12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354 LIMITES ENCONTRADOS NA GESTÃO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA FEDERAL: O CASO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GURUPI - UFT Rosana Augusta de Oliveira (Universidade de Taubaté) Quesia postigo kamimura (Universidade de Taubaté) Marilsa de Sá Rodrigues Tadeucci (Universidade de Taubaté) Resumo As universidades públicas federais enfrentam um momento singular, em que buscam superar os entraves decorrentes dos modelos de gestão existentes, tendo em vista a estrutura complexa que lhes é peculiar. Desta forma, este artigo pretende disscutir as dificuldades encontradas na gestão universitária, bem como entender quais os pontos mais difíceis de serem administrados, estando esta universidade inserida no contexto público federal, assim como as soluções encontradas para superar os obstáculos infundidos pelos modelos de gestão pública e modelos de governo universitário vigentes. O método utilizado foi o qualitativo, através de um estudo de caso em que se discutiu a gestão do Campus universitário de Gurupi, por meio de entrevista com o Diretor do citado Campus. Como resultado, entendeu-se que a discussão acerca da necessidade de modernização da gestão tem ocorrido de forma segura e madura e que resultados já estão sendo obtidos. Ficou evidenciada a posição reinante do modelo de governo colegiado e que, neste ponto, o gestor tem papel de protagonista, visto que ações políticas podem influenciar no alcance ou não do consenso esperado nestes conselhos. Concluiu-se ainda que a autonomia das universidades é insuficiente tendo em vista o engessamento resultante do excesso de rigidez advindo do modelo burocrático. Desta forma, somente através de ações articuladas das Universidades do país, é que elas conseguirão fazer com que os resultados das discussões chegam ao Poder Legislativo, a quem cabe alterar tais normas que conduzem a gestão atual. Palavras-chaves: Gestão Pública; Administração Universitária; Universidade Federal. VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Introdução Na atual conjuntura as mudanças gerenciais se tornaram obrigatórias, a fim de possibilitar o acompanhamento das novas faces da política e da economia. Especialmente nas universidades a necessidade de modernização constante se faz ainda maior, devido ao dinamismo derivadas da criação e inovação e das tecnologias e conhecimentos produzidos neste ambiente. Pela sua responsabilidade social, a universidade não pode se isolar das grandes transformações mundiais. Isso reforça a necessidade de reexame e amadurecimento dos seus processos, com o escopo de atingir a excelência nos seus pilares, isto é, o ensino, a pesquisa e a extensão. As universidades brasileiras são importantíssimas nesta etapa em que o Brasil tem buscado destacar-se mundialmente, pois a melhoria do resultado dos seus trabalhos fortalecerá o país nesta tentativa de crescimento, obtendo assim maior visibilidade entre os demais países. Ocorre que quando a universidade está inserida no contexto da administração pública encontra alguns obstáculos para implementar as inovações que ela própria desenvolve e incentiva a sociedade a buscá-las e efetivá-las. Tais impedimentos são consequências do aparto legislatório vigente, os quais regem seus processos. Com efeito, a educação superior no Brasil sofre pela ausência das condições necessárias ao cumprimento das suas atribuições como profissionalizar, iniciar à prática científica e formar estudantes com consciência político-social, capazes de viver e atuar beneficamente no mundo moderno. É com pesar que se constata que atualmente a universidade desempenha apenas o papel quase exclusivo no nível burocrático-formal (SEVERINO, 2007). A par do o perfil totalmente diferenciado das Instituições Federais de Ensino Superior - IFES, quando em paralelo com as demais organizações, preocupam-se os teóricos da administração com a sua singularidade, pois de fato é necessário discutir um estilo gerencial que contemple a sua complexidade e os seus anseios. Isso se justifica porque as atividades desempenhadas pelas IFES são marcadas pelo caráter burocrático, político, colegiado e anárquico, o que torna ainda maior o desafio em administrá-las. De fato, nas organizações fundadas no conhecimento, como é o caso das universidades, o nível gerencial precisa atuar como facilitador dos processos organizacionais. 2 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Desta forma, diante da necessidade de ter em mãos ferramentas gerenciais inovadoras, o que é extremamente imprescindível no cenário atual, e tendo como desafio a administração universitária, este artigo pretende discutir as dificuldades em administrar uma instituição em nível federal, especificamente o Campus universitário de Gurupi - UFT, tendo em vista os limites que a Gestão Pública impõe devido aos modelos gerenciais vigentes. Para auxiliar nesta discussão, além da base conceitual firmada no referencial teórico, foi realizada entrevista com o Gestor do Campus universitário de Gurupi, com o objetivo de entender quais os pontos mais difíceis de serem administrados estando inserido em uma universidade pública federal, bem como as soluções encontradas por ele para superar os obstáculos infundidos pelos modelos de Gestão Pública existentes, bem como pelos modelos de governo universitário. Referencial Teórico Modernização da Gestão Pública A mudança organizacional tornou-se temática de análise indispensável, na proporção em que todas as organizações devem fazer frente às consequências advindas das macro mudanças. Na atualidade só há uma trajeto possível para aquelas organizações que desejam manter suas possibilidades de sucesso: exercer a capacidade de inovação. Nesse passo, a maior provocação que atinge a nova administração pública consiste em: de que forma é possível converter estruturas hierarquizadas, burocráticas e culturas propensas ao isolamento em organizações flexíveis que respondam aos anseios da sociedade? Para que a Administração Pública realmente consiga se modernizar é necessário vencer alguns desafios, como “recriar uma racionalidade macroeconômica; incentivar um maior compromisso com a gestão; procurar o equilíbrio entre a flexibilidade e os regulamentos; estabelecer uma nova relação com a sociedade; e revitalizar o sentido da administração pública” (ARAÚJO, 2008, p.12). Carbone (2000) faz duras críticas ao atual momento que a gestão pública vive e dispara que “se fosse possível estabelecer um comportamento de sucesso ou de sobrevivência pessoal dentro do setor público brasileiro, ele teria pouco a ver com atributos como empreendedorismo, capacidade de inovação, ousadia e competência técnica.” E completa afirmando que a boa gestão nunca foi referência de produtividade ou empreendedorismo. É claro que esse panorama precisa ser mudado. 3 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 No setor público, a eficácia dos processos de mudança organizacional depende do compromisso da alta direção. E ter compromisso não é fácil devido à complexidade e abundância de regulamentos e ao “espalhamento” do poder. Na esfera pública os diretores lidam com a limitação do poder ao tomar decisões, restringindo sua autonomia ao obrigar-se ao propósito de desenvolver projetos de mudança organizacional. Frequentemente práticas gerenciais do âmbito privado têm influenciado a administração pública, que se mostra sensibilizada com as mudanças sugeridas pelas teorias administrativas, porém a adequação ocorre de forma lenta. O administrador público sofre com a sujeição dos seus atos aos mandamentos da lei, através de um dos princípios da Administração Pública que é o princípio da Legalidade. Acerca da Legalidade, Santos (2006, p.13) confirma que “está associada à gestão pública em toda a sua atividade, presa aos mandamentos da lei, deles não podendo se afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilização do seu autor”. Estas amarras da legislação, que malgrado sejam necessárias, muitas vezes não permitem ao administrador a faculdade de executar aquilo que hoje julga ser mais adequado diante desse novo cenário mundial. A gerência pública se tornou peça chave nesta nova fase que ambiciona a modernização do Estado. Este novo modelo, denominado gerencial, inspirou-se em alterações organizacionais sobrevindas do setor privado. Essas transformações referem-se às alterações na forma burocrático-piramidal de administração, que busca flexibilizar a gestão, diminuir os níveis hierárquicos e, ainda, aumentar a autonomia de decisão dos gerentes (ARAÚJO, 2008). Essas reformas na maneira de administrar, amparadas em técnicas gerenciais, não são úteis somente para o incremento do desempenho organizacional, mas também obriga o setor público a melhorar sua performance conforme os objetivos públicos que são definidos de forma política. Esta sonhada transformação nas organizações públicas precisa ter respaldo nos processos políticos, sendo que estes ultrapassam os limites da organização em tela, abarcando poderes institucionais superiores como Legislativo, Executivo e Judiciário, o que justifica a demora nos processos de inovação e modernização. Gestão Universitária A universidade, particularmente a pública, depara-se com a necessidade de efetivar um modelo atual de gestão e por isso é desafiada pela sociedade e pelo Estado. Para vencer este desafio as transformações demandadas são profundas, refutando, portanto, ações superficiais 4 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 ou parcelares. Mais do que um ato, a evolução reclama ser estrutural, visto que a instituição universitária associa-se, sobretudo, à rigidez funcional e organizacional, de forma impermeável às pressões externas (SANTIAGO et al, 2003). A estrutura atual das universidades, permeada pela burocracia e centralização, é o grande empecilho às inovações demandadas nos dias de hoje, pois este maléfico fator institucional limita que as decisões sejam socializadas. Por mais que o ambiente das universidades seja marcado como um local de desenvolvimento de inovações, o mesmo não pode ser afirmado quando se refere aos processos administrativos e decisórios, como também a sua estrutura interna. A resistência a mudanças é grande, caracterizando essas organizações como conservadoras e avessas a transformações. A visão de Soares (2002) corrobora que, ao abordar as importantes mudanças verificadas na última década: Tudo isso sinaliza para uma situação de muitos obstáculos, considerando as particularidades da estrutura burocrática e administrativa das instituições mais tradicionais, notadamente, as universidades públicas brasileiras, as quais são permanentemente desafiadas, forçando a que tais instituições busquem a melhoria e a reformulação de antigos padrões de funcionamento e organização acadêmica e administrativa (p.122). O que reforça a pressão por mudanças nas Instituições de Ensino Superior é o fato de as mesmas possuírem a função de intermediar o setor produtivo e, sendo assim, estar atualizada é fundamental para possibilitar aos seus egressos um perfil pró-ativo e inovador, que se adapte às constantes alterações sociais, bem como às evoluções tecnológicas (HRUSCHKA et al, 2004). As universidades se defrontam com um conjunto de exigências referente à redefinição das suas finalidades e princípios, que traz implicações na estrutura e posicionamento perante as demandas sociais que estão surgindo. Não se pode olvidar do fator complicador à reversão desta situação, que é a condição de complexidade organizacional das universidades, oriunda da execução de múltiplas tarefas, cada qual com metodologia de trabalhos diferentes. Com efeito, mudanças são demandadas na administração pública em geral e nas universidades não podia ser diferente. O gerencialismo surge, então, no contexto de inúmeras tentativas das políticas de governo de formar um mercado na educação superior. Assim parece ter emergido mudanças notáveis nas universidades, através da inserção de um novo discurso, que busca adotar um estilo mais atual de gerir e de valores novos que tentam conviver com a 5 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 complexidade existe no ambiente universitário. O resultado destas inovações nos diversos modelos de governo das universidades pode ser muito forte. (SANTIAGO et al, 2003). Em relação à penetração do gerencialismo no ensino superior, este estilo é bastante usado nos discursos de justificação da reestruturação das antigas burocracias educacionais e desta forma se manifesta como que um corolário deste contexto de mudança, embrenhando aos poucos nos preceitos organizacionais das universidades. Acerca da introdução desta nova modalidade de gestão, Santiago et al (2003) destaca que ações são “orientadas para a captação de recursos visando a redução das dependências, e à definição de critérios “objetivos” de qualidade, sob a inspiração das práticas empresariais, ações que, claramente, facilitaram a adesão das direções e dos atores acadêmicos a alguns princípios do gerencialismo” (p.91). Consoante Bernardes (2006), a universidade tem que criar meios de capacitar os dirigentes, formando-os na área de gestão universitária para que possam, deste modo, administrar um moderno sistema que interaja com a sociedade e com os variados setores que se relaciona, inclusive o empresarial. Destarte o gerencialismo promove a separação entre gestão acadêmica e gestão administrativa, e entre os gestores e executores, e ainda tem debatido sobre a necessidade de profissionalização dos gestores acadêmicos. Assim, valorizar recursos humanos e investir em tecnologia de informação é imprescindível e urgente, pois no contexto atual é importante haver dirigentes que consigam gerir e conviver com os empecilhos burocráticos pertinentes à administração pública, além de ser necessário exercitar a capacidade de serem criativos. Nada obstante isso, o principal é possuir ampla visão das novas competências exigidas pela universidade e pela sociedade. Neste sentido, Bernardes (2006) destaca que A universidade deve estar dirigida ao perfil gerencial do administrador do futuro, que deve possuir algumas posturas indispensáveis como: iniciativa de ação e decisão, capacidade de negociação, competência e autonomia para criar e inovar, capacidade de comunicação interpessoal, comprometimento com princípio ético, capacidade de trabalhar em grupo (p.03). É indiscutível a importância da valorização do capital humano em qualquer tipo de organização, entretanto, uma das causas da ineficiência encontradas na administração universitária, na visão de Fernandes (2002), é justamente a insignificância de implementação de diretrizes inovadoras à política de pessoal. Schmitz et al, (2009), que escreveu sobre os desafios das universidades empreendedoras, destaca que os principais desafios encontrados no contexto empreendedor 6 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 são adaptáveis ao gerenciamento das universidades que acreditam ser empreendedoras, e arremata que “Desafios como ferramentas para alavancar estratégias empreendedoras num ambiente organizacional diferenciado, peculiar é imprescindível para o desenvolvimento do país” (p.13). Concernente à estrutura das universidades públicas, Vogt (2004) apresenta quatro particularidades “sua vinculação: faz parte do Estado ou é pública e autônoma por lei; seu financiamento: é de responsabilidade do Estado; sua missão: é o seu compromisso social. Por fim, seu conceito de conhecimento: como um bem social e não um bem privado" (p. 01). Urge, pois, repensar a universidade, haja vista que a sua estrutura está ultrapassada e não apresenta condições de acompanhar as mudanças da sociedade, como também as mudanças nas formas de produzir conhecimento, pois hoje sua construção vai além barreiras, ocorrendo de forma interdisciplinar. Sobre a necessidade de mudança, Soares (2002), afirma que “Os novos desafios colocados pelo avanço da globalização tecnológica, econômica e cultural estão a exigir, dos atores sociais e políticos envolvidos com a educação superior, a responsabilidade de viabilizarem as reformas necessárias para consolidação da universidade brasileira no cenário nacional e ampliar sua presença internacional.” (p.304) A mudança de paradigmas é muito importante neste novo contexto mundial e a universidade precisa ter esta marca, de forma que percorra novos caminhos. Deste modo, as universidades em geral precisam repensar sua trajetória, preparando-se para uma nova adaptação ao ambiente em que está incrustada, criando espaço para um novo momento na sua história. Neste sentido, Santiago et al (2003) confirma que o gerencialismo, como nova forma de governo, emerge como potência influenciadora na modernização da forma de gestão e mudanças nos processos organizacionais das universidades. Complexidade do ambiente organizacional das universidades e modelos de governo universitário Acredita-se que a ameaça fundamental para a instituição universitária está em seu próprio interior, e não fora dela. Isso se justifica porque interiormente vêem-se práticas que já caíram em desuso, dificuldade na adequação a um novo contexto de relações sociais em um mundo economicamente complexo, dificuldade em lidar com o corporativismo, individualismo exagerado e conservadorismo, tudo isso que reduz o potencial criativo e inovador das universidades. Conforme Leitão (1987, apud SAMPAIO 2003), analisando de 7 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 forma organizacional, a universidade se caracteriza como a instituição de estrutura mais complexa da sociedade atual. Marcada pela Reforma Universitária advinda da Lei n. 5.540/68, as universidades foram afligidas por modificações na sua estrutura administrativa e acadêmica. Na referida lei são definidos os processos decisórios para os dirigentes das Universidades Federais. Estas decisões deverão ocorrer por meio de órgãos colegiados, tendo como apoio regimentos e estatutos. Desta forma, após a lei de 1968 as universidades federais passaram a ter a seguinte estrutura organizacional: Conselho Universitário, Conselho de Curadores, Conselho Diretor, Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão e Reitoria (SOARES, 2002). Este período de adaptação das universidades públicas brasileiras, marcada pela Reforma Universitária de 68, é lembrado também por Sampaio (2003), que afirma ter sido a tônica de questionamentos pertinentes ao conhecimento, à educação e a ciência, a qual trouxe o debate que fomentou posteriormente propostas para uma nova reforma para o sistema universitário do Brasil. O mesmo autor destaca que, no período de 1968 a 1995, a gestão universitária foi alvo de análise dos estudiosos do tema: A gestão universitária esteve no centro da discussão do processo de implementação da reforma universitária de 1968 e se manteve como temática importante, especialmente nos diferentes contextos de crise das universidades públicas no período 1968-1995. Em tal percurso começou a entrar em cena a questão da identidade e do caráter distintivo da universidade. Nessa perspectiva é que se discutiu, em grande parte, a modernização-modelação institucionais e o aperfeiçoamento da gestão (SAMPAIO, 2003, p.75). As universidades desenvolveram um estilo próprio de estrutura devido à diversidade de objetivos e também dos tipos de profissionais que atuam nela, além de estarem direcionadas para o tripé: ensino, pesquisa e extensão. Desta forma, nestes espaços acadêmicos encontram-se diversas sub-culturas, que têm como característica a ambivalência e diversidade de objetivos, o que demanda uma análise particular e apurada. Nesta ambivalência e diversidade de objetivos, podem-se encontrar elementos que compõem o sistema do ensino superior: vulnerabilidade ambiental, relação ambígua entre tecnologia, sistema pluralista fraturado por conflitos em linhas de disciplinas, sub-culturas de estudantes e de técnico-administrativos, subgrupos de professores, participação fluída e descontínua, divisões entre docentes e administradores e baixo grau de tomada de decisão (SAMPAIO, 2003). Todas essas mudanças ocorridas no ensino superior, bem como sua singularidade, vieram estabelecer um modelo organizacional que privilegiou a estrutura formada por 8 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 departamentos, colegiados de cursos, e normas de funcionamento e os regimentos gerais. Conforme Hardy e Fachin (2000 apud SAMPAIO 2003), desde os anos 70, as pesquisas no campo da administração universitária têm empregado modelos explicativos sobre as formas de governar instituições de ensino superior. A base das pesquisas está em quatro modelos: o burocrático, o político o colegiado e o da anarquia organizada. Estes modelos também são aceitos por Rizzatti e Dobes (2002, p.02) que completam “O modelo de governo escolhido é que vai determinar a ação a ser empreendida para influenciar o processo decisório: uso de legislação como base na argumentação, persuasão, coalizão e ações individuais.” O modelo burocrático, fundamentado em Weber, exprime o tipo ideal de poder racional-legal. A presença da burocracia nas universidades é caracterizada como a divisão do trabalho, a adoção de regras, a padronização das atividades, a notável hierarquia administrativa, os regulamentos formais e critérios impessoais. Consoante Rizzatti e Dobes (2002) em todas as universidades podem ser encontradas estruturas com semelhanças burocráticas e completam afirmando que esse modelo mostra a universidade como uma unidade social burocrática, na qual se tem a base no princípio da racionalidade, organizada de forma a maximizar a eficiência. Estes mesmos autores ressaltam que alguns doutrinadores rejeitam este modelo para as universidades, apresentando-a somente como uma comunidade de estudiosos. A par disso, aponta-se o modelo colegiado com sendo o meio de governo mais apropriado. O modelo colegiado procura privilegiar os acordos no processo decisório, ou seja, as decisões são tomadas por consenso. Por mais que as universidades utilizem bastante a forma colegiada, supor que a dinâmica do consenso entre os grupos guia a um processo coerente, no que se refere às metas da organização, já abre espaço para um confrontamento da consensualidade. Isso é justificável pelo fato desta conviver com outros fatores que afetam a gestão colegiada, como a multiplicidade, a ambigüidade, sistemas difusos, o pluralismo, entre outros aspectos que fazem parte dos objetivos da universidade. (SAMPAIO, 2003). Santiago et al (2003) considera que o modelo colegial, tendo em vista que os atores são vistos como uma comunidade de acadêmicos que divide responsabilidades e participa nos processos decisórios, não recusam ao modelo burocrático, pois, na verdade, os dois modelos possuem uma interpenetração. Na visão de Millet (1980 apud RIZZATTI e DOBES, 2002) o modelo colegiado sustenta e resguarda a ideia da participação da comunidade acadêmica, em especial dos 9 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 docentes, na hora de dirigir os trabalhos da universidade; contrapondo-se a multidiversidade e onde reina a impessoalidade, o que na verdade parece ser muito mais uma utopia do que um processo de governo universitário. Neste sentido, a realidade é que o consenso muitas vezes é a vitória de momento de um grupo sobre o outro. Procurando harmonizar os modelos, adequando-os à realidade, Baldridge (1982, apud RIZZATTI E DOBES, 2002) faz a proposta de um modelo político de tomada de decisão, que objetiva a inclusão de fatores consensuais e processos burocráticos, o que se justifica pela existência do sistema pluralista na universidade. O autor afirma que o processo de tomada de decisões em universidades é regido muito mais por parâmetros políticos do que àqueles denominados burocráticos. Este modelo denominado político vê as universidades como organizações complexas que podem ser vistas como sistemas políticos de pequeno porte, com dinâmicas de grupos de interesse e conflitos semelhantes aos que existem na cidade, ou em outros ambientes políticos. Salienta, por conseguinte, o conflito, o dissenso, e a negociação entre grupos de interesses no âmago da organização acadêmica. (SAMPAIO, 2003). O conflito é normal e ocorre em grau elevado por ser um sistema social dinâmico e fragmentado, que resulta em um processo decisório negociado. A universidade, ainda que seja vista como um estrutural de uma organização burocrática, o processo de decisão segue essencialmente o modelo colegiado e o modelo político. O modelo burocrático se revela na estrutura teórica da instituição, ao passo que os outros dois decorrem no seu dia-a-dia (RIZZATTI; DOBES, 2002). O último modelo, denominado anarquia organizada, procura privilegiar a inexistência de propósitos pré-definidos do comportamento humano na tomada de decisão. Desta forma, os fatos que ocorreram na situação de anarquia organizada não são marcados pela dedução, entretanto tem como pressuposto um comportamento administrativo da forma não-proposital, em decorrência de duplicidades nas preferências, na participação e na tecnologia (SAMPAIO, 2003). Sobre este modelo Santiago et al (2003) esclarece que As universidades apresentam-se, assim, como organizações pobremente estruturadas, que recorrem pouco à coordenação explícita entre os atores e têm uma grande dificuldade em ordenar escolhas e prioridades e em especificar os próprios processos envolvidos no ensino e na aprendizagem (p.81) Se por um lado, a burocracia e a colegialidade podem permitir compreender melhor determinados aspectos ligados às estruturas e processos de decisão, por outro, as dinâmicas das universidades são suscetíveis, igualmente, de ser apreendidas como sistemas de 10 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 ação, com base nas noções de estratégia dos atores, de “anarquia organizada” e de micro-sistema político (p.85). Cohen; March; Olsen (1972 apud RIZZATTI e DOBES, 2002) consideram este modelo de decisão elevadamente complexo, pois ao apresentar as universidades como anarquias organizadas, atestam que elas possuem características únicas, estruturas obscuras, o que tem sido um desafio enquanto alcance de metas e no servir a clientes que requerem entrar no processo de tomada de decisão. A perspectiva desses autores quanto à anarquia organizada evidencia que as universidades são totalmente diferenciadas das organizações burocráticas e frisam que “Neste tipo de organização, os dirigentes institucionais servem primariamente como catalisadores, ou seja, muito mais que conduzir, canalizam suas atividades, não mandam e sim negociam, não planificam de forma ampla, sendo muito mais facilitadores da continuação de um processo” (p.05). Rizzatti e Dobes (2002) comungam desta visão, sustentando que nas organizações fundamentadas em conhecimento, o gestor precisa atuar de maneira que facilite os processos organizacionais e isto pode se dar, simplesmente, através de um processo de comunicação ajustado e usado por todos, seja nas instituições universitárias, na sociedade, ou mesmo nas organizações. É imprescindível que os diretores universitários façam uso de mecanismos mais eficazes que a moderna administração oferece e que assim facilitem o processo decisório nas universidades, pois tais decisões são cruciais nas atividades que elas desenvolvem, o que justifica a necessidade de aprimoramento dos diversos processos administrativos que a permeiam. Nota-se que o contexto de hoje é bem diferente daquele apresentado no final dos anos 60. A crise do Estado brasileiro atual é refletida diretamente nas universidades públicas. A mudança da gestão universitária dirigida à coletividade do ensino superior é um longo processo que deverá tratar os conflitos e as diferenças que fazem parte destas instituições que possuem função social tão complexa. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (Gespública) Ambicionando modernizar sua gestão, por meio do decreto 5.378 de 23 de fevereiro de 2005 o Governo Federal criou o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização, 11 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 conhecido como GesPública. O Programa é caracterizado pela essência pública, por ser contemporâneo e federativo, e por voltar-se à disposição de resultados para a sociedade. Sua missão é auxiliar na melhoria da qualidade dos serviços prestados ao cidadão e também busca aumentar a competitividade do País. Para alcançar tal propósito, a estratégia é articular, mobilizar e fomentar agentes comprometidos com a gestão pública eficiente (PALVARINI, 2009). O GesPública possibilita que o Governo possua um consistente diagnóstico dos níveis de gestão de suas instituições, que permite a verificação do cumprimento de suas estratégias. As instituições interessadas em aderir ao programa devem observar os critérios do Modelo de Excelência em Gestão Pública e apresentar um relatório com práticas que comprovem seu atendimento. Quanto às principais necessidades já reveladas para melhorar a gestão pública, Palvarini (2009) responde: São elas: gestão de pessoas (profissionalização e capacitação), modelos de gestão (com simplificação de processos), rever instrumentos de gestão (com maior articulação entre planejamento e orçamento), desenvolver e implementar mecanismos de coordenação e de integração, intensificar o uso de tecnologia, rever o marco legal (propiciando condições estruturais), reforçar os instrumentos de prevenção e de combate à corrupção e realizar estudos e pesquisas para subsidiar as políticas e diretrizes para a modernização do Estado e para a melhoria da gestão pública (p.01). Em junho de 2010 a UFT foi a décima instituição tocantinense a concretizar sua adesão ao GesPública, com o escopo de aperfeiçoar o processo de modernização em sua administração, além de cooperar cientificamente com inovações nas administrações públicas municipais. Universidade em estudo Diante da heterogeneidade da população do Estado do Tocantins, a UFT tem o desafio de oferecer medidas educativas que aumentem o nível de vida dos tocantinenses. Deste modo, na UFT a educação se dá, de forma prioritária, através dos cursos de graduação e licenciaturas, que totalizam 48 cursos de graduação, distribuídos em sete campi: Araguaína, Arraias, Gurupi, Miracema, Palmas, Porto Nacional e Tocantinópolis, tornando possível o acesso ao ensino público superior a estudantes de diversas regiões. A universidade conta com 709 professores, 591 técnicos e cerca de 12 mil alunos. Além disso, há ainda a promoção de atividades de extensão e pesquisa, visando à produção disseminação de conhecimentos que contribuam para a transformação da sociedade. Considerando a potência vocacional do Tocantins, a UFT busca desenvolver o estado 12 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 oferecendo formação nas áreas de Agrárias e Ciências Biológicas, Ciências Sociais Aplicadas, Humanas e Educação. Em suma, a missão da UFT é produzir e difundir conhecimentos para formar cidadãos e profissionais qualificados, comprometidos com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Já sua visão de futuro determina que até o ano de 2010 a UFT seria uma Universidade consolidada, multicampi, um espaço de expressão democrática e cultural, reconhecida pelo ensino de qualidade e pela pesquisa e extensão voltadas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia (UFT, 2010). E a fim de cumprir tais objetivos, a universidade em tela tem como estratégia desenvolver ambiente de excelência acadêmica; articulação com a sociedade; atuação sistêmica e aprimoramento da gestão. O Campus universitário de Gurupi oferece os cursos de graduação regulares em Agronomia, Engenharia Florestal, Química Ambiental e Engenharia Biotecnológica. E na graduação á distância: Biologia, Química, Física, Geografia, Matemática, com o objetivo principal de formar e capacitar os professores que já atuam na rede pública básica de ensino. Em nível de pós-graduação presencial há o Programa de Mestrado em Produção Vegetal, e lato sensu modalidade EaD oferece curso em Gestão Pública Municipal, Gestão em Saúde e especialização em Coordenação Pedagógica. O campus conta ainda com 250 alunos da Universidade da Maturidade - UMA, que visa integrar as pessoas da terceira idade com os alunos de graduação, sendo um espaço de convivência social e de aquisição de novos conhecimentos voltados para os alunos envelhecerem sadios e com dignidade. Para subsidiar tais cursos são lotados no campus 60 docentes, sendo sem sua maioria doutores, e contam ainda com os técnico-administrativos em número de 55, para atenderem 1.130 alunos. Método A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, através de um estudo de caso, visto que foram analisados fenômenos e características da gestão do Campus universitário de Gurupi, de forma aprofundada. Referente à modalidade estudo de caso, Triviños (2010) aponta que “Entre os tipos de pesquisa qualitativa característicos, talvez o Estudo de Caso seja um dos mais relevantes” (p.133), e completa dizendo a importância de um estudo de caso qualitativo, pois nem as hipóteses e os esquemas de inquisição estão aprioristicamente estabelecidos, e a complexidade do exame vai aumentando à medida que se aprofunda no assunto. 13 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Ainda sobre o estudo de caso, Severino (2010) o conceitua como “pesquisa que se concentra no estudo de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo. A coleta de dados e sua análise se dão da mesma forma que nas pesquisas de campo, em geral.” (p.121) Quanto ao instrumento, foi realizada entrevista semi-estruturada com Gestor do Campus de Gurupi, que está na direção desta instituição pública há mais de quatro anos. Sobre a entrevista, Gasparetto (2008) destaca que a mesma traz resultados bastante satisfatórios quando realizado nos altos escalões hierárquico, pois possibilita levantar opiniões, comentários e pontos-de-vista que geralmente não estariam disponíveis em questionários. Triviños (2010) destaca que a entrevista semi-estruturada é um dos instrumentos mais decisivos para estudar os processos e produtos nos quais está interessado o investigador qualitativo. A entrevista foi realizada no dia 03/03/2011, tendo sido usado gravador autorizado pelo entrevistado. O delineamento da pesquisa foi bibliográfico. “A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 168). Resultados - Apontamentos do Gestor do Campus Universitário de Gurupi Na entrevista realizada com o Diretor do Campus Universitário de Gurupi, quando questionado sobre dos modelos de governo existentes nas universidades públicas, o gestor do Campus de Gurupi afirma que deveria prevalecer um modelo de planejamento e distribuição de tarefas com avaliação de resultados. Atualmente, o modelo reinante é o colegiado, conforme dispõe a Lei de Diretrizes e Bases. Sobre os colegiados, o Diretor afirmou que o enxerga como entrave ao processo decisório ou meio de exercer a democracia e fiscalização. Assim, segundo ele, é um meio de exercer democracia e fiscalização quando os colegiados têm consciência da sua participação, atuando nos níveis que lhes cabe, não devem ser usados como órgãos representativos politicamente. Ressaltou o acreditar que por falta de leitura, ou por não quererem ver, influenciados pela vaidade, os componentes dos colegiados resolvem deliberar sobre assuntos que cabem somente ao Conselho Diretor do Campus. Nesse sentido, exemplificou que a escolha do perfil de docente a ser concursado, como o remanejamento destes, entre outros. Questionado se isso não devia ser política, respondeu que a política faz parte do indivíduo, e é bastante usada nas 14 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 universidades, se ela for bem relacionada é sadia, porém em outros momentos a política consegue desvirtuar os focos. Acerca do perfil dos dirigentes de instituições públicas, no sentido de conseguir dinamizar o processo de tal modo que alcance bons resultados, considera-se com este perfil, e disse possuir 14 anos de experiência em gestão, fez cursos específicos em gestão desde quando se confundia um bom professor com um bom gestor. Completou dizendo que para ser gestor tem que ter perfil e conhecer. Teve oportunidade de estudar, participar e implantar ações de gestão inovadora. Indagado sobre a superação dos atuais entraves burocráticos que o modelo de gestão impõe, devido à rigidez da legislação, disse ser preciso agir com agilidade, e não faz nada ilegal, pois sabe o perigo disso. Ressaltou se esforçar para tomar decisões e procurar alternativas que cheguem a resultados, mas nunca de forma que afronte a legislação. Acredita que os gestores precisam ser agentes de transformação, deu como exemplo a alteração do MEC quanto ao uso dos recursos financeiros, em que a sobra pode ser repassada ao ano seguinte. O mecanismo da mudança forçou a uma alteração sadia, que foi muito benéfica à instituição. Continuando a discussão sobre dirigentes com perfil inovador, que tenta facilitar os processos administrativos da UFT, o Diretor afirmou conhecer pessoas assim, em especial o Reitor, que possui perfil altamente inovador, que através das suas ações políticas conseguiu fazer com que a UFT tenha se tornado, apesar de ser a mais nova, a universidade federal que mais cresceu na região Norte do país. E conhece também diretores de Campus e coordenadores de cursos que buscam criar, facilitar a gestão, estando abertos a relacionar, a se colocar no lugar do outro, no sentido de superar os entraves burocráticos. Referente à complexidade, consoante a visão de Leitão (1987) que afirmou que pelo prisma organizacional, a universidade se caracteriza como a instituição de estrutura mais complexa da sociedade atual, questiona-se se a complexidade realmente atrapalha a gestão, ou é simplesmente o que caracteriza a universidade. E o entrevistado opinou dizendo que tudo que vem para desacelerar atrapalha, porque muitas colocações de setores, acerca de processos, não são condizentes com as legislações, ou com o andamento do processo. E desta forma, precisa haver uma ambientalização, conscientização, e até isso acontecer muito tempo passou e muitas coisas ocorreram. E reforça que o mais difícil da gestão é gerir pessoas, e mais do que isso, gerir pessoas é “gerir almas”. Então, a complexidade atrapalha sim, entretanto, tem seu lado positivo porque estimula o processo de discussão. 15 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 O Diretor afirmou que, hoje, a maior dificuldade em administrar uma universidade pública federal é o processo burocrático legislativo. Em especial na UFT, por possui estrutura multi campi, em que a concentração torna-se um entrave, e ressaltou o fato de a instituição, apesar dos sete campi, possui um único CNPJ, o que atrapalha sobremaneira o processo de compras, tendo em vista a Lei de Licitação. Disse que há uma urgência em criar saídas para diminuir as consequências disso. Segundo o entrevistado, outra variável importante é a frustração dos gestores e funcionários, que embora sejam pró-ativos, frente aos processos administrativos decorrente da própria lei, os procedimentos são taxativos e assim, sem embargo de realizarem suas funções, por vezes não vêem os resultados, e isso desestimula. Para o Diretor, o sistema brasileiro de gestão pública federal é muito rígido devido a real necessidade de fiscalização, porém acarreta uma morosidade nos processos administrativos, e não engloba as peculiaridades de uma universidade ou instituto de pesquisa. Sobre o paradoxo de as universidades produzirem inovações, e não conseguirem implementá-las na sua estrutura, disse ser resultado da Cultura organizacional, em que os formandos, sem ter foco específico, comporta-se de forma atrasada, com mente embotada. Destacou que alguns instrumentos como incubadoras de empresas, empresas juniores, podem estimular a percepção destes alunos, que dependem de uma metodologia de ensino que privilegie isso, pois sabe da importância disso para o país. Para modernizar-se e melhorar a gestão, pensando no âmbito de UFT, o Diretor indicou a necessidade de ter mais pessoas trabalhando com o Procurador Federal da instituição, porque há um número grande de processos, sendo que todos devem ter seu parecer, o que atrasa o andamento dos procedimentos, e até mesmo na perda de recursos pela demora. Outra sugestão é quanto aos procedimentos de compras, em que o sistema online conseguiu agilizar o trâmite das solicitações entre os setores pertinentes, porém, no fim do processo, que é a efetiva compra, tudo se afunila no CRM – Coordenação de Recursos Materiais, e que pela falta de pessoal, anda de forma muito lenta, trazendo muita insatisfação aos funcionários envolvidos, que são cobrados por resultados, como também, pela comunidade que prescinde dos produtos que seriam adquiridos. Uma saída para tal seria a descentralização dos processos de compra. Sobre a invasão das características de organizações do âmbito privado, na gestão pública, através do gerencialismo, vê de forma muito positiva, e acredita que deveria ocorrer 16 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 na forma de gratificar aqueles servidores produtivos, visando motivar e estimular os melhores a produzir cada vez mais. Em junho de 2010 a UFT Aderiu à GesPública, e o Diretor ressaltou que esta pode uma saída para superar ou alterar os atuais entraves da Gestão da UFT. Completou lembrando que no Brasil está acontecendo um fato importante: os servidores, de 10 anos para cá, são de alto nível, porque a concorrência foi maior. O Sistema Integrado Online de Gestão no Brasil é invejável e de altíssimo coeficiente, e pessoas de alto nível e com vontade, fazem a coisa acontecer, e completa “a ignorância atravanca o processo”. Para finalizar, o entrevistado citou as ações do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira -, no que concerne à avaliação, em que forçou as IES a se organizar dentro de uma visão gerencial, através de uma avaliação que categoriza a instituição em alguns itens. Tendo sido surpreendidas a IES montaram cada uma o seu PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional, forçando o planejamento para 5 anos sobre aquelas categorias, buscando se interar. Desta forma, o INEP iniciou o ciclo inversamente pela Avaliação, para depois Planejar. O Diretor acredita, então, que o Brasil, através do INEP, tem criado um ambiente altamente administrativo gerencial nas universidades, que antes não existia. Considerações finais Nota-se o esforço das instituições públicas, em especial as universidades, em romper com uma estrutura rígida que não contempla suas peculiaridades e necessidades. A modernização da gestão pública tem sido alvo de discussão, e acredita-se que este seja o primeiro passo rumo ao alcance de novas perspectivas, e futuramente, novas ações. Consoante a pesquisa realizada, confirmou-se a tendência atual e no Campus de Gurupi, sem embargo de enxergar os entraves da gestão pública atual, persiste na superação dos obstáculos através de ações inovadoras que são fomentadas pelos Gestores superiores e locais, resultado de discussões maduras e sadias. Cumpre salientar que um Gestor com perfil catalisador pode ser o grande diferencial no cenário das organizações públicas, pois através das suas iniciativas e conscientização dos demais atores, bons resultados podem ser alcançados. 17 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Ficou evidenciada a posição reinante do modelo de governo colegiado, e neste ponto, mais uma vez o Gestor tem papel de protagonista, visto que suas ações políticas podem influenciar no alcance ou não do consenso esperado nestes conselhos. Vê-se ainda que a autonomia das universidades é insuficiente tendo em vista o engessamento resultante do excesso de rigidez advindo do modelo burocrático. Desta forma, somente através de ações articuladas das Universidades do país, é que elas conseguirão fazer com que os resultados das discussões chegam ao Poder Legislativo, a quem cabe alterar tais normas que conduzem a gestão atual. Destarte, possível constatar que discussão, planejamento e inovação são as palavraschave neste momento em que todas as instituições procuram alcançar resultados cada vez melhores. Em face das discussões propostas no artigo, esperou-se entender os obstáculos que as universidades federais enfrentam na sua gestão e apontar possíveis soluções para superar tais entraves, através da implantação de processos mais dinâmicos. Referências ARAÚJO, Walber Jericó Rodrigues. O papel das práticas de Gestão Estratégica no processo de mudança e modernização de uma Organização Pública Federal. Monografia. Faculdade de Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação. Universidade de Brasília, Distrito Federal, 2008. BALDRIDGE, J. Vitor... [et al] Estruturação e políticas de uma liderança eficaz no ensino superior. México: Noema, 1982. BERNARDES, José Francisco. Desafios das Universidades Empreendedoras: Universidade Tradicional X Universidade Corporativa, 2006. 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