Maná das Alagoas 34 GUSTAVO MELO ano VII / nº 20 / 2014 Ricardo Lêdo TEXTO: LUÍS Uma das mais típicas iguarias da gastronomia local, o sururu que emerge dos manguezais maceioenses se configura como principal meio de subsistência de centenas de famílias nas áreas periféricas que margeiam as lagoas da capital, e há gerações cristaliza um imaginário que o inscreve como um dos mais representativos elementos de nossa cultura Acervo: MISA REPORTAGEM 35 ano VII / nº 22 / 2014 desde que nossos espertos ancestrais descobriram que o fogo também vinha bem a calhar na hora de preparar os animais abatidos durante a caça, os saberes adquiridos e as experiências gastronômicas acumuladas ao longo da história atravessaram séculos. Tanto isso é verdade que na gastronomia alagoana, por exemplo, muitas das mais tradicionais receitas dentre as que herdamos de nossos antepassados indígenas, portugueses e afrodescendentes, ainda constam em nossa culinária e refletem traços de nossa identidade cultural. Sobre essa relação entre hábitos alimentares e identidade, o antropólogo Raul Lody é sintético em uma de suas análises. “O próprio imaginário popular já aponta e valoriza a relação comida/identidade: ‘você é o que você come’, ou ‘dizei o que comes que te direi quem és’, ou ‘papa-jerimum’, para aqueles que nascem no Rio Grande do Norte, e ainda nesse estado os nativos são chamados de potiguares, derivado de potiguara, que quer dizer ‘papa-camarões’; ‘papasururu’ para os que nascem em Alagoas; ‘papa-goiaba’ para os que nascem no estado do Rio de Janeiro; ou ‘papa-hóstia’ para as assíduas frequentadoras da igreja, entre outras maneiras de situar homem/comida e lugar e também assim apoiar Cena do documentário Cadeia Produtiva do Sururu em Alagoas, de João Schwartz: mapeamento em torno do molusco Ricardo Lêdo odo trabalho do homem é para sua boca...”, já advertia o Eclesiástico, em uma de suas passagens que surge exatamente sob esse recorte no texto de introdução do clássico História da Alimentação no Brasil, do pesquisador, antropólogo e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), que abre seu estudo recorrendo ainda a outra citação, esta do alemão Friedrich Schiller: “Toda a existência humana decorre do binômio estômago e sexo”. O velho Schiller sabia mesmo das coisas. Mas para além dessa inescapável realidade apontada pelo notável filósofo, além dos fatores indiscutivelmente ligados às necessidades primárias do homem e à satisfação de seus instintos básicos, o ato de se alimentar também se relaciona a aspectos de ordem social e cultural. É também uma questão de identidade. Desde tempos imemoriais, os mais sofisticados entre os primitivos já encontravam na experiência cotidiana métodos criativos para transformar o que extraíam da natureza em alimento. E alguém duvida que já naqueles tempos, em meio a extenuante luta pela sobrevivência, não houvesse entre os antepassados verdadeiros gênios da gastronomia? A elevada sabedoria dos antigos há muito nos ensina que a necessidade é a mãe da invenção. E O sururu in natura, ainda na casca: alimento que garante a subsistência da população pobre de Maceió Com alto teor de proteína, o sururu pode ser encontrado no entorno da lagoa Mundaú uma construção de pertença, patrimonializando o que se come enquanto uma atestação de cultura e, por conseguinte, de singularidade em contextos tradicionais e alguns globalizados”. No livro Delícias da Cozinha Alagoana – As Melhores Receitas das Irmãs Rocha, Maria Rocha Cavalcanti Accioly relata as origens desse imaginário representativo na culinária nordestina, chamando a atenção para o fato de que aqui no Nordeste a gastronomia mantém um formidável equilíbrio entre o legado europeu, o africano e o indígena. “Só a Bahia guardou uma culinária acentuadamente africana. No início de nossa colonização, aportavam no Nordeste navios que traziam de Portugal e das ilhas, azeite, vinhos, bacalhau e muito mais. Esses ingredientes permitiram que os portugueses mantivessem a cozinha de sua terra natal nos engenhos de açúcar e nas casas-grandes. Com o passar do tempo, as comidas africanas e indígenas foram se impondo”, escreveu Maria Rocha, que em seu texto elege o sururu como o mais alagoano dos pratos. Alagoas é tão marcado pela beleza de suas águas que o próprio nome do estado reflete o significado da importância de suas inúmeras lagoas para a composição desse imaginário, cujo cenário abriga em suas entranhas a secular cultura do sururu. Ainda que seja um produto geograficamente vinculado às áreas que circundam as lagoas maceioenses, esse pequeno molusco com nome científico em latim (mytella charruana), tem sua representação simbólica tão atrelada à nossa identidade cultural que a própria composição geográfica do território onde ele se desenvolve foi identificada esteticamente na obra do autor Jorge de Lima, que, em sua novela O Anjo, escreveu: “Sururus existem em quase todas as lagoas do Brasil. Porém os desta lagoa (Mundaú), devido a circunstâncias especiais explicadas pelos naturalistas, como mistura de água do mar com águas dos rios que deságuam na lagoa, e outras causas, tornam-se como que degenerados, pequenos, gordinhos, gostosíssimos”. Alimento que garante a subsistência da população humilde que há gerações habita as áreas periféricas situadas no entorno da lagoa Mundaú, o sururu possui alto teor de proteínas. A sabedoria popular diz, inclusive, que o seu caldo rico em fosfato é bom para o cérebro. Em geral, ele prolifera nas partes mais rasas da lagoa, dentro da lama, onde vivem em colônias. Ali, ele cresce, engorda e sobrevive de acordo com o teor de salinidade da água. Sua mais tradicional forma de Ricardo Lêdo “T REPORTAGEM 36 ano VII / nº 22 / 2014 37 ano VII / nº 22 / 2014 REPORTAGEM um vasto complexo culinário em torno do que o seu fruto tem a oferecer. Originalmente asiático, o coqueiro chegou a Cabo Verde por intermédio dos colonizadores portugueses, e de lá veio para o Nordeste brasileiro. O autor relata ainda que entre os séculos 17 e 18 os coqueirais avançaram da orla baiana até Pernambuco, se espalhando por toda a costa nordestina, onde foi aprimorada a técnica de extração do leite do coco, herdada da culinária dos africanos orientais. A prática consiste em ralar a polpa do coco, que em seguida deve ser molhada com água quente e espremida em um pano até liberar o suco. Daí é possível compreender de onde vieram todas aquelas laboriosas receitas preparadas por nossas avós, e a razão de a culinária local ser tão característica Ricardo Lêdo preparo é o Sururu de Capote, que é servido na casca. Uma verdadeira raridade nos dias de hoje. A iguaria pode ser saboreada ainda com pirão coberto, preparado de forma híbrida com outros moluscos, frito ou cozido ao coco, como delicioso ensopado. “A culinária nordestina em geral é muito parecida, o que difere é que em Alagoas usa-se o raspador para ralar o coco, e extrair seu leite, e o colorau para dar cor aos pratos”, explica a chef Tatiana Brasil, do buffet Gourmeteria. Em sua composição de cidade restinga, Maceió revela nos seus vastos coqueirais a vocação para a culinária à base de coco. Segundo Câmara Cascudo, o coqueiro fincou raízes no litoral nordestino desde meados do século 16. Substituindo o cajueiro na paisagem original do nosso litoral, os coqueiros geraram 38 ano VII / nº 22 / 2014 quanto ao uso desse produto – sobretudo, nos pratos que levam o sururu. PRIMÓRDIOS Chegar a uma possível origem da cultura do molusco nas lagunas maceioenses talvez signifique percorrer um caminho obscuro que, segundo o professor e antropólogo Edson Bezerra, vai dar no ambiente ancestral em que viviam os povos da pré-história brasileira, mas especificamente os índios que habitaram a região onde, durante o processo de colonização, diversas sociedades primitivas foram devastadas e levadas à extinção. “Se formos pensar nos tempos imemoriais, o que tínhamos por ali nos entornos da Mundaú eram os gentios, etnias que foram O sururu inspira os mais diferentes modos de preparo. Ao lado, cozido no leite de coco e servido no cocoverde sendo dizimadas na medida em que os colonizadores foram se implantando em práticas de extermínio. Todavia, roteiros de povoamentos e marcos de origem nas águas da Mundaú abrigariam também os camponeses desalojados das antigas e seculares relações sociais, quando da derrocada dos engenhos, os quais, devido a quebra dos antigos vínculos das relações entre escravos e senhores em decorrência da emergência das usinas, foram para as lagoas e as beiras dos rios, que se tornaram as moradas primitivas dos migrantes. Nessas paragens, camponeses e ex-escravos ergueram mocambos e arruados e, na reminiscência das memórias coletivas dos tempos rurais, transformaram aqueles espaços em enclaves na modernidade”. Nesses espaços, o crescente contingente de migrantes desenvolveu um simulacro de vida urbana, onde foram erguidos pequenos povoados e vilas. No entanto, em meio a esse processo, o universo lagunar só veio se consolidar de fato entre o fim do século 19 e início do século 20, com a crescente densidade demográfica e o desenvolvimento do comércio, que emergia da necessidade de trocas. Nessas condições, como consequência de sua posição central e da ausência de estradas, as lagoas se consolidaram como ponto estratégico para o escoamento da produção interna, pois era através das lagoas e de seus canais que trafegavam os moradores e os comerciantes. “O Theo Brandão, em seu Folguedos Natalinos, é bastante esclarecedor deste deslocamento que vai se dando entre os fins do século 19 e o início do século 20”, diz o professor Edson Bezerra. “No período de entressafra da moagem, os senhores de engenho se deslocavam dos interiores trazendo juntamente com eles um séquito de trabalhadores e, dentre estes, os seus brincantes, inclusos aí os reisados, os cantadores de coco etc. Penso então que por aí se explica o imaginário das lagoas em discursos, imagens, fotografias, crônicas, enunciados e notícias sobre a cidade no decorrer das primeiras décadas do século 20. Marechal Deodoro, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco – eis alguns exemplos de arruados, povoados, vilas e cidades que por ali germinaram no primitivo de nossa colonização, entre os séculos 17, 18 e 19. A cultura do sururu é um complexo de relações que sempre esteve ali se retroalimentando, e se ela é uma cultura que sobrevive em meio à miséria que cerca todo o entorno das geografias lagunares, ela também contém uma beleza imensa, uma beleza que, todavia, permanece escondida”, pondera. 39 CADEIA PRODUTIVA Em contraste com a exuberante imagem paisagística das lagunas maceioenses, vivem em situação de extrema pobreza as humildes populações ribeirinhas, que há décadas compõem o cenário das vilas e favelas formadas nas áreas próximas aos manguezais. O problema da exclusão social no País, como todos sabem, vem desde os tempos das Colônias. É um mal que nos acompanha desde sempre e, no caso específico das comunidades marginalizadas que povoam a região das duas grandes lagoas – onde se dá o que antropólogos e historiadores costumam identificar como ciclo do sururu –, leva muita gente a retirar da lama o produto necessário para a sua subsistência. O ambiente das lagoas, onde o sururu é encontrado, só se consolidou entre o fim do século 19 e início do século 20, com o crescimento populacional e o avanço do comércio ano VII / nº 22 / 2014 João Schwartz João Schwartz Ricardo Lêdo REPORTAGEM Diversas famílias vivem da extração do sururu. Ainda de madrugada, os pescadores mergulham na lagoa para retirar o molusco da lama. A tarefa dura horas e é a mais desgastante de toda o processo. Depois, ainda na lagoa, fazem a prélavagem do sururu A despinicagem consiste em retirar do molusco um tentáculo chamado bisso. Depois, o sururu ferve em latões, a altas temperaturas, para que se desprenda da casca. Em seguida, é peneirado, e recolhidos os últimos fragmentos de concha A movimentação dos moradores no momento em que muitos saem de madrugada para “tirar” o sururu é uma cena que se repete diariamente há várias gerações. Todos os dias, os pescadores partem rumo à faixa onde o molusco se cria, passando por entre ilhotas onde, mesmo hoje, ainda é possível contemplar o impressionante visual da lagoa Mundaú. Embarcando em canoas, o pessoal sai bem cedinho e só volta à tardinha. Os barcos seguem pela água quieta do mangue. Alguns, tripulados apenas por homens. Outros, por adultos e adolescentes. A maioria começa a trabalhar desde criança. Normalmente acompanhando os pais. As difíceis condições de vida obrigam o pessoal a pegar no batente desde muito cedo. sururu ainda na casca pesa, aproximadamente, 16 kg, e o pescador recebe em média R$ 3,00 por cada uma. Ao sair das embarcações, o sururu é levado em carrinhos de mão, por entre estreitas passagens que dividem o terreno entre um casebre e outro para a despinicagem, a etapa que ocupa o maior número de pessoas ao longo de todo o processo da atividade da pesca e comercialização do produto e que consiste em retirar do molusco uma espécie de pequeno tentáculo chamado bisso. Essa tarefa é geralmente exercida por mulheres. Em geral, pelas esposas dos pescadores que veem nesse trabalho a possibilidade de contribuir para o orçamento familiar. Em mesinhas improvisadas, posicionadas em frente de cada casa, as marisqueiras 40 Assim, jovens e adultos saem para encarar a labuta às quatro da manhã. Geralmente, só com um cafezinho na barriga. Chegando aos locais estratégicos onde costumam encontrar o molusco em maior quantidade, os pescadores descem das canoas para retirar o sururu da lama. É quando tem início a etapa mais desgastante de todo o processo da cadeia produtiva que envolve essa atividade. Horas e horas dentro da lagoa, mergulhando inúmeras vezes, em movimentos contínuos de agachamento, jogando o que conseguem encontrar dentro das rústicas embarcações. Com as canoas carregadas de balaios, latas ou caixotes repletos de sururu, os pescadores começam o processo de “pré-lavagem” nas águas da lagoa, ou dentro das ano VII / nº 22 / 2014 embarcações, onde eles mexem freneticamente as mãos e as pernas de forma alternada na água lodosa. Quase tão extenuante quanto o trabalho de mergulhar, o movimento repetitivo durante essa etapa resulta em inúmeras feridas na sola dos pés e nas mãos, devido ao contato com a casca fina do molusco. E com o avançado estado de degradação das águas das lagoas Mundaú e Manguaba, o trabalho nesses mangues e lamaçais agrava ainda mais a possibilidade de contrair doenças. Antigos pescadores garantem que há mais de 30 anos, em épocas de fartura, era comum ver caminhões saindo com até oitenta sacos de sururu. Hoje, em um dia de pescaria, uma canoa transporta mais ou menos 30 latas com o molusco. Uma lata cheinha de despinicam cerca de quatro latas de sururu por dia, e recebem, em média, R$ 2,70 por cada lata. Após ser despinicado, o sururu vai para a fervura, onde a elevada temperatura dos latões faz com que a concha do marisco se desprenda da carne. Ali, os moradores cozinham diariamente dezenas de latas, o dia inteiro. Terminada a fase da fervura, o sururu é peneirado para, em seguida, serem devidamente recolhidos os últimos fragmentos de concha. Após essa trabalheira toda, o sururu é lavado novamente, para depois ser embalado e vendido no mercado. Segundo a pesquisa realizada pelo projeto de diagnóstico da cadeia produtiva do sururu em Alagoas, promovida pelo Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS), um 1 kg de sururu custa em média R$ 8,41. Nos 41 supermercados, o produto pode chegar a R$ 30,00. A pesca do sururu é uma atividade que reúne famílias inteiras. Em épocas em que o molusco não é encontrado em parte alguma das lagoas, pescadores e marisqueiras saem à procura de alternativas para garantir o sustento, mas o baixo grau de instrução e a falta de capacitação dificultam qualquer iniciativa neste sentido. Ainda que o histórico de miséria e fome presente no dia a dia dessas pessoas exponha de modo tão brutal as discrepâncias sociais do estado, a cultura que emerge da cadeia produtiva da pesca do sururu também nos revela traços marcantes da nossa identidade, que se manifestam constantemente nos mais diversos segmentos da expressão artística. ano VII / nº 22 / 2014 REPORTAGEM Manifesto, música e cinema João Schwartz As traduções criativas da relação entre o sururu e a discussão sobre identidade Com fama de afrodisíaco, o caldinho de sururu de capote raramente é encontrado em Alagoas. O Bar do Pelado é um dos poucos lugares que servem a iguaria Enquanto símbolo que remete aos valores culturais que herdamos das comunidades periféricas, o sururu também inspirou a realização de um corajoso manifesto que reivindica o protagonismo do legado afrodescendente em Alagoas. Documento de considerável impacto no campo da representação cultural no estado, o Manifesto 42 Sururu, escrito pelo professor e antropólogo Edson Bezerra, foi publicado originalmente há dez anos, em um jornal local. O texto, que desde o primeiro momento abriu espaço para muitas discussões, colocou o dedo na ferida da má consciência das elites, e repercute até hoje. “Na verdade, eu nunca pensei em escrever um manifesto”, admite o autor. ano VII / nº 22 / 2014 “A coisa me veio por partes e a ideia me ocorreu aos poucos, na medida em que eu estava montando a minha tese de doutorado. Em tudo que eu lia, as imagens das águas era uma presença constante e a coisa foi então ganhando intensidade e volume. Até parecia um encosto”. “Uma vez escrito o texto, eu não sabia o que fazer. Mostrava a um, mostrava a outro e as pessoas ficavam fascinadas. Mas, o que fazer com a coisa feita? Foi então que um dia, eu estava no bar Engenho Jaraguá e conheci o Ari Cipola [jornalista falecido em 2004 e então editor-geral do jornal Tribuna de Alagoas]. Conversa vai, conversa vem, ele me perguntou: ‘Ô, rapaz, tu escreves quando tu falas? ‘Escrevo’, respondi. ‘Então é o seguinte: vou te encaminhar para a minha editora de Cultura [na época, a jornalista Clarissa Veiga] para você escrever por lá’”, lembra. Passados alguns dias, a editora de Cultura entra em contato com Edson, propondo a publicação do manifesto. “O texto foi publicado e, a partir daí, as pessoas se encantaram Segundo Edson Bezera, autor do Manifesto Sururu, o texto é “uma alegoria, uma releitura da cultura alagoana a partir das culturas populares afroalagoanas” por ele. Mas tudo isso foi se dando aos poucos, e muito embora ainda não tenha sido publicado em uma edição específica para ele, o manifesto tem sido objeto de citações em várias teses de doutorado, foi citado em ensaios, entrevistas. Foi tema de alguns trabalhos de conclusão de curso e, recentemente, tema de uma monografia, além de ser utilizado em blogs. Todavia, o maior elogio que recebi a respeito do texto do manifesto me veio de Mãe Miriam [babalorixá]. Numa viagem a Pernambuco, em um ônibus repleto de religiosos de matriz africana, depois do texto ser passado em áudio, uma mulher se levanta, vem na minha direção e diz: ‘Meu filho, que coisa linda, parece até que, quando você escreveu, estava possuído por uma entidade.’ Aquilo me deu uma alegria que nunca esqueço. Fui às lágrimas”, conta. Ao longo dos últimos dez anos, o Manifesto Sururu foi muito discutido e analisado. Em ensaio, o escritor alagoano Dirceu Lindoso fez uma longa reflexão sobre o texto, chamando a atenção para o fato de que não dá para simbolizar nossa identidade cultural em uma única imagem, uma vez que nem todos os alagoanos se identificam com a cultura do sururu. Nesse sentido, o manifesto buscou fazer um recorte do imaginário popular característico da região lagunar? “Sim”, admite o autor. “Na verdade, a coisa da ‘alagoanidade’ a partir do sururu é uma ficção, um recorte. O Dirceu tem razão e, antes dele, o Jurandir Bozo [músico e fundador da extinta banda Poeira Nordestina] já havia me chamado a atenção sobre isto. Todavia, o manifesto é uma alegoria, uma releitura da cultura alagoana a partir das culturas populares afroalagoanas. Então, o Manifesto Sururu é uma grande metáfora. O ideal seria uma explosão de manifestos (é possível isto?), os quais pudessem alegorizar as Alagoas através de seus cenários geográficos”. “Agora, é o seguinte: o Manifesto Sururu é um texto antropofágico, e a antropofagia, como se sabe, é uma prática de devorar os mais fortes. 43 Então a sua proposta é de uma antropofagia das coisas alagoanas a partir das culturas populares de matriz afroalagoana. Ou seja, reinventar Alagoas a partir de Palmares, entende? E é neste sentido que entra o sururu enquanto uma metáfora de algo que está enterrado na lama, de um segredo a ser descoberto. De reinventar um mundo alagoano a partir das culturas populares. De resto, um universo em todo contrário à tristeza em que hoje estamos enclausurados. Em toda escrita do manifesto existe algo como uma profecia de algo que está por vir, mas que poderá emergir através de uma abertura às diferenças somente possível mediante a desconstrução de todo o apartheid que nos cerca e que nos devora”. Engana-se, porém, quem pensa que o sururu está relacionado unicamente a uma identificação de raiz. O pequeno molusco, que muitos garantem ser um formidável afrodisíaco, está intrinsecamente ligado à cultura contemporânea, tanto que um festival de cinema que há cinco anos atua como principal plataforma da produção audiovisual de Alagoas leva o seu nome. “A Mostra Sururu de Cinema Alagoano foi criada pela Associação Brasileira de Documentaristas e CurtaMetragistas de Alagoas (ABD&C/AL) na gestão de ano VII / nº 22 / 2014 44 O cineasta Werner Salles, um dos criadores da Mostra Sururu de Cinema Alagoano. “‘Sururu’ é uma metáfora da condição cultural alagoana”, explica Experiente fotógrafo e pesquisador da cultura popular no Nordeste, como cineasta, Celso Brandão é autor do mais representativo conjunto de imagens etnográficas de Alagoas. Acompanhando de perto as várias formas de manifestação culturais e o modo de vida do povo nordestino nas últimas quatro décadas, ele reuniu uma filmografia com cerca de 40 filmes. Com direção, montagem, argumento e produção do próprio cineasta, Papa Sururu acompanha a rotina dos pescadores do molusco na lagoa Mundaú. Registrado de forma crua, apenas com uma câmera na mão, o filme de apenas sete minutos foi rodado no final dos anos 80, e é mais um exemplar do estilo documental do realizador, que consegue extrair poesia de situações corriqueiras. O filme de João Schwartz ano VII / nº 22 / 2014 foi produzido a partir de uma pesquisa realizada na região, e é focado em aspectos econômicos da secular atividade da pesca do molusco em Alagoas. O documentário faz parte do projeto de diagnóstico da cadeia produtiva do sururu em Alagoas, realizado pelo Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS) com financiamento da Agência Espanhola de Cooperação para o Desenvolvimento (AECID). Através de uma pequena verba, o instituto esteve presente na comunidade durante seis meses realizando entrevistas e estudando a cadeia produtiva do molusco em todas as suas etapas. “Com um diagnóstico preciso, fui convidado a produzir o documentário cujo objetivo principal é mostrar que ali, de fato, existe uma enorme cadeia de produção, envolvendo famílias e que, nas condições adequadas, possui um enorme potencial econômico, além disso, também mostrar as condições que estas pessoas trabalham e vivem, que não são nada boas”, explica Schwartz. João conta que para a realização de Cadeia Produtiva do Sururu em Alagoas não foram necessárias mais que três pessoas na equipe de produção. Ele dirigiu, filmou e editou o filme sozinho, enquanto um amigo o ajudou nas filmagens e o coordenador do projeto deu assistência conduzindo os entrevistados na comunidade. “Foi uma produção muito simples no fim das contas, porém, amamos o resultado final. Sempre fomos bem recebidos lá pelos moradores. Foram realizadas duas idas à comunidade para captar as imagens e realizar as entrevistas, tinha no roteiro também ir filmar a extração do molusco na lagoa durante a madrugada, mas faltaram recursos”, confessa. Segundo Schwartz, o documentário levou um mês e meio para ser realizado, ao passo que a pesquisa prévia elaborada pelo Instituto levou seis meses para ser finalizada. Para fazer o diagnóstico da comunidade, a equipe de pesquisa levantou dados referentes à faixa etária, renda, escolaridade, doenças, bem como os números de produção e remuneração de cada ator da cadeia em sua respectiva etapa. “É um documento extenso e detalhado, tivemos várias reuniões para selecionar quais dados iriam aparecer no vídeo”, esclarece João. No texto que introduz o filme Papa Sururu, de Celso Brandão, a relação entre o molusco e os aspectos sociais de sua pesca é lembrada: “Centenas de milhares de pessoas beneficiam-se da abundância local desse molusco. É uma pena, portanto, que o quadro atual de degradação do meio ambiente da lagoa Mundaú venha a ameaçá-lo”. A reportagem quis saber de João quais foram as suas impressões durante o período em que foram entrevistadas todas aquelas famílias. “A poluição da lagoa é um dos principais problemas enfrentados por eles, pois a situação da comunidade já é muito frágil (infraestrutura, renda, saneamento etc.) e com a poluição, a única renda deles, obtida através da pesca, é afetada”, pontua. SOM DA CASCA Na música, o sururu surge nos versos de canções compostas em diferentes épocas, cantadas por artistas dos mais diversos gêneros. Para pegar um exemplo lá de trás, em meados dos anos 1930, a marchinha Sururu da Nega (de Aristóbolo Cardoso e Pedro Nunes), homenagem a uma conhecida personagem da cultura popular alagoana e dos antigos carnavais de rua de Maceió, a Identidade visual da Mostra Sururu de Cinema Alagoano, produzida pela agência Núcleo Zero: inspiração no audiovisual, na música e no Manifesto Sururu Divulgação Pedro da Rocha”, esclarece o cineasta Werner Salles Bagetti, um dos criadores do evento. “O objetivo era abrir uma janela para a produção local. Já tínhamos uma quantidade de produção significativa que merecia uma mostra. Acho que a Sururu terminou sendo um importante panorama do que estávamos produzindo, além de ser um catalizador para novas produções e novos produtores”. “O nome saiu de um brainstorm entre nós que fazíamos a Associação na ocasião. ‘Sururu’ é uma metáfora da condição cultural alagoana, submergindo da lama, saindo da casca. Além de dialogar com outros hipertextos: O Manifesto Sururu, de Edson Bezerra, a música Sururu Fresco, da banda Xique e Baratinho, o filme Papa Sururu, do Celso Brandão, além do sururu enquanto fonte de renda, de sobrevivência... Enfim, é um signo carregado de referências”, explica o documentarista. No panorama da produção audiovisual alagoana, pelo menos dois títulos, produzidos em épocas distintas, trazem a atividade da pesca do sururu como tema. O primeiro deles é o já citado Papa Sururu, de Celso Brandão, filmado em 1989. O outro, bem mais recente, é um documentário de caráter institucional, intitulado Cadeia Produtiva do Sururu em Alagoas (2013), dirigido por João Schwartz. Acervo pessoal REPORTAGEM 45 ano VII / nº 22 / 2014 46 Nos anos 1930, o bloco Nêga Juju homenageia uma conhecida personagem da cultura popular alagoana. Na marchinha Sururu da Nega, a referência ao molusco encerra o álbum e até batiza a sua banda de apoio. Entre os alagoanos que concentraram a produção local, não poderíamos esquecer o compositor Altair Pereira, que, inspirado nos ritmos do folclore alagoano e com seu texto voltado para questões sociais e ambientais, cantava sua Mundaú, Grande Bebedouro (“Mundaú, lagoa grande bebedouro/ De muitas bocas o sustento/ Tantas vidas, o prazer/ És uma lagoa bela/ Teus mangues abissais/ Cercada de mistérios/ O mar, favelas coqueirais/ Olha o sururu fresco...”), em marcantes performances, usando um colar de casca de sururu em volta do pescoço. Autor de mais de 500 músicas, o carismático cantor ano VII / nº 22 / 2014 e compositor Gustavo Gomes, não vê limites para a sua verve criativa, ao transitar sem medo pelos mais diversos gêneros musicais. Em meados de 2012, por exemplo, ele editou quatro discos bastante distintos entre si, de um fôlego só, em uma série intitulada Ilusão-Vitae Breve. Entre esses lançamentos, o inquieto músico gravou um álbum composto apenas por números instrumentais, dentre os quais está Canto da Vendedora de Sururu, faixa que conta com a contribuição do tarimbado guitarrista Tony Augusto. Mas em se tratando de temas musicais que colocam o sururu no centro das representações simbólicas do nosso imaginário, a canção Sururu de Cara, do cantor Basílio Sé, certamente figura entre as mais emblemáticas. “A música Sururu de Cara surgiu de uma cena comum em Maceió, mas do ponto de vista socioeconômico e filosófico dialético”, explica o autor. “Estava indo para o ensaio quando uma preta, senhora baixinha, magrelinha, surgiu na minha frente com uma bacia de sururu na cabeça cantando em tom firme e afinado pelas ruas do Farol o conhecido pregão ‘sururu fresco’. Naquele momento, aquela cena comum parou o meu olhar de modo que os sentidos foram a mil sem saber o que fazer. Mas a cena não era comum? Então qual o porquê daquela inquietação? A reação de imediato foi escrever a melodia do jeito que ela cantava e sugerir que a abertura do show prestes a acontecer fosse feita com aquela melodia vocalizada”. “Passado o evento, tal cena martelava na minha cabeça, porém, agora já se fazia claro o motivo da perplexidade. Minhas composições geralmente estão atreladas a um fato vivenciado, poucas são as músicas em que não tenha um fato histórico norteador. O fato de a senhora estar vendendo sururu anunciado por um texto poeticamente cantante em ruas nobres da cidade ligou, na minha forma de observar o mundo, ao modo de vida dura que o alagoano menos favorecido leva para sobreviver honestamente e sem perder o encantamento qual a própria vida nos oferece. Por isso, a O cantor e compositor Basílio Sé, autor da canção Sururu de Cara: inspiração no pregão de uma vendedora de sururu que andava pelas ruas da cidade música diz que o alagoano com cara de sururu é um malandro sarado, moleque atrevido / ‘arriscos’ e sem pressa na vida que leva / um sábio guerreiro atinado pra vida / o tipo de pau que enverga, mas não quebra. Alagoano com cara de sururu / sai às ruas rimando em acorde perfeito / mama em onça parida pra espantar a fome / dá pinotes do cão pra viver honestamente / nasce na Mundaú para o mundo em seu capote. A questão ‘Sururu de Cara’ diz respeito primeiro ao fato de o molusco ser próprio das nossas lagoas (Mundaú e Manguaba) dando, por assim dizer, caracterização do povo alagoano. Depois quando se diz de ‘cara’, artisticamente falando, quer dizer puro, enfrentar o mundo a palo seco”, conclui. TRADIÇÃO E INOVAÇÃO Acervo pessoal Nega Juju, dizia em sua letra: “É da favela não Nega Juju/ Nasceu num rancho na terra do sururu/ Embebedou no Farol, na Ponta Grossa/ Com o sururu da nega, a folia é nossa...”. Considerado um dos últimos herdeiros de uma linhagem de artistas populares que remonta aos antigos cantadores das feiras e praças do interior, Jacinto Silva inscreveu-se como um dos grandes talentos da música nordestina por sua excepcional capacidade de improvisação, pela inventividade de suas letras e, principalmente, por seu peculiar estilo de interpretação. Em 1964, quando já vivia com a família em Pernambuco e corria o Nordeste com suas animadas apresentações, o cantor alagoano gravou a música Saudade de Alagoas, a primeira de uma série de canções homenagens que ele compôs. Na letra, o saudoso embolador lembra bairros e ruas de Maceió e canta: “Nunca mais eu vi um sururuzeiro entrar na lagoa e tirar sururu/ Pescar siri ou caranguejo-uçá/ Pescar carapeba, mandim ou munçum...”. Já estabelecido como um dos mais inovadores talentos da música popular brasileira, entre a leva de artistas nordestinos que despontou na segunda metade da década de 70, em seu terceiro disco, Alumbramento (1980), Djavan gravou a canção Sururu de Capote, faixa que Divulgação REPORTAGEM 47 No conjunto das atividades que se inscrevem como exemplos inequívocos de nossa representatividade cultural, é mesmo na culinária que o delicioso molusco surge com brilho na memória afetiva dos alagoanos e no paladar dos visitantes abertos a novas experiências gastronômicas. Em especial, pela forma como a iguaria é preparada no estado. Em seu ensaio sobre o Manifesto Sururu, o historiador Dirceu Lindoso escreveu: “O ano VII / nº 22 / 2014 “O sururu é um molusco proveniente das lagoas e, como no nosso estado elas são abundantes, daí a razão para o sururu ter tanto destaque e ser considerado o mais alagoano dos pratos”, diz Tatália Montenegro sururu deve ter o seu mistério. Não é um molusco qualquer. Tanto é que hoje destaca uma cultura. Esta que Edson Bezerra quer espalhar para toda Alagoas. E produziu o maior dos poetas neobarrocos do nosso tempo, Jorge de Lima, e o maior geógrafo lagunar alagoano, Octavio Brandão. Não sei se os negros quilombolas comiam sururu. Sei que lá nos mangues do norte alagoano não tem. O sururu é uma especialidade da cultura lagunar caeté. (...) quando vim ainda moço para Maceió, e aqui me casei, aprendi com minha empregada sururuzeira e mulata quase branca a comer com as mãos, chupando os dedos sujos de pirão mexido, o saboroso e único sururu de capote. Um prato que me conciliou com a vida”. 48 “O sururu é um molusco proveniente das lagoas e, como no nosso estado elas são abundantes, daí a razão para o sururu ter tanto destaque e ser considerado o mais alagoano dos pratos, principalmente o de capote”, assegura Maria Euthalia Montenegro, que durante alguns anos comandou o Restaurante das Irmãs Rocha, na capital alagoana, e é sobrinha da culinarista Yeda Rocha, dama da gastronomia alagoana responsável por, ao lado das irmãs, tornar o sobrenome da família uma das mais fortes referências na tradicional cozinha alagoana. “Sempre que chegava alguém de fora, os chefs locais levavam para o restaurante para provarem a iguaria, como foi o caso do Renato Machado. O repórter amou o sururu de capote e achou que harmonizava muito bem com vinho branco – fez até uma matéria no jornal O Globo sobre o assunto”, lembra. A cultura da pesca do sururu, como se sabe, decorre principalmente do fator natural da necessidade do homem de se alimentar dos produtos encontrados no seu entorno. Mas já no início do século 20, o molusco gozava de grande popularidade e era bastante consumido, não apenas pelo povo humilde que vive na beira das lagoas, mas em todas as classes. No livro Delícias da Cozinha ano VII / nº 22 / 2014 Alagoana – As Melhores Receitas das Irmãs Rocha, há uma passagem onde elas relatam que os antepassados tinham o costume de enviar a iguaria, através de navios, para Salvador. “Sempre ouvi falar nessa história que o sururu era enviado aos parentes de nossa avó Edith na Bahia, em latas lacradas por funileiros – o que devia ser um perigo!”, conta Maria Euthalia. Mas há que se saber apreciar o molusco. A mais tradicional receita é o saboroso sururu de capote, que atualmente anda meio ‘sumido’. “Na época que tínhamos restaurante, observamos que os turistas ficavam um pouco receosos de provarem a iguaria, mas depois que oferecíamos de cortesia uma porção, eles provavam e até apreciavam. Mas nunca pediam de primeira esse prato”, confessa Tatália. “Atualmente, o prato mais popular é o sururu sem capote”, afirma a chef Tatiana Brasil. “O capote está ligado à tradição, à culinária mais antiga, onde as mães colocavam a mão na massa. Acredito que ele tenha um peso de memória afetiva”. Pesquisando formas criativas de harmonizar as suas receitas com produtos típicos da nossa região, o chef Wanderson Medeiros busca na tradição da cozinha nordestina o melhor caminho para a sua gastronomia. Nas viagens que faz com frequência participando Gastrô Comunicação REPORTAGEM O chef Wanderson Medeiros, do Picuí, que usa o sururu em quase todos os eventos gastronômicos dos quais participa. Ele costuma criar sempre novas receitas de eventos gastronômicos por todo o País, Wanderson faz questão de divulgar a culinária alagoana, e o molusco é um de seus protagonistas. “O sururu faz parte de todos os eventos onde vou apresentar algum menu com vários pratos. Essa semana, embarco para o Rio de Janeiro e o sururu é a entrada que será servida durante três dias no menu degustação do restaurante La Sagrada Família. Uma maneira de deixar a preparação mais leve, quando feita com leite de coco, é finalizar o preparo colocando água de coco. Isso deixa bem mais suave. Pois, na verdade, o que não agrada tanto a algumas pessoas que provam o sururu, não é o molusco, e sim o sabor forte do leite de coco reduzido”, ensina. E quanto aos visitantes estrangeiros e de outros estados, eles aprovam a iguaria? “Sim, adoram”, afirma o chef. “Para eles, é uma maneira totalmente diferente de degustar o marisco servido com um refogado de leite de coco. Durante a semana em que fui responsável pelo menu 49 servido no Restaurante Dalva e Dito, do chef Alex Atala, muitos estrangeiros provaram o sururu, e todos elogiaram”. As experimentações com o molusco, segundo os entrevistados, são múltiplas. “Confesso que as possibilidades para utilização do sururu em preparações mais ousadas ou mais contemporâneas são infinitas. A criatividade de cada cozinheiro é que vai determinar isso”, esclarece o chef Wanderson Medeiros. “Mas eu prefiro mostrar o sururu em outros estados da forma que ele é servido aqui em Alagoas, normalmente ao leite de coco. Assim, eles provam o molusco da maneira mais tradicional. A criatividade, eu exerço principalmente na composição do prato, aliando outros ingredientes para acompanhar o sururu, tais como peixes, azeites e vários tipos de farofas, como a de castanhas brasileiras, coco maduro e banana-passa. Uma iguaria”. “Há infinitas possibilidades, é um alimento muito versátil”, afirma a chef Tatiana Brasil. “Eu, no Buffet Gourmeteria, por exemplo, fiz um casamento para uma noiva alagoana e um noivo paulista, e preparei um risoto de camarão com sururu, curry e leite de coco. Os paulistas amaram e acharam que estavam comendo passas,” conta. ano VII / nº 22 / 2014