Trá-los o vento, como às bactérias. Colhem-nos as riquezas,
mas só semeiam misérias. Ocupam-nos espaços, os poucos
que reservamos para grandes esperanças e maiores enganos.
Expõem-nos as fraquezas, julgam-se pessoas sãs . E infectamnos a alma com promessas vãs .
Escoa -se o tempo curto com ilusórias conexões, gasta-se uma
vida inteira com paranóias e desilusões. E o tempo insiste em
passar, e o sonho a definhar . Aos bocadinhos. É a tristeza
que mata no berço a pequena fogueira, chama imaginária de
emoções.
Queima-nos por dentro quando pára de arder. Só fumaça. O
incêndio é anedota, a emoção é uma chalaça.
Trá-los o vento matreiro e espanca-nos a vontade. É mesmo
muito dura, esta estranha realidade...
Brincadeiras de putos à mesa de um café. Conchas
herméticas, fechaduras de trancas, defender a paliçada.
Ninguém deserta, falta a coragem, ninguém acerta, o
inimigo não se vê. Continuemos a conversar, a luta continua.
Palavras para quê? Leva-as o bandido que insiste em soprar,
para outros ouvidos, rostos frios que se limitam a escutar. As
vidas dos outros.
Vou comprar, já comprei. Ia voar, já aterrei. Puxaram o
cordelinho e o balão desceu, ofereceram-nos as asas para nos
negarem o céu. Gás feito chumbo, pesa-nos a consciência. E
nem sabemos porquê. São certezas que sempre nos traem,
mas parece que ninguém vê. Não duvidamos de aparências,
cultivamos. Amamos farsas, pouco nos ralamos. O engano
somos nós e as vidas que levamos.
Vêm com o vento e com o vento vão, o diabo que os carregue.
A própria solidão é a amiga de verdade.
Isolemos os casulos, fechem-se as portinholas, todos muito
seguros, livres de conversas. Em trincheiras ou castelos, cada
um trata de si, disputemos as batalhas. Batalhas que nunca
venci.
Vamos ver televisão, vamos parar de pensar. O vento, lá fora,
não pára de soprar...
Jorge Gomes da Silva – Portugal
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Autor : Jorge Gomes da Silva
Ex-jornalista viciado em palavras. Um livro
acabado (por publicar), boa quantidade de
prosa curta disseminada pela Net.
Meia-dúzia de distinções em sites literários
portugueses e brasileiros,
Colunista da EVIRT e do Masterville. Muita
vontade de agradar a quem lê e pouca
paciência para saraus ou outros eventos com
cheiro a bafio.
Português comum, classe média, sem
pretensões de falsa vedeta nem tiques de
intelectual de pacotilha.
É os nossos amigos ou os amigos dos outros.
Está relacionada com questões sociais em que o
autor ironiza as relações dos nosso amigos ou por
outra que consideramos amigos.
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“Vou comprar, já comprei. Ia voar, já aterrei ”
“ Batalhas que nunca venci.”
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“Trá-los o vento, como às bactérias. Colhemnos as riquezas, mas só semeiam misérias”
“Expõem-nos as fraquezas, julgam-se pessoas
sãs . E infectam-nos a alma com promessas
vãs.”
“Escoa -se o tempo curto com ilusórias
conexões, gasta-se uma vida inteira com
paranóias e desilusões. ”
“É a tristeza que mata no berço a pequena
fogueira, chama imaginária de emoções.”
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“Trá-los o vento matreiro e espanca-nos a
vontade.”
“Ninguém deserta, falta a coragem, ninguém
acerta, o inimigo não se vê.”
“Leva-as o bandido que insiste em soprar, para
outros ouvidos, “
“Puxaram o cordelinho e o balão desceu,
ofereceram-nos as asas para nos negarem o céu.
Gás feito chumbo, pesa-nos a consciência. “
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“Não duvidamos de aparências, cultivamos.
Amamos farsas, pouco nos ralamos. O engano
somos nós e as vidas que levamos.
Vêm com o vento e com o vento vão, o diabo
que os carregue. “
“Isolemos os casulos, fechem-se as portinholas,
todos muito seguros, livres de conversas. Em
trincheiras ou castelos, cada um trata de si,
disputemos as batalhas.”
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“É a tristeza que mata no berço a pequena
fogueira, chama imaginária de emoções.”
“Queima-nos por dentro quando pára de arder.
Só fumaça. O incêndio é anedota, a emoção é
uma chalaça.”
“Conchas herméticas , fechaduras de trancas,
defender a paliçada.”
“ rostos frios que se limitam a escutar.”
“A própria solidão é a amiga de verdade.”
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Ter em conta as pessoas que consideramos amigas
“Os amigos dos outros” com o autor chama que
ninguém tem mas eles existem, só que ninguém
quer admitir que existem.
Que por vezes fazem estragos, nas nossas vidas.
2009
Susana Marto
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Amigos dos Outros