dez anos depois, voltei a deixar a minha profissão para abraçar, a tempo inteiro, um lugar na direcção nacional da LOC/MTC. Como se vê, não Fernando Castro Martins* estava arrependido da primeira experiência. Mas este esforço não era vocação para todos. Foi na sede nacional da LOC que pude, finalmente, folhear com tempo a colecção do jornal O Trabalhador e aprofundar o meu conhecimento da incontornável e marcantíssima personalidade de Abel Varzim. A partir daí, nunca mais resisti à alma dos seus fulgurantes escritos; à sua impelente biografia e testemunho de vida; às suas obras; aos seus livros; às referências e textos acerca da sua pessoa. Fascina-me a figura de Abel Varzim e Abel Varzim lançava-se ao seu exaustivo trabalho e não esperava resultados a qualquer preço. Para ele os percursos não tinham apenas metas, tinham também etapas. até – muito particularmente! –, os seus falhanços. Vejam lá! Porque de reiterados insucessos se pode classificar, também, a sua vida. Uns insucessos que profundamente me desassossegam e diante de mim resplandecem, de modo sucessivo, em severa interpelação. Porque Abel Varzim lançava-se ao seu exaustivo trabalho e não esperava resultados a qualquer preço. Para ele os percursos não tinham apenas metas, tinham também etapas. E aqui se encontra uma expressão muito marcada da sua fé: teria de haver, seguramente, mais Alguém a fazer a sua parte. Alguém com outros critérios de eficiência; com outras lógicas; porventura com outros prazos de entrega do produto acabado. Hoje, quando tantos de nós se debruçam ainda sobre o seu testemunho de vida e a sua obra incompleta, é ainda ele que age connosco e nós com ele: na LOC/MTC, no Forum, etc. Contando, porém, com a novidade que temos sempre de acrescentar, porque a sociedade e o mundo do trabalho mudaram profundamente, também a Doutrina Social da Igreja evoluiu e, na mesma perspectiva do nosso amado padre-sociólogo, é preciso estarmos sempre inquietos diante dos sinais dos tempos. *Sócio do Forum Abel Varzim 23537b_Transformar_Jan_jun5 14 42 4/13/10 9:42 AM Page 14 Janeiro/Junho 2010 Assembleia Geral do Forum Teve lugar, no passado dia 12 de Dezembro de 2009, nas instalações do Colégio do Sagrado Coração de Maria, a XV.ª Assembleia-Geral do Forum Abel Varzim – Desenvolvimento e Solidariedade. Após o início dos trabalhos, a Direcção cessante procedeu à apresentação do Relatório de Actividades, que foi votado e aprovado. Seguiu-se a eleição dos Corpos Gerentes para o Biénio 2010 / 2011 (ver caixa), na sequência da qual a nova Direcção apresentou o Projecto de Actividades que, após apreciação e acolhimento de contributos por parte alguns dos sócios, teve a aprovação da Assembleia. Houve lugar ainda para debater o projecto de Revisão dos Estatutos. No entanto, por causa da complexidade técnica de certos pormenores jurídicos, a continuação da discussão e a votação tiveram de ser adiadas. Será convocada uma Assembleia Geral no inicio do corrente ano de 2010, na qual haverá lugar a nova discussão e respectiva votação. Já no período destinado a outros assuntos, foi aprovado por unanimidade um voto de solidariedade para com o Sócio Nuno Teotónio Pereira, que recentemente teve uma complicação de saúde que lhe retirou a visão. Cont. pag.12 Mesa da Assembleia-Geral Presidente: José Manuel Malés Vice-Presidentes: Ana Vitória Moreira Raimundo, António Padrão Varzim Miranda Secretários: Carlos Alberto de Oliveira Bernardo, João Miguel Furtado Ferreira d’Almeida Direcção Secretário Geral: José Alexandre da Silva Morais Gouveia Vogais: Ana Sara Cavalheiro Alves de Brito, António Leite Garcia, António Manuel da Silva Soares, Carlos Mateus Cardoso Alves, Hélder João do Carmo Silva Fráguas, Henrique Freire Leal, Isidro Freire Leal, José Dias Dinis, José Pedro da Silva Costa, Juan Francisco Garcia Ambrosio, Maria Filomena da Silva Morais Gouveia Conselho Fiscal Manuel José Bidarra de Almeida (Presidente), Cristina Archer Baltasar Pereira da Silva, Jorge Antunes da Luz, Manuel António Túbal Nova ordem ambiental e fiscal A União Europeia, embora desanimada e frustrada com a Cimeira de Copenhaga, não deve deixar de perseguir uma economia mais respeitadora do ambiente nem de perseverar na construção de uma sociedade mais solidária. Pode e deve manter o avanço proporcionado pela adopção de um mercado de carbono, aumentando a sustentabilidade e a competitividade da sua economia, reajustando a sua política social e alargando a sua influência política no mundo. O futuro não é um fado mas sucessivas opções. Ambiente, globalização, pobreza e desigualdade A Corpos Gerentes para o Biénio 2010 / 2011 s novas tecnologias de crescimento sustentável são fundamentais para a economia de amanhã. E, tal como a at- mosfera terrestre, a economia mundial, cada vez mais globalizada, é única e tem a mesma urgente necessidade de menos competição e de mais cooperação. Simultaneamente com a recomposição das relações geopolíticas exigida pelas mudanças climáticas, também é necessário alterar o sistema económico e social, que não poderá suportar as assimetrias e desigualdades de distribuição da riqueza, de justiça e de bem estar vigentes no início deste século. Não se trata de generalizar para complicar, mas para mais seguramente determinar a melhor e mais segura solução para os ansiados objectivos de redução concertada de emissões de GEE e para uma globalização que não faça crescer pobreza e desigualdade. São oportunas e cheias de sabedoria as palavras do papa Bento XVI na sua recente Encíclica Caritas in Veritate «Adequa- damente concebidos e geridos, os processos de globalização oferecem a possibilidade duma grande redistribuição da riqueza a nível mundial, como antes nunca tinha acontecido; se mal geridos, podem, pelo contrário, fazer crescer pobreza e desigualdade, bem como contagiar com uma crise o mundo inteiro. É preciso corrigir as suas disfunções, tantas vezes graves, que introduzem novas divisões entre os povos e no interior dos mesmos, e fazer com que a redistribuição da riqueza não se verifique à custa de uma redistribuição da pobreza ou até com o seu agravamento, como uma má gestão da situação actual poderia fazer-nos temer» * Dirigente do Forum Abel Varzim [email protected] 23537b_Transformar_Jan_jun5 4/13/10 9:42 AM Page 15 42 Janeiro/Junho 2010 15 «Dança dos Demónios» – Intolerância em Portugal Com coordenação de António Marujo e José Eduardo Franco e com prefácio de Anselmo Borges, este volume de 630 páginas conta com a participação de dez autores: Esther Mucznick (Anti-Semitismo), Faranaz Keshavjee (Anti-Islamismo), Luís Machado de Abreu (Anticlericalismo), João Francisco Marques (Antiprotestantismo), José Eduardo Franco (Antijesuitismo), Rui Ramos (Antimaçonismo), Ana Vicente (Antifeminismo), Ernesto Castro Leal (Antiliberalismo), Miguel Real (Anticomunismo) e Viriato Soromenho – Marques (Antiamericanismo). Com se refere na introdução dos dois coordenadores, «Hoje vivemos numa sociedade aberta, alicerçada em valores como a liberdade, o pluralismo, a tolerância o respeito pela cultura e crenças do Outro. No entanto bastas vezes se fendem e sangram as cicatrizes mal saradas dum passado conspiracionista e intolerante. Expressões, apreciações simplistas ou nostalgias de um passado segregacionista pretendem acordar os velhos fantasmas da conspiração oculta. Esse é um dos perigos que a democracia enfrenta e para o qual importa estar atento, especialmente pela via da educação para a tolerância». No que diz respeito ao anticomunismo não pode deixar de ser referido o livro «Comunismo» do padre Abel Varzim – Edições S.E.T. de 1949. Segundo Miguel Real, «não deixando de postular o comunismo uma diabólica tentação, considera que a inspiração em Jesus pode vencê-lo, menos pela guerra e mais pela bondade: “o comunismo é o contra-evangelho, a macaqueação demoníaca de todo o mistério divino e do corpo místico de Cristo - alusão a uma conhecida sentença de Tertuliano que designou o Diabo como macaco de Deuss, no sentido de este não possuir obra própria, limitando-se a imitar Deus, pervertendo-Lhe a obra.” Abel Varzim intenta desmentir o comunismo com as armas do próprio comunismo, evidenciando que, após a aplicação das ideias igualitárias na Rússia de 1917, o regime teve de retornar “às concepções tradicionais e às fórmulas capitalistas da economia” - de facto, afirma, à primitiva colectivização da produção sucedeu a admissão do comércio privado, o que vem demonstrar a falsidade da teoria marxista-leninista do comunismo». No entanto, o padre Abel Varzim constata o malogro da propaganda anticomunista já que o comunismo, como filosofia global, obedece à visão actual do homem moderno, originado em Descartes, como ser liberto de Deus e dominador do Mundo. Contra o comunismo resiste a Fé, mas também a instauração de condições sociais justas para os trabalhadores, intento a que o padre Abel Varzim dedicará a vida, tornando-se posteriormente proscrito para a mentalidade do Estado Novo». (Editora: Círculo de Leitores/Temas e Debates, Capa: António Rochinha Diogo) José do Carmo Francisco Os «Vencidos do Catolicismo» – Militância e Atitudes Críticas (1958-1974) Retomando o seu plano de edições, o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (CEHR), deu à estampa, juntamente com mais dois títulos, no final do ano passado, o livro Os «Vencidos do Catolicismo», da autoria de Jorge Revez (n. 1980). O Autor, Licenciado em História e Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, não esconde o seu particular interesse pela poesia e vai buscar o título de um poema de Ruy Belo como ponto de partida para a análise de dois percursos de vida marcados pelo confronto à Igreja Católica, a partir de “dentro”, no Portugal dos 60 e 70 do século passado. Os visados são o próprio poeta referido e o Padre José da Felicidade Alves. A expressão “Vencidos do Catolicismo” remete para o grupo novecentista dos “Vencidos da Vida”, uma geração que veio a ser reconhecida como referência literária e de pensamento, que iria marcar o século seguinte. Não por acaso, Guilherme d’Oliveira Martins, na sessão onde o livro foi apresentado, lembrou uma frase desse tempo do Pe. Manuel Antunes: “actualmente a melhor teologia que se faz no nosso país é produzida por poetas”. Ainda que admita que se trata de exemplos «perfeitamente discutíveis», Revez justifica a sua escolha referindo que são dois casos «diversos quanto à sua militância católica – um foi leigo e o outro sacerdote» - aos quais se podem também apontar «aspectos comuns: ambos militam activamente pela Igreja Católica; ambos atravessam um período relativamente longo de questionação da sua pertença, entendida aqui como fé na Igreja e na sua doutrina; ambos irão progressivamente afastar-se ou serem afastados dessa mesma vivência eclesial». Apesar de se tratar do estudo de dois casos pessoais, esta obra remete necessariamente para contextos e situações que marcam a luta e a militância do grupo que ficou conhecido como dos “católicos progressistas”, não só a nível político, com a denúncia da Guerra Colonial e o combate pela Democracia, como também a nível eclesial, exigindo as reformas e a abertura preconizadas pelo Concílio Vaticano II. Abel Varzim, tal como Joaquim Alves Correia e Francisco Lino Neto, são apresentados, num dos capítulos iniciais, como «figuras marcantes» e até «profetas» (citando Nuno Teotónio Pereira), que irão servir de exemplo e memória aos que se lhes seguiriam. Assim, é relatado sumariamente o percurso destes católicos – dois sacerdotes e um leigo –, enquanto precursores de «um profundo processo de questionação» que se irá confrontar com a contradição entre as políticas do Estado Novo e a implantação de uma «sociedade cristã», que por sua vez «formará a antecâmara da possibilidade da ruptura e da desilusão entre os militantes católicos». Este é, pois, mais um dos valiosos estudos e testemunhos que vem ajudar a trazer luz sobre a relação entre Católicos e o Estado Novo e um precioso contributo para melhor compreender a Historia recente da Sociedade e da Igreja em Portugal. (Editora: Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, 2009; Foto da capa: Duarte Belo) Rui Almeida 23537b_Transformar_Jan_jun5 42 4/13/10 9:42 AM Page 16 Janeiro/Junho 2010 O mundo é… Amanhã Faleceu Manuel Serra, católico, opositor ao Estado Novo e lutador pela liberdade. Foi no passado dia 31 de Janeiro. Nascido em 1931, é na Juventude Operária Católica, aos 17 anos, que Manuel Serra toma consciência da pobreza, repressão e injustiças que o rodeiam. Fiel ao Ideal que assumiu, sendo já oficial da marinha mercante, integra-se na corrente mais extremista da campanha de Humberto Delgado para a presidência da República, em 1958, onde defende o recurso à luta armada para o derrube do regime. Na noite de 11 para 12 de Março, chefia os civis no falhado Golpe da Sé, sendo detido e levado para o Aljube onde permanece seis meses, depois de cinco dias de tortura de sono. Numa primeira fuga espectacular, sai pelo seu pé do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde se encontrava internado: vestido de padre, com roupas cedidas pelo Pe. Pio que um amigo lhe levou, e segue directamente para a embaixada de Cuba em Lisboa, onde pede asilo. Apesar de vigiado em permanência por quatro agentes da PIDE, chefiados por Rosa Casaco, estuda um novo plano de fuga, muda de visual muito rapidamente, cortando o cabelo e a barba, e aproveita uma mudança de turno para, uma vez mais, sair em pleno dia para a embaixada do Brasil, já que o seu objectivo era precisamente juntar-se a Humberto Delgado naquele país. Parte em Janeiro de 1960 e começam então os preparativos para o que viria a culminar no golpe de Beja, em 1 de Janeiro de 1962. Depois dos factos que são do conhecimento público, Manuel Serra tenta esconder-se no sul do país, mas acaba por ser detido em Tavira. Segue-se então um mês de grande violência, com tortura de sono e espancamentos, um julgamento com condenação a dez anos de prisão e longas estadias em Peniche e em Caxias. Liberto no início de 1972, é ainda detido por um curto período em Novembro de 1973. Tudo somado, são quase doze anos passados em prisões da PIDE. A seguir ao 25 de Abril, é um dos fundadores do MSP (Movimento Socialista Popular) que mais tarde se integra no Partido Socialista como grupo autónomo, mas divergências internas precipitam a sua saída, em Janeiro de 1975, para a criação da FSP (Frente Socialista Popular). No quadro deste pequeno partido, participa nas campanhas de Otelo Saraiva de Carvalho para a presidência da República. Em 1980, foi um dos fundadores da FUP (Força de Unidade Popular). Manuel Serra esteve presente, no passado dia 3 de Abril de 2009, na “Sessão Comemorativa da difusão das cartas subscritas por católicos opositores ao Estado Novo de Fevereiro e Março de 1959”, promovida pelo Forum Abel Varzim e pelo Centro Nacional de Cultura, tendo aí dado o seu testemunho e feito memória da sua experiência pessoal enquanto lutador anti-fascista. www.forumavarzim.org.pt gp Novidades no portal do Forum Um Editorial, da responsabilidade da Direcção do Forum Abel Varzim, é uma das novidades do nosso portal. O primeiro, abordando o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social e referente ao mês de Abril de 2010, pode já ser lido, e a ele se seguirão outros, com periodicidade mensal. Acompanhando o constante aumento de visitantes, vão sendo igualmente disponibilizados novos recursos e informação, não só referentes à actividade do Forum ao longo destes 14 anos (tal como Actas de Colóquios e transcrições de palestras), como também relacionados com a preservação da memória histórica recente. Exemplo disso é o conjunto de cartas subscritas por católicos opositores ao “Estado Novo” agora acessível para consulta e cópia, à distância de um clique e que, aliás, tem merecido referência em vários meios de comunicação social. Também parte da extensa obra de Abel Varzim está a ser posta “em linha”. O opúsculo, “Catolicismo e NacionalSindicalismo o”, publicado em 1933 e desde há muito inacessível, pode ser consultado e lido integralmente. Do mesmo modo, estão também disponíveis as suas principais intervenções enquanto Deputado à Assembleia Nacional, entre 1938 e 1942. Apartado 2016 • 1101-001 LISBOA • Tel: 218 861 901 [email protected] www.forumavarzim.org.pt Propriedade do Forum Abel Varzim – Desenvolvimento e Solidariedade Equipa editorial: A. Leite Garcia, António M. Soares, Artur Lemos, Cristina Monteiro, Idalina Grácio de Andrade, José do Carmo Francisco e Rui Almeida. Colaboram neste número: Fernando Castro Martins e Ruy Ventura FORUM ABEL VARZIM DESENVOLVIMENTO E SOLIDARIEDADE Os associados que pretendam efectuar o pagamento das quotas por transferência bancária, podem usar o NIB 0035-0698-00022001930-29 Depósito Legal: 190801/03 Execução Gráfica: Torreana – Indústria e Comunicação Gráfica, S.A. – Fonte Santa Torres Vedras