Novos cristãos em Lisboa
reconhecendo estigmas, negociando estereótipos
Conselho Editorial
Bertha K. Becker (in memoriam)
Candido Mendes
Cristovam Buarque
Ignacy Sachs
Jurandir Freire Costa
Ladislau Dowbor
Pierre Salama
Claudia Wolff Swatowiski
Novos cristãos em Lisboa
reconhecendo estigmas, negociando estereótipos
Copyright © 2013, Claudia Wolff Swatowiski
Direitos cedidos para esta edição à
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Revisão
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Editoração Eletrônica
Editora Garamond / Luiz Oliveira
Capa
Estúdio Garamond / Anderson Leal
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S977n
Swatowiski, Claudia Wolff
Novos cristãos em Lisboa: reconhecendo estigmas, negociando estereótipos / Claudia Wolff Swatowiski. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Garamond,
2013.
264 p. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 9788576173137
1. Judeus - Portugal - História. 2. Portugal - Relações étnicas. I. Título.
13-05873
CDD: 946.9
CDU: 94(469)
Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer
meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.
Agradecimentos
Este livro foi apresentado como tese de doutorado em
Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Realizá-lo não foi tarefa fácil. Mas tive a grande
sorte de encontrar, ao longo de meu caminho, pessoas
maravilhosas que, além me ajudar a viabilizar essa aventura intelectual, tornaram-na muito agradável. Com elas,
esse trabalho foi elaborado, e a elas tenho muito a agradecer. Em poucas palavras, espero conseguir expressar aqui
minha gratidão sincera a todos, embora não seja possível
lembrar cada um por nome neste curto espaço.
Meus agradecimentos especiais à Clara Mafra, minha
orientadora e amiga, pela imensa dedicação, pela interlocução aberta e pela significativa participação em minha formação como antropóloga. Ela não está mais entre nós, mas
sempre será lembrada com muito carinho e admiração.
Também tenho muito a agradecer a Ramon Sarró,
que foi meu co-orientador, participou da banca de qualificação e de defesa da minha tese, e contribuiu para a
realização desse estudo de várias maneiras, principalmente
com suas observações perspicazes.
Aos professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UERJ sou muito grata por
tudo que aprendi durante as aulas e fora delas. Lembro
aqui de Patricia Birman e Cecília Mariz, que acompanha-
ram minha evolução acadêmica e participaram da banca
de defesa da tese.
A acolhida do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e de seus professores, pesquisadores
e alunos com quem tive a oportunidade de conviver foi
fundamental para o período de trabalho de campo. Agradeço o apoio e incentivo de João Pina Cabral, que também compôs a banca de defesa da tese, e aos colegas Ruy
Blanes, José Mapril, João Vasconcellos e Steffen Dix pela
disponibilidade para partilhar informações e experiências
de pesquisa.
Ressalto minha gratidão a todos amigos que fiz em
Portugal e que generosamente cooperaram, direta ou
indiretamente, com meu trabalho, incluindo aqui meus
principais interlocutores, que serão apresentados ao leitor
ao longo do livro. Sem eles esta pesquisa não faria sentido.
Agradeço muito aos meus pais, pela torcida, pelo afeto e pelo apoio incondicional aos meus projetos, e aos
meus irmãos pela felicidade de partilhar com eles desafios
e conquistas.
Importante destacar que este estudo não teria sido
viável sem o suporte financeiro da Faperj e da Capes,
que, permitiram dedicação exclusiva ao doutorado, a realização da pesquisa em Portugal e a publicação deste
livro.
Sumário
Apresentação............................................................................9
Introdução..............................................................................13
Nas ladeiras da ajuda:
um recorte espaçotemporal..........................................27
IGREJA FILADÉLFIA: MEDIANDO
ESTEREÓTIPOS E TRADIÇÃO....................................................77
TESTEMUNHAS DE JEOVÁ:
O DESAFIO DO PROSELITISMO FACE A FACE......................119
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS:
TENTATIVAS DE SUPERAÇÃO DE UM ESTIGMA ................155
MANTENDO A ESTRUTURA, CRIANDO PONTES:
A IURD E A HEGEMONIA CATÓLICA.....................................203
CONCLUSÃO...............................................................................233
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................243
Apresentação
Preconceitos, intolerância e estigmas sempre atormentaram os
diferentes e forasteiros em graus diversos nos mais distintos grupos
sociais. Este problema tem atravessado toda a história da humanidade. A crítica dos antropólogos ao etnocentrismo tem sido muito
importante na luta contra a intolerância e a favor dos direitos à diferença – bandeiras importantes na agenda social e ética contemporânea. No entanto, a intensificação das migrações e do pluralismo no contexto global faz ressurgir, especialmente em situações
de crise e competição por bens econômicos, novas expressões de
preconceitos e de tensões que dificultam o convívio entre os diferentes, principalmente quanto às crenças religiosas e etnias.Tema
fundamental nas reflexões antropológicas em geral, e em especial
na Antropologia da Religião, a relação com o diferente é a questão
central do instigante livro Novos cristãos em Lisboa: reconhecendo estigmas, negociando estereótipos de Cláudia Wolff Swatowiski.
É importante chamar atenção ao leitor para o fato de que
a expressão “novos cristãos” adotada pela autora, embora pareça
similar, não tem relação alguma com a clássica expressão “cristãos
novos” que, na história do Brasil e de Portugal, se refere a judeus
obrigados a se converter ao catolicismo para fugir da perseguição
religiosa. Esses “novos cristãos”, aqui discutidos, apenas lembrariam os “cristãos novos/judeus” pelo fato de terem sido estigmatizados e estereotipados sofrendo preconceitos. Os dois grupos se
assemelham assim pela dificuldade de serem aceitos, apesar de ten9
10 l Novos cristãos em Lisboa
tarem, pela sociedade portuguesa em geral. E é neste sentido que
o título sugere um inteligente trocadilho.
Os três grupos chamados de “novos cristãos” são: os Testemunhas de Jeová, os ciganos que se convertem a uma igreja pentecostal e os fiéis de uma igreja brasileira neopentecostal que faz missão
em Portugal, a Igreja Universal do Reino de Deus. Todos tentam
se firmar na sociedade portuguesa. A própria aderência a igrejas
pentecostais por parte dos ciganos parece, como sugere a autora,
uma estratégia desse grupo étnico de adotar um estilo de vida
mais compatível com a sociedade mais ampla. Por outro lado, os
projetos missionários, tanto dos Testemunhas de Jeová quanto da
Igreja Universal do Reino de Deus, implicam uma busca de maior
presença e aceitação no solo português.
Apesar de compartilharem problemas semelhantes, esses três
grupos são muitos distintos em termos de sua história, composição
e projetos. Essa grande diversidade impediu a autora de realizar
qualquer comparação sistemática entre eles. Portanto, a proposta
do livro é apresentar três estudos de caso paralelos.
Através desses três casos Claudia Swatowiski consegue dialogar com ideias centrais da antropologia internacional e brasileira e
nos ajuda a refletir sobre questões específicas que contribuem para
o entendimento de cada um desses grupos religiosos e especialmente sobre a Igreja Universal do Reino de Deus. Tendo já muito conhecimento sobre igrejas pentecostais no Brasil, trabalhando
com Clara Mafra e, sob sua orientação, escrevendo uma dissertação
de mestrado especificamente sobre Igreja Universal do Reino de
Deus, Cláudia consegue observar e identificar as dificuldades dessa
igreja em Portugal e também as novas estratégias missionárias adotadas para permanecer naquele país.
De leitura muita agradável, o livro nos conduz pelo bairro da
Ajuda em Lisboa ao encontro de membros de cada um desses grupos. A etnografia do bairro nos leva a conhecer os diferentes lugares de cultos religiosos, mas especialmente no caso dos três grupos
Claudia Wolff Swatowiski l 11
cristãos nos leva a encontrar e conversar com seus fiéis. Esta etnografia que começa em um bairro, contudo, nos leva para longe
dele. Para além do bairro, somos conduzidos em viagens para fora
de Lisboa e até para além das fronteiras portuguesas. Nesses três
estudos de caso, Cláudia mostra como não se pode no mundo
contemporâneo mergulhar em uma comunidade local, seja um
bairro ou um grupo religioso, sem analisar e conhecer dinâmicas e
espaços mais amplos de dimensões globais.
Seguindo os passos de sua orientadora de doutorado, Clara
Mafra, Cláudia é mais uma antropóloga brasileira que inverte o caminho dos antropólogos tradicionais que partiam das metrópoles
para estudar as periferias, as ex-colônias (ou colônias). Nos últimos
anos, a antropologia brasileira passa a seguir outro caminho: busca
entender as sociedades centrais. Como Clara Mafra, Cláudia se
volta para estudar Portugal, o país que colonizou o Brasil. Processo
similar de inversão dos fluxos dos séculos passados se observam entre grupos religiosos do mundo todo e, também de brasileiros que
passam a enviar missionários para pregar o cristianismo na Europa.
Alegando abraçar esse processo missionário reverso, a Igreja Universal do Reino de Deus, um dos objetos da pesquisa, envia pastores para Portugal e abre igrejas por lá. A “missão inversa” realizada
por essa igreja compartilha com a prática da antropologia brasileira
contemporânea uma nova dimensão gerada no contexto de globalização mais recente. Como toda novidade, são experiências que
trazem desafios e questões que vão enriquecer a nossa forma de
fazer ciências sociais, e também a nossa forma de pensar sobre o
mundo. Sem dúvida, muito estimulante e enriquecedor o trabalho
de pesquisa e reflexões que vamos encontrar no presente livro.
Juntamente com Patrícia Birman, João Pina Cabral, Ramon
Sarró e a orientadora, Clara Mafra, tive o prazer de participar da
banca de defesa da tese de doutorado que foi a primeira versão
deste livro. Foi uma tarde intelectualmente muito rica, e também
divertida graças às argutas e espirituosas observações dos presentes.
12 l Novos cristãos em Lisboa
Lembro disso como um dia de grande alegria. Compartilhei a
alegria de Claudia e Clara por mais um trabalho concluído com
sucesso. Escrever esta Apresentação me faz lembrar com saudades
desse dia e de Clara.
Clara deveria escrever esta Apresentação, se não nos tivesse
deixado tão precocemente em 19 de julho de 2013. Ela o faria
muito melhor do que eu possa ter feito, com muita poesia e emoção, como era seu estilo. A alegria de escrever esta Apresentação se
mistura assim com muitas saudades. Clara estaria felicíssima em fazê-lo, e ver o livro de Cláudia publicado, assim como eu também.
Cecilia Loreto Mariz
Rio de Janeiro, 9 de outubro de 2013
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