MARÇO 2014 A dr i a n a C a r d o s o
Estratégias discursivas de representação do autor em
textos académicos
A escrita académica está tradicionalmente associada a um discurso objetivo e
impessoal. Contudo, em algumas áreas, espera-se que os autores tomem uma posição
relativamente aos temas que abordam, o que implica que construam a sua própria voz
nos textos que produzem.
Assim, em função do género textual a produzir, os autores dos textos académicos
usam diferentes estratégias discursivas, que os tornam mais ou menos visíveis nos
textos. Uma dessas estratégias diz respeito à escolha da pessoa do discurso, que em
português pode assumir três modalidades:
a) discurso na 1ª pessoa do plural;
b) discurso impessoal;
c) discurso na 1ª pessoa do singular.
Estas modalidades concretizam-se em marcas linguísticas específicas, como formas
verbais, pronomes e determinantes. Nos exemplos abaixo, ilustram-se as diferentes
possibilidades, destacando-se em caixa de texto as marcas linguísticas que
tipicamente lhes estão associadas. Outras estratégias complementares são destacadas a
sublinhado.
Como nota final, é de destacar que é fundamental que o autor opte por uma das
modalidades e a utilize sistematicamente no âmbito de um mesmo trabalho.
EXEMPLO 1 - Discurso na 1ª pessoa do plural
Obrigatório numa obra com pretensões de manual é que o primeiro capítulo seja
dedicado a questões conceptuais básicas. Assim sendo, para não romper com este
costume, depois de umas breves anotações sobre a ideia de cultura que alimenta a
reflexão sobre a animação sociocultural, tentaremos delimitá-la conceptualmente. Em
seguida, pô-la-emos em relação com outros conceitos que têm com ela uma certa
familiaridade (educação permanente, educação social e não formal...) e introduziremos
uma dimensão epistemológica, se é que se deve aplicar esta palavra a animação
sociocultural. Finalmente, e apenas para avançar, esquematicamente, aspectos que
mais adiante outros autores desenvolverão com mais amplitude e para oferecer ao
leitor uma primeira aproximação ao universo real da animação sociocultural,
traçaremos uma panorâmica dos âmbitos, meios, instituições ou recursos da animação
sociocultural.
Trilla, J. (2004). Conceito, exame e universo da animação. In J. Trilla (Coord.),
Animação sociocultural. Teorias, programas e âmbitos. Lisboa: Instituto Jean Piaget.
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REPRESENTAÇÃO DO AUTOR EM TEXTOS ACADÉMICOS
ADRIANA CARDOSO
EXEMPLO 2 - Discurso impessoal
O presente estudo teve como objectivo analisar o desempenho de alunos de primeiro
ano dos cursos de Engenharia e de Ecoturismo da Escola Superior Agrária (ESAC) do
Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) no que respeita à realização de uma síntese da
informação escrita a partir de várias fontes. O estudo compreendeu duas partes,
constituídas em dois estudos de caso: no primeiro, realizado no ano lectivo de
2003/2004, participaram 123 alunos; no segundo, realizado no ano lectivo de
2006/2007, participaram 60 alunos, constituindo estes a totalidade de alunos de
primeiro ano que estudaram a língua nacional sob as orientações do novo “Programa
de Língua Portuguesa” vigente no Ensino Secundário a partir de 2003.
Em ambos os estudos de caso, procurou-se conhecer o que pensavam os alunos sobre
a sua relação com a escrita em contexto escolar e sobre os seus procedimentos e
dificuldades relativos à selecção e síntese da informação. Foram analisados os seus
procedimentos preliminares à produção de um texto a partir de várias fontes através de
eventuais sublinhados, apontamentos e rascunhos e, em seguida, através do trabalho de
revisão e qualidade do texto final, que pressupunha o domínio ao nível da explicitação
do conhecimento.
Rodrigues, L. (2009). Dificuldades de síntese na escrita de alunos do Ensino Superior
Politécnico. (Dissertação de doutoramento não publicada). Universidade de Aveiro,
Aveiro.
EXEMPLO 3 - Discurso na 1ª pessoa do singular
O trabalho de investigação que aqui apresento tem como tema um subtipo de orações
relativas – habitualmente designadas por «relativas livres» ou «relativas sem
antecedente» – que tem sido objecto de estudo por parte de diversos autores nos
últimos anos. Para além dos trabalhos de autores estrangeiros, há a salientar, no
quadro da investigação para o Português, a reflexão feita pela Professora Ana Maria
Brito na sua Dissertação de Doutoramento, de 1988, que integra um capítulo dedicado
à análise destas orações. Em relação a esta dissertação, não posso deixar de referir,
nesta nota introdutória, o importante papel que ela desempenhou na realização do
presente trabalho, pois que foi da sua leitura – que me serviu de estímulo e importante
fonte de orientação – que resultou o meu interesse pelas construções aqui analisadas.
Móia, T. (1992). A sintaxe das orações relativas sem antecedente expresso do
português. (Dissertação de mestrado não publicada). Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, Lisboa.
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Representação do autor em textos académicos