CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO, UM EXEMPLO DE INTERAÇÃO ENTRE A EACH-USP E O BAIRRO JARDIM KERALUX Rita Yuri Ynoue Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo. Avenida Arlindo Bettio, 1000, São Paulo, SP, Brasil. CEP: 03828-000 E-mail: [email protected] Resumo O problema de poluição ambiental no bairro Jardim Keralux, vizinho ao campus da USP na zona leste da cidade de São Paulo, é conhecido há alguns anos. Desde 2005, um grupo intersetorial, que reúne diversos órgãos governamentais e instituições (CETESB, Secretarias Municipais de Habitação, da Saúde, do Verde e Meio Ambiente, representantes da comunidade afetada, entre outros), vem se reunindo para tentar propor soluções e melhorias para o problema socioambiental da região. A comunidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP), como o ator com maior peso político na região, pode contribuir muito para a solução deste problema pressionando as autoridades a encontrar uma solução rápida para uma situação que está colocando em risco a saúde de uma população de 6 mil moradores e 2 mil estudantes, professores e funcionários (Ortellado, 2006). Este trabalho mostra uma das primeiras etapas do subgrupo técnico formado na EACH e tem como objetivo a caracterização climática da zona leste de São Paulo. São apresentados os resultados relativos ao ano de 2005, baseado em dados observados no aeroporto de Guarulhos. Introdução O campus da USP na zona leste nasceu para ser uma “unidade integrada e multidisciplinar visando enfrentar o problema de fragmentação atualmente predominante na vida universitária, e, ao mesmo tempo, gerar sinergias científico-culturais e otimizar recursos humanos e materiais” (Muzio, 2004). Tal integração deveria ocorrer tanto entre os alunos dos diferentes cursos quanto da Universidade com a comunidade à sua volta. A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), localizada no campus da USP na zona leste da cidade de São Paulo, se encontra num terreno doado pelo governo do estado, em uma parte da área do Parque Ecológico do Tietê, tendo o bairro do Jardim Keralux como vizinho mais próximo. Os problemas sócio-ambientais, principalmente a poluição atmosférica devido às emissões das indústrias próximas, têm sido acompanhados pela comunidade da EACH desde o segundo semestre de 2005, e, em abril de 2006 foi criado um grupo interdisciplinar contando com a participação de docentes de vários cursos da EACH. O grupo foi então dividido em três subgrupos de trabalho: técnico (responsável pela análise técnica do problema, bem como levantamento e/ou monitoramento de dados relativos à contaminação do local), educacional (que levantará projetos de intervenção e pesquisa no bairro) e político (que fará uma avaliação política do processo). Este trabalho mostra uma das primeiras etapas do subgrupo técnico, que tem como objetivo a caracterização climática da zona leste de São Paulo. São apresentados os resultados relativos ao ano de 2005, primeiro ano de funcionamento da EACH. Para isso, foram analisados dados observados no aeroporto de Guarulhos, a aproximadamente 6km da USP leste (Ilustração 1). A estação meteorológica do Aeroporto de Guarulhos se encontra a 751m acima do nível do mar, com latitude de 23°26'S e longitude, 46°28'W. As variáveis meteorológicas medidas a cada hora analisadas neste estudo são: temperatura, umidade relativa (obtida pela temperatura de ponto de orvalho), direção e velocidade do vento e pressão reduzida ao nível do mar. Ilustração 1: Localização da EACH-USP e da estação meteorológica do Aeroporto de Guarulhos. 1. Pressão Atmosférica A Ilustração 2 apresenta as pressões médias mensais para o ano de 2006 e a variação horária. 1020 1019 Pressão (hPa) Pressão (hPa) 1025 1020 1015 1018 1017 1016 1010 1015 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 0 Mês 2005 3 6 9 12 15 18 21 Hora Local Ilustração 2: Pressão média mensal (esquerda) e variação diurna da pressão (direita) para o ano de 2005 A pressão média do ano de 2005 é de 1018hPa. Observa-se que os maiores valores de pressão são registrados nos meses de inverno, com pico no mês de Julho (1023 hPa). Este aumento da pressão está associado à intensificação do sistema de Alta Pressão do Atlântico Sul e à maior freqüência e intensidade de penetração das massas polares. A elevação da pressão também está associada, em parte, com os movimentos subsidentes do ar, que inibe os processos de convecção da atmosfera, conseqüentemente, inibindo a formação de nuvens precipitáveis. Assim, o período de inverno é geralmente o menos chuvoso do ano. Entre o final da primavera e o verão ocorrem os valores mínimos médios de pressão atmosférica, com mínimo em Janeiro (1014 hPa). Neste período predominam os sistemas de baixa pressão, associados à intensa atividade convectiva e movimentos ascendentes do ar. A variação diurna da pressão atmosférica mostra a influência da maré barométrica, típica da região tropical. As maiores pressões são registradas próximo às 10HL e às 22HL, e as mínimas às 04HL e 16HL. A amplitude desta variação chega a 3hPa. 2. Temperatura A variação anual das temperaturas médias, média das temperaturas máximas e média das temperaturas mínimas mensais e a variação diurna das temperaturas médias são mostradas na Ilustração 3. A temperatura média do ano de 2005 foi de 19,7oC. O mês mais quente foi Janeiro (22,0 oC) e o mais frio, Julho (16,1 oC). Quanto à variação diurna, as temperaturas mínimas ocorrem por volta das 06HL (16,4oC) e as máximas, às 14HL (24,3oC). 30,0 25 27,5 20 T média Temperatura (oC) 30 15 10 5 25,0 22,5 20,0 17,5 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês 2005 15,0 T média T mínima T máxima 0 3 6 9 12 15 18 21 Hora Local Ilustração 3: Temperatura média mensal, média das temperaturas máximas e média das temperaturas mínimas (esquerda) e variação diurna da temperatura (direita) para o ano de 2005 3. Umidade Relativa A variação anual da umidade relativa média mensal e a variação diurna da umidade relativa média são mostradas na Ilustração 4. A umidade relativa média do ano de 2005 foi de 83%, com mínima de 73% em agosto e máxima de 90% em janeiro. Quanto à variação média diurna, o maior valor 100 100 90 90 80 UR (%) UR (%) ocorre no início da manhã, por volta das 06HL (96%) e o valor mínimo (63%) ocorre às 14HL. 70 80 70 60 60 50 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Mês 2005 50 0 3 6 9 12 15 18 21 Hora Local Ilustração 4: Umidade relativa média mensal (esquerda) e variação diurna da umidade relativa (direita) para o ano de 2005 4. Vento O vento é o parâmetro meteorológico mais importante na dispersão de poluentes atmosféricos. Através do vento, as propriedades do ar são transportadas de uma região para outra. A turbulência mecânica, gerada pelos ventos, faz a mistura do ar próximo à superfície com as camadas de ar acima. Através desta mistura, a concentração de poluentes emitida na baixa atmosfera diminui, melhorando a qualidade do ar próximo à fonte emissora. Entretanto, em condições de vento fraco, as concentrações dos poluentes próximas às fontes tendem a aumentar. A direção e velocidade do vento estão associadas às condições dinâmicas da atmosfera, fruto da interação entre diversas escalas de circulação e apresentam significativa variabilidade espacial e temporal. Antes de se apresentar os dados, algumas definições são importantes. Calmaria: ventos com velocidade abaixo de 0,5m.s-1. Direção Predominante do Vento: direção do vento com maior freqüência de observações durante o período em estudo. Vento resultante: vetor resultante da soma vetorial do vento. Ao se fazer a média do vento para um longo período de tempo, os padrões locais desaparecem, e o que se observa é um retrato do vento numa escala global, ou seja, o vento resultante da Circulação Geral da Atmosfera. Neste estudo, a direção do vento resultante será denominada direção média do vento. Em Guarulhos, a velocidade média do vento para o ano de 2005 foi de 2,5m.s-1, com direção predominante de ENE (17%), calmaria em 7% das observações e direção média de NE (Assim, nota-se a preponderância da circulação da ASAS sobre a região em estudo). A Ilustração 5 mostra a rosas dos ventos para Guarulhos. Os círculos pontilhados representam as freqüências de cada direção observada e as cores, as diferentes classes de velocidade do vento. Ilustração 5: Rosa dos ventos para o ano de 2005 A Ilustração 6 mostra a variação mensal da intensidade média do vento: mínima em abril, com 2,0m.s-1 e máxima em dezembro, com 3,1m.s-1. Quanto à evolução diurna da velocidade do vento, os ventos mais fracos, em torno dos 1,8m.s-1 são observados durante a noite e madrugada, entre 22HL e 04HL, quando a atmosfera é mais estável. À tarde, com maior turbulência e talvez com a influência da entrada da brisa marítima, os ventos se intensificam, atingindo 3,4 m.s-1, entre às 3,5 4,0 3,0 3,5 Velocidade (m/s) Velocidade (m/s) 15HL e 16HL. 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0,0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 0 3 6 Mês 2005 9 12 15 18 21 Hora Local Ilustração 6: Velocidade média do vento mensal (esquerda) e variação diurna (direita) para o ano de 2005 5. Síntese das variáveis climáticas e meteorológicas A região leste da cidade de São Paulo, representada por dados coletados no Aeroporto Internacional de Guarulhos, apresenta as seguintes características no ano de 2005: ¾ Pressão atmosférica reduzida ao nível do mar média: 1018,4 hPa; ¾ Temperatura média do ar: 19,7 oC ¾ Umidade relativa média: 83% ¾ Temperatura média do mês mais frio: 16,1 oC em Julho ¾ Temperatura média do mês mais quente: 22,2 oC em Março ¾ Velocidade média anual do vento: 2,5 m.s-1, direções predominantes: ENE (17%), calmaria: 07% e direção média de NE Perspectivas Os próximos passos serão inserir mais anos de observação e assim caracterizar a climatologia local. Dados de pluviosidade também são necessários, entretanto, não se encontram disponíveis para a estação selecionada. Assim, serão feitas comparações entre dados coletados em outras estações próximas com a observação oficial para a cidade de São Paulo, feita pela estação do INMet no Mirante de Santana. Esse estudo será disponibilizado para a comunidade EACH-USP e para a comunidade do Jardim Keralux. Referências Bibliográficas: Muzio, P: No princípio, era o barro. Em USP Leste e seus vizinhos, C. Medina (coordenadora e organizadora), São Paulo: ECA/USP, 2004. Ortellado, P: comunicação interna à comunidade da EACH-USP, enviado em 09 de agosto de 2006.