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Sexta-feira, 07 de Junho de 2013
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07/06/13
Maioria dos alunos de ensino médio nas escolas públicas tem acesso a biblioteca e internet, diz MEC | Agência Brasil
Agência Brasil
Maioria dos alunos de ensino médio nas escolas públicas tem
acesso a biblioteca e internet, diz MEC
05/06/2013 - 21h41
Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Ministério da Educação (MEC) disse hoje (5) que, no ensino médio, 86,7% das escolas públicas
brasileiras têm biblioteca; 92,2% têm acesso à internet; 91,8% contam com laboratório de informática e 71,5%
têm quadras esportivas. Em termos de matrículas, o ministério diz que 91,7% dos estudantes estão em
estabelecimentos com biblioteca ou salas de leitura; 95,6% em estabelecimentos com acesso à internet;
95,1% em estabelecimentos com laboratório de informática e 78,8% dos alunos em escolas com quadras
esportivas.
Os dados fazem parte da resposta do MEC à matéria publicada pela Agência Brasil sobre o estudo Uma
Escala para Medir a Infraestrutura Escolar, que mostra que a maior parte das escolas brasileiras (84%) tem
apenas uma estrutura básica e quase a metade (44%) conta apenas com água, banheiro, energia, esgoto e
cozinha. Sobre a pesquisa, o Ministério da Educação diz que "o trabalho citado não reflete a realidade das
escolas públicas brasileiras e sim a metodologia utilizada na elaboração deste".
Já no ensino fundamental, apesar de contestar o levantamento, os números enviados pela pasta não
desmentem o estudo. Segundo o critério usado pelos pesquisadores, para ser considerada uma escola com
estrutura adequada - um nível acima da estrutura básica - a escola precisa ter, entre outros itens, acesso à
internet e biblioteca. O estudo mostra que mais de 44% das escolas da educação básica brasileiras ainda
apresentam uma infraestrutura escolar elementar, apenas com água, banheiro, energia, esgoto e cozinha.
De acordo com o Censo da Educação Básica de 2012 – apresentado pelo MEC -, no Brasil 40,2% das escolas
de ensino fundamental têm biblioteca ou sala de leitura; 42,6% acesso à internet; 44,1% laboratório de
informática e 27,5% quadras.
No que se refere a matrículas no ensino fundamental, 73,6% dos estudantes estão em estabelecimentos com
biblioteca ou sala de leitura; 79,5% das matrículas estão em escolas com acesso à internet; 76,9% dos
estudantes têm acesso a laboratório de informática e 54,6% dos matriculados estão em escolas com quadras
esportivas.
Entre as escolas particulares, a pesquisa aponta que a maioria (58,4%) têm uma estrutura básica, com apenas
água, banheiro, energia, esgoto, cozinha, sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e
impressora.
A presidenta da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, diz que o número é uma
média que inclui centros de ensino em regiões bastante pobres do país, mas que não são a maioria. Segundo
ela, casos isolados de escolas pequenas acabam aumentando a porcentagem. "As escolas [privadas], no geral,
tem uma estrutura grande, confortável, têm biblioteca, quadra de esporte, sala de informática. Caso isso não
seja oferecido, não se consegue nem abrir uma escola", diz.
Edição: Fábio Massalli
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agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-05/maioria-dos-alunos-de-ensino-medio-nas-escolas-publicas-tem-acesso-biblioteca-e-internet-diz-mec
1/1
Valor Econômico
07/06/13
762
BRASIL
Dilma visita Portugal para
fortalecer relações
Por Fernando Exman | De Brasília
Em meio ao interesse de
empresas brasileiras no processo de
privatizações conduzido pelo
governo português, e a intenção da
administração federal de atrair
médicos estrangeiros ao Brasil, a
presidente Dilma Rousseff
desembarcará nos próximos dias em
Lisboa. A visita tem como
justificativa oficial a participação de
Dilma no encerramento das
celebrações do Ano do Brasil em
Portugal, mas ocorre num momento
em que ambos os países buscam
reforçar as relações bilaterais. Dilma
deve se reunir com o primeiroministro e o presidente de Portugal,
respectivamente Pedro Passos
Coelho e Aníbal Cavaco Silva.
Duas reuniões ministeriais
precederam a viagem da presidente.
Em abril, o chanceler Antonio
Patriota foi recebido por autoridades
portuguesas. No mês seguinte, o
ministro dos Negócios Estrangeiros
de Portugal, Paulo Portas, visitou
Brasília.
Os representantes de ambos os
países trataram das negociações para
um acordo de livre comércio entre o
Mercosul e a União Europeia, além
da eleição para a diretoria-geral da
Organização Mundial do Comércio
(OMC). Portugal apoiou o
candidato brasileiro, embora depois
a União Europeia tenha reforçado a
candidatura mexicana.
Autoridades do governo Dilma
dizem que empresas nacionais têm
interesse, por exemplo, em participar
das privatizações dos Correios de
Portugal, da companhia aérea TAP
e na concessão de estaleiros navais.
Para os governos, há potencial para
Brasil e Portugal aprofundarem a
cooperação bilateral em educação,
ciência, tecnologia e inovação. A
atração de médicos portugueses para
o Brasil também consta da agenda
bilateral.
Valor Econômico
07/06/13
763
ESPECIAL
Bônus do campo de Libra
vai ajudar superávit
Por Ribamar Oliveira, Claudia
Safatle e Leandra Peres | De Brasília
Mantega: parte do aumento da
receita de concessões tem origem no
pré-sal
O governo já incluiu, em sua
previsão de receita deste ano, o valor
do bônus de assinatura da primeira
rodada de licitações do pré-sal, que
será realizado pela Agência Nacional
do Petróleo (ANP) em outubro.
Nesse leilão, a área ofertada pela
ANP será o prospecto de Libra, na
Bacia de Santos.
Quando encaminhou a proposta
orçamentária de 2013 ao Congresso
Nacional, em agosto do ano
passado, o governo previa que a
receita com as concessões ficaria em
R$ 3,3 bilhões. No decreto de
contingenciamento, editado no fim do
mês passado, a estimativa da receita
de concessões foi elevada para R$
15,679 bilhões - um aumento de
mais de 370%. O ministro da
Fazenda, Guido Mantega, confirmou
ao Valor que parte desse aumento
da receita de concessões é
proveniente do pré-sal.
O governo não quer revelar, no
entanto, com qual valor trabalha
para o bônus de assinatura de Libra.
Fontes oficiais informam que o valor
da receita do pré-sal deste ano
poderá ficar entre R$ 15 bilhões e
R$ 20 bilhões, acima, portanto, do
previsto no decreto de
contingenciamento. O leilão em
outubro dá tempo hábil para que o
pagamento seja feito até dezembro.
No decreto de contingenciamento
está prevista uma receita de R$ 8,1
bilhões com concessões no sexto
bimestre deste ano.
As contas da União neste ano,
portanto, só fecharão se essa receita
do bônus de assinatura do pré-sal
ingressar nos cofres públicos. Dito
de outra forma, o superávit primário
do governo central (Tesouro,
Previdência e Banco Central)
previsto para este ano em R$ 63,1
bilhões - já com o desconto de R$
45 bilhões dos investimentos do
Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e das
desonerações tributárias - não será
alcançado sem a receita do pré-sal.
Sem considerar essa receita do
pré-sal, a redução das despesas do
orçamento deste ano, fixada em R$
28 bilhões, teria sido maior,
informaram fontes oficiais. O uso dos
recursos do bônus de assinatura do
pré-sal para fechar o orçamento
deste ano, no entanto, poderá criar
polêmica.
A lei 12.351/2010 prevê que
parcela do valor do bônus de
assinatura, nos contratos de partilha
de produção, será destinada ao
Fundo Social. Por meio da medida
provisória 592, a presidente Dilma
Rousseff definiu que 50% dos
retornos das aplicações dos recursos
do Fundo Social serão destinados à
educação. A lei diz ainda que os
recursos deste fundo beneficiarão
também as áreas de ciência e
tecnologia, saúde pública, meio
ambiente, cultura e esporte.
Na entrevista ao Valor, o ministro
Mantega informou que o dinheiro
que será destinado para a educação
serão os royalties da área do présal. "O que eles estão dando (no
momento da assinatura dos
contratos) é um pedágio inicial", disse
em referência ao bônus de
assinatura.
No projeto de lei orçamentária
estava previsto uma receita de R$
1,3 bilhão com o pagamento de uma
parcela das concessões dos
aeroportos de Brasília, Guarulhos e
Viracopos. Havia também a
estimativa de uma receita de R$ 1,47
bilhão com a concessão de serviços
de telecomunicações que não foram
especificados. Outras concessões
renderiam mais R$ 530 milhões.
O valor do bônus de assinatura
obtido pelo governo na 11ª Rodada
de Licitações da Agência Nacional
do Petróleo (ANP), realizada em
maio, foi de R$ 2,8 bilhões. Ele não
constava no projeto de lei, mas foi
Continua
Continuação
07/06/13
acrescentado no decreto de
contingenciamento. Também foi
incluído no decreto a receita relativa
à concessão da banda 4 G de
telefonia móvel que não foi paga em
2012, no valor de cerca de R$ 1
bilhão.
Não há previsão de receita de
outorga nas concessões de
rodovias e de ferrovias. No caso
dos 52 terminais em portos
públicos, que serão licitados em
outubro, não haverá valor de
outorga ou será bem pequena, pois
ela não é critério para definição dos
vencedores.
Os valores a serem pagos pelos
vencedores das concessões dos
aeroportos do Galeão e Confins,
com licitações previstas para
outubro, não entrarão nos cofres
públicos neste ano, mas apenas a
partir de 2014, segundo fontes
oficiais.
Valor Econômico
07/06/13
764
REPORTAGEM
DE CAPA
Como fazer um(a) general
Por Kátia Mello | Para o Valor,
do Rio e de Resende
Talvez se encontre nas Forças
Armadas um dos elos mais fortes
entre o indivíduo e a instituição a que
pertence, fruto de uma vivência
profissional marcada pelo sentido de
missão
Ainda menino, o curitibano Arthur
Mota Elias, filho de um gerente de
vendas e de uma dona de casa,
imaginou seu destino: seria oficial de
cavalaria do Exército. Anos depois,
parecia inclinado para outras
profissões. Foi aprovado em
vestibulares de engenharia química
na Universidade Estadual de
Maringá (PR) e de engenharia
elétrica na Faculdade Tecnológica
Federal do Paraná, em Cornélio
Procópio. Mas acabou voltando ao
sonho antigo. Depois de três
tentativas, foi aprovado nos exames
de admissão à Escola Preparatória
de Cadetes do Exército, em
Campinas. Agora, aos 22 anos, está
prestes a terminar sua formação na
Academia Militar das Agulhas
Negras (Aman), em Resende (RJ).
Dali sairá como aspirante a oficial.
Assim como Arthur, o carioca
Luiz Américo Pacheco Coutinho, de
24 anos, está no último ano da Aman.
Também é o primeiro militar de sua
família e, apesar de ter passado no
vestibular da Faculdade de Ciências
Exatas da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, optou pelo oficialato.
geográfica reflete, de certo modo, o
fator renda. Há décadas os cadetes
da Aman são, em grande maioria, do
Sudeste, mas a dimensão desse
predomínio tem mudado: em 2007,
os nordestinos eram 17,57%; hoje,
são 32,99%.
Com sua escolha, Arthur e Luiz
Américo ajudam a desenhar, nos
últimos anos, um novo perfil do
brasileiro que decide fazer carreira
militar. Segundo dados da Aman,
cresce o interesse de filhos de civis e
originários de famílias de renda
inferior aos da classe média
tradicional.
Matheus Antônio Guedes da
Silva, de 22 anos, saiu do Recife para
estudar na Aman. Como todos os
alunos, tem atividades que se iniciam
às 6 h, sempre sob o
acompanhamento de um tenente,
responsável por cerca de 30
cadetes. Ele diz não se sentir
intimidado com uma pessoa
constantemente ao seu lado.
"Compreendo bem a função de um
tenente, ele é um instrutor." De uma
dúvida em uma matéria estudada até
um problema na família ou um
desentendimento com colegas, é ao
tenente que o cadete recorre.
Em 1998, 51,3% dos alunos da
Aman eram filhos de militares. No
ano passado, eram 45%. Os filhos
de civis chegaram a ser 78,1% em
2007, depois de extinta a
obrigatoriedade de reserva de vagas
para descendentes de militares. A
participação de cadetes com famílias
de renda entre 6 e 10 salários
mínimos caiu de 47% em 2007 para
44,8% em 2011, enquanto houve um
aumento de 21,1% para 23% dos
oriundos de famílias com renda entre
2 e 5 salários mínimos.
Uma das explicações para essa
nova caracterização de candidatos à
vida de quartel é a busca de
segurança financeira -, a carreira
militar oferece estabilidade por
muitos anos -, além de benefícios
exclusivos, pessoais e familiares,
inclusive de moradia. A origem
O curitibano Arthur Motta Elias,
prestes a concluir o curso na
Academia Militar das Agulhas
Negras, realiza o sonho de menino,
de ser oficial de cavalaria
A hierarquia é um dos pilares da
vida militar. O preceito é ensinado
desde cedo, e lembrado
Continua
Continuação
insistentemente nas rotinas da Aman.
Na maior parede do Pátio Tenente
Moura, a inscrição, em letras
enormes, é um chamamento de todas
as horas: "Cadete, ides comandar;
aprendei a obedecer". Nesse pátio,
em cerimônia pública, os cadetes
que terminam a parte inicial do curso
recebem o espadim, uma réplica, de
60 cm, do sabre do marechal de
campo Luís Alves de Lima e Silva, o
duque de Caxias, patrono do
Exército.
Se chegaram até aquele
momento, provavelmente já estarão
habituados aos rigores da vida militar,
e seguirão até o fim do curso. Sua
disposição para percorrer todo o
trajeto, até serem declarados
aspirantes a oficial, terá sido posta à
prova já na Escola Preparatória de
Cadetes do Exército (EsPCEx), em
Campinas (SP), responsável por
selecionar e preparar os jovens para
ingressar na Aman. A partir deste
ano, a escola passou a ser de nível
superior. Ali é vivido o primeiro ano
do curso de formação de oficiais de
carreira, seguindo-se outros quatro
na Aman. Portanto, o primeiro
contato do aluno com a rigidez da
vida militar já é experimentado na
EsPCEx, e reduz-se a possibilidade
de desistência mais adiante.
De aspirante a oficial até, quem
sabe, o generalato, o militar será
habitante de um universo hermético,
com regras de convivência muito
peculiares. Para os civis, a palavra
"militar" tem significados que
espelham referências de seu próprio
cotidiano e aquelas que lhes sejam
identitárias. Para alguns, ocorrerá a
imagem dos soldados destacados
para auxiliar as operações policiais
07/06/13
nos morros cariocas. Outros
lembrarão das patrulhas em fronteiras
longínquas. Não faltará a associação
de ideias com o passado do regime
ditatorial.
Celso Castro, autor do livro "O
Espírito Militar" e diretor do
CPDOC (Centro de Pesquisa e
Documentação de História
Contemporânea do Brasil) da FGVRJ (Fundação Getulio Vargas), diz
que os militares costumam dividir o
mundo entre o deles e o dos civis.
Para os militares, criar um universo
exclusivo é uma forma de fazê-lo
mais acolhedor. Frequentam as
mesmas escolas, o mesmo clube, os
cursos de especialização, nos quais
convivem durante anos.
Talvez se encontre nas Forças
Armadas um dos elos mais fortes
entre o indivíduo e a instituição a que
pertence, fruto de uma vivência
profissional única, marcada por
dedicação plena ao que o militar
considera uma missão - que, pelo
visto, é entendida pela população civil
como satisfatoriamente cumprida. É
o que sugerem dados de pesquisa
realizada no ano passado por
professores da Escola de Direito de
São Paulo, da FGV. As Forças
Armadas - nas quais também se
incluem a Aeronáutica e a Marinha foram consideradas a instituição
brasileira mais confiável, superando
a Igreja Católica, o Ministério
Público, o Judiciário, o Legislativo e
a imprensa.
O Exército de Arthur, Luiz
Américo e Matheus é uma força a
serviço de um país diferente daquele
em que se formaram cadetes de
algumas décadas atrás. Como
oficiais, em futuro próximo, já sairão
da Aman conscientes de que atuarão
sob os mandamentos de uma política
nacional de defesa e segurança de
abrangência aumentada, que situa as
Forças Armadas numa complexa
escala de pressupostos e
responsabilidades de alcance
nacional e internacional.
Cadete Luiz Coutinho, no
alojamento da Academia das Agulhas
Negras: habituado aos rigores da
vida militar desde o curso na Escola
Preparatória, em Campinas
No texto do projeto de decreto
legislativo recentemente aprovado no
Senado e agora em tramitação na
Câmara dos Deputados, que define
aquela política, observa-se que,
"neste século, poderão ser
intensificadas disputas por áreas
marítimas, pelo domínio aeroespacial
e por fontes de água doce, de
alimentos e de energia, cada vez mais
escassas. Tais questões poderão
levar a ingerências em assuntos
internos ou a disputas por espaços
não sujeitos à soberania dos Estados,
configurando quadros de conflito". E
adiante: "O aprofundamento da
interdependência dificulta a precisa
delimitação dos ambientes externos
e interno. Com a ocupação dos
últimos espaços terrestres, as
fronteiras continuarão a ser motivo
de litígios internacionais". Dentro
delas, no caso do Brasil, está a
Amazônia, "com seu grande
Continua
Continuação
potencial de riquezas minerais e de
biodiversidade, [que] é foco da
atenção internacional". E há as
fronteiras marítimas, delimitadoras da
soberania nacional sobre reservas de
petróleo, potencial pesqueiro,
mineral e outros recursos naturais.
Arthur sabe do que se trata. Prestes
a terminar o curso na Aman, ele traça
novamente planos para seu futuro:
quer trabalhar nas operações de selva
na Amazônia. "É nossa relíquia", diz.
Na síntese simples de sua visão
de Brasil e das questões
internacionais, Arthur compartilha
preocupações de que também falou
o ministro da Defesa, Celso Amorim,
referindo-se à lei 12.598, que define
políticas para expansão da indústria
nacional de defesa, ainda pendente
de regulamentação: "O Brasil, sendo
pacífico, pode ter a ilusão de que a
guerra nunca vai existir. E como essa
ameaça não se concretiza, a defesa
parece secundária, mas é
fundamental estarmos preparados.
Somos a sexta economia do mundo,
com grandes reservas em
biodiversidade e no Pré-sal", afirmou
o ministro, sobre o reequipamento
das Forças Armadas, em recente
reunião com industriais.
O raciocínio se repete no texto
introdutório da política nacional de
defesa: "A persistência de ameaças
à paz mundial requer a atualização
permanente e o aparelhamento das
nossas Forças Armadas, com ênfase
no apoio à ciência e tecnologia para
o desenvolvimento da indústria
nacional de defesa. Visa-se, com
isso, à redução da dependência
tecnológica e à superação das
restrições unilaterais de acesso a
tecnologias sensíveis".
07/06/13
Hoje, o Brasil está entre os 15
países que mais gastam em defesa,
segundo estatísticas do Stockholm
International Peace Research
Institute. É líder nas Américas (à
parte os Estados Unidos, com US$
682,5 bilhões), com US$ 33,1
bilhões em 2011 (última informação
disponível, em dólares correntes),
seguido da Colômbia (US$ 12,1
bilhões), Chile (5,5 bilhões),
Argentina (US$ 4,3 bilhões) e
Venezuela (US$ 4,0 bilhões).
O argumento, contemplado por
alguns especialistas da área, é que,
se o Brasil almeja ser uma potência
mundial, precisa estruturar e
capacitar melhor suas Forças
Armadas. "Se o Brasil quer ser
membro permanente do Conselho
de Segurança da ONU, não se pode
dar ao luxo de não ter uma boa
defesa", diz Alexandre Fuccille,
professor do Departamento de
Relações Internacionais da Unesp e
pesquisador do Grupo de Estudos e
Defesa Internacional (Gedes).
A presença do Exército brasileiro
no exterior tem crescido nos últimos
anos. O general Carlos Alberto dos
Santos Cruz, ex-chefe da missão da
ONU no Haiti (Minustah), que teve
início em 2004, acaba de ser
convidado pela organização a
assumir o comando de 24 mil
capacetes azuis na missão de paz na
República Democrática do Congo
(Minusco).
O Brasil é líder em gastos com
defesa nas Américas, com US$ 33,1
bilhões, superado apenas pelos
Estados, com US$ 682,5 bilhões
"É uma missão extremamente
complexa, em um país muito grande
e com mais de 70 milhões de
habitantes, rico em recursos naturais
e uma história marcada pela
violência. O contexto é bem diferente
do Haiti", disse Santos Cruz ao
receber o convite da ONU. De fato,
o Congo, que esteve em guerra com
Ruanda, país vizinho, exigirá muito
mais das tropas que lá estejam para
tentar impor uma estratégia de paz
em meio a grupos guerrilheiros.
O general Júlio César de Arruda,
comandante da Aman, concorda que
o Exército realmente passa por
transformações, acompanhando o
contexto geopolítico em que o Brasil
se inscreve, e que suas escolas
precisam estar preparadas para essas
mudanças, que se dão em rápida
progressão. "Temos que dar
ferramentas para que, em operações
de guerra ou não-guerra, os jovens
saibam decidir em um ambiente
complexo, com muita tecnologia",
diz. Entre as matérias obrigatórias
incluídas este ano na escola do
oficialato estão cibernética e
inteligência.
Mas a maior transformação no
Exército ainda está por vir: a entrada
de mulheres na carreira militar. A lei
12.705, sancionada no ano passado
pela presidente Dilma Rousseff,
determina o prazo de cinco anos
para que as Forças Armadas se
preparem para admitir o ingresso de
mulheres nos cursos de formação de
oficiais e sargentos de carreira bélica
do Exército mediante concurso
público. Segundo o general Arruda,
a Aman começa a se estruturar para
receber as primeiras jovens em seus
cursos e que poderão, portanto,
Continua
Continuação
Almeida Backes, de 30 anos,
originária de uma família de classe
média da cidade de Uruguaiana (RS),
está certa de que "a mulher pode
trazer grandes benefícios ao
Exército".
Um novo programa do governo
federal, Ciência sem Fronteiras, que
promove o intercâmbio com alunos
e pesquisadores em universidades de
alto nível fora do Brasil, destinará 28
vagas aos estudantes do Instituto
Militar de Engenharia (IME), uma
das mais respeitadas e concorridas
escolas militares. O IME forma
oficiais do quadro de engenheiros
militares da ativa e da reserva. São
quatro vagas para passar seis meses
em West Point - a escola de armas
mais antiga dos Estados Unidos -,
quatro vagas para a tradicional École
Polytechnique, em Paris, e outras 20
em diversas universidades.
A carioca Thássia Lopes, de 23
anos, filha de civis, cursa eletrônica
no IME. Afirma estar satisfeita com
o fato de o Exército bancar seus
estudos. São cinco anos para se
formar engenheira; depois, ela ainda
pretende fazer mestrado. "Tenho
todo o suporte para fazer meu
aperfeiçoamento."
A colega Nathalin Micheli
Meliande, de 24 anos, carioca e filha
de civis, é uma das estudantes do
IME que deseja fazer pós-graduação
fora do Brasil. Ao se formar,
pretende ingressar em um dos
grandes projetos de engenharia
militar a cargo do Exército, como a
construção do aeroporto de Natal
(RN), a transposição do Rio São
Francisco, a recuperação da
07/06/13
infraestrutura do Porto de São
Francisco do Sul (SC). Também
pensa em participar dos serviços de
renovação da infraestrutura do Haiti.
Assim como ocorre em outros
setores de atividade no país, o
Exército sentiu a necessidade de
haver mais militares capacitados para
lidar com novas demandas de
eficiência. "Não temos como
contratar CEOs de outras empresas.
Então, precisamos capacitar a nós
mesmos, e já vimos fazendo isso há
bom tempo", diz o general-debrigada Walter Nilton Pina Stoffel,
comandante da Escola de Comando
e Estado-Maior do Exército
(Eceme), no Rio.
A Eceme oferece vários cursos
de pós-graduação, como política,
altos estudos militares e estratégia e
alta administração. Neste ano,
frequentam a Eceme 138 oficiais
combatentes, 10 intendentes e 10
médicos. Segundo o general Stoffel,
a cada ano cresce o número de
interessados. "Há oito anos, eram
600 candidatos para 110 vagas. Hoje
são 990", diz. Por causa da
mobilidade constante dos militares,
o primeiro ano de pós-graduação é
feito por ensino a distância e o
segundo é presencial. O aluno terá
alojamento exclusivo para ele, sem
membros da família.
O tenente-coronel Humberto
Castro Neves, de 44 anos, casado,
pai de duas filhas, deixou a família
em Brasília para cursar administração
pública na Eceme. "Pretendo
assessorar grandes comandos e ser
promovido a coronel em 2015", diz.
O destino provável de Castro Neves
na volta ao Distrito Federal deve ser
o gabinete do Estado-Maior, órgão
de direção geral do Exército. Castro
Neves chegará ao posto de coronel
"full", que, na linguagem militar,
significa alcançar todos os requisitos
de ascensão ao generalato.
Considerando-se o reajuste de
9,2% concedido em março, o soldo
de um general passou a ser de R$
9.093,00, sem incluir os adicionais,
como aquele por tempo de serviço.
Em alguns casos, somando-se as
gratificações, chega-se a cerca de R$
18 mil. Outros dois aumentos de
9,2% nos soldos estão previstos para
acontecer em março de 2014 e
março de 2015 para todos os 646
mil integrantes das Forças Armadas
(Exército, Marinha e Aeronáutica),
como anunciou o Ministério da
Defesa.
Segundo lista divulgada pela
Controladoria-Geral da União
(CGU) no Portal Transparência do
governo federal, a maior
remuneração nas Forças Armadas
brasileiras é do tenente-brigadeiro do
ar Francisco Joseli Parente Camelo,
que estaria em R$ 26.132,55, um
pouco abaixo do maior salário de um
funcionário público, que é de R$
26.723,13. Não agrada a oficiais que
se façam comparações de sua
remuneração com a de executivos de
alto padrão. O responsável pelas
finanças de uma empresa, por
exemplo, pode ganhar, no Brasil, até
US$ 26 mil mensais, de acordo com
pesquisa da empresa global de
recrutamento Michael Page.
"Não faz sentido essa
comparação, porque são universos
Continuação
alcançar o posto de general. Essa
adaptação não é apenas um projeto
de modificação nas instalações, mas
a compreensão de que a mulher
deverá ser tratada de igual para igual
nas distintas áreas do Exército.
Atualmente, a mulher pode
ingressar voluntariamente no Exército
como militar de carreira ou
temporário. Ocupam cargos nos
quartéis-generais, organizações
militares de saúde, estabelecimentos
de ensino e órgãos de assessoria do
Exército. Há aquelas que já
alcançaram o posto de major. A
maioria são sargentos, tenentes e
capitães.
Para a professora de ciência
política da Unesp Suzeley Kalil
Mathias, pesquisadora de temas
relacionados a mulheres em carreira
militar, é muito importante e simbólica
a presença feminina na mais
respeitada academia militar
brasileira. Suzeley diz que o
machismo ainda impede a presença
delas nas tropas, mas acredita que a
tecnologia vai ajudar a derrubar "o
mito do soldado Rambo". "Agulhas
Negras é simbólico, por ser o último
reduto a ser alcançado. Essa visão
de que o Exército não pode ter
mulheres está superada."
No Exército, as escolas são
divididas por níveis superior e médio,
seja para seguir carreira ou para ser
um militar temporário (um ano, com
possibilidade de renovação). Além da
Aman, as escolas formadoras de
militares são a Escola de Formação
Complementar do Exército
(EsFCEx), a Escola de Saúde do
Exército (EsSex), a Escola de
Sargentos das Armas (EsSA), a
07/06/13
Escola de Sargentos de Logística
(EsSLog), o Centro de Instrução de
Aviação do Exército (CIAvEX) e o
IME (Instituto Militar de Engenharia).
Nessas instituições, existem
especializações definidas pelas
"armas", "serviços" ou "quadros". As
armas são divididas em armas-base
(cavalaria, infantaria) e armas de
apoio ao combate (artilharia,
engenharia, comunicações, material
bélico e intendência - a logística de
suprimento de material). Ao término
do segundo ano na Aman, de acordo
com uma classificação por
meritocracia, o cadete escolhe uma
dessas armas. Ao se formar, sai com
a graduação de aspirante a oficial.
Depois, segue para um quartel, onde
permanece por seis meses, até ser
promovido a segundo tenente. O
tenente é aquele que comanda
pequenas frações e se torna o
principal auxiliar de um comandante.
Daí para a frente, seja por tempo de
serviço, seja por merecimento, o
oficial subirá ao posto de primeiro
tenente, capitão, major, tenentecoronel, coronel e general. Nas
escolas de "praças", vai-se de
soldado a cabo, sargento (terceiro,
segundo e primeiro) e subtenente.
Em todas as escolas militares, o
ingresso é por concurso público e o
número de vagas é sempre
estabelecido pelo Exército de
acordo com suas necessidades. Na
carreira, cada promoção costuma
levar entre seis e sete anos. Ocorre
em turmas, não individualmente.
Os sargentos de carreira, não
importa qual arma escolham, vêm da
Escola de Sargentos das Armas, em
Três Corações (MG). Os graduados
da área de apoio (sargentos e
subtenentes) são formados em
escolas como a Escola de Sargentos
de Logística (EsSLog), fundada há
três anos e localizada no bairro de
Deodoro, no Rio. Ali, no mesmo
sistema de internato da Aman, estão
521 alunos, entre 20 e 25 anos. A
maioria é de católicos, com uma
proporção próxima de 50%. Os
evangélicos são 39%. Apesar de não
haver estatísticas, o comandante da
EsSLog, coronel Abilio Sizino de
Lima Filho, afirma que a maior parte
dos alunos hoje é formada por filhos
de civis.
Os cursos ministrados na EsSLog
(intendência,
enfermagem,
topografia, manutenção de
comunicações, material bélico e
música) correspondem ao nível
técnico. Os alunos devem ter
concluído o ensino médio.
Dos 106 concursados em
enfermagem em 2012, 86% eram
mulheres. Entre elas estava Kamilla
Eberle, de 26 anos, de Juiz de Fora
(MG). Kamilla faz parte da terceira
turma feminina que vai se formar na
EsSLog. Diz que não sente
preconceito nos homens e considera
a convivência com pessoas de várias
origens e crenças "um aprendizado
constante".
O pai de Kamilla é metalúrgico e
a mãe, dona de casa. Ela quer se
casar e ter filhos. Um dos fatores que
a fizeram optar por essa carreira está
em que "o Exército proporciona
muita estrutura, com colégio para as
crianças e moradia para a família". A
estabilidade também influiu. "É
melhor ter isso do que não ter nada
na vida", diz. Sua colega Adriana
Continua
Continuação
07/06/13
totalmente diferentes. Teríamos que
comparar com o serviço público. Um
professor titular da USP ganha R$
22 mil", diz um dos maiores
especialistas em assuntos militares no
país, o sociólogo e professor titular
da Unicamp Eliézer Rizzo de
Oliveira. Segundo ele, a "lógica" da
carreira militar é completamente
diferente. "Se o cara sai da Aman
com 22 anos e faz tudo direitinho,
com 50 anos ele se torna general. É
uma carreira bastante previsível."
Ser militar também tem seus ônus,
como se vê na própria página do
Exército na internet. Citam-se a
rigidez da disciplina, a dedicação
exclusiva e o constante
deslocamento, que dificulta o esforço
do cônjuge para conseguir um
emprego fixo e ainda impede o
estreitamento de laços entre
familiares e amigos, uma vez que a
média é de três anos em cada lugar.
Segundo o professor Antônio
Ramalho, doutor em sociologia e
cedido ao Ministério da Defesa para
a assessoria do ministro Celso
Amorim, "o que houve nas últimas
décadas foi um achatamento salarial
de todo o funcionalismo público,
inclusive no soldo dos militares". Para
ele, isso explica a razão de filhos de
militares estarem se desinteressando
pela carreira. "Eles observam a
condição econômica de seus pais.
Em cidades caras como o Rio de
Janeiro e Brasília, não dá para pagar
aluguel com o que recebem", diz o
professor.
Valor Econômico
07/06/13
765
BRASIL
Ensino e pesquisa no mesmo lugar
Por Ana Luiza Mahlmeister | Para
o Valor, de São Paulo
O Icesp - Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo Octávio Frias
de Oliveira já nasceu como hospital
de referência do SUS no segmento
de alta complexidade. Inaugurado
em maio de 2008, é um dos maiores
hospitais especializados em
tratamento de câncer da América
Latina, fruto do investimento de R$
270 milhões em obras e
equipamentos. O instituto faz mais
de 40 mil atendimentos por mês em
34 especialidades.
"Trabalhamos com três pilares:
alto nível técnico do corpo clínico a
partir de programas de treinamento,
o atendimento humanizado e a
presença da pesquisa em todos os
níveis", afirma Paulo Hoff, professor
de oncologia da Universidade de
São Paulo e diretor geral do Icesp.
O instituto é uma Organização Social
de Saúde criada pelo Governo do
Estado em parceria com a Fundação
Faculdade de Medicina da USP.
A estrutura física, nível de
atendimento e qualidade da gestão
tornaram o Icesp referência em sua
área. "Nos beneficiamos da
integração com o Hospital das
Clínicas e a USP que está entre as
50 melhores universidades de ensino
médico do mundo", destaca. O
orçamento do hospital gira em torno
de R$ 400 milhões anuais divididos
entre a Secretaria do Estado da
Saúde de São Paulo e Ministério da
Saúde.
Nos últimos cinco anos, foram
realizadas mais de 24 mil cirurgias,
595 mil consultas médicas, 140 mil
sessões de radioterapia e 189 mil
sessões de quimioterapia. No total,
foram cerca de 1,8 milhão de
procedimentos médicos. "Além dos
40 mil pacientes em atendimento ou
acompanhamento, recebemos em
torno de 900 novos casos por mês",
diz Hoff.
Para dar conta dessa demanda o
instituto conta com o maior parque
radioterápico do país para avaliação
e tratamento do câncer com 7
tomógrafos, 4 equipamentos de
ressonância nuclear, 6 aparelhos de
radioterapia, sendo um com
capacidade de radiocirurgia
extracranial, disponível em poucos
hospitais de mundo, e o PET/CT que
une recursos de diagnóstico de
medicina nuclear e radiologia. "São
28 andares com os mais variados
recursos e 400 médicos", aponta
Hoff.
Segundo o diretor geral, ser parte
da USP é fundamental para manter
esse nível de excelência. "Temos mais
de 200 protocolos de pesquisa em
andamento, entre elas 130 originárias
do instituto", destaca Hoff. O Centro
de Investigação Translacional, uma
espécie de superlaboratório,
funciona com vinte grupos atuantes
em pesquisa básica e aplicada em
oncologia, onde são investigados
novos medicamentos e tratamento.
O Icesp também inovou ao associarse ao Incor para formar um grupo
especializado em cardio-oncologia.
Pela primeira vez a abordagem do
paciente de câncer se ocupou
também com a prevenção,
diagnóstico e tratamento de
complicações cardiovasculares.
07/06/13
766
STF decide
manter crime impune
O Supremo Tribunal Federal
(STF) decidiu manter arquivada a
ação penal por homicídio contra
quatro ex-estudantes de Medicina hoje, médicos - acusados de matar
um calouro por afogamento durante
um trote na Universidade de São
Paulo (USP), em fevereiro de 1999.
Em 2006, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) trancou o processo,
por ver falha na denúncia do
Ministério Público.
A acusação não teria relatado as
condutas detalhadas de cada um dos
suspeitos. Ontem, no julgamento de
recurso do Ministério Público, o
STF concordou com a tese e
recusou o pedido de reabrir o caso.
A decisão foi tomada por cinco
votos a três. O presidente do
Supremo, Joaquim Barbosa, ficou
entre os vencidos. Para ele , STJ e
STF colaboraram com a impunidade
de um crime grave.
O PAÍS
07/06/13
RIO
767
Universitários sem teto
Obra em alojamento da UFRJ deixa estudantes
com dificuldades para encontrar moradia
Juliana Dal Piva
A sonhada reforma na Residência
Estudantil da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha
do Fundão, tornou-se um pesadelo
para os estudantes que dependem
dos alojamentos. Devido ao início
das obras, a instituição ofereceu uma
bolsa emergencial, no valor de R$
650 mensais, para que os alunos
aluguem uma moradia provisória
enquanto os quartos são reformados.
Dos 363 moradores, 209 aceitaram
a proposta.
Os estudantes, no entanto, dizem
que há dificuldades para alugar um
quarto com o valor oferecido, não
só devido ao aquecimento do
mercado imobiliário do Rio como
também por exigências como fiador,
seguro-fiança ou depósito. Além
disso, alunos que não conseguiram
vaga nos alojamentos dormem no
chão dos quartos com colegas que
os abrigam. Esses agregados terão
que deixar os quartos sem qualquer
ajuda da UFRJ.
Sentada sobre a cama de madeira
quebrada, a estudante Raine
Machado, de 21 anos, observa o
varal de roupas improvisado que
cruza seu quarto, enquanto tenta se
acalmar. Pouco antes, ela descobriu
que a administração arrancou a porta
do quarto vizinho que estava vazio.
De acordo com os estudantes, os
responsáveis pela Residência
Estudantil tomaram a decisão para
que ninguém ocupe os alojamentos,
mas sequer comunicaram o fato aos
alunos.
Em fevereiro, ela foi abrigada por
uma amiga que estava se formando.
Depois que a amiga conclui o curso,
ela permaneceu no quarto, porque
não tinha para onde ir. Filha única,
Raine conta que sua mãe mora na
zona rural de Nova Iguaçu e não tem
condições de ajudá-la. Ela explica
ainda que não pode voltar para casa
todas as noites devido aos horários
dos ônibus.
O problema da aluna de
Educação Física começou em
fevereiro, quando ela teve que deixar
o trabalho de atendente de
telemarketing porque a empresa se
recusou a flexibilizar os horários para
que pudesse estudar. Ela então se
demitiu.
Para custear suas despesas,
Raine conseguiu um estágio no valor
de R$ 400. A quantia a obriga a
escolher entre a passagem até o
trabalho no Centro e o almoço ou o
jantar.
- De ontem para hoje, não
almocei nem jantei. Eu ainda não
recebi, e o dinheiro que tenho é da
passagem para o estágio, porque se
gastar não vou ao trabalho - revela.
Ela se inscreveu no processo de
seleção para a moradia no início de
maio. Esta semana, recebeu a notícia
de que não foi selecionada.
- Como vou estudar para as
minhas provas se não consigo me
alimentar direito? Eu já não choro
mais. Quando vi que meu nome não
estava na lista, me desesperei. Eu
vou estudar, é a minha única saída.
Essa é a semana de prova e eu quase
não tenho tempo para estudar.
Na mesma situação limite vivem
a paulista Muana de Andrade, de 21
anos, e a gaúcha Manoella Flores,
de 20. As duas vivem como
"agregadas" de amigos que moram
no alojamento há quase um ano.
Dormem num colchão, ao lado da
cama dos estudantes. Elas também
pediram uma vaga na moradia, mas
igualmente tiveram o benefício
negado. Manoella, inclusive, cogita
trancar o curso, já que não consegue
viver fora dali só com os R$ 50 que
o avô envia do Sul toda semana.
- Acho que eu vou ter que trancar
o curso, trabalhar um tempo e juntar
algum dinheiro. Não sei o que fazer
- desabafa.
O estudante de Relações
Internacionais Alabê Nunjara, de 27
anos, aceitou a bolsa emergencial
para sair do alojamento durante a
reforma. Na moradia desde 2009,
decidiu sair porque vai se formar.
Por isso, resolveu aproveitar a
situação e procurar um lugar
definitivo para morar. Mesmo
consciente de sua decisão, ele
Continua
Continuação
07/06/13
esbarra nos altos preços cobrados
no Rio e nas exigências formais de
garantias financeiras pedidas tanto
por imobiliárias como por
proprietários.
- É complicado, porque os lugares
querem depósito de três meses de
aluguel, fiador ou seguro fiança.
Mesmo na Tijuca, na Abolição, em
Pilares, um apartamento de um quarto
está em torno de R$ 900 ou R$
1.300 reais. Fora transporte,
condomínio, luz, água e internet, que
aqui no alojamento a gente não paga
- aponta Nunjara.
O estudante lembra ainda que as
bolsas que a universidade paga
atualmente no valor de R$ 550, para
custear alimentação, livros e outras
despesas, geralmente atrasam alguns
dias.
- Eles garantem que não vão
atrasar mais. Mas, e se atrasar, quem
vai pagar os juros?- questiona.
Nunjara abriga em seu quarto
outros três amigos que não
receberam o benefício. Ele dorme
numa rede, enquanto os outros
estudantes dividem o restante do
espaço do quarto.
Leonardo Amaral, de 26 anos ,
estuda Ciências Sociais. Ele já
acabou o bacharelado, mas ainda
cursa a licenciatura até o fim do ano.
Segundo Amaral, sua vaga está
ameaçada por uma questão
burocrática da universidade. Ele
entrará com um recurso, mas tem
pouca esperança de conseguir
reverter a situação. Com os R$ 550
da bolsa que ainda recebe, está
procurando um novo lugar para
morar.
- Não vou ter moradia e terei de
começar a trabalhar. Lá no Parque
União (no Complexo da Maré), uma
quitinete está na faixa de uns R$ 400.
A reforma custará cerca de R$
11 milhões e deve durar 20 meses.
Os alunos que aderiram à bolsa
emergencial precisam deixar os
quartos em três semanas devido ao
início das obras. A UFRJ informou
em seu site que o valor foi fixado
após uma pesquisa do custo médio
de vagas para moradia. Já os que
ficarem serão divididos de maneira
mista num dos alojamentos enquanto
o outro é reformado. Procurada para
comentar a situação, a UFRJ não
respondeu aos questionamentos da
reportagem.
07/06/13
768
ANCELMO GOIS
07/06/13
769
ESPAÇO ABERTO
A bolsa ou a vida
FERNANDO GABEIRA *
O boato sobre o fim do Bolsa
Família agitou a vida política do
Brasil. Fomos obrigados a
contemplar a importância dos boatos
na política e alguns cronistas
chegaram a sugerir livros sobre o
tema. Eu mesmo fui remetido às
leituras do meio da década dos anos
70: Política e Crime, de Hans
Magnus Enzensberger. Ele destaca
o boato num dos ensaios: Wilma
Montesi, a vida depois da morte. No
caso, o cenário era a Itália e os
rumores após a morte de uma
mulher quase levaram o país a uma
guerra civil. O boato no Brasil foi
apenas um susto de fim de semana.
Mas o psicodrama que desencadeou
mostrou um governo tenso e
desorientado. Forçado por uma
trapalhada oficial, teve de confrontar
uma hipótese impensável: o fim do
Bolsa Família.
A reação da ministra Maria do
Rosário foi a mais tradicional,
sobretudo entre governos
autoritários: apontar os culpados de
sempre, a oposição. No passado
era pior. Os governos apontavam os
culpados de sempre, mas prendiam
também os suspeitos de sempre.
Alguns líderes de esquerda, na
guerra fria, eram retirados de
circulação nas vésperas de grandes
datas. Alguns já esperavam,
resignadamente, a polícia com a
muda de roupa, escova de dente e
o maço de cigarros.
A reação de Maria do Rosário foi
mais linear. A de Dilma Rousseff é
mais complexa. Ela considerou o
boato um crime monstruoso. E não
há dúvida de que poderia levar dor,
tristeza e até matar gente do coração.
Felizmente, isso não aconteceu.
Brecht dizia: pobre do povo que
precisa de heróis. Não se interessou
pelo destino dos heróis que precisam
de um povo para salvar. Lembro-me
do exílio, de algumas senhoras da
Anistia Internacional que lutavam
para liberar presos em outros países
e se correspondiam com eles. Uma
delas, quando seu preso foi solto,
caiu em depressão. Afinal, era o seu
preso, tantos anos dedicados a ele
e, agora, a benfeitora teria o vazio
diante de si.
A revelação mais importante do
episódio foram as filas dos que
recebem Bolsa Família. Nunca os
tínhamos visto em grande número.
Nem o PT, talvez. Cada um tirou
suas conclusões do que viu. Muita
gente parecia na fronteira, o que, no
caso do Bolsa Família, significa porta
de saída. Uma das entrevistadas
disse que tinha ido retirar o seu
benefício e depositar um dinheiro na
poupança do marido.
É mais fácil combater a tese pura
e simplesmente contrária ao Bolsa
Família. Mas como responder ao
argumento de que é preciso investir
mais na porta de saída? Instrumentos
existem. Há uma Secretaria de
Economia Solidária, liderada por
Paul Singer, mais competente que a
maioria esmagadora dos ministros da
coalizão. Faltam cooperativas,
negócios sociais, enfim, um
empurrão mais seguro para que as
pessoas encontrem sua própria
sobrevivência. Investir decisivamente
nesse rumo significa aproximar-se da
vertigem que o próprio boato
suscitou: a da perda de importância
da ajuda financeira mensal. Uma
vertigem imaginar um eleitorado
completamente livre, que produz sua
própria sobrevivência, não vota por
gratidão, mas por esperança num
futuro melhor.
O simples fato de usarmos tanto
talento represado pela dependência
à bolsa já seria um dínamo
econômico. Como grande parte dos
provedores, o PT, um provedor que
usa dinheiro público, sempre se faz
a pergunta crucial: ela gosta de mim
ou do meu dinheiro? O que o leva a
outra questão: a coalizão é mantida
com grande estímulo de cargos e
verbas; o eleitorado, com os laços
criados pelo Bolsa Família.
E tome propaganda para nos
tranquilizar sobre um futuro incerto
até para eles. A última campanha nos
conclama a torcer pelo futebol
brasileiro. O governo nos chama
neste período de a Pátria de chuteiras,
usando a frase de Nelson Rodrigues.
Em 1970, criticávamos os generais
por usarem o futebol, uma arte
popular, a favor do governo.
Continua
Continuação
Escrevíamos panfletos lembrando
que a ditadura nada tinha que ver com
o talento dos jogadores. No final da
Copa, no jogo contra a Itália, houve
até quem tentasse - sem êxito, pois a
emoção foi mais forte - torcer contra
o Brasil. Algumas décadas depois,
quem está usando o futebol a seu
favor, associando-o à imagem do
governo, explorando um talento que
é uma dádiva nacional?
Não estou pedindo a ninguém que
coloque a mão na consciência e
desfeche um processo acelerado de
inclusão no mercado. A vertigem
ainda é muito forte. O presidente do
PT disse que o boato era um
terrorismo eleitoral. Talvez o partido
dominante tivesse se aterrorizado. A
simples hipótese de perder aquela
massa que recebe Bolsa Família é
uma pequena antevisão do vazio que
envolveu a mulher da Anistia
Internacional quando seu preso foi
solto.
Curioso ver como os novos
governantes cada vez mais se
parecem com os antigos. Na escolha
dos culpados de sempre, no
sequestro do futebol e também na
incômoda posição de quem se coloca
como o indutor do progresso. Sua
sobrevivência política depende mais
do fechamento que da abertura da
porta de saída, com o potencial de
lançar milhares de novos atores do
07/06/13
mundo do trabalho. Se fossem só um
grupo de adolescentes, diria que
estavam repetindo o que criticavam
nos pais. Só quem vive assustado
nos conclama a ser a Pátria de
chuteiras. Nelson Rodrigues, creio,
jamais formularia essa frase
pensando num slogan oficial.
Certamente, para ele, a Pátria de
chuteiras, de tênis ou sandálias é
fruto da espontaneidade popular.
Como palavra de ordem oficial, só
é possível uma Pátria de ferraduras.
Tentaram nos fazer tocar
caxirolas. Não deu certo, o próprio
ministro da Justiça condenou o
artefato. A presidente Dilma até que
tocou caxirola para a plateia no
Planalto. Não sabia do perigo. Após
queimar as mãos com um pequeno
instrumento musical, saiu
inaugurando estádios, dando
pontapés iniciais. Com todo respeito
à segunda mulher mais poderosa do
mundo, se todo mundo chutar como
ela, a Pátria de chuteiras vai para o
buraco, assim como iria se todos
fizessem embaixadas como o general
Médici em 1970. De lá para cá, o
marketing dominou a política,
melhorou os penteados, mas
continua o mesmo: escondendo o
verdadeiro jogo.
* FERNANDO GABEIRA É
JORNALISTA.
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
770
POLÍTICA
NAS ENTRELINHAS
Dilma arma o jogo
O governo mapeia os ministros
candidatos em 2014 e usará essa
reforma no ano que vem para
amarrar as alianças eleitorais de
Dilma Rousseff
por Denise Rothenburg
[email protected]
Com o processo eleitoral
antecipado, a presidente Dilma
Rousseff leva o governo de olho em
mais quatro anos e vai, aos poucos,
montando seu baralho para o ano
que vem. Embora os ministros
estejam proibidos de falar de eleição
com tanta antecedência, ela já dá os
primeiros passos para preparar a
futura troca no primeiro escalão, a
fim de ter claro os lugares a
preencher daqui a nove meses,
quando os candidatos devem sair
para cuidar das próprias campanhas.
Até o momento, são, pelo menos,
14 ministérios passíveis de reforma.
Entre aqueles da cota pessoal de
Dilma, há três na lista, inclusive o
ministro de Desenvolvimento,
Industria e Comércio, Fernando
Pimentel, pré-candidato ao governo
de Minas Gerais. Na “cozinha” do
governo, o Palácio do Planalto,
Dilma substituirá duas de suas
principais ministras. Gleisi Hoffmann,
da Casa Civil, é o nome do partido
para combater o governador do
Paraná, Beto Richa, do PSDB,
candidato à reeleição. Quanto à
ministra de Relações Institucionais,
Ideli Salvatti, não foram poucas as
oportunidades em que a presidente
deu a entender que gostaria de tê-la
no Senado. E já tem até posto para
o futuro de Ideli, caso tudo ocorra
de acordo com os planos dos
petistas: líder do governo, uma vez
que o senador Eduardo Braga é o
nome do PMDB para concorrer ao
governo do Amazonas.
Ideli tem no seu jeitão de conduzir
a articulação política, algo que a
presidente considera uma joia rara:
lealdade e a capacidade de fazer
exatamente o que ela (Dilma)
considera o melhor para o governo.
E, por mais que alguns digam que a
relação com Ideli está ruim, a
presidente sabe que a ministra faz o
que foi combinado no Planalto. Ou
seja, não adianta querer intrigá-las.
Os demais ministérios sujeitos a
mudanças são aqueles a cargo dos
partidos e, obviamente, conforme
avaliação de um político próximo ao
Planalto, serão utilizados para
amarrar a aliança eleitoral da
presidente. O ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, candidato ao
governo ou a mais um mandato de
senador pelo PMDB do Maranhão,
abrirá o lugar para Márcio
Zimmermann, o atual secretário
executivo, em quem Dilma confia e
que já ocupou o cargo no passado.
No Turismo, Gastão Vieira, também
do PMDB maranhense, deve
concorrer a mais um mandato de
deputado federal. Na Agricultura,
entretanto, o PMDB mineiro,
patrono do ministro Antônio
Andrade, deve ter a prerrogativa de
indicar o substituto. O outro nome
do partido que deixará o cargo para
cuidar da eleição é o da Previdência,
Garibaldi Alves Filho, candidato a
governador no Rio Grande do
Norte.
Em outros partidos, a situação
não é diferente. O ministro dos
Transportes, César Borges, recémchegado ao governo, é um dos
nomes que o PR gostaria de ver
como pré-candidato ao Senado, mas
desde que o partido possa ter a
prerrogativa de indicar o sucessor
dele, senão, Borges fica onde está.
No Esporte, onde reina o PCdoB
com o ministro Aldo Rebelo, tudo
indica que, no período eleitoral, a
Continua
Continuação
pasta deve ficar a cargo do secretário
executivo, Luís Fernandes. Ali não
deve haver problema, porque o
PCdoB já faz circular que estará com
Dilma em 2014.
Falta ainda fechar a equação no
Ministério das Cidades, no qual
Aguinaldo Ribeiro é considerado
nome certo para se candidatar a mais
um mandato de deputado federal
pelo Rio Grande do Norte. Também
está nessa pré-lista o ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, e o da
Integração Nacional, Fernando
Bezerra Coelho, do PSB, outra
incógnita da presidente. Fernando
Bezerra certamente será candidato,
só não se sabe a quê ou por qual
partido, uma vez que ainda não bateu
o martelo sobre seu futuro político.
A situação de Bezerra é a mais
ingrata dentre todos os ministros
políticos. Ele quer ser candidato a
governador de Pernambuco, mas não
terá essa garantia ao lado do
governador Eduardo Campos. A
promessa de candidatura por parte
do PT é vista com desconfiança e
também não dá garantias de
crescimento para o ministro. E, para
07/06/13
completar, entre os petistas, seria
visto sempre como um “forasteiro”.
Quanto a Alexandre Padilha, o
plano A é o governo de São Paulo,
mas nada está assegurado porque os
petistas adiam ao máximo essa
escolha para não afugentar aliados
tais como Paulo Skaf, do PMDB, e
Gilberto Kassab, do PSD, ambos
pré-candidatos a governador.
Outra incógnita nesse jogo é o
Ministério da Educação. Embora
Aloízio Mercadante já tenha dito que
irá permanecer no governo federal e
não concorrerá novamente a um
mandato de governador em São
Paulo, há quem torça para que ele
seja transferido para a Casa Civil.
Dilma, entretanto, ainda não definiu.
Ela preferia ter ali um perfil mais
técnico e menos político.
Mercadante é visto hoje como um
curinga da presidente. No PT, há
inclusive quem esteja desconfiado
que ele estaria sendo preparado para
concorrer à Presidência da República
daqui a cinco anos. Daí a
permanência no governo agora. Por
enquanto, Dilma e Lula desenham
apenas 2014, 2018 é outra história.
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
771
Paternidade
» Entre os 100 atletas mais bem pagos
do mundo, o mais jovem é Neymar. Por
trás desse equilíbrio diante da fama está o
suporte do pai, que, centrado, mantém os
negócios do filho. Esse é o tipo de educação
que as escolas públicas precisam incentivar.
Mais envolvimento da família na vida dos
estudantes.
Participa
» Por falar em educação, não existem
mais as normalistas e os cursos de
pedagogia estão se esfarelando. Bom seria
incluir na grade curricular de todos os
cursos superiores a disciplina didática. É
importante que os profissionais tenham
noção de estratégias de ensino, se um dia
quiserem enfrentar uma sala de aula.
ARI CUNHA
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
772
CIDADES
Cotistas da UnB provam mérito
Seminário discute os
resultados da política que reserva
vagas
para
negros
na
Universidade de Brasília.
Pesquisa mostra que o
desempenho desses alunos é
similar, e, em alguns casos,
superior ao dos demais estudantes
» ANA POMPEU
A função das cotas raciais é
deixar de existir assim que a
discriminação reduzir ou acabar. O
papel da sociedade é trabalhar para
que isso aconteça o mais rápido
possível"
Natália Machado, antropóloga,
aluna cotista
» ANA POMPEU
Não fossem as cotas raciais, a
Universidade de Brasília (UnB) teria
71,5% menos negros no quadro de
estudantes na última década. Quem
esteve no seminário “10 Anos de
Cotas na UnB: memória e reflexão”
considera o número representativo.
Para eles, é a prova de que a política
afirmativa da instituição deu certo e
vem incluindo uma parcela
discriminada e excluída do ensino
superior. Além disso, os bons
resultados apresentados pelos
cotistas põem abaixo alguns mitos
levantados pelos críticos da ação.
Entre eles, havia questionamentos
sobre a queda do nível da
universidade com o ingresso de
estudantes por meio de cotas. O
tempo provou, no entanto, que o
desempenho deles, comparado ao
do sistema universal, não teve
diferença significativa. Em 2009,
chegou a ser superior. A média do
índice de rendimento acadêmico
(IRA) ficou em 3,1 para os cotistas,
enquanto os demais estudantes
alcançaram 2,9.
A partir deste mês, a instituição
aprofunda o trabalho de avaliação
dos resultados para decidir sobre a
continuidade do sistema. Em 6 de
junho de 2003, o Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe)
aprovou a reserva de vagas na UnB.
O plano estipulou 10 anos para a
duração da política. Como a
primeira turma com alunos cotistas
ingressou no segundo semestre de
2004, o prazo vence no fim do
primeiro semestre do próximo ano.
Portanto, chegou a hora de a
universidade pensar sobre a
manutenção da reserva de vagas.
Uma comissão nomeada pelo reitor
deve começar a se reunir para
estudar propostas sobre o tema.
Possíveis mudanças vão vigorar a
partir do segundo processo seletivo
de 2014.
Por enquanto, a unanimidade é o
avanço provocado pela experiência.
“No interior da UnB, a mudança do
perfil dos estudantes é notável, e a
segregação racial, que sempre foi a
marca das universidades brasileiras,
diminuiu sensivelmente com o
crescimento do número de
estudantes negros e indígenas”,
avaliou o professor José Jorge de
Carvalho, coordenador do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia de
Inclusão no Ensino Superior e na
Pesquisa (INCTI). Ele propôs o
primeiro plano de cotas adotado pela
UnB e organizou o evento realizado
ontem.
A antropóloga Natália Machado,
26 anos, fez parte da primeira turma
de alunos cotistas da universidade.
Aluna de escola pública em
Taguatinga, ela não imaginava se
tornar referência sobre o assunto.
“No ensino médio, não tinha
perspectiva do que podia esperar de
uma ação como essa”, diz. “A função
das cotas raciais é deixar de existir
assim que a discriminação reduzir ou
acabar. O papel da sociedade é
trabalhar para que isso aconteça o
mais rápido possível”, reflete. Para
ela, as pessoas ainda têm pouca
noção do significado da política
afirmativa.
Continua
Continuação
Para combater mitos e visões
distorcidos sobre o processo, o
reitor da UnB, Ivan Camargo,
defende avaliação detalhada e ampla
dos 10 anos de política. “Precisamos
nos embasar em dados, continuar
discutindo para levar o assunto ao
Cepe”, afirmou. Na opinião dele, a
universidade precisa aproveitar a
diversidade e formar lideranças para
mudar as desigualdades do país. O
reitor comemorou a trajetória
percorrida pela UnB e a influência
sobre outras instituições, por estar
sediada na capital federal e por ter
discutido o tema internamente.
07/06/13
foi possível chegar à meta porque
muitos alunos, depois de aprovados,
não se matriculam. “A pontuação
mínima exigida também era uma
barreira alta, e estamos corrigindo
isso. Do contrário, a universidade
abre as portas, mas não os deixa
entrar”, afirma.
"Precisamos nos embasar em
dados, continuar discutindo para
levar o assunto ao Cepe"
Ivan Camargo, reitor da UnB
Pioneira
O não preenchimento das vagas
previstas pelo sistema foi uma
preocupação levantada no seminário.
No total, 6.632 estudantes
ingressaram na UnB pelo sistema de
cotas, o que significa 13,46% do
quadro discente. O projeto prevê
20% das vagas para pretos, pardos
e indígenas. O decano de Ensino de
Graduação, Mauro Luiz Rabelo,
responsável pela compilação dos
dados apresentados, explica que não
A UnB foi a primeira universidade
federal a implantar o sistema de
cotas. A Universidade do Estado da
Bahia (Uneb) e a Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
aprovaram a sistema de cotas em
2002, mas por lei estadual. Depois
da UnB, já em 2005, mais 16
instituições incluíram ações
afirmativas e, em 2008, o número
chegou a 84.
Continua
Continuação
07/06/13
Continua
Continuação
07/06/13
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
773
CIDADES
Indígenas incluídos
Chamado comumente de cotas
para negros ou cotas raciais, o
programa de reserva de vagas da
Universidade de Brasília (UnB) inclui
também os indígenas. No caso deles,
o problema de preenchimento de
vagas foi maior que entre os
afrodescendentes. A meta, no início
do plano, era formar 200 pessoas.
Até o último processo seletivo, 202
indígenas entraram na universidade,
mas apenas seis concluíram o curso.
Diante das condições oferecidas
pela própria instituição, os
representantes desse grupo ainda
consideram uma vitória o número de
diplomados.
O presidente da Associação dos
Acadêmicos Indígenas do Distrito
Federal, Antônio Macedo Dias,
define a data como “um grande
momento para esse povo”. Hoje,
existem 64 alunos indígenas
matriculados na UnB. “Temos a
necessidade
de
buscar
conhecimento para nos embasar e
defender a nossa cultura”, disse. Para
concretizar esse objetivo, eles
precisam de mais apoio
institucional.Este ano, o governo
federal criou a bolsa permanência,
um auxílio financeiro para minimizar
desigualdades. “O choque cultural já
é um dificultador e Brasília também
é uma cidade difícil para quem vem
de uma comunidade onde toda a
família está por perto”, afirma.
No caso dos indígenas, existe a
cobrança das comunidades em
incluir os conhecimentos adquiridos
por eles nas aldeias. O professor de
antropologia da Universidade
Federal do Amazonas Gersem
Baniwa foi convidado para comentar
o assunto. Ele lembrou que as cotas
não são o único caminho para a
inclusão. Ele acredita na importância
de fundir a visão acadêmica com o
conhecimento branco e dominante
com a cultura, a metodologia e a
experiência dos índios. (AP)
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
774
CIDADES
Hora de encarar o vestibular
Candidatos fazem provas na
Universidade de Brasília amanhã
e domingo. Quem concorre pelo
Sistema de Cotas para Negros pode
agora agendar a entrevista pelo
site do Cespe. Neste certame, as
questões discursivas serão
classificatórias
» MARIANA LABOISSIÈRE
Quase 24 mil candidatos se
inscreveram para o 2º vestibular 2013
da Universidade de Brasília (UnB),
cujas provas serão aplicadas amanhã
e depois em cidades do Distrito
Federal, Goiás e Minas Gerais. Eles
vão disputar 4.219 vagas oferecidas
em 97 cursos, espalhados nos quatro
câmpus da instituição (confira Fique
atento). Nos dois dias, os portões
serão abertos às 13h e os
concorrentes terão cinco horas para
responder às questões.
Do total de inscritos, 23,2 mil
concorrem a 2.813 vagas pelo
Sistema Universal. Para o de Cotas
para Negros, com 850 oportunidades,
são 2.491 candidatos, e para o de
Cotas para Escolas Públicas foram
registradas 7.445 inscrições. Nessa
última modalidade, são oferecidas 556
vagas. Neste fim de semana, 685
alunos vão fazer o vestibular como
treineiros.
Além do recém-criado curso de
fonoaudiologia, a ser ministrado em
Ceilândia, outra novidade desta edição
refere-se à mudança no critério de
análise das questões do tipo D, isto é,
as discursivas. A partir de agora, elas
passam a ter caráter classificatório e
não mais eliminatório, como nos
certames passados. Com isso, o fato
de o candidato obter resultado nulo
nesses itens não inviabilizará a
aprovação no vestibular.
Outro ponto que merece destaque
é o agendamento de entrevistas para
estudantes que concorrerão pelo
Sistema de Cotas para Negros. Nos
vestibulares anteriores, esses
candidatos, após serem aprovados,
eram convocados a comparecer na
UnB em datas preestabelecidas. De
agora em diante, eles devem fazer o
agendamento pela página do Centro
de Seleção e de Promoção de
Eventos (www.cespe.unb.br)
indicando os melhores dia e horário
de comparecimento dentro de um
período a ser sugerido pela instituição.
“Ainda vamos divulgar os dias
possíveis para marcação. Por isso, as
pessoas devem ficar atentas. À
medida que determinado horário for
preenchido, o estudante terá de optar
por outro”, esclarece o coordenador
acadêmico do Cespe, Marcus Vinícius
Soares. “De toda forma, a medida foi
tomada no sentido de trazer mais
conforto para os candidatos”,
argumentou. Quem não cumprir essa
etapa deixará de concorrer pelo
Sistema de Cotas para Negros e
continuará na disputa apenas pelo
Sistema Universal.
Disciplinas
Amanhã,
os
candidatos
respondem questões das seguintes
disciplinas: língua estrangeira; língua
portuguesa e literaturas de língua
portuguesa; geografia e história; artes
— artes cênicas, visuais, e música;
filosofia e sociologia. Também terão
de elaborar uma redação. No
domingo, os concorrentes precisam
enfrentar provas de biologia, física,
química e matemática.
Está prevista para 12 de junho, a
partir das 19h, a divulgação dos
gabaritos preliminares dos itens do
tipo A, B e C . Em 9 de julho, no mesmo
horário, sai o resultado provisório das
questões do tipo D e da redação. A
relação com o nome dos selecionados
em primeira chamada será publicada
em 24 de julho, a partir das 17h no
endereço eletrônico do Cespe.
Também será possível ter acesso ao
resultado nos câmpus da UnB.
Esta é terceira vez que o estudante
Matheus Sanvito, 18 anos, prestará o
vestibular da UnB. Embora tenha
alcançado notas para passar em
diversos cursos da instituição, sempre
almejou entrar para medicina. “Meu
primo é um grande incentivador.
Como ele é graduado na área, fala
muito bem e diz que o exercício (da
profissão) é apaixonante. Além disso,
minha mãe sempre sonhou que eu me
torna médico”, revela. Sanvito se diz
preparado. “Confiando no que sei, diria
que dá para fazer a prova sem
problemas. Mas contamos com uma
série de outros fatores que envolvem
sorte, como nosso estado emocional”,
pondera.
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
775
Fique atento
Horário
» Provas começam a ser aplicadas a partir das 13h,
no sábado e no domingo
» Nos dois dias, o candidato deve comparecer ao
local designado para a realização das provas com
antecedência mínima de uma hora do horário fixado
O que levar
» Documento de identidade original do candidato
(incluindo Passaporte);
» Comprovante de inscrição do candidato ou de
pagamento da taxa de inscrição;
» Caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em
material transparente.
Provas
Amanhã
» Língua estrangeira; língua portuguesa e literaturas
de língua portuguesa; geografia e história; artes (artes
cênicas, artes visuais, música); filosofia e sociologia.
Domingo
» Biologia, física, química e matemática.
Cronograma
12 de junho
» A partir das 19h: divulgação dos gabaritos
preliminares das questões tipo A, B e C.
9 de julho
» A partir das 19h: divulgação dos gabaritos
preliminares das questões do tipo D e da redação.
24 de julho
» A partir das 17h: divulgação dos nomes dos
candidatos aprovados em primeira chamada.
CIDADES
CORREIO BRAZILIENSE
07/06/13
776
CIDADES
RETRATO BRASILIENSE » Riacho Fundo 1 melhora
a renda e qualidade de vida dos moradores
» LARISSA GARCIA
Das sete regiões administrativas
analisadas pela Pesquisa Distrital por
Amostra de Domícilio 2013
(PDAD-2013), o Riacho Fundo 1
se destacou pelo salto no padrão de
vida da população. Além de ter a
maior renda per capita das cidades
estudadas, 1,96 salário mínimo, teve
avanços significativos no nível de
escolaridade dos moradores. O
número de analfabetos caiu 0,74
ponto percentual e a parcela da
população com nível superior
completo registrou elevação de 4,52
pontos percentuais (veja o quadro).
“Foi uma região que nos
surpreendeu positivamente. A
população passou de renda média
baixa para renda média alta, com
padrões semelhantes ao do Guará,
por exemplo”, destacou o gerente da
Base de Dados da Codeplan,
Jusçânio Souza. Para ele, a evolução
educacional é um dos pontos mais
importantes. “Por conta dessa
melhora, notamos outros
desdobramentos, como uma
redução do emprego precário e alta
na formalização”, observou.
Na cidade, 25% dos moradores
trabalham na própria região. “Não
é um número tão expressivo se
comparado a cidades com
economias mais dinâmicas, como
Gama e Planaltina. Ainda assim,
vemos uma movimentação grande
nos setores de comércio e de
serviços”, disse. A maior parte dos
trabalhadores está locada no
comércio, com 26,01% e 23,36%
em serviços. O setor público é
responsável por 21,34% das
ocupações.
Para Souza, vários fatores são
responsáveis pelo salto no padrão de
vida e de moradia da população do
Riacho Fundo 1. “A principal é a
localização estratégica. Fica perto de
grandes centros, como Taguatinga,
Águas Claras e Núcleo
Bandeirantes, o que valoriza a região.
Nas proximidades, os moradores
podem encontrar universidade e
hospitais, por exemplo, que apesar
de não estarem localizados dentro da
própria cidade, também elevam a
qualidade de vida”, disse.
A quantidade de casas com
automóvel e computador saltou entre
2011 e 2013. A região, entretanto,
tem limitações geográficas. “Por ser
uma área de passagem de aviões, é
impossível que a cidade cresça
verticalmente. Além disso, há a
particularidade de não ser grande em
extensão de terra. Mesmo assim,
notamos uma valorização até dos
imóveis por conta da melhora no
padrão de vida”, salientou o gerente
da Base de Dados da Codeplan.
Radiografia
Indicadores
2011 2013
Renda domiciliar (salários mínimos)
6
6,42
Renda per capita (salários mínimos)
1,56
1,96
Número médio de moradores por domicílio 3,37
3,34
Analfabetos
2,4%
1,66%
Nível superior completo
2,4%
1,66%
Domicílios de alvenaria
98,97% 99,21%
Postos de trabalho na região
26,18% 25,51%
Residências com automóvel
61,17% 67,13%
Residências com tevê por assinatura
12,37% 44,95%
Residências com computador
57,39% 61,19%
Fonte: Codeplan
JORNAL DE BRASÍLIA
07/06/13
777
CIDADES
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