UMA FILOSOFIA PARA AVALIAÇÃO DOS PERIGOS DOS PROCESSOS BASEADOS EM SISTEMAS ELETRONICAMENTE PROGRAMÁVEIS Dayse Duarte Carlos Augusto Andrade The process industry has been in transition, with increasing emphasis on total quality control along with needs to meet over more stringent level of heath, safety and environmental management. Is has resulted in an increasingly use of the programmable electronic systems (i.e. PES) in the process industry of both the new and existing systems. While use of programmable electronic systems technology reduces the potential for operator error, new types of failure modes are introduced. The complexities of computerbased instrumentation system increase the likelihood of design and maintenance errors and make the detection of all latent faults very difficult, such as software faults. It should be take into account that the hazard identification and risk assessment methodologies used today are based on techniques that assume independence of failure. However, possibilities for common mode failure and covert faults are greatly increased in process control systems that make use of PES technology. This article presents a systematic, semiquantitative approach to total system safety in which modern programmable electronic monitoring and control systems are integrated with traditional administrative and engineering controls to achieve acceptable levels of risk. Key Words: Hazard, Programmable electronic systems and Engineering Method. 1. Introdução A indústria de processamento no Brasil está em transição, sobretudo no Nordeste. Talvez, devido ao processo de globalização de que somos testemunhas. Como conseqüência as nossas industrias precisam oferecer: produtos de qualidade, diminuir o número de tarefas a serem executadas manualmente na linha de produção, buscar meios de minimizar o erro humano, aumentar a disponibilidade dos equipamentos, assegurar a segurança operacional, entre outros. Essas necessidades têm sido satisfeitas devido a um tremendo avanço nos processos de monitoramento e controle, como conseqüência do advento de sensores baseados em microprocessadores. O uso de microprocessadores no monitoramento, instrumentação e controle do processo têm como resultado a automação do mesmo. No passado, por exemplo, usávamos sensores simples, hoje é comum o uso de sistemas eletronicamente programáveis – SEP. Enquanto o uso de sistemas eletronicamente programáveis reduz os possíveis erros operacionais, novos tipos de modo de falhas são introduzidos. A complexidade dos SEP aumenta a probabilidade de falhas no projeto do processo, em especial as falhas de software e dos erros de manutenção. Soma-se a isto o fato de que muitas metodologias usadas na identificação dos riscos assume uma interdependência de falhas, contudo em SEP as possibilidades de modo comum de falha aumentam consideravelmente. Visto que os SEP usam sistemas comuns de controle para o monitoramento e controle de algumas informações críticas, além de determinados equipamentos e software que são comuns a certos módulos. Este trabalho apresenta os fundamentos para o gerenciamento dos riscos do processo que utiliza sistemas eletronicamente programáveis. 2. Filosofia das camadas de proteção A melhor maneira de se ter uma operação segura é através de um processo inerentemente seguro, conforme projeto inicial. Além disto, é preciso ter em mente que mesmo após o projeto inicial ter sido submetido a mudanças de melhoramento, as quais tem por intenção mitigar os perigos, o espectrum dos riscos operacionais permanecem em uma planta de processamento. Com relação ao processo, a redução dos riscos deve iniciar-se com os elementos fundamentais do projeto, tais como: seleção do processo; localização; decisões sobre o inventário de materiais perigosos; e layout da planta. Em outras palavras, o número de materiais perigosos deve limita-se ao mínimo necessário; a tubulação deve evitar que misturas incompatíveis sejam misturadas; os vasos ou tanques devem suportar a máxima pressão de operação, inclusive em casos de situações anormais; escolha de temperaturas menores do que a temperatura de decomposição dos materiais incluídos no inventário. Logo, a escolha cuidadosa e parâmetros operacionais básicos é fundamental no projeto de um processo seguro. Infelizmente, mesmo após a aplicação desta filosofia de projeto ter sido aplicada em toda a extensão, perigos em potencial continuam presentes no processo, assim medidas adicionais são necessárias. A aplicação de múltiplas camadas de proteção em uma planta de processamento é ilustrada na Figura 1. Na Figura 1 cada camada de proteção poderá representar um grupo de equipamentos e/ou recomendações administrativas de controle. As camadas de proteção mostradas na Figura 1 estão em ordem crescente de ativação, no caso de um acidente. Depois da definição do processo, o detalhamento do projeto do processo fornece a primeira camada. A seguir, vem os controles básicos de alarme do sistema, o qual no decorrer deste trabalho será referido como CBAS. Imediatamente após temos o sistema de travamento de segurança, ou seja STS, o qual tem por finalidade proceder a ações corretivas, em caso de falha no CBAS. Proteções físicas poderão ser incorporadas, como por exemplo sistema de alívio para o caso de pressões elevadas. Se todas essas proteções falharem e ocorrer talvez um vazamento de produto ou matéria prima os diques constituirão uma camada de proteção. Por último os planos de emergências tanto no que se refere aos operários da planta quanto a comunidade. As camadas de proteção são em geral muito diferentes quanto a natureza, logo elas podem ser consideradas independentes, sobretudo se houve múltiplos procedimentos operacionais que sejam executados por diversos operadores durante uma condição anormal. A filosofia apresentada no presente trabalho recomenda que a redução dos riscos a ser alcançada em cada camada seja a menor possível de ser obtida na prática. Em outras palavras, se algum risco residual de projeto é inaceitável para uma determinada seqüência de um acidente, a busca para o controle adicional do risco deve ser considerada na camada imediatamente superior. A introdução de camadas de proteção adicionais deve ser considerada a partir de critérios de probabilidades, impacto e aceitabilidade de um determinado evento. 2 Figura 1. Camadas de proteção encontradas em processos de alto risco. 3. Avaliação dos perigos durante o ciclo de vida do sistema O principal objetivo de uma revisão dos perigos de um processo é assegurar que os sistemas e sub-sistemas, inclusive os de controle estejam conforme os critérios de segurança no decorrer do seu ciclo de vida, Figura 2. Por critérios de segurança incluímos as normas vigentes no país, as aceitas internacionalmente, bem como as constantes na política da empresa. As principais fases do ciclo de vida de um sistema são identificadas na Figura 2. Apesar do vocabulário e características possam variar dependendo da natureza do sistema, a Figura 2 representa o ciclo de vida de uma planta de processamento. A Figura 2 não tem a intenção de apresentar a extensão das atividades de cada etapa do ciclo de vida, visto que a duração de cada etapa dependerá de uma série de situações. Por outro lado, a Figura 2 deixa claro que a identificação, avaliação e gerenciamento dos riscos de uma planta devem estar refletidas no programa de planejamento, ou equivalente, como um todo. Para a maioria dos projetos o detalhamento e desenvolvimento é o produto de um grupo de especialistas. O engenheiro de processo busca enfatizar o processo e projetos de equipamentos; especialistas em instrumentação preocupam-se com o projeto e integridade dos sistema de controle. Por outro lado, na operação do processo é fundamental que o processo e o sistema de controle estejam integrados com os objetivos de operabilidade da planta, levando em consideração o controle dos perigos. Assim conforme mostrado na Figura 2, a identificação dos perigos do sistema deve ser incorporada desde as primeiras etapas do seu ciclo de vida. É recomendável que seja formada uma equipe para análise dos 3 perigos do processo – APP. O time responsável pela APP além de examinar todos os aspectos do processo ao logo do seu ciclo de vida, deve ter uma certa independência com relação a equipe encarregada do projeto. Os resultados da APP devem retro-alimentar tanto o projeto do processo como os seus respectivos sistemas de controle. Seleção canditato Concepção do Projeto Definição preliminar projeto Estratégias de controle Análise preliminar dos perigos Projeto Preliminar do Sistema P r o j e t o M a n u t e ç ã o C a p a c I d a d e s I s t e m a s u p o r t e Sim O risco é aceitável? Projeto CBAS Não Acesso/controle dos riscos Projeto do CBAS Detalhamento e Desenvolvimento do Sistema O risco é aceitável? Sim Não Avaliação sistema integrado Projeto do STS Validação do sistema Construção Não O risco é aceitável? Sim Operação Análises de risco periódicas Desativação Acesso/controle dos riscos de desativação e remoção Figura 2. Análise dos perigos do processo no ciclo de vida do sistema. A análise dos perigos do processo devem ser adaptadas para o sistema a ser desenvolvidos. Soma-se a isto a recomendação de que a APP esteja integrada com a qualidade; confiabilidade, aqui incluindo a confiabilidade humana, confiabilidade de software, a confiabilidade dos sistemas de suporte; o gerenciamento ambiental e outros. A matriz de risco, Figura 3 e as classes para avaliação de freqüências e conseqüências dos perigos identificados, Tabela 1, estabelecem parâmetros semi-qualitativos à avaliação dos parâmetros de segurança, ou seja a probabilidade e severidade de um acidente. A matriz de risco poderá ser usada para prioritizar as ações que se façam necessárias direcionadas na redução dos perigos. 4 Figura 3. Matriz do risco Tabela 1.Classes para avaliação de freqüência e conseqüência dos perigos identificados. Freqüência Elevada Mais de uma vez por mês. Média Entre uma vez por mês e uma vez por ano. Baixa Menos de uma vez por ano. Conseqüência • Perda de produção durante 24 horas ou mais. • Morte ou lesões graves em funcionários ou terceiros. • Perda de produção por um período maior do que 5 minutos e menor do que 24 horas. • Operação da área abaixo da sua capacidade nominal por um período de aproximadamente 24 horas. • Lesões de gravidade moderada ou leve em funcionários e terceiros. • Perda de produção por um período de aproximadamente 5 minutos. • Não ocorre lesões ou mortes de funcionários e terceiros. 4. Técnicas de avaliação do desempenho e segurança dos SEP A identificação das deficiências no CBAS e STS devem ter início na seleção dos equipamentos e prolongar-se até as atividades de operação, Figura 2. Se tais deficiências são identificadas no início do projeto, medidas corretivas podem ser incorporadas, reduzindo assim o impacto sobre os custo e tempo. Por outro lado, se as deficiências são identificadas nas etapas mais avançadas do projeto, quanto por exemplo o sistema já esta em funcionamento, componentes adicionais ou mesmo significantes modificações no sistema, tenderá a aumentar os custos. Deve ser ressaltado que, as técnica de análise de risco disponíveis estão sujeitas a algumas limitações e ao serem aplicadas na identificação dos riscos de SEP deve-se se ter um entendimento de suas limitações. Quando um sistema de proteção é projetado este deve ser sistematicamente revisado, tendo por intenção verificar se os requisitos de segurança foram atendidos, levando-se em consideração a dinâmica do processo e dos equipamentos de controle. Esta revisão é 5 particularmente importante quando a planta pode desloca-se de uma situação de operação normal para uma condição de perigo em um período de tempo curto. Muitas estruturas organizacionais podem ser usadas para se obter as interações necessárias afim de ser ter um sistema intrinsecamente seguro. Apesar de cada empresa ou time de projeto escolherem caminhos diferentes, que busquem assegurar a integridade e segurança no projeto é essencial a integração entre as diversas áreas, ou melhor entre os projetista, o time para APP, os engenheiro de processo, de operação, de manutenção, etc. No diagrama de fluxo apresentado na Figura 2 significantes situações de perigo necessitam ser identificadas no processo após a definição da tecnologia, afim de que os projetistas dos sistemas de controle possam levar em consideração estes perigos no desenvolvimento do projeto dos CBAS. Uma vez desenvolvido os CBAS uma revisão detalhada deve ser conduzida. Esta revisão juntamente com o subsequente controle do risco produzirá uma importante documentação de segurança, a qual incluirá: a) sistemas específicos de alarme e inter-travamento que deverão ser incluídos no STS e b) definição do grau de integridade necessária para a implementação do sistema de STS. Por exemplo, durante um HAZOP ou outra técnica de identificação de perigo, como conseqüência dos cenários de falhas, talvez seja necessário camada de proteção adicional para a redução da probabilidade de um evento considerado inaceitável. A definição do que é aceitável é uma decisão que esta implícita em algumas regulamentações, porém ela é sobretudo uma prerrogativa e responsabilidade da empresa. Cada empresa deve estabelecer o que considera aceitável, no que se refere aos riscos. Tal consideração deve fazer parte de sua política de segurança e meio ambiente, uma vez que a materialização de determinados eventos produzirá um significante impacto além dos limites da planta. A definição destas políticas será fundamental no desenvolvimento dos trabalhos a serem realizados pelo time de APP. Pois o time de APP terá condições para agrupar os possíveis acidentes, conforme a severidade do impacto e como resultado fornecer uma seqüência de falha em cada nível de impacto estabelecido. Suponha que o time de APP esteja conduzindo uma análise de árvore de falhas, a categoria de impacto poderá ser o evento topo, a partir do qual a arvore será desenvolvida. A análise através da árvore das falhas mostra uma seqüência lógica de falhas independentes a qual conduzirá ao evento topo. A seqüência de falha também poderá ser identificada por outros procedimentos equivalentes. Uma das limitações da árvore de falhas é que os “galhos” da árvore devem ser independentes e isto torna-se uma limitação inaceitável na identificação dos perigos de SEP. Pois os módulos dos SEP possuem, muitas vezes, equipamento e software comuns. Uma outra limitação da árvore das falhas é a inerente dificuldade de enquadrar os eventos no tempo. Esta dificuldade já não esta presente na árvore dos eventos. Por outro lado, a árvore dos eventos apresenta dificuldades na visualização de possíveis eventos que possam conduzir a um acidente. Logo, um método que incorpore as vantagens da árvore das falhas e dos eventos se faz necessário. Os diagramas lógicos do Método de Engenharia combina os atributos positivos da árvore da falhas e dos eventos. O Método de Engenharia vem sendo desenvolvido pelo professor Robert Fitzgerald, ao longo dos últimos 30 anos. Apesar de ser esperado que o Método sofra contínuas modificações fim de que possa refletir os novos desenvolvimentos, o mesmo já atingiu um grau de maturidade. Muitos profissionais da indústria da construção civil já o adotaram nos 6 Estados Unidos, Canada, Reino Unido e Suíça. Nossa experiência em usar o Método na industria química e elétrica tem nos mostrado que o Método de Engenharia é uma maneira de pensar que nos ajuda a entender o processo, bem como a nos comunicar com profissionais de outras áreas a respeito do que pode dar errado no processo. Em outras palavras, uma corrente deve ser avaliada pelo seu elo mais fraco, a estrutura lógica do Método de Engenharia nos permite ver e comunicar, quais são os elos fracos do processo. A Figura 4 mostra um dos diagramas do Método para o caso de um incêndio. Uma das vantagens das “networks” do Método é o claro entendimento das dependências e interrelações dos eventos . O que é de fundamental importância na identificação dos SEPs. 1 2 ! !" 2 1 !, !" #$ % &'() *+, -! 57698.:'69: ; <=?> @ 9 ; A : 2 1 % % B ; :4C.D):'EF6 D HJ> :'E ;9K 6 G I 34" ! 2 1/0 (. /0 Figura 4. Continue value network (i.e. diagrama lógico do Método de Engenharia). 5. Conclusões A identificação dos perigos, desde as etapas iniciais do projeto, e o seu impacto no decorrer do ciclo de vida do processo devem ser considerados no projeto, operação e manutenção dos CBAS, STS e demais camadas de proteção. A identificação dos riscos deve também ser capaz de prever falhas no sistema de suporte, tais como treinamento, fornecedores, entre outros. Como resultado as técnicas de identificação de perigos a serem usadas em SEP devem ser capazes de mostra a interdependências das falhas. Porém o BPCS e o SIS devem ter funções independentes. A identificação e discussão sobre os perigos do processo é de particular importância para sistemas complexos. Se há vários grupos de análise dos perigos do processo - APP estes devem somar os seus esforços, desde as primeiras etapas do ciclo de vida do mesmo. Deve ser estabelecido qual a intenção dos CBAS e STS bem os seus possíveis desvios. 7 Informações sobre os “sotfwares” devem ser claramente documentadas. Pois se os programadores envolvidos foram por algum motivo qualquer afastados, não haverá perda do conhecimento e experiência já adquiridos. Vale ressaltar que, muitos acidentes têm ocorridos não porque o conhecimento não esteja disponível, mas porque este não foi usado de forma apropriada. A complexidade, a interdependência e os modos de falha dos SEPs são diferentes de outros sistemas convencionais de monitoramento e controle. Como resultado, um programa formal para o gerenciamento das mudanças deve ser implementado; tão logo a validação do último componente do sistema seja concluída. Pois mudanças nos SEPs, em especial nos CBAS e STS, facilmente introduzem novos perigos sem que estes sejam percebidos. Bibliografia • • • • • • Robert Fitzgerald (1998). The Building Anatomy to be published. Duarte, D. (1997). Identificação e análise dos principais riscos da área de secagem térmica da Petroflex- Unidade Cabo. Universidade Federal de Pernambuco. Brasil. Duarte (1998). Identificação dos perigos associado ao compensador síncrono da SE/CMD 500Kv da CHESF. Universidade Federal de Pernambuco. Brasil. American Institute of Chemical Engineers (1993). Guidelines for safe automation of chemical process. AIChE. New York. Sankaran, N. (1993). Management of change – The systematic use of hazard evaluation procedures and audits. Process Safety Progress, 12-3; 181 –192. Turner, B. A. (1978). Man-made disaster. Taylor and Francis. London. 8