1 Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Sociologia e Antropologia Mestrado em Sociologia &DSLWDOVRFLDOHYLROrQFLD XPDDQiOLVHFRPSDUDGDHPGXDVYLODVGH%HOR+RUL]RQWH por Cláudio Santiago Dias Júnior 'LVVHUWDomRVXEPHWLGDjDYDOLDomR FRPRUHTXLVLWRSDUFLDOSDUDDREWHQomR GR JUDXGH0HVWUHHP6RFLRORJLD 3URI'U)UDQFLVFR&RHOKRGRV6DQWRV Orientador Profa. Dra. Virgínia Torres Schall Co-orientadora Belo Horizonte, Dezembro de 2001 2 $*5$'(&,0(1726 Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais e irmãos que sempre me apoiaram. Na UFMG, onde construí a minha vida acadêmica, várias pessoas contribuíram direta ou indiretamente para este trabalho. Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Francisco Coelho dos Santos que não só me orientou como me acolheu em um momento difícil do meu curso de mestrado; ao professor Antônio Augusto Pereira Prates por suas indicações de leituras a respeito do conceito de capital social durante o curso de sociologia das organizações em 1999; ao Crisp pela liberação dos dados sobre a criminalidade em Belo Horizonte, em especial ao amigo Bráulio Figueiredo, que com paciência e disposição tratou os dados sobre violência que estão neste trabalho; aos amigos Marcelo “judeu” Bernardes, Abílio “ceará” Queiroz e Wilson “pato” Cruz, que com coragem e afinco me ajudaram na coleta dos dados na Vila Cafezal; com certeza uma grande ajuda! À amiga de mestrado e da vida, Célia, pelas longas conversas... a Cirene pela presteza nas soluções das questões burocráticas que apareceram na reta final do mestrado, e a “turma”, pelos momentos etílicos... Ao Centro de Pesquisa René Rachou, que me possibilitou novos conhecimentos e me mostrou o quanto é gratificante fazer ciência, e aos colegas “de René” Cecília, Ivana, Daniel, Denise e Karina pela agradável convivência durante dois anos. À Capes e a Fiocruz, pelas bolsas, que me ajudaram bastante durante o mestrado. 3 Agradeço ao professor Antônio Tomasi pelo apoio não só a mim, como a todos os alunos da sociologia do trabalho, que se viram “órfãos” com a morte do professor Vinícius Caldeira Brant. Confesso que este apoio apenas consolidou a nossa percepção sobre a grandeza de seu espírito ... À URBEL pela liberação dos cadastros dos domicílios das duas vilas estudadas e à senhora Edna, líder comunitária da Vila Novo Ouro Preto, que nos mostrou todos os meandros da região. Para terminar, destaco três pessoas em especial: 9LUJtQLD7RUUHV6FKDOO, que com a sua vontade de produzir ciência, com a sua disposição para o trabalho e sua alegria de viver, não deixou que eu desanimasse. Agradeço também a sua confiança em mim, a sua paciência, compreensão e apoio nos momentos difíceis... 9LQtFLXV &DOGHLUD %UDQW (LQ PHPRULDQ), que com seu espírito crítico, sua verve científica, sua postura política, sua ética, me inspiraram e me inspiram... No início professor e depois amigo... É com muita saudade que agradeço a ele todos os momentos felizes, profissionais e pessoais, que me marcaram e colaboraram para a minha formação como pessoa e como sociólogo. 0DULD-RVp, por tudo... Como é de praxe, todos os erros, equívocos e eventuais falhas neste trabalho é de total responsabilidade minha. 4 Ë1',&( ,QWURGXomRS &DStWXOR±$JrQFLDHPXGDQoDVRFLDOS ±7HRULDVGDDJrQFLDSULQFLSDLVFRUUHQWHVS &DStWXOR±&DSLWDOVRFLDOFRQFHLWRVHGHILQLo}HVS ±3LHUUH%RXUGLHXS ±5REHUW3XWQDPS ±-DPHV&ROHPDQS ±8PDYLVmRFUtWLFDGRFRQFHLWRGHFDSLWDOVRFLDOS ±&DSLWDOVRFLDOHYLROrQFLDS ±1RYDVWHQGrQFLDVGDDQiOLVHGDFULPLQDOLGDGHS &DStWXOR±0HWRGRORJLDS ±$VSHFWRVUHOHYDQWHVSDUDDGHILQLomRGRFDSLWDOVRFLDOS ±2SODQHMDPHQWRDPRVWUDOS ±$FRQVWUXomRGRTXHVWLRQiULRS &DStWXOR±$QiOLVHGRVGDGRVS ±$QiOLVHGHVFULWLYDS ±'DGRVGHPRJUiILFRVHVyFLRHFRQ{PLFRVS ±'DGRVVREUHRFDSLWDOVRFLDOS ±$QiOLVHIDWRULDOGRVGDGRVS &DStWXOR±&RQVLGHUDo}HVILQDLVS %LEOLRJUDILDS $QH[RVS 5 ,1752'8d2 Por que algumas localidades têm altas taxas de criminalidade e outras não? Esta pergunta há muito vem sendo feita não só por pesquisadores e administradores públicos, mas por toda a população leiga que, principalmente na última década, vem assistindo o crescimento assustador da violência. Observando pesquisas de opinião, discursos oficiais e promessas eleitorais, notamos que todos buscam por explicações e possíveis soluções para este grande drama nacional que é a violência, seja ela no espaço urbano ou rural. Tendo em vista estas preocupações, nosso objetivo é perceber, de modo exploratório, se há alguma associação entre o capital social1 e as taxas de criminalidade2, já que nosso instrumento de medida de capital social e os dados referentes à criminalidade contra pessoa não nos permite afirmar categoricamente a influência de um perante o outro. Sendo assim, nosso trabalho está dividido em 5 partes: Na primeira parte procuramos demonstrar o processo de consolidação do conceito de agência nas diversas fases da sociedade ocidental; para em um segundo momento destacar algumas escolas sociológicas que trabalharam com o conceito de agência. Por se tratar de um aspecto introdutório e em um certo sentido periférico no que diz respeito ao cerne deste trabalho, optamos por acolher as análises de Piotr Sztompka, em sua obra $ 6RFLRORJLD GD 0XGDQoD 6RFLDO, por acreditar que ela nos fornece subsídios consistentes aos nossos objetivos e, claro, sem nos esquecermos que outros pontos de 1 O conceito de capital social que utilizamos tem como matiz Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam. 2 Entre as mais diversas categorias de crimes, elegemos, como alvo do estudo, os crimes contra a pessoa. 6 vista são relevantes e necessários para o avanço do debate em torno da mudança social, mas por ora, não nos cabe aqui trazer. Na segunda parte, tratamos especificamente do conceito de capital social, onde destacamos os três autores básicos, utilizados em nosso trabalho: Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam. Aqui procuramos detalhar principalmente os dois últimos autores, pois foram eles que nos forneceram as idéias principais para a construção do questionário utilizado na coleta dos dados e destacamos dois estudos realizados nos E.U.A onde os autores correlacionam capital social e violência. Na terceira parte destacamos a metodologia, onde explicitamos o caminho utilizado para a construção do questionário, a escolha das vilas a serem pesquisadas, o cálculo amostral e a forma de coleta dos dados. Na quarta parte desenvolvemos a análise dos dados. Utilizando o programa estatístico SPSS, analisamos o comportamento distinto das duas comunidades diante das situações postas. Na quinta e última parte procuramos destacar alguns aspectos relevantes em nossas análises que nos permitisse perceber alguma associação entre o volume de capital social presentes nas comunidades e as taxas de criminalidade. Assim, reiteramos que o objetivo central deste trabalho foi o de consolidar o instrumento de medida de capital social e tentar perceber caminhos alternativos para a explicação da violência no cenário brasileiro. 7 &$3Ë78/2 $*Ç1&,$(08'$1d$62&,$/ Desde os primórdios que o homem, com sua curiosidade inata, procura compreender o mundo a sua volta; esta preocupação advém da busca das causas últimas dos eventos, das forças que movimentam os fenômenos e dos processos que no final influenciam seu destino. Com estas grandes preocupações, é evidente que o pensamento social e em particular a sociologia, se ocupasse em compreender tais indagações, e que as mesmas indagações se consolidassem como combustível que move a dinâmica social, a operação e a transformação da sociedade3. Como sugere Sztompka(1998[1993]), nesta linha evolutiva do pensamento humano, a agência foi gradualmente secularizada, humanizada e socializada. Entendemos a agência como o espaço onde se encontram as estruturas (capacidade de operação) e os agentes (capacidade de ação); é uma fusão de circunstâncias estruturais e capacidade propulsora. A agência é duplamente condicionada, desde cima, pelo equilíbrio entre restrições e limitações por um lado; recursos e facilitadores propiciadas pelas estruturas por outro; e desde baixo, pelas aptidões , talentos, habilidades, conhecimento e atitudes dos membros da sociedade; bem como organizações; sejam elas coletividades, grupos ou movimentos sociais. Historicamente, a agência teve início na esfera do sobrenatural, isto é, totalmente descolada do mundo humano e social; neste cenário fantasmagórico, deuses, forças animísticas ou forças metafísicas sustentavam a agência, que operando para além do mundo físico, controlava e conformava a vida individual e coletiva do homem. 8 Em uma etapa posterior da história do homem, a agência desce dos céus para habitar juntamente com os homens, a terra. As transformações sociais são aqui relacionadas com os processos naturais, físicos, biológicos, climáticos, geográficos e astronômicos. Temos neste momento, a secularização da agência, mas ainda distante da humanidade e da sociedade. Este processo descrito em poucas linhas, evidentemente, demandou séculos de história para se afirmar como alternativa de explicação dos fatos sociais. Em um momento posterior, temos a correlação entre a agência e o homem, ainda que não a qualquer homem. A agência é um recurso de apenas alguns eleitos, como os profetas, heróis, guerreiros, gênios, descobridores e inventores. As transformações sociais saíram das mãos destas pessoas que, com seu carisma inato, dado “geneticamente”, promoviam a mudança social. Neste momento histórico, temos a humanização da agência mas ainda não temos a sua socialização. Uma análise interessante da corrente estrutural-funcionalista demonstra que a responsabilidade das mudanças das sociedades (por oposição às mudanças na sociedade) estaria nas mãos dos indivíduos que se rebelam contra o HVWDEOLVKPHQW . Este aspecto é assim descrito por Dahrendorf: ³RV GHVYLRV RFRUUHP SRU UD]}HV VRFLRORJLFDPHQWH QmRFRQKHFLGDV H QmRFRQKHFtYHLV e XP YtUXV TXH DWDFD R VLVWHPD TXH YHP GDV SURIXQGH]DV GD SVLTXH LQGLYLGXDO RX GDV UHJL}HV QHEXORVDV GR PXQGR H[WHULRU´ (DSXG Sztompka, 1998[1993]p.328). 3 É necessário destacar que este movimento de transformação social acontece independente da teoria. 9 Continuando neste caminho “evolutivo”, com o aparecimento e consolidação da sociologia como ciência, há uma reviravolta na percepção da agência; neste caso ela é socializada e despersonalizada. A agência é corretamente localizada dentro da sociedade, mas o grande problema foi a percepção orgânica da sociedade que marcou o nascimento da sociologia. A sociedade é vista como um corpo social tendo uma totalidade que auto-regula e auto-transforma; a sociedade é literalmente interpretada como um organismo vivo, que nasce, cresce e se desenvolve, requerendo cuidados para que ele não pereça. Nesta realidade, a agência é um poder recorrente ao organismo social, ³pODQ YLWDO HVSHFtILFR PDV QmR DQDOLVDGR DGPLWLGD D SULRUL FRPR DOJR TXH VH PDQLIHVWD QHFHVVDULDPHQWH QD YLGD H QD PXGDQoD VRFLDO GH PDQHLUD GLUHFLRQDO H LUUHYHUVtYHO´ (Sztompka,1998[1993]p.328, grifo do autor) Esta visão grandiosa, de um poder acima do bem e do mal, coordenando as vidas dos homens, acompanhou o pensamento social por muitos anos; produzindo uma sociedade "sem homens"4. Após anos dominando a teoria sociológica, esta percepção da agência cai em desuso. A agência torna-se parte indissociável das ações dos indivíduos, neste momento ela é humanizada e socializada. A figura individual retorna ao cenário social como agente transformador mas com poderes delegados pela sociedade e não mais pela genética ou coisa que o valha. Na 10 realidade, estes indivíduos são a expressão maior das ³WHQV}HV HVWUXWXUDLV kQLPRV VRFLDLV H WUDGLo}HV KLVWyULFDV´, (Sztompka,1998[1993]p.329), eles agiam como condutores, na realidade, sabiam conformar a realidade para os outros, tinham o ³SRGHU GH HVWUXWXUDUUHODo}HVVRFLDLVGHDOWHUDURµWLSRGHMRJR¶HPTXHVHHQJDMDPRVDWRUHV GH PDQLSXODU RX PRGLILFDU D GLVWULEXLomR GRV UHFXUVRV H FRQGLo}HV TXH JRYHUQDP DV LQWHUDo}HVRXWURFDVHQWUHRVDWRUHVHQYROYLGRV´ (Sztompka1998[1993]p.329) Com o avanço da sociologia, a agência afasta-se dos “líderes sociais” e aproxima-se das funções sociais, principalmente das que podem efetivamente provocar mudanças sociais; neste ponto, emerge a preocupação com a legitimidade de seus "mandarins" e das funções. Com a transformação da teoria sociológica a todo vapor, a questão da agência novamente passa por transformações, sendo que a maior delas é a extensão da agência para todos os indivíduos, independentemente do VWDWXV ou posição na estrutura social. Como diz Sztompka, ³UHFRQKHFHXVHRyEYLRTXHXPLQGLYtGXRQmRWHPPDLVTXHXP PLQ~VFXOR SRGHU GH GHFLVmR QD PXGDQoD VRFLDO PDV DR PHVPR WHPSR TXH D PXGDQoDVRFLDOGHYHVHUWUDWDGDFRPRUHVXOWDGRFRPELQDGRGDTXLORTXHID]HPWRGRVRV LQGLYtGXRV 'LVWULEXWLYDPHQWH FDGD LQGLYtGXR p SRUWDGRU GH XPD DJrQFLD tQILPD SUDWLFDPHQWH LQYLVtYHO PDV SRGHURVRV´(1998[1993]p.329) FROHWLYDPHQWH RV LQGLYtGXRV VmR WRGR Esta profunda transformação do conceito de agência, teve o apoio de duas ciências correlatas à sociologia: a economia e a lingüistica. Da economia a sociologia retrabalhou o conceito da “mão-invisível” de Adam Smith, compreendendo assim que 4 Esta percepção acompanhou diversas matizes do evolucionismo e desenvolvimentismo, transformando- 11 múltiplas decisões podem ser tomadas por múltiplos atores sociais; quanto à lingüistica, a sociologia adaptou e compreendeu como os indivíduos podem criar, recriar e modificar seu próprio cotidiano similarmente ao que ocorre na linguagem. Com este instrumental, a sociologia torna-se mais capaz de compreender os fenômenos sociais e, mais especificamente, as possibilidades de mudança social. Na trilha destes avanços, temos Merton(1976) com sua noção de efeitos latentes, não pretendidos, da ação humana. Com esta teoria, a mudança social se consolida como um ³UHVXOWDGR DJUHJDGR H KLVWRULFDPHQWH DFXPXODGR GDTXLOR TXH ID]HP WRGRV RV PHPEURV GD VRFLHGDGH FRP EDVH HP VHXV SUySULRV PRWLYRV SDUWLFXODUHV H SURSyVLWRV HJRtVWLFRV´ (Sztompka,1998[1993],p. 330). Apesar desta ênfase mertoniana nos aspectos individuais e não pretendidos, devemos ressaltar que nem todas as pessoas atuam de maneira isolada; pois a noção de mudança planejada e o conceito de ação coletiva fazem parte da realidade moderna, que em um certo sentido complementa as mudanças espontâneas provocadas individualmente. Esta relação concomitante entre a mudança pretendida e não pretendida, entre individualidade e coletividade, faz com que a agência seja materializada nos agentes coletivos ou associativos (nem sempre, pois a agência pode se materializar nos indivíduos). Neste cenário, temos mudanças realizadas de cima para baixo, como no caso das ações governamentais, das grandes organizações, etc. Na outra ponta temos ações iniciadas de baixo para cima, como as associações de bairro, os grupos de pressão, as organizações não-governamentais, os OREELHVos movimentos sociais, dentre outros. ³$ FRPSOH[D LQWHUDomR HQWUH HOHV IRUPD R FHQiULR SROtWLFR GDV VRFLHGDGHV se ainda em um dos pontos fracos do funcionalismo ortodoxo 12 FRQWHPSRUkQHDV VHXV UHVXOWDGRV HVSHUDGRV FUX]DQGRVH FRP DV DWLYLGDGHV GLVSHUVDV GRV DWRUHV LQGLYLGXDLV OHYDGDV D FDER QR FHQiULR GD YLGD FRWLGLDQD ,QGLYtGXRV H FROHWLYLGDGHIRUPDPMXQWRVSRUWDQWRRFXUVRVLQXRVRGDKLVWyULDKXPDQD´ (Sztompka, 1998[1993],p.330) Assim temos o combustível que faz mover a sociedade: a relação íntima entre atores individuais e agentes coletivos, que produzem e reproduzem a realidade social. A seguir trabalharemos com alguns teóricos da mudança social, destacando suas principais contribuições para a teoria sociológica. 7HRULDVGD$JrQFLD3ULQFLSDLV&RUUHQWHV 2 FRQFHLWRGHPRUIRJrQHVHHP:DOWHU%XFNOH\ Em seu estudo publicado em 19675, Buckley procura, através da incorporação da teoria das trocas, do interacionismo simbólico, da teoria dos jogos e dos modelos de comportamento coletivo, revisar as análises estrutural-funcionalista e a teoria geral dos sistemas. Dentro do esquema sistêmico, o autor acreditava poder sintetizar os modelos de interação em uma teoria fundamental do processo sociocultural. 6LVWHPD$XWR5HJXODGR0RGHOR(VWUXWXUDO )XQFLRQDOLVWD Feedback Negativo Sistema Compensatório 6LVWHPDV0RUIRJrQLFRV 0RGHORGH%XFNOH\ Feedback Positivo Sistema Ampliado(Estrutura Construídas e Transformadas) ³2 PRGHOR VXS}H XP VLVWHPD GH FRPSRQHQWHV LQWHUDWLYRV HP SHUPDQHQWH DWLYLGDGH FRP XPD IRQWH LQWHUQD GH WHQVmR HVWDQGR R FRQMXQWR HQYROYLGR HP WUDQVDo}HV FRQWtQXDVFRPRVHXYDULiYHODPELHQWHH[WHUQRHLQWHUQRGHWDOPRGRTXHHVWH~OWLPR 13 WHQGHDVHWRUQDUVHOHWLYDPHQWHPDSHDGRGHDOJXPDIRUPDGHQWURGDHVWUXWXUDD PRUIRJrQHVHVHUHILULUijTXHOHVSURFHVVRVTXHWHQGHPDDSHUIHLoRDURXPRGLILFDUXPD GDGD IRUPD HVWUXWXUD RX HVWDGR GR VLVWHPD´ (Buckley DSXG Sztompka, 1998[1993], p.331) O aspecto positivo desta teoria encontra-se nas possibilidades de ação do funcionamento social, mas ao mesmo tempo reafirma certos automatismos dos modelos orgânicos e mecanicistas que ele queria combater. $ VRFLHGDGHDWLYDGH$PLWDL(W]LRQL Etzioni inicia a discussão sobre a agência propondo uma “sociedade ativa”, cuja essência está na noção de mobilização e ativação social. Partindo deste ponto, o autor desenvolve a teoria do direcionamento societário, onde os impulsos mobilizatórios das coletividades e das sociedades são os fatores responsáveis da transformação social. ³1D PHGLGD HP TXH VH PRELOL]D XPD XQLGDGH VRFLDO WHQGH D PRGLILFDU D VXD SUySULD HVWUXWXUDHOLPLWHVEHPFRPRDHVWUXWXUDGDVXSUDXQLGDGHGDTXDOID]SDUWH´(Etizioni DSXGSztompka, 1998[1993] , p.332) O autor acredita que a sociedade está em permanente movimento, transformando-se constantemente, tendo os indivíduos como os principais responsáveis por estas mudanças. A capacidade de transformação dos homens, materializa-se nas coletividades, nos grupos e nas organizações sociais, sendo conceituado de ação coletiva. 5 6RFLRORJ\DQG0RGHUQ6\VWHPV7KHRU\(QJOHZRRG&OLIIV3UHQWLFH+DOO 14 ³8PD WHRULD GR GLUHFLRQDPHQWR S}H D TXHVWmR GH FRPR XP GDGR DWRU GLULJH XP SURFHVVR H GH FRPR HOH PRGLILFD D HVWUXWXUD H OLPLWHV GH XPD XQLGDGH $ WHRULD GR GLUHFLRQDPHQWRVRFLHWiULRS}HDOpPGLVVRDTXHVWmRGHFRPRXPDGDGDHVWUXWXUDIRL PRGHODGD FRPR p PDQWLGD FRPR SRGH VHU DOWHUDGD RQGH VH ORFDOL]DP RV IRFRV GH SRGHUTXHPFRPDQGDRFRQKHFLPHQWRHTXHPWHPFDSDFLGDGHGHGHWHUPLQDU´(Etzioni DSXGSztompka, 1998[1993],p.332) $ODLQ7RXUDLQHHDFRQWULEXLomRIUDQFHVD A partir da década de 1970, a escola francesa insere-se no debate sobre a agência; é um momento especial, pois sabidamente a França é um reduto da teoria estruturalista. Criticando a postura desenvolvimentista e estruturalista da análise sociológica, Touraine cria a “sociedade autoprodutiva”, como um IURQW em defesa da ação. As velhas correntes sociológicas, de acordo com Touraine, subordinavam o senso de ação coletiva a imutáveis leis e exigências históricas, tornando o homem um mero apêndice da análise sociológica. Era preciso trazer o homem novamente a cena, como agente da história, transformador da realidade social. Nesse sentido, a sociedade torna-se fruto dos esforços humanos, não mais que ³R UHVXOWDGRLQVWiYHOHEDVWDQWHLQFRHUHQWHGDVUHODo}HVVRFLDLVHGRVFRQIOLWRV VRFLDLV´. (Touraine DSXG Sztompka,1998[1993],p.333) Assim, a sociedade torna-se produto da ação coletiva, tendo para o pensador francês, os movimentos sociais como vanguarda da transformação social. ³2PRYLPHQWRVRFLDOpDQWHVGHWXGRXPDWRUXPD YH] TXH D UHDOLGDGH KLVWyULFD p FRQVWUXtGD DWUDYpV GRV FRQIOLWRV H QHJRFLDo}HV GH PRYLPHQWRVVRFLDLVTXHFRQIHUHPXPDIRUPDVRFLDOHVSHFtILFDjVRULHQWDo}HVFXOWXUDLV´ (Touraine DSXG Sztompka1998[1993],p.334).Assim sendo, os movimentos sociais 15 tornam-se fundamentais para a análise da mudança social. É relevante a correlação que ele traça ao vincular a decadência da análise evolucionista e a ascensão dos movimentos sociais como atores principais da realidade social e o surgimento da sociedade pósindustrial. Esse movimento proporciona o aparecimento das capacidades de autoatividade dos atores sociais, tornado-os produtos de sua própria ação. A escola francesa6 rejeita o viés historicista e determinístico da realidade social. Em termos gerais, a mudança social é tida como um processo de estruturação e reestruturação contínua, onde os atores sociais respondem aos problemas e desafios que enfrentam na vida diária. As soluções são criadas a partir de jogos sociais, das negociações, barganhas, conflitos e cooperação. ³$WLYLGDGHV FROHWLYDV GHVVH JrQHUR VmR LQHUHQWHPHQWH FULDWLYDV GHYLGR DR PHFDQLVPR GR µDSUHQGL]DGR FROHWLYR¶ HP TXH DV GHVFREHUWDV H LQRYDo}HV LQGLYLGXDLV WRUQDPVH SUiWLFDV VRFLDLV FRPSDUWLOKDGDV HPEXWLQGRVH QR VLVWHPD (P FRQVHTrQFLD DV FDUDFWHUtVWLFDV GR VLVWHPD VmR PRGLILFDGDV SRGHQGR UHVXOWDU QD WUDQVIRUPDomR GRV SUySULRV PHFDQLVPRV GH WUDQVIRUPDomR ,QH[LVWH PXGDQoD QHFHVViULD LQHYLWiYHO RX QDWXUDO R PXQGR VRFLDO p IXQGDPHQWDOPHQWH LQGHWHUPLQDGR RX SHOR PHQRV ³VXEGHWHUPLQDGR´ WRGD PXGDQoD UHVXOWD GD LQYHQomR FULDomR H LQYHVWLJDomR KXPDQDV´ ( Sztompka, 1998[1993], p.335) Assim, para a escola francesa, o aprendizado coletivo é um dos mais importantes mecanismos de auto-transformação social. 16 $QWKRQ\*LGGHQVHDWHRULDGDHVWUXWXUDomR Concomitantemente a reação francesa em defesa da ação, Giddens surge na Inglaterra propondo a teoria da estruturação; como uma forma de afastamento das correntes sociológicas que defendiam a reificação das totalidades sociais e a determinação social dos atores. Criticando a noção de estrutura, Giddens afirma que a sociedade é fluida, mutável e totalmente contingente da realidade social; ele destaca que o único substrato ontológico são as ações e interações dos sujeitos humanos. A partir deste ponto, Giddens sugere a transformação da noção estática de estrutura pela dinâmica do conceito de estruturação, tida como a conduta da coletividade humana. O objetivo central da proposta de Giddens é a produção e a reprodução da sociedade. Para Giddens, analisar a estruturação de um sistema social é estudar as diversas maneiras na qual ele é produzido e reproduzido, interagindo com as vias de aplicação das regras e recursos generativos em contextos impremeditados. As regras e recursos usados pelos atores são reformulados pelo próprio uso, ³DVSURSULHGDGHVHVWUXWXUDLVGRVVLVWHPDVVRFLDLVVmRWDQWRPHLRTXDQWRSURGXWR GDV SUiWLFDV TXH FRQVWLWXHP RV SUySULRV VLVWHPDV´ (Giddens DSXG Sztompka,1998[1993],p.336). Aqui temos a explicitação do conceito da dualidade da estrutura. Para Giddens, o agente, seja individualmente seja em grupos, é fundamental na teoria da estruturação; são suas ações cotidianas que constituem o cerne da teoria. De maneira surpreendente, Giddens eleva o indivíduo, assegurando-o na consciência das condições e conseqüências dos seus atos. 6 Esta corrente da escola francesa é centrada em Crozier e Friedberg, cuja a problemática é relacionada às organizações, destacando a interdependência entre atores e sistemas. 17 Evidente que Giddens não trilha o caminho da ingenuidade afirmando total conhecimento de todas as motivações dos atos bem como a total consciência destes atos, por parte dos atores sociais. Admite-se que em algum momento não há o conhecimento das condições e que alguns resultados das ações não são previstos. Como resultado temos que, apesar da história ser construída a partir da contingência da atividade humana, criada e recriada a partir das ações e atividades intencionais produzidas pelos indivíduos, ela não é um projeto premeditado, mas sim o resultado de esforços que buscam uma direção mais consciente. Outro aspecto relevante destacado por Giddens, e muito pouco relevado pelos sociólogos, está na (aparentemente simples) constatação da implicação do tempo e espaço na ação humana. Esta relação é fundamental para uma análise acerca da teoria da agência, como destaca Giddens, ³D FRUSRUDOLGDGH LPS}H OLPLWDo}HV HVWULWDV VREUH DV FDSDFLGDGHV GH PRYLPHQWR H SHUFHSomR GR DJHQWH KXPDQR´ (DSXG Sztompka, 1998[1993],p.336) Com Giddens a agência é corporificada nos seres humanos individuais, retira-se dos sistemas e das coletividades a responsabilidade da mudança, é na conduta cotidiana das pessoas comuns, quase sempre sem a preocupação reformista, que molda e transforma as sociedades humanas. $ HVFRODGH8SSVDODDWHRULDGRVVLVWHPDVQRUPDWLYRV A teoria dos sistemas normativos, na figura de Tom Burns e Helena Flam(1987), procura construir uma ponte na dicotomia entre agência-estrutura, mas de maneira distinta de Giddens; eles afirmam que não são os atores que conformam, mas as estruturas que são conformadas, sendo vistas como um complexa rede de relações. 18 Para a escola sueca7, toda e qualquer atividade humana, em toda a sua magnitude, é conformada por normas e sistemas normativos previamente determinados pela coletividade. Como ressalta Sztompka (1998[1993]), a grande contribuição desta corrente foi a sofisticada análise das regras sociais, que produzem as estruturas da história humana. Burns e Flam (1987) dividem a estrutura em três grupos: sistemas, regimes e gramáticas normativas. O sistema normativo consiste em regras inter-relacionadas com o contexto em que ela está inserida e temporalmente especificadas para regular as transações sociais; os regimes normativos são decisivos, já que estão apoiados nas sanções sociais e redes de poder e controle, tornando-se assim, algo externo ao homem; os regimes são materializados nas sociedades sob a forma de instituições. Trazendo para o âmbito individual, os sistemas normativos tornam-se "gramáticas generativas da ação social" que são cooptadas pelos atores sociais para estruturar e regular as transações mútuas na esfera social. Destaca-se que esta rede normativa complexa e multidimensional, ao contrário do significado dado a ela por Durkheim(1995[1893]), é construída pela ação humana; são os próprios homens que constróem e transformam os sistemas normativos, sendo que estes impõem-se diante da ação humana. ³2V VLVWHPDVVRFLDLVQRUPDWLYRVRUJDQL]DPHUHJXODPDVWUDQVDo}HVVRFLDLVWDLVFRPR D QHJRFLDomR RX D FRPSHWLomRSROtWLFDHPWHUPRVGHTXHPWHPGLUHLWRGHSDUWLFLSDU 19 TXDLV WUDQVDo}HV VmR DSURSULDGDV RX OHJtWLPDV RQGH H TXDQGR DV WUDQVDo}HV SRGHP VHUHIHWXDGDVFRPRVmRHIHWXDGDVHDVVLPSRUGLDQWH$RPHVPRWHPSRRVSURFHVVRV WUDQVDFLRQDLV VmR HVVHQFLDLV SDUD D IRUPDomR H WUDQVIRUPDomR GRV VLVWHPDV QRUPDWLYRV EHP FRPR SDUD D VXD LQWHUSUHWDomR H LPSOHPHQWDomR´ (Burns e Flam, DSXG Sztompka, 1998[1993], p.339) Para a escola sueca, os atores sociais transformam através de suas ações as próprias condições de suas ações. 7HRULD GD PRUIRJrQHVH DSHUIHLoRDGD FRQWULEXLo}HV GH 0DUJDUHW $UFKHU SDUD D TXHVWmRGDDJrQFLD A autora inglesa entra no debate propondo uma nova noção de agência, para isto aprimora a teoria da morfogênese. Nesta teoria, o único aspecto que distingue os sistemas sociais dos sistemas orgânicos e mecânicos é a sua capacidade de reestruturação. Avançando na análise, Archer credita à ação humana esta capacidade de transformação. A noção central da morfogênese refere-se às interações complexas entre estrutura e ação que produzem determinadas mudanças em um sistema. Ao estudar a relação entre estrutura e ação, Archer desenvolve o princípio de “dualismo analítico”, contrapondo-se a dualidade conceitual. O dualismo analítico considera a ação e a estrutura analiticamente isoláveis, pois as propriedades emergentes que caracterizam os sistemas socioculturais implicam em descontinuidades entre as interações iniciais e os resultados alcançados. A dualidade 7 A escola sueca tem origem na ontologia normativa do mundo social elaborada por Torgny Segerstedt(1966), onde a interação e cooperação pressupõem normas comuns. 20 conceitual se destaca por retirar toda e qualquer autonomia e independência seja da estrutura, seja da ação, ou de ambas. Para Archer o dualismo analítico destaca-se ao propor uma relação constitutiva entre ação e estrutura, que impede uma clara descrição da influência de um pelo outro; este argumento refere-se ao fato de que a ação e a estrutura são de fato distintas, pois o “condicionamento estrutural”, a “interação cultural” e a conseqüente “transformação cultural” ocorre em momentos distintos. ³$HVWUXWXUDSUHFHGHORJLFDPHQWHDDomRTXHD WUDQVIRUPDHRDSHUIHLoRDPHQWRHVWUXWXUDOVXFHGHORJLFDPHQWHDTXHODVDo}HV R DSHUIHLoRDPHQWRFXOWXUDOpRIXWXURIRUMDGRQRSUHVHQWHHODERUDGRFRPDKHUDQoDGR SDVVDGRSRUPHLRGDLQRYDomRDWXDO´ ( Archer DSXG Sztompka, 1998[1993], p.340) Dentro deste espectro, Archer termina sua análise destacando que a estrutura é o meio condicionante e o produto elaborado da interação; a agência reforma e é reformada pela estrutura enquanto transforma a si mesma no processo. É em síntese, uma visão dialética da relação entre ação-estrutura, sendo de fundamental importância a localização desta relação no tempo histórico. &RQFOXV}HVDFHUFDGDUHODomRDJrQFLDHPXGDQoDVRFLDO Ao encerrar a explanação acerca do desenvolvimento teórico sobre a agência e mudança social (mesmo que de forma sucinta) alguns aspectos tornam-se relevantes e até mesmo fundamentais na compreensão da realidade social. É importante destacar que a relação entre a ação e a estrutura sempre foi alvo da análise sociológica; partindo da oposição entre os conceitos, houve, e ainda há, uma preocupação em aproximá-los. 21 Tendo esta preocupação, Sztompka(1998[1993]) destaca um conjunto de seis pressupostos ontológicos baseados nas teorias da agência acima descritas. Nestes pressupostos, a sociedade é vista como um processo em constante mudança; a mudança ocorre principalmente de dentro para fora, criando um mecanismo de autotransformação; a mudança é movida pela capacidade dos indivíduos humanos e coletividades sociais; o sentido, o objetivo e a velocidade são ditadas pela disputa entre os diversos agentes, sendo motivos de lutas e disputas; a ação ocorre em uma estrutura previamente construída (a estrutura molda e é moldada e os atores produzem e são produzidos); por fim, a relação entre a ação e a estrutura é dada no tempo, alternando “criatividade motriz” e “determinação estrutural”. Assim, a relação entre agência e estrutura torna-se central na análise sociológica contemporânea, merecendo, com isto, alternativas metodológicas e conceituais para o aprofundamento da questão. Nesse sentido, acreditamos que o conceito de capital social poderia auxiliar no entendimento da relação ação-estrutura, bem como nos aspectos relativos à mudança social. A contribuição da idéia de capital social é significativa por que há uma preocupação dos teóricos em aproximar as ações individuais e as estruturas sociais; para esta vertente da sociologia é possível a mudança social através das ações positivas, que são sustentadas pelos sentimentos de confiança, participação cívica, reciprocidade, proatividade, dentre outros. Diversas pesquisas estão sendo realizadas, principalmente nos Estados Unidos, procurando detectar os mecanismos do capital social que favorecem a mudança social 22 dentro de uma estrutura pré-estabelecida. Há, como destacou Archer(1988), uma relação dialética entre a ação e a estrutura, e nesta interação, o capital social seria importante, como combustível das transformações sociais. É nesta direção que centramos nossa análise; pois queremos avaliar o real impacto do capital social no comportamento social (individual ou coletivo) dentro de uma realidade dada e em constante transformação. É possível correlacionarmos o volume de capital social presente em uma comunidade com suas características sócio-econômicas e políticas? A qualidade de vida de um dado local estaria diretamente ligada aos aspectos relevantes do capital social? Assim, a nossa pesquisa procura identificar uma associação entre o capital social e as taxas de criminalidade em duas vilas de Belo Horizonte. Nosso objetivo é perceber se o comportamento social nestes locais estaria influenciando positivamente na contenção da criminalidade, ou seja, o capital social estaria de alguma forma reformulando a estrutura social e vice-versa, possibilitando alternativas às políticas públicas de combate à criminalidade? A seguir iremos discorrer sobre o conceito de capital social, destacando os principais teóricos que trabalham com a questão: Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam. 23 &$3Ë78/2 &$3,7$/62&,$/&21&(,726('(),1,d®(6 O conceito de capital social é construído, embora de maneiras distintas, inicialmente por Bourdieu (1986[1983])8 e Coleman (1988,1990); ambos apontam para características que ressaltam sentimentos de reciprocidade nas relações de interação social. Coleman (1990) define o capital social como os recursos produzidos pela interação social entre os indivíduos ou grupos, que resultam, por exemplo, em confiança e credibilidade. Estes recursos, quando disponíveis, facilitam a ação social seja dos indivíduos seja de grupos ou comunidades9. Quanto maior a produção destes recursos, maior a possibilidade de desenvolvimento dos indivíduos, dos grupos ou da comunidade. Coleman destaca que o conceito de capital social não é uma entidade única, ele possui uma variada gama de manifestações que encontram-se na estrutura social e que facilitam a ação dos indivíduos dentro desta estrutura. ³'LIHUHQWHPHQWHGH RXWUDV IRUPDV GH FDSLWDO R FDSLWDO VRFLDO VLWXDVH QD HVWUXWXUD GDV UHODo}HV HQWUH DV SHVVRDV GH XPD FRPXQLGDGH (OH QmR VH HQFRQWUD QHP QRV LQGLYtGXRV QHP QRV LPSOHPHQWRVItVLFRVGDSURGXomR´(Coleman, 1990, p.302). Robert Putnan (1996 [1993]) em seu estudo sobre a comunidade e democracia na Itália moderna, ressalta a intensa relação entre capital social e cultura cívica10, para ele a única 8 Bourdieu (1986) acredita que o capital social é a somatória dos recursos reais ou virtuais, produzidos pelas redes de relacionamentos de mútuo entendimento e reconhecimento, à disposição dos indivíduos ou grupos. 9 Embora Coleman reconheça a presença de capital social em grupos e comunidades, centra a sua análise no indivíduo. 10 Putnam caracteriza a cultura cívica a partir da atuação dos cidadãos, imbuídos de espírito público; por relações políticas igualitárias e estruturas sociais baseada na confiança e na colaboração. 24 forma de capital social. Isto nos impede de detectar outras formas de capital social, principalmente nas esferas da credibilidade e confiança mútua, aspectos que podem estar presentes em comunidades com uma estrutura social sem uma tradição cívica mais forte. 11 Apesar das polêmicas em torno do conceito de capital social e das possibilidades de produção de relações conflituosas entre os indivíduos e grupos, sugerimos que a definição do conceito contemple os aspectos que Coleman e Putnam destacam; como a cultura cívica, a crença entre os membros da comunidade, o envolvimento nas questões comunitárias, uma boa relação entre a vizinhança, dentre outros. De acordo com a literatura consultada, estas questões são fundamentais para a prosperidade econômica e para o desenvolvimento sustentável; fatores preponderantes para uma sensível melhoria nas esferas da saúde, educação, meio-ambiente, segurança pública, etc. Assim sendo, destacaremos a posição de Bourdieu, Coleman e Putnam em relação ao capital social, procurando sublinhar as principais características de cada autor em relação ao conceito. 3LHUUH%RXUGLHX Podemos considerar as análises de Bourdieu como precursoras no que tange à visão contemporânea do conceito de capital, nesse sentido, autores que serão aqui trabalhados, têm, de alguma maneira, fortes influências do autor francês. 11 Devemos destacar que nem sempre o capital social resulta em efeitos positivos na comunidade (Paxton,1999), como ressalta Onyx et al. (1997) a Klu Klux Klan pode ter sido resultado do capital social disponível para a comunidade branca do sul dos E.U.A. 25 Para Bourdieu, o mundo social é um retrato fiel da história humana, com todos os seus percalços e sucessos. Assim, Bourdieu aponta para a necessidade da reintrodução do conceito de capital e as conseqüências advindas de seu acúmulo para a análise social. Inicialmente, o capital é visto como um acúmulo de trabalho que, quando apropriado de maneira privada, seja por agentes ou por grupos constituídos, possibilita a apropriação da energia social, seja em forma reificada do trabalho, seja em forma do trabalho vivo. O capital constituído desta maneira, objetivamente ou personificado, reveste-se de uma capacidade potencial em produzir lucros e, ao mesmo tempo, em se auto-reproduzir, na mesma proporção ou de maneira expandida. A estrutura social, que permite a distribuição de diferentes tipos e sub-tipos de capital, em um dado momento, no tempo e espaço, representa a estrutura social do mundo social. Assim sendo, Bourdieu acredita na impossibilidade de analisar a estrutura e o funcionamento do mundo social sem a reintrodução do conceito de capital, em todas as suas formas, não só na forma econômica. A teoria econômica reduz a análise do capital, centrando-se na perspectiva da troca, produzindo assim, subjetiva e objetivamente, uma orientação para a maximização do lucro. A ênfase economicista impede a percepção não-econômica do capital. Esta visão reduzida é questionada por Bourdieu, pois tanto o capital cultural quanto o capital social podem ser, em algum momento, intercambiados para a esfera econômica. 26 ³2FDSLWDOSRGHVHDSUHVHQWDUGHWUrVPDQHLUDVIXQGDPHQWDLVFRPRFDSLWDOHFRQ{PLFR TXH pLPHGLDWDPHQWHHGLUHWDPHQWHFRQYHUWLGRHPGLQKHLURHSRGHVHULQVWLWXFLRQDOL]DGR VRE D IRUPD GH GLUHLWR GH SURSULHGDGH FRPR FDSLWDO FXOWXUDO TXH p FRQYHUWLGR VRE FHUWDV FRQGLo}HV HP FDSLWDO HFRQ{PLFR H SRGH VHU LQVWLWXFLRQDOL]DGR QD IRUPD GH TXDOLILFDomR HGXFDFLRQDO H FRPR FDSLWDO VRFLDO SURGX]LQGR REULJDo}HV VRFLDLV TXH p FRQYHUWLGRVREFHUWDVFRQGLo}HVHPFDSLWDOHFRQ{PLFRSRGHQGRVHULQVWLWXFLRQDOL]DGR QDIRUPDGHWtWXORVQRELOLiUTXLFRV´(Bourdieu, 1986[1983] p.243) Apesar dos três tipos de capital relatados por Bourdieu12, destacaremos apenas o capital social, que é o objetivo deste trabalho. &DSLWDO6RFLDOHP%RXUGLHX O autor inicia destacando que o capital social é um agregado de recursos, reais ou latentes, que estão presentes nas relações sociais mais ou menos institucionalizadas, tendo um acordo e reconhecimento mútuo dos participantes desta interação. O volume de capital social de cada agente depende diretamente do tamanho e intensidade das conexões que ele efetivamente mobiliza a seu favor, aliado à presença de outras formas de capital, como por exemplo o econômico e o cultural; demonstrando, com isto, que o capital social não é totalmente independente de outras formas de capital. Bourdieu destaca que as redes de relações sociais não são dadas naturalmente, mas são produções de ações estratégicas, individuais ou coletivas, conscientes ou inconscientes, que estabelecem ou reproduzem as relações sociais. 27 Este estabelecimento ou reprodução das relações sociais transforma as relações contingentes, como por exemplo a vizinhança, o local de trabalho, etc. Tais relações também produzem elos de obrigações subjetivas (sentimentos de gratidão, respeito, amizade, etc.) que criam e potencializam o capital social. Nesse aspecto, Bourdieu individualiza o capital social, pois delega às pessoas a “responsabilidade” da transformação social, ao contrário da escola americana que procura estabelecer uma relação de mão-dupla entre o indivíduo e sociedade, coletivizando as possibilidades de transformação. -DPHV&ROHPDQ Coleman parte do princípio de que a construção do conceito de capital social proporciona a introdução da estrutura social para dentro do paradigma da ação racional. Para esta empreitada, o autor parte da descrição das possibilidades de entendimento da ação social. Ele divide o pensamento sociológico em dois grupos; o primeiro parte da noção de indivíduo socializado a partir de normas sociais, regras e obrigações; conforme Coleman, esta percepção possibilita a descrição da ação dentro de um contexto social, elucida como a ação é formada, construída e redirecionada pelo contexto social. O segundo grupo concorda com os paradigmas das ciências econômicas, que defende a 12 É importante destacar que no livro ‘Practical Reason” (1998[1994]) Bourdieu amplia o leque de capital, destacando, dentre outros, o capital burocrático. 28 busca de metas a partir de ações individuais, calcadas em interesses próprios; é a consolidação do princípio da relação ação/utilidade. 13 Dentro desta disputa teórica por uma melhor explicação da realidade social, Coleman acredita na possibilidade de uma terceira via, unindo aspectos da teoria da ação racional e do estruturalismo. Para ele, aceitar os princípios da ação em conjunto com contextos sociais particulares pode contribuir para a compreensão não apenas de ações individuais em contextos particulares, mas pode também propiciar o desenvolvimento das organizações sociais. É neste contexto que James Coleman propõe uma nova ferramenta conceitual para a análise social, a qual ele chama de capital social. Para ele, o capital social pode ser definido como recursos sociais (crença na estrutura social, relações de amizade e confiança, dentre outros) utilizados pelos indivíduos para realizar seus interesses. Partindo desta nova noção, Coleman procura apontar as falhas e deficiências da concepção estrutural e da concepção racional que divide a sociologia. Na concepção estrutural, o ator não é o motor da ação; ele é formado pelo meio ambiente no qual vive , estando à margem dos processos de escolha, pouca ou nenhuma alternativa é dada aos indivíduos. A concepção racional, por sua vez, procura construir seus argumentos a partir da realidade empírica; onde as ações individuais são formadas, redirecionadas e construídas pelo ator social. As normas, a confiança interpessoal, os elos de sociabilidade e a organização social são importantes não apenas para o funcionamento da sociedade mas para o funcionamento da economia. Dentro da 13 Este princípio tem propiciado o crescimento e a consolidação de correntes filosóficas filiadas ao utilitarismo, 29 concepção da ação racional temos alguns teóricos que se auto intitulam “economistas neo-institucionais”. Dentro da dificuldade das duas correntes sociológicas em se acordarem a respeito das noções de ação e da estrutura, estes teóricos buscam alternativas onde aproximam, ou supõem que aproximam, a estrutura e a ação e vice versa. Ben-Porath (1980) desenvolveu uma teoria que chamou de )FRQQHFWLRQ ( IULHQGV IDPLO\ DQG ILUP) onde utiliza uma bibliografia centrada na antropologia, na sociologia e na economia, para demonstrar que as formas de organização social afetam as trocas econômicas. Willianson (1975,1981) acredita que as atividades econômicas são organizadas de forma distinta, adequando-se às diferentes formas institucionais, sejam elas em nível micro-econômico, sejam elas em nível macro-econômico. Resumindo, esta corrente procura mostrar como as instituições econômicas particulares surgem e quais são seus efeitos no funcionamento do sistema social. Nesta discussão, Granovetter(1985) entra questionando as bases teóricas dos neoinstitucionalistas, argüindo que eles falham por não reconhecerem a importância das relações sociais concretas e os elos de relações, o que ele denomina HPEHGGHGQHVV. Podemos acreditar que a idéia de Granovetter acerca do HPEHGGHGQHVV é uma tentativa de introduzir na análise econômica dos sistemas sociais e das relações sociais, uma visão de estrutura com história e continuidade que dão um efeito independente do funcionamento dos sistemas econômicos e não uma estrutura como plataforma para o cumprimento das funções econômicas. Coleman diferencia-se das correntes acima, pois acredita nos princípios da ação racional para a análise dos sistemas sociais, mas acredita também ser necessária a extensão desta contratualismo, direitos naturais e a teoria econômica neoclássica. 30 análise para além das fronteiras dos sistemas econômicos, incluindo assim, em sua análise, a compreensão da organização social. Com isto ele elege o conceito de capital social como a ferramenta mais adequada para esta empreitada. $V%DVHVGR&RQFHLWRGH&DSLWDO6RFLDO Para Coleman, uma das grandes deficiências ao introduzir a teoria da troca na sociologia é a sua limitação às análises microssociais, que impede a utilização da maior virtude da teoria econômica: a habilidade em fazer a transição micro-macro nos sistemas sociais. Trabalhando a princípio com a teoria da ação racional, onde os atores têm certa autonomia e controle sobre os recursos disponíveis para a realização de suas metas, o conceito de capital social é uma espécie de recurso particular utilizado no momento das escolhas. Aqui ele é definido como uma função que possibilita e facilita a ação dos atores ou grupos de atores ou mesmo corporações dentro da estrutura social. Como outros aspectos de capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de determinadas metas; ao contrário do capital físico (aspectos meramente econômicos) e humano (qualificação profissional, formação escolar formal, etc.), o capital social não pode ser medido ou aferido facilmente, mas é possível especificá-lo utilizando como medida certos comportamentos sociais. O capital social é apontado como facilitador de certas ações que podem ser úteis ou não para a comunidade. Diferentemente de outros tipos de capital, o capital social surge das relações sociais, independente desta relação se passar em nível micro ou macro. 31 Centrando sua análise nas relações entre pessoas, Coleman demonstra como o capital social se manifesta nas relações sociais descrevendo alguns episódios. O primeiro exemplo que ele destaca, refere-se ao comércio de diamantes; a negociação neste mercado é bastante fechada, exigindo um alto grau de confiança entre as partes. As relações familiares, comunitárias ou religiosas são bastante valorizadas nas transações. Em Nova Iorque este comércio está basicamente centrado nas mãos da comunidade judaica, o que permite uma real avaliação das peças e uma garantia da qualidade do produto e do recebimento das vendas. O segundo exemplo destacado por Coleman foi retirado da imprensa; consiste na atuação dos estudantes sul-coreanos nas manifestações contra as ações governamentais de seu país. Como observa o jornal, os estudantes são, em sua grande maioria, pertencentes à mesma escola, ao mesmo bairro ou à mesma igreja, ou seja, são pertencentes ao mesmo círculo de relações. Esta proximidade proporcionada pela escola, pela vizinhança ou pela igreja facilitou a fundação de círculos de estudos na qual eram organizados os protestos. Como relata Coleman, as organizações civis são fomentadoras, com bastante eficiência, de capital social. O terceiro exemplo relata a história de uma dona-de-casa, moradora de Detroit, que em busca de paz e liberdade para seus filhos, muda para Jerusalém. De acordo com Coleman, o grau de capital social presente nas duas comunidades pode explicar as diferenças de comportamento das pessoas que, em último caso, gera a paz e a segurança esperada. Em Jerusalém, as pessoas procuram se envolver mais profundamente nas questões locais, procuram, de uma maneira geral, cuidar do seu bairro, auxiliar as crianças nas praças e parque etc., o que não é possível, ou pelo menos não é detectado 32 nas grandes cidades norte-americanas. Estas diferenças, que no final traduzem-se em qualidade de vida, são explicadas, para Coleman, pelo nível de capital social presente em cada comunidade; quanto mais alto o nível de capital social maior a participação e preocupação com as questões locais da comunidade. O quarto e último exemplo de Coleman passa-se nos mercados da cidade do Cairo, Egito. Estes mercados são caracterizados pela presença dos laços familiares, os quais se reafirmam pelas indicações de outros estabelecimentos caso não tenha a mercadoria procurada, pela troca de dinheiro, etc. enfim, pela criação de obrigações e expectativas. Ou seja, o objetivo maior é a criação de obrigações que venham afirmar e consolidar os elos familiares, proporcionando uma forte estrutura social capaz de auxiliar seus membros em momentos difíceis da vida. Estes exemplos demonstram como o capital social age na sociedade, de maneira independente da esfera econômica, embora mantenha relações íntimas com esta, principalmente no que se refere à racionalidade da ação. 2V$VSHFWRVGR&DSLWDO6RFLDO O grande valor do conceito de capital social está, na visão de Coleman, na possibilidade de identificar certos aspectos funcionais da estrutura social. A função identificada pelo conceito de capital social refere-se aos aspectos da estrutura social que proporciona aos atores sociais recursos para a realização de seus interesses. 33 Coleman destaca que utilizando o conceito de capital social podemos observar diferentes resultados da ação individual, fazendo a transição entre o micro e o macro, sem utilizar uma análise mais acurada da estrutura social, ou seja, através das ações individuais podemos diagnosticar de forma mais abrangente e generalizadora as transformações das sociedades. Apesar de acreditar neste ponto de vista, Coleman não renega as possibilidades de investigar os detalhes das estruturas sociais para a análise sociológica, mesmo para explicar casos particulares; a maneira como a estrutura estaria agindo nos casos particulares. O que o autor deseja com o seu conceito de capital social é destacar cada recurso oferecido aos atores sociais e mostrar as possibilidades de combinação destes recursos com outros recursos para a formação de diferentes níveis de comportamento, ou em outros casos, diferentes resultados individuais. $V5HODo}HV6RFLDLVHD3URGXomRGH&DSLWDO Obrigações, expectativas e confiança: Coleman trabalha as relações entre obrigações, expectativas e confiança a partir de um modelo teórico desenvolvido por ele. Se $ realiza alguma coisa para % e acredita que % retribuirá no futuro, estabelece-se uma expectativa em $ e uma obrigação em % esta obrigação pode ser transformada em FUHGLWVOLS O FUHGLWVOLS pode ser comparado ao capital financeiro, onde alguns detêm o crédito que pode ser recuperado a qualquer momento quando necessário; isto se não houver uma quebra do acordo, mesmo que este seja implícito, como a maioria das transações informais presentes na vida social. Este aspecto de capital social depende de dois 34 fatores primordiais: o primeiro é a confiança no meio-ambiente social, pois ele deve passar a certeza de que as obrigações serão cumpridas; e o segundo é a extensão atual das obrigações que serão honradas. Um exemplo são os consórcios realizados em comunidades de baixa renda nas pequenas cidades do sudeste asiático, onde grupos de amigos depositam mensalmente uma quantia pré-estabelecida em prol de um dos membros do consórcio ( Q pessoas, Q contribuições); esta ação é caracterizada pela confiança e obrigação entre os membros dos grupos . Para Geertz (1962) esta é uma eficiente forma de ativação do desenvolvimento econômico de comunidades de baixa renda; para Coleman, atitudes parecidas seriam impensadas em mercados de grandes áreas urbanas com altos índices de desagregação social, onde o grau de confiança é baixo e com isto a possibilidade da quebra do contrato é alta. É o que se chama áreas de baixo capital social. Estas diferenças podem aparecer por diversas razões. A primeira pode ser creditada à predisposição, ou a falta dela, para auxílio comunitário dos membros da comunidade, a segunda consiste na presença maior ou menor de um estado atuante, nos moldes do ZHOIDUHVWDWHa terceira está no grau de necessidade da comunidade, e a quarta consiste nas diferenciações culturais; algumas culturas sendo mais predispostas ao voluntarismo. &DQDLVGHLQIRUPDomR Na análise de Coleman, a informação é um importante mecanismo para a ação social, ao mesmo tempo em que o acesso à informação é um gerador de capital social. 35 A informação torna-se um meio para atingir determinados fins; em todas as esferas da sociedade é fundamental ter em mente os fatos e eventos que estão acontecendo para nos pautarmos dentro de uma expectativa, digamos, social. Ou seja, nossas ações são pautadas por informações e expectativas balizadas pelas relações sociais. Como analisa Coleman, as relações sociais constituem a base do capital social. Como exemplo, podemos citar o estudo de Katz e Lasarsfeld (DSXGColeman,1988), onde destaca-se o comportamento das mulheres do meio-oeste americano. Elas, em busca de informações sobre a moda, invariavelmente procuravam as amigas que julgavam ter maiores conhecimentos do assunto. É um exemplo onde se demonstra a importância das relações sociais para a obtenção de informações e ao mesmo tempo consolidando o capital social. É importante destacar que nesta interação não se cria o FUHGLWVOLSe consequentemente as redes de obrigações e expectativas, mas simplesmente um mecanismo de informações. Normas e sanções efetivas: Para Coleman, se as normas existentes são efetivas, produzem capital social, embora algumas vezes mostram-se bastante frágeis, não há infalibilidade nas normas no sentido de produzir capital social. Coleman aponta que pode haver efeitos perversos, como por exemplo a relativa efetividade das normas na prevenção de crimes. O autor destaca as normas prescritivas dentro da coletividade, que para ele constituem uma importante fonte de capital social, já que pode atender aos interesses individuais e da coletividade. 36 É importante ressaltar o papel das normas prescritivas, pois elas podem facilitar a consolidação de jovens nações, o desenvolvimento de novos movimentos sociais, ou seja, ela é um agente facilitador das ações sociais. Nesse sentido, podemos encontrar muitas semelhanças com as características da burocracia weberiana, seja em sua essência, seja em seus objetivos. Em todos os casos, as normas são internalizadas visando otimizar as ações coletivas em busca de metas em comum, sendo respaldada pelas sanções internas ou externas que possibilitam o domínio dos problemas que colocam em risco os bens públicos e a existência da coletividade. As normas constituem uma importante fonte de capital social. Como destaca Coleman, as normas sociais podem facilitar certas ações mas podem dificultar outras, principalmente se estas forem inovadoras, colocando em xeque a ordem já estabelecida. Como destacava Merton (1968), se por um lado as normas podem facilitar as ações, por outro lado podem inibir soluções mais viáveis para a resolução dos problemas postos. Estrutura social: aspectos facilitadores para a criação do capital social: Para Coleman, toda estrutura social e relação social, de algum modo, facilitam o aparecimento de algum aspecto de capital social, sendo que o ator social mantém esta relação enquanto obtém algum benefício. Mas, como destaca Coleman, devemos estar atentos, pois, algumas estruturas sociais, de maneira muito especial, facilitam de modo mais eficaz o aparecimento do capital social. 37 Uma propriedade presente nas relações sociais e que é essencial para as normas efetivas é o que Coleman chama de elos fechados. Para ele, o fechamento da estrutura social é importante não somente para a existência de normas efetivas mas também para a criação de outros tipos de capital social : é a confiança na estrutura social que permite a proliferação das obrigações e expectativas; em uma relação social aberta há um enfraquecimento da confiança na estrutura social e todo o aparato legal ou não legal de controle sobre as ações que coloquem em risco a coletividade são ineficientes. Ao trabalhar o capital social, Coleman destaca a relação existente entre o conceito e a criação do capital humano. Para corroborar esta afirmação, o autor procura destacar a importância do capital social na família para a criação do capital humano. É comum aos sociólogos da educação relacionar o sucesso escolar com o EDFNJURXQG familiar,(incentivo, escolaridade dos pais, participação ativa no aprendizado dos filhos, valorização da escola, da cultura, etc.), este EDFNJURXQG normalmente é analisado separadamente, sendo constituído de capital financeiro, capital humano e capital social. O capital financeiro é medido pela renda familiar; que no caso da educação consiste em proporcionar um lugar fixo para os estudos, a compra de material escolar, atividades extra-classe no auxílio do aprendizado (curso de idiomas, reforço escolar, etc.), acesso a computadores e internet, dentre outros fatores. 38 O capital humano consiste basicamente no grau de escolaridade e qualificação formal dos pais ou responsáveis e as possibilidades que esta educação possibilita para o desenvolvimento do aprendizado das crianças. O capital social, como aponta Coleman, é distinto das duas formas acima descritos. Para o autor, o capital financeiro e humano são de extrema importância, mas não são essenciais; o fator preponderante é o interesse dos pais, medido em tempo e esforço, no aprendizado dos filhos. É esta atitude que caracteriza o capital social. Mesmo com um baixo capital financeiro e humano, podemos ter sucesso desde que tenhamos um alto capital social. O exemplo utilizado por Coleman, centrado na educação, serve de modelo para outras análises. Ou seja, uma família realmente unida e participativa pode proporcionar um alto desenvolvimento social; a importância maior está na relação positiva entre pais e filhos. É interessante notar a importância da presença física dos pais. Coleman destaca este ponto assinalando que esta falta provoca uma deficiência estrutural no capital social familiar, seja esta falta provocada por morte, separação ou por motivos profissionais. O capital financeiro, como foi dito anteriormente, está vinculado aos aspectos materiais presentes na sociedade, mais especificamente aos bens e a renda. O capital humano relaciona-se à qualificação, quanto mais qualificado maiores as possibilidades dos melhores empregos, ascensão social, VWDWXV etc. Para Coleman, a principal característica do capital social está justamente em apresentarse como alternativa às possibilidades das duas formas de capital citados acima, 39 centrados especificamente nos indivíduos. O capital social possibilita, através dos esforços somados das comunidades, ganhos sociais importantes para todas as pessoas. Ao separar as características mais individuais do capital financeiro e humano e as características mais coletivas do capital social, Coleman procura demonstrar como o conceito pode auxiliar no entendimento da relação macro e micro, na análise sociológica. Nesse sentido é fundamental perceber como o capital social trabalha na realidade, como, através de esforços ora aparentemente individuais ora aparentemente coletivos, transforma a realidade e às vezes a estrutura social; aqui temos a “redenção” da sociedade civil em prol do bem comum, temos possibilidades de transformação social sem a necessidade da participação efetiva do estado como agente portador das idéias e soluções para a transformação social; com o capital social, a sociedade mune-se de possibilidades que, em conjunto com os diversos tipos de capital, e com o auxílio do estado, podem transformar, de maneira positiva, a realidade social. 5REHUW3XWQDP Robert Putnam(1996[1993]) consolida sua visão do conceito de capital social a partir de um grande estudo realizado na Itália, cujo objetivo foi analisar os impactos da reforma administrativa que se operou naquele país no início da década de setenta. O estudo centrou-se em uma análise longitudinal, durante duas décadas, procurando identificar as 40 transformações sociais, institucionais e políticas advindas da reforma administrativa e seu impacto no desenvolvimento econômico e social nas diversas regiões italianas. Partindo deste estudo, Putnam se propõe a averiguar ³SRUTXHRVPRGHORVHVLVWHPDVGH HQJDMDPHQWR FtYLFR LQIOXHQFLDP WDQWR DV SHUVSHFWLYDV GH XP JRYHUQR HILFD] H UHVSRQViYHO H SRU TXH DV WUDGLo}HV FtYLFDV VH PDQWrP HVWiYHLV SRU WDQWR WHPSR´ ( 1996[1993]p.31) Para esta empreitada, Putnam fundamenta-se na lógica da ação coletiva e no conceito de capital social, e é este ponto que nos interessa: como Putnam trabalha o conceito de capital social e como ele é utilizado para a análise da realidade social? A partir destes estudos, Putnam desenvolveu uma série de análises dentro da realidade norte-americana, relacionando o nível de capital social e seu impacto na vida pública. É neste sentido que podemos destacar a grande colaboração de Putnam para a consolidação do conceito de capital social. Assim, vamos destacar neste capítulo os principais aspectos do conceito de capital social na obra de Robert Putnam. Ação coletiva e capital social: Putnam inicia sua análise sobre o capital social discutindo as questões referentes à ação coletiva. Para ele, a incapacidade de interação entre os indivíduos em busca do bem comum não caracteriza ignorância ou irracionalidade, nesse sentido ele destaca as análises da teoria dos jogos. Em diversos momentos, estes teóricos criam situações e 41 estudam as possibilidades de solução dos problemas colocados, sendo o mais conhecido o dilema do prisioneiro. Este dilema consiste em colocar dois cúmplices em salas diferentes e dizer para ambos que se colaborarem, acusando o colega, ganharão a liberdade, mas se um calar e o outro confessar, aquele receberá uma pena extremamente pesada. Se ambos permanecerem em silêncio, ambos receberão penas leves; o problema reside na impossibilidade de saber qual a versão que cada um dará para combinarem as ações, logo, a melhor saída é delatar o outro. Com este exemplo, Putnam destaca que se houvesse uma mútua cooperação, todos os envolvidos sairiam ganhando; mas na falta de um compromisso confiável é mais sensato a deserção; sem uma ação de confiança mútua é mais irracional colaborar. Transportando esta análise para questões mais próximas das sociedades modernas, Putnam ressalta que é necessário uma fonte de informação confiável e uma efetiva realização dos acordos para se ter uma efetiva colaboração. Como diz o autor, ³(P XP PXQGR KDELWDGR SRU VDQWRV WDOYH] RV GLOHPDV GD DomR FROHWLYD QmR H[LVWLVVHP PDV R DOWUXtVPR XQLYHUVDO p XPD SUHPLVVD TXL[RWHVFD SDUD TXDLVTXHUDo}HVRXWHRULDVVRFLDLV´ (Putnam,1996[1993]p.174) Ao perceber que não habitamos o “reino dos céus”, Putnam retorna a Hobbes, que diante de tanta barbárie, propõe a coerção de um terceiro. Para esse último, se houver 42 um comum acordo das partes em relação ao poder do Leviatã, a ordem social e a confiança mútua estará estabelecida na sociedade civil. A solução hobbesiana é demasiadamente formal para Putnam e em certo sentido bastante complicada de se implementar pois, ³HPSULQFtSLRDFRHUomRGHXPWHUFHLUR UHTXHUHULD XPD SDUWH QHXWUD TXH SXGHVVH VHP {QXV DYDOLDU RV DWULEXWRV GH XP FRQWUDWRHWDPEpPVHP{QXVID]HUFXPSULURVDFRUGRVGHPRGRDTXHDSDUWHLQIUDWRUD VHPSUH WLYHVVH TXH LQGHQL]DU D SDUWH OHVDGD GH WDO IRUPD TXH OKH UHVXOWDVVH RQHURVR YLRODURFRQWUDWReyEYLRTXHQRPXQGRUHDOVHULDGLItFLOVHQmRLPSRVVtYHOSUHHQFKHU WDLVFRQGLo}HV´ (1996[1993]p.175) A coerção é onerosa e o uso da força mostra-se mais ineficiente, nas relações mais democráticas e participativas a confiança é mais satisfatória; outro problema está na imparcialidade da coerção, pois se cria o mesmo dilema que ela quer resolver; quem garante que os ocupantes do estado são confiáveis? Quem garante que não utilizarão o poder em benefício próprio? Aqui temos inúmeros exemplos da falência do Leviatã; sendo claro em países da América Latina, África, Ásia e países mediterrâneos da Europa. Nesse sentido, algumas soluções são propostas para a resolução dos dilemas da ação coletiva, mais viáveis que a solução hobbesiana. Putnam acredita que instituições colaborativas implementam soluções viáveis aos dilemas da ação coletiva; são as chamadas soluções conciliadoras, imbuídas de confiança e comunitarismo: ³QXP PXQGR RQGH H[LVWHP GLOHPDV GR SULVLRQHLUR DV 43 FRPXQLGDGHV FRRSHUDWLYDV SHUPLWLUmR DRV LQGLYtGXRV UDFLRQDLV VXSHUDUHP RV GLOHPDV FROHWLYRV´ (BatesDSXGPutnam, 1996[1993]p.176) Capital social e confiança : Buscando soluções para os dilemas da ação coletiva, Putnam acredita que um bom resultado depende diretamente do contexto social onde o “jogo” é jogado. Para ele, quanto mais capital social herdado em forma de regras de reciprocidade e participação cívica, maior o nível de cooperação voluntária. ³$TXL R FDSLWDO VRFLDO GL] UHVSHLWR D FDUDFWHUtVWLFDV GD RUJDQL]DomR VRFLDO FRPR FRQILDQoDQRUPDVHVLVWHPDVTXHFRQWULEXDPSDUDDXPHQWDUDHILFLrQFLDGDVRFLHGDGH IDFLOLWDQGRDVDo}HVFRRUGHQDGDV´ ( Putnam, 1996[1993]p.177) Para Putnam, o capital social facilita a cooperação espontânea; como exemplo, ele destaca as associações de crédito rotativo, praticamente presentes em todo o mundo. Neste cenário, um certo número de pessoas estipula o valor das contribuições individuais e as normas da retirada do montante arrecadado. Estas associações variam em tamanho, composição social, organização e critérios, mas todas contribuem para a produção de sociabilidade, contribuindo com a consolidação da solidariedade dentro da comunidade. Para Putnam, as associações de crédito rotativo contradizem a lógica da ação coletiva: o que garante a continuidade das contribuições de um membro já sorteado? É certo que riscos existem, mas a reputação de honestidade e confiabilidade dos membros são uma garantia, bem como as informações acerca do comportamento destes membros em 44 outras associações. Temos aqui a importante tríade – confiança, credibilidade e informação – que sustentam e ampliam as redes e relações sociais. Mesmo sem o Leviatã, as relações sociais são garantidas por aspectos do capital social. Neste contexto, as associações de crédito rotativo mostram como os impasses da ação coletiva podem ser resolvidos com aspectos do capital social. Como o capital convencional utilizado nas relações sociais “oficiais”, o capital social serve de garantias nas relações sociais “não oficiais”. Em geral, como destaca Putnam, as relações sociais do tipo das associações de crédito rotativo, respaldado pelo capital social, servem de consolidação da solidariedade comunitária; continuando, também destaca que o aumento ou diminuição do capital social (em todas as suas vertentes: confiabilidade, normas, cadeias de relações sociais, etc.) se caracteriza pelo uso ou não uso destes recursos. Quanto mais utilizado, mais amplo o capital social. Uma das principais características do capital social é justamente a confiança, as normas e as cadeias de relações sociais, que são, geralmente, bens públicos; contrapondo-se ao capital convencional, que normalmente é um bem privado. Como diz Coleman, ³SRUVHU XP DWULEXWR GD HVWUXWXUD VRFLDO HP TXH VH LQVHUH R LQGLYtGXR R FDSLWDO VRFLDO QmR p SURSULHGDGHGHQHQKXPDGDVSHVVRDVTXHGHOHVHEHQHILFLDP´(1988,p.315) A confiança, ³YLVWD FRPR XP PHFDQLVPR TXH SHUPLWH XPD PRELOL]DomR FROHWLYD H D PD[LPL]DomR GRV UHFXUVRV LQGLYLGXDLV H[LVWHQWHV” (Abu-El-Haj,2000, p.89). é fundamental para o capital social. Em sua análise da realidade italiana, Putnam detecta o 45 baixo nível de confiança na Itália meridional, o que para ele seria um dos fatores do baixo nível de capital social da região, sendo uma das possíveis causa de subdesenvolvimento. No norte italiano, ao contrário, a confiança social garantiu o dinamismo econômico e o desempenho governamental. ³4XDQWRPDLVHOHYDGRRQtYHO GH FRQILDQoD QXPD FRPXQLGDGH PDLRU D SUREDELOLGDGH GH KDYHU FRRSHUDomR ( D SUySULDFRRSHUDomRJHUDFRQILDQoD$SURJUHVVLYDDFXPXODomRGHFDSLWDOVRFLDOpXPD GDV SULQFLSDLV UHVSRQViYHLV SHORV FtUFXORV YLUWXRVRV GD ,WiOLD FtYLFD´(Putnam, 1996[1993]p.180) Esta confiança que Putnam trata em seus estudos, não é uma confiança cega, mas uma confiança amparada pela previsão, onde o ator agirá de forma a visar o bem comum não por que ele é bom por natureza, mas porque será melhor agir assim, pois as conseqüências negativas serão muito custosas para todos se ele optar por uma solução cujo benefício seja individual. Assim, a questão levantada por Putnam é a seguinte: como transformar a confiança individual em confiança social? Reciprocidade, participação cívica e capital social: Ao procurar as origens da confiança social nas sociedades modernas, Putnam enxerga duas fontes correlatas: as regras de reciprocidade e os sistemas de participação cívica. Baseado em Coleman(1988), Putnam destaca que nas regras sociais, o ator transfere para outrem o direito de controlar uma ação, onde as regras são incutidas tanto por condicionamento e socialização como por meio de sanções. Um exemplo claro desta relação está nas regras de convivência dos habitantes dos subúrbios americanos. Com a chegada do outono, é comum a queda das folhas das 46 árvores nos gramados das casas, como também é comum a valorização dos gramados dos jardins; ou seja, nestas comunidades é de vital importância um jardim bem tratado. Mesmo se eu não me importar com estas questões estéticas dos jardins, sou impelido a cuidar do meu, pois as sanções a que sou passível de sofrer, mesmo sendo informais, têm um custo bastante alto, pois meu ambiente na comunidade ficará bastante afetado14. Para Putnam são atitudes assim que fortalecem a confiança social, pois reduzem os custos das transações e facilitam a cooperação. Para ele, o mais importante destas relações é a reciprocidade, que ele divide em “balanceada” e “específica”. A reciprocidade “balanceada” refere-se basicamente a trocas de igual valor, como por exemplo a troca de dias de folga entre colegas da mesma empresa. A reciprocidade generalizada caracteriza-se pelo fluxo contínuo de trocas, onde a qualquer momento pode-se haver um desequilíbrio, mas independente disto mantêm-se as expectativas mútuas de que em um futuro este desequilíbrio seja acertado. Como exemplo, Putnam destaca as relações de amizade, onde há um fluxo contínuo de reciprocidade. Para ele, a regra de reciprocidade generalizada é uma fonte inesgotável de capital social, por isto fundamental nas sociedade modernas. ³1XP VLVWHPDGHUHFLSURFLGDGHWRGRDWRLQGLYLGXDOJHUDOPHQWHVHFDUDFWHUL]DSRUXPD FRPELQDomRGRTXHVHSRGHULDFKDPDUGHDOWUXtVPRDFXUWRSUD]RHLQWHUHVVHSUySULRD ORQJR SUD]R HX WH DMXGR DJRUD QD H[SHFWDWLYD SRVVLYHOPHQWH YDJD LQFHUWD H LPSUHPHGLWDGDGHTXHPHDMXGDUiVIXWXUDPHQWH$UHFLSURFLGDGHpIHLWDGHXPDVpULH 14 Este exemplo é bastante contraditório se tivermos em mente a perspectiva durkheimiana de coerção, que consiste basicamente na ação da estrutura social sobre os indivíduos. Putnam relega esta percepção 47 GHDWRVTXHLVRODGDPHQWHVmRDOWUXtVWLFRVDFXUWRSUD]REHQHILFLDPRXWUHPCDFXVWDGR DOWUXtVWD PDV TXH WRPDGRV HP FRQMXQWR QRUPDOPHQWH EHQHILFLDP WRGRV RV SDUWLFLSDQWHV´ (Taylor DSXGPutnam,1996[1993],p.183, grifado no original) Estas relações sociais geradoras de reciprocidade geralmente estão imbuídas de um elaborado sistema de intercâmbio social. Em comunidades com altas taxas de confiança e sem um abuso no uso da reciprocidade é muito provável que haja um forte intercâmbio social, que no âmbito geral, acaba facilitando a solução dos dilemas da ação coletiva. Outro aspecto importante analisado por Putnam refere-se à participação cívica. Para ele, os sistemas de participação cívica são uma forma essencial de capital social; quanto mais desenvolvidos forem esses sistemas numa comunidade, maior será a probabilidade de termos cidadãos ativos e participativos, procurando sempre o benefício mútuo. Mas por quê? Porque, Putnam responde: ³(OHV DXPHQWDP RV FXVWRV SRWHQFLDLV SDUD R WUDQVJUHVVRU HP TXDOTXHU WUDQVDomR LQGLYLGXDO 2 RSRUWXQLVPR S}H HP ULVFR RV EHQHItFLRV TXH HOH HVSHUDREWHUHPWRGDVDVGHPDLVWUDQVDo}HV1RMDUJmRGDWHRULDGRVMRJRV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD DXPHQWDP D LQWHUDomR H D LQWHUFRQH[mR GRVMRJRV (OHV SURPRYHP VyOLGDV UHJUDV GH UHFLSURFLGDGH 2V FRPSDWULRWDV TXH LQWHUDJHP HP PXLWRV FRQWH[WRV VRFLDLV WrP D IDFXOGDGH GH HVWDEHOHFHU destacando que a relação entre os vizinhos assume uma postura individual; são com as relações 48 VyOLGDV UHJUDV GH ERP FRPSRUWDPHQWR H GH WUDQVPLWLU XQV DRV RXWURV VXDV P~WXDV H[SHFWDWLYDV HP P~OWLSORV FRQWDWRV HVWLPXODQWHV 7DLV UHJUDV VmR UHIRUoDGDV SHOD FDGHLD GH UHODFLRQDPHQWRV TXH GHSHQGHP GR JR]R GD UHSXWDomR GH PDQWHU SURPHVVDV H DFDWDU DV UHJUDV GH FRPSRUWDPHQWR GD FRPXQLGDGH (OHV IDFLOLWDP D FRPXQLFDomR H PHOKRUDP R IOX[R GH LQIRUPDo}HV VREUH D FRQILDELOLGDGHGRVLQGLYtGXRV2VVLVWHPDVGHSDUWLFLSDomRFtYLFDSHUPLWHP TXH DV ERDV UHSXWDo}HV VHMDP GLIXQGLGDV H FRQVROLGDGDV &RPR YLPRV D FRQILDQoD H D FRRSHUDomR GHSHQGHP GH LQIRUPDo}HV ILGHGLJQDV VREUH R FRPSRUWDPHQWRSUHJUHVVRHRVDWXDLVLQWHUHVVHVGHYLUWXDLVSDUWLFLSDQWHVDR SDVVRTXHDLQFHUWH]DUHIRUoDRVGLOHPDVGDDomRFROHWLYD$VVLPPDQWLGDV DVGHPDLVFRQGLo}HVTXDQWRPDLRUIRUDFRPXQLFDomRWDQWRGLUHWDTXDQWR LQGLUHWD HQWUH RV SDUWLFLSDQWHV PDLRU VHUi D VXD FRQILDQoD P~WXD H PDLV IDFLOLGDGHHOHVWHUmRSDUDFRRSHUDU (OHV FRUSRULILFDP R r[LWR DOFDQoDGR HP FRODERUDo}HV DQWHULRUHV FULDQGR DVVLPXPPRGHORFXOWXUDOPHQWHGHILQLGRSDUDIXWXUDVFRODERUDo}HV2ILOWUR FXOWXUDOHVWDEHOHFHXPDFRQWLQXLGDGHQDPHGLGDHPTXHDVROXomRLQIRUPDO HQFRQWUDGD DQWHULRUPHQWH SDUD RV SUREOHPDV GD SHUPXWD DFDED SRU HVWHQGHUVHDRSUHVHQWHWRUQDQGRVHHVVDVOLPLWDo}HVLQIRUPDLVLPSRUWDQWHV IDWRUHV GH FRQWLQXLGDGH QR SURFHVVR GH PXGDQoD VRFLDO D ORQJR SUD]R´ (Putnam,1996[1993],p.183) Putnam identifica em sua análise duas formas de sistema de intercâmbio e comunicação: uma KRUL]RQWDO e outra YHUWLFDO. No sistema horizontal os agentes possuem o mesmo individuais que se produz a confiança e fortalece a comunidade. É uma inversão da teoria durkheimiana. 49 VWDWXV e o mesmo poder; no sistema vertical há uma relação assimétrica de dependência. Na realidade não podemos dissociar estas duas vertentes, pois elas coexistem e em determinados casos há uma tendência maior de uma ou outra vertente. O sistema vertical é incapaz de sustentar a confiança e a cooperação social, pois os fluxos de informação são menos confiáveis já que esta estrutura organizacional possibilita a retenção de informações e cria impossibilidades de lutas contra arbitrariedades. Como destaca Putnam, em relações clientelistas, que envolvem permutas interpessoais e obrigações recíprocas, a permuta é vertical e as obrigações assimétricas; é o que se pode chamar de DPL]DGHGHVHTXLOLEUDGD; sendo que as relações clientelistas inibem a formação de organização grupal e solidariedade horizontal; seja entre os clientes, seja entre os patronos. Aqui ocorre a dependência , não a reciprocidade. Como assinala o autor: ³2 IDWR GH DV DUWLFXODo}HV YHUWLFDLV VHUHP PHQRV ~WHLV GR TXH DV DUWLFXODo}HV KRUL]RQWDLVSDUDVROXFLRQDURVGLOHPDVGDDomRFROHWLYDWDOYH]VHMDXPDGDVUD]}HVSRU TXH RFDSLWDOLVPRPRVWURXVHPDLVHILFLHQWHGRTXHRIHXGDOLVPRQRVpFXOR;9,,,HSRU TXH D GHPRFUDFLD UHYHORXVH PDLV HILFD] GR TXH D DXWRFUDFLD GR VpFXOR ;;´ (Putnam,1996[1993]p.184) Putnam aponta para a importância da família para a solução dos dilemas da ação coletiva; para ele, os laços de sangue são comparados aos aspectos horizontais do engajamento cívico mas, como ressalta o autor, os sistemas de participação cívica são mais abrangentes, possibilitando a colaboração em nível comunitário. 50 Granovetter(1985) destaca que o parentesco e a amizade íntima (vínculo forte) são menos importantes que o conhecimento e a afiliação a associações secundárias (vínculo fraco) para garantir e sustentar a coesão comunitária e a ação coletiva. Como defende Putnam: ³VLVWHPDV KRUL]RQWDLV H[WHQVRV SRUpP LVRODGRV VXVWHQWDP D FRRSHUDomR GHQWUR GH FDGD JUXSR PDV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD TXH HQJOREDPGLIHUHQWHVFDWHJRULDVVRFLDLVSURPRYHPXPDFRRSHUDomRPDLVDPSOD(VVDp WDPEpP XPD GDV UD]}HV SHODV TXDLV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD VmR SDUWH WmR LPSRUWDQWHGRHVWRTXHGHFDSLWDOVRFLDO´(Putnam,1996[1993]p.185) Assim, os sistemas de participação cívica ajudam os participantes a solucionar os problemas da ação coletiva; quanto mais horizontalizada a organização, maior o favorecimento do desempenho institucional na comunidade em geral. Há uma correlação forte entre grupos horizontalmente organizados com um bom desempenho governamental. Esta teoria, onde Putnam destaca os efeitos benéficos dos sistemas de participação cívica para o desenvolvimento político e econômico, vai contra a percepção de Mancur Olson(1965). Olson afirma que não há motivos para que pequenos grupos optem para um trabalho comunitário, no sentido de buscar soluções ótimas para o bem coletivo, pois para o autor, qualquer forma de trabalho neste sentido é oneroso e ineficiente. Como resultado deste movimento, temos cada vez mais grupos que sufocam a inovação e o desenvolvimento econômico. Como podemos ver, grupos numerosos e fortes resultam em menos desenvolvimento. Sociedade forte, estado fraco. Enfim, Olson refuta 51 qualquer possibilidade de associativismo ou coisa que o valha pois, como resultado, temos um estado e governo ineficiente. Putnam acredita no associativismo e na sociedade articulada e forte. Baseado em seus estudos na Itália, ele nos mostra que as regiões mais desenvolvidas em todos os sentidos apresentavam um histórico de participação cívica: SUHVHQoD GH DVVRFLDo}HV FtYLFDV DWLYDVJDUDQWLDGHLQVWLWXLo}HVS~EOLFDVHILFD]HV Assim, ³DWHRULDIRUPXODGDDMXGDDH[SOLFDUSRUTXHRFDSLWDOVRFLDOFRUSRULILFDGR HPVLVWHPDVKRUL]RQWDLVGHSDUWLFLSDomRFtYLFDIDYRUHFHRGHVHPSHQKRGRJRYHUQRHGD HFRQRPLD H QmR R RSRVWR VRFLHGDGH IRUWH HFRQRPLD IRUWH VRFLHGDGH IRUWH (VWDGR IRUWH´ (Putnam,1993[1996]p.186) Bem, neste ponto da exposição das idéias de Putnam a respeito do capital social, e de sua manifestação em forma de participação cívica, resumiremos de forma sucinta suas idéias. Em princípio, Putnam destaca que o dilema da ação coletiva é o grande obstáculo nas relações de auxílio mútuo; ou seja, os dilemas da ação coletiva impedem ações eficazes em prol do bem comum. Soluções baseadas na coerção não são satisfatórias, podendo ocasionar danos maiores que os já causados pelo dilema da ação coletiva. Para Putnam, a cooperação depende diretamente do capital social. É através do capital social, que se evidencia na prática como regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica, que teremos a cooperação e a confiança social que 52 estimulam a não transgressão, diminuem as incertezas e proporcionam modelos para uma cooperação futura. O volume de capital social (confiança, ajuda mútua, normas e sistemas de participação) presente em uma sociedade tende a reforçar-se proporcionando equilíbrio social com elevados níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo. São estas as características de uma comunidade cívica. Opondo-se a isto, temos comunidades não-cívicas que também se auto-reforçam; temos neste cenário a afirmação da desconfiança, da omissão, da exploração, do isolamento, da desordem e da estagnação. É uma idéia de capital social ao avesso, na perspectiva de Putnam. Aqui temos duas realidades concretas que se apresentam em diversos lugares do mundo. Na primeira realidade temos o capital social proporcionando soluções mais satisfatórias e mais eficientes, implantando com isto uma comunidade cívica. Na segunda realidade temos uma sociedade mais debilitada, na esfera cívica pelo menos, que levaria a escolha hobbesiana para a solução dos problemas da ação coletiva ( coerção, exploração e dependência); apesar de ser uma solução inferior à solução dada pelo capital social, é infinitamente superior ao estado anárquico de todos contra todos. Como diz Putnam, a solução hobbesiana pelo menos proporciona um mínimo de segurança, mesmo que ao preço da exploração e da ineficiência. Um aspecto muito importante a ser destacado é a dimensão que os dilemas da ação coletiva tomam nas sociedades modernas. Esta dimensão é potencializada por causa da cooperação impessoal que o desenvolvimento econômico e tecnológico requerem. 53 Aspectos como o oportunismo, a trapaça e a transgressão aumentam com o desenvolvimento econômico; como “vacina” temos o capital social. Para Putnam, o governo autoritário, o clientelismo, a coerção ilegal é uma solução “viável” para se evitar a guerra de todos contra todos sem vislumbrar uma ação em direção à cooperação. A família e a força são representações primitivas da comunidade cívica, mas tendo um volume considerável de capital social é possível um equilíbrio, para Putnam, mais satisfatório nos dilemas da ação coletiva. Este equilíbrio é mais satisfatório porque em uma sociedade com ampla participação cívica, onde as normas cívicas são respeitadas, se não por todos pela maioria, é mais fácil identificar e punir o transgressor, o delito torna-se um tanto mais arriscado e ao mesmo tempo com pouco ou nenhum aspecto tentador que pudesse potencializar o desvio. Concluindo, “WDQWR UHFLSURFLGDGHFRQILDQoD TXDQWR GHSHQGrQFLDH[SORUDomR SRGHP PDQWHU XQLGD D VRFLHGDGH PDV FRP GLIHUHQWHV QtYHLV GH HILFLrQFLD H GHVHPSHQKR LQVWLWXFLRQDO 8PD YH] LQVHULGRV QXP GHVVHV GRLV FRQWH[WRV RV DWRUHV UDFLRQDLV WrP PRWLYRV SDUD DJLU FRQIRUPH VXDV UHJUDV $ KLVWyULD GHWHUPLQD TXDO GHVVHV GRLV HTXLOtEULRVHVWiYHLVLUiFDUDFWHUL]DUXPDGDGDVRFLHGDGH´ (Putnam,1996[1993]p.188) 8PDYLVmRFUtWLFDGRFRQFHLWRGHFDSLWDOVRFLDO Como foi destacado nos tópicos anteriores, o conceito de capital social é bastante amplo, e ao ser aplicado em diversas pesquisas, resultados interessantes estão sendo obtidos, principalmente nos Estados Unidos. Estes resultados têm impulsionado interesses e esforços de políticos e intelectuais acerca do assunto. 54 Em se tratando dos Estados Unidos, o conceito vem aproximando liberais e conservadores, os quais, através do uso do capital social propõem soluções viáveis para os problemas da criminalidade, da saúde pública, do meio-ambiente, e de diversas outras áreas que demandam propostas urgentes de solução. Para estes políticos, em tese antagônicos, vêem os aspectos do capital social como complementar às políticas públicas. É preciso uma massiva participação do estado, como implementador de ações para a comunidade, mas também é necessária a participação da população no controle dos gastos públicos e na vigilância da efetiva implantação das políticas públicas. O capital social criado e sustentado pelas associações voluntárias, é essencial para a integração e prosperidade das comunidades; há um consenso tácito de que o capital social pode resolver os dilemas da ação coletiva com a união e participação da comunidade. Nossa percepção acerca dos dilemas da ação coletiva vem da obra de Mancur Olson(1965), com o conceito do “aproveitador” (IUHH ULGHU). Partindo do dilema do prisioneiro, Olson analisa a natureza da ação coletiva. A contradição do jogo está em que cada prisioneiro busca seu auto-interesse isolado, levando a todos os envolvidos a terminarem com um resultado menos satisfatório, resultado este que poderia ser diferente se todos estivessem dispostos a uma colaboração mútua, sacrificando os interesses individuais. A partir desta constatação, Olson generaliza essa situação para organizações que procuram mobilizar um grande número de pessoas movidas por interesses próprios. Em 55 situações de grande amplitude, onde os benefícios são coletivos ou públicos, sem possibilidades de ganhos pessoais ou individuais, não haverá cooperação ou união entre os indivíduos; a não ser que se tenha ganhos não-coletivos ou seletivos para se conseguir a participação. Desde então, várias contribuições foram acrescentadas, requintando e aperfeiçoando as idéias de Olson. Em primeiro lugar, temos que muitas organizações são de natureza altruísta, sem um interesse próprio claro. Em segundo lugar, é complicado pensar que os “benefícios coletivos”, por si só, expliquem as diversas organizações em que os indivíduos ingressam. Em terceiro lugar, a vida social deveria ser encarada de maneira interativa, onde os potenciais “caronas” possam aprender que existem benefícios e ganhos coletivos que resultarão, de maneira nãoracional, em soluções individuais. Em quarto lugar,, é preciso dar atenção às ideologias presentes em diversas sociedades ou em partes de uma mesma sociedade, que pode potencializar a participação ou a não participação. Por fim, é preciso estar atento às diversas posições estruturais, como por exemplo, o capital e trabalho assalariado, para poder perceber as diversas possibilidades de ação coletiva. Estas ponderações, quanto à ação coletiva, vai ao encontro das idéias sobre o capital social, e as possibilidades que ele fornece para a solução dos dilemas acerca da participação ou não participação na vida social. O capital social não abandona a força da estrutura, mas prega a efetiva atuação dos indivíduos nas questões referentes à sociedade. É uma posição próxima do que chamamos anteriormente de agência. Alguns sociólogos olham com desconfiança para as possibilidades do conceito de capital social, principalmente, nas suas possibilidades de resolução dos problemas da 56 ação coletiva. Assim, podemos destacar algumas dúvidas levantadas quanto a real eficácia do conceito. Um primeiro aspecto que podemos levantar refere-se à confusão entre a origem e os benefícios do capital social. Ou seja, o desenvolvimento e o bem-estar é que produzem o capital social ou vice-versa? Para os críticos, é praticamente impossível esta previsão e, portanto, é bastante arriscado inferir ao capital social tamanha responsabilidade junto ao desenvolvimento e bem-estar das comunidades. Outro aspecto levantado pelos críticos, e talvez mais procedente, está na omissão, voluntária ou não, dos efeitos perversos que o próprio capital social pode vir a produzir. Muitos exemplos podem ser dados, como os dos estados totalitários, o da máfia, o da NX NOX[NODQ, o dos VNLQKHDGV, dentre outros exemplos. Grupos marginais podem também se organizar coletivamente, como os citados acima. A organização de indivíduos, grupos ou coletividades são influenciadas pelas circunstâncias dadas, ou seja, pela agência, onde temos a relação entre a estrutura e a ação. Determinantes econômicas, sociais, políticas e educacionais podem influenciar diretamente nos tipos e objetivos das ações dos grupos. Tal discussão perpassa pela filosofia e pela definição do que seja o bem-estar, a confiança, a cooperação, o voluntarismo e, no extremo, o bem. Uma terceira crítica, mais direcionada a Putnam, está em sua “obsessão” em relacionar o capital social com a cultura cívica; de modo que outras formas de capital social estariam fora do alcance das outras esferas da sociedade, como a confiança e credibilidade (Prates,1997). Esta postura impede o aparecimento de tal conceito em comunidades com características mais patrimonialistas, por exemplo. É uma postura 57 bastante culturalista, criticada pelos neo-institucionalistas, como Evans(1995). Para esta escola, a postura de Putnam condena, indiretamente, civilizações inteiras às oligarquias e ao atraso econômico permanente, pois não percebe que grande parte dos problemas da maioria dos países em desenvolvimento é fruto de ações políticas preteridas pelos regimes autoritários. Evidentemente que Coleman e Putnam não ignoram estes efeitos perversos do fenômeno do capital social e de suas conseqüências, como também percebem que não é só a ausência de capital social que pode causar danos às comunidades, mas o próprio excesso, que acaba produzindo ganhos sociais, econômicos e políticos. Estes ganhos fazem com que as pessoas não participem, pois os dilemas já estão praticamente resolvidos, podendo delegar ao estado as preocupações da gestão da sociedade. Como demonstra Putnam(1995) em sua análise da realidade americana, há uma queda no nível de participação cívica. Enfim, o conceito de capital social ainda está em construção, como também ele está aberto e cheio de lacunas que, algumas vezes, o deixa mais fragilizado. Mas, como Coleman e Putnam, acreditamos no caráter positivo do conceito como uma alternativa a mais para as soluções dos dilemas da ação coletiva. Além disso, faz-se necessário maior investimento em estudos sobre o mesmo, de modo a encaminhar propostas e delinear perspectivas em busca do bem comum. &DSLWDOVRFLDOHYLROrQFLD Após explanar a respeito do conceito de capital social, destacando os três maiores teóricos a respeito deste assunto, propõe-se aqui uma discussão mais próxima da 58 aplicação do conceito na realidade. Para tanto, foram destacadas duas pesquisas realizadas nos E.U.A onde se procurou relacionar as taxas de criminalidade com o volume de capital social presente nas comunidades estudadas. A apresentação destes estudos permite ilustrar o princípio que norteia esta pesquisa, que tem, como um dos seus objetivos, identificar a correlação entre o volume de capital social e as taxas de criminalidade violenta nas comunidades de Belo Horizonte. (678'2$±6RFLDO&DSLWDO,QFRPH,QHTXDOLW\DQG)LUHDUP9LROHQW &ULPH±.HQQHG\%HWDO Este primeiro estudo tem como objetivo correlacionar a criminalidade violenta com a concentração de renda e o capital social. Em princípio, o estudo demonstra que a pobreza é um poderoso indicador de criminalidade violenta. A hipótese do trabalho recai nos efeitos que a crescente diferença entre ricos e pobres produz na coesão social, aqui tratada de capital social, e suas conseqüências nas taxas de criminalidade violenta. O estudo foi realizado nos Estados Unidos no período de 1987-1994, utilizando os dados gerais do censo norte-americano, destacando, principalmente, os índices de concentração de renda e pobreza em todo território nacional. Para a medição do capital social, foi produzido um questionário baseado nas teorias de Coleman e Putnam, realçando, principalmente, os aspectos de confiança social e participação cívica. Para os dados acerca da criminalidade foram utilizados os dados do 59 centro nacional de estatística da saúde para controle e prevenção de doenças e os dados do F.B.I. Com este arcabouço, a pesquisa concluiu que o simples esforço em implementar programas de combate à criminalidade, nos moldes tradicionais, em áreas com um alto grau de pobreza não é suficiente e o resultado global não é satisfatório. Não há, definitivamente, um impacto significativo na redução da criminalidade. Os autores alertam que não são contra investimentos em áreas pobres da cidade, mas destacam que, mais importante que isto e, também, mais importante que políticas de restrição ao acesso a armas de fogo, por exemplo, está a preocupação em reduzir a diferença entre pobres e ricos e na potencialização do capital social nestas comunidades, já que eles encontraram uma forte correlação entre capital social, distribuição de renda e taxas de criminalidade. Quanto mais capital social, mais igualitária a comunidade e menores taxas de criminalidade. Tendo uma comunidade com uma alta coesão social e um sentimento de cooperação é possível produzir elos de solidariedade que influam diretamente no combate à criminalidade auxiliando, assim, os métodos convencionais, que, para os autores, não devem ser descartados bruscamente. (VWXGR%±1HLJKERUKRRGVDQG9LROHQW&ULPH$0XOWLOHYHO6WXG\RI &ROOHFWLYH(IILFDF\±6DPSVRQ5HWDO O segundo estudo tem como hipótese a eficácia coletiva, definida aqui como coesão social entre vizinhos, combinado com a boa vontade em participar das ações 60 comunitárias em favor do bem comum, para a redução da criminalidade. O estudo foi realizado em 1995 com 8782 residentes de 343 bairros de Chicago, E.U.A . O estudo inicia-se com a premissa básica de que as características sociais e organizacionais das comunidades explicam as variações das taxas de criminalidade, mas ressalta que estas características não se resumem à somatória de características demográficas individuais. Partindo desta explanação, o estudo propõe que a diferença entre as vizinhanças na capacidade de produzir valores comuns e manter um efetivo controle social é a principal origem da variação das taxas de violência nas comunidades. O estudo trata o controle social como a capacidade do grupo em regular seus membros de acordo com os princípios da realização coletiva. Nesse sentido, a pesquisa destaca a importância dos aspectos informais de controle social para a manutenção da ordem pública; ou seja, destaca a importância da comunidade no controle e na manutenção da ordem social. Esta importância da comunidade é realçada porque, de acordo com as análises realizadas pela pesquisa, é ela ( a comunidade) que responde pelo bem-estar da população; quando não há ou quando são reduzidos, os serviços públicos essenciais para uma vida digna. Nesta relação entre comunidade e bem-estar social, a pesquisa revela a importância da confiança e solidariedade entre os vizinhos; ponto fundamental para a solução dos problemas coletivos da comunidade. Assim, mais uma vez, aspectos como confiança e solidariedade, dentre outros, são alçados ao topo, no sentido de serem fundamentais 61 para a implementação do capital social e, neste caso, o capital social como instrumental no auxílio ao combate à criminalidade.15 1RYDVWHQGrQFLDVGDDQiOLVHGDFULPLQDOLGDGH De acordo com Beato Filho (1997), a análise espacial da criminalidade tem uma longa tradição, sendo originada em Durkheim e Quételet. Em 1942, Shaw e McKey (DSXG Beato Filho, 1997) percebem uma tendência nas grandes cidades americanas onde a concentração dos crimes estava no centro e gradativamente ia diminuindo na direção dos subúrbios. Newman (1972) correlaciona as circunstâncias físicas e ambientais com a ocorrência de delitos. Evans (1995), Murray (1995) e Eck (1997) têm trabalhado na correlação entre a “geografia do crime” e as estratégias de policiamento no combate à criminalidade; já Messner (1980), Loftin e Hill (1974) e Blau e Blau (1982) procuram relacionar a incidência de crimes com a estrutura socioeconômica (estados nações, regiões e áreas metropolitanas, respectivamente).Estas tendências levam em consideração a importância da abordagem espacial para uma melhor compreensão da atividade criminosa, ou seja, ocorre um deslocamento da análise dos criminosos para o delito propriamente, esta mudança, no enfoque acerca da criminalidade, também influencia a implantação de políticas públicas preventivas de combate a criminalidade. Para Beato Filho (1997), ³D OLWHUDWXUD VREUH SROtWLFDV S~EOLFDV GH FRPEDWH D FULPLQDOLGDGH WrP HQIDWL]DGR FUHVFHQWHPHQWH D EXVFD SRU VROXo}HV ³ORFDLV´ H GHVFHQWUDOL]DGDV R TXH FRQGX] QHFHVVDULDPHQWH D LGHQWLILFDomR GH SUREOHPDV HP FRQWH[WRVHVSHFtILFRVGHVXDRFRUUrQFLD´ (p.2). 15 Para uma discussão pormenorizada acerca das matizes sociológicas para a interpretação do fenômeno da 62 Há uma aproximação muito grande entre as alternativas de políticas públicas em relação à criminalidade e o conceito de capital social e seu real impacto nas comunidades (pensando no lado positivo do conceito) já que tanto Bourdieu, quanto Coleman e Putnam, crêem na solução de problemas locais a partir da própria população. &$3Ë78/2 0(72'2/2*,$ $VSHFWRVUHOHYDQWHVSDUDDGHILQLomRGRFDSLWDOVRFLDO Neste tópico destacaremos, de forma pontual, os principais aspectos do conceito de capital social que foram utilizados na construção do questionário. Estes aspectos foram eleitos a partir dos diversos trabalhos sobre o capital social produzidos nos E.U.A e Austrália, principalmente por Onyx e Bullen (1997), Putnam (1996[1993]) e Coleman (1988/1990). 3DUWLFLSDomRVRFLDOÉ um importante aspecto para o conceito de capital social; onde a noção de maior ou menor participação social e redes de relacionamento entre grupos e indivíduos é medida. Como aponta Lathan (1997), pessoas se relacionam e se engajam em várias associações, que representam a expressão de uma reciprocidade formada violência e criminalidade ver o texto de Luiz Antônio Paixão, &ULPH'HVYLRH6RFLRORJLD, mimeo ,(1990). 63 livremente. Deve-se destacar que o capital social não pode ser generalizado como sendo um grupo de indivíduos agindo livremente em busca de seus objetivos individuais; ele depende de uma predisposição para a sociabilidade mas, uma sociabilidade espontânea com uma capacidade de formação de novas associações e cooperações. 5HFLSURFLGDGHA reciprocidade prevista pelo capital social não pode ser comparada à pura troca econômica ou a um contrato de negócios, mas deve ser percebida como uma combinação de ações altruístas e interesses próprios. O indivíduo produz algum serviço para outros ou age em benefício de outros tendo um custo pessoal; mas, a expectativa geral, é que sua ação produza um bônus, podendo ser resgatado quando houver necessidade. Em nível comunitário, quando temos uma forte reciprocidade, os indivíduos ocupam-se em cuidar de outros interesses, mais gerais, mais comunitários. É o que podemos chamar de comportamento pró-social. &RQILDQoD O conceito de confiança está atrelado à relação mútua entre indivíduos em interação social, onde se produz expectativas e estas são concretizadas. ³&RQILDQoDpD H[SHFWDWLYD TXH DSDUHFH GHQWUR GH XPD FRPXQLGDGH UHJXODU KRQHVWD H FRP XP FRPSRUWDPHQWR FRRSHUDWLYR EDVHDGR HP QRUPDV FRPXQV HVWDV QRUPDV SRGHP UHSUHVHQWDU TXHVW}HV SURIXQGDV HP UHODomR j RULJHP GR EHP RX GD MXVWLoD RX SRGHP HVWDUUHODFLRQDGDVDRVFyGLJRVGHFRPSRUWDPHQWR´(Fukuyama,1995,p.26). Para Misztral (1996), confiança envolve elos familiares, vínculo de amizades e crenças e valores comuns que, em conjunto, produz uma colaboração em nível coletivo sem a expectativa de retribuição e sem qualquer tipo de sanção. 64 1RUPDVVRFLDLVAs normas sociais produzem uma forma de controle social informal, talvez por uma falha na estrutura formal da sociedade que não acompanha as mudanças sociais produzidas pela modernidade. Geralmente, as normas sociais não são escritas mas, são entendidas e compreendidas por todos ou, pelo menos, pela grande maioria que comunga dos mesmos comportamentos em um dado contexto social. Este consenso social estabelece formas, até certo ponto, homogêneas de comportamento. De acordo com Reno, Cialdini e Kallgreen (1993) a consolidação das normas sociais podem gerar um forte efeito positivo no comportamento pró-social nas comunidades, inibindo, assim, comportamentos anti-sociais. Nesta linha de raciocínio, Coleman (1988) e Putnam (1996[1993]) afirmam que, em comunidades com um alto grau de capital social, temos uma baixa taxa de criminalidade e pouca necessidade de implementação de políticas públicas formais. Para Fukuyama (1995), comunidades com baixo grau de confiança e poucas normas sociais as ações são realizadas apenas nos sistemas formais que, via de regra, utiliza-se de forma massiva, a coerção. 9DORUHV FRPSDUWLOKDGRV O conceito de capital social vem destacando-se como uma posição comunitarista. É a comunidade como fator essencial. Como Etzioni (1988) destaca, há uma forte relação entre o indivíduo e a comunidade: aqui o indivíduo é motivado a agir mas, não por um sentimento utilitarista de interesse próprio em busca de satisfações individuais mas, por um complexo de metas individuais e coletivas. Aqui a moralidade é essencial para a compreensão das escolhas individuais, desde que a moralidade seja construída socialmente. A combinação entre confiança, elos de sociabilidade, normas e reciprocidade produz uma comunidade forte, criando uma rede de relações com um profundo grau de recursos comunitários que são utilizados por todos na busca do bem comum. Como aponta Onyx e Bullen (1997), onde o HWKRVda 65 confiança e mutualidade são fortes e há efetiva presença de sanções sociais informais contra os chamados ³IUHH ULGHUV´ podemos ter um comportamento comunitário mais prolongado e mútuo, para vantagem de todos os indivíduos da comunidade. 3URDWLYLGDGH A proatividade está implícita em várias categorias presentes nas esferas pessoais e coletivas. O desenvolvimento do capital social requer ação e boa vontade dos cidadãos na participação da vida comunitária. Esta visão afasta-se um pouco da noção de um indivíduo passivo, receptor de serviços públicos ( o que não deixa de ser importante, pois é imprescindível a participação do estado no desenvolvimento do capital social ) mas o capital social refere-se ao indivíduo como criador e não como uma vítima. $&RQVWUXomRGRTXHVWLRQiULR Ao pensar o instrumento de medida do conceito de capital social, muitas questões são postas, visto que é um conceito relativamente novo e sem muitos estudos realizados, o que dificulta a construção do questionário. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Tecnologia de Sidney, Austrália, testou e aprovou um questionário para medida de capital social (Onyx e Bullen, 1997). O questionário, além das questões sobre as características sócio-econômicas dos respondentes, incluiu perguntas sobre o comportamento social, no intuito de detectar e medir a intensidade comportamental; assim, como questões acerca dos sentimentos cívicos, das relações de confiança e credibilidade na vizinhança e de participação 66 política construídas, levando-se em conta os preceitos destacados por Putnam(1993) e Coleman(1990). Os pesquisadores australianos desenvolveram um questionário com 85 perguntas, versando pelos mais diversos temas que contemplam as categorias: confiança, participação comunitária, reciprocidade, participação política; as medidas dos conceitos foram feitas a partir de uma escala de 1 a 4, onde o menor valor representava uma discordância total e o maior valor uma concordância total com a situação colocada. A amostra do estudo compreendeu 1211 cidadãos de cinco áreas urbanas do estado de 1HZ6RXWK:DOHV, Austrália, com idade variando de 18 a 65 anos; foram pesquisados 50% de homens e 50% de mulheres16, no período de novembro de 1996 a março de 1997. Para a análise dos dados foram utilizados os programas SPSS e Statistica; a seleção destes dois programas teve como objetivo identificar os elementos de capital social (o que é identificado como fatores) e a relação entre atitudes, comportamentos, conhecimentos e características demográficas com o capital social. As variáveis de capital social obtiveram índices estatisticamente significantes quando correlacionados, ficando entre .25 e .45, em uma escala de 0 a 1. Os fatores de capital social (agrupamento de questões em relação ao tema) foram identificados como sendo $) participação na comunidade local; %) proatividade no contexto social, &) sentimento de confiança e segurança, ') conexões com a vizinhança, () conexões com a família e amigos, )) tolerância a diversidade, *) valores da vida, +)conexões no local de trabalho. 67 Utilizando da análise denominada rotação ortogonal, onde cada fator é analisado como sendo estatisticamente independente, notou-se uma inter-correlação entre os fatores, ficando correlacionados estatisticamente entre .25 e .45, com um destaque especial às relações entre os fatores $ ± ', & ', ( ± +; acima de .40. Os índices obtidos proporcionaram a seleção mais específica das melhores questões, a partir de uma correlação representativa das perguntas com os fatores de capital social. Após este trabalho, desenvolveu-se um instrumento de medida do capital social mais enxuto e objetivo. Tendo, como base, o estudo australiano, um convênio firmado entre o Centro de Pesquisas René Rachou, Belo Horizonte (MG) da Fundação Oswaldo Cruz e a Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas, Houston, (EUA), através dos pesquisadores Michael Ross(EUA) e Virgínia Schall(Brasil) foi proposto um projeto semelhante. O projeto incluiu quatro áreas, sendo: Brasil ( Belo Horizonte e Rio de Janeiro), México (Ciudad Juarez) e Estados Unidos (Houston e a comunidade dos índios Cherokee, Oklahoma). O objetivo principal do projeto foi o de validar um instrumento de medida do capital social para, em um segundo momento, desenvolver pesquisas em conjunto na área de saúde dos três países. (Ferreira-Pinto HWDO, 2001) A aplicação do questionário no Brasil incluiu pesquisadores do Laboratório de Educação em Saúde e Ambiente (LEAS), do Departamento de Biologia do Instituto Oswaldo Cruz, (Fiocruz), no Rio de Janeiro e do Laboratório de Educação em Saúde (LABES) do Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR/Fiocruz), em Belo Horizonte. 16 Número arredondado, já que em algumas localidades ouve uma pequena variação nesta divisão. (Ver 68 O questionário australiano, ligeiramente adaptado, foi utilizado como base para o levantamento realizado nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, assim como no México e E.U.A, no período de agosto/setembro de 1999. Duzentos questionários foram aplicados nos municípios brasileiros, sendo cem questionários em cada cidade. A realização do pré-teste, para o aperfeiçoamento do instrumento para a realidade brasileira, não levou em consideração uma representatividade estatístico-amostral dos dois universos pesquisados, mas preocupou-se em observar o comportamento do instrumento, seja através do entendimento das questões por parte da população, seja pelos resultados estatísticos levantados. A amostra pesquisada foi assim distribuída: 50% homens, 50% mulheres, com idade entre 18 e 65 anos. O trabalho estatístico de validação do questionário foi realizado na Universidade do Texas pelos professores Michael Ross e João Batista Ferreira-Pinto. A análise comportamental da população brasileira, que caracteriza o capital social, foi realizada no Centro de Pesquisa René Rachou em Belo Horizonte, pelo Laboratório de Educação em Saúde (LABES). A análise estatística do caso brasileiro foi bastante reveladora; obtivemos correlações expressivas, chegando ao coeficiente de .85. Na análise dos componentes principais, obtivemos coeficientes bastantes significativos, chegando a .53. Nesses termos, podemos afirmar que o questionário aplicado à realidade brasileira portou-se consistentemente, podendo, sem dúvidas, elucidar o comportamento brasileiro em relação ao capital social. Onyx e Bullen, 1997) 69 Para ilustrar tais conclusões , demonstraremos alguns dados produzidos pelo pré-teste sobre o comportamento da amostra brasileira em relação aos fatores que caracterizam o conceito de capital social. Os dados brasileiros apontaram para uma valorização da participação social e política (76%), mas quando indagados sobre a sua própria participação nos problemas da comunidade, apenas 7% responderam que efetivamente se envolvem nas questões sociais e políticas de sua comunidade, 5% apenas algumas vezes e 88% nunca se envolveram . Por outro lado, 79 % estariam dispostos a trabalhos voluntários para auxiliar no bem estar da comunidade e 34% dispostos a discutir os problemas da mesma. Um fato relevante é a pouca importância atribuída ao município e ao bairro onde moram, apenas 20% e 29%, respectivamente, dado relevante, já que, é no espaço mais próximo das pessoas, a cidade e o bairro, onde se constrói e potencializa o Capital Social. (Dias Júnior & Schall, 2000) Apesar da consistência interna do questionário e das possibilidades de apreensão do comportamento social terem sido confirmadas pelo pré-teste, algumas modificações foram necessárias para o desenvolvimento do questionário utilizado neste trabalho. Algumas questões foram excluídas por estarem distantes da realidade brasileira, outras foram totalmente reformuladas, pois a tradução utilizada no pré-teste não produziu o entendimento esperado. 70 Com estas ressalvas e com o acréscimo dos itens relacionados com a questão da violência urbana, construímos o nosso instrumento de medida do Capital Social. (anexo1)17 2SODQHMDPHQWRDPRVWUDO Após a definição do instrumento de medida, determinamos a população alvo de nossa pesquisa. Para tanto, utilizamos do banco de dados do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP) /UFMG e o cadastro da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte(Urbel)/PBH.O banco de dados do CRISP é constituído de informações fornecidas pelas polícias militar e civil de Minas Gerais, pela Fundação João Pinheiro, prefeitura municipal de Belo Horizonte, IBGE, dentre outros; o banco de dados da Urbel é fornecido pelo IBGE e por pesquisas próprias na área de habitação. Como o nosso objetivo é analisar o capital social relacionando-o ao comportamento das comunidades diante da criminalidade, definimos a nossa população, escolhendo dois espaços urbanos de Belo Horizonte com taxas de criminalidade violenta18 distintas. Esta opção deveu-se a nossa expectativa de detectar a influência do capital social nas taxas de criminalidade. Para a escolha das duas comunidades a serem trabalhadas, utilizamos os dados sobre a criminalidade violenta em Belo Horizonte, do período de 1995/1999, mais especificamente as taxas corrigidas de crimes contra a pessoa. 17 O disco foi desenvolvido para evitar desvios por prioridade de ordens. A criminalidade violenta abrange diversos tipos de delito, sendo eles: homicídio, homicídio tentado, (crimes contra pessoa) roubo, roubo a mão-armada, (crimes contra patrimônio); no banco de dados do Crisp, o estupro e o roubo de veículos não são trabalhados, (mesmo pertencendo a categoria da criminalidade violenta), porque a coleta dos dados não é confiável. 18 71 Para termos uma visualização espacial da criminalidade em Belo Horizonte, utilizamos o mapa da cidade onde aplicamos o gráfico de Kernel, sendo agrupadas as ocorrências dos delitos a cada raio de 200 metros, produzindo assim os nichos de criminalidade em Belo Horizonte.(anexo 2) $VFRPXQLGDGHVHVFROKLGDV Elegemos as comunidades da Vila do Cafezal, localizada na regional Centro-Sul, e a Vila Novo Ouro Preto , localizada na regional Pampulha. A escolha das duas comunidades centrou-se principalmente no comportamento distinto quando comparadas as taxas de criminalidade e na semelhança da ocupação e distribuição sócio-econômica. Outro fator que ponderou a escolha foi a relativa facilidade de acesso às vilas. Por meio da associação de bairro e da ONG Cidadania pelas Águas, que realiza um trabalho na área de meio-ambiente, conseguimos o acesso à Vila Novo Ouro Preto. Através da Igreja Católica e moradores conhecidos conseguimos o acesso à Vila Cafezal. Taxa corrigida de crimes contra pessoa(1995-1999) por 100.000 hab. 200 150 100 50 0 Vila C afezal &ULVS8)0* Vila Nov o O uro Preto 72 &DUDFWHUL]DomR+LVWyULFD 9LOD&DIH]DO A Vila Cafezal está localizada no chamado aglomerado da serra, um conjunto de sete vilas (Vila Cafezal, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Conceição, Vila Marçola, Novo São Lucas e Fazendinha) que formam a maior favela da região metropolitana de Belo Horizonte. O aglomerado da serra faz divisa com diversos bairros de Belo Horizonte, como: Serra, São Lucas, Santa Efigênia, Paraíso e Novo São Lucas; também faz divisa com o Parque das Mangabeiras e o Hospital da Baleia. Apesar desta limitação geográfica, sua área de influência alcança a área central de Belo Horizonte. A Vila Cafezal, especificamente, é uma das ocupações mais recentes do conglomerado, tendo iniciado ao final da década de 60 e consolidado a partir de 1975. O processo de ocupação da área acompanhou a expansão da Vila Nossa Senhora da Conceição; primeiramente os posseiros ocuparam o topo da encosta para, posteriormente, ocupar as partes laterais no caminho de Santa Efigênia. Segundo a Fundação João Pinheiro, a ocupação da Vila Cafezal foi planejada por amigos e conhecidos que estabeleceram um plano de ocupação, onde um morador ficaria responsável pela escolha das pessoas que ocupariam a área, por dar nomes às ruas e entregar os lotes àqueles escolhidos. Apenas em 1981 que o poder público entrou na Vila Cafezal, através do PRODECOM19, com projetos de implementação de melhorias urbanas; neste mesmo período foi fundada a associação dos moradores que 19 Programa de Desenvolvimento de Comunidades/ Secretaria Estadual de Planejamento. 73 passaria a reivindicar melhorias junto ao PRODECOM, como abertura de ruas, calçamento e colocação de meios fios, construção de muros de arrimo, obras de drenagem e instalação de chafarizes públicos. Posteriormente, outros equipamentos públicos foram conquistados pelos moradores; hoje, a Vila Cafezal conta com um centro de saúde, uma escola estadual de ensino fundamental, uma associação de bairro, que possui um trabalho de reforço escolar e profissionalizante de jovens e adultos, e uma creche para crianças de 1 a 12 anos;20 possui também 5 times de futebol e alguns grupos de pagode e rap. 9LOD1RYR2XUR3UHWR A Vila Novo Ouro Preto situa-se dentro dos limites do bairro Ouro Preto, na regional Pampulha. A ocupação iniciou-se no final da década de 60 e início da década de 70; nas décadas posteriores intensificou-se a ocupação, proporcionando um adensamento populacional e uma expansão territorial da vila. A situação da vila é de risco, tendo cerca de 48% das habitações em situação de risco médio a iminente; esta situação é devido ao terreno íngreme e a presença de córregos na região. De acordo com a Urbel, não há equipamentos comunitários internos; a utilização destes equipamentos ocorre no bairro Ouro Preto, que oferece duas escolas municipais, uma creche e um centro de saúde; ressalta-se a presença na vila de uma associação comunitária e diversos grupos organizados, dentre eles um time de futebol, um grupo de capoeira e um grupo de jovens ligados à igreja católica, e uma comissão de fiscalização do orçamento participativo da prefeitura (Com-Força). 20 Dados fornecidos pela Urbel. 74 É interessante destacar que esta ausência de equipamentos públicos no interior da vila é potencializado pela total falta de espaço físico compatível para uma ocupação segura, visto que as áreas livres têm mais de 47% de clivagem; consideradas impróprias para edificações. 'HILQLomRGDDPRVWUD Após definirmos a população a ser pesquisada, partimos para a definição da amostra. Para tanto, diagnosticamos demograficamente as duas vilas a serem pesquisadas. &RPXQLGDGH Vila Cafezal Vila Novo Ouro Preto ,%*( 3RS7RWDO 3148 1471 3RSPDLRUDQRV 1857 882 A amostra foi calculada tendo, como base, a população maior de 18 anos, foco de nossa pesquisa. A amostra da Vila Cafezal foi fixada em 130 pessoas e da Vila Novo Ouro Preto, em 100 pessoas, com uma margem de erro de 3,46% sob o nível de confiança de 95%. Isto significa que em 100 estimativas amostrais, 95 delas estarão compreendidas dentro do intervalo de confiança, podendo variar em 5% para mais ou para menos, com erro máximo de 3,46%. Após definirmos o número de entrevistados, optamos por cotificar a amostra por faixa etária e gênero. Ficando assim a distribuição: 'LVWULEXLomR(WiULDGD3RSXODomR 75 );(WiULD 9LOD&DIH]DO 9LOD1RYR2XUR3UHWR 18-24 25%(32) 23%(23) 25-35 34%(44) 38%(38) 36-55 29%(38) 25%(25) 55 ou mais 12%(16) 14%(14) Total 100%(130) 100%(100) ,%*( Temos consciência de que a amostra por cota não garante a mesma representatividade da amostra aleatória, mas esta escolha se deveu pelos parcos recursos para a realização do campo, bem como o pouco tempo para a realização do VXUYH\. Como a distribuição por gênero nas vilas selecionadas aproxima-se da tendência mundial de 50% para cada sexo, a distribuição dos questionários entre homens e mulheres; assim ficou a distribuição: 'LVWULEXLomRGD$PRVWUDSRU*rQHURH)[(WiULD 1VDEVROXWRV 9LOD&DIH]DO 9LOD1RYR2XUR3UHWR )[(WiULD 0DVFXOLQR )HPLQLQR 0DVFXOLQR )HPLQLQR 18-24 19 20 12 11 25-35 19 20 19 19 36-55 19 20 12 13 Mais de 55 6 7 7 7 Total 63 67 50 50 ,%*( A aplicação do questionário foi domiciliar, sendo estes sorteados previamente, como base, o cadastro domiciliar da URBEL, dos anos de 1999/2000. Utilizamos o sorteio aleatório probabilístico simples dos domicílios para abranger de maneira mais completa a população pesquisada para garantir uma maior representatividade e reduzir os problemas da amostragem por cotas. Caso no domicílio sorteado não houvesse pessoas 76 que encaixassem na cota, o questionário seria aplicado no primeiro domicílio à esquerda, e assim, sucessivamente. O acesso ao campo obedeceu a seguinte estratégia: Para realizar o campo na Vila Novo Ouro Preto, fizemos um contato com da ONG Cidadania pelas Águas, no sentido de identificar alguma liderança na comunidade. Técnicos da ONG sugeriram a Sra. Edna, presidente da associação dos moradores. O contato foi realizado sem maiores complicações, sendo a referida senhora nossa guia por alguns dias no trabalho de campo. A aplicação dos questionários foi realizada pelo autor deste trabalho. Na Vila Cafezal contamos com o auxílio de um morador da região; estudante de doutorado da UFMG e com a ajuda de seminaristas da igreja católica que fazem trabalhos comunitários na vila. Estas pessoas nos apresentaram a região e alguns de seus moradores, o que facilitou nossa entrada na comunidade, historicamente arredia a estranhos, principalmente devido à violência. O campo foi realizado pelo autor deste trabalho, que contou com a ajuda de três estudantes da UFMG, dois da graduação em ciências sociais e um do doutorado em sociologia e política. Neste caso, houve um treinamento para explicar a metodologia na coleta dos dados e esclarecer qualquer dúvida referente ao questionário. O programa estatístico utilizado para as análises dos dados foi o SPSS. 77 &$3Ë78/2 $1È/,6('26'$'26 Este capítulo apresenta uma análise do banco de dados construído a partir da coleta das informações na Vila Novo Ouro Preto e Vila Cafezal. Esta análise está baseada em procedimentos estatísticos utilizados por outros autores que têm usado instrumentos de medida semelhantes de capital social. Dividiremos este tópico em duas partes: a primeira consistirá em uma análise descritiva dos dados, onde são apresentados as tendências obtidas para cada vila e ao mesmo tempo destacaremos a correlação entre as variáveis utilizando o índice de 3KL&UDPHU¶V que é amplamente usado para variáveis nominais, e a significância. A partir deste ponto, realizaremos uma análise multivariável para determinar os fatores que, em última instância, nos auxiliarão na determinação de padrões de capital social. Esta segunda análise está baseada em estudos realizados na Austrália e E.U.A, por Bullen & Onyx e Ferreira Pinto HW DO respectivamente. Em um momento posterior da nossa análise de dados, descreveremos de maneira mais detalhada esta análise estatística. $QiOLVH'HVFULWLYD ±'DGRVGHPRJUiILFRVHVyFLRHFRQ{PLFRV 78 Começaremos a análise destacando as características demográficas e econômicas das duas vilas e, em um segundo momento, destacaremos as informações sobre opiniões e comportamentos que nos apontam para o capital social. A variável ocupação foi agregada em dois tipos básicos; classificados como atividade remunerada, atividade não remunerada e aposentadoria e pensão. A agregação dos dados deveu-se à proximidade dos rendimentos e das atividades laborativas, independentemente de ela é se registrada ou informal. Na Vila Novo Ouro Preto, 59% das pessoas entrevistadas realizavam algum tipo de trabalho remunerado, enquanto na Vila Cafezal estavam 37,6% ocupadas. Quanto aos aposentados e pensionistas o comportamento é idêntico; 7% e 7,7% respectivamente na Vila Novo Ouro Preto e na Vila Cafezal. Uma grande diferença é observada na população sem rendimento; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 34% dos entrevistados nessa condição, enquanto na Vila Cafezal temos 54,7%,21 entre desempregados e pessoas sem atividade remunerada (36,2% e 15,5% respectivamente). Outra variável que agregamos foi a renda. Na Vila Cafezal 75,4% dos entrevistados têm renda de até 4 salários mínimos; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 81% dos entrevistados nessa faixa de renda; entre 5 e 10 salários mínimos encontramos 23,8% na Vila Cafezal e 17% na Vila Novo Ouro Preto; acima de 10 salários mínimos temos 0,8% na Vila Cafezal e 2% na Vila Novo Ouro Preto. 21 Esta taxa é bastante alta para os padrões médios brasileiro. Acreditamos ser necessário uma desagregação nos dados para que possamos saber, na real medida, o comportamento ocupacional destas populações; como por exemplo: se recebe ajuda financeira de alguém; se é mantido pelo cônjuge; etc. 79 A variável educação também foi agregada, tendo sido encontrado na Vila Cafezal 27,7% de analfabetos e pessoas que só assinam o nome; 48,5% de pessoas com até a 4ª série completa, 20,7% de pessoas com até a 8ª completa e 3,1% com até o 2º grau completo; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 10% de analfabetos, 43% de pessoas com até a 4ª série completa, 37 % com até a 8ª completa e 10% com até o 2º grau completo. O que nos chama a atenção com relação a esses fatores são os extremos da distribuição: encontramos uma correlação inversa entre a Vila Cafezal e a Vila Novo Ouro Preto; enquanto temos uma taxa alta de analfabetismo na Vila Cafezal, temos uma taxa bem menor na Vila Novo Ouro Preto, quando observamos a presença de pessoas com escolaridade de 2º grau; há uma inversão em favor da Vila Novo Ouro Preto. Este comportamento aponta para os dados levantados pelo Crisp; onde observa-se uma violência maior em comunidades com altos níveis de analfabetismo, como é o caso da Vila Cafezal. Quanto a moradia temos a seguinte distribuição: 7$%(/$±7HPSRGH0RUDGLDSRU&RPXQLGDGH Vila Menos De 1 a 3 de 1 ano anos 2 2 Cafezal 1,5% 1,5% 3 6 Novo Ouro Preto 3,0% 6,0% 5 8 Total 2,2% 3,5% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO De 3 a 5 anos 13 10,0% 15 15,0% 28 12,2% De 5 a 10 anos 21 16,2% 14 14,0% 35 15,2% Mais de 10 anos 92 70,8% 62 62,0% 154 67,0% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Como podemos perceber, nas duas vilas encontramos um comportamento bastante parecido quanto ao tempo de moradia, destacando a baixa rotatividade de seus moradores. Quanto ao tipo de moradia temos a seguinte distribuição: 80 7$%(/$±7LSRGH0RUDGLDSRU&RPXQLGDGH Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Própria Alugada Emprestada Total 92 70,8% 80 80,0% 172 74,8% 28 21,5% 14 14,0% 42 18,3% 10 7,7% 6 6,0% 16 7,0% 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Oitenta por cento dos moradores da Vila Novo Ouro Preto são proprietários das casas onde moram, o restante, 20%, alugam ou tem a casa cedida; na Vila Cafezal 70,8% são proprietários dos imóveis onde residem e 29,2% aluga ou tem a casa cedida. A composição familiar nas duas vilas são bastante próximas: 7$%(/$±(VWDGR&LYLOSRU&RPXQLGDGH Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total Casado(a) Solteiro(a) 58 44,6% 57 57,0% 115 50,0% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 38 30,0% 24 24,0% 63 27,4% Separado(a) Divorciado(a) 13 10,0% 2 2,0% 15 8,5% Viúvo(a) Outro 8 6,2% 4 4,0% 12 5,2% 12 9,2% 13 13,0% 25 10,9% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Aqui temos uma preponderância de pessoas casadas na Vila Novo Ouro Preto, 57%, contra 44,6% na Vila Cafezal; temos ainda na Vila Cafezal uma superioridade de solteiros e separados/divorciados, 30% e 10% respectivamente, contra 24% e 2% respectivamente na Vila Novo Ouro Preto. Esta tendência remete a Durkheim, que em sua obra “O Suicídio” (1996[1897]), apontava para a inserção mais familiar como uma das causas de uma maior estabilidade social. Evidentemente que não podemos daí 81 afirmar que solteiros e separados tenham uma predisposição para o cometimento de delitos, mas com certeza essa ausência de obrigações familiares e conjugais acaba facilitando a exposição das pessoas nas ruas, o que as deixam mais próximas de possíveis conflitos. 7$%(/$±$3UHVHQoDGH)LOKRVSRU&RPXQLGDGH Vila Sim 102 Cafezal 78,5% 78 Novo Ouro Preto 78% 180 Total 78,3% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Não 28 21,5% 22 22% 50 21,7% Total 130 100,0% 100 100% 230 100,0% Esta tabela aponta para uma distribuição equitativa nas duas vilas; como nos mostra a tabela acima, a distribuição é idêntica. Em síntese, a Vila Novo Ouro Preto apresenta melhores condições de renda, emprego e alfabetização/escolaridade, moradia , assim como maior estruturação familiar. Aspectos fundamentais para Putnam e Coleman para a produção de capital social. 'DGRVVREUHFDSLWDOVRFLDO Após a explanação demográfica das duas vilas pesquisadas, destacaremos os dados levantados referentes ao capital social; ou seja, destacaremos as duas vilas e seus respectivos comportamentos, em relação às questões levantadas pelo questionário. Assim, dividiremos em seis tópicos as medidas de capital social, para melhor visualizar o comportamento das duas unidades pesquisadas. 82 Serão eles: 1. Sentimentos de credibilidade e confiança na vizinhança; 2. Conexões com a vizinhança; 3. Comportamento cívico; 4. Comportamento diante da violência; 5. Participação familiar na educação dos filhos; 6. Participação nas questões da saúde. 6HQWLPHQWRVGHFUHGLELOLGDGHHFRQILDQoDQDYL]LQKDQoD 7$%(/$±4XDOpDVXDRSLQLmRVREUHDVHJXLQWHDILUPDWLYD³1yVSRGHPRV FRQILDUQDVSHVVRDVTXHPRUDPDTXLQDYL]LQKDQoD´ Vila Concordo Muito 6 4,6% 41 Novo Ouro Preto 41,0% 47 Total 20,4% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Cafezal Concordo 30 23,1% 34 34,0% 64 27,8% Concordo Pouco 67 51,5% 18 18,0% 85 37,0% Não Concordo Total 27 20,8% 7 7,0% 34 14,8% 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Esta tabela nos mostra claramente que, em relação à credibilidade nos vizinhos, o comportamento dos moradores das duas vilas é distinto; 75% dos entrevistados na Vila Novo Ouro Preto concordam ou concordam muito com a afirmativa que diz que os moradores são confiáveis contra apenas 27,7% dos moradores da Vila Cafezal, uma diferença bastante significativa, atestado pelo valor de correlação 3KL &UDPHU V de 0,525 e uma significância de 0,000. 83 7$%(/$±&RPRYRFrVHVHQWHDRDQGDUQDVUXDVGHVHXEDLUURDSyVWHU HVFXUHFLGR" Vila Muito Seguro 5 3,8% 38 Novo Ouro Preto 38,0% 43 Total 18,7% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Cafezal Seguro 21 16,2% 39 39,0% 60 26,1% Pouco Seguro 50 38,5% 15 15,0% 65 28,3% Inseguro 54 41,5% 8 8,0% 62 27,0% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Como nos mostra a tabela 6, quando indagamos os respondentes acerca do sentimento de segurança nas vilas onde residem, o comportamento se mostra distinto conforme a vila. Dos moradores da Vila Novo Ouro Preto, 64% , acreditam ser a vila um lugar seguro, contra 11,5% dos moradores da Vila Cafezal. Destacamos que cerca de 42,3% dos moradores da Vila Cafezal não souberam precisar se a região era segura ou não.22 O valor da correlação 3KL&UDPHU V e a significância foi respectivamente 0,501 e 0,000; o que demonstra uma forte correlação entre as variáveis. 7$%(/$±$OJXPDVSHVVRDVGHVWHEDLUURGLVVHUDPTXHYLYHUDTXLpFRPRVH HVWLYHVVHHPFDVD2TXHYRFrDFKDGHVWDRSLQLmR" Vila 22 Concordo Muito Concordo Concordo Pouco Não Concordo N/S Este comportamento revelou-se uma alternativa "diplomática" para responder sobre as questões de segurança da Vila Cafezal. De maneira mais objetiva notamos que esta forma de responder tinha como fim a isenção; embora temos 46,2% de pessoas que responderam que a Vila Cafezal não é um lugar seguro. Total 84 Vila Concordo Muito 6 4,6% 39 Novo Ouro Preto 39,0% 45 Total 19,6% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Cafezal Concordo Concordo Pouco Não Concordo 43 33,1% 39 39,0% 82 35,7% 50 38,5% 13 13,0% 63 27,4% 31 23,8% 8 8,0% 39 17,0% N/S Total 1 1,0% 1 0,4% 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Ao serem indagados quanto à percepção acerca da acolhida do ambiente onde vivem, dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto, 78%, afirmaram ser a região bastante acolhedora, (agrupando quem concorda muito e concorda), ao passo que na Vila Cafezal eles representam 37,7%. Destacamos que 62,3% dos respondentes da Vila Cafezal concordam pouco ou discordam da afirmativa de que viver no local seria como se estivesse em casa; o que nos remete a um cenário muito hostil da vila. A correlação 3KL &UDPHU V e significância encontrada foi respectivamente 0,501 e 0,000. Mais uma vez há uma forte correlação entre as variáveis. 7$%(/$ ± 9RFr HPSUHVWDULD GLQKHLUR SDUD DOJXP YL]LQKR TXH HVWLYHVVH SUHFLVDQGR" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 49 37,7% 70 70,0% 119 51,7% Não 37 28,5% 14 14,0% 51 22,2% Talvez 44 33,8% 13 13,0% 57 24,8% N/S 3 1,3% 3 1,3% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Quando indagamos os entrevistados se emprestariam dinheiro a algum vizinho, atitude que consideramos indicador de confiança, 70% dos pesquisados na Vila Novo Ouro Preto emprestariam, contra 37,7% na Vila Cafezal. Destacamos que na Vila Cafezal 33,8% dos entrevistados analisariam a situação para decidirem emprestar ou não; ou seja, de acordo com as falas dos próprios moradores, dependeria muito da pessoa que 85 pedisse, de seu histórico e de sua reputação. A correlação 3KL &UDPHU V e significância encontrada foi respectivamente 0,364 e 0,000. Mais uma vez obtemos uma forte correlação. 7$%(/$±6HDiJXDGHVHXYL]LQKRDFDEDUHHOHSUHFLVDUGHWRPDUXPEDQKR YRFr GHL[DULDHOHXVDUVHXEDQKHLUR" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 57 43,8% 83 83,0% 140 60,9% Não 44 33,8% 14 14,0% 58 25,2% Talvez 29 22.3% 3 3,0% 32 13,9% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Ao colocarmos outra situação para medir a confiança nos vizinhos, mais uma vez os respondentes da Vila Novo Ouro Preto mostram-se mais confiante, com 83% permitindo a seus vizinhos a utilização do banheiro. Em relação a tabela 8, houve um sentimento de maior solidariedade dos respondentes da Vila Cafezal, 43,8%. A correlação 3KL &UDPHU V e significância foi respectivamente 0,408 e 0,000, mostrando assim, uma correlação significativa entre as variáveis. &RQH[}HVFRPDYL]LQKDQoD 86 Neste tópico, procuramos perceber as redes de sociabilidade entre os moradores das vilas entrevistadas. Assim sendo, mais uma vez colocamos situações cotidianas para percebermos o comportamento das pessoas . 7$%(/$±9RFrFRVWXPDFRQYHUVDUFRPVHXVYL]LQKRV" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sempre 34 26,2% 49 49,0% 83 36,1% Às vezes 48 36,9% 36 36,0% 84 36,5% Raramente 37 28,5% 12 12,0% 49 21,3% Nunca 11 8,5% 3 3,0% 14 6,1% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Na tabela 10, observamos que 49% dos moradores da Vila Novo Ouro Preto sempre conversam com os vizinhos, ao passo que na Vila Cafezal apenas 26,2% dos entrevistados fazem o mesmo; 36.9% na Vila Cafezal e 36% Na Vila Novo Ouro Preto conversam às vezes com os vizinhos, ou seja, possuem o mesmo comportamento. Moradores que raramente ou nunca conversam com seus vizinhos são 37% na Vila Cafezal e 15% na Vila Novo Ouro Preto. A correlação 3KL&UDPHU V e significância são respectivamente 0,281 e 0,000, sendo estatisticamente representativas. 7$%(/$±2TXHYRFrDFKDGDRSLQLmRGHTXHRVYL]LQKRVGHVWHEDLUURVmR PXLWRSUHVWDWLYRVTXDQGRYRFrRXRXWURPRUDGRUGDTXLSUHFLVDGHOHV" Vila Cafezal Ouro Preto Concordo Muito 10 7,7% 39 39,0% Concordo 58 44,6% 44 44,0% Concordo Pouco 50 38,5% 11 11% Não Concordo 12 9,2% 6 6,0% Total 130 100,0% 100 100,0% 87 Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 49 21,3% 102 44,3% 61 26,5% 18 7,8% 230 100,0% A tabela 11 nos mostra a percepção dos entrevistados acerca da solidariedade dos moradores das vilas estudadas. Enquanto na Vila Novo Ouro Preto 83% concordam ou concordam muito com aquela opinião, na Vila Cafezal 52,3% concordam ou concordam muito. Apesar da maioria na Vila Cafezal concordar, quando comparamos com a Vila Novo Ouro Preto, a diferença é bastante grande. Da mesma forma notamos uma grande diferença nos dados que demostram a pouca concordância ou a não concordância com a afirmativa destacada pela tabela 12. Enquanto 17% das respostas da Vila Novo Ouro Preto vão nesta direção, na Vila Cafezal temos 47,7%; mais uma vez a diferença é bastante significativa. Nesta variável temos uma correlação 3KL&UDPHU Ve significância de 0,432 e 0,000, indicando uma diferença significativa entre as duas vilas. 7$%(/$±2TXHYRFrDFKDGDVUHODo}HVHQWUHRVYL]LQKRVGHVHXEDLUUR" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total Muito boas 10 7,7% 29 29,0% 39 17,0% Total Regu- Ruins Pés- N/S lares simas 34 59 20 7 130 26,2% 45,4% 15,4% 5,4% 100,0% 15 5 1 2 100 48 48,0% 15,0% 5,0% 1,0% 2,0% 100,0% 82 74 25 8 2 230 35,7% 32,2% 10,9% 3,5% 0,9% 100,0% Boas 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO A percepção das relações entre os vizinhos é bastante interessante. Na Vila Novo Ouro Preto, elas são muito boas ou boas para 77% dos respondentes, enquanto apenas 33,9% dos respondentes da Vila Cafezal acham as relações entre os vizinhos boas ou muito boas. No outro extremo, 20,8% dos respondentes da Vila Cafezal acham as relações entre os vizinhos ruins ou péssimas, contra 6% dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto. A correlação 3KL &UDPHU V e significância são respectivamente 0,467 e 0,000, 88 para a variável da tabela 12, mais uma vez indicando uma diferença significativa entre as duas vilas. &RPSRUWDPHQWRFtYLFR De acordo com Putnam(1998[1993]), a participação em qualquer organização social é fundamental para a produção de capital social Na tabela número 13, 63,0% dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto participam de alguma organização ou associação, seja ela local ou não. Na Vila Cafezal apenas 38,5% dos respondentes afirmaram participar de alguma associação ou organização local. A correlação encontrada na variável acima foi 3KL &UDPHU V 0,243 e significância 0,000, indicando uma diferença significativa entre as duas vilas. 7$%(/$±9RFrSDUWLFLSDGHDOJXPDRUJDQL]DomRRXFOXEHORFDOFRPRSRU H[HPSORWLPHGHIXWHERODVVRFLDomRGHEDLUURLJUHMDHWF" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total Sim 50 38,5% 63 63,0% 113 49,1% Não 80 61,5% 37 37,0% 117 50,9% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 7$%(/$±9RFrFRVWXPDSDUWLFLSDUGDVUHXQL}HVGDDVVRFLDomRFRPXQLWiULDGH VHXEDLUUR" Vila Frequen- Algumas temente Vezes 6 24 Cafezal 4,6% 18,5% 39 37 Novo Ouro Preto 39,0% 37,0% 45 61 Total 19,6% 26,5% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Raramente 40 30,8% 14 14,0% 54 23,5% Nunca participo 60 46,2% 10 10,0% 70 30,4% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% 89 A tabela 14 destaca a participação dos respondentes nas reuniões da associação de bairro,mostrando um comportamento bastante distinto entre as duas vilas: na Vila Novo Ouro Preto, 39%23 dos respondentes afirmaram participar freqüentemente das reuniões; ao passo que 46,2% dos respondentes da Vila Cafezal afirmaram nunca participar das reuniões da associação de bairro. Ou seja, uma tendência bastante distinta quanto à participação em reuniões, atestada pela alta significação da correlação estatística encontrada: 3KL&UDPHU V 0,562 e significância 0,000. 7$%(/$±1RV~OWLPRVWUrVDQRVYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWRGDVXD FRPXQLGDGH" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 37 28,5% 86 86,0% 123 53,5% Não 93 71,5% 14 14,0% 107 46,5% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% A tabela 15 destaca a participação dos respondentes em projetos sociais para a melhoria da vila; notamos, mais uma vez, que a comunidade da Vila Novo Ouro Preto é mais participativa24, 86%, contra 28,5% da Vila Cafezal. A correlação encontrada nesta variável foi de 0,547 3KL&UDPHU¶V e 0,000 significância, altamente significativa. 23 Devemos destacar que a porcentagem que participa das reuniões freqüentemente na Vila Novo Ouro Preto nos surpreendeu; pois de acordo com um artigo publicado no jornal O Tempo, de Belo Horizonte, de autoria do cientista político Fábio Wanderley Reis, é notória a baixa participação dos moradores na associação de bairro no Brasil. Para avaliar esta controvérsia seria necessário uma avaliação das atas das reuniões da associação de bairro; o que, infelizmente não foi possível de ser realizado. 24 Nos últimos 4 anos, a organização não-governamental &,'$'$1,$3(/$6È*8$6 vem fazendo um trabalho de conscientização dos moradores da Vila Novo Ouro Preto, no sentido de reciclar o lixo e cuidar das nascentes presentes na região; que é uma das formadoras da bacia da Pampulha. Acreditamos ser esta a principal causa do alto índice de participação da comunidade em projetos sociais. 90 7$%(/$±(PDOJXPPRPHQWRGDVXDYLGDYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWR SDUDPHOKRUDUDVXDYL]LQKDQoD" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 43 33,1% 91 91,0% 134 58,3% Não 87 66,9% 9 9,0% 96 41,7% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% A participação em projetos sociais em algum momento da vida foi analisada na tabela 16. Comparandos os dados desta tabela com os da tabela anterior observamos um aumento na participação nas duas vilas; 33,1% na Cafezal e 91% na Novo Ouro Preto. A elevação percentual foi praticamente a mesmo nas duas comunidades. A correlação estatística encontrada foi 3KL &UDPHU V 0,582 e significância 0,000. Altamente significativa. &RPSRUWDPHQWRGLDQWHGDYLROrQFLDHFULPLQDOLGDGH 7$%(/$±6HYRFrYHUXPFULPHDFRQWHFHQGRHPVXDYL]LQKDQoDYRFrFKDPDD SROtFLD" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Sim 35 26,0% 41 41,0% Não 68 52,3% 25 25,0% Talvez 22 16,9% 31 31% N/S 2 1,5% 3 3,0% N/R 3 2,3% Total 130 100,0% 100 100,0% 91 Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 76 33,0% 93 40,4% 53 23,0% 5 2,2% 3 1,3% 230 100,0% Ao observarmos a tabela acima, notamos uma forte tendência dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto em denunciar para a polícia os crimes que porventura lá aconteçam: 41%; e 31% ponderam a possibilidade de acionar a polícia. Na Vila Cafezal 26,9% dos respondentes chamariam a polícia e 16,9% talvez chamariam; o mais importante é que na Vila Cafezal 52,3% não chamariam a polícia; um número bastante expressivo e revelador quanto à postura da população local diante do poder público. No caso a polícia militar e civil. A correlação estatística desta variável foi 0,306 3KL&UDPHU V e 0,000 significância, revelando mais uma vez uma diferença significativa entre as duas comunidades estudadas. 7$%(/$±$OJXPDYH]HPVXDYLGDYRFrMiOLJRXSDUDDSROtFLDSDUDGHQXQFLDU DOJXPFULPH" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 8 6,2% 27 27,0% 35 15,2% Não 116 89,2% 71 71,0% 187 81,3% N/R 6 4,6% 2 2,0% 8 3,5% Total 130 100,0 100 100,0% 230 100,0% A tabela 18 aponta para um comportamento bastante distinto quando relacionado com a tabela 17, onde temos uma possível tomada de atitude dos respondentes. A porcentagem de pessoas que acionaram a polícia cai drasticamente. Tanto na Vila Novo Ouro Preto como na Vila Cafezal é notória a baixa atitude real diante do crime; mesmo assim, temos que na Vila Novo Ouro Preto a porcentagem é maior que na Vila Cafezal; 27% e 92 6,2% respectivamente. Estatisticamente temos o 3KL&UDPHU V 0,292 e significância de 0,000. 7$%(/$±2VFULPHVTXHDFRQWHFHUDPHPVHXEDLUURIRUDPFRPHWLGRVSRU SHVVRDVGDVXDSUySULDYL]LQKDQoD" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim Não 24 18,5% 54 54,0% 78 33,9% 58 44,6% 26 26,0% 84 36,5% Às vezes sim, às vezes não 26 20,0% 15 15,0% 41 17,8% N/S N/R Total 10 7,7% 5 5,0% 15 6,5% 12 9,2% 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% 12 5,2% A tabela 19 procura destacar a percepção dos moradores quanto a autoria dos crimes na região onde moram. Mais uma vez há uma diferença comportamental entre as vilas. Na Vila Novo Ouro Preto 54% dos respondentes afirmaram que os delitos foram cometidos pelos próprios moradores; na Vila Cafezal apenas 18,5% são da mesma opinião. Um destaque a ser levantado refere-se à relutância em responder a tal questão. Quase 17% dos entrevistados da Vila Cafezal responderam não saber ou não responderam, contra 5% dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto.25 A correlação encontrada foi 3KL &UDPHU V0,401 e significância 0,000, mais uma vez com uma alta significação. 25 Tal fato pode ser explicado pela lei do silêncio em vilas e favelas, quando o assunto é criminalidade. Quando aplicamos o questionário na Vila Cafezal, percebemos um tom de ironia quando os moradores diziam que não eram os seus vizinhos que cometiam crimes ocorridos na região. Aqui não há a intenção de relacionar pobreza e crime, muito menos reproduzir o preconceito contra os moradores e vilas e favelas, dizendo que são marginais; mas de acordo com relatos policiais, os delitos na Vila Cafezal, principalmente contra a pessoa, são cometidos por moradores da região; principalmente quando a questão do tráfico é colocada em jogo. Assim, acredito que os dados da tabela 19 estejam deturpados, retratando, na realidade, uma preocupação de sobrevivência dos moradores. Uma pesquisa em andamento no Crisp, sob coordenação do prof. Cláudio Beato, aponta para uma proximidade espacial entre a vítima e criminoso (no caso, homicídios),principalmente nas vilas e favelas, este fato corrobora as nossas dúvidas, principalmente no caso da Vila Cafezal, onde os moradores negaram as autorias dos delitos aos vizinhos. 93 7$%(/$ ± 9RFr GRDULD XPD TXDQWLD HP GLQKHLUR SDUD WHU PDLV VHJXUDQoD H WUDQTLOLGDGHHPVHXEDLUUR" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 51 39,2% 53 53,0% 104 45,2% Não 58 44,6% 20 20,0% 78 33,9% Talvez 21 16,2% 27 27,0% 48 20,9% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Através da análise da tabela 20 percebemos que a população das vilas é receptiva quanto a possibilidade de um auxílio privado nas questões referentes à segurança pública; mais especificamente à segurança ostensiva, feita por policiais militares: a questão não trata, portanto, de segurança privada, de grupos para-militares, justiceiros, etc. Podemos ver que na Vila Novo Ouro Preto, 52% dos respondentes estariam dispostos a contribuir com alguma participação pecuniária para ter mais segurança na região Na Vila Cafezal a opinião é mais dividida, 39,2% concordam em contribuir, mas 44,6% não ajudariam financeiramente para se ter mais segurança26. A correlação estatística encontrada foi 3KL&UDPHU V0,269 e significância 0,000. 3DUWLFLSDomRIDPLOLDUQDHGXFDomRGRVILOKRV Neste tópico procuramos detectar a participação familiar na formação escolar de seus filhos, sendo que os respondentes sem filhos ou com filhos já adultos não responderam às questões, sendo codificados no item "não se aplica". A escolha em medir a 26 Muitos entrevistados na Vila Cafezal alegaram falta de dinheiro, desconfiança no Estado e na polícia, para se negarem a contribuir para a segurança; na Vila Novo Ouro Preto também houve estas indagações, mas estão dispostos a contribuírem financeiramente para conter o avanço da violência, os moradores desta vila parecem temer mais a consolidação da violência na região, o que poderia ser uma explicação para tal comportamento; já na Vila Cafezal há, historicamente, um convívio mais próximo com a violência, o que pode produzir um comportamento mais conivente com as atitudes violentas, diria mesmo uma reestruturação social para o convívio com a violência; um processo de adaptação. 94 participação familiar na escola vai ao encontro da idéia de que as pessoas têm uma expectativa futura quando investem na educação, e por conseqüência vislumbram uma vida melhor. De acordo com Putnam (2000), há uma correlação entre educação e índices de capital social.27 7$%(/$±9RFrFRVWXPDLUjVUHXQL}HVGDHVFRODGHVHXVILOKRV" Vila Sempre Às vezes Raramente Nunca Não se aplica 45 34,6% 32 32,0% 77 33,5% 31 23,8% 25 25,0% 56 24,3% 10 7,7% 8 8,0% 18 7,8% 6 4,6% 3 3,0% 9 3,9% 38 29,2% 32 32,0% 70 30,4% Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Na tabela 21 podemos observar que o comportamento entre as duas vilas é bastante semelhantes. Nos dois universos, percebemos uma valorização da participação nas reuniões da escola dos filhos. Na Vila Cafezal temos 34,6% dos respondentes que sempre comparecem nas reuniões, e na Vila Novo Ouro Preto 32%. Com um menor comparecimento temos 23,8% dos respondentes na Vila Cafezal e 25% dos respondentes na Vila Novo Ouro Preto. A baixa participação nas reuniões escolares foi representada por 4,6% dos respondentes da Vila Cafezal e 3% dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto. A correlação estatística encontrada foi de 0,054 3KL&UDPHU Ve 0,995 significância. Diferença não significativa entre as vilas estudadas. 27 É fato que no Brasil, como um todo, é muito baixo o números de anos que as pessoas passam na escola, cerca de 4,7 anos em média, de acordo com o IBGE; apesar disto acreditamos que o comportamento das pessoas em relação à educação, apesar dos diversos motivos que a impediram de estudar, é relevante para a produção do capital social. 95 7$%(/$±9RFrFRVWXPDDMXGDUVHXVILOKRVQDVWDUHIDVHVFRODUHV" Vila Freqüen- Às temente vezes Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 39 30,0% 36 36,0% 75 32,6% 34 26,2% 22 22,0% 56 24,3% Raramente Nunca Não se aplica Total 9 6,9% 6 6,0% 15 6,5% 10 7,7% 4 4,0% 14 6,1% 38 29,2% 32 32,0% 70 30,4% 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Na tabela 22, continuamos a analisar a postura dos respondentes diante das exigências escolares dos filhos. O comportamento das duas vilas foi bastante semelhante; sendo que mais de 50% dos respondentes ajudam os filhos na realização das tarefas escolares28, o que é bastante significativo se tomarmos em conta a parcela dos entrevistados que não se encaixaram nesta pergunta. A correlação estatística encontrada foi 0,104 para o 3KL&UDPHU Ve significância 0,643, demonstrando não haver diferença significativa entre as duas vilas. 7$%(/$±9RFrGHL[DULDGHFRPSUDUXPDWHOHYLVmRRXXPDURXSDQRYDSDUD LQYHVWLUQDHGXFDomRGHVHXVILOKRV" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 28 Sim 114 87,7% 100 100,0% 214 93,0% Não 11 8,5% Talvez 5 3,8% 11 4,8% 5 2,2% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Apesar do baixo nível de escolarização dos pais, elas procuram ajudar os filhos na realização das tarefas escolares, se não diretamente, procuram alternativas como aulas de reforço junto aos filhos mais velhos ou vizinhos. 96 Esta tabela é bastante interessante, pois coloca à prova a relação entre bens materiais e bens culturais. Na Vila Novo Ouro Preto, a totalidade dos respondentes abririam mão de algum conforto para propiciar uma educação melhor para seus filhos, 87,7% dos respondentes na Vila Cafezal teriam o mesmo comportamento, 8,5% não abririam mão do conforto material e 3,8% não souberam precisar alguma decisão. A correlação estatística encontrada neste cruzamento foi de 0,240 para 3KL&UDPHU Ve significância 0,001. 7$%(/$ ± 9RFr FRVWXPD GDU RSLQL}HV H VXJHVW}HV QDV TXHVW}HV UHIHUHQWHV j HVFRODGHVHXVILOKRV" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total Sim Não Não se Aplica Total 54 41,5% 38 38,0% 92 40,0% 38 29,2% 30 30,0% 68 29,6% 39 29,2% 32 32,0% 70 30,4% 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Podemos perceber um comportamento bastante semelhante nas vilas pesquisadas. Em ambos os casos, temos uma tendência à participação nas diretrizes da escola, mas mesmo assim, a abstenção também é relevante, principalmente se desconsiderarmos a questão “não se aplica”. A correlação estatística encontrada foi 0,033 e 0,884 para 3KL &UDPHU V e significância respectivamente, atestando não haver diferença significativa quanto à questão, para as duas vilas. 3DUWLFLSDomRQDVTXHVW}HVGDVD~GH Este tópico foi incluído com o intuito de perceber a participação direta dos entrevistados em programas de saúde. Apesar de parecer redundante, pois o item 3 já trata da 97 participação em movimentos sociais e similares, aqui trabalhamos diretamente com questões referentes à saúde, o que para nós demonstra uma preocupação tanto com o bem-estar familiar quanto com o meio-ambiente, aspectos relevantes para o conceito de capital social. 7$%(/$±9RFrHVWiRXMiHVWHYHHQYROYLGRFRPDOJXPSURJUDPDFRPXQLWiULR VREUHVD~GH" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 12 9,2% 27 27,0% 39 17,0% Não 118 90,9% 73 73,0% 191 83,0% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% A tabela acima nos mostra que a participação dos moradores em programas relacionados à saúde é bastante baixa; a Vila Cafezal conta com apenas 9,2% dos respondentes, e a Vila Novo Ouro Preto com 27%. Apesar de considerarmos esta participação baixa, a Vila Novo Ouro Preto , em relação a Vila Cafezal, tem uma participação bem superior29. A correlação estatística encontrada foi 0,235 para 3KL &UDPHU V e 0,000 de significância. A tabela 26 demonstra a percepção dos respondentes quanto a ação dos moradores em campanhas de combates a doenças, incentivadas por campanhas governamentais30. Para 63,8% dos respondentes da Vila Cafezal, a população local ajuda nas campanhas de 29 Devemos ressaltar que no momento em que aplicávamos o questionário na Vila Novo Ouro Preto, uma organização não-governamental &,'$'$1,$3(/$6È*8$6estava realizando um trabalho de conscientização da comunidade em relação ao lixo doméstico. Esta ONG está presente na vila há mais de 4 anos, o que justifica, em nossa análise, uma maior participação dos moradores da Vila Novo Ouro Preto em programas comunitários de saúde. Devemos ainda destacar que os governos municipal, estadual e federal, não realizam, em Belo Horizonte pelo menos, programas sistemáticos na área de saúde, o que dificulta, ainda mais, uma grande mobilização popular em prol de uma melhor saúde. 98 combate e prevenção às doenças; na Vila Novo Ouro Preto 84%31 dos respondentes acreditam na participação efetiva dos moradores nas campanhas de combate e prevenção à doenças. 32 A correlação estatística encontrada foi 0,229 para 3KL&UDPHU Ve 0,002 de significância. 7$%(/$ ± 1D VXD RSLQLmR RV PRUDGRUHV GHVWH EDLUUR SDUWLFLSDP GDV FDPSDQKDV GH FRPEDWH jV GRHQoDV FRPR SRU H[HPSOR D GHQJXH H D IHEUH DPDUHOD" Vila Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO Sim 83 63,8% 84 84,0% 167 72,6% Não 44 33,8% 14 14,0% 58 25,2% N/S 3 2,3% 2 2,0% 5 2,2% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% 7$%(/$±4XDQGRYRFrHVWiGRHQWHRTXHYRFrQRUPDOPHQWHID]SDUDWUDWDU" Vila Cafezal 30 Vai ao Usa Procura posto de remédios ajuda saúde/ caseiros espiritual médico 93 25 9 71,5% 19,2% 6,9% Outro Total 3 2,3% 130 100,0% Uma das poucas ações do poder público em relação a saúde pública. Mais uma vez destacamos o trabalho da ONG &,'$'$1,$3(/$6È*8$6para respaldar os números da Vila Novo Ouro Preto. No contato com a população local e com as lideranças locais, observamos uma real preocupação com a qualidade de vida local, principalmente em relação ao que fazer com lixo e esgoto. De acordo com os técnicos da URBEL, a comunidade local é realmente participativa e preocupada com os rumos da vila. 32 Apesar que na Vila Cafezal 33,8% dos respondentes acreditem que a população local não participa das campanhas de prevenção e combate às doenças, as taxas positivas são bastante expressivas, o que nos faz crer que se houvesse campanhas mais efetivas do poder público em envolver a população nos projetos sociais, poderíamos ter respostas satisfatórias para os problemas que estão postos na realidade brasileira. 31 99 Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 80 80,0% 173 75,2% 15 15,0% 40 17,4% 4 4,0% 13 5,7% 1 1,0% 4 1,7% 100 100,0% 230 100,0% De acordo com os dados da tabela 27, temos um comportamento bastante parecido entre os dois universos pesquisados; a grande maioria dos respondentes nas duas vilas utiliza o serviço público de saúde: 71,5% na Vila Cafezal e 80% na Vila Novo Ouro Preto. Um dado interessante são as alternativas (remédios caseiros e ajuda espiritual) encontradas nas duas vilas para encontrar a cura para algum mal físico; 26,1% na Vila Cafezal e 19% na Vila Novo Ouro Preto. A relação estatística encontrada neste cruzamento foi 0,105 para 3KL&UDPHU Ve 0,470 de siginficância. 7$%(/$±3DUDYRFrTXDOpDSULQFLSDOFDXVDGDYLROrQFLDHPVHXEDLUUR" Vila Drogas Álcool Cafezal Novo Ouro Preto Total 3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO 89 19 68,5% 14,6% 31 58 58,0% 31,0% 50 147 63,9% 21,7% Desem Falta N/S prego Pobrede za estudo 17 3 2 13,1% 2,3% 1,5% 8 1 2 8,0% 1,0% 2,0% 25 3 3 2 10,9% 1,3% 1,3% 0,9% Total 130 100,0% 100 100,0% 230 100,0% Como era de se esperar, para a população das duas vilas estudadas, a grande causa da violência são as drogas; a percepção é mais intensa na Vila Cafezal (68,5%), onde, de acordo com relatos policiais, as drogas estão instaladas há muito tempo e há o problema crônico do tráfico de drogas, na Vila Novo Ouro Preto temos 58%. É interessante notar o papel do álcool, na percepção dos entrevistados, como causador da violência. Na Vila Novo Ouro Preto ele é causador da violência para 31% dos respondentes, contra 14,6% na Vila Cafezal. Também é interessante notar a correlação feita pelos respondentes 100 entre violência e desemprego/pobreza: 15,4% na Vila Cafezal e 8% na Vila Novo Ouro Preto. Não há, por parte dos respondentes, uma relação entre anos de estudo e violência, 1,5% na Vila Cafezal e 1% na Vila Novo Ouro Preto. Dados do Crisp/UFMG apontam para uma correlação entre anos de estudo e criminalidade violenta nas favelas de Belo Horizonte, como podemos ver no gráfico abaixo: 1tYHOGHYLROrQFLD 7D[DGHDQDOIDEHWLVPRSRUWLSRGHIDYHOD 11,9 Não Violentas 23 Violentas 12,7 Todas 0 5 10 15 20 25 3HUFHQWXDOPpGLRVLJ Crisp/UFMG - 2001 A correlação estatística encontrada na tabela foi de 0,250 para 3KL H &UDPHU V e significância 0,014, resultado significativo, atestando as diferenças entre as duas vilas estudadas. Em síntese, a Vila Novo Ouro Preto mostrou-se mais dotada de características que indicam maior grau de capital social do que a vila Cafezal. As opiniões e comportamentos da amostra investigada, demonstraram que a Vila Novo Ouro Preto as pessoas apresentam maior confiança nos vizinhos, no poder público (polícia, sistema de 101 saúde, etc.), investem na própria comunidade e são mais participativos. Já na Vila Cafezal, a população parece não apresentar a mesma confiabilidade nos vizinhos, como no poder público. Apenas quanto ao investimento na educação dos filhos, esta vila apresenta opiniões semelhantes à da Vila Novo Ouro Preto, ambas acreditam na importância da escola. Diante destas evidências, podemos afirmar que os moradores da Vila Novo Ouro Preto possuem um investimento maior nas questões que Putnam e Coleman classificam como indícios de capital social. Os dados revelam um comportamento mais associativo e cívico dos moradores da Vila Novo Ouro Preto do que os moradores da Vila Cafezal. $QiOLVHIDWRULDOGRVGDGRV A análise de fator é um nome genérico dado a uma classe de métodos estatísticos multivariados, cuja proposta inicial é a de condensar ou sumarizar em pequenos grupos de fatores ou componentes uma grande gama de informações, indicando as qualidades presentes nos dados. Destacamos que os fatores não são FOXVWHUV. Os FOXVWHUV são mais concretos, imediatamente perceptíveis e mais fáceis de serem compreendidos do que os fatores. Eles são definidos levando em consideração uma relativa contiguidade dos pontos no espaço e não como os fatores que são definidos por sua distribuição nos eixos Y e X, o que dificulta o agrupamento, Hair, Jr. HW DO.(1987[1984]). Vários métodos foram desenvolvidos para estabelecer o número de fatores. Para a sociologia, o critério mais eficiente é o da porcentagem de variância. Este critério define 102 o número de fatores a partir da somatória das variâncias. O corte realizado para a definição dos fatores, fica, em média, nos 60% da variância total, índice considerado satisfatório, de acordo com Hair, Jr. HW DO.(1987[1984]) Estabelecido o número de fatores faz-se necessário determinar os critérios para a seleção das variáveis significativas que irão compor os fatores. Partimos de uma análise preliminar, observando os ORDGLQJV dos fatores presentes na matriz de dados. De acordo com Hair, Jr HWDO. (1987[1984]), loadings acima de .30 são considerados VLJQLILFDWLYRV, acima de .40 são PXLWR LPSRUWDQWHV, igual ou maior que .50 são considerados “muito significativos”. Os ORDGLQJVrepresentam a correlação entre a variável original e o novo fator criado. A escolha dos ORDGLQJV é refinada ao considerarmos o número de variáveis do banco de dados. Para Hair,Jr HWDO (1987[1984]). Numa amostra de tamanho 20 e com 5 fatores, podemos trabalhar com ORDGLQJV de ± .292; para uma amostra de tamanho 50 e com 5 fatores, podemos trabalhar com ORDGLQJV de ± .267; para uma amostra de 20 variáveis e 10 fatores podemos trabalhar com ORDGLQJVde ± .353 e com 50 variáveis ORDGLQJV de ± .274. A construção dos fatores obedece uma lógica bastante simples a partir da tabela dos ORDGLQJV Observando cada coluna , que representa um fator, destacamos as variáveis mais significativas e as agrupamos, definindo assim as novas variáveis. A nomenclatura é de responsabilidade do pesquisador, levando em consideração a variável com o maior ORDGLQJ; quando há uma grande discrepância entre as variáveis selecionadas temos a opção de não usar nenhuma definição para o fator. Quando ocorre uma situação como esta, temos a indicação de que há uma derivação entre as variáveis e ao mesmo tempo uma indefinição interna do fator. Como ressalta Hair HW DO 103 (1987[1984]), apenas os fatores com relações expressivas entre as variáveis devem ser interpretados, tal como em estudos anteriores de capital social, nos quais os autores (Ferreira-Pinto HW DO, 2001, dentre outros) selecionaram apenas os fatores com forte associação. Selecionamos 10 fatores a partir da variância. Respeitamos a seleção realizada pelo programa SPSS que fez o corte no componente com o valor acumulado da variância de 69,924% na Vila Novo Ouro Preto e 74,742% na Vila Cafezal. A seleção das variáveis para compor os fatores levou em consideração os valores dos ORDGLQJV acima de ± .50, por caracterizar uma forte relação. 0pWRGRGH(VWLPDomR&RPSRQHQWHV3ULQFLSDLVURWDomR9DULPD[ 9LOD&DIH]DO )DWRU /RDGLQJV Você costuma ajudar seus filhos nas tarefas escolares? .980 Você .979 costuma ir às reuniões da escola de seus filhos? Você costuma dar opiniões e sugestões nas questões referentes à escola de seus filhos? .979 (% da variância: 14,403) )DWRU Como você se sente ao andar nas ruas de seu bairro após ter escurecido? .885 Você costuma participar das reuniões da associação comunitária de seu bairro? .849 Algumas pessoas deste bairro disseram que viver aqui é como se estivesse em casa. O que você acha desta opinião? .835 104 Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmativa: Nós podemos confiar nas pessoas que moram aqui na vizinhança. .516 (% da variância: 11,635) )DWRU Nos últimos 3 anos você participou de algum projeto para melhorar a sua comunidade?.899 Em algum momento da sua vida você participou de algum projeto para melhorar a sua vizinhança? .863 (% da variância: 10,398) )DWRU O que você acha da opinião de que os vizinhos deste bairro são muito prestativos quando você, ou outro morador daqui necessita deles? .776 Você .756 O que .694 costuma você conversar acha das com relações entre seus os vizinhos vizinhos de seu ? bairro? (% da variância: 8,212) )DWRU Você emprestaria .853 dinheiro para algum vizinho que estivesse precisando? Você acha que a sua vizinhança pode ser classificada como um lugar seguro? .754 (% da variância: 6,137) )DWRU Alguma vez em sua vida você já ligou para a polícia para denunciar algum crime? .787 Se você ver um crime acontecendo em sua vizinhança você chama a polícia? .661 (% da variância: 5,603) )DWRU 105 Os crimes que aconteceram em seu bairro foram cometidos por pessoas da sua própria vizinhança? .738 (% da variância: 5,251) )DWRU Você está ou já esteve envolvido com algum programa comunitário sobre saúde? .560 Quando você está doente o que você faz normalmente para se tratar? .821 (% da variância: 4,651) )DWRU Na sua opinião os moradores deste bairro participam das campanhas de combate às doenças, como por exemplo a dengue e a febre amarela? .728 Você doaria uma quantia em dinheiro para ter mais segurança e tranqüilidade em sua comunidade? .519 (% da variância: 4,342) )DWRU Para você, .884 qual é a principal causa da violência em seu bairro? (% da variância: 4,109) 9LOD1RYR2XUR3UHWR )DWRU /RDGLQJV Você costuma ir às reuniões da escola de seus filhos? .991 Você .991 costuma ajudar seus filhos nas tarefas escolares? Você costuma dar sugestões nas questões referentes à escola de seus filhos? .991 (% da variância: 14,399) 106 )DWRU Você costuma participar das reuniões da associação comunitária de seu bairro? .693 Nos últimos 3 anos você participou de algum projeto da sua comunidade? .866 Em algum momento da sua vida você participou de algum projeto para melhorar a sua vizinhança? .905 (% da variância: 11,088) )DWRU Como você se sente ao andar nas ruas de seu bairro após ter escurecido? .509 Os crimes que aconteceram em seu bairro foram cometidos por pessoas da sua própria vizinhança? .585 (% da variância: 7,172) )DWRU Você emprestaria .785 dinheiro para algum vizinho que estivesse precisando? Você participa de alguma organização ou clube local, como por exemplo time de futebol, associação de bairro, igreja, etc.? .611 (% da variância: 6,497) )DWRU Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmativa: Nós podemos confiar nas pessoas que moram aqui na vizinhança. .765 Na sua opinião os moradores deste bairro participam das campanhas de combate às doenças, como por exemplo a dengue e a febre amarela? .812 (% da variância: 5,844) )DWRU 107 Você acha que sua vizinhança pode ser classificada como um local seguro? .747 Se você ver um crime acontecendo em sua vizinhança você chama a polícia? .766 (% da variância: 5,521) )DWRU Se a água de sue vizinho acabar e ele precisar de tomar um banho você deixaria ele usar o seu banheiro? .534 O que .660 você acha das relações entre os vizinhos de seu bairro? Você está ou já esteve envolvido com algum programa comunitário de saúde? .692 (% da variância: 5,320) )DWRU Você .712 costuma conversar com seus vizinhos? O que você acha da opinião de que os vizinhos deste bairro são muito prestativos quando você, ou outro morador daqui necessita deles? .776 (% da variância: 5,069) )DWRU Alguma vez você já ligou para a polícia .613 para denunciar algum crime? Você doaria uma quantia em dinheiro para ter mais segurança e tranqüilidade em sua comunidade? .511 Para .541 você, qual é (% da variância: 4,538) )DWRU a principal causa da violência em seu bairro? 108 Algumas pessoas deste bairro disseram que viver aqui é como se estivesse em casa. O que você acha desta opinião? .902 (% da variância: 4,475) Com o estabelecimento dos dez fatores, fica mais clara a identificação das dimensões do capital social nas duas comunidades. Como destaca Babbie (1999[1997]), a análise fatorial nos possibilita a identificação de padrões predominantes no banco de dados. Estes padrões são consistentes ao observarmos as variáveis componentes dos fatores nas duas comunidades. Há, em certo sentido, uma compatibilidade entre elas, apesar de em alguns fatores coexistirem variáveis substantivamente díspares, o que não invalida o experimento. Como este estudo é exploratório, as respostas encontradas pela análise fatorial corroboram a análise preliminar acerca do comportamento das duas comunidades pesquisadas, dando lastro ao questionário e aos dados coletados bem como a possibilidade de criação de um índice de capital social. As tendências obtidas através deste índice de capital social podem ser importantes indicadores para a realização de estudos complementares, associando medidas quantitativas e qualitativas, as quais podem fornecer um diagnóstico mais aprofundado das comunidades, assim como subsidiar planejamento de ações e programas de melhoria da qualidade de vida para a população local. 109 &$3Ë78/2 &216,'(5$d®(6),1$,6 Como destacamos anteriormente, a nossa pesquisa teve um caráter exploratório, com a preocupação primeira de consolidar um instrumento de medida de capital social, de modo a possibilitar a construção de um índice confiável de capital social. Em primeiro lugar, tratou-se de verificar a operacionalidade do conceito quando aplicado à realidade social brasileira, observando duas vilas carentes de Belo Horizonte. Em um segundo momento procuramos detectar alguma associação entre o volume de capital social e as taxas de criminalidade contra a pessoa. Buscamos uma associação por que não nos foi possível provar uma relação de causa-efeito. Esta dificuldade se deveu em parte pela amostra utilizada, (aleatória simples para a seleção dos domicílios e por cota na seleção dos entrevistados) que nos impediu a generalização dos resultados, e em parte pela ausência de uma complementação qualitativa da pesquisa quantitativa. Apesar destas dificuldades, os resultados apontam para uma tendência bastante interessante. De acordo com os cruzamentos realizados entre a variável comunidade(vila) e todas as outras questões referentes ao capital social, a Vila Novo Ouro Preto obteve resultados mais positivos que a Vila Cafezal. Nos seis tópicos desenvolvidos no questionário, 1-sentimentos de credibilidade e confiança na vizinhança; 2-conexões com a vizinhança; 3-comportamento cívico; 4-comportamento diante da violência; 5- participação familiar na educação dos filhos e 6- participação nas questões da saúde, apenas nos dois últimos tópicos (5 e 6) as duas vilas tiveram um comportamento parecido, nas quatro restantes (de 1 a 4), talvez as mais representativas do capital social, tendo em vista as questões colocadas por Putnam e Coleman, a Vila 110 Novo Ouro Preto obteve resultados positivos, muitas vezes mais significativos que os resultados obtidos na Vila Cafezal. Apesar desta constatação, não podemos afirmar categoricamente que as taxas de violência mais baixas da Vila Novo Ouro Preto sejam fruto exclusivo do comportamento cívico e da participação comunitária de seus habitantes e que na Vila Cafezal as pessoas definitivamente não queiram participar para melhorar a situação de sua região. É necessário um cuidado especial quanto a esta afirmativa, pois a violência na sociedade tem várias causas, como podemos ver em Beato Filho, (1997). O tráfico de drogas na Vila Cafezal é um problema endêmico na região; durante o período de trabalho de campo (cerca de 45 dias), ocorreram sete assassinatos envolvendo disputas de ponto de venda de drogas. Neste período ficou claro o medo da população local em falar sobre questões de segurança assim como sobre os comportamentos dos vizinhos. De acordo com a fala de um morador da Vila Cafezal, homem, 45 anos, que trabalha como vigilante, ³HUDSUHIHUtYHORWHPSRGDGLWDGXUDWLQKDSROtFLDVHPSUHSRUDTXL HX VDtD SDUD WUDEDOKDU H WRPDYD XPDV WUrV µGXUDV¶ DWp FKHJDU QR SRQWR GH {QLEXV WLQKDVHJXUDQoDDTXL´ Na Vila Novo Ouro Preto encontramos um ambiente bem mais tranqüilo, com os moradores mais dispostos a responderem os questionários. Apesar do temor diante da violência urbana, muitas pessoas qualificaram a região como um lugar seguro; de acordo com a presidente da associação da Vila, ³ RQRVVRPHGRpTXHDYLROrQFLDGD 9LOD 6mR -RVp XPD IDYHOD SUy[LPD ORFDOL]DGD DR ILQDO GD DYHQLGD 3HGUR ,, H TXH 111 WHUPLQD SUy[LPR DR EDLUUR 2XUR 3UHWR H &DVWHOR TXH SRVVXL XPD DOWD WD[D GH FULPLQDOLGDGHHTXHWHPXPKLVWyULFRSDUHFLGRFRPD9LOD&DIH]DOQRTXHVHUHIHUHDR WUiILFRGHGURJDV YHQKDSDUDUDTXLSRLVWHPRVXPFDPLQKRTXHQRVOHYDDWpOiSRU LVWRWHPRVTXHILFDUDWHQWRVDRPRYLPHQWRDTXLGHQWURGDYLOD´ Esta distinção entre as duas vilas pesquisadas não nos possibilita, mais uma vez, afirmar que o capital social aja como um fator de inibição das ações criminosas nas comunidades carentes de Belo Horizonte. Podemos pensar que as altas taxas de violência podem estar inibindo a produção de capital social e por conseqüência dificultando a integração das pessoas em suas comunidades. Mas de qualquer forma, esta clara distinção nas atitudes dos moradores é bastante interessante. Devemos destacar que a participação popular na produção do capital social é necessária, mas não suficiente. As críticas que os neo-institucionalistas fazem a Putnam e que podemos estender a Coleman, são pertinentes, pois, levando ao extremo o culturalismo, chegaremos a uma espécie de fatalismo que consistirá em relegar às comunidades com pouco capital social um futuro sem perspectivas. Apesar destas críticas, devemos ressaltar a idéia de associativismo horizontal desenvolvida por Putnam, que enxergava nesta característica social um agente facilitador das iniciativas coletivas e do engajamento cívico. Devemos também destacar o determinismo às avessas dos neo-institucionalistas, quando afirmam a primazia do Estado na produção do capital social; sem uma efetiva participação da população, eles não percebem a importância das formas de organização social não institucionalizadas no âmbito do Estado. 112 Para Abu-El-Haj, referindo-se a John Dewey, ³2 HQJDMDPHQWR FtYLFR HUD SRVVtYHO VRPHQWH FRP R IORUHVFLPHQWR GH DVVRFLDo}HV DXW{QRPDV DJUXSDQGR FLGDGmRV FRPSDUWLOKDQGRXPDUHODWLYDLJXDOGDGHGHFRQGLo}HVHXPDPLVVmRSROtWLFDFRPXP$ YHUWLFDOL]DomRGDSROtWLFDPRGHUQDQRVSDUWLGRVROLJiUTXLFRVHQRVULWRVLQVWLWXFLRQDLV IRUPDLVDQLTXLODRDWLYLVPRFtYLFR&UHVFHQWHPHQWHDSROtWLFDSHUGHVHXVHQWLGRS~EOLFR H RFLGDGmRFRPXPVHLVRODQDVXDYLGDSULYDGD´ (p.105, 2000) Ou seja, a confiança, a cooperação e a solidariedade brotam onde temos uma relativa igualdade e numa ausência de hierarquias impostas. É a busca da reconciliação entre a ação coletiva e os interesses privados, em uma sociedade mais horizontalizada, que permite a multiplicação das redes cívicas e a valorização do capital social. Nesse sentido, surge a necessidade de uma confluência entre as atitudes locais da população e o fundamental apoio do Estado na implantação de políticas públicas e dos movimentos organizados, na forma de ONG’s por exemplo, para a mobilização local. No caso das duas vilas estudadas, uma diferença interessante foi detectada quanto ao espaço urbano e a presença efetiva do Estado e de ONG's. Na Vila Cafezal, a estrutura urbana está mais desenvolvida, com a presença de posto de saúde, de um sacolão municipal, de ruas e vielas urbanizadas, de linhas de ônibus internas, creches, dentre outras intervenções estatais. A Vila Novo Ouro Preto não possui uma estrutura urbana organizada. Poucas vielas são urbanizadas e não há presença de aparelhos estatais como postos de saúde, sacolão municipal, creches, etc. Apesar desta ausência de ação do Estado, como podemos perceber na análise estatística, a comunidade da Vila Ouro Preto é muito mais organizada. A ONG. Cidadania pelas Águas tem feito um trabalho de conscientização ecológica que já produziu efeitos positivos como a recuperação dos 113 mananciais de água do local e a produção, em conjunto com a URBEL, de um plano diretor de transformação da vila em um bairro urbanizado com a construção, inclusive, de um parque ecológico e de casas com toda a infra-estrutura básica em substituição aos atuais barracos. A negociação está em um estágio adiantado, com uma parte significativa da verba assegurada. Na Vila Cafezal detectamos que a aparelhagem estatal presentes no local foi, em grande medida, pensada de cima para baixo, sem uma participação da comunidade. Destacamos que esta é uma tendência mundial no combate à violência urbana. O Estado "adota" o espaço degradado, com altas taxas de violência, implantando equipamentos públicos para a diminuição da criminalidade. No caso da Vila Cafezal, estas intervenções não estão surtindo os efeitos esperados; ao contrário, a criminalidade local vem aumentando ano a ano. De acordo com os casos estudados, percebemos a importância da conjunção de ações do Estado e da comunidade. Não adianta só a presença do Estado, como na Vila Cafezal, é preciso o fortalecimento das instituições públicas ao mesmo tempo que potencializamos a participação popular como na Vila Ouro Preto. É a confluência destas atuações que nos possibilitará a produção de capital social e a efetivar a transformação social de maneira positiva, seja na esfera da saúde, da habitação ou como no nosso estudo, da violência urbana, dentre outras. %,%/,2*5$),$ 114 ABU-EL-HAJ. J. A Mobilização do Capital Social no Brasil: o Caso da Reforma Sanitária no Ceará, 2000, São Paulo, AnnaBlume Editora. ARCHER,M. “Structuration versus Morphogenesis” LQ S.N. Eisenstadt and H.J.Helle (eds), Macro-Sociological Theory, vol.1,pp.58-88, 1985, London, Sage. __________ Culture and Agency, 1988, Cambridge, Cambridge University Press. BABBIE,E. Métodos de Pesquisa em Surveys, 1999[1997], Belo Horizonte, Editora UFMG. BEATO FILHO,C.C. “Determinantes da Criminalidade em Minas Gerais”, mimeo, 1997. BLAU,J. & BLAU,P. “The Cost of Inequality: Metropolitan Structure and Violence Crime”, American Sociological Review 47:114-29, 1982. BEN-PORATH,Y. "The F-Connection: Families, Friends, and Firms and Organization of Exchange" Population and Development Review 6:1-30, 1980. BOURDIEU,P. “The Forms of Capital” LQ John G. 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Completo 10- Pós-graduação (especialização/mestrado/doutorado) 88- N/S 99- N/R 88- N/S 5- 123 34XDOpDVXDUHQGDIDPLOLDU"VDOiULRPtQLPR5 1- Até 1 s/m 2- De 1 a 4 s/m 3- De 5 a 7 s/m 4- De 8 a 10 s/m 5- De 11 a 15 s/m 6- De 16 a 20 s/m 7- mais de 20 s/m 34XDOpDVXDRFXSDomR" 1- Assalariado com carteira assinada 2- 2- Assalariado sem carteira assinada 3- 3- Autônomo 4- Autônomo paga iss 5- Profissional liberal 6- Free-lancer/bico 7- Estudante 8- Aposentado/pensionista 9- Não exerce atividade remunerada 10- Desempregado 88-N/S 99- N/R 3+iTXDQWRWHPSRYRFrPRUDHPVHXEDLUUR" 1- Menos de 1ano 2- De 1 a 3 anos 3- De 3 a 5 anos de 10 anos 88- N/S 99- N/R 4- De 5 a 10 anos 3$FDVDRQGHYRFrPRUDpOHUDWpRLWHP 1- Própria 2- Alugada 3- Emprestada 4- Outro_______________ 99- N/R 5- Mais 88- N/S 0(','$6'(&$3,7$/62&,$/ $ 6HQWLPHQWRVGHFUHGLELOLGDGHHFRQILDQoDQDYL]LQKDQoD 34XDOpDVXDRSLQLmRVREUHDVHJXLQWHDILUPDWLYD1yVSRGHPRVFRQILDUQDV SHVVRDVTXHPRUDPDTXLQDYL]LQKDQoD 1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 4- Não concordo 88- N/S 99- N/R 3&RPRYRFrVHVHQWHDRDQGDUQDVUXDVGHVHXEDLUURDSyVWHUHVFXUHFLGR" 1- Muito seguro 2- Seguro 3- Pouco seguro 4- Inseguro 88- N/S 99- N/R 39RFrDFKDTXHVXDYL]LQKDQoDSRGHVHUFODVVLILFDGDFRPRXPOXJDUVHJXUR" 1- Sim 2- Não 3- Mais ou menos 88-N/S 99-N/R 3$OJXPDVSHVVRDVGHVWHEDLUURGLVVHUDPTXHYLYHUDTXLpFRPRVHHVWLYHVVHHP FDVD2TXHYRFrDFKDGHVVDRSLQLmR" 124 1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 99- N/R 4- Não concordo 88- N/S 39RFrHPSUHVWDULDGLQKHLURSDUDDOJXPYL]LQKRTXHHVWLYHVVHSUHFLVDQGR" 1- Sim 2- Não 3- Talvez 88- N/S 99- N/R 3 6H D iJXD GH VHX YL]LQKR DFDEDU H HOH SUHFLVDU GH WRPDU XP EDQKR YRFr GHL[DULDHOHXVDUVHXEDQKHLUR" 1- Sim 2- Não 3- Talvez 88- N/S 99- N/R % &RQH[}HVFRPDYL]LQKDQoD 39RFrFRVWXPDFRQYHUVDUFRPVHXVYL]LQKRV" 1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88- N/S 99-N/R 3 2 TXH YRFr DFKD GD RSLQLmR GH TXH RV YL]LQKRV GHVWH EDLUUR VmR PXLWR SUHVWDWLYRVTXDQGRYRFrRXRXWURPRUDGRUGDTXLQHFHVVLWDGHOHV" 1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 4- Não concordo 88- N/S 99- N/R 32TXHYRFrDFKDGDVUHODo}HVHQWUHRVYL]LQKRVGHVHXEDLUUR" 1- Muito boas 2- Boas 3- Regulares 4- Ruins 5- Péssimas 88-N/S 99-N/R & &RPSRUWDPHQWRFtYLFR 39RFrSDUWLFLSDGHDOJXPDRUJDQL]DomRRXFOXEHORFDOFRPRSRUH[HPSORWLPH GHIXWHERODVVRFLDomRGHEDLUURLJUHMDHWF" 1- Sim 2- Não 3 9RFr FRVWXPD SDUWLFLSDU GDV UHXQL}HV GD DVVRFLDomR FRPXQLWiULD GH VHX EDLUUR" 1- Freqüentemente 2- algumas vezes 3- Raramente 4- Nunca participo 88N/S 99-N/R 31RV~OWLPRVDQRVYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWRGDVXDFRPXQLGDGH" 1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R 3 (P DOJXP PRPHQWR GD VXD YLGD YRFr SDUWLFLSRX GH DOJXP SURMHWR SDUD PHOKRUDUDVXDYL]LQKDQoD" 1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R '&RPSRUWDPHQWRGLDQWHGDYLROrQFLDHFULPLQDOLGDGH 3 6H YRFr YLU XP FULPH DFRQWHFHQGR HP VXD YL]LQKDQoD YRFr FKDPDULD D SROtFLD" 1- Sim 2- Não 3- Talvez 88-N/S 99-N/R 3 $OJXPD YH] HP VXD YLGD YRFr Mi OLJRX SDUD D SROtFLD SDUD GHQXQFLDUDOJXP FULPH" 125 1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R 3 2V FULPHV TXH DFRQWHFHUDP HP VHX EDLUUR IRUDP FRPHWLGRV SRU SHVVRDV GD VXDSUySULDYL]LQKDQoD" 1- Sim 2-Não 3- às vezes sim, às vezes não 88-N/S 99-N/R 3 YRFr GRDULD XPD TXDQWLD HP GLQKHLUR SDUD WHU PDLV VHJXUDQoD H WUDQTLOLGDGHHPVXDFRPXQLGDGH" 1- Sim 2- Não 3- Talvez 88-N/S 99-N/R ((GXFDomRHSDUWLFLSDomRIDPLOLDU 39RFrFRVWXPDLUjVUHXQL}HVGDHVFRODGHVHXVILOKRV" 1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88-N/S 100- Não se aplica 39RFrFRVWXPDDMXGDUVHXVILOKRVQDVWDUHIDVHVFRODUHV" 1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88-N/S 100- Não se aplica 99-N/R 99-N/R 39RFrGHL[DULDGHFRPSUDUXPDWHOHYLVmRRXXPDURXSDQRYDSDUDLQYHVWLUQD HGXFDomRGHVHXVILOKRV" 1- Sim 2- Não 3- Talvez 88- N/S 99- N/R 39RFrFRVWXPDGDURSLQL}HVHVXJHVW}HVQDVTXHVW}HVUHIHUHQWHVjHVFRODGHVHXV ILOKRV" 1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R 100-Não se aplica ) 6D~GHHFDSLWDOVRFLDO 3 9RFr HVWi RX Mi HVWHYH HQYROYLGR FRP DOJXP SURJUDPD FRPXQLWiULR VREUH VD~GH" 1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R 3 1D VXD RSLQLmR RV PRUDGRUHV GHVWH EDLUUR SDUWLFLSDP GDV FDPSDQKDV GH FRPEDWHjVGRHQoDVFRPRSRUH[HPSORDGHQJXHHDIHEUHDPDUHOD" 1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R 34XDQGRYRFrHVWiGRHQWHRTXHYRFrQRUPDOPHQWHID]SDUDVHWUDWDU" 1- Vai ao posto de saúde/médico 2- Usa remédios caseiros 3- Procura ajuda espiritual/religiosa 4- Outro__________________________________ 33DUD YRFr TXDO p D SULQFLSDO FDXVD GD YLROrQFLD HP VHX EDLUUR" PRVWUDU R FDUWmR 1- Drogas 2- Álcool 3- Desemprego 126 4- Pobreza 5- Falta de estudo 6- Distúrbio mental 7- Problemas conjugais 8- Outros_______________________________ 88- N/S 99- N/R A EZ FA E LTA S T U DE D O PO BR DROGAS 127 AS LEMAIS OB PR NJUG CO Á L C O OL DE S E MP R EGO DI M ST E N ÚR TA BI L O 128