XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental III-011 - PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE BENTO GONÇALVES / RS - BRASIL Vania Elisabete Schneider(1) Bióloga pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Especialista em Educação Ambiental (UCS). Especialista em Gerenciamento de Resíduos Industriais Perigosos (GTZ/Alemanha). Mestre em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Saneamento (UNICAMP). Doutoranda em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (IPH/UFRGS). Professora e Pesquisadora da UCS/ISAM. Simone Dalla Costa Licenciada em Biologia pela UCS. Supervisora Escolar da Secretaria Municipal de Educação e Desporto. Coordenadora do Projeto de Educação Ambiental e Clubes de Ciências do Município de Bento Gonçalves. Integrante da Comissão Municipal de Meio Ambiente. Marlene Bottega Licenciada em Biologia pela UNISINOS. Assessora Administrativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Agricultura do Município de Bento Gonçalves. Integrante da Comissão Municipal de Meio Ambiente. Márcia Mattos Acadêmica do Curso de Biologia do Campus Universitário da Região dos Vinhedos (UCS). Bolsista de Iniciação Científica (CNPq/PIBIC/UCS). Sérgio Grasselli Acadêmico de Comércio Exterior na UCS. Fiscal de Obras do Instituto de Planejamento Urbano do Município de Bento Gonçalves. Integrante da Comissão Municipal de Meio Ambiente. Danielle da Cruz Assessora Administrativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Agricultura do Município de Bento Gonçalves. Integrante da Comissão Municipal de Meio Ambiente. Endereço(1): Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 - Bairro Petrópolis - Cidade Universitária - Caxias do Sul CEP: 95070-970 - Brasil - e-mail: [email protected] RESUMO A geração de resíduos de natureza diversa tem se agravado nas últimas décadas, particularmente pelo avanço tecnológico e populacional. Este problema tem sido um dos grandes desafios postos aos técnicos e ao Poder Público Municipal. O presente trabalho apresenta algumas etapas e resultados da aplicação de tecnologias disponíveis ao gerenciamento dos resíduos sólidos através de uma política ambiental, que vise a melhoria da qualidade de vida da população, a preservação dos sítios ecológicos e locais, a pesquisa aplicada, bem como atender a legislação em vigor. A proposta aplicada ao Município de Bento Gonçalves/RS buscou, inicialmente, aperfeiçoar a coleta seletiva que existia em apenas 8 bairros, os quais foram utilizados como unidade piloto. A implantação de uma central de triagem, fez-se necessária para atender a demanda do restante do município. Para gerenciar o andamento do projeto, formou-se a Comissão Municipal de Meio Ambiente. A associação de recicladores foi formada a partir do cadastramento e organização dos catadores do município. O ponto de partida deste processo foi a realização de um curso de capacitação de elementos difusores para gerenciamento de resíduos sólidos urbanos realizado pela Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves e a Universidade de Caxias do Sul. A escolha do mascote da coleta seletiva foi feita através de um concurso junto às escolas da rede pública e particular. A elaboração de folders, cartazes e panfletos com orientações sobre a coleta seletiva, objetivou a divulgação em todo o município numa campanha porta a porta. A campanha de segregação de pilhas e baterias junto ao comércio, indústria, prestação de serviços e escolas teve início juntamente com a coleta seletiva. O total de materiais recicláveis comercializados no primeiro mês da coleta seletiva foi de aproximadamente 20 toneladas evidenciando uma resposta altamente positiva da comunidade. A medida que a população foi sendo conscientizada a quantidade de resíduos aumentou na Central de Triagem, sendo necessário o aumento do número de associados da mesma para fazer a segregação. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Coleta Seletiva, Educação Ambiental, Gerenciamento Ambiental. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental INTRODUÇÃO Segundo Doménech (1993), resíduo é tudo o que é gerado como conseqüência não desejada de uma atividade humana e em geral de qualquer ser vivo. Como qualquer processo natural o comportamento dos resíduos esta governado por um conjunto de leis sendo que a primeira lei, segundo o autor, poderia resumir-se na seguinte frase: ”Eu sou, portanto eu contamino”. Todos os seres vivos para subsistir devem transformar de forma contínua certos produtos ao seu alcance em outros que possa assimilar, o que leva necessariamente à geração de resíduos. Na realidade esta primeira lei se inspira na segunda lei da termodinâmica segundo a qual, ao converter-se energia em trabalho, sempre se transfere uma certa quantidade de energia residual para o entorno. Aplicando-se esta lei à conversão de matéria prima em produto de consumo, origina-se sempre um resíduo, o qual é descartado e devolvido ao meio ambiente. Neste sentido, a reciclagem completa de um resíduo é impossível A geração de resíduos e seu posterior abandono no meio ambiente, pode originar sérios problemas ambientais favorecendo a incorporação de agentes contaminantes na cadeia trófica auxiliando em processos físico químicos naturais , dando lugar a sua dispersão e portanto o aumento do problema. Por outro lado deve-se levar em conta que um aumento na geração de resíduos, implica num consumo paralelo de matérias primas, a maioria das quais se encontra na natureza em quantidades limitadas. Jamais o homem produziu tantos resíduos como neste século, e jamais teve tantos problemas diante dos quais precisa apresentar soluções. O volume de resíduos com que a humanidade tem de conviver é resultado também de novos padrões culturais impostos pela sociedade industrial. O dia-a-dia das pessoas vem sendo marcado, notadamente na última metade do século XX, por padrões de consumo, que apontam para uma situação extremamente grave. A quantidade de matérias primas e de recursos naturais, que são carreados para o setor produtivo para dar conta da demanda de produtos, não encontra correlação proporcional na outra ponta do sistema: não se verificam, efetivamente, maiores ganhos em termos de conforto e bem estar para os consumidores, e tampouco a sociedade encontra maneiras adequadas de repor o equilíbrio ambiental. A norma NBR 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), define resíduo sólido e semisólido como “produto resultante de atividades da comunidade, de origem: industrial, domiciliar, hospitalar, radioativos, comercial, agrícola e de varrição”. A norma inclui nesta definição, os “lodos provenientes de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornam inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face a melhor tecnologia disponível.” Resíduo ou lixo é comumente definido como tudo aquilo que não tem mais utilidade e que se joga fora. O sentimento que o homem tem em relação a este é algo do qual queremos nos desfazer rapidamente, e que deve ser lançado o mais longe possível da nossa visão e olfato. Devido a esta visão é necessário que se contextualize o lixo enquanto fator cultural, que é visto como algo desagradável, marginal e sujo, buscando uma nova imagem, onde o lixo é considerado como matéria desorganizada e disposta, no momento e local impróprios. Para tanto, é necessário uma conscientização no sentido de "limpar o lixo”, conferindo-lhe os valores sociais, econômicos e ecológicos a ele agregados. Vários fatores influenciam na geração dos resíduos sólidos urbanos. Deve-se dar especial ênfase ao número de habitantes do local, aos fatores culturais e às atividades desenvolvidas pela população. Por sua vez, a componente econômica é um dos fatores mais importantes, sendo suas variações facilmente perceptíveis nos locais de tratamento e disposição final dos resíduos. Na medida em que os depósitos de resíduos assumem dimensões que fogem ao controle, faz-se necessária a minimização da geração e a utilização de métodos de tratamento e disposição final que visem diminuir os impactos causados, através da redução mássica e do controle de emissões líquidas e gasosas, restringindo desta forma a degradação ambiental. A coleta, o tratamento e a disposição final dos resíduos são indispensáveis à manutenção da saúde pública, além de minimizar a possibilidade de contaminação do solo, ar, águas superficiais e subterrâneas. Os resíduos sólidos apresentam caráter antropogênico pois são única e exclusivamente gerados pelo homem em suas atividades diárias em sociedade. Além disto, apresentam caráter inesgotável, uma vez que é também sem limite a capacidade do ser humano de crescer numericamente ou em conhecimentos e inventividade, gerando a cada dia novos produtos, promovendo sempre novas transformações nas matérias primas e gerando, cada vez mais, necessidades de conforto e bem estar, e, conseqüentemente, maior quantidade de resíduos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental No meio urbano, geralmente, a população se preocupa em ter um sistema eficiente de coleta dos resíduos, afastando-os do seu meio de convivência e não se importando em saber qual é o tratamento e disposição final dispensados aos resíduos por ela gerados. E, como agravante, este é também o mesmo pensamento da administração pública, caso não possua consciência sanitária mais apurada. O resultado disso é que a maioria dos municípios brasileiros não tratam nem dispõem adequadamente seus resíduos sólidos, sendo que estes acabam em depósitos a céu aberto, que atraem, não apenas vetores e animais, como também, seres humanos. Poucas são as sociedades desenvolvidas ou não que se preocupam em manejar, tratar ou destruir os resíduos que produzem, o que nas sociedades primitivas os próprios ecossistemas naturais se encarregavam de destruir ou reciclar. A progressiva saturação dos mecanismos de degradação do ambiente tem tornado no entanto, cada vez mais exígua a destruição ou reciclagem destes pela natureza. A natureza é capaz de renovar-se em seu curso natural. No entanto, a medida que os processos de acumulação antropogênica, particularmente de substâncias químicas, ultrapassa os limites de reciclagem do ambiente ou se introduzem novos compostos não degradáveis, há um desequilíbrio nos sistemas biológicos. A questão dos resíduos sólidos recebeu atenção especial na Agenda 21 pela importância que a produção crescente destes vem assumindo. O capítulo 21, seção 2 - “Buscando Soluções para o Problema do Lixo Sólido” é integralmente dedicado aos problema e aponta quatro áreas-programa, como propostas para a administração dos resíduos sólidos: redução dos resíduos, reuso e reciclagem, tratamento e disposição e ampliação dos serviços. A busca de soluções integradas e compatíveis com os princípios básicos expressos na agenda 21 (minimização de resíduos, reciclagem e reutilização, tratamento e disposição ambientalmente seguros, substituição de matérias primas perigosas e transferência e desenvolvimento de tecnologias limpas), devem nortear, em nível mundial as ações dos governantes, organizações e grupos setoriais responsáveis pela gestão de resíduos. Nos últimos vinte anos, o Brasil mudou muito, e o seu resíduo também. Os resíduos atuais são diferentes em quantidade e qualidade, em volume e em composição. A causa disso é o crescimento acelerado das cidades e, ao mesmo tempo, as mudanças no consumo dos cidadãos. Neste sentido, reciclar é a palavra-chave para fazer voltar os produtos usados ao ciclo da produção industrial, agrícola ou artesanal. Reprocessados, os materiais retornam aos sistemas produtivos como matéria-prima, ao invés de serem inadequadamente dispostos em depósitos a céu aberto ou aterros. A reciclagem traz vários benefícios como a: diminuição da quantidade de resíduos a ser aterrado (consequentemente aumenta a vida útil de aterros sanitários); preservação dos recursos naturais; economia de energia; diminuição da poluição do ar e das águas; geração de empregos através da criação de indústrias recicladoras. É uma atividade econômica, que deve ser encarada como um elemento dentro de um conjunto de soluções. Estas, são integradas no gerenciamento dos resíduos, já que nem todos os materiais são técnica ou economicamente recicláveis. A separação dos resíduos aumenta a oferta de materiais recicláveis. Entretanto, se não houver demanda por parte da sociedade, de produtos reciclados, o processo é interrompido, os materiais abarrotam os depósitos, e por fim, são aterrados ou incinerados como rejeitos. A coleta seletiva é uma alternativa para amenizar o impacto causado pelos aterros, reduzindo o volume de resíduos depositados, tornando-os produtos comercializáveis, e deixando de consumir matéria-prima da natureza. Os resíduos sólidos urbanos apresentam um certo grau de periculosidade pela presença em sua composição de contaminantes químicos e biológicos os quais, devem ser segregados, tratados e dispostos de forma a minimizar os impactos à saúde pública e ao ambiente. Campanhas de segregação, entrega voluntária, coleta diferenciada e a organização de centrais de triagem e armazenamento temporário são ações indispensáveis para um efetivo sistema de gestão de resíduos. O ambiente é o local onde vivemos e deve ser preservado sob todos os aspectos, sejam eles na aparência, sanidade ou limpeza. A falta de cuidados com o destino que se dá aos resíduos é fator que afeta diretamente o ambiente, com sérios riscos à população, através da poluição do solo, do ar, da água e do desagradável aspecto visual que causa. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental ASPECTOS METODOLÓGICOS O Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos do Município de Bento Gonçalves, começa a tomar forma a partir de um curso de formação de elementos difusores em gerenciamento de resíduos sólidos, desenvolvido em conjunto com a Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves e a Universidade de Caxias do Sul e dirigido a professores da rede municipal, coordenadores de clubes de ciências, agentes de saúde e líderes comunitários, no qual a necessidade de implementação de um amplo programa de gestão ambienta foi discutido e as bases da proposta traçadas. A Comissão Municipal de Meio Ambiente foi então criada para dar início ao programa cujo objetivo inicial foi a reestruturação da coleta seletiva nos bairros onde já estava implantada e implantação no restante do Município. Foram então feitos levantamento a cerca das condições da coleta existente, dos pontos de recepção e comercialização dos resíduos recicláveis existentes no Município e o cadastramento dos coletores informais. Com estes últimos foram feitos vários encontros no sentido de organiza-los na forma de uma associação. A partir disto, os catadores assumiram a responsabilidade de gerir a central de triagem municipal. A central de triagem foi instalada em um terreno do poder público sobre o qual foi edificado um pavilhão com 375 m2 de área construída, o qual passou a receber os resíduos da coleta seletiva de todo o Município. Uma ampla campanha foi desencadeada no sentido de conscientizar a população para a importância da coleta seletiva e da segregação junto a fonte geradora. Cartazes e folders foram confeccionados e distribuídos na comunidade. A campanha foi desencadeada com um trabalho porta-a-porta levado a efeito pela Comissão Municipal de Meio Ambiente, os agentes de saúde, os líderes comunitários e os clubes de ciências. Um amplo processo de discussão foi desencadeado também junto às escolas da rede municipal estadual e particular. O mascote da campanha, o “Bentinho”, foi escolhido em concurso realizado com todas as escolas da rede sendo então criados os adereços que compõem a roupagem do mesmo. A campanha de pilhas e baterias foi lançada concomitantemente com a coleta seletiva através da distribuição de caixas de papelão revestidas com plástico em todos os estabelecimentos comerciais, escolares, indústria e serviços, sendo a coleta efetuada pelo poder público, o qual está armazenando junto à própria Prefeitura no aguardo de um pronunciamento das indústrias para a devolução das mesmas. Em continuidade, está prevista a realização da caracterização física e composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos e dos resíduos recicláveis gerados no município, com vistas a avaliar o comportamento da geração de resíduos ao longo dos últimos dez anos. Isso visa dar continuidade a estudos feitos pela Universidade de Caxias do Sul em 1992 e 1995, que apresentam as taxas de geração dos diferentes tipos de resíduos. Avaliação no mesmo sentido será feita com relação aos resíduos industriais e de agrotóxicos no sentido de avaliar a minimização de impactos resultante do desvio destes resíduos do aterro municipal, o qual se encontra em fase de esgotamento. Relativamente aos resíduos orgânicos deverão ser implementadas campanhas para a compostagem caseira, bem como incentivar os distritos a instalarem sistemas locais de compostagem, evitando-se assim, que os resíduos do interior sejam deslocados para o centro urbano, o que atualmente vem acontecendo. Em continuidade, deverá ser lançada a campanha de medicamentos usados, os quais deverão ser encaminhados ao Hospital local e à Secretaria Municipal de Ação Social e Cidadania para redistribuição às pessoas carentes. Estes postos servirão, igualmente, para recepção de medicamentos vencidos, os quais deverão ser triados e encaminhados aos fabricantes. Estuda-se, também, uma campanha de segregação de lâmpadas fluorescentes, resíduos de postos de gasolina, oficinas mecânicas e resíduos de serviços de saúde. Estas ações visam, fundamentalmente, minimizar os impactos causados pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos e desencadear um processo de conscientização da comunidade quanto às responsabilidades individuais do cidadão nos sistemas de gestão. A geração de dados quanto à disposição de resíduos poderá subsidiar o planejamento de ações futuras, no sentido de tornar cada vez mais eficiente o sistema de gestão ora proposto. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental OBJETIVOS E METAS ALCANÇADOS ✓ Criação da Comissão Municipal de Meio Ambiente A Comissão Municipal do Meio Ambiente foi constituída por funcionários da Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves, deslocados de diferentes setores a fim de desenvolver e por em prática o Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos. Atuando junto a Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Agricultura, a Comissão buscou como meta principal para a implantação da coleta seletiva a organização na forma de uma associação dos catadores de papelão do Município. Neste sentido foi efetuado o cadastramento dos catadores e a instituição da “Associação de Recicladores Bento-Reciclagem” responsável pelo gerenciamento da Central de Triagem dos resíduos recicláveis oriundos da coleta seletiva. Além de orientar o funcionamento da Central de Triagem, a comissão elaborou folderes e cartazes coordenando o processo de conscientização porta a porta juntamente com os agentes de saúde e líderes comunitários do Município. ✓ Cadastramento dos catadores que atuam no município O cadastramento dos catadores que atuam no município teve início através de contatos diretos com os mesmos, seguindo-se várias reuniões, a fim de promover a sensibilização e subsidiar o funcionamento de uma associação, elaboração de estatuto e regulamento. A Associação teve início com 20 integrantes, e conta atualmente com 15 os quais estão gerenciando a central de triagem. A organização dos catadores foi levada a efeito por assembléias instituindo-se como cargos para a associação, presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro. ✓ Realização da campanha para escolha do mascote da coleta seletiva O processo de mobilização para a coleta seletiva teve início a partir de um concurso realizado junto às escolas da rede pública e particular culminando com a escolha do mascote, o “Bentinho” (figura 1), devendo este fazer parte das campanhas junto às escolas, espaços públicos e festividades. ✓ Elaboração e distribuição de folders, cartazes e panfletos A elaboração de folders e cartazes foi feita juntamente com a Comissão Municipal de Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Educação e Desporto. Estes materiais objetivam informar a população quanto a segregação dos resíduos, dias, horários e roteiros de coleta. O material está sendo utilizado na campanha de conscientização da comunidade, atendendo a todos os moradores. Nas escolas, o material é distribuído para professores e alunos, sendo que em alguns bairros a própria escola assume a campanha de conscientização dos moradores com ajuda dos alunos. A divulgação tem sido feita porta a porta com explicações sobre a coleta seletiva, envolvendo as escolas, associações de bairros e agentes de saúde. Figura 1 - Mascote da Coleta Seletiva. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental ✓ Campanha de segregação de pilhas e baterias Visando minimizar o potencial de periculosidade dos resíduos sólidos urbanos, foi lançada em fevereiro de 2000, a campanha de pilhas e baterias junto às escolas, comércio, serviços e indústrias do município. Foi feita a distribuição de folders explicativos e caixas de papelão padronizadas revestidas com plástico para colocação das pilhas e baterias foram distribuídas. As caixas, uma vez cheias, são encaminhadas ou coletadas pela Prefeitura Municipal. As pilhas são segregadas por marca comercial e as armazenam em tambores de 200 litros, revestidos com material plástico. O destino das pilhas aguarda por uma manifestação das empresas quanto ao seu retorno para os fabricantes, conforme Lei Estadual 11.187/98. As baterias de celular já estão sendo entregues para a Telefônica Celular, que se encarrega de dar o destino final. A Tabela 1 apresenta a quantidade de pilhas geradas desde o início da campanha. Tabela 1 - Pilhas e baterias coletadas no Município de Bento Gonçalves no período de fevereiro a agosto de 2000. Mês Pilhas Baterias de celulares Fevereiro 887 26 Março 1.206 21 Abril 2.068 7 Maio 1.614 15 Junho 1.221 4 Julho 4.289 69 Agôsto 3.860 122 Total 15.145 264 ✓ Identificação dos pontos de recebimento de resíduos recicláveis Enquanto as instalações da Central de Triagem foram sendo edificadas, outro ponto de recebimento de resíduos recicláveis do município foi identificado, vistoriado e orientado no sentido de receber os resíduos gerados em seis bairros, nos quais já funcionava a coleta seletiva, embora a título precário. O local funciona ainda como aterro de inertes e está em processo de licenciamento junto à FEPAM. Neste ponto, foram coletados dados sobre o recebimento e a comercialização de resíduos recicláveis, os quais deverão ser confrontados com os resultados obtidos a partir da campanha de conscientização na comunidade. Segundo as informações fornecidas pelo proprietário o local recebe cerca 4 caminhões por semana provenientes de 8 bairros. Destes, cerca de 50% do material que não é comercializado, vai para o aterro sanitário. No período de maio/98 a setembro/99, foram coletados 97.382 Kg de papel, 20.728 Kg de metal, 12.121 Kg de plástico e 10.292 Kg de vidro. A média mensal foi de 5.728 Kg de papel, 1.219 Kg de metal, 713 Kg de plástico e 605 Kg de vidro. A Empresa, além de receber a coleta seletiva dos 8 bairros, coleta ainda caixas de papelão diretamente de algumas empresas da cidade. No mês de maio de 2000 foram encaminhados para a reciclagem cerca de 4 t. de materiais somente neste local. ✓ Definição de rotas e calendário da coleta seletiva A empresa coletora do município, definiu as rotas e o calendário de coleta seletiva nos bairros do município, estabelecendo-se a coleta de 2 vezes por semana em todos os bairros da área urbana e semanal nos distritos. Além disto foi instituído o serviço “disque Sanetran” o qual recolhe diretamente das residências quando chamado móveis, utensílios e eletrodomésticos e a campanha do “bota-fora”, a qual promove mutirões de limpeza nos bairros direcionando para a Central de Triagem todos os materiais recicláveis. ✓ Levantamento do potencial de mercado dos resíduos recicláveis no contexto local e regional Através de contato com outras Centrais de Triagem, de municípios vizinhos, buscou-se identificar as empresas interessadas na compra de materiais recicláveis com vistas a comercialização dos resíduos segregados na Central de Triagem de Bento Gonçalves. Na oportunidade, foi feitos um levantamentos de preços dos materiais, para avaliar a melhor oferta. As informações foram repassadas aos catadores, os quais passaram a fazer contatos diretos com as empresas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental ✓ Estabelecimento de parceria com a central de resíduos industriais do município O monitoramento da geração de resíduos industriais destinados a Central de Resíduos deverá apontar dados indicativos dos índices de minimização de impactos causados pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos. Neste sentido, torna-se imprescindível uma ação conjunta do poder público com a Central, no sentido de somar esforços para a otimização do Sistema Municipal de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos. ✓ Avaliação da viabilidade/necessidade de implantação de outras unidades de segregação no município Devido à conscientização da população e a demanda de resíduos estuda-se a necessidade de implantação de outras unidades de segregação (Centrais de Triagem) que venham a atender a demanda da geração de resíduos recicláveis. Buscar-se-á, primeiramente organizar os coletores informais que estão atuando no Município. ✓ Programa municipal de educação ambiental Quando se fala em Educação Ambiental e procura-se direcionar ações para a melhoria da qualidade de vida, apresentam-se imensas barreiras a serem ultrapassadas. Uma delas está diretamente relacionada com a mudança de atitudes do indivíduo na interação com o ambiente. Sabe-se que a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é condição necessária para que isso aconteça, ficando evidente a importância de educar para que o indivíduo aja de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro, sabendo exigir e respeitar os seus direitos e os de toda a comunidade, modificando-se tanto interiormente, como pessoa, quanto nas suas relações com o ambiente. A Educação Ambiental é essencialmente oposta a simples transmissão de conceitos e conhecimentos científicos, constituindo-se num espaço de troca, de experiências e de sentimentos. Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Educação e Desporto vem desenvolvendo junto às Escolas o Programa de Educação Ambiental o qual tem utilizado como eixo norteador a temática dos resíduos sólidos. Para tanto os supervisores das escolas receberam orientações e subsídios, visando a implementação do referido programa. A operacionalização do projeto parte do desencadeamento de debates sobre os princípios norteadores da Educação Ambiental: quem faz, como pensar a Educação Ambiental, para quem e como. Salienta-se a importância do projeto ser decidido e elaborado coletivamente, propiciando atividades que não se limitem à transmissão de informações ou regras de comportamento, devendo sim, proporcionar aos alunos compreender, em todas as situações, os diferentes interesses envolvidos em relação as questões ambientais, particularmente os resíduos sólidos. Dentre as ações desenvolvidas pela Secretaria, o processo de sensibilização para a problemática dos resíduos sólidos urbanos, teve início através da realização conjunta com a Universidade de Caxias do Sul, de um curso de capacitação de elementos difusores. O curso dirigido a professores, líderes comunitários, agentes de saúde e membros da Comissão Municipal de Meio Ambiente desencadeou o processo de definição de estratégias e ações para a implantação do Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos do Município. Dentro deste contexto, os Clubes de Ciências, onde o processo ensino-aprendizagem se desenvolve junto a um importante processo formativo e educativo, para que o aluno identifique-se como parte integrante da natureza, têm direcionado suas ações em prol das campanhas de sensibilização das comunidades em que estão inseridos, pela segregação junto às fontes geradoras dos resíduos sólidos urbanos. Trabalhando com temas de seu interesse, construindo e reconstruindo o conhecimento à partir das informações que já possuem, obtendo-se resultados promissores para o desenvolvimento da cidadania, os clubes tem tido um papel fundamental no processo de conscientização para a coleta seletiva. Durante o ano letivo, os professores responsáveis pelos Clubes de Ciências, reúnem-se periodicamente para o relato de experiências e a elaboração do plano de trabalho a ser desenvolvido. Semestralmente, são realizados os Encontros dos Clubes de Ciências de Bento Gonçalves, que visa refletir e debater sobre as questões ambientais existentes, bem como, a nossa postura frente a esta problemática. O Programa de Educação Ambiental atende alunos da educação infantil ao ensino médio e dos Centros de Atendimento à Criança e ao Adolescente, constituindo-se numa proposta de transversalidade, trazendo a necessidade de refletir e atuar conscientemente na educação de valores e atitudes, implicando na necessidade de um trabalho sistemático e contínuo. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental ✓ Implantação da central de triagem A área escolhida para instalação da Central de Triagem de resíduos recicláveis está localizada junto à rota turística “caminhos de pedra”. O local já foi utilizado anteriormente como aterro municipal na década de 60-70 tendo sido posteriormente selado e recuperado com cobertura vegetal. A área obteve licenciamento junto à FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) para a instalação da Central de Triagem em junho e a central iniciou suas atividades neste mesmo mês . O Centro de Triagem é um dos pontos cruciais para a viabilidade da reciclagem. Sua maior ou menor eficiência mede a “eficácia” do sistema onde é feita a segregação, qualificação, manipulação e a produção de pré-manufaturados para a comercialização. RESULTADOS OBTIDOS NA COLETA SELETIVA A participação da comunidade no processo de implantação da coleta seletiva surpreende pela quantidade e qualidade dos materiais coletados superando as expectativas. A tabela 2 apresenta os resultados obtidos com a comercialização dos resíduos recicláveis nos meses de julho e agosto de 2000. Tabela 2 - Materiais comercializados no período de julho a agosto de 2000 (em Kg). MATERIAL JULHO/2000 (kg) AGOSTO/2000 (kg) Papelão 8.729 5.027 Papel misto 2.587 301 Revistas 425 Jornais 597 Papel branco 317 Plástico mole 1.130 633 Plástico duro 792 Plástico PP 77 121 Plástico Pet 821 121 Embalagens de água mineral 50 Tetra pack 161 184 Isopor 47 45 Tampinhas de garrafa 48 30 Alumínio 40 Cobre 13 Metais ferrosos 7 5.020 Vidros de conservas 354 unidades 726 unidades Bombonas de água mineral 410 unidades TOTAL 14.652 12.781 O total comercializado até o presente momento foi de 27.433 toneladas sendo que a quantidade estocada na central aguardando a comercialização estima-se que seja superior a que foi comercializada até o presente. O acúmulo de material estocado é consequência de a central contar com apenas uma prensa, o que está sendo resolvido pela aquisição de mais um equipamento. Considerando-se que a campanha atendeu até o presente momento em torno de 60% dos bairros do município e não foi extendida ainda para os distritos, espera-se que o contingente de resíduos venha a aumentar em torno de 70% da quantidade comercializada até o momento. Outro fato observável é a diminuição do papelão. Isto é atribuido ao fato de que com a organização do sistema, coletores informais tem feito uma seleção nos resíduos dispostos pelos domicílios, antecipando-se ao caminhão de coleta. Ou seja, está ocorrendo uma “fuga” de resíduos pela coleta informal a qual não é possível quantificar. Isto reforça a necessidade de identificar e organizar pontos de estocagem, recebimento ou ainda os próprios coletores para que se possa estimar a geração destes resíduos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8 XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados aqui apresentados demonstram, em função da resposta dada pela comunidade, que esta aguardava apenas pela organização do sistema de coleta, denotando já existir um certo grau de conscientização sobre a problemática dos resíduos sólidos e a responsabilidade de cada cidadão em ser parceiro e partícipe do processo de gestão ambiental. Campanhas educativas, cursos e eventos em geral objetivando a conscientização da população sobre a problemática ambiental já vinham sendo desenvolvidos a mais tempo no Município refletindo-se talvez nos resultados obtidos. O trabalho porém não deve ser descuidado, particularmente com relação à educação ambiental para que a eficiência do sistema seja otimizada. O grau de mistura de resíduos recicláveis com resíduos orgânicos ainda é representativo e requer que se reforce a campanha em todos os bairros atingindo agora também a mídia, mas fundamentalmente os trabalhos junto às escolas deverá ser intensificado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1998. Reciclagem e Negócios - Fibras de Coco, Perfil de recicladora de fibras de coco, 1ª ed., São Paulo, SP, 36 p. 2. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1997. Reciclagem e Negócios - PET, Enfardamento e revalorização de sucatas de PET, ABEPET - Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens de PET, 1ª ed., São Paulo, SP, 28 p. 3. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1998. Reciclagem e Negócios - Plástico Granulado, Perfil de recicladora de plásticos, 2ª ed., São Paulo, SP, 28 p. 4. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1995. Reciclagem e Negócios - Polpa Moldada, Perfil de recicladora de papel - polpa moldada, 1ª ed., Rio de Janeiro, RJ, 40 p. 5. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1997. Cadernos de Reciclagem 1, Coleta de Papel em Escritório, 3ª ed., São Paulo, SP, 32 p. 6. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1997. Cadernos de Reciclagem 2, O Papel da Prefeitura, IBAM - Instituto Brasileiro de Administração Municipal, 3ª ed., São Paulo, SP, 40 p. 7. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1998. Cadernos de Reciclagem 3, Coleta Seletiva nas Escolas, 2ª ed., São Paulo, SP, 28 p. 8. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1995. Cadernos de Reciclagem 4, A contribuição na indústria, SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Rio de Janeiro, RJ, 39 p. 9. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1996. Cadernos de Reciclagem 5, A Participação das ONGs, ISER - Instituto de Estudos da Religião, São Paulo, SP, 32 p. 10. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. 1997. Cadernos de Reciclagem 6, COMPOSTAGEM - A outra metade da reciclagem, São Paulo, SP, 31 p. 11. DÜWWEL, U., Nottrodt, A. e PÃPKE O., 1999. Dioxinas e Furanos no Âmbito das Medições e o Impacto Ambiental. Alemanha, 9 p. 12. IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas: CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem, 1995. LIXO MUNICIPAL: manual de gerenciamento integrado. 1ª ed. São Paulo, SP, 298 p. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9