ESPECIAL Carolina Veiga [email protected] ARROZ TUDO “QUASE” PRONTO PARA A COLHEITA Rizicultores do Vale do Itapocu estão otimistas e comemoram a safra 2013/2014 “ I sso é tudo o que sabemos fazer”, orgulha-se Francisco Luis Demarchi, de 36 anos, ao apontar para os 75 hectares de terra que tem plantados. Os filetes verdes da planta começaram a espigar e a amarelar no último mês e a expectativa é a melhor possível. “Chiquinho”, como é chamado na lavoura, espera colher 10 mil sacas de 50 quilos a partir de 30 de janeiro. Rizicultor há 15 anos, ele segue entusiasmado com a cultura. A safra promete ser satisfatória e as previsões do tempo devem ajudar. Se não chover em excesso e as temperaturas não subirem muito, o grão deve vir com excelente qualidade. “O calor dos dias que antecederam janeiro não devem ressecar o grão e a qualidade final não deve ser afetada”, explica. Satisfeito, ele torce para que as temperaturas se mantenham estáveis pelas próximas semanas. “Nosso trabalho é ditado pelo tempo. Com sol, colhe- mos, com chuva, folgamos. O excesso de chuva ou granizo, no momento em que o grão está espigando, pode causar a perda de tudo”, adianta. O preço da saca de arroz caminha para os R$ 32, mas ainda não fechou para a safra 2013/2014. Ainda assim, Demarchi avalia positivamente. “Se o preço se estabilizar acima dos R$ 30 por saca o plantio do arroz continua economicamente viável e não teremos prejuízos”, comemora. Ao calcular rapidamente ele revela que 33% do lucro que obtiver serão redirecionados para o pagamento do arrendamento das terras plantadas. Contudo, ele afirma que esse é um preço a se pagar. “A urbanização está afogando a agricultura e encontrar grandes quantidades de terra para plantar está cada vez mais difícil. Plantar em pequenas quantidades também não traz lucro. A solução é arrendar a pequena propriedade do agri- cultor que abandona a lavoura e segue para a cidade”, explica. Mesmo satisfeito com os resultados que obteve ao longo dos anos dedicados à rizicultura, o conselho que Chiquinho dá ao filho, de apenas seis anos, é outro. “Plantar arroz é a minha vida e tudo o que tenho devo a isso. Mas, é uma vida de muito difícil e por isso incentivo meu filho. Quero que ele estude”. A escolha de Chiquinho pela rizicultura foi automática, feita ainda quando ele era criança observava o pai plantar em pequenas quantidades de terra. “Observei quando pequeno e resolvi seguir. Assim também aconteceu com meus irmãos”, conclui. A colheita se intensificará por 15 ou 20 dias após 30 de janeiro. CALOR EXCESSIVO PROVOCA ATENÇÃO O presidente da Cooperativa Juriti, em Massaranduba, Orlando Giovanella recorda que há quatro anos quase 13 mil sacas de arroz foram perdidas devido ao calor excessivo apresentado pouco antes da colheita, enquanto o grão estava espigando. As altas temperaturas ressecaram a seixa (um tipo de leite) existente dentro do grão, engessando- o e impedindo o crescimento. “Naquele ano tivemos 15 dias seguidos de calor intenso e isso foi novidade para nós. Este ano estamos atentos. Tivemos alguns dias quentes, mas durante a noite a brisa e a chuva amenizaram o impacto sobre o grão”, pontua Giovanella. Chiquinho escapou daquela vez. “Muitos conhecidos perderam as plantações. Mas, eu consegui colher antes”, lembra. Orlando Giovanella, da Cooperativa Juriti SUSTENTABILIDADE E TECNOLOGIA SÃO ALIADAS DO NEGÓCIO O impacto ambiental da produção agrícola e do beneficiamento do arroz são preocupações antigas dos ambientalistas. Como o farelo e a casca do grão são gerados em grandes quantidades, há falta de locais apropriados para receber o material e os danos ambientais, pela contaminação, têm riscos altos. Mas, na Cooperativa Juriti, alternativas foram criadas. Todo o refugo da produção do arroz, desde os grãos com imperfeições até o farelo é redirecionado à fabricação de ração animal. Já a casca do arroz é transformada em economia. Ela é prensada e vira briquetes utilizados para a combustão e o calor necessário para a secagem do arroz. As cinzas são transformadas em adubo orgânico para a jardinagem. “Gastaríamos de cinco a seis mil metros de lenha para secar o arroz, a um custo de R$ 55 o metro. Além de eliminarmos a queima da madeira, economizados de R$ 200 a R$ 300 mil”, afirma Giovanella. Adquirido em 2012, o robô mecânico é utilizado no beneficiamento do arroz branco, em Jaraguá do Sul. Com um braço mecânico ele desempenha em segundos o trabalho que seria desenvolvido por dois funcionários. A modernização permite o acondicionamento dos pacotes individuais de arroz em fardos de até 30 kg. Em um minuto, o equipamento empilha 17 fardos. “É uma máquina que pode trabalhar 24 horas seguidas. Quando essa atividade era desenvolvida por funcionários, tínhamos problemas de saúde comuns de quem carrega excesso de peso, como dores de coluna e fadiga”, explica o gerente de produção de Jaraguá, Ivan Uller.