FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA
SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE
MONICA VIEIRA PORTUGAL DE CARVALHO
O DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL DA CRIANÇA DE 0 À 1
ANO: ORIENTAÇÕES PARA PAIS E CUIDADORES
VOLTA REDONDA
2011
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA
SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE
O DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL DA CRIANÇA DE 0 À 1
ANO: ORIENTAÇÕES PARA PAIS E CUIDADORES
Dissertação apresentada ao curso de
Mestrado em Ciências da Saúde e Meio
Ambiente do UniFOA, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre.
Aluna:
Mônica Vieira Portugal de Carvalho
Orientadora:
Profª. Dra. Maria Auxiliadora Motta Barreto
Volta Redonda
2011
Dedico essa Dissertação à minha família que
me incentivou durante toda sua realização.
A todos os professores do Mestrado,
principalmente à minha orientadora Profª.
Dra. Maria Auxiliadora Motta Barreto, por
sua competência durante toda pesquisa.
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo fundamentar a elaboração de uma Cartilha
sobre o Desenvolvimento Motor Normal da criança de zero a um ano de idade, e
orientações de como identificar precocemente possíveis alterações, direcionada a
pais e profissionais da saúde. Contém informações sobre o desenvolvimento motor
normal e seu desenvolvimento. A partir do nascimento, o recém nascido é exposto a
uma série de estímulos novos, como o roçar das roupas na pele, o frio e o calor, o
desconforto da fome, das cólicas e a necessidade de manter uma postura que o leve
a vencer a força da gravidade, por exemplo. Isto faz com que o individuo supere
constantemente as dificuldades que se apresentam, e exige uma adaptação
possibilitada pela maturação do sistema nervoso central. As etapas do
desenvolvimento não são estáticas e a sequência das aquisições motoras são
interligadas, sendo cada etapa preparatória das subsequentes. Com isso, pode-se
afirmar que no primeiro ano de vida as aquisições nas áreas sensoriomotoras e
psicoafetivas, são a base da relação da criança com o mundo e ocorrem de forma
intensa neste período. A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica com
captação de publicações através de bancos de dados científicos eletrônicos, além
de livros voltados à área de pediatria e neuropediatria. O resultado deste estudo foi a
produção da cartilha sobre o desenvolvimento motor normal, contendo informações
sobre posturas saudáveis, ambiente favorável, e dicas para a percepção de
possíveis alterações no desenvolvimento motor.
Palavras-chave: Atividade motora. Desempenho psicomotor. Prevenção e controle.
Relações professional/família.
ABSTRACT
This study aimed to support the preparation of a booklet on the normal motor
development of children from zero to one year of age, and guidelines for early
identification of possible changes, aimed at parents and health professionals.
Contains information on motor development and normal development. From birth, the
newborn is exposed to a series of novel stimuli, such as the rubbing of clothing on
the skin, cold and heat, the discomfort of hunger, colic and the need to maintain a
posture that causes you to overcome the force of gravity, for example. This causes
the individual to overcome the difficulties that are constantly present, and requires an
adaptation made possible by the maturation of the central nervous system. The
stages of development are not static and sequence of motor skills are interrelated,
each of the subsequent preparatory stage. Thus, one can say that in the first year of
life purchases psychoaffective and sensorimotor areas, are the basis of the child's
relationship with the world and occur intensively during this period. The methodology
used was to capture bibliographic publications through electronic scientific
databases, and books focused on the area of pediatrics and neuropediatrics. The
result of this study was the production of primer on the normal motor development,
containing information about healthy attitudes, environment, and tips for the
perception of possible changes in motor development
Key words: Motor activity. Psychomotor performance. Prevention and control.
Professional relationships/family.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................
11
2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 13
2.1 DESENVOLVIMENTO MOTOR ...................................................................
13
2.2 PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR ................................................................... 18
2.2.1 O Recém-nascido e o lactente: 0 a 2 anos ................................................ 18
2.2.2 Maturação do SNC ....................................................................................
19
2.2.3 A coordenação dos Reflexos ..................................................................... 21
2.3 DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL NO PRIMEIRO ANO DE VIDA . 35
2.3.1 O neonato de 0-10 dias .............................................................................
37
2.3.2 Primeiro mês .............................................................................................. 38
2.3.3 Segundo mês ............................................................................................. 39
2.3.4 Terceiro mês .............................................................................................. 40
2.3.5 Quarto mês ...............................................................................................
41
2.3.6 Quinto mês ................................................................................................
43
2.3.7 Sexto mês .................................................................................................. 44
2.3.8 Sétimo mês ................................................................................................ 46
2.3.9 Oitavo mês ................................................................................................. 47
2.3.10 Nono mês ................................................................................................
47
2.3.11 Décimo mês ............................................................................................. 47
2.3.12 Décimo primeiro e Décimo segundo mês ................................................ 49
2.3.13 Sinais de possíveis atrasos: primeiro ano de vida ............................
50
3 METODOLOGIA .............................................................................................. 53
4 O PRODUTO ................................................................................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................
68
REFERÊNCIAS ..................................................................................................
69
LISTA DE SIGLAS
RN
Recém Nascido
RTCA
Reflexo Tônico-Cervical Assimétrico
RTL
Reflexo Tônico Labiríntico
RTCS
Reflexo Tônico Cervical Simétrico
SNC
Sistema Nervoso Central
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Reação de Moro ..............................................................................
22
FIGURA 2 Reflexo tônico-nucal assimétrico ou Magno de Kleijn .....................
24
FIGURA 3 Reflexo tônico-cervical inverso em decúbito ventral ........................
24
FIGURA 4 Retificação cefálica e extensão corporal .........................................
26
FIGURA 5 Reflexo de Landau ...........................................................................
26
FIGURA 6 Reflexo mão-boca de Babkin: atitude inicial ....................................
27
FIGURA 7 Reflexo mão-boca de Babkin: atitude inicial.....................................
27
FIGURA 8 Reflexos de busca: atitude inicial e estimulação .............................
28
FIGURA 9 Reflexos de busca: resposta bucal e rotação cefálica ....................
28
FIGURA 10 Reflexos de busca: resposta bucal e extensão cefálica ................
29
FIGURA 11 Reflexos de encurvamento do tronco ............................................
29
FIGURA 12 Reflexos de encurvamento do tronco – Reação de Galant ...........
30
FIGURA 13 Reflexos de preensão plantar ........................................................
30
FIGURA 14 Reflexo de preensão palmar ..........................................................
31
FIGURA 15 Reflexo de Marcha .........................................................................
31
FIGURA 16 Suporte positivo .............................................................................
32
FIGURA 17 Reflexo postural labiríntico ............................................................
33
FIGURA 18 Reação postural cervical ...............................................................
34
FIGURA 19 Reação automática. .......................................................................
38
FIGURA 20 Levantar a criança da posição dorsal ............................................
38
FIGURA 21 Posição ventral ..............................................................................
39
FIGURA 22 Posição ventral ..............................................................................
40
FIGURA 23 P quarto mês .................................................................................
42
FIGURA 24 Conhecimento do corpo: palpação dos pés ..................................
44
FIGURA 25 Conhecimento do corpo: o lactente leva os pés à boca ................
44
FIGURA 26 O sexto mês ...................................................................................
45
FIGURA 27 Posição decúbito ventral (prono) ...................................................
46
FIGURA 28 Engatinhar .....................................................................................
48
FIGURA 29 Ficar em pé e andar .......................................................................
50
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Sinais de possíveis atrasos no desenvolvimento da criança........
51
1
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento motor normal é acompanhado de processos de
crescimento, maturação e aquisição da competência e reorganização psicológica.
Esses processos permitem à criança adquirir novas habilidades no domínio motor
grosseiro e fino, cognitivo e emocional.
O desenvolvimento motor pode promover impacto no desenvolvimento
social, emocional e cognitivo. Portanto, não devemos ficar surpresos ou
confusos quando crianças desenvolverem habilidade motora em razões
diferentes com modelos e movimento (ALEXANDRE E BOEHEME 1993,
p.10).
De acordo com Mafra e Pereira (2007) vários estudos apontam para a
identificação precoce das alterações no desenvolvimento da criança e/ou
indicadores de risco seja ela orgânica ou ambiental como forma de intervenção
oportuna. A Política Nacional de Prevenção de Deficiências (BRASIL, 2010)
descreve que prevenir implica em realizar ações que impeçam a ocorrência de fatos
ou fenômenos prejudiciais à vida e à saúde e, caso ocorram, evitar a progressão de
seus efeitos. Assim, quanto mais ações preventivas, menores as alterações no
desenvolvimento natural e as chaves de risco biopsicossocial para a criança
(PEREZ & PEREZ, 1992).
Segundo Willians & Aiello (2001) nos últimos anos, tem-se observado na
literatura estrangeira, uma ênfase cada vez maior na importância do envolvimento
da família para o reconhecimento do indivíduo.
Formiga et al. (2004) destacam o papel exercido pela figura materna no
ambiente familiar e no desenvolvimento da criança, atuando como facilitadora e
promotora do desenvolvimento infantil, em especial nesse estudo, o motor.
Nesse contexto é de fundamental importância que os pais e cuidadores
tenham o conhecimento das etapas do desenvolvimento motor normal no primeiro
ano de vida das crianças, com objetivo de acompanhar, estimular e perceber
12
precocemente qualquer alteração. É necessário que saibam que as etapas de
evolução motora não são estáticas e a sequência das aquisições motoras são
interligadas podendo melhorar e adequar a qualidade da movimentação que a
criança já possui.
A partir de tais considerações realizamos uma extensa pesquisa
bibliográfica sobre o desenvolvimento motor normal da criança de zero a um ano de
idade identificando as principais aquisições motoras dentro de cada mês e os sinais
de alerta no seu desenvolvimento.
Nessa investigação o objetivo geral foi construir uma cartilha contendo as
etapas do desenvolvimento motor normal de crianças de 0 a 1 ano de idade. Para
complementar, selecionaram-se como objetivos específicos:

Descrever os elementos essenciais para a estimulação ambiental de crianças de
0 a 1 ano de idade;

Apontar os sinais de alerta para o atraso no desenvolvimento motor e suas
respectivas possibilidades de intervenção precoce.
Desse modo, a elaboração do produto dessa investigação, a Cartilha, terá
como público alvo pais e cuidadores; acadêmicos; profissionais da área da saúde;
podendo também se estender para estabelecimentos como Creches; Escolas;
Clínicas e Maternidades públicas e privadas, contribuindo para orientações
importantes sobre o desenvolvimento motor normal e cuidados básicos com a
criança.
13
2
REVISÃO DE LITERATURA
2.1 DESENVOLVIMENTO MOTOR
O desenvolvimento humano é um processo que ocorre durante toda vida
e resulta de uma inter-relação complexa de fatores biológicos, psicológicos, culturais
e ambientais. É definido como “mudanças que acontecem na vida de um indivíduo
desde a concepção até a morte” (SHORT, 1988, p.8).
Segundo Schwartzman (2007) o desenvolvimento físico normal é
caracterizado pela maturação gradual do controle postural pelo desaparecimento
dos reflexos primitivos, em torno de 4 a 6 meses de idade, como o reflexo de moro;
o reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA); o reflexo de galant; os reflexos
plantares; os reflexos orais e pela indução das reações posturais (retificação e
equilíbrio). Em uma avaliação dos reflexos primitivos torna-se relevante observar
que, mesmo quando presentes na idade esperada, deve-se avaliar se a sua
intensidade é adequada para aquela fase. De modo geral, estes reflexos primitivos
estarão presentes durante os primeiros seis meses de vida, e serão paulatinamente
inibidos, na medida em que padrões de endireitamento e de equilíbrio forem
surgindo.
Haywood (1986) refere-se a desenvolvimento motor como processo
gradativo de refinamento e integração das habilidades e dos princípios biomecânicos
do movimento, de modo que o resultado seja um comportamento motor consistente
e eficaz. A eficácia é alcançada na prática de um comportamento.
Oliveira (2008), citando Willians e cols., afirma que algumas diferenças
em relação ao desenvolvimento são devidas a características hereditárias, enquanto
outras resultam de diferenças na maturação do sistema nervoso e fisiológico. As
diferenças no desempenho dependem muitas vezes do nível e da eficiência dos
sistemas de feedback sensitivo motor.
14
Segundo Ayres (1995) os movimentos dependem de feedback eficaz para
serem eficientes. É importante ressaltar que, apesar de algumas respostas estarem
presentes desde o nascimento, nem todos os indivíduos adquirem as mesmas
habilidades motoras à mesma idade cronológica.
Segundo Prado (2001) as etapas do desenvolvimento não são estáticas e
a frequência das aquisições motoras são encadeadas, sendo cada uma preparatória
das
subsequentes.
As
idades
em que
são
alcançados
os
marcos
do
desenvolvimento são utilizados como dados estatísticos e servem como guias para o
reconhecimento dos desvios da normalidade.
De acordo com Schwartzman (2007) o desenvolvimento refere-se ao
conjunto de alterações mais ou menos contínuas na vida de um organismo.
Obedece a uma certa sequência progressiva e irreversível, em condições normais,
que pode ocorrer ao nível molecular, funcional ou comportamental.
Essas modificações se dão em idades dependentes e consistem de
alterações quantitativas e qualitativas, tendo características que permitem a
identificação de certas etapas previsíveis para os organismos de certa espécie.
Segundo Shepherd (2002) o crescimento e o desenvolvimento não
dependem apenas dos processos de maturação determinados pelo código genético.
São oriundos também, da experiência da criança e das suas oportunidades de
interação com o meio ambiente, ficando evidente que uma das características do
desenvolvimento motor normal é a sua grande variabilidade.
Conforme descreve Béziers & Hunsinger (1994) através dos movimentos
a criança percebe as diferentes sensações: motoras, orgânicas, sensoriais e
afetivas. Desse modo, quando tiver percebido o movimento como um todo e quando
for capaz de reproduzi-lo voluntariamente, a criança reviverá as sensações que
experimentou e que percebeu anteriormente.
A teoria maturacional do crescimento e desenvolvimento de Gessel
(1997) enfatiza os componentes físicos e motores do comportamento humano.
Joavigevest (1972, apud BURNS & MaC DONALD, 1999) consideram o
desenvolvimento como uma interação entre forças biológicas, sociais e culturais,
15
pelos quais os indivíduos estão continuamente aumentando suas habilidades para
funcionar efetivamente na sociedade.
A teoria psicossocial de Erickson (1976) refere-se a experiências
corporais que fornecem a base para um estado psicológico de “confiança versus
falta de confiança”. O bebê aprende a confiar na “mãe”, em si mesmo e no ambiente,
pela percepção materna de suas necessidades e exigências. A confiança mútua e o
desejo de enfrentar as situações juntos, ficam estabelecidos entre a mãe e a
criança. Nessa fase, o movimento é um relacionamento recíproco. O embalar
rítmico, o ato de banhar e as brincadeiras gerais fornecem um meio natural, com
movimento para estabelecer um sentimento de confiança.
Já segundo Piaget (1975), anterior a Erickson e a Gessell, o
desenvolvimento cognitivo ocorre pelo processo em que o indivíduo se ajusta às
condições ambientais. Para ele a acomodação é a adaptação que a criança deve
fazer ao meio ambiente quanto às informações novas e assimilação é a
interpretação de novas informações. Se essas informações não puderem ser
incorporadas, ocorrerá acomodação. O desenvolvimento da capacidade cognitiva se
dá numa sequência fixa de estágios qualitativamente diferentes e inclui, também, o
conceito de equilíbrio. O mecanismo de formação para o conhecimento se divide em
assimilação e acomodação. Quando o desequilíbrio é produzido pela experiência
nova, um novo equilíbrio é alcançado em nível mais alto de organização cognitiva.
Nessa condição, o desequilíbrio é necessário para o desenvolvimento. Assim as
novidades atraem as crianças, mas, se a dissonância cognitiva1 for grande se
sentirão frustradas e não alcançarão novo equilíbrio.
A partir da análise das teorias do crescimento e desenvolvimento
podemos determinar que o movimento baseia-se na percepção sensoriomotora. A
senso motricidade pode ser compreendida como o sistema regulador do externo e
percepção mediante conexões entre a pele (tátil), os tendões, os músculos, as
articulações, os ossos e o aparelho vestibular. Todos estes sentidos externos têm
relação com a estimulação ambiental e a criação que esta gera na criança.
1
Dissonância na aquisição do conhecimento.
16
Piaget (1975) fala da inteligência sensoriomotora condicionada pelo
componente hereditário da criança e da inter-relação da carga genética com o
ambiente da criança, pela utilização progressiva da experiência adquirida. Piaget
sempre destaca que o desenvolvimento mental do lactente e da criança pequena,
durante os primeiros 18 meses, depende da capacidade de mover-se normalmente.
O desenvolvimento motor normal tem repercussões sobre o ambiente e o estímulo,
e é dividido em períodos de acordo com o aparecimento das qualidades. Todos os
indivíduos passam por estas fases ou períodos, porém, o início e o término de cada
uma delas dependem das características biológicas e de fatores educacionais e
sociais. A divisão dessas faixas serve como referência e não como norma rígida.
Para Piaget (1975) no estágio sensório-motor, o bebê apresenta
comportamento inteligente, percebendo o ambiente e agindo sobre ele.
Segundo Saccani & Valentini (2010) as aquisições e o desenvolvimento
de habilidades motoras ocorrem com ritmos diferenciados entre os indivíduos,
observando-se grande variabilidade entre desempenhos ainda na primeira infância,
a qual é decorrente da maturação neurológica, das especificidades da tarefa e
oportunidades do ambiente.
Lopes et al. (2010) complementam que esse estágio se subdivide cinco
etapas: uso de reflexos; reação circular primária; reação circular secundária;
coordenação de esquemas secundários; e reação circular terciária.
A seguir, iremos descrever estas etapas de modo pormenorizado:

Uso de Reflexos
A criança exerce os reflexos durante o primeiro mês de vida. Depois ela
coordena reflexos e reações, surgindo além dos reflexos instintivos, como por
exemplo, a sucção, as primeiras tendências imitativas. Esse período tem duração do
zero aos dois meses. Os reflexos motores e sensoriais inatos (sucção, preensão,
acompanhamento visual) são utilizados para interagir e se acomodar com o mundo
exterior.
17

Reação Circular Primária
A criança coordena as atividades do próprio corpo e dos cinco sentidos,
como sugar o dedo, brincar com a língua etc. A realidade permanece subjetiva; não
procura estímulos fora do ambiente; mostra curiosidade e imitação. Esse período se
inicia com poucas semanas de vida e vai até o quarto mês. Nessa etapa acontece a
assimilação. O fato primitivo geralmente é admitido como o mais elementar da vida
psíquica: a repetição. O bebê tende a repetir, quando algum comportamento tem
resultado interessante. Inicia-se a organização da visualização, na qual a criança
segue com os olhos os objetos que passam por ela. A fonação e a audição
manifestam-se desde o nascimento. Os sons percebidos e produzidos apresentam
uma organização interna. Tal como a boca, o olho e o ouvido, a mão é um dos
instrumentos mais essenciais de que se vai servir a inteligência uma vez constituída.
A conquista definitiva dos mecanismos de preensão marca o início das condutas
complexas que caracterizam as formas de ação intencional.

Reação Circular Secundária
O bebê procura por novos estímulos no ambiente; começa a prever as
conseqüências do próprio comportamento, agindo propositadamente a fim de
modificar o mesmo; início do comportamento intencional. Os movimentos centram-se
num resultado produzido no meio exterior e a ação tem como objetivo manter esse
resultado. A originalidade das reações circulares do presente estágio é que
constituem as manifestações intelectuais mais avançadas de que a criança é capaz,
depois passarão a ter uma posição cada vez mais derivada. A duração desse
estágio é do quarto ao sexto mês.

Coordenação de Esquemas Secundários
Esse estágio tem duração do sétimo ao décimo segundo mês. A criança
mostra os sinais preliminares da constância de objeto; possui uma vaga idéia de que
18
os objetos têm uma existência independentemente dele próprio; e imita
comportamentos novos.

Reação Circular Terciária
O bebê procura novas experiências e produz novos conhecimentos. A
descoberta de novos meios por experimentação ativa é utilizada pela criança para a
solução de novos problemas. Ela começa a experimentar ao invés de repetir as
experiências; diferencia o eu e o objeto, e esse de um ato ou ação. Há a formação
de estruturas através de deslocamento de objetos, de posições e de relações
causais ligados à ação.
2.2 PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR
2.2.1 O Recém-nascido e o lactente: 0 a 2 anos
Neste período, a criança conquista, através da percepção e dos
movimentos, todo o universo que a cerca. No recém nascido (RN) a vida mental
reduz-se ao exercício dos aparelhos reflexos, de caráter hereditário, como a sucção.
Esses reflexos, apesar de inatos, melhoram com o treino: o bebê mama melhor no
10º dia de vida do que no 2º, por exemplo. Por volta dos 5 meses, a criança
consegue coordenar os movimentos das mãos e olhos, e pegar objetos.
No final do período, a criança é capaz de usar um instrumento como meio
para atingir um objeto. Descobre que se puxar a toalha, o biscoito ficará mais
próximo para pegar, utilizando a inteligência prática, ou sensório-motora que envolve
a percepção e vários movimentos.
Fica evidente que o desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico
permite a emergência de novas habilidades, como sentar-se e andar. Ocorre uma
19
diferenciação entre o “eu” e o mundo exterior, que até então era continuação do
próprio corpo. Isto permite que a criança, por volta de 12 meses, admita que um
objeto, mesmo que não esteja no seu campo visual, continue a existir.
Segundo Vigotski (1984, apud BOCK et al., 1993) por volta dos 24 meses,
a criança evolui de uma atitude passiva em relação ao ambiente e pessoas, para
uma atitude ativa e participativa.
Nessa ótica o desenvolvimento infantil é visto sob três aspectos:
instrumental, cultural e histórico.
O instrumental aponta que o ser humano não responde apenas ao
estímulo apresentado no ambiente, mas a altera e usa suas modificações como um
instrumento do comportamento. O cultural envolve os meios socialmente
estruturados, pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em
crescimento enfrenta. O elemento histórico funde-se com o cultural, pois os
instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio
comportamento foram criados e modificados, ao longo da história.
O desenvolvimento das crianças está alicerçado sobre o plano das
interações. Desde o seu nascimento, os adultos procuram incorporá-las à suas
relações e culturas. Segundo Vigotski (1984, apud BOCK et al., 1993) o gesto da
criança é criado justamente na interação, pois todos os movimentos e expressões
verbais no início da vida afetam o adulto, que os interpreta e devolve à criança, com
ação e ou com a fala.
2.2.2 Maturação do SNC
Segundo Nuessen (1978, apud BARROS, 1997) entende-se por
maturação:
(...) o desenvolvimento do organismo como função do tempo ou da idade;
refere-se a transformações neurofisiológicas e bioquímicas que tem lugar
desde a concepção até à morte (p.27).
20
De acordo com Piaget (1975), a maturação do SNC é
(...) a expansão do esquema reflexo pela incorporação de um novo
elemento que determina a formação de um esquema de ordem superior, o
hábito, no qual se integra o esquema inferior, o reflexo. A assimilação de um
novo elemento a um esquema anterior implica consequentemente na
integração deste ultimo ao esquema superior (p. 87).
Shepherd (2002) achava que o marco do desenvolvimento motor ocorria
dentro de uma sequência invariável do desenvolvimento neurológico. O padrão de
desenvolvimento era quase o mesmo em todo bebê, mas existia diferença individual
na velocidade da maturação, ou seja, a ordem em que as crianças passam de um
estágio ao outro é semelhante, mas varia a idade em que alcançam os estágios.
Segundo Roberton (1978 apud Shepherd, 2002) embora a capacidade de
executar determinados movimentos surja devido à maturação do sistema, não
significa obrigatoriamente que um ato precoce favorece, de alguma maneira, a
aquisição de outro ato motor.
No desenvolvimento motor, a maturação tanto na vida pré-natal quanto
após o nascimento, segue duas tendências ou direções: direção céfalo-caudal ou
craniocaudal, onde o controle da cabeça precederia ao do tronco e direção próximo
distal, onde o desenvolvimento se processa de dentro para fora. Ou seja, as partes
centrais do corpo amadurecem mais cedo (tronco e ombro) antes dos braços e pés
(periferia) e, por último, há controle das mãos e dedos. Isso revela que os primeiros
movimentos dos bebês são globais (movimentos grosseiros) e indiferenciados. Só
mais tarde realizam movimentos com habilidades finas.
Segundo Brodley (1990, apud SHEPHERD, 2002) o indivíduo é capaz de
iniciar um movimento complicado antes da época prevista desde que preenchidas
determinadas condições que abrangem desde a maneira de criar o bebê a seu
manuseio.
A concepção de desenvolvimento motor, atualmente, focaliza a
biomecânica nos diversos grupos etários e em circunstâncias diferentes (ZENICHE
& SCHERIDER, 1993). Os reflexos neonatais são considerados como uma forma
imatura de comportamento motor, a qual irá se aperfeiçoar à medida em que a
21
criança se locomove e interage com o meio ambiente. Antes era de opinião comum
que
os
reflexos
neonatais
(primitivos)
deveriam
sofrer
inibição,
para
o
comportamento moderno acontecer.
Todo desenvolvimento motor realiza-se sempre sob uma ideal adaptação
aos estímulos externos. O organismo e meio ambiente são dependentes um do
outro. Para Schilling (1970) a capacidade motora ou o estado motor evolutivo é
sempre ambiente dependente.
2.2.3 A coordenação dos Reflexos
Os reflexos são as primeiras formas do desenvolvimento humano, e nos
esclarecem a diferenciação entre o processo de desenvolvimento motor normal e
anormal.
Os reflexos são reações automáticas desencadeadas por estímulos, que
tendem a favorecer a adequação do individuo ao ambiente. As respostas reflexas
dependem das necessidades fisiológicas, do momento em que são solicitadas, do
estado emocional da criança e do contexto ambiental (BARROS, 1997).
As reações involuntárias resultam de alterações na pressão, visão, sons e
estímulo tátil. Tais estímulos formam uma base para o estágio de reunião para
informações, ou estágio de codificação. Nesse estágio da vida da criança, os
reflexos servem como equipamento primário para reunião de informações, que são
armazenadas no córtex em desenvolvimento.
Os comportamentos reflexos infantis atuam como fonte primária de
informações no período neonatal, tendo como funções principais de sobrevivência a
busca de alimentação e de proteção.
É comum suspeitar-se de disfunção neurológica quando um reflexo
estiver ausente, irregular ou desigual em força. A ausência de movimentos reflexivos
normais ou a continuação prolongada de vários reflexos podem sugerir dano
neurológico. No entanto, um reflexo que perdure por tempo demasiado é de grande
22
importância, se comparado à sua ausência completa. Outra evidência que pode
sugerir lesão é um reflexo exacerbado ou fraco demais; um reflexo que provoque
uma forte reação na metade do corpo em relação ao outro, também pode indicar
uma disfunção no sistema nervoso central (GALLAHUE & OZMUN, 2003).
Sobre o gerenciamento dos estímulos do SNC, Bobath & Bobath (1989)
ressaltam que,
(...) ele age como um órgão coordenador para a grande maioria dos
estímulos sensoriais recebidos, produzindo respostas motoras integradas,
adequadas às necessidades do meio ambiente. Os músculos estão
agrupados em padrões de ações coordenadas, alguns contraindo e outros
relaxando (p.07)
Gallahue & Ozmun (2003) classificaram os reflexos como primitivos e
posturais. Os reflexos primitivos estão intimamente associados à obtenção de
alimento e à proteção do bebê, aparecendo primeiramente na vida fetal e persistindo
durante todo o primeiro ano de vida. Já os reflexos posturais fazem lembrar
movimentos voluntários posteriores, pois fornecem automaticamente a manutenção
de uma posição ereta para um indivíduo em relação ao seu ambiente, sendo
encontrados em todos os bebês normais nos primeiros meses pós-natais, podendo,
em alguns casos, persistir no primeiro ano de vida. Tipos mais comuns de reflexos
humanos:
a) Reflexo de Moro: É uma reação corporal maciça, que tem a particularidade de
induzir uma brusca extensão da cabeça, alterando sua relação com o tronco.
Consiste na extensão, abdução e elevação de ambos os membros superiores,
seguida de retorno à habitual atitude flexora em adução. Foi descrito por André
Thomas como “reflexo de braços em cruz” (Figura 1).
Figura 1 Reação de Moro.
Fonte: Flehmig (2002, p.28).
23
A literatura indica o decurso do quarto mês como a idade habitual de sua
extinção; o Moro inferior persiste algumas semanas após a extinção do Moro
superior, o que constitui mais um dado aos exemplos que assinalam o sentido
céfalo-caudal da maturação. Nas crianças que crescem em ambientes estimulantes,
seu desaparecimento se acelera. Enquanto persiste durante longos meses quando a
exercitação postural é escassa, como aponta Alvarez (CORIAT, 2001).
Segundo Coriat (2001) o reflexo de Moro desencadeia-se sempre no
decurso de um sobressalto, de uma reação tônica brusca, consecutiva a um
estímulo nociceptivo2. Pode ser considerado uma reação defensiva que tende para
uma melhor adequação do corpo no espaço, assim que se altere o equilíbrio numa
posição determinada.
b) Reflexo Tônico-Cervical Assimétrico (RTCA): Trata-se de um reflexo postural
desencadeado por mudanças na posição da cabeça em relação ao tronco, de
grande importância para o desenvolvimento do conhecimento corporal e sua
situação no espaço.
O RTCA resulta da tendência em manter a cabeça voltada para um dos
lados no decúbito ventral ou dorsal. A assimetria postural cefálica provoca
mudanças tônicas assimétricas nos músculos do pescoço, que são percebidas pelas
terminações proprioceptivas correspondentes às raízes posteriores dos três
primeiros nervos cervicais. Deles parte a via aferente até centros subcorticais ligados
ao labirinto. A resposta motora que fecha o arco reflexo determina a extensão dos
membros para os quais se orienta a face, membros mandibulares, e a reflexão dos
opostos, membros nucais (Figura 2), sendo normal do primeiro ao terceiro mês de
vida (FLEMIGH, 2002).
Esse reflexo é uma resposta ligada a atividades extensoras da cervical e
cintura escapular, portanto sua persistência pode dificultar o uso das mãos na linha
média, entre outras dificuldades de movimentação, sendo comum em pacientes
neuropatas, hipertônicos e de tônus flutuante (MAFRA & PEREIRA, 2007).
2
Reflexos que provém de estímulos dolorosos.
24
Figura 2 Reflexo tônico-nucal assimétrico ou Magno de Kleijn.
Fonte: Flehmig (2002, p.21).
O RTCA nem sempre se apresenta completo podendo apresentar
somente o desvio lateral da cabeça, mantendo os membros superiores simétricos
em flexão. No decúbito ventral o reflexo tônico cervical se expressa com atitude
inversa dos membros: flexionados os faciais e estendidos os nucais chamado de
atitude de esgrimista (Figura 3).
Figura 3 Reflexo tônico-cervical inverso em decúbito ventral.
Fonte: Coriat (2001, p.41).
A persistência de atitude de esgrimista, rígida e estereotipada, mesmo na
idade em que sua presença é fisiológica, sugere patologia, geralmente lesão
cerebral; ao contrário, sua ausência se observa em alterações congênitas do
sistema nervoso, como na maioria dos lactentes afetados pela síndrome de Down
(CORIAT, 2001).
25
A atitude rotada da cabeça permite ao bebê ver as grades de seu berço,
as paredes do quarto e o ajuntamento de móveis e pessoas no ambiente onde se
encontra. Dentre esses objetos irá percebendo, de forma diferenciada, aqueles que
atuam como estímulos específicos. O rosto da mãe será rapidamente reconhecido.
Outro objeto possível de ser percebido distintamente é sua própria mão. De fato,
graças ao reflexo tônico cervical, a mão, como objeto móvel, cruza frequentemente
seu campo de visão. A reiteração do estímulo visual fará com que a criança fixe sua
atenção nela até se familiarizar (CORIAT, 2001).
Coriat (2001) afirma que a aquisição da imagem da mão se deve aos
estímulos visuais, sinestésicos e táteis percebidos pela criança. O roçar das polpas
digitais contra a palma, contra as roupas, além disso, o reflexo da palma da mão
auxilia na presença de objetos na mão.
O conhecimento de cada mão se integra em separado: a criança ignora a
mão que não vê em determinado momento, e essa dissociação, que a leva a
desconhecer o hemi-mundo, que fica às suas costas, por não ter noção da
permanência dos objetos, a ajuda a concentrar-se no objeto que está em frente a
seus olhos.
A estimulação através de brinquedos sonoros colocados na mão estimula
o tato, a visão e a audição e permite associações com a imagem da mão a do
próprio objeto.
c) Reflexo de Landau: O reflexo descrito por Landau resulta de uma complexa
interação de reações labirínticas e tônico-cervicais. Para observá-lo deve-se
manter a criança suspensa horizontalmente (Figura 4), dorso para cima, posição
na qual a cabeça da criança se eleva espontaneamente, em dorsiflexão,
impulsionada por reflexos de retificação cefálica de origem labiríntica. Tal atitude
determina que o tronco e os quatro membros se estendam dando ao eixo do
corpo a disposição de um arco tenso côncavo para cima. Com isso, quando se
flexiona passivamente a cabeça, a criança imediatamente flexiona o tronco e os
membros (Figura 5) (CORIAT, 2001).
26
A partir dos 4 ou 5 meses de idade o bebê normal reage a suspensão
ventral com extensão de cabeça e tronco; por volta dos 6 a 8 meses ele também
reage nos membros inferiores. Essa resposta normal pode faltar em bebês com
paralisia cerebral ou retardo mental acentuado (SHEPHERD, 2002, p.389).
Figura 4 Retificação cefálica e extensão corporal.
Fonte: Coriat (2001, p.47).
Figura 5 Reflexo de Landau.
Fonte: Coriat (2001, p.47).
d) Reflexo de conexão entre as mãos e a boca: Descrito também por Coriat
(2001) consiste na rotação da cabeça para a linha média, acompanhada da
abertura da boca como resposta à pressão exercida pelos polegares do
observador sobre as palmas das mãos do lactente.
27
O reflexo se atenua progressivamente no decorrer do terceiro mês, para
desaparecer no quarto. Nesta fase se estabelece a coordenação sensório-motora
entre as mãos, olhos e a boca (Figuras 6 e 7). Crianças, desde o 3º mês, levam à
boca todos os objetos que apanham com suas mãos, para obter maior
conhecimento de sua consistência, textura (CORIAT, 2001).
Figura 6 Reflexo mão-boca de Babkin: atitude inicial
Fonte: Coriat (2001, p.51)
Figura 7 Reflexo mão-boca de Babkin: atitude final.
Fonte: Coriat (2001, p.51).
28
e) Reflexo corneano: Estimulação suave da córnea determina contração ativa do
músculo orbicular das pálpebras.
f) Reflexos orais: Tem a finalidade de possibilitar o ato de se alimentar.
Compreendem os reflexos de busca, sucção e deglutição. Consiste também, na
orientação seletiva dos lábios e da cabeça para o local onde se aplica a
estimulação, denominado por André-Thomas (CORIAT, 2001 )
dos quatro pontos colaterais” (Figuras 8, 9 e 10).
Figura 8 Reflexos de busca: atitude inicial e estimulação.
Fonte: Coriat (2001, p.56)
Figura 9 Reflexos de busca: resposta bucal e rotação cefálica
Fonte: Coriat (2001, p.56).
como
“reflexo
29
Figura 10 Reflexos de busca: resposta bucal e extensão cefálica
Fonte: Coriat (2001, p.57)
g) Reflexos cutâneos abdominais: Consistem na contração brusca dos músculos
da parede abdominal, como resposta a estímulos superficiais.
h) Reflexo de Galant (encurvamento do tronco): Presente desde o nascimento
desaparece no decorrer do 2º mês de vida. Esse reflexo é testado com a criança
em prono, deslizando-se um objeto pontiagudo da região do ilíaco até a última
costela, próximo às vértebras lombares. Como resposta, ocorrerá uma flexão
lateral do tronco; com o desenvolvimento da capacidade de extensão do tronco.
A resposta à este estímulo passa a ser em extensão e flexão lateral do tronco.
Sua persistência resulta em dificuldade de desenvolver a transferência lateral de
peso (Figuras 11 e 12).
Figura 11 Reflexos de encurvamento do tronco
Fonte: Coriat (2001, p.25)
30
Figura 12 Reflexos de encurvamento do tronco – Reação de Galant
Fonte: Flehmig (2002, p.60)
i) Defesa plantar: Típico reflexo de automatismo medular, que desaparece no 6º
mês. Para obtê-lo estimula-se a planta do pé em decúbito dorsal e a resposta é a
retirada em tríplice flexão.
j) Reflexo de preensão plantar: Pode estar presente desde o nascimento até o 3º
trimestre, desaparecendo com 01 ano de vida (Figura 13).
Figura 13 Reflexos de preensão plantar
Fonte: Flehmig (2002, p.26)
Tocando a planta do pé abaixo do grande artelho, o reflexo de preensão
plantar, assume os demais artelhos com a posição em garra. Quando cessa o toque
estendem-se os artelhos. Persistindo este reflexo, não é possível manter-se o pé
plano, nem a marcha normal (apoio alternado no calcanhar e artelhos).
31
k) Reflexo de preensão palmar: Ao tocar a superfície interna da mão, esta se
fecha e permanece fechada enquanto dura o estímulo. Pode-se puxar a criança
para cima, mantendo-se, entretanto, as articulações dos cotovelos ligeiramente
fletidas. Se este reflexo durar mais tempo, desfazer-se da posição através da
abertura da mão (ausência de reações de equilíbrio) é reforçado fisiologicamente
pela sucção (Figura 14).
Figura 14 Reflexo de preensão palmar
Fonte: Flehmig (2002, p.25).
l) Reflexo de Marcha: Esse reflexo é testado segurando-se o bebê pelas axilas
com pés em uma superfície de apoio, inclinando-a para frente. Com o estímulo, o
bebê vai “andar” realizando flexão alternada de membros inferiores. Esse reflexo
apresenta faixa de normalidade do nascimento até o quarto mês (Figura 15).
Figura 15 Reflexo de Marcha
Fonte: Flehmig (2002, p.20).
32
m) Suporte positivo: O suporte positivo é considerado normal desde o nascimento
até o segundo ou terceiro mês de vida. Esse reflexo é testado segurando-se o
bebê de pé sobre uma superfície de apoio, e realizando ligeiros “quikes” para
cima e para baixo. Com isso, o bebê realiza suporte em extensão digitígrado,
significando resposta em padrão extensor total; resquícios desta resposta são
comuns até, aproximadamente, sete meses (Figura 16).
Figura 16 Suporte positivo.
Fonte: Flehmig (2002, p.20).
n) Reflexo
Tônico
Cervical
Simétrico
(RTCS):
Esse
reflexo
demonstra
dependência entre a postura da cabeça e dos ombros e pode ser testado com o
bebê em prono sobre a perna do examinador, com membros superiores e
inferiores livres. A extensão da cabeça produzirá extensão dos membros
superiores e flexão de membros inferiores; a flexão da mesma provocará flexão
de membros superiores e extensão de inferiores. Pode ser observado do
segundo ao quarto mês de vida do bebê, e sua persistência pode dificultar a
permanência na postura de gatas, o engatinhar em padrão cruzado e
proporcionar o engatinhar sem dissociação de cinturas (escapular e pélvica),
gerando o engatinhar em bloco.
33
o) Reflexo Tônico Labiríntico (RTL): Pode ser testado nas posturas prona ou
supina. Com a criança em supino sobre as mãos do examinador, busca-se
observar presença de aumento da atividade extensora, fletindo os membros
superiores e inferiores, observando-se a resistência a esses movimentos e à
flexão passiva da cabeça. Na postura supina, analisa-se o aumento da atividade
flexora, observando a resistência à extensão da cabeça e de membros. Caso o
reflexo esteja presente com hipertonia, é sempre patológico (Figura 17).
Figura 17 Reflexo postural labiríntico.
Fonte: Flehmig (2002, p.24)
p) Reação cervical de endireitamento: Pode ser testada com o bebê em supino,
segurando-o delicadamente pelo occipital e rodando sua cabeça para o lado. O
restante do corpo move-se reflexivamente na mesma posição da cabeça;
primeiro, os quadris e pernas alinham-se, seguidos pelo tronco. Com faixa de
normalidade do quarto ao sexto mês de vida, é a única reação que irá
desaparecer, dando lugar à reação corpo sobre corpo (Figura 18).
34
Figura 18 Reação postural cervical
Fonte: Flehmig (2002, p.23).
q) Reação corpo sobre corpo: Com início a partir do sexto mês de vida, essa
reação é testada da mesma forma que a anterior, porém com o bebê
apresentando alguma dissociação de cinturas escapular e pélvica.
r) Reação labiríntica e óptica de retificação: Ambas as reações são testadas nas
posturas prona, supina e decúbito lateral, com a criança suspensa na postura
desejada e com olhos vendados. Na reação labiríntica, a partir do estímulo dos
canais semicirculares, ela busca, com sua maturação, a verticalização da
cabeça. Na reação óptica, ela é orientada por algum objeto de seu interesse. Em
ambas, a faixa de normalidade é a partir do primeiro mês, em prono, e
aproximadamente entre o quinto e o sexto mês, em supino e decúbito lateral.
s) Reação de anfíbio: Com a criança na postura prona, essa reação é testada
levantando-se um lado da cintura pélvica. Como resposta, haverá flexão de
tronco e do membro inferior do mesmo lado. Essa reação permite o
desenvolvimento do arrastar e do engatinhar, sendo normal a partir do sexto
mês.
t) Reações protetoras: São movimentos protetores dos membros na direção da
força que se desloca, como reação a uma súbita força deslocadora ou quando o
equilíbrio não pode mais ser mantido. Pode ser testada nas posturas prona,
prona para os lados, supina e sentada. Na postura prona, o bebê é posicionado
35
com os braços para frente, respondendo com apoio de mãos e elevação da
cabeça; reação normal a partir do terceiro mês. O teste da reação em supino,
normal a partir do sexto mês, é realizado posicionando-se a criança sobre o rolo
e deslocando-a para um dos lados; como resposta ao estímulo, ela realizará
apoio do membro superior do lado do deslocamento e tentará a verticalização da
cabeça. Com a criança sentada, o examinador a desloca anterior, posterior e
lateralmente; a resposta, normal dos sexto ao nono mês, será sempre o apoio
dos braços e mãos espalmadas protegendo o corpo e livrando a face com a
verticalização da cabeça.
u) Reação de equilíbrio: Testada da mesma forma que a reação anterior, nessa
reação busca-se observar a procura da criança pela verticalização e aumento da
base, através do afastamento. Sua faixa de normalidade é do sétimo ao décimo
oitavo mês, nas posturas prona, supina, sentada, gatas, de joelhos e de pé.
2.3 DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL NO PRIMEIRO ANO DE VIDA
O bebê nasce após 38 a 42 semanas de gestação. O processo de
desenvolvimento é influenciado, originalmente, pelo código genético e pela
maturação do sistema nervoso central.
O recém-nato não é passivo. Ao acordar ele se move casualmente com
grande arco de movimento, às vezes, bastante vigoroso. Estes movimentos se
observam, inicialmente, mais na postura supina. Além dos movimentos esporádicos,
existem outros mais complexos, geralmente gerados por alguma atividade reflexa,
como o rastejar e a marcha automática, que são a base de movimentos mais
elaborados adiante (FLEHMIG, 2002).
O movimento da cabeça do recém-nato é o ponto de partida da evolução
da extensão. Em prono, o peso corpóreo se encontra na face. O quadril fletido
transfere todo peso para esta área. Ao virar a cabeça para liberar as vias aéreas, ele
36
promove uma extensão da região torácica alta, que por sua vez, vai contribuir para
adquirir o controle da cabeça, importante para localizar o alimento. O reflexo de
procura é provocado pela estimulação tátil em volta da cavidade oral. O bebê que
não apresentar o reflexo de procura, deve ser observado, pois pode ser sinal de
anormalidade (RATTLIFFE, 2005).
A postura fletida do tronco acontece porque os discos intervertebrais
ainda não se formaram. Devido a esta postura fletida, podem acontecer movimentos
laterais da coluna, que permite o surgimento de posturas assimétricas. Uma coluna
totalmente retificada não permitiria um desenvolvimento assimétrico, já a postura
assimétrica dá espaço para que os membros inferiores possam realizar movimentos
mais amplos e transferência lateral.
O recém-nato levantado para a postura sentada é incapaz de cooperar.
Quando ele for sustentado totalmente na vertical, ele estenderá os membros
inferiores e assumirá um pouco seu peso corporal. Se o examinador transferir o
peso, o bebê realizará a marcha automática. O ficar de pé primário e a marcha
automática desaparecem por volta da quarta à sexta semana. O bebê passará por
uma fase de astasia e abasia3. A acuidade visual, neste momento, é muito baixa.
Willrich et al. (2009) afirmam que o aprimoramento motor é considerado
como um processo sequencial, contínuo e relacionado a idade cronológica, pelo qual
o ser humano adquire uma enorme qualidade de habilidades motoras simples e
desorganizadas para execução de habilidades motoras altamente organizadas e
complexas.
Burns e Mac Donald (2007) ressaltam que o conhecimento do
desenvolvimento motor do lactente é muito importante, principalmente em casos de
o recém-nascido apresentar ou correr o risco de apresentar distúrbio motor. Cada
criança apresenta seu padrão característico de desenvolvimento, pela influencia
sofrida em seu meio, existido assim, uma considerável variabilidade individual de
acordo com cada criança.
3
Incapacidade de ficar de pé.
37
2.3.1 O neonato de 0-10 dias
O bebê se apresenta numa flexão fisiológica em supino e prono, que é o
resultado da maturação do Sistema Nervoso Central (SNC) durante a vida fetal.
No prono, a postura é bem fletida. A pelve está em retroversão, e os
joelhos estão dobrados e geralmente próximos ao abdômen. Esta atitude faz com
que o peso corpóreo seja deslocado para a face. O bebê consegue liberar as vias
aéreas levantando a cabeça, virando a mesma para a direita e esquerda,
promovendo uma forte estimulação proprioceptiva. Este movimento é influenciado
pelo sistema labiríntico, que provoca a reação de retificação da cabeça. Os
músculos do ombro promovem a estabilidade sinérgica, permitindo que a criança
levante a cabeça e vire a mesma, de um lado para outro. Ao levantar a cabeça o
peso corpóreo passa para a cintura escapular. O movimento de elevação da cabeça,
muitas vezes, é acompanhado por movimentos dos membros inferiores.
Em
supino
demonstra
a
flexão
fisiológica,
principalmente
nas
extremidades. O bebê ainda não tem uma flexão ativa e graduada do pescoço e não
é capaz de manter a cabeça na linha mediana. A cabeça virada para o lado facilita o
contato da mão à boca. A mão se apresenta em flexão com os dedos aduzidos.
Deve-se frisar que esta postura não é uma situação fixa. Há presença do reflexo de
preensão da mão. Os membros inferiores se encontram em flexão, abdução, e
rotação externa. A pelve está em retroversão e ao chutar, o bebê mantém alguma
rotação externa e o pé fica, geralmente, em flexão dorsal (FLEHMIG, 2002).
Quando levantado para a posição sentada o bebê tenta iniciar o
movimento de flexão da cabeça, mas perde o controle e a cabeça cai para trás,
devido ainda à ausência do controle do tronco, e apresenta uma cifose quando
colocado na postura de sentado. Apresenta marcha automática, quando colocado de
pé, que desaparecerá por volta da 4ª a 6ª semana. Nesta fase o bebê consegue
visualizar melhor com contraste preto e branco, acompanhando um objeto
lateralmente e verticalmente.
38
2.3.2 Primeiro mês
Predomina o padrão de flexão fisiológica e, o período de posturas
assimétricas. A cabeça está quase sempre colocada de lado, o corpo segue em
rotação em bloco (posição dorsal/supina); os braços formam ângulo com o corpo, as
mãos estão semi-fechadas, o polegar aduzido (mas sem resistência, frouxo). O tórax
encontra-se na linha média e muda de posição de acordo com a movimentação da
cabeça com auxílio do reflexo tônico-nucal assimétrico. O reflexo de Moro pode
aparecer quando a cabeça se move (Figura 19).
Figura 19 Reação automática.
Fonte: Flehmig (2002, p.16)
Em decúbito ventral predomina também a postura flexora; levanta a
cabeça momentaneamente, os braços ficam para baixo do tronco ou ao lado, e
cintura escapular encontra-se retraída, joelhos fletidos e nádegas ligeiramente
levantadas. Quando levantada da posição dorsal para sentada, segurada pelas
mãos a cabeça pende para trás, a cabeça oscila para os lados, e o cotovelo mantém
em flexão. Ainda não possui o controle da cabeça (Figura 20).
Figura 20 Levantar a criança da posição dorsal
Fonte: Flehmig (2002, p.112)
39
Ao ser segurado pelas axilas, como se fosse andar, apresenta a marcha
reflexa, que costuma desaparecer por volta dos 2 meses, que inicia com o contato
dos pés no apoio, apresenta atitude flexora inicial, depois o reflexo retificação do
tronco (reação extensora) e, marcha automática. Os olhos acompanham os objetos
em linha média. Reage a brinquedos luminosos ou sonoros, porém assusta-se com
facilidade.
2.3.3 Segundo mês
A criança ainda apresenta predomínio da flexão corporal, mas realiza
extensão melhor. Na posição dorsal (supino) apresenta a cabeça para o lado quase
sempre para o lado de preferência, mas sem restrição para virar para o outro lado.
As mãos encontram-se mais abertas, os braços com mais extensão, mas não
chegando a linha média.
O corpo se encontra mais simétrico e as pernas apresentam menos flexão
e dorsiflexão, mais abdução e extensão, rotação, descarrega o peso sobre
calcanhares e bordo lateral dos pés (marcha automática).
Os movimentos maciços são em menor número, o reflexo de moro ainda
aparece quando a cabeça se move para posição dorsal quando puxado para sentar;
ainda não apresenta controle da cabeça, apesar de acompanhar bem o movimento.
Quando na posição ereta, sentada, a cabeça tende a cair um pouco, oscilando.
Na postura (ventral/prono) a criança começa a estender o segmento
torácico, levanta a cabeça de 0 a 45º, muitas vezes de forma assimétrica, tentando
manter a cabeça na linha média. Os braços ainda estão situados atrás dos ombros,
mas quando ergue a cabeça realiza mais abdução (Figura 21).
Figura 21 Posição ventral
Fonte: Flehmig (2002, p.112).
40
O quadril (pélvis) se encontra com menos flexão (retroversão) e mais
extensão, levando assim mais estabilidade para o pescoço, as pernas menos
flexionadas com mais abdução e rotação externa.
No bebê com 2 meses, ainda é possível verificar a assimetria fisiológica, e
influências de padrões tônicos posturais como o reflexo tônico-nucal assimétrico e o
reflexo labiríntico, porém nenhum destes limitam o movimento ativo.
Quando estimulada a pegar um objeto nas mãos, ambas se encontram
predominantemente fechadas; mas abre-se quando tocada e frequentemente
encontra-se na boca o polegar ou a mão inteira. Consegue visualizar o objeto até a
linha média e a ultrapassa a curto período, porém, quando pega um objeto com as
mãos, não solta-o devido o reflexo de preensão palmar.
2.3.4 Terceiro mês
Na posição supino ou dorsal apresenta rotação corporal, a cabeça
consegue ser mantida na linha média, mas a mesma tende a ficar do lado de
preferência. Quando a criança move a cabeça para o lado, o tronco mostra-se
virando para o lado do rosto.
As mãos já podem ser trazidas na linha média, os dedos se encontram
mais abertos, pegam objetos, mas não os largam voluntariamente, é largado apenas
quando as mãos se abrem, como por exemplo, na presença do reflexo de Moro. As
pernas apresentam mais extensão durante os movimentos; menor flexão e
dorsiflexão, porém mais abdução e rotação externa. Quando levantado para sentar,
a cabeça se mantém na linha média, acompanhando o movimento na posição
ventral ou prono (Figura 22).
Figura 22 Posição ventral
Fonte: Flehmig (2002, p.112)
41
A cabeça ergue até 45º, com apoio nos antebraços podendo oscilar de
um lado para o outro e para frente. As mãos fechadas podem abrir
momentaneamente.
O quadril realiza mais extensão (anteroversão), o bumbum (nádegas)
ligeiramente levantado; as pernas com menos extensão e dorsiflexão e mais
abdução e rotação externa.
Nesta fase o tônus flexor, já não predomina, entrando mais o extensor
para vencer a gravidade como o controle da cabeça, tronco em diferentes posições.
A criança já apresenta melhora nas reações de equilíbrio. Apresenta-se mais
simétrica, embora ainda apresente assimetria, não havendo, portanto, limitação da
movimentação ativa.
Nesta fase ainda estão presentes os reflexos tônico-cervical assimétrico,
reflexo labiríntico e o reflexo tônico nucal simétrico. O reflexo de preensão palmar
praticamente já desapareceu, mas ainda permanece o reflexo de preensão plantar.
Não há mais reflexo de marcha, e a reação de Moro pode aparecer as vezes quando
os bebês abrem as mãos.
Já percebe os objetos na linha média e além dela para ambos os lados.
Acompanha com a cabeça 180º, observando o objeto mais prolongadamente; os
olhos já se encontram mais coordenados. O polegar, ou um dedo é colocado na
boca, ao invés da mão inteira, as mãos podem ser juntadas na linha média.
“Sustentar a cabeça aos três meses é a melhor prova de que o desenvolvimento
psicomotor do bebê está perfeito” (DE LAMARE, 2009).
2.3.5 Quarto mês
A criança apresenta competência para manter-se na posição dorsal
(supino). A simetria indica que ela é capaz de virar para os lados, manter a cabeça
na linha média com o pescoço alongado; quando levantada para sentar para frente,
utiliza ativamente o abdômen com bom controle de cabeça.
42
Os braços estão na linha média, mãos nos joelhos, bate palmas, segura
objetos quando colocados na mão e solta-os ao acaso. O quadril apresenta retro e
anteroversão; porém não tem controle e pode flexionar o quadril, ao invés de fazer
retroversão.
Utilizam a extensão lombar para realizar a elevação do quadril (ponte)
com os pés apoiados no chão realizando o movimento de plantiflexão (ponta dos
pés).
Na posição ventral ou prona a cabeça chega a extensão até a região
lombar inferior, as escápulas estão mais estabilizadas em abdução, e se apóia nos
antebraços. Iniciam-se os movimentos de rastejamento. As mãos estão mais abertas
e arranham a superfície mais externa dos cotovelos. Inicia-se o suporte de peso nas
mãos, semifechadas com extensão dos cotovelos se empunhando para cima (Figura
23).
Figura 23 O quarto mês
Fonte: De Lamare (2009, p.240)
Quando colocada sentada, o tronco não possui estabilidade ou equilíbrio
e tende para frente. Ainda não há reações de apoio embora o braço já apresente
extensão sem que a criança faça peso. As mãos iniciam o abrir quando se
aproximam de um suporte.
Ainda se nota, nesta fase, uma pequena influência dos reflexos tônico
cervical assimétrico e reflexo tônico labiríntico, o que não impede o movimento.
Nesta fase o lactante vai deixando de utilizar mecanismos de reflexos para realizar
43
movimentação ativa. Os reflexos magnéticos, Galant, placing-reaction4, as reações
de marcha já não aparecem mais. Os reflexos de preensão palmar aparecem
discretamente,
os
reflexos
plantares
ainda
permanecem,
e
o
de
Moro,
discretamente.
2.3.6 Quinto mês
Nesta fase a criança em posição prono apresenta bom controle de cabeça
na posição de prono/supino com extensão até a pelve (± 90º no quadril). As
escápulas possuem forte abdução com estabilidade e braços estendidos, e os
cotovelos fletidos (posição puppy) transfere o peso para o lado craneal, a fim de
liberar o outro lado e estender o braço para diante. O quadril mostra-se apoiado na
base, suporta peso durante os movimentos natatórios com os braços estendidos, as
pernas com mais extensão, rotação, externa e abdução.
Na posição dorsal ou supina, quando levantado para sentar antecipa o
movimento de elevação da cabeça, apresenta total controle em todos os planos,
iniciando o controle ativo do pescoço e tronco superior, começando o preparo para
sentar. Apresenta boa reação postural da cabeça sobre o tronco com início de
reação postural do corpo ao corpo. Nesta fase desaparecem todos os padrões
tônicos posturais e reação de Moro. Em relação à motricidade pega objetos com as
duas mãos com preensão palmar de toda a superfície da mão, frequentemente leva
os seus pés a boca. O polegar está estendido e pouco aduzido (Figuras 24 e 25).
No quinto mês ocorre explosão das atividades. Tenta-se arrastar; rola;
brinca com os chocalhos; puxa o pé à boca e chupa o dedo do pé, consegue
apanhar objetos e trocá-los de mão (DE LAMARE, 2009).
4
Segura-se o bebê por baixo dos braços, com os pés abaixo da borda da escada levantando-o devagar, tocando
de leve no dorso do pé; puxa-se este para cima pela borda inferior da escada com o que o pé sobe a escada.
Esta reação também se chama reação de subida devido a impressão que se tem de estar subindo uma escada.
44
Figura 24 Conhecimento do corpo: palpação dos pés
Fonte: Coriat (2001, p.96)
Figura 25 Conhecimento do corpo: o lactente leva os pés à boca
Fonte: Coriat (2001, p.104)
2.3.7 Sexto mês
A criança com 6 meses na posição dorsal ou supina é capaz de virar sua
cabeça livremente para um lado e outro e o tronco pode manter-se com o dorso
apoiado na cama ou girar ativamente. Quando puxado para sentar, eleva a cabeça,
ombros e braços, antecipando posição. Quando está sentada, transfere o peso para
um dos lados, geralmente transfere o peso para frente e utiliza os braços (Figura
26).
45
Figura 26 O sexto mês
Fonte: De Lamare (2009, p.344)
No decúbito ventral, a cabeça eleva-se para posição de ± 90º, tronco
estendido o quadril apóia na base. Suporta bem o peso de um lado com fixação da
escápula em abdução contra a caixa torácica, os movimentos do tronco são em
rotação e não mais em bloco.
As mãos não despertam tanto interesse, assim, agora são instrumentos
para suas necessidades como de locomoção. A curiosidade agora é despertada
para os pés.
Na posição supina com as pernas elevadas e os pés diante da visão, a
criança realiza um ângulo poplíteo em torno de 150º até que os joelhos se
aprofundem nos flancos e os pés ou pelo menos o dedo do pé chegue até a boca
(CORIAT, 2001).
Quando assume a postura sentada a coluna forma um arco convexo para
trás, requererá apoio das mãos abertas contra a cama. Nessa idade a criança se
interessa por objetos grandes, pois todo objeto agarrado é transferido para outra
mão. Possui eficaz reação de bloqueio a queda (pára-quedismo). A criança em
decúbito ventral eleva a cintura escapular e aplainamento da cintura pélvica nesta
idade os membros superiores adquirem capacidade de deslocamento (CORIAT,
2001).
46
2.3.8 Sétimo mês
Nesta fase a criança praticamente não fica em decúbito dorsal e, se
segurada para sentar ergue-se praticamente sozinha. Não existe predomínio do
padrão flexor ou extensor.
Na posição decúbito ventral (prono) a cabeça é bem erguida, desloca o
seu peso e puxa as pernas para ficar ereta, se arrasta empurrando para trás e
realiza movimento de “gatas”. Faz movimentos para frente e para trás, realiza
transferência de peso para sentar de lado enquanto o bumbum passa sobre os
calcanhares (Figura 27).
Figura 27 Posição decúbito ventral (prono)
Fonte: Flehmig (2002, p.196)
Na postura sentada apresenta melhor equilíbrio, mais estabilidade,
quando se inclina para frente, o tronco ainda é curvado, pernas em abdução e os
quadris bem fletidos.
Quando levantada, oscila para cima e para baixo, por pouco tempo se
equilibra no quadril com boa extensão e controle de cabeça. Quando perde o
equilíbrio, este se restabelece mediante boas ações posturais do corpo.
47
2.3.9 Oitavo mês
A criança se movimenta constantemente e realiza espontaneamente as
mudanças de decúbito (prono/supino). Apresenta bom controle de cabeça no
decúbito ventral e inicia o engatinhar com rotação deficiente do tronco e, se vira em
círculo, em torno do próprio eixo (FLEHMIG, 2002).
Transfere o peso através da pélvis, se apóia sobre um cotovelo, estende
os braços e caminha com as mãos para trás, no início não cruza a linha média,
depois cruza enquanto o corpo se move sobre o braço. Sentada apresenta bom
controle de tronco em extensão e braços livres para brincar.
A criança começará a chutar e se erguer nas mãos das pessoas ou em
objetos e móveis. Quando fica em pé os artelhos ficam em garras, pois ainda se vê o
reflexo de preensão plantar. Apresenta boa reação de equilíbrio e reações de apoio
Landau.
2.3.10 Nono mês
Nesta fase praticamente não fica em uma postura somente. Movimentase alternando de deitada, para sentada, sentada para “gatas”. Passa de um móvel
para outro com flexão lateral de tronco, transferência de peso no tronco inferior e
quadril. Agacha-se, caminha na posição de “urso”, quando fica de pé apresenta
ligeira flexão dos joelhos, pois ainda não apresenta domínio desta postura.
Apresenta boa reação de equilíbrio (dorsal, ventral, sentada) e boa reação de
Landau.
2.3.11 Décimo mês
A criança se movimenta constantemente, senta sozinha com total
equilíbrio, vira para os lados, para frente e para trás, se apóia em objetos para
assumir a postura de pé, embora às vezes, consegue realizá-la sem apoio. Anda se
48
sustentando pelas duas mãos e normalmente passa da postura de pé para
engatinhar, pois já o realiza com rapidez e agilidade (Figura 28).
Figura 28 Engatinhar
Fonte: Flehmig (2002, p.228)
Alcança um objeto e também já o larga espontaneamente, atira o
brinquedo a espera que alguém o busque, a preensão é como pinça (utilizando o
polegar e o indicador). Brinca com as mãos na linha média, com os pés e o corpo
inteiro, troca objetos de uma mão para a outra (coordenação).
A criança apresenta preparo para grande variabilidade de mudanças de
posturas com alternância de posição ereta para marcha.
49
2.3.12 Décimo primeiro e Décimo segundo mês
Apresenta marcha livre com os braços abertos. Transfere de decúbito
dorsal para sentada, engatinha, utiliza os móveis para a posição de ajoelhada, meio
ajoelhada e de pé. Sustenta-se com as duas mãos, em seguida, retira uma mão e
tenta a marcha livre. Essas atividades motoras não são reflexos nem automáticas,
requerem aprendizagem prévia (CORIAT, 2001).
Ainda segundo Coriat (2001) nesta fase a criança adquire noções
espaciais que ajudam a situar-se no mundo. O conhecimento do espaço está
associado ao do tempo.
(...) as primeiras noções temporais dependem da tomada de consciência a
cerca da duração e da sucessão ou de posições através das ações, das
quais a criança participa; se confundem com as impressões de expectativas
e esforço com o próprio desenvolvimento do ato, interiormente vividos (...)
(PIAGET, 1975, p.119).
Adquirem-se nessa idade, noções de distância quando engatinha para
alcance do brinquedo, de profundidade e do espaço vertical, ao dar os primeiros
passos.
Quando a criança está de pé parada, predomina o apoio plano que
persiste até a modelação do arco plantar, às vezes observa-se o apoio na ponta dos
pés que logo desaparece (equinismo). Normalmente os pés encontram-se
separados com aumento da base de sustentação; suas bordas internas ficam quase
paralelas e os dedos apontam para frente (Figura 29).
Segundo Coriat (2001) algumas crianças pulam etapa do engatinhar, não
significando que apresentem problemas motores. A criança inverte a preensão
bimanual, bate palmas, explora o próprio corpo. Gessel (1997) chamou a brincadeira
de passar um brinquedo de uma mão para outra de “aposição”.
50
Figura 29 Ficar em pé e andar
Fonte: Flehmig (2002, p.244)
2.3.13 Sinais de possíveis atrasos: primeiro ano de vida
A Academia Norte-Americana de Pediatria (AAP) elaborou marcos de
desenvolvimento para as crianças, desde o nascimento até os 5 anos de idade.
A Tabela 1 demonstra os problemas, sinais e sintomas possíveis, que
comprometem e/ou denotam anormalidades no desenvolvimento nos 3 primeiros
anos das crianças. Se ela não está aprendendo habilidades que outras da mesma
faixa etária, como engatinhar; virar, sentar, dentre outras, torna-se necessário o
profissional comunicar aos pais sua preocupação e aconselhá-los a buscar
orientação específica.
51
IDADE DA CRIANÇA
Durante a 2ª, 3ª e 4ª semanas
Final do 3º mês
Final do 4º mês
PROBLEMAS ENCONTRADOS
Sucção deficiente e alimentação demorada
Não pisca diante de luz intensa
Não fixa o olhar nem segue objeto próximo que se move
de um lado para outro
Raramente movimenta os braços, e as pernas parecem
rígidas
Parece ter membros excessivamente flácidos
A mandíbula parece trêmula mesmo quando não está
chorando nem excitado
Não responde a sons em alto volume
Não tem reflexo de Moro após os 4 meses
Não parece reagir a sons em alto volume
Não percebe as próprias mãos aos 2 meses de vida
Não segue com o olhar em movimento aos 2 a 3 meses
Não agarra nem segura objetos aos 3 meses
Não tenta alcançar nem segurar brinquedos aos 3 a 4
meses
Inicia balbucio, mas não imita qualquer som aos 4 meses
Não balbucia aos 3 e 4 meses
Não leva objetos à boca aos 4 meses
Não tenta empurrar com os pés quando são apoiados
sobre uma superfície firme aos 4 meses
Apresenta dificuldade de movimentar um ou ambos os
olhos em todas as direções
Apresenta olhar cruzado a maior parte do tempo
Não presta atenção em novas faces, ou parece assustarse com novas faces ou novos ambientes
Ainda mantém o reflexo tônico cervical aos 4 a 5 meses
Aparece rígido com músculos tensos
Parece muito flácido, como uma boneca de pano
A cabeça cai parar trás como em uma boneca de pano
Alcança objetos apenas com uma das mãos
Recusa abraço
Não demonstra afeição pelo cuidador
Parece não gostar de estar próximo de outras pessoas
Um ou ambos os olhos constantemente se desviam (para
dentro ou para fora)
Lacrimejamento constante, sensibilidade à luz
Não reage aos sons ao seu redor
Demonstra dificuldade de levar um objeto à boca
Não gira a cabeça para localizar sons aos 4 meses
Não rola em qualquer direção (de frente para trás ou viceversa) aos 5 meses
Parece inconsolável durante a noite depois dos 5 meses
Não sorri espontaneamente aos 5 meses
Não consegue sentar, mesmo com ajuda, aos 6 meses
52
Continuação Tabela 1
IDADE DA CRIANÇA
Final do 4º mês
Final do 12º mês
PROBLEMAS ENCONTRADOS
Não ri nem faz sons engraçados aos 6 meses
Não tenta ativamente alcançar objetos aos 6 a 7 meses
Não acompanha objetos sonoros com o olhar a distancia
da audição (0,3 a 1,8) aos 7 meses
Não sustenta peso sobre os membros inferiores aos 7
meses
Não tenta chamar atenção com gestos aos 7 meses
Não balbucia aos 8 meses
Não se interessa por brincadeira de encontrar objetos aos
8 meses
Não engatinha
Inclina-se para um lado do corpo enquanto engatinha (por
mais de 1 mês)
Não consegue ficar de pé mesmo com apoio
Não procura objetos que viu serem escondidos
Não pronuncia nenhuma palavra (“mamão ou papá”
Não aprende a utilizar gestos, tais como dar adeus ou
balançar a cabeça
Não aponta objetos nem gravuras
TABELA 1 Sinais de possíveis atrasos no desenvolvimento da criança
Fonte: Umphred & Constance (2007, p.111)
53
3
METODOLOGIA
A Metodologia utilizada trata-se de um estudo bibliográfico de caráter descritivo
exploratório, a partir de referências teóricas publicadas em livros, artigos,
dissertações e teses disponibilizadas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) no
período de 1970 a 2010.
54
4
O PRODUTO
55
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................
2 ZERO A TRES MESES ....................................................................................
3 QUATRO A SEIS MESES ................................................................................
4 SETE A NOVE MESES ....................................................................................
5 DEZ A DOZE MESES ......................................................................................
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................
56
1.
INTRODUÇÃO
O objetivo desta Cartilha é apresentar informações essenciais para os pais e
profissionais da área da saúde, sobre as principais etapas do desenvolvimento
motor da criança de zero a um ano de idade, possibilitando assim minimizar,
prevenir, e intervir precocemente, caso seja necessário.
As habilidades motoras como engatinhar, sentar, andar, arrastar, dentre outras, são
características individuais e particulares de cada criança. Entretanto é necessário
observar se o desenvolvimento do bebê está como o esperado para a faixa etária
em que se encontra. Caso identifique alguma dificuldade nesse processo, procure
um profissional de saúde como: Pediatra, Neuropediatra, Fisioterapeuta, para
esclarecer dúvidas.
57
2. Zero a Três meses
Durante este período, a vida do Recém Nascido (RN) é ritmada pelo sono e pela
alimentação, o que deve ser respeitado. É comum, nesta fase, a presença de
“movimentos desencontrados”, o que é chamado de assimetria, pois a atividade
reflexa é muito intensa. A criança apresenta flexão fisiológica (fica curvada), mãos
quase sempre fechadas (reflexo de preensão palmar) e uma tendência a manter a
cabeça virada para um lado (direito ou esquerdo).
A principal aquisição motora nesta fase é o controle da cabeça.
Fonte: Flehmig (2002, p.16)
O RN eleva a cabeça momentaneamente para virar de lado. Os braços ficam
próximos do corpo. No 1º mês, a postura é em flexão. O rosto está para o lado. Os
cotovelos, quadril e joelhos estão fletidos.
Quando puxado para sentar, as mãos estão fechadas, e a cabeça cai para trás.
Fonte: Gonzalez (1979, p.54)
58
No 2º mês, o queixo já se encontra fora do apoio; a cabeça permanece mais tempo
elevada. Assim, quando puxado para sentar, a cabeça começa a ser controlada a
partir de 45º, mantendo ativamente a cabeça na linha média.
Fonte: Gonzalez (1979, p.54)
No 3º mês, os membros do RN estão cada vez menos em flexão. Sustenta o peso
nos antebraços, a cabeça se mantém na linha média e a extensão chega até a
região torácica.
Fonte: Gonzalez (1979, p.54)
Quando puxado para sentar, a cabeça se mantém na linha média, e a preensão tátil
(pegar objetos), brinca com chocalhos, puxa a roupa, dentre outros movimentos.
Fonte: Gonzalez (1979, p.55)
59
ORIENTAÇÕES

Colocar a criança sempre que possível no chão (observando a limpeza do local),
em um tapete, para estimular os movimentos e a interação com o meio. Mudá-la
frequentemente de posição. Ela poderá ficar de bruços desde o primeiro dia de
vida, inclusive sobre o próprio peito da mãe. A posição de bruços é importante,
pois estimula a elevação da cabeça e, posteriormente, o seu controle.

Quando colocada frequentemente de lado, desenvolve a capacidade de se
equilibrar desde muito cedo, pois encontra-se em uma posição intermediária e
precisa controlar seus movimentos para não cair para posição de bruços ou
barriga para cima.

Pode-se colocar brinquedos sonoros ou luminosos, para despertar a atenção e o
movimento.
SINAIS DE ALERTA

Não apresenta controle da cabeça;

Tendência a deixar a cabeça e pescoço para trás (hiper extensão) ou quando
sentado tende a se jogar constantemente para trás;

Não é capaz de fixar os olhos ou sorrir;

Dificuldade para trazer e manter a cabeça na linha média do corpo;
Dificuldade para apoiar-se sobre os antebraços.
60
3. Quatro aos Seis meses
Nesta fase a criança já possui total controle da cabeça, leva os braços na linha
média, toca joelhos e pés. Aos 6 meses inicia o sentar, mas ainda não apresenta
controle total nesta posição. Tende a inclinar o tronco para frente, não possuindo
controle nas posições laterais.
As reações ao mundo exterior são mais ativas. O bebê vira a cabeça quando ouve
barulho, procura com o olhar os rostos, usa os reflexos de equilíbrio. Brinca com o
corpo e olha, frequentemente, as mãos.
No 4º mês, a criança é capaz de virar para os lados; mantém a cabeça em linha
média com o pescoço alongado; quando levantado para sentar, utiliza o abdômen
com bom controle da cabeça. A cabeça está alinhada com o corpo. As mãos
movimentam-se voluntariamente, levando brinquedos à boca.
Fonte: produção do autor.
Fonte: Gonzalez (1979, p.54)
61
No 5º e 6º mês o bebê empurra-se para trás com o membro superior, isto é, com as
mãos abertas.
Nesse mesmo período, (5º mês) as mãos vão para os joelhos, e os pés são
colocados na boca.
Fonte: produção do autor.
Já no 6º mês, o bebê rola de um lado para o outro. E, quando sentado, o esforço é
mínimo, o tronco inclina-se para frente, contando com o apoio das mãos. Nesse
período inicia-se a lordose lombar.
ORIENTAÇÕES

A criança nesta fase encontra-se firme, podendo ser carregada no quadril,
segurando com uma mão os joelhos e com a outra o peito. O rosto da criança
fica voltado para o lado de fora, aumentando a estimulação visual (visualização
de objetos).

Ao deitá-la, usar camas que possuam grade, pois já se encontra muito ativa. É
interessante pendurar móbile colorido e brilhante.

Na hora do banho, explore o momento, permitindo a participação da criança.

O melhor brinquedo nesta fase é aquele que permite a exploração com o próprio
corpo. O tempo todo o bebê se toca, brinca com os pés e com as mãos, com
62
pedaços de panos. É adequado oferecer brinquedos sonoros de borracha e
objetos com consistências diferentes (mole/ duro).

É importante colocar o bebê, sempre que possível, no chão para permitir sua
atividade motora, observando sempre a higiene do local.
SINAIS DE ALERTA

Dificuldade de manter a postura sentada;

Dificuldade de rolar ou rola fazendo extensão da cabeça (jogando a cabeça para
trás);

Mãos fechadas;

Dificuldade para brincar na posição de bruços e de lado.
63
4. Sete ao Nono mês
Nesta fase a criança já possui apreensão, pega e larga os objetos constantemente,
reconhece o meio que se encontra, e distingue as pessoas que a cerca.
No 7º mês a criança está muito agarrada à mãe ou a pessoa que cuida. Quando
estes se ausentam podem se sentirem desamparados. É o período em que é preciso
responder a essa angústia transmitindo segurança.
Nesse período existem muitas riquezas de posições transitórias, onde acontece a
passagem da postura de bruços (prono ou barriga para baixo) para sentada, e de
sentada para de pé. Arrastas-se, fica de gatas, transfere o peso anterior e posterior
(nos braços e bumbum) sobre as mãos e joelhos, engatinha, dando início ao arco
palmar (curvatura da mão), principalmente quando engatinha com um brinquedo na
mão.
A flexão lateral do tronco é exercida pelos braços e pernas, fazendo o movimento do
mesmo lado.
Fonte: Gonzalez (1979, p.57)
Depois de sentado, os braços ficam livres para brincar na linha média.
Fonte: Gonzalez (1979, p.57)
64
No 8º e 9º mês o movimento para sentado acontece com o bebê se arrastando para
trás, o que seria a posição de gatas.
Após posição de sentado, passa para engatinhar.
Fonte: Gonzalez (1979, p.48)
Nessa mesma fase o bebê começa a ficar de pé, apoiando-se em algum objeto
(sofá) começando a transferir o peso do corpo para os pés.
ORIENTAÇÕES

Deixar dormir em tapete de espuma (no chão) durante o dia, mas na cama, à
noite. Isso possibilita a criança decidir querer ir para cama à noite quando tiver
sono.

Nesta fase a criança fala para chamar a atenção, os arrulhos são freqüentes.
Imita facilmente os sons e responde quando a chamam pelo nome.

Quando sentá-la, é importante verificar se já possui equilíbrio. Um modo prático é
colocá-la em um banquinho de, mais ou menos, 13 cm de altura, com os pés
apoiados no chão, segurando-a pelas coxas. Ela vai erguer as costas, e devagar
você vai liberando sua mão da coxa, deixando-a encontrar o seu ponto de
equilíbrio que permitirá que fique sentada sozinha. Depois, pode colocá-la para
brincar com uma mesa na frente. Importante manter os pés sempre apoiados.

Ao vesti-lo, procure colocar roupas que não impossibilitem o seu movimento. Se
for possível, que fique descalça.
65

No banho, já que consegue ficar sentada, estimule-a a participar, a se lavar e
secar nomeando e mostrando as partes do corpo para ela.

Durante as refeições é importante deixá-la tentar comer sozinha, mesmo que se
suje, mas sempre com supervisão, lembrando de como fazer o correto, tendo o
cuidado com o uso de equipamentos para alimentação.

Nos brinquedos, quanto maior a diversidade de texturas, tamanhos e cores,
melhor. Uma simples garrafa de plástico vira brinquedo.
SINAIS DE ALERTA

Não engatinha;

Não se arrasta;

Não senta sem apoio;

Não sustenta o peso nas pernas;

Usa só uma mão para brincar;

Sentado não muda de posição.
66
5. Décimo ao décimo segundo mês
Nesta fase a criança tem vontade de realizar tudo sozinha. É idade de grande
experimentação motora. Compreende praticamente tudo que é falado com ela. Na
hora do banho, normalmente quer fazê-lo sozinha.
A criança já se levanta com auxílio para a posição de pé e anda apoiada em grade
da cama, móveis ou sustentada pela mão. No início, anda com os braços e pernas
abertos para se equilibrar melhor.
Fonte: Gonzalez (1979, p.56)
A postura de pé, é aperfeiçoada desenvolvendo as reações de equilíbrio e
encontrando o ajuste. Mantém a postura de gatas e engatinha, transferindo o peso
de um só lado e apóia-se em um objeto para levantar; mantém a postura de
ajoelhada. A postura de pé é mantida apoiando-se em um objeto e sendo capaz de
brincar nesta posição.
Fonte: Gonzalez (1979, p.51)
67
ORIENTAÇÕES

Observar como a criança se locomove: se arrastando ou andando;

Retirar do seu ambiente, objetos que possam causar algum acidente;

Deixar a criança se possível descalça;

Experimentar vários tipos de texturas de chão como: pisar na areia, grama,
tapete. Esse procedimento irá estimular os sentidos e percepção da criança além
do seu equilíbrio.

Não usar andador, pois pode ser perigoso diante de uma escada ou tapete. O
equipamento tira a movimentação natural da criança. O pé deve ficar totalmente
grudado ao chão e não nas pontas dos pés, que é muito comum de se ver;

Para encorajá-la a caminhar sem ajuda, o cuidador deve estar distante da
criança e abrir os braços, chamando-a para perto;

A utilização de brinquedos como carrinhos para serem empurrados, estimula a
criança a andar;
SINAIS DE ALERTA

Não fica na posição de pé mesmo com apoio;

Não realiza mudanças de posturas (deitada virar para os lados, depois sentar,
engatinhar e tentar ficar de pé);

Não procura objetos que viu serem escondidos.

Caso perceba durante a fase de desenvolvimento da criança algum sinal de
alerta, procure um especialista (pediatra, neurologista, fisioterapeuta) para que a
criança possa ser ajudada no seu desempenho motor. Assim, será possível uma
intervenção precoce (estímulos adequados) para um desenvolvimento motor
normal, se necessário.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou descrever as principais aquisições motoras no
primeiro ano de vida da criança, chamando a atenção de pais e cuidadores para
possíveis sinais de alerta no desenvolvimento motor da criança. Do mesmo modo,
buscou contribuir ressaltando a importância de se incentivar um melhor desempenho
nas aquisições motoras, através da exploração do meio ambiente, o que engloba
brinquedos, sons e mudanças de posturas, relação com os familiares, e cultura de
cada comunidade.
Foi observado que a identificação de alterações motoras no período de
desenvolvimento da criança e a intervenção precoce no primeiro ano de vida, facilita
a intervenção devido a maior plasticidade cerebral que ocorre nesta fase,
proporcionando melhores respostas aos estímulos favorecidos.
Estudos relatados apontam para a influência de práticas maternas nas
aquisições e no desenvolvimento do bebê, o que confirma a necessidade dos pais e
cuidadores obterem informações básicas sobre como identificar qualquer desvio no
período de desenvolvimento, podendo agir de forma interventiva, minimizando
assim, possível atraso através da estimulação adequada.
Conforme Lopes et al. (2010),
A estimulação é fundamental no desenvolvimento de um bebê, pois, ele
nasce com muitas habilidades motoras, mas para essas se aprimorarem, se
desenvolverem é preciso que ele vivencie coisas novas, que ele seja
estimulado a conhecer o mundo novo. Uma criança vai se descobrindo
muito mais rápido e eficazmente se estimuladas desde (p.13).
O Produto final do trabalho (Cartilha) foi elaborado através de pesquisa
bibliográfica com o objetivo de contribuir com informações sobre o desenvolvimento
motor normal, permitindo assim, pais e profissionais da área da saúde ter acesso ao
conhecimento de como agir e estimular o bebê em cada etapa do seu
desenvolvimento motor, e, ficar alerta quando houver algum desvio. Para se
alcançar um maior número de pessoas com as devidas informações, a Cartilha será
distribuída em consultórios, creches e maternidades.
69
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motor:
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