Volume 1 - nº 7 - julho 2011 - www.revistamedicando.com.br
ENTREVISTA: ROSELY SCHIERI - GUIA ALIMENTAR BRASILEIRO É BOM, MAS NEGLIGENCIADO
m
revista
saúde em movimento
A ameaça dos
falsos médicos
Você realmente sabe quem
está lhe examinando?
NUTRIÇÃO
Entenda a diferença
entre os alimentos
diet e light
AVANÇO CIENTÍFICO
Nova droga promete
revolucionar tratamento
de diabetes
Cuide da saúde de seus pacientes
usando tecnologia especializada
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m
expediente
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WagnerRibeiro
Colunistas desta edição
Dr.CarlosCanavezBasualdo
Dra.SimoneKikuchi
Gerente de Projetos
OatodeseapropriardedinheiropúbliconoBrasiléalgohistórico,poisestápresenteemnossa
sociedade desde o período imperial. Muda governo, alternam-se partidos e os interesses em se
obterumenriquecimentorápidocontinuam;afinaldecontas,emquatroanostudopodemudar.
Seriadifícilclassificarqualtipodecorrupçãoémaisprejudicialparaasociedade.Atingiramerenda
escolar,superfaturarumaestradaouretirardodoenteoremédio“gratuito”noshospitaispúblicos...
Se pensarmos que qualquer forma indevida de apropriação de recursos limita o orçamento do
governo,chegaremosàconclusãodequeessemalsempreatingiráoutrasáreascríticas.Apartir
dessaperspectiva,podemos,então,suporque,nofinal,todotipodecorrupçãoteriaomesmopeso.
Essaseriaumaanálisematemáticadasituação,massobopontodevistaemocional,acorrupção
nasaúdepodeserconsideradacomoamaisperversaedesumana,poisafaltaderecursosemum
momento de extrema necessidade médica provoca mortes. O mundo gasta anualmente US$ 3
trilhõescomosetordesaúde.SegundoaONGTransparênciaInternacional(TI),cercade15%deste
totaléconsumidopelacorrupção.
GustavoLourenço
ParaHuguetteLabelle,presidentedaTI,acorrupçãoéumaquestãodevidaoumorteporque,
Coordenador de TI
tamentodePolíticasePautasparaMedicamentosdaOrganizaçãoMundialdeSaúde(OMS),para
RenatoMendes
Equipe de TI
quandoocorre,podematar.EssaopiniãoécompartilhadaporGuitelleBaghdadi-Sabeti,doDeparquemacorrupçãoestápresentetantonospaísesdebaixarendaquantonasnaçõesmaisdesenvolvidas.
AlexRodin
Infelizmente,acorrupçãonasaúdenãosemanifestaapenasnodesviodeverbas,mas,também,por
FrankBezerra
falsomédico,quesepassaporumprofissionaldasaúdehabilitado,paraobtersaláriosereconheci-
ErickFrancis
meioderoubodematerial,falsificaçãoderemédiosealgoque,infelizmente,nãoéraronoBrasil:o
MarinilsonSoares
mentoincompatíveiscomsuaverdadeiraqualificação.
RanieryRibeiro
RuyFerreira
AimprensasempreteveumpapelimportantenalutacontraacorrupçãoeaRevistaMedicando
Endereço Comercial
Sistema M de Comunicação
ediçõesfuturas,trataremosdeoutrasfacesdessemonstrochamadocorrupção.
seguiráessecaminho.Nestaediçãoabordaremosoproblemadofalsoprofissionaldesaúdee,em
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MaurícioLima
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SaúdeemMovimento
sumário
Volume 1 - nº 7 - julho 2011 - www.revistamedicando.com.br
ENTREVISTA: ROSELY SCHIERI - GUIA ALIMENTAR BRASILEIRO É BOM, MAS NEGLIGENCIADO
m
revista
saúde em movimento
A ameaça dos
falsos médicos
Você realmente sabe quem
está lhe examinando?
NUTRIÇÃO
Entenda a diferença
entre os alimentos
diet e light
AVANÇO CIENTÍFICO
Nova droga promete
revolucionar tratamento
de diabetes
CAPA
ESTELIONATO NA SAÚDE:
o perigo dos falsos médicos
16
PlANtão M
Proibição da venda
de cigarro com sabor ganha força - 06
CoM A PAlAvrA
A epidemiologista Rosely Schieri explica como a indústria
alimentícia influencia a má alimentação do brasileiro - 10
INstItUCIoNAl
Eventos permitem divulgar o Portal Medicando
para profissionais de saúde - 21
o QUe É?
Cálculo Renal - 24
AvANço CIeNtífICo
Descoberta traz esperança para diabéticos - 26
verDADe oU MeNtIrA
Será que utilizamos apenas 10%
da capacidade do nosso cérebro? - 30
ColUNAs
Sopas, quem resiste? ....................................................................................................................................................................................... 14
Entenda a diferença entre alimentos diet e light ............................................................................................................................ 26
Enviesuassugestões,dúvidasecrí[email protected]
m
plantão M
Proibição da venda
de cigarro com sabor
ganha força
No encontro realizado na sede
da Organização Pan-Americana de Saúde
(Opas),apropostafeitapelaAgênciaNacional
deVigilânciaSanitária(Anvisa)ganhouforça.
Aentidadesugereaosfabricantesdecigarros
que não adicionem açúcares e flavorizantes
em seus produtos. De acordo com o MinistériodaSaúde,ogovernonãopodepermitir
queasindústriasdetabacovendamcigarros
comsabores,poisissotornaoprodutomais
atrativo,principalmenteaosjovensqueestão
emfaseinicialdovício.
Durante a reunião, a situação dos
pequenosagricultores,quetêmseusnegócios
ligados à indústria do tabaco, foi levada em
consideração.Comoelessãooladomaisfrágil
doprocesso,automaticamentesairiamprejudicados. “Temos que ser capazes de propor
uma regulamentação que atenda aos interesses da saúde pública brasileira e, principalmente,dospequenosagricultoresbrasileiros”,
disseAgenorÁlvares,diretordaAnvisa.
Celular em excesso
pode afetar o cérebro
EstudorealizadoporcientistasnaIARCem
Lyon,naFrança,alertamparaapossibilidadedeefeitosadversoscausadospelosusoindiscriminadode
aparelhos celulares. O perigo, segundo a pesquisa,
estánaexposiçãoprolongadaàradiaçãotransmitida
poressesdispositivos.
Oriscoépotencializado,sobretudo,entreosjovens
eascrianças,quandoapessoautilizaotelefonedurantemaisdemeiahorapordiaaolongode10anos.
Emumaescaladeriscodeumaquatro,ondeoquartonívelindicasérioriscoàsaúdehumana,
aradiaçãodoscelularesfoiclassificadacomo2B.
Segundoosestudiosos,umdostumoresquepodesedesenvolveréoglioma,um
tipodecâncercerebralmaligno.Outroéomeningioma,emqueadoençasemanisfestanas
membranasqueenvolvemocérebro.E,porfim,oneuromaacústico,queseconfiguraperto
doouvido.Esseúltimo,emboranãomaligno,podecausarsurdez.
Anteessesriscos,oscientistasaconselhamqueaspessoasdiminuamousodoscelulares,ouqueoptemporoutrasformasdecomunicação,comofonesdeouvidoemligações
maislongaseoenviodeSMS(mensagensdetexto).
Contaminação de pepinos
preocupa população mundial
NúMeros
Entre 2007 e 2010, o número de
marcasdecigarroqueadicionamsaboraseus
produtoscresceude21para40.Segundodados do Instituto Nacional de Câncer (Inca),
ficoucomprovadoque45%dosfumantesde
13 a 15 anos preferem os produtos com essência,comoasdechocolate,limãoecereja.
06
Asautoridadesalemãsvoltaramatrásereconheceramqueosurtodeceparesistente
dabactériaE.colipodenãotersurgidonaEspanha.Provasfeitasemdoispepinosvindosde
terrasespanholasrevelaramapresençadabactériaEceh.Naocasião,aEspanhadefendeuseus
agricultoreseacusouosalemãesdefazeremfalsasacusações.Ficoucomprovadoqueabactéria
presentenospepinosespanhoisédiferentedaquecausoudezenasdemorteseahospitalizaçãodemaisdemilpessoasnaAlemanha.
Em meio às desavenças, a situação continua grave e mais
casostêmsidocontabilizadosdiariamente.Enquantoisso,
especialistas lutam para interromper o avanço da
bactériaqueestáinstaladaemhortaliçascruas,
como o pepino. Suécia, Dinamarca,
ReinoUnido,Holanda,França,Suíça,
Áustria e a Espanha já tiveram
casosdainfecçãoconfirmados.
OMS pode destruir
últimas amostras do vírus da varíola
ConsideradaextintapelaOrganizaçãoMundialdeSaúde(OMS)desde1980,avaríolaainda
possuiamostrasdeseuvírusemdoislaboratórios.Emmaio,paísesmembrosdaentidadeconcordaramemadiaremtrêsanosadecisãodefixarumanovadataparadestruirosúltimosexemplares.
Hácientistasquedefendemadestruiçãodasamostrasparaevitaroriscodeosvírus
escaparemeadoençaressurgir,aexemplodoocorridoem1970,quandohouveumcasode
contaminaçãoemBirmingham,noReinoUnido.Jáogrupoqueécontraadestruiçãodovírus
alegaqueacabarcomasamostrasseriacantarvitóriasobreadoençaantesdotempo.Ealertam
paraapossívelexistênciadeexemplaresclandestinosdovírus,queaindapodemserrecuperadosemcadáverescongelados.
Avaríolafoiresponsávelpor500milhõesdemortesapenasnoséculo20esóconseguiusererradicadaapósumesforçomundialdevacinação.Hoje,comodeclínionadoença,
osgovernosinterromperamasimunizações.
Unesp cria curso para tornar
legíveis as receitas médicas
O curso de Seleção Racional de Medicamentos e Boas Práticas de Prescrição Médica e
Odontológica,criadopelaFaculdadedeMedicinadaUnesp,emBotucatu,pretendeporfimàilegível
letradosmédicoseaoutrasinadequaçõesnaprescriçãodemedicamentos.
AiniciativacontacomaparceriadoMinistériodaSaúde,queirádisponibilizaratodosos
profissionaisdoSistemaÚnicodeSaúde(SUS)oconteúdodadisciplina.Ocursopretendeconscientizarosalunosdequeareceitamédicaéumdocumentoparaopacienteeque,porisso,eleprecisa
entenderoqueestáescritonela.
SegundoestudosdaOrganizaçãoMundialdaSaúde(OMS),metadedosremédiosquecirculampelomundoforamprescritos,vendidosouadministradosdemaneiraincorreta.Sãocomuns,
de acordo com a entidade, prescrições com doses excessivas ou com medicamentos que podem
causarinteraçõesperigosas.
Nocurso,osalunosaprenderão,nateoria,amaneiracorretadesepreencherumreceituário.
Asabreviaturas(comoporexemplo,V.O.)darãoespaçoparaasfrasescompletas(nocaso,viaoral).
Cresce o número de crianças
que sofrem de gastrite
Médicosalertam que a ingestão excessiva de produtosindustrializados é uma das principais causas da
gastriteinfantileafirmamquecercade10%dascriançasquetêmcomfrequênciadoresnabarrigasofremdessemal.
Amáalimentação,emconjuntocomousoincorretodeantibióticoseanti-inflamatórios,podeagravar
ossintomasdadoençaeprovocarfaltadeapetite,vômitoseenjoosapósasrefeições.
Osmédicosaconselhamqueomelhorafazeréexplicaraosfilhosaimportânciadeterumaalimentação
balanceadaesaudável,como,porexemplo,substituirdoceserefrigerantesporumcafédamanhãcomleite,sucode
frutas,cereaisepão.Noalmoçoenajanta,alémdohabitualarrozefeijão,oidealécomerverduras,legumesecarne.
c
coluna
DietxLight
Você sabe qual é a diferença?
As prateleiras dos supermercados estão repletas de alimentos para
todos os gostos e necessidades, o que
dificultaaescolhadomaisadequado.Alimentosdietoulight,segundonossalegislação,seenquadramcomoalimentospara
finsespeciaisesãocadadiamaispopulares.Sóparaseterumaideia,noano2000
esses produtos movimentaram cerca de
US$1,7bilhãoe,atualmente,ovaloranual
superaosUS$2,3bilhões,deacordocom
?
?
08
?
aAssociaçãoBrasileiradaIndústriadeAlimentos Dietéticos (Abiad). E o consumo
sóaumenta:de1998a2008ocrescimento
foi de 800%! No entanto, apesar de tantosadeptosdosprodutos,atireoprimeiro
adoçante quem nunca ficou em dúvida
sobreadiferençaentredietelight!
Buscando atender a uma demandaascendente,resultadosdeestudos
de mercado realizados nos últimos dez
anos comprovam que indústrias de ali-
mentosvêminvestindoemdiversificação
e expansão de suas linhas de produção
de alimentos light ou diet. Por tal razão,
diversas categorias desses produtos possuem, hoje, substitutos com diferentes
composições nutricionais. Dentre os disponíveisnomercado,osmaisconsumidos
sãoosadoçantes,ossucoserefrigerantes,
ospães,assobremesaslácteas,osbiscoitos e o leite tipo longa vida (semi-desnatadoedesnatado).
?
?
?
Os dois tipos ajudam a emagrecer? Diabéticos devem consumir alimentosdietoulight?Tudoqueélightnãotem
açúcar? Afinal, refrigerante zero e light é
a mesma coisa? Entenda as diferenças e
saiba escolher o produto mais adequado
paraoseuperfil.
ProDUtos lIGHt
Otermolightpodeserutilizadoem
produtosquetenhamumvalorreduzidoou
baixodecaloriasdequaisquerdosingredientes. Esses alimentos devem ter, no máximo,
40kcalem100gdoproduto,ou20Kcalem
100 ml, ou até 25% menos calorias, se comparados a um produto similar, e essas informaçõesdevemaparecernorótulo.
Eostermos:baixo,pobre,leve,low,
lite? De acordo com nossa legislação, todos
os seis podem ser utilizados para identificar
produtoslight,poistratam-sedamesmacoisa. Geralmente são indicados para pessoas
quepreferemalimentoscommenoscalorias
ou com quantidade reduzida de algum nutriente,poisbuscamreduçãooumanutenção
dopesoebem-estar.
Mas atenção: não esqueça que os
produtos light só ajudam a perder peso se
houver, também, uma redução na quantidade de algum nutriente energético, como
carboidrato, lipídio e proteína. E o consumo
exagerado pode levar a uma ingestão igual
ouatémaiordaquantidadedecalorias.
ProDUtos DIet
A real diferença entre diet e light
está na quantidade permitida de nutrientes.
Enquanto que o light precisa ter uma diminuiçãode25%novalorcalórico,odietdeve
apresentar um corte de 100% de algum nutrienteespecífico.Outradiferençaéqueoalimentolightnãoé,necessariamente,indicado
parapessoasqueapresentemalgumtipode
doença (diabetes, colesterol elevado, celíacos,fenilcetonúricos),jáodietsim.
Otermodietsópodeseraplicadoa
alimentosdestinadosadietascomrestriçãode
nutrientes,comocarboidrato,gordura,proteínaousódio.Assim,umalimentoindicadopara
a ingestão controlada de açúcar não pode
conteressenutriente,sendopermitida,contudo, a existênciado açúcar naturaldo alimento.Umexemploéageleiadiet,quenãotem
acréscimodeaçúcaremsuacomposição,mas
contémaglicosenaturaldafruta,afrutose.
Éimportantequefiqueclaroque
nem todos os alimentos diet apresentam
diminuiçãonaquantidadedecalorias.Um
chocolate diet, por exemplo, não contém
açúcar, porém, apresenta valor calórico
próximoaodochocolatenormal.Ochocolate diet é indicado para pessoas diabéticas, mas não para as que estão querendo
emagrecer,pois,nessesprodutos,oaçúcar
ésubstituídoporoutrasubstânciaquedáo
sabordoceaoalimento.Apesardenãofazerem mal ao diabético, essas substâncias
contêm calorias. O sorbitol, por exemplo,
queéumadassubstânciasmaisusadasem
produtos dietéticos, tem 2,4 calorias por
grama,cercade60%dascaloriasdoaçúcar
decanacomum.
Porexemplo,duasfatiasdepãodiet
possuem120calorias,omesmoqueumpão
dequeijogrande.Trêsbolasdesorvetenapoli-
tanodietpossuem160calorias,omesmoque
um brigadeiro mais uma fatia de pudim de
chocolate.Cemgramasdebiscoitodocediet
possuem tantas calorias quanto uma fatia de
pizza de mussarela mais um picolé de limão,
quesomamcercade360calorias.
Assim, conclui-se que um produto
dietéaquelequetemumdeseuscomponentes removidos, podendo ser o alimento sem
açúcar,mastambém,alternativaouconcomitantementesemgordura,salouproteína.
o Zero É PArA QUeM Não
É DIet, NeM lIGHt?
O zero foi o último a integrar os
termos empregados em embalagens de
alimentos. Eles não possuem muita diferença quando comparados aos produtos
diet.Onome“zero”indicaqueoalimento
apresenta restrição ou isenção de algum
nutriente em comparação com a versão
tradicional. Um caso de alimentozerosão
osrefrigerantes,quesãoisentosdeaçúcar
epossuemmuitomenoscaloriasemcomparaçãoaoprodutooriginal.
Colunista
Muriel lo leggio
NutricionistaClínicado
HospitalSírio-Libanês-
ÁreadeConcentração:
NutriçãoeEnvelhecimento
09
c
com a palavra
Os desafios
da boa nutrição
Em entrevista à revista Medicando ‒ saúde em
Movimento, epidemiologista Rosely Sichieri explica por-
que o guia alimentar brasileiro, além de melhor que os de
países como os EUA, tem tudo para ser usado no comba-
te à obesidade, mas é negligenciado, principalmente pelo
forte apelo da indústria alimentícia
Por Danielle Coimbra
“Asociedadetemqueseengajarna
lutapeloacessoaumaalimentaçãodequalidade. Temos que começar a entender que
issonãoéumproblema,esimumasolução.”
Écomessaafirmaçãoqueaepidemiologista
Rosely Sichieri, da Universidade Estadual do
RiodeJaneiro(UERJ),chamaaatençãopara
umtemahámuitodiscutido:amáalimentaçãodapopulaçãoesuasconsequências.
Sichieri,quepossuidoutoradoem
NutriçãoemSaúdePúblicapelaUniversidade
deSãoPauloepós-doutoradoemEpidemiologia pela Universidade Harvard (EUA), realizouem2010umestudocomparativoentreo
BrasileosEstadosUnidos,denominado“Dietary recommendations: comparing dietary
guidelinesfromBrazilandtheUnitedStates”,
paraavaliarosguiasalimentaresdosdoispaíses.Mesmoafirmandoqueomodelobrasileiro é melhor, por incluir uma dieta à base
dealimentosregionaisefrescos,eladestaca
que as pessoas ainda não despertaram para
anecessidadedeumaalimentaçãobalanceada,comaingestãodenutrientessaudáveise
empequenasquantidades.
No que diz respeito à influência
daindústrianamesadocidadão,Dra.Rosely
comentaqueaadesãodoBrasilàrecomendação da Organização Mundial de Saúde
(OMS),sugerindoqueototaldeenergiaingeridaprovenientedoaçúcarnãopassede
10%,quasenãoocorreu,devidoàoposição
10
dosgrandesprodutoresdeaçúcar.“Oaçúcar
émuitobarato,então,dopontodevistada
indústria,émaisfáciltê-lonaalimentaçãodo
queadicionarfrutas,porexemplo.”
Aepidemiologistaaponta,ainda,
osprósecontrasdofatodeoBrasiltersido
o primeiro país da América Latina a inse-
rir nos rótulos dos produtos a quantidade
de gordura trans presente nos alimentos.
“Foi um passo muito importante para o
país, que reconheceu os efeitos da gordura trans no organismo, porém, algumas
marcas provocam uma desinformação à
população. Ao traduzirem o limite de 1%
Arepresentaçãodoprato,chamadonosEUAde MyPlate,consisteemquatro
seçõescoloridas,comfrutas,hortaliças,grãoseproteínas.Aoladoháaindaum
círculomenorparaosprodutoslácteos,quesugereumcopodeleitecombaixo
teordegorduraouumcopodeiogurte.
o Brasil seguiu a recomendação da
oMs, que sugere que o total de energia ingerida por açúcar não passe de
10%. Isso aconteceu mesmo havendo uma forte oposição feita pelos
fabricantes de açúcar. No caso dos
eUA, que não baixaram a quantidade
de açúcar nos alimentos, a influência
da indústria americana prevaleceu
ou foi uma falha?
Foi determinação direta da indústria de alimentos, e aqui no Brasil também tentaram.
OMinistériodaAgriculturaeracontraarecomendaçãodaOMSeoMinistériodaSaúdefoi
quem levantou a questão para a seguirmos.
Existiaumaoposiçãodogrupoquerepresentaaproduçãodealimentos,poisoBrasiléum
grandeprodutordeaçúcar.Senãomeengano, somos o segundo maior consumidor de
açúcareumdosmaioresprodutoresdecana
deaçúcarnomundo,entãoaindústriadeterminaoqueagentecome.
Como conseguimos baixar a ingestão de açúcar e seguir a recomendação da oMs?
Nonossocaso,felizmente,aaçãodoMinistériodaSaúdetevemuitoimpacto,houve
uma preocupação em fazer o Brasil seguir
essapolítica.Ébomquejáexistaessaaderência do país à recomendação, mas para
isso se transformar em norma real, da populaçãoestarconsumindoisso,daspesso-
Arquivopessoal
“
As crianças hoje não
sabem o que é uma
berinjela, uma abobrinha.
Elas precisam consumir
esses alimentos de
forma mais harmônica
na escola, pois a merenda
“
do valor energético total em um máximo
de0,2gporporçãodealimento,asindústriastêmenganadoarecomendação,detal
modo que a quantidade de gordura trans
se mantém sempre abaixo do máximo recomendadopordia”,explica.
Dr. Rosely também traz à baila um
assunto muito discutido na última semana, a
respeito da nova definição para a atual pirâmide alimentar, que será substituída pela representação de um prato. “Não significa que
porque está na base podemos comer muito,
mesmoqueessealimentosejafeijão,arroz,milho.Aideiaéquetemosquecomerumaquantidadeparasaciar,eopratoéumarepresentação disso”, diz. O modelo foi apresentado no
início de junho pela primeira dama dos EUA,
MichelleObama,seguindoasnovasrecomendaçõesnutricionaisdogovernoamericano.
também faz parte do
aprendizado do que
deve ser consumido
as começarem a seguir, ainda falta muito.
Teríamos que ter uma política do “não
coma”eissoémuitodifícildepassar,porque estamos em um país que quer incluir
ummontedegente,eissosignificaincluir
pessoasnoconsumo.
É uma questão cultural também, certo?
Sim, e os nossos doces são muito doces.
São mais doces que em outros países e
devem ter também mais calorias. Isso
acontece muito por conta da colonização
portuguesa, que adicionava uma grande
quantidade de açúcar aos alimentos. E o
açúcar é muito barato, então, do ponto
de vista da indústria, é mais fácil tê-lo na
alimentação do que adicionar frutas, por
exemplo. Para várias coisas você poderia
terumaquantidademenordeaçúcar.
o Consenso Brasileiro Dietético (BDG)
recomenda que menos de 1% do
valor total de energia ingerida seja
proveniente de gorduras trans. Como
funciona isso?
OBrasilfoiumdosprimeirospaísesdaAméricaLatinaacolocarnosrótulosdosalimentosaquantidadedegorduratrans,masaqui
amarcaçãoéemtermosdepercentual,diferentedeoutrospaísesquevieramdepois,a
exemplodoChile.Asindústriasdiminuíram
o percentual na porção, o que causou uma
desinformação da população, pois algumas
marcas dizem ter produtos que são livres
degordurastrans,quando,naverdade,isso
ocorreporqueaporçãoétãopequenaque
realmentenaquelaporçãonãoháaquantidadenecessáriaparaserconsideradocomo
umprodutocomgorduratrans.Temosprodutosemqueagorduratransénatural,então,quandosefezarecomendaçãonoBrasil,
foiparadarcontadessaquantidadedegordura trans que já é natural do próprio alimento.Anossalegislação,comosaiuprimeiro,ficoucomesseproblema,poisaindústria
tem aproveitado para fazer a gente consumircoisasquenãosãoisentasdeadiçãode
gorduras trans. Tudo que estiver escrito no
alimentoquepossuigorduravegetaleácido
graxotrans,éporquetemgorduratrans.No
Chile,porexemplo,ézerodetransquenão
vemdopróprioalimento.
A indústria, em seus rótulos, afirma
que está respeitando esse limite.
Isso é verdade?
Na maior parte dos casos, os alimentos já
estão sem a adição de gordura trans, mas
aindaassimagentevêindústriasimportantesqueestãoutilizandoalegislaçãodeuma
formaquenãoseriaamaisadequada.
A quem devemos culpar? Governo,
Anvisa, Inmetro...
A nossa lei permite isso. Mas ela deveria concentrar apenas aquela gordura
trans que é natural do produto, e não a
adicionada. No Chile isso não acontece
porque nos rótulos está zero de adição
degorduratrans.Masfoiumpassomuito importante do Brasil, que foi um dos
primeiros da America Latina a aderir à
norma, ao ver os efeitos que a gordura
transtemnoorganismo.
11
com a palavra
Poderia nos citar alguns desses efeitos?
Asgordurastransestãomuitoassociadasàs
doenças cardiovasculares. Existem estudos
experimentaisecomhumanosquemostraram que a gordura que mais causa problemasdopontodevistadedanosaocoração
éagorduratrans.
Nas últimas décadas houve um aumento acentuado no número de obesos nos eUA. em 2010, pela primeira
vez, esse número não aumentou, tendo, na verdade, se estabilizado. Isso
seria uma consequência do início de
uma política pública que deu certo no
país ou é apenas um ponto de “saturação”, já que nunca 100% da população será obesa?
Depoisque60%dapopulaçãosemantém
com algum grau de excesso de peso, começamos a ter uma redução no aumento de pessoas com sobrepeso. Além do
que, existe um percentual da população
que está “protegido”, digamos assim, pois
come e não engorda. O fato mais importante que temos de observar, também no
Brasil,éoqueestáacontecendocomapopulaçãojovem.Poressemotivo,osEstados
Unidos estão muito preocupados com o
que vem acontecendo com os adolescentes,queserãoosadultosdeamanhã.Setivermosessedadodeexcessodepesocom
muitaprevalência,comoestáacontecendo
nosEUA,teremosumapopulaçãocadavez
mais precocemente obesa. Os dados do
Brasil também são alarmantes nesse sentido, não tanto por conta da quantidade,
que todos sabem que está aumentando,
massimporqueestáaumentandomuitoo
excessodepesonapopulaçãojovem.
No Brasil, mesmo com um guia alimentar mais elaborado, a obesidade continua crescendo muito. o que isso mostra?
Nocasodaobesidade,nãoadiantafalar“não
comaisso,nãocomaaquilo”.Apessoatem
que comer menos. Quando se está engordando,nãoadiantaapenasprocurarporalimentossaudáveis,atéporqueapessoanão
deixadecomerosnãosaudáveisparacomer
somente os saudáveis. Temos estudos que
mostramquemesmoquemcompraalimen-
12
“
Existe toda uma política para que, de fato, se
reduza o consumo e a adição de açúcar no lanche
escolar, mas é bastante difícil convencer as pessoas de
que esse é o melhor caminho. No Brasil, os sucos, por
“
c
exemplo, são extremamente adoçados, porque
as merendeiras entendem que se não adicionar
açúcar as crianças não irão tomar
tossaudáveisparaconsumiremcasaacaba
tendo uma dieta com poucos nutrientes e
muita energia. Temos o costume de comer
arroz e feijão, mas, além disso, também tomamos refrigerante, por exemplo, que é
algo definido pela indústria de alimentos.
Jánãoseparamosmaisoquegostamosdaquilo que a propaganda diz que devemos
gostar.Porquetodomundoingerelíquidos
na hora da alimentação? Isso é fisiológico,
isso é necessário? Não, não é. Isso é determinado por uma indústria que te obriga a
beber alguma coisa enquanto come. E, no
Brasil, há muitos anos se tenta passar uma
legislação de não haver propaganda de alimentaçãovoltadaparaascrianças,quenão
conseguemdiscerniroqueéarealidadeda
fantasia.Porém,aindústrianãoteminteressequesemexanessalegislação.
Podemos dizer que o Guia Alimentar
Brasileiro é melhor que o americano?
Sim, no sentido de que a ideia do Guia é
estimularoconsumodealimentosquefaçam parte da cultura, que sejam regionalmente diferenciados, que façam parte da
produção local. Ele é bem mais inclusivo
doqueoamericano.
Mesmo melhor que o americano, ainda há falhas nele?
Mesmo que seguíssemos o Guia, ainda não
conseguimos chegar numa orientação de
alimentação que fale para as pessoas que
elas não podem comer demais. Temos de
enfrentar o fato de que a obesidade é tida
hojecomoumdosprincipaisproblemasda
saúdepúblicaassociadoàalimentação.Portanto,mesmoqueagentefaleparaaspessoas consumirem alimentos que, do ponto
de vista nutricional, sejam mais adequados,
maselascomeremmuitafruta,porexemplo,
elastambémengordarão.Issoéumproble-
maaserenfrentadoportodososguias.Apirâmidealimentar,quesemprefoioíconedo
guia alimentar nos EUA, foi substituída por
umprato.Nãosignificaqueporqueestána
basequerdizerquepodemoscomermuito,
mesmoqueessealimentosejafeijão,arroz,
milho.Aideiaéquetemosquecomeruma
quantidadeparasaciar,eopratoéumarepresentaçãodisso.Elenãopodeficarcheio,
massimcomumaquantidadedealimentos
adequada.Naideiadapirâmide,vocêpoderiacomeroquantoquisessedessesalimentos considerados mais saudáveis e menos
daqueles considerados menos saudáveis,
mas, na verdade, temos que controlar a
quantidadedecomidaquecomemos,independentementedotipodealimento.
Arquivopessoal
Qual a relação disso tudo com as políticas públicas?
Inclusive, atualmente, sua pesquisa gira
em torno da redução do consumo de bebidas adoçadas e de biscoitos em escolares, certo? Já temos alguma percepção
sobre essa pesquisa? Algumas escolas
proibiram a venda de doces e refrigerantes em suas cantinas. Isso é algo isolado
ou já é um consenso?
Asescolastêmsepreocupadocomissoe,algumasdelas,têmconseguidoreduziroconsumo
desses alimentos, mas a gente tem visto que,
mesmoquandooaçúcarnãoécompradopor
quem provê a merenda, as pessoas acabam
levando-odaprópriacasa.Nessesentido,existe
todaumapolíticaparaque,defato,sereduzao
“
Na maior parte dos casos, os alimentos
já estão sem a adição de gordura trans,
mas ainda assim a gente vê indústrias
importantes que estão utilizando
a legislação de uma forma que não
seria a mais adequada
consumoeaadiçãodeaçúcarnolancheescolar,masébastantedifícilconvenceraspessoas
de que esse é o melhor caminho. E não basta
apenas ter uma lei dizendo isso. No Brasil, por
exemplo,ossucossãoextremamenteadoçados.
Fizemostestescommerendeirasedescobrimos
queelasprecisamserconvencidasaproduzirem
receitascomummenorteordeaçúcar,porque
elas entendem que, se não o adicionarem nos
alimentos,ascriançasnãoirãocomê-los.
Há necessidade de uma intervenção do
governo nessa questão?
Aintervençãoquedevehaverénosentidode
nãopermitiravendadessetipodealimento,
nas escolas e em sua periferia, e da criação
“
A ideia é que os guias orientem as políticas
públicas. Elas, por sua vez, têm que orientar
para o consumo de alimento mais saudável,
innatura,quesejaomenosprocessadopossível.Masparaquesejaviávelénecessárioque
se coloque isso à disposição da população,
pois, às vezes, há uma dificuldade no acesso a esses tipos de alimento. Tem de haver
umtrabalhonasescolastambém,porqueas
criançashojenãosabemoqueéumaberinjela,umaabobrinha.Essesalimentostêmdeser
apresentadosàscrianças,elasprecisamconsumi-losdeformamaisharmônicanaescola,
queéoutromomentoimportantedapolítica
pública,deproveramerendaescolar,poisa
merenda também faz parte do aprendizado
doquedeveserconsumido.
de uma legislação que não admita a propagandadealimentosparacrianças,queainda
não têm capacidade de discernimento. Essa
legislação é mais do que salutar. É mais do
quenecessárioserfeito,masogovernonão
conseguepassaressaleisozinho.Nãoexiste
ninguém no Congresso Nacional que esteja
preocupado com alimentação. Preocupamsecomogado,comasflorestas,comaproduçãodesoja...Asociedadetemquecomeçaraentenderqueissonãoéumproblema,
é uma solução. Ela vai ter que se engajar na
lutapeloacessoaumalimentaçãodequalidade. É todo um processo, tanto de facilitar
oacessoaverduraselegumes,e,pelomenos
noâmbitodasescolas,sercapaz,defato,de
regulamentaraingestãodessesalimentos.
13
c
coluna
Sopas, quem resiste?
Com as temperaturas caindo, não há quem resista
a uma boa sopa para aquecer o corpo e a alma
A
credita-sequeasopanasceuquandoohomemnotouqueascarnes
duras, provenientes de suas caçadas, se amaciavam e ganhavam
melhorsaborquandocozidascomáguaeervas.Comopassardotempo,naIdadeMédia,
a medicina começou a reconhecê-la como
terapêutica, e a mais comumente prescrita
eraocaldodegalinha.Oseupreparoéfácile
ocustobaixo,alémdeterbomvalornutritivo.
No século 16 a sopa ganhou
toquesdesofisticaçãopelasmãosdositalianosefranceses,agregandoervasaromáticas, creme de leite e nata. Criaram-se, assim, veloutés, consommés e crèmes. Com
o avanço da culinária e a criatividade dos
chefs, as sopas passaram a fazer parte do
menudebonsjantares.
Mesmo com a vida moderna e
agitada,ohomemcontinuoudesenvolvendo
tecnologias para que a sopa se mantivesse
emsuaalimentação.Oséculo20marcaessa
revolução com o surgimento de sopas em
lata, desidratadas ou congeladas, cujo sabor
14
nem sempre é tão apreciado quanto uma
sopa fresca, além de não apresentarem as
mesmascaracterísticasnutricionais,masque
sãoinegáveleextremamentepráticas.
Cadapaístemnasuaculináriauma
sopaquetrazconsigoahistóriadasuaagricultura e do seu povo. O Brasil com o caldo
democotóeodefeijão,Portugalcomocaldo
verde,aEspanhaeseutradicionalgazpacho,
a França com a sopa de cebola, a Itália e o
delicioso minestrone e o Japão com o missoshirosãosóalgunsexemplos.
O modo de preparo interfere diretamente na quantidade de nutrientes da
sopa. Para um caldo mais rico em purinas
(proteínas),acarnedeveseracrescentadana
águafria,paraliberaressenutrientegradualmente,conformeaáguaesquenta.Seasopa
for consumida com legumes em pedaços,
colocá-los em água quente ou fria não fará
diferença, porém, se somente o caldo for
consumido, devemos seguir o mesmo procedimentodacarne,paraqueseusnutrientes
sejammelhortransferidosparaaágua.
O valor calórico da sopa varia de
acordocomosalimentosagregadosaela.As
maiscalóricassãoàbasedemolhobrancoe
cremedeleite,devidoàquantidadedegorduras contida nesses produtos, e aquelas
à base de mandioca, batata, fubá e macarrão, pela concentração de carboidratos. A
inclusão de queijo ralado, azeite e manteiga
tambémaumentasuadensidadecalórica.Por
exemplo: uma colher de sopa desses ingredientessoma,respectivamente,59,110e74
caloriasàrefeição.
De fato, a sopa é um prato extremamente nutritivo, fonte de vitaminas
(verduras e legumes), carboidratos provenientes dos legumes (batata, mandioquinha,
cenoura)oudefarinhasemassasagregadas
a ela (aveia, fubá, farinha de milho), proteínas(dafonteanimalescolhida:peixe,frango,
carne,ovos)egorduras.
Utilize azeite, manteiga e queijo
raladocommoderaçãoeaproveiteaestação
maisfriadoanocolocandoasreceitasabaixo
emprática.Bomapetite!
Canja de galinha
Creme de palmito Sopa de legume
e carne moída
INGREDIENTES:
Caldo:
INGREDIENTES:
1frangomédioempedaços
3talosdesalsão
1maçomédiodesalsinha
1cebolamédiapicada
1cenouramédiapicada
Salagosto
½xícaradechádearrozlavado
3colheresdesopademanjericão
2xícarasdecenouraralada
2xícarasdecebolaralada
4colheresdesopadeazeite
3 xícaras de chá de abóbora moranga em
cubos
2xícarasdechádeabobrinhaemcubos
2xícarasdemandiocaemcubos
3colheresdesopademolhodetomatenatural
5colheresdesopadeazeite
3colheresdesopadesalsinhapicada
3cenourasemcubos
150gdecarnemoída
6dentesdealhoamassados
1cebolamédiapicadinha
Salagosto
MODO DE PREPARO:
Limpe o frango e pique-o em pedaços
pequenos. Retire o excesso de gordura e
coloque-o em uma panela grande. Adicione
6litrosdeágua,acenoura,acebola,omaço
desalsinhaamarradoeosalsão.Leveaofogo
baixoecozinhe,comapanelatampada,por
2horas.Devezemquando,retireagordura
que se formar na superfície com a ajuda de
umaescumadeira.Retiredofogo,coeocaldo
e desfie o frango. Reserve. Em outra panela,
aqueça o azeite, junte a cebola e a cenoura.
Refogue, sem parar de mexer, por cinco
minutos.Acrescenteofrangoerefoguemais
um pouco. Junte o caldo reservado, o manjericão, o arroz e o sal. Cozinhe por mais 35
minutos, até o arroz ficar bem macio. Mexa
algumasvezesduranteocozimento.
Rendimento: 10 porções
INGREDIENTES:
3xícaras(chá)depalmitoemconservapicado
4colheres(sopa)demargarina
1cebolapequenapicada
2colheres(sopa)defarinhadetrigo
1xícara(chá)deleitedesnatado
½xícara(chá)decaldodegalinha(podeser
caseiro)
Salenoz-moscadaagosto
MODO DE PREPARO:
MODO DE PREPARO:
Doure a cebola com 2 colheres de sopa de
margarina,acrescenteospalmitoserefogue.
À parte, derreta o restante da margarina e
acrescenteafarinhadetrigo,mexendobem
atédourare,aospoucos,junteoleite.Mexa
atéformarumcreme.Noliquidificadorcoloqueopalmito,ocremeeocaldodegalinha,
batapor2minutosesirvaasopasalpicada
comnozmoscada.
Primeirorefogueacarnemoídacom3dentes
dealhoamassados,acebolae3colheresde
óleo.Reserve.Emoutrapanela,refoguecom
2 colheres de óleo e o alho restante, as cenouraseamandiocaeacrescente4coposde
água. Tampe a panela e deixe ferver. Acrescente a abóbora e a abobrinha em cubos e
deixe ferver. Quando os legumes estiverem
cozidos e o caldo estiver cremoso, abaixe o
fogoeadicioneasfolhasdesalsinhaeacarne
moídapronta.Desligareservir.
Rendimento: 4 porções
Rendimento: 4 porções
Dra. simone Kikuchi
HospitalSírioLibanês-
NutricionistaClínicaeAmbulatorial
EspecialistaemNutriçãoemDoençasCrônico
Degenerativas–HospitalIsraelita
AlbertEinstein-GraduadaemNutrição–
UniversidadeSãoCamilo
15
c
capa
A ameaça
dos falsos médicos
Eles podem ser estudantes de medicina
ou simplesmente falsários, mas estão
em toda parte e encontram-se onde
menos se espera. Grandes hospitais
nas capitais ou pequenas unidades
de saúde no interior, ninguém
parece estar completamente livre.
Conheça o perigo e saiba como
se esquivar dele
Por Salvador Nogueira
16
o
cenárioéIcaraíma,pequenacidade de 9.000 habitantes no noroeste do Paraná, divisa com Mato
GrossodoSul,emmeadosdadécadade1990.Umdostrêsmédicosdohospital local decide se candidatar a prefeito e
precisarapidamenteencontrarumsubstituto.Contrata-odepronto,eonovofuncionáriopassaaatenderapopulaçãolocal.Dentre
os diversos pacientes que passam por suas
mãos, há uma jovem de 15 anos que está
comumafortehemorragia,resultadodeum
aborto espontâneo. O bom doutor receita
Buscopan, remédio comum no tratamento
de cólicas, e manda a moça de volta para
casa. Ela passa quase um mês sangrando,
mas–porsorte–serecupera.Mesesdepois,
o doutor desaparece da cidade sem deixar
notícias.Logocomeçaacircularanotícia.Era
umfalsomédico.
Caso isolado? “Causo” do interior? Infelizmente não. Na verdade, esse é
umroteiroquepassouasercontadocom
mais e mais frequência em anos recentes
emuitasvezescomresultadosdramáticos,
até mesmo levando diversos pacientes à
morte. E engana-se quem pensa que os
falsos médicos são encontrados apenas
empequenascidadesdointeriordoBrasil.
Muitas vezes eles são descobertos atuando em grandes hospitais públicos, onde
podem causar ainda mais estragos. Isso,
quandosãodescobertos.
O caso mais famoso em tempos
recentestalvezsejaodameninaJoannaCardosoMarcenalMarins,quemorreuemagostode2010,comapenascincoanosdeidade,
depois de ser atendida pelo estudante de
medicina Alex Sandro Cunha Souza. Usando
registrodeoutrosmédicosparasepassarpor
profissional formado, ele trabalhou em pelo
menos três hospitais. E tudo isso aconteceu
nãonumapequenavilaescondidanointerior
doBrasil,masemplenoRiodeJaneiro.
“O exercício ilegal da profissão
por indivíduos sem formação médica é
absoluta temeridade e um desrespeito à
vida humana”, afirma Itamar Santos, professor do Departamento de Clínica Médica
da Faculdade de Medicina da USP. “Nesse
contexto,osConselhosdeMedicina,FederaleRegionaisdesempenhamumpapelde
proteçãodasociedade,eéimportanteque,
identificado o problema, essas instâncias
sejamacionadas”,aconselha.
CADAstro MÉDICo
Normalmente, essas denúncias
nascem do contato da população com os
própriosConselhos,quandoasinformações
dadas por um profissional não batem com
as disponíveis em seus cadastros. A rigor,
essas organizações médicas têm por funçãotãosomenteregulamentarasaçõesda
classe. Quando alguém que não é médico
exerce ilegalmente a profissão, estamos
falandodecrime,ecabeàpolíciaconduzir
as investigações. Uma vez que a denúncia
é formalizada, o caso é encaminhado pelo
Conselho ao Ministério Público, onde será
apuradodevidamente.
O problema é tão sério que diversosestadosmantêmdivisõesdentrodaPolíciaCivilparainvestigar,entreoutrascoisas,as
denúnciasdefalsosdoutores.EmSãoPaulo,
háaDelegaciadeSaúdePúblicadoDepartamentodePolíciadeProteçãoàCidadania,e,
no Rio de Janeiro, há a Delegacia de Crimes
contraaSaúdePública(DCCSP).
“Oexercícioilegal
daprofissãopor
indivíduossem
formaçãomédicaé
absolutatemeridade
eumdesrespeito
àvidahumana”.
Itamar Santos
Ainda que não possam julgar ou
punirfalsosmédicos,opapeldosConselhosé
fundamental,nosentidodedarmaisfacilidadesparaqueapopulaçãopossadistinguirentreosfalsárioseosverdadeirosprofissionaisde
saúde.Eumdoscasosdemaiorsucessovem,
justamente,doEstadodeSãoPaulo,ondese
verificavam,atépoucotempo,algunsdosnúmerosmaisexpressivosdedenúnciasdotipo.
Segundo o Conselho Regional de
Medicina de São Paulo (Cremesp), as denúnciasdefalsosmédicostiveramumpicoentre
2007e2008,comumtotalde77casosconfirmados.Em2009,emcompensação,onúmero
caiuparaapenascinco.Umareduçãoradical.
Essesnúmerosnãoincluemoutras
formasdeexercícioilegaldamedicina,como
osmédicosformadosnoestrangeiro,quenão
regularizaramsuasituaçãonoBrasil,oscharlatões e curandeiros e médicos que estejam
eles mesmos regularizados, mas tenham de
alguma forma pactuado com a atuação de
um falso médico. Mas, mesmo que se leve
17
c
capa
emcontatodasessasformasdeatuaçãoirregular,SãoPauloviuumareduçãode61%no
númerodedenúnciasentre2007e2009.
Uma das hipóteses para a queda
violenta no número de casos tem a ver com
aaçãodiretadoCremesp.OConselhopaulistadecidiupromoverumrecadastramentode
todososmédicosinscritoseematividadeno
Estado, e esse processo terminou em 2008.
“Todososmédicosreceberamumanovacarteiradeidentidadeprofissional,maissegura,o
quedificultaasuafalsificação”,afirmaoórgão.
CoMo IDeNtIfICAr UM fAlso MÉDICo
Nãoéacoisamaissimplesdomundosaberseodoutorémesmoquemelediz
ser. Em primeiro lugar porque, quem vai ao
médico, já está naturalmente mais fragilizadoe,porissomesmo,dispostoacolocarsua
saúdenasmãosdequemlheatender.Masa
coisatambémsecomplicaporquehápoucas
referênciasimediatasquepermitamaidentificaçãodeumfalsoprofissionaldesaúde.
A primeira dica, e a mais óbvia, é
simplesmenteprestaratençãoaoqueelediz.
Seomédicoéincapazdeexplicarcomprecisãoseudiagnóstico,pareceestartirandoconclusões sem uma examinação apropriada ou
semresultadosdeexame,ousurgecompropostasmirabolantesdetratamento,desconfie.
Seja esse o caso ou não, nunca
deixedepegaronomecompletodomédico
e seu registro no Conselho Regional de Medicina (CRM). Chegando em casa, confira no
cadastro do site (conforme seu estado) se o
númeroouomédicoexisteerealmentetem
a especialidade certa. Em alguns casos, há a
foto, que facilita a identificação, mas mesmosemelaépossíveldeduzirseodoutoré
quemdizser:veja,porexemplo,aidadedele
nocadastroesebatecomaaparênciadapessoaqueatendeuvocê.
Caso a desconfiança permaneça
apósessaschecagens,nãohesiteemcontataroConselhoRegionaldeMedicinadoseu
estado, para que eles possam levar o caso
adianteeverificarseomédicoéquemdizser.
Outroresultadodocadastramento
équetodososinteressadospodemagoraverificaronomeeoregistronoConselhoRegional de Medicina (CRM) dos médicos em atividadenowebsitedoórgão(www.cremesp.
18
org.br). Para combater os falsos médicos, os
cadastrados foram encorajados a permitir
que o site também exiba sua fotografia, endereçoetelefoneparacontato.
São ações simples que parecem
ter tido impacto positivo no combate ao
problema e que devem ser replicadas em
outros Conselhos Regionais. O do Rio de
Janeiro,porexemplo,játestaainiciativade
divulgarfotodosprofissionais,quandodevidamente autorizado, e a ideia passou a ser
encampadatambémpeloConselhoFederal
deMedicina(CFM).
Contudo,apesardaaparenteefetividade,opróprioCremespalertaqueosucesso
podeapenasserumailusão.Asdenúnciaspodem ter caído simplesmente porque os falsos
médicos estão ficando mais espertos, e não
pelo fato de haver menos gente exercendo
ilegalmenteaprofissão.Ateseéreforçadapelo
delegadoAndersonGiampaoli,daDelegaciade
SaúdePúblicadeSãoPaulo.“Muitagenteatua
comdiplomasfalsosemuitagenteestásendo
atendidaporfalsosprofissionais”,diz.
Cabe, portanto, a cada cidadão ficaratentoaomédicoquelheatende.Etalvez
sejaaindamaisimportantequeasinstituições
redobremseuscuidadosantesdeadmitirum
profissionalemseusquadros.
CoNtrAtAção DesCUIDADA
É surpreendente como, às vezes,
o controle é muito mais frouxo do que deveriasernahoraemqueumhospitalprecisa
contratar um médico. Um caso típico foi o
da“doutora”AdrianaFattoriTonet.Admitida
como pediatra na Santa Casa de Angatuba,
uma cidade no interior de São Paulo, não
muitodiferentedeIcaraíma(PR).Elausavaa
inscrição no Conselho Regional de Medicina (CRM) que pertencia à médica boliviana
AdrianadosReisNina,atuanteemSãoPaulo.
A falsa doutora chegou à Santa
Casa indicada por um médico da região. No
ato de sua contratação, não exigiram diploma,documentodeidentidade,CPFoucomprovante de residência. O salário? R$ 11 mil
mensais. Ela trabalhou durante um mês e
atendeu pelo menos 30 pacientes. Segundo
relatopublicadopelarevista“Época”,durante
esseperíodoAdrianareceitoumedicamentos
em doses até dez vezes maiores que a indicada, diagnosticou tuberculose em crianças
comrinitealérgicaeidentificoualergianum
meninoquenaverdadetinhapneumonia.
Apósadescobertadocrime,Adrianachegouaserpresaeindiciada(quandojá
estava atuando em clínicas das cidades de
SãoPauloedeGuarulhos),massaiudacadeia
em menos de um mês, graças a um habeas
corpus,esegueforagidaatéhoje.Seuhistóricopregressomostraumasériedeempregos
em que exerceu ilegalmente a medicina, de
2003atésuaprisão,em2007.Comonocaso
deIcaraíma,descritonoiníciodestareportagem, foi mais fácil identificar a falsa médica
doquemantê-laatrásdasgrades.
“Muitagenteatuacom
diplomasfalsosemuita
genteestásendoatendida
porfalsosprofissionais”
AndersonGiampaoli
Como explicar tamanhos descuidos para a contratação de um profissional?
Umadasexplicaçõesmaisóbviaséadeque
faltam médicos no país, sobretudo nas regiõesmenosfavorecidas,oquefazcomque,no
anseiodepreencherasvagas,asinstituições
façamvistagrossa.
“Veja,faltammédicosnopaís.Nós
temosummédicopara600habitantes,quando deveríamos ter um para cada 300”, diz o
médico sanitarista Gonçalo Vecina Neto, superintendente corporativo do Hospital SírioLibanês, em entrevista publicada na última
ediçãodaRevistaMedicando.
Um dos papas da saúde pública
brasileira,eletambémapontaqueoproblemanãoémagicamenteresolvidoquandoos
salários sobem nos lugares menos favorecidos. “A questão da remuneração é secundária na vida dos médicos. As pessoas têm
que ter uma mínima condição de trabalho,
e esse é o problema principal. Não adianta
sefalarempagarR$18milmensaiselevar
o médico para onde quiser, como alguns
estadosestãofazendo.Seeleforumsujeito
consciente, como todos nós achamos que
somos,elevaichegarnaquelefimdemundo
evaiperceberqueaspessoasvãomorrerà
suafrente,enãovaiquererficarlá”.
lUGAr De estUDANte É No HosPItAl... UNIversItárIo
Se um médico de verdade tem
problemas em trabalhar num lugar em que
ascondiçõesdeinfraestruturanãopermitem
queeleexerçasuafunção,queédesalvarvidas,essedilemainexistenacabeçadeumcriminoso,quesefazpassarpordoutorecoloca
emriscoasaúdedemilharesdepessoas.
estUDANtes No lUGAr errADo
A formação de um médico jamais
estarácompletaseelenãoaprenderumpouco
com prática, tendo contato com pacientes de
verdade.Maséóbvioqueissonãopermiteque
osestudantessaiamporaípraticandomedicina.
Asoluçãoéacriaçãodeinstituiçõescomumduplopapel:atendimentoàpopulaçãoeensino.
UmexemplodesucessoéoHospital
Universitário da USP. Instalado na Cidade Universitária,próximoaobairrodoButantã,emSão
Paulo,oHUatendegratuitamenteàpopulação
daregiãoeoprimeiroatendimentoaopaciente
costumaserfeitoporumestudante.
“O HU conta com uma equipe de
médicosassistentesedocentesvoltadospara
a formação médica”, conta Itamar Santos,
professor do Departamento de Clínica MédicadaFaculdadedeMedicinadaUSP.“Boa
partedessetrabalhosedápelasupervisãodo
atendimento realizado pelos internos, que
ainda são estudantes dos últimos dois anos
de curso, e médicos residentes, que já são
formados. A supervisão deve ser entendida
comoumaaçãoquetemcunhoeducacional,
mastambémassistencial”.
Naprática,oqueaconteceéoseguinte:umpacientechegaaopronto-socorro
e é atendido por um interno ou médico re-
sidente. Após a examinação inicial, o caso é
levado ao supervisor, um médico com mais
experiênciaqueajudaránodiagnósticoeno
tratamentodopaciente.
“Atomadadedecisõesparadeterminadopacienteacabaporserumprocesso
envolvendotodaumaequipe,oque,muitas
vezes,setraduzemumamelhoradaassistênciadada”,ressaltaSantos.“Acabaporserum
modelodesucesso,deganhomútuo,adotadoemváriaspartesdomundo”.
Além de permitir o atendimento
bem-sucedidodapopulaçãodeformaconsonantecomaatuaçãodeestudantes,aestratégiaportrásdoHUpermitetambémoaperfeiçoamentodaquelesquejáseformaram,com
osprogramasderesidência.
“Ovolumedeconhecimentoquea
áreamédicavemacumulando,emespeciala
partirdasegundametadedoséculo20,crescedeformaexponencial”,dizSantos.“Nesse
sentido,ummodelodeensinobastanteexitosoéodaresidência.Duranteosseisanosda
graduação,oalunoétreinadonashabilidades
fundamentaisdaprofissão.Naresidênciamédica,essesconhecimentossãoaprofundados
edirecionadosparaaáreadeatuaçãoqueo
médicoescolheu”.
Mas nem todos os falsos médicos
sãocriminososcompletamentedesinteressadospelavidahumana.Entreoscasosreportados pelos Conselhos estão diversos estudantesdemedicinaquesefazempassarpor
profissionaisformados.Eomaistristeéque,
em muitos casos, eles são encorajados por
médicosdeverdade,quequeremescaparde
umplantãoouprocuramumaformamaisbaratadepreencherumavaganumhospital.
Foi nessas circunstâncias que
morreu a menina Joanna Cardoso Marcenal
Marins. Depois de se entregar à polícia, o
estudante Alex Sandro disse que havia sido
contratadoporumapediatra,queficavacom
partedeseupagamento.
Segundo Conselhos Regionais de
todoopaís,acontrataçãodeestudantesparao
exercíciodamedicinasetornoualgoquasecorriqueiro.“Acarênciademédicosparaatenderem
cidades afastadas é tamanha que os prefeitos
contratam estudantes por menos de R$ 1.000
paratrabalharemplantões”,declarouLuísEduardoBarbalhodeMello,presidentedoConselho
RegionaldeMedicinadoRioGrandedoNorte.
Alguns especialistas passaram a
recomendar que, nos cursos de medicina, a
disciplina de ética médica fosse transferida
dosanosfinaisdocursoparaosiniciais,com
oobjetivodeinibiraprática.Masconvenhamos:queestudantenãosabe,desdeoinício,
quenãopodeagircomomédico,separaisso
é obrigado até mesmo a usar documentos
falsoseseapresentarcomooutrapessoa?
A verdade é que, enquanto as condiçõessociaisnãopermitiremumadistribuição
maisequânimedosmédicospeloterritórionacional, haverá cidades pequenas que estarão
maisvulneráveisàsaçõesdosfalsosdoutores.E
tanto a população quanto os órgãos de saúde
precisamsedarcontadequehámuitosfalsários
aoredor.Operigomoraaolado,eamelhorarma
quetodospodemtercontraele,comoemquase
tudo,éainformação.Portanto,fiquedeolho.
19
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i
institucional
Eventos permitem que profissionais de saúde
conheçam os benefícios do Medicando
J
Por Elizângela Isaque
unho representou um período de
atividades intensas para o Medicando. Mês em que ocorrem as tradicionais comemorações juninas, a
equipe do Portal teve participação ativa
em dois grandes e tradicionais eventos,
nosquais,alémdeapresentaraplataforma
para centenas de profissionais de saúde,
pôde contemplar dois recém cadastrados
comosorteiodeprêmios.
No arraial da Associação Médica
de Brasília (AMBr), realizado no dia 11, profissionais de saúde de várias vertentes, juntamentecomseusamigosefamiliares,puderamaprendermaissobrecomoutilizaras
ferramentasdoMedicando,bemcomotirar
omelhorproveitodetodososrecursosque
aplataformaoferece.
Além de se cadastrarem e concorrerem a um dispositivo iPad, os novos
usuários do Portal adquiriram informações
importantes,aexemplodecomoutilizarema
redesocialparasecomunicaremcomoutros
profissionaise,também,comseuspacientes.
Por UMA MeDICINA
MAIs HUMANItárIA
Nos dias 23, 24 e 25 foi a vez dos
participantes do XI Congresso Brasileiro de
Medicina de Família e Comunidade conhecerem a estrutura do Portal Medicando e
receberem as orientações dos membros da
equipe. Com o tema “Medicina de Família
e Comunidade: agora mais do que nunca”,
o encontro abordou temas centrais, como
a crescente preocupação com o excesso de
prevençãonaatençãoprimáriaesecundária,
eopapeldomédicodefamíliaecomunidade
naAtençãoPrimáriaàSaúde.
Na ocasião, muitos dos cerca de
quatro mil congressistas puderam tirar dúvidas e aprender mais sobre a rede para
quem cuida da saúde. Dentre os congressistas que aplaudiram a iniciativa do Medicando,encontra-seodiretordeTitulaçãoda
SociedadeBrasileiradeMedicinadaFamília
(SBMFC), EmilioRossetti Pacheco, que falou
Profissionais de saúde se cadastram no stand do Portal Medicando durante o CBMFC
sobreaimportânciadeseresgataraatuação
domédicodefamília,aindamuitopresente
emnaçõesmaisdesenvolvidas.
SegundoDr.Rossetti,cabeaomédicodefamíliaacompanharavidaclínicado
pacienteesaberomomentocertodeencaminhá-loparaoespecialistasomentequando
extremamente necessário. “Esse profissional,
antigamenteconhecidonoBrasilcomoclínicogeralougeneralista,éaquelequetemde
estar capacitado para resolver 85% dos problemasdapopulaçãoeque,apósoprimeiro
contato,vaicuidardevocêpelorestodesua
vida, tanto nos momentos de doença como
nosperíodossaudáveis”,define.
O profissional também identificou
oobjetivodoMedicandocomalutadaSBMFC
emhumanizarosatendimentosmédicos.“Acho
muito legal a proposta do Portal, em conectar
maisomédicocomopaciente.Éalgoquenão
vaisubstituiraconsultapresencial,deformaalguma.Émaisumaportaparaqueoprofissional
tire dúvidas que possam ser respondidas por
meioeletrônico“,afirmaRossetti.
Participantes do CBMFC no stand do Medicando
Dr. Emilio Rossetti em entrevista à TV Medicando
Stand do Medicando no Arraial da AMBr
Entrega do iPad ao vencedor do sorteio na AMBr
21
i
institucional
Circuito Qualidade de Vida agita Brasília
com atividades em prol da saúde e do bem-estar
O Medicando marcará presença como um dos parceiros do evento
B
astantediscutidoentreaspessoas, o tema Qualidade de Vida se
traduzdediferentesformaspara
cada público, seja por representar bons hábitos, beleza, longevidade ou
manutenção de vigor. E por conter um
viés que mobiliza a todos, a Amil promoverá em Brasília, no próximo domingo, 3
de julho, o Circuito Qualidade de Vida,
com a finalidade de atrair pessoas para
umasériedeatividadesquepromovama
saúdeeobem-estar.
OeventoserácompostodatradicionalCaminhada,járealizadapelaAmil,eoutras
atividades diversas, como os espaços lanche,
interativo, água, fitness, infantil e relax, além
de avaliação física, exame capilar, aferição da
pressãooculareaferiçãodapressãoarterial.O
intuitoésomarmúltiplasboasatitudes:cuidados com a alimentação, controle de doenças
pré-existentesoucaracterísticasdaidade,atividade física, informações e dicas de saúde e
orientaçõesdaimportânciadaprevenção.
O Circuito será realizado entre
8h e 12h no estacionamento do Parque
Ana Lídia e na pista de caminhada de 4
22
km, no Parque da Cidade. Será aberto ao
público e para participar basta levar 1 kg
dealimentonãoperecível,quedarádireito à troca pelo kit caminhada (squeeze,
mochila,camisetaeboné).
O projeto faz parte do Programa
Amil Qualidade de Vida (PAQV), que tem
comoobjetivopromoverasaúdedemodo
aidentificarereduzirasprincipaisvariáveis
deriscocardiovasculares,diabetes,câncer
demamaecâncerdepróstata.
OMedicandoatuacomoparceiro
noCircuitoQualidadedeVidareforçandoa
importânciadesededicarumtempopara
cuidardasaúdecomprazereresponsabilidade.Apráticadeatividadefísicaésóuma
delaseocomeçoparaproporcionarmaior
qualidadedevidaebem-estar.
23
o
o que é?
O que é cálculo renal?
Conheça os sintomas e aprenda a evitar esse mal, cuja dor
é considerada intolerável
o
Por Fernanda Brandão
cálculo renal é um problema causado por disfunções metabólicas
comuns entre os brasileiros. Conhecida popularmente como “pedra”ou“cólicaderins”,écausada,geralmente,
porherançasgenéticasassociadasaoshábitos
devida.Oconsumoexcessivodesódio(sal)e
dealimentosricosemproteínaanimal,assim
como baixa ingestão de líquidos, aumentam
aschancesdedesenvolveradoença.
Alguns efeitos metabólicos do
próprio organismo, como baixos níveis de
citrato (sais do ácido cítrico) na urina e o
aumento da eliminação de cálcio e de ácidoúrico,tambémfavorecemosurgimento
do problema. “As pessoas precisam ficar
atentas. O sedentarismo, a obesidade, doençasglandurares,problemasnatireoide,a
osteoporose e alguns distúrbios intestinais
podemajudarnaformaçãodecálculosnos
rins”,alertaSamirahAbreuGomes,doutora
emNefrologiapelaUniversidadeFederalde
São Paulo, que também chama a atenção
para o perigo do uso constante de alguns
medicamentos, como corticoides (para
alergias)ediuréticos.
Indivíduos que são expostos a altas temperaturas também estão propensos
a desenvolver problemas renais, que são
desencadeados, principalmente, devido à
desidratação, como resultado das condições
a que são submetidos. A incidência é maior
entreoshomens.Apenasumaemcadatrês
pessoasacometidaspeloproblemaémulher.
Essadiferençapodeserrelacionadaafatores
hormonais, profissionais e pelo fato de indivíduosdosexomasculinoingerirem,emmédia,maisproteínaanimal.
sINtoMAs
“A doença ataca em torno de 10%
da população em geral. Em 50% dos pacientes,oprimeiroepisódioocorrenaidadeadul-
24
ta.Porém,ossintomasiniciaispodemaparecer
em qualquer fase da vida, inclusive na infância”,afirmaaDra.Samirah.Oscálculos,emsua
grande maioria,são formados por oxalato de
cálcio(compostoquímicoqueformacristais),
comtamanhoquepodevariardealgunsmilímetrosatésetecentímetrosdediâmetro.
Os episódios de cólica nefrética
são abruptos, muito dolorosos e, normalmente, resultam em náuseas e vômitos. O
incômodocomeçanaregiãolombarepode
seirradiarparaaregiãopélvica.Énecessário
ficar alerta ao principal sintoma da doença.
Geralmentequemsofrecomessemalapresenta a urina avermelhada, devido ao sangramento causado pela movimentação ou
pela eliminação das pedras. O maior risco
se dá quando o incômodo alcança a pelve
renal,osurétereseaáreadorim,ondeficam
os tubos coletores, quando as dores se intensificam,sendonecessárioscuidadosmédicosimediatos.
“Vale lembrar que, às vezes, as
pessoasacometidasporpedrasnosrinsnão
apresentamsintomasesóconseguemdescobrirquesãoportadorasdoscálculosquando
passamporalgumexameradiológico.Começamosasuspeitardaexistênciadealgoerradoapartirdahistóriaclínicaeanálisesfísicas
nopaciente.Paraconfirmaroquadro,realizamosexamesdeurinaedeimagem,quepode
ser uma simples radiografia de abdômen,
umaultrassonografiaoutomografiacomputadorizada”,esclareceDra.Samirah.
“Aspessoasprecisamficar
atentas.Osedentarismo,
aobesidade,doenças
glandurares,problemas
natireoide,aosteoporose
ealgunsdistúrbios
intestinaispodem
ajudarnaformação
decálculosnosrins”.
SamirahAbreuGomes
trAtAMeNto
Dependendo da gravidade da
doença, o tratamento pode ser simples.
Orientações dietéticas, medicamentos e,
principalmente, a ingestão de bastante
águaauxiliamnaremoção.Nessescasos,o
pacientepodepermaneceremcasaseguindo as indicações do profissional. Porém,
existem situações em que as cirurgias endoscópicassãonecessárias.Oprocedimentoéfeitopelocanaldauretraoupormeio
dalitotripsiaextracorpórea.
“Litotripsia é o termo que utilizamos para a destruição e pulverização
do cálculo renal. É feito através de ondas
ultrassônicasdechoquequeatravessamo
corpoemdireçãoaosrinseviasurinárias.
Nesse caso, não há necessidade de cirurgia.Apósesseprocedimento,osfragmentos são eliminados espontaneamente”,
explicaanefróloga.
A decisão pelo procedimento cirúrgicosóétomadaquandoapedraémuito grande para ser eliminada e bloqueia o
fluxodaurina,causandoinfecções.Aintervençãotambéméimprescindívelemcasos
dedanosnotecidodosrinsousangramentosconstantes.
PreveNção
Pequenas mudanças nos hábitos
alimentarespodemajudarapreveniradoença. Chocolate amargo e alimentos ricos em
sódioeproteínaanimaldevemseringeridos
commoderação,principalmenteporaqueles
que já sofrem com as pedras. “No passado
nãoserecomendavaingerirderivadosdeleiteenutrimentoscomgrandequantidadede
cálcio.Hoje,essasugestãonãoémaisválida,
porque,naverdade,ocálcioqueingerimosé
umagentequeprotegeenãoocasionaocálculorenal.Aausênciadesseelementoprovoca um risco maior de descalcificação óssea”,
informaaDra.Samirah.
De maneira geral, apenas aumentando o consumo de líquidos o paciente já
consegue atingir bons resultados e eliminar
asindesejáveispedras.Umapessoadeaproximadamente 70 kg, por exemplo, precisa
ingeriremtornode2,1lpordiaparanãoter
problemas futuros. “É importante ressaltar
que existem medicamentos específicos para
a prevenção da doença, mas o uso deve ser
individualizado e prescrito pelo especialista
emnefrologia”,finalizaamédica.Achancede
umapessoaquejásecuroudocálculorenal
voltaraapresentarossintomaséde50%.Por
isso,éimportanteficarsemprealertaevisitar
umespecialistasemprequepossível.
a
avanço científico
Nova droga promete revolucionar
tratamento de diabetes
Tratamento sem insulina é o grande diferencial da descoberta
o
diabetes mellitos tipo II atinge
milhões de pessoas em todo o
mundo e ainda não possui uma
cura definitiva. Atualmente, seu
controleéfeitopormeiodedietaedemedicamentosquevisamevitarcomplicaçõesdecorrentes da doença. No entanto, as drogas
atualmente utilizadas trazem vários efeitos
colateraisetendemaperderpartedesuaeficácia a longo prazo. Por isso, a comunidade
científicacomemoraachegadadeumanova
classederemédioscujomecanismodeação
étidocomoinovadore,aoquetudoindica,
maiseficientequeostradicionais.
Entre os principais sintomas do
diabetesencontram-seinfecçõesfrequentes,
alteraçãovisual(visãoembaçada),dificuldade
na cicatrização de feridas e formigamento
nos pés. A longo prazo, complicações crônicas nos rins, nervos e nos vasos sanguíneos
26
Por Elizângela Isaque
somam-seàocorrênciadegangrena,infarto,
cegueira e derrame. Como forma de evitar
esse quadro clínico, os medicamentos tradicionais agem de forma a controlar o índice
glicêmico no sangue, otimizando a atuação
dainsulina,masseusefeitotrazemsériasconsequênciascolateraisparaospacientes.
Infelizmente, algumas drogas promovem ganho de peso, hipoglicemia, reaçõescutâneas,alteraçãonafunçãohepática,
eamaioriasetornamenoseficazdevidoao
usocrônico,facilitandoodescontroledadoença. Essa realidade tem levado a indústria
farmacêuticaarealizarpesquisasconstantes,
nointuitodedesenvolverremédiosmaiseficientes, menos nocivos e que tragam mais
qualidadedevidaaosportadoresdadoença.
A descoberta dos inibidores da
proteína cotransporter glicose sódio-dependente2(SGLT2),responsávelpelarea-
bsorçãodeaçúcarnosrins,foiumgrande
avanço.E,nacorridapelacomercialização
dessa nova medicação, os laboratórios
Bristol-Myers Squibb (BMS) e AstraZeneca saíram na frente e co-desenvolveram
a dapagliflozina, atualmente a droga mais
próxima de ser regulamentada nos Estados Unidos e na Europa. Recentemente, a
agência americana que regula fármacos e
alimentos,aFoodandDrugAdministration
(FDA), aceitou o pedido de revisão desse
agente, cuja aprovação é esperada para o
finaldeoutubrodesteano,eaAgênciaEuropeia de Medicamentos (EMEA) também
já recebeu um pedido de homologação
dasduasempresas.
Na mesma linha seguem os demaisfabricantesdosremédiosdaclassedos
inibidores SGLT2, tal como a dapagliflozina.
Há dois anos, a Johnson & Johnson se en-
contra em estudos de Fase III – penúltima
etapa de uma pesquisa, na qual é avaliada
a eficácia comparada de um determinado
medicamento – para aferir a capacidade do
canagliflotinemreduziraglicosenosangue
eopesocorporal.JáaBoehringerIngelheim
eaLexiconPharmaceuticalstrabalhamatuamenteemtestesdeFaseII(etapadeanálise
da segurança e eficácia em pacientes) com
seuscompostosSGLT2.Paralelamente,outras
empresastambémtêmdesenvolvidodrogas
comomesmoprincípioativo.
NúMeros
Dosmaisde250milhõesdediabéticosqueexistemhojeemtodoomundo,90%
apresentamotipoIIdadoença,queéresultantedeumadisfunçãometabólicacaracterizada
por distúrbios orgânicos prejuciais à ação da
insulina, hormônio responsável por controlar
a taxa de glicose no sangue. O distúrbio está
associado à obesidade, ao sedentarismo e a
fatores hereditários, desenvolvendo-se, geralmente,apósos30anosdevida.SónoBrasil,a
doençaafetacercade12%dapopulação,contabilizandomaisde20milhõesdepessoas.
Nesse cenário, estima-se que metadedosportadoresdadoença,tambémchamada de diabetes adulto-início, desconhece sua
condição. Segundo projeções de organismos
internacionais, com o constante aumento dos
fatoresderiscomencionados,aliadoaoenvelhecimentopaulatinodapopulação,onúmero
dediabéticosemtodoomundovaiaumentar
emmaisde50%,ultrapassandoamarcade380
milhõesdeportadoresem2025.EssasestimativasfazemcomqueosCentrosdeControlede
Doençasconsideremaincidênciadodistúrbio
comoumaepidemia.
revolUção
O grande diferencial dos bloqueadores SGLT2 está, justamente, no fato de
atuarem independentemente da insulina,
agindodiretamentenosrins,inibindoaação
dessa proteína-chave. Conforme é descrito
noartigo“FlushingAwayHighBloodSugar”,
publicado no site da revista Diabetes Health,adrogacausaaexcreçãodoexcessode
glicoseecalorias,fazendocomqueoaçúcar
simples seja eliminado pela urina, em vez
deserreintroduzidonacorrentesanguínea.
Isso ocorre normalmente pelo processo de
reabsorção de importantes substâncias ao
OgrandediferencialdosbloqueadoresSGLT2está,justamente,nofatodeatuaremindependente
dainsulina,agindodiretamentenosrins,inibindoaaçãodessaproteína-chave.
corpo que são filtradas nos rins, mas, antes
deseremeliminadas,voltamparaacorrente
sanguínea.Oprocessodiminuiaelevaçãoda
taxa glicêmica no organismo, condição conhecidacomohiperglicemia,umdosprincipaissintomasdodiabetes.
Para o endocrinologista Eduardo
Chao, do San Diego Medical Center, ligado à
UniversidadedaCalifórnia,aaçãodosinibidoresSGLT2ésupreendente.“Éintrigantecomo
o mecanismo é diferente. Nenhum medicamentoparadiabetestemutilizadoorimcomo
ummeioparaajudaracontrolaroaçúcar”,comemoraocientista,quenãotemligaçãocom
nenhumadascompanhiasfarmacêuticasque
desenvolvemessesfármacos.
A evolução trazida pelos inibidores
também é celebrada por Richard Kibbey, endocrinologista da Faculdade de Medicina da
UniversidadeYale,EUA.“Drogasquedeixamo
controledometabolismodaglicoseacargodo
própriocorpoemsisão,provavelmente,amelhormaneiradetratarodiabetes”,vislumbra.
oUtros BeNefíCIos
Antesdaaplicaçãodereguladores
nos EUA e Europa, a Bristol-Meyers e AstraZeneca estudaram os efeitos da dapagliflozina em seis mil indivíduos, incluídos em 40
estudos clínicos, avaliando, sobretudo, as
possíveiscorrelaçõesentreousodadrogae
possíveisproblemascardiovascularesemdecorrência de seu uso. Conforme avançam as
pesquisascomosinibidoresSGLT2,acomu-
nidade científica comemora as descobertas,
quelevamacrerqueasnovasdrogaspodem
trazermaisbenefíciosparadiabéticos.
Testes preliminares apontam que
perdadepesoecontroledapressãoarterial
estão entre as demais ações potenciais dos
bloqueadores.EdadosdivulgadospelaAssociaçãoAmericanadeEndocrinologistasClínicos(AACE)mostramque,quandoadapagliflozina é ministrada, tanto de forma isolada
como em conjunto com a metformina, um
medicamentoantidiabético,tambémmelhora a função do pâncreas de secretar insulina
oriundadecélulasbeta,frequentementedanificadas por excesso de concentrações de
glicoseempessoascomdiabetestipoII.OutrosdadosclínicostêmindicadoqueosinibidoresSGLT2ajudamareduzirostriglicéridos
nosangue,assimcomoreduzemosníveisde
colesterolruim.
DIABetes tIPo I
Se depender das expectativas dos
cientistas, a esperança por um tratamento
maisdignonãoficarárestritaaosportadores
da forma mais comum do diabetes. Muitos
pesquisadoresesperamqueosresultadosfinaisdaspesquisasrevelemqueanovaclasse
de medicamentos também possa ser eficaz
notratamentodotipoIdadoença,conhecido como diabetes juvenil-início. Mas, nesse
caso, os inibidores SGLT2 teriam de ser coadministradoscomasusuaismedicações,uma
vezqueoproblemadessegrupodepacientes está na deficiência que seu organismo
tememproduzirainsulina.
27
v
verdade ou mentira
Será que utilizamos apenas 10%
da capacidade do nosso cérebro?
Ao ler esta matéria você já está usando mais do que isso
M
uitosdenósjáfomossurpreendidoscomainformaçãodequeutilizamosapenas10%detodacapacidade de nosso cérebro e os
outros90%permanecemadormecidosdurante
todaavida.Noentanto,amaioriadoscientistasnegaaveracidadedessahistória.Emboraa
tecnolgiaatualaindanãopermitamensurarde
forma precisa a capacidade cerebral utilizada
porumapessoa,ostestesrealizadoscomosequipamentosexistentespermitemafirmarqueo
cérebro é totalmente utilizado, independente
dograudeinteligênciadoindivíduo.
Apolêmicasurgiucomopsicólogo
americano William James (1842-1910), que
escreveu: “Estamos fazendo uso de apenas
uma pequena parte de nossos recursos físicos e mentais”. Mais tarde, Albert Einstein
perpetuou o mito ao usar uma figura de
linguagem parecida ao discutir sobre as distâncias intelectuais entre um gênio e uma
pessoa comum, atribuindo apenas 1% de
diferençanousodocérebro.Masoconsenso
científico atual é de que utilizamos todas as
áreas do cérebro, de forma interconectada.
Entretanto,algumaspartespodemfuncionar
maisdoqueoutrasnumdadomomento,dependendodaatividadeexecutada.
Segundo o Dr. Renato Sabbatini,
se não explorássemos toda nossa capacidade cerebral, assim como tudo que não é
utilizadoemnossocorpo,apartenãousada
seatrofiariaeeventualmentemorreria.Como
exemplo, o cientista cita as células da retina
que,senãoforemestimuladasnaprimeirainfância,seatrofiamcausandocegueirapermanenteeirreversível.Comocérebro,apressão
evolutivaparareduzi-lo,emcasodefaltade
uso,seriaaindamaior,umavezqueéoórgão
queconsomemaisenergiaparafuncionar.
“Afirmar que utilizamos apenas
10% de todo o cérebro é um grande erro.
Antigamente as pessoas pensavam assim
30
Por Fernanda Brandão
porque os métodos de aferição utilizados
eram eletrofisiológicos e bem rudimentares,
o que levou ao surgimento conclusões erradas”,esclareceDr.AlexandreMeluzzi,neurocirurgião do Instituto de Neurocirurgia MinimamenteInvasivadeSãoPaulo.
Hoje os avanços tecnológicos
possibilitam o desenvolvimento de técnicas neurorradiológicas. Com a ajuda de ressonânciasmagnéticasfuncionaisetomografia de emissão de pósitrons ficou mais fácil
reconhecer que o cérebro funciona de maneiraglobal.Elasconseguemmedirofluxode
sangueenutrientesquepassampelamassa
de um neurônio de de forma bem parecida
comoprocedimentoreal.
“O funcionamento é geral. Não
há uma área que é paralisada para outra
começar a funcionar. Normalmente, a área
que é responsável por determinada função,
comoporexemplocaptarglicose,éaqueestarámaisatuante.Porém,édifícildeterminar
a porcentagem com que essa área está funcionando”,explicaMeluzzi.
O cérebro é dividido em muitas
áreas específicas e todas elas trabalham
sem parar, sendo cada uma responsável
por uma atividade: controlar a pressão, a
respiração, sentir cheiros, enxergar, ouvir
etc. Com a evolução humana, o neocórtex (cérebro) teve que se desenvolver em
conjunto, afinal, as funções ficaram mais
complexas,influindoemprocessoscomoa
memóriaeoaprendizado.
“Começamosadesenvolveratividades emocionais, de linguagem e de comunicação e, por isso, o ser humano conseguiu adquirir cultura e se diferenciar de
animais irracionais. Essas funções exigem
mais interligação entre as áreas cerebrais,
o que nos leva, às vezes, a passarmos por
emoções ou lembranças visuais que nos
fazem sentir determinados cheiros”, detalhaoneurocirurgião.
O órgão está sempre ativo, mesmo
em situações aparentemente ociosas que não
exigem raciocínio, como assistir TV. O especialistaesclareceque,mesmodormindo,temosuma
atividadecerebralfuncionandoatodoomomento,quedespertaráumtipodeondacerebralque
mantémasáreasauditivasevisuaisfuncionando,
mesmoquandoestamosdescansando.
© Gildivan Felix/ActionAid/Brasil/RJ
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já conhece a fome e a pobreza.
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combate à pobreza há mais de 39 anos. Em 2007, foi eleita
uma das 20 organizações mais competentes do mundo, em
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0300 789 8525
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