QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO | 1 Índice INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 1.INTRODUÇÃO 16 1.1. Nota introdutória 16 2. O TERRITÓRIO NACIONAL 20 2.1. O Desenvolvimento Regional 20 2.2. Enquadramento do Quadrilátero 23 2.2.1. Contexto político e institucional 27 2.2.2. Contexto social e demográfico 28 2.2.3. Contexto económico e empresarial 35 2.2.4. Contexto tecnológico 39 3. COMPETITIVIDADE TERRITORIAL DO QUADRILÁTERO 46 3.1. O tecido empresarial 46 3.1.1. Setores de atividade e tecido empresarial por concelho 48 3.1.2. Mercados internacionais de referência 58 3.1.3. Clusters empresariais 67 3.1.4. A análise SWOT72 4. INTERNACIONALIZAÇÃO E BOAS PRÁTICAS 76 4.1 Abordagem metodológica 76 4.2. O Quadrilátero e condições da envolvente 79 4.3. Clusters e cooperação em rede 82 4.4. Empreendedorismo e renovação do tecido empresarial 83 4.5. Investigação, desenvolvimento e inovação 85 4.6. Fatores críticos na afirmação internacional 87 4.7.Quadro-resumo 89 5. ORIENTAÇÕES PARA O FUTURO 94 5.1. Resultados obtidos 94 5.2. Vetores estratégicos para a promoção do Quadrilátero 96 5.3 Propostas de ação 100 6.CONCLUSÃO 102 7.ANEXOS 107 7.1. 107 Fichas de entrevista | 3 4 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Índice de abreviaturas 3B’s Research Group in Biomaterials, Biodegradables and Biomimetics ACIG Associação Comercial e Industrial de Guimarães AICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal AIMinho Associação Industrial do Minho AIPCLOP Associación de Industrias de Punto y Confección de Lugo, Ourense e Pontevedra AMP Área Metropolitana do Porto ANJE Associação Nacional de Jovens Empresários APBio Associação Portuguesa de Bioindústrias APCM Associação Pólo de Competitividade da Moda APIC Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes APIP Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos APICCAPS Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos AAUM Associação Académica da Universidade do Minho ATP Associação Têxtil e Vestuário de Portugal CAE Classificação das Atividades Económicas CCDRN Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte CENTI Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes CESPU Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário CIM Comunidade Intermunicipal CIP Confederação Empresarial de Portugal CITEVE Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal CVR Centro para a Valorização de Resíduos CTCP Centro Tecnológico do Calçado de Portugal DGEEC Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência EMI Electro-mechanical impedance GAPI Gabinete de Apoio à Propriedade Industrial I&D Investigação & Desenvolvimento IAPMEI Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação IB-S Instituto de Ciência e Inovação para a Biosustentabilidade IDE Investimento Direto Estrangeiro IDI Investigação, Desenvolvimento e Inovação IEFP Instituto do Emprego e Formação Profissional IMI Imposto Municipal sobre Imóveis INE Instituto Nacional de Estatística INL Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial IPCA Instituto Politécnico do Cávado e do Ave IpC Indicador per Capita IRN Instituto dos Registos e Notariado QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES ISDR Índice Sintético de Desenvolvimento Regional NUT Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticos PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PDM Plano Diretor Municipal PEC Programa Estratégico de Cooperação PEDIP Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa PIB Produto Interno Bruto PIEP Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros PME Pequena e Média Empresa PORDATA Base de Dados de Portugal Contemporâneo PPC Paridade de Poder de Compra PRODER Programa de Desenvolvimento Rural QREN Quadro de Referência Estratégico Nacional SCTN Sistema Científico - Tecnológico Nacional SHM Structuring Health Monitiring SIREVE Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial TecMinho Associação Universidade-Empresa para o Desenvolvimento TIC Tecnologias da Informação e Comunicação TGV Train à Grande Vitesse UE União Europeia UERN União Empresarial da Região Norte UKTI UK Trade & Investment UMinho Universidade do Minho VAB Valor Acrescentado Bruto | 5 6 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Sumário Executivo 1 O estudo “Internacionalização que apoie a internacionalização do Quadrilátero e Projeção de do tecido empresarial e também a Estratégias Futuras de Promoção do captação de investimento para este Território” visa, por um lado, identi- território. ficar e avaliar os projetos de internacionalização bem-sucedidos das empresas localizadas neste território e, por outro, estabelecer um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção territorial com vista à sua internacionalização e à atração de Investimento Direto Estrangeiro. O estudo propõe-se estabelecer um rumo estratégico que permita 2 Na análise das estratégias de desenvolvimento, o espaço tem um papel fundamental. A racionalidade da organização espacial e o aproveitamento das dinâmicas regionais são essenciais para explicar o sucesso ou insucesso das estratégias de competitividade territorial. A organização espacial e a racionaliza- 3 O território em estudo apresenta-se como um espaço territorial denso, no qual é possível identificar um elevado número de áreas com uma forte componente urbana. A aglomeração urbana do Porto emerge progressivamente mais vocacionada para os setores de serviços em geral, para a logística e para as atividades associadas ao conhecimento, à cultura e ao lazer. Por sua vez, o Quadrilátero é um território especializado em comércio, serviços, indústria, educação, o desenvolvimento de um modelo ção política das dinâmicas regionais de intervenção concertado entre devem enquadrar-se num processo os municípios de Barcelos, Braga, de construção bottom-up de médio litoral, que vai de Vila do Conde Guimarães e Vila Nova de Famalicão e longo prazo. até Caminha, passando por Póvoa QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES investigação e desenvolvimento, património e turismo. Na faixa mais de Varzim, Esposende e Viana do e à fronteira de Valença (a mais infraestruturas dotadas de boas Castelo, o nível de especialização é, movimentada do país). Por sua vez, a condições gerais e boas acessibilida- no essencial, turístico, ambiental e autoestrada A11 facilita as ligações des, com outras mal concebidas ou de lazer. Nos territórios fronteiriços, dos concelhos de Braga e Guimarães mal localizadas. o nível de especialização do aglome- e a conexão com a autoestrada A28, rado constituído por Valença e Tui que faz a ligação do Litoral Norte. A assenta nas relações transfrontei- rede de autoestradas existente liga riças e nas atividades de transporte as cidades do Quadrilátero por au- de mercadorias, ainda que a ativida- toestrada, de forma direta em quase de industrial tenha ganho um peso todos os casos. considerável nos últimos anos. 4 O Quadrilátero encaixa-se numa 6 8 Em termos demográficos, o Quadrilátero é um território predominantemente urbano, com grandes espaços rururbanos, e com uma elevada densidade populacional. Em 2011, a sua densidade Em comparação com a rede de populacional era de 591 habitantes/ autoestradas, a rede ferroviária km2, um valor muito superior ao na- está bastante menos desenvolvida cional de 115 habitantes/km2, e ao Galiza. Esta região espanhola possui e o seu contributo para a articulação da região Norte de 173 habitantes/ uma superfície de 29.575 km2 (6% entre as quatro cidades é pratica- da área total de Espanha), uma mente marginal, destacando-se, população de 2,8 milhões de habi- por exemplo, o facto de Guimarães tantes e uma estrutura produtiva apenas possuir conexão ferroviária diversificada, com setores tradi- direta com umas das restantes três cionais modernos e empresas bem cidades que compõem o Quadriláte- posicionadas nos seus respetivos ro (Vila Nova de Famalicão). Ao nível setores de atividade. A Euro-região das ligações aéreas e marítimas, constituída pela Galiza e pelo Norte importa referir a proximidade com de Portugal, constitui um espaço de os aeroportos do Porto e de Vigo e forte interação social, económica e com os portos marítimos de Leixões, cultural, sendo, por isso, um impor- de Viana do Castelo e de Vigo. Estas tante foco de desenvolvimento a infraestruturas de transporte são vários níveis. cruciais para o desenvolvimento área geográfica limítrofe da 5 Em média, as cidades do Quadrilátero distam entre si cerca de 20-25 km, estando a menos de 30 minutos de distância-tempo. O território usufrui de boas ligações rodoviárias, sendo as principais conexões rodoviárias a A7, a A3 e a A11. A autoestrada A7 facilita a mobilidade no eixo Oeste-Este, e a km2. A nível concelhio, observam-se diferenças assinaláveis. Braga tem uma densidade populacional de 990 habitantes/km2, Vila Nova de Famalicão de 664 habitantes/km2, Guimarães de 656 habitantes/km2 e Barcelos de 318 habitantes/km2. 9 As mulheres representavam cerca de 52% da população resi- dente e os homens os 48% restantes. Na última década, a população residente em Braga aumentou em aproximadamente 11%, tratando-se do segundo maior acréscimo a nível do território, dado que facilitam a nacional (seguindo-se ao município circulação de pessoas e a mobili- de Cascais). Este crescimento elevou dade/escoamento de mercadorias, Braga, com cerca de 182 mil habi- nomeadamente das produções da tantes, à sétima posição do ranking indústria transformadora localizada populacional dos municípios portu- na região. gueses, ultrapassando o município 7 Ainda no âmbito das infraestruturas, convém destacar a existência de inúmeros parques in- de Matosinhos. 10 As habilitações da população do Quadrilátero ligação à A24, garante a conexão do dustriais e empresariais nos quatro litoral com Espanha. A autoestrada concelhos que compõem o Quadrilá- entre 1981 e o momento atual. A3, no eixo Norte-Sul, é uma cone- tero. A oferta destes equipamentos Entre 1981 e 2011, a população com xão prioritária nas ligações ao Porto é muito heterogénea, convivendo ensino secundário e ensino superior alteraram-se significativamente | 7 8 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO aumentou substancialmente. Nesse 2012, no total nacional, 41% dos lho (26%); indústrias transformado- período, o aumento da população desempregados estavam inscritos ras (14%), onde se inclui a indústria com ensino secundário foi superior a nos Centros de Emprego há pelo têxtil e do vestuário; e, atividades de 1000%, passando-se, grosso modo, menos 12 meses. No Norte, esta consultoria, científicas, técnicas e de 7.000 indivíduos em 1981 para percentagem situava-se nos 21%. similares (10%), onde se enquadram 72.000 indivíduos em 2011. Este No Quadrilátero, o desemprego de a maior parte das empresas que crescimento verificou-se nos quatro longa duração afetava cerca de 46% atuam na área das tecnologias da municípios do Quadrilátero de um dos desempregados. informação e comunicação. O setor modo bastante uniforme. No total do Quadrilátero, cerca de 12% da população possui habilitações ao nível do ensino superior. 11 13 A região Norte contribui em cerca de um terço para a formação do Produto Interno Bruto português. Apesar de possuir uma da construção civil tem também um peso significativo (8%). Em termos de volume de negócios, os setores com maior importância são a indústria transformadora (41%), o A melhoria nos níveis de capacidade exportadora considerá- qualificação da população vel (a mais elevada de todas as NUT no Quadrilátero deriva sobretudo II), a estrutura produtiva apresenta- da perceção da importância e valor va, até há poucos anos, fragilidades de uma formação escolar sólida. evidentes, derivadas dos baixos Resultou também, do desenho e níveis de produtividade e do eleva- implementação de políticas públicas do peso relativo de um conjunto de to Nacional da Propriedade Indus- a nível nacional destinadas a escola- setores intensivos em mão-de-obra, trial, 65 dos quais com patente con- rizar e manter no sistema educativo com escassa dotação de capital e cedida à universidade. Em 2012, a os mais novos durante mais tempo. reduzidos níveis de incorporação Universidade do Minho, apresentou Neste contexto, destaca-se ainda o tecnológica. Estas fragilidades eram 14 pedidos de registo de patentes e sucessivo aumento da escolaridade ainda mais marcadas nas NUT III Ave a Universidade do Porto 18 pedidos. mínima obrigatória ao longo dos e Cávado, devido à elevada con- A existência de um grande número anos. centração de empresas com essas de pedido de patentes registadas e/ características, ligadas sobretudo ao ou concedidas não significa, porém, setor da construção civil e à indús- que esse conhecimento tecnológico tria têxtil e do vestuário, as quais, na venha a ser aproveitado para fins in- primeira metade da década de dois dustriais e/ou empresariais. Porém a mil, enfrentaram dificuldades acres- Universidade do Minho destaca-se, cidas como consequência da pujante nesta matéria, por ser a universida- concorrência dos países da Asia de portuguesa com mais tecnologia central e sul-oriental, da Europa de rendibilizada em contextos empre- leste e, em menor medida, do norte sariais, com cerca de vinte patentes de África, assim como da profunda utilizadas pela indústria. 12 No Quadrilátero, o desemprego afeta maioritariamen- te o grupo etário dos 35-54 anos seguido do grupo etário dos maiores de 55 anos, em todos os municípios. Os concelhos de Braga e de Guimarães são os mais afetados, em termos absolutos, pelo desemprego, com 15.135 e 14.213 desempregados registados, respetivamente. O desemprego feminino representa 53% do desemprego total no Quadrilátero. O desemprego de longa duração também tem uma expressão significativa neste território. Em contração do mercado interno. 14 No território do Quadrilátero, predominam as empresas comércio (33%) e a construção civil (13%). 15 Entre 1997 e 2010, a Universidade do Minho formalizou 100 pedidos de patentes no Institu- 16 No Quadrilátero, o contributo da Universidade do Minho para o desenvolvimento económico pertencentes a três setores de ativi- do território, nas últimas quatro dade: comércio por grosso e a reta- décadas, é absolutamente inegável. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Desde a sua instalação, em meados quais 34% se situavam em Braga, As empresas ligadas à vinicultura, à da década de setenta do século XX, 25% em Guimarães, 21% em Vila floricultura e à floresta e à extração a universidade tem contribuído para Nova de Famalicão e 20% em Bar- de pedra, foram sendo substituídas a formação de quadros, engenhei- celos. No que respeita à densidade por empresas ligadas ao setor ter- ros e tecnólogos das empresas da empresarial, medida em termos de ciário. A agricultura tradicional está região. Tem igualmente formado empresas por cada 1.000 habitan- em franco declínio, cingindo-se cada muitos dos empreendedores que tes, Braga apresenta 181,5 empre- vez mais a uma atividade para auto- pilotam iniciativas empresariais sas, Guimarães 158,1, Vila Nova de consumo. A sua indústria apresenta- bem-sucedidas com sede no Qua- Famalicão 133,8 e Barcelos 98,4. -se cada vez mais diversificada, drilátero e operações nos mercados internacionais. Tem transferido conhecimento, tecnologia e inovação para as empresas da envolvente através das interaces que dispõe. A Universidade do Minho atua ainda como uma instituição equilibradora no território, criadora de consensos e de articulação das vontades e propostas dos vários agentes sedeados no território, cujo potencial neste domínio está longe de ser esgotado. 17 19 O município de Barcelos baseia as suas atividades eco- nómicas essencialmente no setor secundário. As principais produções agrícolas assentam no cultivo de cereais, forragens e vinha, assim como na cultura do pinheiro e do eucalipto e na produção de leite. Ao nível industrial, as atividades exercidas relacionam-se fundamentalmente com a indústria têxtil e do vestuário, a indústria do calçado e a indústria destacando-se as empresas ligadas à tecnologia e eletrónica, à indústria metalúrgica e à construção civil. Com menor presença mas da mesma forma representativos, destacam-se o setor têxtil e do vestuário. No total, estas indústrias representavam, em 2010, 24% das empresas do concelho, 62% do volume de negócios e ocupavam 50% da população ativa. 21 À semelhança do que acontece em Barcelos, em O peso da indústria trans- da construção civil, as quais geram formadora é relativamente cerca de 47% do volume de negó- vestuário é também a mais relevan- desigual entre os vários concelhos cios total. A mais representativa de te na estrutura setorial do concelho, do Quadrilátero. Nos de Guimarães e todas é a indústria têxtil e do ves- de acordo com os vários indicadores de Vila Nova de Famalicão, a indús- tuário, que absorve 33% do volume comummente utilizados. 19% das tria transformadora é responsável de negócios do concelho. empresas vimaranenses perten- por 52% e 65% do Valor Acrescentado Bruto total, respetivamente, enquanto em Braga não ultrapassa os 27%. Apesar da importância das empresas ligadas às tecnologias de informação e comunicação ser ainda relativamente marginal, também se observam diferenças interconcelhias consideráveis. 18 20 Braga apresenta uma estrutura produtiva relativamen- te diferente dos outros concelhos em análise. A sua atividade económica distribui-se pelos setores do comércio e os serviços, do ensino e a investigação, da construção civil, da informática e as novas tecnologias, do turismo, e por vários ramos De acordo com o Instituto da indústria e do artesanato. Como Nacional de Estatística, em consequência da sua expansão ur- 2010 o tecido empresarial do Qua- bana e da terciarização da economia drilátero era constituído por apro- local, o setor primário tem atual- ximadamente 58 mil empresas, das mente uma presença testemunhal. Guimarães a indústria têxtil e do cem ao setor, o qual é responsável por 37% do emprego no concelho. Apesar do ligeiro decréscimo no número de empresas e no número de trabalhadores ao serviço nos últimos anos, em 2010, o setor obteve um volume de negócios de cerca de 1.000 milhões de euros, representativos de 30% do total concelhio. Em Guimarães, a indústria do calçado também tem uma presença muito destacada. 22 No concelho de Vila Nova de Famalicão, o setor industrial | 9 10 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO tem um peso muito significativo. 25No Quadrilátero, os principais iv. As exportações efetuadas por Contudo, em algumas freguesias mercados de destino das exporta- empresas bracarenses incluem-se do concelho, o setor primário ainda ções, em 2011, foram a Alemanha, a maioritariamente na categoria de tem alguma importância. As culturas Espanha, a França e o Reino Unido. máquinas e aparelhos (64%), o que predominantes são a vinha, o milho, Estes quatro países de destino confirma a importância da indústria o feijão, os produtos hortícolas e representaram 65% das exporta- eletrónica neste município. O segun- as árvores de fruto, assim como a ções dos quatro concelhos, asseme- criação de pecuária. Também neste lhando-se ao que acontece ao nível concelho, a indústria têxtil e do nacional. vestuário é preponderante. Esta indústria é responsável por aproximadamente 16% do total de volume de negócios do concelho (628 milhões de euros) e emprega cerca de 30% dos trabalhadores. 23 O Norte domina as transações com o exterior, sendo responsável, em 2011, por 37% das exportações nacionais. Segue-se Lisboa, com um peso de 33%. Na comparação com o ano precedente, o Norte perdeu peso (-0,3 p.p.), enquanto Lisboa o incrementou em 3,1 p.p. Em conjunto, estas duas NUT II foram responsáveis por 70,4% das exportações nacionais, em 2011. 24 As empresas localizadas no Quadrilátero são responsá- veis por cerca de 9% das exportações portuguesas (cerca de 4.045 milhões de euros) e 4% das importações nacionais (aproximadamente 2 mil milhões de euros). 25% das exportações do Norte são realizadas i. A Alemanha lidera as expedições em Barcelos, Braga e Vila Nova Famalicão, seguindo-se a Espanha, a França e o Reino Unido. Por sua vez, as expedições efetuadas por empresas de Guimarães têm como principal destino a Espanha, a França, o Reino Unido e a Alemanha. A Bélgica, a Itália e os Países Baixos assumem-se igualmente como importantes destinos das exportações, contudo os seus níveis de importância diferem de concelho para concelho. ii. O mercado angolano apresenta-se relevante para as expedições efetuadas por Braga e Guimarães, recebendo 5% e 2% das exportações, respetivamente. Por sua vez, o mercado norte-americano mostra-se mais atrativo para as empresas de Guimarães e Vila Nova de Famalicão, concentrando 6% e 4% das expedições, respetivamente. do grupo de produtos mais vendidos no exterior são as matérias-primas (13%), das quais uma grande proporção está relacionada com vestuário e os seus acessórios. Pode-se constatar ainda a importância dos metais comuns nas exportações deste concelho (11%). v. As exportações de Guimarães pertencem à categoria de matérias-primas e suas obras, as quais envolvem dois terços das vendas totais ao exterior (66%), seguindo-se o calçado (15%) e os metais comuns (7%). Estes dados confirmam a relevância da indústria têxtil e do vestuário, do calçado e da metalúrgica e metalomecânica na atividade económica do município. vi. O padrão das vendas ao exterior em Vila Nova de Famalicão assume contornos similares aos dos restantes municípios. Este concelho exporta, fundamentalmente, material de transporte (50%), matérias-primas (25%) e, em menor medida, máquinas e aparelhos (7%). 26 O conceito de cluster por empresas localizadas nos con- iii. No concelho de Barcelos são celhos que compõem o Quadrilátero. exportadas essencialmente maté- Os países da União Europeia são os rias-primas (74%), seguindo-se o clusterização derivam dos fluxos parceiros comerciais de eleição das calçado (14%) e, com menor peso, de informação sobre mercados, empresas deste território, represen- os plásticos e borrachas (3%). Estes produtos e tecnologia, da existência tando 87% das suas exportações e três produtos compõem 91% dos de fornecedores e clientes espe- 71% das suas importações. bens exportados pelo concelho cializados e da disponibilidade de QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES está sujeito a diversas interpretações. As vantagens da recursos humanos em quantidade e de infraestruturas de excelência giões apresentam-se como grandes com as habilidades requeridas pelos ao nível das telecomunicações e ameaças às atividades desenvolvi- setores de atividade que integram da rede rodoviária que facilitam a das no território. o cluster. Estas vantagens podem comunicação e as relações empresa- resultar da acumulação de experiên- riais com outros mercados nacionais cias, saber-fazer, conhecimentos e e internacionais. O território apre- formas de organização e trabalho, senta também um forte know-how formais ou informais, ou da sua em setores como o calçado, o têxtil e promoção institucional a partir dos vestuário, e, mais recentemente, no recursos territoriais, potenciando-os setor das tecnologias de informação e orientando-os para a obtenção de e comunicação, nos quais possui ganhos de competitividade indivi- vantagens competitivas em relação duais ou coletivos. Acresce ainda aos seus concorrentes internacio- que essas vantagens, do ponto de nais. vista territorial, não têm porque se concentrar num único setor. Aliás, é razoável pensar que o seu desenvolvimento pode envolver mais setores de atividade, relacionados de forma direta ou indireta, que podem usufruir de vantagens similares, potenciando ainda mais a competitividade do território em questão. 27 29 Os motores da institucionalização do cluster são variados, ainda que na literatura especializada habitualmente se aponte o desenvolvimento de atividades de I&D e a potenciação da dimensão internacional das empresas. A cooperação institucionalizada através do cluster permite às empresas partilhar custos e obter sinergias de diversa natureza. rica e empírica, tanto nacional como internacional, com especial destaque para a consulta efetuada em revistas especializadas e para a leitura de outra informação complementar. Numa segunda fase, entendeu-se desenvolver uma análise qualitativa recolha de dados para a elabora- estrutura produtiva em fase de ção deste trabalho teve por base a transição da produção de bens de entrevista, por se entender ser uma baixo valor acrescentado, a reduzida técnica por excelência para os estu- dimensão das empresas, com níveis dos de caso, possibilitando a obten- de competitividade e internacionali- ção de experiências acumuladas, zação ainda insuficientes, a falta de testemunhos, opiniões e confissões liderança económica, política e insti- dos entrevistados. de estruturas de apoio à internacio- para garantir o seu cumprimento. recolha e seleção de literatura teó- quezas, destaca-se uma cluster permite definir racionais, setoriais ou transversais, envolveu, num primeiro momento, a suportada em estudos de caso. A tucional no território e a inexistência formal e implementar planos ope- na presente investigação No que respeita às fra- A institucionalização do estratégias comuns de maneira 31 A metodologia aplicada nalização de base territorial. 30 Ao analisar as oportunidades e ameaças que o território enfrenta realça-se, entre as primeiras, o ambiente empreendedor que envolve várias entidades regionais, nomeadamente as instituições de ensino superior e os centros tecnológicos, assim como a existência de sistemas de incentivos à I&D, que propiciam o desenvolvimento da capacidade inovadora do território e a criação de novas 32 Os resultados das entrevistas foram tratados em 5 subcapítulos. i. O Quadrilátero e condições da envolvente: questões relacionadas com as valências mais importantes do território, como infraestruturas, pessoas, vias de comunicação, contexto político, fiscal e económico. ii. Clusters e cooperação em rede: a importância das estratégias de cooperação entre as empresas que constituem o tecido produtivo do Quadrilátero; empresas. Por outro lado, a crise iii. Empreendedorismo e renovação Das forças do Quadrilátero, económica e financeira nacional e a do tecido empresarial: as condições destacam-se a existência forte concorrência de outras re- oferecidas pelo território ao nível da 28 | 11 12 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO inovação e do empreendedorismo governança: o Quadrilátero carece ladas neste território e para aquelas e as áreas de atividade com maior de uma estrutura de governação que estejam a ponderar internacio- potencial de desenvolvimento no supramunicipal e de um modelo de nalizar os seus produtos e serviços. território, bem como as ações que institutional governance. Um mode- Estes serviços de facilitação e acon- poderiam ser desenvolvidas para lo de governança implica lideranças selhamento e a disponibilização de fomentar a geração de ideias e a fortes e capazes de articular ações eventuais estudos setoriais poderão criação de projetos empresariais de coletivas e interesses comuns. O elevado valor científico e tecnológi- processo de tomada de decisão para co. ser eficaz, tem necessariamente de iv. Investigação, desenvolvimento e inovação: a utilidade e a relevância da ligação entre as empresas e as entidades do Sistema Científico-Tecnológico Nacional para o desenvolvimento de produtos e serviços de elevado valor acrescentado. v. Fatores críticos na afirmação internacional: o processo de internacionalização das empresas instaladas no território, o potencial do território para a atração de Investimento Direto Estrangeiro e o papel e o trabalho desenvolvido pelos organismos com competências na área. 33 Um dos objetivos deste estudo passa por projetar um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção do Quadrilátero com vista à sua internacionalização e à atração de Investimento Direto Estrangeiro. Definiram-se 6 vetores estratégicos considerados basilares para a melhoria das condições existentes e para a criação de um ambiente favorável à dinâmica e crescimento do tecido empresarial. 34 ser ágil, devendo ter como base um conjunto de princípios estratégicos previamente discutidos e estabelecidos. A questão institucional em reduzir e minimizar os tão referidos custos com a obtenção de informação que as empresas enfrentam no seu processo de internacionalização. 36 Vetor estratégico 3 - Proporcionar uma maior ligação entre entidades do Sistema Científi- torno do Quadrilátero é de particular co - Tecnológico Nacional e o tecido importância, na medida em que a empresarial: Para que a ligação entre estrutura que possa dar resposta às as entidades do Sistema Científico estratégias de cooperação acorda- - Tecnológico Nacional e o tecido das ou a acordar entre os quatro mu- empresarial fosse mais efetiva e nicípios, tem de estar capacitada e profícua, seria conveniente definir apetrechada dos recursos essenciais um modelo de transferência de à prossecução dos objetivos que lhe estejam atribuídos. 35 Vetor estratégico 2 - Especializar uma estrutura regional no marketing territorial e na internacionalização do território: Apesar de a AICEP ser o organismo responsável pela internacionalização das empresas portuguesas e por encorajar as empresas internacionais a olhar para Portugal como um bom local para se investir, considera-se que a sua ação não consegue dar uma resposta satisfatória e adequada às características intrínsecas de territórios específicos. A existência de uma estrutura dedicada à internacionalização do Quadrilátero, teria conhecimento que envolvesse as partes mas cujos resultados fossem devidamente partilhados através de um modelo de exploração definido a priori e que proporcionasse vantagens mútuas. O território deverá ser promovido numa lógica restrita, definindo claramente em que domínios ou setores apresenta vantagens comparativas. Só através da focalização em determinadas áreas será possível fomentar a competitividade e a atratividade deste território de forma eficaz e eficiente. Aqui, o papel da Universidade do Minho e das outras instituições de ensino ou investigação do território é fundamental, tendo em consideração as suas funções na formação Vetor estratégico 1 - Definir como principais objetivos fornecer de recursos humanos altamente para o território do Quadri- um conjunto ímpar de serviços e qualificados e as infraestruturas de látero um modelo institucional e de informações para as empresas insta- QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES I&D que deverão estar à disposição O território do Quadrilátero carece nentes culturais e criativas. Para do tecido empresarial. de condições de mobilidade susten- isso, é fundamental requalificar as tável, tanto aos níveis intraurbano cidades e reabilitar os seus centros como interurbano, as quais são históricos, efetuando uma progra- fundamentais para a criação de um mação cultural integral verdadeira- espaço de vida comum para cida- mente articulada, associada a novos dãos e empresas. Nesta linha de modelos culturais e de revitalização pensamento, torna-se necessário da urbe. Questões culturais, organi- desenvolver e gerir um sistema de zacionais e ambientais entram agora transporte integrado e intermodal, na equação da atratividade de uma capaz de proporcionar melhorias região, lançando novos desafios aos significativas na mobilidade das diversos atores locais que necessi- pessoas e bens. Atualmente, o Qua- tam de promover o seu território e drilátero não salvaguarda as infraes- atrair os recursos que lhes garantam truturas necessárias à dinâmica maior competitividade, rumo ao empresarial e, apesar das grandes crescimento sustentado do territó- melhorias verificadas ao nível das rio onde se inserem. 37 Vetor estratégico 4 - Criar redes/espaços de excelência para fomentar o empreendedorismo e os negócios: É importante criar as condições para que os negócios inovadores prosperem e floresçam. Neste aspeto, o modo de funcionamento das instituições económicas e políticas é essencial, na medida em que são responsáveis por estabelecer os incentivos às empresas e aos indivíduos. Neste sentido, a realização continuada de ações de sensibilização e informação ligadas ao empreendedorismo e a criação de espaços informais de partilha de experiências entre empresários e investigadores constituiriam grandes contributos para este propósito. Sugere-se a criação de um clube de empresários de elite/referência no território e/ou a criação de um espaço aprazível (se possível em contex- vias de comunicação, persistem algumas deficiências, nomeadamente ao nível das ligações ferroviárias. Estes aspetos revestem-se de particular importância para o território, dado que minimizariam o facto de ser um território, ainda que geograficamente próximo, afastado to universitário, mas onde exista em termos logísticos dos grandes facilidade de acesso e parques de portos de embarque e desembarque estacionamento), que facilitasse um de mercadorias. clima informal entre professores/investigadores, empresários e investidores. A criação de uma infraes- 39 40 A importância de um trabalho desta natureza assenta no contributo que pretende dar para o crescimento, desenvolvimento e internacionalização de um território com base numa estrutura em rede que abreviadamente se denomina por Quadrilátero. Neste sentido, constatou-se a necessidade de uma visão estratégica agregadora e capaz, vocacionada para facilitar, Vetor estratégico 6 - Pro- dinamizar e aumentar a competitivi- mover a qualificação e dade do território e a internacionali- atratividade do ambiente urbano do zação do seu tecido empresarial. Ao Quadrilátero: O conceito de cidade longo deste estudo, foram identifi- passou a implicar qualidade na vida cadas e estudadas as oportunida- urbana, nomeadamente no que se des a explorar para o Quadrilátero, relaciona com a estética, os valo- apresentando-se propostas para res e o convívio entre pessoas. O o rumo a seguir e elencando-se território do Quadrilátero em geral e uma panóplia de ações capazes de Vetor estratégico 5 - Garan- as cidades em particular, ao promo- desenvolver os vetores estratégicos tir um sistema integrado verem a relação com o exterior não definidos, num contexto de facilita- de mobilidade e de transportes nos podem descurar a necessidade de ção do aparecimento a prazo de uma quatro concelhos do Quadrilátero: assegurar a dolce vita e as compo- nova economia, que incorpore mais trutura ou programa especialmente dirigido para angariar fundos e capital (fundraising) neste território, é igualmente uma ação crucial para fomentar e criar condições ótimas para o sucesso das start ups. 38 | 13 14 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO valor acrescentado para o território. 41 Das principais conclusões destaca-se a necessidade de trabalhar na criação de uma liderança clara para o Quadrilátero. Enfatiza-se e aconselha-se a existência de uma estrutura regional dedicada à internacionalização e ao marketing territorial, que se foque essencialmente na atração de Investimento Direto Estrangeiro, no apoio à internacionalização de empresas locais e na promoção internacional do território. 42 Para promover as ideias inovadoras, a Investigação & Desenvolvimento e a competitividade, é importante criar redes e espaços de excelência para fomentar o empreendedorismo e os negócios no território, definindo-se um modelo de transferência de tecnologia das universidades para as empresas. Sugere-se ainda a criação de um fundo de capital de risco para apoiar a criação de empresas de base tecnológica e inovadoras no lhos que compõem o Quadrilátero, de harmonização de políticas, recur- considera-se igualmente funda- sos e competências. mental a adoção de uma estratégia de promoção, de requalificação e de gestão coletiva dos espaços de acolhimento empresarial existentes no território. Na ótica da mobilidade, destaca-se a importância de ajustar o sistema de transportes públicos e privados ao território do Quadrilátero como um todo e, no longo prazo, equacionar a implementação no território de uma plataforma logística multimodal. 44 No que se refere à cultura e à arte, destaca-se a impor- tância de articular a oferta cultural das quatro cidades, de promover programas internacionais de intercâmbio com cidades inteligentes e criativas e, a prazo, requalificar os centros históricos, tornando-os atrativos para uma população jovem e cosmopolita. 45 Dada a sua natureza e importância, este trabalho tem como objetivo servir de contri- Quadrilátero, o fomento de políticas buto para a valorização de vetores de empreendedorismo no território, estratégicos numa sub-região uniformizando-as em torno de um como o Baixo Minho num país como sistema de inovação com capaci- Portugal. Revela-se extremamente dade para gerar negócios de valor importante para o tecido empresa- acrescentado. Na vertente de I&D rial a articulação com outros agentes destaca-se, por exemplo, a neces- que favoreçam a capacitação tec- sidade de existir uma maior ligação nológica e a competitividade. Tendo entre as entidades do Sistema em conta a perspetiva estratégica Científico-Tecnológico Nacional e o baseada na Sociedade do Conhe- tecido empresarial. cimento, é impossível descurar a 43 Para garantir as infraestruturas necessárias à dinâ- mica empresarial nos quatro conce- abordagem da temática em causa no âmbito do Minho como “Região do Conhecimento”, dada a importância QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES | 15 16 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 1. Introdução 1.1. NOTA INTRODUTÓRIA À medida que os mercados internos se abrem às transações comerciais e ao capital estrangeiro, as regiões urbanas ficam cada vez mais expostas às forças globais e às influências da conjuntura externa. Por um lado, encontram-se mais expostas a ameaças externas mas, por outro lado, podem desenvolver as suas 2000). Assim, segundo Webster e Muller (2000), a competitividade territo- riais (inovação), aparece como essencial para aumentar a atratividade e sustentabilidade dos territórios. rial de uma região/cidade depende A competitividade de um território da sua capacidade em produzir e não provém apenas da competitivi- comercializar bens (tangíveis) e dade das empresas que nele estão serviços (intangíveis) com um valor instaladas e da sua capacidade de superior ao dos bens e serviços interação. As redes formais e infor- produzidos noutras regiões urbanas, mais de inovação e conhecimento, próprias estratégias de competiti- seja através do preço, qualidade ou o capital social e a confiança insti- vidade e penetrar em novos mer- inovação associada. A capacidade de tucional, são agentes coletivos que cados a nível mundial. Tornando-se criar conhecimento e de o integrar assumem uma importância crescen- mais competitivas, podem garantir em novos produtos e processos te. Desta forma, a aferição do nível melhores qualidade e nível de vida produtivos e organizacionais, ou em de competitividade de um determi- à sua população (Webster e Muller, novas soluções materiais e imate- nado território requer uma análise a QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES diferentes níveis, que se interligam Em consequência, impõe-se uma ta natureza revela-se fundamental e se auto influenciam, passando reflexão sobre o desenvolvimento para o desenvolvimento e para a tanto por fatores tangíveis como por regional do Quadrilátero na ótica competitividade territorial, tirando fatores intangíveis, de difícil deter- da competitividade e da internacio- o máximo partido das sinergias, ex- minação, não sendo portanto fácil nalização do território que envolva ternalidades e economias de escala medir a sua competitividade. todos os agentes direta ou indireta- geradas. De acordo com o PEC - Pro- mente associados e que tenha como grama Estratégico de Cooperação objetivo garantir que o património (assinado em 2008), o projeto “Um de recursos e o leque de oportuni- Quadrilátero Urbano para a Compe- dades das futuras gerações sejam titividade, a Inovação e a Internacio- superiores aos disponíveis para as nalização” propunha-se a “potenciar gerações atuais. Daí a importância a relação entre um modelo urbano de estudar, na ótica da estratégia e policêntrico qualificado e inovador da competitividade, o território do nas práticas de governança urbana Nos dias que correm, para se poder ser competitivo, é necessário uma aposta efetiva na diferenciação e/ ou na criação de algo novo e, por isso, a inovação passou a ser um fator-chave. A pressão e exigência do mercado motivam cada vez mais as empresas para a busca de vantagens competitivas diferenciadoras. Diferenças ao nível dos valores, evolução histórica, tradição industrial, papel do governo e dos agentes locais, são tudo fatores que influenciam a competitividade territorial. Mais do que dos seus recursos territoriais, a competitividade de um território depende da sua capacidade em transformá-los em vantagens competitivas diferenciadoras e geradoras de valor. O desenvolvimento está cada vez mais “territorializado e isso implica atuações mais relevantes dos agentes económicos, sociais, culturais e administrativos a nível local e regional - municípios, empresas e associações empresariais, sindicatos, organizações de defesa do ambiente e do património, etc. Todos exercem poderes reais. A par dos poderes fácticos, de natureza corporativa, os agentes territoriais contribuem muito para que os governos nacionais tenham cada vez menos poder” (Ferreira, 2007:32). Quadrilátero, projetando-o enquanto rede, isto é, parceria de atores e espaço de concertação económica, social, institucional, tendo como principal objetivo catapultar o território para novos patamares de desempenho e de projeção de imagem que lhe potenciem a competitividade e fomentem a internacionalização e, logo, a internacionalização de todo o seu tecido empresarial. O Quadrilátero constitui um projeto inovador a nível nacional. Através da Associação de Municípios de Fins Específicos - Quadrilátero Urbano, criada em fevereiro de 2010, este projeto encontra-se em ação nos municípios de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova Famalicão, e conta com a participação de entidades de relevo para a região como a AIMinho - Associação Industrial do Minho, o CITEVE - Centro Tecnológico da indústria têxtil do vestuário de Portugal e a UMinho - Universidade do Minho. A materialização de um projeto des- e territorial e uma estratégia de competitividade e internacionalização da base económica sustentada em competências e recursos para a inovação gerados a partir da ligação entre os tecidos científicos, de formação, tecnológico e empresarial”. O presente estudo, denominado “Internacionalização do Quadrilátero e Projeção de Estratégias Futuras de Promoção do Território” visa, por um lado, identificar e avaliar os projetos de internacionalização bem-sucedidos das empresas localizadas neste território e, por outro lado, estabelecer um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção territorial com vista à sua internacionalização e à atração de IDE - Investimento Direto Estrangeiro. De uma forma geral, o estudo propõe-se a estabelecer um modelo de intervenção concertado entre os municípios de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão que apoie a internacionalização do tecido empresarial e também a captação de | 17 18 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO investimento para este território. Este trabalho encontra-se organizado em nove capítulos. No capítulo 2 faz-se uma contextualização do território português, através de uma abordagem que vai do geral para o particular, onde se analisa o desenvolvimento regional do país e, mais seu tempo para a partilha de informação, experiência e saber. Todos os seus contributos e a riqueza da informação partilhada constituem uma importante mais-valia para o resultado final deste trabalho e para o cumprimento dos objetivos traçados. concretamente o enquadramento político, económico, social e tecnológico do território do Quadrilátero. A análise ao tecido empresarial e a estratégia territorial, focando os principais setores de atividade, os mercados internacionais de referência, a lógica de clusters empresariais e a identificação das forças e fraquezas, das oportunidades e ameaças é feita na terceira parte do estudo. Casos bem-sucedidos ou com potencial de sucesso, no que à internacionalização diz respeito, foram selecionados, estudados e comparados no quarto capítulo deste estudo. A título de proposta, nos capítulos cinco e seis identificam-se os vetores críticos para a promoção do Quadrilátero, expõe-se um conjunto de possibilidades para viabilizar ações no terreno que sustentem as opções estratégicas defendidas e reúnem-se as principais conclusões. Agradece a colaboração e a disponibilidade de todas as entidades envolvidas no presente estudo, com particular destaque para as empresas que aceitaram ser caso de estudo, disponibilizando algum do QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES | 19 20 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 2. O território nacional 2.1. O DESENVOLVIMENTO REGIONAL Com o objetivo de contextualizar o um lado, uma visão multidimensio- turas físicas de cada sub-região para desempenho das regiões, apresen- nal do desenvolvimento regional e, o seu desempenho em termos de tam-se e comentam-se os valores por outro, captar a complexidade do competitividade, assim como o grau dum índice de desenvolvimento, desenvolvimento através da hetero- de eficiência na trajetória seguida, enquanto ferramenta válida para geneidade dos perfis sub-regionais medido pelos perfis educacional, a aferição das divergências regio- (INE, 2013). O ISDR assenta numa profissional, empresarial e produti- nais. O INE - Instituto Nacional de Estatística - procedeu à elaboração do ISDR - Índice Sintético de Desenvolvimento Regional, que visa medir o desenvolvimento regional em estrutura tridimensional em que o desenvolvimento de cada região resulta da ponderação de três índices temáticos parciais, concebidos com base numa matriz de 65 indicadores. vo, e, ainda, a eficácia na criação de riqueza e a capacidade demonstrada pelo tecido empresarial para competir no con texto internacional. Este índice agrupa 25 indicadores, entre Portugal. Ao sintetizar o desenvolvi- São eles os seguintes: mento regional nas diversas verten- - Índice de Competitividade: preten- (PIB) per capita, a produtividade do tes (económica, social e ambiental), de captar o potencial em termos de trabalho, a relação entre as exporta- o indicador proposto possibilita, por recursos humanos e de infraestru- ções e o PIB, a densidade populacio- QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES os quais, o Produto Interno Bruto nal, a taxa de penetração da banda habitante servido e a eco-eficiência apresenta-se mais compacto e larga e as despesas em I&D - Inves- (INE, 2013). equilibrado face às sub-regiões con- tigação e Desenvolvimento no VAB - Valor Acrescentado Bruto; Tanto o indicador sintético de desenvolvimento regional como os três tinentais do Interior Norte e do Sul e às regiões autónomas insulares. - Índice de Coesão: reflete o grau de índices parciais temáticos fornecem Figura 1 - Índice sintético de acesso da população a equipamen- uma base de comparação normaliza- desenvolvimento regional (2010) tos e serviços coletivos básicos de da e relativizada da dimensão regio- Fonte: INE, 2013 qualidade, os perfis conducentes a nal à escala das NUT - Nomenclatura uma maior inclusão social e a eficá- das Unidades Territoriais para fins cia das políticas públicas, traduzida no aumento da qualidade de vida e na redução das disparidades territoriais. Agrega 25 indicadores, dos quais se destacam a esperança de vida à nascença, a taxa quinquenal de mortalidade infantil, o índice regional de rendimento familiar por habitante, o índice de juventude, a taxa de retenção no ensino básico, a taxa de criminalidade, o número de médicos ao serviço nos centros de saúde por 1.000 habitantes e a taxa de fecundidade na adolescência; - Índice de Qualidade Ambiental: está associado às pressões exercidas pelas atividades económicas e pelas práticas sociais sobre o meio ambiente numa perspetiva vasta, que se estende à qualificação e ao ordenamento do território, aos respetivos efeitos sobre o estado ambiental e às consequentes respostas económicas e sociais em termos de comportamentos individuais e de implementação de políticas públicas. O índice incorpora 15 indicadores, como, por exemplo, a qualidade da água para consumo humano, a qualidade do ar, a eficiência potencial do processo de urbanização, o consumo doméstico de água por estatísticos - II e III face à média nacional (valor 100 dos índices em apreço). De acordo com os valores do IDSR, entre 2004 e 2010, 21 das sub-regiões convergiram relativamente à média nacional. No âmbito da competitividade destacam as assimetrias entre o Litoral e o Interior, Em 2010 apenas 5 das 30 sub-regiões superavam a média nacional do índice sintético de desenvolvimento regional: Grande Lisboa (109,46), Cávado (100,75), Baixo Vouga (100,32), Minho-Lima (100,11) e Grande Porto (100,10). O Ave e o Pinhal Litoral ficavam pouco abaixo da média nacional. registando o índice correspondente valores mais elevados no Litoral. Esta dicotomia prevalece no relativo à qualidade ambiental, embora neste caso no índice correspondente ao Interior apresenta desempenhos mais favoráveis. No âmbito da coesão, o espaço continental central | 21 22 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 2 - Competitividade, Coesão e Qualidade Ambiental (2010) Fonte: INE, 2013 Relativamente ao índice de Serra da Estrela (111,76), Alto reduzida. Das principais conclusões competitividade, apenas 4 sub- Alentejo (109,50), Douro (107,38), sobre os índices calibrados, o INE regiões se posicionaram acima da Alto Trás-os-Montes (106,88), Beira destaca as seguintes: média nacional, nomeadamente: Interior Norte (106,86), Região - “No que respeita ao índice de com- Grande Lisboa (119,95), Grande Porto (104,19), Baixo Vouga (103,07) e Ave (100,52). No índice de coesão, 17 das 30 sub-regiões destacaram-se das demais: Baixo Mondego (107,52), Alentejo Central (106,72), Serra da Estrela (106,21), Autónoma da Madeira (106,64), Cova da Beira (105,64), Tâmega (105,02), Pinhal Interior Sul (104,94), Baixo Alentejo (104,93). Tendo em consideração os valores do ISDR entre 2004 e 2010, pode petitividade, os valores apurados apontam para um retrato territorial da competitividade em que se destacam dois espaços centrados nos territórios metropolitanos de Lisboa e do Porto, que contrastam com o restante território nacional e, em Grande Lisboa (105,26), Médio Tejo afirmar-se que existe uma eleva- (104,68), Alto Alentejo (104,18), da correlação entre os índices de particular, com o Interior continental; Pinhal Litoral (103,15), Península de competitividade e de coesão e o - No que se refere ao índice de coe- Setúbal (103,01) e Grande Porto índice sintético de desenvolvimento (102,51). Quanto ao índice de são, os resultados obtidos refletem regional. Em contrapartida, a cor- qualidade ambiental, são 19 as um retrato territorial mais equili- relação entre o índice de qualidade brado, que evidencia um espaço ambiental e o índice sintético de continental central mais coeso, desenvolvimento regional é muito em comparação com as NUT III do sub-regiões que apresentam valores acima da média, das quais destacam: QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Interior Norte e do Sul e das Regiões (2013), o facto de não haver mais Autónomas; sub-regiões com comportamentos - Quanto ao índice de qualidade ambiental, os resultados apurados retratam uma imagem territorial em que as NUT III do Interior continental em geral apresentam valores mais elevados. A Serra da Estrela apresenta o índice de qualidade ambiental mais elevado (111,76)” (INE, 2013:1). Figura 3 - Índices de Competitividade, Coesão e Qualidade Ambiental (2010) Fonte: INE, 2013 2.2. ENQUADRAMENTO DO homogéneos em todos os índices QUADRILÁTERO afigura-se expectável tendo em Na análise das estratégias de desen- consideração as tensões entre os fenómenos representados em cada uma das componentes, o que é revelador da complexidade do desenvolvimento regional, quando interpretado sob uma perspetiva multidimensional. volvimento o espaço tem um papel fundamental. A racionalidade da organização espacial e o aproveitamento das dinâmicas regionais são essenciais para explicar o sucesso ou insucesso das estratégias de competitividade territorial. A organização espacial e a racionalização política das dinâmicas regionais devem enquadrar-se num processo de construção botton-up de médio e longo prazo. O quadrilátero está inserido na NUT A Grande Lisboa é a única sub-região que se situa acima da média em todos os índices parciais que constituem o ISDR. Por contraponto, o Alentejo Litoral, o Algarve, Entre Douro e Vouga e Dão-Lafões são as únicas sub-regiões que apresentam valores abaixo da média em todos os índices. De acordo com o INE II Norte. A região Norte de Portugal possui uma área de 21.287 km2 e uma densidade populacional de 175 habitantes/km2. Caracteriza-se por uma forte concentração da população no litoral; a nível urbano verifica-se um forte contraste entre o litoral e o interior. O Norte abrange oito sub-regiões NUT III Norte: Minho- | 23 24 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO -Lima, Cávado, Ave, Grande Porto, desqualificados, e onde a dicotomia lazer, resultantes de um processo de Tâmega, Entre Douro e Vouga, Dou- urbano-rural atinge uma expres- requalificação urbana cujos resul- ro e Alto Trás-os-Montes. são significativa; e, v) áreas rurais, tados começam a evidenciar-se em afastadas das pressões urbanísticas termos de atratividade. O Norte caracteriza-se, do ponto de vista espacial, pela existência de cinco tipos de áreas: i) a Área Metropolitana do Porto (AMP) que tem o seu centro na cidade do Porto e que constitui um espaço maioritariamente urbano com fortes relações e industriais, caracterizadas por uma estrutura económica frágil, pelos baixos níveis de prestação de serviços e pelas dificuldades de articulação com os centros urbanos mais próximos. A AMP tem um núcleo central que se tem vindo a expandir e que vem questionando o conceito de cidade tradicional. Em torno deste núcleo urbano central emerge uma coroa em expansão, onde o urbano tem de interdependência funcional in- A região Norte evidencia um padrão prevalência sobre outras formas terna; ii) uma mancha urbano-indus- urbano policêntrico, desequilibrado de ocupação do solo e se assis- trial descontínua, de algum modo em termos espaciais, com uma de- te à emergência de fenómenos envolvente da mencionada área ficiente articulação entre os dife- de periurbanização. No contexto metropolitana do Porto, integrada rentes níveis hierárquicos e carente territorial adjacente a este espaço de suficientes centros de dimensão desenvolve-se uma mancha difusa intermédia com capacidade para as- urbano-industrial, com povoamento sumir as funções correspondentes disperso, dinâmicas populacionais em termos hierárquicos. A estrutura e construtivas bem significativas urbana da área metropolitana do e morfologia urbana fragmentada. Porto apresenta uma policentri- Outros espaços urbanos progres- cidade difusa, ainda que a cidade sivamente mais integrados, como central, o Porto, e a aglomeração o Quadrilátero, têm consolidado as desestruturada de Gaia, se desta- malhas urbanas respetivas, qualifi- quem relativamente às centralida- cando e diversificando a sua oferta lidação urbana, a nordeste da área des envolventes. de serviços, e melhorando a sua po- metropolitana do Porto, com dinâmi- As centralidades “periféricas” apre- por cidades de pequena e média dimensão (à escala nacional), algumas das quais têm vindo a desenvolver novas funções terciárias, e por contínuos rururbanos, sem funções claramente definidas, que garantem, em certa medida, a existência de alguma consistência em termos espaciais entre os núcleos mais qualificados; iii) uma área de conso- cas territoriais, produtivas e de pres- sentam uma diversidade elevada: sição em termos hierárquicos, ainda que as funções de ordem superior e os serviços avançados que se lhe tação de serviços tendencialmente o quadrilátero de desenvolvimento autónomas, que se consubstanciam referido, no qual a cidade de Braga no Quadrilátero de desenvolvimento assume um papel hierárquico de constituído pelas cidades de Braga, ordem superior, diferencia-se pela Guimarães, Vila Nova de Famalicão sua crescente afirmação; os centros Em termos funcionais, a região e Barcelos, o qual se vê progressiva- do Vale do Sousa caracterizam-se Norte caracteriza-se por uma alta mente reforçado pela atração que pela fragilidade da oferta urbana e diversidade funcional e por ele- estes locais exercem sobre as áreas a incapacidade de, pelo menos um vados índices de terciarização. A envolventes próximas; iv) áreas de deles singularmente, oferecer servi- consolidação de espaços urbanos intermediação, onde prevalecem os ços mais qualificados e destacar-se funcionalmente mais autónomos conflitos no uso dos solos, escassa em termos hierárquicos; e a cidade tem implicações para os espaços dotação de infraestruturas básicas de Viana do Castelo releva-se pelas centrais da AMP, os quais têm reve- e espaços urbanos fragmentados e valências ambientais, turísticas e de lado certa dificuldade para manter QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES associam continuem, em grande medida, reservados para os espaços centrais da AMP. a sua centralidade competencial e existência de certa homogeneidade o seu status funcional, vendo-se paisagística, social e cultural. Esta obrigados a partilhá-los com outras região, que ocupa uma superfície de centralidades tendencialmente mais 4.885 km2 (que representa 5,5% dinâmicas, como o Quadrilátero. do território nacional), é composta O território em estudo apresenta-se como um espaço territorial denso, no qual é possível identificar um elevado número de áreas com uma forte componente urbana. A aglomeração urbana do Porto emerge progressivamente mais vocacionada para os setores de serviços em geral, para a logística e para as atividades associadas ao conhecimento, à cultura e ao lazer. Por sua vez, o Quadrilátero é um território especializado em comércio, serviços, indústria, educação, investigação e desenvolvimento, património e turismo. Na faixa mais litoral, que vai de Vila do Conde até Caminha, passando por Póvoa de Varzim, Esposende e Viana do Castelo, o nível de especialização é, no essencial, turístico, ambiental e de lazer. Nos territórios fronteiriços, o nível de especialização do aglomerado constituído por Valença e Tui assenta nas relações transfrontei- por dois distritos, os quais dividem a região em Baixo Minho e Alto Minho: o distrito de Braga e o distrito de Viana do Castelo, respetivamente. O Minho encontra-se limitado a Norte e a Nordeste pela Galiza, a Este por Trás-os-Montes e Alto Douro, a Sul pelo Douro Litoral e a Oeste pelo Oceano Atlântico. A área geográfica da região minhota não se apresenta muito expressiva se comparada com a densidade populacional que representa. Apesar de existir certo grau de heterogeneidade do ponto de vista demográfico e económico, numa perspetiva cultural, a região apresenta-se homogénea no relativo aos seus usos e costumes, às suas tradições e aos seus valores morais. O Minho, enquanto território, abrange quatro NUT III (Minho-Lima e Cávado na sua totalidade e parte do Ave e do Tâmega) e 24 municípios, riças e nas atividades de transporte nomeadamente: de mercadorias, ainda que a ativida- - Distrito de Braga: Amares, Bar- de industrial tenha ganho um peso celos, Braga, Esposende, Terras de considerável nos últimos anos. Bouro, Vila Verde, Fafe, Guimarães, No âmbito da região Norte, a organi- Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, zação do território pode responder a outros critérios menos formais. Neste contexto, o território noroes- Vila Nova de Famalicão, Vizela, do Castelo e Vila Nova de Cerveira. O Quadrilátero enquadra-se no Minho, nomeadamente no denominado Baixo Minho. O território do Quadrilátero estende-se por uma área de 1.004,90 km2 e tem uma população total de aproximadamente 600 mil habitantes, distribuída pelos quatro concelhos de forma relativamente equitativa. Assume-se como um espaço de bastante relevo a nível nacional, uma vez que representa cerca de 6% da população nacional e concentra 35% da população residente na região Norte. O Quadrilátero encaixa-se numa área geográfica limítrofe da Galiza. Esta região espanhola possui uma superfície de 29.575 km2 (6% da área total de Espanha), uma população de 2,8 milhões de habitantes e uma estrutura produtiva diversificada, com setores tradicionais modernos e empresas bem posicionadas nos seus respetivos setores de atividade. A Euro-região constituída pela Galiza e o Norte de Portugal constitui um espaço de forte interação social, económica e cultural, sendo, por isso, um importante foco de desenvolvimento a vários níveis. Para facilitar o seu enquadramento, a Figura 4 destaca o território do Quadrilátero no mapa de Portugal. Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto; e, te da região constitui o Minho. Esta - Distrito de Viana do Castelo: Ar- região responde a elementos de cos de Valdevez, Caminha, Melgaço, organização vinculados à tradição Monção, Paredes de Coura, Ponte da e ao entendimento endógeno da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana | 25 26 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO políticas estruturais e de coesão. No território do Quadrilátero veri- Apesar dos grandes investimentos ficaram-se melhorias significativas efetuados, nomeadamente no do- no domínio das infraestruturas de mínio infraestrutural, e das políticas transporte e comunicação que facili- públicas implementadas persistem tam a mobilidade interna e a ligação défices em certas áreas que difi- com o exterior, melhorando a com- cultam a integração e articulação petitividade de empresas e setores territorial, condicionam as dinâmicas (Figura 5). Em média, as cidades do de desenvolvimento, lastram a com- Quadrilátero distam entre si cerca de petitividade empresarial e atrasam 20-25 km, estando a menos de 30 a necessária coesão económica e minutos de distância-tempo. O terri- social. tório usufrui de boas ligações rodo- Existe evidência empírica na literatura que corrobora que, na maior parte dos casos, as regiões assistidas por massivas injeções de fundos comunitários não têm revelado capacidade suficiente para crescer para além dos patamares de assistência (Rodríguez-Pose e Fratesi, 2004). O único domínio onde é Figura 4 - O território do Quadrilátero Fonte: PORDATA A rede de equipamentos, de infraestruturas e as vias de comunicação à disposição das empresas configuram uma valência muito importante de um território. Ao longo de mais de 25 anos de aplicação de fundos comunitários em Portugal, materializou-se um forte investimento nestas áreas por parte dos sucessivos governos. Desde a adesão de Portugal à EU - União Europeia, em 1986, o Norte, classificada como uma região de coesão, tem beneficiado de importantes apoios financeiros comunitários, dirigidos aos mais variados setores de atividade pública e privada, no âmbito das possível identificar efeitos positivos no médio-prazo é na educação e no desenvolvimento do capital humano. Rodríguez-Pose e Fratesi (2004) indicam ainda que em áreas periféricas, com uma base económica frágil e vulnerável e com uma estrutura empresarial pouco dinâmica, o investimento em infraestruturas viárias, sendo as principais conexões rodoviárias a A7, a A3 e a A11. A autoestrada A7 facilita a mobilidade no eixo Oeste-Este, e a ligação à A24, que garante a conexão do litoral com Espanha. A autoestrada A3, no eixo Norte-Sul, é uma conexão prioritária nas ligações ao Porto e à fronteira de Valença (a mais movimentada do país). Por sua vez, a autoestrada A11 facilita as ligações dos concelhos de Braga e Guimarães e a conexão com a autoestrada A28, que faz a ligação do Litoral Norte. A rede de autoestradas existente liga as cidades do Quadrilátero por autoestrada, de forma direta em quase todos os casos. para melhorar as acessibilidades Em comparação com a rede de não é uma condição suficiente para autoestradas, a rede ferroviária está garantir o seu desenvolvimento. bastante menos desenvolvida e o Aliás, a adoção desta política implica seu contributo para a articulação normalmente o incremento do grau entre as quatro cidades é pratica- de exposição à concorrência de mente marginal, destacando-se, empresas tecnologicamente mais por exemplo, o facto de Guimarães fortes e avançadas, oriundas de apenas possuir conexão ferroviária regiões centrais, com consequências direta com umas das restantes três negativas sobre o tecido empresarial cidades que compõem o Quadriláte- local. ro (Vila Nova de Famalicão). Ao nível QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES das ligações aéreas e marítimas, a dotação de serviços das empresas importa referir a proximidade com e a modernização tecnológica do os aeroportos do Porto e de Vigo e tecido produtivo. Apesar dos pro- E INSTITUCIONAL com os portos marítimos de Leixões, gressos efetuados, persistem impor- de Viana do Castelo e de Vigo. Estas tantes défices nestes domínios, que O Quadrilátero é constituído por infraestruturas de transporte são convém colmatar nos próximo anos. cruciais para o desenvolvimento do Para tal afigura-se fundamental a território, dado que facilitam a circu- melhoria da concertação institucio- lação de pessoas e a mobilidade/es- nal dos vários agentes do território coamento de mercadorias, nomea- com vista à definição de uma es- damente das produções da indústria tratégia territorial competitiva que transformadora localizada na região. garanta a efetividade das políticas Ainda no âmbito das infraestruturas, adotadas e a aplicação eficiente dos convém destacar a existência de recursos disponíveis. inúmeros parques industriais e em- 2.2.1. CONTEXTO POLÍTICO quatro concelhos e subdivide-se num total de 269 freguesias. Os quatro municípios têm autonomia executiva, administrativa e financeira, e estão governados pelas respetivas Câmaras Municipais. Desde o ano 1976, os concelhos de Braga e Guimarães são governados por presidentes do partido socialista. Vila Nova de Famalicão, pelo contrário, é governada, desde 2001 por um presidente da coligação PPD/ PSD-CDS/PP, tendo uma tradição política de alternância entre partidos de centro-esquerda e de centro-direita. Nas eleições autárquicas de 2009, em Bacelos assistiu-se à mudança do partido que estava à frente da edilidade, tendo sido eleito um presidente do partido socialista, pondo termo a 20 anos de executivos social-democratas. O Estado português tem uma estrutura político-administrativa extremamente centralizada. No enquadramento português não há espaço para regiões político-administrati- presariais nos quatro concelhos que compõem o Quadrilátero. A oferta destes equipamentos é muito heterogénea, convivendo infraestruturas dotadas de boas condições gerais e boas acessibilidades, com outras mal concebidas e mal localizadas. A mobilização dos fundos estruturais permitiu melhorar também a qualificação dos recursos humanos, vas, com poderes e competências Figura 5 - Infraestruturas de comunicação de ligação do Quadrilátero próprias e com representantes políticos eleitos pelas populações residentes nos seus territórios. O Fonte: Programa Estratégico de Estado português é portanto um Cooperação (2008) estado desconcentrado, no qual as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) operam como delegações do governo central, com escassas competências | 27 28 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO próprias, que neste momento se Neste contexto, no ano de 2008 contenção dos orçamentos muni- circunscrevem, quase em exclusivo, foi criada a figura das Comunidades cipais, na generalidade dos casos, à gestão dos programas operacio- Intermunicipais (CIM). O objetivo com exceção de Guimarães, que no nais e ao licenciamento ambiental. destas associações de municípios Apesar das várias tentativas de é conjugar, promover e articular descentralizar o Estado português, interesses comuns dos municípios dividindo o país em várias regiões que as integram. Surgem, desta político-administrativas, a sua forma, como mais um organismo concretização está longe de ser uma com competências e responsabilida- realidade. A descentralização tem des no desenvolvimento e projeção enfrentado obstáculos de diversa dos seus associados. Neste quadro natureza, sobretudo pela falta de legal, foi constituída, nesse mesmo um modelo predefinido e a desin- ano, a CIM do Cávado, que engloba formação social sobre um processo os concelhos de Amares, Braga, Bar- que poderia melhorar a tomada de celos, Esposende, Terras de Bouro e decisões políticas e a afetação de recursos públicos. As tentativas de pseudo-descentralização promovidas pelos diferentes governos, desde finais da década de noventa, têm ano de 2011 expandiu consideravelmente o seu orçamento. Neste caso, essa expansão poderá estar explicada pela realização, no município, da Capital Europeia da Cultura 2012. Figura 6 - Câmaras municipais do Quadrilátero: despesas, receitas e saldo (2009-2011) Fonte: PORDATA Vila Verde. Mais tarde, em 2009, foi criada a CIM do Ave, que engloba os municípios de Fafe, Vizela, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Cabeceiras de Basto, Mondim de Basto, 2.2.2 CONTEXTO SOCIAL E DEMOGRÁFICO Em termos demográficos o Quadrilátero é um território predominante- ficado muito aquém das expectati- Guimarães e Vila Nova de Famalicão. vas, pelas dificuldades de definição Com a finalidade de ilustrar a dimen- da escala territorial de intervenção são dos municípios que integram e de auto-organização dos agentes o Quadrilátero e simultaneamente territoriais, a escassez de recursos caracterizar a situação das suas para desenvolver as diversas inicia- finanças, apresenta-se na Figura 6 superior ao nacional de 115 habitan- tivas e a falta de um quadro legal uma comparação da sua estrutura tes/km2, e ao da região Norte de 173 suficientemente estável. financeira. Os dados revelam uma habitantes/km2. A nível concelhio QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES mente urbano, com grandes espaços rururbanos, e com uma elevada densidade populacional. Em 2011, a sua densidade populacional era de 591 habitantes/km2, um valor muito observam-se diferenças assina- Quadrilátero atingiu os 593.841 a média nacional (128,6), com uma láveis. Braga tem uma densidade habitantes, um aumento de 4% face proporção de cerca de 80 indivíduos populacional de 990 habitantes/ a 2001. As mulheres representavam com 65 ou mais anos por cada 100 km2, Vila Nova de Famalicão de 664 cerca de 52% da população residen- indivíduos com idade inferior a 15 habitantes/km2, Guimarães de 656 te e os homens os 48% restantes. habitantes/km2 e Barcelos de 318 habitantes/km2. Na última década, a população valor positivo, com uma média de 5 aproximadamente 11%, tratando-se indivíduos em idade ativa por cada do segundo maior acréscimo a nível Quadrilátero (1981-2011) nacional (seguindo-se ao município Fonte: INE de Cascais). Este crescimento elevou população no Quadrilátero foi bastante positiva, graças aos aumentos populacionais de Braga e Vila Nova de Famalicão, que conseguiram compensar os decréscimos registados em Barcelos e Guimarães. Ampliando o período inter-censal aos últimos 30 anos (1981-2011), para ter uma perspetiva mais abrangente, observa-se um crescimento da população residente muito significativo em todos os concelhos (Figura 7). potencial apresenta também um residente em Braga aumentou em Figura 7 - População Residente no Entre 2001 e 2011, a evolução da anos. O índice de sustentabilidade idoso. Braga, com cerca de 182 mil habitantes, à sétima posição do ranking populacional dos municípios portugueses, ultrapassando o município de Matosinhos. Em 2012 o grupo etário dos maiores de 64 anos representava cerca de 14% da população total (Figura 8). Por sua vez, o grupo dos jovens até aos 14 anos representava aproximadamente 16% da população residente. O índice de envelhecimento do território, que traduz a relação entre a população idosa e a população jovem, é de 79,9. Este valor De acordo com os dados dos Cen- demonstra que se trata de um terri- sos de 2011, a população total do tório jovem, quando comparado com | 29 30 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 1.000 residentes, enquanto os resFigura 8 - Distribuição da população do Quadrilátero por grupos etários (2011) Fonte: PORDATA tantes municípios registaram uma taxa de 8,9‰ (quase 9 nados-vivos por cada 1.000 residentes). Estes valores são inferiores aos registados em 2001. Em 2000, Barcelos e Braga Entre 2001 e 2011 verificou-se um apresentavam taxas de natalidade reforço do envelhecimento demo- de 14,0‰, Guimarães de 13,6‰ e gráfico no território do Quadrilátero. Vila Nova de Famalicão de 13,3‰. Em 2001 o índice de envelhecimen- Relativamente à taxa de fecundida- to era de aproximadamente 55 (55 de, em 2011, a taxa de fecundidade residentes com idade superior a 65 no país foi de 38,6 nados-vivos por anos por cada 100 residentes com cada 1.000 mulheres entre os 15 e menos de 15 anos). Também nesse os 49 anos (idade fértil), enquanto ano, o grupo etário “maiores de 64 na região Norte ficou-se pelos 34,6. anos” representava 10,6% da popu- No Quadrilátero foi de 34,0‰ e em lação residente e o grupo etário dos Braga de 36,8‰. “jovens até aos 14 anos” tinha um Famalicão. Todos estes fatores contribuíram para o aumento da população ao longo dos últimos anos. Os valores positivos da taxa de crescimento natural, que expressa a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade, corroboram as variações positivas da população residente nos quatro municípios. Apesar dos seus valores serem muito baixos, entre 2010 e 2011 houve uma ligeira melhoria em todos os concelhos, a exceção de Vila Nova de Famalicão. Para o conjunto do país esta taxa apresenta sistematicamente, desde 2007, valores negativos ou nulos. A A taxa de mortalidade tem vindo região Norte registou em 2011, pela a diminuir ao longo dos anos. Em primeira vez, nas últimas décadas, Em 2011 a taxa de natalidade do 2011, a taxa de mortalidade no país uma taxa de crescimento natural país situava-se nos 9,2‰ e na foi de 9,7‰ e na região Norte de praticamente nula. região Norte nos 8,5‰, ou seja, 8,6‰. Nos quatro concelhos que 8,5 nados-vivos por cada 1.000 compõem o Quadrilátero registam- residentes. As taxas de natalidade -se taxas de mortalidade substan- dos concelhos do Quadrilátero foram cialmente mais baixas que no país superiores às da região Norte. Braga e na região Norte: 5,9‰ em Braga, apresentou a taxa mais elevada, com 6,8‰ em Guimarães, 6,9‰ em cerca de 10 nados-vivos por cada Barcelos e 7,1‰ em Vila Nova de peso de 19,3% na população total. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES No que se refere ao saldo migratório, em 2011, Braga apresentou pela primeira vez, nas últimas duas décadas, um valor negativo, ou seja, as entradas de população foram inferiores às saídas. Contrariamente, Vila Nova de Famalicão apresentou um saldo migratório positivo. Os tural e do saldo migratório permite os decréscimos populacionais nos restantes concelhos do Quadrilátero, perceber se as variações popu- concelhos de Barcelos e Guimarães à semelhança do que acontece no lacionais são mais influenciadas foram influenciados maioritaria- conjunto da região Norte, exibem pelo efeito natural (nascimentos e mente pela existência dum saldo óbitos) ou pelo efeito migratório. Em migratório negativo. Contrariamen- Portugal, até 2009, o acréscimo de te, os crescimentos populacionais população é explicado pelos valores dos concelhos de Braga e Vila Nova positivos do saldo migratório, que Famalicão são explicados pela conju- saldos migratórios negativos desde o início do milénio. O saldo migratório é igualmente um bom indicador para avaliar a atratividade das diferentes regiões para as populações estrangeiras ou pertencentes a outras regiões nacionais. Nesta dimensão, à exceção de Vila Nova de Famalicão, pode-se concluir que o território do Quadrilátero não é atrativo para a captação de população. A análise da evolução do saldo na- compensou, em alguns anos, o valor mais negativo do saldo natural. No gação dos saldos naturais e migratórios positivos, verificados em vários Norte, os decréscimos populacionais dos últimos anos. registados estão em grande medida Figura 9 - Saldo natural e saldo explicados por um saldo migratório muito negativo. Quando se comparam estes dois indicadores em cada um dos quatro concelhos (Figura 9), migratório no Quadrilátero (20052011) Fonte: INE conclui-se que, entre 2005 e 2011, | 31 32 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Na análise social do território taneamente, a terciarização da importa analisar os aspetos ligados economia tem gerado uma procura à qualificação e à capacidade de cap- crescente de recursos humanos com tar e fixar população com habilita- níveis mais elevados de formação, ções literárias superiores. O Norte que acabou por incentivar a popula- destacou-se ao longo de várias ção a melhorar as suas qualificações décadas pelas baixas qualificações profissionais para ir ao encontro dos da sua população ativa. As ativida- requerimentos de uma economia des agrícolas, sobretudo a agricultu- mais complexa do ponto de vista se- ra de subsistência e minifundiária, as atividades de construção civil e as torial. Adicionalmente, a adoção de políticas públicas, à escala nacional, tava 45% do emprego total. As habilitações da população do Quadrilátero alteraram-se significativamente entre 1981 e o momento atual. A redução da população sem qualquer nível de escolaridade foi substancial (Figura 10). Em 2011 representava aproximadamente 8% da população total. Braga é o município que apresenta o pior destinadas a aumentar a escolarida- desempenho neste domínio. Entre de e as qualificações da população, 1981 e 2011, a população com contribuiu significativamente para o ensino secundário e ensino superior aumento das qualificações literárias aumentou substancialmente. Nesse ao nível de formação secundária da população do território. período o aumento da população e superior. Estas circunstâncias Em 1981 o setor primário empregava com ensino secundário foi superior atividades industriais mão-de-obra intensivas geraram, durante décadas, um grande número de ofertas de trabalho sem grandes requisitos fizeram com que esta região apre- 10% da população ativa dos quatro a 1000%, passando-se, grosso concelhos do Quadrilátero. Em 2011 modo, de 7.000 indivíduos em 1981 o setor passou a empregar apenas para 72.000 indivíduos em 2011. qualificação dos recursos humanos. 1% dos ativos. O setor terciário Este crescimento foi mais ou menos Este paradigma tem-se modificado ocupava 27% da população ativa uniforme nos quatro municípios do nos últimos anos, em parte, por via em 1981 e passou a ocupar 54% da diminuição da população em- Quadrilátero. em 2011. Neste território o setor pregada no setor primário, que se secundário tem assumido persis- transferiu para o setor secundário, tentemente uma importância muito onde os salários são apesar de tudo significativa. Entre 1981 e 2001, em- mais elevados e onde há exigências pregou mais de 50% da população mínimas de escolaridade. Simul- ativa, enquanto em 2011 represen- senta-se, nesse período, um dos piores desempenhos em matéria de QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Figura 10 - Distribuição da população por nível de escolaridade no Quadrilátero (1981-2011) Fonte: PORDATA Em 2011, 28% da população do ciências sociais, comércio e direito; Quadrilátero possuía escolaridade engenharia, indústrias transfor- ao nível do 1º ciclo do ensino básico, madoras e construção; e, ciências, 20% ao nível do 3º ciclo e 17% ao matemática e informática. nível do 2º ciclo. Os indivíduos com ensino secundário representam ano de escolaridade (secundário). Tabela 1 - População por nível de escolaridade no Quadrilátero (2011) Fonte: PORDATA e DGEEC A melhoria nos níveis de qualifica- SEM NÍVEL DE ESCOLARIDADE BÁSICO 1º CICLO BÁSICO 2º CICLO BÁSICO 3º CICLO SECUNDÁRIO MÉDIO SUPERIOR Barcelos 9% 30% 21% 20% 12% 0,7% 7% Braga 7% 22% 13% 20% 17% 0,9% 19% Guimarães 9% 31% 16% 20% 13% 0,7% 9% Famalicão 9% 29% 18% 20% 14% 0,9% 10% Quadrilátero 8% 28% 17% 20% 15% 0,8% 12% aproximadamente 15% da população do Quadrilátero, destacando-se o município de Braga com cerca de 17% da população com habilitações deste tipo. O concelho de Braga é também o que dispõe de uma maior proporção de pessoas com ensino superior, cerca de 19% do total, seguindo-se o concelho de Vila Nova de Famalicão com 10% do total. No total do Quadrilátero, cerca de 12% da população possui habilitações ao nível do ensino superior. ção da população no Quadrilátero deriva sobretudo da perceção da importância e valor de uma formação escolar sólida. Resultou também do desenho e implementação de políticas públicas a nível nacional destinadas a escolarizar e manter no sistema educativo os mais novos durante mais tempo. Neste contexto, destaca o sucessivo aumento da escolaridade mínima obrigatória ao longo dos anos. A escolaridade obrigatória estabelecida para os indiví- O aumento do número de universidades públicas e privadas e o aumento do nível de vida das populações contribuiu igualmente para a manutenção durante mais tempo dos jovens no sistema de ensino. O aumento substancial da população com ensino superior poderá ser, em certa medida, justificado pela abertura em Braga do Polo da Universidade Católica Portuguesa, em 1967, e da UMinho, em Braga e Guimarães, em 1973. Entre 1981 e 2001, o aumento neste segmento A população feminina foi predomi- duos que nasceram antes de 1967 nante entre os alunos matriculados era o 1º ciclo, tendo aumentado para e, entre 2001 e 2011, foi de cerca de em instituições de ensino superior os 6 anos de escolaridade (2º ciclo) 120%. A abertura, na década de 80 nos quatro concelhos do Quadrilá- para os indivíduos nascidos entre e 90, de universidades privadas e de tero, entre 1990 e 2012. De acordo 1967 e 1980. A partir de 1981 e para institutos politécnicos no território com a DGEEC - Direcção-Geral de todos os indivíduos nascidos após contribuiu igualmente para o au- Estatísticas da Educação e Ciência, esta data, passou a ser obrigatório mento do nível médio de escolarida- os alunos matriculados nesse perío- o 9º ano de escolaridade (3º ciclo). de da população aí residente. A este do escolheram fundamentalmente Mais recentemente, a escolaridade nível, destaca-se a Universidade três áreas de educação e formação: obrigatória foi prolongada para o 12º Lusíada de Vila Nova de Famalicão, de população foi superior a 500%, | 33 34 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO a CESPU - Cooperativa de Ensino Figura 11 - Evolução do número de de longa duração afetava cerca de Superior Politécnico e Universitário, inscritos no IEFP por grupo etário no 46% dos desempregados. também em Vila Nova de Famalicão, Quadrilátero (2008-2012) e o IPCA - Instituto Politécnico do Fonte: Cálculos próprios com base no Cávado e do Ave, em Barcelos. No IEFP âmbito da permanência no sistema de ensino convém destacar também a redução da taxa de abandono escolar verificada nas últimas décadas. A título de exemplo, na região Norte, entre 2002 e 2011, verificou-se uma redução de 27 p.p. na taxa de abandono precoce. A taxa de desemprego no Quadrilátero tem apresentado uma evolução ascendente, entre 2008 e 2012, apenas interrompida por uma pequena diminuição em 2011 (Figura 11). Segundo os dados do IEFP Instituto de Emprego e Formação Profissional, em 2012, havia 45.000 desempregados inscritos nos Centros de Emprego dos concelhos do Quadrilátero, mais 8.000 trabalhadores que em 2011 e mais 17.000 que em 2008. A incidência do desemprego difere também entre indivíduos, em função dos seus níveis de qualificação. A população mais qualificada é a No Quadrilátero, o desemprego afeta maioritariamente ao grupo etário dos 35 anos 54 anos seguido do dos maiores de 55 anos, em todos os municípios. Os concelhos de Braga e de Guimarães são os mais afetados, em termos absolutos, pelo desemprego. O desemprego registado afeta 15.135 trabalhadores em Braga e 14.213 em Guimarães. O desemprego feminino representa 53% do desemprego total no Quadrilátero. O desemprego de longa duração também tem uma expressão significativa neste território. Em 2012, no conjunto do país, 41% dos desempregados se encontravam inscritos nos Centros de Emprego há pelo menos 12 meses. No Norte, esta percentagem situava-se nos 21%. No Quadrilátero o desemprego QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES menos afetada pelo desemprego. Em 2012, do total de desempregados registados em Portugal, 12,8% possuíam ensino superior, 24% ensino secundário e 59% habilitações ao nível do ensino básico. A região Norte apresenta um fraco desempenho ao nível do desemprego qualificado, dado que concentra 40% do total de desempregados registados no país com habilitação superior. Lisboa e o Centro concentravam 34% e 18%, respetivamente, e as regiões do Alentejo e do Algarve, em conjunto, menos de 10% dos inscritos com formação superior. No contexto do Quadrilátero, o grupo de trabalhadores com habilitações ao nível do 1º ciclo são os mais afetados pelo desemprego. Em 2012, este grupo representa 30% do total de desempregados. Os de- neidade, sendo Braga o que apre- português. Apesar de possuir uma sempregados com ensino superior senta o valor mais elevado (105,59), capacidade exportadora consi- representam 11% do desemprego superior, por tanto, à média nacional derável (a mais elevada de todas (100). Quanto aos restantes, Bar- as NUT II), a estrutura produtiva Figura 12 - Evolução do número de celos apresenta o valor mais baixo apresentava, até há poucos anos, inscritos no IEFP por nível de ensino (67,49), seguido de Guimarães fragilidades evidentes, derivadas no Quadrilátero (2008-2012) (79,78) e de Vila Nova de Famalicão dos baixos níveis de produtividade e Fonte: Cálculos próprios com base no (82,37). De acordo com o INE, existe do elevado peso de um conjunto de IEFP uma relação positiva entre o grau de setores intensivos em mão-de-obra, urbanização das unidades territo- com escassa dotação de capital e riais e o poder de compra efetivo. reduzidos níveis de incorporação Esta evidência justificaria, em certa tecnológica. Estas fragilidades eram medida, o valor registado em Braga. ainda mais marcadas nas NUT III Ave total no Quadrilátero. Para aferir os níveis de bem-estar da população do Quadrilátero recorreu-se ao Indicador do Poder de Compra e Cávado, devido à elevada con- per Capita (IpC). Este indicador tem centração de empresas com essas a vantagem de permitir efetuar comparações a nível municipal e regional 2.2.3. CONTEXTO no contexto do país. De acordo com ECONÓMICO E dados de 2009, as regiões metropolitanas de Lisboa (145,25) e do Porto EMPRESARIAL1 características, ligadas sobretudo ao setor da construção civil e à indústria têxtil e do vestuário, as quais, na primeira metade da década de dois (115,04) e alguns concelhos noutras A região Norte contribui em cerca mil, enfrentaram dificuldades acres- regiões do país são os que apresen- de um terço para a formação do PIB cidas como consequência da pujante 1 A ausência de dados disponíveis para cada um dos quatro municípios que compõem o Quadrilátero implicou a realização de uma análise mais ampla, utilizando os dados disponíveis para a região Norte e as NUT III Cávado e Ave. concorrência dos países de Asia tam os valores mais elevados neste indicador. O indicador médio para a região Norte é de 87,6. Nos quatro municípios que compõem o Quadrilátero observa-se alguma heteroge- central e sul-oriental, de Europa do leste e, em menor medida, do Norte de África, assim como da profunda contração do mercado interno. | 35 36 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO De acordo com a CCDRN, o PIB per no Quadrilátero. Esse universo inclui de negócios, os setores com maior capita (medido em Paridade de Po- sociedades, empresários em nome importância são a indústria transfor- der de Compra) da região Norte não individual e trabalhadores indepen- madora (41%), o comércio (33%) e a ultrapassava, em 2011, os 64% da dentes. Na Figura 13 apresenta-se a construção civil (13%). média da UE-27. O PIB per capita do distribuição setorial dessas entida- Cávado e o Ave representava 62% des, classificadas de acordo com a e 57% da mesma média, respeti- revisão 3 do CAE - Classificação das vamente. Na comparação com a Atividades Económicas. média nacional, o posicionamento Figura 13 - Empresas por setor de de ambas as sub-regiões é também desfavorável. No mesmo ano, os níveis de PIB per capita do Cávado e atividade no Quadrilátero (2011) Fonte: PORDATA Como referido, a região Norte é a NUT II com maior intensidade exportadora do país. Os territórios mais próximos do litoral são os que mais contribuem para as exportações portuguesas, nomeadamente os das NUT III de Entre Douro e Vouga e do Ave. Contrariamente, os menos do Ave representavam 78% e 72% da média nacional, respetivamente (índice = 100). Estes dados confirmam a existência de disparidades significativas nos níveis de riqueza produzida entre regiões. Aliás, da análise da evolução temporal dos mesmos resulta que, ao longo dos anos, se tem assistido a um agravamento das assimetrias de rendimento entre regiões, tanto no contexto do país como no contexto da UE. Um resultado paradoxal dos últimos vente e cinco anos de política regional comunitária é que as assimetrias de rendimento entre regiões à escala comunitária se têm aprofundado, enquanto entre estados membros se têm esbatido, ainda que de forma relativamente moderada. Entre 2000 e 2010, o Norte No território do Quadrilátero predominam as empresas pertencentes aos setores do comércio por grosso e a retalho (26%), às indústrias transformadoras (14%), onde se in- dinâmicos em matéria de vendas ao exterior são os territórios do interior Norte, concretamente as NUT III do Douro e de Alto Trás-os-Montes. clui a indústria têxtil e do vestuário, O Gráfico 9 mostra a evolução e às atividades de consultoria, cien- das exportações de mercadorias tíficas, técnicas e similares (10%), em valor dos quatro concelhos do onde se enquadram a maior parte Quadrilátero, na década de 2000. das empresas que atuam na área Nos primeiros anos, os montantes das TIC - tecnologias da informação e repartição inter-concelhia das e comunicação. O setor da constru- exportações mantiveram-se rela- Em 2010, existiam cerca de 58 mil ção civil tem também um peso signi- tivamente estáveis, ainda que em empresas não financeiras com sede ficativo (8%). Em termos de volume 2005 se assistisse a um retrocesso piorou a sua posição relativa tanto no âmbito do país como no âmbito comunitário. Esta evolução confirma a tendência divergente que esta região portuguesa tinha iniciado na década precedente. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES dos valores exportados nos dois concelhos mais dinâmicos (Guimarães e Vila Nova de Famalicão). Entre 2002 e 2005, o concelho de Braga registou um bom desempenho. A partir desse ano e até 2009, o valor das suas exportações diminui progressivamente, para voltar a crescer novamente em 2010 (cerca de 20% num ano). Apesar de apresentar valores de vendas ao exterior superiores aos de Braga, Guimarães mostrou uma evolução similar na segunda metade da década. Até o ano de 2005, Vila Nova de Famalicão foi o segundo concelho mais exportador do grupo. A partir desse ano, o crescimento das suas vendas ao exterior o colocou à frente do ranking neste domínio. Barcelos apresenta os níveis de exportação mais baixos do Quadrilátero (14% do total). Ao longo da série, as exportações do concelho de Barcelos correspondem, em termos médios, a menos de metade (46%) das do concelho de Vila Nova de Famalicão. Guimarães e Vila Nova de Famalicão são responsáveis por 63% das vendas ao exterior de mercadorias do Quadrilátero, e os de Braga e Barcelos pelos 37% restantes. Figura 14 - Evolução da exportação de mercadorias no Quadrilátero (2001-2010) Fonte: CCDRN Ao longo das últimas duas décadas o pessoal ao serviço médio das empresas da região Norte tem vindo a diminuir. Esta evolução é consequência, por um lado, dos intensos processos de reestruturação e reorganização empresarial levados a cabo nas grandes empresas de alguns setores e, por outro, do aumento do número de micro e pequenas empresas (que empregam menos de 10 trabalhadores), derivada do crescimento da taxa de iniciativa empresarial. Atualmente, a estrutura empresarial do Cávado e do Ave, em termos de dimensão medida pelo indicador do pessoal ao serviço, é similar à do todo nacional (Figura 15). | 37 38 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 15 - Dimensão das empresas empresarial, a análise das dinâmicas definição e implementação da estra- em função do pessoal ao serviço empresariais implica o entendi- tégia e na abordagem do mercado. (2010) mento dos fatores que explicam o Entre os externos emergem a fraca Fonte: INE sucesso ou a capacidade das novas qualidade da envolvente empresa- iniciativas se manterem no merca- rial e a falta de apoios, assim como do. Em termos quantitativos estes a conjuntura económica geral ou últimos sintetizam-se na taxa de so- do próprio setor de atividade. Num brevivência das empresas. De acordo contexto de crise, como o que se com o INE, a taxa de sobrevivência vive há vários anos, a manutenção empresarial no Cávado e o Ave tem das empresas no mercado torna-se vindo a diminuir. Em 2006, a taxa de bem mais difícil, razão pela qual, o sobrevivência das empresas nasci- número de falências e insolvências das nos dois anos precedentes era de empresas tem vindo a aumentar de 63% no Cávado e de 66% no exponencialmente. Na última década, observa-se um incremento da capacidade de criação de novos projetos empresariais. De acordo com o INE, a taxa de natalidade empresarial,2 no Cávado e no Ave, rondava os 14%, no ano de 2008 (último para o que existem dados). Relativamente à taxa de mortalidade empresarial,3 nestas NUT III situava-se nos 19%, no mesmo ano. Nos anos prévios, a mortalidade empresarial tinha evoluído desfavoravelmente, dado que passou de 10% em 2004 para 13% em 2007, e para os referidos 19% um ano depois, já Ave. Em 2010, essa percentagem se reduziu em cerca de 10 p.p. no Ave, situando-se nos 56%, e em aproximadamente 7 p.p. no Cávado, passando a ser de igualmente de 56%. Entre 2009 e 2012 verificaram-se aproximadamente 5 mil dissoluções de empresas, nos concelhos do Quadrilátero (PORDATA). O setor dos serviços é responsável por mais de 62% do total. Em 2012 foram depois do início da crise económico- A evolução negativa da taxa de comunicadas, no conjunto dos -financeira. sobrevivência empresarial revela quatro concelhos, 1.283 dissoluções que as empresas encontram gran- de empresas, uma média de 3,5 dis- des dificuldades para permanecer soluções por dia. Braga e Guimarães no mercado, por motivos internos ou concentraram cerca de dois terços externos. Entre os primeiros, impu- do total de entidades dissolvidas. O táveis exclusivamente às empresas, rácio número de sociedades consti- os mais destacados são os défices tuídas sobre número de sociedades no planeamento do negócio, na dissolvidas é de cerca de 1,5. Isto Para além da compreensão dos fatores que promovem a iniciativa 2 Proporção de novas empresas no total de empresas no ativo. 3 Proporção de empresas que deixam de estar ativas no total de empresas no ativo. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES significa que, mesmo num contexto concedido aproximou-se dos 9 mil fundamentalmente pelo esforço das absolutamente desfavorável em milhões euros, mais 4 mil milhões empresas, que mais que duplicaram termos de mercado, o número de so- euros que em 2000. Em 2011, o cré- o seu investimento nestas áreas. ciedades constituídas é superior ao dito concedido diminuiu ligeiramen- Os benefícios fiscais outorgados número de sociedades dissolvidas. te (PORDATA). O concelho de Braga aos investimentos em I&D levados absorveu, ao longo da série, a maior a cabo pelas empresas (dedução no proporção do crédito concedido no IRC de até 82,5% do investimento) e contexto do Quadrilátero, seguido a estratégia delineada para o desen- do concelho de Guimarães. volvimento da ciência e da tecnolo- têm sido reiteradamente assinala- Figura 16 - Crédito concedido por gia são apontados pela UTEN como das pelas empresas como graves tipologia no Quadrilátero (2000- entraves para o desenvolvimento e 2011) crescimento do seu negócio. Entre Fonte: PORDATA Para além da degradação da atividade económica provocada pela crise, nas várias escalas de análise, as dificuldades de acesso ao crédito 2001 e 2010, houve um crescimen- to acentuado do crédito concedido aos agentes económicos residentes no Quadrilátero (Figura 16). No ano os fatores mais importantes para explicar os excelentes resultados alcançados pelo país nesta matéria. O setor das tecnologias de infor- 2.2.4. CONTEXTO TECNOLÓGICO mação e comunicação apresenta a percentagem mais alta de pessoal afeto a atividades de I&D, seguido 2000, o crédito à habitação repre- De acordo com a UTEN - University do setor dos serviços, do setor de sentava aproximadamente um terço Technology Enterprise Network equipamentos industriais e do setor do total, destinando-se os restantes (2012), entre 2005 e 2007, Portu- dos serviços financeiros e de segu- dois terços a financiar outras atividades de consumo ou investimento. A partir do ano 2009, observa-se uma distribuição equitativa do crédito concedido entre essas duas grandes tipologias. Em termos de montantes, em 2010, o crédito gal experimentou um pronunciado incremento das despesas em I&D, as quais representaram, pela primeira vez, mais de 1,2% do PIB, igualando desta forma os valores de Espanha, Irlanda e Itália. Este aumento significativo é explicado ros. No período compreendido entre 2005 e 2010, observou-se um forte crescimento do pessoal afeto a atividades de investigação nas empresas portuguesas (164%). De acordo com o UTEN (2012), em apenas uma década, Portugal duplicou o número | 39 40 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO de investigadores nas mais diversas áreas de atividade. Figura 17 - Investigadores a tempo integral nas empresas em Portugal (2005-2010) Fonte: INE Lisboa e Vale do Tejo e a região Norte são as NUT II do país com maior número de pessoas afetas a atividades de I&D a tempo integral (Figura 17). No lado oposto, encontram-se as regiões do Alentejo e do Algarve. Em 2005, a região Norte ocupava já uma posição favorável, registando o segundo valor mais elevado. Esta evolução confirma a importância crescente que as empresas atribuem ao investimento em I&D, razão pela qual se justifica o desenho de políticas de incentivo a este tipo de atividades, entre as quais as de carácter fiscal devem continuar a ter um papel destacado. Um aspeto interessante sobre o pessoal ao serviço em atividades de I&D nas empresas portuguesas é a predominância dos homens face às mulheres (em média, três quartos versus um quarto), em todas as regiões do país, ao longo da série (Figura 18). A prioridade estratégica outorgada ao desenvolvimento científico e tecnológico foi igualmente acompanhada por uma forte mobilização da comunidade científica. De acordo com o UTEN (2012), Portugal experimentou um notório crescimento da produção científica, com resultados visíveis a nível internacional, registando um aumento do número de publicações em revistas científicas internacionais. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Figura 18 - Investigadores a tempo integral nas empresas por género, em Portugal (2005-2010) Fonte: INE No que diz respeito ao número de doutoramentos realizados e reconhecidos em Portugal, verificou-se também um aumento considerável (Figura 19). Entre 2000 e 2010, o número de doutoramentos cresceu à volta de 94%. Desde 2008, têm-se registado cerca de 1.500 novos doutoramentos por ano. Convém destacar ainda que, a partir desse ano, a maioria dos doutoramentos foram obtidos por mulheres. Figura 19 - Doutoramentos realizados e reconhecidos em Portugal (2000-2010) Fonte: DGEEC De acordo com o UTEN (2012), estas alterações estruturais foram acompanhadas por profundas alterações no ensino superior. As reformas neste nível de ensino permitiram abrir as suas portas à sociedade e a outros grupos sociais, à mobilidade e ao reconhecimento internacional, assim como promover o reconhecimento da diversidade de programas de educação e a diversidade curricular. | 41 42 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 20 - Evolução de pedido de invenções em Portugal (2007-2012) Fonte: INPI De acordo com o INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Lisboa e Vale do Tejo e a região Norte são as regiões do país com maior atividade inventiva, em oposição ao Alentejo e ao Algarve (Figura 20). Em 2012, 31% dos pedidos de registo tiveram origem na região Norte (212), ficando apenas atrás de Lisboa e Vale do Tejo, a qual foi responsável por 33% dos pedidos (225) (Tabela 2). Em termos relativos, ou seja, ponderando o número de pedidos de registo pela população da NUT II, a região Norte ocupa a quarta posição, atrás, por esta ordem, da região Centro, de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve, com 57 pedidos de registo de invenções por milhão de habitantes. Tabela 2 - Pedidos de registo de invenções por NUT II (2011-2012) Fonte: INPI NUT II 2011 2012 % ANUAL % SOBRE TOTAL PEDIDOS POR MILHÃO DE HABITANTES Alentejo 27 20 -26% 3% 26 Algarve 31 30 -3% 4% 67 Centro 177 195 10% 28% 84 Lisboa 228 225 -1% 33% 80 Norte 188 212 13% 31% 57 Madeira 6 8 33% 1% 30 Açores 3 3 0% 0,4% 12 Total 660 693 5,0% 100% Média nacional 66 Na região Norte, 62 dos 212 pedidos de registo de invenções foram requeridos por empresas, 75 por inventores independentes, 40 por universidades e 1 por parte de uma instituição de investigação. Estes dados corroboram a intensa atividade das empresas da região Norte nas atividades de I&D. Em termos percentuais, apenas as empresas QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES da região Centro apresentam uma dinâmica similar às do Norte neste domínio, com perto de 30% dos pedidos de registo de invenções totais a nível regional, em ambos os casos. Entre 1997 e 2010, a UMinho formalizou 100 pedidos de patentes no INPI, 65 dos quais com patente concedida à universidade. Em 2012, a UMinho apresentou 14 pedidos de registo de patentes, ficando atrás da Universidade do Porto, com 18 pedidos, da Universidade de Coimbra e do Instituto Superior Técnico, ambos com 16 pedidos cada um, e da Universidade de Aveiro, com 15 pedidos a dar entrada no INPI. A existência de um grande número de pedidos de patentes registadas e/ou concedidas não significa, porém, que esse conhecimento tecnológico venha a ser aproveitado para fins industriais e/ou empresariais. A UMinho destaca-se, nesta matéria, por ser a universidade com mais tecnologia rendibilizada em contextos empresariais, com aproximadamente vinte patentes utilizadas pela indústria. Para a materialização de um número crescente de invenções e impulsionar os processos de inovação, é de extrema importância manter o esforço de I&D. De acordo com DGEEC (2011),4 na região Norte a despesa total em I&D, no ano de 2010, foi de aproximadamente 735 milhões euros. Este montante é representativo de 27% da despesa total em I&D a nível nacional, nesse ano, apenas ultrapassada por Lisboa e Vale do Tejo. Entre 2005 e 2010, o crescimento deste tipo de despesas foi muito significativo, tendo praticamente triplicado o seu valor nesse período. Nas empresas o crescimento foi ainda mais intenso, até tal ponto que, em 2010, 46% do investimento total em I&D, realizado na região Norte, foi executado por empresas (Figura 21). As instituições de ensino superior e investigação foram as segundas em ordem de importância, sendo responsáveis por 38% do investimento total. Estes dados confirmam novamente a dinâmica de investimento neste domínio do setor empresarial da região. Adicionalmente traduz uma atitude mais ativa na utilização de tecnologia e o esforço por acompanhar as novas exigências ao nível de um modelo de desenvolvimento mais competitivo, assente em fatores dinâmicos de competitividade, tais como a tecnologia, a qualidade, a diferenciação, a propriedade intelectual e os recursos humanos qualificados. Figura 21 - Despesas em I&D na região Norte, por setor de execução (2005, 2009 e 2010) Fonte: DGEEC 4 Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional. | 43 44 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Apesar das dificuldades de medição do impacte económico das instituições de ensino superior nos territórios onde se inserem, estas instituições são usualmente consideradas como importantes mecanismos de desenvolvimento económico e regional. A transferência de tecnologia dos laboratórios das universidades para o setor privado e a criação de novas empresas baseadas no com alunos e outros empreende- acolhe um conjunto de empresas dores locais, têm abraçado projetos de base científica ou tecnológica ou empresariais e lançado no mercado cuja atividade precisa da disponibili- start-ups com um elevado poten- dade de excelentes infraestruturas cial de crescimento. Por último, a tecnológicas e de comunicação.5 Ao UMinho atua como uma instituição nível das infraestruturas e equipa- equilibradora no território, criadora mentos para a promoção da ciência de consensos e de articulação das e a tecnologia destacam-se tam- vontades e propostas dos vários bém, pelo seu potencial em termos agentes sedeados no território, cujo de investigação, aquando do seu potencial neste domínio está longe funcionamento a pleno rendimen- de ser esgotado. to, o INL - Laboratório Ibérico de conhecimento são aspetos que têm À volta da universidade, umas vezes ganho a atenção dos especialistas com participação direta e outras em desenvolvimento regional. indireta, tem-se desenvolvido um No Quadrilátero, o contributo da UMinho para o desenvolvimento económico do território, nas últimas três décadas, é absolutamente inegável. Desde a sua instalação, em meados da década de setenta, a universidade tem contribuído para a formação de quadros, engenheiros e tecnólogos das empresas da região. Tem igualmente formado muitos dos empreendedores que pilotam iniciativas empresariais bem-sucedidas com sede no Quadrilátero e operações nos mercados internacionais. Tem transferido conhecimento, tec- ecossistema de apoio ao desenvolvimento empresarial, constituído maioritariamente por parques Nanotecnologia, em Braga, e, pelo seu papel no apoio à qualificação e complexificação do setor tradicional mais importante da região, o do têxtil e do vestuário, o CITEVE, em Vila Nova de Famalicão. tecnológicos e incubadoras empre- Ao nível de infraestruturas para sariais. O investimento em infraes- incubação de empresas, nos con- truturas e equipamentos desta na- celhos do Quadrilátero existem tureza tinha como principal objetivo várias alternativas promovidas por criar as condições necessárias para entidades tanto públicas como o surgimento de novas empresas, privadas. Destacam-se, por exemplo, sobretudo de empresas inovadoras o Spinpark - Centro de Incubação de base científica e/ou tecnológica. de Base Tecnológica, inserido no No âmbito do Quadrilátero, destaca Avepark, em Guimarães; o BICMI- a este respeito o AvePark, sedeado NHO, que integra a rede europeia no concelho de Guimarães e for- de Business Innovation Centres temente vinculado à UMinho, que (Centros de Inovação Empresarial) nologia e inovação para as empresas da envolvente através da TecMinho - Associação Universidade-Empresa para o Desenvolvimento. Muitos dos seus departamentos e centros de investigação prestam serviços especializados e de consultadoria às empresas e entidades para-empresariais da região. Inclusivamente alguns dos seus investigadores, de forma individual ou em conjunto QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES 5 O IASP - International Association of Science Parks elenca, por ordem decrescente de importância, as principais razões apontadas pelas empresas quando optam por se localizar num PCT: prestígio e imagem do parque; proximidade e cooperação com universidades e outros centros de I&D; localização geográfica (proximidade a importantes vias de comunicação); apoio e presença institucionais; presença de empresas âncora; acesso aos mercados; e, a existência de procura e clientes na área (IASP, 2012). e que possui duas incubadoras, uma em Braga e outra em Viana do Castelo; a Ideia Atlântico - Centro de Negócios e Incubadora de Empresas, de iniciativa privada e também localizado em Braga, e o Centro de Incubação de Barcelos, resultante de uma parceria entre a ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários e da autarquia de local. Em Vila Nova de Famalicão existe o CAR IDT Centro de Alto Rendimento de I&DT, que foi promovido pelo CITEVE para incubar iniciativas empresariais que apostem em atividades de I&D como base para o desenvolvimento dos seus negócios. | 45 46 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 3.Competitividade territorial do Quadrilátero 3.1. O TECIDO EMPRESARIAL O tecido empresarial dos conce- tor transformador destacam ainda, lhos que integram o Quadrilátero é pela sua contribuição para a forma- eminentemente industrial. O VAB ção do VAB, o comércio por grosso das empresas transformadoras re- e a retalho e o setor da construção presentava, em 2011, praticamente civil (Figura 22). Os setores de média metade do VAB empresarial nesse e alta tecnologia contribuem ainda território (47,14%). Para além do se- relativamente pouco para a forma- QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES ção do VAB do território. Figura 22 - Repartição setorial do VAB das empresas do Quadrilátero, em % do total (2011) Fonte: PORDATA O peso da indústria transformadora tecido empresarial do Quadrilátero No ano de 2010, as empresas com é relativamente desigual entre os era constituído por aproximadamen- sede no território eram responsáveis vários concelhos. Nos de Guimarães te 58 mil empresas, das quais 34% por 1.157.300 de euros de volume e Vila Nova de Famalicão a indústria se situavam em Braga, 25% em de negócios, o que representa 5% transformadora é responsável por Guimarães, 21% em Vila Nova de Fa- do volume de negócios nacional 52% e 65% do VAB total, respe- malicão e 20% em Barcelos. No que e 17% do volume de negócios da tivamente, enquanto em Braga respeita à densidade empresarial, região Norte. O tecido empresarial não ultrapassa os 27%. Apesar da medida em termos de empresas por do Quadrilátero é constituído predo- importância das empresas ligadas cada 1.000 habitantes, Braga apre- minantemente por micro empresas às Tecnologias de Informação e senta 181,5 empresas, Guimarães e pequenas e médias empresas Comunicação ser ainda relativamen- 158,1, Vila Nova de Famalicão 133,8 (PME). A dimensão das empresas te marginal, também se observam e Barcelos 98,4. Entre 2004 e 2008, tem reflexo no número de traba- diferenças interconcelhias conside- observa-se um crescimento do nú- lhadores ao serviço. Devido ao seu ráveis. O peso do VAB deste setor no mero de empresas, tanto em termos reduzido tamanho, a grande maioria concelho de Braga é de 3%, enquan- agregados como em termos conce- das empresas localizadas nos quatro to nos restantes municípios a sua lhios (Figura 23). A partir de 2008, concelhos tem menos de 10 traba- importância, medida nos mesmos assiste-se a um ligeiro decréscimo lhadores (95% em Braga, 94% em termos, não ultrapassou os 0,5%. no número de empresas, que deverá Vila Nova de Famalicão, 93% em Em outros setores de elevado valor ser maioritariamente explicado pela Barcelos e 92% em Guimarães). Os acrescentado, tais como as ativida- grave crise que atravessa a econo- trabalhadores ao serviço destas des de consultoria científica e téc- mia portuguesa desde esse ano. empresas representam 5% do total nica e as relacionadas com a saúde humana e o apoio social, observam-se também diferenças significativas entre Braga e os restantes concelhos que integram o Quadrilátero. De acordo com o INE, em 2010 o Figura 23 - Evolução do número de empresas no Quadrilátero (20042010) Fonte: INE nacional e 18% do da região Norte. Do ponto de vista da sua identidade jurídica, uma elevada percentagem das empresas é constituída por empresários em nome individual e trabalhadores independentes. | 47 48 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Concretamente, estes representam principais produções agrícolas as- 68% das empresas em Barcelos, sentam no cultivo de cereais, forra- 66% em Braga, 65% em Vila Nova gens e vinha, assim como na cultura de Famalicão e 62% em Guimarães. do pinheiro e do eucalipto e na produção de leite. Ao nível industrial, as atividades exercidas relacionam-se fundamentalmente com a indústria 3.1.1. SETORES DE têxtil e do vestuário, a indústria do ATIVIDADE E TECIDO calçado e a indústria da construção EMPRESARIAL POR civil, as quais geram cerca de 47% CONCELHO do volume de negócios total.6 A mais representativa de todas é a indústria No Quadrilátero, as atividades em- têxtil e do vestuário, a qual absor- presariais, que no passado estive- ve 33% do volume de negócios do ram intimamente ligadas à agricul- concelho. tura e a outras atividades do setor primário, têm vindo reorientar-se Tabela 3 - Setores dominantes do progressivamente para as indústrias tecido empresarial de Barcelos transformadoras e os serviços. Como (2010) referido, a indústria têxtil e do ves- Fonte: IRN tuário e o setor da construção civil assumem uma importância fulcral INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS % VOLUME DE NEGÓCIOS NO TOTAL Têxtil e vestuário 1.355 13.955 796.387.637,09 33% Construção civil 815 6.053 226.204.940,49 11% Calçado 31 1.287 81.705.215,67 3% em todos os concelhos do Quadrilátero. Em termos tendenciais, observa-se que o setor das tecnologias de informação e comunicação está progressivamente a ganhar importância, quer em termos de volume de negócios e número de empresas quer em termos de emprego. O município de Barcelos baseia as suas atividades económicas essencialmente no setor secundário. As As principais indústrias do concelho concentram aproximadamente 39% das empresas do município e 62% do emprego. A indústria têxtil e do vestuário é responsável por 40% do emprego em Barcelos, enquanto os setores da construção civil e de produção de calçado representam 18% e 4% do emprego concelhio, respetivamente. 6 Dados do IRN - Instituto dos Registos e Notariado, relativos a ano de 2010. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Tabela 4 - Maiores empresas de Barcelos (2011) Fonte: Diário Económico A importância das principais indústrias também se manifesta no vetor da internacionalização. A maioria das empresas internacionalizadas POSIÇÃO RANKING NACIONAL VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€) Gabor Portugal - Indústria de Calçado, Lda. 374 81.973.160 80.921.122 Alexandre Barbosa Borges, S.A. 534 59.426.061 n.d. Águas do Noroeste, S.A. 780 42.016.939 n.d. 992 33.745.038 n.d. Petcom - Comércio de Combustíveis e Lubrificantes, Lda zadas (Figura 24). Quatro das 1.000 maiores empresas de Portugal estão localizadas neste município.7 As mais relevantes, em termos de volume de negócios, são a Gabor Portugal - Indústria de Calçado, Lda. (374ª posição), que desenvolve a sua atividade na indústria do calçado e a Alexandre Barbosa Borges, S.A. (534ª posição), que atua no setor da construção civil (Tabela 4). do concelho de Barcelos opera Figura 24 - Empresas nestas indústrias (cerca de 39% das internacionalizadas, por setores empresas), sendo notória a importância da indústria têxtil e do vestuário, a qual é responsável por 28% das exportações. Nos últimos anos, (2006-2010) Fonte: IRN é de notar o decréscimo do número de empresas internacionalizadas, De acordo com a APICCAPS,8 Barce- nomeadamente na indústria têxtil e los é o 5º concelho no ranking portu- do vestuário. O setor da construção, guês de exportações de calçado e o com uma importância historica- sexto no de trabalhadores do setor. mente forte, tem experimentado 7 Diário Económico nº 5569 - 10 dezembro de 2012. mais representativos, em Barcelos também uma variação negativa no número de empresas internacionali- 8 APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos | 49 50 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Nos últimos anos tem-se assistido a sendo cada vez mais uma atividade composto por 379 empresas, que um forte crescimento das exporta- para autoconsumo. A sua indústria empregavam 6.351 trabalhadores, ções em valor. Em 2005, as expor- apresenta-se cada vez mais diversi- atingindo um volume de negócios tações de calçado do concelho eram ficada, destacando-se as empresas de 933 milhões de euros. A indús- de 45 milhões euros e passaram a ligadas à tecnologia e à eletrónica, tria têxtil e do vestuário tem uma ser de 74 milhões euros, em 2010. à indústria metalúrgica e à constru- presença relativamente modesta, Esta variação representou um cres- ção civil. Com menor presença, mas cimento do valor das exportações de da mesma forma representativos, 65%, num período de cinco anos. destacam-se o setor têxtil e do O concelho de Braga apresenta uma estrutura produtiva relativamente diferente dos outros concelhos em análise. A sua atividade económica distribui-se pelos setores vestuário. No total, estas indústrias representavam, em 2010, 24% das empresas do concelho, 62% do volume de negócios e ocupavam 50% da população ativa. do comércio e os serviços, do ensino Tabela 5 - Setores dominantes do e a investigação, da construção civil, tecido empresarial de Braga (2010) da informática e as novas tecnolo- Fonte: IRN com um peso de 2% no volume de negócios total do concelho. As atividades ligadas à informática e às novas tecnologias têm vindo a ganhar importância no concelho. O setor da eletrónica9 tem crescido gradualmente a uma taxa média de 7% por ano. gias, do turismo, e por vários ramos INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS VOLUME DE NEGÓCIOS NO TOTAL Construção civil 1.404 10.191 1.409.332.560,41 27% 379 6.351 933.695.119,04 18% Eletrónica 16 2.115 598.550.663,21 11% Saúde humana 339 3.053 186.816.600,53 4% Têxtil e vestuário 269 3.224 131.464.233,15 2% Metalúrgica e Metalomecânica da indústria e do artesanato. Como consequência da sua expansão urbana e da terciarização da economia local, o setor primário tem atualmente uma presença testemunhal. As empresas ligadas à vinicultura, à floricultura e à floresta e à extração de pedra foram sendo substituídas por empresas ligadas ao setor terciário. A agricultura tradicional está em franco declínio, O setor da construção civil ocupa um lugar de destaque, integrando 1.404 empresas, com um volume de negócios agregado de 1.409 milhões de euros, correspondente a 27% do volume de negócios total do concelho. O setor conta com 10.191 trabalhadores, destacando-se também nesta dimensão das restantes indústrias. O setor da metalúrgica e metalomecânica, por sua vez, é QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES 9 Inclui a fabricação de equipamentos informáticos, equipamento para comunicações e produtos eletrónicos e óticos (CAE Rev. 3 - Divisão 26) Tabela 6 - Maiores empresas de Braga (2011) Fonte: Diário Económico POSIÇÃO RANKING NACIONAL VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€) Bosch Car Multimedia Portugal, S.A. 32 651.264.100 118.011.824 Ilídio Mota - Petróleos e Derivados, Lda. 71 351.054.834 n.d. Casais - Engenharia e Construção, S.A. 254 116.343.216 12.652.167 257 114.764.324 n.d. Domingos da Silva Teixeira, S.A. 269 111.530.154 199.885 Auto - Sueco, Lda. 371 82.419.728 n.d. Carclasse - Comércio de Automóveis, S.A. 403 76.279.020 916.987 Navarra - Extrusão Alumínio, S.A. 555 56.909.672 27.531.290 Groupfix N - Engenharia e Serviços, S.A. 683 46.971.299 n.d. Arlindo Correia & Filhos, S.A 723 45.215.118 n.d. Escala Braga - Sociedade Gestora do Estabelecimento, S.A. No ranking das maiores empresas Portuguesas encontram-se várias empresas do concelho (Tabela 5). Por volume de faturação as mais relevantes são a Bosch Car Multimedia Portugal, S.A., na 32ª posição, e a Ilídio Mota - Petróleos e Derivados, Lda., na 71ª posição. Neste grupo significativo de empresas ligadas ao setor da construção civil. Figura 25 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Braga (2006-2010) Fonte: IRN destacam-se ainda um número | 51 52 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO As empresas internacionaliza- dos. Entre os principais produtos so- cimo no número de empresas e no das distribuem-se pelos vários bressaem a vinha, a batata, o milho e número de trabalhadores ao serviço setores de atividade do conce- o feijão, além de produtos pecuários nos últimos anos, em 2010, o setor lho. A proporção de empresas como o leite e a carne, sendo estas obteve um volume de negócios internacionalizadas é bastante as principais fontes de rendimento de cerca de mil milhões de euros, reduzida. Os setores com maior das explorações agrícolas. O setor representativos de 30% do total do percentagem de empresas secundário é o mais importante em concelho. Em Guimarães a indústria termos setoriais. Muitas das fregue- do calçado também tem uma pre- sias do concelho são os espaços com sença muito destacada. Segundo a maiores índices de industrialização APICCAPS, o concelho de Guimarães (8,2%). Convém destacar ainda, no âmbito do Quadrilátero. é o 3º maior exportador de calçado, nesta matéria, que a indústria Tabela 7 - Setores dominantes do têxtil e do vestuário, apesar de tecido empresarial de Guimarães ser responsável por apenas 2% (2010) do volume de negócios con- Fonte: IRN internacionalizadas são o da metalúrgica e metalomecânica (8,4%) e o da construção civil empregador do país neste setor. Ousetorial Vimaranense são os setores da construção civil, da metalome- internacionalizado do concelho. EMPRESAS Santa Maria da Feira, e o 4º maior tros setores relevantes na estrutura celhio, é o terceiro setor mais INDÚSTRIA em valor, atrás de Felgueiras e de TRABALHADORES VOLUME DE VOLUME DE NEGÓCIOS NO TOTAL NEGÓCIOS Têxtil e vestuário 1.716 19.484 1.109.780.639,70 30% Calçado 266 4.342 216.440.149,95 6% Construção civil 830 3.663 233.242.802,29 6% 208 3.193 239.408.413,72 6% Saúde humana 190 2.436 119.299.435,60 3% Alimentar 69 1.271 60.245.952,38 2% Metalúrgica e Metalomecânica Em Guimarães, apesar da riqueza do solo para o desenvolvimento de atividades agrícolas e das boas condições para a pecuária, as atividades do setor primário baseiam-se no trabalho intensivo das famílias e destinam-se fundamentalmente ao autoconsumo nesses agrega- À semelhança do que acontece em Barcelos, em Guimarães a indústria têxtil e do vestuário é também a mais relevante na estrutura setorial do concelho, de acordo com os vários indicadores comummente utilizados. 19% das empresas Vimaranenses pertencem ao setor, o qual é responsável por 37% do emprego no concelho. Apesar do ligeiro decrés- QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES cânica, da saúde humana e o setor alimentar (Tabela 7). O conjunto desses setores representa 36% das empresas, 52% do volume de negócios e 65% dos trabalhadores ao serviço no concelho. Tabela 8 - Maiores empresas de Guimarães (2011) Fonte: Diário Económico POSIÇÃO RANKING VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€) 370 82.524.886 20.802.282 432 71.705.052 70.906.273 Amtrol - Alfa Metalomecânica, S.A. 542 58.486.290 55.120.991 Lameirinho - Indústria Têxtil, S.A. 605 52.895.041 47.785.692 702 46.124.883 29.691.256 711 45.783.183 1.339.234 930 36.081.295 31.291.315 935 35.971.229 2.595.501 NACIONAL Mundifios - Comércio de Fios, S.A. Polopiqué - Comércio e Indústria de Confecções, S.A António de Almeida & Filhos - Têxteis, S.A. A. Rodrigues Correia Lopes, Bebidas e Alimentação, S.A Somelos - Tecidos, S.A. Filasa - Fiação de Armando da Silva Antunes, S.A. Guimarães conta com um conjunto alargado de empresas entre as maiores do país (Tabela 8). Das oito empresas incluídas no ranking das 1.000 maiores, seis estão ligadas à indústria têxtil e do vestuário. As duas maiores, com uma faturação conjunta superior a 150 milhões de euros, são a Mundifios - Comércio de Fios, S.A. e a Polopiqué - Comércio e Indústria de Confecções, S.A. É também importante a Amtrol - Alfa Metalomecânica, S.A., pelo que contribui em termos de diversificação setorial e internacionalização. | 53 54 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 26 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Guimarães (2006-2010) Fonte: IRN Aproximadamente 18% das empresas de Guimarães desenvolvem atividades em mercados externos. Uma proporção muito significativa das empresas internacionalizadas pertence à indústria têxtil e do vestuário (Figura 26). Nos últimos anos tem havido variações no número de empresas com atividade internacional. Até 2008 registou-se um aumento no número de empresas com atividade internacional em todos os setores, com exceção da metalúrgica e a metalomecânica. A partir de 2009 houve uma ligeira diminuição nas atividades internacionais das empresas Vimaranenses em quase todos os setores. No concelho de Vila Nova de Famalicão o setor industrial tem um peso muito significativo. Contudo, em algumas freguesias do concelho o setor primário ainda tem alguma importância. Nestas, as culturas predominantes são a vinha, o milho, o feijão, os produtos hortícolas e as árvores de fruto, assim como a criação de pecuária. Também neste concelho, a indústria têxtil e do vestuário é preponderante. Esta indústria é responsável por aproximadamente 16% do volume de negócios total do concelho (628 milhões de euros) e emprega cerca de 30% dos trabalhadores (Tabela 9). A construção civil assume também um papel importante, representando 14% do volume de negócios concelhio (570 milhões de euros) e ocupando 12% da mão-de-obra residente. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Tabela 9 - Setores dominantes do tecido empresarial de Vila Nova de Famalicão (2010) Fonte: IRN INDÚSTRIA EMPRESAS TRABALHADORES VOLUME DE NEGÓCIOS (€) PESO NO VN TOTAL Borracha e Plásticos 39 1.919 629.702.054,83 16% Têxtil e vestuário 1.094 12.382 628.016.747,70 16% Construção civil 879 4.887 570.701.717,56 14% 271 3.676 301.770.157,43 8% Alimentar 147 2.686 286.078.832,21 7% Eletrónica 14 832 71.834.880,34 2% Metalúrgica e Metalomecânica No caso de Vila Nova de Famalicão, a indústria da borracha e do plástico é a primeira em termos de faturação. Contudo, o setor está integralmente concentrado numa única empresa (Continental Mabor). Em 2010, as empresas desta indústria obtiveram um volume de negócios de 629 milhões de euros, superior ao da indústria têxtil e do vestuário. Adicionalmente, em Vila Nova de Famalicão, a indústria alimentar, a metalúrgica e metalomecânica, a eletrónica e a do automóvel são também muito importantes, tanto do ponto de vista do número de empresas, como da produção e da mão-de-obra empregue. | 55 56 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Tabela 10 - Maiores empresas de Vila Nova de Famalicão (2011) Fonte: Diário Económico POSIÇÃO RANKING VOLUME DE NEGÓCIOS (€) EXPORTAÇÕES (€) NACIONAL Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A. 29 744.468.528 724.328.187 Construções Gabriel A.S. Couto, S.A. 308 97.828.248 478.931 Coindu - Componentes para a Indústria Automóvel, S.A. 384 80.524.610 78.535.942 Indústria Têxtil do Ave, S.A. 411 75.070.473 40.946.020 Irmãos Vila Nova, S.A. 446 69.683.566 36.068.754 ICM - Indústrias de Carnes do Minho, S.A. 544 58.155.992 21.127.701 Riopele Textêis, S.A. 562 56.340.085 45.042.077 Continental Pneus (Portugal), S.A. 582 54.309.038 51.617 Empresa de Construções Amândio Carvalho, S.A. 620 51.835.109 72.860 TMG - Tecidos Plastificados e outros Revestimentos p/a Indústria Automóvel, S.A. 628 51.264.042 48.301.925 Alberto Couto Alves, S.A. 667 48.290.608 n.d. Carnes Campicarn, S.A. 752 43.602.997 4.738.405 Cofemel - Sociedade de Vestuário, S.A. 832 39.541.122 97.756 SLS salsa - Comércio e Difusão de Vestuário, S.A. 837 39.273.947 n.d. Ricon Industrial - Produção de Vestuário, S.A. 884 37.767.053 31.525.537 Leica - Aparelhos Ópticos de Precisão, S.A. 887 37.691.460 37.526.944 Primor Charcutaria - Prima, S.A. 924 36.266.262 3.488.561 QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES No ranking nacional das 1.000 maiores empresas existem 17 empresas localizadas no concelho de Vila Nova de Famalicão (Tabela 10). Entre elas destaca-se a Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A., posicionada no 29º lugar do ranking nacional, com exportações que rondam os 724 milhões de euros. Figura 27 - Empresas internacionalizadas, por setores mais representativos, em Famalicão (2006-2010) Fonte: IRN Em Vila Nova de Famalicão existem 1.250 empresas internacionalizadas, das quais 21% pertencem à indústria têxtil e do vestuário. As empresas dos restantes setores representam valores inferiores a 5%. Nos últimos anos, observa-se uma queda do número de empresas com atividade internacional, especialmente a partir de 2009 (Figura 27). Em suma, as atividades relacionadas com a indústria têxtil e do vestuário, a construção civil, a metalúrgica e metalomecânica, a eletrónica, a alimentar, o calçado e a saúde humana são de elevada importância no Quadrilátero, devido ao seu valor acrescentado para a economia regional e nacional, ao número de trabalhadores empregues e a sua importância no comércio internacional (Tabela 11). Tabela 11 - Indústrias relevantes por município do Quadrilátero Fonte: Elaboração própria POSIÇÃO BARCELOS GUIMARÃES FAMALICÃO BRAGA 1º Têxtil e vestuário Têxtil e vestuário Borracha e Plásticos Construção civil 2º Construção civil Calçado Têxtil e vestuário 3º Calçado Construção civil Construção civil 4º - Metalúrgica e metalome- Metalúrgica e metalomecâ- cânica nica 5º - Saúde humana Alimentar Têxtil e vestuário 6º - Alimentar Eletrónica - Metalúrgica e metalomecânica Eletrónica Saúde humana | 57 58 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Para além dos setores tradicionais, os setores da eletrónica e 3.1.2. MERCADOS das Tecnologias de Informação INTERNACIONAIS DE e Comunicação merecem algum REFERÊNCIA destaque. O primeiro tem alcançado alguma relevância nos concelhos de Vila Nova de Famalicão e Braga. O segundo apresenta elevadas taxas de crescimento em todos os municípios. Entre 2006 e 2010, o volume de negócios do setor, nos quatro municípios, registou um crescimento de 40%, o que equivale a uma taxa de crescimento média anual de 9%, aproximadamente. Tabela 12 - Crescimento do setor das TIC no Quadrilátero (2006-2010) Fonte: IRN externo, com um peso de 12%, com as expedições de bens a aumentar cerca de 17% por ano. França compra veículos e outro material de O valor das exportações nacionais, em 2011, foi consideravelmente superior ao registado nos dois anos anteriores. Nesse ano, o valor das exportações portuguesas rondou os 43 mil milhões de euros. Os principais mercados exteriores foram Espanha, Alemanha e França. No total, estes três países, representaram 51% do valor total de saídas de bens. Espanha mantém-se como o principal cliente externo, com um peso de 25%, ainda que nos últimos anos se transporte, máquinas e aparelhos e plásticos e borrachas. O mercado angolano foi o quarto maior mercado externo com um peso de 5,4%, tendo aumentado significativamente o seu peso em comparação com o ano 2010 (+22%), nomeadamente pelo crescimento das vendas de produtos alimentares, agrícolas e de metais comuns. O Reino Unido ocupa o quinto lugar no ranking dos clientes das empresas portuguesas, com um peso de 5%. Por seu lado, os Países Baixos, Itália e Estados Unidos ocuparam as VOLUME DE NEGÓCIOS EM 2010 PESO NO VOLUME DE NEGÓCIOS TOTAL EMPRESAS Barcelos 2.335.571,24 0,10% 22 179% 29% Braga 43.888.561,39 0,83% 178 38% 8% Guimarães 9.569.771,75 0,26% 67 36% 8% Famalicão 2.851.177,39 0,07% 50 40% 9% MUNICÍPIO 2006-2010 (%) O maior crescimento do setor, em tenha registado uma redução do seu termos de volume de negócios, peso relativo. Por sua vez, a Alema- verificou-se no concelho de Barcelos nha contabiliza o maior aumento em (Tabela 12). Os restantes municípios valor, com um acréscimo anual de apresentam taxas de crescimento 20%, principalmente em resultado mais baixas. O volume de negócios da expedição de veículos e outro no concelho de Braga rondou os 44 material de transporte. Mantém- milhões de euros (bastante superior -se, desta forma, como segundo ao dos restantes concelhos). CRESCIMENTO maior cliente, com um peso de 14%. França é o terceiro maior cliente QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL seguintes posições cimeiras, com pesos de 3,9%, 3,7% e 3,5%, respetivamente. Deve-se ainda destacar o peso relativo que a Bélgica e o Brasil têm assumido como destino das exportações nacionais, reflexo do acréscimo anual registado em 2011 (+37% e +33%, respetivamente). A região Norte domina as transações com o exterior, sendo responsável, em 2011, por 37% das exportações nacionais. Segue-se Lisboa, com um peso de 33% (Figura 28). Na comparação com o ano precedente, o Norte perdeu peso (-0,3 p.p.), enquanto Lisboa o incrementou em 3,1 p.p. Em conjunto, estas duas NUT II foram responsáveis por 70,4% das exportações, em 2011. (60% do total). Relativamente aos países de destino das exportações, o Norte e o Centro são os territórios que mais se assemelham ao padrão nacional (Gráfico 24). Em Lisboa, Espanha é o principal destino das vendas ao exterior, seguida de Alemanha e de Angola, muito devido às expedições de com- Figura 28 - Exportações por regiões bustíveis minerais. Nas restantes NUT II (2011) NUT II, Espanha é o principal merca- Fonte: INE (2011) do, exceto na Região Autónoma da Madeira. No Alentejo os mercados As empresas sedeadas no Centro e no Alentejo foram responsáveis por 19% e 6% do total das expedições de bens em 2011, respetivamente. As Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores e o Algarve têm uma importância marginal em matéria de comércio externo, dado que francês e holandês têm uma importância considerável. No Algarve, a China e Angola têm vindo a ganhar importância como compradores. A Região Autónoma dos Açores tem entre os seus três principais parceiros comerciais o Gana e a Itália. representam, em conjunto, menos de 1% das exportações nacionais. Apesar disto, convém assinalar que a Região Autónoma da Madeira é na que as transações extracomunitárias têm um peso mais elevado | 59 60 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 29 - Comércio Internacional: Saída de bens por país de destino e por NUT II (2011) Fonte: INE Tabela 13 - Comércio internacional português de serviços (2011) Fonte: AICEP- Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES BENS TOTAL % TOTAL TOTAL % TOTAL TOTAL 19.158.930 100,00% 11.461.954 100,0% Viagens e turismo 8.145.557 43% 2.973.567 26% Transportes 5.184.460 27% 3.401.395 30% Outros serviços fornecidos por empresas 3.585.652 19% 2.406.798 21% Serviços de construção 570.743 3% 116.804 1% Serviços de comunicação 472.192 3% 419.850 4% Serviços de informação e de informática 377.121 2% 440.305 4% Serviços de natureza pessoal, cultural e recreativa 239.584 1% 478.571 4% Operações governamentais 205.659 1% 91.160 0,8% Serviços financeiros 227.349 1% 521.700 5% Seguros 107.017 0,6% 224.723 2% Direitos de utilização 43.596 0,2% 387.082 3% UE 13.692.871 72% 8.067.989 70% Resto do Mundo 5.466.059 29% 3.393.965 30% MERCADOS QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES No âmbito dos serviços, o valor serviços (Tabela 14). Destaca-se das exportações portuguesas, em ainda o facto de, entre os principais 2011, foi de 19 mil milhões de euros, destinos, existirem três países de ultrapassando o valor dos serviços fora da UE: Angola, Brasil e EUA. importados, que equivaliam a 11 mil milhões de euros. As viagens e o turismo são os serviços mais transacionados internacionalmente (43% do total), seguidos dos serviços de transporte (27%) e da categoria de outros serviços fornecidos por empresas (19%) (Tabela 13). Por sua vez, serviços de construção, comunicação, informação e informática, de natureza pessoal, cultural e recreativa, entre outros, apresentam vendas exteriores pouco significativas, perfazendo, no seu conjunto, cerca de 12% das exportações de serviços. A maioria destas vendas de serviços concentra-se no mercado europeu (cerca de 70%). O Reino Unido (15%), a França (14%) e a Espanha (13%) são os principais Ao nível regional, os municípios em análise, do Cávado e do Ave, apresentam uma taxa de cobertura das Nas importações, de forma similar às importações pelas exportações exportações, o capítulo mais impor- superior à média nacional (72%). tante são os serviços de transporte Em 2010, as exportações do Cávado (30%), seguidos das viagens e e do Ave representaram, respeti- turismo (26%) e dos outros serviços vamente, 166% e 161% das suas fornecidos por empresas (21%). importações. Apesar disto, a inten- Cerca de 70% das importações sidade exportadora destas regiões são oriundas da UE. Por países, as apresenta-se bastante diferente, aquisições de serviços são realiza- tendo sofrido várias oscilações das maioritariamente em Espanha ao longo dos anos (Figura 30). O (24%), no Reino Unido (11%) e em Ave apresenta valores geralmente França (10%) (Tabela 14). O saldo acima dos 50%, tendo sofrido um das transações de serviços com pequeno decréscimo em 2009, e Espanha e a Suíça apresentam um registando uma intensidade máxima saldo negativo. de exportação de 63% do PIB, em Tabela 14 - Comércio internacional de serviços por país (2011) Fonte: AICEP- Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal 1998. Por sua vez, o Cávado manteve valores abaixo dos 50% ao longo da série, tendo vindo a decrescer ao logo dos anos. mercados para a exportação de EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO TOTAL 2011 % TOTAL TOTAL 2011 % TOTAL Reino Unido 2.778.127 15% 1.218.639 11% 1.559.488 França 2.685.754 14% 1.097.741 10% 1.588.013 Espanha 2.529.201 13% 2.720.462 24% -191.261 Alemanha 1.891.657 10% 969.000 9% 922.657 Angola 1.084.988 6% 134.703 1% 950.285 Brasil 998.468 5% 369.759 3% 628.709 EUA 893.699 5% 668.841 6% 224.858 Países Baixos 809.939 4% 515.620 5% 294.319 Suíça 689.180 4% 965.348 8% -276.168 Bélgica 574.469 3% 351.645 3% 222.824 | 61 62 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 30 - Intensidade exportadora das empresas NUT III Cávado e Ave (1995-2011) Fonte: INE À semelhança da intensidade exportadora, o grau de abertura observado nas NUT III do Quadrilátero, em 2010, é bastante diverso. Enquanto o grau de abertura do Cávado é bastante superior à média nacional (54% face a 22%), no Ave os valores encontram-se muito próximos (29% face a 22%). As empresas localizadas no Quadrilátero são responsáveis por cerca de 9% das exportações Portuguesas (à volta de 4.045 milhões de euros) e 4% das importações nacionais (aproximadamente 2 mil milhões de euros). 25% das exportações do Norte são realizadas por empresas localizadas nos concelhos que integram o Quadrilátero. Os países da UE são os parceiros comerciais de eleição das empresas localizadas neste território, representando 87% das suas exportações e 71% das suas importações (Tabela 15). Tabela 15 - Comércio internacional de mercadorias no Quadrilátero de sede dos operadores (2011) Fonte: INE UNIDADE: MILHARES DE EUROS EXPORTAÇÕES TOTAL IMPORTAÇÕES COMÉRCIO COMÉRCIO INTRACOMU- EXTRACOMU- NITÁRIO NITÁRIO TOTAL COMÉRCIO INTRA- COMÉRCIO EXTRA- COMUNITÁRIO COMUNITÁRIO BARCELOS 597.353 554.260 43.093 208.038 183.660 24.378 BRAGA 933.154 851.037 82.117 672.063 538.340 133.723 GUIMARÃES 1.077.165 892.300 184.865 590.519 324-.197 266.322 FAMALICÃO 1.437.546 1.204.629 232.917 856.018 615.501 240.517 QUADRILÁTERO 4.045.218 3.502.226 542.992 2.326.638 1.337.501 664.940 QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES No Quadrilátero, os principais mer- exportações do concelho de Barce- das expedições, respetivamente. cados de destino das exportações, los, com uma importância relativa em 2011, foram Alemanha, Espa- de 3%. A Suécia apresenta um peso Os setores tradicionais ainda assu- nha, França e o Reino Unido (Figura relativo de 3% e a Dinamarca de 1%. 31). Estes quatro países de destino representam 65% das exportações dos quatro concelhos, assemelhando-se ao que acontece ao nível nacional. A quota nas exportações Famalicenses da Suécia é ainda maior (4%). mem uma importância fulcral nas exportações do Quadrilátero. Em 2011, os principais produtos exportados foram os materiais têxteis, o Neste concelho, a República Checa material de transporte e as máqui- apresenta uma quota bastante nas e aparelhos, que no conjunto similar (4%). representaram 76% do total das Entre os dez principais mercados de vendas exteriores do Quadrilátero (Figura 33). Figura 31 - Principais países de destino das exportações do Quadrilátero (2011) Fonte: INE A Alemanha lidera as expedições em Barcelos, Braga e Vila Nova de Famalicão, seguindo-se a Espanha, a França e o Reino Unido (Figura 32). exportação das empresas locali- Por sua vez, as expedições efetua- zadas em Braga, Guimarães e Vila das por empresas de Guimarães têm Nova de Famalicão estão dois países como principal destino a Espanha, extracomunitários: Angola e os seguindo-se a França, o Reino Unido Estados Unidos. O mercado angola- e a Alemanha. A Bélgica, a Itália e os no apresenta-se relevante para as Países Baixos assumem-se igualmente como importantes destinos das exportações, contudo os seus níveis de importância diferem de concelho para concelho. Figura 32 - Principais países nas exportações do Quadrilátero por concelho (2011) Fonte: INE expedições efetuadas por Braga e Guimarães, recebendo 5% e 2% das exportações, respetivamente. Por sua vez, o mercado norte-americano mostra-se mais atrativo para as em- A Tunísia surge entre os dez prin- presas de Guimarães e Vila Nova de cipais mercados de destino das Famalicão, concentrando 6% e 4% | 63 64 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Figura 33 - Principais grupos de produtos exportados pelos municípios do Quadrilátero (2011) Fonte: INE No concelho de Barcelos são exportadas essencialmente matérias-primas (74%), seguindo-se de calçado (14%) e, em menor medida, de plásticos e borrachas (3%) (Tabela 16). Estes três produtos representam 91% dos bens exportados pelo concelho. Tabela 16 - Principais grupos de produtos exportados de Barcelos (2011) Fonte: INE GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES (%) Materiais têxteis 440.372.702,00 74% Calçado 85.134.929,00 14% Plásticos e borracha 19.949.268,00 3% 13.159.332,00 2% Animais Vivos e produtos do Reino animal 6.158.750,00 1% Outros produtos 32.459.169,00 5% Obras de pedra e matérias semelhantes, produtos cerâmicos e vidro As exportações efetuadas por empresas bracarenses incluem-se maioritariamente na categoria de máquinas e aparelhos (64%), o qual confirma a importância da indústria eletrónica neste município (Tabela 17). O segundo grupo de produtos mais vendidos no exterior são os materiais têxteis (13%), dos quais, uma grande proporção, estão relacionados com o vestuário e os seus acessórios. Pode-se constatar ainda a importância dos metais comuns nas exportações deste concelho (11%). QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Tabela 17 - Principais grupos de produtos exportados de Braga (2011) Fonte: INE GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES (%) Máquinas e aparelhos 593.831.452,00 64% Materiais têxteis 116.653.338,00 13% Metais comuns 104.092.353,00 11% Pérolas, pedras e metais preciosos e outros 30.732.828,00 3% Material de transporte 26.875.422,00 3% Outros produtos 60.968.773,00 7% Tabela 18 - Principais grupos de produtos exportados de Guimarães (2011) Fonte: INE GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES Materiais Têxteis 713.242.319,00 66% Calçado 161.856.477,00 15% Metais Comuns 70.933.718,00 7% Máquinas e Aparelhos 63.843.655,00 6% Madeira e Cortiça 12.663.472,00 1% Outros Produtos 54.624.872,00 5% As exportações de Guimarães pertencem à categoria de matérias-primas e suas obras, as quais envolvem dois terços das vendas totais ao exterior (66%), seguindo-se do calçado (15%) e dos metais comuns (7%) (Tabela 18). Estes dados confirmam a relevância da indústria têxtil e do vestuário, do calçado e da metalúrgica e metalomecânica na atividade económica do município. O padrão das vendas ao exterior em Vila Nova de Famalicão assume contornos similares aos dos restantes municípios (Tabela 19). Este concelho exporta, fundamentalmente, material de transporte (50%), matérias-primas (25%) e, em menor medida, máquinas e aparelhos (7%). | 65 66 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Tabela 19 - Principais grupos de produtos exportados de Famalicão (2011) Fonte: INE GRUPO DE PRODUTO VALOR DAS EXPORTAÇÕES (€) PESO NAS EXPORTAÇÕES Plásticos e Borracha 711.239.515,00 50% Materiais Têxteis 360.256.086,00 25% Máquinas e Aparelhos 105.836.042,00 7% Mercadorias e Produtos diversos 88.290.675,00 6% Animais Vivos e Produtos do Reino Animal 38.007.884,00 3% Outros Produtos 133.902.258,00 9% Os mercados mais relevantes em cada indústria constam da Tabela 20. No caso da indústria têxtil e do vestuário (têxteis-lar, vestuário e o têxtil) os principais mercados de exportação são Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e os EUA. Por sua vez, a indústria alimentar tem como principais clientes Espanha, Angola, França e o Reino Unido. Já o setor automóvel, que faz parte do setor metalúrgico e metalomecânico, concentra as suas vendas nos mercados alemão, espanhol, francês e inglês. Tabela 20 - Comércio Externo de produtos com origem no Quadrilátero (2011) Fonte: AICEP SETOR CLIENTES (4 PAÍSES MAIS RELEVANTES) FORNECEDORES (4 PAÍSES MAIS RELEVANTES) Têxteis-lar Espanha, França, EUA e Reino Unido Espanha, Índia, Alemanha, China Alimentar Espanha, Angola, França e Reino Unido Espanha, França, Alemanha e Brasil Automóvel Alemanha, Espanha, França e Reino Unido Alemanha, Espanha, França, Itália Vestuário Espanha, França, Alemanha e Reino Unido Espanha, Itália, França e China Calçado França, Alemanha, Holanda e Espanha Espanha, Itália, China, Bélgica Têxtil Espanha, França, Alemanha e Reino Unido Espanha, Itália, França, Alemanha Por sua vez, a indústria alimentar tem como principais clientes a Espanha, a Angola, a França e o Reino Unido. Já o setor automóvel, que faz parte do setor metalúrgico e metalomecânico, remete as suas expedições para o mercado QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES alemão, espanhol, francês e inglês. 3.1.3. CLUSTERS EMPRESARIAIS O conceito de cluster está sujeito a diversas interpretações. A sua classificação depende, em certa medida, das dimensões que se tenham em consideração em cada momento, nomeadamente, as de tipo setorial, institucional, organizacional, entre outras. Em todo caso, é relativamente consensual que os clusters são agrupamentos de empresas, regra geral, situadas relativamente próximas entre si, e que, na maioria dos casos, partilham setor de atividade em sentido lato. A clusterização da atividade económica poderá ser espontânea ou dirigida. Entre os agrupamentos espontâneos encontram-se os distritos industriais e entre os dirigidos os parques de fornecedores. A meio caminho entre ambos estão um conjunto de estruturas nas que, partindo de agrupamentos espontâneos, se promove, mediante políticas públicas de base territorial, o desenvolvimento de empresas relacionadas, com o intuito de promover sinergias, assentes na iteração e na definição de estratégias cooperativas. As vantagens da clusterização derivam dos fluxos de informação sobre mercados, produtos e tecnologia, da existência setores de atividade que integram são aqueles cujo desenvolvimento o cluster. Estas vantagens podem é espontâneo e a apropriação das resultar da acumulação de experiên- vantagens derivadas da concentra- cias, saber-fazer, conhecimentos e ção espacial da atividade é relativa- formas de organização e trabalho, mente inconsciente. Por outro lado, formais ou informais, ou da sua os clusters em sentido estrito que promoção institucional a partir dos são aqueles cujo desenvolvimento é recursos territoriais, potenciando-os dirigido e responde a uma estraté- e orientando-os para a obtenção de gia cooperativa das empresas e de ganhos de competitividade indivi- outros agentes do território. Neste duais ou coletivos. Acresce ainda caso, a apropriação das vantagens que essas vantagens, do ponto de derivadas da concentração espacial vista territorial, não têm porque se e da cooperação entre agentes é concentrar num único setor. Aliás é consciente, e não está necessaria- razoável pensar que o seu desenvol- mente aberta à comunidade. Con- vimento pode envolver mais setores vém não confundir, neste âmbito, de atividade, relacionados de forma direta ou indireta, que podem usufruir de vantagens similares, potenciando ainda mais a competitividade do território em questão. A institucionalização do cluster permite definir estratégias comuns de maneira formal e implementar planos operacionais, setoriais ou transversais, para garantir o seu cumprimento. Os motores da institucionalização do cluster são os Clusters em sentido estrito com as associações setoriais dedicadas à defesa dos interesses de um dado setor de atividade, as quais poderão ou não estabelecer acordos com outras entidades para potenciar algumas dimensões que promovam a competitividade dos seus associados (I&D/Internacionalização). Nestas iniciativas, as empresas não partilham a mesma base territorial e o envolvimento de agentes não variados, ainda que na literatura empresariais costuma ser totalmen- especializada costumam apontar-se te preterido. o desenvolvimento de atividades de Com o intuito de se identificar os I&D e a potenciação da dimensão internacional das empresas. A cooperação institucionalizada através do cluster permite às empresas partilhar custos e obter sinergias de diversa natureza. clusters em sentido lato presentes no território do Quadrilátero, calculou-se o grau de concentração de atividade económica, por ramo de atividade. Para este efeito, utilizou-se como instrumento o quociente de fornecedores e clientes espe- A diferenciação estabelecida per- de localização (QL), que compara cializados e da disponibilidade de mite classificar os clusters em duas o contributo de um determinado recursos humanos em quantidade e grandes categorias. Por um lado, setor de atividade para a atividade com as habilidades requeridas pelos os clusters em sentido lato que económica de um dado território, | 67 68 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO com o contributo setorial, medido De acordo com os resultados, o Qua- existentes nos quatro municípios da mesma forma, num território de drilátero está extremamente espe- que compõem o Quadrilátero, em vá- referência, que normalmente inclui o cializado na fabricação de têxteis. O rios setores, comparando-o depois primeiro. quociente de localização neste caso com a totalidade das empresas a é de 8,22. Praticamente metade nível nacional, em cada setor. Esta dos trabalhadores que, em território medida permitirá perceber qual nacional, participa na atividade de a proporção de empresas de um fabricação de têxteis localiza-se no determinado setor localizado neste Quadrilátero, sendo o concelho de território face ao todo nacional, ob- Guimarães o que concentra maior tendo-se consequentemente uma atividade neste setor. A indústria medida de concentração empresa- do vestuário também apresenta um rial. Os resultados obtidos constam elevado QL neste território, concre- da Tabela 22: Considerando que o território alvo do estudo é o Quadrilátero e que o território de referência é a totalidade do território nacional, este indicador permite identificar as atividades económicas em que o Quadrilátero apresenta uma maior especialização face ao todo nacional. Para o cálculo do QL foram utilizados dados de emprego, desagregados territorial e setorialmente, para o ano de 2009 (último ano para o que existem dados), retirados da base de dados Quadros do Pessoal. Os resultados da análise constam na tabela 21. Tabela 21 - Quociente de localização no Quadrilátero, por setor de atividade (2009) Fonte: cálculos próprios, com base nos Quadros de Pessoal, Ministério da Solidariedade e Segurança Social tamente de 5,36. No ano de 2009, o território do Quadrilátero garantia ocupação laboral a cerca de 32,8% da população empregada neste ramo de atividade, no total do país. Barcelos é o município que mais contribui para esta realidade, dado que representa 38,2% dos empregados totais do Quadrilátero neste setor. Com a finalidade de complementar a análise anterior, foi calculada a densidade empresarial dos setores acima identificados. Desta forma, foi apurado o número de empresas CAE DESCRIÇÃO QL 13 Fabricação de têxteis 8,22 14 Indústria do vestuário 5,36 26 Fabricação de equipamentos informáticos, equipamentos para comunicações e produtos eletrónicos e óticos 4,05 15 Indústria do couro e produtos do couro (inclui o calçado) 2,36 24 Indústrias metalúrgicas de base 2,12 22 Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas 2,00 42 Engenharia Civil (inclui construção) 1,40 25 Fabricação de produtos metálicos, exceto máquinas e equipamentos 1,30 10 Indústrias alimentares 0,98 86 Atividades de saúde humana 0,62 QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Tabela 22 - Proporção das indústrias nomeadamente o setor da fabrica- As iniciativas associativas que se no Quadrilátero em comparação com ção de equipamentos informáticos, identificam a seguir têm, em alguns o território nacional (2009) equipamentos para comunicações e casos, uma intervenção relativa- Fonte: cálculos próprios, com base na produtos eletrónicos e óticos e o de mente tradicional e noutros se- base de dados Amadeus fabricação de artigos de borracha e guem uma abordagem cooperativa de matérias plásticas. muito mais proactiva. A ATP - Associação do Têxtil e Vestuário de CAE DESCRIÇÃO 13 Fabricação de têxteis 8,22 14 Indústria do vestuário 5,36 26 QL Fabricação de equipamentos informáticos, equipamentos para comunicações e produtos eletrónicos e óticos 4,05 15 Indústria do couro e produtos do couro (inclui o calçado) 2,36 24 Indústrias metalúrgicas de base 2,12 22 Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas 2,00 42 Engenharia Civil (inclui construção) 1,40 25 Fabricação de produtos metálicos, exceto máquinas e equipamentos 1,30 10 Indústrias alimentares 0,98 86 Atividades de saúde humana 0,62 A Tabela 22 demonstra, mais uma Apesar da forte concentração em- vez, a predominância do setor do presarial e de atividade económica e têxtil e do vestuário no Quadrilátero. emprego em alguns setores no Qua- Repare-se que, em ambos os casos, drilátero, nenhum destes clusters a região acolhe mais de 40% das empresas ligadas ao setor localizadas em Portugal. As metalúrgicas de base afirmam-se como o terceiro setor com maior proporção de empresas, albergando cerca de 14% das empresas nacionais ligadas a esta atividade. Da análise dos valores do QL e da concentração empresarial depreende-se que, para além de existir uma importante especialização em setores tradicionais, o Quadrilátero concentra um número significativo de atividade e empresas em setores com um grau de incorporação tecnológica média-alta, em sentido lato têm evoluído para clusters em sentido estrito, de carácter setorial e, muito menos, para um cluster multissetorial de base regional. No entanto, nestes setores existem várias associações setoriais, muitas delas com um âmbito de intervenção que extravasa os limites do Quadrilátero e inclusivamente da região Norte. Estas iniciativas têm algum interesse no contexto deste levantamento, dado que permitem identificar setores onde existe um histórico cooperativo ou uma maior propensão a concertar posições e delinear estratégias comuns. Portugal agrupa à indústria têxtil e do vestuário portuguesa. Esta associação, integrada maioritariamente por PME (96%), tem uma base bastante heterogénea, compreendendo empresas dedicadas às várias fases de produção e a diversas atividades, desde a produção de fibras até à confeção de vestuário. No âmbito deste setor, a ATP em parceria com a Asociación de Industrias de Punto y Confección de Lugo, Ourense e Pontevedra (AIPCLOP), da Galiza, assinaram um protocolo de cooperação com a finalidade de criar um megacluster inter-regional do setor do têxtil e do vestuário. Desta forma, em 2009, constituiu-se o Euroclustex que, para além das duas associações | 69 70 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO referidas anteriormente, teve tam- da indústria a nível da inovação e em abril de 2011, está constituída bém o apoio do CITEVE. O objetivo conceção de novos produtos, e de pelas principais empresas do setor deste projeto é fomentar a coope- forma a complementar o espectro com sede no Quadrilátero; pretende ração intersetorial, aproveitando as desta associação, juntaram-se aos promover a internacionalização dos experiências e as complementari- fundadores algumas organizações seus sócios, através da cooperação dades resultantes da diversificação de renome no âmbito do desenvol- interempresarial. A criação de um estrutural das atividades ligadas vimento tecnológico e da inovação. grupo coeso de empresas ligadas ao ao setor na Euro-região Norte de O principal objetivo da APCM passa setor tem como finalidade aumentar Portugal-Galiza. A ATP conside- por garantir a afirmação de Portugal a capacidade de negociação, afir- ra importante ainda a criação de a nível internacional como produtor mar o cluster a nível internacional, parcerias comerciais, com benefícios e criador de moda. Segundo a APCM, incrementar os níveis de inovação para ambas as partes, com o setor a convergência da indústria têxtil, do no setor e definir estratégias con- do calçado, do automóvel, da saúde, vestuário, do calçado, da ourivesaria juntas para o desenvolvimento da dos curtumes, da cortiça e dos e da joalharia traduz-se na criação atividade. Integram esta associação produtos químicos. Prevê-se que a de sinergias que, se aproveitadas diversas empresas ligadas à cons- cooperação entre setores sirva de de forma coordenada, permitirá a trução de edifícios, obras de enge- base para solucionar os problemas desejada projeção dos produtos nharia civil, madeiras e carpintaria, que a indústria têxtil e do vestuário portugueses internacionalmente, pichelaria, fabricação de estruturas enfrenta. Por outro lado, a ATP reco- viabilizando a progressão da indús- metálicas e partes de estruturas, nhece a importância de potenciar a tria na cadeia de valor. A associação instalações elétricas, materiais de internacionalização das empresas, considera ser fundamental reforçar construção, atividades de arquitetu- através da participação em feiras in- as competências nacionais a nível ra e engenharia e outras áreas espe- ternacionais e em desfiles de moda da vigilância e inteligência compe- cializadas. Recentemente, a UMinho e de promover a formação profissio- titiva, recebendo atempadamente e a AFCM assinaram um protocolo de nal e o marketing. informações sobre as tendências da cooperação, que procura promover o moda que se desenvolvem a nível reforço da cooperação técnico-cien- internacional e perceber as estra- tífica entre as instituições. Neste tégias dos restantes concorrentes, contexto, deverão ser desenvolvidos assim como os principais riscos e mecanismos de cooperação que oportunidades daí resultantes. Por possibilitem um maior investimento outro lado, promover a inovação é em investigação e desenvolvimento, também uma prioridade, principal- materializando projetos que permi- mente na vertente da I&D, com o tam projetar as empresas no âmbito propósito de diferenciar a oferta e da inovação. Em 2008, foi criada a APCM - Associação Pólo de Competitividade da Moda, a qual apenas entrou em pleno funcionamento em 2009. De entre as entidades fundadoras desta associação, que, na generalidade, atua nos subsetores da moda (indústria têxtil, do vestuário, do calçado, da ourivesaria e da relojoaria), destaca-se a presença de empresas como a Flor Moda (Barcelos), Irmãos Vila Nova e Riopele (Vila Nova de Famalicão) e Kyaya e Somelos Fiafio (Guimarães). Com o intuito de pro- minimizar as desvantagens do custo de produção, tentando assim amenizar a discrepância face aos concorrentes que beneficiam de custos de mão-de-obra mais reduzidos. A Portugal Foods é uma associação constituída por empresas, instituições e outros agentes representativos dos vários subsetores agroalimentares, que tem como mover a competitividade do setor A Associação da Fileira da Cons- principal objetivo incrementar a da moda, que passa pela afirmação trução do Minho (AFCM), criada competitividade das empresas do QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES setor através da inovação e da inves- ceção, desenvolvimento, fabrico e tigação, mediante novos métodos comercialização de equipamentos e de cooperação. A Portugal Foods serviços ligados à saúde, em nichos tem ainda como objetivo a orienta- de mercado e de tecnologia selecio- ção dos produtos agroalimentares nados, tendo como objetivo principal portugueses para o mercado exter- o reconhecimento da excelência por no, identificando e captando oportu- parte do mercado externo. O HCP nidades de negócio no estrangeiro. procura também promover o desen- Em 2011 as empresas que integram volvimento económico e social das esta associação geravam cerca de regiões onde se localizam os sócios 16% do volume de negócios e 18% do projeto, assim como do país em das exportações da indústria agroa- geral. As iniciativas conduzidas por limentar portuguesa e empregavam esta organização visam o incre- cerca de 14.250 colaboradores. mento do volume de negócios, das Apesar dos seus associados estarem exportações e do emprego quali- distribuídos por todo o território ficado nas atividades económicas nacional, vários deles têm a sua ligadas à saúde. De um modo geral, sede e operações em concelhos do procura-se também contribuir para Quadrilátero, como por exemplo a a melhoria da prestação de cuidados Porminho Alimentação, a Vieira de de saúde à população. No sentido de Castro e a Primor. Existem também atingir os seus objetivos, a associa- um conjunto de empresas que, não ção privilegia a sua atuação na área estando localizadas no Quadriláte- do bem-estar e do envelhecimen- ro, situam-se em concelhos muito to, procurando combater doenças próximos. As mais destacadas são a neuro-degenerativas, cancerígenas, Minho Fumeiro, em Ponte de Lima, cardiovasculares, degenerativas e a Cerealis e a Frulact, ambas com osteoarticulares, inflamatórias, infe- sede na Maia. ciosas e metabólicas. A sua aposta O Health Cluster Portugal - Associação do Polo de Competitividade da Saúde integra diversas empresas e instituições nacionais ligadas ao setor da saúde. Criada em abril de 2008, trata-se de uma associação de direito privado sem fins lucrativos, com mais de 120 associados, principal em termos de intervenção é a promoção do conhecimento e da I&D, procurando dar especial preponderância à biotecnologia e às nanotecnologias. O Quadrilátero está representado nesta iniciativa, através de diversas empresas e instituições da região. de cooperação entre as empresas do setor. Este polo foi formalmente fundando em 2009, no âmbito das Estratégias de Eficiência Coletiva do QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional, engloba 50 associados e 28 empresas das regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo. Entre estas destacam-se algumas com sede e operações no Quadrilátero. As empresas associadas têm um volume de negócios conjunto de aproximadamente 5.400 milhões de euros, dos quais 500 milhões procedem do mercado externo. O montante canalizado para I&D pelos associados é de 130 milhões de euros, representativo de 3% do volume de negócios conjunto. Este Polo tenciona tornar Portugal numa referência mundial ao nível das TICE. Com essa finalidade pretende-se incrementar o peso das TICE no PIB, no emprego, e no volume de exportações. O Polo de Competitividade e Tecnologia tem como objetivo promover a cooperação e a criação de sinergias entre empresas do setor, nomeadamente entre as grandes empresas e as PME. Todavia, dinamiza e apoia candidaturas das empresas a programas de incentivos que lhes permitam ganhar capacidade financeira para realizar projetos mais arrojados. A presença e representação portu- distribuídos pela totalidade do No contexto das Tecnologias de In- guesa em eventos internacionais é território nacional. A missão desta formação e Comunicação destaca o também uma preocupação do polo, associação é tornar Portugal num Polo das Tecnologias de Informação, que reconhece que as empresas local de referência internacional Comunicação e Eletrónica (TICE), o devem acompanhar e delinear a sua nos campos da investigação, con- qual pretende promover as relações estratégia com base nas principais | 71 72 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO tendências mundiais. Na agenda do tucional e de liderança, surgem os TICE está também a promoção da défices de arquitetura institucional cooperação entre instituições de e governança e a falta de liderança ensino superior, associações do foro económica, política e mesmo institu- tecnológico e da inovação e o tecido cional no território. empresarial. Na Tabela 24 incluem-se as principais oportunidades e ameaças que 3.1.4.A ANÁLISE SWOT A análise SWOT é uma das ferramentas mais utilizadas na realização de diagnósticos e na avaliação de potenciais. É utilizada em diversos âmbitos para análise e avaliação de empresas, mercados, setores e territórios, entre outros. Esta análise baseia-se numa matriz que relaciona Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Oportunities) e Ameaças (Threats). A Tabela 23 sintetiza as principais forças e fraquezas do Quadrilátero. Entre as forças destacam-se o elevado know-how em setores como o têxtil e o vestuário e o calçado, apresentando vantagens competitivas face a muitos players internacionais e o acolhimento de alguns setores atividade com elevado potencial de crescimento, nomeadamente na área das TIC, da biotecnologia e dos materiais. Releva ainda a existência enfrenta o território em análise. Entre as primeiras convém destacar a progressiva compreensão da necessidade de articular iniciativas de cooperação e concertação territorial para potenciar a competitividade regional a vários níveis, a existência de condições favoráveis para tornar o território num centro de competências e inovação nalgumas áreas do conhecimento a partir das capacidades existentes na UMinho e noutras instituições de referência, como o INL. Os concelhos do Quadrilátero apresentam, da mesma forma, condições e infraestruturas adequadas para a instalação de empresas estrangeiras. Por outro lado, a crise económica e financeira nacional e o incremento da competitividade de espaços concorrentes em termos de produção e posicionamento apresentam-se como grandes ameaça às atividades desenvolvidas no território. de tradição e capacidade exportadora no tecido empresarial. Entre as principais fraquezas as mais relevantes derivam do facto de a estrutura produtiva estar numa fase de transição da produção de bens de baixo valor acrescentado para um outra de bens e serviços com maior valor acrescentado. A nível instiQUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Tabela 23 - Forças e Fraquezas do território do Quadrilátero Fonte: Elaboração própria FORÇAS - Elevado know-how em setores como o calçado, têxtil e vestuário, apresentando inclusive vantagens competitivas face a muitos players internacionais; - Existência de tradição e capacidade exportadora no tecido empresarial; - Acolhimento de alguns setores atividade com elevado potencial de crescimento, nomeadamente na área das TIC, da biotecnologia e dos materiais; - Oferta de mão-de-obra relativamente jovem e crescentemente qualificada; - Existência de instituições do ensino superior crescentemente prestigiadas e com alguma relação de proximidade com a indústria; - Presença de vários centros de I&D e de centros de investigação aplicada no âmbito universitário, reconhecidos quer nacional e quer internacionalmente; - Existência de associações empresariais setoriais interessadas na internacionalização, na promoção do I&D e na formação do capital humano; - Posicionamento junto de grandes eixos infraestruturais (rodoviários, aeroportuários, marítimos, digitais - fibra ótica - e de transporte de eletricidade e gás natural); - Existência de um vasto património histórico e natural e existência de espaços diversificados para a realização de eventos; - Presença de uma incipiente especialização no turismo cultural e religioso. FRAQUEZAS - Estrutura produtiva em fase de transição da produção de bens de baixo valor acrescentado, na maioria das vezes num quadro de subcontratação internacional, para a produção de bens e serviços com maior valor acrescentado, nalguns casos com distribuição e/ou com marcas próprias; - Reduzida dimensão das empresas, com níveis de competitividade e internacionalização ainda insuficientes; - Baixo nível de informatização das PME; - Reduzido investimento em I&D; - Elevada taxa de desemprego e elevada percentagem de mão-de-obra detentora de baixas qualificações académicas e profissionais; - Falta de liderança económica, política e institucional no território; - Ausência de estruturas (político-administrativas) de nível supramunicipal consistentes e convenientemente legitimadas, capazes de se constituir num interlocutor credível com os agentes sociais e empresariais do território e em parceiros na consolidação e desenvolvimento do Quadrilátero; - Falta de uma estratégia territorial que melhore a sua articulação e amorteça as consequências negativas da sua desestruturação; - Inexistência de estruturas de apoio à internacionalização de base territorial; - Ausência de uma estratégia de marketing territorial; - Falta de infraestruturas logísticas de apoio às empresas. | 73 74 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Tabela 24 - Oportunidades e Ameaças do território do Quadrilátero Fonte: Elaboração própria OPORTUNIDADES - Progressiva compreensão da necessidade de articular iniciativas de cooperação e concertação territorial para potenciar a competitividade regional a vários níveis; - Existência de condições favoráveis para tornar o território num centro de competências e inovação nalgumas áreas do conhecimento a partir das capacidades existentes na UMinho e noutras instituições de referência, como o INL; - Crescente interiorização, por parte dos atores regionais, da importância da criatividade, a inovação e o conhecimento na geração de oportunidades económicas; - Crescente reconhecimento nacional e internacional de entidades instaladas no território que pertencem ao SCTN - Sistema Científico-Tecnológico Nacional; - Crescente sensibilidade para a necessidade de conseguir uma maior simbiose Universidade-Empresa, com o objetivo de acrescentar valor aos bens produzidos e comercializados pelo tecido empresarial; - Existência de sistemas de incentivos fiscais à I&D empresarial; - Disponibilidade de programas de apoio e incentivo ao investimento; - Progressiva valorização social do espírito de iniciativa e da capacidade empreendedora; - Potencial aproveitamento do crescimento do setor das TIC e dos efeitos de desdobramento que pode provocar em outros âmbitos e atividades do território; - Existência de boas condições e de adequadas infraestruturas de acolhimento de empresas internacionais (IDE); - Eventual investimento em redes de infraestruturas e sistemas logísticos que facilitem o escoamento de produtos e auxiliem a integração da cadeia de valor das empresas multiplanta, com operações em vários países; - Proximidade ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e crescimento da oferta de novas rotas das companhias aéreas low-cost; - Proximidade ao Porto de Leixões; - Proximidade geográfica e cultural com a Galiza (Espanha); - Capitalização potencial dos canais de exposição internacional do território (desporto, redes de I&D, turismo religioso, entre outros). AMEAÇAS - Continuação da crise económica e financeira nacional e internacional; - Incremento da competitividade de espaços concorrentes em termos de produção e posicionamento; - Elevada taxa de desemprego; - Intensificação do envelhecimento populacional; - Reforço do Porto e da sua área metropolitana como centro aglutinador de recursos; - Desadequação do sistema fiscal português: autismo permanente relativamente às características intrínsecas dos territórios e das empresas; - Falta de coerência entre as políticas públicas de âmbito nacional e regional/local; - Falta de competência da administração pública: crescente burocrática e centralizada; - Ineficácia e lentidão do sistema judiciário português; QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES | 75 76 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 4.Internacionalização e boas práticas 4.1. ABORDAGEM METODOLÓGICA A metodologia de pesquisa e inves- ternacionalização do Quadrilátero e necessidade de a organizar também tigação que se entendeu adotar Projeção de Estratégias Futuras de por áreas, considerando as várias no presente estudo foi objeto de Promoção do Território” foi impor- perspetivas de visualização e particular atenção tendo em conta a tante a consulta de alguns trabalhos entendimento da realidade em sua importância para os resultados a já realizados sobre a temática da atingir. Consistindo em várias fases, cooperação territorial e a promoção a metodologia aplicada na presente e atratividade do território para investigação envolveu, num primeiro arrecadar investimento. Em razão momento, a recolha e seleção de disso, procedeu-se à recolha de literatura teórica e empírica, tanto informação científica existente, e nacional como internacional, com posterior seleção e validação, tendo especial destaque para a consulta como referência a sua atualidade e efetuada em revistas especializadas relevância. e para a leitura de outra informação. Para a elaboração do relatório “In- análise. O objetivo centrou-se em facilitar o acesso rápido e intuitivo a uma panóplia de informação em constante atualização, cuja relevância se mostrou transversal a todos os momentos de reflexão e de redação deste relatório. Simultaneamente, houve lugar à recolha documental, o que implicou o levantamento da informação À medida que a recolha da estatística disponível, estudos e informação se avolumou, houve outras publicações consideradas QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES de interesse para a temática em tório do Quadrilátero, mais propria- instaladas no território do Quadrilá- estudo. Existiu aqui uma vontade mente do seu tecido empresarial, tero e alguns agentes relacionados expressa e denunciada de aprovei- com o objetivo de projetar o seu a instituições de relevo no território tar, tanto quanto possível, todo o futuro e a sua internacionalização, como a UMinho, a AIMinho e o IAP- trabalho desenvolvido até então. potenciando as sinergias e os divi- MEI - Instituto de Apoio às Pequenas Ultrapassada esta fase, foi possível dendos que, no curto e no longo pra- e Médias Empresas e à Inovação. ampliar o conhecimento do assunto zo, daí possam advir. Neste sentido, e delinear o trabalho que se preten- considerou-se importante identificar Esta fase implicou a elaboração de dia desenvolver. um conjunto de empresas conside- Tratando-se de uma população radas casos de sucesso e, através de restrita, entendeu-se desenvolver também uma análise qualitativa suportada por estudos de caso. A recolha de dados mais crítica para a elaboração deste trabalho balizou-se na entrevista, dado ser uma técnica por excelência para os estudos de caso. Esta técnica possui entrevistas semiestruturadas, poder os ultrapassar. Esta metodologia serviu igualmente para envolver as empresas num projeto em que estas se assumem como principal parte As entrevistas foram desencadea- aprazível de obtenção de dados com alguma pormenorização, o recurso à entrevista facilita a introdução ou o afastamento de potenciais questões. Decidiu-se enveredar pela aplicação da entrevista do tipo focalizado, pois interessava que o tempo de realização da entrevista não excedesse os noventa minutos. Neste âmbito, foi pensado e definido um guião de entrevista, no qual está patente um conjunto de questões e tópicos de conversação. Esta técnica permite cruzar distintas opiniões, as quais dão lugar a uma análise qualitativa mais concisa e efetiva. informação complementar: principais estratégias adotadas para dade de obtenção de experiências Ao consubstanciar-se numa forma é possível visualizarmos alguma principais obstáculos e quais as interessada. e confissões dos entrevistados. ratórias. Na tabela que se segue, compreender, no terreno, quais os como grande vantagem a possibiliacumuladas, testemunhos, opiniões um total de 17 entrevistas explo- das visando os principais responsáveis de cada entidade. Foi efetuado um trabalho de levantamento e identificação do leque de projetos de internacionalização das empresas que se enquadram nos clusters do Quadrilátero (reunindo empresas fortemente exportadoras mas também projetos empresariais com um forte potencial de internacionalização), assim como um conjunto de casos cujas estratégias de internacionalização se apresentam bem-sucedidas, procurando diversificar a escolha das empresas tanto quanto possível quer em termos setoriais quer em termos de características intrínsecas. Para além deste conjunto de empresas, entendeu-se tam- Este estudo propôs-se fazer uma bém abordar algumas das empresas análise concreta e prática do terri- multinacionais que se encontram | 77 78 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Tabela 25 - Entrevistas realizadas NOME DA ENTIDADE NOME DO ENTREVISTADO Balanças Marques de José Pimenta Marques, Lda. Paulo Marques e Tiago Marques Primavera - Business Software Solutions, S.A. José Dionísio DIA E HORA 02 abril SICI 93 BRAGA - Sociedade de Investimentos Comerciais e Industriais, S.A. António Ressurreição Silicolife, Lda. Simão Soares Critical Materials, S.A. Gustavo Dias Coltec - Neves & Companhia, Lda. Francisco Fernandes Success Gadget - Nanotecnologia e Novos Materiais, Lda. Pedro Pinto CELOPLAS - Plásticos para a Indústria, S.A. João Cortez APC - Instrumentos Musicais, Lda. António Pinto Carvalho Porminho - Alimentação S.A. Tiago Freitas Amtrol Holding Portugal, SGPS, Unipessoal Lda. Tiago Oliveira Construções Gabriel A.S. Couto, S.A. Ricardo Poças LEICA - Aparelhos Óticos de Precisão, S.A. Filomena Machado Domingos da Silva Teixeira, S.A. José Teixeira AIMinho José Manuel de Capa Pereira IAPMEI João Carvalho Fernandes 14h30 04 abril 9h30 04 abril 15h00 04 abril 18h00 10 abril 14h30 15 abril 10h00 16 abril 10h00 10 maio 16h00 15 maio 9h30 15 maio 14h30 17 maio 11h30 29 maio 14h30 29 maio 10h30 5 junho 18h00 16 maio 11h00 31 maio 10h30 3 junho UMinho Manuel José Magalhães Gomes Mota QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES 14h30 Com o devido consentimento dos não apresentarem, até ao momento, interessante tradição e um tecido visados, as entrevistas foram grava- impactes e efeitos visíveis no terri- industrial ainda tradicional com o das e cronometradas, o que possi- tório equivalentes aos da UMinho. potencial para absorver processos bilitou complementar as anotações Para isso, sugere que é necessária de I&DT. que foram retiradas no decorrer das a existência de uma visão global, entrevistas. A realização das entre- estratégica e integradora para estes vistas sucedeu-se entre abril e maio projetos. de 2013. O tratamento dos dados foi realizado através da elaboração de fichas de entrevista (em anexo) validadas pelos entrevistados. Optou-se também por uma abordagem qualitativa na análise dos dados recolhidos, até porque o objetivo científico neste tipo de investigação (estudo qualitativo) está orientado para a compreensão e construção (e não para a verificação, como acontece nas investigações quantitativas). A investigação qualitativa não pretende atingir quantificadores universais. Muito pelo contrário, a condição de sucesso da investigação qualitativa não é a confirmação de hipóteses (tal como acontece nos estudos quantitativos) mas a emergência de algo novo ou inesperado através de um questionamento aberto e exploratório acerca do que se pretende estudar (não se decidindo nada a priori). CONDIÇÕES DA ENVOLVENTE conexão e orientação estratégica. Não bastam as infraestruturas exis- Os responsáveis pela Primavera tentes como o Avepark/Spinpark. De BSS foram alunos da UMinho e acordo com Simão Soares da Silicoli- reconhecem a importância que esta fe, estes espaços não compreendem instituição tem tido para a região, elevados custos e são interessantes nomeadamente para o desenvolvi- na ótica do marketing, em virtude mento de iniciativas empresariais de terem o rótulo de “parque tec- na área das tecnologias de comu- nológico”. Os principais problemas nicação e informação. Porém, são também apologistas de que o tecido associativo encontra-se demasiado repartido por cidades ou concelhos e este território merecia uma liderança associativa de cariz empresarial mais forte. Referem, por exemplo, que não se encontram espaços destinados a uma elite empresarial, apontados a esta estrutura estão sobretudo relacionados com a sua localização e ao défice de estratégia, de rede e de dinamismo. Embora não esteja sedeada num parque desta natureza, a Success Gadget também concorda com o facto de serem excelentes estruturas para promover a imagem e a credibilidade facilitadores do networking e dos das empresas que comportam. negócios. A mobilidade digital, como a fibra Gustavo Dias fundador da Critical ótica, embora seja mais colateral, Materials, afirma que a região tem hoje excelentes condições de partida para um projeto de desenvolvimento regional a médio e longo prazo. São disso exemplo a UMinho e os seus interfaces (TecMinho/GAPI 4.2. O QUADRILÁTERO E O Quadrilátero carece de uma maior - Gabinete de Apoio à Propriedade Industrial, Avepark/Spinpark, 3B’s - Research Group in Biomaterials, não deixa de ser importante para uma maior conexão no território entre os seus agentes. Contudo, não é suficiente para uma mobilidade física que se quer maior entre os quatro concelhos. Daí que alguns empresários apontem para o facto de que um metro de superfície ou uma rede ferroviária que ligue Guimarães a Braga poderia assumir-se como uma De acordo com António Ressurrei- Biodegradables and Biomimetics e ção, CEO da S.I.C.I., nos últimos 40 o CVR - Centro para a Valorização anos, a UMinho foi o investimento de Resíduos), mas também o INL, a Simão Soares considera necessário estrutural mais importante que se existência de uma população jovem alterar aspetos culturais importan- realizou neste território. Todavia, e qualificada, vontade empreende- tes, pouco abertos à cooperação. salienta o facto de o INL e o Avepark dora em contexto académico, uma Esta empresa entende a sua presen- mais-valia para o território. | 79 80 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO ça no Minho como natural, reco- definir uma matriz de interesses e cos sentem-se desconfortáveis com nhecendo vantagens na angariação de especialização sobre a qual possa a liderança da UMinho. de recursos humanos qualificados. trabalhar com alguma autonomia, Todavia, António Ressurreição nomeadamente ao nível da dina- reconhece que falta uma visão para mização empresarial e de atração território suficientemente forte e de investimento. Nesse sentido, capaz de orientar os agentes e os haveria que definir por consenso projetos para o mesmo sentido. as bases mínimas em matéria de Segundo Gustavo Dias, o Minho tem objetivos e, assim, a gestão poderia uma relação ambivalente com o Porto e “sofre” por estar na sua órbitra, operar com alguma autonomia e eficácia dentro desta associação de dificultando ações que ultrapassem municípios. essa condição. Para as Constru- Exprimindo a opinião de que o Minho ções Gabriel Couto, a proximidade com o Porto de Leixões e com o Aeroporto Francisco Sá Carneiro são uma enorme vantagem para o tecido carece de uma maior liderança empresarial, Capa Pereira acrescenta que, simultaneamente, na relação entre Braga e Guimarães, Apesar de tudo, segundo Carvalho Fernandes, com funções na extensão de Braga do Centro de Desenvolvimento Empresarial do Norte do IAPMEI, o território do Quadrilátero beneficia de uma cultura de trabalho que lhe é reconhecida e de um conjunto de indústrias muito capazes. Em Portugal há custos de contexto desfavoráveis. De acordo com o dirigente da S.I.C.I., a política fiscal é cega e não é viável passar subitamente de um certo laxismo para uma evidente rigidez, pois o processo tem de ser incremental e constru- é importante manter presente que tivo e não radical e destrutivo. a UMinho é um parceiro indispen- Para Simão Soares, o ponto de maior sável nomeadamente no seu papel desvantagem será a limitação do de promoção e de fortalecimento mercado nacional, a burocracia, a de eixos de entendimento. Manuel ausência de uma estratégia de clus- Mota, que foi vice-reitor UMinho, ter tecnológico e um capital nacional acrescenta que se considerarmos o muito limitado que dificulta finan- Minho como uma região, denota-se ciamento. João Cortez da Celoplás que Viana do Castelo tem cumplici- e António Ressurreição realçam que José Capa Pereira, ex-presidente da dade implícita com o Porto. Segundo os apoios e incentivos destinados às AIMinho, considera que juntar as Manuel Mota as dificuldades de pro- quatro cidades/concelhos do Baixo jetos como o Quadrilátero prendem- Minho “faz todo o sentido”. Porém, -se com o protagonismo político e o Quadrilátero não pode estar tão pela concorrência que se estabelece muito genérica, rígida e burocrática. exposto a conjunturas e motiva- entre os cabeças de cartaz e jus- ções de índole político-partidário. tificar os obstáculos que se criam Ao nível das políticas públicas portu- A grande razão de ser da estrutura com questões relacionadas com as considera serem necessárias pes- institucional entretanto criada - a diferentes tendências políticas é soas que conheçam a realidade no Associação Municípios para Fins Es- insuficiente. Porém, ao contrário do terreno, e que existem demasiadas pecíficos Quadrilátero Urbano - não que seria de esperar e, tendo em estruturas com o propósito enuncia- pode cingir-se ao acesso a financia- consideração a experiência que a do de apoiar as empresas. Para além mentos públicos e comunitários. É UMinho viveu com o seu projeto de disso, a política de financiamento necessária também uma liderança cooperação para o Minho enquanto tem de ser revista, tendo em conta com peso institucional, capaz de “Região do Conhecimento”, os políti- que os bancos e os fundos públicos empresarial do território do Quadrilátero, destacando o facto de que a estrutura portuária é o principal canal de comunicação utilizado pela empresa no transporte de equipamentos e mercadorias para os mercados internacionais, assim como o aeroporto o é para o transporte de pessoas, técnicos e engenheiros. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES empresas não estão bem formatados, dando-se o exemplo da formação financiada que é apontada como guesas, o CEO da Success Gadget não estão devidamente formatados as ações prioritárias e promover a dade”, o que permite uma transfor- às reais necessidades do tecido afetação dos recursos a essas ações. mação significativa nas empresas empresarial. Considerando que o país vai atravessar vários anos de enormes dificuldades e precisa de se reformar, reorganizar e reestruturar, João Cortez identifica também o problema de que o ensino secundário não forma convenientemente os jovens. O sistema de ensino devia ser dual, unindo os ensinamentos teóricos da escola ou universidade com a aprendizagem prática da empresa. O país evidencia grandes disparidades e diferentes realidades socioeconómicas, em particular quando se olha para os grandes centros urbanos. De acordo com Carvalho Fernandes, Lisboa assume uma preponderância, ao ponto de a crise económica e financeira, desencadeada em 2008, ter tido, em média, um impacto mais ténue na capital até 2011, quando se deram as primeiras descidas de salários na António Pinto Carvalho, da APC função pública e os aumentos de Instrumentos Musicais, destaca impostos; quando na região já se o facto de Portugal ter de contrariar sentia, por força do encerramento os entraves e as burocracias que co- de empresas, em particular, a partir loca ao crescimento das empresas. do início deste século, sobretudo Tiago Freitas, da Porminho Ali- devido à concorrência internacional, mentação, acrescenta ainda que à abertura de fronteiras a Leste e à o direito laboral evoluiu mas ainda desproteção aduaneira ocorrida na carece de ajustes. UE relativamente ao Oriente. O te- João Carvalho Fernandes e Capa Pereira estão de acordo no que respeita às políticas públicas. Existem aspetos a melhorar na definição de prioridades e articulações ao nível do Estado e dos organismos da Administração Pública. João Carvalho Fernandes acrescenta ainda que há necessidade de uma maior consistência das políticas públicas implementadas, mas também ao nível da gestão das equipas que estão no terreno. Os resultados alcançados com essas políticas refletem algu- cido económico da região de Lisboa está mais dependente do terciário o portuguesas que as fazem “pensar global”. Todavia, ao nível internacional, a UE tem de se pronunciar sobre os desequilíbrios comerciais à escala internacional e deve clarificar a sua posição relativamente às regras a que deve atender, sob pena de pôr em causa o bem-estar económico dos países membros e de hipotecar irremediavelmente o seu modelo social, considera Carvalho Fernandes. Segundo, o dirigente da Critical Materials, de forma geral, falta especialização à diplomacia económica portuguesa; além de ser, em parte por essa razão, pouco operacional. António Pinto Carvalho acrescenta que importa uma maior diplomacia económica para reduzir as taxas aduaneiras em países como o Brasil: “Se for o Brasil a vender a Portugal há um tipo de tratamento, mas se for Portugal a vender para o que, apesar da limitação de atribui- Brasil há outro”. ção de fundos, ajuda a explicar esta No que diz respeito à atração de diferença. Adicionalmente, com a entrada na UE e na moeda única, Portugal passou a enfrentar um quadro macro e microeconómico de enorme condicionamento. O tecido empresarial português está a ser penalizado pela atual situação a nível interno e pelas suas implicações em termos de condicionamento financeiro. IDE em Portugal, José Capa Pereira refere que o impacto da justiça no IDE é muito grande para quem decide a melhor localização para o seu negócio, assim como as questões associadas ao licenciamento industrial, à fiscalidade e ao direito do trabalho. Para Tiago Oliveira da multinacional Amtrol-Alfa, o território português apresenta vantagens em mas debilidades e inconsistências e Ricardo Poças da Construções Ga- termos de inovação e desvantagens se as políticas públicas continuarem briel Couto entende que a menta- no que toca aos custos de produção a ter uma eficácia muito baixa é ne- lidade em Portugal está a mudar. “Ir (a evolução do euro face ao dólar cessário identificar criteriosamente lá para fora tornou-se uma necessi- não se tem manifestado vantajosa). | 81 82 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Porém, os investidores, no momento intermédio do conceito de cluster, tendo em conta a expressão que da tomada de decisão para escolher reconhecendo que existe neste ter- este tipo de indústria apresenta um país para o seu investimento, pri- ritório um conjunto de especialistas neste território. Para Tiago Freitas, vilegiam a “competência, o ambiente em diversas áreas da cadeia de valor, denota-se que cada empresário atua político e o conhecimento tecnoló- nomeadamente no setor do têxtil por si quando em alguns domínios a gico” e, a este nível, os portugueses e do vestuário. Por seu lado, Pedro cooperação seria mais benéfica. Pinto da Success Gadget, confirma As próprias associações empre- estão bem posicionados. que os empresários são, genericamente, muito egoístas e fechados 4.3. CLUSTERS E COOPERAÇÃO EM REDE Na opinião do João Cortez, tudo se resume ao verbo “fazer”. Na sua opinião, Portugal carece de empresas com dimensão crítica para pensarem não apenas nacional mas também global. Embora o país também necessite de se reformar e reorganizar, empresas com estas características só se conseguem refazendo e juntando, o que necessariamente implica uma maior abertura dos e também não tem dúvidas de que “juntos, somos mais fortes”. Tiago Freitas, uma indústria de carnes localizada em Vila Nova de Famalicão, considera que a cooperação win-win entre empresas ganha mais consistência e sentido com esta geração de empresários do que com a sua antecessora. Os clusters, nomeadamente o das TIC, resumem-se a 5/6 empresários que se dão bem, o que é manifestamente pouco, refere José Dionísio da Primavera BSS. empresários nacionais a modelos de Em determinadas áreas como a cooperação. Nos contactos estabe- nanotecnologia, há muito a fazer lecidos com a Balanças Marques, para potenciar as estruturas e o empresa sedeada no concelho de know-how já existentes no territó- Braga, verificou-se que gostavam de rio. Para a Success Gadget, uma chegar a um país como um cluster, “NanoValor” (agrupamento com- em vez de terem de provar o que fa- plementar de empresas entretanto zem, muito por força de que, muitas vezes, os clientes nem sabem onde fica Portugal. Segundo António Ressurreição, as infraestruturas existentes são mui- criado) é um exemplo do quanto se pode fazer na ótica da cooperação. O objetivo desta associação, considerada essencial para o intercâmbio, para o network e para as sinergias sariais e sindicais têm um papel importante na sociedade em geral, e na região, em particular, afirma António Ressurreição. Defende que estas organizações deveriam ter como razão de ser “pensar, propor, intervir e ter uma visão para o território”. Devia ser esse o seu principal papel, ao invés de se envolverem em projetos que se resumem à sua “sobrevivência”. João Carvalho Fernandes, também é defensor de que as associações empresariais devem ser agentes mobilizadores, com capacidade de agregação e liderança. A este nível, destaca-se o facto das Construções Gabriel Couto e do grupo DST estarem a trabalhar em rede através de um agrupamento complementar de empresas que foi criado no Minho para a fileira da construção, numa iniciativa desencadeada com a colaboração da AIMinho. Trata-se de um exemplo de que a promoção e o fomento dos clusters empresariais se afigura essencial para facilitar a cooperação das empresas e a internacionaliza- to importantes para a promoção da que podem ser desenvolvidas, é dar cooperação mas não são suficientes consistência à rede e às políticas de per si. É necessário uma maior arti- cooperação. Na ótica do responsá- É necessário promover todas as culação e funcionamento em rede. vel da Porminho Alimentação, formas de aquisição de massa Apesar disso, o empresário têxtil também faria sentido a criação no crítica das empresas e instituições, confirma as vantagens e os contri- Quadrilátero de uma associação ou considera José Capa Pereira dando butos que podem ser obtidos por cluster para a área agroalimentar, como exemplos a cooperação, mas QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES ção. também as fusões e aquisições de empresariais e tecnológicas capazes ser analisada a pertinência da empresas. Nos bens transacioná- (o Spinpark e o Avepark, único ponto constituição de uma infraestrutura veis, para se ir além do mercado do país com 4 redundâncias de fibra regional com essa vocação. local, a escala é decisiva. Todavia, a ótica mas, que está a ser fortemen- grande motivação, por exemplo, para te penalizado por não usufruir de o estabelecimento de um agrupa- um acesso direto à autoestrada). O mento complementar de empresas conhecimento de ponta e a exis- ou de outro tipo de base associativa, tência de empresas de referência tem sido a perceção ou existência em áreas emergentes das tecno- de uma ameaça externa (ou seja, a logias como as TIC, os materiais e A renovação do tecido empresarial cooperação tem surgido apenas em a biotecnologia, os espaços como só se obtém através do empreen- contextos de grande adversidade). o GNRation com capacidade para dedorismo no seu sentido mais lato João Cortez sumariza este raciocínio fazer evoluir as indústrias criativas (entrepreneurship e/ou intra- referindo que temos de “fazer” (refa- e, presença de uma estrutura como preneurship). Da entrevista com o INL, direcionada para apostar nos Gustavo Dias da Critical Materials, novos materiais são também desta- percebe-se que a malha empresarial cados como forças e oportunidades deve mudar com base numa aposta para este território. Como principais efetiva no empreendedorismo tec- fragilidades do Quadrilátero, aponta nológico, até porque neste território a inexistência de lideranças políticas sente-se que “há vontade de fazer fortes e com capacidade de inter- coisas”. zer, juntar, reorganizar) empresas com dimensão crítica para pensarem não apenas nacional mas sobretudo global. Na opinião de José Dionísio, CEO da Primavera BSS, deveriam existir políticas de ordem fiscal para incentivar a fusão de empresas com maturidade no mercado. Pelo contrário, acrescenta, em Portugal temos as “Empresas na Hora” que praticamente não necessitam de venção (capazes de influenciar as decisões de Lisboa) e a existência de um problema cultural associado a um certo egoísmo minhoto, onde existe tendência para dividir em vez 4.4. EMPREENDEDORISMO E RENOVAÇÃO DO TECIDO EMPRESARIAL Para além de ser importante criar empresas tecnológicas novas, é igualmente necessário incubar start ups no tecido empresarial atual, já envelhecido. De acordo com este capital social e que fomentam a de unir. que sejamos um país composto por À semelhança do que AIMinho ou ideias de negócio devem origi- tentou fazer com a criação de um nar a criação de novas empresas. Centro Internacional de Negócios, Na maior parte dos casos, faz mais de acordo com José Capa Pereira, sentido integrá-las em empresas seria importante que o território existentes, já consolidadas no pudesse contar com um conjunto de mercado, dado ser uma estratégia Segundo Manuel Mota, catedrático recursos técnicos especializados e que pode beneficiar ambas. Gustavo da UMinho, existem forças e oportu- articulados, dedicados à captação Dias considera ser preciso “reinven- nidades no território do Quadrilátero de investimento e à promoção de tar” os setores tradicionais (têxtil que devem ser aproveitadas para as estratégias de cooperação entre e construção) através das TIC e do sinergias que se devem desenvolver empresas (seguindo o modelo de software. Existem também condi- em torno dos conceitos de rede e operação das câmara de comércio e ções no Quadrilátero para apostar cooperação. Destaca, por exemplo, indústria existentes noutros luga- na área da saúde e para se optar a existência de infraestruturas res). Acredita ainda que deve mesmo numa especialização em alguns empresas unipessoais. Daí a necessidade de pensarmos que tipo de tecido empresarial pretendemos ter nos próximos anos em Portugal e, em particular, no Quadrilátero. empresário, nem todos os projetos | 83 84 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO nichos de mercado. Uma opção por mental uma política em torno do sumir a disponibilização de espaços áreas técnico-científicas capazes de empreendedorismo devidamente e condições para que os investidores aportar negócios e produtos de ele- concertada e integrada, com re- estejam continuamente nos campi a vado valor acrescentado, benefician- cursos suficientes para alterar os conhecer as novas ideias e projetos. do de vários cruzamentos possíveis padrões culturais e os modelos entre elas (software com materiais, e condições de financiamento: é software com biologia, biologia com necessário ter capacidade de “pagar materiais, etc…) pode trazer, agora para ver”, considera o empresário e no futuro, muito retorno para este da Critical Materials. Para além da território. necessidade de continuar a alimen- Na opinião de José Capa Pereira, tar a geração constante de ideias em mantém-se vigente a necessidade de conceção de um espaço vocacionado à promoção de encontros informais entre empresários, docentes universitários, investigadores, alunos/empreendedores e investidores, funcionando necessariamente como um facilitador de uma renovação empresarial por via do conhecimento. O ideal era conseguir cruzar e estabelecer relações de caráter informal entre pessoas ligadas ao contexto académico e ao tecido empresarial deste território. Mesmo considerando apenas os próprios contexto académico e das conexões que devem ser estabelecidas entre os diversos players da região, importa ter disponível seed e venture capital ou outros meios financeiros para o “grande salto”. Para Gustavo Dias, o processo de financiamento tem de cobrir as várias fases de desenvolvimento dos projetos. Nesse sentido, é vital que o financiamento seja pensado e operacionalizado de modo a evitar bloqueios inibidores que desanimam os empreendedores e que levam ao fracasso ou ao abandono prematuro dos projetos. Simão Soares refere por experiência própria que, nos casos de empresas de menor dimensão, apoios específicos e não burocratizados destinados à captação de fundos para arranque e expansão de start ups, financiamento para prospeção e marketing internacional, angariação de projetos públicos, serviços de informação comercial e facilitação de contactos com mercados externos e fomento da cooperação e da prática de clustering, são altamente valorizados pelos empreendedores. Considerando que a tónica do financiamento é realmente crucial, Gustavo Dias acrescenta ser necessário proporcionar meios para operações de financiamento de maior envergadura e/ou de capitalização. No entender da Critical Materials, é fundamental alavancar o crescimen- empresários, este encontro seria O financiamento deverá ser fasea- de grande valia, na medida em esta do, assegurando as várias fases do rotina era propiciadora da identifi- percurso: investigação; desenvol- cação de novas ideias de negócio vimento de soluções e protótipos; (benchmarking) e, simultaneamen- licenciamento/patentes; criação de te, potenciadora de difusão de boas empresa; e, acesso aos mercados de práticas. Dado que já existiram ten- destino. tativas semelhantes no passado que António Ressurreição também uma estrutura de fundraising (com entende que, ao nível do empreen- capitais públicos e privados) com dedorismo, não deve ser o empreen- impacto na captação de recursos dedor ou o aluno da UMinho a ter de capazes de gerar “campeões”. Existe procurar financiamento junto dos um problema de capitalização das Business Angels ou de outros inves- empresas tecnológicas: são neces- Todavia, para se alterar a malha tidores. Pelo contrário, acrescenta sários acionistas de longo prazo ao empresarial do território, é funda- que a universidade é que deveria as- invés de empréstimos comerciais não funcionaram, considera que são necessários animadores e dirigentes que promovam a dinâmica do espaço para que uma estrutura desta natureza possa ter sucesso. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES to da estrutura empresarial visando criar empresas com capacidade para competir à escala global, o que requer a existência de fundos específicos e de acesso a capital de uma forma estruturada. Simultaneamente entende importante a criação de de curto e médio prazo, remata este definidos, uma estratégia devida- no mercado. Uma competição mais empresário. mente sustentada e com a conjuga- focada no mix do produto aporta ção de vontades das forças locais e benefícios para a empresa e exter- regionais, tudo se torna possível. nalidades positivas para a região em Para além das questões de financiamento e capacitação de um tecido que se insere. A deteção de opor- empresarial que se quer fortalecido e renovado, João Cortez, salienta o tunidades do ponto de vista tecno- facto de termos “péssimos gestores” 4.5. INVESTIGAÇÃO, em Portugal. O problema da com- DESENVOLVIMENTO E petitividade das empresas não está no trabalhador ou no operário mas sim em quem as dirige. Há muitos patrões e poucos empresários, ressalvando as deficiências de planeamento (inclusive pessoal) que apresentam. A liderança faz-se com base numa estratégia sustentada, clara e bem definida. Para a Critical Materials, sedeada no Spinpark, o complexo Avepark/Spinpark carece de uma maior definição estratégica para favorecer a própria continuidade do projeto. Para além da necessidade de atração de empresas-âncora com dimensão, o mais importante passa pela existência de uma ideia estratégica sustentada que cative os empreendedores nacionais e locais e o investimento industrial externo. INOVAÇÃO lógico contribui para a reinvenção constante do tecido empresarial e potencia a sua afirmação internacional. A própria Primavera BSS, Com base na auscultação efetua- surgiu no encalce de uma oportu- da a algumas empresas do teci- nidade que identificou na área do do empresarial do Quadrilátero, software. A sua aposta foi desen- verificou-se que existem temáticas volver software de gestão com base e preocupações que são transver- no sistema operativo Windows, sais à maior parte dos empresários contrariando o que o mercado da entrevistados. O enriquecimento da altura fazia, mantendo os desenvol- proposta de valor dos produtos, com vimentos para MS-DOS. origem nas empresas do território Para Gustavo Dias, uma ligação mais do Quadrilátero é um tópico comum que corroboram, na medida em que reconhecem a importância da IDI na cadeia de valor. A ligação do tecido empresarial ao SCTN, nomeadamente à UMinho e a outros centros tecnológicos ou do saber, permite uma aposta na inovação que é fundamental para competir num mundo globalizado. estreita entre o potencial de “software” proporcionado pela academia minhota e o tecido empresarial é uma necessidade e uma forte possibilidade, por um lado, tendo em conta o upgrade de inovação e tecnologia de que a indústria carece e, por outro, com base no acesso à indústria que se revela vital para os investigadores. O objetivo dessa parceria resultaria na capacidade Uma maior especialização em áreas Sedeada em Braga, a Success de IDI ou setores de atividade pode Gadget, uma PME do setor têxtil ser uma das estratégias a seguir, até vocacionada para as nanotecnolo- porque, a título de exemplo, pode- gias que ainda se encontra em fase ria fazer sentido a criação de um de afirmação comercial, também campus exclusivamente destinado a privilegia o bom relacionamento com gicos deste processo. empresas de software. Estendendo as instituições e fontes de saber. A O fortalecimento do tecido empre- o Quadrilátero como um todo, muito existência destes agentes no terri- sarial no território do Quadrilátero pode ser feito a este nível, até por- tório permite ganhos significativos pode ser conseguido apoiando a que basta partirmos do que já existe para as empresas que se pretendem criação de valor. José Carvalho Fer- e que pode ser potenciado quase de afirmar pela inovação, pelo valor nandes afirma mesmo ser “neces- imediato. Mediante objetivos bem acrescentado e pela diferenciação sário juntar quem sabe com quem sustentada de oferecer ao mercado global produtos e soluções de maior valor, até porque o resultado económico deve ser um dos focos estraté- | 85 86 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO produz” e, simultaneamente captar deveriam fomentar encontros com mitir atuar ao nível das Smart Grids investimentos externos provenien- pessoas da indústria e com investi- e também dos elementos passivos tes do estrangeiro ou de outras dores. Simultaneamente, a avaliação de construção, o que será de grande regiões do país. Apoiar a criação de dos resultados da I&D não deveria valia para o setor que representa. valor nas empresas implica conceber ser efetuada com base em patentes. um modelo de negócio onde sejam No seu entender, a I&D também tem Neste sentido, Gustavo Dias da envolvidos os investigadores da de ter utilidade para gerar riqueza, UMinho (ou de outras entidades do sendo certo que transformar I&D em SCTN) e onde a partilha de resulta- produtos continua a ser uma grande dos esteja bem definida, existindo dificuldade que ainda não consegui- inclusivamente apoios comunitários mos ultrapassar. que devem ser aproveitados para esse fim. A Coltec que atua no setor têxtil e do vestuário e que reconhece que Critical Materials, entende como fundamental a definição de uma visão comum para o território. Todavia, esta visão para o território tem de ser apontada com base no retorno económico e não nas áreas do saber. A própria UMinho não deveria prestar serviços que já estão no domínio das empresas e Tiago Oliveira, vice-Presidente da a proximidade com entidades de IDI Amtrol-Alfa, uma multinacional deve ser particularmente valorizada sedeada em Guimarães que é uma pela indústria. Francisco Fernandes das maiores exportadoras mundiais é um dos apologistas de que as de garrafas de gás transportáveis, relações com este tipo de institui- considera existir um problema com ções são de grande utilidade, sendo a indústria que é não reconhecer a para isso necessário manter os excelência do conhecimento tec- canais abertos e facilitar a comu- nológico. A indústria tem de ir às nicação das empresas com estes universidades procurar o que lhe agentes, nomeadamente no quadro interessa e, depois, a indústria deve da participação em consórcios que “guiar” as universidades para um de- permitam aproveitar recursos que senvolvimento mais aplicado da I&D potenciem a inovação de produtos e Embora persista alguma dificul- que se faz nestes centros de saber. processos. dade em aceder a financiamento Todavia, o mais importante nestes processos não são as instituições, mas sim as pessoas, isto é, os canais que importa cultivar são, sobretudo, os informais/pessoais. José Teixeira, presidente do grupo DST, reconhece que o Quadrilátero beneficia de uma “ótima universidade, inovadora e aberta”. Atento às áreas de maior interesse para o A relação bilateral universidades grupo DST, elogia o trabalho desen- - empresas pode ser muito profí- volvido pela Escola de Engenharia e cua para as partes mas, apesar de destaca que existe neste momento existirem casos bem-sucedidos, é um projeto de grande interesse que certo que ainda há muito a fazer se encontra em curso na UMinho e para que os resultados possam ser que se denomina IB-S - Instituto de mais amplos e eficazes. Na opinião Ciência e Inovação para a Bio-sus- de João Cortez, as instituições de tentabilidade. Este novo projeto que ensino superior e de investigação está a ser criado na UMinho vai per- QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES do mercado, mas sim serviços com inovação e com risco tecnológico. O contexto necessário à construção de uma “Região do Conhecimento” só se obtém ou modifica, com mecanismos que garantam uma geração continuada de ideias na ótica académica e empresarial e com financiamento público e privado capaz de implementar esses projetos de elevado valor acrescentado. para projetos desta natureza, uma vez que os investidores continuam reticentes a negócios que não têm retorno imediato, como é o caso de negócios baseados em IDI, o certo é que existem vários casos no território do Quadrilátero que se revelaram bem-sucedidos e com escala global. 4.6. FATORES CRÍTICOS NA AFIRMAÇÃO INTERNACIONAL A Primavera BSS reconhece a importância dos PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa para o arranque do seu processo de internacionalização. Esta opinião é partilhada por outras empresas que, à semelhança da Primavera BSS, também valorizam as comunidades portuguesas na sua afirmação internacional, em grande medida devido à importância da língua portuguesa, uma vez que figura entre as línguas mais faladas no mundo. A Coltec é um desses exemplos: sabendo que a entrada no mercado asiático (principalmente na China) é inatingível, internacional, o country manager valoriza as ações de grande enver- deve ser português. Para além disso, gadura (do tipo mega-missões) que é importante a informação sobre a AICEP promove com a presença de o mercado e o apoio ao nível de governantes, dado entender que serviços de consultoria que facilite estes eventos podem interessar os “contactos certos”. Apesar das di- mais a grandes grupos económicos ficuldades sentidas com a operação e não tanto às pequenas empresas em Espanha, José Dionísio afirmou tecnológicas como a sua. Para além que não têm nenhum dado que dê disso são, em geral, entidades de- substância à ideia de existência de masiado institucionais, não ajudan- descrédito nos produtos de origem do a resolver as dificuldades mais portugueses, destaca ainda que quotidianas deste tipo de empresas. no mercado africano os produtos e serviços da Primavera BSS “são estrelas”. Todavia, foi também referido que é necessária capacidade de financiamento para aguentar o tempo necessário ao retorno do investimento, principalmente quando este tarda em chegar. José Dionísio acrescenta que, a estrutura da AICEP precisaria de estar fora do país e não cá dentro. As empresas portuguesas viriam com bons olhos um maior apoio nos mercados externos e nos seus processos de internacionalização. A ideia seria a AICEP trabalhar do exterior para Por- encontra-se a delinear estratégias De acordo com o testemunho de tugal. O que se verifica atualmente que lhe permitam entrar no Brasil e João Carvalho Fernandes do IAPMEI, é que os recursos fora de portas são nos mercados africanos, aproveitan- o processo de internacionalização escassos, resumindo-se à presença do nomeadamente as vantagens da das empresas deve ser planeado e de uma pessoa no país de destino partilha da língua. o risco que implica deve ser acaute- e a um papel de cariz marcadamen- lado. As empresas devem ponderar, te informativo. Para além disso, a sempre que possível, a realização de avaliação do desempenho dessa parcerias com empresas locais, uma pessoa deveria ser efetuada com vez que estas conhecem em primei- base em objetivos. Se assim fosse, ra mão a realidade do mercado que essa pessoa estaria motivada e inte- se tenta abordar. ressada em fazer o follow up e atrair Um outro fator a ter em consideração no processo de internacionalização é a dimensão da empresa. No momento em que a Primavera BSS pensou na internacionalização, verificou que não tinha dimensão as empresas portuguesas para esse para o fazer. O processo de interna- Segundo António Pinto Carvalho, cionalização incorpora riscos eleva- uma empresa de Braga com história dos e são necessários recursos que e know-how reconhecido inter- Na opinião de Francisco Fernandes, permitam a instalação do negócio nacionalmente nos instrumentos CEO da Coltec, o esforço da AICEP num outro país, onde é necessário de corda, “é preciso quem abra é apreciado em matéria de trazer contrariar a distância e conquistar a portas lá fora”. Considera que as “mercado” para as empresas, se confiança do mercado. Da experiên- associações empresariais e a AICEP bem que também entende que os cia acumulada, esta empresa con- deveriam empenhar esforços numa contactos propiciados nem sempre cluiu que para que o desenvolvimen- maior promoção internacional são direcionados como deviam ser. to de negócio seja eficaz no mercado das empresas. Simão Soares não Considera que há um caminho a mercado em concreto. | 87 88 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO fazer por aquele organismo ou por seus donos e gestores à unidade de um organismo facilitador que outro que se possa criar em matéria sedeada no Quadrilátero. Porém, apoie as empresas de pequena e de facilitação de contactos específi- estas deslocações que fazem a Por- média dimensão no seu processo de cos, similares àqueles que resultam tugal são por eles muito apreciadas, internacionalização seria muito im- da ação dos agentes comerciais que em virtude do sol, da proximidade portante. Simão Soares reforça que as empresas mantêm. do mar, do saber receber do povo uma eventual estrutura que venha português e da sua vontade de fazer a ser criada pode ser interessante mais e melhor. Em contraponto, o para as empresas emergentes (tec- administrador da Celoplás acres- nológicas, para o mercado global), centa que a marca “Portugal” não é mas deve incorporar regras claras bem vista nos mercados internacio- e simples: liderança eficiente com nais, tendo em conta que a presença estratégia bem definida para apoio da Troika não contribui para melho- a micro e pequenas empresas; baixo rar a imagem externa do país. custo operacional; especialização Outro aspeto considerado fundamental pela maior parte dos entrevistados é o facto de que este território carece de políticas de marketing que o promovam internacionalmente, até porque consideram que as empresas tecnológicas nacionais são aceites com naturali- na exportação de conhecimento; e, dade nos mercados externos. Tiago O Quadrilátero carece de estratégias Oliveira da multinacional Amtrol-Alfa de marketing territorial que promo- refere com conhecimento de causa vam a região e que possam associar Quanto à criação de um organismo que Portugal é reconhecido no ex- a componente turística à cultural, regional para desenvolver um pro- terior como um país de “1.º mundo”, defende Manuel Mota. Nesta linha jeto de internacionalização para o inovador e feito de gente trabalha- de pensamento, o líder do grupo território, a resposta do dirigente da dora. Porém, acredita também que DST, acrescenta que para atrairmos Critical Materials, não sendo pre- “Portugal é demasiado pequeno IDE para o Quadrilátero, importa cisa, é positiva mas com reservas. As para ser visto [a partir do exterior] que exista um programa integrado barreiras podem vir de dentro, espe- como constituído por diferentes que considere as quatro parcelas do cialmente das estruturas existentes, territórios”, isto é, as oportunidades território como um todo e nos mais dos objetivos do próprio projeto e, oferecidas pelas distintas localiza- variados aspetos, que capacite o acima de tido, da liderança. Todavia, ções regionais do país não se distan- território para um maior cosmopoli- considera que a avaliação dos seus ciam ao ponto de justificarem uma tismo. Simultaneamente têm-se que resultados deve ser feita através da política de marketing diferenciada. comunicar através do marketing taxa de conversão em negócio que territorial as excelentes condições conseguirem produzir ou facilitar. de trabalho e de vida de que dispo- Esta entidade devia evitar o que as mos (tempo, condições naturais e associações empresariais costumam segurança pública). fazer, isto é, “misturarem tudo”. Para Filomena Machado exerce funções de controlling na multinacional Leica, cuja unidade portuguesa de produção de aparelhos óticos foco nos apoios quotidianos. além disso, podia apoiar na “desbu- de precisão está localizada em Ricardo Poças, da direção de pla- Vila Nova de Famalicão. Na sua neamento e controle de obras das perspetiva, para este território ser Construções Gabriel Couto, o capaz de atrair IDE, deve potenciar e território do Quadrilátero apresen- comunicar todos os seus atributos. ta todas as condições necessárias No caso concreto da Leica, a casa- para o desenvolvimento da sua Para José Capa Pereira, no passado -mãe encontra-se na Alemanha, o atividade empresarial. Contudo, muito ligado à AIMinho, o Quadrilá- que obriga a várias deslocações dos também defende que a existência tero é um processo. A região carece QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES rocratização” dos projetos financiados e, simultaneamente promover a consolidação empresarial e a fusão e aquisição de empresas. de uma verdadeira “infraestrutura sobremaneira. institucional”, isto é, de uma prática organizativa e sistémica de cooperação efetiva que “alinhe” estratégias, valorizando as complementaridades mais do que as divergências. João Carvalho Fernandes do IAPMEI corrobora deste pensamento, dizendo que para a captação de investimento, os agentes têm de ser diretamente envolvidos. Para tal, salienta ser necessário criar consensos em torno de uma Carta de Negócio para o território (com os benefícios e as disponibilidades bem estabelecidas) que incluísse as questões fiscais, 4.7. QUADRO-RESUMO Na tabela que se segue, são destacados os principais pontos referidos pelos três entrevistados com ligações, no presente ou no passado, à AIMinho, à UMinho e ao IAPMEI. Tenta-se resumir os quatro pontos anteriores de forma esquemática e de fácil consulta e são apenas referidos os contributos mais relevantes partilhados pelos entrevistados. laborais, ambientais, de licenciamento e formação, mas que também considerasse eventuais reduções de custos de contexto através do IRS, do IMI, da derrama e das taxas de licenciamento de água, tratamento de esgotos e resíduos. Uma medida desta natureza teria um forte impacto, com resultados visíveis no imediato, embora só fosse fazível pondo todos os organismos em contacto e a trabalhar em conjunto. Por seu lado, Manuel Mota, professor catedrático da UMinho, considera que, a ser possível a criação de uma agência de desenvolvimento supramunicipal, seria fundamental que os municípios acordassem entre si um modelo de funcionamento e governança em áreas cuja cooperação se revela um fator crítico de sucesso. Tanto a internacionalização como o marketing territorial são domínios, entre outros possíveis, em que a cooperação poderia resultar | 89 90 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Tabela 26 - Contributos dos entrevistados ligados à AIMinho, UMinho e IAPMEI DIMENSÕES-CHAVE CONTRIBUIÇÕES DOS ENTREVISTADOS QUADRILÁTERO Com a entrada na UE, particularmente, na moeda única, Portugal passou a enfrentar um quadro macro e E CONDIÇÕES DA microeconómico de enorme condicionamento. A UE tem de se pronunciar sobre os desequilíbrios comerciais à ENVOLVENTE escala internacional e deve clarificar a sua posição relativamente às regras a que deve atender, sob pena de pôr em causa o bem-estar económico dos países membros. O tecido empresarial português está a ser penalizado pela atual situação a nível interno e pelas suas implicações em termos de condicionamento financeiro (Carvalho Fernandes). Existem aspetos a melhorar na definição de prioridades e articulações ao nível do Estado e dos organismos da Administração Pública. Há necessidade de uma maior consistência das políticas públicas implementadas, mas também ao nível da gestão das equipas que estão no terreno (Carvalho Fernandes). A eficiência do sistema judicial, o licenciamento industrial, a fiscalidade e o direito do trabalho são fatores muito importante para quem decide a melhor localização para o seu negócio (José Capa Pereira). Dada a pouca eficácia das políticas públicas é necessário identificar criteriosamente as ações prioritárias e promover a afetação dos recursos a essas ações prioritárias (José Capa Pereira). O Quadrilátero não pode estar tão exposto a conjunturas e motivações de índole político-partidário. É necessária uma liderança com peso institucional, capaz de definir uma matriz de interesses e de especialização sobre a qual possa trabalhar com autonomia, nomeadamente ao nível da dinamização empresarial e de atração de investimento (José Capa Pereira). As dificuldades de projetos como o Quadrilátero prendem-se com o “protagonismo” político e pela concorrência que se estabelece entre os “cabeças de cartaz” (Manuel Mota). CLUSTERS E No Quadrilátero existem infraestruturas empresariais e tecnológicas capazes, conhecimento de ponta e em- COOPERAÇÃO EM REDE presas de referência em áreas emergentes das tecnologias como as TIC, os materiais e a biotecnologia (Manuel Mota). Seria importante que o território pudesse contar com um conjunto de recursos técnicos especializados e articulados, dedicados à captação de investimento e à promoção de estratégias de cooperação entre empresas (José Capa Pereira). É necessário promover todas as formas de aquisição de massa crítica das empresas e instituições. A cooperação tem surgido apenas em contextos de grande adversidade (José Capa Pereira). As associações empresariais devem ser agentes mobilizadores, com capacidade de agregação e liderança (Carvalho Fernandes). A UMinho é também um parceiro indispensável, nomeadamente no seu papel de promoção e fortalecimento de eixos de entendimento (José Capa Pereira). Faltam lideranças políticas fortes, com capacidade de intervenção e capazes de influenciar as decisões de Lisboa. Existe ainda um problema cultural associado a um certo egoísmo minhoto, onde existe tendência para dividir em vez de unir (Manuel Mota). EMPREENDEDORISMO E Sente-se a necessidade de criar de um espaço que promova encontros informais entre os empresários, os RENOVAÇÃO DO TECIDO professores universitários e os investigadores. O objetivo seria cruzar e estabelecer relações de caráter informal EMPRESARIAL entre pessoas ligadas ao contexto académico e ao tecido empresarial. Para uma estrutura desta natureza poder ter sucesso, terá de ter alguém responsável pela dinâmica do espaço (José Capa Pereira). QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES INVESTIGAÇÃO, Para fortalecer o tecido empresarial no território do Quadrilátero deve-se apoiar a criação de valor (“é necessário DESENVOLVIMENTO E juntar quem sabe com quem produz”) e captar investimentos externos. Apoiar a criação de valor nas empresas INOVAÇÃO implica conceber um modelo de negócio onde sejam envolvidos os investigadores e onde a partilha de resultados esteja bem definida (Carvalho Fernandes). FATORES CRÍTICOS O processo de internacionalização das empresas deve ser planeado e o risco deve ser acautelado. As empresas NA AFIRMAÇÃO devem ponderar a realização de parcerias com empresas locais, uma vez que estas conhecem a realidade do INTERNACIONAL mercado que se tenta abordar (Carvalho Fernandes). Para a captação de investimento, os agentes têm de ser diretamente envolvidos. Uma boa solução seria a criação de uma Carta de Negócio para o território que incluísse as questões fiscais, laborais, ambientais, de licenciamento e formação, mas que também considerasse eventuais reduções de custos de contexto através do IRS, do IMI, da derrama e das taxas de licenciamento de água, tratamento de esgotos e resíduos (Carvalho Fernandes). O Quadrilátero é um processo. O território carece de uma verdadeira “infraestrutura institucional”, isto é, de uma prática organizativa e sistémica de cooperação efetiva que alinhe estratégias, valorizando as complementaridades mais do que as divergências (José Capa Pereira). O Quadrilátero carece de estratégias de marketing territorial que promovam o território e que possam associar a componente turística à cultural. A criação de uma agência de desenvolvimento supramunicipal faria sentido se os municípios acordassem entre si um modelo de funcionamento e governança em áreas cuja cooperação se revela um fator crítico de sucesso (Manuel Mota). Na tabela seguinte, são destacadas as principais ideias-chave referidas pelos representantes das empresas. O objetivo passa por apresentar de forma esquemática e simples os contributos mais relevantes partilhados pelos entrevistados. | 91 92 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Tabela 27 - Contributos dos representantes das empresas entrevistadas DIMENSÕES-CHAVE CONTRIBUIÇÕES DOS ENTREVISTADOS QUADRILÁTERO E CONDIÇÕES DA ENVOLVENTE O tecido associativo encontra-se repartido por cidades/concelhos. É necessário criar espaços e condições facilitadoras do networking e dos negócios (José Dionísio, Primavera BSS). É crucial reformar, organizar e reestruturar (João Cortez, Celoplás). Existe a necessidade de uma maior mobilidade entre os 4 concelhos (Gustavo Dias, Critical Materials). É urgente, uma visão para o território, capaz de orientar e direcionar as vontades no mesmo sentido (António Ressureição, S.I.C.I.). A este nível, é também importante que os decisores de política sejam pessoas conhecedoras da realidade no terreno (Pedro Pinto, Success Gadget). A diplomacia económica é pouco eficaz (Gustavo Dias, Critical Materials). Nomeia-se o caso das relações económicas com o Brasil, onde existe uma diferença muito grande entre as taxas aduaneiras aplicadas ao comércio Brasil-Portugal e ao comércio Portugal-Brasil (António Carvalho, APC Instrumentos Musicais). É necessário diminuir a burocracia que impede o crescimento das empresas (António Carvalho, APC Instrumentos Musicais e Simão Soares, Silicolife). Os apoios e incentivos às empresas estão mal formatados. Deverão estar mais adequados às necessidades reais do tecido empresarial (João Cortez, Celoplás e António Ressureição, S.I.C.I.). Apesar da recente evolução do direito laboral, são ainda necessário alguns ajustamentos (Tiago Freitas, Porminho Alimentação). CLUSTERS E COOPERAÇÃO EM REDE Os empresários são, genericamente, muito egoístas e fechados (Pedro Pinto, Success Gadget). É necessário alterar os aspetos culturais pouco abertos à cooperação. (Simão Soares, Silicolife e António Ressureição, S.I.C.I.). Os clusters são importantes pois sinalizam a especialização produtiva dos territórios, identificam a existência de especialistas (António Ressureição, S.I.C.I.) o que reduz a necessidade de provar a competência e a qualidade do que se faz (Paulo Marques e José Marques, Balanças Marques). A promoção e o fomento dos clusters empresariais afigura-se essencial para facilitar a cooperação das empresas e a internacionalização (Ricardo Poças, Construções Gabriel Couto). A política fiscal deveria incentivar a fusão de empresas (José Dionísio, Primavera BSS). É importante que as empresas tenham dimensão crítica para pensarem nacional e global (João Cortez, Celoplás). As associações empresariais devem ter como razão de ser “pensar, propor, intervir e ter uma visão para o território” (António Ressureição, S.I.C.I.). Deve-se aproveitar a existência do INL como uma infraestrutura de referência para o território (Pedro Pinto, Success Gadget) EMPREENDEDORISMO E RENOVAÇÃO DO TECIDO EMPRESARIAL É necessária uma aposta efetiva no empreendedorismo tecnológico e incubar start ups no tecido empresarial envelhecido (Gustavo Dias, Critical Materials). A universidade deve criar condições para que os investidores vão à universidade conhecer as ideias e projetos (António Ressureição, S.I.C.I.). O complexo AvePark/Spinpark carece de definição, de uma ideia estratégica sustentada, que cative os empreendedores nacionais/locais e o investimento industrial externo e que favoreça a própria continuidade do projeto (Gustavo Dias, Critical Materials). Existe um problema de capitalização das empresas tecnológicas: são necessários acionistas de longo prazo em substituição de empréstimos. É preciso criar uma estrutura para o fundraising de capitais públicos e privados (Gustavo Dias, Critical Materials). O financiamento e apoio às startups devem ser desburocratizados e pensados de uma forma faseada. Inicialmente deve-se assegurar o investimento em I&DT, em protótipos, em licenciamento/patentes, na própria criação de empresa e no acesso aos mercados de destino (Simão Soares, Silicolife). Em fases posteriores, há uma questão de “mega financiamento” e/ou de capitalização (Gustavo Dias, Critical Materials). QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES INVESTIGAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO A parceria entre as universidades e as empresas deveria ter como objetivo a oferta de produtos/soluções de maior valor (Gustavo Dias, Critical Materials). É de extrema utilidade manter canais abertos e facilitar a comunicação das empresas com o SCTN, aproveitando recursos que potenciem a inovação de produtos e processos (Francisco Fernandes, Coltec). As instituições do SCTN devem fomentar o encontro entre a indústria e os investidores. Os resultados da I&D devem ser medidos com base na geração de riqueza para a economia). É necessário transformar I&D em produtos (João Cortez, Celoplás). A indústria deve “guiar” as universidades para um desenvolvimento mais aplicado da I&D (Tiago Oliveira, Amtrol-Alfa). FATORES CRÍTICOS NA AFIRMAÇÃO INTERNACIONAL A marca “Portugal” não é muito bem vista nos mercados externos e a presença da Troika não ajuda a melhorar a sua imagem externa (João Cortez, Celoplás). O território carece de políticas de marketing que o promovam (José Dionísio, Primavera BSS). Na atração de IDE deve-se potenciar e comunicar todos atributos do território. O sol, a proximidade do mar, o saber receber do povo português e a sua vontade de fazer mais e melhor, as condições de trabalho e de vida devem ser bem comunicadas e potenciadas (José Teixeira, grupo DST e Filomena Machado, Leica). As mega-missões da AICEP são mais eficazes para os grandes grupos económicos e menos às pequenas empresas tecnológicas (Simão Soares, Silicolife). A AICEP, como organismo de apoio para as empresas nacionais, deveria empenhar esforços numa maior promoção internacional das empresas (António Carvalho, APC Instrumentos Musicais). A presença no exterior deveria ser reforçada, verificando-se que os recursos “fora de portas” são escassos, resumindo-se à presença de uma pessoa no país de destino e a um papel de cariz informativo (José Dionísio, Primavera BSS). Os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser, isto é, entende-se que há um caminho em matéria de facilitação de contactos específicos (Francisco Fernandes, Coltec). A criação de uma estrutura de promoção e de fomento à internacionalização do Quadrilátero pode ser interessante para as empresas emergentes. Importa que sejam definidas regras claras, simples, para garantir uma liderança eficiente deste território (Simão Soares, Silicolife e Ricardo Poças, Construções Gabriel Couto). A avaliação dos organismos de promoção territorial e internacionalização deve ser feita através da taxa de conversão em negócio que conseguirem produzir ou facilitar, devem ser definido um sistema de avaliação com base em objetivos (José Dionísio, Primavera BSS e Gustavo Dias, Critical Materials). | 93 94 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 5.Orientações para o futuro 5.1. RESULTADOS OBTIDOS O conceito de território transformou-se numa realidade incontornável. A noção de território “passou a englobar, para além do espaço físico ou geográfico, as vertentes do espaço administrativo, económico, social e percetivo. Ou seja: atualmente, o conceito de território, exprime a entidade suporte, de integração e de síntese, de toda a atividade humana, com particular realce para as atividades produtivas, o habitat, os recursos naturais e ambientais, as identidades, bem como os agentes desses processos” (Ferreira, 2007: 31). A competitividade territorial ganha maior relevo com a intensificação da competitividade global, a qual passa a conferir uma maior importância ao “lugar”. Fatores qualitativos inerentes ao território podem constituir fatores de atração entre empresas, pessoas e capitais (Carvalho, 2002). Ao longo dos tempos, a competitividade territorial tem assumido cada vez mais importância, atribuindo-se particular atenção à valorização do território. Tendo em conta que é possível dividir o território em vários níveis, importa considerarmos que, para cada nível de território, definem-se políticas públicas que influenciam a produtividade das empresas e dos setores. Em consequência, o território é uma unidade de análise em termos de competitividade, cuja gestão é assumida pelo poder público. Desta forma, as políticas públicas são uma variável de extrema importância, em virtude de influenciarem significativamente o ambiente de competitividade de um país (Porter, 1994). e enquadradas nas especificidades do território que compõe o Quadrilátero, capazes de produzir efeitos no curto, no médio e no longo prazo, no que à competitividade e à internacionalização diz respeito. Quando se fala de competitividade de um território, deve-se ter presente que em todas as regiões existem empresas extremamente competitivas em detrimento de outras nada competitivas, mas isso não é determinante da competitividade global do território. Em contrapartida, características/fatores inerentes ao próprio território afetam e influenciam a competitividade de todas as empresas situadas nessa região (Comissão Europeia, 1999). A competitividade de um território depende assim, não tanto da existência ou não de empresas competitivas, mas principalmente da existência de diversos fatores inerentes à região em si, sejam eles naturais, humanos ou sociais, que Este estudo surge como um contributo para suportar decisões e opções de promovam a competitividade da carácter estratégico (mas também operacional), devidamente sustentadas região como um todo. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Como resultado das 17 entrevistas exploratórias, dos contributos e ideias-chave partilhadas e com base na análise SWOT elaborada para o território, estruturou-se uma matriz estratégica (Tabela 28) para o território do Quadrilátero. A apresentação sob a forma de matriz estratégica pretende facilitar a leitura e interpretação da informação. Tabela 28 - Matriz estratégica Fonte: Elaboração própria IDEIAS-FORÇA - Afirmar este território como “Região do Conhecimento”, potenciando as redes empresariais e de I&D; PARTILHADAS - Dotar a Associação de Municípios de Fins Específicos Quadrilátero Urbano de recursos e competências capazes de potenciar o território para acolher empresas internacionais e para projetar as empresas nacionais no mercado internacional; - Projetar o Quadrilátero no contexto nacional e europeu; - Identificar e promover as vantagens competitivas setoriais internas existentes e otimizar (racionalizar esforços, individualidades e coerência, projetar a região, extrair benefícios materiais do processo); - Identificar e apostar no âmbito do Quadrilátero em áreas/clusters de excelência, tanto a nível nacional como europeu, com capacidade de atração e retenção de investimento e capital humano talentoso e qualificado; - Colmatar as carências existentes ao nível da identidade e da notoriedade do Quadrilátero. Clarificar e acionar uma estratégia de comunicação e de marketing eficaz (marketing territorial); - Potenciar a ligação entre as universidades e as entidades do SCTN e o tecido empresarial do território, de forma a enriquecer a proposta de valor dos produtos e serviços; - Definir uma estratégia de atuação para o Avepark e para outras estruturas de apoio às empresas, reforçando o funcionamento em rede e a dinâmica deste espaço; - Criar condições para tornar o INL num investimento estruturante para o território. - Tornar a rede de transportes eficiente e adequar a rede à generalidade dos operadores, isto criar, uma verdadeira infraestrutura logística para o território; - Progressiva compreensão da necessidade de articular iniciativas de cooperação e concertação territorial para potenciar a competitividade regional a vários níveis; - Crescente interiorização, por parte dos atores regionais, da importância da criatividade, a inovação e o conhecimento na geração de oportunidades económicas; RISCOS E/OU - Insuficiente solidariedade política e institucional entre os atores do Quadrilátero e entre outras forças ADVERSIDADES ou stakeholders; - Afastamento das associações empresariais do tecido produtivo, não dando respostas às reais necessidades do mesmo. - Barreiras regionais/nacionais de natureza financeira e políticas decorrentes de incoerências nas políticas públicas ou de um processo de regionalização; - Instabilidade do sistema fiscal e judicial; - Problemas e burocracia relacionada com o licenciamento industrial; - Não concretização dos projetos relacionados com a operacionalização do território ao nível do sistema de transporte público (rodoviário e ferroviário); - Inexistência de um enquadramento legal para o ordenamento e planeamento dos transportes; | 95 96 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Vetor estratégico 1: Definir a rede de atores é tão alargada e para o território do Quadriláte- heterogénea que inclui cidadãos, ro um modelo institucional e de empresas públicas e privadas, asso- A PROMOÇÃO DO governança ciações, institutos, fundações, entre QUADRILÁTERO Um dos pontos fracos apontados na outras entidades de natureza similar Um dos objetivos deste estudo, análise teórica do presente estudo ou equivalente. está relacionado com a ausência de Um modelo institucional bem defi- estruturas político-administrativas nido pode exercer um importante 5.2. VETORES ESTRATÉGICOS PARA delineados e apresentados anteriormente, passa por estabelecer um conjunto de estratégias e ações futuras de promoção do Quadrilátero com vista à sua internacionalização e à atração de IDE. De uma forma geral, o presente capítulo pretende apresentar os vetores estratégicos para a criação de um modelo de intervenção concertado entre os municípios que compõem o Quadrilátero que apoie e fomente a internacionalização do tecido em- de nível supramunicipal consistentes e convenientemente legitimadas, capazes de se constituírem como um interlocutor credível na relação com agentes sociais e empresariais do território e parceiros no projeto de consolidação e desenvolvimento do Quadrilátero. Um outro ponto a resolver está ligado com a problemática da liderança económica, política e institucional presarial e, também, a captação de do território. investimento para estes territórios. Face ao exposto, o Quadrilátero ca- Neste sentido, apresentam-se rece de uma estrutura de governa- de seguida os vetores estratégicos considerados basilares para a melhoria das condições existentes e para a criação de um ambiente favorável à dinâmica e crescimento do tecido empresarial. O conjunto de propostas que se seguem, baseiam-se, por um lado, na leitura ampla do território por parte dos consultores e autores deste estudo e, por outro, na análise crítica dos empresários ção supramunicipal e de um modelo de institutional governance. Um modelo de governança implica lideranças fortes e capazes de articular ações coletivas e interesses comuns. O processo de tomada de decisão para ser eficaz, tem necessariamente de ser ágil, devendo ter como base um conjunto de princípios estratégicos previamente discutidos e estabelecidos. papel no sucesso da gestão e promoção do território. Para isso, uma carta de objetivos (bem definidos) e um plano de atividades (coerente com os propósitos), são fatores a ter em conta na estruturação de um modelo de governança para o Quadrilátero. A questão institucional em torno do Quadrilátero é de particular importância, na medida em que a estrutura que possa dar resposta às estratégias de cooperação acordadas ou a acordar entre os quatro municípios, tem de estar capacitada e apetrechada dos recursos essenciais à prossecução dos objetivos que lhe estejam atribuídos. Para que o modelo de intervenção funcione, são necessários mecanismos que possam minimizar ou eliminar os conflitos de interesse. O impacto da governança corporativa deve ser sentido através da maximização de valor para os intervenien- estabelecidos no território que, Embora se entenda como o vetor melhor que ninguém e dentro da estratégico mais importante para sua área de atuação, conhecem as o Quadrilátero, são inúmeros os dificuldades quotidianas encaradas exemplos e possibilidades para a O institutional governance é no terreno e que, com o saber e definição de um sistema de gover- composto por um conjunto de experiência acumulada, identifi- nança capaz de acomodar interesses mecanismos e regras pelas quais se cam os aspetos mais importantes e e levar a efeito ações de cooperação estabelecem formas de controlo e prementes. entre os mais diversos atores. Aliás, de gestão, com instrumentos de mo- QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES tes diretos, neste caso, os municípios. nitorização e de responsabilização sentido, é comum a manipulação de reduzir e minimizar os tão referidos das lideranças pelas suas decisões instrumentos de política regional, custos com a obtenção de informa- ou atos de gestão. A governança desde benefícios fiscais a incentivos ção que as empresas enfrentam no corporativa visa diminuir os even- financeiros, no processo de concor- seu processo de internacionalização. tuais problemas que podem surgir rência inter-regional pela atração na relação entre as lideranças de das empresas. uma estrutura institucional para o Para além da vertente Quadrilátero-Mundo, este organismo iria A internacionalização dos territórios igualmente promover a vertente é algo muito estudado e abordado Mundo-Quadrilátero, ou seja, o IDE pelos críticos e pensadores econó- Vetor estratégico 2: Especiali- no território, fornecendo, para além micos. Todavia, para além dos quatro zar uma estrutura regional no do apoio personalizado, um conjunto municípios que a constituem, da marketing territorial e na inter- de informações que vão desde os AIMinho, do CITEVE e da UMinho, nacionalização do território incentivos ao investimento, o acesso é necessário conseguir um maior ao financiamento, as áreas de aco- Numa economia e sociedade inten- envolvimento por parte das outras lhimento empresarial, a legislação, associações empresariais existentes até à I&D e inovação. Pretende-se Quadrilátero e os intervenientes que lhe estão diretamente associados. sivas em conhecimento e sujeitas cada vez mais à competição global, o sucesso e a competitividade de uma cidade/região parece depender de diversos fatores, deixando de estar no território. É necessário garantir uma parceria e um entendimento entre os agentes empresariais e os decisores políticos para a concreti- tão relacionada com aspetos físicos zação desta estrutura. e com os seus recursos naturais. No- Apesar de a AICEP ser o organismo vas formas de cooperação e atuação e, ao mesmo tempo, novas formas de estar e novos valores, lançam novos desafios à administração local e demais atores da região, ao exigirem um esforço adicional ao nível da promoção regional, de forma a atrair e reter recursos potenciadores do crescimento e garantir a manutenção da competitividade do território. responsável pela internacionalização das empresas portuguesas e por encorajar as empresas internacionais a olhar para Portugal como um bom local para se investir, considera-se que a sua ação não consegue dar uma resposta satisfatória e adequada às características intrínsecas de territórios específicos. A existência de uma estrutura dedicada à inter- que esta estrutura assuma uma postura ativa e dinâmica na atração de investimento estrangeiro para o território (marketing territorial). Vetor estratégico 3: Proporcionar uma maior ligação entre entidades do SCTN e o tecido empresarial Para que a ligação entre as entidades do STCN e o tecido empresarial fosse mais efetiva e profícua, seria conveniente definir um modelo de transferência de conhecimento que envolvesse as partes mas cujos resultados fossem devidamente partilhados através de um modelo Atualmente, assiste-se a uma inten- nacionalização do Quadrilátero, teria sificação das ações de divulgação e como principais objetivos fornecer promoção da imagem das cidades um conjunto ímpar de serviços e e das regiões junto dos potenciais informações para as empresas insta- A renovação do tecido empresarial empreendedores locais, regionais, ladas neste território e para aquelas do território deverá ter em conside- nacionais e internacionais. O que estejam a ponderar internacio- ração a definição clara de objetivos desenvolvimento económico de nalizar os seus produtos e serviços. e de áreas estratégicas, formando uma região depende em grande Estes serviços de facilitação e acon- quadros qualificados e desenvolven- parte da sua capacidade de atração selhamento e a disponibilização de do conhecimento aplicado, integran- e fixação de indústrias e, neste eventuais estudos setoriais poderão do novas ideias e projetos de valor de exploração definido a priori e que proporcionasse vantagens mútuas. | 97 98 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO em empresas já consolidadas no das associações, beneficiam de que os negócios inovadores pros- mercado e apoiando novas start ups uma relação mais estreita com o perem e floresçam. Neste aspeto, aos mais diversos níveis. O território tecido empresarial, sendo assim um o modo de funcionamento das deverá ser promovido numa lógica excelente interlocutor entre este e a instituições económicas e políti- restrita, definindo claramente em universidade. cas é essencial, na medida em que que áreas ou setores apresenta vantagens comparativas. Só através da focalização em determinadas áreas será possível fomentar a competitividade e a atratividade deste território de forma eficaz e eficiente. Aqui, o papel da UMinho e das outras instituições de ensino ou investigação do território é fundamental, tendo em consideração as suas funções na formação de recursos humanos altamente qualificados e as infraestruturas de I&D que deverão estar à disposição do tecido empresarial. Embora, a UMinho seja já considerada a, nível nacional, a universidade com maior número de patentes rendibilizadas em contexto empresarial, Ainda neste âmbito, destaca-se o papel do Avepark como interface da própria universidade. Sendo o Avepark uma infraestrutura de relevo para as empresas de base tecnológica, urge a definição de uma estratégia que se foque na captação das empresas inovadoras e de base tecnológica, na aposta no marketing internacional, como forma de atrair empresas-âncora e investidores. Infraestruturas como o INL ou os 3B’s têm de ser potenciadas no território. Vetor estratégico 4: Criar redes/espaços de excelência para fomentar o empreendedorismo e os negócios considera-se que, até pela poten- Em termos históricos, o conceito de cialidade do território em questão, mobilidade social (ideia/capacidade se deveriam intensificar as colabo- de alterar o estatuto económico e rações universidade-empresa. A social) revela-se um elemento mar- UMinho, neste território, é o player cante neste território. Fato que jus- melhor posicionado, com boas tifica a forte iniciativa empresarial e condições infraestruturais e com competitividade do Quadrilátero ao excelentes capacidades para prestar longo dos anos. Mais recentemente, serviços de maior risco tecnológico e a título de exemplo, verificou-se a às empresas que pretendem apostar criação e dinamização, na UMinho, em novos produtos e desenvolver de uma oferta formativa de curta ideias inovadoras (serviços, estes, duração em áreas de empreende- que o mercado não oferece). dorismo e de inovação, que aliadas A interligação entre a UMinho, outras entidades do SCTN e as associações empresariais, é igualmente uma importante mais-valia para o território, dado que, no caso à apetência/vontade de criar um negócio próprio, fez crescer a economia em torno de determinados setores, nomeadamente as TIC. É importante criar as condições para QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES são responsáveis por estabelecer os incentivos às empresas e aos indivíduos. As instituições económicas e políticas são responsáveis por determinar os incentivos para os indivíduos se instruírem, pouparem, investirem, inovarem e adotarem novas tecnologias. As instituições influenciam o comportamento e os incentivos na vida real e, por conseguinte, contribuem para o êxito ou fracasso das nações e, em menor escala, dos territórios (Acemoglu e Robinson, 2013). Acemoglu e Robinson (2013) afirmam que “o talento individual é importante, a todos os níveis da sociedade, mas necessita de um quadro institucional que o transforme numa força positiva”. Exemplificam recorrendo ao caso de Bill Gates e da Microsoft: “Bill Gates, tal como outras figuras lendárias da indústria das TIC, possuía um talento imenso e ambição. Mas, em última análise, respondeu a incentivos. O sistema educativo dos EUA permitiu a Gates e a outros como ele adquirirem um conjunto único de aptidões para complementarem o seu talento. As instituições económicas dos EUA permitiram-lhes criar facilmente empresas… Essas instituições viabilizaram também o financiamento dos seus projetos. Os mercados laborais dos EUA permitiram-lhes contratar pessoal tável, tanto aos níveis intraurbano ção das preocupações com a polui- qualificado e as condições relati- como interurbano, as quais são ção e o meio-ambiente e, por outro, vamente competitivas do mercado fundamentais para a criação de um pela necessidade de uma oferta permitiram-lhes expandir as suas espaço de vida comum para cida- ferroviária e de uma rede intermodal empresas e comercializar os seus dãos e empresas. Nesta linha de de qualidade, garantindo a facilida- produtos”. Desta forma, as institui- pensamento, torna-se necessário de de comunicação e circulação de ções e a forma como funcionam são desenvolver e gerir um sistema de pessoas e mercadorias através da cruciais para os territórios. transporte integrado e intermodal, rede de transportes públicos. As universidades enquanto fontes recetoras de fundos para I&D por excelência, funcionam como centros capaz de proporcionar melhorias significativas na mobilidade tanto de pessoas como de bens. A ideia de criação de um sistema multimodal (pessoas e mercadorias), à semelhança do que se fez de investigação e desenvolvimento Simultaneamente, pela sua configu- em Lisboa com a Gare do Oriente, e criação de empresas spin-off, li- ração nuclear, o território do Qua- deveria ser pensado também para derando muitas vezes o processo de drilátero é um forte potenciador de este território, quanto mais não inovação tecnológica. Por outro lado, outras articulações funcionais entre seja quando se vier a equacionar atraem e desenvolvem talentos, os aglomerados urbanos vizinhos, o a possibilidade de uma estação de que deve ser aproveitado. O sub- comboio de altas prestações no sistema formado pelas cidades de Quadrilátero se o investimento para Braga, Barcelos, Amares e Vila Verde uma ligação Porto-Vigo avançar. é um dos exemplos, necessitando Independentemente de se tratar de de uma solução intermunicipal para um investimento que não se vislum- os transportes urbanos/suburba- bra para os próximos tempos, é de nos. Do mesmo modo, também se referir a elevada importância para o verifica uma forte interdependência território de se conseguir influenciar entre as cidades de Guimarães e para que, a médio ou a longo prazo, Fafe, Vizela e Felgueiras, Vila Nova venha a ser efetuada uma ligação de de Famalicão, Santo Tirso e Trofa. TGV (Train à Grand Vitesse) entre promovendo o intercâmbio de ideias e o empreendedorismo e, ao mesmo tempo, moldam o ambiente externo onde estão inseridas, tornando-o mais aberto e recetivo a novas ideias e à diversidade. Em Portugal, muito se fez, ao longo dos últimos anos, para melhorar o sistema educativo e as instituições em geral. Contudo, apesar dos recentes esforços, o trabalho feito ao nível da promoção do espírito empreendedor é ainda muito incipiente. A este nível considera-se que as Atualmente, o Quadrilátero não salvaguarda as infraestruturas necessárias à dinâmica empresarial Porto e Vigo, onde esteja garantida a passagem por Braga ou mesmo pelas imediações de Braga. e, apesar das grandes melhorias Apesar da atual conjuntura econó- verificadas ao nível das vias de co- mica nacional e dado o elevado in- municação, persistem algumas de- vestimento que estaria envolvido na ficiências, nomeadamente ao nível concretização das propostas apre- das ligações ferroviárias. Apesar do sentadas no presente vetor estraté- transporte ferroviário não ter tanta gico, realça-se a importância, para o expressão como o transporte rodo- território, de uma rede de transpor- viário, perspetiva-se a inversão da tes mais eficiente e eficaz que asse- tendência dominante. Por um lado, gure a intermodalidade. No passado O território do Quadrilátero carece devido ao contínuo aumento do pre- recente, foram realizados avultados de condições de mobilidade susten- ço dos combustíveis, à generaliza- investimentos na rede rodoviária, estruturas do Quadrilátero, estando tão próximas da realidade do território estão numa posição privilegiada para atuarem. Vetor 5: Garantir um sistema integrado de mobilidade e de transportes nos quatro concelhos do Quadrilátero | 99 100 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO contudo as recentes orientações humano. A competitividade de uma dade e a tudo quanto pode oferecer da UE conduzem para uma maior uti- cidade e/ou região depende larga- em termos de história, cosmopolitis- lização da rede ferroviária de forma mente da “qualidade” do seu capital mo, alimentação, desporto, cultura, a minimizar o crescente aumento do humano, sendo que quanto maior saúde, ambiente e sociedade. O preço dos combustíveis e o impacte for essa concentração de capital conceito de cidade passou a implicar ambiental provocado pela excessiva humano criativo e talentoso, mais qualidade na vida urbana, nomea- utilização do transporte rodoviário. competitivo será o território e, mais damente no que se relaciona com atrativo será para a concentração de a estética, os valores e o convívio indústrias inovadoras e de base tec- entre pessoas. O território do Qua- nológica. Assim, quanto mais criativa drilátero em geral e as cidades em e diversificada for uma cidade/ particular, ao promoverem a relação região, quer seja como resultado da com o exterior não podem descurar sua abertura ou devido à existência a necessidade de assegurar a dolce de uma percentagem elevada de vita e as componentes culturais e população estrangeira, maior será criativas. Para isso, é fundamental o seu nível de empreendedorismo e requalificar as cidades e reabilitar os inovação, aumentando a sua compe- seus centros históricos, efetuando titividade. uma programação cultural integral Vetor 6: Promover a qualificação e atratividade do ambiente urbano do Quadrilátero Atualmente há dois vetores que moldam o mundo: a tecnologia e a globalização. O primeiro ajuda a determinar as preferências humanas e o segundo as realidades económicas (Levitt, 1991). A criatividade surge agora como fator decisivo para o desenvolvimento regional. O sucesso de uma cidade está relacionado com diferentes dimensões: talento; inovação; conectividade; e, características distintivas. Estas dimensões é que a tornam num espaço único e mais competitivo/atrativo que as demais cidades. Na socieda- À medida que passamos da antiga “economia industrial” para a emergente “economia criativa”, reforçando o papel do conhecimento e da criatividade enquanto fontes de crescimento da inovação e de produtividade, as próprias universidades passam a desempenhar um importante de do conhecimento, valorizam-se papel ao nível dos “3 T’s” do novas dimensões que até então não desenvolvimento económico: faziam sentido. O capital humano tecnologia, talento e tolerância, (talentos), a capacidade de inova- conforme defendem os autores ção e de geração de novas ideias, a Florida, Gates, Knudsen e Stolarick abertura, diversidade e ligações a (2006). A “atração e fixação de outras regiões, a interação cultural e ocupações criativas podem funcio- as suas características e infraestru- nar como motores da capacidade turas, em conjunto, contribuem para de inovação e do desenvolvimento a inovação e criatividade, promoven- económico de áreas rurais e peque- do o sucesso e competitividade da nos centros urbanos”. sociedade. verdadeiramente articulada associada a novos modelos culturais e de revitalização da urbe. Questões culturais, organizacionais e ambientais entram agora na equação da atratividade de uma região, lançando novos desafios aos diversos atores locais que necessitam de promover o seu território e atrair os recursos que lhes garantam maior competitividade, rumo ao crescimento sustentado do território onde se inserem. 5.3. PROPOSTAS DE AÇÃO Na tabela seguinte ilustram-se as ações a realizar no curto e no médio e longo prazo que pretendem dar resposta aos vetores estratégicos As novas gerações procuram cada apresentados no ponto anterior. O desenvolvimento regional não vez mais um estilo de vida saudável Trata-se de ações concretas que pode ser dissociado do capital associado à qualidade de vida da ci- visam contribuir para capacitação QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES tecnológica e para o aumento da competitividade do território, pressupondo a aposta no capital humano, no conhecimento, na criatividade e na excelência para a sua afirmação na nacional e internacional. Tabela 29 - Propostas de ação no curto, médio e longo prazo para a promoção do Quadrilátero VETOR ESTRATÉGICO CURTO PRAZO 1: DEFINIR PARA O TERRITÓRIO DO QUADRILÁTERO UM MODELO INSTITUCIONAL E DE GOVERNANÇA. # Criar uma infraestrutura própria do Quadrilátero focada na atração de IDE, no apoio à internacionalização de empresas locais e na promoção internacional do território (que pode vir a ser integrada na Associação de Fins Específicos Quadrilátero Urbano); 2: ESPECIALIZAR UMA ESTRUTURA REGIONAL NO MARKETING TERRITORIAL E NA INTERNACIONALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO MÉDIO E LONGO PRAZO # Elaborar um plano de comunicação e marketing territorial para o Quadrilá- # Desenvolver, de forma constero, realçando as forças deste território face a outros; tante e no próprio território, iniciativas de marketing que # Conceber uma marca e uma imagem comum para o Quadrilátero (branpermitam consolidar internading territorial), promovendo a identidade do território, os focos de compemente os conceitos e o posiciotitividade e definindo o posicionamento estratégico. namento que estão subjacentes # Associar o território ao conhecimento e à tecnologia, usando a excelência ao branding territorial definido. em nanotecnologia como mensagem principal; # Criar uma plataforma de disponibilização de dados estatísticos e recolha de informação relevante sobre o Quadrilátero; # Desenvolver esforços para fomentar a criação de uma delegação/representação de um jornal de alcance nacional, em Braga. # Definir um modelo de transferência da tecnologia das universidades para as empresas; # Disponibilizar as infraestruturas de I&D em prol de projetos que surjam do tecido empresarial; # Desenvolver uma estratégia para o Avepark, apostando na instalação de empresas exclusivamente de base tecnológica ou inovadoras; 3: PROPORCIONAR UMA MAIOR LIGAÇÃO ENTRE ENTIDADES DO SCTN E O TECIDO EMPRESARIAL # Definir de forma clara as prioridades do território em termos de oferta formativa dirigida para o tecido empresarial; # Criar condições para intersetar o conhecimento em nanotecnologia com outras áreas de referência como as TIC, os polímeros ou os materiais, fomentando a existência de investigação aplicada para setores mais tradicionais como o têxtil ou a construção. # Assumir a nanotecnologia e outras áreas relacionadas como uma área de excelência na promoção do Quadrilátero e ajustar a investigação e a oferta de cursos superiores às necessidades e às oportunidades existentes em torno das novas tecnologias; # Organizar tertúlias periódicas entre empresários e investigadores e outros stakeholders; # Contribuir para o aumento da massa crítica e do conhecimento em nanotecnologia, promovendo o surgimento de novas empresas que atuem nesta área, garantindo investimento que potencie negócios com escala global; | 101 102 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO # Criar e fomentar um fundo de capital de risco para apoiar a criação de empresas de base tecnológica e inovadoras no Quadrilátero; 4: CRIAR REDES/ ESPAÇOS DE EXCELÊNCIA PARA FOMENTAR O EMPREENDEDORISMO E OS NEGÓCIOS # Estabelecer relações com redes de empreendedorismo e inovação internacionais; # Sensibilizar os empresários já instalados a “apadrinhar” start ups ou projetos inovadores que surjam neste território; # Conceber um espaço informal que promova o encontro entre o público universitário, investidores, empresários, empreendedores, investigadores e outros stakeholders que seja dinamizado através de um conjunto de eventos de interesse (clube de negócios); # Agregar as políticas de empreendedorismo do território, uniformizando-as em torno de um sistema de inovação com capacidade para gerar negócios de valor acrescentado; 5: GARANTIR UM SISTEMA INTEGRADO DE MOBILIDADE E DE TRANSPORTES NOS QUATRO CONCELHOS DO QUADRILÁTERO # Ajustar o sistema de transportes públicos e privados ao território do Quadrilátero como um todo, invertendo a lógica concelhia de carácter mais individualizada que existe atualmente; # Implementar a plataforma multimodal # Fomentar a utilização de transportes amigos do ambiente, menos poluidores e energeticamente mais eficientes; # Realizar um estudo de custo-benefício para a construção de uma plataforma logística multimodal no território; # Adotar uma estratégia de promoção, de requalificação e de gestão coletiva dos espaços de acolhimento empresarial existentes no território. # Articular a oferta cultural das quatro cidades para o território do Quadrilátero como um todo; 6: PROMOVER A QUALIFICAÇÃO E ATRATIVIDADE DO AMBIENTE URBANO DO QUADRILÁTERO # Promover programas internacionais de intercâmbio com cidades inteligentes e criativas de referência; # Criar eventos mobilizadores periódicos que envolvam as quatro cidades em torno da criatividade e da expressão artística e cultural; # Incentivar projetos inovadores na área do comércio e da restauração, revitalizando o centro urbano das quatro cidades. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES # Requalificar os centros históricos das quatro cidades, tornando-os atrativos para uma população jovem e cosmopolita; # Concertar os investimentos dos municípios em infraestruturas culturais e desportivas, considerando o território na sua globalidade. | 103 104 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO 6.Conclusão As regiões não são meros espaços produção, VAB e níveis de investi- Porter (1998) defende que países geográficos dado que surgem dota- mento (nacional e estrangeiro) está e economias prósperas não advêm das de recursos e competências de a revelar-se claramente insuficiente. apenas de recursos naturais e da variada natureza, quantidade e valor. Esta abordagem deve ser comple- força de trabalho disponível ou do No caso da região Minho, é possível mentada a outros níveis. Fatores valor da moeda nacional. Depen- identificar uma raiz endógena de de- como as condições geográficas, dem, sobretudo, da capacidade dos senvolvimento, sendo fundamental localização, infraestruturas existen- seus atores utilizarem os recursos aferir na atualidade e para o futuro tes, recursos naturais, custo de vida disponíveis de forma eficiente, e a imagem urbana da região são assim como da sua capacidade de também fatores determinantes da inovação e introdução de mudanças competitividade territorial. Por sua que garantam um desenvolvimento vez, o desenvolvimento dos seus sustentável. A criação e assimilação recursos humanos, a qualidade da de conhecimento são também con- educação e formação, assim como sideradas cruciais. A determinação o nível de habilitações literárias são da competitividade de um território vitais no sentido de acompanharem envolve a utilização de um indica- e suportarem o aumento da compe- dor tridimensional que depende de A tendência tradicional de focar a titividade. A questão cultural e insti- áreas como: as relações económicas determinação da competitividade tucional, a existência de políticas de internacionais; os recursos naturais, de um território na sua estrutura fomento e um ambiente propício aos ecológicos, financeiros e legais; e, a económica em elementos como a negócios também não devem ser localização geográfica/conjuntura composição setorial, produtividade, esquecidas. económica em que se atua. as potencialidades do seu tecido empresarial e as capacidades da rede em que assenta a base produtiva deste território. Embora marcado por uma forte componente rural e agrícola, o Minho não deixa de ser conhecido pela sua tradição industrial e pela sua vitalidade económica e cultural. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Na economia do conhecimento, as papel das matérias-primas e dos pretende dar para o crescimento, regiões “tornam-se competitivas se recursos naturais, enquanto fatores desenvolvimento e internacionaliza- forem capazes de atrair trabalhado- decisivos para o desenvolvimento ção de um território com base numa res qualificados, para criar e aplicar regional, perdeu peso em prol da estrutura em rede que abreviada- conhecimento no desenvolvimen- criatividade, que surge agora como mente se denomina por Quadrilá- to de clusters de atividades que fator decisivo para a competitivida- tero. Neste sentido, constatou-se a propiciem crescimento económico e de territorial. Apesar disso, todos necessidade de uma visão estratégi- gerem níveis de vida padronizados parecem concordar que as condições ca agregadora e capaz, vocacionada para os seus habitantes. Para isso, naturais e infraestruturais de uma para facilitar, dinamizar e aumentar exige-se uma grande capacidade determinada região são fatores de- a competitividade do território e a organizacional e de liderança. A cisivos para a atratividade e desen- internacionalização do seu tecido capacidade de inserção de uma ci- volvimento desse mesmo território. empresarial. dade na economia do conhecimento De acordo com Figueiredo e Guima- Ao longo deste estudo, foram rães et al. (2002), a decisão de loca- identificadas e estudadas as opor- lização das empresas deriva quer de tunidades a explorar para o Quadri- fatores pessoais e de networking, látero, apresentando-se propostas quer de assimetria de informação para o rumo a seguir e elencando-se sobre o ambiente urbano e regio- uma panóplia de ações capazes de nal. Estes autores afirmam que, em desenvolver os vetores estratégicos muitas ocasiões, mesmo os investi- definidos, num contexto de facilita- dores bem-informados apresentam ção do aparecimento a prazo de uma alguma relutância em optar por nova economia, que incorpore mais regiões diferentes das do seu local valor acrescentado para o território. de residência, onde o conhecimento O estudo desenvolvido apoiou-se na do território e a rede de contactos realização de 17 entrevistas explora- é naturalmente maior. Os aspetos tórias. Todas as entidades entrevis- intangíveis, difíceis de mensurar, tadas reconheceram a importância nomeadamente a existência de da cooperação estratégica em relações de networking com insti- torno de uma ideia comum para o tuições e entidades, impossíveis de aumento da competitividade de um replicar em outros locais, assumem território como este, o que pressu- especial relevo e influência na de- põe a aposta no capital humano, no cisão de localização das empresas, conhecimento, na criatividade e na com especial destaque para as em- excelência para a sua afirmação na presas de capital nacional. Os laços “aldeia global”. define-se pela dimensão, excelência e diversidade das suas bases económica (constituída pelas atividades transacionáveis) e do conhecimento (constituída pelos níveis educacional e criativo da população e pelas instituições produtoras de conhecimento científico, cultural e artístico), pela sua conectividade (incluindo a digital), pela qualidade de vida que proporciona aos seus habitantes e visitantes, pela diversidade urbana e pela capacidade de integração social dos diferentes grupos populacionais que a habitam” (Martins et al. 2007:1). As redes têm também um papel vital aquando da seleção do local ou região onde investir, funcionando como meio privilegiado de divulgação de informação essencial para apoiar o processo de decisão de investimento. Atualmente, há dois vetores que moldam o mundo: a tecnologia e a globalização. O primeiro ajuda a determinar as preferências formais e informais com entidades públicas e privadas assumem, assim, alguma importância na decisão da localização do negócio. Das principais conclusões destaca-se a necessidade de trabalhar na criação de uma liderança clara e uníssona para o Quadrilátero, de humanas e, o segundo, as realidades A importância de um trabalho desta forma a definir e estabelecer uma económicas (Levitt, 1991). O antigo natureza assenta no contributo que matriz de estratégias de atuação | 105 106 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO comum a este território. A atribui- empresarial, com recurso à organi- Dada a sua natureza e importância, ção de poderes e competências e zação de tertúlias periódicas entre este trabalho tem como objetivo o reconhecimento institucional da empresários e investigadores e servir de contributo para a valoriza- Associação Municípios de Fins Espe- outros stakeholders, com a dispo- ção de vetores estratégicos numa cíficos Quadrilátero Urbano é fulcral nibilização das infraestruturas de para a implementação deste projeto, I&D em prol de projetos que surjam não podendo cingir-se ao simples do tecido empresarial e através da acesso e gestão de projetos de fi- definição e desenvolvimento uma nanciamentos público e comunitário. Enfatiza-se e aconselha-se a criação de uma estrutura regional estratégia para o Avepark, apostando na instalação de empresas exclusivamente inovadoras ou de dedicada à internacionalização e valor acrescentado. ao marketing territorial, que se Para garantir as infraestruturas foque essencialmente na atração de IDE, no apoio à internacionalização de empresas locais e na promoção internacional do território. necessárias à dinâmica empresarial nos quatro concelhos que compõem o Quadrilátero, considera-se igualmente fundamental a adoção de uma estratégia de promoção, Para promover as ideias inovadoras, de requalificação e de gestão o I&D e a competitividade é impor- coletiva dos espaços de acolhi- tante criar redes e espaços de exce- mento empresarial existentes no lência para fomentar o empreende- território. dorismo e os negócios no território, definindo-se um modelo de transferência de tecnologia das universidades para as empresas. Para tal, sugere-se, por exemplo, a criação de um fundo de capital de risco para apoiar a criação de empresas de base tecnológica e inovadoras no Quadrilátero, o fomento de políticas de empreendedoris- Na ótica da mobilidade, destaca-se a importância de ajustar o sistema de transportes públicos e privados ao território do Quadrilátero como um todo e, no longo prazo, equacionar a implementação no território de uma plataforma logística multimodal. Por fim, no que se refere à cultura mo no território, uniformizando- e à arte, destaca-se a importância -as em torno de um sistema de de articular a oferta cultural das inovação com capacidade para quatro cidades, de promover pro- gerar negócios de valor acrescen- gramas internacionais de inter- tado. Na vertente de I&D destaca- câmbio com cidades inteligentes -se, por exemplo, a necessidade de e criativas e, a prazo, requalificar existir uma maior ligação entre as os centros históricos, tornando- estruturas da UMinho e outras -os atrativos para uma população entidades do SCTN e o tecido jovem e cosmopolita. QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES sub-região como o Baixo Minho num país como Portugal. Como vimos, revela-se extremamente importante para o tecido empresarial a articulação com outros agentes que favoreçam a capacitação tecnológica e a competitividade. Tendo em conta a perspetiva estratégica baseada na Sociedade do Conhecimento, é impossível descurar a abordagem da temática em causa no âmbito do Minho como “Região do Conhecimento”, dada a importância de harmonização de políticas, recursos e competências. 7.Anexos 7.1. FICHAS DE ENTREVISTA FICHA DE ENTREVISTA N.º 1 Empresa: Balanças Marques, de José Pimenta Marques, Lda. Interlocutor da empresa: Paulo Marques e Tiago Pereira Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos Caracterização da empresa: Com sede em Braga, a empresa Balanças Marques, de José Pimenta Marques, Lda, conta já com um historial de 40 anos. Teve início como Entidade em Nome Individual e evoluiu para uma sociedade por quotas (em 1989). Por este motivo, a história da empresa confunde-se com a do seu sócio fundador. Inicialmente, a empresa só atuava na área das balanças industriais. Posteriormente, a partir de 2004, as Balanças Marques especializaram-se no fabrico de balanças para a indústria e comércio, incluindo balanças para supermercados, sendo hoje uma das principais empresas a operar na Península Ibérica nestes setores da pesagem. Esta PME bracarense caracteriza-se por ter uma equipa dinâmica, mas também pela tecnologia que aplica aos produtos, balanças integradas especialmente vocacionadas para a indústria (logística) e para o comércio (supermercados). A empresa investiu em instalações novas, tendo-se mudado para um parque industrial (Celeirós) em meados dos anos 90 do Século XX. Beneficia de instalações modernas e funcionais, que incluem desde áreas de construção a áreas reservadas à assistência técnica e espaços destinados à exposição dos produtos, atendimento ao público e escritórios. A certificação CE dos seus principais produtos e, particularmente, a certificação do seu sistema de qualidade, em 2002, foram marcos importantes na evolução e percurso da empresa. No ano 2005, o seu volume de negócios internacional ultrapassou metade da sua faturação. No ano que se sucedeu, no quadro de uma reestruturação orgânica dos negócios da família (Marques), a empresa foi integrada no Grupo José Pimenta Marques, o qual contempla outras empresas do setor de pesagem mas também empresas de outras áreas de negócio. Ao longo dos anos, tem obtido certificações várias no âmbito do Sistema de Gestão da Qualidade. Desta reorganização resultou a diversificação do produto oferecido ao mercado com a autonomização de uma empresa dedicada à produção de software para balanças e design, que comercializa diretamente os seus produtos. Envolvente e estratégia empresarial: A ligação à UMinho e a aposta na inovação têm sido responsáveis pelo sucesso obtido. Refira-se, a propósito, que o software é desenvolvido internamente ao grupo empresarial. Mais recentes são a ligação ao IPCA (design) e a uma instituição universitária de Bilbau (desenvolvimento de hardware/eletrónica). Tendo hoje como base duas marcas registadas (“Marques” e “EPS”), a internacionalização da empresa iniciou-se em Espanha (País Basco), onde hoje em dia tem um distribuidor | 107 108 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO (empresa) próprio(a). Outro mercado relevante, onde mantém operação própria, é França, embora operem também na Áustria, entre outros destinos. O princípio subjacente à internacionalização é o da procura de um parceiro técnico no país onde pretendem operar. Essa orientação prende-se com a aposta na oferta de respostas flexíveis aos clientes. O acompanhamento técnico dos distribuidores também é considerado um elemento central do sucesso da operação da empresa. A principal ideia estratégica enunciada, conforme já referido, exprime-se na palavra “flexibilidade”. Sublinhada com recurso à expressão “IKEA das balanças”, isto é, a empresa tomar por referência o modelo de produto/ operação oferecido pelo IKEA. Esta ideia é completada por outra, que é: “o parceiro comercial preferido é aquele que tiver mais capacidade técnica” (independentemente da sua capacidade comercial). Para que possam “tratar bem o produto”, cuja durabilidade pode ser de 20 anos, se houver uma boa manutenção, a empresa disponibiliza constantemente formação e acompanhamento aos seus distribuidores ou parceiros. Como elementos promocionais, a empresa tem um canal no Youtube e uma página no Facebook. Por estes canais, disponibiliza vídeos sobre a empresa e os seus produtos. Para identificar clientes e chegar a novos mercados, tem participado quer em missões empresariais quer em feiras, aparte uma postura ativa em matéria de contactos individuais. Os responsáveis da empresa são críticos sobre a atuação do movimento associativo empresarial. Nas palavras de um dos entrevistados, que é vice-presidente da AIMinho, “É difícil rendibilizar o tempo gasto no movimento associativo”. Contributos, propostas ou opiniões: Os principais contributos e propostas retiradas desta entrevista são descritos nos pontos seguintes. i) Considera a localização da sua sede a mais adequada. Foi dito por um dos entrevistados que “Não vejo outra região mais interessante que esta para operarmos”. Todavia, acrescenta que “Gostava muito de chegar a um país como um cluster, em vez de ter de provar o que fazemos - alguns clientes nem sabem onde fica Portugal”. ii) São críticos do movimento associativo empresarial e descreem do trabalho dos chamados especialistas (consultores) de internacionalização. FICHA DE ENTREVISTA N.º 2 empresário). Empresa: Primavera - Business Software Solutions, S.A. Atualmente, a Primavera BSS está presente em Portugal, Espanha, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, sendo líder de mercado em muitos destes países. Foi estudado o mercado brasileiro, tendo-se concluído que os produtos da Primavera BSS não estão adequados às especificidades (fiscais) do Brasil. Também foi estudado o mercado polaco. Interlocutor da empresa: José Dionísio Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos Volume de negócios (2012): 15 milhões de euros Nº de empregados (2012): 220 empregados % de exportação (2012): 40% Caracterização da empresa: Nasceu em 1993 (ano de crise) pela mão de dois promotores, então provenientes de outra empresa do setor, onde trabalharam durante 7 anos. No dizer do entrevistado, “A crise aguçou o engenho”. A oportunidade tecnológica detetada baseou-se na conceção de um software de gestão baseado no sistema operativo Windows, ao invés de MS-DOS, como acontecia com os restantes softwares existentes no mercado. Não nasceu numa garagem, mas quase. Tendo nascido num apartamento, com o objetivo de desenvolver soluções de vanguarda que respondessem às necessidades futuras das empresas. Criada e sedeada em Braga, a Primavera BSS é atualmente o maior fabricante português de software de gestão para o mercado empresarial. A Primavera BSS é hoje uma empresa que se dedica ao desenvolvimento e comercialização de soluções de gestão e plataformas para integração de processos empresariais num mercado global, disponibilizando soluções para as PME, as Grandes Organizações e a Administração Pública. Em 1994, não estavam a pensar na internacionalização mas curiosamente, três anos volvidos, estavam internacionalizados. Este processo iniciou-se em 1997, através dos PALOP, muito por força do contexto familiar de ambos os empreendedores, de origem angolana e moçambicana. A introdução do IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado nestes países, na década de 90 do Século XX, fez com que procurassem soluções em Portugal. Foram decisores (contactos) portugueses que colocaram a empresa nestes outros mercados. Há sete anos (2006), entraram em Espanha (Madrid) e, para isso, tiveram de recorrer à banca, solicitando 500 mil euros. A ideia inicial era adquirirem uma empresa local mas tal não foi conseguido. Espanha foi desde o início um mercado muito difícil, entre outros motivos, pela multiplicidade de comunidades autónomas e de línguas/culturas regionais. Só agora começam a recuperar parte do investimento realizado (mas 4 milhões de euros não são recuperáveis no curto prazo, referiu o QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES A empresa pertence ao grupo das 500 maiores empresas europeias com maior potencial de crescimento, num ranking promovido pela Growth Plus. Em 2006, ganhou o prémio PME Inovação, atribuído pela COTEC Portugal e, em 2009, renovou a sua presença na Rede Inovação da COTEC. Segundo José Dionísio, a sua empresa é um negócio atrativo para outros (grandes) operadores do mercado. Envolvente e estratégia empresarial: Os dois responsáveis pela Primavera BSS foram alunos da UMinho e reconhecem a importância que esta instituição tem tido para a região, nomeadamente para o desenvolvimento de iniciativas empresariais na área das tecnologias de comunicação e informação. A localização em Braga também é facilitadora do acesso a mão-de-obra especializada, com custos competitivos relativamente a outras localizações mais centrais. Quando quiseram internacionalizar-se, verificaram que não tinham dimensão para o fazer. Um processo de internacionalização incorpora riscos elevados e são necessários recursos que permitam a instalação num outro país, onde é necessário contrariar a distância e conquistar a confiança do mercado. Da experiência acumulada, concluíram que o country manager tem de ser português para que resulte. Para além disso, é importante a informação sobre o mercado e apoio ao nível de serviços de consultoria que facilitem os “contactos certos”. Entre 2013 e 2015, pretendem alargar o seu negócio para França. Apesar das dificuldades sentidas com a operação em Espanha, foi dito que não têm nenhum dado que dê substância à ideia de existência de descrédito nos produtos de origem portugueses, realçando, por exemplo, o facto de os seus produtos em África serem “estrelas”. Contributos, propostas ou opiniões: Da conversa com José Dionísio, foi possível retirar alguns pontos que considera pertinentes ou fundamentais, a saber: i) A estrutura da AICEP precisaria de estar mais fora do país e não tanto cá dentro. A ideia seria trabalhar no exterior para Portugal. O que se verifica atualmente é que os recursos “fora de portas” são escassos, resumindo-se à presença de uma pessoa no país de destino e a um papel de cariz essencialmente informativo. Acresce o facto de que a avaliação do desempenho dessa pessoa deveria ser efetuada com base em objetivos que tivessem a ver com a concretização efetiva de negócios das empresas portuguesas nesses países. Se assim fosse, essa pessoa estaria motivada e interessada em fazer o follow up e “puxar” as empresas portuguesas para esse mercado; ii) “Não há profissão que seja tão exigente como ser empresário”: em Portugal há licenças e certificados para tudo, mas para ser empresário qualquer um pode sê-lo sem que seja necessária qualquer preparação para esse efeito; iii) O tecido associativo encontra-se repartido por cidades/concelhos. Os líderes não estão lá e não se encontram espaços (ex.: clubes) destinados a uma elite empresarial, facilitadores do networking e dos negócios. Para além disso, não se revê na “linguagem das associações”, quer regionais quer nacionais; iv) Deveriam existir políticas de ordem fiscal para incentivar a fusão de empresas. Pelo contrário, temos “Empresas na Hora” que praticamente não necessitam de capital social e que fomentam a que sejamos um país composto por empresas unipessoais; v) Os clusters, nomeadamente o das TIC, resumem-se a 5/6 empresários que se dão bem, o que é manifestamente pouco; vi) Este território carece de políticas de marketing que o promovam: a título de exemplo, refira-se os Seminários do Expresso, que decorreram recentemente, em que a “demografia” foi o tema discutido em Braga e a “tecnologia” foi o tema abordado em Aveiro. FICHA DE ENTREVISTA N.º 3 Empresa: Silicolife, Lda. Interlocutor da empresa: Simão Soares Consultores: Álvaro Cristóvam; Nuno Pinto Bastos Volume de Negócios (2012): 103 mil euros Nº de empregados (2012): 6 trabalhadores % de exportação (2012): 100% Caracterização da empresa: A Silicolife foi fundada a 14 de abril de 2010 por elementos do Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia, Laboratório Associado (UMinho e Instituto Superior Técnico) e do Centro de Ciências e Tecnologias da Computação da UMinho. A empresa, spin-off do programa MIT Portugal Bioengenharia, é uma start up dedicada à criação de soluções de Biologia Computacional para as Ciências da Vida. O seu quadro técnico apresenta larga experiência e know-how nesta área e conta já com diversas colaborações internacionais. Desde a sua génese, tem beneficiado de alguns apoios proporcionados por estruturas da UMinho: a TecMinho (através do IdeaLab); o Liftoff (a primeira sede da empresa foi no edifício da AAUM - Associação Académica da Universidade do Minho); e, o Spinpark (incubadora onde se encontra a funcionar atualmente). Neste processo de afirmação, foi vencedora de um concurso nacional de empreendedorismo - o “Atreve-te 2010”- onde obteve um apoio monetário de 30 mil euros. O modelo de negócio consiste na prestação de serviços de computação especializada, para apoio a projetos e processos de investigação, em regra a grandes empresas industriais que não possuam departamentos próprios. A empresa fundamenta-se nos seus recursos técnicos internos e na fonte de alimentação de recursos humanos da UMinho. A Silicolife disponibiliza serviços altamente especializados, e normalmente ausentes nas empresas dos setores da Biotecnologia e da Saúde, procurando maximizar a rentabilização das potencialidades oferecidas pela análise de informação de origem genómica na I&D nestes setores, bem como fornecer soluções no âmbito da exploração de diversos tipos de dados experimentais. A empresa procura colmatar a ausência, verificada em diversos tipos de empresas, de vários serviços e produtos que colocam as Ciências da Computação ao serviço da Saúde e da Biotecnologia industrial. Para tal, oferecem diferentes serviços e ferramentas, desde o tratamento estatístico de dados biológicos, a sua exploração, análise e integração, até à reconstrução de modelos de microrganismos e sua utilização na otimização de estirpes in silico. Os setores-alvo são a petroquímica e os laboratórios/produtores de medicamentos. Trata-se de uma born global firm, razão porque atua desde o seu início para o mercado global (especialmente USA, Japão e Europa). Como se percebe, é pouca a presença de clientes nacionais. Esta microempresa tem a sua gestão técnica e de marketing centralizada no CEO (Simão Soares), recorrendo ao aconselhamento científico de professores investigadores da UMinho (alguns dos quais sócios deste projeto empresarial). Esta ligação privilegiada aos centros de saber, permite-lhe beneficiar de uma network internacional importante. O facto de terem valorizado a análise estratégica e o plano de negócios para a constituição da empresa (2010), justifica o facto de terem conseguido os primeiros contactos comerciais em 2011 e a assinatura do primeiro contrato em 2012. A empresa tem já em curso projetos com clientes de peso. Na sua estratégia de negócio tem privilegiado a participação em diversos eventos, como o European Forum for Industrial Biotechnology and Biobased Economy, em 2010, onde fez a sua primeira apresentação internacional. Só desta participação resultaram dois contratos com multinacionais estrangeiras que dada a sua dimensão ainda se encontram em curso. Esta tem sido a sua estratégia de entrada no mercado, sendo que a proximidade com a UMinho tem proporcionado algumas vantagens, nomeadamente algumas colaborações nos Estados Unidos, na Espanha, na Dinamarca e em Inglaterra. Envolvente e estratégia empresarial: O mercado-alvo dos serviços prestados pela Silicolife reside na intersecção entre o mercado da Bioinformática, Biologia e Sistemas e o mercado da biotecnologia industrial. A maior aposta desta PME recai sobre a Simulação e Otimização de microrganismos, pois observa-se o seu grande potencial de mercado, sobretudo devido ao interesse crescente das indústrias de biotecnologia. No futuro perspetiva-se que muitos processos na indústria química, na têxtil e em outras indústrias tradicionais serão progressivamente substituídos por processos de biotecnologia. O desenvolvimento de produtos inovadores em biotecnologia está, por isso, intimamente relacionado com desenvolvimentos científicos, expresso na elevada formação dos recursos humanos e no peso das atividades de I&D das empresas. Atuando no mercado global e dada a reduzida dimensão do mercado nacional, a proximidade da UMinho tem servido de alavanca para a inserção comercial. A aposta na inovação e no I&D faz parte do ADN da empresa, tudo fazendo para se relacionar ao máximo com a sua envolvente. As empresas tecnológicas nacionais são aceites com naturalidade nos mercados internacionais. O custo dos recursos humanos pode ser fator de vantagem em termos europeus (embora seja relativo, atendendo a que há regiões com potencial tecnológico, ainda mais baratas). A empresa identifica como principais dificuldades, o acesso aos clientes e a impossibilidade de usar os clientes como referência no processo de angariação de novos clientes (o sigilo e a reserva têm cláusulas muito exigentes nos contratos obtidos). Ao nível associativo, é sócia da APBio - Associação Portuguesa de Bioindústrias (principal interlocutor com a UE para as estratégias nesta área “bio”). Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista destacam-se os seguintes pontos: i) A presença no Minho como natural, reconhecendo vantagens na angariação de recursos humanos qualificados (a UMinho tem boa cotação na área em que atuam). ii) A sua presença no Avepark/Spinpark não compreende elevados custos e é interessan- | 109 110 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO te na ótica do marketing (em virtude de se tratar de um parque tecnológico). O problema que apontam é a sua localização, o défice de estratégia e o dinamismo deste tipo de estruturas. iii) O ponto de maior desvantagem será a limitação do mercado nacional, a burocracia, a ausência de uma estratégia de cluster tecnológico e um capital nacional muito restrito que dificulta financiamento. iv) As ações de grande envergadura - do tipo mega missões AICEP, com presença de governantes, etc. - são eventos que interessam apenas aos grandes grupos económicos e menos às pequenas empresas tecnológicas. Para além disso são, em geral, demasiado institucionais (pelo que não ajudam a resolver as dificuldades deste tipo de empresas, as quais são essencialmente quotidianas); ii) Valoriza apoios específicos, não burocratizados e que estejam ao alcance da capacidade administrativa/financeira das start ups (ex: captação de fundos para arranque e expansão, angariação de projetos públicos, financiamento da presença em feiras e de outras despesas de promoção nos mercados, preparação de contactos com outros mercados, serviços de informação comercial, fomento da cooperação e da prática de clustering); iii) Uma eventual “estrutura” pode ser interessante para as empresas emergentes (tecnológicas, para o mercado global), mas com regras claras e simples: liderança eficiente, estratégia bem definida para apoio a micro e pequenas empresas; baixo custo operacional; especialização na exportação de conhecimento; e, foco nos apoios quotidianos. FICHA DE ENTREVISTA N.º 4 Empresa: S.I.C.I. 93 Braga - Soc. de Investimentos Comerciais e Industriais, S.A. Interlocutor da empresa: António Ressurreição Consultores: Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos Volume de negócios (2012): 5 milhões de euros Nº de empregados (2012): 32 trabalhadores % de exportação (2012): 100% Caracterização da empresa: António Ressurreição, promotor, impulsionador e dirigente da S.I.C.I. Braga - Soc. de Investimentos Comerciais e Industriais SA, é licenciado em Engenharia Têxtil pela Universidade do Minho. Desempenhou funções no setor até decidir abrir esta empresa, muito por força da sua discordância com o rumo que se estava a seguir. A S.I.C.I. foi fundada em 1993 e, desde essa altura, a sua produção é totalmente destinada ao mercado externo (born global firm). Situada em Braga, a empresa dedica-se à confeção de vestuário, trabalhando sobretudo com o private label, nomeadamente para grandes marcas internacionais que se direcionam para um segmento de mercado médio-alto. A empresa cedo percebeu a importância da “terciarização” do processo produtivo, valorizando a componente dos serviços que poderia prestar para incorporar valor na cadeia produtiva. Foi assim que, ao contrário do que acontecia com a maior parte das empresas do setor em Portugal, começou a integrar serviços na sua oferta, como são disso exemplo os serviços prestados ao nível do design. A relação de proximidade com o cliente e a lógica de parceria de negócio alimentaram desde muito cedo este princípio. Aliás, o mercado daquela altura (década de 90 do Século XX) começava a dar uma importância crescente ao mix do preço no processo de escolha do fornecedor. Os serviços viriam a revelar-se um fator crítico de sucesso da S.I.C.I., na medida em que criavam uma interdependência da empresa com os seus clientes. O mercado internacional era muito regulamentado, mas com a globalização sofreu profundas alterações, o que implicou um maior foco estratégico e adaptações constantes ao modelo de negócio. Em 1999, nasce um segundo projeto empresarial: a NaturaPura Ibérica - Produção e Comércio de Produtos Naturais S.A.. Esta ideia de negócio surgiu com os movimentos ecológicos verificados no Centro da Europa, em meados da década de 90 (Século XX). A empresa da marca “Natura Pura” dedica-se ao fabrico e venda de produtos orgânicos, denominados por Têxteis Verdes ou eco-têxteis, contribuindo para a sustentabilidade do planeta. A sua produção é destinada ao mercado interno (50%) e ao mercado externo (50%). Em 2004/2005 nasce uma terceira empresa nas instalações da S.I.C.I., a denominada PlayVest S.A.. Este projeto empresarial insere-se no subsetor dos têxteis funcionais (os denominados Smart Textiles) e a sua produção é totalmente destinada ao mercado externo. Envolvente e estratégia empresarial: “O mundo está a mudar e muda para todos”, considera o promotor. Neste seguimento, tem-se verificado um efeito “Cauda Longa”, que veio substituir a venda grandes quantidades de produtos menos variados, pela venda de poucas quantidades de uma maior variedade de produtos. O promotor considera que Portugal beneficia neste momento de algumas circunstâncias específicas: verifica-se uma mudança no QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES mundo em relação ao custo do dinheiro (os custos financeiros no nosso país são mais reduzidos, dado que não há cartas de crédito); quanto ao custo do petróleo, o transporte de mercadorias na Europa é mais barato; a Pegada do CO2, cujos efeitos se traduzirão num aumento dos custos de transporte também são uma oportunidade; e, ao nível da Segurança, não existe instabilidade política e violência, do mesmo modo que acontece em outros países que competem nesta área com Portugal. Para o dirigente, o que mais lhe interessa é saber qual a estratégia do cliente-alvo e de que modo a empresa se pode encaixar na mesma (importa ser um espécie de “Provedor do Cliente”). Em sua opinião, as empresas devem ir ao encontro do cliente que lhes interessa e serem capazes de “pescar” o cliente. O empresário valoriza também os aspetos mais intangíveis do negócio. Por isso, aposta fortemente nas relações informais, nas redes pessoais e na network que se consegue criar. A estratégia da S.I.C.I. passa pela dispersão do risco, aspeto que o leva a investir em áreas diferentes dentro do setor em que atua. Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista com o promotor, destaca-se: i) Existe neste território uma série de especialistas em diversas áreas da cadeia de valor. Todavia, há custos de contexto desfavoráveis, a “política fiscal é cega” e não podemos passar subitamente de um certo laxismo para uma evidente rigidez, pois o processo tem de ser incremental e construtivo e não radical e destrutivo. ii) Nos últimos 40 anos, a Universidade do Minho foi o investimento estrutural mais importante que se realizou neste território. Quanto ao INL e ao Avepark ainda não se veem os seus efeitos e entende necessário que tenham impactos visíveis no território. Para isso, é necessária a existência de uma visão global, estratégica, integradora suficientemente forte e capaz de orientar os agentes e os projetos para o mesmo sentido; iii) Ao nível do empreendedorismo, considera que não deve ser o aluno da UMinho a ter de procurar financiamento nos Business Angels ou outros investidores. Pelo contrário, sugere que a universidade é que deveria ser responsável por criar condições para que os investidores possam ir à universidade conhecer as ideias e projetos; iv) Considera necessário alterar aspetos culturais importantes, pouco abertos à cooperação; v) As associações empresariais e sindicais têm um papel importante na sociedade em geral, e na região, em particular. Assim, estas organizações deveriam ter como razão de ser “pensar, propor, intervir e ter uma visão para o território”. Devia ser esse o seu principal papel, ao invés de se envolverem em projetos que se resumem à sua “sobrevivência”; vi) Os apoios e incentivos destinados às empresas não estão bem formatados e dá o exemplo da formação financiada, tão genérica, rígida e burocrática. Na sua opinião, falta a disponibilização de formação mais especializada e adequada às necessidades reais do tecido empresarial, isto é, “formação com retorno”. Por exemplo, uma empresa que adquira um equipamento produtivo novo e complexo, cuja formação tem de ser contratada no estrangeiro e é altamente dispendiosa. Contudo, se a empresa tivesse a oportunidade de enviar uma pessoa para outro país receber formação aplicada nesse equipamento, em que os custos pudessem ser comparticipados, isso era realmente interessante e teria impacto, até porque internalizávamos competências e essa pessoa poderia integrar nos quadros da empresa após a formação. FICHA DE ENTREVISTA N.º 5 Empresa: Critical Materials, Lda. Interlocutor da empresa: Prof. Doutor Gustavo Dias Consultores: Álvaro Cristóvam; Nuno Pinto Bastos Volume de negócios (2012): 635 mil euros Nº de empregados (2012): 20 trabalhadores % de exportação (2012): 60% Caracterização da empresa: A Critical Materials está sedeada em Guimarães desde o início da sua atividade, em 2008. A criação da empresa resultou de uma Joint Venture entre o Grupo Critical Software e dois investigadores da UMinho. Por um lado, o Grupo Critical Software forneceu e fornece o suporte necessário para a entrada e manutenção no mercado, e, por outro lado, os dois investigadores da UMinho contribuem com a experiência e know-how na área dos materiais e estruturas. A empresa atua no ramo das atividades de programação informática, mais especificamente, fornece soluções tecnológicas e produtos de tecnologia de diagnóstico, avaliação e manutenção de diversos equipamentos, designadas tecnologias SHM (Structural Health Monitoring). Os fundadores da Critical Materials possuem mais de dez anos de experiência em I&D, nomeadamente no campo da análise estrutural e desenvolvimento de materiais e aplicação dos mesmos às indústrias aeronáuticas, espacial, automóvel, da energia e das infraestruturas. Os promotores desenvolve- ram trabalhos de referência com empresas de renome nacional e internacional, tais como a Simoldes, Plasfil, PSA, AutoEuropa, Amtrol-Alfa, Boeing, Lockheed e ESA, entre outras. A Critical Materials tem como objetivos principais oferecer serviços e produtos que possibilitem o aumento da durabilidade dos equipamentos, sistemas de monitorização das estruturas dos aviões e helicópteros e sistemas de monitorização, diagnóstico e prognóstico com aplicação em condutas de petróleo, turbinas eólicas, entre outras infraestruturas energéticas. Os mercados-alvo e os setores-alvo da Critical Materials são diversos, tratando-se de uma born global firm: “A Europa não é internacionalização para nós”, refere o dirigente. A equipa técnica da empresa é multidisciplinar: os seus quadros têm formação nas áreas de engenharia dos materiais, eletrónica, software e hardware, características singulares que permitem o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras por si só e também pela aplicação de diferentes domínios do saber. Materials with intelligence é a assinatura de marca da empresa. Na sua essência estão três aspetos que a empresa considera cruciais: Software, Materiais e Hardware. Envolvente e estratégia empresarial: O setor das TIC caracteriza-se por uma mão-de-obra qualificada, com grande versatilidade, elevada empatia cultural, preços competitivos, qualidade das instituições de ensino superior e de I&D, incluindo instituições de interface, e acesso privilegiado a mercados de língua oficial portuguesa com elevado crescimento projetado. A crise económica e financeira no mundo desenvolvido, em particular na Europa e em Portugal, a emergência de novos modelos de negócio nas TIC, com propensão à grande escala, e a deslocalização de multinacionais resultam no quadro de ameaças. Outros pontos fracos que devem ser melhorados estão relacionados com a insuficiente orientação para o exterior do setor TIC português. De facto, existe uma oferta indiferenciada e de baixo valor acrescentado, não obstante os desenvolvimentos mais recentes no software e nos serviços em matéria de IDE. Há ainda problemas de imagem global do país; os mercados internacionais não associam Portugal a tecnologia nem a um país inovador. A estes fatores acresce a falta de players nacionais de dimensão, com massa crítica e capacidade para marcar presença em concursos internacionais e para alavancar a estrutura das nossas PME. A tudo isto junta-se a baixa capacidade do setor TIC nacional para desenvolver software e soluções TIC escaláveis, passíveis de serem produzidos e vendidos internacionalmente, devido a debilidades em matéria de gestão de produto, marketing, vendas e valorização económica da I&D e da Propriedade Intelectual. Analisando os pontos anteriores, verifica-se que a Critical Materials encontra-se bem posicionada face à concorrência, principalmente no sentido em que não partilha com o setor os pontos fracos identificados. De facto, a cooperação com o SCTN é permanente, os seus recursos humanos detêm qualificações superiores e a aposta na inovação é intrínseca à missão empresarial, possuindo mesmo um departamento de I&D. Por outro lado, a Critical Materials pertence a um grupo português que desde a sua génese trabalhou com os mercados externos e, por esse motivo, os produtos produzidos pela empresa adaptam-se a qualquer mercado internacional. No futuro imediato, o principal objetivo da Critical Materials é a consolidação da empresa e dos seus produtos e serviços no mercado e aumentar o seu rendimento financeiro. Para tal, como estratégia de curto prazo, tem investido na área da energia eólica offshore. As especificações e a versatilidade do seu principal produto, o PRODDIA, têm sido aproveitadas neste nicho de mercado ainda em desenvolvimento. Se por um lado, as tecnologias para equipamentos eólicos onshore estão já muito desenvolvidas, por outro lado ainda existem desenvolvimentos insuficientes para as tecnologias de near offshore e deep offshore. Esta PME encontra-se já a desenvolver alguns trabalhos nesta área. Também na área de negócio da aeronáutica, a empresa decidiu-se por uma estratégia de curto prazo, através da adaptação do PRODDIA aos helicópteros, sendo este um mercado light quando comparado com os aviões, permite no entanto algum retorno financeiro no curto prazo. A Critical Materials aposta fortemente na componente de inovação, investigação e desenvolvimento. Como perspetivas de futuro pretende desenvolver uma tecnologia EMI (Electro - mechanical impedance) que é uma tecnologia de diagnóstico (SHM) e de controlo de qualidade dos processos de fabrico e de diagnóstico, com diversas aplicabilidades. Também é objetivo da Critical Materials, o reconhecimento e atuação internacional e, para isso, tem beneficiado de programas europeus destinados a apoiar o I&D e a internacionalização, o que lhe permite conhecer as características intrínsecas dos países-alvo e aumentar a sua notoriedade em mercados como o Reino Unido (onde a indústria de defesa é muito desenvolvida e interessada em nova tecnologia) e o Brasil (onde esta é uma área emergente, do ponto de vista do crescimento). No futuro, não exclui a hipótese de virem a ter uma subsidiária no Reino Unido. Contributos, propostas ou opiniões: Segundo o dirigente da Critical Materials: i) Falta especialização à diplomacia económi- | 111 112 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO ca portuguesa; além de ser, em parte por essa razão, pouco operacional. A este propósito focou o seu contacto com a realidade do Reino Unido, que possui instrumentos operacionais interessantes como é o caso da UKTI. Trata-se de uma estrutura de diplomacia económica de facilitação local, que estabelece contactos, apoiam as empresas na criação de ambientes favoráveis aos negócios e à venda, visitam inclusivamente empresas estrangeiras que têm negócios com o Reino Unido e fazem o follow up destes processos. ii) O Minho (ou o Quadrilátero) tem uma relação ambivalente com o Porto e “sofre” por estar na sua órbitra, dificultando ações que ultrapassem essa condição. Porém a região, com uma taxa de desemprego muito elevada, tem hoje excelentes condições de partida para um projeto de desenvolvimento regional a médio/longo prazo, dispondo objetivamente de um apreciável potencial: a UMinho e seus interfaces (TecMinho/GAPI, Avepark/Spinpark, 3B’s, CVR, PIEP eCCG); o INL; uma população jovem e qualificada; vontade empreendedora em contexto académico/tecnológico; e, um interessante tecido (ainda) industrial tradicional (setores têxtil, calçado, construção e metalurgia), potencialmente capaz de absorver processos de I&DT). iii) A ligação mais estreita entre o potencial de software proporcionado pela academia e o tecido empresarial é ao mesmo tempo uma necessidade e uma forte possibilidade, com vista ao upgrade de inovação e tecnologia de que a indústria carece, por um lado, e ao acesso à indústria que é vital para os investigadores/tecnólogos, por outro. O objetivo dessa “parceria” resultaria na capacidade sustentada de oferecer ao mercado global produtos/soluções de maior valor. O resultado económico deve ser um dos focos estratégicos deste processo; iv) É necessária uma aposta efetiva no empreendedorismo tecnológico. Neste território sente-se que “há vontade de fazer coisas”, até pelos concursos de ideias, mas há concursos a mais. É preciso criar empresas tecnológicas e incubar start ups no tecido empresarial envelhecido. Na opinião do empresário, nem todos os projetos/ideias devem originar a criação de novas empresas. Na maior parte dos casos, faz mais sentido integrá-las em empresas já existentes, dado que pode beneficiar ambas. v) É preciso “reinventar” os setores tradicionais (têxtil, construção) através das TIC e do software. Existem condições para apostar na área da saúde e especializar em nichos, isto é, áreas técnico-científicas capazes de ancorar negócios e produtos de elevado valor acrescentado, podendo fazer cruzamentos (software com materiais, software com biológica, biológica com materiais, etc). Depois é necessário “pagar para ver”, alterando a cultura e as condições de financiamento. Em 10/15 anos é preciso alterar o tecido empresarial da região, mas para isso é necessário uma maior articulação (em especial na UMinho) e uma visão agregadora para direcionar os recursos existentes para o que faz sentido. É necessária uma maior articulação entre a UMinho e as associações empresariais para mudar a estrutura industrial e económica, criando conexões com o que já está estabelecido e proporcionando um stream de ideias constante (com seed e venture capital e outros meios financeiros para o “salto grande”); vi) O processo de financiamento, nas várias fases do desenvolvimento dos projetos é vital, tendo mesmo de ser pensado e operacionalizado para evitar bloqueios inibidores que desanimam, levam ao fracasso ou ao abandono prematuro. O financiamento deverá ser faseado, primeiro assegurando as várias fases do percurso: investigação, desenvolvimento de soluções e protótipos, licenciamento/patentes, criação de empresa, acesso aos mercados de destino; vii) Em seguida, haverá uma questão de mega financiamento e/ou de capitalização. Após a consolidação das fases anteriores, é fundamental alavancar o crescimento da estrutura empresarial visando criar empresas globais. Situação que requer a existência de fundos específicos e de acesso a capital de uma forma estruturada (de novo, o dirigente referiu o exemplo do Reino Unido e o seu conhecimento do trading investment aí praticado). com base no retorno económico e não na área do saber. A própria UMinho não deveria prestar serviços que já estão no domínio das empresas e do mercado, mas sim serviços com inovação e com risco tecnológico. O contexto só se modifica com geração de ideias, financiamento/parcerias público-privadas e ferramentas empresariais (investimento e fusões/aquisições numa fase mais madura do processo); xii) A opinião quanto à criação de um organismo regional para desenvolver um projeto de internacionalização para o território, não sendo precisa, é positiva mas com reservas. As barreiras podem vir de dentro, especialmente das estruturas existentes, dos objetivos do próprio projeto e, acima de tudo, da liderança… Todavia, considera que a avaliação dos seus resultados deve ser feita através da taxa de conversão em negócio que conseguirem produzir ou facilitar. Esta entidade devia evitar o que as associações empresariais costumam fazer, isto é, “misturarem tudo”. Para além disso, podia apoiar na “desburocratização” dos projetos financiados e, simultaneamente promover a consolidação empresarial (existe um estigma em que cada um quer ser “dono da sua quinta”) e a fusão/ aquisição de empresas (agregando muitas “pequeninas”). FICHA DE ENTREVISTA N.º 6 Empresa: Coltec - Neves & Companhia, Lda. viii) Para além disso, era importante a criação de fundraising (com capitais públicos e privados) com capacidade para captar recursos capazes de gerar “campeões”. Existe um problema de capitalização das empresas tecnológicas: são necessários acionistas de longo prazo ao invés de empréstimos; Interlocutor da empresa: Francisco Fernandes ix) O complexo AvePark/Spinpark carece de definição, de uma ideia estratégica sustentada, que cative os empreendedores nacionais/ locais e o investimento industrial externo, que favoreça a continuidade do projeto (ex.: criação de um campus destinado apenas a empresas de software). Ainda carece de empresas-âncora e com dimensão. A este nível há, seguramente, bastante a fazer, a partir do que já existe e que pode ser potenciado quase de imediato. Mediante uma estratégia sustentada e conjugação de vontades das forças locais/regionais, mas com objetivos bem definidos; Nº de empregados (2012): 35 trabalhadores x) Existe a necessidade de uma maior mobilidade entre os quatro concelhos. A mobilidade física no Quadrilátero é reduzida. Um metro de superfície ou uma rede ferroviária escalável que ligue inicialmente Guimarães a Braga poderia fazer todo o sentido; xi) É fundamental uma visão comum para o território. Esta visão tem de ser apontada QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Consultores: J. Cadima Ribeiro; Carlos Pereira Volume de negócios (2012): 3,5 milhões de euros % de exportação (2012): 32% Caracterização da empresa: A empresa Coltec foi criada em 1981 com o intuito de comercializar produtos para o calçado a retalho e fornecer serviços ligados ao setor. Na fase inicial, a empresa não dispunha de linha de produção própria, tendo que recorrer a subcontratados para a realização dos seus produtos. No final da década de 80, a empresa investiu em maquinaria para o calçado que lhe permitiu aumentar o seu leque de produtos para colmatar necessidades específicas neste setor. As funcionalidades da maquinaria adquirida e a sua capacidade de produção originaram novos produtos e pautaram a entrada da marca em novas áreas de negócio: calçado, têxteis-lar; e têxteis técnicos, como por exemplo o setor automóvel. Em 2004 a empresa decidiu mudar de instalações, de que resultou a implantação atual, no parque industrial de Sezim. Esta mudança visou o alargamento da sua infraestrutura, tornando viável a instalação de tecnologias de laminação, o que permitiu à empresa desenvolver novas áreas de negócio, (tecnologias de colagem de materiais; aplicações no âmbito dos têxteis-lar; vestuário técnico; aplicações no âmbito dos calçado; aplicações no âmbito da área da saúde) definindo assim aquilo que a empresa faz atualmente. A estratégia de produção da Coltec passa pela aposta na disponibilização de gama alargada de produtos e por uma resposta centrada no cliente, isto é, flexibilidade de resposta às necessidades do cliente. A Coltec não produz diretamente para o consumidor final. Os fatores competitivos em que aposta são: a flexibilidade; a qualidade; e o desenvolvimento/inovação. A empresa pretende colmatar lacunas existentes nos mercados em que opera, oferecendo assim uma solução personalizada a cada cliente. Envolvente e estratégia empresarial: A Coltec procura oferecer produtos de elevada qualidade, apostando na inovação e desenvolvimento constante, aparte o cumprimento de prazos na resposta às encomendas. Para tanto, mantém uma política de vigilância tecnológica no exterior (nomeadamente, através da visita a feiras), por forma a acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos que vão ocorrendo (novos produtos; e novos mercados). A Coltec marca presença assídua em feiras no exterior, normalmente acompanhada de outros empresários portugueses, que permitem a realização de contactos no mercado externo. Também tem participado em missões empresariais organizadas pela AICEP. Sobre a AICEP anota a preocupação deste organismo em trazer algum “mercado”, se bem que entenda os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser. Neste momento, a empresa têxtil está presente apenas no mercado europeu, particularmente em Espanha, Bélgica e França. A empresa exporta diretamente cerca de 40% da sua produção, estimando o engenheiro Francisco Fernandes que 70% dos produtos poderão chegar ao mercado externo indiretamente, por meio dos seus clientes. Por esta via, sabe-se que os produtos Coltec já chegaram ao Japão e aos Estados Unidos da América, por exemplo. Sabendo que a entrada no mercado asiático (principalmente na China) é inatingível, a Coltec encontra-se a delinear estratégias que lhe permitam entrar no Brasil e nos mercados africanos, aproveitando as vantagens da partilha da língua, nomeadamente. A atual crise financeira que o país atravessa abala um pouco a imagem que os seus clien- tes internacionais têm da marca portuguesa. No entanto, os clientes acabam por reconhecer a qualidades dos produtos assim que estabelecem contacto direto ou começam a ser fornecidos pela Coltec. No mercado interno também se verificam algumas dificuldades. Contudo, os efeitos no volume de negócios agregado não se fazem sentir porque a empresa tenta compensar a quebra de vendas nos produtos mais afetados pelas quedas e procura com as vendas noutras áreas de negócio. As relações com as instituições presentes no meio envolvente possibilitam à empresa o acesso a um conjunto de ferramentas extremamente úteis para delinear estratégias e formas de abordar os mercados, assim como avançar para a criação de novos produtos. Desde cedo que a Coltec se associou ao CTCP, uma ligação que foi central no desenvolvimento na sua fase inicial de operação. Em 2008, a empresa começou também a criar relações com o CITEVE e com a UMinho. A relação com o CITEVE é de enorme importância, dado que a empresa necessita obter a certificação dos seus produtos na área têxtil, sendo esta a instituição que lhe proporciona esse serviço. A UMinho também é um parceiro importante dado que desta parceria surgiram produtos inovadores que potenciaram a Coltec. A empresa é ainda associada da ATP e da ACIG, onde recorre para aceder a ações de formação e o apoio jurídico. A localização no Baixo Minho é considerada uma boa localização em expressão das infraestruturas (nomeadamente acessibilidades físicas) e equipamentos disponíveis. O acesso a tecnologia não é um elemento condicionador da localização. Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista destacam-se as seguintes declarações: i) É apreciado o esforço da AICEP em matéria de trazer “mercado” para as empresas, se bem que entenda os contactos propiciados nem sempre são direcionados como deviam ser, isto é, entende-se que há um caminho a fazer por aquele organismo ou por outro que se possa criar em matéria de facilitação de contactos específicos (similares àqueles que resultam da ação dos agentes comerciais que as empresas mantêm); ii) A empresa mantêm relação associativa ou desenvolve parcerias com diversos agentes coletivos existentes no território, onde vai buscar apoio em matéria de certificação de produtos, inovação de produto e processos, formação de ativos e apoio jurídico; dá particular importância à relação com alguns desses agentes, desde o seu lançamento, onde teve papel importante o CTCP, estando o seu posicionamento mais recente suportado em parcerias com o CITEVE e a UMinho, especialmente; daqui, deduz-se a utilidade de manter canais abertos e facilitar a comunicação das empresas com estes agentes, nomeadamente no quadro da participação em consórcios que permitam aproveitar recursos que potenciem a inovação de produtos e processos. FICHA DE ENTREVISTA N.º 7 Empresa: Success Gadget - Nanotecnologia e Novos Materiais, Lda. Interlocutor da empresa: Pedro Pinto Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos Volume de negócios (2012): 64 mil euros Nº de trabalhadores (2012): 4 trabalhadores % de exportações (2012): 0% Caracterização da empresa: A Success Gadget foi criada em 2010 pensada para produção de soluções inovadoras, em concreto, assumiu por missão conceber e produzir soluções na área dos têxteis técnicos e biofuncionais que promovam o conforto, bem-estar e/ou minimizar ou resolver necessidades das pessoas de forma a contribuir para uma sociedade mais saudável. Até ao momento, já foram investidos cerca de 500 mil euros e, no dizer do seu promotor, “a empresa ainda não vendeu praticamente nada”. De acordo também com o empresário, em inovação, não devemos comprar tecnologia. O que importa é desenvolvê-la. Por isso, embora a Success Gadegt tenha sido criada para ser uma empresa prestadora de serviços, transformou-se numa empresa de tecnologia: o que vende aos fabricantes de têxteis e de vestuário são nanopartículas. O processo de investigação e desenvolvimento é constante, para que possam manter sempre elevados os padrões de qualidade e inovação. Todas as soluções da Success Gadget passam por um intensivo processo de testes desenvolvidos por laboratórios independentes, de grande prestígio a nível mundial. O objetivo da empresa passa por identificar e desenvolver soluções inovadoras de elevado valor acrescentado out of the box no domínio da nanotecnologia, biotecnologia, têxteis biofuncionais e saúde, desafiando as regras e paradigmas estabelecidos, trazendo ganhos de competitividade e novos mercados para as empresas de forma rápida e continuada, com custos controlados. Nesta altura, encontram-se em processo de registo de patente. Consideram que dispõem | 113 114 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO de um produto versátil e com muita utilidade para aplicação em têxteis e em tintas (para a construção). Dizem mesmo ser a única empresa em Portugal e, muito provavelmente, na Europa a produzir nanopartículas com as funcionalidades que o seu produto apresenta. Envolvente e estratégia empresarial: A empresa privilegia o bom relacionamento com as instituições e com as fontes de saber. No quadro de contactos mantidos com a UMinho, o entrevistado encontrou um aluno que estava a desenvolver uma tese com aplicação na área identificada e que lhes permitiu desenvolver um reator, juntamente com uma empresa de Barcelos, para materializar a operação da empresa. Recorrem também ao CITEVE, nomeadamente para a realização de testes de laboratório. O potencial de internacionalização da empresa encontra-se em mercados como África, Brasil, Índia, Vietname, Tailândia e Bangladesh, países onde a sua tecnologia pode ser muito competitiva e eficaz, fundamentalmente nos seus atributos “anti - mosquito” e/ou “anti-microbiano” (considerados como “produtos estrela”, pese embora a diversificação que têm estado a levar a efeito). Ao nível do marketing internacional, a empresa encontra-se a preparar um workshop na Alfândega do Porto, destinado a embaixadores e outros homens de negócio. Todavia, reconhece que no processo de internacionalização, os lobbies são muito fortes e influentes, o que dificulta a penetração nos mercados. Como estratégia de expansão, pretendem abrir concessões (cedência de direitos de exclusivos de produção dos seus produtos) em diversos países, sendo o marketing da exclusiva responsabilidade da Success Gadget. Em Angola já estão a ser comercializados lençóis (produzidos pela Lameirinho) com aplicações antimicrobianas fornecidas pela Success Gadget. Estão nesta altura em negociações com a Decathlon para virem a ser seus eventuais fornecedores. Contributos, propostas ou opiniões: Desta entrevista, concluiu-se o seguinte: i) É um erro constituir uma start up para criação do 1.º emprego. Todavia, ao contrário do que se passa nos Estados Unidos da América, existe um problema de financiamento de start ups em Portugal; ii) Sobre os problemas culturais e de contexto é realçado que, de forma genérica, os empresários são, genericamente, muito egoístas e fechados (defendendo-se a premissa “juntos, somos mais fortes”); deve-se perceber claramente o que fazem as universidades e o que fazem as empresas (o âmbito não se pode misturar); ao nível do financiamento, é necessário convencer os investidores tradicionais que os negócios que implicam inovação não têm retorno imediato; iii) Deve-se aproveitar a existência do INL como uma infraestrutura de referência para o território. A “NanoValor”, um agrupamento complementar de empresas entretanto criado, é uma associação considerada importante para o intercâmbio, o network e sinergias, mas deve ser mais agregador; iv) Considera o Minho e Aveiro como bons ambientes para fazer florescer negócios desta natureza, também por força da existência de parques tecnológicos, que entende serem excelentes estruturas para promover a imagem e a credibilidade das empresas neles sedeadas; i) Ao nível das políticas públicas, considera serem necessárias pessoas que conheçam a realidade no terreno, e que existem estruturas a mais criadas com o propósito enunciado de apoiar as empresas. Para além disso, a política de financiamento tem de ser revista, tendo em conta que os bancos e os fundos públicos são, por vezes, mal aplicados devido aos favoritismos existentes; vi) Consideram o IAPMEI muito pesado e têm boa impressão da AICEP. FICHA DE ENTREVISTA N.º 8 Empresa: Celoplás - Plásticos para a Indústria S.A. Interlocutor da empresa: João Cortez Consultores: Nuno Pinto Bastos; Álvaro Cristóvam Volume de Negócios (2012): 21,5 milhões de euros Nº de empregados (2012): 140 % de exportação (2012): diretamente 35% e indiretamente 60% Caracterização da empresa: A Celoplás surgiu em Barcelos no ano de 1989 e possui atualmente cerca de 150 trabalhadores, onde se inclui um corpo técnico composto por 30 engenheiros (no total das 4 empresas do grupo, estamos a falar de 250 postos de trabalho criados). O core business da empresa está na conceção e desenvolvimento de componentes plásticos de pequena dimensão e alguns na área micro para a indústria, nomeadamente indústria automóvel, indústria eletrónica e indústria elétrica e médica. O seu capital social é de 500 mil euros e é detido em 100% por acionistas nacionais. A empresa conta atualmente com um parque de 66 máquinas de injeção em 10 mil m2 de área coberta. Fabricando mais de 100 milhões de peças/ ano, utiliza mais de 160 tipos diferentes de termoplásticos de engenharia, bem como termoendurecíveis, BMC’s e silicones. Trabalhando 7 dias por semana, a Celoplás QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES conta com 27% de licenciados nos seus quadros. Quase todos os trabalhadores foram recrutados aquando do seu 1.º emprego, com vista à melhor integração na cultura e metodologia da organização. A aposta em I&D e em processo internos de formação contínua, que inclusivamente relevam para fins de avaliação de desempenho e de progresso na carreira, é uma constante nesta empresa. No que respeita à vertente financeira da gestão, a empresa não depende das instituições bancárias para a sua atividade global. As suas vendas destinam-se, direta ou indiretamente, à exportação (mais de 95%), em especial para a Europa (Alemanha) e Japão. A Mercedes-Benz, a Tyco, a Yazaki, a Bosh, a Denso ou a Leica são alguns dos exemplos da sua carteira de clientes. Certificada em 1995 pela norma ISO 9002, atualmente a Celoplás encontra-se também certificada segundo as normas ISO 9001:2008, ISO TS 16949:2009 e ISO 14001:2004. É ainda de realçar a importância que dá à responsabilidade social, dado o relacionamento que estabelece com entidades locais como os Bombeiros Voluntários de Viatodos. A Celoplás dispõe atualmente de participações em outras empresas, nomeadamente: CCL - Plásticos para a Indústria Lda; Celoprint - Impressões Lda; Centi - Support, Máquinas e Equipamentos para Indústria Lda; e, Nanologic - Tecnologias de Micro e Nanomoldação Lda. Envolvente e estratégia empresarial: A empresa identifica três vetores que considera essenciais: o empowerment (onde está a mais-valia das pessoas que nela trabalham); a consolidação; e, o crescimento. Neste sentido, privilegia muito os recursos humanos e a sua formação e valorização profissional. Simultaneamente, dado o seu foco em atividades de I&D (onde investe 3,3% do seu volume de negócios), estabelece relações de grande proximidade com várias entidades do Sistema Científico Tecnológico Nacional, como a Universidade do Minho, a Universidade do Porto, a Universidade de Coimbra, o CITEVE ou o PIEP - Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (entidade em que é sócia-fundadora). A ligação que estabelece, facilita-lhe e garante-lhe o acesso a quadros técnicos com habilitações superiores, fundamentalmente em áreas derivadas da engenharia. Todavia, e tendo em conta que a empresa opta por recrutar pessoas em condições de 1.º emprego, a Celoplás preocupa-se em complementar a formação dos seus quadros (referindo mesmo que um novo quadro demora 4/5 anos a formar e a “formatar” de acordo com a política da empresa). Existe uma grande disponibilidade para formação de qualidade e que acrescente competências, seja em áreas técnicas ou comportamentais. Todavia, é de salientar que a melhoria contínua é transversal à estrutura, ao ponto que o trabalhador que não tiver propostas de melhoria contínua não tem aumento salarial. A administração da empresa dispõe de um modelo de gestão composto por 25 indicadores, 11 dos quais estratégicos, o que permite uma monitorização constante do negócio. Para além disso, a realização de exercícios de benchmarking que posicionem a empresa e a sua envolvente está bem presente na sua equipa gestora. Ao nível dos clusters, João Cortez, fundador e administrador da empresa, considera que, se não tiverem uma dinâmica própria, poderão resultar apenas em custos para o país, sem trazer quaisquer resultados práticos. Todavia, é da opinião de que se deve testar e avaliar com todos os parceiros um plano trabalho e de cativação dos empresários para a discussão e criação clusters potenciando as sinergias em grupo, com o grande objetivo de atacar mercados-alvo muito bem caracterizados desde no início. Devido à dimensão da empresa e implementação no mercado global em que atua, demonstra valorizar particularmente o cluster da saúde, onde se manifesta bastante ativo. A Celoplás tem também ligações com associações do setor como a APIP - Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos ou com entidades promotoras da inovação como a COTEC Portugal. O networking é também muito valorizado pela gestão de topo, sendo de realçar o facto de que a empresa vai patrocinar reuniões no PIEP e nos 3B’s de modo a mostrar a sua rede. Uma dúvida que subsiste é se a Celoplás deve internacionalizar-se ou investir no seu país (é evidente a dificuldade existente para ultrapassar condicionalismos de contexto e os seus custos, porém “estamos no melhor país da Europa” com as “melhores pessoas”, competentes e com preços salariais adequados quando integradas em organizações eficientes; já para não falar dos “dias de sol que temos ao longo do ano”). Contributos, propostas ou opiniões: Do contacto estabelecido com João Cortez, administrador da Celoplás, foi possível concluir o seguinte: i) A marca “Portugal” não é muito bem vista nos mercados externos (e a presença da Troika não ajuda a melhorar a sua imagem externa); ii) Em Portugal, temos “péssimos gestores” e somos “péssimos” no planeamento pessoal (há muitos patrões e poucos empresários/ empreendedores, o problema não está no trabalhador/operário); iii) O ensino secundário não forma convenientemente (a maior parte dos jovens com o 12.º ano “não sabe a tabuada”). O sistema de ensino devia ser dual, unindo os ensinamentos teóricos da escola ou universidade com a aprendizagem prática da empresa. Para além disso, considera a matemática fundamental; iv) As instituições de ensino superior e de investigação deveriam fomentar encontros com pessoas da indústria e com investidores. Simultaneamente, a avaliação dos resultados da I&D não deveria ser efetuada com base em patentes (a I&D tem de ter utilidade para gerar riqueza); v) Existe uma grande dificuldade que não conseguimos ultrapassar: transformar I&D em produtos; vi) Temos de “fazer” (refazer, juntar, reorganizar) empresas com dimensão crítica para pensarem nacional e global; vii) Os incentivos comunitários estão mal formatados (ex.: formação financiada); viii) O país vai atravessar um “vale da morte” que vai durar vários anos e precisa de se reformar, reorganizar e reestruturar (o segredo está no verbo “fazer”). FICHA DE ENTREVISTA N.º 9 Empresa: APC - Instrumentos Musicais Lda. Interlocutor da empresa: Sr. António Pinto Carvalho Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos Volume de Negócios (2012): 850 mil euros Nº de empregados (2012): 40 % de exportação (2012): 70% Caracterização da empresa: António Pinto Carvalho tem sido a alma do negócio dos instrumentos musicais em Braga. Em 1961, começou a trabalhar na produção de Cavaquinhos com um artesão talentoso, por sinal, seu avô, na pequena oficina artesanal que aquele dispunha. Estudou à noite, esteve na Guerra Colonial e em Timor e tinha intenção de tirar o curso de Economia na Universidade do Porto no pós-25 de abril de 1974 mas nessa altura tal não se mostrou viável. A “APC” (siglas de António Pinto Carvalho) surgiu em 1976 enquanto empresa em nome individual. O mercado “empurrou” o promotor para crescer. Entre 1982/83, transferiu o negócio para as atuais instalações, as quais foram aumentando ao longo do tempo de acordo com as necessidades e com as possibilidades que a localização oferece. A prospeção internacional começou em 1990, numa abordagem ao mercado espanhol que o empresário decidiu fazer de carro para adquirir uma máquina. Resultado dos contactos estabelecidos aquando da visita referida, volvidos 2 anos, a empresa conseguiu um cliente no País Basco, em Espanha, que se manteve por 10 anos. Uma nova incursão de carro, desta feia ao mercado francês, é feita em 1992, aproveitando o conhecimento da realidade local de um amigo. Desde o início que a “APC” tentou “evangelizar” a marca “Portugal”. Os clientes internacionais pediam frequentemente para colocar a expressão “Made in UE”, em vez de “Made in Portugal”. Foi sendo assim mas por pouco tempo. Tendo sido entretanto transformada em sociedade por quotas, a APC - Instrumentos Musicais Lda. detém atualmente várias marcas comerciais registadas: “APC”, “António Carvalho”, “Ibéria” e “Lusitânia”. Encontra-se certificada ao nível do sistema de gestão da qualidade baseado na norma ISO 9001:2008. Sendo uma empresa com uma forte tradição na área dos instrumentos musicais de corda, é única no país nas suas característicos e gama de produtos e um dos valores que defende é a satisfação dos clientes. Envolvente e estratégia empresarial: Braga não apresenta uma grande mais-valia ao nível da atividade da APC - Instrumentos Musicais Lda., uma vez que a cena artística local é relativamente pobre. Todavia, é a partir deste território que exporta instrumentos musicais para a Europa, Estados Unidos da América, Malásia, Coreia do Sul, Rússia, Croácia e, mais recentemente, China e Moçambique. Cerca de 70% da sua produção tem por destino o mercado externo. Parte dos seus clientes são os maiores vendedores mundiais online. Todavia, uma grande parte dos seus clientes são empresas que fazem distribuição destes produtos para o retalho. A empresa marca presença em feiras internacionais, dada a visibilidade e os contactos que consegue neste tipo de eventos. A este nível, tem beneficiado de alguns apoios do QREN de fomento à internacionalização das PME. António Pinto Carvalho é um entusiasta do seu negócio mas considera que “a verdade não tem dono”. Demonstra uma grande admiração pelo seu avô, ao considerar que não foi muito conhecido por estar em Braga e não em Lisboa. Os principais entraves com que se tem deparado prendem-se com questões ligadas à burocracia e ao licenciamento. Possui funcionários com muitos anos de casa, alguns dos quais (sete) com capacidade de construir artesanalmente uma guitarra, e conta já com o apoio dos seus 2 filhos, que | 115 116 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO entretanto concluíram os seus estudos. Acredita que o futuro está em África e na América do Sul e nas várias deslocações que faz ao estrangeiro diz pedir para que comprem português (para ele, somos um povo trabalhador que merece ser reconhecido e é bem visto no exterior). Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista efetuada, foi possível identificar os seguintes pontos como principais opiniões: i) As associações empresariais e a AICEP deveriam empenhar esforços numa maior promoção internacional das empresas (“é preciso quem abra portas lá fora”); ii) Portugal tem de contrariar os entraves e as burocracias que coloca ao crescimento das empresas; iii) Importa uma maior diplomacia económica para reduzir as taxas aduaneiras em países como o Brasil (68%). Se for o Brasil a vender a Portugal há um tipo de tratamento, mas se for Portugal a vender para o Brasil há outro.” FICHA DE ENTREVISTA N.º 10 Entrevistado: José Manuel Capa Pereira Consultores: J. Cadima Ribeiro; Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos Contextualização: José Manuel Capa Pereira desempenhou funções enquanto Presidente da AIMinho durante dois mandatos entre 1996 e 2002. Anteriormente tinha cumprido também dois mandatos como Vice-Presidente. Atualmente, não tem responsabilidades nos órgãos sociais da AIMinho, com cujo percurso recente se não identifica, e dedica-se essencialmente à atividade empresarial, onde também tem assumido papéis de destaque. Foi também, no mesmo período, Presidente da UERN - União Empresarial da Região Norte (de que é Presidente Honorário). Lembra que, nos tempos em que presidiu à AIMinho, beneficiou de uma conjuntura favorável ao desenvolvimento de iniciativas e programas de apoio à atividade empresarial. Admite que alguns instrumentos de políticas públicas então implementados não tiveram a eficácia esperada e o correspondente impacto na alteração do tecido empresarial e da competitividade da região não correspondeu ao grande empenho e esforço desenvolvidos na conceção e execução de programas. Na última fase em que exerceu funções de direção na AIMinho, a tendência inverteu-se e houve necessidade de redimensionar a organização e a estrutura da associação e, por isso, foi decidido autonomizar algumas competências através da criação de empresas spin-off, que ainda hoje se mantêm no mercado. Considera a AIMinho como a “maior associa- ção empresarial de base regional” existente no país. Em seu entender, ao contrário do que seria de esperar, “não houve alterações significativas do comportamento dos empresários [da região] nos últimos anos”. Para além do facto de o perfil do tecido empresarial não ter mudado de configuração (as micro e pequenas empresas continuam a ser predominantes), continua a notar-se alguma falta de preparação dos empresários para as funções de gestão e a inexistência de uma verdadeira “cultura empresarial”. Em razão disso, entende que, a nível associativo, é necessário continuar a trabalhar alguns aspetos numa lógica voluntarista, abordando temas de impacto direto na atividade empresarial mas sem esquecer outros aspetos como sejam os que se prendem com a melhoria da envolvente. A componente da representação por parte da AIMinho do “lobby” patronal regional deverá continuar a ser marginal. Continua a verificar-se uma tendência para o individualismo que tem face positiva uma vez que potencia a iniciativa empresarial ma soutra negativa (preponderante) que pulveriza as iniciativas não lhes conferindo a escala que, num quadro de competição globalizada, é necessária. Continua a sentir-se a relutância para a cooperação ou para as fusões e aquisições. Nota-se que, em muitos casos, o problema não é apenas cultural mas também de formação. Seria de esperar que a entrada no mercado de empresas formadas por empresários com níveis de qualificação mais altos permitisse alterar a qualidade da gestão das empresas. Mas esta tendência não é ainda visível. Contrariando o que seria expectável, os empresários que saíram da UM deram contributos ainda insuficientes para alterar esse padrão. Contributos, propostas ou opiniões: Da entrevista efetuada, foi possível registar algumas reflexões, ideias e contributos mais marcantes, que passamos a apresentar: i) O Quadrilátero é um processo. A região carece de uma verdadeira “infraestrutura institucional”, isto é, de uma prática organizativa e sistémica de cooperação efetiva que “alinhe” estratégias, valorizando as complementaridades mais do que as divergências; ii) Continuando a eficácia das políticas públicas a ser muito baixa é necessário identificar criteriosamente as ações prioritárias e promover a afetação dos recursos a essas ações; iii) É necessário promover todas as formas de aquisição de massa crítica das empresas e instituições, por exemplo: fusões e aquisições de empresas e a cooperação. Nos bens transacionáveis, para se ir além do mercado local, a escala é decisiva. Todavia, a grande motivação, por exemplo, para o estabelecimento de um agrupamento complementar de empresas QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES ou de outro tipo de base associativa, o que tem funcionado tem sido é a existência/perceção de existência de uma ameaça externa (ou seja, a cooperação tem surgido apenas em contextos de grande adversidade); iv) É necessária uma requalificação do tecido empresarial, a qual pode ser obtida com a atração de investimento estrangeiro de qualidade (nem todo o IDE tem interesse: Que tipo de atividade? Quanto tempo permanece? Que tipo de interação com o tecido empresarial e instituições locais?) e com a capacidade de angariação de financiamento para empresas start up e spin-offs (falta na região, por exemplo, uma prática organizada de business angels); v) O impacto da “Justiça” no IDE é muito grande para quem decide a melhor localização para o seu negócio, assim como as questões associadas ao licenciamento industrial, à fiscalidade e ao direito do trabalho; vi) Mantém-se a necessidade de criação de um espaço que promova encontros informais entre os empresários e os professores universitários e investigadores. No passado, a AIMinho já o tentou a nível estrito de espaço de encontro entre empresários, embora sem o sucesso desejado. O ideal era conseguir cruzar e estabelecer relações de caráter informal entre pessoas ligadas ao contexto académico e ao tecido empresarial deste território (mesmo entre os próprios empresários é importante este “encontro” porque, no fundo, trata-se de uma prática que tem implicações em matéria de difusão de boas práticas e pode ser propiciadora da identificação de novas ideias de negócio (benchmarking). Para uma estrutura desta natureza poder ter sucesso, terá de ter alguém responsável pela dinâmica do espaço (isto é, são necessários animadores e dirigentes que o promovam); vii) Juntar as 4 cidades/concelhos do Baixo Minho “faz todo o sentido”. Porém, o Quadrilátero não pode estar tão exposto a conjunturas e motivações de índole “político-partidário”. A grande razão de ser da estrutura institucional entretanto criada (Associação Municípios para Fins Específicos Quadrilátero Urbano) não pode cingir-se ao acesso a financiamentos públicos e comunitários. É necessária também uma liderança com peso institucional, capaz de definir uma matriz de interesses e de especialização sobre a qual possa trabalhar com alguma autonomia, nomeadamente ao nível da dinamização empresarial e de atração de investimento (haveria que definir por consenso as bases mínimas em matéria de objetivos e, assim, a gestão poderia operar com alguma autonomia e eficácia dentro desta associação de municípios); viii) À semelhança do que AIMinho tentou fazer com a criação de um Centro Internacional de Negócios, seria importante que o território pudesse contar com um conjunto de recursos técnicos especializados e articulados, dedicados à captação de investimento e à promoção de estratégias de cooperação entre empresas (seguindo o modelo de operação das câmara de comércio e indústria existentes noutros lugares). Deve ser analisada a pertinência da constituição de uma infraestrutura regional com essa vocação; ix) Simultaneamente, na relação entre Braga e Guimarães, é importante manter presente que a UMinho é um parceiro indispensável nomeadamente no seu papel de grande importância na promoção e fortalecimento de eixos de entendimento; x) Por último, exprimiu a opinião que o Minho carece de uma maior “liderança empresarial”. FICHA DE ENTREVISTA N.º 11 Empresa: Amtrol-Alfa Metalomecânica S.A. Interlocutor da empresa: Tiago Oliveira Consultores: J. Cadima Ribeiro; Nuno Pinto Bastos Volume de Negócios (2012): 63 Milhões de Euros Nº de empregados (2012): 550 % de exportação (2012): 96% Caracterização da empresa: A Amtrol-Alfa é uma empresa de capitais estrangeiros sedeada na freguesia de Brito, Guimarães, cuja dimensão a configura na tipologia das “grandes empresas”. Sendo o maior produtor europeu e um dos 3 maiores exportadores do mundo de garrafas de gás transportáveis, a Amtrol-Alfa é especializada no fabrico de garrafas de gás para o mercado do Gás Petróleo Liquefeito (GPL) e de gases técnicos, desde os 34 aos 134 litros de capacidade. A partir de 2005, começou a produzir uma linha de garrafas, de conceção nacional, à base de materiais compósitos: mais leve, com design que permite um fácil manuseamento, isenta de corrosão e amiga do ambiente. Neste momento, os produtos da empresa resumem-se a 4 tipos de garrafa, sendo de destacar o facto de terem conseguido passar de produtos destinados a uma pressão de teste até 60 Bar para produtos capazes de suportar pressões até aos 450 Bar (pressão de teste). As garrafas de metal são responsáveis por 70% das vendas, embora os novos materiais compósitos utilizados nos novos produtos (resultantes dos investimentos feitos em I&D dos últimos 5 anos) totalizem os 30% remanescentes. A sua carteira de clientes é muito vasta. Atualmente, tem clientes em mais de 100 países (60 dos quais ativos nos últimos 2 anos) e produz cerca de 4 milhões de garrafas por ano. Do seu volume de negócios anual, cerca de 95% é oriundo dos mercados externos. Foi das primeiras empresas em Portugal a certificar-se no sistema de gestão da qualidade baseado na norma portuguesa ISO 9001, processo que se revelou muito importante sob o ponto de vista organizacional. A empresa tem sido contemplada com várias distinções, podendo destacar-se o facto de ter sido vencedora do Prémio de Júri Especial na categoria de “Spirit of Conquest”, da JEC Innovations Composites Awards Programme 2005, a que se juntam vários prémios de design de produto conseguidos em países/ mercados como a Austrália, a Espanha, a Alemanha, o Japão ou os Estados Unidos. Envolvente e estratégia empresarial: O início da exportação dá-se em 1974. Dez anos volvidos, dá-se a integração da Comanor - Companhia de Manufacturas Metálicas do Norte S.A. na Petroleo Macanica Alfa e passa a ser um dos maiores fabricantes mundiais na sua área de intervenção. Em 1997 o Grupo Comanor-Alfa é adquirido pela Amtrol Inc (USA), nascendo então a Amtrol-Alfa. Em 2003/2004, surge a “Pluma”, um produto altamente inovador, responsável por vários prémios (dando-lhe visibilidade e notoriedade) e que teve a capacidade de “integrar a inovação como um processo tão importante como a produção”. Daqui resulta uma patente para a Amtrol-Alfa, o que vem coroar a aposta que faz em I&D. A empresa dispõe atualmente de um sistema de inovação e desenvolvimento baseado em equipas por projeto e mantém uma relação de grande proximidade com a Universidade do Minho (ao nível do cálculo matemático e estudos de eletricidade estática), com o PIEP (no que toca aos materiais compósitos e plásticos) e com a Universidade do Porto. Consideram que são reconhecidos por desenvolverem aquilo a que apelidam de “inovação séria”. Incluindo mão-de-obra, assumem que possuem “56% de incorporação nacional”. Aliás, privilegiam os fornecedores de equipamento locais e nacionais e integram os fornecedores de componentes em novos projetos de inovação ou desenvolvimento, neste que dizem ser um negócio muito regulado, sujeito a normas muito exigentes. Os principais concorrentes das garrafas “tradicionais” encontram-se em economias baseadas em dólares, nomeadamente Tailândia, Índia e Marrocos. Anotam que se registou nos últimos tempos uma “retração brutal de mercado na Europa”, com exceção dos países nórdicos, o que os obrigou a compensar a redução havida neste mercado com outros, especialmente no Médio Oriente e em África. A Amtrol-Alfa só produz garrafas em Guimarães e reconhece o seu interesse em estar sedeada no território do Quadrilátero, tendo em conta o aproveitamento que consegue fazer da sua localização (embora reconheça a distância a Lisboa, enquanto centro de decisão política). Todavia, o Quadrilátero oferece boas infraestruturas rodoviárias e marítimas, para além de que conseguem recrutar com facilidade o tipo de pessoa que procuram. Aproveitam alguns apoios estatais ao nível da Educação e da Inovação, embora não tomem as iniciativas que têm desenvolvido, nomeadamente em matéria de I&D, para beneficiar de incentivos. É política da empresa atuar a esse nível e, havendo programas de apoio que se enquadrem, obviamente que não deixam de os aproveitar. Consideram ser “a referência mundial neste negócio”, particularmente em virtude da sua imagem inovadora ser reconhecida internacionalmente. O apoio que a Amtrol-Alfa recebe da AICEP é bastante apreciado, tendo em conta os serviços “sérios” que são disponibilizados e, sobretudo, as respostas “rápidas” que têm tido por parte daquele organismo às suas solicitações. Contributos, propostas ou opiniões: Como resultados extraídos da entrevista efetuada, elencamos os seguintes: i) O território português apresenta vantagens em termos de inovação e desvantagens no que toca aos custos de produção (a evolução do euro face ao dólar não se tem manifestado vantajosa); ii) Reconhecido no exterior como um país de “1.º mundo”, inovador e de gente trabalhadora, “Portugal é demasiado pequeno para ser visto [a partir do exterior] como constituído por diferentes territórios” (oportunidades associadas à opção por distintas localizações regionais); iii) Os investidores, aquando da tomada de decisão para escolher um país para o seu investimento, privilegiam a “competência, o ambiente político (greves…) e o conhecimento tecnológico” e, a este nível, os portugueses estão bem posicionados; iv) Há um problema com a indústria que está relacionado com o não reconhecimento da excelência do conhecimento tecnológico. A indústria tem de ir às universidades procurar o que lhe interessa e, depois, a indústria deve “guiar” as universidades para um desenvolvimento mais aplicado da I&D que se faz nestes centros de saber. Todavia, o mais importante nestes processos não são as instituições, mas sim as pessoas, isto é, os canais que importa cultivar são, sobretudo, os informais/ pessoais. | 117 118 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO FICHA DE ENTREVISTA N.º 12 Empresa: Porminho Alimentação, S.A. Interlocutor da empresa: Tiago Freitas Consultores: Nuno Pinto Bastos; Álvaro Cristóvam Volume de Negócios (2012): 28,5 milhões de euros Nº de empregados (2012): 160 % de exportação (2012): 10% Caracterização da empresa: Fundada em 1984 por Alcino Freitas e Olinda Freitas, a Porminho iniciou a sua atividade com a comercialização de carne de suíno. Em 1998, realiza o objetivo da implementação de um matadouro próprio e passa a abater e desmanchar os animais para posterior distribuição. O crescimento do negócio implicou que a carteira de produtos evoluísse das carnes frescas e congeladas para produtos transformados de charcutaria. Em 2002, obtém a certificação de acordo com a norma NP EN ISO 9001:2000, reforçando a sua competitividade e aumentando as garantias de qualidade e segurança alimentar. Paralelamente, a empresa reforçou os seus quadros, com a integração dos filhos dos fundadores, Tânia Freitas e Tiago Freitas, com formação em Engenharia Alimentar e Gestão, respetivamente. Num processo de crescimento contínuo, a Porminho passou a ser uma referência nacional no setor alimentar, nomeadamente na indústria de carnes. “Porminho”, “Vale da Garça” e “Outeiro Bravo” são as marcas registadas da empresa. A evolução do negócio implicou o aumento das instalações para não perder a capacidade de resposta, o que se veio a verificar em duas fases. A empresa identifica dois fatores que impulsionaram sobremaneira a sua atividade: por um lado, o fornecimento de produtos para as cadeias nacionais de grande distribuição; e, por outro, a exportação para mercados como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Inglaterra. As vendas para as grandes superfícies, implicaram um aumento substancial das quantidades produzidas e uma adaptação da empresa às exigências logísticas e de negociação destes players. No caso concreto da exportação, é de assinalar que representa atualmente 10% do volume de negócios. Tendo surgido como uma oportunidade para a empresa, as vendas para o exterior são realizadas por via da exportação direta mas também por intermédio das tradings (exportação indireta). Envolvente e estratégia empresarial: O processo de internacionalização implicou alguma preparação por parte da empresa, nomeadamente ao nível da análise de dados estatísticos e comerciais e, fundamentalmente, viagens de prospeção para avaliar a cultura, os hábitos de consumo e as necessidades ao nível do produto e da embalagem. Neste momento, a Porminho pretende entrar no mercado brasileiro, e posteriormente no mercado russo, estando a ser desenvolvidos contactos nesse sentido. vezes no recurso às agências de trabalho temporário). A empresa pretende privilegiar a exportação onde possa predominar a sua principal marca (baseada na relação qualidade/preço) e os mercados onde esta ligação possa ser sustentável e duradoura. Consultores: Nuno Pinto Bastos; J. Cadima Ribeiro Ao nível dos apoios e incentivos, a Porminho encontra-se a finalizar um projeto PRODER - Programa de Desenvolvimento Rural e um QREN Qualificação e Internacionalização de PME. Embora a indústria que atua no negócio das carnes esteja fortemente localizada no Montijo e no Minho, o “peso” da APIC - Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (da qual é associada) faz-se sentir mais a sul. Nº de empregados (2012): 709 Recentemente, a Porminho esteve representada em dois certames nacionais, o “SISAB Portugal 2013” e a “Alimentaria & Horexpo Lisboa” onde lançou um produto inovador que entretanto foi colocado no mercado denominado “Mini-snacks”. Este produto resultou da I&D desenvolvida pela Porminho com entidades do SCTN, numa estratégia de competição pelo “produto” em substituição da componente “preço”. A empresa prepara-se agora para encarar a inovação como um vetor essencial para a sua estratégia de desenvolvimento. Contributos, propostas ou opiniões: Ao nível das sugestões e propostas, o entrevistado destaca o seguinte: i) Faria sentido a criação no Quadrilátero de uma associação ou cluster para a área agroalimentar, tendo em conta a expressão que este tipo de indústria apresenta neste território (denota-se que cada empresário atua por si quando em alguns domínios a cooperação seria mais benéfica); ii) É necessária uma aposta no marketing territorial para promover o Quadrilátero, sendo importante salientar “a força da marca Minho”; iii) A cooperação win-win entre empresas ganha mais consistência e sentido com esta geração de empresários; iv) O custo de mão-de-obra no Quadrilátero não é desajustado; v) O direito laboral evoluiu mas ainda carece de ajustes. Um trabalhador facilmente se despede de uma empresa mas, inversamente, o despedimento de um trabalhador, mesmo havendo justa causa, é um processo difícil, o que retrai os empresários na contratação de novos trabalhadores (e a opção recai muitas QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES FICHA DE ENTREVISTA N.º 13 Empresa: Leica Portugal - Aparelhos Óticos de Precisão S.A. Interlocutor da empresa: Dra. Filomena Machado Volume de Negócios (2012): 39,7 milhões de euros % de exportação (2012): 99,3% Caracterização da empresa: Leica Portugal - Aparelhos Óticos de Precisão S.A. é o nome da subsidiária portuguesa de uma marca reconhecida mundialmente simplesmente por “Leica”. Localizada em Vila Nova de Famalicão, a empresa inaugurou em finais de 2012 as suas novas instalações, tendo-se deslocado para a freguesia de Lousado. A história da Leica em Portugal tem início em 1973 (sessenta anos depois da primeira câmara Leica ter sido inventada) numa pequena unidade fabril com lugar no centro da cidade de Vila Nova de Famalicão, por decisão dos austríacos irmãos Leitz, que optaram pela deslocalização de parte da produção. Com o crescimento da marca, deslocaram-se em 1976 para a periferia de Vila Nova de Famalicão, mais concretamente para Antas, onde, de um pavilhão industrial, passaram em poucos anos para três (mecânica, ótica e montagem). A opção por Vila Nova de Famalicão poderá ter estado relacionada com muitos fatores, destacando-se os seguintes: o facto de nos anos 70 do século XX existir neste território experiência em máquinas de precisão, como os relógios (muito por força da presença da empresa “A Boa Reguladora Lda”) e em trabalhos manuais (como os têxteis); o historial que este concelho apresenta ao nível de investimentos alemães, como é disso exemplo a Continental Mabor; e a emigração de algumas famílias para a Alemanha, que facilitou que a língua fosse falada por alguns famalicenses. Todavia, estes motivos não foram confirmados pela representante da empresa. Hoje, a importância enquanto unidade fabril da filial portuguesa já ultrapassou a da casa-mãe alemã. Embora tivesse chegado a ser equacionada a deslocalização para países com mão-de-obra mais barata, o certo é que o investimento que fizeram nas novas instalações vem fazer “a ponte para os próximos 40 anos”. A nova unidade produtiva encontra-se apetrechada com equipamento tecnológi- co de ponta, instalado nos 11.700 metros quadrados que foram implementados, num total de 21 mil metros quadrados de espaço disponível (o que facilita o alargamento futuro das instalações, se necessário for). As novas instalações da Leica, em Lousado, vêm colmatar as deficiências que existiam ao nível da capacidade de resposta e melhorar ainda mais os elevados padrões de qualidade que a marca faz questão de manter. O grupo Leica conta com cerca de 1700 trabalhadores, 700 dos quais se encontram na unidade fabril portuguesa. As secções da mecânica e ótica laboram em três turnos. Acrescentando a secção de montagem, todas contam com um departamento de qualidade, que avalia ao detalhe a conceção de cada componente. A sincronização entre as secções da mecânica e ótica é planeada ao detalhe, para não interromper a fluidez da produção, uma vez que tudo funciona ao “cronómetro”. A capacidade para produzir componentes óticos com tolerâncias muito exigentes é uma vantagem competitiva que distingue a Leica da sua concorrência (Asamplant, Hasselblad, Nikon e Canon, em câmaras, e Swarovski, em binóculos). A Leica Portugal produz máquinas fotográficas digitais (mas também algumas analógicas), binóculos, medidores de distâncias e miras telescópicas. Apenas os binóculos compactos têm a indicação “Made in Portugal”. Todos os restantes produtos são rotulados “Made in German”. Porém, esta fábrica portuguesa produz 95% da máquina fotográfica, estando a conceção/montagem final entregue à casa-mãe, na Alemanha (responsável pela colocação de um pequeno sensor essencial ao seu funcionamento). Como foi dito, a principal unidade produtiva da Leica é a portuguesa. Entretanto, tudo que produz é exportado para a casa-mãe. A nível logístico, saliente-se que a interação ente a unidade portuguesa e a casa-mãe é feita sobretudo por camião, que parte para a Alemanha todas as 6ªs feiras. Envolvente e estratégia empresarial: O departamento de I&D encontra-se localizado na Alemanha. Os primeiros modelos de série já são desenvolvidos com a colaboração da unidade portuguesa. Todavia, no que respeita ao processo, o I&D é todo ele nacional. Os quadros superiores da Leica Portugal começaram por ser ocupados por alemães mas gradualmente têm sido substituídos por portugueses. Porém, a cultura de rigor, trabalho e reconhecimento que se vive na Leica tem passado de geração para geração. A qualidade do trabalho dos colaboradores portugueses é apontada como o principal fator para a empresa se manter em Portugal. O know-how acumulado em quarenta anos é um ativo muito valioso, até porque a estrutura de trabalhadores da empresa mantém-se muito estável. A língua alemã tem vindo a dar lugar ao inglês dentro da empresa, embora ao nível técnico e no que toca a grandes decisões se mantenha o uso do alemão. A aposta e depósito de confiança que tem sido feito com a transferência de mais projetos de produção demonstram que a envolvente da Leica Portugal tem-se manifestado muito favorável ao desenvolvimento do negócio e ao crescimento que a marca tem registado nas vendas em todo o globo. O fornecimento da empresa portuguesa é decidido na Alemanha. As compras que fazem são oriundas de todo o mundo, como é disso demonstrador a compra de vidro no mercado asiático. Porém, casos há em que os fornecimentos são portugueses (a Celoplás, localizada em Barcelos, é um dos exemplos). A unidade portuguesa apresenta ligações de proximidade com a AICEP, estrutura que facilita os processos de regularização de dívidas do Estado em termos de IVA e apoia noutros domínios quando a empresa solicita a sua intervenção. Ao nível internacional, a empresa apostou forte no marketing e no conceito da “Leica Store”, lojas comerciais que implantou nos centros mais cosmopolitas do mundo. Atualmente, o grupo atravessa o seu melhor momento, a julgar pelos records históricos de vendas em todo o mundo. Europa, Ásia, Japão, EUA e, mais recentemente, Coreia do Sul e Tailândia, são os principais mercados da marca. Contributos, propostas ou opiniões: Como principal contributo retirado da entrevista efetuada, salientamos um que congrega em si mesmo várias sugestões: i) Para este território atrair IDE deve potenciar e comunicar todos os seus atributos. No caso dos donos da empresa e da gestão de topo, são muito apreciadas as deslocações que fazem a Portugal, em virtude do sol, da proximidade do mar, do saber receber do povo português e da sua vontade de fazer mais e melhor. FICHA DE ENTREVISTA N.º 14 Empresa: Construções Gabriel A. S. Couto, S.A. Interlocutor da empresa: Ricardo Poças Consultores: Nuno Pinto Bastos; Bruna Dias Volume de Negócios (2012): 103 milhões de euros Nº de empregados (2012): 715 % de exportação (2012): 25% Caracterização da empresa: A Gabriel Couto é das empresas mais antigas em Portugal a operar na área da construção civil. Surgiu há mais de 50 anos como uma empresa de cariz familiar e, durante muitos anos, o seu core business foi a construção de vias rodoviárias e ferroviárias e escolas. Em virtude das oportunidades geradas pelo mercado, a atividade da empresa alargou-se para a construção de parques eólicos (iniciou-se nesta área no ano 2000, sendo responsável pela construção de 35% dos parques eólicos que existiam em Portugal), infraestruturas de águas (drenagens e etares) e outras construções de grande envergadura. A empresa conta com muitos trabalhadores locais (a taxa de permanência é elevada) e dispõe de um parque de máquinas considerável, o que lhe tem permitido capacidade de resposta para os projetos de construção que realiza. Todavia, a maturação e o abrandamento do mercado da construção civil em Portugal levaram a empresa a apostar nos mercados internacionais como forma de garantir e manter a sua dimensão e o nível de emprego. A sua primeira experiência internacional teve lugar em 1996, com a aquisição de uma empresa moçambicana. Atualmente, a aposta em projetos internacionais encontra-se fortemente enraizada na empresa e são disso exemplo a angariação de negócios na Roménia, na Moldávia, em Angola, em Moçambique e na Suazilândia. A partir de 2005, o acesso aos mercados internacionais passou a ser um vetor estratégico da gestão de topo. A abordagem aos mercados externos foi diferente de acordo com o país em questão. As estratégias de entrada adotadas, passaram pelo estabelecimento de parcerias com empresas já instaladas no mercado de destino, pela criação de sucursais/ representações da Gabriel Couto nesses mesmos mercados ou pela compra de participações de empresas sedeadas no mercado de destino. A escolha pelo mercado africano justifica-se sobretudo pela ligação e proximidade histórica com Portugal, bem como pela Língua Portuguesa. Envolvente e estratégia empresarial: A empresa valoriza as relações com as associações empresariais do setor e com as entidades do SCTN, nomeadamente com a FEPICOP - Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas, a AICCOPN - Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas, a AIMinho e a UMinho. Ricardo Poças considera que o associativismo é benéfico, pois proporciona e facilita a troca de ideias. Realça ainda, que no setor da construção civil é frequente o estabelecimento de consórcios e que existe uma relação de cooperação entre as empresas do setor como forma de reduzir o risco envolvido em alguns projetos mas também para aumentar a proposta de valor e para obter a dimensão necessária para os projetos apresentados. A Associação da | 119 120 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Fileira da Construção do Minho (“cluster da construção”) constituída em abril de 2011 por iniciativa da AIMinho materializa os esforços de união que têm sido realizados. Ao nível do I&D, a empresa desenvolve atividades em colaboração com a UMinho, nomeadamente atividades de investigação na área dos pavimentos betuminosos (aplicações a frio) e dos materiais reciclados. Ricardo Poças refere também a importância da AICEP e da sua atuação. Afirma que a criação da figura do gestor do cliente se assumiu como uma mais-valia, uma vez que consegue estabelecer uma linha de comunicação direta com a empresa. A relação com a AICEP permite à empresa, entre outros serviços, aceder a oportunidades de negócio de âmbito internacional e também a linhas de crédito especiais que foram criadas especificamente para os mercados de Angola e Moçambique. Recentemente, o envolvimento do Ministério da Economia na promoção do setor da construção civil mostrou-se igualmente de elevada relevância para a Gabriel Couto, tendo esta, em conjunto com outras empresas, beneficiado da diplomacia económica, o que lhes proporcionará a muito breve prazo alguns negócios na Argélia. Por fim, a ligação à banca é essencial para o desenvolvimento da atividade da Gabriel Couto e a este nível Ricardo Poças refere que dada a dimensão e a história da empresa e apesar das recentes restrições à obtenção de financiamento que se verifica na economia em geral, este não se apresenta como um problema para a Gabriel Couto. A empresa tem também o privilégio de possuir alguns fundos e equipamentos próprios, o que lhe proporciona alguma segurança e estabilidade. Contributos, propostas ou opiniões: Ao nível das sugestões e propostas, o entrevistado destaca o seguinte: i) O território apresenta todas as condições necessárias para o desenvolvimento da atividade empresarial, contudo reconhece que a existência de um organismo facilitador e que apoie sobretudo as PME no seu processo de internacionalização seria muito importante; ii) A promoção e o fomento dos clusters empresariais afigura-se essencial para facilitar a cooperação das empresas e a internacionalização; iii) A distância com Lisboa não é um problema, embora sejam necessárias várias deslocações de quadros da empresa para que não fiquem “fora” deste importante centro de decisão; iv) A proximidade com o Porto de Leixões e com o Aeroporto Francisco Sá Carneiro são uma enorme vantagem para o tecido empresarial do território do Quadrilátero (a estrutura portuária é o principal canal de comunicação utilizado pela Gabriel Couto no transporte de equipamentos e mercadorias para os mercados internacionais, assim como o aeroporto o é para o transporte de pessoas, técnicos e engenheiros); A mentalidade em Portugal está a mudar. “Ir lá para fora tornou-se uma necessidade”, o que permite uma transformação significativa nas empresas portuguesas que as fazem “pensar global”. FICHA DE ENTREVISTA N.º 15 Empresa: João Carvalho Fernandes Consultores: J. Cadima Ribeiro; Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos Contextualização: João Carvalho Fernandes começou a trabalhar no IAPMEI no ano de 1982. As funções que então exercia prendiam-se fundamentalmente com a preparação de estudos económicos e dossiês de financiamento para apoiar as empresas industriais na obtenção de crédito. Mais recentemente foi diretor da delegação de Braga deste instituto tutelado pelo Ministério da Economia, cargo que deixou entretanto de existir em virtude de uma remodelação orgânica que transformou a estrutura existente em Braga numa extensão do IAPMEI Porto. No seu entender, os apoios estruturais marcam a história do IAPMEI. Entre o 25 de abril de 1974 e finais da década de 80 do século XX, o então denominado Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento encontrava-se muito vocacionado para a indústria e, a título de exceção, para a prestação de serviços diretamente relacionados com a gestão dos processos produtivos. Neste período, o conceito de empreendedorismo não existia como o conhecemos hoje e, por isso, pode-se atribuir ao IAPMEI algum pioneirismo na sua introdução nos meios empresariais, muito por força do denominado concurso de projetos industriais promovido pela Caixa Geral de Depósitos, onde o IAPMEI prestava funções de “avalista”. Com a entrada de Portugal na UE, o país passou a beneficiar de fundos estruturais, facto que implicou uma mudança na principal entidade de apoio ao tecido empresarial. O IAPMEI alargou o seu âmbito de atuação e passou a responder também às solicitações do comércio e do setor da construção. Surgem os fundos PEDIP - Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa, o capital de risco e o sistema de garantia mútua. Note-se que este sistema de garantia foi “inventado” pelo IAPMEI, contando com uma grande recetividade da banca portuguesa (por permitir a diminuição dos riscos de crédito). Este sistema veio permitir a diversificação dos instrumentos financeiros disponíveis (como são disso exemplo as linhas de crédito QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES PME Invest ou PME Crescimento). O IAPMEI assume agora um papel mais relevante na intermediação, tendo em consideração que os instrumentos de apoio não estão na instituição (por exemplo: a “Portugal Ventures” tem a sua própria personalidade jurídica por estar organizada enquanto Portugal Capital Ventures - Sociedade de Capital de Risco S.A.). Uma área do IAPMEI que se desenvolveu nos últimos anos, também por força da crise que assola o país, foi a da recuperação de empresas. O papel desempenhado por este organismo público enquadra-se no programa Revitalizar, no qual está inserido o SIREVE - Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial, a que Carvalho Fernandes dedica atualmente a maior parte do tempo. Contributos e propostas: Como resultado da entrevista realizada, passamos a elencar as principais notas ou ilações: i) Existem aspetos a melhorar na definição de prioridades e articulações ao nível do Estado e dos organismos da Administração Pública. Há necessidade de uma maior consistência das políticas públicas implementadas, mas também ao nível da gestão das equipas que estão no terreno. Os resultados alcançados com essas políticas refletem algumas debilidades e inconsistências; ii) O país evidencia grandes disparidades e diferentes realidades socioeconómicas, em particular quando se olha para os grandes centros urbanos. Lisboa assume uma preponderância, ao ponto de a crise financeira e económica, desencadeada em 2008, ter tido, em média, um impacto mais ténue na capital até 2011, quando se deram as primeiras descidas de salários na função pública e os aumentos de impostos; quando na região já se sentia, por força do encerramento de empresas, em particular, a partir do início deste século, empresas estas sujeitas à concorrência internacional, à abertura de fronteiras a Leste e à “desproteção” aduaneira ocorrida na UE relativamente ao Oriente. O tecido económico da região de Lisboa está mais dependente do terciário o que, apesar da limitação de atribuição de fundos, ajuda a explicar esta diferença. iii) Com a entrada na UE e na moeda única, Portugal passou a enfrentar um quadro macro e microeconómico de enorme condicionamento; iv) A UE tem de se pronunciar sobre os desequilíbrios comerciais à escala internacional e deve clarificar a sua posição relativamente às regras a que deve atender, sob pena de pôr em causa o bem-estar económico dos países membros e de hipotecar irremediavelmente o seu modelo social; v) O tecido empresarial português está a ser penalizado pela atual situação a nível interno e pelas suas implicações em termos de condicionamento financeiro (falta de crédito mais barato em função do rating do Estado português); vi) O processo de internacionalização das empresas deve ser planeado e o risco que implica deve ser acautelado. As empresas devem ponderar, sempre que possível, a realização de parcerias com empresas locais, uma vez que estas conhecem em primeira mão a realidade do mercado que se tenta abordar; vii) O território do Quadrilátero beneficia de uma cultura de trabalho que lhe é reconhecida e de um conjunto de indústrias muito capazes (independentemente das dificuldades que atravessam); viii) As associações empresariais devem ser agentes mobilizadores, com capacidade de agregação e liderança; ix) Para fortalecer o tecido empresarial no território do Quadrilátero deve-se apoiar a criação de valor (“é necessário juntar quem sabe com quem produz”) e captar investimentos externos (provenientes do estrangeiro ou de outras regiões do país). Apoiar a criação de valor nas empresas implica conceber um modelo de negócio onde sejam envolvidos os investigadores da UMinho ou de outras entidades do SCTN e onde a partilha de resultados esteja bem definida (sem esquecer o contributo que pode vir via instrumentos do QREN, tais como o Vale Inovação e o Vale IDT). x) Para a captação de investimento, os agentes têm de estar/ser diretamente envolvidos. Para tal, seria necessário criar consensos em torno de uma Carta de Negócio para o território (com os benefícios e as disponibilidades bem estabelecidas) que incluísse as questões fiscais, laborais, ambientais, de licenciamento e formação, mas que também considerasse eventuais reduções de custos de contexto através do IRS, do IMI, da derrama e das taxas de licenciamento de água, tratamento de esgotos e resíduos. Isto só será possível de alcançar pondo todos os organismos em contacto e a trabalhar em conjunto. FICHA DE ENTREVISTA N.º 16 Entrevistado: Prof. Doutor Manuel Mota Consultores: Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos Contextualização: O Prof. Doutor Manuel José Magalhães Gomes Mota é Professor Catedrático do Departamento de Engenharia Biológica da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, atualmente aposentado. Exerceu ao longo da sua carreira funções de relevo das quais aqui se destacam apenas as seguintes: Membro do Conselho Científico da UMinho; Presidente da Direção da Associação Spinpark; Presidente do Conselho de Administração da TecMinho; e, Vice-Reitor da UMinho. A UMinho foi fundada em Braga em 1973, iniciou as suas atividades académicas em 1975/1976 e foi integrada no denominado grupo das “Novas Universidades” que vieram alterar o panorama do ensino superior público em Portugal. Quando ingressou na UMinho, em 1990, o Prof. Doutor Manuel Mota considera que a instituição já tinha um papel muito importante na região. Contrariando a praxis das “universidades clássicas”, a UMinho foi a primeira universidade do país a criar um ambiente de integração profissional na sua oferta formativa, dando um enquadramento institucional aos estágios curriculares. Este contacto dos alunos com as entidades da região permitiu uma forte ligação da universidade com o tecido empresarial e um diálogo permanente com cerca de 3.000 empresas. O processo de Bolonha que ocorreu na primeira década deste século trouxe naturalmente adaptações a este projeto, mantendo-se agora com mais incidência no 2.ª ciclo (cursos de mestrado). Por outro lado, a UMinho cedo privilegiou as parcerias com a comunidade empresarial envolvente e estabeleceu relações de proximidade com as associações empresariais da região. O fato destas entidades terem beneficiado de fundos do anterior quadro comunitário de apoio como o PEDIP, permitiu consolidar o relacionamento com as empresas. Mais recentemente, com o QREN, mas também com projetos europeus como o Interreg, a relação foi saindo sempre fortalecida. O projeto Quadrilátero é também consequência da tentativa do anterior Reitor da UMinho, o Prof. Doutor António Guimarães Rodrigues, tentar unir os 23 concelhos que compõe a região Minho (distritos de Braga e de Viana do Castelo) em torno de projetos estratégicos e de cooperação. O Pacto de Desenvolvimento Regional então desenvolvido chega a ser assinado em 2004 por 19 Câmaras Municipais provenientes do Baixo Minho e do Alto Minho. Para além de todo este historial, a constituição do Quadrilátero, em Fevereiro de 2010, permite materializar um projeto de cooperação em torno de Barcelos, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão. O Quadrilátero acrescenta o fato das autarquias começarem a absorver a importâncias das estratégias conjuntas em rede. O papel da UMinho na região tem sido tão estruturante na região Minho que resultou no “embrião de uma zona metropolitana vasta” (só na cidade de Braga, regista-se à semana mais entradas do que saídas de pessoas, o que só acontece em Lisboa e Porto e em mais nenhuma zona do país). Contributos, propostas ou opiniões: Os contributos e propostas resultantes da entrevista realizada são enunciados de seguida: i) Considerando o Minho como uma região, denota-se que Viana do Castelo tem cumplicidade implícita com o Porto; ii) Forças e oportunidades no território do Quadrilátero: existência de infraestruturas empresariais e tecnológicas capazes (por exemplo: o Spinpark/Avepark é o único ponto do país com 4 redundâncias de fibra ótica, mas está a ser fortemente penalizado por não usufruir de um acesso direto à autoestrada); conhecimento de ponta e empresas de referência em áreas emergentes das tecnologias como as TIC, os Materiais (para setores tradicionais como o têxtil e vestuário, o calçado e a construção e metalomecânica; ou, avançados como nos plásticos técnicos) e a Biotecnologia (alimentar e industrial, da saúde e ambiental); espaços como o GNRation com capacidade para fazer evoluir as indústrias criativas; e, presença de uma estrutura como o INL, direcionada para apostar nos novos materiais; iii) Principais fragilidades do Quadrilátero: faltam lideranças políticas fortes, com capacidade de intervenção e capazes de influenciar as decisões de Lisboa; e, existência de um problema cultural associado a um certo egoísmo minhoto, onde existe tendência para dividir em vez de unir (incapacidade quase generalizada para as pessoas chegarem a acordo); iv) As dificuldades de projetos como o Quadrilátero prendem-se com o “protagonismo” político e pela concorrência que se estabelece entre os “cabeças de cartaz”. Justificar os obstáculos que se criam com questões relacionadas com as diferentes tendências políticas é de todo insuficiente; v) Ao contrário do que seria de esperar, e a julgar pela experiência que a UMinho viveu com o seu projeto de cooperação para o Minho enquanto “Região do Conhecimento”, os políticos sentem-se desconfortáveis com a liderança da UMinho e as lideranças para funcionarem têm de ser aceites; vi) Conciliar a oferta cultural e pensá-la para o território do Quadrilátero como um todo é fundamental, sendo para isso necessário ultrapassar questiúnculas que porventura possam existir com os agentes culturais que operam no território e que não estão diretamente envolvidos com a administração local de cada município; vii) O Quadrilátero carece de estratégias de marketing territorial que promovam a região e que possam associar a componente turística à cultural; viii) Em Portugal, existe uma figura que pode ser apelidada de “Gnomo dos Ministérios” que apenas serve para complicar, criar entraves e incluir na legislação toda essa entropia; ix) Os incentivos comunitários (QREN) para as empresas estão desajustados e mal dese- | 121 122 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO nhados; ideias inovadoras). estratégica do grupo DST. x) A criação de uma agência de desenvolvimento supramunicipal faria sentido se os municípios acordassem entre si um modelo de funcionamento e governança em áreas cuja cooperação se revela um fator crítico de sucesso. O grupo DST assegura toda a sua atividade através de um conjunto assinalável de empresas detidas na totalidade ou em cujo capital participa (dst, s.a.; dte, empreitadas eléctricas, s.a.; cari construtores, s.a.; bysteel, s.a.; tgeotecnia s.a.; tmodular, s.a.; tagregados, s.a.; tbetão, s.a.; way2b, ace; steelgreen, s.a.; dst renováveis, sgps, s.a.; geswater, sgps s.a.; aquapor serviços, s.a.; dstelecom, s.a.; innovation point, s.a.). Consciente da importância de competir pelo produto e não tanto pelo preço, optou por investir no ambiente, uma nova área que permitiu a incorporação de conhecimento e gerar valor acrescentado, para que pudessem atuar nas águas, nas renováveis e nos resíduos. Esta aposta no ambiente é feita com base na Blue Ocean Strategy, de modo a diferenciar-se da concorrência (e a potenciar a internacionalização). Ao longo da sua história, o grupo DST foi reconhecido com prémios e distinções da mais diversa ordem. Neste momento, acaba de ser considerado por um estudo da revista Exame (em parceria com a consultora Accenture) como uma das “Melhores Empresas para Trabalhar” em Portugal (2013), tendo sido também distinguido com o prémio “Excelência no Trabalho” num estudo desenvolvido pelo Diário Económico, em parceria com a Heidrick & Struggles e a ISCTE Business School. Na estratégia da DST, os conceitos de rede e networking foram sempre muito valorizados, assim como as ligações estabelecidas com associações empresariais ou setoriais. A criação em 2011 da AFCM - Associação da Fileira da Construção do Minho, foi um passo muito importante para o cluster minhoto da construção, permitindo desenvolver estratégias de cooperação e um maior foco e capacidade de atuação no que a negócios internacionais se refere. O grupo DST conta com um sistema de gestão de qualidade certificado (ISO 9001) nos seguintes âmbitos: Construção Civil e Obras Públicas; Ensaios Laboratoriais e Manutenção de Equipamentos e Viaturas; Conceção, Desenvolvimento Produção e Aplicação de Betão Betuminoso; e, Conceção, Desenvolvimento e Fabrico de Produtos de Madeira e Derivados de Madeira e Mobiliário. Tem também atribuído a marca CE aos seus agregados e misturas betuminosas. O grupo é ainda certificado pelas OSHAS e NP 4397 - Higiene e Segurança no Trabalho. Quanto ao ambiente, está certificado pela Norma 14001:2004 no que diz respeito à Produção de Betão Pronto, Transformação de Rochas Ornamentais, Fabrico de Produtos de Madeira e Mobiliário, Produção de Estruturas Metálicas e Manutenção de Viaturas e Equipamentos. Por fim, algumas das empresas do grupo já se encontram também certificadas pela Norma NP 4457:2007 que visa acreditar Sistemas de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação. A internacionalização tem sido a tábua de salvação de muitos industriais portugueses do setor da construção. O país atravessa uma fase de enormes dificuldades, o que obriga as empresas a procurarem novas oportunidades. As mudanças da banca portuguesa na relação que estabelecia com as empresas portugueses (diminuindo e dificultando o acesso ao crédito), os “cortes” (e não “ajustamento”) que estão a ser efetuados para equilibrar as finanças públicas e a capacidade de invasão e intrusão no tecido empresarial que a “máquina fiscal” ganhou, complicaram muito a vida das empresas do setor da construção: “estas empresas tinham competências de engenharia mas não de gestão”. O que acontecia era que os empresários investiam por feeling (porque as margens assim o permitiam) e não com base num Plano de Negócios. Todavia, “não pode haver uma transição que não seja geracional”. No passado, os empreendedores surgiam do trabalho infantil e não das universidades: “não se consegue jogar xadrez quando só se sabe jogar às damas”. Existe, por isso, nos dias que correm, uma necessidade muito grande de abertura dos empresários ao conhecimento. FICHA DE ENTREVISTA N.º 17 Empresa: Domingos da Silva Teixeira S.A. Interlocutor da empresa: José Teixeira Consultores: J. Cadima Ribeiro; Francisco Carballo-Cruz; Nuno Pinto Bastos Volume de Negócios (2012): 310 milhões de euros Nº de empregados (2012): 970 % de exportação (2012): 17% Caracterização da empresa: Fundado em Braga, o grupo DST (Domingos da Silva Teixeira) emprega hoje cerca de mil colaboradores, desenvolvendo a sua atividade na engenharia civil, setor que está na sua origem e no qual é um dos players nacionais de referência. O grupo DST tem alargado o seu portfólio de negócios, expandindo as suas áreas de intervenção a setores como o da Água e Ambiente, das Telecomunicações, das Energias Renováveis e da Inovação, com investimentos em curso quer a nível nacional, quer a nível internacional. Sedeada em Braga, num parque com 1.000.000 metros quadrados, a empresa dispõe também de escritórios em Lisboa, embora a sua atividade decorra no país inteiro e se encontre estendida por outras partes do mundo como são exemplo França, Angola, Moçambique. A DST é a empresa do grupo que se dedica à construção civil e obras públicas com experiência comprovada ao longo de décadas. O reconhecimento que a DST goza no mercado nacional e internacional deriva do facto de, ab initio, ter sabido acompanhar as exigências e tendências de mercado, apostando em áreas de atividade competitivas e de maior valor acrescentado. Fortemente vocacionado para a construção civil (edifícios comerciais, edifícios de habitação, naves industriais, remodelações e infraestruturas desportivas) e Obras Públicas (vias de comunicação, terraplanagens, infraestruturas, parque escolar e obras de arte), a atividade do grupo DST distribui-se hoje por uma panóplia de atividades associadas ou complementares, nomeadamente: montagem de negócios (superfícies comerciais, parques comerciais e parques industriais); energias renováveis (eólica, solar, hídrica e eficiência energética); água e ambiente (resíduos, abastecimento de água e saneamento, águas residuais e sistemas de rega); telecomunicações (infraestruturas de fibra ótica); e, inclusivamente, I&D (produção e comercialização de Envolvente: José Teixeira, presidente, considera que o mais importante ao final de um dia de trabalho é “constatar que vendemos mais do que compramos”. Pensando através da sequência empresa-região-país e nunca o contrário (porque assim não fica à espera que terceiros resolvam os seus problemas), preocupa-se com o futuro, com as mudanças de comportamento e de compra e com a evolução das tendências de mercado. No seu entender, importa saber que produtos e serviços vão ser consumidos no futuro e de que modo pode ajustar as competências da DST a essa nova oferta (e não o contrário). Para percecionar o futuro, a DST tem estudado o que está a acontecer nas principais cidades mundiais e tem procurado seguir o pensamento, os gostos e as vontades das novas gerações. Este exercício de benchmarking é dito ser muito importante para a definição QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES Neste momento, o setor da construção em Portugal encontra-se em declínio e precisa de atravessar um processo de reposicionamento e de mudança do modelo de negócio, capacitando-se para produtos de maior valor acrescentado. A indústria têxtil desta região já passou por isso e conseguiu dar a volta, mas levou 10 a 12 anos a fazê-lo. A fuga de empresários e trabalhadores para o estrangeiro é um ato de coragem fruto de um instinto de sobrevivência, embora continuem lá fora a fazer o que sabem (que é construir alugando mão-de-obra e equipamentos e não a gerir). Internacionalizar implica capital e investimento numa fase inicial, só depois se pode ter retorno. Neste momento, são muito os empresários que vão lá para fora sem dinheiro, isto é, numa completa aventura. A internacionalização da DST assenta numa lógica de parcerias que são estabelecidas localmente (nos países de destino), onde se troca o saber-fazer pela posição que esses players ocupam no mercado, e decorrente capacidade local de lobby. Isto porque, “o saber fazer do ponto de vista orgânico demora muitos anos”. O forte investimento que têm realizado em engenharia e em software de apoio, permitiu-lhes adquirir know-how para aceder a grandes obras no exterior, “desenhando em Braga e aparafusando em qualquer parte do mundo”. Todavia, na DST cada projeto tem de ser sustentável per si, pelo que implica sempre uma avaliação do negócio e do risco. O grupo DST investe muito na formação dos seus quadros e também em atividades e iniciativas que promovam a inovação. Sempre que possível, aproveita os mecanismos de apoio do QREN. Os serviços disponibilizados pelo AICEP são muito elogiados pelo Presidente do grupo, que considera que “estão a fazer bem o seu trabalho”. O foco do grupo DST na inovação percebe-se pelos projetos a que se associa. O Dia da Associada COTEC é uma das iniciativas que promove, mas é também de referir que o grupo dispõe de uma empresa dedicada à produção e comercialização de ideias inovadoras. Contando com 970 trabalhadores nas empresas detidas a 100%, é com agrado que o José Teixeira explica o programa “DecidInovar”, um projeto interno que considera altamente “disruptivo”. Com este programa, cada trabalhador dedica diariamente 30 minutos à inovação, tendo de contribuir para a “Caixa de Inovação”. Até ao momento, destaca duas ideias aí geradas: a Matriz de Empatia com o Cliente (que permite recolher e armazenar informações sobre o perfil e os gostos pessoais do cliente); e, um Processo para Gestão de Conflitos (que implica a análise dos mais diversos conflitos e uma intervenção para solucionar as causas mais comuns ou transversais). Aparte estas questões, o grupo é muito sensível a questões que se prendem com a responsabilidade social, sendo de destacar, entre outras iniciativas, o “Grande Prémio de Literatura DST”, que já vai na sua 18.ª edição. A regeneração urbana é uma área que a DST tem prestado particular atenção e a que vai continuar a fazê-lo no futuro. Este desafio é um negócio em torno da habitação nos centros das cidades mas, para ser bem-sucedido, tem de ter inovação. Um estudo desenvolvido pela DST, que analisou várias cidades por todo o mundo, permitiu concluir que esta nova geração, mais jovem, tende a viver nos centros históricos em apartamentos pequenos (40 metros quadrados), mas modulares e com espaços partilhados. A DST encontra-se inclusivamente a projetar novos modelos de negócio que permitam arrendar espaços habitacionais a um preço que inclua utilities, como eletricidade, água e internet e onde o cliente, para além de poder exercer uma opção de compra do imóvel (à semelhança do Leaseback), possa também beneficiar de um sistema de troca de pontos para mudar de habitação. O tempo digital, as experiências Erasmus e o gosto por viajar deste público-alvo encurtam as diferenças e aceleram as tendências. Por isso, do ponto de vista social, é preciso estar muito desperto para estas situações e entender o que pretendem os novos consumidores: viver num centro citadino que tem de ser cosmopolita, cool e culto. Em jeito de conclusão, disse-nos o nosso interlocutor que é necessário “um ajustamento da agulha para o conhecimento”, o que implica para uma grande parte das empresas “mudar de vida e começar de novo”. Contributos, propostas ou opiniões: As principais sugestões e propostas recolhidas nesta entrevista, foram as seguintes: i) O GNRation, em Braga, é espaço de enorme potencial, capaz de promover as artes digitais e as indústrias criativas e de atrair novos públicos. Todavia, a capacidade para criar um “campo de atração” só se consegue se tivermos um “programa de cidade”, com bares, com lojas e com outros espaços que congreguem e “agarrem” a população alvo, isto é, os jovens. Mas não basta ter, é preciso comunicar e, neste aspeto, o marketing territorial tem um importante papel a desempenhar para comunicar e valorizar os atributos conseguidos; ii) O ordenamento do território, nomeadamente ao nível do PDM - Plano Diretor Municipal, é concebido por engenheiros e arquitetos, mas é fundamental que a equipa inclua cientistas sociais (é preciso ouvir o mercado e cada geração tem projetos de consumo e modelos de satisfação diferentes); iii) Para atrair IDE para o Quadrilátero, importa que: exista um “programa de cidade” para cada uma das quatro parcelas do território, capacitando-as para um maior cosmopolitismo; e, comunicar através do marketing territorial as excelentes condições de trabalho e de vida de que dispomos (tempo, condições naturais e segurança pública); iv) O Quadrilátero beneficia de uma “ótima universidade, inovadora e aberta”, sendo de destacar o trabalho desenvolvido pela Escola de Engenharia e, mais recentemente, também pela Escola de Ciências da Saúde. Existe um projeto de grande interesse, denominado IB-S - Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-sustentabilidade, que está a ser criado na UMinho e que vai permitir atuar ao nível das Smart Grids e também dos elementos passivos de construção (também aqui os investigadores sociais não devem ser esquecidos porque até as grandes empresas globais têm antropólogos e filósofos nos seus quadros). | 123 124 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Referências bibliográficas Acemoglu, D. et al. (2013). As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza: Porque Falham as Nações. 3ª edição. Lisboa: Círculo de Leitores ATP (2009). Cluster Moda Têxtil. Plano de acção para a Competitividade da ITV Portuguesa 2010 - 2015. Carvalho, P. (2002). Redes Institucionais, Pequenas Cidades e Competitividade Territorial: Análise de redes na quantificação de variáveis intangíveis. 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Design e Impressão LK Comunicação Tiragem 500 exemplares Depósito Legal 367888/13 Outubro 2013 “É completamente interdita a reprodução mesmo parcial, de textos e ou ilustrações, sem autorização escrita dos editores” QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES | 127 128 | INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES INTERNACIONALIZAÇÃO DO QUADRILÁTERO E PROJEÇÃO DE ESTRATÉGIAS FUTURAS DE PROMOÇÃO DO TERRITÓRIO Cofinanciamento QUADRILÁTERO EMPRESARIAL BARCELOS . BRAGA . FAMALICÃO . GUIMARÃES