O início da Clínica: aproximações e Exames Categoriais1 Monica Aiub Resumo: O início da clínica é fundamental para estabelecer a relação filósofo clínicopartilhante, primeira aproximação que propiciará a continuidade dos procedimentos. Por ser fundamental o início, esse artigo discorrerá sobre diversos inícios: a proposta da Filosofia Clínica, a abordagem nos primeiros momentos da clínica, os exames iniciais – Exames Categoriais, e os indícios de um início de construção histórica da abordagem via categorias. Palavras-chave: Exames Categoriais, categorias, interseção Iniciando a conversa Diante das necessidades existenciais criadas e desenvolvidas pelo ser humano no decorrer de sua história, diante das crises do século XX, da insuficiência de respostas, e talvez de questionamentos também, a Filosofia Clínica surge como um novo paradigma, tentando conciliar a tarefa do filosofar com a possibilidade de ajuda-ao-outro, por meio de uma terapêutica centrada na singularidade, no respeito ao outro e a seus modos de ser. Independente de padrões de normalidade, de tipologias, de teorias prévias, a Filosofia Clínica constrói seu trabalho para cada pessoa em especial, considerando seu universo; seu modo – em devir – de ser, estar, pensar e agir; respeitando suas necessidades e escolhas, seus valores e sentimentos, seus caminhos e relações. Diferentemente do que afirmam alguns críticos, desprovidos de conhecimento acerca de nosso trabalho, não se trata de uma ação irresponsável sobre a vida alheia, de um aconselhamento inconseqüente que coloque em risco a vida das pessoas. A Filosofia Clínica consiste num trabalho fundamentado na filosofia acadêmica, e portanto uma prática com fundamentos muito antigos, consolidados, e que agrega a seus procedimentos um processo de diagnóstico que permite a identificação de casos onde o trabalho interdisciplinar se faz necessário. Muitos filósofos podem ser citados e o espanto dos que questionam a viabilidade desta prática deveria causar-nos estranhamento: eu conheço a filosofia acadêmica, mas como utilizar isso para minha vida? Para este problema em especial, de que me vale o conhecimento filosófico? É isso que nos oferece a proposta de Lúcio Packter: um instrumental que nos permite filosofar sobre as questões cotidianas – tarefa da filosofia desde os primórdios, incorporar os sistemas filosóficos estruturados no decorrer de nossa história, a fim de nos apropriarmos do que for necessário e pertinente à situação em questão, e lançarmos mão desses recursos para tornar nossas vidas melhores, também competência da filosofia de acordo com sua proposta inicial. O filósofo clínico conhece os limites de sua competência e está preparado, devido à sua formação, para, além de identificar a necessidade de um trabalho interdisciplinar, não tornar a clínica um mero aconselhamento pautado em referenciais filosóficos. O procedimento prévio, necessário, imprescindível a qualquer outro, é o conhecimento das 1 Artigo publicado na Revista Informação Dirigida – Revista Internacional de Filosofia Clínica.Instituto Packter, Porto Alegre/RS. Nº 1, Jan-Jun 2005, p. 11-27. questões, do universo, dos modos de ser e agir, das necessidades do partilhante. Para isso, o instrumental proposto apresenta-se em três eixos centrais: Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos. Os Exames Categoriais são exames iniciais, consistem em conhecer o universo no qual o partilhante está inserido: seu contexto social, político, econômico, cultural, educacional, familiar, suas relações, como lida com o tempo, com o próprio corpo, com o ambiente, com suas idéias, onde mora, em que trabalha, o que estuda, o que viveu, etc. A Estrutura de Pensamento nos fornece o modo como essa pessoa se estruturou a partir das vivências de seu universo. São trinta tópicos que abordam desde como o mundo parece, ou seja, sua visão de mundo, até suas emoções, sua expressividade, seus valores, a religiosidade, seus papéis existenciais, seus meios de expressão... embora o nome sugira uma abordagem puramente racional, a Estrutura de Pensamento é muito mais ampla, abrangendo o modo de ser em devir e em múltiplas dimensões desse partilhante em especial. A divisão em tantos tópicos sugere, a alguns, a idéia de um processo exaustivo de análise em detrimento da síntese. Sugestão errada. A síntese é o objetivo, considerando uma leitura da determinância dos tópicos, das relações intra e inter tópicos, o todo é maior do que as partes; o partilhante, em seu universo, é o todo. Os Submodos, muitas vezes negligenciados em nossas exposições iniciais acerca da Filosofia Clínica, por tratarem-se de procedimentos – intervenções clínicas, dividem-se em dois momentos: a observação dos Submodos Informais e sua utilização como procedimentos clínicos. Como Submodos Informais são verificadas, no partilhante, as maneiras de lidar com suas questões. Nessas maneiras o filósofo clínico observa: pertinência, relevância, eficácia e aplicabilidade a outras situações. Como procedimentos clínicos, os Submodos são maneiras, modos subordinados à Estrutura de Pensamento, aos Exames Categoriais e aos Submodos Informais, isto é, só fazem sentido e somente podem ser utilizados se estiverem de acordo com o que foi estudado e observado anteriormente nos outros eixos, em outras palavras, se forem pertinentes às condições, às necessidades e ao modo de ser do partilhante. Embora consideremos como exames iniciais apenas os Exames Categoriais, pois seria impossível estabelecer critérios de leitura da Estrutura de Pensamento e dos Submodos sem eles, estes dois outros eixos são fundamentais para a construção de um Planejamento Clínico e subseqüente aplicação de Submodos, ou seja, não é permitido ao filósofo clínico aplicar Submodos sem ter empregado os procedimentos anteriores, que fundamentarão sua prática. Onde está a filosofia? No método, na fundamentação de cada procedimento, categoria, tópico da Estrutura de Pensamento e Submodo. Porém, principalmente, na atitude – reflexiva, crítica – e nos princípios, estritamente filosóficos, assumidos pelo filósofo clínico como norteadores de seu trabalho. Este artigo abordará o Início da Clínica, parte fundamental para a construção de todo o trabalho do filósofo clínico, tentando apresentar, no que concerne aos limites de um artigo, a prática, seus princípios norteadores e fundamentação. Os primeiros passos O início da clínica é marcado pelo momento em que o partilhante procura o filósofo clínico. Esse início poderá ocorrer na primeira consulta, mas poderá também ser delimitado antes disso, por uma conversa inicial, telefônica às vezes, pedindo informações, marcando o horário. Quem é esse outro que procura a clínica? O que ele busca? O que lhe incomoda? O que lhe aflige? São tantas possibilidades e não é possível sabê-lo sem antes pesquisar. Por que partilhante? Partilha: repartir, tomar parte em, participar... o partilhante participa ativamente de todo o processo, compartilha sua vida e suas questões com o filósofo clínico, e este participa como aquele que se dispõe a ouvir, acolher, pensar junto e compartilhar esse universo durante um período, e para tal precisa tomar parte acerca do que se passa com seu partilhante. Cada partilhante é único, traz um universo a ser compartilhado. Para acolher esse universo o filósofo clínico precisa saber ouvir, ver o Outro, suspendendo seus pré-juízos – conceitos a priori, referenciais prévios que norteiam uma interpretação. Quantas vezes um amigo nos apresenta uma questão e nossa reação é nem sequer ouvi-lo, partindo para avaliações, julgamentos, posicionamentos, ou começamos a contar como enfrentamos bravamente uma situação idêntica, logo, falta-lhe fé, confiança em si mesmo, auto estima, ou uma avaliação mais adequada, pois afinal, o mundo não é assim, as pessoas não são tão ingênuas... colocadas dessa maneira, essas questões parecem exageradas, mas é muito parecido com isso o que fazemos quando tentamos interferir na vida do outro considerando nossos referenciais. Podemos ajudar? Talvez, mas as chances de atrapalharmos, de gerarmos mal entendidos, de aumentarmos o sofrimento, são, no mínimo, as mesmas. Assim, a postura do filósofo clínico é a de um amigo que acolhe, que ouve, que olha, mas que não julga, não interpreta, não avalia, apenas contextualiza, tentando entender como se construiu aquela situação, o que se passa com o partilhante, respeitando seu modo de ser e seu sofrimento como legítimos e únicos. Isso é possível? Torna-se, o filósofo clínico, alguém sem identidade, que anula seus modos de ser? Aquele que quer compreender não pode se entregar, já desde o início, à causalidade de suas próprias opiniões prévias e ignorar o mais obstinada e conseqüentemente possível a opinião do texto – até que este, finalmente, já não possa ser ouvido e perca sua suposta compreensão. Quem quer compreender um texto, em princípio, deve estar disposto a deixar que ele diga alguma coisa por si. Por isso, uma consciência formada hermeneuticamente tem que se mostrar receptiva, desde o princípio, para a alteridade do texto. Mas essa receptividade não pressupõe nem “neutralidade” com relação à coisa nem tampouco auto-anulamento, mas inclui a apropriação das próprias opiniões prévias e preconceitos, apropriação que se destaca destes. O que importa é dar-se conta das próprias antecipações, para que o próprio texto possa apresentar-se em sua alteridade e obtenha assim a possibilidade de confrontar sua verdade com as próprias opiniões prévias. (Gadamer, 1986/1997, p. 405) Ao conhecer seus referenciais, suas opiniões prévias, seus pré-juízos, a possibilidade de estabelecer a alteridade, de ouvir e enxergar o outro tal qual se apresenta, é ampliada. Não se trata de anular seus modos de ser, de perder identidade, mas de não se deixar guiar, no processo de conhecimento, por leituras prévias, pré-juízos, mas também não se deixar absorver, diluir diante do outro, sob pena de inviabilizar a clínica. Mas isso tornaria a relação entre filósofo clínico e partilhante algo técnico, frio? O filósofo clínico apenas observando o partilhante que se mostra, como um cientista que observa o comportamento dos ratinhos num laboratório diante de uma experiência provocada? O partilhante compartilhando sua existência, suas questões mais profundas, e o filósofo clínico observando friamente, sem nenhuma interferência? Há interferências e não é possível que não existam. Somente pelo fato de estar diante do partilhante, pedir-lhe que conte sua história, acompanhar essa história, levá-lo a retornar ao curso do histórico quando ocorre de perder-se, estar cara a cara com o partilhante e, muitas vezes, sorrir, rir junto, emocionar-se – sem perder o controle e tornar-se aquele que precisa de cuidados, é claro – olhar e ouvir atentamente, sem interromper para atender a necessidade de uma curiosidade incontrolável, deixando que o partilhante delineie sua história, mas fazendo-se partícipe nesse acompanhar e acolher atenciosos, cuidadosos. Assim estabelece-se o que chamamos Interseção em clínica. O conceito Interseção é oriundo da matemática, da Teoria dos Conjuntos de Georg Cantor (1845-1918), onde o conjunto A ∩ B equivale aos elementos comuns existentes entre ambos, ou seja, interseção é o que há em comum quando dois ou mais conjuntos são relacionados. Em Filosofia Clínica significa a relação que se estabelece entre o filósofo clínico e o partilhante. A equação filósofo clínico ∩ partilhante é o princípio da atividade clínica, é o primeiro passo para o trabalho e inicia-se desde o primeiro contato entre ambos. Estabelece-se tanto por dados verbais como por dados não verbais: olhares, expressões, gestual, postura... As Interseções, classificadas quanto à qualidade, podem ser: positivas - subjetivamente boas para ambas as partes; negativas - subjetivamente ruins; confusas - as pessoas envolvidas não sabem determinar o que estão vivenciando; ou indefinidas - oscilam com freqüência suficiente para não permitir uma definição. Apesar de iniciar-se no primeiro contato com o partilhante, a qualidade da Interseção somente poderá ser definida com o decorrer dos procedimentos clínicos, visto ser fundamental o conhecimento de dados oriundos dos Exames Categoriais, da Estrutura de Pensamento e dos Submodos Informais do partilhante para se estabelecer uma Interseção consistente. A Interseção começa no primeiro momento da clínica e é construída durante todo o processo terapêutico, a cada consulta, como uma amizade que se inicia num primeiro contato, superficial, e estreita-se a cada encontro. Continuando a comparação, amizades também podem ser quebradas, destruídas por muitos motivos. O mesmo pode ocorrer em clínica. Por melhor que venha a ser a Interseção, os cuidados clínicos jamais devem ser abandonados. A Interseção é importantíssima, sem ela não há clínica, mas só ela é insuficiente para um bom trabalho. Assim sendo, o primeiro contato pode ser determinante para a continuidade da clínica. Nele, o filósofo clínico deixa a pessoa discorrer sobre a questão que a levou a procurar a terapia – Assunto Imediato. Essa pode ser ou não a questão a ser trabalhada em clínica, pode ser apenas a pontinha de um iceberg, ou ainda não ter relação nenhuma com as questões de fato, sendo, apenas, um modo de aproximação. Perguntas sobre a contextualização da questão, ou questões apresentadas, são pertinentes. Explicações sobre os procedimentos clínicos, na medida do interesse do partilhante, são fundamentais nesse momento, principalmente no que se refere à impossibilidade de um retorno, de uma resposta às questões trazidas, antes de pesquisados os dados. Uma vez estabelecido esse primeiro contato, que poderá durar cinco minutos ou algumas consultas, o próximo passo consiste na Historicidade. Considerando que o ser humano constrói-se a partir de suas vivências, a história, contada em detalhes e cronologicamente, servirá de fonte para a obtenção de dados sobre o partilhante: o que viveu, como se constituiu, como significou suas vivências. Enquanto o partilhante relata sua história, o filósofo clínico acompanha, limitando-se aos denominados Agendamentos Mínimos. Agendamentos Mínimos são interferências mínimas, apenas para permitir a Interseção, pedindo a continuidade da história, levando a pessoa a retomar o curso de sua história em caso de saltos lógicos ou temporais. E depois disso... e então... a partir daí... você falava sobre esse momento de sua vida, prossiga... As principais dificuldades em utilizar apenas Agendamentos Mínimos encontram-se na já citada suspensão de pré-juízos, no controle de uma curiosidade desenfreada que deseja saber porquês, que quer estabelecer vínculos onde talvez eles não existam, enfim, possíveis distorções, mal entendidos, interpretações equivocadas da história da pessoa, que, dependendo da Interseção, poderão causar grandes transtornos ao partilhante. Assim sendo, cabe ao filósofo clínico, diante dessas situações, calar-se, ouvir e contextualizar tudo o que lhe é dito. Na maior parte dos casos, o partilhante conta sua história – mais ou menos detalhada, mais demorada ou mais sucintamente – mas há situações em que surgem dificuldades maiores já nos primeiros momentos. Vejamos algumas dessas situações: O partilhante chegou ao consultório, falou sobre o Assunto Imediato, ouviu as explicações acerca dos procedimentos clínicos mas não quer contar sua história – por motivos vários: acha irrelevante; não quer lembrar de coisas desagradáveis; acha sua história sem graça e não vê relação entre suas lembranças e seus problemas atuais; não consegue lembrar dados; não possui experiências traumáticas, teve uma vida normal, como todo mundo. O procedimento aqui consiste em manter-se na posição de ouvinte, que acolhe, explicando a necessidade dos dados, explicitando que não se tratam de lembranças traumáticas ou desagradáveis, mas de toda a história, dos contextos, do cotidiano, do que fazia, pensava, sentia... a postura do filósofo clínico deve, nesse momento, deixar a pessoa à vontade para que fale livremente, explicando a relevância do procedimento, independentemente do histórico estar ou não relacionado às questões do momento, tais questões possuem uma história. A forma, desenvolvida pelo partilhante, de ser e de lidar com suas questões, também se construiu no decorrer de uma história. O que lhe é pertinente, aceitável, possível, provavelmente aparecerá nessa história. Por isso não é permitido dispensar esse procedimento. O partilhante tem dificuldade em contar um período de sua história, por exemplo, a infância, é possível começar por outro? Sim. Isso também será estabelecido via interseção. Se o partilhante não consegue falar sobre a infância, ou qualquer outro período de sua história, não há problema em pular esse período. Em primeiro lugar, imagine-se diante de alguém desconhecido, agora se imagine contando toda a sua história, em detalhes. Pode ocorrer alguma dificuldade em contar alguns trechos? A falta de confiança, o não saber como o filósofo clínico interpretará, julgará, avaliará suas posturas, a dificuldade de falar sobre certos assuntos ou pensamentos a qualquer pessoa. Lembro de um partilhante que diversas vezes repetiu: eu conto a você coisas que não tenho coragem de dizer nem a mim mesmo. Outro, depois de um período de clínica: posso mudar a questão que quero trabalhar? É que eu não sabia se podia confiar em você, não sabia como iria avaliar o que digo, então não tive coragem de expor o que realmente me incomoda. Ou ainda uma moça que, depois de várias consultas: agora eu sei que posso confiar em você, então vamos começar tudo novamente, porque o que lhe contei até agora não é a minha história, eu inventei tudo. O filósofo clínico precisa compreender essas possibilidades como concretas: as pessoas podem mentir, inventar, omitir, ou simplesmente ter dificuldade para dizer, não confiar, ou ainda modificar a significação de toda uma história, pelo simples fato de contá-la. Respeitar essas dificuldades não significa desistir de ter acesso aos conteúdos. Os procedimentos Divisão e Enraizamentos possibilitarão um acesso posterior, no momento em que a interseção permitir, e se o permitir. Se as dificuldades forem tantas que a pessoa não consiga falar, é pertinente pesquisar se existem outros dados de Semiose, ou seja, se a pessoa possui outros instrumentos pelos quais se expressa. Fotos, textos, poemas, músicas, desenhos, pinturas, gestos, expressões faciais, posturas corporais e outros instrumentos que auxiliem a pessoa a contar sua história. Esses instrumentos são utilizados como recursos para conseguir dados, mas esses dados serão significados, como todos os demais, pelo próprio partilhante e não a partir de tipologias prévias. A utilização de outros dados de Semiose além da fala é recomendada não apenas em situações de dificuldades, mas sempre que estes existirem, possibilitando o acesso a dados que não se façam presentes por intermédio da fala. Cabe lembrar e repetir: esses dados deverão ser contextualizados na história do partilhante e significados por ele. Supondo que o partilhante está contando sua história, mas entre uma consulta e outra ocorre algo que lhe incomoda, como saber? Como agir se a pessoa quiser falar sobre isso? Para sabê-lo basta a atualização feita a cada consulta: como foi sua semana? Como estão as coisas? Como você está? Se a pessoa necessitar falar sobre algo que a incomoda, isso não só é permitido como aconselhável. Tal procedimento chama-se Esteticidade, permitindo uma catarse. Feito isso, continua-se o histórico. Obviamente, há pessoas que uma vez perguntado “como foi sua semana?” contam em tantos detalhes que uma única consulta é insuficiente para tamanho relato. Nesses casos, a atualização precisa ser feita de outra maneira. Em outras palavras, os procedimentos relatados aqui são flexíveis, não são aplicáveis a qualquer pessoa, em qualquer situação, sem as devidas adaptações, que serão estipuladas com base na Interseção estabelecida e nos dados coletados. Com a história da pessoa, de seu nascimento até o momento presente, inicia-se a Divisão. A história é dividida em partes, respeitando a forma como o partilhante a divide, a pessoa reconta esses trechos. O objetivo desse procedimento é obter mais dados. É comum a pessoa contar a história seguindo uma linha de pensamento, por exemplo, a história familiar, ou escolar, ou amorosa, deixando outros dados significativos esquecidos. Lembro de uma partilhante que chegou após seis consultas e me disse: eu não entendo, o fulano é tudo na minha vida, importantíssimo. Eu já contei minha história duas vezes e não falei dele! Como pude! Para permitir o aflorar desses dados, também significativos, mas deixados de lado por um motivo ou outro, são feitas diversas divisões, até que não surjam dados novos. Nesse momento iniciam-se os Enraizamentos. A idéia agora é pesquisar o significado de termos, fazer perguntas específicas a fim de conhecer mais, estabelecer relações, confirmar hipóteses – aquelas perguntas que incomodavam o filósofo clínico lá nas primeiras consultas podem agora ser feitas, desde que tenham pertinência para os objetivos clínicos, ou seja, a mera curiosidade do filósofo clínico continua impertinente e irrelevante. Os dados para os Exames Categoriais, Estrutura de Pensamento e Submodos são coletados durante os procedimentos até aqui descritos. Quando falamos em montar os Exames Categoriais ou a Estrutura de Pensamento, em observar Submodos, devemos entender que essa tarefa inicia-se na primeira consulta e continua o tempo inteiro, pois não se trata de montar algo fixo, estável. Trata-se de observar e acompanhar um processo em devir, tão flexível e mutável quanto as vivências suscitadas por acontecimentos, lembranças, ressignificações na vida do partilhante. A cada consulta o filósofo clínico atualiza os dados dos três eixos fundamentais da leitura clínica. Mesmo durante o Planejamento Clínico e a aplicação de Submodos esse acompanhamento constante mantém-se. Continuando no momento inicial da clínica, mas já sabendo que não é possível ater-se somente a ele, observemos mais cuidadosamente os Exames Categoriais, por serem os exames iniciais, imprescindíveis para os demais procedimentos. Exames Categoriais Exames Categoriais são exames iniciais cujo objetivo é o de localizar existencialmente a pessoa. Exemplo: onde mora, qual o idioma, como é a situação política e histórica em seu país, e assim sucessivamente. (Lúcio Packter) O conceito de Categoria – derivação: Categoria: do grego κατεγορια, em geral significa qualquer noção que sirva como regra para a investigação ou para a sua expressão lingüística em qualquer campo (Abbagnano, 2003). Para Aristóteles, modos em que o ser se predica das coisas, predicados fundamentais do ser (Substância, Quantidade, Qualidade, Relação, Lugar, Tempo, Posição, Estado, Ação, Paixão). A lista aristotélica de categorias é uma lista de tipos de predicados. “Existem tantos tipos diferentes de predicados de Sócrates quantas espécies irredutivelmente diferentes de perguntas acerca dele. (...) Dois predicados quaisquer que satisfazem a mesma interrogação são da mesma categoria e dois predicados quaisquer que não satisfazem a mesma interrogação são de categorias diferentes.” (Ryle, 1953). Quando dizemos algo sobre um sujeito, excetuando os conectivos, usamos categorias e dizemos algo sobre um modo de ser. “Desde que a predicação afirma às vezes o que uma coisa é, às vezes a sua qualidade, às vezes a sua quantidade, às vezes a sua relação, às vezes a que faz ou a que sofre e às vezes o lugar onde está ou o tempo, segue-se que tudo isso são modos do ser”. (Aristóteles. Met. V, 7, 1017 a 23 segs.) Quando Kant propõe o conceito de categoria, aponta modos pelos quais o intelecto ordena as representações sob uma representação comum, ou seja, formas do juízo. Categorias, portanto, podem ser extraídas das classes do juízo. Ora, espaço e tempo contêm um múltiplo da intuição pura a priori e, não obstante, fazem parte das condições de receptividade da nossa mente, unicamente sob as quais esta pode acolher representações de objetos que portanto também têm sempre que afetar o conceito de tais objetos. Todavia, a espontaneidade do nosso pensamento exige que tal múltiplo seja primeiro e de certo modo perpassado, acolhido e ligado para que se faça disso um conhecimento. Denomino esta ação síntese. (...) A síntese pura, representada de modo universal, dá o conceito puro do entendimento. (...) A mesma função que num juízo dá a unidade às diversas representações: tal unidade, expressa de modo geral, denomina-se o conceito puro do entendimento. Assim o mesmo entendimento, e isto através das mesmas ações pelas quais realizou em conceitos a forma lógica de um juízo mediante a unidade analítica, realiza também um conteúdo transcendental em suas representações mediante a unidade sintética do múltiplo na intuição em geral. Por esta razão, tais representações denominam-se conceitos puros do entendimento que se referem a priori a objetos, coisa que a lógica geral não pode efetuar. Desse modo surgem precisamente tantos conceitos puros do entendimento (categorias), que se referem a priori a objetos da intuição em geral, quantas eram na tábua anterior as funções lógicas em todos os juízos possíveis. (Kant, 1787, Analítica dos Conceitos, § 10). Conceitos do intelecto puro, as categorias, condicionam o conhecimento intelectual e a própria experiência, mas não se aplicam às coisas em si. Oferecem as condições de validade objetiva do conhecimento, pois é pelo juízo que o conhecimento se concretiza. O juízo é a conexão entre representações, mas tal conexão não é subjetiva. São as categorias kantianas ou “elenco dos conceitos puros originários da síntese que o entendimento contém em si a priori e somente devido aos quais ele é, além disso, um entendimento puro, na medida em que unicamente por tais conceitos pode compreender algo do múltiplo da intuição, isto é, pensar um objeto dela.” (Kant, 1787): Categorias de quantidade: unidade, multiplicidade, totalidade; Categorias de qualidade: realidade, negação, limitação; Categorias da relação: inerência e subsistência (substância e acidente), causalidade e dependência (causa e efeito), comunidade (ação recíproca entre agente e paciente); Categorias da modalidade: possibilidade-impossibilidade, existêncianão-ser; necessidade-contingência. Diretamente derivadas das formas dos juízos – maneiras pelas quais uma proposição pode se assemelhar ou diferir de uma outra quanto à forma: de quantidade: universais, particulares, singulares; de qualidade: afirmativos, negativos, infinitos; de relação: categóricos, hipotéticos, disjuntivos; de modalidade: problemáticos, assertóricos, apodíticos. Apesar de derivadas dos juízos, as categorias não são idênticas a eles, elas constituem as formas lógicas para a compreensão das coisas, dos fatos, do empírico que incorpora essas categorias. O que não for empírico não pode incorporá-las, desta forma, assim como constituem as formas que nos permitem o conhecimento, as categorias também são as formas que limitam nosso conhecer. Gilbert Ryle (1953) aponta uma possível pressuposição aristotélico-kantiana, compartilhada por filósofos contemporâneos, que consiste na existência de um “catálogo finito de categorias ou tipos”, ou seja, uma lista ou tábua de tipos finita e completa, ao que ele aponta como um mito. (...) não acredito que jamais possamos dizer, a propósito de um simbolismo-código da lógica formal, que os seus símbolos são, finalmente, adequados para a simbolização de todas as possíveis diferenças de tipo ou de forma. Ele poderá ser adequado, é claro, para a exibição de todas as diferenças de tipo que nos interessam no transcurso de alguma investigação particular. (Ryle, 1953) As categorias em Filosofia Clínica Inspirado nos conceitos aristotélico e kantiano de Categoria, mas considerando-as como formas para identificar semelhanças e diferenças no transcurso de cada investigação singular, Lúcio Packter propõe os Exames Categoriais como exames iniciais, formas indicativas para investigar o universo existencial do partilhante, formas que nos permitem conhecê-lo, ao mesmo tempo em que limitam nosso conhecimento. O filósofo clínico não pretende conhecer plena, total e irrestritamente o universo de seu partilhante, mas aproximar-se desse universo, partilhando, tomando parte do que lhe for disponibilizado, apresentado. Pesquisar elementos que o constituam, sempre considerando a representação do partilhante, pois na Filosofia Clínica o partilhante é a medida de todas as coisas. Essa é a tarefa inicial dos Exames Categoriais. Seguindo a derivação de seu conceito geral, as categorias são as noções que orientam nossa investigação. O que observar em tudo o que o partilhante está apresentando? A orientação para a observação dos Exames Categoriais indica a consideração do todo, ou seja, os vários momentos e situações descritos pelo partilhante são considerados para montar os Exames Categoriais. São as categorias filosófico-clínicas: Assunto (Imediato e Último), Circunstância, Tempo, Lugar e Relação. Assim como Kant não se refere às mesmas idéias quando apresenta categorias homônimas às aristotélicas, ou ainda, muitos outros filósofos que tentaram estabelecer sua tábua de tipos não se ativeram às categorias já propostas, Packter fundamenta-se no conceito de categorias, mas não nas tábuas aristotélica ou kantiana. Ele cria sua própria tábua, com fundamentação nas necessidades práticas impostas pela clínica, ao mesmo tempo em que também fundamentadas em conceitos da filosofia acadêmica. Analisemos a tábua de categorias da Filosofia Clínica, observando algumas indicações sobre: definição, indícios para identificação no histórico do partilhante, pertinência clínica e fundamentação, não necessariamente nessa ordem e, conforme já dito, respeitando os limites impostos pelo formato artigo. A primeira categoria é Assunto. Logo no primeiro contato surge a queixa, o assunto que levou o partilhante a procurar a terapia, esse é o Assunto Imediato. Sem interpretações, considerado literalmente, o assunto inicial preenche a categoria Assunto Imediato. Assunto Último refere-se à questão que será trabalhada mais adiante, na aplicação de Submodos, ou seja, o objetivo clínico, o que se pretende de fato. Algumas vezes Assunto Imediato e Último são coincidentes, em outros casos, em nada se relacionam. Para ter acesso ao Assunto Último, muitas vezes, o filósofo clínico necessita, anteriormente, realizar a colheita categorial, esboçar a Estrutura de Pensamento, observar Submodos. Porém, cabe lembrar que, nos Exames Categoriais, as categorias são preenchidas literalmente, ou seja, não se inventa um assunto para o partilhante, é ele quem determina os objetivos da clínica. A categoria Circunstância, fundamentada no conceito circunstância, refere-se ao entorno, ao que circunda, ao que está em volta e às infinitas relações deste entorno com a subjetividade: “eu sou eu e minha circunstância e se não salvo a ela não me salvo eu.” (Ortega y Gasset, 1997) Este fato é a existência conjunta de um eu ou subjetividade e seu mundo. Não há um sem o outro. Eu não me dou conta de mim senão como dando-me conta de objetos do contorno. Eu não penso se não penso coisas – portanto, ao achar-me a mim acho sempre diante de mim um mundo. Eu, enquanto subjetividade e pensamento, me encontro como parte de um fato dual cuja outra parte é o mundo. Portanto, o dado fundamental e insofismável não é minha existência, não é eu existo – porquanto é minha coexistência com o mundo. (Ortega y Gasset, 1958, p. 153) Nesta categoria o filósofo clínico observa o contexto, o entorno, o mundo que circunda o partilhante em suas múltiplas dimensões: cultural, social, familiar, política, educacional, enfim, tudo o que for circunstancial. Mas podemos considerar que as circunstâncias nem sempre se mantém as mesmas, elas se alteram no decorrer de uma vida. Por isso o filósofo clínico deverá traçar as diversas circunstâncias vividas por seu partilhante, observando, em cada nova circunstância, o que se mantém e a novidade. Isso significa, na prática, observar diversos momentos da história, traçar contextos que hoje são inexistentes, elementos que perderam o significado... não importa, pois o objetivo é compreender o universo vivido pelo partilhante e como ele se constituiu a partir de tais vivências, mesmo que sejam passadas e superadas. O que traçar aqui? Tudo? Quase. Uma síntese de cada contexto vivido e suas determinações, como o partilhante salvou sua circunstância e a si mesmo. A pertinência clínica de tais observações, além da indicação do modo de constituição do partilhante, consiste no conhecimento das circunstâncias existentes, possíveis e aceitáveis para compor um futuro uso de Submodos. Lugar é a terceira categoria da tábua filosófico-clínica. Lugar, segundo Merleau-Ponty (1994) refere-se à espacialidade do corpo próprio, é o lugar que o corpo ocupa no mundo, suas relações com o ambiente, com os espaços, possibilitando, via percepção, as sensações de bem-estar, mal-estar, indiferença – ao mesmo tempo sensoriais e abstratas – sobre como o corpo vivencia o mundo, os ambientes, as relações. Trata-se do endereço existencial do partilhante. Quando me desloco em minha casa, sei imediatamente e sem nenhum discurso que caminhar para o banheiro significa passar perto do quarto, que olhar a janela significa ter a lareira à minha esquerda, e, nesse pequeno mundo cada gesto, cada percepção situa-se imediatamente em relação a mil coordenadas virtuais. Quando converso com um amigo que conheço bem, cada uma de suas expressões e cada uma das minhas incluem, além daquilo que elas significam para todo o mundo, uma multidão de referências às principais dimensões de seu caráter e do meu, sem que precisemos evocar nossas conversações precedentes. Esses mundos adquiridos, que dão à minha experiência o seu sentido segundo, são eles mesmos recortados em um mundo primordial e funda seu sentido primeiro. Da mesma maneira, há um “mundo dos pensamentos”, quer dizer, uma sedimentação de nossas operações mentais, que nos permite contar com nossos conceitos e com nossos juízos adquiridos como com coisas que estão ali e se dão globalmente, sem que precisemos a cada momento refazer sua síntese.” (Merleau-Ponty, 1994. p. 182) O filósofo clínico observará, no histórico do partilhante, as referências a esse endereço existencial, ao próprio corpo e sua espacialidade, ao sentir-se bem ou mal diante dos ambientes, das vivências, das relações. Obviamente, cada circunstância poderá apresentar alterações na categoria Lugar, por isso as categorias Lugar, Tempo e Relação são derivadas da categoria Circunstância, ou seja, em diferentes circunstâncias, encontramos diferentes manifestações das demais categorias. Conhecendo a categoria Lugar o filósofo clínico saberá escolher o modo de utilização de Submodos, o ambiente adequado para tal, assim como necessidades de modificações nos ambientes freqüentados pelo partilhante, entre outras indicações possíveis. Em Tempo, as relações entre o tempo cronológico, medido no relógio, externo e o tempo subjetivo, vivenciado, sentido, interno. Essas relações podem ser observadas em referências diretas à questão, como indicações de momentos que pareceram uma eternidade: passara-se um segundo, mas pareciam bilhões de anos. Também podem ser observadas na conjugação dos verbos (tempos e modos verbais): a partilhante conta toda a sua vida conjugando os verbos no tempo presente, mas para falar do primeiro casamento, conjuga os verbos no passado – a princípio essa modificação na conjugação verbal nada significa, mas contextualizada e pesquisada pode indicar significados específicos. Além da indicação da situação temporal das questões do partilhante, a categoria Tempo permite o conhecimento da necessidade do tempo clínico, ou tempo de amadurecimento das questões, tempo de acompanhamento após a utilização de Submodos, tempo necessário para a obtenção de resultados, entre outros elementos. A categoria Relação, com fundamentação principal nos trabalhos de Buber e Levinás, assim como no conceito de Interseção, dedica-se à observação das relações vivenciadas pelo partilhante. Relações com: ele mesmo, outras pessoas, coisas, instituições, animais de estimação, atividades, etc. Quais são as relações, com quem ou o que, qual a qualidade destas relações, em cada endereço da Categoria Circunstância. Isso é o que pesquisa o filósofo clínico nessa Categoria. A pertinência dos Exames Categoriais consiste no conhecimento do universo no qual está inserido o partilhante e nas relações estabelecidas entre ele e esse universo. Há casos em que a problemática apresentada encontra-se nesse universo: circunstâncias adversas, relações conflituosas, dificuldades para lidar com o tempo ou com o ambiente. Noutros casos as respostas para o Assunto Último necessitam alterações, modificações nas Circunstâncias: quais as possibilidades concretas existentes para isso? Que possibilidades poderiam ser construídas de acordo com o universo do partilhante? Há casos em que as Circunstâncias não precisam ser modificadas, não é esse o objetivo, pode tratar-se de ausência de Submodos para lidar com as questões, ou ainda choque na Estrutura de Pensamento, que precisam ser trabalhados. Ainda assim, o conhecimento dos Exames Categoriais nos fornecerá as possibilidades circunstanciais para o encaminhamento do trabalho clínico. Metodologicamente, durante os Exames Categoriais, o filósofo clínico assume a postura Fenomenológica: atém-se à descrição do partilhante, relata literalmente cada Categoria, sem pretensões a explicações ou interpretações. A necessidade de compreensão do processo de construção histórico das categorias leva à utilização do método histórico. Acompanhar a história do partilhante, considerando que este processo permitirá compreender seus modos de ser. O ser humano constrói-se, torna-se o que é através de sua história. Considerando não apenas o subjetivo, mas o mundo no qual este sujeito está inserido, dados observados empiricamente fundamentam o trabalho clínico, o Empirismo faz-se presente. Mas por considerar que “Os problemas são resolvidos não pelo acúmulo de novas experiências, mas pela combinação do que é já há muito tempo conhecido. A filosofia é uma luta contra o enfeitiçamento do nosso entendimento pelos meios de nossa linguagem.”, e que “a linguagem é um jogo e o significado das palavras se encontra no uso” (Wittgenstein, 1945), os Exames Categoriais também possibilitam o conhecimento do jogo de linguagem do partilhante, jogo este que será utilizado para a continuidade e elaboração dos procedimentos clínicos. Somando essas indicações metodológicas ao fato de serem as categorias não apenas tipos, mas formas lógicas que possibilitam e limitam o conhecimento, os Exames Categoriais têm fundamentação metodológica na Lógica, na Fenomenologia, no Historicismo, no Empirismo, na Analítica da Linguagem... enfim, a grande “colcha de retalhos” teórica que permite um recorte epistemológico acordante com as necessidades clínicas. Desta forma, os sistemas filosóficos são colocados à disposição das necessidades do partilhante, sem orientarem uma interpretação prévia. Ou seja, o conhecimento produzido por todos esses anos de construção filosófica pode ser útil para nos auxiliar a lidar com as questões cotidianas, desde que não seja compreendido de maneira dogmática – o que o faria, imediatamente, deixar de ser filosofia. O que propõe a Filosofia Clínica? Exercer a atitude filosófica diante dos problemas apresentados pela realidade. Fundamentar-se nos sistemas filosóficos, mediante recortes epistemológicos com justificativa na prática clínica. Re-pensar, re-elaborar tais sistemas com o intuito de adaptá-los às questões suscitadas por um universo em devir. Essa tarefa é diferente do que sempre foi a tarefa do filosofar? Proposta como tarefa de ajuda-aooutro, considerando objetivos e métodos clínicos, pode ser considerada uma terapia? A presente abordagem enfatizou apenas o início da clínica, as primeiras aproximações entre filósofo clínico e partilhante, dos três eixos fundamentais, apenas os Exames Categoriais, sequer foram abordados os procedimentos clínicos seguintes – Estrutura de Pensamento e Submodos. Seria possível já esboçar uma resposta àqueles que questionam como pode a filosofia ser clínica? Referências Bibliográficas: ABBAGNANO, Nicola. (2003). Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola. AIUB, Monica. (2004). Para Entender Filosofia Clínica: o apaixonante exercício do filosofar. Rio de Janeiro: WAK. ARISTÓTELES. Tópicos. São Paulo: Abril Cultural, 1973. GADAMER, Hans-Georg. (1986). Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meuer. Petrópolis: Vozes, 1997. ORTEGA Y GASSET, Jose. (1997). Meditações do Quixote in Obras Completas. V. I, 2. Madrid: Alianza. _____. (1958) Que é filosofia? Tradução: Luís Washington Vita. Rio de Janeiro: IberoAmericano, 1961. KANT, Imanuel. (1787) Crítica da Razão Pura. São Paulo: Abril Cultural, 1973. MERLEAU-PONTY, Maurice. (1994). Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes. PACKTER, Lúcio. (2001). Filosofia Clínica: propedêutica. Florianópolis: Garapuvu. _____. Cadernos de Filosofia Clínica. Porto Alegre: Instituto Packter, s/d. PAULO, Margarida Nichele. (2001). Compêndio de Filosofia Clínica. Porto Alegre: Imprensa Livre. _____. (org.). (1999). Primeiros Passos em Filosofia Clínica. Porto Alegre: Imprensa Livre. RYLE, Gilbert. (1953). Categorias. Tradução Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: Abril Cultural, 1975. WITTGENSTEIN, Ludwig. (1945). Investigações Filosóficas. Tradução: José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 1975.