1
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Sociologia e Antropologia
Mestrado em Sociologia
&DSLWDOVRFLDOHYLROrQFLD
XPDDQiOLVHFRPSDUDGDHPGXDVYLODVGH%HOR+RUL]RQWH
por
Cláudio Santiago Dias Júnior
'LVVHUWDomRVXEPHWLGDjDYDOLDomR
FRPRUHTXLVLWRSDUFLDOSDUDDREWHQomR
GR JUDXGH0HVWUHHP6RFLRORJLD
3URI'U)UDQFLVFR&RHOKRGRV6DQWRV
Orientador
Profa. Dra. Virgínia Torres Schall
Co-orientadora
Belo Horizonte, Dezembro de 2001
2
$*5$'(&,0(1726
Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais e irmãos que sempre me
apoiaram. Na UFMG, onde construí a minha vida acadêmica, várias pessoas
contribuíram direta ou indiretamente para este trabalho. Em primeiro lugar
gostaria de agradecer a Francisco Coelho dos Santos que não só me orientou
como me acolheu em um momento difícil do meu curso de mestrado; ao
professor Antônio Augusto Pereira Prates por suas indicações de leituras a
respeito do conceito de capital social durante o curso de sociologia das
organizações em 1999; ao Crisp pela liberação dos dados sobre a
criminalidade em Belo Horizonte, em especial ao amigo Bráulio Figueiredo, que
com paciência e disposição tratou os dados sobre violência que estão neste
trabalho; aos amigos Marcelo “judeu” Bernardes, Abílio “ceará” Queiroz e
Wilson “pato” Cruz, que com coragem e afinco me ajudaram na coleta dos
dados na Vila Cafezal; com certeza uma grande ajuda! À amiga de mestrado e
da vida, Célia, pelas longas conversas... a Cirene pela presteza nas soluções
das questões burocráticas que apareceram na reta final do mestrado, e a
“turma”, pelos momentos etílicos...
Ao Centro de Pesquisa René Rachou, que me possibilitou novos conhecimentos e me mostrou o quanto é
gratificante fazer ciência, e aos colegas “de René” Cecília, Ivana, Daniel, Denise e Karina pela agradável
convivência durante dois anos.
À Capes e a Fiocruz, pelas bolsas, que me ajudaram bastante durante o mestrado.
3
Agradeço ao professor Antônio Tomasi pelo apoio não só a mim, como a todos os alunos da sociologia do
trabalho, que se viram “órfãos” com a morte do professor Vinícius Caldeira Brant. Confesso que este
apoio apenas consolidou a nossa percepção sobre a grandeza de seu espírito ...
À URBEL pela liberação dos cadastros dos domicílios das duas vilas estudadas e à senhora Edna, líder
comunitária da Vila Novo Ouro Preto, que nos mostrou todos os meandros da região.
Para terminar, destaco três pessoas em especial:
9LUJtQLD7RUUHV6FKDOO, que com a sua vontade de produzir ciência, com a sua disposição para o trabalho
e sua alegria de viver, não deixou que eu desanimasse. Agradeço também a sua confiança em mim, a sua
paciência, compreensão e apoio nos momentos difíceis...
9LQtFLXV &DOGHLUD %UDQW (LQ PHPRULDQ), que com seu espírito crítico, sua verve científica, sua postura
política, sua ética, me inspiraram e me inspiram... No início professor e depois amigo... É com muita
saudade que agradeço a ele todos os momentos felizes, profissionais e pessoais, que me marcaram e
colaboraram para a minha formação como pessoa e como sociólogo.
0DULD-RVp, por tudo...
Como é de praxe, todos os erros, equívocos e eventuais falhas neste trabalho é de total responsabilidade
minha.
4
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&DStWXOR±$JrQFLDHPXGDQoDVRFLDOS
±7HRULDVGDDJrQFLDSULQFLSDLVFRUUHQWHVS
&DStWXOR±&DSLWDOVRFLDOFRQFHLWRVHGHILQLo}HVS
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&DStWXOR±&RQVLGHUDo}HVILQDLVS
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$QH[RVS
5
,1752'8d­2
Por que algumas localidades têm altas taxas de criminalidade e outras não? Esta
pergunta há muito vem sendo feita não só por pesquisadores e administradores públicos,
mas por toda a população leiga que, principalmente na última década, vem assistindo o
crescimento assustador da violência. Observando pesquisas de opinião, discursos
oficiais e promessas eleitorais, notamos que todos buscam por explicações e possíveis
soluções para este grande drama nacional que é a violência, seja ela no espaço urbano
ou rural.
Tendo em vista estas preocupações, nosso objetivo é perceber, de modo exploratório, se
há alguma associação entre o capital social1 e as taxas de criminalidade2, já que nosso
instrumento de medida de capital social e os dados referentes à criminalidade contra
pessoa não nos permite afirmar categoricamente a influência de um perante o outro.
Sendo assim, nosso trabalho está dividido em 5 partes:
Na primeira parte procuramos demonstrar o processo de consolidação do conceito de
agência nas diversas fases da sociedade ocidental; para em um segundo momento
destacar algumas escolas sociológicas que trabalharam com o conceito de agência. Por
se tratar de um aspecto introdutório e em um certo sentido periférico no que diz respeito
ao cerne deste trabalho, optamos por acolher as análises de Piotr Sztompka, em sua obra
$ 6RFLRORJLD GD 0XGDQoD 6RFLDO, por acreditar que ela nos fornece subsídios
consistentes aos nossos objetivos e, claro, sem nos esquecermos que outros pontos de
1
O conceito de capital social que utilizamos tem como matiz Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert
Putnam.
2
Entre as mais diversas categorias de crimes, elegemos, como alvo do estudo, os crimes contra a pessoa.
6
vista são relevantes e necessários para o avanço do debate em torno da mudança social,
mas por ora, não nos cabe aqui trazer.
Na segunda parte, tratamos especificamente do conceito de capital social, onde
destacamos os três autores básicos, utilizados em nosso trabalho: Pierre Bourdieu,
James Coleman e Robert Putnam. Aqui procuramos detalhar principalmente os dois
últimos autores, pois foram eles que nos forneceram as idéias principais para a
construção do questionário utilizado na coleta dos dados e destacamos dois estudos
realizados nos E.U.A onde os autores correlacionam capital social e violência.
Na terceira parte destacamos a metodologia, onde explicitamos o caminho utilizado para
a construção do questionário, a escolha das vilas a serem pesquisadas, o cálculo
amostral e a forma de coleta dos dados.
Na quarta parte desenvolvemos a análise dos dados. Utilizando o programa estatístico
SPSS, analisamos o comportamento distinto das duas comunidades diante das situações
postas.
Na quinta e última parte procuramos destacar alguns aspectos relevantes em nossas
análises que nos permitisse perceber alguma associação entre o volume de capital social
presentes nas comunidades e as taxas de criminalidade. Assim, reiteramos que o
objetivo central deste trabalho foi o de consolidar o instrumento de medida de capital
social e tentar perceber caminhos alternativos para a explicação da violência no cenário
brasileiro.
7
&$3Ë78/2
$*Ç1&,$(08'$1d$62&,$/
Desde os primórdios que o homem, com sua curiosidade inata, procura compreender o
mundo a sua volta; esta preocupação advém da busca das causas últimas dos eventos,
das forças que movimentam os fenômenos e dos processos que no final influenciam seu
destino.
Com estas grandes preocupações, é evidente que o pensamento social e em particular a
sociologia, se ocupasse em compreender tais indagações, e que as mesmas indagações
se consolidassem como combustível que move a dinâmica social, a operação e a
transformação da sociedade3. Como sugere Sztompka(1998[1993]), nesta linha
evolutiva do pensamento humano, a agência foi gradualmente secularizada, humanizada
e socializada. Entendemos a agência como o espaço onde se encontram as estruturas
(capacidade de operação) e os agentes (capacidade de ação); é uma fusão de
circunstâncias estruturais e capacidade propulsora. A agência é duplamente
condicionada, desde cima, pelo equilíbrio entre restrições e limitações por um lado;
recursos e facilitadores propiciadas pelas estruturas por outro; e desde baixo, pelas
aptidões , talentos, habilidades, conhecimento e atitudes dos membros da sociedade;
bem como organizações; sejam elas coletividades, grupos ou movimentos sociais.
Historicamente, a agência teve início na esfera do sobrenatural, isto é, totalmente
descolada do mundo humano e social; neste cenário fantasmagórico, deuses, forças
animísticas ou forças metafísicas sustentavam a agência, que operando para além do
mundo físico, controlava e conformava a vida individual e coletiva do homem.
8
Em uma etapa posterior da história do homem, a agência desce dos céus para habitar
juntamente com os homens, a terra. As transformações sociais são aqui relacionadas
com os processos naturais, físicos, biológicos, climáticos, geográficos e astronômicos.
Temos neste momento, a secularização da agência, mas ainda distante da humanidade e
da sociedade.
Este processo descrito em poucas linhas, evidentemente, demandou séculos de história
para se afirmar como alternativa de explicação dos fatos sociais. Em um momento
posterior, temos a correlação entre a agência e o homem, ainda que não a qualquer
homem. A agência é um recurso de apenas alguns eleitos, como os profetas, heróis,
guerreiros, gênios, descobridores e inventores. As transformações sociais saíram das
mãos destas pessoas que, com seu carisma inato, dado “geneticamente”, promoviam a
mudança social. Neste momento histórico, temos a humanização da agência mas ainda
não temos a sua socialização.
Uma análise interessante da corrente estrutural-funcionalista demonstra que a
responsabilidade das mudanças das sociedades (por oposição às mudanças na
sociedade) estaria nas mãos dos indivíduos que se rebelam contra o HVWDEOLVKPHQW .
Este aspecto é assim descrito por Dahrendorf: ³RV GHVYLRV RFRUUHP SRU UD]}HV
VRFLRORJLFDPHQWH QmRFRQKHFLGDV H QmRFRQKHFtYHLV e XP YtUXV TXH DWDFD R VLVWHPD
TXH YHP GDV SURIXQGH]DV GD SVLTXH LQGLYLGXDO RX GDV UHJL}HV QHEXORVDV GR PXQGR
H[WHULRU´ (DSXG Sztompka, 1998[1993]p.328).
3
É necessário destacar que este movimento de transformação social acontece independente da teoria.
9
Continuando neste caminho “evolutivo”, com o aparecimento e consolidação da
sociologia como ciência, há uma reviravolta na percepção da agência; neste caso ela é
socializada e despersonalizada.
A agência é corretamente localizada dentro da sociedade, mas o grande problema foi a
percepção orgânica da sociedade que marcou o nascimento da sociologia. A sociedade é
vista como um corpo social tendo uma totalidade que auto-regula e auto-transforma; a
sociedade é literalmente interpretada como um organismo vivo, que nasce, cresce e se
desenvolve, requerendo cuidados para que ele não pereça.
Nesta realidade, a agência é um poder recorrente ao organismo social, ³pODQ YLWDO
HVSHFtILFR PDV QmR DQDOLVDGR DGPLWLGD D SULRUL FRPR DOJR TXH VH PDQLIHVWD
QHFHVVDULDPHQWH QD YLGD H QD PXGDQoD VRFLDO GH PDQHLUD GLUHFLRQDO H LUUHYHUVtYHO´
(Sztompka,1998[1993]p.328, grifo do autor)
Esta visão grandiosa, de um poder acima do bem e do mal, coordenando as vidas dos
homens, acompanhou o pensamento social por muitos anos; produzindo uma sociedade
"sem homens"4. Após anos dominando a teoria sociológica, esta percepção da agência
cai em desuso. A agência torna-se parte indissociável das ações dos indivíduos, neste
momento ela é humanizada e socializada.
A figura individual retorna ao cenário social como agente transformador mas com
poderes delegados pela sociedade e não mais pela genética ou coisa que o valha. Na
10
realidade, estes indivíduos são a expressão maior das ³WHQV}HV HVWUXWXUDLV kQLPRV
VRFLDLV H WUDGLo}HV KLVWyULFDV´, (Sztompka,1998[1993]p.329), eles agiam como
condutores, na realidade, sabiam conformar a realidade para os outros, tinham o ³SRGHU
GH HVWUXWXUDUUHODo}HVVRFLDLVGHDOWHUDURµWLSRGHMRJR¶HPTXHVHHQJDMDPRVDWRUHV
GH PDQLSXODU RX PRGLILFDU D GLVWULEXLomR GRV UHFXUVRV H FRQGLo}HV TXH JRYHUQDP DV
LQWHUDo}HVRXWURFDVHQWUHRVDWRUHVHQYROYLGRV´ (Sztompka1998[1993]p.329)
Com o avanço da sociologia, a agência afasta-se dos “líderes sociais” e aproxima-se das
funções sociais, principalmente das que podem efetivamente provocar mudanças
sociais; neste ponto, emerge a preocupação com a legitimidade de seus "mandarins" e
das funções.
Com a transformação da teoria sociológica a todo vapor, a questão da agência
novamente passa por transformações, sendo que a maior delas é a extensão da agência
para todos os indivíduos, independentemente do VWDWXV ou posição na estrutura social.
Como diz Sztompka, ³UHFRQKHFHXVHRyEYLRTXHXPLQGLYtGXRQmRWHPPDLVTXHXP
PLQ~VFXOR SRGHU GH GHFLVmR QD PXGDQoD VRFLDO PDV DR PHVPR WHPSR TXH D
PXGDQoDVRFLDOGHYHVHUWUDWDGDFRPRUHVXOWDGRFRPELQDGRGDTXLORTXHID]HPWRGRVRV
LQGLYtGXRV 'LVWULEXWLYDPHQWH FDGD LQGLYtGXR p SRUWDGRU GH XPD DJrQFLD tQILPD
SUDWLFDPHQWH
LQYLVtYHO
PDV
SRGHURVRV´(1998[1993]p.329)
FROHWLYDPHQWH
RV
LQGLYtGXRV
VmR
WRGR
Esta profunda transformação do conceito de agência, teve o apoio de duas ciências
correlatas à sociologia: a economia e a lingüistica.
Da economia a sociologia
retrabalhou o conceito da “mão-invisível” de Adam Smith, compreendendo assim que
4
Esta percepção acompanhou diversas matizes do evolucionismo e desenvolvimentismo, transformando-
11
múltiplas decisões podem ser tomadas por múltiplos atores sociais; quanto à lingüistica,
a sociologia adaptou e compreendeu como os indivíduos podem criar, recriar e
modificar seu próprio cotidiano similarmente ao que ocorre na linguagem.
Com este instrumental, a sociologia torna-se mais capaz de compreender os fenômenos
sociais e, mais especificamente, as possibilidades de mudança social. Na trilha destes
avanços, temos Merton(1976) com sua noção de efeitos latentes, não pretendidos, da
ação humana. Com esta teoria, a mudança social se consolida como um ³UHVXOWDGR
DJUHJDGR H KLVWRULFDPHQWH DFXPXODGR GDTXLOR TXH ID]HP WRGRV RV PHPEURV GD
VRFLHGDGH FRP EDVH HP VHXV SUySULRV PRWLYRV SDUWLFXODUHV H SURSyVLWRV HJRtVWLFRV´
(Sztompka,1998[1993],p. 330).
Apesar desta ênfase mertoniana nos aspectos individuais e não pretendidos, devemos
ressaltar que nem todas as pessoas atuam de maneira isolada; pois a noção de mudança
planejada e o conceito de ação coletiva fazem parte da realidade moderna, que em um
certo sentido complementa as mudanças espontâneas provocadas individualmente. Esta
relação concomitante entre a mudança pretendida e não pretendida, entre
individualidade e coletividade, faz com que a agência seja materializada nos agentes
coletivos ou associativos (nem sempre, pois a agência pode se materializar nos
indivíduos). Neste cenário, temos mudanças realizadas de cima para baixo, como no
caso das ações governamentais, das grandes organizações, etc. Na outra ponta temos
ações iniciadas de baixo para cima, como as associações de bairro, os grupos de
pressão, as organizações não-governamentais, os OREELHVos movimentos sociais, dentre
outros. ³$ FRPSOH[D LQWHUDomR HQWUH HOHV IRUPD R FHQiULR SROtWLFR GDV VRFLHGDGHV
se ainda em um dos pontos fracos do funcionalismo ortodoxo
12
FRQWHPSRUkQHDV VHXV UHVXOWDGRV HVSHUDGRV FUX]DQGRVH FRP DV DWLYLGDGHV GLVSHUVDV
GRV DWRUHV LQGLYLGXDLV OHYDGDV D FDER QR FHQiULR GD YLGD FRWLGLDQD ,QGLYtGXRV H
FROHWLYLGDGHIRUPDPMXQWRVSRUWDQWRRFXUVRVLQXRVRGDKLVWyULDKXPDQD´ (Sztompka,
1998[1993],p.330)
Assim temos o combustível que faz mover a sociedade: a relação íntima entre atores
individuais e agentes coletivos, que produzem e reproduzem a realidade social. A seguir
trabalharemos com alguns teóricos da mudança social, destacando suas principais
contribuições para a teoria sociológica.
7HRULDVGD$JrQFLD3ULQFLSDLV&RUUHQWHV
2 FRQFHLWRGHPRUIRJrQHVHHP:DOWHU%XFNOH\
Em seu estudo publicado em 19675, Buckley procura, através da incorporação da teoria
das trocas, do interacionismo simbólico, da teoria dos jogos e dos modelos de
comportamento coletivo, revisar as análises estrutural-funcionalista e a teoria geral dos
sistemas. Dentro do esquema sistêmico, o autor acreditava poder sintetizar os modelos
de interação em uma teoria fundamental do processo sociocultural.
6LVWHPD$XWR5HJXODGR0RGHOR(VWUXWXUDO
)XQFLRQDOLVWD
Feedback Negativo
Sistema Compensatório
6LVWHPDV0RUIRJrQLFRV
0RGHORGH%XFNOH\
Feedback Positivo
Sistema Ampliado(Estrutura Construídas e
Transformadas)
³2 PRGHOR VXS}H XP VLVWHPD GH FRPSRQHQWHV LQWHUDWLYRV HP SHUPDQHQWH DWLYLGDGH
FRP XPD IRQWH LQWHUQD GH WHQVmR HVWDQGR R FRQMXQWR HQYROYLGR HP WUDQVDo}HV
FRQWtQXDVFRPRVHXYDULiYHODPELHQWHH[WHUQRHLQWHUQRGHWDOPRGRTXHHVWH~OWLPR
13
WHQGHDVHWRUQDUVHOHWLYDPHQWHPDSHDGRGHDOJXPDIRUPDGHQWURGDHVWUXWXUDD
PRUIRJrQHVHVHUHILULUijTXHOHVSURFHVVRVTXHWHQGHPDDSHUIHLoRDURXPRGLILFDUXPD
GDGD IRUPD HVWUXWXUD RX HVWDGR GR VLVWHPD´ (Buckley DSXG Sztompka, 1998[1993],
p.331)
O aspecto positivo desta teoria encontra-se nas possibilidades de ação do funcionamento
social, mas ao mesmo tempo reafirma certos automatismos dos modelos orgânicos e
mecanicistas que ele queria combater.
$ VRFLHGDGHDWLYDGH$PLWDL(W]LRQL
Etzioni inicia a discussão sobre a agência propondo uma “sociedade ativa”, cuja
essência está na noção de mobilização e ativação social. Partindo deste ponto, o autor
desenvolve a teoria do direcionamento societário, onde os impulsos mobilizatórios das
coletividades e das sociedades são os fatores responsáveis da transformação social. ³1D
PHGLGD HP TXH VH PRELOL]D XPD XQLGDGH VRFLDO WHQGH D PRGLILFDU D VXD SUySULD
HVWUXWXUDHOLPLWHVEHPFRPRDHVWUXWXUDGDVXSUDXQLGDGHGDTXDOID]SDUWH´(Etizioni
DSXGSztompka, 1998[1993] , p.332)
O autor acredita que a sociedade está em permanente movimento, transformando-se
constantemente, tendo os indivíduos como os principais responsáveis por estas
mudanças.
A capacidade de transformação dos homens, materializa-se nas
coletividades, nos grupos e nas organizações sociais, sendo conceituado de ação
coletiva.
5
6RFLRORJ\DQG0RGHUQ6\VWHPV7KHRU\(QJOHZRRG&OLIIV3UHQWLFH+DOO
14
³8PD WHRULD GR GLUHFLRQDPHQWR S}H D TXHVWmR GH FRPR XP GDGR DWRU GLULJH XP
SURFHVVR H GH FRPR HOH PRGLILFD D HVWUXWXUD H OLPLWHV GH XPD XQLGDGH $ WHRULD GR
GLUHFLRQDPHQWRVRFLHWiULRS}HDOpPGLVVRDTXHVWmRGHFRPRXPDGDGDHVWUXWXUDIRL
PRGHODGD FRPR p PDQWLGD FRPR SRGH VHU DOWHUDGD RQGH VH ORFDOL]DP RV IRFRV GH
SRGHUTXHPFRPDQGDRFRQKHFLPHQWRHTXHPWHPFDSDFLGDGHGHGHWHUPLQDU´(Etzioni
DSXGSztompka, 1998[1993],p.332)
$ODLQ7RXUDLQHHDFRQWULEXLomRIUDQFHVD
A partir da década de 1970, a escola francesa insere-se no debate sobre a agência; é um
momento especial, pois sabidamente a França é um reduto da teoria estruturalista.
Criticando a postura desenvolvimentista e estruturalista da análise sociológica, Touraine
cria a “sociedade autoprodutiva”, como um IURQW em defesa da ação. As velhas correntes
sociológicas, de acordo com Touraine, subordinavam o senso de ação coletiva a
imutáveis leis e exigências históricas, tornando o homem um mero apêndice da análise
sociológica.
Era preciso trazer o homem novamente a cena, como agente da história, transformador
da realidade social. Nesse sentido, a sociedade torna-se fruto dos esforços humanos, não
mais que ³R UHVXOWDGRLQVWiYHOHEDVWDQWHLQFRHUHQWHGDVUHODo}HVVRFLDLVHGRVFRQIOLWRV
VRFLDLV´. (Touraine DSXG Sztompka,1998[1993],p.333) Assim, a sociedade torna-se
produto da ação coletiva, tendo para o pensador francês, os movimentos sociais como
vanguarda da transformação social. ³2PRYLPHQWRVRFLDOpDQWHVGHWXGRXPDWRUXPD
YH] TXH D UHDOLGDGH KLVWyULFD p FRQVWUXtGD DWUDYpV GRV FRQIOLWRV H QHJRFLDo}HV GH
PRYLPHQWRVVRFLDLVTXHFRQIHUHPXPDIRUPDVRFLDOHVSHFtILFDjVRULHQWDo}HVFXOWXUDLV´
(Touraine DSXG Sztompka1998[1993],p.334).Assim sendo, os movimentos sociais
15
tornam-se fundamentais para a análise da mudança social. É relevante a correlação que
ele traça ao vincular a decadência da análise evolucionista e a ascensão dos movimentos
sociais como atores principais da realidade social e o surgimento da sociedade pósindustrial.
Esse movimento proporciona o aparecimento das capacidades de autoatividade dos
atores sociais, tornado-os produtos de sua própria ação. A escola francesa6 rejeita o viés
historicista e determinístico da realidade social. Em termos gerais, a mudança social é
tida como um processo de estruturação e reestruturação contínua, onde os atores sociais
respondem aos problemas e desafios que enfrentam na vida diária. As soluções são
criadas a partir de jogos sociais, das negociações, barganhas, conflitos e cooperação.
³$WLYLGDGHV FROHWLYDV GHVVH JrQHUR VmR LQHUHQWHPHQWH FULDWLYDV GHYLGR DR PHFDQLVPR
GR µDSUHQGL]DGR FROHWLYR¶ HP TXH DV GHVFREHUWDV H LQRYDo}HV LQGLYLGXDLV WRUQDPVH
SUiWLFDV VRFLDLV FRPSDUWLOKDGDV HPEXWLQGRVH QR VLVWHPD (P FRQVHTrQFLD DV
FDUDFWHUtVWLFDV GR VLVWHPD VmR PRGLILFDGDV SRGHQGR UHVXOWDU QD WUDQVIRUPDomR GRV
SUySULRV PHFDQLVPRV GH WUDQVIRUPDomR ,QH[LVWH PXGDQoD QHFHVViULD LQHYLWiYHO RX
QDWXUDO R PXQGR VRFLDO p IXQGDPHQWDOPHQWH LQGHWHUPLQDGR RX SHOR PHQRV
³VXEGHWHUPLQDGR´ WRGD PXGDQoD UHVXOWD GD LQYHQomR FULDomR H LQYHVWLJDomR
KXPDQDV´ ( Sztompka, 1998[1993], p.335)
Assim, para a escola francesa, o aprendizado coletivo é um dos mais importantes
mecanismos de auto-transformação social.
16
$QWKRQ\*LGGHQVHDWHRULDGDHVWUXWXUDomR
Concomitantemente a reação francesa em defesa da ação, Giddens surge na Inglaterra
propondo a teoria da estruturação; como uma forma de afastamento das correntes
sociológicas que defendiam a reificação das totalidades sociais e a determinação social
dos atores.
Criticando a noção de estrutura, Giddens afirma que a sociedade é fluida, mutável e
totalmente contingente da realidade social; ele destaca que o único substrato ontológico
são as ações e interações dos sujeitos humanos. A partir deste ponto, Giddens sugere a
transformação da noção estática de estrutura pela dinâmica do conceito de estruturação,
tida como a conduta da coletividade humana. O objetivo central da proposta de Giddens
é a produção e a reprodução da sociedade. Para Giddens, analisar a estruturação de um
sistema social é estudar as diversas maneiras na qual ele é produzido e reproduzido,
interagindo com as vias de aplicação das regras e recursos generativos em contextos
impremeditados. As regras e recursos usados pelos atores são reformulados pelo próprio
uso, ³DVSURSULHGDGHVHVWUXWXUDLVGRVVLVWHPDVVRFLDLVVmRWDQWRPHLRTXDQWRSURGXWR
GDV SUiWLFDV TXH FRQVWLWXHP RV SUySULRV VLVWHPDV´ (Giddens
DSXG
Sztompka,1998[1993],p.336). Aqui temos a explicitação do conceito da dualidade da
estrutura. Para Giddens, o agente, seja individualmente seja em grupos, é fundamental
na teoria da estruturação; são suas ações cotidianas que constituem o cerne da teoria. De
maneira surpreendente, Giddens eleva o indivíduo, assegurando-o na consciência das
condições e conseqüências dos seus atos.
6
Esta corrente da escola francesa é centrada em Crozier e Friedberg, cuja a problemática é relacionada às
organizações, destacando a interdependência entre atores e sistemas.
17
Evidente que Giddens não trilha o caminho da ingenuidade afirmando total
conhecimento de todas as motivações dos atos bem como a total consciência destes atos,
por parte dos atores sociais. Admite-se que em algum momento não há o conhecimento
das condições e que alguns resultados das ações não são previstos.
Como resultado temos que, apesar da história ser construída a partir da contingência da
atividade humana, criada e recriada a partir das ações e atividades intencionais
produzidas pelos indivíduos, ela não é um projeto premeditado, mas sim o resultado de
esforços que buscam uma direção mais consciente.
Outro aspecto relevante destacado por Giddens, e muito pouco relevado pelos
sociólogos, está na (aparentemente simples) constatação da implicação do tempo e
espaço na ação humana. Esta relação é fundamental para uma análise acerca da teoria da
agência, como destaca Giddens, ³D FRUSRUDOLGDGH LPS}H OLPLWDo}HV HVWULWDV VREUH DV
FDSDFLGDGHV GH PRYLPHQWR H SHUFHSomR GR DJHQWH KXPDQR´ (DSXG Sztompka,
1998[1993],p.336) Com Giddens a agência é corporificada nos seres humanos
individuais, retira-se dos sistemas e das coletividades a responsabilidade da mudança, é
na conduta cotidiana das pessoas comuns, quase sempre sem a preocupação reformista,
que molda e transforma as sociedades humanas.
$ HVFRODGH8SSVDODDWHRULDGRVVLVWHPDVQRUPDWLYRV
A teoria dos sistemas normativos, na figura de Tom Burns e Helena Flam(1987),
procura construir uma ponte na dicotomia entre agência-estrutura, mas de maneira
distinta de Giddens; eles afirmam que não são os atores que conformam, mas as
estruturas que são conformadas, sendo vistas como um complexa rede de relações.
18
Para a escola sueca7, toda e qualquer atividade humana, em toda a sua magnitude, é
conformada por normas e sistemas normativos previamente determinados pela
coletividade. Como ressalta Sztompka (1998[1993]), a grande contribuição desta
corrente foi a sofisticada análise das regras sociais, que produzem as estruturas da
história humana.
Burns e Flam (1987) dividem a estrutura em três grupos: sistemas, regimes e gramáticas
normativas. O sistema normativo consiste em regras inter-relacionadas com o contexto
em que ela está inserida e temporalmente especificadas para regular as transações
sociais; os regimes normativos são decisivos, já que estão apoiados nas sanções sociais
e redes de poder e controle, tornando-se assim, algo externo ao homem; os regimes são
materializados nas sociedades sob a forma de instituições. Trazendo para o âmbito
individual, os sistemas normativos tornam-se "gramáticas generativas da ação social"
que são cooptadas pelos atores sociais para estruturar e regular as transações mútuas na
esfera social.
Destaca-se que esta rede normativa complexa e multidimensional, ao contrário do
significado dado a ela por Durkheim(1995[1893]), é construída pela ação humana; são
os próprios homens que constróem e transformam os sistemas normativos, sendo que
estes impõem-se diante da ação humana.
³2V VLVWHPDVVRFLDLVQRUPDWLYRVRUJDQL]DPHUHJXODPDVWUDQVDo}HVVRFLDLVWDLVFRPR
D QHJRFLDomR RX D FRPSHWLomRSROtWLFDHPWHUPRVGHTXHPWHPGLUHLWRGHSDUWLFLSDU
19
TXDLV WUDQVDo}HV VmR DSURSULDGDV RX OHJtWLPDV RQGH H TXDQGR DV WUDQVDo}HV SRGHP
VHUHIHWXDGDVFRPRVmRHIHWXDGDVHDVVLPSRUGLDQWH$RPHVPRWHPSRRVSURFHVVRV
WUDQVDFLRQDLV VmR HVVHQFLDLV SDUD D IRUPDomR H WUDQVIRUPDomR GRV VLVWHPDV
QRUPDWLYRV EHP FRPR SDUD D VXD LQWHUSUHWDomR H LPSOHPHQWDomR´ (Burns e Flam,
DSXG Sztompka, 1998[1993], p.339)
Para a escola sueca, os atores sociais transformam através de suas ações as próprias
condições de suas ações.
7HRULD GD PRUIRJrQHVH DSHUIHLoRDGD FRQWULEXLo}HV GH 0DUJDUHW $UFKHU SDUD D
TXHVWmRGDDJrQFLD
A autora inglesa entra no debate propondo uma nova noção de agência, para isto
aprimora a teoria da morfogênese. Nesta teoria, o único aspecto que distingue os
sistemas sociais dos sistemas orgânicos e mecânicos é a sua capacidade de
reestruturação. Avançando na análise, Archer credita à ação humana esta capacidade de
transformação. A noção central da morfogênese refere-se às interações complexas entre
estrutura e ação que produzem determinadas mudanças em um sistema. Ao estudar a
relação entre estrutura e ação, Archer desenvolve o princípio de “dualismo analítico”,
contrapondo-se a dualidade conceitual.
O dualismo analítico considera a ação e a estrutura analiticamente isoláveis, pois as
propriedades emergentes que caracterizam os sistemas socioculturais implicam em
descontinuidades entre as interações iniciais e os resultados alcançados. A dualidade
7
A escola sueca tem origem na ontologia normativa do mundo social elaborada por Torgny
Segerstedt(1966), onde a interação e cooperação pressupõem normas comuns.
20
conceitual se destaca por retirar toda e qualquer autonomia e independência seja da
estrutura, seja da ação, ou de ambas.
Para Archer o dualismo analítico destaca-se ao propor uma relação constitutiva entre
ação e estrutura, que impede uma clara descrição da influência de um pelo outro; este
argumento refere-se ao fato de que a ação e a estrutura são de fato distintas, pois o
“condicionamento estrutural”, a “interação cultural” e a conseqüente “transformação
cultural” ocorre em momentos distintos. ³$HVWUXWXUDSUHFHGHORJLFDPHQWHDDomRTXHD
WUDQVIRUPDHRDSHUIHLoRDPHQWRHVWUXWXUDOVXFHGHORJLFDPHQWHDTXHODVDo}HV
R DSHUIHLoRDPHQWRFXOWXUDOpRIXWXURIRUMDGRQRSUHVHQWHHODERUDGRFRPDKHUDQoDGR
SDVVDGRSRUPHLRGDLQRYDomRDWXDO´ ( Archer DSXG Sztompka, 1998[1993], p.340)
Dentro deste espectro, Archer termina sua análise destacando que a estrutura é o meio
condicionante e o produto elaborado da interação; a agência reforma e é reformada pela
estrutura enquanto transforma a si mesma no processo. É em síntese, uma visão
dialética da relação entre ação-estrutura, sendo de fundamental importância a
localização desta relação no tempo histórico.
&RQFOXV}HVDFHUFDGDUHODomRDJrQFLDHPXGDQoDVRFLDO
Ao encerrar a explanação acerca do desenvolvimento teórico sobre a agência e mudança
social (mesmo que de forma sucinta) alguns aspectos tornam-se relevantes e até mesmo
fundamentais na compreensão da realidade social. É importante destacar que a relação
entre a ação e a estrutura sempre foi alvo da análise sociológica; partindo da oposição
entre os conceitos, houve, e ainda há, uma preocupação em aproximá-los.
21
Tendo esta preocupação, Sztompka(1998[1993])
destaca um conjunto de seis
pressupostos ontológicos baseados nas teorias da agência acima descritas. Nestes
pressupostos, a sociedade é vista como um processo em constante mudança; a mudança
ocorre
principalmente
de
dentro
para
fora,
criando
um
mecanismo
de
autotransformação; a mudança é movida pela capacidade dos indivíduos humanos e
coletividades sociais; o sentido, o objetivo e a velocidade são ditadas pela disputa entre
os diversos agentes, sendo motivos de lutas e disputas; a ação ocorre em uma estrutura
previamente construída (a estrutura molda e é moldada e os atores produzem e são
produzidos); por fim, a relação entre a ação e a estrutura é dada no tempo, alternando
“criatividade motriz” e “determinação estrutural”.
Assim, a relação entre agência e estrutura torna-se central na análise sociológica
contemporânea, merecendo, com isto, alternativas metodológicas e conceituais para o
aprofundamento da questão. Nesse sentido, acreditamos que o conceito de capital social
poderia auxiliar no entendimento da relação ação-estrutura, bem como nos aspectos
relativos à mudança social.
A contribuição da idéia de capital social é significativa por que há uma preocupação dos
teóricos em aproximar as ações individuais e as estruturas sociais; para esta vertente da
sociologia é possível a mudança social através das ações positivas, que são sustentadas
pelos sentimentos de confiança, participação cívica, reciprocidade, proatividade, dentre
outros.
Diversas pesquisas estão sendo realizadas, principalmente nos Estados Unidos,
procurando detectar os mecanismos do capital social que favorecem a mudança social
22
dentro de uma estrutura pré-estabelecida. Há, como destacou Archer(1988), uma relação
dialética entre a ação e a estrutura, e nesta interação, o capital social seria importante,
como combustível das transformações sociais.
É nesta direção que centramos nossa análise; pois queremos avaliar o real impacto do
capital social no comportamento social (individual ou coletivo) dentro de uma realidade
dada e em constante transformação. É possível correlacionarmos o volume de capital
social presente em uma comunidade com suas características sócio-econômicas e
políticas? A qualidade de vida de um dado local estaria diretamente ligada aos aspectos
relevantes do capital social?
Assim, a nossa pesquisa procura identificar uma associação entre o capital social e as
taxas de criminalidade em duas vilas de Belo Horizonte. Nosso objetivo é perceber se o
comportamento social nestes locais estaria influenciando positivamente na contenção da
criminalidade, ou seja, o capital social estaria de alguma forma reformulando a estrutura
social e vice-versa, possibilitando alternativas às políticas públicas de combate à
criminalidade?
A seguir iremos discorrer sobre o conceito de capital social, destacando os principais
teóricos que trabalham com a questão: Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert
Putnam.
23
&$3Ë78/2
&$3,7$/62&,$/&21&(,726('(),1,d®(6
O conceito de capital social é construído, embora de maneiras distintas, inicialmente por
Bourdieu (1986[1983])8 e Coleman (1988,1990); ambos apontam para características
que ressaltam sentimentos de reciprocidade nas relações de interação social.
Coleman (1990) define o capital social como os recursos produzidos pela interação
social entre os indivíduos ou grupos, que resultam, por exemplo, em confiança e
credibilidade. Estes recursos, quando disponíveis, facilitam a ação social seja dos
indivíduos seja de grupos ou comunidades9. Quanto maior a produção destes recursos,
maior a possibilidade de desenvolvimento dos indivíduos, dos grupos ou da
comunidade. Coleman destaca que o conceito de capital social não é uma entidade
única, ele possui uma variada gama de manifestações que encontram-se na estrutura
social e que facilitam a ação dos indivíduos dentro desta estrutura. ³'LIHUHQWHPHQWHGH
RXWUDV IRUPDV GH FDSLWDO R FDSLWDO VRFLDO VLWXDVH QD HVWUXWXUD GDV UHODo}HV HQWUH DV
SHVVRDV GH XPD FRPXQLGDGH (OH QmR VH HQFRQWUD QHP QRV LQGLYtGXRV QHP QRV
LPSOHPHQWRVItVLFRVGDSURGXomR´(Coleman, 1990, p.302).
Robert Putnan (1996 [1993]) em seu estudo sobre a comunidade e democracia na Itália
moderna, ressalta a intensa relação entre capital social e cultura cívica10, para ele a única
8
Bourdieu (1986) acredita que o capital social é a somatória dos recursos reais ou virtuais, produzidos pelas
redes de relacionamentos de mútuo entendimento e reconhecimento, à disposição dos indivíduos ou grupos.
9
Embora Coleman reconheça a presença de capital social em grupos e comunidades, centra a sua análise no
indivíduo.
10
Putnam caracteriza a cultura cívica a partir da atuação dos cidadãos, imbuídos de espírito público; por
relações políticas igualitárias e estruturas sociais baseada na confiança e na colaboração.
24
forma de capital social. Isto nos impede de detectar outras formas de capital social,
principalmente nas esferas da credibilidade e confiança mútua, aspectos que podem
estar presentes em comunidades com uma estrutura social sem uma tradição cívica
mais forte. 11
Apesar das polêmicas em torno do conceito de capital social e das possibilidades de
produção de relações conflituosas entre os indivíduos e grupos, sugerimos que a
definição do conceito contemple os aspectos que Coleman e Putnam destacam; como a
cultura cívica, a crença entre os membros da comunidade, o envolvimento nas questões
comunitárias, uma boa relação entre a vizinhança, dentre outros. De acordo com a
literatura consultada, estas questões são fundamentais para a prosperidade econômica e
para o desenvolvimento sustentável; fatores preponderantes para uma sensível melhoria
nas esferas da saúde, educação, meio-ambiente, segurança pública, etc.
Assim sendo, destacaremos a posição de Bourdieu, Coleman e Putnam em relação ao
capital social, procurando sublinhar as principais características de cada autor em
relação ao conceito. 3LHUUH%RXUGLHX
Podemos considerar as análises de Bourdieu como precursoras no que tange à visão
contemporânea do conceito de capital, nesse sentido, autores que serão aqui trabalhados,
têm, de alguma maneira, fortes influências do autor francês.
11
Devemos destacar que nem sempre o capital social resulta em efeitos positivos na comunidade
(Paxton,1999), como ressalta Onyx et al. (1997) a Klu Klux Klan pode ter sido resultado do capital social
disponível para a comunidade branca do sul dos E.U.A.
25
Para Bourdieu, o mundo social é um retrato fiel da história humana, com todos os seus
percalços e sucessos. Assim, Bourdieu aponta para a necessidade da reintrodução do
conceito de capital e as conseqüências advindas de seu acúmulo para a análise social.
Inicialmente, o capital é visto como um acúmulo de trabalho que, quando apropriado de
maneira privada, seja por agentes ou por grupos constituídos, possibilita a apropriação
da energia social, seja em forma reificada do trabalho, seja em forma do trabalho vivo.
O capital constituído desta maneira, objetivamente ou personificado, reveste-se de uma
capacidade potencial em produzir lucros e, ao mesmo tempo, em se auto-reproduzir, na
mesma proporção ou de maneira expandida.
A estrutura social, que permite a distribuição de diferentes tipos e sub-tipos de capital,
em um dado momento, no tempo e espaço, representa a estrutura social do mundo
social. Assim sendo, Bourdieu acredita na impossibilidade de analisar a estrutura e o
funcionamento do mundo social sem a reintrodução do conceito de capital, em todas as
suas formas, não só na forma econômica.
A teoria econômica reduz a análise do capital, centrando-se na perspectiva da troca,
produzindo assim, subjetiva e objetivamente, uma orientação para a maximização do
lucro. A ênfase economicista impede a percepção não-econômica do capital.
Esta visão reduzida é questionada por Bourdieu, pois tanto o capital cultural quanto o
capital social podem ser, em algum momento, intercambiados para a esfera econômica.
26
³2FDSLWDOSRGHVHDSUHVHQWDUGHWUrVPDQHLUDVIXQGDPHQWDLVFRPRFDSLWDOHFRQ{PLFR
TXH pLPHGLDWDPHQWHHGLUHWDPHQWHFRQYHUWLGRHPGLQKHLURHSRGHVHULQVWLWXFLRQDOL]DGR
VRE D IRUPD GH GLUHLWR GH SURSULHGDGH FRPR FDSLWDO FXOWXUDO TXH p FRQYHUWLGR VRE
FHUWDV FRQGLo}HV HP FDSLWDO HFRQ{PLFR H SRGH VHU LQVWLWXFLRQDOL]DGR QD IRUPD GH
TXDOLILFDomR HGXFDFLRQDO H FRPR FDSLWDO VRFLDO SURGX]LQGR REULJDo}HV VRFLDLV TXH p
FRQYHUWLGRVREFHUWDVFRQGLo}HVHPFDSLWDOHFRQ{PLFRSRGHQGRVHULQVWLWXFLRQDOL]DGR
QDIRUPDGHWtWXORVQRELOLiUTXLFRV´(Bourdieu, 1986[1983] p.243)
Apesar dos três tipos de capital relatados por Bourdieu12, destacaremos apenas o capital
social, que é o objetivo deste trabalho.
&DSLWDO6RFLDOHP%RXUGLHX
O autor inicia destacando que o capital social é um agregado de recursos, reais ou
latentes, que estão presentes nas relações sociais mais ou menos institucionalizadas,
tendo um acordo e reconhecimento mútuo dos participantes desta interação.
O volume de capital social de cada agente depende diretamente do tamanho e
intensidade das conexões que ele efetivamente mobiliza a seu favor, aliado à presença
de outras formas de capital, como por exemplo o econômico e o cultural; demonstrando,
com isto, que o capital social não é totalmente independente de outras formas de capital.
Bourdieu destaca que as redes de relações sociais não são dadas naturalmente, mas são
produções de ações estratégicas, individuais ou coletivas, conscientes ou inconscientes,
que estabelecem ou reproduzem as relações sociais.
27
Este estabelecimento ou reprodução das relações sociais transforma as relações
contingentes, como por exemplo a vizinhança, o local de trabalho, etc. Tais relações
também produzem elos de obrigações subjetivas (sentimentos de gratidão, respeito,
amizade, etc.) que criam e potencializam o capital social. Nesse aspecto, Bourdieu
individualiza o capital social, pois delega às pessoas a “responsabilidade” da
transformação social, ao contrário da escola americana que procura estabelecer uma
relação de mão-dupla entre o indivíduo e sociedade, coletivizando as possibilidades de
transformação.
-DPHV&ROHPDQ
Coleman parte do princípio de que a construção do conceito de capital social
proporciona a introdução da estrutura social para dentro do paradigma da ação racional.
Para esta empreitada, o autor parte da descrição das possibilidades de entendimento da
ação social.
Ele divide o pensamento sociológico em dois grupos; o primeiro parte da noção de
indivíduo socializado a partir de normas sociais, regras e obrigações; conforme
Coleman, esta percepção possibilita a descrição da ação dentro de um contexto social,
elucida como a ação é formada, construída e redirecionada pelo contexto social. O
segundo grupo concorda com os paradigmas das ciências econômicas, que defende a
12
É importante destacar que no livro ‘Practical Reason” (1998[1994]) Bourdieu amplia o leque de capital,
destacando, dentre outros, o capital burocrático.
28
busca de metas a partir de ações individuais, calcadas em interesses próprios; é a
consolidação do princípio da relação ação/utilidade. 13
Dentro desta disputa teórica por uma melhor explicação da realidade social, Coleman
acredita na possibilidade de uma terceira via, unindo aspectos da teoria da ação racional
e do estruturalismo. Para ele, aceitar os princípios da ação em conjunto com contextos
sociais particulares pode contribuir para a compreensão não apenas de ações individuais
em contextos particulares, mas pode também propiciar o desenvolvimento das
organizações sociais.
É neste contexto que James Coleman propõe uma nova ferramenta conceitual para a
análise social, a qual ele chama de capital social. Para ele, o capital social pode ser
definido como recursos sociais (crença na estrutura social, relações de amizade e
confiança, dentre outros) utilizados pelos indivíduos para realizar seus interesses.
Partindo desta nova noção, Coleman procura apontar as falhas e deficiências da
concepção estrutural e da concepção racional que divide a sociologia.
Na concepção estrutural, o ator não é o motor da ação; ele é formado pelo meio
ambiente no qual vive , estando à margem dos processos de escolha, pouca ou nenhuma
alternativa é dada aos indivíduos. A concepção racional, por sua vez, procura construir
seus argumentos a partir da realidade empírica; onde as ações individuais são formadas,
redirecionadas e construídas pelo ator social. As normas, a confiança interpessoal, os
elos de sociabilidade e a organização social são importantes não apenas para o
funcionamento da sociedade mas para o funcionamento da economia. Dentro da
13
Este princípio tem propiciado o crescimento e a consolidação de correntes filosóficas filiadas ao utilitarismo,
29
concepção da ação racional temos alguns teóricos que se auto intitulam “economistas
neo-institucionais”. Dentro da dificuldade das duas correntes sociológicas em se
acordarem a respeito das noções de ação e da estrutura, estes teóricos buscam
alternativas onde aproximam, ou supõem que aproximam, a estrutura e a ação e vice
versa. Ben-Porath (1980) desenvolveu uma teoria que chamou de )FRQQHFWLRQ (
IULHQGV IDPLO\ DQG ILUP) onde utiliza uma bibliografia centrada na antropologia, na
sociologia e na economia, para demonstrar que as formas de organização social afetam
as trocas econômicas. Willianson (1975,1981) acredita que as atividades econômicas
são organizadas de forma distinta, adequando-se às diferentes formas institucionais,
sejam elas em nível micro-econômico, sejam elas em nível macro-econômico.
Resumindo, esta corrente procura mostrar como as instituições econômicas particulares
surgem e quais são seus efeitos no funcionamento do sistema social.
Nesta discussão, Granovetter(1985) entra questionando as bases teóricas dos neoinstitucionalistas, argüindo que eles falham por não reconhecerem a importância das
relações sociais concretas e os elos de relações, o que ele denomina HPEHGGHGQHVV.
Podemos acreditar que a idéia de Granovetter acerca do HPEHGGHGQHVV é uma tentativa
de introduzir na análise econômica dos sistemas sociais e das relações sociais, uma
visão de estrutura com história e continuidade que dão um efeito independente do
funcionamento dos sistemas econômicos e não uma estrutura como plataforma para o
cumprimento das funções econômicas.
Coleman diferencia-se das correntes acima, pois acredita nos princípios da ação racional
para a análise dos sistemas sociais, mas acredita também ser necessária a extensão desta
contratualismo, direitos naturais e a teoria econômica neoclássica.
30
análise para além das fronteiras dos sistemas econômicos, incluindo assim, em sua
análise, a compreensão da organização social. Com isto ele elege o conceito de capital
social como a ferramenta mais adequada para esta empreitada.
$V%DVHVGR&RQFHLWRGH&DSLWDO6RFLDO
Para Coleman, uma das grandes deficiências ao introduzir a teoria da troca na sociologia
é a sua limitação às análises microssociais, que impede a utilização da maior virtude da
teoria econômica: a habilidade em fazer a transição micro-macro nos sistemas sociais.
Trabalhando a princípio com a teoria da ação racional, onde os atores têm certa
autonomia e controle sobre os recursos disponíveis para a realização de suas metas, o
conceito de capital social é uma espécie de recurso particular utilizado no momento das
escolhas. Aqui ele é definido como uma função que possibilita e facilita a ação dos
atores ou grupos de atores ou mesmo corporações dentro da estrutura social.
Como outros aspectos de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização
de determinadas metas; ao contrário do capital físico (aspectos meramente econômicos)
e humano (qualificação profissional, formação escolar formal, etc.), o capital social não
pode ser medido ou aferido facilmente, mas é possível especificá-lo utilizando como
medida certos comportamentos sociais.
O capital social é apontado como facilitador de certas ações que podem ser úteis ou não
para a comunidade. Diferentemente de outros tipos de capital, o capital social surge das
relações sociais, independente desta relação se passar em nível micro ou macro.
31
Centrando sua análise nas relações entre pessoas, Coleman demonstra como o capital
social se manifesta nas relações sociais descrevendo alguns episódios. O primeiro
exemplo que ele destaca, refere-se ao comércio de diamantes; a negociação neste
mercado é bastante fechada, exigindo um alto grau de confiança entre as partes. As
relações familiares, comunitárias ou religiosas são bastante valorizadas nas transações.
Em Nova Iorque este comércio está basicamente centrado nas mãos da comunidade
judaica, o que permite uma real avaliação das peças e uma garantia da qualidade do
produto e do recebimento das vendas.
O segundo exemplo destacado por Coleman foi retirado da imprensa; consiste na
atuação dos estudantes sul-coreanos nas manifestações contra as ações governamentais
de seu país. Como observa o jornal, os estudantes são, em sua grande maioria,
pertencentes à mesma escola, ao mesmo bairro ou à mesma igreja, ou seja, são
pertencentes ao mesmo círculo de relações. Esta proximidade proporcionada pela
escola, pela vizinhança ou pela igreja facilitou a fundação de círculos de estudos na qual
eram organizados os protestos. Como relata Coleman, as organizações civis são
fomentadoras, com bastante eficiência, de capital social.
O terceiro exemplo relata a história de uma dona-de-casa, moradora de Detroit, que em
busca de paz e liberdade para seus filhos, muda para Jerusalém. De acordo com
Coleman, o grau de capital social presente nas duas comunidades pode explicar as
diferenças de comportamento das pessoas que, em último caso, gera a paz e a segurança
esperada. Em Jerusalém, as pessoas procuram se envolver mais profundamente nas
questões locais, procuram, de uma maneira geral, cuidar do seu bairro, auxiliar as
crianças nas praças e parque etc., o que não é possível, ou pelo menos não é detectado
32
nas grandes cidades norte-americanas. Estas diferenças, que no final traduzem-se em
qualidade de vida, são explicadas, para Coleman, pelo nível de capital social presente
em cada comunidade; quanto mais alto o nível de capital social maior a participação e
preocupação com as questões locais da comunidade.
O quarto e último exemplo de Coleman passa-se nos mercados da cidade do Cairo,
Egito. Estes mercados são caracterizados pela presença dos laços familiares, os quais se
reafirmam pelas indicações de outros estabelecimentos caso não tenha a mercadoria
procurada, pela troca de dinheiro, etc. enfim, pela criação de obrigações e expectativas.
Ou seja, o objetivo maior é a criação de obrigações que venham afirmar e consolidar os
elos familiares, proporcionando uma forte estrutura social capaz de auxiliar seus
membros em momentos difíceis da vida.
Estes exemplos demonstram como o capital social age na sociedade, de maneira
independente da esfera econômica, embora mantenha relações íntimas com esta,
principalmente no que se refere à racionalidade da ação.
2V$VSHFWRVGR&DSLWDO6RFLDO
O grande valor do conceito de capital social está, na visão de Coleman, na possibilidade
de identificar certos aspectos funcionais da estrutura social. A função identificada pelo
conceito de capital social refere-se aos aspectos da estrutura social que proporciona aos
atores sociais recursos para a realização de seus interesses.
33
Coleman destaca que utilizando o conceito de capital social podemos observar
diferentes resultados da ação individual, fazendo a transição entre o micro e o macro,
sem utilizar uma análise mais acurada da estrutura social, ou seja, através das ações
individuais podemos diagnosticar de forma mais abrangente e generalizadora as
transformações das sociedades.
Apesar de acreditar neste ponto de vista, Coleman não renega as possibilidades de
investigar os detalhes das estruturas sociais para a análise sociológica, mesmo para
explicar casos particulares; a maneira como a estrutura estaria agindo nos casos
particulares. O que o autor deseja com o seu conceito de capital social é destacar cada
recurso oferecido aos atores sociais e mostrar as possibilidades de combinação destes
recursos com outros recursos para a formação de diferentes níveis de comportamento,
ou em outros casos, diferentes resultados individuais.
$V5HODo}HV6RFLDLVHD3URGXomRGH&DSLWDO
Obrigações, expectativas e confiança:
Coleman trabalha as relações entre obrigações, expectativas e confiança a partir de um
modelo teórico desenvolvido por ele. Se $ realiza alguma coisa para % e acredita que %
retribuirá no futuro, estabelece-se uma expectativa em $ e uma obrigação em % esta
obrigação pode ser transformada em FUHGLWVOLS
O FUHGLWVOLS pode ser comparado ao capital financeiro, onde alguns detêm o crédito que
pode ser recuperado a qualquer momento quando necessário; isto se não houver uma
quebra do acordo, mesmo que este seja implícito, como a maioria das transações
informais presentes na vida social. Este aspecto de capital social depende de dois
34
fatores primordiais: o primeiro é a confiança no meio-ambiente social, pois ele deve
passar a certeza de que as obrigações serão cumpridas; e o segundo é a extensão atual
das obrigações que serão honradas.
Um exemplo são os consórcios realizados em comunidades de baixa renda nas pequenas
cidades do sudeste asiático, onde grupos de amigos depositam mensalmente uma
quantia pré-estabelecida em prol de um dos membros do consórcio ( Q pessoas, Q
contribuições); esta ação é caracterizada pela confiança e obrigação entre os membros
dos grupos . Para Geertz (1962) esta é uma eficiente forma de ativação do
desenvolvimento econômico de comunidades de baixa renda; para Coleman, atitudes
parecidas seriam impensadas em mercados de grandes áreas urbanas com altos índices
de desagregação social, onde o grau de confiança é baixo e com isto a possibilidade da
quebra do contrato é alta. É o que se chama áreas de baixo capital social.
Estas diferenças podem aparecer por diversas razões. A primeira pode ser creditada à
predisposição, ou a falta dela, para auxílio comunitário dos membros da comunidade, a
segunda consiste na presença maior ou menor de um estado atuante, nos moldes do
ZHOIDUHVWDWHa terceira está no grau de necessidade da comunidade, e a quarta consiste
nas diferenciações culturais; algumas culturas sendo mais predispostas ao voluntarismo.
&DQDLVGHLQIRUPDomR
Na análise de Coleman, a informação é um importante mecanismo para a ação social, ao
mesmo tempo em que o acesso à informação é um gerador de capital social.
35
A informação torna-se um meio para atingir determinados fins; em todas as esferas da
sociedade é fundamental ter em mente os fatos e eventos que estão acontecendo para
nos pautarmos dentro de uma expectativa, digamos, social. Ou seja, nossas ações são
pautadas por informações e expectativas balizadas pelas relações sociais. Como analisa
Coleman, as relações sociais constituem a base do capital social. Como exemplo,
podemos citar o estudo de Katz e Lasarsfeld (DSXGColeman,1988), onde destaca-se o
comportamento das mulheres do meio-oeste americano. Elas, em busca de informações
sobre a moda, invariavelmente procuravam as amigas que julgavam ter maiores
conhecimentos do assunto. É um exemplo onde se demonstra a importância das relações
sociais para a obtenção de informações e ao mesmo tempo consolidando o capital
social.
É importante destacar que nesta interação não se cria o FUHGLWVOLSe consequentemente
as redes de obrigações e expectativas, mas simplesmente um mecanismo de
informações.
Normas e sanções efetivas:
Para Coleman, se as normas existentes são efetivas, produzem capital social, embora
algumas vezes mostram-se bastante frágeis, não há infalibilidade nas normas no sentido
de produzir capital social. Coleman aponta que pode haver efeitos perversos, como por
exemplo a relativa efetividade das normas na prevenção de crimes.
O autor destaca as normas prescritivas dentro da coletividade, que para ele constituem
uma importante fonte de capital social, já que pode atender aos interesses individuais e
da coletividade.
36
É importante ressaltar o papel das normas prescritivas, pois elas podem facilitar a
consolidação de jovens nações, o desenvolvimento de novos movimentos sociais, ou
seja,
ela é um agente facilitador das ações sociais. Nesse sentido, podemos encontrar muitas
semelhanças com as características da burocracia weberiana, seja em sua essência, seja
em seus objetivos. Em todos os casos, as normas são internalizadas visando otimizar as
ações coletivas em busca de metas em comum, sendo respaldada pelas sanções internas
ou externas que possibilitam o domínio dos problemas que colocam em risco os bens
públicos e a existência da coletividade.
As normas constituem uma importante fonte de capital social. Como destaca Coleman,
as normas sociais podem facilitar certas ações mas podem dificultar outras,
principalmente se estas forem inovadoras, colocando em xeque a ordem já estabelecida.
Como destacava Merton (1968), se por um lado as normas podem facilitar as ações, por
outro lado podem inibir soluções mais viáveis para a resolução dos problemas postos.
Estrutura social: aspectos facilitadores para a criação do capital social:
Para Coleman, toda estrutura social e relação social, de algum modo, facilitam o
aparecimento de algum aspecto de capital social, sendo que o ator social mantém esta
relação enquanto obtém algum benefício. Mas, como destaca Coleman, devemos estar
atentos, pois, algumas estruturas sociais, de maneira muito especial, facilitam de modo
mais eficaz o aparecimento do capital social.
37
Uma propriedade presente nas relações sociais e que é essencial para as normas efetivas
é o que Coleman chama de elos fechados. Para ele, o fechamento da estrutura social é
importante não somente para a existência de normas efetivas mas também para a criação
de outros tipos de capital social : é a confiança na estrutura social que permite a
proliferação das obrigações e expectativas; em uma relação social aberta há um
enfraquecimento da confiança na estrutura social e todo o aparato legal ou não legal de
controle sobre as ações que coloquem em risco a coletividade são ineficientes.
Ao trabalhar o capital social, Coleman destaca a relação existente entre o conceito e a
criação do capital humano. Para corroborar esta afirmação, o autor procura destacar a
importância do capital social na família para a criação do capital humano.
É comum aos sociólogos da educação relacionar o sucesso escolar com o EDFNJURXQG
familiar,(incentivo, escolaridade dos pais, participação ativa no aprendizado dos filhos,
valorização da escola, da cultura, etc.), este EDFNJURXQG normalmente é analisado
separadamente, sendo constituído de capital financeiro, capital humano e capital social.
O capital financeiro é medido pela renda familiar; que no caso da educação consiste em
proporcionar um lugar fixo para os estudos, a compra de material escolar, atividades
extra-classe no auxílio do aprendizado (curso de idiomas, reforço escolar, etc.), acesso a
computadores e internet, dentre outros fatores.
38
O capital humano consiste basicamente no grau de escolaridade e qualificação formal
dos pais ou responsáveis e as possibilidades que esta educação possibilita para o
desenvolvimento do aprendizado das crianças.
O capital social, como aponta Coleman, é distinto das duas formas acima descritos. Para
o autor, o capital financeiro e humano são de extrema importância, mas não são
essenciais; o fator preponderante é o interesse dos pais, medido em tempo e esforço, no
aprendizado dos filhos. É esta atitude que caracteriza o capital social. Mesmo com um
baixo capital financeiro e humano, podemos ter sucesso desde que tenhamos um alto
capital social. O exemplo utilizado por Coleman, centrado na educação, serve de
modelo para outras análises. Ou seja, uma família realmente unida e participativa pode
proporcionar um alto desenvolvimento social; a importância maior está na relação
positiva entre pais e filhos. É interessante notar a importância da presença física dos
pais. Coleman destaca este ponto assinalando que esta falta provoca uma deficiência
estrutural no capital social familiar, seja esta falta provocada por morte, separação ou
por motivos profissionais.
O capital financeiro, como foi dito anteriormente, está vinculado aos aspectos materiais
presentes na sociedade, mais especificamente aos bens e a renda. O capital humano
relaciona-se à qualificação, quanto mais qualificado maiores as possibilidades dos
melhores empregos, ascensão social, VWDWXV etc.
Para Coleman, a principal característica do capital social está justamente em apresentarse como alternativa às possibilidades das duas formas de capital citados acima,
39
centrados especificamente nos indivíduos. O capital social possibilita, através dos
esforços somados das comunidades, ganhos sociais importantes para todas as pessoas.
Ao separar as características mais individuais do capital financeiro e humano e as
características mais coletivas do capital social, Coleman procura demonstrar como o
conceito pode auxiliar no entendimento da relação macro e micro, na análise
sociológica. Nesse sentido é fundamental perceber como o capital social trabalha na
realidade, como, através de esforços ora aparentemente individuais ora aparentemente
coletivos, transforma a realidade e às vezes a estrutura social; aqui temos a “redenção”
da sociedade civil em prol do bem comum, temos possibilidades de transformação
social sem a necessidade da participação efetiva do estado como agente portador das
idéias e soluções para a transformação social; com o capital social, a sociedade mune-se
de possibilidades que, em conjunto com os diversos tipos de capital, e com o auxílio do
estado, podem transformar, de maneira positiva, a realidade social.
5REHUW3XWQDP
Robert Putnam(1996[1993]) consolida sua visão do conceito de capital social a partir de
um grande estudo realizado na Itália, cujo objetivo foi analisar os impactos da reforma
administrativa que se operou naquele país no início da década de setenta. O estudo
centrou-se em uma análise longitudinal, durante duas décadas, procurando identificar as
40
transformações sociais, institucionais e políticas advindas da reforma administrativa e
seu impacto no desenvolvimento econômico e social nas diversas regiões italianas.
Partindo deste estudo, Putnam se propõe a averiguar ³SRUTXHRVPRGHORVHVLVWHPDVGH
HQJDMDPHQWR FtYLFR LQIOXHQFLDP WDQWR DV SHUVSHFWLYDV GH XP JRYHUQR HILFD] H
UHVSRQViYHO H SRU TXH DV WUDGLo}HV FtYLFDV VH PDQWrP HVWiYHLV SRU WDQWR WHPSR´ (
1996[1993]p.31) Para esta empreitada, Putnam fundamenta-se na lógica da ação
coletiva e no conceito de capital social, e é este ponto que nos interessa: como Putnam
trabalha o conceito de capital social e como ele é utilizado para a análise da realidade
social?
A partir destes estudos, Putnam desenvolveu uma série de análises dentro da realidade
norte-americana, relacionando o nível de capital social e seu impacto na vida pública. É
neste sentido que podemos destacar a grande colaboração de Putnam para a
consolidação do conceito de capital social.
Assim, vamos destacar neste capítulo os principais aspectos do conceito de capital
social na obra de Robert Putnam.
Ação coletiva e capital social:
Putnam inicia sua análise sobre o capital social discutindo as questões referentes à ação
coletiva. Para ele, a incapacidade de interação entre os indivíduos em busca do bem
comum não caracteriza ignorância ou irracionalidade, nesse sentido ele destaca as
análises da teoria dos jogos. Em diversos momentos, estes teóricos criam situações e
41
estudam as possibilidades de solução dos problemas colocados, sendo o mais conhecido
o dilema do prisioneiro.
Este dilema consiste em colocar dois cúmplices em salas diferentes e dizer para ambos
que se colaborarem, acusando o colega, ganharão a liberdade, mas se um calar e o outro
confessar, aquele receberá uma pena extremamente pesada. Se ambos permanecerem
em silêncio, ambos receberão penas leves; o problema reside na impossibilidade de
saber qual a versão que cada um dará para combinarem as ações, logo, a melhor saída é
delatar o outro.
Com este exemplo, Putnam destaca que se houvesse uma mútua cooperação, todos os
envolvidos sairiam ganhando; mas na falta de um compromisso confiável é mais sensato
a deserção; sem uma ação de confiança mútua é mais irracional colaborar.
Transportando esta análise para questões mais próximas das sociedades modernas,
Putnam ressalta que é necessário uma fonte de informação confiável e uma efetiva
realização dos acordos para se ter uma efetiva colaboração.
Como diz o autor, ³(P XP PXQGR KDELWDGR SRU VDQWRV WDOYH] RV GLOHPDV GD DomR
FROHWLYD QmR H[LVWLVVHP PDV R DOWUXtVPR XQLYHUVDO p XPD SUHPLVVD TXL[RWHVFD SDUD
TXDLVTXHUDo}HVRXWHRULDVVRFLDLV´ (Putnam,1996[1993]p.174)
Ao perceber que não habitamos o “reino dos céus”, Putnam retorna a Hobbes, que
diante de tanta barbárie, propõe a coerção de um terceiro. Para esse último, se houver
42
um comum acordo das partes em relação ao poder do Leviatã, a ordem social e a
confiança mútua estará estabelecida na sociedade civil.
A solução hobbesiana é demasiadamente formal para Putnam e em certo sentido
bastante complicada de se implementar pois, ³HPSULQFtSLRDFRHUomRGHXPWHUFHLUR
UHTXHUHULD XPD SDUWH QHXWUD TXH SXGHVVH VHP {QXV DYDOLDU RV DWULEXWRV GH XP
FRQWUDWRHWDPEpPVHP{QXVID]HUFXPSULURVDFRUGRVGHPRGRDTXHDSDUWHLQIUDWRUD
VHPSUH WLYHVVH TXH LQGHQL]DU D SDUWH OHVDGD GH WDO IRUPD TXH OKH UHVXOWDVVH RQHURVR
YLRODURFRQWUDWReyEYLRTXHQRPXQGRUHDOVHULDGLItFLOVHQmRLPSRVVtYHOSUHHQFKHU
WDLVFRQGLo}HV´ (1996[1993]p.175)
A coerção é onerosa e o uso da força mostra-se mais ineficiente, nas relações mais
democráticas e participativas a confiança é mais satisfatória; outro problema está na
imparcialidade da coerção, pois se cria o mesmo dilema que ela quer resolver; quem
garante que os ocupantes do estado são confiáveis? Quem garante que não utilizarão o
poder em benefício próprio?
Aqui temos inúmeros exemplos da falência do Leviatã; sendo claro em países da
América Latina, África, Ásia e países mediterrâneos da Europa. Nesse sentido, algumas
soluções são propostas para a resolução dos dilemas da ação coletiva, mais viáveis que a
solução hobbesiana.
Putnam acredita que instituições colaborativas implementam soluções viáveis aos
dilemas da ação coletiva; são as chamadas soluções conciliadoras, imbuídas de
confiança e comunitarismo: ³QXP PXQGR RQGH H[LVWHP GLOHPDV GR SULVLRQHLUR DV
43
FRPXQLGDGHV FRRSHUDWLYDV SHUPLWLUmR DRV LQGLYtGXRV UDFLRQDLV VXSHUDUHP RV GLOHPDV
FROHWLYRV´ (BatesDSXGPutnam, 1996[1993]p.176)
Capital social e confiança :
Buscando soluções para os dilemas da ação coletiva, Putnam acredita que um bom
resultado depende diretamente do contexto social onde o “jogo” é jogado. Para ele,
quanto mais capital social herdado em forma de regras de reciprocidade e participação
cívica, maior o nível de cooperação voluntária.
³$TXL R FDSLWDO VRFLDO GL] UHVSHLWR D FDUDFWHUtVWLFDV GD RUJDQL]DomR VRFLDO FRPR
FRQILDQoDQRUPDVHVLVWHPDVTXHFRQWULEXDPSDUDDXPHQWDUDHILFLrQFLDGDVRFLHGDGH
IDFLOLWDQGRDVDo}HVFRRUGHQDGDV´ ( Putnam, 1996[1993]p.177)
Para Putnam, o capital social facilita a cooperação espontânea; como exemplo, ele
destaca as associações de crédito rotativo, praticamente presentes em todo o mundo.
Neste cenário, um certo número de pessoas estipula o valor das contribuições
individuais e as normas da retirada do montante arrecadado. Estas associações variam
em tamanho, composição social, organização e critérios, mas todas contribuem para a
produção de sociabilidade, contribuindo com a consolidação da solidariedade dentro da
comunidade.
Para Putnam, as associações de crédito rotativo contradizem a lógica da ação coletiva: o
que garante a continuidade das contribuições de um membro já sorteado? É certo que
riscos existem, mas a reputação de honestidade e confiabilidade dos membros são uma
garantia, bem como as informações acerca do comportamento destes membros em
44
outras associações. Temos aqui a importante tríade – confiança, credibilidade e
informação – que sustentam e ampliam as redes e relações sociais. Mesmo sem o
Leviatã, as relações sociais são garantidas por aspectos do capital social.
Neste contexto, as associações de crédito rotativo mostram como os impasses da ação
coletiva podem ser resolvidos com aspectos do capital social. Como o capital
convencional utilizado nas relações sociais “oficiais”, o capital social serve de garantias
nas relações sociais “não oficiais”.
Em geral, como destaca Putnam, as relações sociais do tipo das associações de crédito
rotativo, respaldado pelo capital social, servem de consolidação da solidariedade
comunitária; continuando, também destaca que o aumento ou diminuição do capital
social (em todas as suas vertentes: confiabilidade, normas, cadeias de relações sociais,
etc.) se caracteriza pelo uso ou não uso destes recursos. Quanto mais utilizado, mais
amplo o capital social.
Uma das principais características do capital social é justamente a confiança, as normas
e as cadeias de relações sociais, que são, geralmente, bens públicos; contrapondo-se ao
capital convencional, que normalmente é um bem privado. Como diz Coleman, ³SRUVHU
XP DWULEXWR GD HVWUXWXUD VRFLDO HP TXH VH LQVHUH R LQGLYtGXR R FDSLWDO VRFLDO QmR p
SURSULHGDGHGHQHQKXPDGDVSHVVRDVTXHGHOHVHEHQHILFLDP´(1988,p.315)
A confiança, ³YLVWD FRPR XP PHFDQLVPR TXH SHUPLWH XPD PRELOL]DomR FROHWLYD H D
PD[LPL]DomR GRV UHFXUVRV LQGLYLGXDLV H[LVWHQWHV” (Abu-El-Haj,2000, p.89). é
fundamental para o capital social. Em sua análise da realidade italiana, Putnam detecta o
45
baixo nível de confiança na Itália meridional, o que para ele seria um dos fatores do
baixo nível de capital social da região, sendo uma das possíveis causa de
subdesenvolvimento. No norte italiano, ao contrário, a confiança social garantiu o
dinamismo econômico e o desempenho governamental. ³4XDQWRPDLVHOHYDGRRQtYHO
GH FRQILDQoD QXPD FRPXQLGDGH PDLRU D SUREDELOLGDGH GH KDYHU FRRSHUDomR ( D
SUySULDFRRSHUDomRJHUDFRQILDQoD$SURJUHVVLYDDFXPXODomRGHFDSLWDOVRFLDOpXPD
GDV SULQFLSDLV UHVSRQViYHLV SHORV FtUFXORV YLUWXRVRV GD ,WiOLD FtYLFD´(Putnam,
1996[1993]p.180)
Esta confiança que Putnam trata em seus estudos, não é uma confiança cega, mas uma
confiança amparada pela previsão, onde o ator agirá de forma a visar o bem comum não
por que ele é bom por natureza, mas porque será melhor agir assim, pois as
conseqüências negativas serão muito custosas para todos se ele optar por uma solução
cujo benefício seja individual. Assim, a questão levantada por Putnam é a seguinte:
como transformar a confiança individual em confiança social?
Reciprocidade, participação cívica e capital social:
Ao procurar as origens da confiança social nas sociedades modernas, Putnam enxerga
duas fontes correlatas: as regras de reciprocidade e os sistemas de participação cívica.
Baseado em Coleman(1988), Putnam destaca que nas regras sociais, o ator transfere
para outrem o direito de controlar uma ação, onde as regras são incutidas tanto por
condicionamento e socialização como por meio de sanções.
Um exemplo claro desta relação está nas regras de convivência dos habitantes dos
subúrbios americanos. Com a chegada do outono, é comum a queda das folhas das
46
árvores nos gramados das casas, como também é comum a valorização dos gramados
dos jardins; ou seja, nestas comunidades é de vital importância um jardim bem tratado.
Mesmo se eu não me importar com estas questões estéticas dos jardins, sou impelido a
cuidar do meu, pois as sanções a que sou passível de sofrer, mesmo sendo informais,
têm um custo bastante alto, pois meu ambiente na comunidade ficará bastante afetado14.
Para Putnam são atitudes assim que fortalecem a confiança social, pois reduzem os
custos das transações e facilitam a cooperação. Para ele, o mais importante destas
relações é a reciprocidade, que ele divide em “balanceada” e “específica”.
A reciprocidade “balanceada” refere-se basicamente a trocas de igual valor, como por
exemplo a troca de dias de folga entre colegas da mesma empresa. A reciprocidade
generalizada caracteriza-se pelo fluxo contínuo de trocas, onde a qualquer momento
pode-se haver um desequilíbrio, mas independente disto mantêm-se as expectativas
mútuas de que em um futuro este desequilíbrio seja acertado. Como exemplo, Putnam
destaca as relações de amizade, onde há um fluxo contínuo de reciprocidade. Para ele, a
regra de reciprocidade generalizada é uma fonte inesgotável de capital social, por isto
fundamental nas sociedade modernas.
³1XP VLVWHPDGHUHFLSURFLGDGHWRGRDWRLQGLYLGXDOJHUDOPHQWHVHFDUDFWHUL]DSRUXPD
FRPELQDomRGRTXHVHSRGHULDFKDPDUGHDOWUXtVPRDFXUWRSUD]RHLQWHUHVVHSUySULRD
ORQJR SUD]R HX WH DMXGR DJRUD QD H[SHFWDWLYD SRVVLYHOPHQWH YDJD LQFHUWD H
LPSUHPHGLWDGDGHTXHPHDMXGDUiVIXWXUDPHQWH$UHFLSURFLGDGHpIHLWDGHXPDVpULH
14
Este exemplo é bastante contraditório se tivermos em mente a perspectiva durkheimiana de coerção,
que consiste basicamente na ação da estrutura social sobre os indivíduos. Putnam relega esta percepção
47
GHDWRVTXHLVRODGDPHQWHVmRDOWUXtVWLFRVDFXUWRSUD]REHQHILFLDPRXWUHPCDFXVWDGR
DOWUXtVWD PDV TXH WRPDGRV HP FRQMXQWR QRUPDOPHQWH EHQHILFLDP WRGRV RV
SDUWLFLSDQWHV´ (Taylor DSXGPutnam,1996[1993],p.183, grifado no original)
Estas relações sociais geradoras de reciprocidade geralmente estão imbuídas de um
elaborado sistema de intercâmbio social. Em comunidades com altas taxas de confiança
e sem um abuso no uso da reciprocidade é muito provável que haja um forte
intercâmbio social, que no âmbito geral, acaba facilitando a solução dos dilemas da ação
coletiva.
Outro aspecto importante analisado por Putnam refere-se à participação cívica. Para ele,
os sistemas de participação cívica são uma forma essencial de capital social; quanto
mais desenvolvidos forem esses sistemas numa comunidade, maior será a probabilidade
de termos cidadãos ativos e participativos, procurando sempre o benefício mútuo. Mas
por quê?
Porque, Putnam responde:
ƒ
³(OHV DXPHQWDP RV FXVWRV SRWHQFLDLV SDUD R WUDQVJUHVVRU HP TXDOTXHU
WUDQVDomR LQGLYLGXDO 2 RSRUWXQLVPR S}H HP ULVFR RV EHQHItFLRV TXH HOH
HVSHUDREWHUHPWRGDVDVGHPDLVWUDQVDo}HV1RMDUJmRGDWHRULDGRVMRJRV
RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD DXPHQWDP D LQWHUDomR H D LQWHUFRQH[mR
ƒ
GRVMRJRV
(OHV SURPRYHP VyOLGDV UHJUDV GH UHFLSURFLGDGH 2V FRPSDWULRWDV TXH
LQWHUDJHP HP PXLWRV FRQWH[WRV VRFLDLV WrP D IDFXOGDGH GH HVWDEHOHFHU
destacando que a relação entre os vizinhos assume uma postura individual; são com as relações
48
VyOLGDV UHJUDV GH ERP FRPSRUWDPHQWR H GH WUDQVPLWLU XQV DRV RXWURV VXDV
P~WXDV H[SHFWDWLYDV HP P~OWLSORV FRQWDWRV HVWLPXODQWHV 7DLV UHJUDV VmR
UHIRUoDGDV SHOD FDGHLD GH UHODFLRQDPHQWRV TXH GHSHQGHP GR JR]R GD
UHSXWDomR GH PDQWHU SURPHVVDV H DFDWDU DV UHJUDV GH FRPSRUWDPHQWR GD
ƒ
FRPXQLGDGH
(OHV IDFLOLWDP D FRPXQLFDomR H PHOKRUDP R IOX[R GH LQIRUPDo}HV VREUH D
FRQILDELOLGDGHGRVLQGLYtGXRV2VVLVWHPDVGHSDUWLFLSDomRFtYLFDSHUPLWHP
TXH DV ERDV UHSXWDo}HV VHMDP GLIXQGLGDV H FRQVROLGDGDV &RPR YLPRV D
FRQILDQoD H D FRRSHUDomR GHSHQGHP GH LQIRUPDo}HV ILGHGLJQDV VREUH R
FRPSRUWDPHQWRSUHJUHVVRHRVDWXDLVLQWHUHVVHVGHYLUWXDLVSDUWLFLSDQWHVDR
SDVVRTXHDLQFHUWH]DUHIRUoDRVGLOHPDVGDDomRFROHWLYD$VVLPPDQWLGDV
DVGHPDLVFRQGLo}HVTXDQWRPDLRUIRUDFRPXQLFDomRWDQWRGLUHWDTXDQWR
LQGLUHWD HQWUH RV SDUWLFLSDQWHV PDLRU VHUi D VXD FRQILDQoD P~WXD H PDLV
ƒ
IDFLOLGDGHHOHVWHUmRSDUDFRRSHUDU
(OHV FRUSRULILFDP R r[LWR DOFDQoDGR HP FRODERUDo}HV DQWHULRUHV FULDQGR
DVVLPXPPRGHORFXOWXUDOPHQWHGHILQLGRSDUDIXWXUDVFRODERUDo}HV2ILOWUR
FXOWXUDOHVWDEHOHFHXPDFRQWLQXLGDGHQDPHGLGDHPTXHDVROXomRLQIRUPDO
HQFRQWUDGD DQWHULRUPHQWH SDUD RV SUREOHPDV GD SHUPXWD DFDED SRU
HVWHQGHUVHDRSUHVHQWHWRUQDQGRVHHVVDVOLPLWDo}HVLQIRUPDLVLPSRUWDQWHV
IDWRUHV GH FRQWLQXLGDGH QR SURFHVVR GH PXGDQoD VRFLDO D ORQJR SUD]R´
(Putnam,1996[1993],p.183)
Putnam identifica em sua análise duas formas de sistema de intercâmbio e comunicação:
uma KRUL]RQWDO e outra YHUWLFDO. No sistema horizontal os agentes possuem o mesmo
individuais que se produz a confiança e fortalece a comunidade. É uma inversão da teoria durkheimiana.
49
VWDWXV e o mesmo poder; no sistema vertical há uma relação assimétrica de dependência.
Na realidade não podemos dissociar estas duas vertentes, pois elas coexistem e em
determinados casos há uma tendência maior de uma ou outra vertente.
O sistema vertical é incapaz de sustentar a confiança e a cooperação social, pois os
fluxos de informação são menos confiáveis já que esta estrutura organizacional
possibilita a retenção de informações e cria impossibilidades de lutas contra
arbitrariedades. Como destaca Putnam, em relações clientelistas, que envolvem
permutas interpessoais e obrigações recíprocas, a permuta é vertical e as obrigações
assimétricas; é o que se pode chamar de DPL]DGHGHVHTXLOLEUDGD; sendo que as relações
clientelistas inibem a formação de organização grupal e solidariedade horizontal; seja
entre os clientes, seja entre os patronos. Aqui ocorre a dependência , não a
reciprocidade. Como assinala o autor:
³2 IDWR GH DV DUWLFXODo}HV YHUWLFDLV VHUHP PHQRV ~WHLV GR TXH DV DUWLFXODo}HV
KRUL]RQWDLVSDUDVROXFLRQDURVGLOHPDVGDDomRFROHWLYDWDOYH]VHMDXPDGDVUD]}HVSRU
TXH RFDSLWDOLVPRPRVWURXVHPDLVHILFLHQWHGRTXHRIHXGDOLVPRQRVpFXOR;9,,,HSRU
TXH D GHPRFUDFLD UHYHORXVH PDLV HILFD] GR TXH D DXWRFUDFLD GR VpFXOR ;;´
(Putnam,1996[1993]p.184)
Putnam aponta para a importância da família para a solução dos dilemas da ação
coletiva; para ele, os laços de sangue são comparados aos aspectos horizontais do
engajamento cívico mas, como ressalta o autor, os sistemas de participação cívica são
mais abrangentes, possibilitando a colaboração em nível comunitário.
50
Granovetter(1985) destaca que o parentesco e a amizade íntima (vínculo forte) são
menos importantes que o conhecimento e a afiliação a associações secundárias (vínculo
fraco) para garantir e sustentar a coesão comunitária e a ação coletiva.
Como defende Putnam: ³VLVWHPDV KRUL]RQWDLV H[WHQVRV SRUpP LVRODGRV VXVWHQWDP D
FRRSHUDomR GHQWUR GH FDGD JUXSR PDV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD TXH
HQJOREDPGLIHUHQWHVFDWHJRULDVVRFLDLVSURPRYHPXPDFRRSHUDomRPDLVDPSOD(VVDp
WDPEpP XPD GDV UD]}HV SHODV TXDLV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD VmR SDUWH WmR
LPSRUWDQWHGRHVWRTXHGHFDSLWDOVRFLDO´(Putnam,1996[1993]p.185)
Assim, os sistemas de participação cívica ajudam os participantes a solucionar os
problemas da ação coletiva; quanto mais horizontalizada a organização, maior o
favorecimento do desempenho institucional na comunidade em geral.
Há uma correlação forte entre grupos horizontalmente organizados com um bom
desempenho governamental. Esta teoria, onde Putnam destaca os efeitos benéficos dos
sistemas de participação cívica para o desenvolvimento político e econômico, vai contra
a percepção de Mancur Olson(1965).
Olson afirma que não há motivos para que pequenos grupos optem para um trabalho
comunitário, no sentido de buscar soluções ótimas para o bem coletivo, pois para o
autor, qualquer forma de trabalho neste sentido é oneroso e ineficiente. Como resultado
deste movimento, temos cada vez mais grupos que sufocam a inovação e o
desenvolvimento econômico. Como podemos ver, grupos numerosos e fortes resultam
em menos desenvolvimento. Sociedade forte, estado fraco. Enfim, Olson refuta
51
qualquer possibilidade de associativismo ou coisa que o valha pois, como resultado,
temos um estado e governo ineficiente.
Putnam acredita no associativismo e na sociedade articulada e forte. Baseado em seus
estudos na Itália, ele nos mostra que as regiões mais desenvolvidas em todos os sentidos
apresentavam um histórico de participação cívica: SUHVHQoD GH DVVRFLDo}HV FtYLFDV
DWLYDVJDUDQWLDGHLQVWLWXLo}HVS~EOLFDVHILFD]HV
Assim, ³DWHRULDIRUPXODGDDMXGDDH[SOLFDUSRUTXHRFDSLWDOVRFLDOFRUSRULILFDGR
HPVLVWHPDVKRUL]RQWDLVGHSDUWLFLSDomRFtYLFDIDYRUHFHRGHVHPSHQKRGRJRYHUQRHGD
HFRQRPLD H QmR R RSRVWR VRFLHGDGH IRUWH HFRQRPLD IRUWH VRFLHGDGH IRUWH (VWDGR
IRUWH´ (Putnam,1993[1996]p.186)
Bem, neste ponto da exposição das idéias de Putnam a respeito do capital social, e de
sua manifestação em forma de participação cívica, resumiremos de forma sucinta suas
idéias.
Em princípio, Putnam destaca que o dilema da ação coletiva é o grande obstáculo nas
relações de auxílio mútuo; ou seja, os dilemas da ação coletiva impedem ações eficazes
em prol do bem comum. Soluções baseadas na coerção não são satisfatórias, podendo
ocasionar danos maiores que os já causados pelo dilema da ação coletiva. Para Putnam,
a cooperação depende diretamente do capital social.
É através do capital social, que se evidencia na prática como regras de reciprocidade e
sistemas de participação cívica, que teremos a cooperação e a confiança social que
52
estimulam a não transgressão, diminuem as incertezas e proporcionam modelos para
uma cooperação futura.
O volume de capital social (confiança, ajuda mútua, normas e sistemas de participação)
presente em uma sociedade tende a reforçar-se proporcionando equilíbrio social com
elevados níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo.
São estas as características de uma comunidade cívica.
Opondo-se a isto, temos comunidades não-cívicas que também se auto-reforçam; temos
neste cenário a afirmação da desconfiança, da omissão, da exploração, do isolamento,
da desordem e da estagnação. É uma idéia de capital social ao avesso, na perspectiva de
Putnam. Aqui temos duas realidades concretas que se apresentam em diversos lugares
do mundo. Na primeira realidade temos o capital social proporcionando soluções mais
satisfatórias e mais eficientes, implantando com isto uma comunidade cívica. Na
segunda realidade temos uma sociedade mais debilitada, na esfera cívica pelo menos,
que levaria a escolha hobbesiana para a solução dos problemas da ação coletiva (
coerção, exploração e dependência); apesar de ser uma solução inferior à solução dada
pelo capital social, é infinitamente superior ao estado anárquico de todos contra todos.
Como diz Putnam, a solução hobbesiana pelo menos proporciona um mínimo de
segurança, mesmo que ao preço da exploração e da ineficiência.
Um aspecto muito importante a ser destacado é a dimensão que os dilemas da ação
coletiva tomam nas sociedades modernas. Esta dimensão é potencializada por causa da
cooperação impessoal que o desenvolvimento econômico e tecnológico requerem.
53
Aspectos como o oportunismo, a trapaça e a transgressão aumentam com o
desenvolvimento econômico; como “vacina” temos o capital social.
Para Putnam, o governo autoritário, o clientelismo, a coerção ilegal é uma solução
“viável” para se evitar a guerra de todos contra todos sem vislumbrar uma ação em
direção à cooperação. A família e a força são representações primitivas da comunidade
cívica, mas tendo um volume considerável de capital social é possível um equilíbrio,
para Putnam, mais satisfatório nos dilemas da ação coletiva. Este equilíbrio é mais
satisfatório porque em uma sociedade com ampla participação cívica, onde as normas
cívicas são respeitadas, se não por todos pela maioria, é mais fácil identificar e punir o
transgressor, o delito torna-se um tanto mais arriscado e ao mesmo tempo com pouco ou
nenhum aspecto tentador que pudesse potencializar o desvio.
Concluindo, “WDQWR UHFLSURFLGDGHFRQILDQoD TXDQWR GHSHQGrQFLDH[SORUDomR SRGHP
PDQWHU XQLGD D VRFLHGDGH PDV FRP GLIHUHQWHV QtYHLV GH HILFLrQFLD H GHVHPSHQKR
LQVWLWXFLRQDO 8PD YH] LQVHULGRV QXP GHVVHV GRLV FRQWH[WRV RV DWRUHV UDFLRQDLV WrP
PRWLYRV SDUD DJLU FRQIRUPH VXDV UHJUDV $ KLVWyULD GHWHUPLQD TXDO GHVVHV GRLV
HTXLOtEULRVHVWiYHLVLUiFDUDFWHUL]DUXPDGDGDVRFLHGDGH´ (Putnam,1996[1993]p.188)
8PDYLVmRFUtWLFDGRFRQFHLWRGHFDSLWDOVRFLDO
Como foi destacado nos tópicos anteriores, o conceito de capital social é bastante
amplo, e ao ser aplicado em diversas pesquisas, resultados interessantes estão sendo
obtidos, principalmente nos Estados Unidos. Estes resultados têm impulsionado
interesses e esforços de políticos e intelectuais acerca do assunto.
54
Em se tratando dos Estados Unidos, o conceito vem aproximando liberais e
conservadores, os quais, através do uso do capital social propõem soluções viáveis para
os problemas da criminalidade, da saúde pública, do meio-ambiente, e de diversas
outras áreas que demandam propostas urgentes de solução. Para estes políticos, em tese
antagônicos, vêem os aspectos do capital social como complementar às políticas
públicas. É preciso uma massiva participação do estado, como implementador de ações
para a comunidade, mas também é necessária a participação da população no controle
dos gastos públicos e na vigilância da efetiva implantação das políticas públicas.
O capital social criado e sustentado pelas associações voluntárias, é essencial para a
integração e prosperidade das comunidades; há um consenso tácito de que o capital
social pode resolver os dilemas da ação coletiva com a união e participação da
comunidade.
Nossa percepção acerca dos dilemas da ação coletiva vem da obra de Mancur
Olson(1965), com o conceito do “aproveitador” (IUHH ULGHU). Partindo do dilema do
prisioneiro, Olson analisa a natureza da ação coletiva. A contradição do jogo está em
que cada prisioneiro busca seu auto-interesse isolado, levando a todos os envolvidos a
terminarem com um resultado menos satisfatório, resultado este que poderia ser
diferente se todos estivessem dispostos a uma colaboração mútua, sacrificando os
interesses individuais.
A partir desta constatação, Olson generaliza essa situação para organizações que
procuram mobilizar um grande número de pessoas movidas por interesses próprios. Em
55
situações de grande amplitude, onde os benefícios são coletivos ou públicos, sem
possibilidades de ganhos pessoais ou individuais, não haverá cooperação ou união entre
os indivíduos; a não ser que se tenha ganhos não-coletivos ou seletivos para se
conseguir a participação.
Desde então, várias contribuições foram acrescentadas,
requintando e aperfeiçoando as idéias de Olson. Em primeiro lugar, temos que muitas
organizações são de natureza altruísta, sem um interesse próprio claro. Em segundo
lugar, é complicado pensar que os “benefícios coletivos”, por si só, expliquem as
diversas organizações em que os indivíduos ingressam. Em terceiro lugar, a vida social
deveria ser encarada de maneira interativa, onde os potenciais “caronas” possam
aprender que existem benefícios e ganhos coletivos que resultarão, de maneira nãoracional, em soluções individuais. Em quarto lugar,, é preciso dar atenção às ideologias
presentes em diversas sociedades ou em partes de uma mesma sociedade, que pode
potencializar a participação ou a não participação. Por fim, é preciso estar atento às
diversas posições estruturais, como por exemplo, o capital e trabalho assalariado, para
poder perceber as diversas possibilidades de ação coletiva.
Estas ponderações, quanto à ação coletiva, vai ao encontro das idéias sobre o capital
social, e as possibilidades que ele fornece para a solução dos dilemas acerca da
participação ou não participação na vida social. O capital social não abandona a força da
estrutura, mas prega a efetiva atuação dos indivíduos nas questões referentes à
sociedade. É uma posição próxima do que chamamos anteriormente de agência.
Alguns sociólogos olham com desconfiança para as possibilidades do conceito de
capital social, principalmente, nas suas possibilidades de resolução dos problemas da
56
ação coletiva. Assim, podemos destacar algumas dúvidas levantadas quanto a real
eficácia do conceito.
Um primeiro aspecto que podemos levantar refere-se à confusão entre a origem e os
benefícios do capital social. Ou seja, o desenvolvimento e o bem-estar é que produzem
o capital social ou vice-versa? Para os críticos, é praticamente impossível esta previsão
e, portanto, é bastante arriscado inferir ao capital social tamanha responsabilidade junto
ao desenvolvimento e bem-estar das comunidades.
Outro aspecto levantado pelos críticos, e talvez mais procedente, está na omissão,
voluntária ou não, dos efeitos perversos que o próprio capital social pode vir a produzir.
Muitos exemplos podem ser dados, como os dos estados totalitários, o da máfia, o da NX
NOX[NODQ, o dos VNLQKHDGV, dentre outros exemplos. Grupos marginais podem também
se organizar coletivamente, como os citados acima. A organização de indivíduos,
grupos ou coletividades são influenciadas pelas circunstâncias dadas, ou seja, pela
agência, onde temos a relação entre a estrutura e a ação. Determinantes econômicas,
sociais, políticas e educacionais podem influenciar diretamente nos tipos e objetivos das
ações dos grupos. Tal discussão perpassa pela filosofia e pela definição do que seja o
bem-estar, a confiança, a cooperação, o voluntarismo e, no extremo, o bem.
Uma terceira crítica, mais direcionada a Putnam, está em sua “obsessão” em relacionar
o capital social com a cultura cívica; de modo que outras formas de capital social
estariam fora do alcance das outras esferas da sociedade, como a confiança e
credibilidade (Prates,1997). Esta postura impede o aparecimento de tal conceito em
comunidades com características mais patrimonialistas, por exemplo. É uma postura
57
bastante culturalista, criticada pelos neo-institucionalistas, como Evans(1995). Para esta
escola, a postura de Putnam condena, indiretamente, civilizações inteiras às oligarquias
e ao atraso econômico permanente, pois não percebe que grande parte dos problemas da
maioria dos países em desenvolvimento é fruto de ações políticas preteridas pelos
regimes autoritários.
Evidentemente que Coleman e Putnam não ignoram estes efeitos perversos do
fenômeno do capital social e de suas conseqüências, como também percebem que não é
só a ausência de capital social que pode causar danos às comunidades, mas o próprio
excesso, que acaba produzindo ganhos sociais, econômicos e políticos. Estes ganhos
fazem com que as pessoas não participem, pois os dilemas já estão praticamente
resolvidos, podendo delegar ao estado as preocupações da gestão da sociedade. Como
demonstra Putnam(1995) em sua análise da realidade americana, há uma queda no nível
de participação cívica.
Enfim, o conceito de capital social ainda está em construção, como também ele está
aberto e cheio de lacunas que, algumas vezes, o deixa mais fragilizado. Mas, como
Coleman e Putnam, acreditamos no caráter positivo do conceito como uma alternativa a
mais para as soluções dos dilemas da ação coletiva. Além disso, faz-se necessário maior
investimento em estudos sobre o mesmo, de modo a encaminhar propostas e delinear
perspectivas em busca do bem comum.
&DSLWDOVRFLDOHYLROrQFLD
Após explanar a respeito do conceito de capital social, destacando os três maiores
teóricos a respeito deste assunto, propõe-se aqui uma discussão mais próxima da
58
aplicação do conceito na realidade. Para tanto, foram destacadas duas pesquisas
realizadas nos E.U.A onde se procurou relacionar as taxas de criminalidade com o
volume de capital social presente nas comunidades estudadas.
A apresentação destes estudos permite ilustrar o princípio que norteia esta pesquisa,
que tem, como um dos seus objetivos, identificar a correlação entre o volume de capital
social e as taxas de criminalidade violenta nas comunidades de Belo Horizonte.
(678'2$±6RFLDO&DSLWDO,QFRPH,QHTXDOLW\DQG)LUHDUP9LROHQW
&ULPH±.HQQHG\%HWDO
Este primeiro estudo tem como objetivo correlacionar a criminalidade violenta com a
concentração de renda e o capital social.
Em princípio, o estudo demonstra que a pobreza é um poderoso indicador de
criminalidade violenta. A hipótese do trabalho recai nos efeitos que a crescente
diferença entre ricos e pobres produz na coesão social, aqui tratada de capital social, e
suas conseqüências nas taxas de criminalidade violenta.
O estudo foi realizado nos Estados Unidos no período de 1987-1994, utilizando os
dados gerais do censo norte-americano, destacando, principalmente, os índices de
concentração de renda e pobreza em todo território nacional.
Para a medição do capital social, foi produzido um questionário baseado nas teorias de
Coleman e Putnam, realçando, principalmente, os aspectos de confiança social e
participação cívica. Para os dados acerca da criminalidade foram utilizados os dados do
59
centro nacional de estatística da saúde para controle e prevenção de doenças e os dados
do F.B.I.
Com este arcabouço, a pesquisa concluiu que o simples esforço em implementar
programas de combate à criminalidade, nos moldes tradicionais, em áreas com um alto
grau de pobreza não é suficiente e o resultado global não é satisfatório. Não há,
definitivamente, um impacto significativo na redução da criminalidade.
Os autores alertam que não são contra investimentos em áreas pobres da cidade, mas
destacam que, mais importante que isto e, também, mais importante que políticas de
restrição ao acesso a armas de fogo, por exemplo, está a preocupação em reduzir a
diferença entre pobres e ricos e na potencialização do capital social nestas comunidades,
já que eles encontraram uma forte correlação entre capital social, distribuição de renda e
taxas de criminalidade. Quanto mais capital social, mais igualitária a comunidade e
menores taxas de criminalidade.
Tendo uma comunidade com uma alta coesão social e um sentimento de cooperação é
possível produzir elos de solidariedade que influam diretamente no combate à
criminalidade auxiliando, assim, os métodos convencionais, que, para os autores, não
devem ser descartados bruscamente.
(VWXGR%±1HLJKERUKRRGVDQG9LROHQW&ULPH$0XOWLOHYHO6WXG\RI
&ROOHFWLYH(IILFDF\±6DPSVRQ5HWDO
O segundo estudo tem como hipótese a eficácia coletiva, definida aqui como coesão
social entre vizinhos, combinado com a boa vontade em participar das ações
60
comunitárias em favor do bem comum, para a redução da criminalidade. O estudo foi
realizado em 1995 com 8782 residentes de 343 bairros de Chicago, E.U.A .
O estudo inicia-se com a premissa básica de que as características sociais e
organizacionais das comunidades explicam as variações das taxas de criminalidade, mas
ressalta que estas características não se resumem à somatória de características
demográficas individuais.
Partindo desta explanação, o estudo propõe que a diferença entre as vizinhanças na
capacidade de produzir valores comuns e manter um efetivo controle social é a principal
origem da variação das taxas de violência nas comunidades.
O estudo trata o controle social como a capacidade do grupo em regular seus membros
de acordo com os princípios da realização coletiva. Nesse sentido, a pesquisa destaca a
importância dos aspectos informais de controle social para a manutenção da ordem
pública; ou seja, destaca a importância da comunidade no controle e na manutenção da
ordem social. Esta importância da comunidade é realçada porque, de acordo com as
análises realizadas pela pesquisa, é ela ( a comunidade) que responde pelo bem-estar da
população; quando não há ou quando são reduzidos, os serviços públicos essenciais para
uma vida digna.
Nesta relação entre comunidade e bem-estar social, a pesquisa revela a importância da
confiança e solidariedade entre os vizinhos; ponto fundamental para a solução dos
problemas coletivos da comunidade. Assim, mais uma vez, aspectos como confiança e
solidariedade, dentre outros, são alçados ao topo, no sentido de serem fundamentais
61
para a implementação do capital social e, neste caso, o capital social como instrumental
no auxílio ao combate à criminalidade.15
1RYDVWHQGrQFLDVGDDQiOLVHGDFULPLQDOLGDGH
De acordo com Beato Filho (1997), a análise espacial da criminalidade tem uma longa
tradição, sendo originada em Durkheim e Quételet. Em 1942, Shaw e McKey (DSXG
Beato Filho, 1997) percebem uma tendência nas grandes cidades americanas onde a
concentração dos crimes estava no centro e gradativamente ia diminuindo na direção
dos subúrbios. Newman (1972) correlaciona as circunstâncias físicas e ambientais com
a ocorrência de delitos. Evans (1995), Murray (1995) e Eck (1997) têm trabalhado na
correlação entre a “geografia do crime” e as estratégias de policiamento no combate à
criminalidade; já Messner (1980), Loftin e Hill (1974) e Blau e Blau (1982) procuram
relacionar a incidência de crimes com a estrutura socioeconômica (estados nações,
regiões e áreas metropolitanas, respectivamente).Estas tendências levam em
consideração a importância da abordagem espacial para uma melhor compreensão da
atividade criminosa, ou seja, ocorre um deslocamento da análise dos criminosos para o
delito propriamente, esta mudança, no enfoque acerca da criminalidade, também
influencia a implantação de políticas públicas preventivas de combate a criminalidade.
Para Beato Filho (1997), ³D OLWHUDWXUD VREUH SROtWLFDV S~EOLFDV GH FRPEDWH D
FULPLQDOLGDGH WrP HQIDWL]DGR FUHVFHQWHPHQWH D EXVFD SRU VROXo}HV ³ORFDLV´ H
GHVFHQWUDOL]DGDV R TXH FRQGX] QHFHVVDULDPHQWH D LGHQWLILFDomR GH SUREOHPDV HP
FRQWH[WRVHVSHFtILFRVGHVXDRFRUUrQFLD´ (p.2).
15
Para uma discussão pormenorizada acerca das matizes sociológicas para a interpretação do fenômeno da
62
Há uma aproximação muito grande entre as alternativas de políticas públicas em relação
à criminalidade e o conceito de capital social e seu real impacto nas comunidades
(pensando no lado positivo do conceito) já que tanto Bourdieu, quanto Coleman e
Putnam, crêem na solução de problemas locais a partir da própria população.
&$3Ë78/2
0(72'2/2*,$
$VSHFWRVUHOHYDQWHVSDUDDGHILQLomRGRFDSLWDOVRFLDO
Neste tópico destacaremos, de forma pontual, os principais aspectos do conceito de
capital social que foram utilizados na construção do questionário. Estes aspectos foram
eleitos a partir dos diversos trabalhos sobre o capital social produzidos nos E.U.A e
Austrália, principalmente por Onyx e Bullen (1997), Putnam (1996[1993]) e Coleman
(1988/1990).
3DUWLFLSDomRVRFLDOÉ um importante aspecto para o conceito de capital social; onde a
noção de maior ou menor participação social e redes de relacionamento entre grupos e
indivíduos é medida. Como aponta Lathan (1997), pessoas se relacionam e se engajam
em várias associações, que representam a expressão de uma reciprocidade formada
violência e criminalidade ver o texto de Luiz Antônio Paixão, &ULPH'HVYLRH6RFLRORJLD, mimeo ,(1990).
63
livremente. Deve-se destacar que o capital social não pode ser generalizado como sendo
um grupo de indivíduos agindo livremente em busca de seus objetivos individuais; ele
depende de uma predisposição para a sociabilidade mas, uma sociabilidade espontânea
com uma capacidade de formação de novas associações e cooperações.
5HFLSURFLGDGHA reciprocidade prevista pelo capital social não pode ser comparada à
pura troca econômica ou a um contrato de negócios, mas deve ser percebida como uma
combinação de ações altruístas e interesses próprios. O indivíduo produz algum serviço
para outros ou age em benefício de outros tendo um custo pessoal; mas, a expectativa
geral, é que sua ação produza um bônus, podendo ser resgatado quando houver
necessidade. Em nível comunitário, quando temos uma forte reciprocidade, os
indivíduos ocupam-se em cuidar de outros interesses, mais gerais, mais comunitários. É
o que podemos chamar de comportamento pró-social.
&RQILDQoD O conceito de confiança está atrelado à relação mútua entre indivíduos em
interação social, onde se produz expectativas e estas são concretizadas. ³&RQILDQoDpD
H[SHFWDWLYD TXH DSDUHFH GHQWUR GH XPD FRPXQLGDGH UHJXODU KRQHVWD H FRP XP
FRPSRUWDPHQWR FRRSHUDWLYR EDVHDGR HP QRUPDV FRPXQV HVWDV QRUPDV SRGHP
UHSUHVHQWDU TXHVW}HV SURIXQGDV HP UHODomR j RULJHP GR EHP RX GD MXVWLoD RX SRGHP
HVWDUUHODFLRQDGDVDRVFyGLJRVGHFRPSRUWDPHQWR´(Fukuyama,1995,p.26).
Para Misztral (1996), confiança envolve elos familiares, vínculo de amizades e crenças
e valores comuns que, em conjunto, produz uma colaboração em nível coletivo sem a
expectativa de retribuição e sem qualquer tipo de sanção.
64
1RUPDVVRFLDLVAs normas sociais produzem uma forma de controle social informal,
talvez por uma falha na estrutura formal da sociedade que não acompanha as mudanças
sociais produzidas pela modernidade. Geralmente, as normas sociais não são escritas
mas, são entendidas e compreendidas por todos ou, pelo menos, pela grande maioria que
comunga dos mesmos comportamentos em um dado contexto social. Este consenso
social estabelece formas, até certo ponto, homogêneas de comportamento. De acordo
com Reno, Cialdini e Kallgreen (1993) a consolidação das normas sociais podem gerar
um forte efeito positivo no comportamento pró-social nas comunidades, inibindo, assim,
comportamentos anti-sociais. Nesta linha de raciocínio, Coleman (1988) e Putnam
(1996[1993]) afirmam que, em comunidades com um alto grau de capital social, temos
uma baixa taxa de criminalidade e pouca necessidade de implementação de políticas
públicas formais. Para Fukuyama (1995), comunidades com baixo grau de confiança e
poucas normas sociais as ações são realizadas apenas nos sistemas formais que, via de
regra, utiliza-se de forma massiva, a coerção.
9DORUHV FRPSDUWLOKDGRV O conceito de capital social vem destacando-se como uma
posição comunitarista. É a comunidade como fator essencial. Como Etzioni (1988)
destaca, há uma forte relação entre o indivíduo e a comunidade: aqui o indivíduo é
motivado a agir mas, não por um sentimento utilitarista de interesse próprio em busca
de satisfações individuais mas, por um complexo de metas individuais e coletivas. Aqui
a moralidade é essencial para a compreensão das escolhas individuais, desde que a
moralidade seja construída socialmente. A combinação entre confiança, elos de
sociabilidade, normas e reciprocidade produz uma comunidade forte, criando uma rede
de relações com um profundo grau de recursos comunitários que são utilizados por
todos na busca do bem comum. Como aponta Onyx e Bullen (1997), onde o HWKRVda
65
confiança e mutualidade são fortes e há efetiva presença de sanções sociais informais
contra os chamados ³IUHH ULGHUV´ podemos ter um comportamento comunitário mais
prolongado e mútuo, para vantagem de todos os indivíduos da comunidade.
3URDWLYLGDGH A proatividade está implícita em várias categorias presentes nas esferas
pessoais e coletivas. O desenvolvimento do capital social requer ação e boa vontade dos
cidadãos na participação da vida comunitária. Esta visão afasta-se um pouco da noção
de um indivíduo passivo, receptor de serviços públicos ( o que não deixa de ser
importante, pois é imprescindível a participação do estado no desenvolvimento do
capital social ) mas o capital social refere-se ao indivíduo como criador e não como uma
vítima.
$&RQVWUXomRGRTXHVWLRQiULR
Ao pensar o instrumento de medida do conceito de capital social, muitas questões são
postas, visto que é um conceito relativamente novo e sem muitos estudos realizados, o
que dificulta a construção do questionário.
Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Tecnologia de Sidney, Austrália,
testou e aprovou um questionário para medida de capital social (Onyx e Bullen, 1997).
O questionário, além das questões sobre as características sócio-econômicas dos
respondentes, incluiu perguntas sobre o comportamento social, no intuito de detectar e
medir a intensidade comportamental; assim, como questões acerca dos sentimentos
cívicos, das relações de confiança e credibilidade na vizinhança e de participação
66
política construídas, levando-se em conta os preceitos destacados por Putnam(1993) e
Coleman(1990).
Os pesquisadores australianos desenvolveram um questionário com 85 perguntas,
versando pelos mais diversos temas que contemplam as categorias: confiança,
participação comunitária, reciprocidade, participação política; as medidas dos conceitos
foram feitas a partir de uma escala de 1 a 4, onde o menor valor representava uma
discordância total e o maior valor uma concordância total com a situação colocada.
A amostra do estudo compreendeu 1211 cidadãos de cinco áreas urbanas do estado de 1HZ6RXWK:DOHV, Austrália, com idade variando de 18 a 65 anos; foram pesquisados
50% de homens e 50% de mulheres16, no período de novembro de 1996 a março de
1997. Para a análise dos dados foram utilizados os programas SPSS e Statistica; a
seleção destes dois programas teve como objetivo identificar os elementos de capital
social (o que é identificado como fatores) e a relação entre atitudes, comportamentos,
conhecimentos e características demográficas com o capital social.
As variáveis de capital social obtiveram índices estatisticamente significantes quando
correlacionados, ficando entre .25 e .45, em uma escala de 0 a 1. Os fatores de capital
social (agrupamento de questões em relação ao tema) foram identificados como sendo
$) participação na comunidade local; %) proatividade no contexto social, &) sentimento
de confiança e segurança, ') conexões com a vizinhança, () conexões com a família e
amigos, )) tolerância a diversidade, *) valores da vida, +)conexões no local de
trabalho.
67
Utilizando da análise denominada rotação ortogonal, onde cada fator é analisado como
sendo estatisticamente independente, notou-se uma inter-correlação entre os fatores,
ficando correlacionados estatisticamente entre .25 e .45, com um destaque especial às
relações entre os fatores $ ± ', & ', ( ± +; acima de .40. Os índices obtidos
proporcionaram a seleção mais específica das melhores questões, a partir de uma
correlação representativa das perguntas com os fatores de capital social. Após este
trabalho, desenvolveu-se um instrumento de medida do capital social mais enxuto e
objetivo.
Tendo, como base, o estudo australiano, um convênio firmado entre o Centro de
Pesquisas René Rachou, Belo Horizonte (MG) da Fundação Oswaldo Cruz e a Escola
de Saúde Pública da Universidade do Texas, Houston, (EUA), através dos
pesquisadores Michael Ross(EUA) e Virgínia Schall(Brasil) foi proposto um projeto
semelhante. O projeto incluiu quatro áreas, sendo: Brasil ( Belo Horizonte e Rio de
Janeiro), México (Ciudad Juarez) e Estados Unidos (Houston e a comunidade dos
índios Cherokee, Oklahoma). O objetivo principal do projeto foi o de validar um
instrumento de medida do capital social para, em um segundo momento, desenvolver
pesquisas em conjunto na área de saúde dos três países. (Ferreira-Pinto HWDO, 2001)
A aplicação do questionário no Brasil incluiu pesquisadores do Laboratório de
Educação em Saúde e Ambiente (LEAS), do Departamento de Biologia do Instituto
Oswaldo Cruz, (Fiocruz), no Rio de Janeiro e do Laboratório de Educação em Saúde
(LABES) do Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR/Fiocruz), em Belo Horizonte.
16
Número arredondado, já que em algumas localidades ouve uma pequena variação nesta divisão. (Ver
68
O questionário australiano, ligeiramente adaptado, foi utilizado como base para o
levantamento realizado nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, assim como no
México e E.U.A, no período de agosto/setembro de 1999. Duzentos questionários foram
aplicados nos municípios brasileiros, sendo cem questionários em cada cidade.
A realização do pré-teste, para o aperfeiçoamento do instrumento para a realidade
brasileira, não levou em consideração uma representatividade estatístico-amostral dos
dois universos pesquisados, mas preocupou-se em observar o comportamento do
instrumento, seja através do entendimento das questões por parte da população, seja
pelos resultados estatísticos levantados. A amostra pesquisada foi assim distribuída:
50% homens, 50% mulheres, com idade entre 18 e 65 anos.
O trabalho estatístico de validação do questionário foi realizado na Universidade do
Texas pelos professores Michael Ross e João Batista Ferreira-Pinto. A análise
comportamental da população brasileira, que caracteriza o capital social, foi realizada
no Centro de Pesquisa René Rachou em Belo Horizonte, pelo Laboratório de Educação
em Saúde (LABES).
A análise estatística do caso brasileiro foi bastante reveladora; obtivemos correlações
expressivas, chegando ao coeficiente de .85. Na análise dos componentes principais,
obtivemos coeficientes bastantes significativos, chegando a .53. Nesses termos,
podemos afirmar que o questionário aplicado à realidade brasileira portou-se
consistentemente, podendo, sem dúvidas, elucidar o comportamento brasileiro em
relação ao capital social.
Onyx e Bullen, 1997)
69
Para ilustrar tais conclusões , demonstraremos alguns dados produzidos pelo pré-teste
sobre o comportamento da amostra brasileira em relação aos fatores que caracterizam o
conceito de capital social.
Os dados brasileiros apontaram para uma valorização da participação social e política
(76%), mas quando indagados sobre a sua própria participação nos problemas da
comunidade, apenas 7% responderam que efetivamente se envolvem nas questões
sociais e políticas de sua comunidade, 5% apenas algumas vezes e 88% nunca se
envolveram . Por outro lado, 79 % estariam dispostos a trabalhos voluntários para
auxiliar no bem estar da comunidade e 34% dispostos a discutir os problemas da
mesma. Um fato relevante é a pouca importância atribuída ao município e ao bairro
onde moram, apenas 20% e 29%, respectivamente, dado relevante, já que, é no espaço
mais próximo das pessoas, a cidade e o bairro, onde se constrói e potencializa o Capital
Social. (Dias Júnior & Schall, 2000)
Apesar da consistência interna do questionário e das possibilidades de apreensão do
comportamento social terem sido confirmadas pelo pré-teste, algumas modificações
foram necessárias para o desenvolvimento do questionário utilizado neste trabalho.
Algumas questões foram excluídas por estarem distantes da realidade brasileira, outras
foram totalmente reformuladas, pois a tradução utilizada no pré-teste não produziu o
entendimento esperado.
70
Com estas ressalvas e com o acréscimo dos itens relacionados com a questão da
violência urbana, construímos o nosso instrumento de medida do Capital Social.
(anexo1)17
2SODQHMDPHQWRDPRVWUDO
Após a definição do instrumento de medida, determinamos a população alvo de nossa
pesquisa. Para tanto, utilizamos do banco de dados do Centro de Estudos de
Criminalidade e Segurança Pública (CRISP) /UFMG e o cadastro da Companhia
Urbanizadora de Belo Horizonte(Urbel)/PBH.O banco de dados do CRISP é constituído
de informações fornecidas pelas polícias militar e civil de Minas Gerais, pela Fundação
João Pinheiro, prefeitura municipal de Belo Horizonte, IBGE, dentre outros; o banco de
dados da Urbel é fornecido pelo IBGE e por pesquisas próprias na área de habitação.
Como o nosso objetivo é analisar o capital social relacionando-o ao comportamento das
comunidades diante da criminalidade, definimos a nossa população, escolhendo dois
espaços urbanos de Belo Horizonte com taxas de criminalidade violenta18 distintas. Esta
opção deveu-se a nossa expectativa de detectar a influência do capital social nas taxas
de criminalidade.
Para a escolha das duas comunidades a serem trabalhadas, utilizamos os dados sobre a
criminalidade violenta em Belo Horizonte, do período de 1995/1999, mais
especificamente as taxas corrigidas de crimes contra a pessoa.
17
O disco foi desenvolvido para evitar desvios por prioridade de ordens.
A criminalidade violenta abrange diversos tipos de delito, sendo eles: homicídio, homicídio tentado,
(crimes contra pessoa) roubo, roubo a mão-armada, (crimes contra patrimônio); no banco de dados do
Crisp, o estupro e o roubo de veículos não são trabalhados, (mesmo pertencendo a categoria da
criminalidade violenta), porque a coleta dos dados não é confiável.
18
71
Para termos uma visualização espacial da criminalidade em Belo Horizonte, utilizamos
o mapa da cidade onde aplicamos o gráfico de Kernel, sendo agrupadas as ocorrências
dos delitos a cada raio de 200 metros, produzindo assim os nichos de criminalidade em
Belo Horizonte.(anexo 2)
$VFRPXQLGDGHVHVFROKLGDV
Elegemos as comunidades da Vila do Cafezal, localizada na regional Centro-Sul, e a
Vila Novo Ouro Preto , localizada na regional Pampulha. A escolha das duas
comunidades centrou-se principalmente no comportamento distinto quando comparadas
as taxas de criminalidade e na semelhança da ocupação e distribuição sócio-econômica.
Outro fator que ponderou a escolha foi a relativa facilidade de acesso às vilas. Por meio
da associação de bairro e da ONG Cidadania pelas Águas, que realiza um trabalho na
área de meio-ambiente, conseguimos o acesso à Vila Novo Ouro Preto. Através da
Igreja Católica e moradores conhecidos conseguimos o acesso à Vila Cafezal.
Taxa corrigida de crimes contra
pessoa(1995-1999) por 100.000 hab.
200
150
100
50
0
Vila C afezal
&ULVS8)0*
Vila Nov o O uro Preto
72
&DUDFWHUL]DomR+LVWyULFD
9LOD&DIH]DO
A Vila Cafezal está localizada no chamado aglomerado da serra, um conjunto de sete
vilas (Vila Cafezal, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Nossa
Senhora da Conceição, Vila Marçola, Novo São Lucas e Fazendinha) que formam a
maior favela da região metropolitana de Belo Horizonte.
O aglomerado da serra faz divisa com diversos bairros de Belo Horizonte, como: Serra,
São Lucas, Santa Efigênia, Paraíso e Novo São Lucas; também faz divisa com o Parque
das Mangabeiras e o Hospital da Baleia. Apesar desta limitação geográfica, sua área de
influência alcança a área central de Belo Horizonte.
A Vila Cafezal, especificamente, é uma das ocupações mais recentes do conglomerado,
tendo iniciado ao final da década de 60 e consolidado a partir de 1975. O processo de
ocupação da área acompanhou a expansão da Vila Nossa Senhora da Conceição;
primeiramente os posseiros ocuparam o topo da encosta para, posteriormente, ocupar as
partes laterais no caminho de Santa Efigênia.
Segundo a Fundação João Pinheiro, a ocupação da Vila Cafezal foi planejada por
amigos e conhecidos que estabeleceram um plano de ocupação, onde um morador
ficaria responsável pela escolha das pessoas que ocupariam a área, por dar nomes às
ruas e entregar os lotes àqueles escolhidos. Apenas em 1981 que o poder público entrou
na Vila Cafezal, através do PRODECOM19, com projetos de implementação de
melhorias urbanas; neste mesmo período foi fundada a associação dos moradores que
19
Programa de Desenvolvimento de Comunidades/ Secretaria Estadual de Planejamento.
73
passaria a reivindicar melhorias junto ao PRODECOM, como abertura de ruas,
calçamento e colocação de meios fios, construção de muros de arrimo, obras de
drenagem e instalação de chafarizes públicos.
Posteriormente, outros equipamentos públicos foram conquistados pelos moradores;
hoje, a Vila Cafezal conta com um centro de saúde, uma escola estadual de ensino
fundamental, uma associação de bairro, que possui um trabalho de reforço escolar e
profissionalizante de jovens e adultos, e uma creche para crianças de 1 a 12 anos;20
possui também 5 times de futebol e alguns grupos de pagode e rap.
9LOD1RYR2XUR3UHWR
A Vila Novo Ouro Preto situa-se dentro dos limites do bairro Ouro Preto, na regional
Pampulha. A ocupação iniciou-se no final da década de 60 e início da década de 70; nas
décadas posteriores intensificou-se a ocupação, proporcionando um adensamento
populacional e uma expansão territorial da vila.
A situação da vila é de risco, tendo cerca de 48% das habitações em situação de risco
médio a iminente; esta situação é devido ao terreno íngreme e a presença de córregos na
região. De acordo com a Urbel, não há equipamentos comunitários internos; a utilização
destes equipamentos ocorre no bairro Ouro Preto, que oferece duas escolas municipais,
uma creche e um centro de saúde; ressalta-se a presença na vila de uma associação
comunitária e diversos grupos organizados, dentre eles um time de futebol, um grupo de
capoeira e um grupo de jovens ligados à igreja católica, e uma comissão de fiscalização
do orçamento participativo da prefeitura (Com-Força).
20
Dados fornecidos pela Urbel.
74
É interessante destacar que esta ausência de equipamentos públicos no interior da vila é
potencializado pela total falta de espaço físico compatível para uma ocupação segura,
visto que as áreas livres têm mais de 47% de clivagem; consideradas impróprias para
edificações.
'HILQLomRGDDPRVWUD
Após definirmos a população a ser pesquisada, partimos para a definição da amostra.
Para tanto, diagnosticamos demograficamente as duas vilas a serem pesquisadas.
&RPXQLGDGH
Vila Cafezal
Vila Novo Ouro Preto
,%*(
3RS7RWDO
3148
1471
3RSPDLRUDQRV
1857
882
A amostra foi calculada tendo, como base, a população maior de 18 anos, foco de nossa
pesquisa. A amostra da Vila Cafezal foi fixada em 130 pessoas e da Vila Novo Ouro
Preto, em 100 pessoas, com uma margem de erro de 3,46% sob o nível de confiança de
95%. Isto significa que em 100 estimativas amostrais, 95 delas estarão compreendidas
dentro do intervalo de confiança, podendo variar em 5% para mais ou para menos, com
erro máximo de 3,46%.
Após definirmos o número de entrevistados, optamos por cotificar a amostra por faixa
etária e gênero. Ficando assim a distribuição:
'LVWULEXLomR(WiULDGD3RSXODomR
75
);(WiULD 9LOD&DIH]DO 9LOD1RYR2XUR3UHWR
18-24
25%(32)
23%(23)
25-35
34%(44)
38%(38)
36-55
29%(38)
25%(25)
55 ou mais
12%(16)
14%(14)
Total
100%(130)
100%(100)
,%*(
Temos consciência de que a amostra por cota não garante a mesma representatividade
da amostra aleatória, mas esta escolha se deveu pelos parcos recursos para a realização
do campo, bem como o pouco tempo para a realização do VXUYH\.
Como a distribuição por gênero nas vilas selecionadas aproxima-se da tendência
mundial de 50% para cada sexo, a distribuição dos questionários entre homens e
mulheres; assim ficou a distribuição:
'LVWULEXLomRGD$PRVWUDSRU*rQHURH)[(WiULD
1žVDEVROXWRV
9LOD&DIH]DO
9LOD1RYR2XUR3UHWR
)[(WiULD 0DVFXOLQR )HPLQLQR 0DVFXOLQR )HPLQLQR
18-24
19
20
12
11
25-35
19
20
19
19
36-55
19
20
12
13
Mais de 55
6
7
7
7
Total
63
67
50
50
,%*(
A aplicação do questionário foi domiciliar, sendo estes sorteados previamente, como
base, o cadastro domiciliar da URBEL, dos anos de 1999/2000. Utilizamos o sorteio
aleatório probabilístico simples dos domicílios para abranger de maneira mais completa
a população pesquisada para garantir uma maior representatividade e reduzir os
problemas da amostragem por cotas. Caso no domicílio sorteado não houvesse pessoas
76
que encaixassem na cota, o questionário seria aplicado no primeiro domicílio à
esquerda, e assim, sucessivamente.
O acesso ao campo obedeceu a seguinte estratégia:
Para realizar o campo na Vila Novo Ouro Preto, fizemos um contato com da ONG
Cidadania pelas Águas, no sentido de identificar alguma liderança na comunidade.
Técnicos da ONG sugeriram a Sra. Edna, presidente da associação dos moradores. O
contato foi realizado sem maiores complicações, sendo a referida senhora nossa guia
por alguns dias no trabalho de campo. A aplicação dos questionários foi realizada pelo
autor deste trabalho.
Na Vila Cafezal contamos com o auxílio de um morador da região; estudante de
doutorado da UFMG e com a ajuda de seminaristas da igreja católica que fazem
trabalhos comunitários na vila. Estas pessoas nos apresentaram a região e alguns de seus
moradores, o que facilitou nossa entrada na comunidade, historicamente arredia a
estranhos, principalmente devido à violência.
O campo foi realizado pelo autor deste trabalho, que contou com a ajuda de três
estudantes da UFMG, dois da graduação em ciências sociais e um do doutorado em
sociologia e política. Neste caso, houve um treinamento para explicar a metodologia na
coleta dos dados e esclarecer qualquer dúvida referente ao questionário.
O programa estatístico utilizado para as análises dos dados foi o SPSS.
77
&$3Ë78/2
$1È/,6('26'$'26
Este capítulo apresenta uma análise do banco de dados construído a partir da coleta das
informações na Vila Novo Ouro Preto e Vila Cafezal. Esta análise está baseada em
procedimentos estatísticos utilizados por outros autores que têm usado instrumentos de
medida semelhantes de capital social.
Dividiremos este tópico em duas partes: a primeira consistirá em uma análise descritiva
dos dados, onde são apresentados as tendências obtidas para cada vila e ao mesmo
tempo destacaremos a correlação entre as variáveis utilizando o índice de 3KL&UDPHU¶V
que é amplamente usado para variáveis nominais, e a significância. A partir deste ponto,
realizaremos uma análise multivariável para determinar os fatores que, em última
instância, nos auxiliarão na determinação de padrões de capital social. Esta segunda
análise está baseada em estudos realizados na Austrália e E.U.A, por Bullen & Onyx e
Ferreira Pinto HW DO respectivamente. Em um momento posterior da nossa análise de
dados, descreveremos de maneira mais detalhada esta análise estatística.
$QiOLVH'HVFULWLYD
±'DGRVGHPRJUiILFRVHVyFLRHFRQ{PLFRV
78
Começaremos a análise destacando as características demográficas e econômicas das
duas vilas e, em um segundo momento, destacaremos as informações sobre opiniões e
comportamentos que nos apontam para o capital social.
A variável ocupação foi agregada em dois tipos básicos; classificados como atividade
remunerada, atividade não remunerada e aposentadoria e pensão. A agregação dos
dados deveu-se à proximidade dos rendimentos e das atividades laborativas,
independentemente de ela é se registrada ou informal.
Na Vila Novo Ouro Preto, 59% das pessoas entrevistadas realizavam algum tipo de
trabalho remunerado, enquanto na Vila Cafezal estavam 37,6% ocupadas. Quanto aos
aposentados e pensionistas o comportamento é idêntico; 7% e 7,7% respectivamente na
Vila Novo Ouro Preto e na Vila Cafezal. Uma grande diferença é observada na
população sem rendimento; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 34% dos
entrevistados nessa condição, enquanto na Vila Cafezal temos 54,7%,21 entre
desempregados e pessoas sem atividade remunerada (36,2% e 15,5% respectivamente).
Outra variável que agregamos foi a renda. Na Vila Cafezal 75,4% dos entrevistados têm
renda de até 4 salários mínimos; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 81% dos
entrevistados nessa faixa de renda; entre 5 e 10 salários mínimos encontramos 23,8% na
Vila Cafezal e 17% na Vila Novo Ouro Preto; acima de 10 salários mínimos temos
0,8% na Vila Cafezal e 2% na Vila Novo Ouro Preto.
21
Esta taxa é bastante alta para os padrões médios brasileiro. Acreditamos ser necessário uma
desagregação nos dados para que possamos saber, na real medida, o comportamento ocupacional destas
populações; como por exemplo: se recebe ajuda financeira de alguém; se é mantido pelo cônjuge; etc.
79
A variável educação também foi agregada, tendo sido encontrado na Vila Cafezal
27,7% de analfabetos e pessoas que só assinam o nome; 48,5% de pessoas com até a 4ª
série completa, 20,7% de pessoas com até a 8ª completa e 3,1% com até o 2º grau
completo; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 10% de analfabetos, 43% de pessoas
com até a 4ª série completa, 37 % com até a 8ª completa e 10% com até o 2º grau
completo. O que nos chama a atenção com relação a esses fatores são os extremos da
distribuição: encontramos uma correlação inversa entre a Vila Cafezal e a Vila Novo
Ouro Preto; enquanto temos uma taxa alta de analfabetismo na Vila Cafezal, temos uma
taxa bem menor na Vila Novo Ouro Preto, quando observamos a presença de pessoas
com escolaridade de 2º grau; há uma inversão em favor da Vila Novo Ouro Preto. Este
comportamento aponta para os dados levantados pelo Crisp; onde observa-se uma
violência maior em comunidades com altos níveis de analfabetismo, como é o caso da
Vila Cafezal.
Quanto a moradia temos a seguinte distribuição:
7$%(/$±7HPSRGH0RUDGLDSRU&RPXQLGDGH
Vila
Menos De 1 a 3
de 1 ano
anos
2
2
Cafezal
1,5%
1,5%
3
6
Novo Ouro Preto
3,0%
6,0%
5
8
Total
2,2%
3,5%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
De 3 a 5
anos
13
10,0%
15
15,0%
28
12,2%
De 5 a 10
anos
21
16,2%
14
14,0%
35
15,2%
Mais de
10 anos
92
70,8%
62
62,0%
154
67,0%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Como podemos perceber, nas duas vilas encontramos um comportamento bastante
parecido quanto ao tempo de moradia, destacando a baixa rotatividade de seus
moradores. Quanto ao tipo de moradia temos a seguinte distribuição:
80
7$%(/$±7LSRGH0RUDGLDSRU&RPXQLGDGH
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Própria
Alugada
Emprestada
Total
92
70,8%
80
80,0%
172
74,8%
28
21,5%
14
14,0%
42
18,3%
10
7,7%
6
6,0%
16
7,0%
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Oitenta por cento dos moradores da Vila Novo Ouro Preto são proprietários das casas
onde moram, o restante, 20%, alugam ou tem a casa cedida; na Vila Cafezal 70,8% são
proprietários dos imóveis onde residem e 29,2% aluga ou tem a casa cedida.
A composição familiar nas duas vilas são bastante próximas:
7$%(/$±(VWDGR&LYLOSRU&RPXQLGDGH
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
Casado(a) Solteiro(a)
58
44,6%
57
57,0%
115
50,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
38
30,0%
24
24,0%
63
27,4%
Separado(a)
Divorciado(a)
13
10,0%
2
2,0%
15
8,5%
Viúvo(a) Outro
8
6,2%
4
4,0%
12
5,2%
12
9,2%
13
13,0%
25
10,9%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Aqui temos uma preponderância de pessoas casadas na Vila Novo Ouro Preto, 57%,
contra 44,6% na Vila Cafezal; temos ainda na Vila Cafezal uma superioridade de
solteiros e separados/divorciados, 30% e 10% respectivamente, contra 24% e 2%
respectivamente na Vila Novo Ouro Preto. Esta tendência remete a Durkheim, que em
sua obra “O Suicídio” (1996[1897]), apontava para a inserção mais familiar como uma
das causas de uma maior estabilidade social. Evidentemente que não podemos daí
81
afirmar que solteiros e separados tenham uma predisposição para o cometimento de
delitos, mas com certeza essa ausência de obrigações familiares e conjugais acaba
facilitando a exposição das pessoas nas ruas, o que as deixam mais próximas de
possíveis conflitos.
7$%(/$±$3UHVHQoDGH)LOKRVSRU&RPXQLGDGH
Vila
Sim
102
Cafezal
78,5%
78
Novo Ouro Preto
78%
180
Total
78,3%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Não
28
21,5%
22
22%
50
21,7%
Total
130
100,0%
100
100%
230
100,0%
Esta tabela aponta para uma distribuição equitativa nas duas vilas; como nos mostra a
tabela acima, a distribuição é idêntica.
Em síntese, a Vila Novo Ouro Preto apresenta melhores condições de renda, emprego e
alfabetização/escolaridade, moradia , assim como maior estruturação familiar. Aspectos
fundamentais para Putnam e Coleman para a produção de capital social.
'DGRVVREUHFDSLWDOVRFLDO
Após a explanação demográfica das duas vilas pesquisadas, destacaremos os dados
levantados referentes ao capital social; ou seja, destacaremos as duas vilas e seus
respectivos comportamentos, em relação às questões levantadas pelo questionário.
Assim, dividiremos em seis tópicos as medidas de capital social, para melhor visualizar
o comportamento das duas unidades pesquisadas.
82
Serão eles:
1. Sentimentos de credibilidade e confiança na vizinhança;
2. Conexões com a vizinhança;
3. Comportamento cívico;
4. Comportamento diante da violência;
5. Participação familiar na educação dos filhos;
6. Participação nas questões da saúde.
6HQWLPHQWRVGHFUHGLELOLGDGHHFRQILDQoDQDYL]LQKDQoD
7$%(/$±4XDOpDVXDRSLQLmRVREUHDVHJXLQWHDILUPDWLYD³1yVSRGHPRV
FRQILDUQDVSHVVRDVTXHPRUDPDTXLQDYL]LQKDQoD´
Vila
Concordo
Muito
6
4,6%
41
Novo Ouro Preto
41,0%
47
Total
20,4%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Cafezal
Concordo
30
23,1%
34
34,0%
64
27,8%
Concordo
Pouco
67
51,5%
18
18,0%
85
37,0%
Não
Concordo
Total
27
20,8%
7
7,0%
34
14,8%
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Esta tabela nos mostra claramente que, em relação à credibilidade nos vizinhos, o
comportamento dos moradores das duas vilas é distinto; 75% dos entrevistados na Vila
Novo Ouro Preto concordam ou concordam muito com a afirmativa que diz que os
moradores são confiáveis contra apenas 27,7% dos moradores da Vila Cafezal, uma
diferença bastante significativa, atestado pelo valor de correlação 3KL &UDPHU
V de
0,525 e uma significância de 0,000.
83
7$%(/$±&RPRYRFrVHVHQWHDRDQGDUQDVUXDVGHVHXEDLUURDSyVWHU
HVFXUHFLGR"
Vila
Muito
Seguro
5
3,8%
38
Novo Ouro Preto
38,0%
43
Total
18,7%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Cafezal
Seguro
21
16,2%
39
39,0%
60
26,1%
Pouco
Seguro
50
38,5%
15
15,0%
65
28,3%
Inseguro
54
41,5%
8
8,0%
62
27,0%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Como nos mostra a tabela 6, quando indagamos os respondentes acerca do sentimento
de segurança nas vilas onde residem, o comportamento se mostra distinto conforme a
vila. Dos moradores da Vila Novo Ouro Preto, 64% , acreditam ser a vila um lugar
seguro, contra 11,5% dos moradores da Vila Cafezal. Destacamos que cerca de 42,3%
dos moradores da Vila Cafezal não souberam precisar se a região era segura ou não.22
O valor da correlação 3KL&UDPHU
V e a significância foi respectivamente 0,501 e 0,000;
o que demonstra uma forte correlação entre as variáveis.
7$%(/$±$OJXPDVSHVVRDVGHVWHEDLUURGLVVHUDPTXHYLYHUDTXLpFRPRVH
HVWLYHVVHHPFDVD2TXHYRFrDFKDGHVWDRSLQLmR"
Vila
22
Concordo
Muito
Concordo
Concordo
Pouco
Não
Concordo
N/S
Este comportamento revelou-se uma alternativa "diplomática" para responder sobre as questões de
segurança da Vila Cafezal. De maneira mais objetiva notamos que esta forma de responder tinha como
fim a isenção; embora temos 46,2% de pessoas que responderam que a Vila Cafezal não é um lugar
seguro.
Total
84
Vila
Concordo
Muito
6
4,6%
39
Novo Ouro Preto
39,0%
45
Total
19,6%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Cafezal
Concordo
Concordo
Pouco
Não
Concordo
43
33,1%
39
39,0%
82
35,7%
50
38,5%
13
13,0%
63
27,4%
31
23,8%
8
8,0%
39
17,0%
N/S
Total
1
1,0%
1
0,4%
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Ao serem indagados quanto à percepção acerca da acolhida do ambiente onde vivem,
dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto, 78%, afirmaram ser a região bastante
acolhedora, (agrupando quem concorda muito e concorda), ao passo que na Vila Cafezal
eles representam 37,7%. Destacamos que 62,3% dos respondentes da Vila Cafezal
concordam pouco ou discordam da afirmativa de que viver no local seria como se
estivesse em casa; o que nos remete a um cenário muito hostil da vila. A correlação 3KL
&UDPHU
V e significância encontrada foi respectivamente 0,501 e 0,000. Mais uma vez
há uma forte correlação entre as variáveis.
7$%(/$ ± 9RFr HPSUHVWDULD GLQKHLUR SDUD DOJXP YL]LQKR TXH HVWLYHVVH
SUHFLVDQGR"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
49
37,7%
70
70,0%
119
51,7%
Não
37
28,5%
14
14,0%
51
22,2%
Talvez
44
33,8%
13
13,0%
57
24,8%
N/S
3
1,3%
3
1,3%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Quando indagamos os entrevistados se emprestariam dinheiro a algum vizinho, atitude
que consideramos indicador de confiança, 70% dos pesquisados na Vila Novo Ouro
Preto emprestariam, contra 37,7% na Vila Cafezal. Destacamos que na Vila Cafezal
33,8% dos entrevistados analisariam a situação para decidirem emprestar ou não; ou
seja, de acordo com as falas dos próprios moradores, dependeria muito da pessoa que
85
pedisse, de seu histórico e de sua reputação. A correlação 3KL &UDPHU
V e significância
encontrada foi respectivamente 0,364 e 0,000. Mais uma vez obtemos uma forte
correlação.
7$%(/$±6HDiJXDGHVHXYL]LQKRDFDEDUHHOHSUHFLVDUGHWRPDUXPEDQKR
YRFr GHL[DULDHOHXVDUVHXEDQKHLUR"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
57
43,8%
83
83,0%
140
60,9%
Não
44
33,8%
14
14,0%
58
25,2%
Talvez
29
22.3%
3
3,0%
32
13,9%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Ao colocarmos outra situação para medir a confiança nos vizinhos, mais uma vez os
respondentes da Vila Novo Ouro Preto mostram-se mais confiante, com 83%
permitindo a seus vizinhos a utilização do banheiro. Em relação a tabela 8, houve um
sentimento de maior solidariedade dos respondentes da Vila Cafezal, 43,8%. A
correlação 3KL &UDPHU
V e significância foi respectivamente 0,408 e 0,000, mostrando
assim, uma correlação significativa entre as variáveis.
&RQH[}HVFRPDYL]LQKDQoD
86
Neste tópico, procuramos perceber as redes de sociabilidade entre os moradores das
vilas entrevistadas. Assim sendo, mais uma vez colocamos situações cotidianas para
percebermos o comportamento das pessoas .
7$%(/$±9RFrFRVWXPDFRQYHUVDUFRPVHXVYL]LQKRV"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sempre
34
26,2%
49
49,0%
83
36,1%
Às vezes
48
36,9%
36
36,0%
84
36,5%
Raramente
37
28,5%
12
12,0%
49
21,3%
Nunca
11
8,5%
3
3,0%
14
6,1%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Na tabela 10, observamos que 49% dos moradores da Vila Novo Ouro Preto sempre
conversam com os vizinhos, ao passo que na Vila Cafezal apenas 26,2% dos
entrevistados fazem o mesmo; 36.9% na Vila Cafezal e 36% Na Vila Novo Ouro Preto
conversam às vezes com os vizinhos, ou seja, possuem o mesmo comportamento.
Moradores que raramente ou nunca conversam com seus vizinhos são 37% na Vila
Cafezal e 15% na Vila Novo Ouro Preto. A correlação 3KL&UDPHU
V e significância são
respectivamente 0,281 e 0,000, sendo estatisticamente representativas.
7$%(/$±2TXHYRFrDFKDGDRSLQLmRGHTXHRVYL]LQKRVGHVWHEDLUURVmR
PXLWRSUHVWDWLYRVTXDQGRYRFrRXRXWURPRUDGRUGDTXLSUHFLVDGHOHV"
Vila
Cafezal
Ouro Preto
Concordo
Muito
10
7,7%
39
39,0%
Concordo
58
44,6%
44
44,0%
Concordo
Pouco
50
38,5%
11
11%
Não
Concordo
12
9,2%
6
6,0%
Total
130
100,0%
100
100,0%
87
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
49
21,3%
102
44,3%
61
26,5%
18
7,8%
230
100,0%
A tabela 11 nos mostra a percepção dos entrevistados acerca da solidariedade dos
moradores das vilas estudadas. Enquanto na Vila Novo Ouro Preto 83% concordam ou
concordam muito com aquela opinião, na Vila Cafezal 52,3% concordam ou concordam
muito. Apesar da maioria na Vila Cafezal concordar, quando comparamos com a Vila
Novo Ouro Preto, a diferença é bastante grande. Da mesma forma notamos uma grande
diferença nos dados que demostram a pouca concordância ou a não concordância com a
afirmativa destacada pela tabela 12. Enquanto 17% das respostas da Vila Novo Ouro
Preto vão nesta direção, na Vila Cafezal temos 47,7%; mais uma vez a diferença é
bastante significativa. Nesta variável temos uma correlação 3KL&UDPHU
Ve significância
de 0,432 e 0,000, indicando uma diferença significativa entre as duas vilas.
7$%(/$±2TXHYRFrDFKDGDVUHODo}HVHQWUHRVYL]LQKRVGHVHXEDLUUR"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
Muito
boas
10
7,7%
29
29,0%
39
17,0%
Total
Regu- Ruins Pés- N/S
lares
simas
34
59
20
7
130
26,2% 45,4% 15,4% 5,4%
100,0%
15
5
1
2
100
48
48,0% 15,0% 5,0% 1,0% 2,0% 100,0%
82
74
25
8
2
230
35,7% 32,2% 10,9% 3,5% 0,9% 100,0%
Boas
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
A percepção das relações entre os vizinhos é bastante interessante. Na Vila Novo Ouro
Preto, elas são muito boas ou boas para 77% dos respondentes, enquanto apenas 33,9%
dos respondentes da Vila Cafezal acham as relações entre os vizinhos boas ou muito
boas. No outro extremo, 20,8% dos respondentes da Vila Cafezal acham as relações
entre os vizinhos ruins ou péssimas, contra 6% dos respondentes da Vila Novo Ouro
Preto. A correlação 3KL &UDPHU
V e significância são respectivamente 0,467 e 0,000,
88
para a variável da tabela 12, mais uma vez indicando uma diferença significativa entre
as duas vilas.
&RPSRUWDPHQWRFtYLFR
De acordo com Putnam(1998[1993]), a participação em qualquer organização social é
fundamental para a produção de capital social Na tabela número 13, 63,0% dos
respondentes da Vila Novo Ouro Preto participam de alguma organização ou
associação, seja ela local ou não. Na Vila Cafezal apenas 38,5% dos respondentes
afirmaram participar de alguma associação ou organização local. A correlação
encontrada na variável acima foi 3KL &UDPHU
V 0,243 e significância 0,000, indicando
uma diferença significativa entre as duas vilas.
7$%(/$±9RFrSDUWLFLSDGHDOJXPDRUJDQL]DomRRXFOXEHORFDOFRPRSRU
H[HPSORWLPHGHIXWHERODVVRFLDomRGHEDLUURLJUHMDHWF"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
Sim
50
38,5%
63
63,0%
113
49,1%
Não
80
61,5%
37
37,0%
117
50,9%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
7$%(/$±9RFrFRVWXPDSDUWLFLSDUGDVUHXQL}HVGDDVVRFLDomRFRPXQLWiULDGH
VHXEDLUUR"
Vila
Frequen- Algumas
temente
Vezes
6
24
Cafezal
4,6%
18,5%
39
37
Novo Ouro Preto
39,0%
37,0%
45
61
Total
19,6%
26,5%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Raramente
40
30,8%
14
14,0%
54
23,5%
Nunca
participo
60
46,2%
10
10,0%
70
30,4%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
89
A tabela 14 destaca a participação dos respondentes nas reuniões da associação de
bairro,mostrando um comportamento bastante distinto entre as duas vilas: na Vila Novo
Ouro Preto, 39%23 dos respondentes afirmaram participar freqüentemente das reuniões;
ao passo que 46,2% dos respondentes da Vila Cafezal afirmaram nunca participar das
reuniões da associação de bairro. Ou seja, uma tendência bastante distinta quanto à
participação em reuniões,
atestada pela alta significação da correlação estatística
encontrada: 3KL&UDPHU
V 0,562 e significância 0,000.
7$%(/$±1RV~OWLPRVWUrVDQRVYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWRGDVXD
FRPXQLGDGH"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
37
28,5%
86
86,0%
123
53,5%
Não
93
71,5%
14
14,0%
107
46,5%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
A tabela 15 destaca a participação dos respondentes em projetos sociais para a melhoria
da vila; notamos, mais uma vez, que a comunidade da Vila Novo Ouro Preto é mais
participativa24, 86%, contra 28,5% da Vila Cafezal. A correlação encontrada nesta
variável foi de 0,547 3KL&UDPHU¶V e 0,000 significância, altamente significativa.
23
Devemos destacar que a porcentagem que participa das reuniões freqüentemente na Vila Novo Ouro
Preto nos surpreendeu; pois de acordo com um artigo publicado no jornal O Tempo, de Belo Horizonte,
de autoria do cientista político Fábio Wanderley Reis, é notória a baixa participação dos moradores na
associação de bairro no Brasil. Para avaliar esta controvérsia seria necessário uma avaliação das atas das
reuniões da associação de bairro; o que, infelizmente não foi possível de ser realizado.
24
Nos últimos 4 anos, a organização não-governamental &,'$'$1,$3(/$6È*8$6 vem fazendo
um trabalho de conscientização dos moradores da Vila Novo Ouro Preto, no sentido de reciclar o lixo e
cuidar das nascentes presentes na região; que é uma das formadoras da bacia da Pampulha. Acreditamos
ser esta a principal causa do alto índice de participação da comunidade em projetos sociais.
90
7$%(/$±(PDOJXPPRPHQWRGDVXDYLGDYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWR
SDUDPHOKRUDUDVXDYL]LQKDQoD"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
43
33,1%
91
91,0%
134
58,3%
Não
87
66,9%
9
9,0%
96
41,7%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
A participação em projetos sociais em algum momento da vida foi analisada na tabela
16. Comparandos os dados desta tabela com os da tabela anterior observamos um
aumento na participação nas duas vilas; 33,1% na Cafezal e 91% na Novo Ouro Preto.
A elevação percentual foi praticamente a mesmo nas duas comunidades. A correlação
estatística encontrada foi 3KL &UDPHU
V 0,582 e significância 0,000. Altamente
significativa.
&RPSRUWDPHQWRGLDQWHGDYLROrQFLDHFULPLQDOLGDGH
7$%(/$±6HYRFrYHUXPFULPHDFRQWHFHQGRHPVXDYL]LQKDQoDYRFrFKDPDD
SROtFLD"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Sim
35
26,0%
41
41,0%
Não
68
52,3%
25
25,0%
Talvez
22
16,9%
31
31%
N/S
2
1,5%
3
3,0%
N/R
3
2,3%
Total
130
100,0%
100
100,0%
91
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
76
33,0%
93
40,4%
53
23,0%
5
2,2%
3
1,3%
230
100,0%
Ao observarmos a tabela acima, notamos uma forte tendência dos respondentes da Vila
Novo Ouro Preto em denunciar para a polícia os crimes que porventura lá aconteçam:
41%; e 31% ponderam a possibilidade de acionar a polícia. Na Vila Cafezal 26,9% dos
respondentes chamariam a polícia e 16,9% talvez chamariam; o mais importante é que
na Vila Cafezal 52,3% não chamariam a polícia; um número bastante expressivo e
revelador quanto à postura da população local diante do poder público. No caso a
polícia militar e civil. A correlação estatística desta variável foi 0,306 3KL&UDPHU
V e
0,000 significância, revelando mais uma vez uma diferença significativa entre as duas
comunidades estudadas.
7$%(/$±$OJXPDYH]HPVXDYLGDYRFrMiOLJRXSDUDDSROtFLDSDUDGHQXQFLDU
DOJXPFULPH"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
8
6,2%
27
27,0%
35
15,2%
Não
116
89,2%
71
71,0%
187
81,3%
N/R
6
4,6%
2
2,0%
8
3,5%
Total
130
100,0
100
100,0%
230
100,0%
A tabela 18 aponta para um comportamento bastante distinto quando relacionado com a
tabela 17, onde temos uma possível tomada de atitude dos respondentes. A porcentagem
de pessoas que acionaram a polícia cai drasticamente. Tanto na Vila Novo Ouro Preto
como na Vila Cafezal é notória a baixa atitude real diante do crime; mesmo assim,
temos que na Vila Novo Ouro Preto a porcentagem é maior que na Vila Cafezal; 27% e
92
6,2% respectivamente. Estatisticamente temos o 3KL&UDPHU
V 0,292 e significância de
0,000.
7$%(/$±2VFULPHVTXHDFRQWHFHUDPHPVHXEDLUURIRUDPFRPHWLGRVSRU
SHVVRDVGDVXDSUySULDYL]LQKDQoD"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
Não
24
18,5%
54
54,0%
78
33,9%
58
44,6%
26
26,0%
84
36,5%
Às
vezes
sim, às
vezes
não
26
20,0%
15
15,0%
41
17,8%
N/S
N/R
Total
10
7,7%
5
5,0%
15
6,5%
12
9,2%
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
12
5,2%
A tabela 19 procura destacar a percepção dos moradores quanto a autoria dos crimes na
região onde moram. Mais uma vez há uma diferença comportamental entre as vilas. Na
Vila Novo Ouro Preto 54% dos respondentes afirmaram que os delitos foram cometidos
pelos próprios moradores; na Vila Cafezal apenas 18,5% são da mesma opinião. Um
destaque a ser levantado refere-se à relutância em responder a tal questão. Quase 17%
dos entrevistados da Vila Cafezal responderam não saber ou não responderam, contra
5% dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto.25 A correlação encontrada foi 3KL
&UDPHU
V0,401 e significância 0,000, mais uma vez com uma alta significação.
25
Tal fato pode ser explicado pela lei do silêncio em vilas e favelas, quando o assunto é criminalidade.
Quando aplicamos o questionário na Vila Cafezal, percebemos um tom de ironia quando os moradores
diziam que não eram os seus vizinhos que cometiam crimes ocorridos na região. Aqui não há a intenção
de relacionar pobreza e crime, muito menos reproduzir o preconceito contra os moradores e vilas e
favelas, dizendo que são marginais; mas de acordo com relatos policiais, os delitos na Vila Cafezal,
principalmente contra a pessoa, são cometidos por moradores da região; principalmente quando a questão
do tráfico é colocada em jogo. Assim, acredito que os dados da tabela 19 estejam deturpados, retratando,
na realidade, uma preocupação de sobrevivência dos moradores. Uma pesquisa em andamento no Crisp,
sob coordenação do prof. Cláudio Beato, aponta para uma proximidade espacial entre a vítima e
criminoso (no caso, homicídios),principalmente nas vilas e favelas, este fato corrobora as nossas dúvidas,
principalmente no caso da Vila Cafezal, onde os moradores negaram as autorias dos delitos aos vizinhos.
93
7$%(/$ ± 9RFr GRDULD XPD TXDQWLD HP GLQKHLUR SDUD WHU PDLV VHJXUDQoD H
WUDQTLOLGDGHHPVHXEDLUUR"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
51
39,2%
53
53,0%
104
45,2%
Não
58
44,6%
20
20,0%
78
33,9%
Talvez
21
16,2%
27
27,0%
48
20,9%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Através da análise da tabela 20 percebemos que a população das vilas é receptiva
quanto a possibilidade de um auxílio privado nas questões referentes à segurança
pública; mais especificamente à segurança ostensiva, feita por policiais militares: a
questão não trata, portanto, de segurança privada, de grupos para-militares, justiceiros,
etc. Podemos ver que na Vila Novo Ouro Preto, 52% dos respondentes estariam
dispostos a contribuir com alguma participação pecuniária para ter mais segurança na
região Na Vila Cafezal a opinião é mais dividida, 39,2% concordam em contribuir, mas
44,6% não ajudariam financeiramente para se ter mais segurança26. A correlação
estatística encontrada foi 3KL&UDPHU
V0,269 e significância 0,000.
3DUWLFLSDomRIDPLOLDUQDHGXFDomRGRVILOKRV
Neste tópico procuramos detectar a participação familiar na formação escolar de seus
filhos, sendo que os respondentes sem filhos ou com filhos já adultos não responderam
às questões, sendo codificados no item "não se aplica". A escolha em medir a
26
Muitos entrevistados na Vila Cafezal alegaram falta de dinheiro, desconfiança no Estado e na polícia,
para se negarem a contribuir para a segurança; na Vila Novo Ouro Preto também houve estas indagações,
mas estão dispostos a contribuírem financeiramente para conter o avanço da violência, os moradores desta
vila parecem temer mais a consolidação da violência na região, o que poderia ser uma explicação para tal
comportamento; já na Vila Cafezal há, historicamente, um convívio mais próximo com a violência, o que
pode produzir um comportamento mais conivente com as atitudes violentas, diria mesmo uma
reestruturação social para o convívio com a violência; um processo de adaptação.
94
participação familiar na escola vai ao encontro da idéia de que as pessoas têm uma
expectativa futura quando investem na educação, e por conseqüência vislumbram uma
vida melhor. De acordo com Putnam (2000), há uma correlação entre educação e
índices de capital social.27
7$%(/$±9RFrFRVWXPDLUjVUHXQL}HVGDHVFRODGHVHXVILOKRV"
Vila
Sempre
Às
vezes
Raramente
Nunca
Não
se
aplica
45
34,6%
32
32,0%
77
33,5%
31
23,8%
25
25,0%
56
24,3%
10
7,7%
8
8,0%
18
7,8%
6
4,6%
3
3,0%
9
3,9%
38
29,2%
32
32,0%
70
30,4%
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Na tabela 21 podemos observar que o comportamento entre as duas vilas é bastante
semelhantes. Nos dois universos, percebemos uma valorização da participação nas
reuniões da escola dos filhos. Na Vila Cafezal temos 34,6% dos respondentes que
sempre comparecem nas reuniões, e na Vila Novo Ouro Preto 32%. Com um menor
comparecimento temos 23,8% dos respondentes na Vila Cafezal e 25% dos
respondentes na Vila Novo Ouro Preto. A baixa participação nas reuniões escolares foi
representada por 4,6% dos respondentes da Vila Cafezal e 3% dos respondentes da Vila
Novo Ouro Preto. A correlação estatística encontrada foi de 0,054 3KL&UDPHU
Ve 0,995
significância. Diferença não significativa entre as vilas estudadas.
27
É fato que no Brasil, como um todo, é muito baixo o números de anos que as pessoas passam na escola,
cerca de 4,7 anos em média, de acordo com o IBGE; apesar disto acreditamos que o comportamento das
pessoas em relação à educação, apesar dos diversos motivos que a impediram de estudar, é relevante para
a produção do capital social.
95
7$%(/$±9RFrFRVWXPDDMXGDUVHXVILOKRVQDVWDUHIDVHVFRODUHV"
Vila
Freqüen- Às
temente vezes
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
39
30,0%
36
36,0%
75
32,6%
34
26,2%
22
22,0%
56
24,3%
Raramente
Nunca
Não
se
aplica
Total
9
6,9%
6
6,0%
15
6,5%
10
7,7%
4
4,0%
14
6,1%
38
29,2%
32
32,0%
70
30,4%
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Na tabela 22, continuamos a analisar a postura dos respondentes diante das exigências
escolares dos filhos. O comportamento das duas vilas foi bastante semelhante; sendo
que mais de 50% dos respondentes ajudam os filhos na realização das tarefas
escolares28, o que é bastante significativo se tomarmos em conta a parcela dos
entrevistados que não se encaixaram nesta pergunta. A correlação estatística encontrada
foi 0,104 para o 3KL&UDPHU
Ve significância 0,643, demonstrando não haver diferença
significativa entre as duas vilas.
7$%(/$±9RFrGHL[DULDGHFRPSUDUXPDWHOHYLVmRRXXPDURXSDQRYDSDUD
LQYHVWLUQDHGXFDomRGHVHXVILOKRV"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
28
Sim
114
87,7%
100
100,0%
214
93,0%
Não
11
8,5%
Talvez
5
3,8%
11
4,8%
5
2,2%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Apesar do baixo nível de escolarização dos pais, elas procuram ajudar os filhos na realização das
tarefas escolares, se não diretamente, procuram alternativas como aulas de reforço junto aos filhos mais
velhos ou vizinhos.
96
Esta tabela é bastante interessante, pois coloca à prova a relação entre bens materiais e
bens culturais. Na Vila Novo Ouro Preto, a totalidade dos respondentes abririam mão de
algum conforto para propiciar uma educação melhor para seus filhos, 87,7% dos
respondentes na Vila Cafezal teriam o mesmo comportamento, 8,5% não abririam mão
do conforto material e 3,8% não souberam precisar alguma decisão. A correlação
estatística encontrada neste cruzamento foi de 0,240 para 3KL&UDPHU
Ve significância
0,001.
7$%(/$ ± 9RFr FRVWXPD GDU RSLQL}HV H VXJHVW}HV QDV TXHVW}HV UHIHUHQWHV j
HVFRODGHVHXVILOKRV"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
Sim
Não
Não se Aplica
Total
54
41,5%
38
38,0%
92
40,0%
38
29,2%
30
30,0%
68
29,6%
39
29,2%
32
32,0%
70
30,4%
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Podemos perceber um comportamento bastante semelhante nas vilas pesquisadas. Em
ambos os casos, temos uma tendência à participação nas diretrizes da escola, mas
mesmo assim, a abstenção também é relevante, principalmente se desconsiderarmos a
questão “não se aplica”. A correlação estatística encontrada foi 0,033 e 0,884 para 3KL
&UDPHU
V e significância respectivamente, atestando não haver diferença significativa
quanto à questão, para as duas vilas.
3DUWLFLSDomRQDVTXHVW}HVGDVD~GH
Este tópico foi incluído com o intuito de perceber a participação direta dos entrevistados
em programas de saúde. Apesar de parecer redundante, pois o item 3 já trata da
97
participação em movimentos sociais e similares, aqui trabalhamos diretamente com
questões referentes à saúde, o que para nós demonstra uma preocupação tanto com o
bem-estar familiar quanto com o meio-ambiente, aspectos relevantes para o conceito de
capital social.
7$%(/$±9RFrHVWiRXMiHVWHYHHQYROYLGRFRPDOJXPSURJUDPDFRPXQLWiULR
VREUHVD~GH"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
12
9,2%
27
27,0%
39
17,0%
Não
118
90,9%
73
73,0%
191
83,0%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
A tabela acima nos mostra que a participação dos moradores em programas
relacionados à saúde é bastante baixa; a Vila Cafezal conta com apenas 9,2% dos
respondentes, e a Vila Novo Ouro Preto com 27%. Apesar de considerarmos esta
participação baixa, a Vila Novo Ouro Preto , em relação a Vila Cafezal, tem uma
participação bem superior29. A correlação estatística encontrada foi 0,235 para 3KL
&UDPHU
V e 0,000 de significância.
A tabela 26 demonstra a percepção dos respondentes quanto a ação dos moradores em
campanhas de combates a doenças, incentivadas por campanhas governamentais30. Para
63,8% dos respondentes da Vila Cafezal, a população local ajuda nas campanhas de
29
Devemos ressaltar que no momento em que aplicávamos o questionário na Vila Novo Ouro Preto, uma
organização não-governamental &,'$'$1,$3(/$6È*8$6estava realizando um trabalho de
conscientização da comunidade em relação ao lixo doméstico. Esta ONG está presente na vila há mais de
4 anos, o que justifica, em nossa análise, uma maior participação dos moradores da Vila Novo Ouro Preto
em programas comunitários de saúde. Devemos ainda destacar que os governos municipal, estadual e
federal, não realizam, em
Belo Horizonte pelo menos, programas sistemáticos na área de saúde, o que dificulta, ainda mais, uma
grande mobilização popular em prol de uma melhor saúde.
98
combate e prevenção às doenças; na Vila Novo Ouro Preto 84%31 dos respondentes
acreditam na participação efetiva dos moradores nas campanhas de combate e
prevenção à doenças. 32
A correlação estatística encontrada foi 0,229 para 3KL&UDPHU
Ve 0,002 de significância.
7$%(/$ ± 1D VXD RSLQLmR RV PRUDGRUHV GHVWH EDLUUR SDUWLFLSDP GDV
FDPSDQKDV GH FRPEDWH jV GRHQoDV FRPR SRU H[HPSOR D GHQJXH H D IHEUH
DPDUHOD"
Vila
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Sim
83
63,8%
84
84,0%
167
72,6%
Não
44
33,8%
14
14,0%
58
25,2%
N/S
3
2,3%
2
2,0%
5
2,2%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
7$%(/$±4XDQGRYRFrHVWiGRHQWHRTXHYRFrQRUPDOPHQWHID]SDUDWUDWDU"
Vila
Cafezal
30
Vai ao
Usa
Procura
posto de remédios ajuda
saúde/ caseiros espiritual
médico
93
25
9
71,5%
19,2%
6,9%
Outro
Total
3
2,3%
130
100,0%
Uma das poucas ações do poder público em relação a saúde pública.
Mais uma vez destacamos o trabalho da ONG &,'$'$1,$3(/$6È*8$6para respaldar os
números da Vila Novo Ouro Preto. No contato com a população local e com as lideranças locais,
observamos uma real preocupação com a qualidade de vida local, principalmente em relação ao que fazer
com lixo e esgoto. De acordo com os técnicos da URBEL, a comunidade local é realmente participativa e
preocupada com os rumos da vila.
32
Apesar que na Vila Cafezal 33,8% dos respondentes acreditem que a população local não participa das
campanhas de prevenção e combate às doenças, as taxas positivas são bastante expressivas, o que nos faz
crer que se houvesse campanhas mais efetivas do poder público em envolver a população nos projetos
sociais, poderíamos ter respostas satisfatórias para os problemas que estão postos na realidade brasileira.
31
99
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
80
80,0%
173
75,2%
15
15,0%
40
17,4%
4
4,0%
13
5,7%
1
1,0%
4
1,7%
100
100,0%
230
100,0%
De acordo com os dados da tabela 27, temos um comportamento bastante parecido entre
os dois universos pesquisados; a grande maioria dos respondentes nas duas vilas utiliza
o serviço público de saúde: 71,5% na Vila Cafezal e 80% na Vila Novo Ouro Preto. Um
dado interessante são as alternativas (remédios caseiros e ajuda espiritual) encontradas
nas duas vilas para encontrar a cura para algum mal físico; 26,1% na Vila Cafezal e
19% na Vila Novo Ouro Preto. A relação estatística encontrada neste cruzamento foi
0,105 para 3KL&UDPHU
Ve 0,470 de siginficância.
7$%(/$±3DUDYRFrTXDOpDSULQFLSDOFDXVDGDYLROrQFLDHPVHXEDLUUR"
Vila
Drogas Álcool
Cafezal
Novo Ouro Preto
Total
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
89
19
68,5% 14,6%
31
58
58,0% 31,0%
50
147
63,9% 21,7%
Desem
Falta
N/S
prego Pobrede
za
estudo
17
3
2
13,1% 2,3% 1,5%
8
1
2
8,0%
1,0% 2,0%
25
3
3
2
10,9% 1,3% 1,3% 0,9%
Total
130
100,0%
100
100,0%
230
100,0%
Como era de se esperar, para a população das duas vilas estudadas, a grande causa da
violência são as drogas; a percepção é mais intensa na Vila Cafezal (68,5%), onde, de
acordo com relatos policiais, as drogas estão instaladas há muito tempo e há o problema
crônico do tráfico de drogas, na Vila Novo Ouro Preto temos 58%. É interessante notar
o papel do álcool, na percepção dos entrevistados, como causador da violência. Na Vila
Novo Ouro Preto ele é causador da violência para 31% dos respondentes, contra 14,6%
na Vila Cafezal. Também é interessante notar a correlação feita pelos respondentes
100
entre violência e desemprego/pobreza: 15,4% na Vila Cafezal e 8% na Vila Novo Ouro
Preto. Não há, por parte dos respondentes, uma relação entre anos de estudo e violência,
1,5% na Vila Cafezal e 1% na Vila Novo Ouro Preto.
Dados do Crisp/UFMG apontam para uma correlação entre anos de estudo e
criminalidade violenta nas favelas de Belo Horizonte, como podemos ver no gráfico
abaixo:
1tYHOGHYLROrQFLD
7D[DGHDQDOIDEHWLVPRSRUWLSRGHIDYHOD
11,9
Não Violentas
23
Violentas
12,7
Todas
0
5
10
15
20
25
3HUFHQWXDOPpGLRVLJ Crisp/UFMG - 2001
A correlação estatística encontrada na tabela foi de 0,250 para 3KL H &UDPHU
V e
significância 0,014, resultado significativo, atestando as diferenças entre as duas vilas
estudadas.
Em síntese, a Vila Novo Ouro Preto mostrou-se mais dotada de características que
indicam maior grau de capital social do que a vila Cafezal. As opiniões e
comportamentos da amostra investigada, demonstraram que a Vila Novo Ouro Preto as
pessoas apresentam maior confiança nos vizinhos, no poder público (polícia, sistema de
101
saúde, etc.), investem na própria comunidade e são mais participativos. Já na Vila
Cafezal, a população parece não apresentar a mesma confiabilidade nos vizinhos, como
no poder público. Apenas quanto ao investimento na educação dos filhos, esta vila
apresenta opiniões semelhantes à da Vila Novo Ouro Preto, ambas acreditam na
importância da escola.
Diante destas evidências, podemos afirmar que os moradores da Vila Novo Ouro Preto
possuem um investimento maior nas questões que Putnam e Coleman classificam como
indícios de capital social. Os dados revelam um comportamento mais associativo e
cívico dos moradores da Vila Novo Ouro Preto do que os moradores da Vila Cafezal.
$QiOLVHIDWRULDOGRVGDGRV
A análise de fator é um nome genérico dado a uma classe de métodos estatísticos
multivariados, cuja proposta inicial é a de condensar ou sumarizar em pequenos grupos
de fatores ou componentes uma grande gama de informações, indicando as qualidades
presentes nos dados.
Destacamos que os fatores não são FOXVWHUV. Os FOXVWHUV
são mais concretos,
imediatamente perceptíveis e mais fáceis de serem compreendidos do que os fatores.
Eles são definidos levando em consideração uma relativa contiguidade dos pontos no
espaço e não como os fatores que são definidos por sua distribuição nos eixos Y e X, o
que dificulta o agrupamento, Hair, Jr. HW DO.(1987[1984]).
Vários métodos foram desenvolvidos para estabelecer o número de fatores. Para a
sociologia, o critério mais eficiente é o da porcentagem de variância. Este critério define
102
o número de fatores a partir da somatória das variâncias. O corte realizado para a
definição dos fatores, fica, em média, nos 60% da variância total, índice considerado
satisfatório, de acordo com Hair, Jr. HW DO.(1987[1984])
Estabelecido o número de fatores faz-se necessário determinar os critérios para a
seleção das variáveis significativas que irão compor os fatores. Partimos de uma análise
preliminar, observando os ORDGLQJV dos fatores presentes na matriz de dados. De acordo
com Hair, Jr HWDO. (1987[1984]), loadings acima de .30 são considerados VLJQLILFDWLYRV,
acima de .40 são PXLWR LPSRUWDQWHV, igual ou maior que .50 são considerados “muito
significativos”. Os ORDGLQJVrepresentam a correlação entre a variável original e o novo
fator criado.
A escolha dos ORDGLQJV é refinada ao considerarmos o número de variáveis do banco de
dados. Para Hair,Jr HWDO (1987[1984]). Numa amostra de tamanho 20 e com 5 fatores,
podemos trabalhar com ORDGLQJV de ± .292; para uma amostra de tamanho 50 e com 5
fatores, podemos trabalhar com ORDGLQJV de ± .267; para uma amostra de 20 variáveis e
10 fatores podemos trabalhar com ORDGLQJVde ± .353 e com 50 variáveis ORDGLQJV de ±
.274. A construção dos fatores obedece uma lógica bastante simples a partir da tabela
dos ORDGLQJV Observando cada coluna , que representa um fator, destacamos as
variáveis mais significativas e as agrupamos, definindo assim as novas variáveis. A
nomenclatura é de responsabilidade do pesquisador, levando em consideração a variável
com o maior ORDGLQJ; quando há uma grande discrepância entre as variáveis
selecionadas temos a opção de não usar nenhuma definição para o fator. Quando ocorre
uma situação como esta, temos a indicação de que há uma derivação entre as variáveis e
ao mesmo tempo uma indefinição interna do fator. Como ressalta Hair HW DO
103
(1987[1984]), apenas os fatores com relações expressivas entre as variáveis devem ser
interpretados, tal como em estudos anteriores de capital social, nos quais os autores
(Ferreira-Pinto HW DO, 2001, dentre outros) selecionaram apenas os fatores com forte
associação.
Selecionamos 10 fatores a partir da variância. Respeitamos a seleção realizada pelo
programa SPSS que fez o corte no componente com o valor acumulado da variância de
69,924% na Vila Novo Ouro Preto e 74,742% na Vila Cafezal. A seleção das variáveis
para compor os fatores levou em consideração os valores dos ORDGLQJV acima de ± .50,
por caracterizar uma forte relação.
0pWRGRGH(VWLPDomR&RPSRQHQWHV3ULQFLSDLVURWDomR9DULPD[
9LOD&DIH]DO
)DWRU
/RDGLQJV
Você costuma ajudar seus filhos nas tarefas escolares?
.980
Você
.979
costuma
ir
às
reuniões
da
escola
de
seus
filhos?
Você costuma dar opiniões e sugestões nas questões referentes à escola de seus filhos?
.979
(% da variância: 14,403)
)DWRU
Como você se sente ao andar nas ruas de seu bairro após ter escurecido?
.885
Você costuma participar das reuniões da associação comunitária de seu bairro?
.849
Algumas pessoas deste bairro disseram que viver aqui é como se estivesse em casa. O
que
você
acha
desta
opinião?
.835
104
Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmativa: Nós podemos confiar nas pessoas que
moram
aqui
na
vizinhança.
.516
(% da variância: 11,635)
)DWRU
Nos últimos 3 anos você participou de algum projeto para melhorar a sua
comunidade?.899
Em algum momento da sua vida você participou de algum projeto para melhorar a sua
vizinhança?
.863
(% da variância: 10,398)
)DWRU
O que você acha da opinião de que os vizinhos deste bairro são muito prestativos
quando
você,
ou
outro
morador
daqui
necessita
deles?
.776
Você
.756
O que
.694
costuma
você
conversar
acha
das
com
relações
entre
seus
os
vizinhos
vizinhos
de
seu
?
bairro?
(% da variância: 8,212)
)DWRU
Você emprestaria
.853
dinheiro
para
algum
vizinho
que
estivesse
precisando?
Você acha que a sua vizinhança pode ser classificada como um lugar seguro?
.754
(% da variância: 6,137)
)DWRU
Alguma vez em sua vida você já ligou para a polícia para denunciar algum crime?
.787
Se você ver um crime acontecendo em sua vizinhança você chama a polícia?
.661
(% da variância: 5,603)
)DWRU
105
Os crimes que aconteceram em seu bairro foram cometidos por pessoas da sua própria
vizinhança?
.738
(% da variância: 5,251)
)DWRU
Você está ou já esteve envolvido com algum programa comunitário sobre saúde?
.560
Quando você está doente o que você faz normalmente para se tratar?
.821
(% da variância: 4,651)
)DWRU
Na sua opinião os moradores deste bairro participam das campanhas de combate às
doenças,
como
por
exemplo
a
dengue
e
a
febre
amarela?
.728
Você doaria uma quantia em dinheiro para ter mais segurança e tranqüilidade em sua
comunidade?
.519
(% da variância: 4,342)
)DWRU
Para você,
.884
qual
é
a
principal
causa
da
violência
em
seu
bairro?
(% da variância: 4,109)
9LOD1RYR2XUR3UHWR
)DWRU
/RDGLQJV
Você
costuma
ir
às
reuniões
da
escola
de
seus
filhos?
.991
Você
.991
costuma
ajudar
seus
filhos
nas
tarefas
escolares?
Você costuma dar sugestões nas questões referentes à escola de seus filhos?
.991
(% da variância: 14,399)
106
)DWRU
Você costuma participar das reuniões da associação comunitária de seu bairro?
.693
Nos últimos 3 anos você participou de algum projeto da sua comunidade?
.866
Em algum momento da sua vida você participou de algum projeto para melhorar a sua
vizinhança?
.905
(% da variância: 11,088)
)DWRU
Como você se sente ao andar nas ruas de seu bairro após ter escurecido?
.509
Os crimes que aconteceram em seu bairro foram cometidos por pessoas da sua própria
vizinhança?
.585
(% da variância: 7,172)
)DWRU
Você emprestaria
.785
dinheiro
para
algum
vizinho
que
estivesse
precisando?
Você participa de alguma organização ou clube local, como por exemplo time de
futebol,
associação
de
bairro,
igreja,
etc.?
.611
(% da variância: 6,497)
)DWRU
Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmativa: Nós podemos confiar nas pessoas que
moram
aqui
na
vizinhança.
.765
Na sua opinião os moradores deste bairro participam das campanhas de combate às
doenças,
como
por
exemplo
a
dengue
e
a
febre
amarela?
.812
(% da variância: 5,844)
)DWRU
107
Você acha que sua vizinhança pode ser classificada como um local seguro?
.747
Se você ver um crime acontecendo em sua vizinhança você chama a polícia?
.766
(% da variância: 5,521)
)DWRU
Se a água de sue vizinho acabar e ele precisar de tomar um banho você deixaria ele usar
o
seu
banheiro?
.534
O que
.660
você
acha
das
relações
entre
os
vizinhos
de
seu
bairro?
Você está ou já esteve envolvido com algum programa comunitário de saúde?
.692
(% da variância: 5,320)
)DWRU
Você
.712
costuma
conversar
com
seus
vizinhos?
O que você acha da opinião de que os vizinhos deste bairro são muito prestativos
quando
você,
ou
outro
morador
daqui
necessita
deles?
.776
(% da variância: 5,069)
)DWRU
Alguma vez você já ligou para a polícia
.613
para denunciar algum crime?
Você doaria uma quantia em dinheiro para ter mais segurança e tranqüilidade em sua
comunidade?
.511
Para
.541
você,
qual
é
(% da variância: 4,538)
)DWRU
a
principal
causa
da
violência
em
seu
bairro?
108
Algumas pessoas deste bairro disseram que viver aqui é como se estivesse em casa. O
que
você
acha
desta
opinião?
.902
(% da variância: 4,475)
Com o estabelecimento dos dez fatores, fica mais clara a identificação das dimensões do
capital social nas duas comunidades. Como destaca Babbie (1999[1997]), a análise
fatorial nos possibilita a identificação de padrões predominantes no banco de dados.
Estes padrões são consistentes ao observarmos as variáveis componentes dos fatores nas
duas comunidades. Há, em certo sentido, uma compatibilidade entre elas, apesar de em
alguns fatores coexistirem variáveis substantivamente díspares, o que não invalida o
experimento.
Como este estudo é exploratório, as respostas encontradas pela análise fatorial
corroboram a análise preliminar acerca do comportamento das duas comunidades
pesquisadas, dando lastro ao questionário e aos dados coletados bem como a
possibilidade de criação de um índice de capital social.
As tendências obtidas através deste índice de capital social podem ser importantes
indicadores para a realização de estudos complementares, associando medidas
quantitativas e qualitativas, as quais podem fornecer um diagnóstico mais aprofundado
das comunidades, assim como subsidiar planejamento de ações e programas de melhoria
da qualidade de vida para a população local.
109
&$3Ë78/2
&216,'(5$d®(6),1$,6
Como destacamos anteriormente, a nossa pesquisa teve um caráter exploratório, com a
preocupação primeira de consolidar um instrumento de medida de capital social, de
modo a possibilitar a construção de um índice confiável de capital social. Em primeiro
lugar, tratou-se de verificar a operacionalidade do conceito quando aplicado à realidade
social brasileira, observando duas vilas carentes de Belo Horizonte. Em um segundo
momento procuramos detectar alguma associação entre o volume de capital social e as
taxas de criminalidade contra a pessoa. Buscamos uma associação por que não nos foi
possível provar uma relação de causa-efeito. Esta dificuldade se deveu em parte pela
amostra utilizada, (aleatória simples para a seleção dos domicílios e por cota na seleção
dos entrevistados) que nos impediu a generalização dos resultados, e em parte pela
ausência de uma complementação qualitativa da pesquisa quantitativa.
Apesar destas dificuldades, os resultados apontam para uma tendência bastante
interessante. De
acordo com os cruzamentos realizados entre a variável
comunidade(vila) e todas as outras questões referentes ao capital social, a Vila Novo
Ouro Preto obteve resultados mais positivos que a Vila Cafezal. Nos seis tópicos
desenvolvidos no questionário, 1-sentimentos de credibilidade e confiança na
vizinhança; 2-conexões com a vizinhança; 3-comportamento cívico; 4-comportamento
diante da violência; 5- participação familiar na educação dos filhos e 6- participação nas
questões da saúde, apenas nos dois últimos tópicos (5 e 6) as duas vilas tiveram um
comportamento parecido, nas quatro restantes (de 1 a 4), talvez as mais representativas
do capital social, tendo em vista as questões colocadas por Putnam e Coleman, a Vila
110
Novo Ouro Preto obteve resultados positivos, muitas vezes mais significativos que os
resultados obtidos na Vila Cafezal. Apesar desta constatação, não podemos afirmar
categoricamente que as taxas de violência mais baixas da Vila Novo Ouro Preto sejam
fruto exclusivo do comportamento cívico e da participação comunitária de seus
habitantes e que na Vila Cafezal as pessoas definitivamente não queiram participar para
melhorar a situação de sua região. É necessário um cuidado especial quanto a esta
afirmativa, pois a violência na sociedade tem várias causas, como podemos ver em
Beato Filho, (1997).
O tráfico de drogas na Vila Cafezal é um problema endêmico na região; durante o
período de trabalho de campo (cerca de 45 dias), ocorreram sete assassinatos
envolvendo disputas de ponto de venda de drogas. Neste período ficou claro o medo da
população local em falar sobre questões de segurança assim como sobre os
comportamentos dos vizinhos.
De acordo com a fala de um morador da Vila Cafezal, homem, 45 anos, que trabalha
como vigilante, ³HUDSUHIHUtYHORWHPSRGDGLWDGXUDWLQKDSROtFLDVHPSUHSRUDTXL
HX VDtD SDUD WUDEDOKDU H WRPDYD XPDV WUrV µGXUDV¶ DWp FKHJDU QR SRQWR GH {QLEXV
WLQKDVHJXUDQoDDTXL´
Na Vila Novo Ouro Preto encontramos um ambiente bem mais tranqüilo, com os
moradores mais dispostos a responderem os questionários. Apesar do temor diante da
violência urbana, muitas pessoas qualificaram a região como um lugar seguro; de
acordo com a presidente da associação da Vila, ³ RQRVVRPHGRpTXHDYLROrQFLDGD
9LOD 6mR -RVp XPD IDYHOD SUy[LPD ORFDOL]DGD DR ILQDO GD DYHQLGD 3HGUR ,, H TXH
111
WHUPLQD SUy[LPR DR EDLUUR 2XUR 3UHWR H &DVWHOR TXH SRVVXL XPD DOWD WD[D GH
FULPLQDOLGDGHHTXHWHPXPKLVWyULFRSDUHFLGRFRPD9LOD&DIH]DOQRTXHVHUHIHUHDR
WUiILFRGHGURJDV YHQKDSDUDUDTXLSRLVWHPRVXPFDPLQKRTXHQRVOHYDDWpOiSRU
LVWRWHPRVTXHILFDUDWHQWRVDRPRYLPHQWRDTXLGHQWURGDYLOD´
Esta distinção entre as duas vilas pesquisadas não nos possibilita, mais uma vez, afirmar
que o capital social aja como um fator de inibição das ações criminosas nas
comunidades carentes de Belo Horizonte. Podemos pensar que as altas taxas de
violência podem estar inibindo a produção de capital social e por conseqüência
dificultando a integração das pessoas em suas comunidades. Mas de qualquer forma,
esta clara distinção nas atitudes dos moradores é bastante interessante.
Devemos destacar que a participação popular na produção do capital social é
necessária, mas não suficiente. As críticas que os neo-institucionalistas fazem a Putnam
e que podemos estender a Coleman, são pertinentes, pois, levando ao extremo o
culturalismo, chegaremos a uma espécie de fatalismo que consistirá em relegar às
comunidades com pouco capital social um futuro sem perspectivas. Apesar destas
críticas, devemos ressaltar a idéia de associativismo horizontal desenvolvida por
Putnam, que enxergava nesta característica social um agente facilitador das iniciativas
coletivas e do engajamento cívico. Devemos também destacar o determinismo às
avessas dos neo-institucionalistas, quando afirmam a primazia do Estado na produção
do capital social; sem uma efetiva participação da população, eles não percebem a
importância das formas de organização social não institucionalizadas no âmbito do
Estado.
112
Para Abu-El-Haj, referindo-se a John Dewey, ³2 HQJDMDPHQWR FtYLFR HUD SRVVtYHO
VRPHQWH FRP R IORUHVFLPHQWR GH DVVRFLDo}HV DXW{QRPDV DJUXSDQGR FLGDGmRV
FRPSDUWLOKDQGRXPDUHODWLYDLJXDOGDGHGHFRQGLo}HVHXPDPLVVmRSROtWLFDFRPXP$
YHUWLFDOL]DomRGDSROtWLFDPRGHUQDQRVSDUWLGRVROLJiUTXLFRVHQRVULWRVLQVWLWXFLRQDLV
IRUPDLVDQLTXLODRDWLYLVPRFtYLFR&UHVFHQWHPHQWHDSROtWLFDSHUGHVHXVHQWLGRS~EOLFR
H RFLGDGmRFRPXPVHLVRODQDVXDYLGDSULYDGD´ (p.105, 2000)
Ou seja, a confiança, a cooperação e a solidariedade brotam onde temos uma relativa
igualdade e numa ausência de hierarquias impostas. É a busca da reconciliação entre a
ação coletiva e os interesses privados, em uma sociedade mais horizontalizada, que
permite a multiplicação das redes cívicas e a valorização do capital social. Nesse
sentido, surge a necessidade de uma confluência entre as atitudes locais da população e
o fundamental apoio do Estado na implantação de políticas públicas e dos movimentos
organizados, na forma de ONG’s por exemplo, para a mobilização local.
No caso das duas vilas estudadas, uma diferença interessante foi detectada quanto ao
espaço urbano e a presença efetiva do Estado e de ONG's. Na Vila Cafezal, a estrutura
urbana está mais desenvolvida, com a presença de posto de saúde, de um sacolão
municipal, de ruas e vielas urbanizadas, de linhas de ônibus internas, creches, dentre
outras intervenções estatais. A Vila Novo Ouro Preto não possui uma estrutura urbana
organizada. Poucas vielas são urbanizadas e não há presença de aparelhos estatais como
postos de saúde, sacolão municipal, creches, etc. Apesar desta ausência de ação do
Estado, como podemos perceber na análise estatística, a comunidade da Vila Ouro Preto
é muito mais organizada. A ONG. Cidadania pelas Águas tem feito um trabalho de
conscientização ecológica que já produziu efeitos positivos como a recuperação dos
113
mananciais de água do local e a produção, em conjunto com a URBEL, de um plano
diretor de transformação da vila em um bairro urbanizado com a construção, inclusive,
de um parque ecológico e de casas com toda a infra-estrutura básica em substituição aos
atuais barracos. A negociação está em um estágio adiantado, com uma parte
significativa da verba assegurada. Na Vila Cafezal detectamos que a aparelhagem
estatal presentes no local foi, em grande medida, pensada de cima para baixo, sem uma
participação da comunidade. Destacamos que esta é uma tendência mundial no combate
à violência urbana. O Estado "adota" o espaço degradado, com altas taxas de violência,
implantando equipamentos públicos para a diminuição da criminalidade. No caso da
Vila Cafezal, estas intervenções não estão surtindo os efeitos esperados; ao contrário, a
criminalidade local vem aumentando ano a ano.
De acordo com os casos estudados, percebemos a importância da conjunção de ações do
Estado e da comunidade. Não adianta só a presença do Estado, como na Vila Cafezal, é
preciso o fortalecimento das instituições públicas ao mesmo tempo que potencializamos
a participação popular como na Vila Ouro Preto. É a confluência destas atuações que
nos possibilitará a produção de capital social e a efetivar a transformação social de
maneira positiva, seja na esfera da saúde, da habitação ou como no nosso estudo, da
violência urbana, dentre outras.
%,%/,2*5$),$
114
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)LOWUR 9RFr PRUD QHVWH EDLUUR" 6H VLP FRQWLQXH VH QmR DJUDGHoD H HQFHUUH D
HQWUHYLVWD
)LOWUR9RFrWHPDQRVRXPDLV"6HVLPFRQWLQXHVHQmRDJUDGHoDHHQFHUUHD
HQWUHYLVWD
36H[R
1- Masculino
9DULiYHLV'HPRJUiILFDV
2- Feminino
34XDOpDVXDLGDGH"BBBBBBBBBDQRV
3)DL[DHWiULD
1- 18 a 24 anos
2- 25 a 35 anos
99- N/R
34XDOpRVHXHVWDGRFLYLO"
1- Casado(a)
2- Solteiro(a)
Outro__________
88- N/S 99- N/R
3- 36 a 55 anos
4- mais de 55 anos
3-Separado(a)/divorciado(a)
4- Viúvo(a)
39RFrWHPILOKRV"
1- Sim
2- Não
36HVLP4XDQWRV"BBBBBBBBBBBBB6HQmRFRORTXHRQ~PHUR]HUR
39RFrHVWXGRXDWpTXHDQRGDHVFROD"
1- Analfabeto/assina o nome
2- 1ª a 4ª série incompleta
3- 1ª a 4ª série completa
4- 5ª a 8ª incompleta
5- 5ª a 8ª completa
6- 2º grau incompleto
7- 2º grau completo
8- Superior incompleto
9- Sup. Completo
10- Pós-graduação (especialização/mestrado/doutorado)
88- N/S
99- N/R
88- N/S
5-
123
34XDOpDVXDUHQGDIDPLOLDU"VDOiULRPtQLPR5
1- Até 1 s/m
2- De 1 a 4 s/m
3- De 5 a 7 s/m
4- De 8 a 10 s/m
5- De 11 a 15 s/m
6- De 16 a 20 s/m
7- mais de 20 s/m
34XDOpDVXDRFXSDomR"
1- Assalariado com carteira assinada
2- 2- Assalariado sem carteira assinada
3- 3- Autônomo
4- Autônomo paga iss
5- Profissional liberal
6- Free-lancer/bico
7- Estudante
8- Aposentado/pensionista
9- Não exerce atividade remunerada
10- Desempregado
88-N/S
99- N/R
3+iTXDQWRWHPSRYRFrPRUDHPVHXEDLUUR"
1- Menos de 1ano 2- De 1 a 3 anos 3- De 3 a 5 anos
de 10 anos 88- N/S 99- N/R
4- De 5 a 10 anos
3$FDVDRQGHYRFrPRUDpOHUDWpRLWHP
1- Própria 2- Alugada 3- Emprestada
4- Outro_______________
99- N/R
5- Mais
88- N/S
0(','$6'(&$3,7$/62&,$/
$ 6HQWLPHQWRVGHFUHGLELOLGDGHHFRQILDQoDQDYL]LQKDQoD
34XDOpDVXDRSLQLmRVREUHDVHJXLQWHDILUPDWLYD1yVSRGHPRVFRQILDUQDV
SHVVRDVTXHPRUDPDTXLQDYL]LQKDQoD
1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 4- Não concordo 88- N/S
99- N/R
3&RPRYRFrVHVHQWHDRDQGDUQDVUXDVGHVHXEDLUURDSyVWHUHVFXUHFLGR"
1- Muito seguro 2- Seguro 3- Pouco seguro 4- Inseguro 88- N/S 99- N/R
39RFrDFKDTXHVXDYL]LQKDQoDSRGHVHUFODVVLILFDGDFRPRXPOXJDUVHJXUR"
1- Sim 2- Não 3- Mais ou menos 88-N/S 99-N/R
3$OJXPDVSHVVRDVGHVWHEDLUURGLVVHUDPTXHYLYHUDTXLpFRPRVHHVWLYHVVHHP
FDVD2TXHYRFrDFKDGHVVDRSLQLmR"
124
1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco
99- N/R
4- Não concordo
88- N/S
39RFrHPSUHVWDULDGLQKHLURSDUDDOJXPYL]LQKRTXHHVWLYHVVHSUHFLVDQGR"
1- Sim 2- Não
3- Talvez 88- N/S
99- N/R
3 6H D iJXD GH VHX YL]LQKR DFDEDU H HOH SUHFLVDU GH WRPDU XP EDQKR YRFr
GHL[DULDHOHXVDUVHXEDQKHLUR"
1- Sim 2- Não
3- Talvez 88- N/S
99- N/R
% &RQH[}HVFRPDYL]LQKDQoD
39RFrFRVWXPDFRQYHUVDUFRPVHXVYL]LQKRV"
1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88- N/S
99-N/R
3 2 TXH YRFr DFKD GD RSLQLmR GH TXH RV YL]LQKRV GHVWH EDLUUR VmR PXLWR
SUHVWDWLYRVTXDQGRYRFrRXRXWURPRUDGRUGDTXLQHFHVVLWDGHOHV"
1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 4- Não concordo 88- N/S
99- N/R
32TXHYRFrDFKDGDVUHODo}HVHQWUHRVYL]LQKRVGHVHXEDLUUR"
1- Muito boas 2- Boas 3- Regulares 4- Ruins 5- Péssimas 88-N/S
99-N/R
& &RPSRUWDPHQWRFtYLFR
39RFrSDUWLFLSDGHDOJXPDRUJDQL]DomRRXFOXEHORFDOFRPRSRUH[HPSORWLPH
GHIXWHERODVVRFLDomRGHEDLUURLJUHMDHWF"
1- Sim 2- Não
3 9RFr FRVWXPD SDUWLFLSDU GDV UHXQL}HV GD DVVRFLDomR FRPXQLWiULD GH VHX
EDLUUR"
1- Freqüentemente 2- algumas vezes
3- Raramente
4- Nunca participo 88N/S
99-N/R
31RV~OWLPRVDQRVYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWRGDVXDFRPXQLGDGH"
1- Sim
2- Não
88-N/S
99-N/R
3 (P DOJXP PRPHQWR GD VXD YLGD YRFr SDUWLFLSRX GH DOJXP SURMHWR SDUD
PHOKRUDUDVXDYL]LQKDQoD"
1- Sim
2- Não
88-N/S
99-N/R
'&RPSRUWDPHQWRGLDQWHGDYLROrQFLDHFULPLQDOLGDGH
3 6H YRFr YLU XP FULPH DFRQWHFHQGR HP VXD YL]LQKDQoD YRFr FKDPDULD D
SROtFLD"
1- Sim
2- Não
3- Talvez
88-N/S
99-N/R
3 $OJXPD YH] HP VXD YLGD YRFr Mi OLJRX SDUD D SROtFLD SDUD GHQXQFLDUDOJXP
FULPH"
125
1- Sim
2- Não
88-N/S
99-N/R
3 2V FULPHV TXH DFRQWHFHUDP HP VHX EDLUUR IRUDP FRPHWLGRV SRU SHVVRDV GD
VXDSUySULDYL]LQKDQoD"
1- Sim 2-Não 3- às vezes sim, às vezes não
88-N/S
99-N/R
3 YRFr GRDULD XPD TXDQWLD HP GLQKHLUR SDUD WHU PDLV VHJXUDQoD H
WUDQTLOLGDGHHPVXDFRPXQLGDGH"
1- Sim
2- Não
3- Talvez
88-N/S
99-N/R
((GXFDomRHSDUWLFLSDomRIDPLOLDU
39RFrFRVWXPDLUjVUHXQL}HVGDHVFRODGHVHXVILOKRV"
1- Sempre 2- Às vezes
3- Raramente 4- Nunca
88-N/S
100- Não se aplica
39RFrFRVWXPDDMXGDUVHXVILOKRVQDVWDUHIDVHVFRODUHV"
1- Sempre 2- Às vezes
3- Raramente 4- Nunca
88-N/S
100- Não se aplica
99-N/R
99-N/R
39RFrGHL[DULDGHFRPSUDUXPDWHOHYLVmRRXXPDURXSDQRYDSDUDLQYHVWLUQD
HGXFDomRGHVHXVILOKRV"
1- Sim
2- Não
3- Talvez
88- N/S
99- N/R
39RFrFRVWXPDGDURSLQL}HVHVXJHVW}HVQDVTXHVW}HVUHIHUHQWHVjHVFRODGHVHXV
ILOKRV"
1- Sim
2- Não
88-N/S
99-N/R
100-Não se aplica
) 6D~GHHFDSLWDOVRFLDO
3 9RFr HVWi RX Mi HVWHYH HQYROYLGR FRP DOJXP SURJUDPD FRPXQLWiULR VREUH
VD~GH"
1- Sim
2- Não
88-N/S
99-N/R
3 1D VXD RSLQLmR RV PRUDGRUHV GHVWH EDLUUR SDUWLFLSDP GDV FDPSDQKDV GH
FRPEDWHjVGRHQoDVFRPRSRUH[HPSORDGHQJXHHDIHEUHDPDUHOD"
1- Sim
2- Não
88-N/S
99-N/R
34XDQGRYRFrHVWiGRHQWHRTXHYRFrQRUPDOPHQWHID]SDUDVHWUDWDU"
1- Vai ao posto de saúde/médico
2- Usa remédios caseiros
3- Procura ajuda espiritual/religiosa
4- Outro__________________________________
33DUD YRFr TXDO p D SULQFLSDO FDXVD GD YLROrQFLD HP VHX EDLUUR" PRVWUDU R
FDUWmR
1- Drogas
2- Álcool
3- Desemprego
126
4- Pobreza
5- Falta de estudo
6- Distúrbio mental
7- Problemas conjugais
8- Outros_______________________________
88- N/S
99- N/R
A
EZ
FA
E LTA
S
T U DE
D
O
PO
BR
DROGAS
127
AS
LEMAIS
OB
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C
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