XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - 29 a 31 Outubro 2012 - Juiz de Fora
PANORAMA DA GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO (RCD) NA CIDADE DE MACEIÓ – ALAGOAS,
CONSIDERANDO A RECENTE EXPANSÃO DA CONSTRUÇÃO
CIVIL
Renato Barbosa Sampaio(1); Filipe Leonardo Cardoso de Souza (2); Mariana
Rodas Ferreira de Almeida(3); Marcela Coelho Lopes (4); Humberto Cavalcante
Bispo Junior (5); Rafael Coelho de Mendonça Silva(6)
(1) Universidade Federal de Alagoas, e-mail: [email protected]
(2) Universidade Federal de Alagoas, e-mail: [email protected]
(3) Universidade Federal de Alagoas, e-mail: [email protected]
(4) Universidade Federal de Alagoas, e-mail: [email protected]
(5) Universidade Federal de Alagoas, e-mail: [email protected]
(6) Universidade Federal de Alagoas, e-mail: [email protected]
Resumo
O setor da construção civil em todo o Brasil encontra-se em uma onda de valorização e
expansão nesses últimos anos, inclusive no Nordeste, onde graças aos programas de
incentivo do governo e ao aquecimento econômico do país, as empresas construtoras são
estimuladas a investir cada vez mais no setor. No mesmo ritmo desse crescimento, também se
encontra a preocupação com o gerenciamento dos resíduos sólidos gerados pela indústria da
construção civil, que é uma grande exploradora de recursos naturais. Este trabalho se
propõe a analisar a gestão dos resíduos de construção e demolição na cidade de Maceió –
Alagoas, além de verificar qual o processo que vem sendo realizado desde a coleta até o
destino final. Para tanto, foi realizado um levantamento no site do Sindicato da Indústria da
Construção de Alagoas (SINDUSCON) de quais as construtoras que mais construíram nos
últimos anos, pois estas seriam as que melhor representariam o cenário estadual. Por fim,
através da aplicação de um questionário, foi possível gerar dados para a criação de um
panorama da gestão dos resíduos de construção e demolição. Os resultados mostram que são
poucas as exceções de empresas bem planejadas nesse sentido, podendo muitas vezes reduzir
gastos com desperdícios que poderiam ser evitados.
Palavras-chave: Resíduos, Construção Civil, Gestão, Maceió.
Abstract
The Brazilian construction industry has been leaping for years, including the Northeast,
where thanks to government incentive programs and the country’s economic boom, the
construction companies have been encouraged to invest more and more on it. At the same
time, the concern about the solid waste management deepens into details, due to the
construction industry be a master exploiter of natural resources. This paper aims to analyze
the management of construction and demolition waste at Maceió – Alagoas, and to check
what process is being conducted since the collection until the final destination. For this, a
search in the site of the Alagoas Construction Industry Union was done to find which
companies had the biggest number of buildings, so these would be the ones which represent
most properly the state’s scenario. Finally, by applying a questionnaire, it was possible to
generate data for creating a view of waste management from construction and demolition
actions. The results show that there are few exceptions of thoughtful companies, which can
often reduce spending waste that could be avoided.
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Keywords: Waste, Construction, Management, Maceió.
1. INTRODUÇÃO
Os resíduos sólidos são resultados das atividades diárias do homem em sociedade e a
definição destes como material inservível e não aproveitável é, na atualidade, com o
crescimento da indústria da reciclagem, considerada relativa. Um resíduo pode não ser útil
para algumas pessoas e, ao mesmo tempo, ser aproveitável para outras (Ecolnews, 2012).
É cada vez mais comum a prática realizada pela população, indústria e governo de adotar
políticas e leis de proteção ao meio ambiente, como as do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA, que teve sua última resolução em 2002. O CONAMA também
aborda o tratamento dos resíduos sólidos, incluindo sua disposição final e a prática de
politicas de reciclagem. O gerenciamento compreende um ciclo que vai desde a coleta até a
disposição final. O mau planejamento pode gerar problemas ambientais e socioeconômicos.
No âmbito dos resíduos sólidos, encontram-se aqueles gerados pela indústria da construção
civil em atividades como a própria construção de edifícios, reformas, reparos e demolições.
Na composição destes resíduos, existem componentes inorgânicos (concretos, argamassas e
cerâmicas), orgânicos (plásticos e materiais betuminosos), entre outros. Uma análise da
composição média (m/m) dos RCD recebidos no antigo aterro de Itatinga na cidade de São
Paulo aponta que cerca de 95% são, segundo o CONAMA, resíduos classe A, quer dizer,
podem ser reutilizados como agregados. Estes resíduos são solos, elementos de concreto,
argamassas e materiais cerâmicos (BRITO, 1999; CAC, 2002). Destaca-se que as frações de
amianto, gesso e aço provavelmente foram incluídas na estimativa anterior, mas não
pertencem a esta classe A do CONAMA (ANGULO, et al., 2002).
A região Nordeste, que é uma região com grande potencial de crescimento, tem participado
ativamente da evolução do mercado da construção civil no Brasil, sendo esta impulsionada
por programas de incentivo como o “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal. Além
disso, por conta do aquecimento econômico do país, as construtoras aumentam cada vez mais
a quantidade de seus empreendimentos e a cidade de Maceió, capital de Alagoas, está inserida
também nessa expansão.
No Brasil, a tecnologia construtiva normalmente favorece o desperdício na execução das
novas edificações. Enquanto em países desenvolvidos a média de resíduos proveniente de
novas edificações encontra-se abaixo de 100 kg/m2 edificado, no Brasil, este índice gira em
torno de 300 kg/m2 (MONTEIRO, et al., 2001).
Desta forma, a avaliação da gestão dos resíduos de construção e demolição numa cidade em
crescimento se faz importante para que os órgãos públicos incentivem a adoção de medidas
que diminuam os impactos gerados pelos resíduos. Desta maneira, este trabalho propõe-se a
estudar a gestão dos resíduos da construção civil na cidade de Maceió-Alagoas e a criar um
panorama geral sobre o seu gerenciamento.
2. METODOLOGIA
Para montagem e análise inicial do panorama da gestão de resíduos de construção e
demolição (RCD) na cidade de Maceió, foram consideradas as construtoras de maior
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representatividade, quer dizer, as que possuíam maior número de obras em execução ou que
foram finalizadas há pouco tempo.
O levantamento dessas construtoras foi feito através do site do Sindicato da Indústria da
Construção de Alagoas (SINDUSCON – AL). Sendo assim, foram selecionadas doze
empresas de construção civil e desse total, oito responderam a um questinonário.
O questionário enviado às construtoras (Figura 1) procurou analisar questões como a
destinação dos resíduos de construção, se há a aplicação de técnicas construtivas que
objetivem reduzir a geração destes, se a empresa tem algum programa ligado à gestão dos
resíduos resultantes de suas construções, etc. Tais questionários visam gerar um panorama da
gestão dos resíduos de construção e demolição na cidade de Maceió – Alagoas, de acordo
com as empresas mais atuantes na cidade. Para análise dos resultados, foram dispostos em
gráficos as respostas dos questionários dividos por cada pergunta.
Figura 1 – Questionário enviado às construtoras.
3. RESULTADOS
Das doze empresas listadas, oito disponibilizaram dados sobre o gerenciamento dos RCD
resultante de suas obras, dados esses que foram disponibilizados pelos próprios engenheiros
ou por estagiários.
3.1. Número de empreendimentos executados em 2011
Os empreendimentos das empresas consultadas representam uma grande parcela do total de
empreendimentos construídos em Maceió-Alagoas, tendo influência considerável na geração
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dos resíduos sólidos de construção.
3.2. Volume de resíduos gerados em cada empreendimento
Nesse quesito, cinco empresas não souberam relatar uma média do volume de resíduos
gerados em seus empreendimentos, o que pode representar uma falta de controle na geração
destes detritos. Apenas três empresas souberam informar esse valor, os quais foram de 10 m3
por mês, 11 a 20 m3 por mês, e de 21 a 40 m3 por mês.
3.3. Forma de coleta dos resíduos gerados e destinação final
A terceira pergunta do questionário trata sobre como é feita a coleta dos resíduos. Todas as
empresas consultadas tinham essa informação (Gráfico 1). As empresas também informaram
qual a destinação final desses detritos e como se pode ver no Gráfico 2, grande parte das
empresas tem como destinação final o aterro de Maceió.
Gráfico 1 – Forma de coleta dos Resíduos
Gráfico 2 – Destinação Final dos Resíduos
3.4. Iniciativas de reciclagem
A quinta pergunta do questionário permitiu conhecer a existência de iniciativas de reciclagem
dos resíduos gerados na construção dos empreendimentos. 75% das empresas consultadas
informaram que possuem iniciativas de reciclagem.
3.5. Parcela do volume produzido que é reciclado
Metade das empresas não souberam informar qual a porcentagem do volume total desses
resíduos que é reciclada, considerando as obras no ano de 2011. A porcentagem que é
reciclada, segundo as empresas que responderam, fica entre 20 e 40%. Esta informação é
importante para que se possa determinar quanto pode ser reduzido, reutilizado ou reciclado.
3.6. Utilização de técnicas construtivas para redução da geração de resíduos
A sétima pergunta do questionário permitiu conhecer a existência de técnicas construtivas de
redução da geração dos resíduos. Metade das empresas consultadas informou que aplicam
técnicas e citaram como exemplo a paletização de blocos cerâmicos, a mudança de posição
do bloco cerâmico para passagem de conduítes e o uso de folha de zinco ou plásticos grossos
para aparar a argamassa de assentamento que cai no chão, possibilitando o reaproveitamento
da mesma. Percebe-se, por outro lado, que a preocupação na redução da geração dos resíduos
ainda é muito pequena e pontual.
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3.7. Uso de resíduos reciclados
Ao serem questionadas sobre a utilização de materiais provenientes da reciclagem de
resíduos, apenas três empresas responderam que fazem a utilização de resíduos reciclados.
Quando indagadas sobre a possibilidade de utilização de insumos de origem RCD reciclado,
todas as empresas responderam que sim, usariam.
3.8. Programa de Gestão de Resíduos Sólidos
A última pergunta do questionário tratava sobre a existência de algum Programa de Gestão de
Resíduos Sólidos de Construção Civil dentro do canteiro de obras das empresas pesquisadas.
Apenas uma empresa respondeu que não. Algumas empresas que responderam sim
justificaram que investem na capacitação de seus funcionários, realizando palestras e
treinamentos.
4. CONCLUSÃO
A gestão dos resíduos de construção civil em Maceió ainda é muito deficiente e precisa de
muitas alterações. As construtoras não se dispõem, da forma ideal, a executar ações que
proporcionem redução na geração dos resíduos. São poucas as empresas que investem
efetivamente na gestão de resíduos sólidos com objetivos de futuramente reduzir gastos com
desperdícios, que podem ser evitados. A utilização de técnicas para redução da geração dos
resíduos ainda são simples, mas isto decorre também do processo de construção em Maceió
que possui pouco ou nenhuma industrialização. A utilização dos resíduos nos
empreendimentos está se dando de forma muito tímida e as construtoras estão adotando a
alternativa mais prática, mais fácil, que é destinar “entulhos” para o aterro.
A adequação da gestão dos resíduos de construção deve ser padronizada e partir de uma esfera
municipal, fornecendo as condições necessárias para que as empresas construtoras possam
adaptar seus empreendimentos. Só com a criação de um Plano Municipal de gestão de RCD e
também com a fiscalização por parte dos órgãos competentes as construtoras se atentarão
mais para a geração de RCD e pensará em alternativas para sua redução.
5.
REFERÊNCIAS
ÂNGULO, S.C.; ZORDAN, S.E.; JOHN, V.M. Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na
construção civil. IV Seminário Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem na construção civil - materiais
reciclados e suas aplicações. (CT206 – IBRACON). São Paulo, 2001.
ÂNGULO, S.C.; ULSEN, C; JOHN, V.M.; KAHN, H. Desenvolvimento de Novos Mercados para a
Reciclagem Massiva de RCD. V Seminário Desenvolvimento sustentável e a reciclagem na construção civil
(CT 206 – IBRACON). São Paulo, 2002.
BRITO, J.A. Cidade versus entulho. In: Seminário de desenvolvimento sustentável e a reciclagem na
construção civil, 2, São Paulo, 1999. Anais. São Paulo, Comitê Técnico CT206 Meio Ambiente (IBRACON),
1999. p.56-67;
JOHN, V.M.; AGOPYAN, V. Reciclagem de resíduos de construção. Seminário - Reciclagem de resíduos
sólidos domésticos. São Paulo, 2000.
MONTEIRO, J. H. P. et al. (2001). Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Victor Zular
Zveibil (coord.). Rio de Janeiro: IBAM, 2001.
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Resoluções do Conama sobre Resíduos Sólidos. <http://4ccr.pgr.mpf.gov.br/institucional/grupos-detrabalho/residuos/res-solidos>. (acesso em 28 de maio de 2012).
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