Clipping Nacional de Educação Sexta-feira, 07 de Junho de 2013 Capitare Assessoria de Imprensa SHN, Quadra 2 Bloco F Edifício Executive Tower - Brasília Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br 07/06/13 Maioria dos alunos de ensino médio nas escolas públicas tem acesso a biblioteca e internet, diz MEC | Agência Brasil Agência Brasil Maioria dos alunos de ensino médio nas escolas públicas tem acesso a biblioteca e internet, diz MEC 05/06/2013 - 21h41 Mariana Tokarnia Repórter da Agência Brasil Brasília – O Ministério da Educação (MEC) disse hoje (5) que, no ensino médio, 86,7% das escolas públicas brasileiras têm biblioteca; 92,2% têm acesso à internet; 91,8% contam com laboratório de informática e 71,5% têm quadras esportivas. Em termos de matrículas, o ministério diz que 91,7% dos estudantes estão em estabelecimentos com biblioteca ou salas de leitura; 95,6% em estabelecimentos com acesso à internet; 95,1% em estabelecimentos com laboratório de informática e 78,8% dos alunos em escolas com quadras esportivas. Os dados fazem parte da resposta do MEC à matéria publicada pela Agência Brasil sobre o estudo Uma Escala para Medir a Infraestrutura Escolar, que mostra que a maior parte das escolas brasileiras (84%) tem apenas uma estrutura básica e quase a metade (44%) conta apenas com água, banheiro, energia, esgoto e cozinha. Sobre a pesquisa, o Ministério da Educação diz que "o trabalho citado não reflete a realidade das escolas públicas brasileiras e sim a metodologia utilizada na elaboração deste". Já no ensino fundamental, apesar de contestar o levantamento, os números enviados pela pasta não desmentem o estudo. Segundo o critério usado pelos pesquisadores, para ser considerada uma escola com estrutura adequada - um nível acima da estrutura básica - a escola precisa ter, entre outros itens, acesso à internet e biblioteca. O estudo mostra que mais de 44% das escolas da educação básica brasileiras ainda apresentam uma infraestrutura escolar elementar, apenas com água, banheiro, energia, esgoto e cozinha. De acordo com o Censo da Educação Básica de 2012 – apresentado pelo MEC -, no Brasil 40,2% das escolas de ensino fundamental têm biblioteca ou sala de leitura; 42,6% acesso à internet; 44,1% laboratório de informática e 27,5% quadras. No que se refere a matrículas no ensino fundamental, 73,6% dos estudantes estão em estabelecimentos com biblioteca ou sala de leitura; 79,5% das matrículas estão em escolas com acesso à internet; 76,9% dos estudantes têm acesso a laboratório de informática e 54,6% dos matriculados estão em escolas com quadras esportivas. Entre as escolas particulares, a pesquisa aponta que a maioria (58,4%) têm uma estrutura básica, com apenas água, banheiro, energia, esgoto, cozinha, sala de diretoria e equipamentos como TV, DVD, computadores e impressora. A presidenta da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, diz que o número é uma média que inclui centros de ensino em regiões bastante pobres do país, mas que não são a maioria. Segundo ela, casos isolados de escolas pequenas acabam aumentando a porcentagem. "As escolas [privadas], no geral, tem uma estrutura grande, confortável, têm biblioteca, quadra de esporte, sala de informática. Caso isso não seja oferecido, não se consegue nem abrir uma escola", diz. Edição: Fábio Massalli Share Share Share Share agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-05/maioria-dos-alunos-de-ensino-medio-nas-escolas-publicas-tem-acesso-biblioteca-e-internet-diz-mec 1/1 Valor Econômico 07/06/13 762 BRASIL Dilma visita Portugal para fortalecer relações Por Fernando Exman | De Brasília Em meio ao interesse de empresas brasileiras no processo de privatizações conduzido pelo governo português, e a intenção da administração federal de atrair médicos estrangeiros ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff desembarcará nos próximos dias em Lisboa. A visita tem como justificativa oficial a participação de Dilma no encerramento das celebrações do Ano do Brasil em Portugal, mas ocorre num momento em que ambos os países buscam reforçar as relações bilaterais. Dilma deve se reunir com o primeiroministro e o presidente de Portugal, respectivamente Pedro Passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva. Duas reuniões ministeriais precederam a viagem da presidente. Em abril, o chanceler Antonio Patriota foi recebido por autoridades portuguesas. No mês seguinte, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Portas, visitou Brasília. Os representantes de ambos os países trataram das negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além da eleição para a diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Portugal apoiou o candidato brasileiro, embora depois a União Europeia tenha reforçado a candidatura mexicana. Autoridades do governo Dilma dizem que empresas nacionais têm interesse, por exemplo, em participar das privatizações dos Correios de Portugal, da companhia aérea TAP e na concessão de estaleiros navais. Para os governos, há potencial para Brasil e Portugal aprofundarem a cooperação bilateral em educação, ciência, tecnologia e inovação. A atração de médicos portugueses para o Brasil também consta da agenda bilateral. Valor Econômico 07/06/13 763 ESPECIAL Bônus do campo de Libra vai ajudar superávit Por Ribamar Oliveira, Claudia Safatle e Leandra Peres | De Brasília Mantega: parte do aumento da receita de concessões tem origem no pré-sal O governo já incluiu, em sua previsão de receita deste ano, o valor do bônus de assinatura da primeira rodada de licitações do pré-sal, que será realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em outubro. Nesse leilão, a área ofertada pela ANP será o prospecto de Libra, na Bacia de Santos. Quando encaminhou a proposta orçamentária de 2013 ao Congresso Nacional, em agosto do ano passado, o governo previa que a receita com as concessões ficaria em R$ 3,3 bilhões. No decreto de contingenciamento, editado no fim do mês passado, a estimativa da receita de concessões foi elevada para R$ 15,679 bilhões - um aumento de mais de 370%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou ao Valor que parte desse aumento da receita de concessões é proveniente do pré-sal. O governo não quer revelar, no entanto, com qual valor trabalha para o bônus de assinatura de Libra. Fontes oficiais informam que o valor da receita do pré-sal deste ano poderá ficar entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, acima, portanto, do previsto no decreto de contingenciamento. O leilão em outubro dá tempo hábil para que o pagamento seja feito até dezembro. No decreto de contingenciamento está prevista uma receita de R$ 8,1 bilhões com concessões no sexto bimestre deste ano. As contas da União neste ano, portanto, só fecharão se essa receita do bônus de assinatura do pré-sal ingressar nos cofres públicos. Dito de outra forma, o superávit primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) previsto para este ano em R$ 63,1 bilhões - já com o desconto de R$ 45 bilhões dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das desonerações tributárias - não será alcançado sem a receita do pré-sal. Sem considerar essa receita do pré-sal, a redução das despesas do orçamento deste ano, fixada em R$ 28 bilhões, teria sido maior, informaram fontes oficiais. O uso dos recursos do bônus de assinatura do pré-sal para fechar o orçamento deste ano, no entanto, poderá criar polêmica. A lei 12.351/2010 prevê que parcela do valor do bônus de assinatura, nos contratos de partilha de produção, será destinada ao Fundo Social. Por meio da medida provisória 592, a presidente Dilma Rousseff definiu que 50% dos retornos das aplicações dos recursos do Fundo Social serão destinados à educação. A lei diz ainda que os recursos deste fundo beneficiarão também as áreas de ciência e tecnologia, saúde pública, meio ambiente, cultura e esporte. Na entrevista ao Valor, o ministro Mantega informou que o dinheiro que será destinado para a educação serão os royalties da área do présal. "O que eles estão dando (no momento da assinatura dos contratos) é um pedágio inicial", disse em referência ao bônus de assinatura. No projeto de lei orçamentária estava previsto uma receita de R$ 1,3 bilhão com o pagamento de uma parcela das concessões dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos. Havia também a estimativa de uma receita de R$ 1,47 bilhão com a concessão de serviços de telecomunicações que não foram especificados. Outras concessões renderiam mais R$ 530 milhões. O valor do bônus de assinatura obtido pelo governo na 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), realizada em maio, foi de R$ 2,8 bilhões. Ele não constava no projeto de lei, mas foi Continua Continuação 07/06/13 acrescentado no decreto de contingenciamento. Também foi incluído no decreto a receita relativa à concessão da banda 4 G de telefonia móvel que não foi paga em 2012, no valor de cerca de R$ 1 bilhão. Não há previsão de receita de outorga nas concessões de rodovias e de ferrovias. No caso dos 52 terminais em portos públicos, que serão licitados em outubro, não haverá valor de outorga ou será bem pequena, pois ela não é critério para definição dos vencedores. Os valores a serem pagos pelos vencedores das concessões dos aeroportos do Galeão e Confins, com licitações previstas para outubro, não entrarão nos cofres públicos neste ano, mas apenas a partir de 2014, segundo fontes oficiais. Valor Econômico 07/06/13 764 REPORTAGEM DE CAPA Como fazer um(a) general Por Kátia Mello | Para o Valor, do Rio e de Resende Talvez se encontre nas Forças Armadas um dos elos mais fortes entre o indivíduo e a instituição a que pertence, fruto de uma vivência profissional marcada pelo sentido de missão Ainda menino, o curitibano Arthur Mota Elias, filho de um gerente de vendas e de uma dona de casa, imaginou seu destino: seria oficial de cavalaria do Exército. Anos depois, parecia inclinado para outras profissões. Foi aprovado em vestibulares de engenharia química na Universidade Estadual de Maringá (PR) e de engenharia elétrica na Faculdade Tecnológica Federal do Paraná, em Cornélio Procópio. Mas acabou voltando ao sonho antigo. Depois de três tentativas, foi aprovado nos exames de admissão à Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas. Agora, aos 22 anos, está prestes a terminar sua formação na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ). Dali sairá como aspirante a oficial. Assim como Arthur, o carioca Luiz Américo Pacheco Coutinho, de 24 anos, está no último ano da Aman. Também é o primeiro militar de sua família e, apesar de ter passado no vestibular da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, optou pelo oficialato. geográfica reflete, de certo modo, o fator renda. Há décadas os cadetes da Aman são, em grande maioria, do Sudeste, mas a dimensão desse predomínio tem mudado: em 2007, os nordestinos eram 17,57%; hoje, são 32,99%. Com sua escolha, Arthur e Luiz Américo ajudam a desenhar, nos últimos anos, um novo perfil do brasileiro que decide fazer carreira militar. Segundo dados da Aman, cresce o interesse de filhos de civis e originários de famílias de renda inferior aos da classe média tradicional. Matheus Antônio Guedes da Silva, de 22 anos, saiu do Recife para estudar na Aman. Como todos os alunos, tem atividades que se iniciam às 6 h, sempre sob o acompanhamento de um tenente, responsável por cerca de 30 cadetes. Ele diz não se sentir intimidado com uma pessoa constantemente ao seu lado. "Compreendo bem a função de um tenente, ele é um instrutor." De uma dúvida em uma matéria estudada até um problema na família ou um desentendimento com colegas, é ao tenente que o cadete recorre. Em 1998, 51,3% dos alunos da Aman eram filhos de militares. No ano passado, eram 45%. Os filhos de civis chegaram a ser 78,1% em 2007, depois de extinta a obrigatoriedade de reserva de vagas para descendentes de militares. A participação de cadetes com famílias de renda entre 6 e 10 salários mínimos caiu de 47% em 2007 para 44,8% em 2011, enquanto houve um aumento de 21,1% para 23% dos oriundos de famílias com renda entre 2 e 5 salários mínimos. Uma das explicações para essa nova caracterização de candidatos à vida de quartel é a busca de segurança financeira -, a carreira militar oferece estabilidade por muitos anos -, além de benefícios exclusivos, pessoais e familiares, inclusive de moradia. A origem O curitibano Arthur Motta Elias, prestes a concluir o curso na Academia Militar das Agulhas Negras, realiza o sonho de menino, de ser oficial de cavalaria A hierarquia é um dos pilares da vida militar. O preceito é ensinado desde cedo, e lembrado Continua Continuação insistentemente nas rotinas da Aman. Na maior parede do Pátio Tenente Moura, a inscrição, em letras enormes, é um chamamento de todas as horas: "Cadete, ides comandar; aprendei a obedecer". Nesse pátio, em cerimônia pública, os cadetes que terminam a parte inicial do curso recebem o espadim, uma réplica, de 60 cm, do sabre do marechal de campo Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias, patrono do Exército. Se chegaram até aquele momento, provavelmente já estarão habituados aos rigores da vida militar, e seguirão até o fim do curso. Sua disposição para percorrer todo o trajeto, até serem declarados aspirantes a oficial, terá sido posta à prova já na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas (SP), responsável por selecionar e preparar os jovens para ingressar na Aman. A partir deste ano, a escola passou a ser de nível superior. Ali é vivido o primeiro ano do curso de formação de oficiais de carreira, seguindo-se outros quatro na Aman. Portanto, o primeiro contato do aluno com a rigidez da vida militar já é experimentado na EsPCEx, e reduz-se a possibilidade de desistência mais adiante. De aspirante a oficial até, quem sabe, o generalato, o militar será habitante de um universo hermético, com regras de convivência muito peculiares. Para os civis, a palavra "militar" tem significados que espelham referências de seu próprio cotidiano e aquelas que lhes sejam identitárias. Para alguns, ocorrerá a imagem dos soldados destacados para auxiliar as operações policiais 07/06/13 nos morros cariocas. Outros lembrarão das patrulhas em fronteiras longínquas. Não faltará a associação de ideias com o passado do regime ditatorial. Celso Castro, autor do livro "O Espírito Militar" e diretor do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGVRJ (Fundação Getulio Vargas), diz que os militares costumam dividir o mundo entre o deles e o dos civis. Para os militares, criar um universo exclusivo é uma forma de fazê-lo mais acolhedor. Frequentam as mesmas escolas, o mesmo clube, os cursos de especialização, nos quais convivem durante anos. Talvez se encontre nas Forças Armadas um dos elos mais fortes entre o indivíduo e a instituição a que pertence, fruto de uma vivência profissional única, marcada por dedicação plena ao que o militar considera uma missão - que, pelo visto, é entendida pela população civil como satisfatoriamente cumprida. É o que sugerem dados de pesquisa realizada no ano passado por professores da Escola de Direito de São Paulo, da FGV. As Forças Armadas - nas quais também se incluem a Aeronáutica e a Marinha foram consideradas a instituição brasileira mais confiável, superando a Igreja Católica, o Ministério Público, o Judiciário, o Legislativo e a imprensa. O Exército de Arthur, Luiz Américo e Matheus é uma força a serviço de um país diferente daquele em que se formaram cadetes de algumas décadas atrás. Como oficiais, em futuro próximo, já sairão da Aman conscientes de que atuarão sob os mandamentos de uma política nacional de defesa e segurança de abrangência aumentada, que situa as Forças Armadas numa complexa escala de pressupostos e responsabilidades de alcance nacional e internacional. Cadete Luiz Coutinho, no alojamento da Academia das Agulhas Negras: habituado aos rigores da vida militar desde o curso na Escola Preparatória, em Campinas No texto do projeto de decreto legislativo recentemente aprovado no Senado e agora em tramitação na Câmara dos Deputados, que define aquela política, observa-se que, "neste século, poderão ser intensificadas disputas por áreas marítimas, pelo domínio aeroespacial e por fontes de água doce, de alimentos e de energia, cada vez mais escassas. Tais questões poderão levar a ingerências em assuntos internos ou a disputas por espaços não sujeitos à soberania dos Estados, configurando quadros de conflito". E adiante: "O aprofundamento da interdependência dificulta a precisa delimitação dos ambientes externos e interno. Com a ocupação dos últimos espaços terrestres, as fronteiras continuarão a ser motivo de litígios internacionais". Dentro delas, no caso do Brasil, está a Amazônia, "com seu grande Continua Continuação potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, [que] é foco da atenção internacional". E há as fronteiras marítimas, delimitadoras da soberania nacional sobre reservas de petróleo, potencial pesqueiro, mineral e outros recursos naturais. Arthur sabe do que se trata. Prestes a terminar o curso na Aman, ele traça novamente planos para seu futuro: quer trabalhar nas operações de selva na Amazônia. "É nossa relíquia", diz. Na síntese simples de sua visão de Brasil e das questões internacionais, Arthur compartilha preocupações de que também falou o ministro da Defesa, Celso Amorim, referindo-se à lei 12.598, que define políticas para expansão da indústria nacional de defesa, ainda pendente de regulamentação: "O Brasil, sendo pacífico, pode ter a ilusão de que a guerra nunca vai existir. E como essa ameaça não se concretiza, a defesa parece secundária, mas é fundamental estarmos preparados. Somos a sexta economia do mundo, com grandes reservas em biodiversidade e no Pré-sal", afirmou o ministro, sobre o reequipamento das Forças Armadas, em recente reunião com industriais. O raciocínio se repete no texto introdutório da política nacional de defesa: "A persistência de ameaças à paz mundial requer a atualização permanente e o aparelhamento das nossas Forças Armadas, com ênfase no apoio à ciência e tecnologia para o desenvolvimento da indústria nacional de defesa. Visa-se, com isso, à redução da dependência tecnológica e à superação das restrições unilaterais de acesso a tecnologias sensíveis". 07/06/13 Hoje, o Brasil está entre os 15 países que mais gastam em defesa, segundo estatísticas do Stockholm International Peace Research Institute. É líder nas Américas (à parte os Estados Unidos, com US$ 682,5 bilhões), com US$ 33,1 bilhões em 2011 (última informação disponível, em dólares correntes), seguido da Colômbia (US$ 12,1 bilhões), Chile (5,5 bilhões), Argentina (US$ 4,3 bilhões) e Venezuela (US$ 4,0 bilhões). O argumento, contemplado por alguns especialistas da área, é que, se o Brasil almeja ser uma potência mundial, precisa estruturar e capacitar melhor suas Forças Armadas. "Se o Brasil quer ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, não se pode dar ao luxo de não ter uma boa defesa", diz Alexandre Fuccille, professor do Departamento de Relações Internacionais da Unesp e pesquisador do Grupo de Estudos e Defesa Internacional (Gedes). A presença do Exército brasileiro no exterior tem crescido nos últimos anos. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da missão da ONU no Haiti (Minustah), que teve início em 2004, acaba de ser convidado pela organização a assumir o comando de 24 mil capacetes azuis na missão de paz na República Democrática do Congo (Minusco). O Brasil é líder em gastos com defesa nas Américas, com US$ 33,1 bilhões, superado apenas pelos Estados, com US$ 682,5 bilhões "É uma missão extremamente complexa, em um país muito grande e com mais de 70 milhões de habitantes, rico em recursos naturais e uma história marcada pela violência. O contexto é bem diferente do Haiti", disse Santos Cruz ao receber o convite da ONU. De fato, o Congo, que esteve em guerra com Ruanda, país vizinho, exigirá muito mais das tropas que lá estejam para tentar impor uma estratégia de paz em meio a grupos guerrilheiros. O general Júlio César de Arruda, comandante da Aman, concorda que o Exército realmente passa por transformações, acompanhando o contexto geopolítico em que o Brasil se inscreve, e que suas escolas precisam estar preparadas para essas mudanças, que se dão em rápida progressão. "Temos que dar ferramentas para que, em operações de guerra ou não-guerra, os jovens saibam decidir em um ambiente complexo, com muita tecnologia", diz. Entre as matérias obrigatórias incluídas este ano na escola do oficialato estão cibernética e inteligência. Mas a maior transformação no Exército ainda está por vir: a entrada de mulheres na carreira militar. A lei 12.705, sancionada no ano passado pela presidente Dilma Rousseff, determina o prazo de cinco anos para que as Forças Armadas se preparem para admitir o ingresso de mulheres nos cursos de formação de oficiais e sargentos de carreira bélica do Exército mediante concurso público. Segundo o general Arruda, a Aman começa a se estruturar para receber as primeiras jovens em seus cursos e que poderão, portanto, Continua Continuação Almeida Backes, de 30 anos, originária de uma família de classe média da cidade de Uruguaiana (RS), está certa de que "a mulher pode trazer grandes benefícios ao Exército". Um novo programa do governo federal, Ciência sem Fronteiras, que promove o intercâmbio com alunos e pesquisadores em universidades de alto nível fora do Brasil, destinará 28 vagas aos estudantes do Instituto Militar de Engenharia (IME), uma das mais respeitadas e concorridas escolas militares. O IME forma oficiais do quadro de engenheiros militares da ativa e da reserva. São quatro vagas para passar seis meses em West Point - a escola de armas mais antiga dos Estados Unidos -, quatro vagas para a tradicional École Polytechnique, em Paris, e outras 20 em diversas universidades. A carioca Thássia Lopes, de 23 anos, filha de civis, cursa eletrônica no IME. Afirma estar satisfeita com o fato de o Exército bancar seus estudos. São cinco anos para se formar engenheira; depois, ela ainda pretende fazer mestrado. "Tenho todo o suporte para fazer meu aperfeiçoamento." A colega Nathalin Micheli Meliande, de 24 anos, carioca e filha de civis, é uma das estudantes do IME que deseja fazer pós-graduação fora do Brasil. Ao se formar, pretende ingressar em um dos grandes projetos de engenharia militar a cargo do Exército, como a construção do aeroporto de Natal (RN), a transposição do Rio São Francisco, a recuperação da 07/06/13 infraestrutura do Porto de São Francisco do Sul (SC). Também pensa em participar dos serviços de renovação da infraestrutura do Haiti. Assim como ocorre em outros setores de atividade no país, o Exército sentiu a necessidade de haver mais militares capacitados para lidar com novas demandas de eficiência. "Não temos como contratar CEOs de outras empresas. Então, precisamos capacitar a nós mesmos, e já vimos fazendo isso há bom tempo", diz o general-debrigada Walter Nilton Pina Stoffel, comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), no Rio. A Eceme oferece vários cursos de pós-graduação, como política, altos estudos militares e estratégia e alta administração. Neste ano, frequentam a Eceme 138 oficiais combatentes, 10 intendentes e 10 médicos. Segundo o general Stoffel, a cada ano cresce o número de interessados. "Há oito anos, eram 600 candidatos para 110 vagas. Hoje são 990", diz. Por causa da mobilidade constante dos militares, o primeiro ano de pós-graduação é feito por ensino a distância e o segundo é presencial. O aluno terá alojamento exclusivo para ele, sem membros da família. O tenente-coronel Humberto Castro Neves, de 44 anos, casado, pai de duas filhas, deixou a família em Brasília para cursar administração pública na Eceme. "Pretendo assessorar grandes comandos e ser promovido a coronel em 2015", diz. O destino provável de Castro Neves na volta ao Distrito Federal deve ser o gabinete do Estado-Maior, órgão de direção geral do Exército. Castro Neves chegará ao posto de coronel "full", que, na linguagem militar, significa alcançar todos os requisitos de ascensão ao generalato. Considerando-se o reajuste de 9,2% concedido em março, o soldo de um general passou a ser de R$ 9.093,00, sem incluir os adicionais, como aquele por tempo de serviço. Em alguns casos, somando-se as gratificações, chega-se a cerca de R$ 18 mil. Outros dois aumentos de 9,2% nos soldos estão previstos para acontecer em março de 2014 e março de 2015 para todos os 646 mil integrantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), como anunciou o Ministério da Defesa. Segundo lista divulgada pela Controladoria-Geral da União (CGU) no Portal Transparência do governo federal, a maior remuneração nas Forças Armadas brasileiras é do tenente-brigadeiro do ar Francisco Joseli Parente Camelo, que estaria em R$ 26.132,55, um pouco abaixo do maior salário de um funcionário público, que é de R$ 26.723,13. Não agrada a oficiais que se façam comparações de sua remuneração com a de executivos de alto padrão. O responsável pelas finanças de uma empresa, por exemplo, pode ganhar, no Brasil, até US$ 26 mil mensais, de acordo com pesquisa da empresa global de recrutamento Michael Page. "Não faz sentido essa comparação, porque são universos Continuação alcançar o posto de general. Essa adaptação não é apenas um projeto de modificação nas instalações, mas a compreensão de que a mulher deverá ser tratada de igual para igual nas distintas áreas do Exército. Atualmente, a mulher pode ingressar voluntariamente no Exército como militar de carreira ou temporário. Ocupam cargos nos quartéis-generais, organizações militares de saúde, estabelecimentos de ensino e órgãos de assessoria do Exército. Há aquelas que já alcançaram o posto de major. A maioria são sargentos, tenentes e capitães. Para a professora de ciência política da Unesp Suzeley Kalil Mathias, pesquisadora de temas relacionados a mulheres em carreira militar, é muito importante e simbólica a presença feminina na mais respeitada academia militar brasileira. Suzeley diz que o machismo ainda impede a presença delas nas tropas, mas acredita que a tecnologia vai ajudar a derrubar "o mito do soldado Rambo". "Agulhas Negras é simbólico, por ser o último reduto a ser alcançado. Essa visão de que o Exército não pode ter mulheres está superada." No Exército, as escolas são divididas por níveis superior e médio, seja para seguir carreira ou para ser um militar temporário (um ano, com possibilidade de renovação). Além da Aman, as escolas formadoras de militares são a Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), a Escola de Saúde do Exército (EsSex), a Escola de Sargentos das Armas (EsSA), a 07/06/13 Escola de Sargentos de Logística (EsSLog), o Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEX) e o IME (Instituto Militar de Engenharia). Nessas instituições, existem especializações definidas pelas "armas", "serviços" ou "quadros". As armas são divididas em armas-base (cavalaria, infantaria) e armas de apoio ao combate (artilharia, engenharia, comunicações, material bélico e intendência - a logística de suprimento de material). Ao término do segundo ano na Aman, de acordo com uma classificação por meritocracia, o cadete escolhe uma dessas armas. Ao se formar, sai com a graduação de aspirante a oficial. Depois, segue para um quartel, onde permanece por seis meses, até ser promovido a segundo tenente. O tenente é aquele que comanda pequenas frações e se torna o principal auxiliar de um comandante. Daí para a frente, seja por tempo de serviço, seja por merecimento, o oficial subirá ao posto de primeiro tenente, capitão, major, tenentecoronel, coronel e general. Nas escolas de "praças", vai-se de soldado a cabo, sargento (terceiro, segundo e primeiro) e subtenente. Em todas as escolas militares, o ingresso é por concurso público e o número de vagas é sempre estabelecido pelo Exército de acordo com suas necessidades. Na carreira, cada promoção costuma levar entre seis e sete anos. Ocorre em turmas, não individualmente. Os sargentos de carreira, não importa qual arma escolham, vêm da Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações (MG). Os graduados da área de apoio (sargentos e subtenentes) são formados em escolas como a Escola de Sargentos de Logística (EsSLog), fundada há três anos e localizada no bairro de Deodoro, no Rio. Ali, no mesmo sistema de internato da Aman, estão 521 alunos, entre 20 e 25 anos. A maioria é de católicos, com uma proporção próxima de 50%. Os evangélicos são 39%. Apesar de não haver estatísticas, o comandante da EsSLog, coronel Abilio Sizino de Lima Filho, afirma que a maior parte dos alunos hoje é formada por filhos de civis. Os cursos ministrados na EsSLog (intendência, enfermagem, topografia, manutenção de comunicações, material bélico e música) correspondem ao nível técnico. Os alunos devem ter concluído o ensino médio. Dos 106 concursados em enfermagem em 2012, 86% eram mulheres. Entre elas estava Kamilla Eberle, de 26 anos, de Juiz de Fora (MG). Kamilla faz parte da terceira turma feminina que vai se formar na EsSLog. Diz que não sente preconceito nos homens e considera a convivência com pessoas de várias origens e crenças "um aprendizado constante". O pai de Kamilla é metalúrgico e a mãe, dona de casa. Ela quer se casar e ter filhos. Um dos fatores que a fizeram optar por essa carreira está em que "o Exército proporciona muita estrutura, com colégio para as crianças e moradia para a família". A estabilidade também influiu. "É melhor ter isso do que não ter nada na vida", diz. Sua colega Adriana Continua Continuação 07/06/13 totalmente diferentes. Teríamos que comparar com o serviço público. Um professor titular da USP ganha R$ 22 mil", diz um dos maiores especialistas em assuntos militares no país, o sociólogo e professor titular da Unicamp Eliézer Rizzo de Oliveira. Segundo ele, a "lógica" da carreira militar é completamente diferente. "Se o cara sai da Aman com 22 anos e faz tudo direitinho, com 50 anos ele se torna general. É uma carreira bastante previsível." Ser militar também tem seus ônus, como se vê na própria página do Exército na internet. Citam-se a rigidez da disciplina, a dedicação exclusiva e o constante deslocamento, que dificulta o esforço do cônjuge para conseguir um emprego fixo e ainda impede o estreitamento de laços entre familiares e amigos, uma vez que a média é de três anos em cada lugar. Segundo o professor Antônio Ramalho, doutor em sociologia e cedido ao Ministério da Defesa para a assessoria do ministro Celso Amorim, "o que houve nas últimas décadas foi um achatamento salarial de todo o funcionalismo público, inclusive no soldo dos militares". Para ele, isso explica a razão de filhos de militares estarem se desinteressando pela carreira. "Eles observam a condição econômica de seus pais. Em cidades caras como o Rio de Janeiro e Brasília, não dá para pagar aluguel com o que recebem", diz o professor. Valor Econômico 07/06/13 765 BRASIL Ensino e pesquisa no mesmo lugar Por Ana Luiza Mahlmeister | Para o Valor, de São Paulo O Icesp - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octávio Frias de Oliveira já nasceu como hospital de referência do SUS no segmento de alta complexidade. Inaugurado em maio de 2008, é um dos maiores hospitais especializados em tratamento de câncer da América Latina, fruto do investimento de R$ 270 milhões em obras e equipamentos. O instituto faz mais de 40 mil atendimentos por mês em 34 especialidades. "Trabalhamos com três pilares: alto nível técnico do corpo clínico a partir de programas de treinamento, o atendimento humanizado e a presença da pesquisa em todos os níveis", afirma Paulo Hoff, professor de oncologia da Universidade de São Paulo e diretor geral do Icesp. O instituto é uma Organização Social de Saúde criada pelo Governo do Estado em parceria com a Fundação Faculdade de Medicina da USP. A estrutura física, nível de atendimento e qualidade da gestão tornaram o Icesp referência em sua área. "Nos beneficiamos da integração com o Hospital das Clínicas e a USP que está entre as 50 melhores universidades de ensino médico do mundo", destaca. O orçamento do hospital gira em torno de R$ 400 milhões anuais divididos entre a Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo e Ministério da Saúde. Nos últimos cinco anos, foram realizadas mais de 24 mil cirurgias, 595 mil consultas médicas, 140 mil sessões de radioterapia e 189 mil sessões de quimioterapia. No total, foram cerca de 1,8 milhão de procedimentos médicos. "Além dos 40 mil pacientes em atendimento ou acompanhamento, recebemos em torno de 900 novos casos por mês", diz Hoff. Para dar conta dessa demanda o instituto conta com o maior parque radioterápico do país para avaliação e tratamento do câncer com 7 tomógrafos, 4 equipamentos de ressonância nuclear, 6 aparelhos de radioterapia, sendo um com capacidade de radiocirurgia extracranial, disponível em poucos hospitais de mundo, e o PET/CT que une recursos de diagnóstico de medicina nuclear e radiologia. "São 28 andares com os mais variados recursos e 400 médicos", aponta Hoff. Segundo o diretor geral, ser parte da USP é fundamental para manter esse nível de excelência. "Temos mais de 200 protocolos de pesquisa em andamento, entre elas 130 originárias do instituto", destaca Hoff. O Centro de Investigação Translacional, uma espécie de superlaboratório, funciona com vinte grupos atuantes em pesquisa básica e aplicada em oncologia, onde são investigados novos medicamentos e tratamento. O Icesp também inovou ao associarse ao Incor para formar um grupo especializado em cardio-oncologia. Pela primeira vez a abordagem do paciente de câncer se ocupou também com a prevenção, diagnóstico e tratamento de complicações cardiovasculares. 07/06/13 766 STF decide manter crime impune O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter arquivada a ação penal por homicídio contra quatro ex-estudantes de Medicina hoje, médicos - acusados de matar um calouro por afogamento durante um trote na Universidade de São Paulo (USP), em fevereiro de 1999. Em 2006, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) trancou o processo, por ver falha na denúncia do Ministério Público. A acusação não teria relatado as condutas detalhadas de cada um dos suspeitos. Ontem, no julgamento de recurso do Ministério Público, o STF concordou com a tese e recusou o pedido de reabrir o caso. A decisão foi tomada por cinco votos a três. O presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, ficou entre os vencidos. Para ele , STJ e STF colaboraram com a impunidade de um crime grave. O PAÍS 07/06/13 RIO 767 Universitários sem teto Obra em alojamento da UFRJ deixa estudantes com dificuldades para encontrar moradia Juliana Dal Piva A sonhada reforma na Residência Estudantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, tornou-se um pesadelo para os estudantes que dependem dos alojamentos. Devido ao início das obras, a instituição ofereceu uma bolsa emergencial, no valor de R$ 650 mensais, para que os alunos aluguem uma moradia provisória enquanto os quartos são reformados. Dos 363 moradores, 209 aceitaram a proposta. Os estudantes, no entanto, dizem que há dificuldades para alugar um quarto com o valor oferecido, não só devido ao aquecimento do mercado imobiliário do Rio como também por exigências como fiador, seguro-fiança ou depósito. Além disso, alunos que não conseguiram vaga nos alojamentos dormem no chão dos quartos com colegas que os abrigam. Esses agregados terão que deixar os quartos sem qualquer ajuda da UFRJ. Sentada sobre a cama de madeira quebrada, a estudante Raine Machado, de 21 anos, observa o varal de roupas improvisado que cruza seu quarto, enquanto tenta se acalmar. Pouco antes, ela descobriu que a administração arrancou a porta do quarto vizinho que estava vazio. De acordo com os estudantes, os responsáveis pela Residência Estudantil tomaram a decisão para que ninguém ocupe os alojamentos, mas sequer comunicaram o fato aos alunos. Em fevereiro, ela foi abrigada por uma amiga que estava se formando. Depois que a amiga conclui o curso, ela permaneceu no quarto, porque não tinha para onde ir. Filha única, Raine conta que sua mãe mora na zona rural de Nova Iguaçu e não tem condições de ajudá-la. Ela explica ainda que não pode voltar para casa todas as noites devido aos horários dos ônibus. O problema da aluna de Educação Física começou em fevereiro, quando ela teve que deixar o trabalho de atendente de telemarketing porque a empresa se recusou a flexibilizar os horários para que pudesse estudar. Ela então se demitiu. Para custear suas despesas, Raine conseguiu um estágio no valor de R$ 400. A quantia a obriga a escolher entre a passagem até o trabalho no Centro e o almoço ou o jantar. - De ontem para hoje, não almocei nem jantei. Eu ainda não recebi, e o dinheiro que tenho é da passagem para o estágio, porque se gastar não vou ao trabalho - revela. Ela se inscreveu no processo de seleção para a moradia no início de maio. Esta semana, recebeu a notícia de que não foi selecionada. - Como vou estudar para as minhas provas se não consigo me alimentar direito? Eu já não choro mais. Quando vi que meu nome não estava na lista, me desesperei. Eu vou estudar, é a minha única saída. Essa é a semana de prova e eu quase não tenho tempo para estudar. Na mesma situação limite vivem a paulista Muana de Andrade, de 21 anos, e a gaúcha Manoella Flores, de 20. As duas vivem como "agregadas" de amigos que moram no alojamento há quase um ano. Dormem num colchão, ao lado da cama dos estudantes. Elas também pediram uma vaga na moradia, mas igualmente tiveram o benefício negado. Manoella, inclusive, cogita trancar o curso, já que não consegue viver fora dali só com os R$ 50 que o avô envia do Sul toda semana. - Acho que eu vou ter que trancar o curso, trabalhar um tempo e juntar algum dinheiro. Não sei o que fazer - desabafa. O estudante de Relações Internacionais Alabê Nunjara, de 27 anos, aceitou a bolsa emergencial para sair do alojamento durante a reforma. Na moradia desde 2009, decidiu sair porque vai se formar. Por isso, resolveu aproveitar a situação e procurar um lugar definitivo para morar. Mesmo consciente de sua decisão, ele Continua Continuação 07/06/13 esbarra nos altos preços cobrados no Rio e nas exigências formais de garantias financeiras pedidas tanto por imobiliárias como por proprietários. - É complicado, porque os lugares querem depósito de três meses de aluguel, fiador ou seguro fiança. Mesmo na Tijuca, na Abolição, em Pilares, um apartamento de um quarto está em torno de R$ 900 ou R$ 1.300 reais. Fora transporte, condomínio, luz, água e internet, que aqui no alojamento a gente não paga - aponta Nunjara. O estudante lembra ainda que as bolsas que a universidade paga atualmente no valor de R$ 550, para custear alimentação, livros e outras despesas, geralmente atrasam alguns dias. - Eles garantem que não vão atrasar mais. Mas, e se atrasar, quem vai pagar os juros?- questiona. Nunjara abriga em seu quarto outros três amigos que não receberam o benefício. Ele dorme numa rede, enquanto os outros estudantes dividem o restante do espaço do quarto. Leonardo Amaral, de 26 anos , estuda Ciências Sociais. Ele já acabou o bacharelado, mas ainda cursa a licenciatura até o fim do ano. Segundo Amaral, sua vaga está ameaçada por uma questão burocrática da universidade. Ele entrará com um recurso, mas tem pouca esperança de conseguir reverter a situação. Com os R$ 550 da bolsa que ainda recebe, está procurando um novo lugar para morar. - Não vou ter moradia e terei de começar a trabalhar. Lá no Parque União (no Complexo da Maré), uma quitinete está na faixa de uns R$ 400. A reforma custará cerca de R$ 11 milhões e deve durar 20 meses. Os alunos que aderiram à bolsa emergencial precisam deixar os quartos em três semanas devido ao início das obras. A UFRJ informou em seu site que o valor foi fixado após uma pesquisa do custo médio de vagas para moradia. Já os que ficarem serão divididos de maneira mista num dos alojamentos enquanto o outro é reformado. Procurada para comentar a situação, a UFRJ não respondeu aos questionamentos da reportagem. 07/06/13 768 ANCELMO GOIS 07/06/13 769 ESPAÇO ABERTO A bolsa ou a vida FERNANDO GABEIRA * O boato sobre o fim do Bolsa Família agitou a vida política do Brasil. Fomos obrigados a contemplar a importância dos boatos na política e alguns cronistas chegaram a sugerir livros sobre o tema. Eu mesmo fui remetido às leituras do meio da década dos anos 70: Política e Crime, de Hans Magnus Enzensberger. Ele destaca o boato num dos ensaios: Wilma Montesi, a vida depois da morte. No caso, o cenário era a Itália e os rumores após a morte de uma mulher quase levaram o país a uma guerra civil. O boato no Brasil foi apenas um susto de fim de semana. Mas o psicodrama que desencadeou mostrou um governo tenso e desorientado. Forçado por uma trapalhada oficial, teve de confrontar uma hipótese impensável: o fim do Bolsa Família. A reação da ministra Maria do Rosário foi a mais tradicional, sobretudo entre governos autoritários: apontar os culpados de sempre, a oposição. No passado era pior. Os governos apontavam os culpados de sempre, mas prendiam também os suspeitos de sempre. Alguns líderes de esquerda, na guerra fria, eram retirados de circulação nas vésperas de grandes datas. Alguns já esperavam, resignadamente, a polícia com a muda de roupa, escova de dente e o maço de cigarros. A reação de Maria do Rosário foi mais linear. A de Dilma Rousseff é mais complexa. Ela considerou o boato um crime monstruoso. E não há dúvida de que poderia levar dor, tristeza e até matar gente do coração. Felizmente, isso não aconteceu. Brecht dizia: pobre do povo que precisa de heróis. Não se interessou pelo destino dos heróis que precisam de um povo para salvar. Lembro-me do exílio, de algumas senhoras da Anistia Internacional que lutavam para liberar presos em outros países e se correspondiam com eles. Uma delas, quando seu preso foi solto, caiu em depressão. Afinal, era o seu preso, tantos anos dedicados a ele e, agora, a benfeitora teria o vazio diante de si. A revelação mais importante do episódio foram as filas dos que recebem Bolsa Família. Nunca os tínhamos visto em grande número. Nem o PT, talvez. Cada um tirou suas conclusões do que viu. Muita gente parecia na fronteira, o que, no caso do Bolsa Família, significa porta de saída. Uma das entrevistadas disse que tinha ido retirar o seu benefício e depositar um dinheiro na poupança do marido. É mais fácil combater a tese pura e simplesmente contrária ao Bolsa Família. Mas como responder ao argumento de que é preciso investir mais na porta de saída? Instrumentos existem. Há uma Secretaria de Economia Solidária, liderada por Paul Singer, mais competente que a maioria esmagadora dos ministros da coalizão. Faltam cooperativas, negócios sociais, enfim, um empurrão mais seguro para que as pessoas encontrem sua própria sobrevivência. Investir decisivamente nesse rumo significa aproximar-se da vertigem que o próprio boato suscitou: a da perda de importância da ajuda financeira mensal. Uma vertigem imaginar um eleitorado completamente livre, que produz sua própria sobrevivência, não vota por gratidão, mas por esperança num futuro melhor. O simples fato de usarmos tanto talento represado pela dependência à bolsa já seria um dínamo econômico. Como grande parte dos provedores, o PT, um provedor que usa dinheiro público, sempre se faz a pergunta crucial: ela gosta de mim ou do meu dinheiro? O que o leva a outra questão: a coalizão é mantida com grande estímulo de cargos e verbas; o eleitorado, com os laços criados pelo Bolsa Família. E tome propaganda para nos tranquilizar sobre um futuro incerto até para eles. A última campanha nos conclama a torcer pelo futebol brasileiro. O governo nos chama neste período de a Pátria de chuteiras, usando a frase de Nelson Rodrigues. Em 1970, criticávamos os generais por usarem o futebol, uma arte popular, a favor do governo. Continua Continuação Escrevíamos panfletos lembrando que a ditadura nada tinha que ver com o talento dos jogadores. No final da Copa, no jogo contra a Itália, houve até quem tentasse - sem êxito, pois a emoção foi mais forte - torcer contra o Brasil. Algumas décadas depois, quem está usando o futebol a seu favor, associando-o à imagem do governo, explorando um talento que é uma dádiva nacional? Não estou pedindo a ninguém que coloque a mão na consciência e desfeche um processo acelerado de inclusão no mercado. A vertigem ainda é muito forte. O presidente do PT disse que o boato era um terrorismo eleitoral. Talvez o partido dominante tivesse se aterrorizado. A simples hipótese de perder aquela massa que recebe Bolsa Família é uma pequena antevisão do vazio que envolveu a mulher da Anistia Internacional quando seu preso foi solto. Curioso ver como os novos governantes cada vez mais se parecem com os antigos. Na escolha dos culpados de sempre, no sequestro do futebol e também na incômoda posição de quem se coloca como o indutor do progresso. Sua sobrevivência política depende mais do fechamento que da abertura da porta de saída, com o potencial de lançar milhares de novos atores do 07/06/13 mundo do trabalho. Se fossem só um grupo de adolescentes, diria que estavam repetindo o que criticavam nos pais. Só quem vive assustado nos conclama a ser a Pátria de chuteiras. Nelson Rodrigues, creio, jamais formularia essa frase pensando num slogan oficial. Certamente, para ele, a Pátria de chuteiras, de tênis ou sandálias é fruto da espontaneidade popular. Como palavra de ordem oficial, só é possível uma Pátria de ferraduras. Tentaram nos fazer tocar caxirolas. Não deu certo, o próprio ministro da Justiça condenou o artefato. A presidente Dilma até que tocou caxirola para a plateia no Planalto. Não sabia do perigo. Após queimar as mãos com um pequeno instrumento musical, saiu inaugurando estádios, dando pontapés iniciais. Com todo respeito à segunda mulher mais poderosa do mundo, se todo mundo chutar como ela, a Pátria de chuteiras vai para o buraco, assim como iria se todos fizessem embaixadas como o general Médici em 1970. De lá para cá, o marketing dominou a política, melhorou os penteados, mas continua o mesmo: escondendo o verdadeiro jogo. * FERNANDO GABEIRA É JORNALISTA. CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 770 POLÍTICA NAS ENTRELINHAS Dilma arma o jogo O governo mapeia os ministros candidatos em 2014 e usará essa reforma no ano que vem para amarrar as alianças eleitorais de Dilma Rousseff por Denise Rothenburg [email protected] Com o processo eleitoral antecipado, a presidente Dilma Rousseff leva o governo de olho em mais quatro anos e vai, aos poucos, montando seu baralho para o ano que vem. Embora os ministros estejam proibidos de falar de eleição com tanta antecedência, ela já dá os primeiros passos para preparar a futura troca no primeiro escalão, a fim de ter claro os lugares a preencher daqui a nove meses, quando os candidatos devem sair para cuidar das próprias campanhas. Até o momento, são, pelo menos, 14 ministérios passíveis de reforma. Entre aqueles da cota pessoal de Dilma, há três na lista, inclusive o ministro de Desenvolvimento, Industria e Comércio, Fernando Pimentel, pré-candidato ao governo de Minas Gerais. Na “cozinha” do governo, o Palácio do Planalto, Dilma substituirá duas de suas principais ministras. Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, é o nome do partido para combater o governador do Paraná, Beto Richa, do PSDB, candidato à reeleição. Quanto à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, não foram poucas as oportunidades em que a presidente deu a entender que gostaria de tê-la no Senado. E já tem até posto para o futuro de Ideli, caso tudo ocorra de acordo com os planos dos petistas: líder do governo, uma vez que o senador Eduardo Braga é o nome do PMDB para concorrer ao governo do Amazonas. Ideli tem no seu jeitão de conduzir a articulação política, algo que a presidente considera uma joia rara: lealdade e a capacidade de fazer exatamente o que ela (Dilma) considera o melhor para o governo. E, por mais que alguns digam que a relação com Ideli está ruim, a presidente sabe que a ministra faz o que foi combinado no Planalto. Ou seja, não adianta querer intrigá-las. Os demais ministérios sujeitos a mudanças são aqueles a cargo dos partidos e, obviamente, conforme avaliação de um político próximo ao Planalto, serão utilizados para amarrar a aliança eleitoral da presidente. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, candidato ao governo ou a mais um mandato de senador pelo PMDB do Maranhão, abrirá o lugar para Márcio Zimmermann, o atual secretário executivo, em quem Dilma confia e que já ocupou o cargo no passado. No Turismo, Gastão Vieira, também do PMDB maranhense, deve concorrer a mais um mandato de deputado federal. Na Agricultura, entretanto, o PMDB mineiro, patrono do ministro Antônio Andrade, deve ter a prerrogativa de indicar o substituto. O outro nome do partido que deixará o cargo para cuidar da eleição é o da Previdência, Garibaldi Alves Filho, candidato a governador no Rio Grande do Norte. Em outros partidos, a situação não é diferente. O ministro dos Transportes, César Borges, recémchegado ao governo, é um dos nomes que o PR gostaria de ver como pré-candidato ao Senado, mas desde que o partido possa ter a prerrogativa de indicar o sucessor dele, senão, Borges fica onde está. No Esporte, onde reina o PCdoB com o ministro Aldo Rebelo, tudo indica que, no período eleitoral, a Continua Continuação pasta deve ficar a cargo do secretário executivo, Luís Fernandes. Ali não deve haver problema, porque o PCdoB já faz circular que estará com Dilma em 2014. Falta ainda fechar a equação no Ministério das Cidades, no qual Aguinaldo Ribeiro é considerado nome certo para se candidatar a mais um mandato de deputado federal pelo Rio Grande do Norte. Também está nessa pré-lista o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, do PSB, outra incógnita da presidente. Fernando Bezerra certamente será candidato, só não se sabe a quê ou por qual partido, uma vez que ainda não bateu o martelo sobre seu futuro político. A situação de Bezerra é a mais ingrata dentre todos os ministros políticos. Ele quer ser candidato a governador de Pernambuco, mas não terá essa garantia ao lado do governador Eduardo Campos. A promessa de candidatura por parte do PT é vista com desconfiança e também não dá garantias de crescimento para o ministro. E, para 07/06/13 completar, entre os petistas, seria visto sempre como um “forasteiro”. Quanto a Alexandre Padilha, o plano A é o governo de São Paulo, mas nada está assegurado porque os petistas adiam ao máximo essa escolha para não afugentar aliados tais como Paulo Skaf, do PMDB, e Gilberto Kassab, do PSD, ambos pré-candidatos a governador. Outra incógnita nesse jogo é o Ministério da Educação. Embora Aloízio Mercadante já tenha dito que irá permanecer no governo federal e não concorrerá novamente a um mandato de governador em São Paulo, há quem torça para que ele seja transferido para a Casa Civil. Dilma, entretanto, ainda não definiu. Ela preferia ter ali um perfil mais técnico e menos político. Mercadante é visto hoje como um curinga da presidente. No PT, há inclusive quem esteja desconfiado que ele estaria sendo preparado para concorrer à Presidência da República daqui a cinco anos. Daí a permanência no governo agora. Por enquanto, Dilma e Lula desenham apenas 2014, 2018 é outra história. CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 771 Paternidade » Entre os 100 atletas mais bem pagos do mundo, o mais jovem é Neymar. Por trás desse equilíbrio diante da fama está o suporte do pai, que, centrado, mantém os negócios do filho. Esse é o tipo de educação que as escolas públicas precisam incentivar. Mais envolvimento da família na vida dos estudantes. Participa » Por falar em educação, não existem mais as normalistas e os cursos de pedagogia estão se esfarelando. Bom seria incluir na grade curricular de todos os cursos superiores a disciplina didática. É importante que os profissionais tenham noção de estratégias de ensino, se um dia quiserem enfrentar uma sala de aula. ARI CUNHA CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 772 CIDADES Cotistas da UnB provam mérito Seminário discute os resultados da política que reserva vagas para negros na Universidade de Brasília. Pesquisa mostra que o desempenho desses alunos é similar, e, em alguns casos, superior ao dos demais estudantes » ANA POMPEU A função das cotas raciais é deixar de existir assim que a discriminação reduzir ou acabar. O papel da sociedade é trabalhar para que isso aconteça o mais rápido possível" Natália Machado, antropóloga, aluna cotista » ANA POMPEU Não fossem as cotas raciais, a Universidade de Brasília (UnB) teria 71,5% menos negros no quadro de estudantes na última década. Quem esteve no seminário “10 Anos de Cotas na UnB: memória e reflexão” considera o número representativo. Para eles, é a prova de que a política afirmativa da instituição deu certo e vem incluindo uma parcela discriminada e excluída do ensino superior. Além disso, os bons resultados apresentados pelos cotistas põem abaixo alguns mitos levantados pelos críticos da ação. Entre eles, havia questionamentos sobre a queda do nível da universidade com o ingresso de estudantes por meio de cotas. O tempo provou, no entanto, que o desempenho deles, comparado ao do sistema universal, não teve diferença significativa. Em 2009, chegou a ser superior. A média do índice de rendimento acadêmico (IRA) ficou em 3,1 para os cotistas, enquanto os demais estudantes alcançaram 2,9. A partir deste mês, a instituição aprofunda o trabalho de avaliação dos resultados para decidir sobre a continuidade do sistema. Em 6 de junho de 2003, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) aprovou a reserva de vagas na UnB. O plano estipulou 10 anos para a duração da política. Como a primeira turma com alunos cotistas ingressou no segundo semestre de 2004, o prazo vence no fim do primeiro semestre do próximo ano. Portanto, chegou a hora de a universidade pensar sobre a manutenção da reserva de vagas. Uma comissão nomeada pelo reitor deve começar a se reunir para estudar propostas sobre o tema. Possíveis mudanças vão vigorar a partir do segundo processo seletivo de 2014. Por enquanto, a unanimidade é o avanço provocado pela experiência. “No interior da UnB, a mudança do perfil dos estudantes é notável, e a segregação racial, que sempre foi a marca das universidades brasileiras, diminuiu sensivelmente com o crescimento do número de estudantes negros e indígenas”, avaliou o professor José Jorge de Carvalho, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI). Ele propôs o primeiro plano de cotas adotado pela UnB e organizou o evento realizado ontem. A antropóloga Natália Machado, 26 anos, fez parte da primeira turma de alunos cotistas da universidade. Aluna de escola pública em Taguatinga, ela não imaginava se tornar referência sobre o assunto. “No ensino médio, não tinha perspectiva do que podia esperar de uma ação como essa”, diz. “A função das cotas raciais é deixar de existir assim que a discriminação reduzir ou acabar. O papel da sociedade é trabalhar para que isso aconteça o mais rápido possível”, reflete. Para ela, as pessoas ainda têm pouca noção do significado da política afirmativa. Continua Continuação Para combater mitos e visões distorcidos sobre o processo, o reitor da UnB, Ivan Camargo, defende avaliação detalhada e ampla dos 10 anos de política. “Precisamos nos embasar em dados, continuar discutindo para levar o assunto ao Cepe”, afirmou. Na opinião dele, a universidade precisa aproveitar a diversidade e formar lideranças para mudar as desigualdades do país. O reitor comemorou a trajetória percorrida pela UnB e a influência sobre outras instituições, por estar sediada na capital federal e por ter discutido o tema internamente. 07/06/13 foi possível chegar à meta porque muitos alunos, depois de aprovados, não se matriculam. “A pontuação mínima exigida também era uma barreira alta, e estamos corrigindo isso. Do contrário, a universidade abre as portas, mas não os deixa entrar”, afirma. "Precisamos nos embasar em dados, continuar discutindo para levar o assunto ao Cepe" Ivan Camargo, reitor da UnB Pioneira O não preenchimento das vagas previstas pelo sistema foi uma preocupação levantada no seminário. No total, 6.632 estudantes ingressaram na UnB pelo sistema de cotas, o que significa 13,46% do quadro discente. O projeto prevê 20% das vagas para pretos, pardos e indígenas. O decano de Ensino de Graduação, Mauro Luiz Rabelo, responsável pela compilação dos dados apresentados, explica que não A UnB foi a primeira universidade federal a implantar o sistema de cotas. A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) aprovaram a sistema de cotas em 2002, mas por lei estadual. Depois da UnB, já em 2005, mais 16 instituições incluíram ações afirmativas e, em 2008, o número chegou a 84. Continua Continuação 07/06/13 Continua Continuação 07/06/13 CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 773 CIDADES Indígenas incluídos Chamado comumente de cotas para negros ou cotas raciais, o programa de reserva de vagas da Universidade de Brasília (UnB) inclui também os indígenas. No caso deles, o problema de preenchimento de vagas foi maior que entre os afrodescendentes. A meta, no início do plano, era formar 200 pessoas. Até o último processo seletivo, 202 indígenas entraram na universidade, mas apenas seis concluíram o curso. Diante das condições oferecidas pela própria instituição, os representantes desse grupo ainda consideram uma vitória o número de diplomados. O presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas do Distrito Federal, Antônio Macedo Dias, define a data como “um grande momento para esse povo”. Hoje, existem 64 alunos indígenas matriculados na UnB. “Temos a necessidade de buscar conhecimento para nos embasar e defender a nossa cultura”, disse. Para concretizar esse objetivo, eles precisam de mais apoio institucional.Este ano, o governo federal criou a bolsa permanência, um auxílio financeiro para minimizar desigualdades. “O choque cultural já é um dificultador e Brasília também é uma cidade difícil para quem vem de uma comunidade onde toda a família está por perto”, afirma. No caso dos indígenas, existe a cobrança das comunidades em incluir os conhecimentos adquiridos por eles nas aldeias. O professor de antropologia da Universidade Federal do Amazonas Gersem Baniwa foi convidado para comentar o assunto. Ele lembrou que as cotas não são o único caminho para a inclusão. Ele acredita na importância de fundir a visão acadêmica com o conhecimento branco e dominante com a cultura, a metodologia e a experiência dos índios. (AP) CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 774 CIDADES Hora de encarar o vestibular Candidatos fazem provas na Universidade de Brasília amanhã e domingo. Quem concorre pelo Sistema de Cotas para Negros pode agora agendar a entrevista pelo site do Cespe. Neste certame, as questões discursivas serão classificatórias » MARIANA LABOISSIÈRE Quase 24 mil candidatos se inscreveram para o 2º vestibular 2013 da Universidade de Brasília (UnB), cujas provas serão aplicadas amanhã e depois em cidades do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais. Eles vão disputar 4.219 vagas oferecidas em 97 cursos, espalhados nos quatro câmpus da instituição (confira Fique atento). Nos dois dias, os portões serão abertos às 13h e os concorrentes terão cinco horas para responder às questões. Do total de inscritos, 23,2 mil concorrem a 2.813 vagas pelo Sistema Universal. Para o de Cotas para Negros, com 850 oportunidades, são 2.491 candidatos, e para o de Cotas para Escolas Públicas foram registradas 7.445 inscrições. Nessa última modalidade, são oferecidas 556 vagas. Neste fim de semana, 685 alunos vão fazer o vestibular como treineiros. Além do recém-criado curso de fonoaudiologia, a ser ministrado em Ceilândia, outra novidade desta edição refere-se à mudança no critério de análise das questões do tipo D, isto é, as discursivas. A partir de agora, elas passam a ter caráter classificatório e não mais eliminatório, como nos certames passados. Com isso, o fato de o candidato obter resultado nulo nesses itens não inviabilizará a aprovação no vestibular. Outro ponto que merece destaque é o agendamento de entrevistas para estudantes que concorrerão pelo Sistema de Cotas para Negros. Nos vestibulares anteriores, esses candidatos, após serem aprovados, eram convocados a comparecer na UnB em datas preestabelecidas. De agora em diante, eles devem fazer o agendamento pela página do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (www.cespe.unb.br) indicando os melhores dia e horário de comparecimento dentro de um período a ser sugerido pela instituição. “Ainda vamos divulgar os dias possíveis para marcação. Por isso, as pessoas devem ficar atentas. À medida que determinado horário for preenchido, o estudante terá de optar por outro”, esclarece o coordenador acadêmico do Cespe, Marcus Vinícius Soares. “De toda forma, a medida foi tomada no sentido de trazer mais conforto para os candidatos”, argumentou. Quem não cumprir essa etapa deixará de concorrer pelo Sistema de Cotas para Negros e continuará na disputa apenas pelo Sistema Universal. Disciplinas Amanhã, os candidatos respondem questões das seguintes disciplinas: língua estrangeira; língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa; geografia e história; artes — artes cênicas, visuais, e música; filosofia e sociologia. Também terão de elaborar uma redação. No domingo, os concorrentes precisam enfrentar provas de biologia, física, química e matemática. Está prevista para 12 de junho, a partir das 19h, a divulgação dos gabaritos preliminares dos itens do tipo A, B e C . Em 9 de julho, no mesmo horário, sai o resultado provisório das questões do tipo D e da redação. A relação com o nome dos selecionados em primeira chamada será publicada em 24 de julho, a partir das 17h no endereço eletrônico do Cespe. Também será possível ter acesso ao resultado nos câmpus da UnB. Esta é terceira vez que o estudante Matheus Sanvito, 18 anos, prestará o vestibular da UnB. Embora tenha alcançado notas para passar em diversos cursos da instituição, sempre almejou entrar para medicina. “Meu primo é um grande incentivador. Como ele é graduado na área, fala muito bem e diz que o exercício (da profissão) é apaixonante. Além disso, minha mãe sempre sonhou que eu me torna médico”, revela. Sanvito se diz preparado. “Confiando no que sei, diria que dá para fazer a prova sem problemas. Mas contamos com uma série de outros fatores que envolvem sorte, como nosso estado emocional”, pondera. CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 775 Fique atento Horário » Provas começam a ser aplicadas a partir das 13h, no sábado e no domingo » Nos dois dias, o candidato deve comparecer ao local designado para a realização das provas com antecedência mínima de uma hora do horário fixado O que levar » Documento de identidade original do candidato (incluindo Passaporte); » Comprovante de inscrição do candidato ou de pagamento da taxa de inscrição; » Caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente. Provas Amanhã » Língua estrangeira; língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa; geografia e história; artes (artes cênicas, artes visuais, música); filosofia e sociologia. Domingo » Biologia, física, química e matemática. Cronograma 12 de junho » A partir das 19h: divulgação dos gabaritos preliminares das questões tipo A, B e C. 9 de julho » A partir das 19h: divulgação dos gabaritos preliminares das questões do tipo D e da redação. 24 de julho » A partir das 17h: divulgação dos nomes dos candidatos aprovados em primeira chamada. CIDADES CORREIO BRAZILIENSE 07/06/13 776 CIDADES RETRATO BRASILIENSE » Riacho Fundo 1 melhora a renda e qualidade de vida dos moradores » LARISSA GARCIA Das sete regiões administrativas analisadas pela Pesquisa Distrital por Amostra de Domícilio 2013 (PDAD-2013), o Riacho Fundo 1 se destacou pelo salto no padrão de vida da população. Além de ter a maior renda per capita das cidades estudadas, 1,96 salário mínimo, teve avanços significativos no nível de escolaridade dos moradores. O número de analfabetos caiu 0,74 ponto percentual e a parcela da população com nível superior completo registrou elevação de 4,52 pontos percentuais (veja o quadro). “Foi uma região que nos surpreendeu positivamente. A população passou de renda média baixa para renda média alta, com padrões semelhantes ao do Guará, por exemplo”, destacou o gerente da Base de Dados da Codeplan, Jusçânio Souza. Para ele, a evolução educacional é um dos pontos mais importantes. “Por conta dessa melhora, notamos outros desdobramentos, como uma redução do emprego precário e alta na formalização”, observou. Na cidade, 25% dos moradores trabalham na própria região. “Não é um número tão expressivo se comparado a cidades com economias mais dinâmicas, como Gama e Planaltina. Ainda assim, vemos uma movimentação grande nos setores de comércio e de serviços”, disse. A maior parte dos trabalhadores está locada no comércio, com 26,01% e 23,36% em serviços. O setor público é responsável por 21,34% das ocupações. Para Souza, vários fatores são responsáveis pelo salto no padrão de vida e de moradia da população do Riacho Fundo 1. “A principal é a localização estratégica. Fica perto de grandes centros, como Taguatinga, Águas Claras e Núcleo Bandeirantes, o que valoriza a região. Nas proximidades, os moradores podem encontrar universidade e hospitais, por exemplo, que apesar de não estarem localizados dentro da própria cidade, também elevam a qualidade de vida”, disse. A quantidade de casas com automóvel e computador saltou entre 2011 e 2013. A região, entretanto, tem limitações geográficas. “Por ser uma área de passagem de aviões, é impossível que a cidade cresça verticalmente. Além disso, há a particularidade de não ser grande em extensão de terra. Mesmo assim, notamos uma valorização até dos imóveis por conta da melhora no padrão de vida”, salientou o gerente da Base de Dados da Codeplan. Radiografia Indicadores 2011 2013 Renda domiciliar (salários mínimos) 6 6,42 Renda per capita (salários mínimos) 1,56 1,96 Número médio de moradores por domicílio 3,37 3,34 Analfabetos 2,4% 1,66% Nível superior completo 2,4% 1,66% Domicílios de alvenaria 98,97% 99,21% Postos de trabalho na região 26,18% 25,51% Residências com automóvel 61,17% 67,13% Residências com tevê por assinatura 12,37% 44,95% Residências com computador 57,39% 61,19% Fonte: Codeplan JORNAL DE BRASÍLIA 07/06/13 777 CIDADES