Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Bernardo Corrêa Henriques Frère Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Orientador: Vogais: Professor Doutor José Manuel Matos Noronha da Câmara Professor Doutor Francisco Baptista Esteves Virtuoso Professor Doutor Luís Manuel Coelho Guerreiro Novembro 2012 Agradecimentos Agradeço ao Prof. Francisco Virtuoso a sua orientação na elaboração desta dissertação, a disponibilidade que demonstrou nas minhas vindas a Lisboa durante o meu programa Erasmus e o acompanhamento ao longo dos últimos meses de realização deste trabalho. Deixo, também, uma palavra de apreço às pessoas que me ajudaram durante a minha estadia em Lausanne. Em particular ao Prof. Pierino Lestuzzi por toda a bibliografia fornecida e ao Eng. Francisco Natário pela imensa ajuda na realização do programa de cálculo de secções. Agradeço, também, à Dra. Ema Coelho por toda a bibliografia fornecida e pelos conselhos para a realização deste trabalho. Por fim, queria agradecer à minha família e a todos os meus amigos. Foram muito importantes pois muito me ajudaram na elaboração desta dissertação, quer no incentivo e apoio quer na revisão do trabalho. i Resumo Este trabalho insere-se no domínio da análise sísmica de pontes e pretende avaliar a utilização de análises estáticas não lineares, também designadas por metodologias pushover. Neste trabalho, só é estudada a aplicação de análises pushover para pontes correntes na sua direcção longitudinal. Desenvolve-se um modelo para o comportamento não linear de estruturas de forma a obter a curva de capacidade – relação entre a força aplicada e o deslocamento – dos pilares de pontes. O modelo desenvolvido concentra a plasticidade numa determinada zona do elemento estrutural, introduzindo o conceito de rótula plástica. A rigidez elástica do pilar é determinada considerando a secção fendilhada e as características médias dos materiais. Na determinação do momento resistente, utilizamse as relações constitutivas apresentadas no Eurocódigo 2 para a determinação do momento máximo permitido. São apresentadas as principais metodologias para a análise estática não linear de estruturas correntes de pontes. Das metodologias apresentadas, utilizam-se nesta dissertação o Método do Espectro de Capacidade e a metodologia proposta no EC8-2. Por fim, aplicam-se ambas as metodologias e são comparados os resultados com os obtidos por uma análise dinâmica não linear. Mais precisamente, analisam-se os resultados para pilares isolados e para pórticos planos. Neste ponto estuda-se a influência do período de vibração e da regularidade da estrutura. Por último, analisaramse duas estruturas de pontes na direcção longitudinal. Palavras-chave: pushover, deslocamento, rótula plástica, capacidade, estática ii Abstract This thesis belongs to the field of seismic analysis of bridge structures and intends to evaluate the use of static non linear analysis, also known as pushover. This work only deals with pushover analysis in the longitudinal direction of regular bridges. A plastic hinge model is developed to represent the non-linear behavior of structures and, therefore, obtain the capacity curve of bridge piers. The elastic stiffness of each pier is obtained thru the mean values of its material properties. However, the resistant moment is computed using the design values to limit the moment to its maximum allowed by Eurocode 2. The major methodologies for non linear static analysis of bridges are then presented. Of those, the Capacity Spectrum Method and the methodology suggested in EC8-2 are used. Finally, the results obtained with the above pushover methodologies are compared with those obtained with a non linear dynamic analysis. Both isolated piers and two pier frames results’ are analyzed. The influence of the structure’s dynamic period as well as the influence of the structure’s irregularity is evaluated. To close, the pushover analysis of two bridges is carried in their longitudinal direction. Keywords: pushover, displacement, plastic hinge, capacity, static iii Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Índice Agradecimentos ............................................................................................................. i Resumo ......................................................................................................................... ii Abstract ....................................................................................................................... iii Índice ........................................................................................................................... iv Lista de Figuras........................................................................................................... vii Notação ........................................................................................................................ x 1. 2. Introdução ............................................................................................................. 1 1.1 Enquadramento e objectivo da dissertação ...................................................... 1 1.2 Estrutura da dissertação .................................................................................. 2 Análise Sísmica de Estruturas................................................................................ 5 2.1 Conceitos de Dinâmica de Estruturas .............................................................. 5 2.1.1 Equação de Equilíbrio Dinâmico .............................................................. 5 2.1.2 Sistemas com Vários Graus de Liberdade – Análise Modal ...................... 6 2.1.3 Consideração do Amortecimento para a Análise Modal ........................... 9 2.2 Análise Sísmica ............................................................................................ 10 2.2.1 Modelação da Acção Sísmica: Aceleração da Base ................................ 10 2.2.2 Conceitos de Modelação da Acção Sísmica em Pontes ........................... 11 2.2.3 Diferentes Abordagens para a Análise Sísmica de Estruturas. ................ 13 2.3 Métodos de Análise Sísmica ......................................................................... 16 2.3.1 Coeficiente de comportamento ............................................................... 16 2.3.2 Espectros de Resposta ............................................................................ 18 2.3.3 Método das Forças Laterais Equivalentes ............................................... 21 2.3.4 Análise Modal por Espectro de Resposta ............................................... 22 2.3.5 Análise Estática não Linear .................................................................... 24 2.3.6 Análise Dinâmica não Linear – Time-History Analysis ........................... 26 iv Índice 3. Análise Fisicamente Não-Linear .......................................................................... 27 3.1 Relações Constitutivas dos Materiais ................................................................. 28 3.1.1 Relação Constitutiva para o Aço ................................................................. 28 3.1.2 Características do aço para armaduras ......................................................... 29 3.1.3 Relações Constitutivas para o Betão ........................................................... 30 3.1.4 Características do betão .............................................................................. 32 3.2 Relação Momento-Curvatura ............................................................................. 33 3.3 Diagrama Momento-Curvatura Simplificado ..................................................... 35 3.4 Relação Momentos-Rotações............................................................................. 39 3.4.1 Determinação da rotação na cedência.......................................................... 40 3.4.2 Determinação da rotação na rotura .............................................................. 41 3.4.3 Relação Momento-Rotação ......................................................................... 44 3.5 Curva de Capacidade de Pilares ......................................................................... 44 4. Análise Pushover de Estruturas de Pontes ........................................................... 47 4.1 4.1.1 Metodologia aconselhada no EC8-2 ....................................................... 47 4.1.2 Método N2, proposto para edifícios no EC8-1 ........................................ 51 4.1.3 Método do Espectro de Capacidade ....................................................... 57 4.2 5. Metodologias para a análise pushover de pontes............................................ 47 Determinação da curva de capacidade de um pórtico plano ........................... 62 Análise Pushover – Aplicações ........................................................................... 65 5.1 Preparação da análise .................................................................................... 66 5.1.1 Definição da acção sísmica .................................................................... 66 5.1.2 Programas de cálculo para a análise pushover ........................................ 69 5.1.3 Programa de cálculo para a análise dinâmica não linear ......................... 69 5.2 Análise de um pilar isolado ........................................................................... 72 5.2.1 Apresentação da análise .............................................................................. 72 5.2.2 Análise de resultados .................................................................................. 73 v Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 5.3 5.3.1 Apresentação da análise ......................................................................... 77 5.3.2 Análise de resultados ............................................................................. 80 5.4 Análise de uma ponte real ............................................................................. 83 5.4.1 Análise de resultados para o Modelo 1 ( ) .............................. 84 5.4.2 Análise de resultados para o Modelo 2 ( ) .............................. 86 5.5 6. Análise de um pórtico plano .......................................................................... 77 Análise da influência da rigidez pós-cedência ............................................... 87 5.5.1 Apresentação da análise ......................................................................... 88 5.5.2 Análise de resultados ............................................................................. 90 Conclusões e Desenvolvimentos Futuros ............................................................. 95 Referências ............................................................................................................... 100 Bibliografia ............................................................................................................... 101 Anexos........................................................................................................................... I Anexo 1: Características dos pilares analisados em 5.2 ............................................. II Anexo 2: Resultados da análise a pilares isolados .................................................... III Anexo 3: Valores da curva de capacidade de cada pórtico plano ............................... V Anexo 4: Resultados da análise a pórticos planos .................................................... VI Anexo 5: Características dos pilares das pontes analisadas em 5.4 .......................... IX Anexo 6: Resultados da análise sobre influência da rigidez pós-cedência ................. X vi Lista de Figuras Lista de Figuras Figura 2.1 Decomposição do deslocamento absoluto ................................................... 10 Figura 2.2 Princípio da igualdade de deslocamentos .................................................... 15 Figura 2.3 Princípio da igualdade de energias.............................................................. 17 Figura 2.4 Coeficientes de comportamento e ductilidade ............................................. 18 Figura 2.5 Espectro elástico de acelerações pelo EC8-1............................................... 20 Figura 2.6 Espectros de dimensionamento para diferentes coeficientes de comportamento ........................................................................................................... 21 Figura 3.1 Procedimento para modelar o comportamento da estrutura ......................... 27 Figura 3.2 Relação constitutiva elásto-plástica para o aço............................................ 28 Figura 3.3 Relação constitutiva com endurecimento para o aço ................................... 29 Figura 3.4 Relação constitutiva linear para o betão ...................................................... 30 Figura 3.5 Relação constitutiva k-η para o betão ......................................................... 31 Figura 3.6 Relação parábola-rectângulo para o betão ................................................... 32 Figura 3.7 Simplificação do diagrama .............................................................. 36 Figura 3.8 Simplificação do diagrama com áreas iguais (recomendação do EC8-2) ..... 36 Figura 3.9 Método utilizado para obter o digrama simplificado ........................ 38 Figura 3.10 Fluxograma do procedimento utilizado para obter a relação MomentosCurvaturas simplificada .............................................................................................. 38 Figura 3.11 Deslocamento obtido por soma do deslocamento devido à flexão elástica da barra e do deslocamento devido à rotação da rótula plástica ........................................ 39 Figura 3.12 Rotação da corda ...................................................................................... 40 Figura 3.13 Cedência da secção de encastramento ....................................................... 41 Figura 3.14 Modelo de rótula plástica ......................................................................... 42 Figura 3.15 Rotação da rótula plástica ......................................................................... 43 Figura 3.16 Exemplo de uma relação Momento-Rotação ............................................. 44 Figura 3.17 Exemplo de uma curva de capacidade ...................................................... 45 Figura 3.18 para um pilar perfeitamente encastrado no tabuleiro ............................ 46 Figura 4.1 Ponte irregular onde não é possível aplicar a metodologia do EC8-2 na direcção transversal ..................................................................................................... 50 Figura 4.2 Espectro de resposta no formato ADRS....................................................... 54 vii Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 4.3 Oscilador que permanece em regime elástico ............................................. 55 Figura 4.4 Determinação de quando é válido o principio de igualdade de deslocamentos............................................................................................................. 55 Figura 4.5 Determinação de quando não é válido o principio de igualdade de deslocamentos............................................................................................................. 56 Figura 4.6 Espectro de Capacidade e simplificação bilinear de acordo com o ATC-40 58 Figura 4.7 Definição de e para a determinação do amortecimento viscoso equivalente.................................................................................................................. 60 Figura 4.8 Processo iterativo para determinação do ponto de desempenho sísmico ...... 62 Figura 4.9 Pórtico plano .............................................................................................. 63 Figura 4.10 Curva de capacidade de um pórtico e dos seus pilares .............................. 64 Figura 5.1 Secção em caixão utilizada ......................................................................... 66 Figura 5.2 Diferenças entre coeficiente de comportamento e coeficiente de ductilidade em força ................................................................................................................... 67 Figura 5.3 Processo para utilização dos programas de cálculo para as análises estáticas não lineares ................................................................................................................. 69 Figura 5.4 Modelo de pórtico para a análise dinâmica não linear em SAP2000 ............ 70 Figura 5.5 Amortecimento de Rayleigh ....................................................................... 71 Figura 5.6 Modelo para a análise de um pilar isolado .................................................. 72 Figura 5.7 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. Figura 5.8 Método do Espectro de Capacidade (CSM) para Figura 5.9 Variação do ........... 74 ............................... 74 no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. ........... 75 Figura 5.10 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. ......... 75 Figura 5.11 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. ......... 76 Figura 5.12 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. ......... 76 Figura 5.13 Comparação do valor do para o CSM para diferentes valores de - pilar isolado ................................................................................................................ 77 Figura 5.14 Modelo de pórtico plano ........................................................................... 78 Figura 5.15 Curva de capacidade de um pórtico de dois pilares ................................... 79 Figura 5.16 Variação do no cálculo do deslocamento. Pórtico plano. ........ 80 Figura 5.17 Variação do no cálculo do deslocamento. Pórtico plano. ........ 81 Figura 5.18 Variação do no cálculo do deslocamento pelo CSM. Diferentes valores de . Pórtico plano 1,2 .......................................................................................... 82 viii Lista de Figuras Figura 5.19 Variação do no cálculo do deslocamento pela metodologia do EC8-2. Diferentes valores de . Pórtico plano 1,2 ............................................................. 83 Figura 5.20 Representação do modelo das pontes estudadas ........................................ 83 Figura 5.21 Deslocamentos do topo de cada pilar pelos vários métodos utilizados. Modelo 1 ( )................................................................................................. 86 Figura 5.22 Deslocamentos do topo de cada pilar pelos vários métodos utilizados. Modelo 2 ( )................................................................................................... 87 Figura 5.23 Influência da rigidez pós-cedência ............................................................ 90 Figura 5.24 Análise da influência da rigidez pós-cedência de um pórtico nos deslocamentos obtidos por uma análise dinâmica e pela metodologia do EC8-2 .......... 91 Figura 5.25 Erros da metodologia do EC8-2 relativamente à análise dinâmica para diferentes valores de .............................................................................................. 92 Figura 5.26 Deslocamentos do CSM e comparação com o deslocamento obtido por uma análise dinâmica com ................................................................................ 93 Figura 5.27 Diferença relativa dos deslocamentos do CSM para várias rigidezes póscedência ...................................................................................................................... 93 Figura 5.28 Erros da metodologia CSM relativamente à análise dinâmica com ............................................................................................................................ 94 Figura 6.1 Evolução do com o período de vibração. Pórtico plano . ................................................................................................................................... 97 ix Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Notação Lista de abreviaturas ADNL Análise Dinâmica Não Linear CQC Combinação Quadrática Completa CSM Método do Espectro de Capacidade (Capacity Spectrum Method) EC2 EN 1992 EC8-1 EN 1998-1 EC8-2 EN 1998-2 SRSS Square Root of the Sum of the Squares Lista de variáveis Capítulo 2 Secção 2.1 coeficiente de amortecimento rigidez o sistema massa do oscilador força aplicada deslocamento velocidade aceleração d coeficiente de amortecimento relativo frequência angular matriz de amortecimento matriz de rigidez x Notação matriz de massa matriz modal vector de deslocamentos vector de acelerações vector de deslocamentos modais Secção 2.2 deslocamento absoluto deslocamento da base deslocamento relativo Secção 2.3 aceleração do solo para um terreno do tipo A massa modal efectiva do modo coeficiente de comportamento S coeficiente de solo espectro elástico de acelerações espectro de dimensionamento espectro de deslocamentos espectro elástico de acelerações período de vibração limite inferior do patamar com aceleração constante limite superior do patamar com aceleração constante limite inferior do patamar com deslocamento constante coeficiente de correcção de amortecimento factor de participação do modo vector unitário xi Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Capítulo 3 Secção 3.1 módulo de elasticidade do betão valor de cálculo do módulo de elasticidade do betão valor médio do módulo de elasticidade do betão tensão máxima no betão valor de cálculo da tensão máxima no betão valor médio da tensão máxima no betão tensão de cedência para o aço valor de cálculo para a tensão de cedência do aço extensão axial extensão no betão extensão quando o betão atinge a sua tensão máxima (relação k-η) extensão quando o betão atinge a sua tensão máxima (diagrama parábolarectangulo) extensão última (diagrama parábola- rectangulo) valor da extensão última do aço factor parcial de segurança para o betão tensão axial tensão no betão Secção 3.2 área da secção de betão área de uma fibra de aço momento momento flector resultante das tensões aplicadas no betão momento flector calculado na iteração xii Notação momento flector resultante das tensões aplicadas nas armaduras esforço normal esforço normal aplicado na secção esforço normal resultante das tensões aplicadas no betão esforço normal calculado na iteração esforço normal resultante das tensões aplicadas nas armaduras distância entre a fibra de betão e o centro de gravidade ao longo do eixo z distância entre o varão e o centro de gravidade ao longo do eixo z extensão na j-ésima armadura extensão na i-ésima fatia de betão extensão no centro de gravidade da secção curvatura curvatura na iteração Secção 3.3 rigidez elástica fendilhada da secção rigidez pós-cedência da secção momento de cedência momento que se obtém a partir do ponto ( rigidez pós-cedência, ) considerando que a , é igual a 1% da rigidez momento flector quando a primeira fibra de betão atinge o valor característico da sua resistência momento de rotura curvatura de cedência curvatura de rotura xiii Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Secção 3.4 deslocamento na cedência deslocamento devido à rotação plástica comprimento da barra comprimento da rótula plástica distância entre a secção de encastramento e a secção de momento flector nulo factor parcial de segurança para a rotação plástica rotação rotação na cedência rotação plástica na rotura valor de cálculo da rotação plástica na rotura rotação na rotura Secção 3.5 deslocamento deslocamento na cedência deslocamento na rotura força na cedência força na rotura Capítulo 4 Secção 4.1 aceleração na intercepção entre o espectro de resposta e o espectro de capacidade deslocamento deslocamento do oscilador de um grau de liberdade equivalente deslocamento elástico do oscilador de um grau de liberdade equivalente xiv Notação deslocamento na intercepção entre o espectro de resposta e o espectro de capacidade deslocamento obtido na iteração deslocamento objectivo na direção longitudinal deslocamento objectivo na direção transversal deslocamento na cedência do oscilador de um grau liberdade equivalente energia dissipada no ciclo histerético energia de deformação elástica linear para o deslocamento acção sísmica na direcção longitudinal acção sísmica na direcção transversal força aplicada força aplicada força aplicada no sistema de um grau de liberdade equivalente força na cedência do oscilador de um grau liberdade equivalente rigidez massa massa do sistema de um grau de liberdade equivalente factor de ductilidade em força para o sistema de um grau de liberdade equivalente aceleração espectral elástica aceleração espectral corrigida espectro de deslocamentos deslocamento espectral corrigido período de vibração período do oscilador de um grau de liberdade equivalente limite inferior das acelerações decrescentes de acordo com o espectro do EC8-1 amortecimento viscoso efectivo xv Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear amortecimento viscoso factor de correcção do amortecimento factor de transformação amortecimento viscoso equivalente ao amortecimento histerético frequência própria do sistema Capítulo 5 Secção 5.1 aceleração do solo para um terreno do tipo A segundo o EC8-1 aceleração de pico no solo area total de armadura força que provoca a primeira cedência força devida à acção sísmica para um oscilador elástico massa do sistema S coeficiente de solo segundo o EC8-1 aceleração espectral período de vibração limite inferior do patamar com aceleração constante limite superior do patamar com aceleração constante limite inferior do patamar com deslocamento constante coeficiente de ductilidade em força matriz de amortecimento matriz de rigidez matriz de massa xvi Notação Secção 5.2 deslocamento objectivo deslocamento na cedência rigidez da secção altura do pilar Secção 5.3 altura do pilar mais curto altura do pilar mais comprido relação entre e Secção 5.5 rigidez elástica fendilhada de uma secção rigidez pós-cedência de uma secção força exercida no topo do pilar numa análise elástica força obtida no topo do pilar tendo em conta o comportamento não linear do elemento rigidez elástica fendilhada do pilar rigidez pós-cedência do pilar relação entre a rigidez pós-cedência e a rigidez elástica do pilar relação entre a rigidez pós-cedência e a rigidez elástica de uma secção coeficiente de comportamento xvii Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 1. Introdução 1.1 Enquadramento e objectivo da dissertação Este trabalho surge no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil e insere-se no domínio da análise sísmica de pontes. Em países com sismicidade elevada, como é o caso de Portugal, é de grande importância o dimensionamento sísmico de estruturas, em particular das estruturas de pontes pois, para além de estarem em causa elevados custos financeiros, estas podem ser elementos chave no sistema de vias de comunicação. A regulamentação actual, em particular o Eurocódigo 8-2, propõe vários métodos para a análise sísmica de pontes. No entanto, na prática corrente de projecto em Portugal, a análise da estrutura à acção sísmica é efectuada através de uma análise modal, assumindo um comportamento linear, recorrendo a espectros de resposta. No entanto, em casos de maior complexidade recorre-se a uma análise dinâmica não linear. Este método é computacionalmente muito exigente quando comparado com uma análise linear, mas tem em conta o comportamento não linear da estrutura ao longo do tempo, pelo que é considerado o que melhor representa o comportamento real da estrutura. Em determinadas condições é possível utilizar um método que se pode assumir como de nível intermédio – computacionalmente menos exigente do que uma análise ao longo do tempo e que tenha em conta o comportamento não linear – baseado numa análise estática não linear também designada por análise pushover, cuja utilização é também admitida no Eurocódigo. Neste sentido surge a presente dissertação cujos principais objectivos são: apresentar um procedimento para efectuar a análise pushover de pontes correntes na direcção longitudinal; e de comparar os seus resultados com os obtidos por uma análise linear por espectros de resposta e com os obtidos por uma análise dinâmica não linear. Desta forma, o principal objectivo deste trabalho é avaliar a análise pushover, em termos de facilidade de implementação e de precisão nos resultados, face aos métodos mais utilizados na prática corrente de projecto. 1 Capítulo 1 - Introdução 1.2 Estrutura da dissertação A presente dissertação está organizada em seis capítulos, incluindo os capítulos de introdução e de conclusão. Nos parágrafos seguintes, descreve-se de forma sucinta o conteúdo de cada um deles, com excepção deste primeiro. No capítulo 2 apresentam-se os conceitos gerais da dinâmica de estruturas e a sua aplicação para análise sísmica. Abordam-se os conceitos de base para os estudos realizados e apresentados no âmbito desta dissertação, nomeadamente os conceitos relativos a métodos baseados em forças e de ductilidade em força e métodos baseados em deslocamentos, o conceito de coeficiente de comportamento e o de espectro de resposta. Por fim, apresentam-se os diferentes métodos de análise sísmica dando particular relevo ao método alvo deste trabalho, a análise estática não linear, ou pushover. O capítulo 3 trata o comportamento fisicamente não linear das estruturas. Uma vez que o pushover tem em conta o comportamento não linear este capítulo revela-se essencial, pois apresenta uma forma para modelar o comportamento não elástico: o modelo de rótula plástica. Apresenta-se, em particular, o processo de cálculo para modelar o comportamento fisicamente não linear de secções de betão armado. No capítulo 4 apresentam-se diferentes metodologias para efectuar uma análise estática não linear de uma ponte no sentido longitudinal. São explicadas as metodologias previstas na norma europeia – uma preconizada no EC8-1 para estruturas de edifícios e outra proposta no EC8-2 para pontes – e o Método do Espectro de Capacidade, ou CSM (Capacity Spectrum Method). É dada particular enfâse à metodologia proposta pelo EC8-2 e ao CSM pois são utilizadas nos capítulos seguintes. No capítulo 5 apresentam-se os aspectos principais desta dissertação tendo em conta os seus objectivos. Apresentam-se os resultados das análises estáticas não lineares efectuadas pela metodologia do EC8-2 e pelo CSM para vários tipos de estruturas e comparam-se os resultados com os obtidos por uma análise dinâmica não linear. Começa-se por estudar o caso mais simples de um pilar isolado com diferentes alturas, de forma a analisar a influência do período de vibração. Numa segunda fase analisam-se estruturas de pórtico plano, variando o período de vibração e a regularidade da estrutura – medida através da relação entre a altura dos pilares. Numa terceira fase, efectuam-se análises estáticas não lineares a duas estruturas de pontes baseadas em casos reais para, por fim, se estudar a influência da rigidez pós-cedência. 2 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear No sexto e último capítulo apresentam-se as principais conclusões do trabalho desenvolvido. Referem-se, também, algumas propostas de desenvolvimento ou de outros possíveis estudos no âmbito do tema desta dissertação. 3 4 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 2. Análise Sísmica de Estruturas Neste capítulo abordam-se os conceitos gerais da dinâmica de estruturas e a sua aplicação para a análise sísmica. De seguida, é tratada a questão da resposta não linear das estruturas submetidas à acção sísmica e, por fim, apresentam-se os principais métodos de análise e são discutidas as diferenças entre cada um deles. 2.1 Conceitos de Dinâmica de Estruturas A acção sísmica é uma acção dinâmica que se traduz por uma aceleração do solo. Por esta razão, são primeiro apresentados os conceitos básicos de dinâmica que, posteriormente, são adaptados para a análise sísmica de estruturas. Começa-se por apresentar as equações que regem a dinâmica de um oscilador de um grau de liberdade, sendo depois explicados os conceitos relativos a osciladores com vários graus de liberdade, nomeadamente através da análise modal. 2.1.1 Equação de Equilíbrio Dinâmico Qualquer problema de equilíbrio dinâmico é regido pela equação fundamental da dinâmica que, no caso de um oscilador de um grau de liberdade pode ser escrita da seguinte forma: (2.1) em que: é o deslocamento do oscilador no instante respectivamente, a primeira e segunda derivada de , e são, em ordem ao tempo, ou seja, a velocidade e a aceleração no instante . Trata-se, portanto, de uma equação diferencial. é a massa do oscilador é o coeficiente de amortecimento é a rigidez do sistema para o deslocamento correspondente ao grau de liberdade 5 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas é a força aplicada ao sistema no instante A solução geral da equação diferencial é composta pela soma da solução da equação homogénea, , com a solução da equação particular, . A solução da equação homogénea é designada por regime transitório uma vez que o efeito do amortecimento a leva a atenuar-se ao longo do tempo. Já a solução da equação particular é designada por regime permanente. A equação fundamental da dinâmica pode, também, ser escrita na seguinte forma: (2.2) em que: é a frequência angular do oscilador quantifica o amortecimento amortecimento relativo como Quando definindo-se o coeficiente de . , o amortecimento é designado por amortecimento crítico e a resposta em regime livre do sistema deixa de ter carácter oscilatório. Na maioria dos casos da dinâmica estrutural o amortecimento é pequeno ( ) pelo que a resposta em regime livre é sempre oscilatória e, de acordo com [CLOUGH & PENZIEN, 2003], a frequência amortecida pode ser considerada igual à frequência não amortecida, . 2.1.2 Sistemas com Vários Graus de Liberdade – Análise Modal A equação 2.1 pode ser escrita de forma análoga no caso de se tratar de um sistema com graus de liberdade: (2.3) em que: é o vector deslocamento. Cada elemento do vector corresponde ao deslocamento de um determinado grau de liberdade é o vector de forças aplicadas em cada grau de liberdade 6 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear é a matriz de massa do sistema é a matriz de amortecimento é a matriz de rigidez Desta forma, a resposta do sistema é obtida através da resolução de um sistema de equações diferenciais. Enquanto a matriz de massa, matriz de rigidez, , raramente o é. Ao considerar , é geralmente diagonal, a diagonal supõe-se que uma aceleração num dado grau de liberdade apenas provoca forças de inércia nesse mesmo grau de liberdade – desprezando, assim, os termos cruzados – o que só é válido se a massa se concentrar nos nós, o que pressupõe uma discretização finita da estrutura. Consequentemente, a equação 2.3 é um sistema de equações diferenciais dependentes, sendo a sua resolução bastante complexa. No caso de um sistema com uma relação constitutiva elástica linear, em que é válido o princípio de sobreposição, o problema pode ser resolvido recorrendo à análise modal. A análise modal permite transformar a equação 2.3 num sistema de equações independentes através de uma mudança de variáveis. O sistema de equações é resolvido não em função dos deslocamentos de cada grau de liberdade mas em função dos deslocamentos modais, como se explicará de seguida. Uma vez que se obtém um sistema de equações independentes, o problema transforma-se, passando a ser necessário resolver apenas cada equação uma a uma, como foi abordado em 2.1.1. Considere-se a equação da dinâmica para um sistema com graus de liberdade, desprezando o amortecimento e não considerando forças exteriores: (2.4) A partir dos resultados obtido para a análise de um sistema com um grau de liberdade, a solução da equação 2.4 é da forma: (2.5) Pelo que pode ser escrita na seguinte forma: (2.6) Este sistema de equações só tem solução não trivial no caso do determinante da matriz ser nulo. Desta forma, a resolução de um problema dinâmico 7 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas passa pela resolução de um problema de valores e vectores próprios. Cada vector próprio corresponde a uma dada configuração deformada da estrutura, ou seja, a um modo próprio de vibração. Existem tantos modos de vibração como graus de liberdade. Cada valor próprio corresponde à frequência de vibração, , do modo de vibração correspondente. É de notar que a amplitude dos modos de vibração é indeterminada: a resolução do problema de vectores e valores próprios só permite obter a configuração da deformada em cada modo mas não a sua amplitude. Consequentemente, cada vector modal poderá ser normalizado, sendo livre o critério de normalização a utilizar. Um aspecto fundamental da análise modal, que lhe confere toda a sua utilidade, é a ortogonalidade dos modos de vibração em relação à matriz de massa e à matriz de rigidez. Os vectores modais são uma base possível do espaço de deformadas do sistema com graus de liberdade. Como consequência da ortogonalidade, ao efectuar a mudança de variáveis para coordenadas modais, obtêm-se a matriz de massa modal, , e a matriz de rigidez modal, , ambas diagonais: (2.7) (2.8) em que é a matriz modal, matriz cujas colunas são os vectores próprios da matriz , ou seja, os modos de vibração. Como foi referido anteriormente, a análise modal permite transformar um sistema de equações dependentes num sistema de equações independentes, como se demonstra de seguida. Não considerando o amortecimento, tem-se a equação inicial: (2.9) O vector de deslocamentos, (para esta demonstração, será omitida a variação temporal dos deslocamentos), pode ser escrito a partir do vector deslocamento em coordenadas modais através da seguinte mudança de variáveis: (2.10) Desta forma, a equação 2.9 pode ser escrita na forma: (2.11) Multiplicando os dois lados da equação por obtém-se: (2.12) 8 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Ou seja, (2.13) Uma vez que as matrizes e são diagonais, a equação 2.13 corresponde a um sistema de equações independentes pelo que cada equação pode ser resolvida separadamente, como se de um sistema de um grau de liberdade se tratasse. Obtém-se, assim, a solução do sistema em coordenadas modais, , pelo que a solução do problema em coordenadas iniciais pode ser obtida pela seguinte mudança de coordenadas: (2.14) 2.1.3 Consideração do Amortecimento para a Análise Modal Na secção anterior, em que se apresentaram os fundamentos da análise modal, não foi considerado o amortecimento. Tal como a massa e a rigidez, o efeito do amortecimento é representado por uma matriz, a matriz de amortecimento . De um ponto de vista formal, existem dois tipos de amortecimento: o amortecimento clássico e o amortecimento não clássico. O primeiro acontece quando a matriz de amortecimento modal, , é diagonal. Nessas condições, tal como para o sistema não amortecido, obtém-se um sistema de equações independentes. Porém, no caso do amortecimento não clássico, a matriz não é diagonal, pelo que o sistema obtido tem termos cruzados e a sua resolução é complexa. De um ponto de vista prático, pode definir-se a matriz de amortecimento, , como uma combinação linear das matrizes de massa e de rigidez: (2.15) Uma vez que as matrizes coordenadas, sistema de e são ambas diagonais após a mudança de também o será e, consequentemente, a análise modal permite obter um equações de um grau de liberdade. Este tipo de amortecimento é designado de amortecimento de Rayleigh e corresponde a impor que os modos de vibração dos sistema amortecido sejam os mesmos que os do sistema não amortecido. 9 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas 2.2 Análise Sísmica Nesta secção são aplicados os conceitos gerais da dinâmica estrutural para a análise sísmica de pontes. Numa primeira fase introduz-se a acção sísmica em termos conceptuais para a resolução da equação diferencial da dinâmica (equação 2.1), e a correspondente aplicação para estruturas de pontes. Por fim, apresentam-se as diferentes abordagens para a análise sísmica de estruturas, nomeadamente a consideração do comportamento não linear e a distinção entre métodos baseados em forças e métodos baseados em deslocamentos. 2.2.1 Modelação da Acção Sísmica: Aceleração da Base A acção sísmica corresponde a uma aceleração da fundação da estrutura, que varia ao longo do tempo. É esta solicitação que irá fazer oscilar a estrutura, deformandoa, criando forças internas devido à sua rigidez e provocando forças de inércia sobre os diversos graus de liberdade. Para introduzir a aceleração do solo na equação diferencial da dinâmica, é necessário separar o deslocamento nas suas duas componentes: o deslocamento da base, , e o deslocamento relativo da estrutura em relação ao solo, , como apresentado na Figura 2.1. Tem-se, então: (2.16) Figura 2.1 Decomposição do deslocamento absoluto Consequentemente, têm-se as relações análogas para a velocidade e a aceleração: 10 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear (2.17) (2.18) As forças internas devidas ao amortecimento e à rigidez só dependem dos valores relativos da velocidade e do deslocamento. Já as forças de inércia dependem da aceleração total do oscilador. Consequentemente, para uma aceleração na base , a equação fundamental da dinâmica pode ser escrita na forma: (2.19) pelo que se tem, analogamente à equação 2.1: (2.20) Esta carregamento equação considera que a estrutura está submetida a um , pelo que se trata de um problema análogo ao apresentado na secção 2.1.1. Por simplicidade, será omitido o índice para o resto do estudo. A equação 2.20 pode ser generalizada para um sistema com múltiplos graus de liberdade: (2.21) em que cada componente do vector toma o valor unitário apenas quando o grau de liberdade correspondente tem a direcção da aceleração do solo considerada, uma vez que alguns graus de liberdade podem não ser excitados. 2.2.2 Conceitos de Modelação da Acção Sísmica em Pontes Nesta secção são apresentados os conceitos básicos da análise sísmica de estruturas de pontes e apresentadas as hipóteses efectuadas nesta dissertação. Conceptualmente, o modelo da ponte e a escolha dos graus de liberdade deverá representar a distribuição da rigidez e da massa de tal forma que os principais modos de deformação e as principais forças de inércia sejam representados. O comportamento dinâmico de pontes aproximadamente rectas deve ser estudado em duas direcções ortogonais: a direcção longitudinal e a direcção transversal. A direcção longitudinal é definida como a linha que une as duas secções extremas da ponte; a direcção transversal é definida como sendo ortogonal à direcção longitudinal. O comportamento dinâmico de pontes na direcção vertical, devido a acelerações verticais da base, é geralmente desprezado. 11 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas Para pontes rectilíneas, ou de curvatura desprezável, o comportamento em cada uma das direcções pode ser estudado separadamente. Isso significa que, para efeitos de modelação, quando a ponte é solicitada numa dessas direcções a resposta só se dá nessa mesma direcção. Um aspecto particular das pontes é que, pela sua extensão, os diferentes pilares podem ser submetidos a acelerações do solo diferentes. Porém, de forma simplificada, é costume desprezar este efeito e considerar uma única acção sísmica. Nas pontes correntes, e dado o seu comprimento limitado, o tabuleiro apresenta uma grande rigidez axial face à rigidez de flexão dos pilares. Isto tem por consequência que quaisquer dois pontos do tabuleiro tenham aproximadamente o mesmo deslocamento na direcção axial. Considera-se, então, que uma estrutura de ponte rectilínea sem apoio fixo tenha um só grau de liberdade na direcção longitudinal. Nessas condições, a rigidez da estrutura é-lhe conferida pela rigidez de flexão dos pilares no caso da ligação destes ao tabuleiro não ser com apoio deslizante. Tem-se, então: (2.22) O comportamento da ponte, nomeadamente ao nível da distribuição de esforços, pode também ser influenciado por uma eventual força de atrito devida aos aparelhos de apoio nos pilares e nos encontros ([ARRIAGA E CUNHA. 2011]). Porém, na prática, esta componente é desprezada. Na direcção transversal, o comportamento dinâmico da ponte é mais complexo e dependente de várias características da estrutura, nomeadamente do número e localização dos pilares, do comprimento da ponte e da rigidez do tabuleiro à flexão transversal e, eventualmente, à torção. No modelo mais simplificado, é desprezada a rigidez de flexão transversal do tabuleiro pelo que o deslocamento no topo de cada pilar é independente do deslocamento no topo dos outros pilares. Desta forma, a modelação na direcção transversal de uma ponte com pilares consiste em analisar estruturas de um só grau 12 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear de liberdade, sendo o modelo da estrutura um pilar com uma massa concentrada no topo. Uma modelação mais precisa do comportamento da ponte na direcção transversal tem em conta a rigidez do tabuleiro e poderá ser uma estrutura com vários gaus de liberdade. Porém, a escolha dos graus de liberdade depende do número de pilares e do comprimento da ponte. No caso desta dissertação só se estuda o desempenho sísmico da ponte na direcção longitudinal. A ponte em causa é rectilinea pelo que a resposta a uma solicitação longitudinal só se dá nessa direcção. Sendo assim, o modelo estrutural da ponte é um modelo de pórtico plano em que o tabuleiro é rígido. 2.2.3 Diferentes Abordagens para a Análise Sísmica de Estruturas. Existem duas abordagens nas quais se baseiam os diferentes métodos de análise sísmica de estruturas: considerar a acção sísmica através de forças ou considerá-la através de deslocamentos. Na primeira, a estrutura é actuada por forças de inércia e a análise é efectuada como se de um carregamento tradicional se tratasse, como por exemplo, acções gravíticas ou o vento. A segurança à acção sísmica é satisfeita no caso de se verificar a resistência das secções: (2.23) Em que: são os esforços provenientes da combinação de acções devida à acção sísmica1 é a resistência da secção. No caso da abordagem por deslocamentos a verificação da segurança à acção sísmica é efectuada ao nível dos deslocamentos. A acção sísmica faz com que a estrutura se deforme sendo que a estrutura terá que ter capacidade de deformação suficiente. A segurança será então verificada no caso da capacidade de deformação da 1 De acordo com o EN 1998-1, o valor de cálculo dos esforços para situações de projecto sísmico deve ser determinado através da combinação dos valores característicos das cargas permanentes com o valor quase-permanente das acções livres e com o valor de cálculo da acção sísmica. 13 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas estrutura ser superior à deformação provocada pela aceleração do solo. É de notar que, conceptualmente, o deslocamento devido ao sismo tem de ser inferior a um dado deslocamento máximo aceitável, consoante o desempenho pretendido. Desta forma, os métodos de análise baseados em deslocamentos são também métodos de avaliação do desempenho. Estes consistem na avaliação da resposta da estrutura face a uma determinada acção sísmica. O desempenho pretendido pode ser escolhido em função da exigência do Dono de Obra e em função da importância da estrutura. Estes níveis de desempenho são, por exemplo, um deslocamento máximo de um pilar, uma abertura limite de fendas ou a permanência da estrutura em regime elástico. Estas duas abordagens seriam equivalentes no caso das estruturas terem um comportamento elástico quando solicitadas por um sismo, pois estariam directamente relacionadas através da rigidez. Acontece, porém, que quando solicitada por um sismo, a estrutura tenha uma resposta com comportamento não linear. Em regime inelástico, a relação entre a carga e o deslocamento é mais complexa, dependendo da história do carregamento. A abordagem por deslocamentos baseia-se no facto de, quando solicitada à acção sísmica, certas secções plastificarem mas a estrutura continuar a deformar-se até atingir aproximadamente o mesmo deslocamento que teria em regime elástico. Esta premissa é designada por princípio dos deslocamentos iguais e apresenta-se na Figura 2.2. Desta forma, a um mesmo deslocamento devido à acção sísmica podem corresponder diferentes forças, em função da ductilidade. Este assunto é abordado em 2.3.1. De forma a ter em conta a redução das forças que se mobilizam na resposta da estrutura os métodos baseados em forças têm em conta um factor de redução. Este factor é designado por coeficiente de comportamento e será apresentado com maior detalhe na secção 2.3.1. A comparação conceptual da abordagem por forças e da abordagem por deslocamentos sai do âmbito desta dissertação, pelo que foram somente apresentados os conceitos gerais de cada uma delas. De acordo com [PRIESTLEY et al, 2007], os métodos de análise sísmica eram inicialmente baseados em forças mas, com a evolução 14 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear do conhecimento em engenharia sísmica, os métodos baseados em deslocamentos foram ganhando importância. Hoje em dia considera-se que o comportamento real da estrutura se relaciona mais directamente com os deslocamentos do que com a distribuição de esforços. Figura 2.2 Princípio da igualdade de deslocamentos Apesar desta mudança de paradigma, os regulamentos, nomeadamente o Eurocódigo 8-11, preconizam principalmente métodos baseados em forças, mas prevêem também métodos baseados em deslocamentos. De um ponto de vista conceptual, existem 4 tipos de métodos para a análise sísmica de estruturas, consoante se esteja a analisar a estrutura de forma estática ou dinâmica e consoante se esteja ou não a modelar o comportamento não linear, como se apresenta na Tabela 2.1. Acção Comportamento Linear Estática Forças Laterais equivalentes Comportamento Análise Pushover não Linear Dinâmica Análise Modal Análise Dinâmica não Linear Tabela 2.1Tipos de análise sísmica de estruturas Destes quatro tipos de análise, a utilização do método das forças laterais equivalentes e da análise modal é geralmente baseada em forças: a verificação da 1 [EN 1998-1, 2004]. Poderá também ser designado por EC8-1 15 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas segurança faz-se ao nível dos esforços aplicados. Já a análise pushover, tema principal desta dissertação, é um método baseado em deslocamentos. A análise dinâmica não linear, também designada por análise ao longo do tempo ou time-history analysis, corresponde a um método teoricamente “exacto” pois pretende ter em conta o comportamento real da estrutura e a resolução das equações da dinâmica para cada instante. 2.3 Métodos de Análise Sísmica Nesta secção são apresentados os métodos de análise citados anteriormente. Com excepção do método das forças laterais, que é apresentado em menor detalhe, os restantes são aplicados nesta dissertação para a análise de uma ponte real e os seus resultados são comparados. Porém, antes de se apresentarem os métodos de análise, explicam-se os conceitos de coeficiente de comportamento e de espectro de resposta. 2.3.1 Coeficiente de comportamento O coeficiente de comportamento, , permite ter em conta o comportamento não linear da estrutura para os métodos de análise elástica (método das forças laterais equivalentes e análise modal). As forças de inércia aplicadas à estrutura são determinadas utilizando as características elásticas da estrutura e são depois corrigidas através do coeficiente de comportamento. Antes de explicar mais profundamente a utilização do coeficiente de comportamento, é necessário abordar o conceito de ductilidade. A ductilidade é a capacidade de um material, um elemento ou uma estrutura se deformar plasticamente - é a relação entre a deformação última e a deformação de cedência. A ductilidade de um material é expressa pela ductilidade de extensões - a relação entre a extensão última e a extensão de cedência. A ductilidade de uma secção é expressa pela razão entre a curvatura última e a curvatura de cedência, a de um elemento estrutural pode ser expressa pela ductilidade de rotação e a da estrutura pela ductilidade de deslocamentos. Uma estrutura dúctil tem, assim, uma certa capacidade de se deformar plasticamente. Pode, então, atingir o mesmo deslocamento do que uma estrutura idêntica que permanece em comportamento elástico, tal como se observa na Figura 2.2. 16 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Desta forma, para um mesmo deslocamento, diferentes forças podem estar aplicadas na estrutura em função da ductilidade da mesma, pelo que no caso da rigidez se manter constante, quanto maior for a ductilidade da estrutura menor tem que ser a força aplicada para atingir esse deslocamento. No caso da acção sísmica, é costume considerar a hipótese da igualdade de deslocamentos. No entanto, para períodos mais curtos este princípio é considerado inválido e utiliza-se, então, o princípio de igualdade de energias, que se representa na Figura 2.3. Figura 2.3 Princípio da igualdade de energias Estes são os fundamentos teóricos do coeficiente de comportamento, , que é definido como uma aproximação da razão entre as forças sísmicas a que a estrutura ficaria sujeita se a sua resposta fosse elástica e as forças sísmicas que poderão ser adoptadas no projecto. O valor de pode ser tanto maior quanto maior for a ductilidade da estrutura, como se pode observar na Figura 2.4, dependendo do material estrutural utilizado, do sistema estrutural, mas também no cumprimento de certas disposições construtivas, nomeadamente as medidas de Capacity Design. O Capacity Design consiste num conjunto de regras de dimensionamento que se baseiam na adopção de certas medidas construtivas de forma a permitir uma rotura dúctil da estrutura, controlando a formação de zonas com comportamento inelástico e a respectiva capacidade de deformação. 17 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas Figura 2.4 Coeficientes de comportamento e ductilidade 2.3.2 Espectros de Resposta Geralmente, a acção sísmica é caracterizada pelo valor máximo da aceleração no solo e a resposta a essa acção sísmica é caracterizada pela máxima aceleração, velocidade ou deslocamento da estrutura. Para tal é utilizado o conceito de espectro de resposta: valor máximo da resposta de um oscilador de um grau de liberdade com comportamento elástico em função das suas características dinâmicas. Desta forma, a partir do período e do amortecimento pode obter-se não só a aceleração máxima, e consequentemente o espectro de acelerações, máximo, ou seja, o espectro de deslocamentos , mas também o deslocamento . Os quatro métodos de análise apresentados na Tabela 2.1, com excepção da análise dinâmica não linear, recorrem a espectros de resposta. A utilização de espectros de resposta apresenta, porém, certas limitações: perde-se informação sobre a duração da resposta da estrutura, o número de ciclos e o instante da resposta máxima. O método da análise dinâmica não linear requer a utilização de acelerogramas. 18 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Na Europa, o espectro de acelerações utilizado é o definido no EC8-2. Este é apresentado na Figura 2.5 e é parametrizado pelos seguintes factores: Tipo de Sismo: estão definidos dois tipos de sismos para o território português: o Tipo 1 designado por sismo afastado e o Tipo 2 designado por sismo próximo; Zona Sísmica: o Anexo Nacional do EC8-1 faz um zonamento sísmico do território português onde define a aceleração máxima de referência para um solo em rocha, . Este valor de aceleração corresponde à aceleração máxima no solo para um sismo com período de retorno de 475 anos; Classe de importância da estrutura. Em função da importância da estrutura, o EC8 define um coeficiente de importância, . Pode, então, obter-se a aceleração máxima de projecto para um solo em rocha: (2.24) Note-se que o objectivo do coeficiente de importância é alterar a aceleração de forma a ter em conta o período de retorno da aceleração a considerar no projecto; Terreno de fundação. A qualidade do terreno, nomeadamente a velocidade de propagação das ondas de corte, influi fortemente na resposta da estrutura a uma dada aceleração no solo. Desta forma, o regulamento define o parâmetro S e os tempos característicos e em função do terreno; Amortecimento. O aumento do amortecimento diminui o valor da resposta e os espectros definidos no EC8-1 têm-no em conta através do coeficiente de correcção η que depende do coeficiente de amortecimento , definido em %: (2.25) Na Figura 2.5 é representado qualitativamente o espectro de acelerações e apresenta-se de seguida a sua definição analítica em função do período do oscilador de um grau de liberdade. 19 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas Figura 2.5 Espectro elástico de acelerações pelo EC8-1 (2.26) (2.27) (2.28) (2.29) Em que: é o espectro elástico de acelerações é o valor de cálculo da aceleração de um terreno do tipo A (rocha) S é o coeficiente de solo T é o período de um sistema elástico com um grau de liberdade é o coeficiente de correcção de amortecimento é o limite inferior do patamar com aceleração constante é o limite superior do patamar com aceleração constante é o limite inferior do patamar com deslocamento constante É de notar que quando se geram acelerogramas artificialmente, a média das acelerações máximas deve ser igual ao espectro de resposta definido no regulamento europeu. A aceleração do sistema elástico obtida pelos espectros do EC8-1 corresponde 20 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear a uma média das acelerações máximas e não a um valor característico – valor com uma certa probabilidade de ser excedido, sendo esta normalmente de 5% para os valores característicos dos materiais estruturais. No caso de análises lineares, o comportamento não linear da estrutura é tido em conta com uma redução do espectro elástico através do coeficiente de comportamento, (definido em 2.3.1), obtendo-se assim o espectro de dimensionamento. Figura 2.6 Espectros de dimensionamento para diferentes coeficientes de comportamento O espectro de dimensionamento é definido analiticamente da seguinte forma: (2.30) (2.31) (2.32) (2.33) 2.3.3 Método das Forças Laterais Equivalentes O método das forças laterais equivalentes, ou método do modo fundamental, é um método estático que considera que a resposta dinâmica da estrutura se faz só no seu primeiro modo de vibração, desprezando a resposta nos modos de ordem superior. A 21 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas acção sísmica é modelada através de uma distribuição de forças de inércia a actuar na estrutura de acordo com o modo fundamental. Esta análise é feita tendo em conta as características elásticas da estrutura. O eventual comportamento não linear é tido em conta com a utilização do espectro de dimensionamento, para um dado coeficiente de comportamento e com um dado amortecimento. Uma vez calculado ou estimado o período fundamental e, consequentemente, obtido o valor da aceleração espectral, o valor da força de corte basal é igual a: (2.34) Em que é a aceleração espectral obtida pelo espectro de dimensionamento e a massa do sistema. A força de corte basal, , é então distribuída pela estrutura e a análise da estrutura é efectuada com base em forças, ou nos esforços actuantes face aos esforços resistente. Trata-se, portanto, de uma metodologia baseada em forças. 2.3.4 Análise Modal por Espectro de Resposta A análise modal por espectro de resposta é um método de análise dinâmica que só pode ser utilizado para osciladores com comportamento linear. Tal como para o método das forças laterais equivalentes, o comportamento não linear é tido em conta pela utilização de espectros de dimensionamento e de coeficientes de comportamento. Conceptualmente, a análise modal por espectro de resposta consiste em determinar a resposta máxima para cada modo de vibração e em combinar as respostas dos diferentes modos de forma a obter a resposta global do sistema. Porém, nem todos os modos contribuem da mesma forma para a resposta da estrutura a uma dada solicitação, pelo que se introduzem os conceitos de factor de participação e de massa modal efectiva. Reescrevendo a equação 2.21 em coordenadas modais tem-se: (2.35) Pelo que multiplicando dos dois lados da equação por e de acordo com 2.1.2 e 2.1.3, o sistema de equações se torna um sistema de n equações independentes: (2.36) Escrevendo a equação anterior para um modo de vibração : 22 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear (2.37) Em que é designado por factor de participação do modo . Este factor depende da normalização dos vectores próprios e traduz a maior ou menor excitação que o modo correspondente sofre para uma dada aceleração na base. Desta forma, recorrendo a espectros de resposta, a aceleração máxima num dado modo vem dada por: (2.38) De forma a poder determinar as forças de inércia para cada modo de vibração é introduzido o conceito de massa modal efectiva, que indica a massa do sistema que participa em cada modo de vibração. A massa modal efectiva é independente da normalização sendo a soma das massas modais igual à massa total do sistema. Tem-se, assim: (2.39) É de notar que, apesar do factor de participação depender da normalização, a resposta da estrutura não depende, uma vez que é obtida pelo produto da resposta em cada modo pelo respectivo vector modal. Por exemplo, a aceleração máxima em cada grau de liberdade devida ao modo é dada por: (2.40) É, assim, possível determinar a resposta máxima devida a cada modo de vibração, pelo que é necessário combinar essas respostas para obter a resposta global do sistema. Porém, os máximos de cada modo podem não ocorrer simultaneamente pelo que a sua soma seria demasiado conservadora. Assim, no caso das frequências de cada modo de vibração serem suficientemente afastadas entre si, combinam-se as respostas pelo método SRSS (Square Root of the Sum of the Squares): (2.41) Em que é a resposta que se pretende combinar e a resposta em cada modo. 23 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas No caso dos períodos de vibração de cada modo serem próximos, as respostas modais máximas já não podem ser consideradas independentes entre si e deve ser utilizada a CQC (Combinação Quadrática Completa): (2.42) com (2.43) É de notar que no caso de e serem afastados, o coeficiente tende para 1, pelo que se pode constatar que a combinação SRSS é um caso particular da combinação CQC. É, também, importante realçar que se deve combinar unicamente a grandeza que se pretende obter, ou seja, a combinação é o ultimo passo da análise modal por espectro de resposta. 2.3.5 Análise Estática não Linear A análise estática não linear, ou pushover, é um método de análise sísmica que tem directamente em conta o comportamento não linear da estrutura. Sob cargas verticais constantes, a estrutura é sujeita de forma monotónica a sucessivos incrementos de cargas horizontais, que correspondem ao efeito da acção sísmica, até se atingir o colapso. A cada passo de cálculo, é efectuada a análise da estrutura tendo em conta o seu comportamento fisicamente não linear e, eventualmente, geometricamente não linear. Obtém-se, assim, a curva de capacidade da estrutura que relaciona a força de corte basal, , e o deslocamento de um dado ponto de controlo. Comparativamente aos métodos lineares em que o comportamento inelástico é tido em conta através de coeficientes de comportamento, a análise pushover tenta modelar o comportamento real da estrutura para um dado estado de carregamento. Este método permite, então: Obter a capacidade da estrutura, ou seja, a sua capacidade de se deformar e a sua ductilidade; 24 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Estimar a sequência de formação de rótulas plásticas, a redistribuição de esforços e a progressiva deterioração da estrutura; Estimar, para uma dada acção sísmica, a capacidade de rotação necessária das rótulas plásticas e o estado de deterioração da estrutura; Estimar a solicitação em elementos que podem provocar uma rotura frágil. A análise estática não linear é efectuada em duas etapas: na primeira etapa, obtém-se a curva de capacidade da estrutura, pelo que é preciso escolher um determinado ponto de controlo e o padrão de carregamento; a segunda etapa corresponde à determinação do deslocamento objectivo, ou seja, o deslocamento do ponto de controlo para uma dada acção sísmica. Esse deslocamento objectivo é então comparado com a capacidade da estrutura podendo, assim, determinar-se quais os efeitos de um dado sismo sobre a estrutura em análise. Desta forma, a análise pushover é um método baseado em deslocamentos e permite avaliar o desempenho sísmico da estrutura. De facto, o deslocamento objectivo pode ser comparado com o deslocamento para um dado desempenho exigido pelo Dono de Obra, como foi brevemente explicado em 2.2.3. A escolha do ponto de controlo e da configuração do carregamento, assim como a determinação do deslocamento objectivo, dependem da metodologia utilizada. Existem diferentes metodologias que diferem no seu grau de complexidade e na quantidade de aspectos que pretendem cobrir. Nas análises mais convencionais, tais como Capacity Spectrum Method (CSM) - proposto no ATC-40 ([APPLIED TECHNOLOGY COUNCIL, 1996]) - e o método N2 - proposto pelo Eurocódigo 8-1 é dada predominância ao primeiro modo de vibração, pelo que a validade da análise pushover para estruturas irregulares é posta em causa. Já nos métodos propostos mais recentemente, como o Modal Pushover Analysis e o Adaptive Capacity Spectrum Method, a influência dos modos de ordem superior é tida em conta ([PINHO et al , 2009]). No entanto, estes métodos ainda são alvo de investigação. Contrariamente aos métodos de análise linear, que são baseados em forças, a análise estática não linear só pode ser efectuada após o dimensionamento da estrutura, pois só com o dimensionamento completo é possivel verificar a segurança ou um 25 Capítulo 2 – Análise Sísmica de Estruturas determinado desempenho. Uma vez que para a análise pushover é necessário determinar a curva de capacidade da estrutura – que depende das características dos seus elementos, nomeadamente a sua resistência e ductilidade – esta não pode ser utilizada para efeitos de dimensionamento. 2.3.6 Análise Dinâmica não Linear – Time-History Analysis A análise dinâmica não linear, ou time-history analysis, é o método de análise sísmica que permite recolher mais informação sobre o comportamento e a resposta da estrutura a uma história de acelerações do solo. Para um dado acelerograma, representativo da acção sísmica, a equação da dinâmica é resolvida numericamente tendo em conta o comportamento fisicamente não linear da estrutura. Consequentemente, o princípio da sobreposição não é válido, o que inviabiliza a resolução do sistema de equações (no caso de um sistema com vários graus de liberdade) através da análise modal. Nesse caso, o problema pode ser resolvido através de uma integração passo-a-passo. A equação de equilíbrio dinâmico é resolvida para vários intervalos de tempo, devendo o incremento de tempo, , ser definido em função do erro aceitável na resposta e as condições do sistema actualizadas no final de cada passo. Esta actualização permite ter em conta o comportamento histerético sendo que, nesse caso, a rigidez pode depender da história do carregamento. Uma vez que a acção sísmica é modelada através de acelerogramas é possível obter certos resultados que a utilização de espectros de resposta não permitia. É o caso, por exemplo, do número de ciclos, da duração da resposta ou do instante onde ocorrem os picos de deformação. 26 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 3. Análise Fisicamente Não-Linear Apresentam-se neste capítulo os aspectos relativos ao comportamento fisicamente não-linear dos materiais e o consequente comportamento não-linear da estrutura. Numa primeira parte são apresentadas as relações constitutivas do betão e do aço, uma vez que são elas que condicionam o comportamento das secções e, consequentemente, de cada elemento estrutural e da estrutura. Estuda-se, então, o comportamento de secções através da sua relação Momentos-Curvaturas, ( ), para, de seguida, se tratar o comportamento dos pilares através da relação MomentosRotações, ( ), obtendo a partir daí a relação Cargas-Deslocamentos, ( ), também designada por curva de capacidade. Apresenta-se na Figura 3.1 um esquema do procedimento utilizado para modelar o comportamento da estrutura. É de realçar que, na presente dissertação, é utilizado um modelo simplificado bilinear para a nãolinearidade, considerando um primeiro comportamento elástico ou pré-cedência e um comportamento pós-cedência até à rotura. Comportamento dos materiais – relações constitutivas Comportamento das secções – relação Comportamento do elemento – relação Comportamento do pilar – curva de capacidade Figura 3.1 Procedimento para modelar o comportamento da estrutura Neste trabalho é utilizado um modelo de plasticidade concentrada, introduzindo o conceito de rótula plástica: toda a plasticidade do elemento estrutural encontra-se concentrada numa zona designada por rótula plástica e as restantes partes do elemento permanecem em comportamento elástico. Estes assuntos são apresentados na secção 3.4. Ao longo do capítulo é discutida qual a relação constitutiva a utilizar para os materiais, em particular se devem ser utilizadas as propriedades médias dos materiais ou as suas propriedades de cálculo. A importância desta questão resulta do facto de, por um lado, se dever tentar modelar o comportamento das secções que mais se aproxima do comportamento real - utilizando assim as propriedades médias dos materiais - mas por 27 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear outro, não se poder exceder o momento resistente da secção - determinado com valores de cálculo. Este assunto é abordado na secção 3.3. 3.1 Relações Constitutivas dos Materiais A relação constitutiva de um dado material é a relação entre o estado de deformação desse material e a tensão que lhe está associada. Geralmente, o estado de deformação é quantificado através da extensão axial, , e a tensão pela tensão axial, . 3.1.1 Relação Constitutiva para o Aço Utilizou-se uma relação constitutiva elástica-perfeitamente plástica para o aço, como a apresentada na Figura 3.2. O aço apresenta o mesmo comportamento à compressão que à tracção, pelo que só se apresenta este último, uma vez que o comportamento à compressão pode ser obtido por simetria em relação à origem. Figura 3.2 Relação constitutiva elásto-plástica para o aço Considerou-se que se tratava de um aço de classe de ductilidade C, pelo que se adoptou um valor de extensão última, , de 7.5% de acordo com o Eurocódigo 21. No caso de se efectuar uma análise com valores de cálculo utiliza-se o valor de para . É de notar que o EC8-22 prevê que se utilize para análises estáticas não-lineares uma relação constitutiva para o aço que tenha em conta o endurecimento das armaduras, tal como se apresenta na Figura 3.3. Neste trabalho esse efeito será desprezado pelas seguintes razões: 1 2 [EN 1992]. Poderá também ser utilizada a abreviação EC2. [EN 1998-2, 2004]. Poderá também ser designado por Eurocódigo 8-2. 28 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear - Não tem influência na determinação do ponto de cedência e na curvatura de cedência, que são os principais parâmetros que caracterizam o comportamento fisicamente não linear; - Para a determinação do momento resistente da secção, o EC2 não obriga a considerar o endurecimento do aço das armaduras. Figura 3.3 Relação constitutiva com endurecimento para o aço A referida norma indica, também, que se deve ter em conta o efeito local de encurvadura dos varões comprimidos. Este efeito será, também, desprezado uma vez que se considera que os seus efeitos não são relevantes para os objectivos desta dissertação. 3.1.2 Características do aço para armaduras Apresentam-se nas tabelas seguintes os valores que caracterizam o aço de classe C, definidos no EC2. A400 400 347,8 A500 500 434,8 200 Tabela 3.1 Propriedades do aço Classe A Classe B .0 Classe C Tabela 3.2 Ductilidade do aço em função da sua classe 29 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear 3.1.3 Relações Constitutivas para o Betão O EC2 indica diferentes relações constitutivas para o betão em função do objectivo pretendido. As principais relações tensões-deformações aconselhadas pela norma são apresentadas de seguida. Nota-se que as extensões nela indicadas são negativas, não sendo considerada qualquer resistência à tracção. Relação Linear: A relação constitutiva linear é utilizada para a análise do comportamento em serviço em que o betão, geralmente pouco solicitado, permanece em comportamento aproximadamente elástico. Figura 3.4 Relação constitutiva linear para o betão (3.1) O valor de é o valor médio do módulo de elasticidade do betão aos 28 dias. Corresponde ao módulo de elasticidade secante entre e e está indicado na Tabela 3.3. Relação k-η Para a análise estrutural não-linear, o EC2 preconiza a utilização da relação k-η apresentada na Figura 3.5, pois é a que melhor representa o comportamento real do betão. 30 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 3.5 Relação constitutiva k-η para o betão (3.2) em que: (3.3) (3.4) (3.5) é a tensão máxima no betão à extensão onde se atinge a tensão máxima é o módulo de elasticidade do betão Os valores destes parâmetros dependem do facto da análise ser feita com valores médios ou com valores de cálculo. Quando se utilizam valores médios tem-se: (3.6) (3.7) e quando se utilizam valores de cálculo tem-se: (3.8) (3.9) em que o factor parcial de segurança, , toma o valor de 1.5. 31 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear Para as análises estáticas não-lineares o EC8-2 indica que se deve ter em conta o efeito do confinamento do betão. Mais precisamente, o anexo E.3 preconiza que, para extensões superiores à extensão de rotura do betão não confinado ( ), só a parte da secção que está confinada deve ser considerada na análise. Diagrama parábola-rectângulo A norma europeia recomenda a adopção de um diagrama parábola-rectângulo para o cálculo de secções transversais. No entanto, podem ser utilizadas outras relações tensões-deformações desde que estas sejam equivalentes ou mais conservativas. Acontece que este modelo de comportamento apresenta bons resultados para o cálculo do momento resistente, mas não é adequado no que diz respeito às deformações. Figura 3.6 Relação parábola-rectângulo para o betão (3.10) (3.11) em que: é a extensão em que se atinge a tensão máxima é a extensão última. 3.1.4 Características do betão Apresentam-se na Tabela 3.3 os valores preconizados pelo EC2 para a diferentes relações constitutivas para o betão. 32 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear [MPa] [MPa] [MPa] [GPa] [%] [%] [%] [%] C20/25 20 13,3 28 30 0.2 C25/30 25 16,7 33 31 0.21 0.35 0.2 0.35 C30/37 30 20 38 33 0.22 Tabela 3.3 Propriedades para o betão 3.2 Relação Momento-Curvatura Tendo abordado, na secção anterior, o comportamento dos materiais que compõem as secções, está-se em condições de tratar o seu comportamento fisicamente não linear, através da sua relação Momentos-Curvaturas ( flector aplicado na secção e nível de esforço normal, ). é o momento a correspondente curvatura. Esta relação é dependente do . Na análise de secções admitem-se as seguintes hipóteses simplificativas: Hipótese de Bernoulli: as secções planas perpendiculares ao eixo do elemento barra permanecem planas e perpendiculares a esse eixo após a deformação. Para além de conservar a secção de betão plana, esta hipótese tem como consequência directa estar a assumir-se a aderência perfeita entre as armaduras e o betão. A secção é solicitada num plano de simetria que contém o eixo . Como qualquer problema de análise estrutural trata-se agora de um problema de equilíbrio estático e de compatibilidade. De facto, os esforços estáticas enquanto a deformação axial e a curvatura e são grandezas são grandezas cinemáticas. Uma vez que a secção é heterogénea os esforços totais na secção são iguais à soma das contribuições de cada material, como se indica nas equações seguintes: (3.12) (3.13) em que: o índice diz respeito aos elementos de betão e o índice aos varões de aço 33 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear é a distância entre a fibra de betão e o centro de gravidade, é a distância entre o varão e o centro de gravidade ambas as distâncias são medidas ao longo do eixo z A extensão num dado ponto da secção pode ser também relacionada com a deformação axial, , e a curvatura, : (3.14) Tendo sido anteriormente definidas as relações constitutivas do aço e do betão, ou, por outras palavras, o valor da tensão para uma dada extensão, está-se agora em condições de determinar a relação ( ) de qualquer secção de betão armado. Para a determinação da relação Momentos-Curvaturas utilizou-se a metodologia baseada em [VIRTUOSO et al, 1998]. Essa metodologia baseia-se no processo incremental e iterativo que a seguir se descreve, tendo sido implementado num programa de cálculo em MATLAB. Trata-se de um processo incremental de curvaturas e iterativo dentro de cada incremento: 1- Definição das relações constitutivas para o betão e para o aço; 2- Discretização da secção em fatias de betão e em camadas de armadura. As grandezas anteriores escrevem-se então: (3.15) (3.16) (3.17) (3.18) 3- Determinação da deformação inicial, só devida ao esforço normal aplicado, . Uma vez que não existe momento flector, a curvatura é nula; 4- Incremento de curvatura, , atribuindo-se um estado de deformação, para a secção; 5- Calcula-se a extensão para cada camada de betão e aço pelas equações 3.17 e 3.18. Através das relações constitutivas determinam-se as respectivas tensões; 6- Utilizando as equações 3.15 e 3.16 calculam-se os esforços e ; 34 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 7- Calcula-se a diferença ; 8- Caso o módulo da diferença seja inferior a uma dada tolerância, tem-se então o par de valores em que . No caso de se exceder a tolerância, inicia-se um processo iterativo até se verificar a condição. Cada iteração consiste em alterar o valor de e voltar ao passo 5; 9- Regresso ao passo 4 até que se atinja a rotura da secção. Obtém-se, assim, o diagrama Momentos-Curvaturas da secção para o esforço normal aplicado. 3.3 Diagrama Momento-Curvatura Simplificado Como se indicou na introdução deste capítulo, é utilizado um modelo simplificado para a análise não-linear da estrutura. Este modelo é bilinear: o primeiro troço tem comportamento elástico com rigidez pós-cedência e tem uma rigidez ; o segundo troço é designado por . Ambos os troços estão representados na Figura 3.7 sendo esta simplificação válida no caso de uma rotura dúctil da secção de betão armado – que acontece no caso de um dimensionamento correcto. O troço inicial é praticamente linear porque, antes da cedência das armaduras, toda a não linearidade vem da relação constitutiva do betão que é pouco significativa. O segundo troço é, também, praticamente linear porque a armadura já plastificou pelo que a variação do momento com a curvatura só acontece devido à variação da posição da linha neutra, efeito que também é pouco significativo. Um modelo bilinear permite que a análise da estrutura se faça de forma mais simples sem deixar de ter em conta as características de ductilidade das secções determinantes. Permite, também, determinar exactamente o ponto de cedência – ) – para poder concentrar os efeitos não lineares numa rótula plástica, tema ( que será abordado na secção 3.4. Uma vez que o diagrama Momentos-Curvaturas simplificado é bilinear, bastam 3 pontos para a sua completa determinação. Esses pontos são: - a origem; - o instante de cedência da secção, ( - a rotura, ( ); ). 35 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 3.7 Simplificação do diagrama Apesar de aparentemente ser simples determinar o diagrama simplificado, os Eurocódigos são pouco claros e levam a certas incoerências quanto a esta questão. No ponto 4.2.4.4(2a), o EC8-2 especifica que se devem utilizar os valores prováveis para as tensões de cedência e as extensões dos materiais, pelo que se utilizariam as características médias. Para a simplificação do diagrama, o EC8-2 (anexo E.3.2 (3)) indica que, após a primeira cedência, o diagrama simplificado tem a mesma área do que o diagrama real, como se visualiza na Figura 3.8. Figura 3.8 Simplificação do diagrama com áreas iguais (recomendação do EC8-2) Acontece, porém, que o momento resistente de cálculo da secção não pode ser excedido. É neste aspecto que as normas europeias são pouco claras. Por um lado deve modelar-se o comportamento mais provável da secção utilizando as características médias dos materiais; por outro lado, não se podem exceder os valores da resistência das secções, utilizando, nessas condições, as relações constitutivas com valores de cálculo. Neste trabalho, esta questão foi resolvida ao calcular o ponto de cedência e o 36 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear ponto de rotura com relações constitutivas distintas. Utilizando a relação constitutiva com as propriedades médias dos materiais, começou-se por determinar o ponto ( ) e a correspondente rigidez determinar o par de valores que une esse ponto e a origem. Para utilizou-se a relação com valores de cálculo. Não foi utilizada a relação preconizada pela norma, a relação parábola rectângulo, pois esta é uma simplificação que dá valores próximos dos que se obtêm com a relação . É de notar que a norma não obriga à utilização do diagrama parábola-rectângulo para obter o valor do momento resistente, podendo recorrer-se a outras relações mais conservativas. Uma vez que os pontos ( ) e ( ) são calculados com relações tensões-deformações distintas, podem acontecer as seguintes situações não admissíveis pois não correspondem a uma solução coerente em termos de valores dos momentos e dos valores das tensões: - ; - As tensões no betão serem superiores ao valor característico da sua resistência. Desta forma, uma vez que os valores são calculados directamente, o problema consiste em determinar o ponto que se assume corresponder à cedência no diagrama simplificado, sendo que a rigidez já é conhecida. O procedimento adoptado passa por calcular os seguintes valores: - , que representa o momento flector que está aplicado na secção quando, para o esforço normal aplicado, a primeira fibra de betão atinge o valor característico da sua resistência; - , que se obtém a partir do ponto ( rigidez pós-cedência, , é igual a 1% da rigidez ) considerando que a . Em termos teóricos pode ser adoptada uma rigidez pós-cedência nula. Opta-se, no entanto, por impor um valor de 1% da rigidez de forma a garantir um valor mínimo de rigidez pós-cedência evitando assim o aparecimento de problemas numéricos nas análises subsequentes. O ponto ( ) do diagrama simplificado é, então, determinado como pertencendo à recta de declive e tendo um valor de momento igual ao menor entre 37 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear , e , sendo este último calculado com as propriedades médias dos materiais. Representam-se estes valores de momento na Figura 3.9. Figura 3.9 Método utilizado para obter o digrama simplificado Apresenta-se, agora, um fluxograma de como foi obtida a relação MomentosCurvaturas simplificada para a secção. Início do cálculo Calcula a relação com valores médios Determina o par de valores Determina Calcula a relação com valores de cálculo Determina o par de valores Determina Calcula e Desenha recta de declive Determina Desenha relação simplificada Figura 3.10 Fluxograma do procedimento utilizado para obter a relação Momentos-Curvaturas simplificada 38 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 3.4 Relação Momentos-Rotações Tendo determinado a relação Momentos-Curvaturas das secções está-se em condições de obter o comportamento dos elementos estruturais. A relação MomentosRotações ( ) relaciona o momento e a rotação de uma rótula plástica. O conceito de rótula plástica consiste em concentrar todo o comportamento plástico numa determinada zona, permanecendo o resto do elemento estrutural em comportamento elástico. Desta forma, a deformação da barra pode ser decomposta em duas parcelas: a devida à deformação elástica da barra e a devida à rotação da rótula plástica, como se apresenta na Figura 3.11. Figura 3.11 Deslocamento obtido por soma do deslocamento devido à flexão elástica da barra e do deslocamento devido à rotação da rótula plástica Neste trabalho utilizou-se o modelo de rótula plástica apresentado no EC8-2. Neste modelo a rótula plástica tem em conta todas as deformações do elemento, pelo que a rotação representa a rotação da corda – rotação entre a barra na posição indeformada e a linha que une as duas extremidades na sua posição deformada – e não unicamente a rotação da rótula. Ilustra-se na Figura 3.12 a rotação da corda. A rótula plástica baseia-se na análise Momentos-Curvaturas da secção e num comprimento de rótula plástica. Uma vez que uma rotação resulta do integral de curvaturas ao longo de uma dada distância, ou seja, , ao considerar-se a curvatura constante ao longo de um dado comprimento obtém-se a respectiva rotação. O comprimento em causa corresponde ao comprimento da rótula plástica. Como anteriormente para o comportamento de secções, o comportamento do elemento estrutural terá um andamento simplificado bilinear. Basta assim determinar 39 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear dois pontos para obter a totalidade do diagrama: a rotação na cedência, na rotura, , e a rotação . Figura 3.12 Rotação da corda É de salientar que o modelo de rótula plástica só tem em conta as deformações por flexão sendo desprezadas as deformações por corte. 3.4.1 Determinação da rotação na cedência Considere-se uma consola de comprimento L representada na Figura 3.13, sujeita a uma carga horizontal na sua extremidade. A carga na extremidade é análoga a um esforço transverso nesse ponto. Ao ocorrer a cedência da secção de encastramento têm-se os diagramas de momentos flectores e de curvaturas representados na mesma figura. Note-se que o diagrama de curvatura é linear, uma vez que se adoptou um diagrama MomentosCurvaturas simplificado com andamento bilinear, como explicado na secção 3.3. 40 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 3.13 Cedência da secção de encastramento O deslocamento no topo pode, então, escrever-se na forma: (3.19) Pela equação de compatibilidade, , tem-se, então: (3.20) o que corresponde a ter uma rotação na cedência . O EC8-2 preconiza esse mesmo valor para a rotação da corda na cedência ou, mais precisamente, , em que é a distância entre a secção de encastramento e a secção de momento flector nulo, por vezes designada de shear span. 3.4.2 Determinação da rotação na rotura Na rotura, o modelo concentra numa rótula plástica, com comprimento , todo o comportamento plástico da estrutura como se ilustra na Figura 3.14. É de realçar que o comprimento da rótula plástica é um conceito fictício que só tem utilidade para o cálculo, não se observando na realidade a existência de uma zona onde se concentram as deformações inelásticas. 41 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 3.14 Modelo de rótula plástica De acordo com o EC8-2, a rotação última pode ser considerada como a soma da rotação na cedência, , determinada no ponto anterior, e a rotação plástica, . Tem- se então: (3.21) Note-se que é um valor de cálculo, sendo obtido pela seguinte relação: (3.22) em que é um factor parcial de segurança que, de acordo com o anexo E.3 do EC8-2 toma o valor de 1.40. A utilização do factor parcial garante que não se exceda o valor da rotação plástica de cálculo. Acontece que, no caso da presente dissertação, os valores de e foram obtidos com relações constitutivas de cálculo, contrariamente ao previsto no EC8-2, segundo o qual deveriam ser utilizadas as características médias dos materiais. Assim sendo não é necessário reduzir a rotação . O Eurocódigo considera que as rotações plásticas se fazem em torno de um ponto situado a meio da rótula plástica, como se observa na Figura 3.15. Tem-se consequentemente o valor de : (3.23) 42 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 3.15 Rotação da rótula plástica Esta expressão de pode ser facilmente demonstrada considerando as Figuras 3.14 e 3.15 para calcular a parcela pós-cedência do deslocamento na extremidade da consola e considerando que a rotação plástica, ou pós-cedência, é igual ao deslocamento pós-cedência dividido pelo comprimento da barra: (3.24) De acordo com EC8-2, o aproximadamente igual a comprimento da rótula plástica, , é , sendo ligeiramente maior devido ao efeito strain penetration. A deformação plástica das armaduras penetra parcialmente na fundação, aumentado assim o comprimento da rótula plástica. O efeito de strain penetration é tanto maior quanto maior for a tensão de cedência característica do aço, diâmetro dos varões longitudinais, , e o . O Eurocódigo indica a seguinte expressão para o comprimento da rótula plástica: (3.25) É de realçar que esta fórmula só é válida no caso de se verificar que em que é o comprimento da barra e , a altura útil da secção. Esta condição serve para 43 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear garantir que não ocorre uma rotura frágil por esforço transverso, o que impediria a formação da rótula plástica. Refira-se que considerar que é uma aproximação da rotação na rotura. De facto, como se pode ver na Figura 3.15, as rotações e são medidas em relação a pontos diferentes. Acontece, porém, que o objectivo da definição de é determinar a curva de capacidade do pilar, pelo que o modelo é automaticamente corrigido ao obter o deslocamento no topo. 3.4.3 Relação Momento-Rotação Em 3.4.1 e em 3.4.2 determinaram-se as rotações da corda na cedência e na rotura da barra. Ou seja, tendo sido previamente calculados os momentos de cedência e último da secção, obtiveram-se os pares de valores ( )e( ) pelo que se tem, então, o diagrama Momentos-Rotações para o elemento estrutural. Figura 3.16 Exemplo de uma relação Momento-Rotação 3.5 Curva de Capacidade de Pilares Para realizar uma análise estática não linear é necessário definir a curva CargaDeslocamento, ou curva de capacidade, da estrutura. Para obter essa curva é necessário, numa primeira fase, determinar a curva de capacidade de cada pilar da ponte. Uma vez que se obteve a rotação da corda em função do momento aplicado - através da relação Momentos-Rotações - deriva-se sem dificuldade a curva carga-deslocamento. É de notar que a relação calculada anteriormente diz respeito à rotação da corda entre a 44 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear secção de encastramento e a secção de momento flector nulo, a uma distância . Sendo assim, o deslocamento do ponto de momento nulo obtém-se pela seguinte equação: (3.26) Da mesma forma, considera-se para a curva uma simplificação bilinear do comportamento estrutural. Têm-se então as seguintes equações: Na cedência: (3.27) (3.28) Na rotura: (3.29) (3.30) Figura 3.17 Exemplo de uma curva de capacidade No caso da ligação ao tabuleiro ser articulada o comprimento corresponde à altura do pilar. No caso da ligação do pilar ao tabuleiro ser monolítica é necessário ter em consideração a rigidez relativa entre o pilar e o tabuleiro. Na situação limite, que corresponde em admitir que a rigidez de flexão do tabuleiro é muito superior à do pilar, este comporta-se como biencastrado conforme representado na Figura 3.18. 45 Capítulo 3 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 3.18 para um pilar perfeitamente encastrado no tabuleiro 46 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 4. Análise Pushover de Estruturas de Pontes Neste capítulo apresentam-se os procedimentos para realizar uma análise estática não linear. Numa primeira parte são apresentadas diferentes metodologias, nomeadamente o método previsto no EC8-2 e o Método do Espectro de Capacidade, que são utilizados neste trabalho. Numa segunda parte, explica-se a forma de obter a curva de capacidade de um pórtico plano, elemento essencial de uma análise pushover. 4.1 Metodologias para a análise pushover de pontes Na utilização mais corrente da análise estática não linear para a análise sísmica de pontes salientam-se as metodologias propostas pelo Eurocódigo 8 e pelo documento ATC 40. O Eurocódigo recomenda metodologias ligeiramente diferentes para a obtenção do deslocamento objectivo conforme se queira aplicar a análise pushover a edifícios, no EC8-1, ou a pontes, no EC8-2. São apresentas estas duas metodologias, assim como o Método do Espectro de Capacidade proposto no documento ATC 40. 4.1.1 Metodologia aconselhada no EC8-2 No anexo H, o EC8-2 apresenta a metodologia aconselhada para a análise estática não linear de estruturas de pontes. O documento apresenta o pushover como um aumento progressivo de cargas horizontais até que um determinado ponto de controlo atinja o seu deslocamento objectivo. A segurança à acção sísmica da ponte é verificada se o deslocamento correspondente ao colapso da ponte for superior àquele deslocamento. Referem-se de seguida os elementos necessários para a utilização da análise pushover como aconselhada no anexo H do EC8-2, assim como as condições para se poder recorrer a essa metodologia 47 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear Direcções de análise e ponto de controlo O ponto de controlo deve ser definido como o centro de massa do tabuleiro e devem ser efectuadas análises nas seguintes duas direcções horizontais: -direcção longitudinal , definida pela linha que une o centro das duas secções extremas da ponte; -direcção transversal , definida como ortogonal à direcção longitudinal. Definição do deslocamento objectivo Deve ser determinado o deslocamento objectivo para cada direcção em análise, e respectivamente para a direcção longitudinal e transversal. Para cada direcção, é obtido através de uma análise modal por espectro resposta, com coeficiente de comportamento - é calculado para a solicitação - é calculado para a solicitação para as seguintes solicitações: Desta forma, no caso da ponte ser perfeitamente rectilínea, a resposta à acção sísmica só terá que ser estudada na direcção em análise. A rigidez efectiva a considerar na análise é a rigidez secante determinada na análise Momentos-Curvaturas conforme foi apresentado no capítulo 3. Para a análise dos pilares o tabuleiro pode ser considerado axialmente rígido, pelo que o comportamento dinâmico da ponte ao longo do seu eixo pode ser analisado através de um sistema de um só grau de liberdade. Desta forma, o deslocamento no topo de cada pilar é considerado igual ao deslocamento axial do ponto de controlo. A determinação do deslocamento objectivo para um sistema de rigidez total e de massa é assim dado por: (4.1) em que: o valor da aceleração espectral elástica o período 48 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear a frequência própria do sistema. Obtém-se, então, o valor do deslocamento objectivo: (4.2) Para a análise na direcção transversal a determinação do deslocamento objectivo depende da modelação do comportamento da ponte no que diz respeito ao número de graus de liberdade escolhidos. É obtido com base na resposta combinada para os vários modos. A consideração de um só modo é tida como uma boa aproximação desde que esse modo seja dominante na resposta da estrutura. É de notar que esta forma de determinar o deslocamento objectivo pressupõe que o deslocamento do sistema elástico seja igual ao do sistema com comportamento inelástico. Distribuição da carga Para cada direcção os incrementos de carga horizontal, , que actuam a massa concentrada Mi a cada incremento j são iguais a: (4.3) em que: é o incremento j de força horizontal, normalizado ao peso é o factor de forma que define a distribuição de força ao longo da estrutura O Eurocódigo 8-2 prevê que sejam analisadas duas distribuições: 1- distribuição uniforme no tabuleiro, ou seja ; 2- distribuição proporcional ao primeiro modo de vibração. é proporcional ao deslocamento modal no ponto i na direcção em causa, devendo o modo de vibração com maior factor de participação na direcção em análise ser considerado. Sem, no entanto, exigir outras justificações, a norma permite a utilização de qualquer outra distribuição, desde que esta seja considerada melhor do que as propostas. 49 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear Ao efectuar a análise estática não linear na direcção longitudinal de uma ponte a distribuição de carga torna-se irrelevante. Isto deve-se ao facto de que o tabuleiro é considerado axialmente rígido e que, como consequência, o comportamento da ponte na direcção longitudinal corresponde a um sistema de um só grau de liberdade. Admite-se, então, que a totalidade da carga horizontal é aplicada no centro de massa do tabuleiro. Outras verificações Para garantir a existência de deformação plástica de acordo com o modelo adoptado deverá ser verificada a segurança relativamente à rotura por esforço transverso e à rotura do solo de fundação. Condições de aplicabilidade da metodologia Esta metodologia só deverá ser utilizada quando a resposta na direcção em análise pode ser aproximada a um grau de liberdade generalizado. Esta condição é sempre verificada na direcção longitudinal quando, para pontes aproximadamente rectilíneas, a influência da massa dos pilares é desprezável. Já na direcção transversal, a condição é verificada quando a distribuição das rigidezes dos pilares ao longo da ponte provoca um apoio lateral uniforme para um tabuleiro relativamente rígido. Isto é o que acontece quando a altura dos pilares decresce em direcção aos encontros ou não varia muito, pelo que a rigidez dos pilares aumenta em direcção aos extremos da ponte. Já no caso em que a ponte tem um ou vários pilares mais rígidos situados no meio de outros pilares mais flexíveis – como se ilustra na Figura 4.1 – ou quando a massa dos pilares tem influência no comportamento dinâmico da estrutura, o sistema não pode ser aproximado por um grau de liberdade. Nessas condições, o EC8-2 declara que não se poderá utilizar a análise pushover, sendo necessário recorrer a uma análise dinâmica não linear. Figura 4.1 Ponte irregular onde não é possível aplicar a metodologia do EC8-2 na direcção transversal 50 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Requisitos para a análise Os requisitos que dizem respeito à modelação do comportamento não linear da estrutura já foram abordados no capítulo 3. No entanto o Eurocódigo refere os seguintes aspectos: 1 - a utilização das características médias dos materiais de forma a identificar as zonas que permanecem em regime elástico e a aproximar o comportamento mais provável da estrutura; 2 - nas zonas das rótulas plásticas, devem ser tidos em conta os efeitos do confinamento, do endurecimento das armaduras e da encurvadura dos varões longitudinais; 3 - a relação Momentos-Curvaturas deverá ser aproximada por uma relação bilinear ao considerar rigidez pós-cedência nula e a área deverá ser igual à do diagrama real; 4 - a rotação da rótula plástica devido à acção sísmica, capacidade de rotação de cálculo , deve ser inferior à : (4.4) em que é o valor último da rotação da rótula plástica obtido com os seus valores das propriedades médias dos materiais. O factor de segurança reflecte o efeito de eventuais defeitos locais da estrutura assim como as incertezas relativamente ao modelo e sobre as características dos materiais. De acordo com o Eurocódigo deverá tomar-se o valor de 1.4 para . 4.1.2 Método N2, proposto para edifícios no EC8-1 O EC8-1 apresenta o método N2, desenvolvido por Fajfar, para a determinação do deslocamento objectivo. Apesar desta metodologia ser preconizada para edifícios, pode também ser utilizada para a avaliação de estruturas de pontes. O procedimento consiste em transformar a estrutura num sistema de um grau de liberdade equivalente e em seguida calcular o deslocamento objectivo através de um espectro de resposta elástico. A metodologia consiste nos seguintes passos: 51 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear 1º passo: Cálculo da curva de capacidade da estrutura (curva ): O ponto de controlo deverá ser o centro de massa do último piso do edifício e deverão ser utilizadas duas distribuições de carga: uma primeira designada por uniforme, em que as forças aplicadas são proporcionais à massa; e uma segunda designada por distribuição modal, que deve ser consistente com o primeiro modo de vibração. Os passos seguintes devem ser efectuados para cada uma das curvas de capacidade obtidas. 2º passo: Transformação do sistema num sistema de um grau de liberdade equivalente: A partir dos resultados da análise modal, calcula-se a massa equivalente do sistema, , e o factor de transformação, , de forma a poder transformar a curva de capacidade calculada no passo anterior, tendo-se as seguintes relações: (4.5) (4.6) em que é o vector correspondente à configuração deformada no 1º modo de vibração. 3º passo: Determinação da curva de capacidade do sistema equivalente e respectivo espectro de capacidade: Calcula-se a força e o deslocamento do sistema equivalente: (4.7) (4.8) obtendo, assim, a curva de capacidade do sistema equivalente. Está-se agora em condições de calcular a força de cedência, , e o deslocamento de cedência, , para o sistema equivalente de um grau de liberdade. Isto é efectuado adaptando a curva de capacidade a uma curva bilinear mantendo constante o valor da área sob a curva. O espectro de capacidade do sistema equivalente é obtido dividindo as ordenadas da curva pela massa equivalente, que relaciona a aceleração espectral, . Desta forma obtém-se a curva , com o deslocamento espectral, . 52 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 4º passo: Determinar o período do sistema equivalente: O período é determinado através da relação: (4.9) 5º passo: Definição do espectro de resposta elástico no formato ADRS: O espectro de resposta no formato ADRS (Acceleration Displacement Response Spectrum) relaciona o deslocamento espectral, , com a aceleração espectral, , ou seja, relaciona o deslocamento e a aceleração máximos para uma dada acção sísmica. Para obter este espectro começa-se por definir o espectro de resposta elástico de acelerações, para um dado amortecimento (que corresponde ao amortecimento viscoso, geralmente 5%) e para uma dada aceleração de pico de solo – tem-se, assim, a aceleração espectral, , em função do período da estrutura, . De seguida obtém-se, o valor do deslocamento espectral, , em função da aceleração espectral e do período correspondente: (4.10) Representa-se na Figura 4.2 o andamento qualitativo de um espectro de resposta no formato ADRS. Observa-se que as rectas a partir da origem representam períodos constantes pelo que a cada par de valores da curva corresponde um período de vibração. 53 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 4.2 Espectro de resposta no formato ADRS 6º passo: Determinar o deslocamento objectivo do sistema equivalente: Numa primeira fase calcula-se o deslocamento do sistema equivalente através do espectro de resposta elástico, . O deslocamento elástico, , é calculado da seguinte forma: (4.11) Um sistema submetido a uma aceleração espectral elástico no caso de não ser excedida a sua força de cedência, equivalente permanece em regime elástico caso deslocamento objectivo do sistema equivalente, permanece em regime , ou seja, o sistema . Neste caso, o , é igual ao deslocamento elástico, , ou seja, o espectro de capacidade intercepta o espectro ADRS no seu troço elástico, como se pode visualizar na Figura 4.3. 54 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 4.3 Oscilador que permanece em regime elástico No caso do oscilador entrar em regime plástico – ou seja, quando – é necessário distinguir duas situações. Para períodos de vibração longos – para os quais a aceleração espectral se encontra no troço descendente – é válido o princípio da igualdade de deslocamentos: um oscilar com comportamento elástico e um oscilador com comportamento inelástico têm o mesmo deslocamento, ou seja, . Esta igualdade é ilustrada na Figura 4.4. Note-se que, seguindo o espectro de resposta definido no EC8-1, o princípio da igualdade de deslocamentos é válido para períodos superiores a . Figura 4.4 Determinação de quando é válido o principio de igualdade de deslocamentos Para períodos curtos – em que, seguindo o EC8-1, – não se considera válida a hipótese dos deslocamentos iguais. O EC8-1 define, então, a seguinte expressão para o deslocamento objectivo, : (4.12) 55 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear onde o coeficiente é o coeficiente de ductilidade em força para o sistema equivalente de um grau de liberdade. Este coeficiente é definido como a relação entre a força devida à acção sísmica para um oscilador elástico e a força de cedência do sistema: (4.13) Esta correcção é ilustrada na Figura 4.5. Figura 4.5 Determinação de quando não é válido o principio de igualdade de deslocamentos 7º passo: Determinar o deslocamento objectivo do sistema real: Tendo determinado no passo anterior o deslocamento objectivo do sistema equivalente, determina-se o deslocamento objectivo para o sistema real, , ao aplicar o factor de transformação. (4.14) Comparando ambos os métodos propostos no Eurocódigo – para edifícios e para pontes – observa-se que são idênticos no caso da estrutura ser analisada como um oscilador de um grau de liberdade e no caso de se admitir o principio da igualdade de deslocamentos. 56 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 4.1.3 Método do Espectro de Capacidade O Método do Espectro de Capacidade (CSM – Capacity Spectrum Method) é a metodologia para análise estática não linear prevista no ATC-40. O método baseia-se, fundamentalmente, em duas fases distintas: A primeira em que se define a curva de capacidade da estrutura e esta é convertida no espectro de capacidade resistente; A segunda em que se determina a acção sísmica no formato ADRS e sua correcção1 através de um coeficiente de amortecimento efectivo, que considere o amortecimento viscoso mas, também, o amortecimento histerético. Estas duas curvas estão assim no mesmo referencial e o deslocamento objectivo corresponde à sua intercepção, também designado por ponto por desempenho sísmico. Contrariamente aos métodos previstos no Eurocódigo, a sua determinação não é directa sendo necessário recorrer a um processo iterativo. De forma a tornar mais clara a apresentação do Método do Espectro de Capacidade, descrevem-se os passos necessários para a sua utilização: 1º Passo: determinação da curva de capacidade da estrutura: Este passo é idêntico aos necessários nos outros métodos apresentados. Corresponde à obtenção da curva que mede o deslocamento de um dado ponto de controlo em função da força de corte basal aplicada à estrutura. 2º Passo: transformação do sistema com vários graus de liberdade num sistema de um grau de liberdade equivalente: O ATC-40 prevê que a transformação para um sistema com um grau de liberdade equivalente seja efectuada de forma análoga ao apresentado no método N2 do EC8-1 mas com uma formalização distinta. Esta transformação é apresentada no capítulo 8.2 do ATC-40 mas, por simplicidade, esta formalização não será apresentada neste texto. 1 Na literatura é, por vezes, utilizado o termo “redução”. 57 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear 3º Passo: Obtenção do espectro de capacidade resistente: O espectro de capacidade resistente é obtido do mesmo modo que foi apresentado em 4.1.2. O ATC-40 prevê que nesta fase se simplifique o espectro de capacidade numa curva bilinear para que se possa, posteriormente, estimar o amortecimento efectivo. A transformação do espectro de capacidade num diagrama bilinear deve assegurar que as áreas e identificadas na Figura 4.6 sejam iguais, para que a energia de deformação seja a mesma. Figura 4.6 Espectro de Capacidade e simplificação bilinear de acordo com o ATC-40 É de referir que a definição do espectro de capacidade bilinear não é directa pois depende do ponto de desempenho (ponto da Figura 4.6) que é obtido pelo processo que se descreve no passo 5. 4º Passo: Definição do espectro de resposta elástico no formato ADRS Este passo é idêntico ao apresentado em 4.1.2. 5º Passo: Determinação do ponto de desempenho sísmico Como foi anteriormente referido, o ponto de desempenho corresponde à intercepção entre o espectro de capacidade e a curva do espectro de resposta inelástico no formato ADRS. Este último é obtido através do espectro de resposta elástico com um coeficiente de amortecimento viscoso que é, então, corrigido de forma a ter em conta os 58 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear efeitos fisicamente não lineares do comportamento da estrutura, nomeadamente o amortecimento histerético. Para a determinação do ponto de desempenho adopta-se o seguinte processo iterativo: i) Estimativa do ponto de desempenho para início do processo iterativo A primeira estimativa corresponde, geralmente, à utilização da hipótese da igualdade de deslocamentos - o deslocamento inelástico é igual ao deslocamento espectral elástico. ii) Estimativa do amortecimento Quando uma estrutura sujeita à acção sísmica entra em regime não linear o amortecimento total pode ser considerado como uma combinação do amortecimento viscoso e do amortecimento histerético. O ATC-40 propõe a utilização do amortecimento viscoso efectivo, amortecimento viscoso, . Este amortecimento é definido como a soma do , e de um amortecimento viscoso equivalente, , equivalente ao amortecimento histerético: (4.15) Nesta equação, o termo está associado ao deslocamento plástico máximo e o ATC-40 define esse termo da seguinte forma: (4.16) e são representados graficamente na Figura 4.7, sendo: a energia dissipada no ciclo histerético a energia de deformação elástica linear para o deslocamento , com uma rigidez secante 59 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 4.7 Definição de O coeficiente e para a determinação do amortecimento viscoso equivalente da expressão 4.15 é utilizado como factor correctivo da aproximação bilinear dos ciclos histeréticos. O valor de é definido no ATC-40; depende do tipo de comportamento estrutural e do nível de amortecimento, sendo os seus valores apresentados na Tabela 4.1. No caso do presente trabalho, para todas as análises pushover efectuadas pelo Método do Espectro de Capacidade, considerou-se que se tratavam de estruturas do tipo A. Tipo de Comportamento Estrutural Tipo A: Comportamento histerético estável e completo 1.0 Tipo B: Redução Moderada da área do ciclo histerético 0.67 Tipo C: Mau comportamento histerético Qualquer 0.33 Tabela 4.1 Valores do coeficiente de correcção iii) Correcção do espectro Uma vez estimado o amortecimento viscoso efectivo o espectro no formato ADRS é corrigido para ter em conta o comportamento fisicamente não linear da estrutura. Esta correcção pode ser efectuada de acordo com a proposta do Eurocódigo 60 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear para a correcção do espectro elástico em função da variação do coeficiente de amortecimento, sendo o coeficiente de correcção dado por: (4.17) A aceleração espectral é então corrigida obtendo-se, também, o deslocamento espectral corrigido: (4.18) (4.19) Obtêm-se, assim, os pares de valores que constituem o espectro ADRS corrigido. iv) Verificação Uma vez obtido o espectro de resposta corrigido o ponto de desempenho corresponde à intercepção do espectro de resposta com o espectro de capacidade. No caso do deslocamento obtido, , coincidir com o deslocamento adoptado no passo i), o ponto obtido corresponde ao ponto de desempenho sísmico. No presente trabalho adoptou-se uma tolerância de 1%, ou seja: (4.20) No caso de não se verificar a condição anterior é necessário recomeçar o processo no passo i), adoptando uma nova estimativa para . Esta nova estimativa pode ser obtida através da média entre o valor anteriormente admitido e o ponto de intercepção obtido. Na Figura 4.8 apresenta-se um esquema gráfico com o processo iterativo para a determinação do ponto de desempenho sísmico. 61 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 4.8 Processo iterativo para determinação do ponto de desempenho sísmico A abcissa do ponto de desempenho, , corresponde ao deslocamento objectivo obtido pela análise pushover. 4.2 Determinação da curva de capacidade de um pórtico plano A análise sísmica de uma ponte corrente e de eixo rectilíneo pode ser efectuada de forma equivalente através da análise de um pórtico plano em que a travessa pode ser considerada axialmente rígida. As secções condicionantes para a acção sísmica são as secções extremas dos pilares: a sua base e, no caso da ligação ao tabuleiro ser rígida, o topo do pilar. No caso deste trabalho considera-se unicamente o caso em que a ligação do pilar ao tabuleiro é articulada, uma vez que no caso da ligação entre os pilares e travessa ser monolítica os problemas e as metodologias serão semelhantes. 62 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 4.9 Pórtico plano Apresenta-se a metodologia para obter a curva de capacidade de um pórtico plano, ou, de forma equivalente, de uma ponte na sua direcção longitudinal: 1º Passo: determinação da curva de capacidade de cada pilar: Este primeiro passo não é menos do que aplicar o processo descrito em pormenor no capítulo 3. A partir das características da secção determina-se a relação Momentos-Curvaturas da secção de encastramento. De seguida, sabendo a altura do pilar, recorre-se ao modelo da rótula plástica para obter a relação Momentos-Rotações e determina-se a curva de capacidade do pilar. 2º Passo: soma das curvas de capacidade dos pilares: A curva de capacidade da estrutura é obtida somando as curvas de capacidade de cada pilar: para um mesmo deslocamento, a força total é igual à soma das forças em cada pilar. Ao efectuar este procedimento, a curva terá então vários troços lineares, em função da cedência progressiva dos elementos da estrutura, uma vez que, em geral, os pilares não plastificam de forma simultânea. 63 Capítulo 4 – Análise Fisicamente Não Linear Figura 4.10 Curva de capacidade de um pórtico e dos seus pilares A curva de capacidade obtida pode ser bilinearizada. O Método do Espectro de Capacidade prevê uma forma de efectuar esta simplificação pois esta tem impacto nos resultados obtidos. Pelo contrário, o método do EC8-2 não dá qualquer indicação uma vez que a determinação do deslocamento objectivo depende unicamente das características elásticas da estrutura. A rigidez elástica da estrutura é igual à soma das rigidezes elásticas de cada pilar: (4.21) pelo que se pode calcular o período de vibração correspondente à resposta elástica da estrutura: (4.22) ou, equivalentemente, a sua frequência angular: (4.23) 64 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 5. Análise Pushover – Aplicações Neste capítulo efectuam-se diversas análises estáticas não lineares e comparamse os resultados com os de uma análise passo-a-passo. As análises pushover são efectuadas pela metodologia proposta no EC8-2 e pelo Método do Espectro de Capacidade. São analisados diferentes tipos de estruturas: Pilares isolados com alturas diferentes de forma a efectuar a análise para diferentes gamas de períodos; Pórticos de dois pilares, em que se faz variar a altura dos pilares de forma a permitir a análise para diferentes gamas de períodos. Analisa-se, também, os efeitos da variação da relação entre a altura dos dois pilares Estruturas reais de pontes baseadas no modelo estudado em [ARRIAGA E CUNHA. 2011] Numa primeira fase explica-se o procedimento utilizado para realizar as análises pushover e as análises ao longo do tempo, nomeadamente na definição da acção sísmica. Nas secções subsequentes apresentam-se as diversas análises. A secção dos pilares foi mantida constante para todas as análises efectuadas, quer na sua geometria quer na quantidade de armadura. Utilizou-se uma secção em caixão como a apresentada na Figura 5.1, com uma quantidade total de armadura, , de 1% da secção total e com um recobrimento de 5 centímetros. Considera-se apenas a flexão do pilar em torno do eixo da secção. 65 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Figura 5.1 Secção em caixão utilizada 5.1 Preparação da análise 5.1.1 Definição da acção sísmica Para cada elemento estrutural analisado faz-se variar a intensidade da acção sísmica de forma a controlar o coeficiente de ductilidade em força, , que se define como: (5.1) em que: é a força devida à acção sísmica, tendo em conta uma resposta da estrutura em regime linear. É definida como o produto da massa pela aceleração espectral elástica . é a força que provoca a cedência do pilar ou, no caso de uma estrutura com vários pilares, a força que provoca a primeira cedência. A força é calculada multiplicando a rigidez elástica da estrutura pelo deslocamento do tabuleiro que provoca a primeira cedência. O conceito de coeficiente de ductilidade em força difere do de coeficiente de comportamento, que foi anteriormente apresentado em 2.3.1. Na Figura 5.2 ilustra-se a diferença entre aqueles dois coeficientes. O coeficiente de comportamento, , é definido como: 66 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear (5.2) em que representa o valor máximo da força correspondente à resposta não linear da estrutura. Uma consequência directa de definir a acção sísmica de forma a obter o coeficiente de ductilidade em força pretendido é o facto de que o deslocamento elástico, , fica automaticamente definido: (5.3) em que é deslocamento na cedência. Figura 5.2 Diferenças entre coeficiente de comportamento e coeficiente de ductilidade em força Neste trabalho a definição da acção sísmica baseia-se exclusivamente em sismos do Tipo 1 e na definição da acção sísmica proposta pelo EC8-1. Uma vez que se utiliza sempre a mesma secção é necessário, para cada estrutura, escalar a acção sísmica para obter o coeficiente pretendido, efectuando-se as análises para valores de . Para as análises estáticas não lineares esse escalonamento faz-se ao calibrar o espectro de resposta; para as análises ao longo do tempo foi necessário escalar os acelerogramas utilizados, de forma a obter o coeficiente escolhido. Para as análises pushover, onde se recorre a espectros de resposta, o valor da aceleração espectral é função da zona sísmica, do tipo de terreno mas, também, do período de vibração da estrutura. De acordo com o Eurocódigo 8-1, o valor da aceleração espectral pode, então, ser escrito na seguinte forma: 67 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros (5.4) em que: e são parâmetros que definem a amplitude do espectro de resposta. Dependem da zona sísmica e do tipo de terreno, como explicado anteriormente em 2.3.4; é uma função que depende do período de oscilação, tal como foi apresentado na secção 2.3.2. A partir das equações 5.1 e 5.4 o coeficiente de ductilidade em força pode ser escrito na seguinte forma: (5.5) pelo que se pode utilizar o produto para escalar a acção sísmica de forma a obter o coeficiente de ductilidade em força, , pretendido. Apresentam-se na Tabela 5.1 as expressões que permitem determinar o valor de gamas de períodos de forma a assegurar o valor de expressão para períodos inferiores a a adoptar para as diferentes pretendido. Não se apresenta a , uma vez que estes períodos de vibração não são correntes em estruturas de pontes cuja resistência sísmica é assegurada apenas pelos pilares. Tabela 5.1 Expressões para o cálculo de em função do valor do coeficiente pretendido Para a análise dinâmica não linear, o EC8-1 indica que devem ser utilizados um mínimo de 7 acelerogramas1. No entanto, neste trabalho considera-se neste trabalho que o resultado da análise ao longo do tempo é a média das máximas respostas de cinco acelerogramas obtidos de acordo com [GUERREIRO, 2002]. Estes acelerogramas foram gerados de forma a que o seu espectro seja aproximado ao espectro de resposta proposto no EC8-1 (apresentado na secção 2.3.2), para uma aceleração máxima no solo 1 EN 1998-1 4.3.3.4.3 68 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear unitária, para uma acção do Tipo 1 e em solos do tipo A, B, C e E. Para escalar os acelerogramas utilizados de forma a obter o coeficiente de ductilidade em força, pretendido, utilizou-se também o valor obtido para , . 5.1.2 Programas de cálculo para a análise pushover As análises estáticas não lineares efectuadas foram feitas de forma automática através de um programa de cálculo implementado em MATLAB. Foram elaborados dois programas, um para análise pushover pelo método previsto no EC8-2, outro para a análise pelo Método do Espectro de Capacidade. Dados fornecidos: Número de pilares Curva de capacidade de cada pilar Aceleração máxima no solo Programa de Cálculo Dados obtidos: Deslocamento objectivo Momento na base de cada pilar Figura 5.3 Processo para utilização dos programas de cálculo para as análises estáticas não lineares 5.1.3 Programa de cálculo para a análise dinâmica não linear As análises dinâmicas não lineares foram efectuadas recorrendo ao programa SAP2000. A não linearidade do comportamento estrutural é modelada através de elementos Links: toda a plasticidade é concentrada na secção da base dos pilares e é introduzida no formato . Esta relação foi obtida de acordo com a secção 3.4, correspondendo, então, à rotação da corda. Consequentemente, os pilares são modelados como rígidos e toda a deformação – elástica e elasto-plástica – é, como foi referido, concentrada na secção de encastramento. Os elementos Links correspondem, desta 69 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros forma, a molas helicoidais, tal como se apresenta na Figura 5.4 para o caso de um pórtico de dois pilares. Figura 5.4 Modelo de pórtico para a análise dinâmica não linear em SAP2000 Outro aspecto a salientar sobre o modelo para a análise ao longo do tempo é a introdução do amortecimento: o programa SAP2000 permite a introdução do amortecimento de Rayleigh. Recordando o apresentado na secção 2.1.3, o amortecimento de Rayleigh consiste em definir a matriz de amortecimento como uma combinação linear das matrizes de massa e de rigidez: (5.6) Existindo apenas dois parâmetros, e , só é possível calibrar o coeficiente de amortecimento para dois períodos de oscilação da estrutura ou, de forma análoga, duas frequências próprias da estrutura. Para uma dada frequência própria , tem-se o seguinte amortecimento: (5.7) Apresenta-se na Figura 5.5, o andamento qualitativo do coeficiente de amortecimento. Neste gráfico, fixou-se um amortecimento de 5% para as frequências e . 70 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Figura 5.5 Amortecimento de Rayleigh Para as análises na direcção longitudinal em que o sistema tem um só grau de liberdade, atribui-se um amortecimento de 5% para os períodos sendo e , o período de oscilação em regime elástico, definido anteriormente em 4.2, e o período definido através da rigidez pós-cedência da estrutura: (5.8) em que: (5.9) sendo a rigidez pós-cedência do pilar. Ao efectuar a seguinte calibração garante-se que o amortecimento nunca é superior a 5%, como se pode observar na Figura 5.5. Isto acontece uma vez que o amortecimento foi calibrado para a máxima e mínima rigidez, respectivamente, e - em que todos os pilares estão plastificados. Qualquer estado intermédio, em que só alguns pilares já ultrapassaram a cedência, encontra-se obrigatoriamente entre estes dois limites e tem, por consequência, menos amortecimento. Dada a forma da curva apresentada na Figura 5.5, os erros no valor do amortecimento são pouco significativos e são sempre do lado da segurança. 71 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 5.2 Análise de um pilar isolado 5.2.1 Apresentação da análise Nesta secção apresentam-se os resultados da análise de pilares isolados com diferentes períodos de vibração . As características da secção de encastramento e a massa do sistema são mantidas constantes, variando unicamente a altura do pilar. Considera-se que cada oscilador tem uma massa e desprezou-se o peso do pilar. Desta forma, o esforço axial nos pilares é constante pelo que o diagrama de cada pilar é o mesmo, permanecendo constante a rigidez, . Figura 5.6 Modelo para a análise de um pilar isolado Uma vez que permanece constante, obtém-se directamente a altura do pilar correspondente a um dado período de vibração do sistema: (5.10) Apesar das características das secções serem idênticas para cada um dos pilares analisados, o digrama varia em função da altura do pilar, como foi explicado em 3.4. Apresenta-se, na tabela na Tabela 5.2, a altura de cada pilar e, no Anexo 1, os valores que definem os respectivos diagramas pico da aceleração do solo, força e , assim como o valor de , ao qual corresponde um coeficiente de ductilidade em . 72 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 0,6 0,8 1,2 1,6 2 2,4 2,8 7,34 8,90 11,66 14,12 16,39 18,51 20,51 Tabela 5.2 Osciladores de modelos de pilar isolado O resultado obtido de cada análise é o deslocamento máximo, designado por deslocamento objectivo para as análises estáticas não lineares. No caso das análises efectuadas através do método do EC8-2 e pelo Método do Espectro da Capacidade, a relação entre o deslocamento no topo do pilar e o momento na sua base é definida pela curva de capacidade, apresentada anteriormente. Já no caso das análises dinâmicas não lineares, a relação entre a carga e o deslocamento é mais complexa pois é necessário ter em conta a variação da aceleração ao longo do tempo e o comportamento histerético do sistema. Uma vez que a análise estática não linear é um método baseado em deslocamentos a comparação será efectuada ao nível dos deslocamento do topo de cada pilar, calculados para diferentes coeficientes de ductilidade em força. 5.2.2 Análise de resultados A análise é efectuada comparando os deslocamentos obtidos através das metodologias pushover e o obtido através de uma análise dinâmica. Calcula-se então o erro relativo, que será designado por erro, é expresso em percentagem e define-se da seguinte forma: (5.11) Os resultados são apresentados graficamente. Para cada metodologia pushover e para um dado valor de , apresenta-se a variação do em função do período. Os valores dos deslocamentos obtidos pelos diferentes métodos são apresentados no Anexo 2. Quando o coeficiente de ductilidade em força é unitário o deslocamento objectivo calculado pelo Método do Espectro de Capacidade (CSM) é idêntico ao obtido 73 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros pelo método do EC8-2, como se pode verificar na Figura 5.7, onde se apresentam os valores do das metodologias pushover para . Este resultado é expectável pois a estrutura permanece em regime elástico, o que, para a metodologia CSM, pode ser visualizado graficamente na Figura 5.8 – a intersecção entre o espectro de resposta no formato ADRS e o espectro de capacidade faz-se no troço elástico. A não existência de plasticidade faz com que o amortecimento viscoso efectivo seja apenas o próprio amortecimento viscoso, sem nenhuma contribuição do amortecimento histerético, não sendo necessário corrigir o espectro de resposta. 90% 70% Erro 50% x=1 EC8-2 e CSM 30% 10% -10% 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4 2,8 T [s] -30% Figura 5.7 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. Figura 5.8 Método do Espectro de Capacidade (CSM) para Para coeficientes de ductilidade em força superiores a 1 obtêm-se deslocamentos diferentes para cada uma das metodologias. Para uma gama de períodos mais baixa obtêm-se maiores deslocamentos pelo CSM do que pela metodologia prevista no EC8-2. Porém, para períodos mais elevados, a situação inverte-se, como é possível observar nas figuras 5.8 a 5.11, onde se apresentam os valores do das metodologias pushover 74 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear para valores de superiores a 1. O valor de para o qual o deslocamento obtido pela metodologia CSM se torna menor que o da metodologia prevista no EC8-2 é pouco influenciado pelo valor de . Como se observa nas mesmas figuras, para de mudança corresponde aproximadamente a faz-se para ; para , o ponto , essa mudança . 90% 70% Erro 50% x=2 EC8-2 30% x=2 CSM 10% -10% 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4 2,8 -30% T [s] Figura 5.9 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. 90% 70% Erro 50% x=3 EC8-2 30% x=3 CSM 10% -10% 0,4 0,8 1,2 -30% Figura 5.10 Variação do 1,6 2 2,4 2,8 T [s] no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. 75 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 90% 70% 50% Erro x=4 EC8-2 30% x=4 CSM 10% -10% 0,4 0,8 1,2 -30% 1,6 2 2,4 2,8 T [s] Figura 5.11 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. 90% 70% Erro 50% x=5 EC8-2 30% x=5 CSM 10% -10% 0,4 0,8 1,2 -30% 1,6 2 2,4 2,8 T [s] Figura 5.12 Variação do no cálculo do deslocamento. Pilar isolado. Observa-se, também, que a metodologia do EC8-2 conduz sempre a valores dos deslocamentos superiores aos obtidos pela análise dinâmica não linear, estando sempre do lado da segurança. Pelo contrário, para o CSM, para períodos mais elevados os valores do erro tornam-se negativos, como se pode verificar na Figura 5.13. 76 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 90% 70% CSM x=1 Erro 50% CSM x=2 30% CSM x=3 CSM x=4 10% CSM x=5 -10% 0,4 0,8 1,2 -30% 1,6 2,4 2,8 T [s] Figura 5.13 Comparação do valor do O valor de com o valor de 2 para o CSM para diferentes valores de - pilar isolado para o qual o erro da metodologia CSM se torna negativo varia e, conforme se verifica na Figura 5.13, este valor de aumenta. Para , esse ponto corresponde a sinal dá-se aproximadamente para diminui quando ; para . Observe-se, também, a tendência para que o valor absoluto do para os valores pequenos de , a mudança de aumente e que esse aumento seja tanto maior quanto maior for o valor de . 5.3 Análise de um pórtico plano 5.3.1 Apresentação da análise Nesta secção apresentam-se os resultados das análises efectuadas a diversos pórticos planos. Cada pórtico tem dois pilares, um mais curto – de altura altura – e outro de , como apresentado na Figura 5.14. Obtiveram-se resultados para e e metros, e, para cada valor de , analisaram-se os casos . 77 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Figura 5.14 Modelo de pórtico plano A massa do oscilador foi mantida constante para cada um dos pórticos, adoptando-se , o que corresponde ao dobro da massa que foi utilizada para o modelo de pilar isolado, estudado em 5.2. Para obter a relação Momentos – Curvaturas das secções de encastramento considerou-se que o peso do tabuleiro se distribuía de forma igual pelos dois pilares mas, contrariamente ao efectuado para a análise do pilar isolado, foi tido em conta o peso do pilar. Desta forma, o esforço de compressão na secção de encastramento depende directamente da altura do pilar. Os objectivos dos estudos efectuados foram analisar os resultados obtidos para pórticos em função do período de oscilação - cuja gama de valores fica essencialmente definida ao fixar o valor para parametrizada pelo coeficiente - e analisar o efeito da não regularidade da estrutura, . Procurou-se analisar pórticos com períodos de vibração definidos de tal forma que fosse possível comparar a influência do período numa estrutura pórtico com a influência do período num pilar isolado. Adoptaram-se valores de para os quais para um pilar isolado um deslocamento obtido pelo CSM fosse superior e inferior ao obtido pela metodologia EC8-2, e o da metodologia CSM fosse positivo e negativo. Apresentam-se na Tabela 5.3 os períodos de vibração dos pórticos analisados. 78 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 8 12 15 20 25 1,2 1,5 2 1,2 1,5 2 1,2 1,5 2 1,2 1,5 2 1,2 1,5 2 9,6 12 16 14,4 18 24 18 22,5 30 24 30 40 30 37,5 50 0,77 0,85 0,91 1,43 1,58 1,69 1,95 2,15 2,31 2,97 3,28 3,52 4,13 4,55 4,88 Tabela 5.3 Períodos de vibração dos diferentes pórticos analisados Apresentam-se no Anexo 3 as características dos pórticos analisados, ou seja, os valores característicos da curva de capacidade de cada pórtico, cujo significado é apresentado na Figura 5.15. Uma vez que os pilares têm secções idênticas, será o pilar mais curto, , o condicionante - será este o primeiro pilar a atingir a cedência e será a sua rotura que leva ao colapso da estrutura. Figura 5.15 Curva de capacidade de um pórtico de dois pilares 79 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 5.3.2 Análise de resultados Como para o caso de um pilar isolado o deslocamento obtido pela metodologia CSM é superior ao obtido pela metodologia do EC8-2 para uma gama de períodos mais baixa. Este resultado pode ser verificado nas figuras 5.16 e 5.17 nas quais se apresenta o das duas metodologias de análise estática não linear, em função do período da estrutura e para diferentes valores do parâmetro . Nas figuras 5.16 e 5.17 representam- se os resultados para um coeficiente de ductilidade em força e respectivamente. Observa-se, também, que, como para um pilar isolado, o , do deslocamento obtido pelo CSM é negativo para períodos mais elevados, ou seja, esse deslocamento é inferior ao obtido pela análise dinâmica não linear. Este aspecto será discutido posteriormente nesta secção, em particular a influência do coeficiente . Numa primeira fase analisa-se a influência da irregularidade da estrutura, medida pelo coeficiente . No que diz respeito à metodologia proposta pelo Eurocódigo é de notar que, para os mesmos valores de e da altura do pilar condicionante, sempre o mesmo, independentemente da altura , o deslocamento obtido é (desde que ). Com efeito, uma vez que o deslocamento objectivo corresponde ao deslocamento admitindo uma resposta elástica da estrutura, como apresentado em 5.1.1 o deslocamento objectivo é dado por . Acontece que o deslocamento na cedência, , corresponde sempre ao deslocamento que provoca a cedência do pilar condicionante pelo que é independedente da altura β=1,2 EC8-2 β=1,5 EC8-2 β=2,0 EC8-2 Erro 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 0,5 -20% -30% -40% . β=1,2 CSM β=1,5 CSM β=2,0 CSM 1 1,5 2 Figura 5.16 Variação do 2,5 3 3,5 4 4,5 5 T [s] no cálculo do deslocamento. Pórtico plano. 80 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Para o efeito da não regularidade da estrutura é menor do que para , como se observa comparando as Figuras 5.16 e 5.17. Independentemente da metodologia, as diferenças dos são maiores para coeficientes de ductilidade em força maiores - na ordem de para e aproximadamente para . Importa, ainda, referir que: - as três curvas de cada conjunto – mesma metodologia e mesmo valor de – têm andamentos semelhantes, sendo aplicáveis as conclusões anteriores relativamente à evolução com o período da estrutura; - o valor numérico do para cada metodologia é menor para estruturas mais regulares - as curvas para conduzem a menores que para e . As consequências desta segunda observação diferem consoante a metodologia da análise estática não linear. Uma vez que o da metodologia proposta pelo EC8-2 é, geralmente, positivo, a não regularidade da estrutura aumenta o valor absoluto do , pelo que os resultados da análise se afastam do resultado “exacto” da análise dinâmica não linear. Porém, o deslocamento obtido situa-se do lado da segurança uma vez que se obtêm deslocamentos maiores do que os obtidos pela análise ao longo do tempo. Para o CSM, como para períodos mais elevados, o deslocamento obtido é inferior ao da análise Erro ao longo do tempo - o módulo do 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 0,5 -20% -30% -40% torna-se menor para estruturas mais irregulares. β=1,2 EC8-2 β=1,5 EC8-2 β=2,0 EC8-2 β=1,2 CSM β=1,5 CSM 1 1,5 2 Figura 5.17 Variação do 2,5 3 3,5 4 4,5 5 β=2,0 CSM T [s] no cálculo do deslocamento. Pórtico plano. 81 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Com base nos resultados apresentados nas figuras 5.18 e 5.19 analisa-se em maior detalhe a influência do período e do coeficiente de ductilidade em força, , no dos deslocamentos obtidos pelas metodologias da análise estática não linear. Nas figuras 5.18 e 5.19 apresenta-se a variação do valor do dos deslocamentos obtidos pela metodologia CSM e pela metodologia proposta pelo EC8-2, respectivamente, para diferentes coeficientes de ductilidade em força e com 1,2. 60% 50% 40% Erro 30% x=1 CSM 20% x=2 CSM 10% x=3 CSM 0% -10% 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 x=4 CSM x=5 CSM -20% -30% -40% T [s] Figura 5.18 Variação do no cálculo do deslocamento pelo CSM. Diferentes valores de . Pórtico plano 1,2 Com base nos resultados apresentados na Figura 5.18 é possível verificar que o deslocamento obtido pelo CSM tende a diminuir com o período da estrutura. O período para o qual o do coeficiente quando do deslocamento se torna negativo tende a diminuir com o aumento - a mudança de sinal ocorre para quando e para . Da análise dos resultados apresentados na Figura 5.19 saliente-se o aumento do do deslocamento obtido pela metodologia do EC8-2 para períodos na ordem de e a sua forte diminuição para períodos mais elevados. 82 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 60% 50% Erro 40% 30% x=1 EC8-2 20% X=2 EC8-2 10% x=3 EC8-2 0% -10% 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 x=4 EC8-2 x=5 EC8-2 -20% -30% -40% Figura 5.19 Variação do T [s] no cálculo do deslocamento pela metodologia do EC8-2. Diferentes valores de . Pórtico plano 1,2 5.4 Análise de uma ponte real Nesta secção analisam-se dois modelos baseados numa ponte real, representada esquematicamente na Figura 5.20. A ligação ao tabuleiro dos dois pilares que se situam mais perto dos encontros é efectuada através de aparelhos de apoio deslizantes que são modelados como apoios móveis. O tabuleiro da ponte e a disposição dos pilares são mantidos constantes nos dois modelos. A única distinção é a altura dos pilares os quais foram definidos de forma a obter períodos de vibração diferentes: . Designa-se por Modelo 1 a estrutura de ponte com Modelo 2 a estrutura com unidade de comprimento de e e por Considerou-se para o tabuleiro uma massa por . Figura 5.20 Representação do modelo das pontes estudadas 83 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Apresentam-se, na Tabela 5.4, as alturas dos pilares para ambos os modelos. Os valores característicos da curva de capacidade e da relação Momentos-Rotações de cada pilar são apresentados no Anexo 5. Pilares e e e Modelo 1 10 15 20 25 Modelo 2 20 25 30 35 Tabela 5.4 Alturas dos pilares dos modelos analisados Tal como para as análises efectuadas anteriormente, relativamente a um pilar isolado e a um pórtico plano, os modelos de ponte são analisados para a acção sísmica com várias intensidades, correspondendo a coeficientes de ductilidade em força de 1 a 5. Como foi referido analisa-se apenas o comportamento na direcção longitudinal. 5.4.1 Análise de resultados para o Modelo 1 ( ) Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 5.5 e estão de acordo com os recolhidos anteriormente para um pórtico plano para um período de vibração na ordem dos 2 segundos: - os deslocamentos obtidos pelo método proposto no Eurocódigo 8-2 são superiores aos obtidos pelo CSM e pela análise ao longo do tempo; -o da metodologia do EC8-2 aumenta com o valor de ; - o módulo do é menor para a metodologia CSM . Da análise dos resultados conclui-se que o Método do Espectro de Capacidade apresenta melhores resultados do que a metodologia proposta na norma europeia. É de notar, também, que ambas as metodologias apresentam resultados do lado da segurança, uma vez que o deslocamento obtido é superior ao determinado através de uma análise dinâmica não linear. 84 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 0,668 1,336 2,004 2,672 3,34 ADNL [cm] 4,58 7,89 9,71 12,33 15,05 EC8-2 [cm] CSM [cm] 4,91 4,91 7% 7% 9,82 8,40 25% 7% 14,73 12,55 52% 29% 19,64 15,24 59% 24% 24,56 17,90 63% 19% Tabela 5.5 Resultado das análises efectuadas para o Modelo 1 ( ) Outra observação relevante é o facto de na rotura - em que se atinge o deslocamento que provoca o colapso dos pilares e - os pilares , e permanecem sempre em regime elástico. Este facto pode ser verificado na Figura 5.21, onde se apresentam os deslocamentos obtidos pelos diferentes métodos utilizados para e . Aqueles deslocamentos podem ser comparados com os deslocamentos de cedência de rotura e de cada pilar. No entanto, de forma a facilitar a sua leitura, não se apresenta na Figura 5.21 os valores dos deslocamentos de rotura dos pilares a uma vez que estes são muito superiores ao deslocamento de rotura do pilar . Para verifica-se que para os deslocamentos obtidos através da análise ao longo do tempo e através do CSM a estrutura ainda não atingiu o colapso, mas que tal não acontece para a metodologia do EC8-2, onde o colapso já ocorreu para (Tabela 5.5). 85 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros 35 Deslocamentos de cedência Deslocamento [cm] 30 Deslocamentos de rotura 25 x=3 ADNL 20 x=3 EC8-2 15 x=3 CSM 10 x=5 ADNL 5 x=5 EC8-2 0 1 2 3 4 Pilar 5 6 7 x=5 CSM Figura 5.21 Deslocamentos do topo de cada pilar pelos vários métodos utilizados. Modelo 1 ( 5.4.2 Análise de resultados para o Modelo 2 ( ). ) Os resultados das análises pushover e da análise dinâmica não linear efectuadas com o modelo de ponte com um período apresentam-se na Tabela 5.6 e são coerentes com os obtidos em 5.3. Como seria expectável para períodos mais longos, os deslocamentos obtidos pela metodologia proposta no ATC-40 são inferiores aos obtidos pelo método do EC8-2 e por uma análise ao longo do tempo. Verifica-se, também, que o método proposto no Eurocódigo apresenta resultados bastante precisos para estruturas é pequeno – inferior a 10%. Porém, os com períodos elevados: o valor absoluto do deslocamentos obtidos são inferiores aos de uma análise passo-a-passo, pelo que os resultados obtidos não estão do lado da segurança. 2,613 5,226 7,839 10,452 13,065 ADNL [cm] 22,12 44,13 65,79 87,49 100,59 EC8-2 [cm] CSM [cm] 19,86 19,86 -10% -10% 39,72 31,88 -10% -28% 59,58 48,37 -9% -26% 79,44 58,95 -9% -33% 99,30 69,20 -1% -31% Tabela 5.6 Resultados das análises efectuadas para o Modelo 2 ( ) 86 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Apresentam-se na Figura 5.22 os deslocamentos obtidos para coeficientes de ductilidade em força e , assim como os deslocamentos de cedência e de rotura. Tal como para a Figura 5.21 não se apresentam na Figura 5.22 os deslocamentos de rotura de todos os pilares de forma a facilitar a sua leitura. Note-se na Figura 5.22 que, contrariamente ao Modelo 1 cuja relação entre o comprimento dos pilares é maior, a rotura da estrutura só ocorre depois de todos os pilares plastificarem. Observe-se, também, na Tabela 5.6, que, para a análise passo-apasso e pela metodologia do Eurocódigo, o colapso da estrutura se atinge para enquanto que, para o Método do Espectro de Capacidade, só ocorre para , . 120 110 Deslocamento [cm] 100 Deslocamento de cedência 90 Deslocamento de rotura 80 x=3 ADNL 70 60 x=3 EC8-2 50 x=3 CSM 40 x=5 ADNL 30 x=5 EC8-2 20 x=5 CSM 10 1 2 3 4 5 6 7 Pilar Figura 5.22 Deslocamentos do topo de cada pilar pelos vários métodos utilizados. Modelo 2 ( ) 5.5 Análise da influência da rigidez pós-cedência Nesta secção estuda-se a influência da rigidez pós-cedência nos resultados das análises estáticas não lineares. Como foi explicado no capitulo 3, onde se abordou o comportamento fisicamente não linear, adoptou-se uma rigidez pós-cedência no diagrama Momentos - Curvaturas, Define-se , igual a 1% da rigidez elástica fendilhada 1, . como a relação entre a rigidez pós-cedência e a rigidez elástica no comportamento da secção : (5.12) 1 De forma a facilitar a leitura deste texto, assume-se que, a menos de indicação em contrário, a rigidez elástica corresponde sempre ao seu valor fendilhado. 87 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Os resultados anteriores foram obtidos para resultados da análise dos efeitos de aumentar o valor de e . Apresentam-se agora os , analisando os casos . Os objectivos desta análise foram os seguintes: 1) Verificar se as conclusões anteriores são validas quando se adopta uma maior rigidez pós-cedência em todos os métodos de análise; 2) Avaliar a influência da rigidez pós-cedência, tomando como referência a análise dinâmica não linear com . 5.5.1 Apresentação da análise As análises foram efectuadas para 5 dos 15 pórticos estudados em 5.3: considera-se apenas um dos valores de relação entre o comprimento dos pilares, analisaram-se os casos da estrutura. Adoptou-se e ,e de forma a variar o período de vibração por ser o caso em que a relação entre dos pilares tem menos influência nos resultados. Nos casos anteriores o coeficiente de ductilidade em força, , era um dos parâmetros da análise. Nesta secção, estuda-se o efeito da rigidez pós-cedência quando o coeficiente de comportamento, , é mantido constante, tendo-se adoptado um valor constante . O significado de foi explicado em 5.1.1 e ilustrado na Figura 5.2, sendo o seu valor dado por: (5.13) em que: é a força exercida no topo do pilar numa análise elástica linear é a força obtida no topo do pilar tendo em conta o comportamento não linear do elemento Desta forma, o coeficiente de comportamento é definido localmente para cada elemento estrutural. Uma vez que no caso deste trabalho o pilar – mais curto – é 88 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear condicionante, o valor utilizado para comportamento do pilar corresponde ao valor do coeficiente de de cada um dos pórticos. Da Figura 5.2 é, também, possível retirar a seguinte relação entre o coeficiente de comportamento, , e o coeficiente de ductilidade em força, : (5.14) em que: é a relação entre a rigidez pós-cedência, , e a rigidez elástica, , na curva de capacidade do pilar: (5.15) Uma vez relacionados os valores de e e com base numa análise por espectro de resposta a um dado pórtico é, então, possível determinar o valor da aceleração máxima no solo – – à qual corresponde um coeficiente de comportamento Analisaram-se os casos é diferente do de e sendo de notar que o valor de . O processo consiste em determinar, através da metodologia apresentada no capítulo 3, os valores de e . correspondentes, respectivamente, a . De seguida, determinam-se as respectivas curvas de capacidade, em que se mantém constante o coeficiente de comportamento, como ilustrado na Figura 5.23. 89 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Figura 5.23 Influência da rigidez pós-cedência 5.5.2 Análise de resultados Numa primeira fase foi-se verificar se as conclusões anteriores, relativas à influência do período na comparação entre os métodos pushover e a análise passo-apasso, se mantêm no caso de se alterar a rigidez pós-cedência. Uma vez que a metodologia prevista no EC8-2 se baseia no princípio da igualdade de deslocamento, o deslocamento obtido por esta metodologia depende apenas das características elásticas da estrutura pelo que o deslocamento obtido se mantém constante apesar de se alterar a rigidez pós-cedência. No entanto, os deslocamentos obtidos por uma análise dinâmica dependem do valor de , como se pode verificar na Figura 5.24, onde se apresentam os valores dos deslocamentos obtidos por análises ao longo do tempo para diferentes valores de e os deslocamentos obtidos pela metodologia do EC8-2. 90 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 1,1 1 Deslocamento [m] 0,9 0,7 Análise dinâmica k=0.01 0,6 EC8-2 0,8 0,5 Análise dinâmica k=0.05 0,4 0,3 Análise dinâmica k=0.1 0,2 0,1 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 T [s] 3,5 4 4,5 5 Figura 5.24 Análise da influência da rigidez pós-cedência de um pórtico nos deslocamentos obtidos por uma análise dinâmica e pela metodologia do EC8-2 Da Figura 5.24 é possível observar que os deslocamentos são menores para maiores valores de e que a metodologia do Eurocódigo se aproxima mais dos resultados da análise dinâmica para da metodologia do EC8-2 – cujo deslocamento é 5.25, onde se apresenta o independente de . Este resultado é evidenciado na Figura – e do Método do Espectro de Capacidade relativamente às análises dinâmicas realizadas para e . Note-se que o do deslocamento do CSM para um dado valor foi calculado relativamente ao deslocamento da análise dinâmica para o mesmo valor . Observa-se que o valor do do EC8-2 aumenta para maiores. Este resultado é coerente com o facto do Eurocódigo 8 propor que as análises estáticas não lineares sejam efectuadas sem ter em consideração a rigidez pós-cedência. De uma forma aproximada, pode dizer-se que as curvas dos para maiores valores de são obtidas por translação vertical da curva do aumentando o valor do para . Desta forma, a variação do vibração mantém-se para diferentes valores de fortemente influenciado pelo valor de , ou seja, em função do período de ; no entanto, o valor do é . Relativamente à comparação directa entre a metodologia do EC8-2 e o CSM, a variação do valor de semelhante nas curvas em função do período de vibração, tem uma influência , independentemente do método adoptado para a análise pushover. Note-se que o período para o qual o deslocamento obtido pelo CSM torna-se inferior ao da metodologia do EC8-2 mantém91 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros se aproximadamente constante para os diferentes valores de período corresponde aproximadamente a ; na Figura 5.27, este , abcissa onde se cruzam as curvas Erro da mesma cor. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 0,5 -20% -30% -40% EC8-2 k=0.01 CSM k=0.01 EC8-2 k=0.05 CSM k=0.05 EC8-2 k=0.1 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 CSM k=0.1 T [s] Figura 5.25 Erros da metodologia do EC8-2 relativamente à análise dinâmica para diferentes valores de Avalia-se agora o efeito de se escolher uma rigidez pós-cedência maior. Esta avaliação é feita ao comparar os resultados obtidos para obtidos por uma análise dinâmica não linear com e com os . O deslocamento máximo obtido pela análise dinâmica diminui para maiores valores de , como pode ser observado na Figura 5.24. A influência do valor de nos resultados da análise dinâmica é grande quando comparada com a influência de na metodologia CSM, como pode ser observado nas Figuras 5.26 onde se apresentam os valores dos deslocamentos obtidos pelo CSM com diferentes valores de deslocamentos obtidos por uma análise passo-a-passo com e os . 92 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 1,1 1 Deslocamento [m] 0,9 CSM k=0.01 0,8 0,7 CSM k=0.05 0,6 0,5 CSM k=0.1 0,4 0,3 Análise dinâmica k=0.01 0,2 0,1 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 T [s] 3,5 4 4,5 5 Figura 5.26 Deslocamentos do CSM e comparação com o deslocamento obtido por uma análise dinâmica com Pode assim concluir-se que o valor da rigidez pós-cedência não tem grande influência nos resultados obtidos pelo CSM, ou seja, o deslocamento obtido é pouco . Esta conclusão pode ser observada em termos absolutos – afectado pelo valor de comparando o valor dos deslocamentos – na Figura 5.26, ou em termos relativos como se apresenta na Figura 5.27. Nesta figura apresenta-se a diferença relativa entre os deslocamentos obtidos pelo CSM com e com os obtidos com . Observa-se na Figura 5.27 que, com excepção dos períodos mais curtos e , essa diferença é inferior a 10%. Erro relatico a CSM com k=0,01 para 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 0,5 -20% -30% -40% CSM k=0.05 CSM k=0.1 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 T [s] Figura 5.27 Diferença relativa dos deslocamentos do CSM para várias rigidezes pós-cedência 93 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros A Figura 5.28 apresenta o variação do valor do dinâmica com relativamente à análise para o CSM efectuado com diferentes valores de se na Figura 5.28 que o valor do não é muito afectado pelo valor . Verifica, variando na ordem dos 5 pontos percentuais, excepto para períodos mais pequenos onde a diferença Erro relatrivo a k=0,01 é maior. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 0,5 -20% -30% -40% CSM k=0.01 CSM k=0.05 CSM k=0.1 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 T [s] Figura 5.28 Erros da metodologia CSM relativamente à análise dinâmica com Assim, admitindo os resultados da análise ao longo do tempo com como os valores exactos, considerando então que esta análise é a que melhor representa o comportamento real da estrutura, pode, concluir-se o seguinte: os resultados da metodologia do EC8-2 não são afectados pelo valor da rigidez pós-cedência – os deslocamentos obtidos mantêm-se para qualquer valor de . Desta forma, todas as conclusões das secções anteriores – relativamente à comparação entre esta metodologia e o método mais “exacto” – mantêm-se; os resultados do Método do Espectro de Capacidade são pouco afectados pela rigidez pós-cedência – o valor do deslocamento varia pouco com o valor de (diferenças geralmente inferiores a 10%). Consequentemente, tal como para a metodologia do EC8-2, as conclusões anteriores são válidas no caso de se utilizar o CSM com uma maior rigidez pós-cedência. Os resultados numéricos de todos os deslocamentos obtidos nesta secção são apresentados em forma de tabela no Anexo 6. 94 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear 6. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Apresentam-se neste capítulo as principais conclusões desta dissertação, assim como eventuais desenvolvimentos futuros que poderão ser realizados no seguimento deste trabalho. Contrariamente ao método mais utilizado na prática do projecto em Portugal – a análise modal por espectro de resposta – a análise estática não linear é um método baseado em deslocamentos. A verificação da segurança, ou de um determinado nível de desempenho, é efectuada ao nível dos deslocamentos e não ao nível dos esforços actuantes nas secções estruturais. Para realizar análises pushover é necessário determinar a curva de capacidade da estrutura – curva que relaciona a força de corte basal e o deslocamento de um dado ponto de controlo – cujo andamento depende do padrão de carregamento e do ponto de controlo escolhido. No caso deste trabalho e uma vez que só se abordou o comportamento de pontes correntes na direcção longitudinal, estes dois factores não são relevantes uma vez que este tipo de estrutura pode ser considerado como um oscilador de um grau de liberdade quando se atende apenas ao seu comportamento na direcção longitudinal. A curva de capacidade de cada pilar foi obtida recorrendo a um programa de cálculo automático implementado em MATLAB. Partindo das relações constitutivas dos materiais determinou-se a relação MomentosCurvaturas da secção de encastramento para, em seguida e recorrendo a um modelo de plasticidade concentrada – o modelo de rótula plástica – se obter a relação entre a carga aplicada no topo do pilar e o deslocamento nesse ponto. Uma vez obtida a curva de capacidade dos pilares, determina-se a mesma curva para a totalidade da estrutura, tendo em consideração a contribuição de todos os pilares, e pode, então, determinar-se o deslocamento objectivo. Na presente dissertação, o deslocamento objectivo foi determinado por duas metodologias distintas: a primeira aconselhada no EC8-2 e a segunda proposta no ATC-40 – o Método do Espectro de Capacidade. Ambas as metodologias recorrem à utilização de espectros de resposta diferindo, no entanto, na forma como a plasticidade é tida em conta. O método proposto na norma europeia baseia-se no princípio da igualdade de deslocamentos: o deslocamento objectivo é igual ao deslocamento que teria o oscilador elástico. A metodologia do EC8-2 para as análises pushover corresponde, então, a uma 95 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros análise elástica para a determinação do deslocamento devido à acção sísmica. A principal vantagem, quando comparado com a análise elástica corrente, reside no facto de que permite comparar esse deslocamento com a capacidade da estrutura, sendo possível estimar o nível de dano da estrutura ou comparar o comportamento com um determinado nível de desempenho. O Método do Espectro de Capacidade, ou CSM (Capacity Spectrum Method), requer a utilização do espectro de resposta no formato ADRS (Acceleration Displacement Response Spectrum) que relaciona a aceleração do oscilador com o seu deslocamento. Esta metodologia tem em conta uma correcção do espectro de resposta ADRS através de um amortecimento viscoso efectivo, que tem em consideração o amortecimento histerético, sendo necessário recorrer a um processo iterativo para determinar o deslocamento objectivo. Os resultados de ambas as metodologias foram comparados entre si e com os obtidos por uma análise dinâmica não linear, tomada como valor de referência por este ser considerado o método de análise mais exacto. Numa primeira fase, estas comparações foram efectuadas para pilares isolados; numa segunda fase analisaram-se diferentes pórticos planos constituídos por dois pilares; e, por fim, analisaram-se exemplos baseados em pontes reais. Destas análises é possível tirar as seguintes conclusões: a) Influência do período de vibração Existe uma forte influência do período de vibração, quer na comparação dos resultados obtidos através das entre as duas metodologias de análise estática não linear, quer na comparação daqueles resultados com os obtidos através de uma análise ao longo do tempo. Para períodos mais curtos – geralmente inferiores a , o deslocamento obtido pelo CSM é superior ao obtido pela metodologia proposta pelo EC8-2, invertendo-se esta relação para períodos superiores. O do deslocamento relativamente à análise ao longo do tempo (definido em 5.2.2) tende a decrescer com para a metodologia CSM. O valor do para períodos inferiores a aproximadamente é positivo tornando-se negativo para períodos 96 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear superiores àquele valor. O valor do erro tende a decrescer de forma aproximadamente linear, de aproximadamente para a para Para o método proposto pelo EC8-2 o valor do crescente para períodos aproximadamente inferiores a cerca de do a . tem uma tendência onde atinge um pico de , para depois decrescer quando o período de vibração aumenta. O valor torna-se ligeiramente negativo – na ordem de – para períodos superiores . A precisão para essa gama de períodos é muito maior do que para o Método do Espectro de Capacidade. Estas conclusões poder ser observadas na Figura 6.1 onde se apresenta a variação do valor do em função do período de vibração da estrutura, para um pórtico plano com uma relação entre a altura dos pilares Erro comportamento 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% 0,5 -20% -30% -40% e um coeficiente de . EC8-2 CSM 1 1,5 Figura 6.1 Evolução do 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 T [s] com o período de vibração. Pórtico plano . b) Influência da irregularidade da estrutura Constatou-se que a irregularidade da estrutura, que neste trabalho foi controlada pela relação entre os dois pilares de um pórtico plano, tem consequências distintas para os dois métodos analisados. Para a metodologia proposta no EC8-2, o obtido para as estruturas mais irregulares foi maior, mas manteve-se do lado da segurança, afastando-se do valor do deslocamento obtido por uma análise dinâmica. Para a metodologia CSM o valor numérico do também foi superior para estruturas 97 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros irregulares. No entanto, uma vez que o valor do se torna negativo para períodos mais elevados, o deslocamento obtido para estruturas mais irregulares é mais preciso para uma dada gama de períodos de vibração. c) Influência da rigidez pós-cedência A influência da rigidez pós-cedência foi analisada comparando os resultados das análises estáticas não lineares, efectuadas com diferentes rigidezes pós-cedência, com os obtidos por uma análise dinâmica com uma rigidez pós-cedência . Constatou- se que o deslocamento obtido pela metodologia do EC8-2 não é afectado e que, para a metodologia CSM, o deslocamento obtido é ligeiramente afectado pela rigidez póscedência – a diferença relativa é geralmente inferior a 10%. Desta forma, assumindo que a análise dinâmica com representa o comportamento de referência da estrutura, conclui-se que a influência da rigidez pós-cedência nos resultados de análises pushover é desprezável. d) Facilidade de implementação Ambos os métodos de análise não linear – a análise pushover e a análise ao longo do tempo – requerem a determinação do comportamento não linear de secções estruturais. No caso da presente dissertação, para ambos os métodos, utilizou-se o mesmo programa de cálculo implementado em MATLAB, como apresentado no capítulo 3. A principal diferença ao nível da implementação aparece na determinação do deslocamento. As análises pushover revelaram-se de muito mais rápida execução do que as análises ao longo do tempo. Isto deve-se ao facto de serem computacionalmente muito mais simples e de recorrerem directamente a espectros de resposta, contrariamente à análise dinâmica cujo deslocamento é a média dos obtidos por um dado número de acelerogramas. A utilização das metodologias da análise estática não linear permite conhecer melhor o comportamento da estrutura do que recorrendo a uma análise modal com base em espectros de resposta. A análise pushover permite determinar a sequência de formação de rótulas plásticas e determinar as exigências de ductilidade dos diversos elementos estruturais. No entanto, se o objectivo da análise for apenas determinar o 98 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear deslocamento devido à acção sísmica, então a modelação da não linearidade pode não valer a pena. Para determinados períodos de vibração, a metodologia proposta no EC8-2 apresenta melhores resultados que a metodologia CSM, não sendo então necessário recorrer a uma análise pushover para o cálculo do deslocamento. Isto acontece porque a metodologia proposta no Eurocódigo admite a hipótese da igualdade de deslocamentos, pelo que o deslocamento é calculado assumindo uma resposta da estrutura em regime elástico. Relativamente aos desenvolvimentos futuros no âmbito desta dissertação sugerese, por exemplo, a aplicação de análises estáticas não lineares a estruturas de pontes na sua direcção transversal. Uma vez que na direcção transversal a ponte será geralmente analisada através de um modelo com vários graus de liberdade, a escolha dos modos de vibração assim como do ponto de controlo e padrão de carregamento tornam-se aspectos fundamentais. Propõe-se também avaliar a influência da deformabilidade da fundação e dos efeitos geometricamente não lineares, como os efeitos , às conclusões apresentadas neste trabalho. 99 Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros Referências APPLIED TECHNOLOGY COUNCIL (1996). Seismic Evaluation and Retrofit of Concrete Buildings, Volume 1. California Seismic Safety Commission ARRIAGA E CUNHA, M. (2011).Análise Sísmica de Pontes – Análise da Influência do Comportamento Não-Linear de Rótulas Plásticas. Tese de Mestrado, IST. CLOUGH, R. W. & PENZIEN, J. (2003). Dynamics of Structures. Computers & Structures, Inc, iii ed. CSI. SAP 2000. Versão 14. Computers & Structures, Inc. EN 1992-1-1 (2004). Eurocode 2: Design of concrete structures – Part 1-1: General rules and rules for buildings. CEN. EN 1998-1 (2004). Eurocode 8: Design of structures for earthquake resistance – Part 1: General rules, seismic actions and rules for buildings. CEN. EN 1998-2 (2004). Eurocode 8: Design of structures for earthquake resistance – Part 2: Bridges. CEN. GUERREIRO, L. (2002). Geração de Séries de Acelerações. ICIST, IST MATHWORKS 2010. Matlab PINHO, R., CASASAROTTI, C., MONTEIRO, R. & DELGADO, R. (2009), Avaliação do Comportamento Sísmico de Pontes por Análises Estáticas não Lineares.1º Congresso Nacional sobre a Segurança e Conservação de Pontes. PRIESTLEY, M.J.N., CALVI, G.M. & KOWALSKY, M.J. (2007). DisplacementBased Seismic Design of Structures. IUSS Press. VIRTUOSO, F., GOMES, A. & MENDES, P. (1998). Cálculo da Relação MomentoCurvatura e do Diagrama de Interacção Momento-Esforço Normal em Secções de Betão Armado e Pré-Esforçado. ICIST. 100 Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Bibliografia AZEVEDO, J & PROENÇA, J. M. (1991). Dinâmica de Estruturas. IST. BENTO, R.& FALCÃO, S (2003). Avaliação Sísmica de Estruturas com Base em Análises Estáticas Não Lineares – Metodologia. Revista Portuguesa de Engenharia de Estruturas. BEYER, K (2012). Génie Parasismique – Présentations du Cours. EESD, EPFL LESTUZZI, P. (2011). Évaluation Parasismique des Constructions Existantes – Bâtiments en Maçonnerie. IMAC, EPFL MATOS, J. (2009). 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III Anexos T=2,4 ADNL 11,26 18,78 27,74 38,46 49,79 EC8-2 12,53 11% 25,07 34% 37,60 36% 50,14 30% 62,67 26% CSM 12,53 11% 20,69 10% 27,36 -1% 33,99 -12% 40,61 -18% ADNL 13,17 25,11 42,97 52,14 58.73 EC8-2 15,98 21% 31,97 27% 47,95 12% 63,93 23% 79,92 36% T=2,8 CSM 15,98 21% 26,39 5% 34,90 -19% 43,37 -17% 51,80 -12% ADNL 20,40 34,80 48,51 64,90 81,92 EC8-2 19,63 -4% 36,26 4% 58,89 21% 78,52 21% 98,15 20% CSM 19,63 -4% 32,11 -8% 42,51 -12% 52,90 -18% 63,24 -23% IV Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Anexo 3: Valores da curva de capacidade de cada pórtico plano [cm] 8 12 15 20 25 9,6 12 16 14,4 18 24 18 22,5 30 24 30 40 30 37,5 50 0,77 0,85 0,91 1,43 1,58 1,69 1,95 2,15 2,31 1,95 2,15 2,31 4,13 4,55 4,88 3,11 6,9 11,04 19,7 30,98 4249,97 3490,51 3030,45 2718,46 2232,16 1937,20 2341,00 1924,34 1669,80 1792,72 1475,51 1281,04 1465,01 1206,73 1047,77 4,48 7,05 12,57 9,94 15,53 27,62 15,93 25,09 28,57 45,02 45,02 70,98 - 4974,07 4610,80 4320,86 3181,32 2937,90 2745,88 2744,66 2553,87 2107,11 1965,27 1724,06 1611,27 - 5316,52 4805,69 4327,61 3416,49 3074,10 2756,61 2918,09 2645,09 2327,96 2232,99 2028,39 1837,47 1821,87 1658,19 1427,03 12,8 28,83 41,3 70,61 107,1 V Anexos Anexo 4: Resultados da análise a pórticos planos Valores dos deslocamentos (em centímetros) e respectivos . VI Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear VII Anexos VIII Análise Sísmica de Estruturas de Pontes através de uma Análise Estática não Linear Anexo 5: Características dos pilares das pontes analisadas em 5.4 IX Anexos Anexo 6: Resultados da análise sobre influência da rigidez póscedência Valores dos deslocamentos (em centímetros). 8 12 15 20 25 0,85 1,43 2,15 2,97 4,55 ADNL 7,66 17,59 23,60 57,48 105,74 EC82 9,96 22,15 35,50 63,43 99,76 CSM 10,87 21,00 26,79 47,03 74,00 ADNL 6,87 14,63 22,55 49,99 88,78 EC82 9,95 22,15 35,49 63,43 99,76 CSM 13,56 23,71 28,49 49,84 78,54 ADNL 3,66 12,92 18,96 42,20 73,07 EC82 9,96 22,15 35,49 63,43 99,76 CSM 10,87 22,05 24,96 44,46 71,12 X