Marcos
Leão
Ap 4,7
Necessidade de escrever sobre Jesus
- Morte da primeira geração de cristãos
(parusia iminente: Mc 9,1; 13,26-32; 1Ts 4,13-5,11)
- Para que a memória a respeito de
Jesus não se perdesse
- Para iluminar a vida das comunidades
em épocas difíceis
O evangelho de Marcos, o mais antigo, escrito uns
40 anos depois da morte e da ressurreição de Jesus,
já é uma profecia.
Não é uma biografia de Jesus, mas uma obra de
defesa do verdadeiro Jesus, diante da inclinação
de muitos cristãos para espiritualizar a boa nova do
Reino.
O autor dá-se conta de que já se estava mudando a
mensagem de Jesus, reintegrando as relações do
judaísmo nas comunidades, a luta pelo poder, o
esquecimento dos mais pobres.
Por isso, acentua o distanciamento da religião
judaica e é muito crítico aos apóstolos, como
veremos adiante.
Novo gênero literário
- Os autores de Marcos inauguram um
novo gênero literário: Evangelho.
- É uma narrativa da prática e da
mensagem de Jesus incluindo sua
paixão, morte e ressurreição, organizada
como uma biografia.
- É apresentada como um “Evangelho”,
isto é, como uma boa-nova
(eu = bom/boa/bem e
angellion = mensagem/notícia/nova).
Data
Últimos anos da década de 60
e início dos anos 70.
A redação final deve ter sido feita
imediatamente depois da destruição
de Jerusalém em 70
(Mc 13 faz referência à guerra judaico-romana,
bem como à destruição do templo).
ÉPOCA APOSTÓLICA
(1ª GERAÇÃO CRISTÃ:
30-70 d.C.)
ÉPOCA SUB
APOSTÓLICA
ÉPOCA PÓS
APOSTÓLICA
(2ª GERAÇÃO: 70-100)
(Quando não há mais
testemunhas oculares
vivas)
(3ª GERAÇÃO: 100-130)
JOÃO (+ 95-100)
35
Tradições
orais
51
56
Primeiros escritos
Cartas de Paulo
TESTEMUNHAR
MARCOS (+ 70)
MATEUS (+ 90)
LUCAS(+ 90-100)
PRESERVAR ORGANIZAR
Na origem de Marcos
estão as IGREJAS
(Comunidades)
da GALILEIA
Local
Local das comunidades de Marcos
Mc 16,7 (comunidades da Galileia)
Local
O local onde foi escrito é incerto.
Mas é provável que tenha sido elaborado
em algum lugar próximo à Galileia.
Talvez, na fronteira leste do Lago de
Genesaré, na Decápole (Mt 4,25; Mc 5,20 ; 7,31).
Ou em Cesareia de Filipe, ao norte.
DECÁPOLE
Plínio, o Velho
(historiador romano
que viveu entre 23 e
79 d.C.) cita as dez
cidades de cor rosa
no mapa ao lado.
-----------------------
- Damasco (At 9,2)
- Gerasa (Mc 5,1)
- Filadélfia (Amã)
Rio Eufrates
Destinatários
Comunidades cristãs de origem palestinense.
No entanto, elas têm em seu meio pessoas de
origem não-judaica, uma vez que dão explicações
a respeito de costumes dos judeus (cf. 7,3-4).
Em Cesareia de Filipe, há diversidade étnica e foi
lá que Marcos localizou o pedido de Jesus a seu
grupo para que fizesse uma profissão de fé
(Mc 8,27-30).
Na Decápole, também vivem pessoas de outras
culturas, uma vez que ali se criavam porcos,
animais considerados impuros pelos judeus
(Mc 5,1-20).
Destinatários
Mc 6,7-13 (comunidades missionárias)
Problemas nas comunidade
que Marcos quer iluminar
1. Perseguição aos cristãos pelo Império
2.
3.
4.
5.
Romano
Rebelião dos judeus da Palestina contra
a invasão romana
Problemas internos de liderança
Quem é Jesus? Como entender a Cruz?
Como ser discípulo de Jesus?
Patrono do Evangelho
Como os demais evangelhos, os autores de
Marcos também são anônimos.
Foram pessoas de liderança nas comunidades,
homens e mulheres que ajudaram a recolher as
tradições orais e as coletâneas já escritas.
Por fim, uma ou mais pessoas fizeram a redação.
No entanto, uma tradição do segundo século o
atribuiu a Marcos
Marcos
At 12,12-13; 12,25; 13,5.13; 15,36-40;
Cl 4,10; Fm 24; 1Pd 5,13
Segundo a tradição, depois das missões em Chipre e
Roma, foi para a Alexandria onde foi martirizado em
74, arrastado por pagãos pelas ruas da Alexandria,
com cordas amarradas em seu pescoço.
Em 829, suas relíquias foram levadas de Alexandria para
Veneza, onde foi construída uma basílica em sua
memória.
Fontes de Marcos
Coleções que certamente já circulavam
nas comunidades:
- paixão, morte e ressurreição,
- parábolas e
- relatos de curas
É a tradição oral que se mantinha viva
nessas igrejas desde as origens.
Estrutura de Marcos
1,1-15: Introdução: início da Boa-Nova e apresentação do Messias,
que anuncia a proximidade do Reino e a necessidade de conversão.
1,16-20: Chamamento para o seguimento.
1,21-8,21: Ministério na Galileia e arredores. Jesus ensina com
autoridade e promove ações libertadoras em favor das
pessoas mais discriminadas, revelando o poder de Deus.
No entanto, familiares (3,20-21) e compatriotas (6,1-6),
autoridades religiosas e políticas (2,1-3,6), bem como os
discípulos (6,49-52; 7,17-18; 8,14-21) são cegos e não o
compreendem.
8,22-10,52: Cura da cegueira de quem o segue no caminho para
Jerusalém.
11-13: Atividade de Jesus em Jerusalém, lugar do conflito e da rejeição.
14-16: Paixão, morte e ressurreição. A cruz revela a cegueira das
autoridades e é luz para a comunidade de Marcos.
Estrutura de Marcos (1,1-8,21)
1,1-15: Introdução: início da Boa-Nova e apresentação do
Messias, que anuncia a proximidade do Reino e a
necessidade de conversão.
1,16-20: Chamamento para o seguimento
1,21-8,21: Ministério na Galileia e arredores
- 1,21-3,6: escribas, fariseus e herodianos não entendem Jesus
- 3,7-6,6: compatriotas e parentes não compreendem Jesus
(3,20-21; 6,1-6)
- 6,7-8,21: discípulos não entendem Jesus
(6,49-52; 7,17-18; 8,14-21)
8,22-10,52: Cura da cegueira dos discípulos
Esquema do Evangelho de Jesus segundo Marcos
Introdução
1,1-13
Início da boa-nova
Preparar o anúncio
Dobradiça
1,14-15
1ª leitura
1,16-3,6
Cresce a boa-nova
Aparece o conflito
Dobradiça
3,7-12
2ª leitura
3,13-6,6
Cresce o conflito
Aparece o mistério
Dobradiça
6,7-13
3ª leitura
6,14-8,21
Cresce o mistério
Aparece o não entender
Dobradiça
8,22-26
4ª leitura
8,27-10,45
Cresce o não entender
Aparece a luz escura da cruz
Dobradiça
10,46-52
5ª leitura
11,1-13,32
Cresce a luz escura da cruz
Aparecem a ruptura e a morte
Dobradiça
13,33-37
6ª leitura
14,1-15,39
Crescem a ruptura e a morte
Aparece a vitória sobre a morte
Dobradiça
15,40-41
7ª leitura
15,42-16,8
Cresce a vitória sobre a morte
Reaparece a boa-nova e tudo recomeça
Apêndice
16,9-20
(Fonte: Carlos Mesters e Francisco Orofino)
Particularidades
do Evangelho
segundo Marcos
1) Um dos três evangelhos sinóticos
(Mc + Lc + Mt = visão de conjunto)
2) É evangelho mais de ações e não de
discursos
3) Relata 18 comparações, entre 70
(6 parábolas maiores, entre 40)
4) Narra 18 sinais, entre 35
5) Escrito em estilo jornalístico, narrativo.
Usa muito o tempo presente, histórico.
6) Destaca o olhar e os sentimentos de Jesus
(Mc 3,5; 6,6; 7,34)
7) Especifica nomes, lugares, horários, números,
reações e sentimentos das pessoas
8) Aponta a popularidade e proximidade de Jesus
(Mc 1,22; 1,28; 4,1; 5,21)
9) Não agrupa eventos ou ensinamentos, como
faz Mateus. Existe uma sucessão proposital e
contínua de feitos surpreendentes ao longo do
caminho desde a Galileia para Jerusalém
10) Dos 16 capítulos, 12 começam com “e”
indicando a continuidade da narrativa
Objetivos
fundamentais
de Marcos
Objetivos de Marcos
Como os demais evangelhos, também o de
Marcos descreve a vida de Jesus
intimamente ligada à vida de suas comunidades.
Por isso, não informa somente sobre a
mensagem e os gestos do Nazareno, mas
mistura a mensagem, a prática e os conflitos de
Jesus com a pregação, a prática do Reino e os
conflitos das comunidades em torno de 70 d.C.
Dois são os principais objetivos
- Revelar quem é Jesus de Nazaré?
- E o que é ser discípulo de Jesus?
Quem é Jesus
de Nazaré?
Quem é Jesus de Nazaré?
- Filho de Deus (1,1.11; 3,11; 5,7; 9,7; 14,61-62; 15,39)
- Messias/Cristo/Ungido (1,1; 8,29; 14,61; 15,32)
- Senhor (1,3; 5,19; 11,3)
- Filho de Davi (10,47-48; cf. 11,10 e 12,35-37)
- Santo de Deus (1,24)
- Profeta (6,4.15; 8,28)
- Mestre (5,35; 10,17.51; 11,21)
- Pastor (14,27)
- Nazareno (1,24; 10,47; 14,67; 16,6)
- Filho do humano - ‘o uiós toú anthropos (2,10.28; 8,31.38; 9,9.12.31)
Cf. Ez 2,1.3.6.8/criatura humana;
Dn 7,13-14.18.22.27/povo fiel a Deus e dele recebe o Reino.
Juntando os dois significados, podemos concluir que, ao
assim se referir a si mesmo, Jesus se assume como ser humano
com a missão de concretizar o Reino de Deus, um Reino de
vida plena, em meio às criaturas humanas.
Quem é Jesus de Nazaré?
Jesus, um Messias terapeuta
que passa pela cruz
Segredo messiânico:
Mc 1,25.34.44; 3,12; 5,43; 7,36; 8,26.29-30; 9,9-10
O que é ser
discípulo de Jesus?
Caminho do seguimento
(Ver arquivo: Discipulado em Marcos
As forças do
Reino e as forças
de morte
Para as igrejas de Marcos, o conflito entre o projeto do
nazareno e os poderes a serviço da opressão é inevitável.
O enfrentamento entre as forças do Reino e as forças do
Diabo e seus agentes (demônios ou espíritos impuros) são
como um eixo que perpassa todo o evangelho.
Jesus combate o poder do mal com o poder de Deus:
1,12-13: sua primeira ação
1, 21-28: primeira cura
1,33.34.39; 3,11-12: sua prática
3,15; 6,7.13; 16,17: missão também dos apóstolos
3,22-30: “amarrar o forte” (v. 27), representado pelo sistema de
Jerusalém que envia os escribas para acusar Jesus (v. 22);
5,1-20: a possessão romana
7,24-30: a lei de pureza étnica
8,33: Pedro se opõe ao messianismo que passa pela cruz
9,14-29: sistema legal (escribas; cf. v. 14)
9,38: não é monopólio dos apóstolos
11,15-19: opressão econômica e religiosa do templo
Jesus é livre em relação...
Jesus é livre em relação
1) às instituições judaicas
o templo: 11,15-19; 12,33; 13,1-2; 15,38
- sumos sacerdotes: 8,31; 10,33; 11,18.27; 14,1.43.53; 15,1.3.10-11
- saduceus: 12,18
- anciãos: 8,31; 11,27; 14,43.53; 15,1;
a tradição e os fariseus: 2,16.18.24; 3,6; 7,1.3.5; 8,11.15; 10,2; 12,13
a lei e os escribas: 1,22; 2,6; 3,22; 9,11.14; 12,28.32.34.38-40
- com fariseus: 7,1.5; 2,16; 9,11
- com sumos sacerdotes e anciãos:
8,31; 10,33; 11,18.27; 14,1.43.53; 15,1.31
Jesus livre em relação
2) aos apóstolos
- são cegos (Mc 6,49-52; 7,17-18; 8,14-21; 9,32)
- resistem ao Jesus da cruz (8,32-33)
- lutam por poder (9,33-34)
- querem manter o controle sobre outras comunidades (9,38-40)
- querem impedir que Jesus brinque com as crianças (10,13-14)
- lutam para conseguir os primeiros cargos no poder (10,35-37)
- fascinados com a beleza do templo que frequentam
regularmente (13,1; At 2,46)
- dormem, enquanto Jesus sofre no Getsêmani (14,33-40)
- todos o abandonam, fogem (14,50)
- Pedro o trai, o nega três vezes (14,66-72)
- na morte, nem olhando de longe estão (15,40-41).
Jesus livre em relação
3) Aos seus “familiares”
(Tiago, o irmão do Sr. – Mc 6,3; Gl 1,19; 2,9; At 12,17; 15,13-21; 21,18)
- acusam Jesus de louco (3,21)
- as comunidades que não estão sob o controle dos familiares
de Jesus se consideram sua verdadeira família (3,31-35)
- têm pouca fé em Jesus (6,1-6)
A casa
como lugar
do nascimento
das comunidades
A casa como lugar do
nascimento das comunidades
O santuário de Jerusalém era lugar de
discriminação e legitimava a exclusão.
Além disso, era um centro de exploração
econômica em nome da religião (“um covil de
ladrões” - Mc 11,18)
...
Jesus e as comunidades
preferiam como espaço sagrado:
Mc 1,29; 2,1.15; 3,20; 5,38; 7,17.24; 9,28.33; 10,10; 14,3:
- O amor às pessoas, a vida, em vez da lei
- Os caminhos onde o povo estava
- A casa, em vez do templo/arca
- A mesa na casa, em vez do altar junto ao templo
- A partilha em vez do rito/sacrifício
- O pão em vez da carne do cordeiro
- O vinho em vez do sangue dos animais
- A família/comunidade ao redor da mesa
na casa, em vez do sacerdócio no templo
A mesa como lugar sagrado
(Mc 1,29-31; 2,15-16; 14,3.17-25; 16,14),
falando de pão (Mc 2,23-26; 8,14-21),
de comida (Mc 2,18-19; 7,1-23; 8,27-28),
repartindo o pão (Mc 6,30-44; 8,1-9).
Curas e sinais em Marcos
Parábolas em Marcos
Material exclusivo em Marcos
Curas ou sinais de Jesus narrados em Marcos
Marcos Mateus
Lucas
João
--------------- Junto à natureza -------------- ------------ ------------ ------------ ----------Tempestade acalmada
4,35-41
8,23-27
8,22-25
Primeira partilha dos pães
6,30-44
14,13-21 9,10-17
6,1-15
Caminhando sobres a água
6,45-52
14,22-33
6,16-21
Segunda partilha dos pães
8,1-10
15,32-39
Figueira infrutífera
11,12-14 21,18-22
---------------- Junto a pessoas -------------Doente possesso de Cafarnaum
Sogra de Pedro
Leproso
Paralítico de Cafarnaum
Mão atrofiada
Doente mental possesso de Gerasa
Reavivamento da filha de Jairo
Mulher com hemorragia
Filha possessa da siro-fenícia
Surdo-mudo
Cego de Betsaida
Epiléptico possesso
Cego de Jericó
-----------1,21-28
1,29-31
1,40-45
2,1-12
3,1-6
5,1-20
5,21-24
5,35-43
5,25-34
7,24-30
7,31-37
8,22-26
9,14-29
10,46-52
------------ -----------4,31-37
8,14-15
4,38-39
8,2-4
5,12-16
9,1-8
5,17-26
12,9-14
6,6-11
8,28-34
8,26-39
9,18-19
8,40-42
9,23-26
8,49-56
9,20-22
8,43-48
15,21-28
17,14-21
20,29-34
9,37-43
18,35-43
-----------
As parábolas de Jesus em Marcos
Parábola
O semeador
Marcos
Mateus
Lucas João
4,3-8
4,13-20
13,3-9
8,5-8
13,18-23 8,11-15
A semente que germina
por si só
O grão de mostarda
4,26-29
4,30-32
13,31-32 13,18-19
Os vinhateiros malvados
12,1-11
21,33-46 20,9-18
A figueira que brota
13,28-29 24,32-33 21,29-31
O porteiro
13,33-37
12,35-38
Principal Material Exclusivo de Marcos
Família de Jesus o acusa de louco
3,20-21
Parábola da semente que germina
por si só
Cura do surdo-gago
4,26-29
Cura do cego de Betsaida
8,22-26
“Todos serão salgados no fogo”
9,49
“Abba!”
14,36
Um jovem foge nu
14,51-52
Mulheres fogem com medo e
não anunciam a ressurreição
16,8
7,31-37
Download

MARCOS - Igreja São Pelegrino