A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA OBESIDADE The mining of physical activity in obesity prevention and treatment Emilian Rejane Marcon,1 Iseu Gus2 A obesidade é um distúrbio nutricional e metabólico e pode ser associado, de uma forma simplificada, como o acúmulo excessivo de gordura corporal pelo balanço energético positivo, isto é, a ingestão calórica sobrepassa o gasto calórico. Isto acarreta repercussões à saúde com perda importante não só na qualidade como na quantidade de vida. O aumento exagerado de peso é uma epidemia em muitos países industrializados. Isto se deve à combinação de suscetibilidade genética com fatores ambientais e comportamentais. A industrialização ofereceu uma maior facilidade na obtenção e no preparo dos alimentos. O padrão de vida passou a ser mais sedentário, as pessoas passaram a comer cada vez mais e a exercitar-se cada vez menos, levando a um superávit calórico, favorecendo a obesidade nas pessoas predispostas geneticamente. O fator genético tem um papel importante na etiologia da obesidade. Estima-se que 40% a 70% da variação do fenótipo relacionado à obesidade sejam herdados, mas o fator ambiental, provavelmente, seja o principal determinante da epidemia da doença, uma vez que o aumento expressivo da doença aconteceu há poucas décadas. Este tempo não foi suficiente para provocar uma alteração genética, ao passo que, neste período, houve muitas alterações de comportamento, hábitos e estilo de vida. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que 80% da população brasileira vivem em regiões urbanas e estima-se que 70% dessa população apresentam hábitos de vida sedentários. 1 Educadora Física. Especialista em Treinamento Desportivo. Endereço: Unidade de Pesquisa d o I C / F U C . Av. Princesa Isabel, 370 Santana Porto Alegre, RS - CEP: 90620-001 - E-mail: [email protected] 2 Doutor em Ciências da Saúde. Chefe do Serviço de Epidemiologia do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / FUC. C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 15 (2): 291 - 294, 2007 – 291 EMILIAN REJANE MARCON, ISEU GUS TRATAMENTO DA OBESIDADE Na literatura, há um consenso em relação aos fatores de risco e as causas da obesidade. Porém, ela diverge em relação ao tratamento ideal, uma vez que, na sua maioria, falham na manutenção da perda de peso em longo prazo. O indivíduo deve reeducar-se para vida, modificando comportamentos, visando resultados a longo prazo e a manutenção destes resultados. Segundo Halpern (2001), é difícil determinar quantitativamente a importância relativa de um único fator de risco, pois muitos estão interligados, mas sabemos, por exemplo, que a perda de peso e subseqüente redução de gordura, em geral, além de normalizar os níveis de colesterol e triglicérides, exerce um efeito benéfico sobre a pressão arterial. A redução de 5 a 10% do peso corporal provoca uma melhora significativa no controle metabólico e nos níveis de pressão, melhora o número de apnéias e hipopnéias durante o sono e, ainda, reduz a mortalidade relacionada ao diabetes mellitus. Atualmente, são utilizados vários procedimentos terapêuticos para o tratamento da obesidade. São eles: a dietoterapia (dieta hipocalórica) associada à reeducação alimentar; atividade física regular; suporte psicológico; tratamento farmacológico; mudanças no estilo de vida; e a cirurgia bariátrica, para indivíduos com índice de massa corporal acima de 40 ou entre 35 e 40 com condição de saúde incapacitante ou risco de vida, e com riscos de cirurgia aceitável. Os casos mais acentuados de obesidade são inseridos na esfera cirúrgica, por apresentarem uma alta freqüência de comorbidades e uma redução da expectativa de sobrevivência. Por ser a obesidade uma doença multifatorial, é importante que para o seu tratamento utilize-se uma equipe multidisciplinar com médicos, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos. REDUÇÃO DO PESO CORPORAL PELO TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO Combinar dieta hipocalórica e atividade física é um excelente tratamento não-farmacológico para a perda de peso. A perda de peso é apenas a fase inicial do tratamento, sendo a manutenção do peso perdido o objetivo principal. Em um estudo de quatro meses fazendo uma associação entre dieta e exercício físico, a perda de peso corporal alcançada foi idêntica no grupo que fez a atividade física e dieta hipocalórica e no outro grupo que apenas fez a dieta hipocalórica. Entretanto, pessoas que se mantêm ativas ao longo da vida têm menores chances de se tornarem obesas, tem uma melhor distribuição corporal de gordura, com menores depósitos na região intra-abdominal. A associação da atividade física aos programas de emagrecimento é eficaz, dentre outros objetivos, na manutenção do peso corporal em médio e longo prazo; por isso, a colocação do exercício físico regular é importante não só 292 – C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 15 (2): 291 - 294, 2007 A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO E PREVENÇÃO DA OBESIDADE durante, mas, sobretudo, após a perda de peso. Pouco se sabe se a atividade física interfere na mudança da dieta, se interage com ela ou ainda comporta-se de forma sinérgica a ela. Há indícios de que o exercício físico possa estar associado a uma melhor adesão à dieta hipocalórica. INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE A atividade física é um fator importante na prevenção primária e secundária, bem como no tratamento de várias doenças. A atividade física regular provoca vários benefícios no que se refere à saúde do obeso, dentre eles podemos destacar: melhora da resistência cárdio-respiratória; melhora do perfil lipídico sangüíneo, em particular a diminuição dos triglicérides e o aumento do HDL (proteína de alta densidade-colesterol); com a perda de peso, diminuições do colesterol total e do LDL (proteína de baixa densidadecolesterol); melhora do estado psicológico, principalmente aumentado pelo bem estar geral, pelo vigor e a diminuição da ansiedade e depressão; melhora a autoestima, a imagem corporal e o humor; diminuição das doenças relacionadas com a obesidade; melhora a manutenção do peso perdido a médio e longo prazo; elevação da sensibilidade dos tecidos à insulina; auxílio no controle do diabetes melittus não insulino-dependente; melhoram os riscos cardiovasculares, mesmo quando não ocorre perda de peso (indivíduos com um melhor condicionamento físico correm menos riscos de morte por doenças cardiovasculares ou outras causas, independente do seu peso corporal); diminui a taxa de mortalidade e morbidade em indivíduos com sobrepeso ou moderadamente obesos. A prática de atividade física não só previne como minimiza os efeitos da obesidade. Acredita-se que quanto maior o índice de massa corporal, mais afetada se encontrará a aptidão física. A agilidade e a resistência aeróbia são as mais afetadas. Estudos demonstram que exercícios aeróbicos (como andar de bicicleta, correr, nadar, caminhar) podem promover perda de peso e de massa adiposa, que é mais pronunciada em indivíduos obesos. Exercícios de resistência, como ginástica localizada, musculação, têm efeito menor sobre o peso, porém minimizam a redução da taxa metabólica de repouso, preservam ou aumentam a massa magra e podem ajudar na sua preservação durante a dieta hipocalórica. O tratamento da obesidade deve ter como objetivo a melhora do bem-estar e da saúde metabólica do indivíduo, diminuindo os riscos de doenças e mortalidade precoce. Sua prevenção, detecção e tratamento agressivo deveriam ser um cuidado primário de saúde pública, em virtude de todas as comorbidades associadas e sua crescente epidemia. C A D . S A Ú D E C O L E T ., R I O DE J A N E I R O , 15 (2): 291 - 294, 2007 – 293