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ISBN: 978-92-807-3424-9
DEW/1686/NA
O GEO-5 para o Setor de Negócios foi escrito para líderes de negócios que são
responsáveis por garantir que riscos e oportunidades sejam entendidos, discutidos
e transformados em vantagem competitiva de longo prazo para suas empresas. O
relatório avalia as implicações operacionais, de mercado, de reputação e políticas das
tendências ambientais sobre dez setores de negócios. Ele é baseado nas informações
extraídas de literaturas científicas, de negócios, políticas e dentre outras existentes.
Ele também inclui breves exemplos do reais que ilustram a natureza de alguns destes
riscos e oportunidades
Mais Fontes:
Panorama Ambiental Global 5:
www.unep.org/geo
Green Economy:
www.unep.org/greeneconomy
Sustainable Consumption and Production:
www.unep.fr/scp
GEO-5 para o Setor
de Negócios
Impactos de um Meio Ambiente em Mudança
sobre o Setor corporativo
© 2013 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
ISBN: 978-92-807-3344-0
DEW/1686/NA
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Versão Original em inglês. © [Novembro/2014] Programa das
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ISBN: 978-92-807-3424-9
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GEO-5 para o Setor de Negócios
Impactos de um Meio Ambiente em Mudança sobre o Setor corporativo
SUSTAINABILITYLOGOTYPE
FOR PRINT ONLY
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Autores e Agradecimentos
Autor Principal: Dave Grossman (Green Light Group)
Autores Colaboradores: Jeff Erikson (SustainAbility); Neeyati Patel (UNEP)
Colegas Revisores:
Clarissa Lins, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável(FBDS); Diana Liverman, University of Arizona;
Karen Wuestenfeld, BP; Juan Gonzalez-Valero, Syngenta; Beth Stevens, The Walt Disney Company; Kirsten Thorne,
Chevron; Brian Sullivan, International Petroleum Industry Environmental Association (IPIECA); Sophie Depraz, IPIECA;
Ros Taplin, Australian Centre for Sustainable Mining Practices (ACSMP); Maggie Comstock, US Green Building Council;
Nigel Lucas, expert; Trevor Morgan, Menecon Consulting; Amos Bien, Rara Avis; Reinhard Joas, International Support
for Sustainable Products and Production (ISSPPRO); Mary Otto-Chang, Consultor sobre Desenvolvimento Sustentável
e Mudanças Climáticas; Graciela Metternicht, University of New South Wales Institute of Environmental Studies;
Edward Cameron, Business for Social Responsibility (BSR); Sissel Waage, Business for Social Responsibility (BSR);
France Bourgouin, Business for Social Responsibility (BSR); Dave Knight, DNV Two Tomorrows; Priti Nigam, DNV
Two Tomorrows; Luigi Cabrini, UN World Tourism Organization (UNWTO); Norine Kennedy, United States Council
for International Business (USCIB); Michael Allen, United States Council for International Business (USCIB); Birgit
Engelhardt, International Council for Chemical Associations; Adriano Basanini, Consultor; Mark Lee, SustainAbility.
Gerentes do Projeto: Garrette Clark (DTIE); Neeyati Patel (DEWA)
PNUMA DTIEE: Sylvie Lemmet, Kaveh Zahedi, Arab Hoballah, Elisa Tonda; Garrette Clark; Joni Pegram; Mark Radka,
David Piper, Rob de Jong, Eric Usher, Nick Bertrand, Sonia Valdivia, Li Shaoyi, Tomas Marques, Curt Garrigan, Djaheezah
Subratty, James Lomax, Helena Rey, Johanna Suikkanen, Pierre Quiblier, Yuki Yasui, Dean Cooper, Hilary French, Emily
Werner, Seraphine Haeussling, Sophie Bonnard, Moira O’Brien-Malone
PNUMA DEWA: Peter Gilruth, Fatoumata Keita-Ouane, Jason Jabbour, Andrea Salinas, Matthew Billot, Thierry de
Oliveira
PNUMA DCPI: Nick Nuttall, Bryan Coll, Waiganjo Njoroge
Para esta versão em português do relatório, agradecimento especial ao Escritório do PNUMA no Brasil, nas pessoas de
Denise Hamú, Luisa Madruga, Marina Bortoletti e Regina Cavini, assim como ao CEBDS, nas pessoas de Marina Grossi,
Fernanda Gimenes, Fernando Malta, Marina Santa Rosa e Sueli Mendes.
Design e layout: Catherine Kimeu, Neeyati Patel
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ii
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T A B L E O F C O NÍ N
T EDNI CT SE
Índice
Autores e Agradecimentos.............................................................................................................................................................................................ii
Prefácio...................................................................................................................................................................................................................................... iv
Sumário Executivo...............................................................................................................................................................................................................2
1.Introdução.......................................................................................................................................................................................................................6
2. Conclusões-chave do GEO-5 em relação ao estado e tendências do Meio Ambiente ................................................8
2.1Fatores-chave .....................................................................................................................................................................................................8
2.2 Proteções Ambientais....................................................................................................................................................................................9
3.
Implicações específicas aos setores.............................................................................................................................................................14
3.1 Construção Civil.............................................................................................................................................................................................15
3.2 Produtos Químicos......................................................................................................................................................................................18
3.3 Energia Elétrica................................................................................................................................................................................................20
3.4 Indústria extrativista....................................................................................................................................................................................23
3.5Finanças...............................................................................................................................................................................................................26
3.6 Alimentos e bebidas....................................................................................................................................................................................29
3.7Saúde....................................................................................................................................................................................................................33
3.8 Tecnologia da Informação e da Comunicação.............................................................................................................................36
3.9Turismo...............................................................................................................................................................................................................39
3.10Transportes.......................................................................................................................................................................................................42
4.Conclusão......................................................................................................................................................................................................................45
Notas...........................................................................................................................................................................................................................................47
iii
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Prefácio
As alterações no meio ambiente, em curso, não apenas
terão impacto e influência sobre os mercados atuais,
como também desencadearão inovações e mudanças
tecnológicas, estimularão o aperfeiçoamento de políticas e regulamentações, em âmbito nacional e internacional. Tais mudanças poderão se configurar em
novas oportunidades de negócios, novos produtos e
novos serviços.
À medida que formuladores de políticas, investidores e
público em geral se conscientizam sobre as mudanças
ambientais, passam a demandar, de forma crescente,
mais transparência e mais relatórios corporativos de
sustentabilidade; estimular a produção de relatório de
sustentabilidade foi uma dos resultados esperados da
Rio+20.
As mudanças ambientais impulsionadas, principalmente, pela demanda humana por recursos, pelo aumento
do padrão de consumo e pelo crescimento populacional, vêm gerando novos desafios e oportunidades
de negócios.
As empresas que estiverem melhor preparadas para
essa realidade desafiadora serão as que mais prosperarão, mantendo-se competitivas. O impacto de suas
ações nas alterações climáticas e na escassez de recursos naturais, como a água, serão determinantes para
as perdas e ganhos futuros, assim como para estimular
novos mercados.
O Relatório GEO-5 para o Setor de Negócios que aqui
se apresenta, baseia-se na publicação de referência do
Programa das Naçoes Unidas para o Meio Ambiente
-PNUMA, denominado Panorama Ambiental Global GEO 5, lançado por ocasião da Rio+20.
O GEO-5 para o Setor de Negócios destaca os impactos
atuais e projeções futuras de grandes mudanças no
meio ambiente sobre uma série de setores desde a
construção civil até a indústria de alimentos. Este relatório se alinha também com outras avaliações feitas
pelo Painel Internacional de Recursos do PNUMA, o
qual estima que até 2050, o consumo dos recursos
naturais triplicará, a não ser que se tomem ações urgentes a fim de dissociar crescimento econômico do
uso de recursos naturais.
iv
O Relatório GEO -5 para o Setor de Negócios também
enfatiza que nem todas as oportunidades de negócios
de hoje existirão no futuro. Por exemplo, devido ao
derretimento do Ártico, diversas empresas de petróleo
e gás estão disputando a oportunidade de exploração;
no futuro, o que hoje se considera uma oportunidade,
poderá expô-las a uma série de riscos dado o ambiente
frágil do Ártico.
A recomendaçao do Relatório GEO-5 para o Setor de
Negócios é que as empresas façam uma análise mais
profunda, específica para sua realidade, utilizando a
abordagem de ciclo de vida do produto, utilizando este
relatório como referência.
As empresas bem sucedidas poderão descobrir que
lidar com o enfrentamento das questões ambientais,
além de lhes proporcionar vantagens competitivas,
podem gerar soluções concretas e cada vez mais
transformadoras para os desafios ambientais em um
mundo que muda rapidamente.
Achim Steiner
Subsecretário Geral das Nações Unidas e Diretor
Executivo do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente
FOREWORD
1
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Sumário Executivo
A
s mudanças ambientais globais estão criando novos
riscos e oportunidades para os negócios em todos
os setores da indústria. De fato, a transição para uma
economia verde, agora em seus estágios iniciais, criará ótimas
oportunidades para empresas que entendam as implicações
destas mudanças e as levem em consideração em seus
planejamentos e estratégias de negócio. Do mesmo modo,
empresas que não consigam entendê-las, ou que atuem
demasiado devagar, colocarão seu valor em risco.
O GEO-5 para o Setor de Negócios foi escrito para líderes
de negócios que são responsáveis por garantir que os
riscos e as oportunidades sejam entendidos, abordados e
transformados em vantagem competitiva de longo prazo
para suas empresas. O relatório avalia as implicações das
projeções ambientais em questões operacionais, de mercado,
de reputação e de políticas em dez setores de negócios:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Construção Civil
Produtos Químicos
Energia Elétrica
Indústria Extrativista
Finanças
Alimentos e Bebidas
Saúde
Tecnologia da Informação e da Comunicação
Turismo
Transportes
Este relatório descreve os riscos e as oportunidades de
negócios baseados em informações extraídas da literatura
científica, de negócios, políticas e outras existentes. Também
inclui breves exemplos reais que ilustram a natureza de
alguns destes riscos e oportunidades. O relatório contém
em todo o texto extensivas citações, permitindo aos leitores
acessar facilmente os documentos-fonte que oferecem mais
detalhes sobre tendências e impactos específicos.
O GEO-5 para o Setor de Negócios tem como base as
conclusões do relatório do quinto Panorama Ambiental
Global (GEO-5) do PNUMA, apresentado em junho de
2012. O GEO-5 avalia o estado atual e as projeções do meio
ambiente global, no qual o crescimento populacional,
o desenvolvimento econômico, a urbanização e a
globalização estão levando à degradação considerando
inúmeros indicadores ambientais. De 90 objetivos e metas
ambientais avaliados no GEO-5, um progresso significativo
só foi observado em quatro. O Capítulo 2 deste relatório
resume brevemente mudanças e as projeções descritas
no GEO-5. Tanto as tendências específicas como o
panorama geral de declínio apresentados no GEO-5 têm
significativas implicações para empresas em todo o mundo,
independentemente de tamanho ou setor.Algumas destas
projeções estão descritas na tabela a seguir.
2
sumário executivo
Projeção ambiental do GEO-5
Implicações-chave para negócios
Gases de efeito estufa – Emissões de gases de efeito estufa
apresentam projeção de duplicarem nos próximos 50 anos. Tal
crescimento pode levar a um aumento na temperatura média
da superfície terrestre de 3oC a 6oC até o final do século [GEO-5,
pp.16, 20, 36, 429]
Mudanças de mercado a favor de produtos de baixo carbono;
rupturas nas cadeias operacional e de suprimentos; aumento nos
custos da energia, alimentos, e outras commodities; mudanças em
padrões de produção e transporte para adaptação a condições
locais.
Clima Rigoroso – Houve 230% de aumento no número de
desastres causados por enchentes e um aumento de 38% nos
causados pela seca entre as décadas de 1980 e 2000 [GEO-5,
pp.107-108]
Interrupções nas cadeias operacional e de suprimentos; aumento
no custo de operação e de materiais; danos à infraestrutura
pública compartilhada; aumento da demanda por serviços de
reconstrução.
Conversão de Terras – Há uma projeção de aumento da
necessidade de terras para uso urbano de 100-200 milhões de
hectares ao longo dos próximos 40 anos [GEO-5, p.77]
Mercados novos e em crescimento devido à expansão
urbana; acesso restrito a recursos da terra; perda de serviços
ecossistêmicos; competição por terra arável; aumento da pressão
para proteger recursos naturais críticos.
Disponibilidade de água – Captação de água em todo o mundo
triplicou nos últimos 50 anos para atender a demandas agrícolas,
industriais e domésticas [GEO-5, pp.102-104, 436]
Novos mercados para produtos eficientes no uso de água;
limitações ao crescimento devido à escassez de água; interrupções
nas cadeias operacional e de suprimentos; conflitos com outras
partes interessadas devido a limitação do recurso; aumento no
custo da água.
Poluição da água – Poluentes químicos tóxicos persistentes,
agora encontrados em 90% dos corpos d’água continuam a se
acumular nos sistemas aquáticos [GEO-5, p.112]
Aumento na demanda por dispositivos e sistemas para controle
de poluição; aumento no custo do tratamento da água;
regulamentações mais rígidas sobre a qualidade da água; aumento
na demanda por serviços médicos para tratar os impactos na
saúde.
Biodiversidade – Habitats críticos como florestas, zonas úmidas e
zonas secas continuam a serem reduzidos 13 milhões de hectares
de floresta foram perdidos entre 2000 e 2010. É esperado que a
extinção de espécies se mantenha a uma taxa acelerada ao longo
do século XXI [GEO-5, pp.71-72, 140, 158]
Aumento das pressões de mercado, de reputação e regulatória
para reduzir os impactos na biodiversidade; aumento no custo e
redução da disponibilidade de recursos escassos; oportunidades
reduzidas para a criação de novos produtos; limitações ao acesso
à terra.
Exposição química – Mais de 248.000 produtos químicos estão
comercialmente disponíveis, mas faltam dados sobre seus efeitos
individuais e sinérgicos sobre a saúde e o meio ambiente [GEO-5,
pp.170, 172-173, 185]
Mudanças de mercado a favor de produtos “mais verdes”;
restrições ao uso de produtos; pressão regulatória, dos
consumidores e do público para mais transparência.
Resíduos – Materiais são cada vez mais produzidos em uma
região, usados em outra e gerenciados como resíduos em uma
terceira. O fluxo de resíduos em crescimento mais rápido no
mundo, estimado em 20-50 milhões de toneladas por ano, é de
resíduo eletrônico, que contêm substâncias perigosas assim como
metais estratégicos que podem ser recuperados [GEO-5, pp.175,
Oportunidade de mercado crescentes para recuperar / reutilizar
resíduos eletrônicos; aumento na pressão regulatória e dos
consumidores para reduzir / gerenciar os resíduos; danos à
reputação resultantes da geração não controlada de resíduos.
184]
Este é o mundo em que os negócios devem acontecer, hoje e no futuro. Sem
mudanças dramáticas e inesperadas nas causas destas projeções, pode-se esperar
que pressões ambientais como as descritas acima aumentem no futuro próximo,
causando grandes transformações não só nas paisagens físicas, mas também em
cenários sociais, políticos e de negócios.
As implicações específicas destas projeções ambientais sobre os negócios estão
descritas em mais detalhe no Capítulo 3. A tabela abaixo oferece um breve resumo
de alguns dos principais riscos e oportunidades para cada um dos setores avaliados
neste relatório. Note-se que algumas das oportunidades de negócios identificadas
podem ter efeitos negativos no meio ambiente; a única intenção do relatório é
identificá-las, não avaliar o quão desejável elas são.
As pressões ambientais
aumentarão certamente
no futuro próximo
previsível, causando
grandes mudanças
não só nas paisagens
físicas, mas também
em paisagens sociais,
políticas e de negócios.
3
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Riscos
Oportunidades
Construção Civil (seção 3.1)
• Restrição da oferta e aumento no custo de materiais
• Impactos das mudanças climáticas sobre os cronogramas / custos de construção
• Limites à construção em áreas de escassez de água e de alta biodiversidade
• Mudanças nas habilidades e conhecimentos necessários para responder ao
mercado em mudança
• Limites mais rígidos sobre resíduos e poluição
• Aumento da demanda do mercado por infraestrutura
e prédios sustentáveis, reparo / reconstrução de danos
causados por tempestades, remodelagem e tecnologias
para eficiência energética e estruturas resistentes ao
clima
• Aumento da demanda por materiais e processos
renováveis, reciclados e eficientes no uso de recursos
• Aumento do valor de mercado de prédios verdes
• Aumento na demanda por mão-de-obra qualificada em
design e construção sustentáveis
• Benefícios à reputação associados ao design verde e
certificação de construções
Produtos Químicos (seção 3.2)
• Aumento nos custos de energia e matérias-primas dependentes de combustíveis
fósseis.
• Maior custo da água e operações limitadas devido ao aumento da escassez de água
• Interrupções nos negócios relacionados a eventos meteorológicos extremos ou
escassez de água
• Restrições no uso de produtos ou descontinuação
• Reduções na demanda de produtos químicos por motivos regulatórios ou
impulsionados pelo mercado
• Limites regulatórios mais rígidos sobre emissões atmosféricas e efluentes líquidos
• Danos à reputação causados por conflitos com comunidades devido a recursos ou
poluição
• Pressão para divulgar dados sobre os efeitos dos produtos químicos na saúde e no
meio ambiente
• Aumento da demanda por componentes de eficiência
energética ou tecnologias de energia renovável,
tecnologias para tratamento de água e insumos agrícolas
mais sustentáveis
• Aumento da demanda por produtos químicos verdes
e modelos de negócio de “arrendamento químico”
(chemical leasing)
• Novas oportunidades de mercado para produtos que
podem substituir outros restritos ou descontinuados
• Benefícios à reputação associados a química verde
Energia Elétrica (seção 3.3)
• Oferta limitada e aumento nos custos das ações baseadas em combustíveis fósseis
devido a políticas de mudança climática
• Demanda reduzida por eletricidade carbono-intensiva
• Redução da confiança na rede devido ao aumento na demanda de pico
• Danos à infraestrutura devido a eventos meteorológicos extremos
• Limites à geração de eletricidade devido à escassez de água e potenciais conflitos
com usuários competidores por recursos hídricos limitados
• Limites regulatórios mais rigorosos sobre emissões atmosféricos e efluentes líquidos
• Ameaça ao atual modelo de negócios devido a ações regulatórias e normativas
• Legislação/ regulamentação mais rigorosa sobre emissão de gases de efeito estufa,
qualidade do ar, descarga de efluentes líquidos e localização de usinas de energia
• Aumento da demanda por eletricidade para ar
condicionado de prédios e veículos movidos a energia
elétrica
• Aumento da demanda por eletricidade renovável e de
baixa emissão de carbono
• Novos modelos de negócio estimulados por ações
regulatórias
• Aumento da demanda por tecnologias ’smart-grid’,
armazenamento de energia e serviços energeticamente
eficientes
Indústria Extrativista (seção 3.4)
• Aumento no custo da energia baseada em combustíveis fósseis para algumas
operações de mineração
• Danos à infraestrutura e interrupção de negócios devido a eventos meteorológicos
extremos
• Interrupção de negócios devido à escassez de água
• Limites ao acesso de recursos em áreas com escassez de água ou de alta
biodiversidade
• Limites regulatórios mais rígidos sobre emissões atmosféricas e efluentes líquidos
• Aumento dos riscos de responsabilização e custos de desmantelamento devido a
mudanças nos padrões climáticos
• Ativos abandonados (ex.: reservas de petróleo e carvão) se limitações rigorosas ou
custos forem impostos ao carbono
• Demanda reduzida por materiais virgens a favor de materiais reciclados
• Danos à reputação e potencial perda de licença para operar por empresas
consideradas como grandes contribuintes para as mudanças climáticas ou grandes
utilizadores de água em áreas de escassez
• Aumento da demanda por certos minerais e materiais
usados em energia renovável, eficiência energética,
controle da poluição do ar e tecnologias para purificação
de água
• Aumento dos mercados para combustíveis mais limpos
• Aumento dos mercados para minerais reciclados e mais
sustentáveis
• Temperaturas mais altas abrindo áreas anteriormente
inacessíveis ou não-econômicas para exploração e
extração
• Vantagem à reputação das empresas vistas como parte
da solução para as mudanças climáticas
• Novos mercados para captura / armazenamento de
carbono e outras tecnologias para reduzir as emissões de
carbono resultantes da queima de combustível fóssil
Finanças (seção 3.5)
• Aumento da incerteza por seguradoras devido a mudanças nos padrões climáticos
• Aumento no custo de pedidos de seguro resultantes de eventos meteorológicos
mais severos
• Aumento da pressão sobre credores e investidores para melhorarem a consideração
e a divulgação do impacto das empresas-cliente devido às tendências ambientais.
• Potenciais riscos sistêmicos de longo prazo para mercados financeiros devido ao
“carbono inutilizável” se limitações ou custos rigorosos forem impostos
• Aumento da inadimplência com ativos abandonados (relacionados às mudanças
climáticas ou à escassez de água) para pagar empréstimos aos credores
• Danos à reputação de empresas que realizam empréstimos para atividades que
causam danos ao meio-ambiente
4
• Aumento da demanda por cobertura de seguro à
propriedade
• Novos mercados para mecanismos financeiros que
reduzam os riscos ou criem retornos positivos / custos
de capital menores para produtos e serviços mais
sustentáveis
• Aumento da demanda por financiamento de capital para
soluções ambientais
• Aumento de oportunidades de investimento atrativas na
economia verde
• Mercados novos ou em expansão para investimentos
em produtos que incorporam critérios ambientais e/ou
soluções para questões tais como a mudança climática
• Mercados em expansão para produtos de seguros
que encorajem casas e prédios energeticamente mais
eficientes e tecnologias de energia renovável
sumário executivo
Riscos
Oportunidades
Alimentos e Bebidas (seção 3.6)
• Mudança na disponibilidade, qualidade, preço e fontes de produtos agrícolas
devido a mudanças climáticas e outras mudanças ambientais
• Aumento do custo da energia baseada em combustíveis fósseis
• Redução dos rendimentos da produção agrícola devido à escassez de água
• Conflitos entre diferentes usuários de recursos hídricos limitados
• Aumento da competição por terra cultivável
• Depleção dos estoques de populações marinhas
• Aumento das pressões regulatórias e dos consumidores para redução dos impactos
ambientais da produção de carne, produtos químicos e fertilizantes
• Novos mercados para fontes alternativas ou variedades
de alimentos mais resistentes ao clima
• Oportunidades de negócios em novas áreas agrícolas em
expansão
• Mercados em expansão para alimentos orgânicos e
produção sustentável
• Benefícios à reputação por certificação de produtos
alimentícios sustentáveis
Saúde (seção 3.7)
• Aumento dos custos de energia baseada em combustíveis fósseis para estruturas de • Aumento na demanda por tratamentos para doenças
saúde
resultantes de mudanças ambientais e exposição à
• Aumento da pressão para melhorar a sustentabilidade, mantendo medicamentos
poluição (ex.: doenças respiratórias e cardiovasculares,
fora do fluxo de resíduos, reduzindo o uso de energia e reduzindo o uso de
doenças transmitidas pela água e outros vetores)
substâncias tóxicas em produtos de limpeza
• Novos mercados para remédios que não requerem água
• Aumento da perda de componentes naturais que são remédios tradicionais e
limpa ou armazenamento com temperatura controlada
ingredientes ativos nos fármacos
Tecnologia da Informação e da Comunicação (seção 3.8)
• Aumento do custo da energia baseada em combustíveis fósseis (ex.: para centros de
processamento de dados)
• Interrupção ou limitação da produção devido à disponibilidade limitada de água
• Interrupções na cadeia de suprimentos devido a eventos meteorológicos extremos
e outros fatores ambientais
• Aumento nos custos devido à pressão regulatória ou dos consumidores para
reduzir os resíduos eletrônicos
• Limitações regulatórias sobre a emissão de gases do efeito estufa durante a
produção, uso e fim da vida útil do produto
• Danos à reputação devido a produção não controlada de resíduos eletrônicos ou
impactos ambientais causados pelos fornecedores
• Mercados novos e em expansão para produtos que
permitam melhorias ambientais em outras indústrias
(ex.: prédios inteligentes, transporte integrado, produção
automatizada)
• Mercados em expansão para substituição de bens e
serviços tradicionais por versões virtuais
• Mercados em expansão para a coleta e processamento
de dados ambientais
• Benefícios à reputação de empresas reconhecidas por
contribuírem para resolução de desafios ambientais tais
como mudança climática, qualidade / disponibilidade de
água e desmatamento.
Turismo (seção 3.9)
• Aumento no custo de energia baseada em combustíveis fósseis
• Aumentos dos custos operacionais devido a médias mais altas de temperatura e
queda na disponibilidade de recursos locais
• Interrupção de negócios, danos à propriedade e atraso em viagens devido a
condições climáticas extremas
• Limites às atividades disponíveis devido à escassez de água, mudanças nos
ecossistemas e preocupações com a biodiversidade.
• Redução do interesse por alguns destinos devido a mudanças ambientais
• Regulamentações mais rigorosas para algumas práticas (ex.: pesca em recifes de
corais, desenvolvimento costeiro em áreas de manguezais)
• Aumento de conflitos com comunidades locais relacionados à escassez de recursos
• Aumento do interesse por alguns destinos devido a
mudanças ambientais
• Aumento da demanda por turismo de natureza,
ecoturismo e agroturismo
• Benefícios para a reputação e aumento da demanda
por empresas / destinos vistos como ambientalmente
responsáveis
Transportes (seção 3.10)
• Aumento nos custos do combustível para o funcionamento de veículos
• Aumento da demanda por parte dos clientes para que os
• Danos à infraestrutura e interrupções na cadeia de suprimentos devido a condições
negócios reduzam a pegada e custos logísticos
climáticas extremas e outros fatores ambientais
• Mercados novos e em expansão para opções de
• Aumento nos custos ou produção limitada devido à escassez de água em alguns
transportes mais limpos e de baixo carbono (ex.: veículos,
locais de produção
combustíveis).
• Mais regulamentações para limitar as emissões de gases do efeito estufa e controle • Novas rotas de frete resultantes da diminuição de gelo
do fluxo de resíduos
no mar
No Capítulo 4 o relatório sugere um caminho para as lideranças empresariais que queiram entender e lidar com os riscos e oportunidades impostos pelas projeções ambientais. Este caminho inclui:
•Conduzir uma análise mais profunda e específica da empresa, usando uma abordagem de ciclo de vida e usando este
relatório como suporte e guia;
•Continuar a mitigar os impactos do negócio no meio ambiente;
•Pensar de forma estratégica sobre como o negócio deve mudar a fim de refletir as mudanças do meio ambiente global e local;
•Relatar às partes interessadas (investidores, empregados, clientes, comunidades, ONGs e outros) os impactos da empresa
sobre o meio ambiente, os riscos e oportunidades impostos pelas projeções ambientais, e estratégias para lidar com elas;
•Trabalhar com formuladores de políticas para criação de políticas públicas que encorajem as práticas de negócio sustentáveis; e
•Colaborar com outros para criação de soluções poderosas para os desafios impostos pelas pressões ambientais.
O GEO-5 para o Setor de Negócios deixa claro que o valor do negócio está em risco devido a mudanças no meio ambiente mundial.
Os riscos são altos, mas as oportunidades são abundantes. Avaliar as implicações das pressões ambientais em todo o ciclo de vida e
levá-las em consideração no planejamento e modelo de negócios, melhorará a competitividade das empresas, diminuirá a degradação
ambiental, e elevará o bem estar humano.
5
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
1.Introdução
no meio ambiente e recursos naturais – e nos serviços que
eles oferecem – aceleraram de forma dramática. A pressão
tem sido impulsionada primeiramente por uma combinação
de crescimento da população humana, rápido crescimento
dos níveis de prosperidade e consumo e a intensificação
da atividade industrial. Ao longo dos últimos 50 anos em
particular, a degradação ambiental se expandiu de uma
escala local para uma global. As consequências desta
aceleração são claras: enquanto o crescimento econômico
e a prosperidade aumentaram a qualidade de vida para
bilhões de pessoas, eles também desestabilizaram o clima e
degradaram os recursos naturais do mundo – a base da qual
a prosperidade futura depende.
As ramificações destas mudanças nos negócios são
abrangentes. Por exemplo, danos causados pelos impactos
das mudanças climáticas (particularmente a longo prazo)
podem ter efeitos enormes na economia global e nos
sistemas ambientais de suporte do qual todos os negócios
(e sociedades humanas) dependem. Especialmente se a
temperatura média da superfície global aumentar mais
de 2°C, como parece provável, se não houver grandes
mudanças nas políticas e ações de transformação por
parte de governos, negócios e outros.1 De forma similar,
impactos do clima, escassez de recursos e mudanças
resultantes da migração populacional podem ter efeitos mais
amplos em termos de sistemas, desestabilizando países e
consequentemente os contextos político e socioeconômico
nos quais os negócios operam.2
O atual sistema
econômico, construído
sobre a ideia de
crescimento perpétuo,
baseia-se de forma
desconfortável em
um sistema ecológico
que está restrito pelos
limites biofísicos.
GEO-5 do PNUMA
E
ntender as projeções ambientais é de extrema
importância para os líderes de negócios. Assim como
as projeções sociais, econômicas, de mercado e
tecnológicas – e a resposta das empresas a elas – influenciam
o sucesso dos negócios, também as projeções ambientais
o fazem. Condições ambientais atuais e futuras afetam
os preços operacionais, disponibilidade de matériaprima, regulamentações, preferência dos consumidores,
considerações sobre as reputações e demanda por produtos.
A necessidade de entender as projeções ambientais não
é nova. De fato, a disponibilidade de solo fértil, água
limpa, vida selvagem e seu habitat e um clima estável têm
influenciado o assentamento e o desenvolvimento humano
por milênios. Porém, desde a Revolução Industrial, pressões
6
O crescimento perpétuo é o princípio de funcionamento,
reforçado por nossos sistemas econômico e político atuais, sob
o qual muitos dos líderes de negócios mundiais, formuladores
de políticas e investidores tomam decisões todos os dias.
Como resultado, a disparidade entre nosso nível de consumo
atual e o que o meio ambiente global é capaz de suportar de
forma sustentável continua a crescer.
A ciência é clara: nós estamos alcançando, e em alguns casos
ultrapassando, o limite dos recursos e a capacidade de carga
do nosso planeta. Cientistas alertam que muitos destes
impactos podem se tornar permanentes em escalas de
tempo humanas se ações para aliviar as pressões não forem
tomadas imediatamente.3
A necessidade dos negócios também é clara: avaliar as
projeções ambientais através do ciclo de vida e entender seus
impactos em operações, mercados, políticas e reputação
é essencial para as
empresas gerenciarem
de forma eficiente os
A ciência é clara: nós
riscos, capturarem
estamos alcançando,
oportunidades e
criarem vantagens
e em alguns casos
competitivas de longo
ultrapassando, os
prazo.
limites dos recursos e a
capacidade de suporte
do nosso planeta.
INTRODUÇÃO
As Perspectivas do PNUMA
para o Meio Ambiente Global
Desde 1997, o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) produziu cinco relatórios de avaliação
do Panorama Ambiental Global (GEO, na sigla em inglês).
O principal objetivo da série GEO é manter governos e
outras partes interessadas informadas sobre o estado,
tendências e perspectivas do meio ambiente global, em
face da necessidade contínua de informações atualizadas,
cientificamente críveis e relevantes para as políticas, sobre
mudanças ambientais em todo o mundo.
A quinta edição do Panorama Ambiental Global – GEO-5 –
foi lançado em junho de 2012 às vésperas da Conferência das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (ou Rio
+20) no Rio de Janeiro. Ele integra informações de centenas
de cientistas e especialistas em política e está organizado em
três partes: (1) estado e projeções do meio ambiente global,
incluindo os fatores da mudança; (2) opções de políticas
de todas as regiões do mundo que tiveram sucesso em
avançar nos objetivos acordados internacionalmente, e (3)
oportunidades para uma resposta global.
O PNUMA também publicou diversos suplementos ao
GEO-5, incluindo o Resumo do GEO-5 para Formuladores
de Políticas Públicas, GEO-5 para Governos Locais, Acompanhando o Progresso do Nosso Meio Ambiente e o GEO-5
Juvenil disponíveis em http://www.unep.org/geo.
GEO-5 para o Setor de
Negócios
Este relatório – GEO-5 para o Setor de
Negócios – acrescenta uma contribuição
importante para a continuidade dos
suplementos do GEO-5. Ele foi escrito
especialmente para os líderes de negócios.
Ao lidar com as necessidades dos negócios, o
PNUMA espera iniciar um diálogo que abranja
futuros ciclos de avaliação GEO e ofereça
oportunidades de parceria.
• Implicações específicas das projeções e fatores
ambientais para cada setor. O Capítulo 3 descreve
os impactos das projeções e fatores ambientais em dez
setores de negócios, focando em implicações relacionadas
a (a) operações (incluindo cadeia de suprimentos), (b)
mercados, (c) políticas públicas, e (d) reputação / valor da
marca. Breves exemplos reais são descritos para ilustrar as
implicações das tendências ambientais sobre os negócios.
Ainda que muitos dos exemplos citados neste relatório se
refiram a grandes empresas multinacionais, o GEO-5 para o
Setor de Negócios é igualmente relevante para empresas de
pequeno e médio porte que operam diretamente nos dez
setores analisados, assim como nas cadeias de valor mais
amplas destes setores. Além disso, o relatório é tão relevante
para empresas nos países desenvolvidos quanto naqueles em
desenvolvimento.
O GEO-5 para o Setor de Negócios concentra-se nos
impactos das projeções ambientais sobre os negócios,
ao invés dos impactos dos negócios sobre as projeções
ambientais. Esse enfoque não almeja sugerir que as empresas
não devam continuar os esforços para mitigar seus impactos
ambientais; ao invés disso, tem a intenção de destacar que os
negócios também precisam avaliar os riscos e oportunidades
– e se adaptar a um futuro diferente.
Este relatório descreve como as projeções ambientais
provavelmente irão impactar cada setor industrial
especifico. Apesar dele oferecer uma orientação valiosa,
não é um substituto para uma
análise robusta de riscos e
oportunidades especifica de
Ainda que muitos dos
cada empresa. Uma gama de
exemplos se refiram
produtos, geografia, tamanho,
a grandes empresas
base de clientes e outros
fatores variam de empresa
multinacionais, o GEO-5
para empresa, e todos afetam
para Negócios é igualmente
a materialidade das tendências
relevante para empresas
individuais e as respostas
de pequeno e médio porte.
apropriadas a elas.
O relatório é tão relevante
para empresas em países
desenvolvidos quanto em
desenvolvimento.
O GEO-5 para o Setor de Negócios extrai as
conclusões mais importantes do relatório
abrangente do GEO-5 e mapeia suas
relevâncias para os setores específicos dos
negócios. O relatório inclui dois componentes principais:
Paisagens físicas, sociais,
políticas e de negócios estão
mudando rapidamente. O
modo como as empresas
avaliam os riscos e
oportunidades e respondem
às paisagens em mudanças irá
determinar quanto sucesso elas terão no futuro.
• Um resumo das projeções ambientais e fatores. O
Capítulo 2 oferece um resumo breve sobre algumas das
principais mensagens do GEO-5. Mesmo reconhecendo
a existência de numerosas outras fontes de informação
científica sobre as tendências ambientais, este capítulo
está limitado ao conteúdo do GEO-5. Várias outras fontes
são citadas ao longo dos capítulos subsequentes.
7
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
2. Conclusões-chave do GEO-5 em relação ao
Estado e Projeções do Meio Ambiente
2.1Fatores-chave
As projeções ambientais descritas no GEO-5 são, em grande
parte, resultado de dois fatores-chave correlacionados:
• Crescimento Populacional – Ao longo dos últimos 100
anos, a população da Terra quadriplicou para 7 bilhões de
pessoas. Espera-se que a população chegue a 10 bilhões
de pessoas em 2100, com a maioria do crescimento
populacional líquido até 2050 projetado para ocorrer nas
cidades mais pobres do mundo.4
• Desenvolvimento Econômico – A produção econômica
mundial aumentou cerca de 20 vezes ao longo dos
últimos 100 anos e espera-se que continue a crescer ao
longo deste século. Enquanto projeções de consumo
parecem ter se estabilizado nos países desenvolvidos, as
economias emergentes estão assistindo ao crescimento
do uso de recursos per capita e dos impactos ambientais
associados, e os países menos desenvolvidos estão apenas
iniciando a transição em direção a níveis de consumo
mais elevados.5
Estes fatores se manifestam de quatro formas fundamentais:
Conforme as pressões
humanas dentro do
Sistema Terrestre
aumentam, diversos
limites críticos estão se
aproximando ou foram
excedidos. Além disso, mudanças
abruptas e não lineares nas
funções de suporte à vida do
planeta podem ocorrer.
GEO-5 do PNUMA
A
quinta edição do Panorama Ambiental Global (GEO-5)
oferece uma atualização abrangente do estado e das
projeções do meio ambiente global em cinco domínios
(atmosfera, solo, água, biodiversidade, e produtos químicos e
resíduos), descreve os fatores por trás deles e avalia o progresso
em direção ao alcance de objetivos selecionados acordados
internacionalmente.
8
• Consumo de Energia – Espera-se que o consumo global
de energia triplique ao longo do século XXI. No entanto,
é esperado que a taxa global de crescimento do consumo
energia primária caia no futuro, devido à suposta
estabilização do crescimento populacional e a melhorias
na eficiência energética.6
• Urbanização –Áreas urbanas comportam agora metade
da população mundial, usam dois terços da energia
global e produzem 70 por cento das emissões globais de
carbono.7
• Globalização–O comércio internacional cresceu 12 por
cento por ano desde 1990.8
• Demanda por transporte–O número de veículos
motorizados no mundo está crescendo muito mais rápido
que o número de pessoas, e espera-se que cresça ainda
mais conforme a renda aumenta.9
A escala, extensão, e taxa da mudança dos fatores globais são
sem precedentes e estão conduzindo os sistemas ambientais
a limites desestabilizantes.10
P R I N C I PA I S C O N C L U S Õ E S D O G E O - 5 E M R E L A Ç Ã O A O E S TA D O E P R O J E Ç Õ E S D O M E I O A M B I E N T E
Crescimento na população, PIB, comércio e emissões de CO2, 1990-2008
Fonte:Peters,G.P.,Minx,J.C.,Weber,C.L.andEdenhofer,O.(2011).Growth in emission transfers via international trade from1990 to 2008.
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 108(21), 8903–8908 (GEO-5p.19)
2.2 Projeções Ambientais
O GEO-5 avaliou o estado e as projeções ambientais globais
em relação aos objetivos acordados internacionalmente. De
noventa objetivos e metas avaliados no GEO- 5, somente
em quatro houve um progresso significativo, enquanto em
catorze, não houve avaliação devido à falta de dados.11
Atmosfera
• A concentração de gases do efeito estufa na atmosfera
continua a crescer. Sem grandes mudanças nas políticas,
as emissões de gases do efeito estufa estão projetadas
para praticamente duplicarem nos próximos 50 anos,
com o seu crescimento vindo primeiramente dos países
em desenvolvimento. Tal crescimento pode levar a
aumentos na temperatura da superfície terrestre de 3oC
a 6oC até o final do século. Adotar ações para reduzir
os poluentes de vida curta do clima tais como metano,
carbono negro, precursores do ozônio troposférico e
alguns hidrofluorcarbonos (HFCs) – que se mantém na
atmosfera por muito menos tempo que o dióxido de
carbono – poderia contribuir para desacelerar a taxa de
aquecimento na primeira metade deste século.12
• As manifestações das mudanças climáticas estão se
tornando mais claras. Os anos entre 2000-2009 foram a
década mais quente já registrada; o maior aquecimento
aconteceu em altas latitudes. A cobertura de gelo do Mar
Ártico diminuiu drasticamente, enquanto os mantos de
gelo da Groelândia e da Antártica revelam um rápido
crescimento das taxas de derretimento. A probabilidade
de um calor extremo durante verão, incluindo ondas de
calor, tenderá a crescer de 5 a 10 vezes nos próximos 40
anos. Espera-se que os impactos do clima expandam as
regiões áridas nos subtrópicos, aumentem os danos em
áreas de baixa altitude devido à subida do nível do mar
e a frequência e intensidade dos eventos meteorológicos
extremos ao redor do mundo.13
• Grande parte do mundo desenvolvido obteve sucesso na
redução das concentrações de material particulado (MP)
e compostos de enxofre e nitrogênio, mas ainda há grande
preocupação em outro lugares.14Espera-se que o dióxido
de enxofre, óxidos de nitrogênio e emissões de MP caiam
ainda mais na Europa e na América do Norte até o meio
do século, mas aumentem na Ásia e em outras regiões em
desenvolvimento.15
• Concentrações de ozônio superficial, que causa danos à
saúde humana e à vegetação, também têm declinado na
Europa e na América do Norte, mas aumentado na Ásia.16
• Substâncias que destroem a camada de ozônio na
estratosfera diminuiram 31 por cento em latitudes médias
e 17 por cento na Antártica desde o pico em 1994. A
recuperação da camada de ozônio é esperada até o meio
do século.17
• A maioria dos países tem reduzido gradualmente o uso
do chumbo em combustíveis desde 2002, e estudos ao
redor do mundo mostram uma forte correlação entre a
queda no uso de chumbo em combustíveis e a redução de
chumbo no sangue. A eliminação completa do chumbo
nos combustíveis é esperada dentro dos próximos anos.18
9
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Projeções na mudança de temperatura e concentrações de CO2 atmosférico, 1850–2010
Note:0=1961–1990 global significa
Fonte: NOAA NCDC; NASA GISS; Hadley Climatic Research Unit at the University of East
Anglia (HadCRU); Japan Meteorological Agency (JMA) (GEO-5 p. 37)
Solo
• Projeta-se que potencialmente 100-200 milhões de
hectares de terra sejam convertidos para uso urbano ao
longo dos próximos 40 anos.19
• A perda anual de florestas em todo o mundo diminuiu
de 16 milhões de hectares nos anos 1990 para
aproximadamente 13 milhões de hectares entre 2000
e 2010. Alguns países que sofreram desmatamento
extensivo nos anos 1990, incluindo Brasil e Indonésia,
reduziram significativamente suas taxas de perda de
floresta, enquanto nações menos desenvolvidas na
América Latina e na África continuam a apresentar altas
taxas de desmatamento.20
Fonte: Scripps Institute of Oceanography, NOAA (GEO-5 p. 37)
• No mundo, as zonas costeiras continuam a diminuir a
mais de 100.000 hectares (mais de 0,7 por cento) por
ano, apesar da taxa de perda ter desacelerado em relação
ao 1% por ano na década de 1980.21 Pressões nas zonas
úmidas tendem a continuar ou aumentar devido à
demanda por terras agrícolas e para expansão urbana.22
• A produtividade agrícola em zonas áridas continua a
cair devido à desertificação e à seca – cerca de 4-10% da
produtividade de zonas áridas são perdidas a cada ano
devido à degradação.23
• As temperaturas do permafrost do Ártico já aumentaram
até 2oC ao longo das últimas duas a três décadas, e
espera-se que até 90% do permafrost perto da superfície
desapareça devido a derretimentos até 2100.24
Mudança nas áreas de floresta por região,1990–2010
Fontes: Keeping Track of our Changing Environment: from Rio to Rio+20 (1992–2012). United Nations Environment Programme, Nairobi; Global Forest
Resources Assessment 2010. FAO Forestry Paper No. 163. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome. (GEO-5 p. 72)
10
P R I N C I PA I S C O N C L U S Õ E S D O G E O - 5 E M R E L A Ç Ã O A O E S TA D O E P R O J E Ç Õ E S D O M E I O A M B I E N T E
Água
• Mais de 2 bilhões de pessoas vivem atualmente em áreas
com escassez de água (a maioria na Ásia) e espera-se que
tal número cresça substancialmente (ex.: quadruplicação
do crescimento na África) devido ao crescimento
populacional, aumento no uso de água e mudanças
climáticas.25
• As retiradas globais de água (subterrânea e de superfície)
triplicaram nos últimos 50 anos. A captação de água para
uso agrícola, industrial e doméstico cresceu de forma
constante. A maioria das projeções sobre a demanda de
água e captação de água até 2050 indicam um grande
crescimento líquido global (com variações regionais
significativas).26
• Entre os anos 1980 e 2000 o número de desastres por
enchentes ou secas aumentou 230 por cento e 38 por
cento respectivamente, causando perdas econômicas de
bilhões de dólares.27
• Uma maior intensidade de precipitação é prevista para
o hemisfério norte e áreas equatoriais, enquanto esperase que muitas áreas áridas e semi-áridas fiquem ainda
mais secas. Globalmente, a precipitação intensa deverá
aumentar em cerca de 7% por cada grau (Celsius) de
aumento da temperatura no século 21.28
• A qualidade da água doce e da água do mar está
comprometida. A água subterrânea em todo o mundo
está ameaçada pela poluição de áreas agrícolas, industriais,
extrativistas e urbanas. Patogênios microbianos são, com
frequência, a questão que mais pressiona a qualidade
da água em muitos países em desenvolvimento. A
eutrofização (provocada pela poluição por nutrientes em
excesso) também é generalizada e pelo menos 169 áreas
costeiras ao redor do mundo são consideradas hipóxicas.
Poluentes químicos tóxicos persistentes são encontrados
agora em 90% dos corpos d’água e continuam a se
acumular. Produtos farmacêuticos e de higiene pessoal
entram frequentemente nos sistemas de água após o uso,
com riscos biológicos de longo prazo desconhecidos para
organismos aquáticos e humanos29
• O aumento do nível dos mares, causado pela expansão
térmica oceânica e pelo derretimento de glaciarese
mantos de gelo está aumentando. Medições entre 1993
e 2008 indicam que o nível do mar já está aumentando
duas vezes mais rápido do que nas décadas anteriores
e está excedendo o aumento previsto pelos modelos
climáticos..30
• O rápido crescimento das concentrações de CO2
atmosférico está associado com o também rápido
crescimento na acidificação dos oceanos, que afeta os
organismos marinhos, particularmente aqueles com
conchas e esqueletos de carbonato.31
Pessoas afetadas por danos associados a enchentes e secas,1980–2010
Nota: Os custos das grandes enchentes na Tailândia e no Paquistão em 2011 não estão inclusos aqui.
Fonte: EM-DAT: The OFDA/CRED International Disaster Database.
Université Catholique de Louvain, Brussels. (GEO-5 p. 107)
11
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Biodiversidade
• O mundo perdeu 20% de seus habitats de sargaços e
manguezais desde 1970 e 1980 respectivamente.32
• No século XX, as zonas úmidas sofreram uma perda global
de 50% – e de 95% em algumas regiões.33
• Os recifes de corais declinaram de forma global em 38%
desde 1980, e os recifes de corais tropicais podem sofrer
uma redução rápida até 2050.34
• Dois terços dos maiores rios do mundo estão agora
moderado ou severamente fragmentados por barragens e
represas.35
• A proporção de populações de peixes marinhos que
está sobre-explorada, esgotada ou se reestabelencendo
cresceu de 10% em 1974 para 32% em 2008.36
• A Lista Vermelha da IUCN de mamíferos, aves, anfíbios
e corais mostra que, ao longo das décadas recentes, o
número de espécies que se tornou ameaçada de extinção
é consideravelmente maior do que o de espécies que
sofreu menos ameaça.37 A maioria dos cenários futuros
sobre mudanças na biodiversidade projeta a continuidade
de altos níveis de extinção de populações e espécies,
perda de habitats, e mudanças nas distribuições e abundâncias de espécies e biomas ao longo do século XXI.38
• As áreas protegidas se expandiram nos últimos 20 anos,
tanto em número quanto em área. Atualmente quase
13% da área terrestre do planeta e cerca de 1,5% das
áreas marinhas estão sob algum nível de proteção, apesar
de muitos locais importantes para a biodiversidade não
serem protegidos.39
Índice de sobrevivência de espécies de pássaros, mamíferos, anfíbios e corais da Lista Vermelha,1980–2010
Nota: As áreas sombreadas mostram intervalos com 95por cento de certeza. O número de espécies existentes com dados suficientes no primeiro ano de avaliação foi: 9785 aves, 4555
mamíferos, 4416 anfíbiose 704 corais (somente espécies de recife de água quentes). Um índice de 1 significa todas as espécies sendo classificadas como de Pouca Preocupação, enquanto um
índice de 0 para todas as espécies tem classificação de Extinta.
Fonte: Adaptado de Vié et al. 2009 (GEO-5 p. 145)
Vié, J.-C., Hilton-Taylor, C. and Stuart, S.N. (eds.) (2009). Wildlife in a Changing World. An Analysis of
the 2008 IUCN Red List of Threatened Species. International Union for Conservation of Nature, Gland
12
P R I N C I PA I S C O N C L U S Õ E S D O G E O - 5 E M R E L A Ç Ã O A O E S TA D O E P R O J E Ç Õ E S D O M E I O A M B I E N T E
Químicos e Resíduos
• Mais de 248 mil produtos químicos estão disponíveis
comercialmente. Seres humanos e ecossistemas estão
expostos a produtos químicos ao longo do ciclo de vida
das substâncias químicas, incluindo produção, uso e
descarte, mas dados escassos tornam difícil documentar
a extensão do risco imposto à saúde humana e ao meio
ambiente por produtos químicos individuais e “coquetéis”
químicos. Uma variedade de iniciativas e regulamentações
estão contribuindo para suprir algumas destas lacunas de
informação.40
• O consumo de produtos químicos está crescendo muito
mais rápido nos países em desenvolvimento do que nos
países desenvolvidos. Alguns dados mostram que países
desenvolvidos estão reduzindo o uso de alguns tipos
de produtos químicos (ex.: pesticidas, substâncias que
destroem a camada de ozônio).41
• Devido à globalização, materiais podem ser produzidos
em uma região, usados em outra e gerenciados como
resíduos em uma terceira. O fluxo de crescimento mais
rápido no mundo é de resíduos eletrônico (ex.: produtos
elétricos e eletrônicos obsoletos), estimado em 20-50
milhões de toneladas por ano.42
Análise do ciclo de vida dos produtos químicos
Nota: As linhas pontilhadas são opções de gerenciamento; linhas continuas correspondem ao ciclo de vida
Fonte: Adaptado de Prüss-Ustün et al. 2011 (GEO-5- p. 176)
Prüss-Ustün, A., Vickers, C., Haefliger, P. and Bertollini, R. (2011). Knowns and unknowns on
burden of disease due to chemicals: a systematic review. Environmental Health 10, 9–24
13
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
3. Implicações específicas aos setores
meio ambiente, com implicações importantes para o bem
estar humano e a comunidade empresarial.
Esta seção descreve os riscos e oportunidades de negócios
que surgem das projeções e fatores do GEO-5 em quatro
dimensões – operações, mercados, políticas públicas e reputação – para os seguintes dez setores:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Construção Civil
Químicos
Energia Elétrica
Indústria Extrativista
Finanças
Alimentos e bebidas
Saúde
Tecnologia da Informação e da Comunicação
Turismo
Transportes
Note que algumas das oportunidades de negócios identificadas podem ter impactos negativos no meio ambiente. A
única intenção deste relatório é identificá-las, e não avaliar o
quão desejáveis elas são.
Ainda que este relatório não possa prever como as projeções
e fatores ambientais podem impactar empresas de forma individual, ele oferece dados e percepções cruciais que podem
ajudar os líderes de negócios a desenvolver estratégias para
antecipar mudanças ambientais e guiar o sucesso de longo
prazo. Há, claro, sobreposições entre os dez setores. A interdependência entre os setores significa que impactos em um
podem muito bem desencadear impactos nos outros.
E
mpresas de sucesso se antecipam e se adaptam às mudanças que acontecem nos ambientes físicos nos quais
elas operam. Tendo em vista que as projeções ambientais e os fatores identificados no GEO-5 tendem a impactar
todos os setores de maneiras diversas, reconhecer e determinar a relevância estratégica destas projeções e fatores – e
embutir tais análises no planejamento estratégico central – é
um imperativo dos negócios. O GEO-5 deixa clara a necessidade de aplicar conhecimento científico crível à tomada de
decisão dos negócios – e de fazer isso urgentemente.
Algumas das tendências ambientais específicas e fatores subjacentes identificados no GEO-5 já estão no radar de muitas
empresas. Realmente, empresas líderes estão tomando medidas significativas para lidar com biodiversidade, escassez
de água, vulnerabilidade às mudanças climáticas, produtos
químicos e resíduos e outras questões específicas. O retrato
agregado revelado pelo GEO-5, porém, apresenta uma
imagem nova e problemática do estado e projeções do nosso
14
A interdependência
entre os setores
significa que
impactos em um
podem muito
bem desencadear
impactos nos
outros.
3.
Implicações específicas aos setores
3.1 Construção Civil
O setor de construção civil
– aqui considerado como
englobando a construção,
operação e renovação de
prédios (inclusive residenciais)
e infraestrutura civil – enfrenta
alguns riscos, mas também
oportunidades claras a partir
das projeções ambientais e
fatores subjacentes. Este setor
tem ligações óbvias com todos
os outros setores de negócios,
os quais têm ou usam prédios,
instalações e infraestrutura, assim como ligações com setores
de que dependem os prédios e as construções (ex.: energia
elétrica).
Implicações Operacionais
Disponibilidade e custos do material de construção
Materiais de construção tais como concreto, aço e alumínio
são muito intensivos em energia para serem produzidos e
transportados, e por isso os custos de material para o setor de
construção civil são vulneráveis à volatilidade dos mercados
de energia e ao aumento dos preços (ex.: limitações relacionadas ao clima ou custos dos combustíveis fósseis). Custos
de fornecimento mais elevados conduzem a aumentos dos
custos de suporte de construção e dos custos de construção
(o que pode diminuir as margens de lucro e afetar as decisões
de desenvolvimento).43
Preocupações sobre a perda de biodiversidade e habitats, diminuição dos sumidouros de carbono e queda na qualidade
da água podem levar ao aumento da proteção de florestas e
restrições ao corte de árvores, o que por sua vez pode resultar em queda na produção, limitações na disponibilidade e
maiores preços de madeira. Em 1998, por exemplo, a China
impôs restrições ao corte de árvores devido a preocupações
com secas, enchentes e assoreamento das hidrovias. Isso
levou a um declínio de dois terços no corte de madeira nos
cinco anos posteriores – e um aumento de 20 a 30 por cento
dos preços no mercado madeireiro em Pequim.44 De forma
similar, a epidemia em expansão de besouros que causa uma
mortandade massiva de árvore na América do Norte – provavelmente em parte devido aos aumentos de temperatura e
secas relacionados ao clima – pode ter sérios impactos sobre
o fornecimento e custos da madeira.45
Cronogramas e custos da construção
Eventos meteorológicos extremos e mudanças nas condições
climáticas afetarão o cumprimento do cronograma e os custos
de projeto. Danos causados por água e vento, interrupções
de energia e paralisação do trabalho em dias de muito calor
tenderão a acontecer com mais frequência.46 Por outro lado,
temperaturas mais altas durante os meses de inverno em
climas mais frios podem melhorar as condições para projetos
de construção e reduzir os danos por geada em prédios e
estradas.47
Práticas de Construção
A indústria da construção civil é responsável por mais de
um terço do consumo dos recursos globais (incluindo 12
por cento de todo o uso de água doce), e gera em torno de
40 por cento do volume total de resíduos sólidos, enquanto
a produção de materiais de construção usa cerca de 10 por
cento do fornecimento de energia global.48 Conforme as
preocupações com as mudanças climáticas, resíduos e escassez
de recursos aumentam, este setor tende a sofrer pressões dos
consumidores e da sociedade para lidar com os seus impactos
ambientais e para acelerar a proliferação de práticas de construção sustentáveis e acessíveis.49
Localização e design
Os impactos climáticos de longo e curto prazo (ex.: aumento
no nível dos oceanos, ventos fortes, mudanças no regime de
chuvas, eventos meteorológicos extremos) influenciarão na
escolha de locais, designs e técnicas de construção, além de
materiais para prédios e infraestruturas.50
O aumento nos níveis dos oceanos e das tempestades
também pode levar à realocação de equipamentos essenciais e infraestruturas vulneráveis para altitudes maiores
(ex.: acima dos níveis de enchentes). Em 2012, por exemplo,
o Furacão Sandy causou grandes danos a transformadores,
painéis de circuito e outros equipamentos elétricos que
estavam no nível do porão em cerca de 250 arranha-céus de
Manhattan, deixando-os sem energia por semanas e levando
donos de prédios a realocarem infraestrutura elétrica para
andares mais altos, anteriormente rentáveis.51
Operações e manutenção
Enchentes, tempestades, incêndios e eventos meteorológicos
extremos provavelmente levarão a mais interrupções nos
fornecimentos de energia e danos físicos a edificações e
infraestruturas.52
Mudanças no regime de chuvas, enchentes, temperaturas
mais quentes e outros impactos das mudanças
climáticas podem criar condições de solos saturados e de
descongelamento do permafrost, afetando a integridade das
fundações, tubulações e outras estruturas do subsolo.53
O aumento das temperaturas médias tenderá a aumentar a
necessidade de ar condicionado e a reduzir a necessidade de
aquecimento (apesar dos impactos dependerem do local).
Além disso, ondas de calor mais longas e intensas podem
reduzir a eficiência das técnicas passivas de resfriamento
dos edifícios (ex.: climatização evaporativa ou ventilação
noturna).54
A elevação dos níveis da umidade relacionados ao clima
pode aumentar a ocorrência de mofo e condensação, e
diminuir o desempenho térmico das edificações.55
15
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Temperaturas mais altas e maior pluviosidade podem levar
a custos de manutenção mais altos devido a mudanças na
corrosão das fachadas dos edifícios.56
Implicações para o mercado
Demanda global
O crescimento populacional, a rápida urbanização e
o desenvolvimento econômico em países emergentes
significarão uma demanda substancial por habitações,
novos prédios e novas infraestruturas.57 Segundo algumas
estimativas, 40 trilhões de dólares precisarão ser investidos
em infraestrutura urbana de forma global até 2030.58
Materiais Sustentáveis
Ao passo que diversas pressões ambientais crescem, pode
haver um aumento na demanda dos consumidores por
materiais de construção e designs que incorporem fontes
renováveis, materiais reciclados e tecnologias e processos
eficientes no uso de água e energia.59 Por exemplo,
as indústrias de concreto e cimento provavelmente
continuarão a enfrentar pressões para reduzir seus consumos
de eletricidade e água, reciclar concreto e reduzir suas
emissões de gases de efeito estufa.60
Novos mercados provavelmente serão criados para produtos
mais sustentáveis através das cadeias de suprimento da
construção. Na África do Sul, em 2009, a produtora de
tintas Dulux Trade acelerou o desenvolvimento e produção
local das suas tintas de baixo COV (que anteriormente não
estavam disponíveis localmente) para dar apoio ao prédio
do Nedbank que tinha como objetivo receber a primeira
classificação 4 estrelas da história do Green Building Council
da África do Sul, e, desta forma, ganharia vantagem como
um precursor conforme surgia o mercado para um novo
produto.61
Prédios Sustentáveis
Crescentes preocupações com as mudanças climáticas,
resíduos e escassez de recursos sugerem que o mercado
para prédios mais verdes, de forma geral, tende a expandir,
levando para a produção convencional uma variedade
de práticas e tecnologias regionalmente apropriadas que
promovem energia renovável no local e uso eficiente
de energia, água e recursos.62 Leadership in Energy and
Environmental Design
Os proprietários de
(LEED), por exemplo,
já está certificando
prédios podem assistir
mais de 139.000
a redução nos custos de
metros quadrados de
operação, aumento dos
espaços edificados a
valores dos prédios, maior
cada dia, em mais de
63
retorno do investimento,
130 países, e é só um
dos diversos padrões
e maior ocupação para
de prédios verdes
prédios verdes novos e
ao redor do mundo.
remodelados.
Os proprietários de
prédios podem ver
redução nos custos de
operação, aumento dos valores dos prédios e maior retorno
do investimento, além de maior ocupação de prédios verdes
novos e remodelados.64
Conforme o formato destes mercados muda, haverá mais
demanda (e assim vantagens competitivas) para empreiteiras
e consultores de engenharia com habilidades de design e
construção sustentáveis, e treinamento.65 Desenvolvedores,
designers e empreiteiras que não entenderem
completamente os requisitos detalhados para conseguir e
manter as certificações de prédios verdes, arriscam perder
fatias do mercado e ter sua reputação danificada.66
Estruturas resistentes a desastres
Provavelmente haverá o aumento da demanda para
remodelar prédios já existentes e construir novos prédios
e infraestruturas com maior resistência a impactos
climáticos (ex.: prédios que suportam ventos com força
de furacão, estradas que estão acima de potenciais níveis
de alagamento). A demanda por defesas costeiras e contra
alagamentos (ex.: paredões) também pode aumentar.67
Reparos e reconstrução
Prédios e infraestruturas danificados pelos impactos
climáticos são normalmente reparados ou reconstruídos, o
que significa que provavelmente haverá demandas regionais
por limpeza, reparo e substituição de estruturas que foram
perdidas ou danificadas devido a enchentes, tempestades,
incêndios florestais, ondas de calor e outros eventos
meteorológicos extremos.68
Limites às oportunidades de desenvolvimento
Preocupações com a disponibilidade de água pode limitar
as potenciais oportunidades de desenvolvimento para
construtoras em regiões de escassez de água, seja porque
as forças do mercado e disponibilidade física da água
fazem o desenvolvimento ficar impraticável, ou porque os
reguladores restringem ou suspendem as obras devido à
insuficiente disponibilidade hídrica projetada ao longo da
vida do projeto.69
Preocupações com os impactos na qualidade da água podem
limitar as potenciais oportunidades de desenvolvimento em
ecossistemas de água doce particularmente vulneráveis (ex.:
zonas úmidas).70
16
3.
Implicações nas Políticas
Eficiência energética, energia renovável e
emissões de gases de efeito estufa
O setor de construções é o maior contribuinte para
a emissão de gases do efeito estufa, consumindo
aproximadamente um terço do uso final de energia
global.71 Conforme os impactos das mudanças climáticas
aumentam, as medidas regulatórias em várias regiões do
mundo provavelmente continuarão a impulsionar práticas
construtivas e tecnologias verdes que reduzam o uso de
energia e emissões de gases do efeito estufa na corrente
convencional. Os governos podem usar normas de eficiência
energética para as construções, padrões de aplicação,
programas de comissionamento e auditoria, políticas para
encorajar tecnologias in loco de energia renovável, políticas
sustentáveis nos contratos públicos e medidas mais amplas
designadas para reduzir as emissões de gases do efeito
estufa.72 Onde tais políticas não existem, empresas do setor
ainda podem achar benéfico agir como se elas existissem,
tanto em antecipação à evolução do ambiente regulatório
quanto em reconhecimento aos outros benefícios
econômicos que surgem de construções sustentáveis.
Uma série de incentivos fiscais, requerimentos de licenças
aperfeiçoadas e outras medidas de políticas públicas para
a proteção contra intempéries e outras melhorias em
casas e construções ineficientes já existentes podem ajudar
no aumento da demanda por serviços de remodelagem
e tecnologias de eficiência energética, permitindo sua
implementação.73
Implicações específicas aos setores
Resíduos
Dado os grandes volumes de resíduos sólidos gerados
pela indústria da construção, as preocupações crescentes
sobre esses resíduos e os impactos ambientais de aterros
sanitários podem levar ao aumento das regulamentações
que restringem a quantidade e o tipo de resíduos permitidos
em aterros sanitários, em particular nos países desenvolvidos.
Impostos sobre o uso de materiais virgens (ou subsídios para
o uso de materiais reciclados) também podem ser aplicados,
estimulando ainda mais os esforços para reciclar e reutilizar
os resíduos de demolição e construção.76
Implicações à reputação
Biodiversidade e recursos naturais
A reputação de uma empresa no que diz respeito à proteção
e restauração da biodiversidade e recursos naturais pode
afetar a sua capacidade de ter acesso a novos locais. Da
mesma forma, restaurar canteiros de obras para benefício
da biodiversidade pode melhorar a reputação das empresas
perante clientes, financiadores e outros.77
Certificações de Construções Sustentáveis
Empresas e suas instalações podem obter benefícios para
suas reputações ao conseguir certificações de construções
sustentáveis. Uma pesquisa de 2011 com adultos nos EUA,
por exemplo, mostrou que 64% deles prefeririam apoiar um
negócio cujas instalações sejam certificadas como verdes,
enquanto 48% indicaram que a certificação verde de uma
instalação melhora a imagem de uma empresa.78
Além de dióxido de carbono, o setor de construção civil
também é responsável por níveis significativos de emissões
de uma variedade de outros gases do efeito estufa, incluindo
halocarbonos, CFCs, HCFCs e HFCs, devido a seus usos
em resfriamento, refrigeração e isolamento. A produção
de tijolos também pode ser uma fonte local significativa
de carbono negro em algumas regiões. As preocupações
crescentes sobre as mudanças climáticas podem levar ao
aumento da regulamentação também destas fontes de
emissões.74
Qualidade de água
O aumento das preocupações sobre a qualidade da
água pode levar a maiores restrições regulatórias sobre o
escoamento das águas pluviais nos canteiros de obras para
garantir que o carreamento do solo e de sedimentos não
polua corpos d’água e aquíferos. Empresas podem enfrentar
custos adicionais consideráveis para implementar o controle
de erosão e de sedimentos, além de medidas para prevenir a
poluição, monitorar descargas de efluentes, amonstragens e
outros requisitos a serem cumpridos.75
17
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
3.2Químicos
O setor químico – aqui considerado como
englobando químicos, misturas químicas
(formulações) e plásticos – se baseia
fortemente em combustíveis fósseis e
água e enfrenta constantes preocupações
dos consumidores e órgãos reguladores
sobre os efeitos das emissões atmosféricas
e hídricas, a cadeia de resíduos e seus
efeitos na saúde humana. Ao mesmo
tempo, o setor pode ter um papel central
no avanço da proteção do meio ambiente
e da saúde humana. O setor químico
também está na base de todos os outros setores e apoia
virtualmente a todos. Logo, na medida em que os negócios
sintam os efeitos das e respondam às projeções ambientais
e fatores implícitos, o setor irá enfrentar tantos riscos como
oportunidades.
Implicações Operacionais
a não causar impactos negativos nas fontes de água das
comunidades.83
Continuidade do negócio
Eventos meteorológicos extremos ligados às mudanças
climáticas podem levar ao déficit de matérias-primas e riscos
à continuidade da cadeia de suprimentos e dos negócios,
afetando de forma negativa as margens operacionais.84 De
forma mais direta, eventos meteorológicos extremos podem
danificar ou destruir usinas químicas e infraestruturas.
Enquanto o potencial existe em todos os setores de produção,
o risco associado é maior nas usinas químicas devido ao
potencial de liberação de produtos químicos perigosos no ar,
solo e água.85 Por exemplo, quando o furacão Meihua atingiu
Dahua na China em 2011 e danificou o dique que protegia
a usina petroquímica de Fujia Dahua, o governo municipal
ordenou que a usina fosse fechada e realocada longe da cidade
para proteger os moradores.86
Custo dos combustíveis fósseis
Implicações de Mercado
Petróleo e gás natural são as matérias-primas para o setor
químico, apesar de haver uma nova projeção (liderada
pela China) no uso do carvão na produção de químicos.
A produção química também é, por vezes, intensiva
em energia. Desta forma, o setor químico está exposto
a flutuações dos preços dos combustíveis fósseis e de
fornecimento (ex.: limitações ou custos impostos aos
combustíveis fósseis por políticas relacionadas ao clima).79
Esforços crescentes para lidar com as mudanças climáticas
criarão mercados maiores para muitos produtos e
tecnologias especializadas do setor químico, incluindo
aqueles utilizados no isolamento de alto desempenho,
iluminação avançada, tecnologias de energia renovável e
materiais leves (ex.: para automóveis).87
Aumentar os preços da energia pode ameaçar a lucratividade
dos processos que são particularmente intensivos em
energia, e pode estimular o setor a prosseguir seus esforços
para melhorar a eficiência energética.80 Preços mais altos
da energia e preocupações com as mudanças climáticas
também podem levar empresas químicas a diversificar a sua
base de matéria-prima para além dos combustíveis fósseis.81
Disponibilidade de água
Produtos e tecnologias eficiente em energia/ de
energia renovável
Tecnologias para o tratamento de água
Conforme os desafios à qualidade e escassez de água
aumentam, assim como cresce a população e a urbanização,
a demanda por produtos do setor químico que esterilizam,
purificam e dessalinizam a água também crescerá de forma
proporcional.88
Insumos agrícolas
Preocupações com os impactos climáticos (ex.: secas,
A indústria química é, com frequência, intensiva em água,
aumento da variedade de pestes), junto às crescentes
consumindo-a em grandes quantidades como matéria-prima
preocupações com escassez e qualidade da água, segurança
e para processos tais como resfriamento, limpeza, dissolução
alimentar e crescimento populacional, podem criar mercados
e diluição. A partir de 1995, o setor químico, tanto nos países
maiores para empresas químicas de ciências biológicas
desenvolvidos quanto em desenvolvimento, usava mais
desenvolverem insumos agrícolas projetados para lidar com
água que qualquer outra indústria (42 % da água usada pela
tais questões (ex.: sementes resistentes à seca, produtos para
indústria no mundo). A produção química
proteção das safras).89
tem se deslocado, ao longo da última década,
de países desenvolvidos para economias
Por outro lado, as preocupações dos
O setor químico pode
enfrentar o aumento de
emergentes, tais como China e Índia, locais
consumidores e da comunidade com os
pressão não apenas para
onde é esperado que ocorra um aumento
impactos ambientais e na saúde causados
reprojetar seus processos
da escassez de água. Como resultado, o
por produtos químicos agrícolas (ex.:
de modo a serem mais
setor químico pode experimentar custos de
carreamento de fertilizantes, exposição
eficientes no uso de água,
água notavelmente mais altos ou operações
aos pesticidas) podem levar à demanda
mas também para terem
limitadas devido à escassez crescente.82 Além
crescente pela produção sustentável e/ou
mais atenção para que
disso, o setor pode enfrentar o aumento da
orgânica de alimentos, o que pode reduzir
não causem impactos
pressão não só para reprojetar seus processos
a demanda do mercado por tais produtos
negativos nas fontes de
químicos.90 (Veja a seção 3.6 abaixo para
para serem mais eficientes no uso de água,
água das comunidades
mas também para ter mais atenção de modo
mais informação sobre impactos no setor de
alimentos e bebidas).
18
3.
Expectativas dos consumidores
Preocupações crescentes com os efeitos de produtos químicos sobre o meio ambiente e a saúde, e as quantidades de
substâncias químicas perigosas em várias cadeias de resíduos,
estão levando mais empresas a requerer padrões de qualidade
mais altos de seus fornecedores. Estes requisitos, por sua
vez, podem afetar a demanda e gerenciamento de produtos
químicos. Por exemplo, empresas como a Nike continuam a
buscar programas agressivos de gerenciamento da cadeia de
suprimentos com foco na eliminação do descarte de produtos
químicos perigosos.91 O Walmart ajudou a desenvolver o Green
WERCS, uma ferramenta de software que ajuda varejistas a
identificar produtos que contenham substâncias perigosas.92
Química verde e Chemical leasing
Preocupações com a proliferação, o uso ineficiente, os efeitos
ambientais e de saúde, e a quantidade de produtos químicos
em diversos fluxos de resíduos podem aumentar as pressões
do mercado e dos reguladores sobre o setor para que mudem seus modelos de negócio e produtos. Isso pode incluir
avanços nos esforços de “química verde” e “plásticos verdes”
para criar produtos químicos menos perigosos e mais sustentáveis (apesar de com frequência mais caros), como a
empresa brasileira Braskem tem feito.93 Isso também pode
incluir a oferta de serviços de chemical leasing que dissocia
pagamentos dos volumes de consumo de substâncias
químicas, desta forma promovendo um gerenciamento
melhor dos produtos químicos94
Implicações nas Políticas
Restrições ao uso e descontinuação de produtos
Em resposta às preocupações sobre os impactos dos produtos químicos na saúde humana, fauna, água e atmosfera, medidas regulatórias podem restringir o uso de alguns produtos
químicos setoriais, assim como as emissões do setor. Países
desenvolvidos já estão reduzindo o uso de certos tipos de
produtos químicos. Por exemplo, o total de liberações e
transferências de 152 pesticidas que são comuns aos Estados
Unidos e Canadá caiu 18 %, e a produção de substâncias
que destroem a camada de ozônio praticamente parou,
enquanto a emissão dos precursores da chuva ácida caiu 48%,
dos precursores de ozônio em 38 % e compostos orgânicos
voláteis não-metano caiu 26 %.95 Medidas regulatórias tais
como o Ato do Ar Limpo (Clear Air Act) nos Estados Unidos,
assim como o Protocolo de Montreal, foram impulsionadoreschave destas reduções. Na União Europeia, regulamentações
como a Diretiva Quadro da Água e, de forma mais notável,
a Regulamentação sobre Registro, Avaliação, Autorização
e Restrição de Substâncias Químicas (REACH) estão
impulsionando a descontinuação daqueles produtos químicos
que se julga oferecerem sérios perigos à saúde humana e ao
meio ambiente.96Tais regulamentações também podem abrir
oportunidades de mercado para a oferta de produtos que
possam substituir os produtos regulados, como aconteceu
com as substâncias que destroem a camada de ozônio.97
Implicações específicas aos setores
um vazamento químico em 2005 no Rio Songhua impulsionou
revisões na Lei de Controle de Poluição Hídrica na China.98
Conforme cresce a preocupação com os efeitos cumulativos
de micro-poluentes na água superficial sobre a vida aquática
e a saúde humana, os requisitos para liberação das usinas
químicas podem ficar mais rigorosos.99
Emissões dos gases do efeito estufa
Dada a natureza intensiva em energia do processo produtivo
dos produtos químicos, a legislação de mudanças climáticas
e os impostos sobre carbono podem impactar os custos
e a lucratividade do setor, particularmente devido à
mudança na produção e consumo de produtos químicos em
economias emergentes que tendem a ser menos eficientes
energeticamente e mais baseadas em carvão.100
Transparência
Em muitos mercados, tanto em países desenvolvidos quanto
em desenvolvimento, a demanda por mais transparência está
crescendo. Há ausência de dados disponíveis publicamente e
aumento as preocupações com os riscos potenciais à saúde
e ao meio ambiente impostos pela química nos produtos.
Isto pode aumentar a pressão regulatória sobre as empresas
químicas para gerar, avaliar e oferecer acesso público aos
dados básicos sobre os efeitos na saúde e no meio ambiente
dos produtos disponíveis no comércio (potencialmente
incluindo efeitos sinergéticos das misturas químicas). 101
Regulamentação de outras indústrias
Regulamentações tratando das tendências ambientais que
afetam diretamente outros setores podem reduzir ou mudar
os mercados para o setor químico. Por exemplo, a União
Europeia impôs o banimento por dois anos de pesticidas
amplamente usados que contém neonicotinoide devido à
preocupação crescente sobre sua potencial contribuição na
queda de colônias de abelhas, com efeitos na polinização e
na produção das safras.102 (Veja a seção 3.6 abaixo para mais
impactos no setor de alimentos e bebidas).
Implicações às reputações
Conflitos entre comunidades
A preocupação crescente com a qualidade da água, do ar e
de outros aspectos ambientais, particularmente no contexto
do aumento do crescimento populacional e urbanização,
pode levar ao aumento da sensibilidade da comunidade
ao potencial das usinas químicas de impactar o ambiente
local (ex.: devido à liberação de produtos químicos). Esta
sensibilidade intensificada pode impactar operações em usinas
já existentes e relações com a comunidade e pode resultar em
realocações forçadas ou em impedimentos à construção de
novas plantas. Dada a natureza intensiva em água de alguns
processos químicos e operações de manufatura, o setor
químico enfrenta riscos similares à sua reputação devido
aos conflitos com comunidades em regiões com escassez de
água.103
Emissões e descargas de poluentes
Químicos verdes
Conforme a indústria química migra para economias
emergentes, estes países podem enfrentar uma pressão
crescente para promulgar regulamentações químicas que
protejam mais a qualidade do meio ambiente; por exemplo,
O uso maior, por empresas químicas (e seus consumidores),
de “produtos químicos verdes” ou de mais produtos químicos
convencionais produzidos de forma mais sustentável pode
melhorar a reputação e o valor da marca destas empresas e
seus produtos, criando vantagens competitivas.104
19
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
3.3 Energia elétrica
O setor de eletricidade – aqui
considerado como englobando a
geração, transmissão e distribuição de
eletricidade, mas sem nenhuma forma de
extração de combustível (ex.: mineração
de carvão ou urânio) ou nenhuma
forma de serviço (ex.: sistema urbano de
aquecimento, fornecimento de água)
– está altamente exposto às tendências
ambientais e aos fatores subjacentes. De
forma geral, o setor tem necessidades
de recursos e impactos intensivos, assim
como infraestrutura extensiva. Também tem um grande
papel em contribuir e responder às mudanças climáticas.
Além disso, o setor está bastante relacionado com cada
um dos outros setores, e seu produto – eletricidade – é
uma necessidade fundamental para a maioria da sociedade
moderna.
Implicações Operacionais
Disponibilidade de água
A geração de eletricidade é intensiva em água,
correspondendo a cerca de 15 por cento das captações
de água doce em 2010 e quase 40 por cento em países
desenvolvidos (apesar de muita desta água eventualmente
ser devolvida aos corpos d’água superficiais).105 A escassez
de água e a variedade de impactos da mudança climática
(ex.: secas, mudança nos níveis e padrões de chuvas) têm,
consequentemente, implicações operacionais para a geração
de energia. A geração hidrelétrica é sensível a mudanças no
volume de água, nos períodos de tempo e na distribuição
geográfica, então mudanças relacionadas ao clima nas fontes
de água e regimes de chuva podem resultar em quantidade
inadequada de água para energia hidrelétrica em algumas
regiões e condições de fornecimento de água mais favoráveis
em outras.106 Sistemas de energia solar concentrados
também consomem grande quantidade de água, com
frequência em áreas com escassez e, assim, poderiam
enfrentar restrições operacionais e custos mais altos.107 A
escassez de água também pode limitar a geração de usinas
alimentadas por combustíveis fósseis e nucleares, que podem
demandar quantidades maiores de água para resfriamento.108
Na Índia, por exemplo, níveis baixos de água na represa de
Erai em 2010 e no Rio Mun em 2012 forçaram a Maharashtra
State Power Generation Company (MahaGenco) a fechar
centrais elétricas térmicas em Chandrapur e Paras.109
Usinas térmicas podem precisar buscar alternativas, como
resfriamento por ar ou tratamento e uso de água de rejeito, o
que pode levar a gastos maiores de capital.110
Conflitos em potencial com usuários que competem por
fontes limitadas de água em áreas de escassez podem afetar
as operações, em particular no que diz respeito a usinas de
energia planejadas recentemente.111 Novas usinas construídas
sem preocupação com possíveis limitações de água da
20
região correm o risco de se tornarem ativos ociosos.112
Por exemplo, planos para muitas barragens na Amazônia,
como o projeto de Belo Monte, não levam em consideração
os efeitos que o desmatamento e as mudanças climáticas
podem ter na disponibilidade de água e na produção de
energia no longo prazo.113
Esforços para lidar com as mudanças climáticas podem
aumentar a necessidade de água no setor de energia
elétrica. A captura e armazenamento de carbono para
usinas movidas por carvão, por exemplo, pode aumentar o
consumo de água de 45 a 90 por cento comparado às usinas
convencionais.114
Temperatura da água
Temperaturas mais altas em corpos d’água resultantes de
ondas de calor mais frequentes e severas podem limitar o
seu uso para resfriamento e podem restringir os descartes de
água permitidos às usinas (limitando a produção de energia
em ambos os casos).115 Por exemplo, uma séria onda de calor
na Europa em 2003 forçou a Électricité de France a limitar
ou suspender operações em várias usinas nucleares devido
às temperaturas elevadas dos rios. Isso levou a uma perda
de 335 milhões de euros depois que a empresa teve que
comprar energia a preços mais altos no mercado aberto.116
Espera-se que as temperaturas observadas durante a onda de
calor de 2003 sejam comuns durante o verão europeu até o
meio do século.117
Demanda por energia
O aumento da temperatura média e ondas de calor mais
frequentes e severas associadas com as mudanças climáticas
provavelmente aumentarão a demanda por energia
(particularmente demanda de pico) para ar condicionados
no verão e demanda reduzida no inverno.118 Por exemplo,
uma onda de calor recorde no estado americano do Texas
em 2011 contribuiu para uma demanda sem precedentes
por eletricidade e picos nos preços, forçando a Constellation
Energy, o serviço público local, a comprar energia a preços
mais altos no mercado, levando a uma redução de cerca
de U$$0,16 após impostos por ação da empresa no
trimestre.119 Até o fim do século, espera-se que a demanda
por eletricidade no estado americano da Califórnia, em
praticamente todos os dias de verão, seja maior do que
os 90% da carga de pico per capita hoje em dia.120 As
mudanças na demanda,
particularmente devido
Os blecautes de 2012
a dias extremamente
no norte da Índia,
quentes, podem resultar
provavelmente causados
na queda na confiabilidade
das redes e mais
por uma demanda maior
interrupções de energia.121
devido a temperaturas
Por exemplo, os blecautes
altas atípicas e poucas
de 2012 no norte da Índia,
chuvas de monção,
provavelmente causados
deixaram milhões de
por uma demanda maior
pessoas sem energia por
devido a temperaturas
diversas horas
altas atípicas e poucas
3.
Implicações específicas aos setores
chuvas de monção, deixaram milhões de pessoas sem energia
por diversas horas.122
Infraestrutura da eletricidade
Eventos meteorológicos extremos, enchentes, tempestades
e aumento nos níveis dos mares podem causar danos
extensivos para as instalações de geração, transmissão
e distribuição de energia e infraestruturas relacionadas,
particularmente ao longo da vida útil dos ativos fixos
do setor.123 Por exemplo, os Furacões Katrina e Rita, que
atingiram a Costa do Golfo dos EUA em 2005, forçaram
uma empresa local, a Entergy, a gastar aproximadamente
1,5 bilhões de dólares em custos de reparação, a consertar
mais de 75.000 milhas de linhas de transmissão e circuitos de
distribuição e a realocar sua sede de Nova Orleans.124
Eficiência Operacional
Mudanças climáticas podem levar a mudanças na
nebulosidade (que é influenciada por temperatura, chuvas,
e outros fatores) causando mudanças no desempenho
operacional dos sistemas de geração de energia solar.
De forma similar, mudanças climáticas podem alterar a
velocidade dos ventos, afetando as operações das turbinas
eólicas.132
Temperaturas médias mais altas do ar provavelmente
levarão à eficiência reduzida da turbina de gás e maiores
perdas nos sistemas de transmissão e distribuição.133
Implicações de Mercado
Demanda por eletricidade
O crescimento populacional, a urbanização e o
desenvolvimento econômico nos países em desenvolvimento
levarão a uma demanda maior por eletricidade.134 A Agência
Internacional de Energia (AIE) estima que o setor vá precisar
de quase $17 trilhões em investimentos até 2035 a fim de
responder à demanda global por eletricidade, que pode ser
mais que 70% acima do que era em 2009; a maior parte deste
crescimento e investimentos necessários serão nos países em
desenvolvimento.135 Responder a esta demanda crescente de
forma sustentável e eficiente, enquanto se mantém lucrativa,
será um desafio sistêmico para o setor, já que muitas áreas
urbanas têm uma infraestrutura de energia
inadequada para responder a esta demanda
Os Furacões Katrina e Rita
maior.136
que atingiram a Costa do
Os danos crescentes devido a eventos meteorológicos
extremos provavelmente continuarão a colocar pressão
regulatória e dos consumidores sobre as empresas de energia
elétrica para que deixem suas infraestruturas e serviços mais
resistentes.125Empresas podem precisar melhorar, adaptar ou
realocar infraestruturas vulneráveis, expandir a redundância
na capacidade de transmissão e se preparar melhor para
interrupções no fornecimento (ex.: com maior investimento
e manutenção em sistemas substitutos).126
Enchentes severas e mudanças nos
padrões de chuvas e temperatura podem
aumentar a carga de erosão e carreamento
de sedimentos, levando ao aumento do
assoreamento das barragens, danos às
pás das turbinas e desempenho reduzido
das barragens hidrelétricas.127 Além disso,
o aumento do nível do mar pode afetar
a avaliação das responsabilidades de
desmantelamento de longo prazo para
usinas nucleares costeiras.128
Golfo dos EUA em 2005
forçaram uma empresa
local, a Entergy, a gastar
aproximadamente 1,5
bilhões de dólares em
custos de reparação, a
consertar mais de 75.000
milhas de linhas de
transmissão e circuitos de
distribuição e a realocar
sua sede de Nova Orleans.
Preocupações com a perda de
biodiversidade e segurança alimentar
poderiam desencadear, ou pelo menos criar pressões, para
reavaliar barragens hidrelétricas planejadas, dado o potencial
de impactos ambientais significativos da construção de
hidrelétricas.129
Temperaturas maiores em regiões frias podem impactar de
forma negativa a integridade da infraestrutura de energia
elétrica construída sobre o permafrost.130
Confiabilidade no fornecimento de combustíveis
A variedade de impactos devido a tendências e fatores
ambientais sobre a extração de combustíveis fosseis (veja a
seção 3.4 abaixo para mais informações sobre os impactos
no setor extrativista) pode interromper os fornecimentos de
combustíveis para usinas dependentes de carvão, gás natural
ou petróleo para a geração de eletricidade. Ao mesmo
tempo, a demanda rapidamente crescente pela biomassa
(ex.: impulsionada pelas políticas de mudanças climáticas e
incentivos às energias renováveis) pode levar a escassez no
fornecimento e preços mais altos dos combustíveis para as
usinas de biomassa.131
Algumas soluções para outras pressões ambientais
– como a dessalinização da água marinha em
países em desenvolvimento (em resposta às
preocupações com a escassez de água) e a
eletrificação de veículos nos países desenvolvidos
(em resposta às preocupações com as mudanças
climáticas e a poluição do ar) – podem aumentar
ainda mais a demanda por eletricidade.137 Nos
Estados Unidos, por exemplo, projeta-se que a
demanda por eletricidade atribuída a veículos
elétricos aumente mais de 1700 por cento até o final da
década, de 146.000 megawatt hora (MWh) em 2010 para 2,6
milhões de MWh em 2020.138
Fonte mista de combustíveis
Preocupações com as mudanças climáticas, qualidade
do ar, da água e outras questões ambientais, junto com
mandados e incentivos regulatórios, estão levando a uma
descarbonização geral da eletricidade. Espera-se que a fatia
global do carvão na geração total caia de dois quintos para
um terço até 2035, enquanto as fontes renováveis cresçam
de 20% para 31%. Prevê-se que o gás natural quase substitua
o carvão na matriz energética primária até 2035. É esperado
que a energia nuclear se mantenha em cerca de 12 por cento,
já que o interesse por esta energia como barreira contra as
mudanças climáticas é compensado pelas preocupações com
a segurança.139 O acidente na usina nuclear de Fukushima
Daiichi em 2010, por exemplo, levou a Alemanha a anunciar
a descontinuação da energia nuclear, um processo que
será terminado até 2022.140 Se os governos assumirem
compromissos robustos para limitar o aquecimento global, a
21
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
descarbonização da eletricidade vai acontecer mais rápido e ir
mais longe do que se antecipa hoje.
A demanda crescente por energia renovável intermitente
e geração distribuída no fornecimento de eletricidade
provavelmente aumentará a demanda por novas tecnologias
de armazenamento de eletricidade e redes elétricas melhores
e “mais inteligentes” para gerenciar as cargas, o que pode
criar oportunidades para atores não-tradicionais no setor
energético.141 O aumento da geração por fontes renováveis
intermitentes também pode criar oportunidades para o gás
natural como uma fonte de energia substituta em potencial.142
Além disso, preocupações sobre mudanças climáticas e
segurança energética estimularão mais esforços para garantir
a eficiência energética (ex.: “mega-watts) a fim de responder à
demanda crescente por eletricidade em países desenvolvidos e
em desenvolvimento.143
Implicações nas Políticas
Emissões de gases do efeito estufa, eficiência
energética e energia renovável
A legislação projetada para reduzir as emissões de gases
do efeito estufa pode ter impactos significativos no setor
de energia, já que dois terços da geração global de energia
vêm de combustíveis fósseis.144 O setor já está sujeito a
regulamentações de redução de carbono, impostos sobre
carbono e reduções dos subsídios aos combustíveis fósseis em
alguns países, e estas medidas provavelmente se espalharão
mais e ficarão mais rigorosas ao longo do tempo, criando
custos potencialmente significativos e desafios complexos
de conformidade. 145 Provavelmente também haverá mais
regulamentações promovendo eficiência energética e
incentivando os consumidores a economizar energia, o que
poderia levar a mudanças nos modelos de negócios de serviços
(que tipicamente relaciona os lucros à venda de energia).146
Ao mesmo tempo, haverá oportunidades crescentes para
o setor avançar com tecnologias de energia renovável,
particularmente em locais com mandatos ou incentivos para
a produção de energia renovável.147 A província canadense de
Ontário, por exemplo, irá desativar completamente as usinas
abastecidas por carvão até 2014 para lidar com as mudanças
climáticas e reduzir a poluição do ar, se apoiando em novas
usinas de gás natural e numa variedade de iniciativas de
conservação de energia e energias renováveis, incluindo tarifas
de alimentação que criam oportunidades de negócios para
projetos de energia renovável.148
Poluentes carregados pelo ar
A geração de energia pode produzir quantidades significativas
de dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, mercúrio e outros
poluentes do ar, dependendo do combustível e tecnologia
usados. Conforme preocupações com a qualidade do ar
crescem nos países desenvolvidos e especialmente nos em
desenvolvimento, regulamentações sobre poluição atmosférica
podem se tornar mais restritivas e custosas para o setor.149 Por
exemplo, níveis recordes de poluição do ar na China no início de
2013 estimularam novos limites rigorosos de emissões em seis
setores, incluindo usinas a carvão.150
Uso e Qualidade da água
Em áreas cada vez mais preocupadas com a escassez de água,
o setor de energia elétrica pode perceber uma maior atenção
regulatória, e em alguns casos, rejeição dos pedidos de licença
para a construção de novas usinas que requeiram insumos
significativos de água. Novas usinas podem encontrar mais
restrições sobre o uso e eficiência no uso da água, enquanto as
existentes podem enfrentar restrições crescentes sobre o volume
permitido para a captação de água. Para novas plantas, isso pode
resultar em períodos de licenciamento e de desenvolvimento
mais longos e financiamentos mais difíceis e caros.151
Preocupações crescentes sobre a qualidade da água podem
resultar em regulamentações mais severas para o descarte de
águas residuais das usinas de energia, especialmente para usinas
a carvão, que podem liberar arsênio, mercúrio, chumbo e outros
poluentes em seus efluentes. De forma similar, o setor pode ver
as regulamentações sobre os resíduos da combustão de carvão
crescerem para prevenir descarte inadequado de cinzas de
carvão e contaminação dos corpos d’água.152
Biodiversidade
Preocupações crescentes sobre impactos na biodiversidade e nos
habitats podem levar a restrições regulatórias sobre a localização
das construções elétricas, incluindo as de energia renovável.153
Gerenciamento de demanda
A volatilidade do preço da energia e o aumento da incorporação
de fontes renováveis intermitentes no fornecimento de energia
podem estimular reguladores a expandir a aplicação de preços
por tempo de uso e de outros programas projetados para
encorajar mudanças no tempo do uso de energia.154
Implicações à Reputação
Confiabilidade
O serviço das empresas de energia elétrica e falhas de
confiabilidade devido à preparação inadequada para eventos
meteorológicos extremos podem causar reações adversas da
mídia, de consumidores e investidores.155
Mudança climática
Empresas de energia elétrica que se mantiverem dependentes
de carvão e petróleo e incorporarem níveis inadequados de
energia renovável e eficiência energética enfrentam riscos as suas
reputações, podendo serem vistas como grandes contribuintes
das mudanças climáticas.156
22
3.
Implicações específicas aos setores
3.4 Indústria Extrativista
Empresas extrativistas – aqui
consideradas como englobando
produção de petróleo e gás, e
mineração de todos os materiais
(ex.: metais, carvão, cascalho, argila)
– devem operar onde as fontes são
encontradas, expondo as empresas
a condições ambientais altamente
localizadas. Estas empresas também
têm ligações fortes com outros
setores incluindo fornecimento
de materiais para a construção e
combustíveis para os setores de
transporte e energia elétrica.
Implicações operacionais
Danos à infraestrutura e continuidade dos negócios
outras infraestruturas antes de eventualmente se desmancharem.161
Acesso físico aos recursos
Temperaturas mais quentes no Ártico, devido às mudanças
climáticas podem afetar o acesso das indústrias extrativistas
aos recursos. Estradas de gelo sazonais, das quais as indústrias extrativistas dependem para operações de inverno,
podem estar disponíveis por menos tempo;162 por exemplo,
um inverno quente em 2006 forçou o fechamento antecipado das estradas de gelo que permitiam que combustível e
suprimentos chegassem às minas de diamantes no Canadá,
levando a uma interrupção, custos operacionais muito mais
altos (ex.: para usar carregamento aéreo como alternativa) e,
em pelo menos uma instância, ao fechamento de uma mina
e a falência de uma empresa.163 O permafrost em descongelamento também pode interromper operações de petróleo
e gás no Ártico, que dependem da temporada invernal de
exploração na tundra.164
Eventos meteorológicos extremos, aumento de incêndios
florestais, níveis dos mares mais altos e outros impactos
associados às mudanças climáticas podem danificar a inPor outro lado, as temperaturas mais quentes no Ártico e a
fraestrutura e os equipamentos das indústrias extrativistas,
cobertura de gelo marítimo sazonal no Oceano Ártico em
interrompendo operações e cronogramas de produção e
queda abrirão áreas anteriormente inacessíveis ou nãorotas de transporte e impondo riscos à segurança dos trabaleconômicas à exploração e extração, assim como permitirão
hadores.157 Por exemplo, no começo de 2011, as operações
temporadas de navegação mais longas e novas rotas nos
da Rio Tinto na Austrália sofreram com ciclones, chuvas
canais dos mares do norte.165
fortes, enchentes em vários locais e o descarrilamento de
Disponibilidade de água
um trem, levando a uma queda de 5% no envio de minério
de ferro de algumas operações, restringindo a produção em
Operações de mineração e exploração de petróleo e gás
uma mina de diamantes e o fechamento por 6 meses de uma
são vulneráveis à seca e às mudanças na disponibilidade
usina de processamento em uma mina de urânio, o que no
local de água.166 A mineração depende de grandes quantifinal das contas, reduziu os ganhos da
dades de água – tanto para minas a céu
empresa em $245 milhões.158 (A seção
aberto quanto subterrâneas, assim como
3.10 detalha mais informações sobre as
para processamento e refinamento – em
No início de 2011, as
interrupções nas rotas de transporte).
particular para metais preciosos, diamanoperações da Rio Tinto na
Austrália sofreram com
tes, cobre e níquel. A demanda por água
ciclones, chuvas fortes,
Empresas de petróleo e gás com frequênprovavelmente aumentará nos próximos
enchentes generalizadas, e
cia operam em condições extremas (ex.:
anos conforme commodities relevantes
um descarrilamento de trem,
águas profundas) e em localizações que
enfrentam queda no grau dos minérios. A
levando a uma queda de
tendem a ter eventos meteorológicos exdisponibilidade reduzida de água em uma
5% no envio de minério de
tremos e severos (ex.: o Ártico e a Costa
região pode limitar ou parar a produção,
ferro de algumas operações,
do Golfo nos EUA). Os danos operacioaumentar a competição com comunidades
à produção restrita em uma
nais à indústria com os Furacões Katrina
locais e outros setores industriais pelo
mina de diamantes e ao
e Rita em 2005 – incluindo a destruição
fornecimento de água, aumentar os custos
fechamento de uma usina
de mais de 100 plataformas de produção,
para tratamento de água para pré e pós
de processamento em uma
danos a mais de 50 outras e a mais de
uso e impulsionar reguladores a ou cobrar
mina de urânio por 6 meses,
450 óleodutos e gasodutos subterrâneos
mais pela água ou exigir que operações de
o que reduziu os ganhos da
no Golfo do México – ilustram a vulneramineração tenham suas próprias fontes.167
empresa
em
$245
milhões
bilidade operacional a eventos meteorológicos extremos.159
De forma similar, a escassez e/ou necessidade de criar novas fontes de água doce
O descongelamento do permafrost pode
pode aumentar os custos operacionais e
desestabilizar infraestruturas como dutos
limitar de forma significativa a exploração
e pistas de pouso em regiões frias. 160 Além disso, “ilhas de
de petróleo e gás, o refinamento de petróleo, a extração e
gelo” que se soltaram das geleiras da Groelândia, que podem
refinamento de areias petrolíferas, a extração de gás natural e
aumentar em número em um mundo mais quente, podem
produção em potencial de xisto betuminoso.168
potencialmente colidir com plataformas de perfuração e
23
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
As percepções das comunidades sobre os impactos das indústrias
extrativistas sobre as fontes de água e o meio ambiente podem
atrapalhar diretamente a habilidade das empresas de operarem
em algumas regiões.169Em 2011, por exemplo, a Newmont suspendeu as atividades de construção de uma de suas minas de ouro e
cobre no Peru devido a protestos na região sobre os impactos nas
fontes locais de água. 170 Protestos parecidos levaram a Newmont
a cancelar os planos de expandir outra mina de ouro em 2004.171
A extração de gás natural pode enfrentar desafios parecidos relacionado às preocupações com os impactos sobre a água.172 Empresas extrativistas que são proativas em lidar com seus impactos
ambientais e preocupações das comunidades, e que mantém de
forma consistente suas licenças sociais para operar podem, desta
forma, ter vantagens competitivas.173
Confiabilidade e custos da energia
A natureza intensiva em energia das operações de mineração
podem deixar operações que não geram sua própria energia vulneráveis à falta dela (veja a seção 3.3 acima para mais informações sobre os impactos no setor de energia elétrica) e à volatilidade dos mercado e preços da energia, que podem afetar a
continuidade e os custos operacionais.174Fornecimento inadequado de energia pode limitar seriamente a expansão ou o
desenvolvimento de novos projetos extrativistas em algumas
áreas.175Em 2008, por exemplo, a seca extrema, o crescimento populacional e o crescimento econômico na África do Sul, China,
Chile e outros países em desenvolvimento levou à falta de energia e racionamentos que causaram o fechamento de minas, uma
produção significativamente menor e preços mais altos dos metais.176
Conforme a temperatura aumenta devido às mudanças climáticas, a necessidade energética para resfriar minas subterrâneas
e instalações na superfície pode aumentar, enquanto os custos
de aquecimento em climas mais frios podem cair.177 Empresas
extrativistas podem encontrar uma maior necessidade de aumentar os investimentos em auto-geração para garantir energia suficiente para continuar operando.178
Desativação
As operações de mineração, incluindo a mineração de areias
petrolíferas, enfrentam riscos de responsabilidade e maiores
custos de desativação oriundos de ativos tais como bacias de
decantação e barragens. Alguns destes ativos podem enfrentar
um risco maior de falhas – e assim podem precisar ser reavaliados e reforçados – conforme as mudanças climáticas alteram os
padrões de chuva, exacerbam as enchentes e aumentem as temperaturas do ar e da água.179 Ilustrativo dos riscos de mudanças
nos padrões climáticos foi o colapso, em 2010, de uma barragem
de resíduos em uma mina de bauxita húngara devido à chuva
intensa, matando dez pessoas, ferindo cerca de 120 e levando o
governo a assumir o controle da empresa.180
Força de Trabalho
Até o meio do século, o stress perigoso desencadeado pelo calor
que por sua vez é causado por temperaturas e umidade mais altas provavelmente diminuirá a capacidade de trabalho ao ar livre do mundo durante o verão em 10 por cento dos níveis atuais e 20% dos níveis pré-industriais.181Além disso, mudanças nos
padrões das doenças exarcebados pela urbani-zação, globalização,
qualidade ruim da água e mudanças climá-ticas – podem afetar a
saúde dos empregados das empresas extrativistas.182
24
Implicações de mercado
Demanda geral
O crescimento populacional, a urbanização e o desenvolvimento
econômico nos países em desenvolvimento levarão a uma demanda maior por energia, metais e outros materiais necessários
para oferecer os bens e serviços associados com os padrões de
vida mais elevados, alavancando as indústrias de mineração,
petróleo e gás.183
A demanda por certos minerais e materiais usados em tecnlogias
de energia renovável, eficiência energética e controle de poluição
da água pode aumentar em decorrência das mudanças climáticas, poluição do ar e escassez e qualidade de água aumentam.184
Se os consumidores, investidores, mercados e governos fizerem
esforços sérios para limitar o aquecimento global a 2oC acima
dos níveis pré-industriais, grandes quantidades (até 80%) das
atuais reservas conhecidas de petróleo, gás e carvão teriam que
se manter não queimadas (ou o carbono de suas combustões
teria que ser capturado). Ao longo do tempo, tais recursos
imobilizados e a demanda reduzida poderia afetar seriamente os
mercados e as apreciações do valor das empresas de petróleo,
gás e mineração, com empresas lideres dessas áreas enfrentando
uma perda potencial de 40 a 60% do valor de mercado.185
Energia “mais limpa”
Empresas e indústrias vistas como grandes contribuintes para
mudanças climáticas, perda de biodiversidade e outros problemas ambientais podem sofrer danos não só à sua reputação, mas
também maiores pressões dos consumidores, investidores, credores e seguradoras para que mudem para alternativas “mais
limpas” e menos danosas (ou perder mercados e investimentos
para empresas que o fazem). Empresas de petróleo e gás, por
exemplo, podem enfrentar uma pressão continua para reduzir
os seus passivos de carbono ao aumentar investimentos em gás
natural de queima mais limpa ao invés de petróleo e ajudar a
tornar os biocombustiveis comercialmente viáveis.186De forma
similar, empresas que mineram carvão podem limitar os gastos
com estes ativos dados os impactos do carvão na mudança
climática, conforme a BHP Billiton anunciou recentemente que
faria.187
Novos mercados também podem se abrir para atores vistos
como mais responsáveis ambientalmente que seus pares. Em
2009, por exemplo, o Conselho de Joias Responsável criou um
esquema de certificação para jóias de ouro e diamantes que
inclui critérios de resíduos específicos, emissões e biodiversidade
para toda a cadeia de suprimentos, da mineração ao varejo.188
Recuperação e Reciclagem
Muitas cidades em desenvolvimento (e outras) estão buscando
alcançar resíduo zero, o que inclui recuperar e reciclar metais
preciosos (ex.: ouro, paládio) e elementos terrestres raros dos
aterros sanitários existentes.189Isso pode reduzir a demanda
por materiais virgens e criar oportunidades para “minerar”
aterros, uma vez que estima-se que haja “depósitos” de metais
preciosos 40 a 50 vezes mais ricos nos resíduos eletrônicos do
que nos minérios explorados no solo.190
3.
Implicações nas políticas
Qualidade da água
Preocupações crescentes com a qualidade da água estão levando
a restrições regulatórias cada vez maiores sobre as práticas operacionais das indústrias extrativistas. Nos últimos anos, por exemplo, a mineração de carvão no topo de montanhas nos Estados
Unidos enfrentou uma avaliação regulatória minuciosa e mais restrita devido a preocupações com os impactos na qualidade hídrica,
no habitat aquático e da vida selvagem.191
De forma similar, as preocupações com os impactos de fraturamento hidráulico (“fracking”) sobre as águas subterrâneas para
xisto betuminoso e gás natural levaram alguns países (ex.: França,
África do Sul) e alguns estados norte-americanos (ex.: Nova Iorque)
a banir, restringir ou temporariamente suspender a prática.192 O
banimento francês do fracking em 2011 também revogou licenças
existentes, imobilizando grandes investimentos de empresas como
a Toreador, que viu suas ações perderem um valor considerável nos
meses seguintes.193Ainda assim, ao longo do tempo, os riscos financeiros devido à regulamentação, podem ser maiores em países com
regulamentações mais fracas sobre a qualidade da água, que são
aqueles que provavelmente tomarão ações retroativas quando os
problemas sérios sobre a qualidade da água acontecerem.194
Disponibilidade de água
Preocupações com a escassez de água podem incentivar o aumento da regulamentação que afeta os direitos e custos da água
para empresas extrativistas. No Chile, por exemplo, os reguladores pediram que uma grande mina de cobre reduzisse em mais da
metade sua taxa de extração de água.195 Na África do Sul, esperase que as minas de platina no sistema do Rio Olifants enfrentem
cobranças pela água de dez vezes o valor atual até 2020, devido à
escassez de água na região.196
Emissões de gases do efeito estufa
As operações do setor de mineração são responsáveis por cerca
de 2% das emissões globais de gases do efeito estufa, enquanto a
combustão de petróleo, gás e produtos das empresas de mineração
de carvão em veículos, usinas de eletricidade e outros lugares é o
fator-chave das mudanças climáticas antropogênicas. Estes setores
já estão sujeitos às regulamentações de redução de carbono e
queima de gás, precificação e impostos de carbono e reduções
nos subsídios a combustíveis fósseis em alguns países, e estas
medidas provavelmente serão mais comuns e restritivas ao longo
do tempo, impondo custos potenciais significativos, restringindo
a demanda por produtos, criando novos e complexos desafios ao
cumprimento, monitoramento, relato e verificação.197Por outro
lado, políticas relacionadas ao clima podem criar oportunidades
para o gás natural como o combustível menos intensivo em
carbono e como substituto para a geração de energia de fontes
renováveis intermitentes (veja a seção 3.3 acima para mais
informações sobre os impactos no setor de energia elétrica).198
Biodiversidade
Limitações nas áreas disponíveis para explorações futuras
pela indústria extrativista podem ser impostas por legislações
desenhadas para expandir as áreas protegidas para biodiversidade
marinha e terrestre, aumentando a proteção legal para
áreas protegidas ou para áreas florestadas que servem como
sequestradoras de carbono. As tentativas regulatórias de gerenciar
Implicações específicas aos setores
as demandas competitivas por terra para urbanização, segurança
alimentar, proteção da biodiverdade e outras fontes podem
restringir ainda mais o acesso a recursos.199
Mercúrio
O mercúrio é usado em países em desenvolvimento para amalgamar o ouro na mineração artesanal, causando problemas de
saúde, comprometimento neurológico e poluição. Também é
mais amplamente utilizado na fundição. Um tratado global com
obrigações legais para controlar e reduzir o uso de mercúrio em
uma série de produtos, processos e indústrias foi adotado em janeiro de 2013, o que pode levar a restrições no uso de mercúrio
nos setores mineral e de mineração.200
Implicações à reputação
Água
A oposição das comunidades a projetos extrativistas devido a
preocupações sobre os impactos na água, como ocorreu com a
Newmont no Peru (veja acima em Implicações Operacionais),
pode afetar não só as operações em questão, mas também a reputação e o valor mais amplo da empresa. Durante os protestos
de 2004 no Peru, os preços das ações de Newmont caíram 7%
em duas semanas. A percepção dos problemas de poluição
hídrica na Indonésia, ao mesmo tempo, também danificou a
reputação da Newmont, aumentou os desafios que futuros
projetos naquele país podem enfrentar. Além disso, estes
conflitos no Peru e na Indonésia afetaram as percepções locais
sobre as minas da empresa em todo o mundo.201
Biodiversidade
Campanhas por grupos de defesa e outros tratando dos potenciais impactos de projetos extrativistas sobre a biodiversidade
têm criado desafios à reputação (e às operações) da indústria. Por
exemplo, a Pebble Mine com localização proposta, pela Anglo
American e pela Northern Dynasty, na cabeceira na Baía de Bristol no Alasca, tem enfrentado uma rígida oposição organizada
de grupos ambientalistas e algumas empresas de jóias devido a
preocupações sobre a poluição e impactos sobre o salmão.202 Conforme a pressão sobre os habitats e a biodiversidade aumenta, a
resistência às operações extrativistas com potenciais impactos
danosos sobre ecossistemas vulneráveis também tende a crescer.203
Mudança Climática
No entendimento público, as indústrias de petróleo e carvão estão
intimamente ligadas às mudanças climáticas e assim enfretam desafios às reputações conforme as mudanças climáticas e suas consequências se tornam mais evidentes. Além disso, estas empresas
operam frequentemente em regiões do mundo com desafios políticos, sociais e econômicos que são vulneráveis aos impactos das
mudanças climáticas. A extensão em que as industrias apóiam (ou
pelo menos não enfraquecem) a resiliência das comunidades locais
aos impactos climáticos pode afetar suas reputações e licenças sociais para operar.204Ao mesmo tempo, as empresas com
um foco no gás natural podem ter ganhos às suas reputações
a partir do papel que o gás natural possa ter como um combustível que emite pouco carbono, e como um substituto um
potencial para as fontes renováveis intermitentes, presumindo
que as empresas sejam vistas minimizando os vazamentos de
metano e extraindo o gás de maneira responsável.205
25
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
3.5Finanças
O setor financeiro – aqui
considerado como englobando
empréstimos, investimentos e
seguros – dá base para atividades
em todos os outros setores. De
forma única, o setor financeiro
está exposto aos impactos das
projeções ambientais e seus fatores
subjacentes, em grande parte, devido
aos impactos nos outros setores.
Implicações Operacionais
Seguro
Empresas de seguro se baseiam em eventos passados
para garantir e precificar de forma exata os riscos futuros.
Mudanças climáticas podem forçar as seguradoras a
revisitar tal abordagem, conforme elas se confrontam com
padrões climáticos dramaticamente diferentes e eventos
meteorológicos extremos. Isso pode impedir a habilidade da
indústria de precificar riscos físicos, criar nova exposição de
passivos, ameaçar a acessibilidade econômica dos seguros e a
sua disponibilidade e ter potencialmente sérias ramificações
à lucratividade do segurador. Seguradoras de propriedades e
de acidentes provavelmente verão crescer os resgates devido
ao clima severo. Seguradoras de saúde podem ver aumentar
as demandas devido à variedade em expansão de doenças.
Resseguradoras podem estar expostas a perdas totais,
incluindo àquelas devido a eventos catastróficos.206
O crescimento populacional, a urbanização, as construções
civis (especialmente em áreas costeiras), a canalização de
rios, a perda de planícies de inundação e as mudanças no
uso da terra somam-se aos crescentes impactos de eventos
extremos, tais como enchentes e secas.207Por exemplo, as
enchentes de 2010-2011 na Austrália resultaram em mais de
$350 milhões de pedidos à Munich Re, o que foi parcialmente responsável pela queda de 38% no lucro trimestral da
empresa. 208 Seguradoras com menos capacidade ou disponibilidade para identificar, se planejar e gerenciar uma grande
variedade de riscos relacionados ao clima em subscrições e
decisões cruciais podem sofrer severas perdas de capital e
notavelmente ter lucratividade reduzida.209 As seguradoras
também podem precisar aumentar os esforços para transferir
os riscos dos mercados de seguros para o mercado de capital
através de securitizações contra risco de catástrofe.210
Investindo e emprestando
Os impactos de várias tendências e fatores ambientais em
uma variedade de setores podem aumentar a pressão para
integrar as questões ambientais na tomada de decisões sobre
empréstimos e investimentos.211As instituições financeiras
podem precisar melhorar a coordenação com a comunidade
científica a fim de garantir acesso à informação ambiental
útil ao setor financeiro.212
26
Como parte de suas devidas diligências, o gerenciamento de
risco e o monitoramento de portfólio, os credores e investidores precisarão entender como as tendências ambientais
e fatores afetam o comportamento dos consumidores, a
demanda por produtos, a responsabilidade legal das empresas com severos impactos negativos nos ecossistemas e a
competitividade do setor e de empresas em vários locais.213
Clientes da International Finance Corporation agora têm
que aplicar os padrões de desempenho IFC para gerenciar
riscos e impactos ambientais e sociais, incluindo o Padrão
de Desempenho 6 para Conservação da Biodiversidade
e Gestão dos Recursos Naturais Vivos.214 Revisões adicionais pelo IFC para fortalecer seus padrões podem levar a
mudanças parecidas nas dezenas de instituições financeiras
que adotaram os Princípios do Equador (se comprometendo
a identificar, avaliar e gerenciar riscos ambientais e sociais em
projetos de transação financeira). Os Princípios provavelmente serão atualizados em breve para incluir empréstimos
corporativos relacionados a projetos e empréstimosponte.215
Investidores podem ver seus retornos de investimentos reduzidos de empresas que enfrentam dificuldades financeiras,
operações interrompidas e danos à reputação devido às mudanças climáticas, escassez de água, perda de biodiversidade
ou impactos corporativos no meio ambiente. Empresas enfrentando tais dificuldades financeiras, operações interrompidas e reputações danificadas podem representar maiores
riscos de inadimplência.216 Investidores institucionais (tais
como seguradoras e fundos de pensão) que têm horizontes
de longo prazo e um portfólio grande e diversificado (ex.:
proprietários universais) podem ter seus retornos afetados
pelo impacto sistêmico das tendências e fatores ambientais
na economia em geral.217 Recursos naturais e riscos ambientais talvez também terão impactos materiais financeiramente em mercados de títulos da dívida soberana.218
Continuidade dos negócios
Os impactos físicos crescentes das mudanças climáticas,
a escassez de água e outras tendências ambientais podem
ter implicações diretas nas operações do setor financeiro,
incluindo operações danificadas ou interrompidas em
centros de dados e prédios comerciais (veja a seção 3.1
acima para mais informações sobre os impactos no setor de
construção civil), o fechamento temporário das bolsas de
ações e títulos e interrupções de energia mais frequentes,
resultando em ameaça à segurança dos dados, perda de
acesso à informação e interrupção dos serviços ao cliente.219
Implicações de Mercado
Investimentos em soluções ambientais
Tentativas por parte do governo e outros de tratar da
variedade de impactos das tendências e fatores ambientais
provavelmente vai requerer investimentos do setor privado,
e os requisitos necessários de capital podem exceder
3.
US$ 1 trilhão por ano para as próximas décadas. Estimase que mais de 80% do capital necessário para lidar com
as mudanças climáticas deverá vir do setor privado. Dado
que muitas tecnologias com baixa emissão de carbono são
intensivas em capital, os requisitos adicionais de financiamento e a necessidade de inovações financeiras podem ser
significativos. Isso pode implicar em uma criação maior de
oportunidades atraentes de investimento em “economia
verde” para o setor financeiro, incluindo oportunidades em
energia limpa e infraestrutura resistente ao clima, presumindo que outros obstáculos ao investimento privado possam
ser discutidos (ex.: disponibilidade de seguros contra riscos
de políticas).220
Uma conscientização maior sobre as tendências e fatores
ambientais pode levar a mercados novos ou em expansão e a
produtos de investimento que incorporam critérios ambientais e/ou buscam soluções para questões como mudanças
climáticas, água e agricultura.221Por exemplo, preocupações
crescentes com as mudanças climáticas e a energia no setor
de construção podem fazer da propriedade verde uma
classe de ativos cada vez mais atraente.222(Veja a seção 3.1
acima para mais informações sobre os impactos no setor
de construção civil). Além disso, os investidores podem ver
oportunidades melhores em soluções de infraestrutura para
o abastecimento de água e tratamento de efluentes.223
Oportunidades também podem surgir de desafios ambientais: por exemplo, traders de commodities podem encontrar
oportunidades abundantes relacionadas à incerteza no fornecimento de água em mercados de produtos agrícolas.224
Recursos imobilizados, demanda reduzida e riscos
sistêmicos
Implicações específicas aos setores
pagas e potencial renda (onde seguradoras poderão superar
as pressões dos consumidores e regulatórias para manter os
preços dos seguros artificialmente baixos). Onde essas pressões não puderem ser superadas, podem acontecer deslocamentos de mercado conforme a indústria perde a capacidade de oferecer cobertura (o que pode gerar riscos à reputação) .226
Seguros podem ser uma das principais ferramentas utilizadas
por outros setores, governos e indivíduos como parte dos
esforços para se adaptar às mudanças climáticas e outras
tendências ambientais, e a indústria está explorando a viabilidade comercial de novos produtos e serviços que lidem com
as questões de sustentabilidade global. 227 A perda de biodiversidade, a degradação de ecossistemas, o gerenciamento de
recursos hídricos e as mudanças climáticas podem apresentar ao setor de seguros oportunidades em agrossilvicultura,
sinistros, saúde, vida, propriedade, setor naval, aviação e
transporte.228 Por exemplo, a Swiss Re (junto com a Oxfam
America e o Programa Mundial de Alimentos) está liderando
uma iniciativa para ajudar comunidades rurais pobres a proteger suas produções dos impactos das mudanças climáticas
através de seguros indexados ao clima pagos com trabalho
em projetos de adaptação ao clima local; o objetivo é criar
um modelo de negócios viável comercialmente.229
Preocupações crescentes com as mudanças climáticas podem criar mercados em expansão para produtos de seguros que encorajem casas e prédios novos a serem energeticamente eficientes e tecnologias de energia renovável.230
Dada a variedade de formas em que a escassez de água, as
mudanças climáticas e outros fatores ambientais podem
interromper operações de negócios, as seguradores também
podem ver um mercado bastante expandido para apólices
de seguro contra interrupção nos negócios.231
Esforços sérios para limitar o aquecimento global a 2oC
Transparência e divulgação
acima dos níveis pré-industriais podem levar à redução da
demanda por combustíveis
Conforme preocupações com os impactos das
fósseis e fazem com que grandes
tendências e fatores ambientais crescem, os
quantidades de petróleo, gás e
investidores podem aumentar a pressão sobre
Perda de biodiversidade,
reservas de carvão se tornem
as empresas para que divulguem mais seus
degradação de ecossistemas,
recursos imobilizados (Veja
impactos, tais como escassez de água, mudangerenciamento de recursos
a seção 3.4 acima para mais
ças climáticas e perda de biodiversidade, assim
hídricos e mudanças
informações sobre os impaccomo a avaliação de riscos e processos de
climáticas podem
tos no setor extrativista). A
gerenciamento de risco que elas têm aplicado
apresentar ao setor de
longo prazo, o risco do carbono
e as visões das empresas sobre a materialidade
não-queimável pode deixar os
dos riscos. As empresas do setor financeiro
seguros oportunidades em
investidores das empresas de
podem enfrentar aumento de pressão por
agrossilvicultura, sinistros,
combustíveis fósseis significaparte dos acionistas para emitir relatórios de
saúde, vida, propriedade,
tivamente expostos e também
sustentabilidade e relatar suas avaliações sobre
marinha, aviação e
pode significar riscos sistêmicos
(e programas para lidar com) as emissões de
transporte
para mercados financeiros.225
gases do efeito estufa e outros impactos ambientais relacionados com seus portfólios de
Seguros
empréstimo, investimento e financiamento.232
O crescimento populacional, a urbanização e o
desenvolvimento econômico nos países em desenvolvimento
(e em menor escala, países desenvolvidos) podem levar a
Mecanismos de políticas baseados no mercado
um aumento da demanda por seguros de imóveis. Com
riscos crescentes devido às mudanças climáticas e outras
Regulamentações usando mecanismos de mercado para
tendências ambientais, provavelmente o mercado de seguros lidar com as mudanças climáticas e potencialmente a queda
verá crescimento no recolhimento de prêmios, indenizações
da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos podem
Implicações nas políticas
27
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
criar oportunidades novas ou em expansão de comércio e
investimentos para o setor financeiro, como compensações
de biodiversidade, créditos de água e créditos de carbono de
floresta.233
Consideração necessária de critérios ambientais
Respondendo aos impactos crescentes das projeções e fatores
ambientais, os reguladores financeiros tanto nos países
desenvolvidos como em desenvolvimento podem querer
que instituições financeiras estabeleçam procedimentos que
levem em consideração os critérios ambientais nas decisões
de empréstimos e a promoção de financiamento verde, como
já fizeram China, Brasil e Bangladesh.234
Divulgação aprimorada dos riscos ambientais
A conscientização crescente sobre os impactos das projeções
e fatores ambientais está incentivando governos e bolsas
de valores, tanto em países desenvolvidos como em
desenvolvimento, a requerer ou encorajar a melhoria da
divulgação dos impactos e riscos ambientais das empresas,
oferecendo às instituições financeiras maiores níveis de
informação para incorporar em suas tomadas de decisão.235
Ambientes Regulatórios em Mudança
Países em desenvolvimento que estão experimentando os
impactos das tendências e fatores ambientais e aumentando
seu desenvolvimento econômico (e capacidade institucional)
podem fortalecer as regulamentações atualmente fracas a
fim de lidar com tais projeções e fatores, levando a regimes
regulatórios muito diferentes para empresas operando
nestes países. Isso significa que investimentos convertidos
em ações com horizonte de curto prazo e investimentos
relacionados a dívidas com horizontes mais longos podem
ter diferentes perfis de risco nestes mercados.236
Implicações à reputação
Impactos Ambientais de clientes e projetos
Conforme as preocupações com os impactos das tendências
e fatores ambientais crescem, empresas que infligem danos a
ecossistemas ou que contribuem de forma significativa para
as mudanças climáticas podem enfrentar crescentes riscos à
sua reputação. Empresas do setor financeiro que investirem
ou emprestarem para estas empresas podem enfrentar os
mesmos riscos. Muitos bancos comerciais já começaram a
vivenciar isso no que diz respeito ao desmatamento associado à expansão do óleo de palma, e já começaram a fortalecer
suas políticas de avaliação de risco e declarações de políticas
sobre empréstimos para o óleo de palma.237
As empresas do setor financeiro com reputações de terem
entendimento, conhecimento e preparação minuciosos no
que diz respeito a uma variedade de questões de sustentabilidade podem ter mais capacidade de atrair e reter clientes e
funcionários.238
28
Conforme as
preocupações com os
impactos das projeções
ambientais crescem,
empresas que infligem
danos a ecossistemas
ou que contribuem de
forma significativa para
as mudanças climáticas
podem enfrentar
crescentes riscos à sua
reputação. Empresas
do setor financeiro
que investirem ou
emprestarem para
estas empresas podem
enfrentar os mesmos
riscos.
3.
Implicações específicas aos setores
3.6 Alimentos e bebidas
O setor alimentício e de bebidas – aqui considerado como
englobando agricultura, processamento de alimentos e bebidas, e varejo / comercialização – talvez seja, dentre todos,
o setor mais exposto às mudanças ambientais. Com uma demanda considerável de água
e dependência profunda de
serviços ecossistêmicos, as mudanças das condições metrológicas e os regime da água implicam riscos significativos e
oportunidades para o setor. Com laços profundos com diversos outros setores, incluindo o de extrativos e de transporte, o setor de alimentos e bebidas está exposto de várias
maneiras às tendências ambientais e fatores subjacentes.
Implicações Operacionais
níveis mais altos de gastos com produtos. 242 Por exemplo,
estima-se que um aumento de 1% nos custos da cana de
açúcar devido aos efeitos das mudanças climáticas, escassez
de água e enchentes podem reduzir os lucros da empresa
indiana de açúcar Balrampur Chini Mills entre 3 e 10%.243 De
forma similar, as secas severas nos EUA em 2012 levaram os
grãos a preços recordes, desta forma erodindo os lucros dos
produtores pecuários e donos de restaurante e aumentando
o potencial para que o preço da carne vermelha, de porco e
de frango cresça.244
Empresas no setor alimentício já estão começando a
identificar fontes alternativas ou desenvolver variedades
de suprimentos essenciais mais resistentes ao clima. Apesar
disso poder aumentar os custos de curto prazo, também
pode aumentar a resistência de longo prazo e o desempenho
dos negócios.245 Os desafios podem ser particularmente
difíceis para empresas de bebidas alcoólicas, dada a natureza
muito regional da uva e do lúpulo e a susceptibilidade das
uvas às pequenas mudanças do clima.246
Disponibilidade, qualidade e preços das culturas e pecuária
Zonas de crescimento
Os impactos das mudanças climáticas – incluindo mudanças nas médias e extremos de temperatura, nos padrões e
volumes de chuva, na variedade de doenças e pestes e incidência de eventos meteorológicos extremos, secas e enchentes – afetarão as condições de crescimento de safras assim
como a pecuária, a aquicultura, a saúde e desempenho marinhos. O resultado líquido das projeções de aquecimento é,
em sua maior parte, negativo (particularmente em latitudes
mais baixas) apesar de poder ser positiva para algumas safras
em algumas regiões em níveis baixos de aquecimento (ex.:
devido a temporadas mais longas de crescimento). Agricultores estão descobrindo que as mudanças climáticas estão
gerando condições incomuns com as quais eles não estão
preparados para lidar.239
Temperaturas mais quentes em climas mais frios podem
criar novas oportunidades para empresas alimentícias
expandirem (ou mudarem) suas zonas de crescimento,
levando em consideração a redução na cobertura de gelo
sazonal do oceano Ártico, para o envio de produtos para
novos mercados.247 Por exemplo, algumas empresas de
alimentos e de agronegócios estão começando a mudar seus
investimentos em instalações (ex.: silos, vagões) de locais
como o estado norte-americano do Kansas para locais como
o Canadá e o norte dos Estados Unidos, antecipando a
mudança na produção de grãos nestas regiões.248
Riscos aos sub-setores devido à magnitude dos impactos das mudanças climáticas e
escassez de água no setor de alimentos e bebidas no Sul e Sudeste da Ásia.
Além disso, as crescentes emissões de óxidos de nitrogênio
(NOx) e, consequentemente, dos níveis de ozônio troposférico na Ásia e outras regiões em desenvolvimento terão
impactos na vegetação e lavouras (tanto positivas, já que o
depósito de nitrogênio pode aumentar as colheitas, quanto negativas, já que o crescimento do ozônio troposférico
pode diminuir as colheitas) e aumentarão a eutrofização e
acidificação em ecossistemas terrestres e aquáticos.240
E mais, a perda de habitats, as espécies invasoras, a urbanização, o uso de pesticidas e outros fatores estão levando
à perda de abelhas nativas e outros polinizadores, o que
pode afetar a qualidade e quantidade das colheitas locais
e pode requerer um uso maior de técnicas artificiais de
polinização.241
Empresas de alimentos e bebidas então vão enfrentar
disponibilidade, qualidade e preços imprevisíveis dos
produtos agrícolas, cortes nos lucros e forçando-os
potencialmente a aumentar os preços para compensar
Fonte: World Resources Institute and HSBC Climate Change (2010). Weeding Risk.
Financial Impacts of Climate Change and Water Scarcity on Asia’s Food and Beverage.
29
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Redes de infraestrutura e distribuição
O aumento nos níveis do mar, temperaturas mais quentes e
eventos meteorológicos extremos associados às mudanças
climáticas podem afetar as redes de infraestrutura, operação
e distribuição das empresas alimentícias. Os impactos podem incluir danos a instalações, maior demanda por sistemas
de resfriamento para prevenir que a comida se estrague ou
impactos à saúde dos animais e produtos estagnados quando as redes de transporte (ex.: portos) estão comprometidos.249
Custo da energia
Secas e outros impactos climáticos também podem levar a
preços mais altos pela eletricidade, aumentando custos não
só do uso direto de energia pelas usinas de processamento
de alimentos e bebidas, mas também para a produção de
suprimentos essenciais ao setor (ex.: alumínio para as latas)
(veja a seção 3.3 acima para mais informações sobre os impactos no setor de energia elétrica).250
A agricultura depende de combustíveis fósseis tanto para
energia (para bombear água de irrigação, processar e transportar alimentos e bebidas, e abastecer frotas de pescaria e
equipamentos agrícolas) quanto para matérias primas (para
produzir pesticidas e fertilizantes). Isso faz com que o setor
fique vulnerável à volatilidade dos mercados de energia e aumentos dos preços (ex.: limitações ou custos dos combustíveis fósseis impostos pelas políticas relacionadas ao clima).251
Força de Trabalho
O perigoso stress desencadeado pelo calor causado pelas
temperaturas e umidade mais altas, provavelmente diminuirá a capacidade de trabalho a céu aberto durante os meses
de verão em 10% dos níveis atuais e 20% dos níveis préindustriais até o meio do século.252
Disponibilidade e qualidade da água
Para o setor alimentício, o consumo de água nos âmbitos da
produção e do processamento fica pequeno em comparação
ao uso na produção de matérias primas.253A agricultura é
amplamente o maior usuário de água do mundo – contabilizando 70% do uso de água doce – e projeta-se que a
captação de água para fins agrícolas continue a crescer.254
A escassez de água pode não só afetar a colheita e a produção (e desta forma os preços dos insumos agrícolas), mas
também levar a conflitos entre empresas, comunidades
lo- cais e outros usuários de água, colocando em risco as
reputações das empresas e potencialmente interrompendo
operações.255 Esta dinâmica pode ser particularmente complicada em locais onde o uso de água é bastante desigual,
como na Índia, onde 10% das maiores fazendas consomem
90% da água subterrânea.256
As preocupações com a escassez e qualidade da água impõem desafios particulares para as empresas de bebidas que
dependem da água doce como seu ingrediente primário.
Fornecimentos inadequados de água de alta qualidade nas
fábricas de engarrafamento em várias regiões do mundo
podem interromper operações, comprometer a qualidade e
a segurança dos produtos, e aumentar os custos para tratamento e acesso à água. Além disso, preocupações das comunidades sobre grandes retiradas de água podem bloquear ou
atrasar fábricas de produção e engarrafamento novas ou em
expansão (ou forçar o fechamento de fábricas existentes) e
danificar as reputações das empresas. A Coca-Cola e a Nestlé
estão entre as empresas de bebidas que já enfrentam tal
oposição por parte das comunidades.257
Competição por terras aráveis
As demandas competitivas de comida, ração, combustíveis,
fibras e matérias primas vão continuar a intensificar
as pressões sobre o uso da terra impulsionadas pelo
crescimento da população, globalização, urbanização,
mudança nas dietas, mudanças climáticas, produção de
biocombustiveis e outros fatores.258 Essa pressão crescente
por outros usos da terra, junto com a degradação do solo,
pode potencialmente reduzir as terras disponíveis para a
agricultura.259
Captação de água por região e por setor
Fonte: FAO 2002. Crops and drops: making the best use of water for agriculture
30
3.
Preocupações com a diminuição da biodiversidade, perda de
habitat e proteção dos sequestradores de carbono podem
levar a maiores proteções sobre as florestas e outras terras
valiosas ecologicamente, limitando ainda mais a quantidade
de terra onde empresas alimentícias podem expandir suas
operações agrícolas ou redes de fornecimento. Isso pode
induzir empresas do setor a focarem em reduzir o desperdício de alimentos (que atualmente representa cerca de um
terço de toda a comida produzida para consumo humano) e
aumentar a colheita em terras já produtivas (ex.: através das
técnicas intensivas sustentáveis), em particular nos países em
desenvolvimento.260
Implicações específicas aos setores
potencial para fluxos de rendimentos e mercados crescentes.267 Nos países desenvolvidos, o interesse do consumidor pela produção sustentável de alimentos pode continuar
a crescer. Por exemplo, os maiores mercados de alimentos
orgânicos cresceram em média entre 10 e 20% por ano entre
2000 e 2007.268
Bebidas
Dado que o cultivo orgânico pode resultar em colheitas
menores, o mercado em expansão para alimentos produzidas organicamente (veja as implicações de mercado abaixo)
pode aumentar ainda mais a competição por terra arável.261
Temperaturas médias mais quentes, ondas de calor e secas
associadas com às mudanças climáticas, junto com o desenvolvimento econômico e o aumento da escassez e preocupações com a qualidade da água podem causar o aumento
da demanda por produtos de empresas de bebida, em
particular nos países em desenvolvimento.269Por outro lado,
crescentes preocupações com a disponibilidade de água e
resíduos plásticos podem reduzir a demanda de consumo
por água engarrafada em alguns mercados.270
Disponibilidade de estoques pesqueiros
Uso de produtos químicos e fertilizantes
O aumento da acidez dos oceanos afeta animais marinhos,
particularmente aqueles com conchas e esqueletos carbonados, incluindo espécies como caranguejos e moluscos que
são consumidos por humanos, assim como algumas espécies
de plâncton importantes para a cadeia alimentar marinha.
Crê-se que a acidificação dos oceanos e as temperaturas mais
altas da água sejam grandes fatores da destruição dos ecossistemas de recifes de corais em todo o mundo, que oferecem local de reprodução e desova para algumas espécies de
peixes economicamente importantes. Porcentagens cada
vez maiores de populações de peixe marinhos também são
superexploradas, ou estão se recuperando de esgotamento, e
estudos sugerem que as mudanças climáticas podem mudar
o direcionamento polar de mais de 1000 espécies marinhas
em cerca de 40km por década, levando a extinções locais
e ruptura da composição das comunidades. 262 Além disso,
a perturbação causada pela erosão a montante e o carreamento de substâncias químicas advindas da indústria e da
agricultura podem levar a doenças e mortandade de peixes.
Combinados, os impactos sobre o recursos pesqueiros e seus
negócios podem ser significativos, afetando a disponibilidade, custos e margens de lucro.264
Preocupações crescentes com os impactos dos produtos
químicos e fertilizantes no meio ambiente, fauna e saúde
humana podem levar a maiores pressões de consumidores
e regulatórias para eliminar, minimizar ou gerenciar melhor
os produtos químicos agrícolas dos quais a agricultura tradicional depende. Tal pressão é provável nos países em desenvolvimento, onde ocorrem 99% das mortes por exposição
aos pesticidas do mundo, e em países desenvolvidos.271
Implicações de Mercado
Demanda Geral
O crescimento populacional, a urbanização e o aumento
do desenvolvimento econômico nos países em desenvolvimento levarão a maior demanda por comida, incluindo o aumento da demanda por carne, laticínios, e comidas processadas por parte das classes médias em expansão nos países
em desenvolvimento.265Responder à demanda pela produção
de carne pode ter limitações devido à pressão crescente dos
consumidores e reguladores para lidar com os impactos de
tal produção na água, na saúde, no solo e no clima.266
Produção Sustentável de Alimentos
Preocupações com produtos químicos, poluição e saúde
dos oceanos pode criar uma demanda crescente por parte
dos consumidores e varejistas por alimentos produzidos ou
colhidos de forma sustentável, representando uma área em
Implicações nas Políticas
Emissões de gases do efeito estufa
Ações políticas projetadas para reduzir as emissões de gases
do efeito estufa podem impactar os produtores alimentícios
e agrícolas, que geram uma quantidade substancial de
emissões desses gases em sua maioria atribuídas à pecuária e
à mudança no uso da terra. Iniciativas políticas para acabar
com o desmatamento já estão em desenvolvimento (ex.:
REDD+) e estão crescendo as regulamentações, certificações,
esquemas e outros mecanismos projetados para limitar
mais a expansão do óleo de palma nas florestas (ex.: the
Roundtable on Sustainable Palm Oil). Alguns esquemas
de comércio de carbono (cap-and-trade) existentes e em
planejamento já englobam empresas de fertilizantes e
produtores de carne e laticínios, e mais esforços direcionados
às emissões agrícolas são prováveis.272 Iniciativas políticas
que encorajam a redução de emissões através da expansão
dos biocombustíveis podem intensificar a competição por
culturas utilizadas na produção destes novos combustíveis
ou por terras de cultivo irrigados.273
Regulamentações para
reduzir as emissões de gases
do efeito estufa podem
impactar os produtores
alimentícios e agrícolas,
que geram uma quantidade
substancial de emissões
desses gases em sua maioria
atribuídas à pecuária e à
mudança no uso da terra
31
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Frotas de pesca, que contribuem com 1,2% das emissões
globais de gases do efeito estufa, podem ter seus subsídios
reduzidos para trainera que geram elevadas emissões por
tonelada de peixe desembarcada.274
Água
Preocupações crescentes com a escassez de água e o aumento da competição por usuários industriais, energéticos e
domésticos pelos recursos hídricos limitados podem levar a
uma variedade de ações políticas por parte do governo sobre
o uso da água na agricultura. As ações podem reduzir subsídios, incentivos para à instalação de sistemas de irrigação
modernos, desincentivos regulatórios para safras que utilizam muita água e limites à captação e realocação de água
para outros usos.275A Bacia Murray-Darling na Austrália, por
exemplo, opera sob um plano de bacia que define os arranjos
para dividir a disponibilidade de água para o uso consuntivo
por usuários competidores, incluindo a agricultura.276
Preocupações com a qualidade da água podem levar a
regulamentações mais rígidas sobre o descarte de efluentes
(ex.: carreamento de nutrientes) por empresas do setor de
alimentos e bebidas.277
Produção de Carne Vermelha
Preocupações crescentes com resíduos, poluição do ar e
da água e mudanças climáticas podem resultar em mais
regulamentações, e mais rigorosas, sobre a produção e o
processamento de carne vermelha, incluindo restrições
sobre poluição industrial por abatedouros e gerenciamento
de esterco em operações de alimentação concentrada de
animais.278
Pesca
Queda na biodiversidade, aumento na acidificação dos
oceanos e aumento da poluição podem impulsionar
restrições regulatórias maiores sobre a pesca.279
32
Implicações à reputação
Água
Empresas alimentícias que tomam medidas para melhorar
sua eficiência no uso de água (tanto nas cadeias de suprimentos da agricultura quanto em usinas de processamento e
outras instalações) e que se comprometem com os agricultores, comunidades e ONGs locais para lidar com os desafios
a nível local e das bacias hidrográficas podem ter benefícios à
sua reputação, além de economias operacionais e vantagens
competitivas.280
Biodiversidade
Empresas alimentícias que não conseguirem lidar com os
impactos sobre a perda de florestas, biodiversidade e outros
indicadores ambientais podem enfrentar campanhas de alta
repercussão por ONGs que causam danos à sua reputação.281
Modificação Genética
Conforme a escassez de água, secas e mudanças climáticas
aumentam a necessidade de variedades de alimentos mais
resistentes, o uso de espécies que foram geneticamente
modificadas para se adaptarem a estas condições também
pode crescer. Por sua vez, isso pode ter implicações na reputação das empresas alimentícias, considerando as disputas
sobre os riscos ambientais e à saúde e os benefícios impostos
pelos organismos geneticamente modificados (OGMs).282
Seguranca Alimentar
As temperaturas crescentes e a menor disponibilidade de
água de alta qualidade aumentam os riscos de contaminação
dos produtos das empresas de alimentos e bebidas.
Incidentes de contaminação podem afetar as reputações
das empresas, desencorajar as vendas e levar à perdas na
receita.283
3.
Implicações específicas aos setores
3.7Saúde
O setor de saúde – aqui considerado como englobando empresas
farmacêuticas, dispositivos e diagnósticos médicos, hospitais, centros
cirúrgicos e outras instalações de
saúde – enfrenta impactos únicos
causados pelas projeções e fatores
ambientais, muitos dos quais relacionados, sem surpresas, com os
efeitos daquelas projeções e fatores sobre a saúde humana. O setor
também enfrenta riscos e oportunidades mais diretos, alguns dos quais
relacionados a outros setores (ex.:
construção civil, energia elétrica).
Implicações Operacionais
Continuidade operacional das instalações de saúde
Hospitais e outras instalações de saúde podem enfrentar
ameaças crescentes devido ao aumento nos níveis dos mares,
secas, ondas de calor e eventos meteorológicos extremos
associados às mudanças climáticas, incluindo danos por
enchentes e marés de tempestade, o que pode levar a falhas
nos serviços elétricos e nos geradores reservas. Instalações de
saúde danificadas e sem energia serão incapazes de manter
dispositivos médicos (ex.: respiradores) funcionando, bem
como de usar computadores para rastrear pacientes e aplicar
medicamentos e, assim, precisarão evacuar os pacientes.
Instalações de saúde já existentes podem precisar realocar
componentes críticos como geradores reservas para andares
mais altos, enquanto instalações novas podem ser localizadas
e construídas para minimizar os riscos dos perigos locais.284
(Veja a seção 3.1 acima para mais informações sobre os
impactos no setor de construção civil).
Operações hospitalares sustentáveis
(ex.: de limitações ou custos dos combustíveis fósseis impostos por políticas relacionadas ao clima).286
Empresas farmacêuticas usam grandes quantidades de
água e energia no desenvolvimento e produção de medicamentos. Mesmo que os custos da água e da energia sejam
normalmente uma porcentagem pequena dos custos totais
de produção, eles ainda podem ser significativos. Em 2002,
por exemplo, o custo total dos combustíveis e eletricidade
comprados pela indústria farmacêutica nos EUA foi cerca de
$1 bilhão. Conforme as preocupações com o clima e com a
água crescem, a indústria pode ter custos operacionais e/ou
restrições maiores.287
Descoberta, desenvolvimento e produção de
medicamentos
Cerca de um quarto do mercado farmacêutico é derivado de
ingredientes ativos da natureza, e componentes naturais ainda são fontes para novos medicamentos (apesar de menos
empresas ainda usarem a bio-prospecção ativa). A perda de
biodiversidade limitará a descoberta de tais componentes.
Uma estimativa sugere que as taxas atuais de extinção significam que a Terra está perdendo um grande medicamento
a cada dois anos.288 A produção de medicamentos também
depende de matérias primas inertes como açúcar, óleos
de peixes, soja, óleo de palma, dióxido de titânio, e talco.
(Veja as seções 3.1 e 3.6 acima para mais informações sobre
os impactos nos setores extrativo e de alimentos e bebidas). Ingredientes ativos e inertes vulneráveis à degradação
dos serviços ecossistêmicos e outras projeções ambientais
podem interromper as cadeias de suprimentos da indústria
farmacêutica e causar uma mudança maior em direção à
criação de alternativas sintéticas mais caras. .289
Implicações de Mercado
Demanda geral
Dado o mandato do setor para promover a saúde
humana, os hospitais podem enfrentar pressões crescentes
O crescimento populacional, a urbanização e o desenvolpara melhorar sua sustentabilidade, incluindo manter
vimento econômico nos países em desenvolvimento levarão
medicamentos fora do fluxo de resíduos,
ao aumento da demanda por serviços
reduzir o uso de energia e de substâncias
de saúde – demanda essa que pode ser
A perda de biodiversidade
tóxicas em produtos de limpeza e outros.
desafiadora, dado o aumento dos níveis
limitará a descoberta de
Os hospitais podem ter economias
de poluição, as favelas com acesso ruim
novos medicamentos. Uma
operacionais de longo prazo ao adotar
às redes de esgoto e água e os impactos
estimativa sugere que as
iniciativas de construção verde mais amplas,
das mudanças climáticas.290
taxas
atuais
de
extinção
incluindo economia pela aumento da
significam que a Terra
eficiência de energia, água e lixo.285
O aumento e alteração das variedades
está perdendo um grande
de doenças, como descritas abaixo,
medicamento a cada
Custos da água e da energia
podem criar uma demanda maior pela
dois anos
Hospitais são extremamente intensivos
provisão de serviços de saúde, medicaem energia. De fato, eles usam quase duas
mentos e vacinas, particularmente nos
vezes mais energia por metro quadrado do que um espaço
países em desenvolvimento, apesar do aumento da mortalide escritório tradicional. No Brasil, por exemplo, estima-se
dade (incluindo por temperaturas e eventos meteorológique os hospitais respondam por mais de 10 por cento do uso cos extremos) e algumas melhorias marginais na saúde em
potencial devido às mudanças climáticas (ex.: zonas menores
comercial de energia no país. Este uso intensivo de energia,
de malária em partes da África) podem de alguma forma
na medida em que depende de combustíveis fósseis, significa
reduzir tal crescimento na demanda.291
que os custos operacionais dos hospitais estão vulneráveis à
volatilidade dos mercados de energia e aumentos nos preços
33
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Doenças respiratórias e cardiovasculares
Doenças negligenciadas
Altos níveis de concentração de material particulado no ar,
em muitas cidades da América Latina, Ásia e África – com
frequência relacionados com os setores de energia, transporte e indústria, assim como a quei-ma de lixo e resíduos da
colheita – podem levar ao aumento dos níveis de doenças
respiratórias e cardiovasculares. A poluição do ar tanto dentro e fora das construções causa mais de 3 milhões de mortes
prematuras em todo o mundo a cada ano.292 Concentrações
crescentes de ozônio em regiões de industrialização rápida
perdem apenas para material particulado em relação aos
efeitos sobre a saúde humana, levando a danos nos pulmões
e causando uma estimativa de 700.000 mortes respiratórias
por ano (mais de 75 por cento destas na Ásia).293
Várias das doenças que as mudanças climáticas provavelmente propagarão, tais como malária e dengue, são “doenças negligenciadas” que recebem menos investimentos
farmacêuticos e esforços de pesquisa e desenvolvimento.
Empresas farmacêuticas podem enfrentar pressões crescentes do mercado para impulsionar os esforços de desenvolvimento de medicamentos nestas áreas.299
Doenças por exposição ao sol
Trauma
A redução drástica no consumo de substâncias que destroem a camada de ozônio pode ajudar a evitar as altas incidências de câncer de pele, catarata e supressão do sistema
imunológico no futuro. Porém, concentrações estratosféricas
destas substâncias nocivas se mantêm altas devido a longa
vida útil na atmosfera, o que significa que os impactos na
saúde (e a demanda por serviços de saúde para lidar com
eles) também podem se manter altos por algum tempo.294
A maior incidência e seriedade de eventos climáticos extremos pode, cada vez mais, prejudicar a saúde física e mental,
com milhões de pessoas sofrendo ferimentos, doenças,
deficiências de longo prazo e danos emocionais.301
Chumbo e outras poluições tóxicas
A ampla descontinuação do uso de chumbo nos combustíveis resultou em reduções muitos significativas nos níveis
deste metal no sangue humano, amplamente minimizando
a incidência de envenenamento por chumbo e seus efeitos
adversos e muitas vezes irreversíveis em humanos, especialmente em crianças.295Por outro lado, estima-se que cerca
de 125 milhões de pessoas estão sob o risco de poluição
perigosa, incluindo por chumbo, em 49 países de renda
baixa ou média – uma carga global de doença similar à da
malária – com grandes impactos advindos da reciclagem
de baterias chumbo-ácida e da fundição de chumbo.296
A exposição cada vez maior à quantidade crescente de
substâncias químicas tóxicas pode levar à incidência maior
de várias consequências à saúde, incluindo danos a órgãos
como o cérebro, pulmões, fígado ou rins; danos aos sistemas
imunológico, respiratório, cardiovascular, nervoso, reprodutivo ou endócrino; além de doenças congênitas e crônicas
como câncer, asma ou diabetes. Em particular, este é o caso
de países de renda baixa ou média, onde a intensidade das
substâncias químicas está crescendo e onde os custos de
saúde relacionados à exposição química se tornarão cada vez
mais significativos.297
Doenças transmitidas pela água e por vetores
Água contaminada, particularmente na África e no sul da
Ásia, causa uma variedade de doenças, incluindo diarréia,
que é uma das doenças com maior incidência no globo.
Temperaturas mais quentes, mudanças nos padrões e níveis
de chuva, enchentes e outros impactos climáticos podem
afetar a distribuição e incidência de doenças transmitidas
pela água, assim como doenças transmitidas por vetores.
Condições secas também favorecem surtos de meningite
meningocócica e cólera.298
34
Desnutrição
Impactos das mudanças climáticas, escassez de água e
outras projeções ambientais sobre as colheitas, junto com
o aumento da população podem levar a efeitos maiores da
desnutrição.300
Alergias
Considera-se que as mudanças climáticas levem a uma
produção maior de alérgenos e, desta forma, a uma incidência maior dos sintomas nas pessoas que têm alergia, aumentando a demanda por serviços médicos e medicamentos
para tratar estes sintomas.302
Medicamentos que requerem água ou temperatura controlada
Desafios crescentes em relação à qualidade da água, escassez
de água e mudanças climáticas podem criar uma pressão de
mercado sobre as empresas farmacêuticas para desenvolver
mais medicamentos cuja eficácia não dependa de tomá-los
com água limpa ou de transporte e armazenamento em
ambientes de temperatura e umidade controladas.303
Remédios Tradicionais
Frequentemente, nos países em desenvolvimento, a perda de
biodiversidade ameaça à saúde e ao bem estar de populações
dependentes de plantas medicinais naturais que enfrentam
um grande risco de extinção nestas partes do mundo.304
Então, a perda de biodiversidade provavelmente terá efeito
negativo no fornecimento de remédios tradicionais pela
indústria farmacêutica.305
Preço e acesso aos medicamentos
Impactos crescentes das mudanças climáticas, escassez de
água e outras projeções ambientais sobre a capacidade de
produção na Índia, que atualmente produz uma grande
porcentagem dos medicamentos genéricos do mundo, pode
afetar a disponibilidade e custo destes medicamentos.306
Governos são grandes compradores de serviços de saúde em
muitos mercados, logo, o aumento dos impactos negativos
das mudanças climáticas e outras projeções ambientais sobre
as finanças governamentais podem levar à redução dos gastos do governo com saúde, o que, por sua vez, pode afetar os
preços dos medicamentos e a venda (e consequentemente o
acesso) de medicamentos mais modernos.307
3.
Implicações específicas aos setores
Implicações nas Políticas
Carga geral de doenças
Cerca de 24% do total global das doenças e 23% de todas as
mortes podem ser atribuídas a fatores ambientais. Regulamentações e tratados internacionais restringindo a poluição
do ar, da água, produtos químicos, mercúrio e outros problemas ambientais devem ajudar de alguma forma a reduzir
as doenças (e a demanda por serviços de saúde) atribuída a
estes fatores ambientais.308
Edificações Verdes
Preocupações crescentes sobre as projeções ambientais
podem levar a mais regulamentações exigindo que hospitais,
asilos e outras instalações de saúde que querem expandir ou
reformar façam os serviços de acordo com padrões de construções verdes que, entre outras coisas, usam materiais de
construção reciclados, reduzam o uso de energia e água, limitam o uso de fluidos refrigerantes que destroem a camada
de ozônio e promovam opções de transporte alternativos
para os funcionários.309
Resíduos de instalações de saúde
Preocupações crescentes com a contaminação por fármacos
e produtos químicos da água e do ar podem levar a regulamentações mais rígidas (ou aplicadas mais rigorosamente)
no gerenciamento dos resíduos farmacêuticos e outros
fluxos de resíduos das instalações de saúde, alguns dos quais
podem ser altamente tóxicos (ex.: substâncias de quimioterapia, solventes).310Isso pode incluir restrições maiores sobre a
incineração de lixo hospitalar, que é uma das fontes principais de dioxinas, mercúrio, chumbo e outros poluentes.311
Produtos médicos verdes
Empresas de dispositivos e suprimentos médicos podem
enfrentar pressões regulatórias e do mercado para oferecerem produtos mais sustentáveis (ex.: que reduzam o uso de
substâncias químicas perigosas) aos fornecedores de serviços
de saúde.312
Implicações à Reputação
Pegadas ecológicas
Instalações de saúde que tomaram medidas para reduzir suas
pegadas ecológicas (e, simultaneamente, melhorar o conforto dos pacientes) podem obter benefícios a sua reputação
dentro de suas comunidades e serem mais capazes de atrair
pacientes e funcionários.313
Biodiversidade e Água
Empresas farmacêuticas que têm como fonte ingredientes
ativos ou inertes de espécies superexploradas ou que
extraem água sem levar em consideração as comunidades locais e as necessidades ambientais podem enfrentar danos às
suas reputações e acesso futuro restrito, particularmente se
houver conflitos com as comunidades locais que dependem
da água ou usam as espécies para a medicina tradicional. Empresas que dependem de ingredientes inertes como o óleo
de palma, que está associado com o desmatamento e outros
danos ao ecossistemas, podem enfrentar riscos similares.314
35
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
3.8 Tecnologia da Informação e da Comunicação
O setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC)
– aqui considerado como englobando hardwares e softwares
de computadores, telefones
celulares e outros dispositivos
eletrônicos de informações e
comunicação– enfrenta alguns
riscos, mas também oportunidades de mercado significativas
devido às projeções ambientais
e fatores subjacentes. Este setor
tem ligações óbvias com, virtualmente, todos os outros setores
de negócios, muitos dos quais também apoiam a TIC (ex.:
energia elétrica, extrativistas), assim como todos os setores
dependem cada vez da TIC para uma série de necessidades.
Implicações Operacionais
Custos da Energia
O uso de energia pelo setor de TIC é grande e crescente. Os
centros de dados representam a parte com o crescimento
mais rápido em relação à pegada de carbono, que, acredita-se
que corresponda a 2% das emissões globais de gases do efeito
estufa até 2020. Centros de dados podem usar de 100 a 200
vezes mais eletricidade que um prédio comercial comum. Isso
faz com que os custos operacionais das empresas de TIC sejam
vulneráveis à volatilidade do preço da energia e às regulamentações ou impostos sobre as emissões de gases do efeito
estufa.315
Confiabilidade na eletricidade
Crescentes faltas ou interrupções de energia devido a uma
variedade de projeções ambientais pode interromper a
produção de TIC, custando às empresas milhões de dólares
em materiais perdidos.316(Veja a seção 3.3 acima para mais
informações sobre os impactos no setor de energia elétrica).
Disponibilidade e qualidade da água
A produção de componentes e produtos de TIC e o resfriamento de centros de dados requerem volumes significativos
de água. A produção de semicondutores, em particular, requer grandes volumes de água ultra pura (o que envolve um
processo de purificação) e com frequência estão localizados
em regiões do mundo com grande risco de escassez de água
(ex.: Ásia, sudoeste dos EUA). O setor então enfrenta o risco
crescente de custos operacionais mais altos e operações interrompidas ou paradas (e consequente perda de renda), devido
a preocupações com a escassez e qualidade da água.317
Minerais e Metais
O setor de TIC depende fortemente do fornecimento de
minerais e metais, incluindo cádmio, gálio, tântalo e lítio. Isso
expõe o setor a interrupções no fornecimento por parte da in-
36
dústria mineradora causadas por uma variedade de projeções
ambientais.318 (Veja a seção 3.4 acima para mais informações
sobre os impactos no setor extrativista)
Continuidade dos negócios
Eventos meteorológicos extremos e o aumento dos níveis dos
mares associados às mudanças climáticas podem danificar ou
interromper as operações produtivas do setor de TIC, as redes
de dados, equipamentos, escritórios e outros ativos físicos
(ex.: torres de celular). 319Uma enchente grave na Tailândia em
outubro de 2011, por exemplo, danificou seriamente e interrompeu a produção de discos rígidos, levando a perdas nas
vendas, produção suspensa e lançamento atrasado de alguns
produtos – forçando empresas a reparar e reformular suas cadeia de suprimentos.320O setor de TIC pode precisar aumentar
os investimentos em redes, instalações e outras infraestruturas
mais resistentes .321
O Vale do Silício no estado da Califórnia, nos Estados Unidos
– casa do Facebook, Google, Intel e muitas outras empresas de
TIC localizadas na Baía de São Francisco – está entre 3 e 10 pés
(aproximadamente de 1 a 3 metros) abaixo do nível do mar,
e já depende de diques para deter a água; o aumento do nível
dos mares ou uma grande ressaca poderiam danificar e/ou
transbordar os diques, colocando os prédios e instalações das
empresas de TIC em risco.322
Implicações de Mercado
Demanda Geral
O crescimento populacional, a urbanização e o desenvolvimento econômico criarão uma demanda crescente por
produtos e serviços de TIC como celulares e acesso à internet,
em especial em países em desenvolvimento. O aumento da
urbanização também cria oportunidades para o setor dentro
das novas cidades “inteligentes” com sistemas de serviços
integrados (ex.: trânsito).323
Eventos meteorológicos
extremos e aumento no
nível dos mares associados
às mudanças climáticas
podem danificar ou
interromper as operações
de produção, redes de
dados, equipamentos,
escritórios e ativos físicos
do setor de TIC
–e.x.:torres de celular.
3.
Implicações específicas aos setores
Permitindo melhorias ambientais
Substituição de bens e serviços tradicionais
Conforme os esforços para lidar com os impactos das projeções ambientais crescem, o setor de TIC provavelmente
terá mercados em expansão ou novos para a coleta de
informações, análise de dados, produtos para integração de
sistemas e serviços para monitorar e melhorar a eficiência
energética, hídrica e de outros aspectos do desempenho
ambiental em muitos outros setores. Provavelmente a TIC
cada vez mais permitirá aos setores acompanhar o uso de
seus recursos e suas emissões em tempo real.
Preocupações crescentes com a variedade de impactos das
projeções ambientais podem criar oportunidades de mercado crescentes para o setor de TIC para substituir bens
ou serviços tradicionais por outros eletrônicos ou “virtuais”.
Por exemplo, o setor provavelmente levará ao aumento da
demanda por produtos ou serviços que permitam videoconferência ao invés de viagens, teletrabalho ao invés de deslocamento para o trabalho, materiais eletrônicos ao invés de papel
ou outros produtos físicos, governo eletrônico, ao invés de
serviços em papel e presenciais , e comércio online ao invés de
construir, gerenciar e ir às lojas.325
Empresas de TIC podem ter maior demanda por serviços que
reduzam a quantidade de água necessária para produção em
outros setores (e em seus próprios). Elas devem ver o crescimento da demanda por prédios inteligentes (ex.: com sistemas
de gerenciamento de energia predial), motores inteligentes
(ex.: com variadores de velocidade) e processos de automação
da manufatura, transporte inteligente e sistemas de armazenamento logístico (ex.: transferências intermodais, otimização
de rotas). A TIC pode ter demanda aumentada por parte
da agricultura para produtos e serviços que permitam aos
agricultores avaliar mais precisamente quanto de irrigação e
fertilizantes a produção precisa, reduzir a quantidade de terra
necessária para a produção pecuária e prever melhor o clima.
A TIC pode permitir o uso de rastreamento do transporte de
resíduos perigosos dentro e além das fronteiras. No setor de
energia elétrica, redes inteligentes dependerão da TIC para
integrar quantidades maiores de energia renovável, geração
distribuída, gerenciamento de demanda, preço em tempo real
e balanceamento de carga, enquanto também reduz as perdas
de eletricidade na transmissão e distribuição.324(veja as seções
3.1, 3.3 e 3.6 acima e 3.10 abaixo para mais informações sobre
os impactos nos setores de construção civil, energia elétrica,
alimentício e de transportes).
Coletando dados ambientais
O setor de TIC levará à demanda crescente por produtos e
serviços para rastrear e avaliar melhor o estado e as projeções
ambientais, incluindo permitir monitoramento remoto e local
das mudanças ambientais. Além disso, o setor pode aumentar
a demanda (particularmente em mercados emergentes) por
ferramentas que ajudem os clientes a entender, antecipar,
avaliar e integrar medidas em preparação para se adaptarem
às mudanças climáticas, incluindo sistemas de alarme de
emergência e desastres (ex.: o Centro de Operações Rio, no
Brasil, desenvolvido pela IBM), e a continuidade dos negócios e
produtos e serviços de recuperação.326
Hardware Verde
As empresas de TIC podem sofrer pressão crescente por parte
dos consumidores para reduzir a intensidade de carbono
e energia e o uso de substâncias tóxicas – e pode ter um
crescimento correspondente na demanda por “TIC verde”,
mais sustentável e eficiente energeticamente. As empresas de
TIC podem também sofrer pressões de clientes corporativos
de outros setores que também estão sob pressão para reduzir
suas pegadas ambientais.327
Diminuição potencial projetada em 2020 das emissões diretas da indústria de TIC e emissões globais de GHG
Fonte: GeSI SMARTer 2020: The Role of ICT in Driving a Sustainable Future, Global e-Sustainability Initiative, 2012
37
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Implicações nas Políticas
Implicações à Reputação
Emissões de gases do efeito estufa
Impactos da cadeia de suprimento no meio ambiente
O setor de TIC pode enfrentar limitações crescentes à emissão de gases do efeito estufa como SF6 e PFCs durante a produção, uso e fim de vida de seus produtos.328
Dada a preocupação crescente com as projeções ambientais
negativas, o setor de TIC pode expor sua reputação a riscos
devido aos sérios impactos ambientais causados pela retirada
de materiais-chave (ex.: minério de coltan retirados do leste da
Republica Democrática do Congo) e pela manufatura de seus
produtos (ex.: poluição por metais pesados na água da Bacia
do Rio das Pérolas na região de Guangdong na China .332
Resíduo eletrônico
Preocupações crescentes com os impactos de resíduos
eletrônicos, que é o resíduo com as taxas de crescimento mais
rápido do mundo (estimado em 20-50 milhões de toneladas
totais por ano), no meio ambiente e na saúde humana nos
países em desenvolvimento, podem levar a uma pressão maior
dos consumidores e dos requisitos regulatórios (ex.: Política
Nacional de Resíduos Sólidos de 2010, no Brasil) sobre as empresas no setor de TIC para que tenham mais responsabilidade
sobre a redução, reutilização e reciclagem dos resíduos.329
Resíduos Perigosos
Os efluentes da produção de semicondutores podem conter
uma variedade de substâncias químicas perigosas, incluindo
arsênio, antimônio e ácido fluorídrico. Preocupações crescentes com a contaminação da água e do solo podem levar a
regulamentações (e contenciosos) mais rígidas, requerendo
que empresas gerenciem melhor as substâncias químicas
perigosas em seus fluxos de resíduos e que recuperem os
locais já contaminados.330
Eficiência Energética
Normatizações com o objetivo de reduzir as emissões de
gases do efeito estufa ou melhorar a eficiência energética
podem levar a uma maior adoção da TIC. Por exemplo,
códigos de construção e outras medidas normativas para
melhorar a eficiência das construções podem estimular os
estudos de caso para investir em sistemas de gerenciamento
energético em prédios novos ou melhorados.331 (Veja a seção
3.1 acima para mais informações sobre os impactos no setor
de construção civil).
38
Descarte de resíduos
O descarte dos produtos rapidamente obsoletos do setor
impõe um risco à reputação das empresas de TIC, conforme
a poluição química perigosa e os efeitos resultantes na saúde
dos locais de despejo de lixo eletrônico – como aquele na
favela Agbogbloshie nas redondezas de Accra, em Gana – se
tornam mais proeminentes.333
Energia
Dado o crescente uso de energia por seus centros de dados, as
empresas de TIC podem ter riscos crescentes à reputação baseados na eficiência e fontes de energia usada para alimentar estes
centros, com maior consumo e pressão das ONGs para impulsionar a eficiência energética e o uso de energia renovável.334
Água
A significativa demanda por água para a produção de TIC
e resfriamento dos centros de dados pode criar riscos à
reputação para o setor e limitações aos planos de expansão,
particularmente em regiões em que a água é escassa.335
Soluções Ambientais
As empresas de TIC que são reconhecidas por contribuírem
para resolver grandes desafios ambientais como mudanças
climáticas, qualidade/ disponibilidade de água e desmatamento podem ter benefícios em suas reputações.336
3.
Implicações específicas aos setores
3.9Turismo
O setor de turismo é considerado
aqui como englobando os negócios relacionados a ajudar as pessoas a viajarem e se hospedarem
em locais por lazer, negócios ou
outros fins. Ele enfrenta riscos e
oportunidades significativos devido às projeções ambientais, principalmente porque o clima, as
condições metereológicas, e os
recursos naturais são atributoschave para deixar os destinos
turísticos interessantes à visitação.
O setor turístico também está relacionado aos impactos das
projeções ambientais em diversos outros setores – de forma
mais próxima, claro, com o setor de transporte (que é levado
em consideração nesta seção mas é detalhado na seção 3.10
abaixo).
Implicações Operacionais
Custo da energia
O consumo de energia pelo setor de turismo é considerável,
crescente e dependente de combustíveis fósseis. As viagens
de turismo estão crescendo assim como a tendência de viajar
para mais longe através de meios de transporte intensivos em
energia (ex.: aviões e carros ao invés de trens). O turismo é
responsável por cerca de 5% das emissões de gases do efeito
estufa, 75% dos quais é devido ao transporte (incluindo
40% da aviação, 32% de carros, e cerca de 1,5% de navios de
cruzeiro).Turismo de cruzeiro é a forma mais intensiva em
energia considerando-se turista por viagem (veja a seção 3.10
abaixo para mais informações sobre os impactos no setor
de transportes).Outros 21% das emissões do setor vêm da
acomodação de turistas (a maior parte de aquecimento e ar
condicionado). (Veja a seção 3.1 acima para mais informações
sobre os impactos no setor de construção civil).O setor de
turismo está então vulnerável à volatilidade dos preços da
energia e regulamentações ou taxas visando a emissão de gases
do efeito estufa, o que pode afetar os custos de chegar e ter
conforto nas localidades turísticas.337
Investidores do setor para reduzir o consumo de energia,
geraram retornos significativos com prazo de retorno pequeno.338Por outro lado, em alguns casos, os esforços das empresas turísticas para se adaptarem às condições climáticas em
mudança podem levar a uso de energia e custos operacionais
ainda maiores. Por exemplo, invernos mais quentes e camadas de neve reduzidas podem aumentar os custos operacionais (tanto de energia quanto de água) para resorts de ski
que precisam realizar esforços para produzir neve (considerando que o clima esteja frio o suficiente), apesar dos custos de
aquecimento de áreas internas poderem diminuir.Temperaturas mais altas e o aumento da incidência de ondas de calor
podem também aumentar os custos operacionais para empresas hoteleiras em destinos de clima quente, que precisam
oferecer níveis bem maiores de ar condicionado para garantir
o conforto em áreas internas.339
Recursos Locais
Diminuição na disponibilidade de recursos locais (ex.:
água, comida) devido às projeções ambientais pode levar
ao aumento dos custos de operação e à necessidade de
importar mercadorias e matérias primas.340(Veja a seção
3.6 acima para mais informações no impacto o setor de alimentos e bebidas)
Continuidade dos negócios
O aumento de eventos meteorológicos extremos (ex.: tempestades, enchentes, incêndios florestais) podem danificar fisicamente a infraestrutura e instalações turísticas e levar a perdas
por interrupções nos negócios.341Ilustrativo dos riscos são
os danos causados em dezembro de 2012 pelo Ciclone Evan
em hotéis, resorts e no aeroporto internacional de Samoa,
incluindo milhões de dólares em danos ao Hotel Aggie Grey.342
Interrupção de Viagens
O aumento dos eventos meteorológicos extremos causados
pelas mudanças climáticas também pode interromper as
viagens de turismo. Por exemplo, tempestades severas na
Europa e parte dos Estados Unidos durante o inverno de 20102011 fecharam aeroportos e diminuíram a renda proveniente
de parques e resorts da Walt Disney Company no primeiro
trimestre de 2011.343Naquele inverno, tempestades em outras
partes dos Estados Unidos também impediram que muitos
dos consumidores da Boyd Gaming visitassem suas operações
de jogos, custando à empresa quase 3 milhões de dólares em
ganhos.344 (veja a seção 3.10 abaixo para mais informações
sobre os impactos no setor de transportes).
Implicações de mercado
Demanda Geral
Globalização, crescimento da população, urbanização e desenvolvimento econômico, em particular nos países emergentes
e em desenvolvimento, criarão uma demanda crescente pelo
setor de turismo, já que será mais fácil transpor fronteiras, mais
pessoas (especialmente em cidades congestionadas) buscarão
viagens de escapismo e rendas crescentes para permitir que
sejam feitas.345
A volatilidade dos preços da energia e a pressão crescente
para reduzir as emissões (veja Implicações Operacionais
acima) podem fazer o preço dos transportes aéreos ficar
mais caro, reduzindo a demanda por viagens de longa distância e consequentemente pelos serviços turísticos, dando
maior acesso aos consumidores locais.346Custos mais altos,
entre outros fatores, podem levar à demanda reduzida de
viajantes a negócios, que podem, ao invés de viajar, preferir
usar a videoconferência.347 (Veja a seção 3.7 acima para mais
informações sobre o impacto no setor de TIC).
39
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
Mudanças nas condições ambientais locais
Eventos meteorológicos extremos, impactos de longo prazo
das mudanças climáticas, escassez de água, diminuição da
biodiversidade e outras mudanças nas condições ambientais
podem influenciar alguns destinos turísticos tornando-os
mais ou menos desejáveis, fundamentalmente afetando a
demanda do mercado por empresas relacionadas àquelas
localidades. Por exemplo:
• Aumento dos níveis dos mares e a incidência crescente de
furacões e tempestades tropicais podem reduzir a demanda
por empresas, tais como resortes, que promovem férias na
praia.
• Invernos mais quentes e geleiras em derretimento podem
reduzir a demanda por empresas que promovem atividades
de clima frio ou de neve. Dos 103 resorts de ski operando
no nordeste estadunidense, menos da metade deve se manter economicamente viável daqui a 30 anos se as temperaturas médias no inverno aumentarem entre 2.5o e 4oF.
• Temperaturas mais altas dos mares, aumento da acidificação dos oceanos, e diminuição da biodiversidade marinha
podem reduzir a demanda por empresas que promovem
atividades relacionadas aos exuberantes recifes de corais
(ex.: snorkeling, mergulho)
• Mudanças nos níveis e regimes de chuva, secas e enchentes,
assim como questões de qualidade da água, podem afetar a
demanda por empresas que promovem atividades recreacionais em lagos, rios ou na neve (ex.: pesca, passeios de
barco, rafting em águas limpas).
• Uma variedade de tendências ambientais pode afetar o
turismo relacionado com a produção agrícola e de alimentos (ex.: enoturismo) (veja a seção 3.6 acima para mais
informações sobre os impactos no setor alimentício).
.
Tais mudanças podem forçar empresas de turismo, em
particular empresas dependentes da demanda sazonal, a
alterar suas estações primárias, mudar locais ou expandir sua
gama de ofertas recreacionais para permitir geração de renda
durante todo o ano. Por outro lado, verões mais quentes
e invernos mais curtos podem estender as temporadas
turísticas em localidades tipicamente frias, e a diminuição
Eventos meteorológicos
extremos, impactos de
longo prazo das mudanças climáticas, escassez
de água, diminuição da
biodiversidade e outras
mudanças nas condições
ambientais podem fazer
alguns destinos turísticos
em particular mais ou
menos desejáveis, fundamentalmente afetando
a demanda do mercado
por empresas relacionadas àquelas localidades
40
na cobertura de gelo do Oceano Ártico pode aumentar a
demanda por turismo naquela região.348
Ecoturismo
Conforme preocupações sobre as projeções ambientais
crescem, também crescerá a demanda por turismo baseado
na natureza, ecoturismo, e outras opções de turismo “verde”
– pelos quais os turistas podem estar dispostos a pagar mais.
Esta demanda pode levar mais empresas de turismo, incluindo
as pequenas e médias empresas que são a maioria do setor, a
melhorar o desempenho sustentável e a oferecer opções de
turismo verde a fim de se manterem competitivas. A maior
demanda dos consumidores por experiências turísticas que
envolvam a fauna, ecossistemas intactos, ou quase intactos, e
locais que podem mudar ou desaparecer devido à mudança
climática pode tanto aumentar o impacto ambien-tal do
turismo nestes locais ou levar o setor a aumentar os esforços
(incluindo parcerias público-privadas) para proteger ecossistemas sensíveis.349
Agroturismo
Esforços para proteger a biodiversidade e a qualidade da água
em ambientes agrícolas podem levar ao aumento ou restauração dos campos, o que podem aumentar a demanda por
agroturismo.350
Implicações nas Políticas
Uso de recursos locais e construções
Preocupações crescentes com o declínio da biodiversidade,
perda de habitat, escassez de água, vulnerabilidade aos
impactos climáticos, e outras projeções pode levar a regulamentações novas ou mais exigentes (ex.: leis de zoneamento,
regras ambientais) que restringem ou alteram algumas das
práticas atuais do setor, incluindo pesca em recifes de corais,
despejo de esgoto, construções em mangues na costa e uso
de água por campos de golfes.351
Poluição por cruzeiros
Preocupações crescentes sobre a poluição da água e do ar
podem levar a regulamentações novas ou mais rígidas sobre
cruzeiros em portos e cidades portuárias e próximos à costa,
aumentando os custos para os operadores destes navios.352
Implicações à reputação
Consumo de água
O setor de turismo pode ser o grande usuário de água em
alguns países e regiões com escassez (ex.: pequenas ilhas),
usando água em campos de golfe, jardins irrigados, piscinas,
quartos para os hóspedes e outros fins. Isso pode pressionar
as fontes de água locais já escassas, competir com outros
setores locais, ameaçar as necessidade de subsistência das
populações locais e resultar em grande desigualdade entre
o uso de água pelos turistas e pelas comunidades vizinhas
– desta forma criando riscos à reputação (e altos custos da
água) para o setor.353
3.
Implicações específicas aos setores
Uso da terra
De forma similar, na medida em que o desenvolvimento de
instalações turísticas implica construir em terras agrícolas (ex.:
para novos campos de golfe ou hotéis), empresas de turismo
podem enfrentar oposição da comunidade e riscos à reputação, assim como pressões concorrentes sobre o uso da terra
– particularmente arável – aumentam.354
Biodiversidade
Turismo intensivo com frequência tem efeitos danosos na
biodiversidade – incluindo recifes de corais, áreas úmidas costais e florestas tropicais – devido à poluição, desmatamento e
outros impactos. Empresas que não forem capazes de incluir
preocupações com a biodiversidade no planejamento dos
destinos, nos investimentos e nas operações não só podem ter
reduzida a criação potencial de valor do destino, mas também
experimentar o aumento dos conflitos com as comunidades
locais e aumentar os danos à sua reputação.355
Em contrapartida, as empresas de turismo que melhorarem
suas práticas ambientais podem ter benefícios à reputação
e de marketing. Por exemplo, a Exodus, uma operadora de
turismo de aventura com sede no Reino Unido, obteve o aumento das reservas, publicidade positiva na mídia e um maior
reconhecimento da indústria desde que adotou uma política
de turismo responsável em 2000.356
Empresas que não
forem capazes de
incluir preocupações
com a biodiversidade
no planejamento
dos destinos, nos
investimentos e nas
operações não só podem
reduzir a atratividade
dos destinos como
contribuir para o aumento
dos conflitos com as
comunidades locais e
aumentar os danos à sua
reputação.
41
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
3.10 Transportes
O setor de transportes – aqui
considerado como englobando
o frete de mercadorias (por ar,
ferrovias, mar ou rodovias) e
transporte de passageiros (automóveis, trens, aviões), mas não
transporte público (exceto
quando pode impactar o setor
privado) – se assemelha ao setor
energético no que diz respeito
a ser essencial para a sociedade
moderna, estar na base praticamente de todos os outros setores, ter necessidades de recursos
e impactos significativos, depender de infraestrutura extensiva e estar inexoravelmente ligado às causas e soluções das
mudanças climáticas. O setor de transportes está exposto a
sérios riscos, assim como algumas oportunidades, a partir das
projeções ambientais e suas consequências.
Implicações Operacionais
Custo dos combustíveis
O sistema global de transportes atual funciona praticamente
todo à base de derivados do petróleo. O transporte consome
mais da metade dos combustíveis fósseis líquidos do mundo
hoje em dia, e acredita-se que seja responsável por quase todo
o aumento no uso primário mundial de petróleo até 2030.357A
lucratividade e custos do setor de transporte que opera
veículos e embarcações – tais como transporte por caminhão,
marítimo e empresas aéreas – são fortemente influenciados
pelo preço do petróleo. Desta forma, estas empresas, que tendem a ter margens menores, são vulneráveis ao aumento dos
preços do petróleo e flutuações no fornecimento (ex.: devido
a limitações ou custos dos combustíveis fósseis impostos pelas
políticas relacionadas ao clima). As empresas que forem mais
eficientes em relação aos combustíveis e capazes de incorporar
combustíveis mais limpos podem ter vantagens competitivas.358
Ao mesmo tempo, empresas que cada vez mais dependem
de biocombustiveis podem enfrentar aumento nos preços e
flutuações no fornecimento devido às projeções ambientais
(ex.: secas) que afetam a produção da safra.359
Um clima mais quente também pode aumentar os custos energéticos associados com estocagem e transportes refrigerados.360
Fornecimento de Materiais
O setor de transportes depende fortemente do fornecimento
de certas matérias primas (ex.: metais, borracha), assim como
de uma variedade de outros suprimentos que podem ser
prejudicados por eventos meteorológicos extremos e outros
fatores (veja, por exemplo, seção 3.4 acima para mais informações sobre o impacto no setor extrativista), o que pode
aumentar os custos das empresas, gerar atrasos ou cortes temporários e levar à perda de negócios, contratos e clientes.361
42
Disponibilidade de água
Produzir automóveis requer grandes quantidades de água,
o que significa aumento da escassez em algumas regiões (e
o consequente aumento da competição e regulamentação
sobre a água), podendo adicionar custos operacionais para
empresas que não se adaptem, determinando, por exemplo,
a recuperação e a implementação de sistemas de redução de
uso de água.362
Continuidade dos negócios
Eventos meteorológicos extremos, aumento nos níveis dos
mares, secas e outras condições climáticas relacionadas ao
clima provavelmente terão impactos – tanto imediatos
quanto de longo prazo – nas operações diárias, nos veículos
e nas infraestruturas do setor de transportes. O aumento nos
níveis do mar e tempestades podem prejudicar trajetos em
que se passe por pontes, ou sob elas, e pode danificar portos,
aeroportos e outras infraestruturas e instalações costeiras.
Tempestades extremas e incêndios florestais podem fechar
temporariamente portos ou rotas de transporte e danificar
infraestruturas, veículos e instalações. Tempestades e ventos
mais fortes podem deixar as viagens mais perigosas, aumentando os acidentes e os atrasos. Secas e enchentes podem
interromper o tráfego de frete nos rios. Ondas de calor e o derretimento do permafrost podem danificar ferrovias, rodovias,
pontes e aeroportos. “Ilhas de gelo” que se soltaram das geleiras da Groelândia, o que provavelmente se intensificará em
um mundo aquecido, podem vagar em rotas de navegação,
colocando em risco os transportes marinhos.
Por outro lado, temperaturas mais altas podem reduzir os impactos dos ciclos de congelamento-desgelo, diminuir os custos
de remoção da neve e aumentar o número de dias sem gelo
em portos e hidrovias em alguns climas mais frios.363
Empresas de transporte e ativos em localizações altamente
vulneráveis a impactos meteorológicos podem perder a
cobertura do seguro. Além disso, muita da infraestrutura de
transportes vulnerável pertence aos governos, aumentando o
desafio de garantir sistemas mais resistentes ao clima.364
Carga útil
A incidência crescente de ondas de calor extremas podem impactar as operações de carga aérea, assim como o calor extremo afeta o levantamento das aeronaves (particularmente em
aeroportos de altas altitudes). Se as pistas não forem longas o
suficiente, a carga útil nas aeronaves teria que ser reduzida (ou
vôos cancelados). Por exemplo, estima-se que um Boeing 747
nos aeroportos de Denver e Phoenix nos EUA enfrentariam
reduções de capacidade de carga durante o verão de 17% e 9%
respectivamente até 2030, devido ao aumento das temperaturas e do vapor d’água.365
3.
Implicações de Mercado
Demanda geral
Espera-se que os PIBs da Índia e da China cheguem ao nível
ou ultrapassem o PIB dos EUA até o meio do século. Países
e regiões estão se especializando (ex.: com foco em produção
de bens em particular) para se tornarem economicamente
competitivos, enquanto a mudança climática pode mudar
a natureza e localização da produção agrícola, extração de
recur-sos e viagens de turismo (veja as sessões, 3.4, 3.6 e 3.9
acima para mais informações sobre os impactos nos setores
extrativista, de alimentos e bebidas e de turismo). Essa confluência de fatores terá implicações fundamentais para o comércio internacional, o fluxo global de mercadorias, a cadeia
logística de suprimentos, e o desempenho de transporte já
existentes (e a necessidade de novos) – e pode aumentar de
forma significativa a demanda por transporte.366
Espera-se que o transporte por caminhão lidere o crescimento
nos transportes de frete e, por conseguinte na demanda por
combustíveis, nos países em desenvolvimento, enquanto as
emissões de carbono dos navios podem mais do que dobrar
até 2050. A expectativa é que a demanda da aviação cresça
exponencialmente.367Os congestionamentos provavelmente
vão aumentar nos maiores portos e aeroportos, resultando
em atrasos, custos mais altos e mais poluição.368Alguns esforços atuais para reduzir as emissões pelos navios, como a
adoção mais ampla de vaporização de baixa velocidade,
podem ser revertidos a fim de responder à demanda
vertiginosa – níveis de demanda que podem sobrecarregar
portos e ancoradouros existentes.369
Além disso, o crescimento populacional, a urbanização, e o
desenvolvimento econômico em países em desenvolvimento
levarão ao crescimento na demanda por veículos automotores
individuais. O número de veículos automotores já está
crescendo muito mais rápido do que o número de pessoas
no mundo, especialmente em nações como a Índia e a China.
Em um caminho business-as-usual , a frota global de veículos é
esperada para crescer de cerca de 800 milhões para 2-3 bilhões
até o meio do século, com a maioria do crescimento nos países
em desenvolvimento.370
Países em desenvolvimento preocupados com a poluição
do ar, trânsito e limites de infraestrutura podem criar novas
cidades que são efetivamente sem carros, ou ver cidades
já existentes instituir mais restrições sobre a emissão
de licenças para carros ou avançar outras iniciativas de
planejamento urbano, que afetarão o crescimento da
demanda pelo setor.371
Eficiência dos combustíveis e combustíveis limpos
Como descrito acima, o sistema global de transportes depende em grande parte de derivados de petróleo.372 Desta maneira, os preços dos combustíveis fósseis e as flutuações no fornecimento podem influenciar a demanda varejista em termos
de volume geral e preferência por veículos e barcos movidos
a combustíveis fosseis. Preocupações com a qualidade do ar
urbano e mudanças climáticas provavelmente vão aumentar
ainda mais a pressão do mercado sobre os produtores de
veículos e embarcações para que mudem o abastecimento
Implicações específicas aos setores
de seus veículos para combustíveis mais limpos, incluindo gás
natural, biocombustiveis de segunda geração, hidrogênio e
eletricidade. 373 Ao mesmo tempo, a volatilidade no preço da
energia pode levar ao aumento da demanda por transporte
marítmo em comparação com outras formas de transporte
menos eficientes.374
Substitutos para o transporte convencional
Preocupações com a qualidade do ar urbano, mudanças
climáticas e a volatilidade do preço da energia também
podem levar ao aumento do uso de teleconferências, teletrabalho, compartilhamento de veículos, transporte público,
bicicletas e outros substitutos para o transporte convencional, e assim, de alguma maneira, ir reduzindo a demanda por
algumas empresas no setor de transportes, ao mesmo tempo
em que cria novas oportunidades para outras (ex.: empresas
de compartilhamento de veículos ou empresas que produzem veículos de transporte público).375Além disso, estas
preocupações podem abrir oportunidades de negócios para
empresas de transporte para que respondam à demanda
dos consumidores em outros setores buscando uma pegada
ecológica reduzida das cadeias logística e de suprimentos.376
De forma mais ampla, a urbanização crescente e a gama
de preocupações ambientais associadas aos transportes
podem levar a uma mudança substancial no modelo de
negócios automotivos no futuro próximo - de um modelo
atual focado em veículos para um novo modelo que oferece
múltiplas formas de se obter mobilidade sustentável individual.377
Frete Ártico
As mudanças climáticas provavelmente levarão a uma abertura de rotas árticas de navegação e a um desenvolvimento
maior dos recursos no Ártico, o que sugere que a região
representará um mercado em expansão para empresas de
navegação, ao mesmo em que aumenta o risco de danos
ambientais aos ecossistemas frágeis.378
Implicações nas Políticas
Poluição do ar
O setor de transportes é uma
fonte significativa de emissões
Países em desenvolvimento
de enxofre, óxidos de nitrogênio,
preocupados com a poluição
carbono negro (fuligem) e
do ar, congestionamentos
muitos outros poluentes. O
transporte gera mais de 80% da
e limites da infraestrutura
poluição do ar em cidades nos
podem criar novas cidades
países em desenvolvimento.
para funcionar efetivamente
Em muitos locais, o setor já está
sem carros, ou desenvolver
sujeito a várias regulamentações
novas iniciativas de
que restringem as emissões
planejamento urbano que
e combustíveis dos veículos.
afetarão o crescimento da
Preocupações crescentes com a
demanda para o setor
qualidade do ar, sistemas de água
e saúde humana – assim com o
carbono negro e as mudanças
climáticas – podem levar a
regulamentações mais rigorosas e
a outras iniciativas (especialmente na Ásia). Incentivos para
43
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
reduzir o conteúdo de enxofre em combustíveis diesel,
emissões de óxido de nitrogênio dos transporte rodoviários,
e uma variedade de emissões pelo transporte marítimo e
portos (inclusive através da Convenção Internacional para a
Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL) e a Organização Marítima Internacional (OMI)). O cumprimento
destas regulamentações pode aumentar a complexidade e os
custos das empresas de transporte.379
Emissões de gases do efeito estufa
Regulamentações com o objetivo de reduzir as emissões
de gases do efeito estufa podem ter impactos significativos
sobre o setor de transportes. A dependência dos combustíveis fósseis contribui com cerca de 25 % o das emissões de
dióxido de carbono relacionados à energia, que ainda deverá
crescer 1,7% ao ano até 2030.380 O setor já está sujeito a uma
grande variedade de regulamentações (a maioria em países
desenvolvidos e na China), incluindo padrões de economia
energética nos veículos, emissão de gases do efeito estufa
e impostos de carbono, que podem causar aumento de
custos, mudar a demanda dos consumidores e influenciar
o design dos produtos. Tais regulamentações só ficarão
mais restritivas e comuns nos países em desenvolvimento
conforme as preocupações com o clima aumentarem.381
Companhias aéreas e de frete podem ver as regulamentações
sobre gases do efeito estufa ficarem mais rigorosas, tanto
por parte das respectivas organizações internacionais
(ICAO e IMO). Quando não houver uma abordagem global,
uma colcha de retalhos de medidas regulatórias pode ser
imposta por governos individualmente, já que qualquer
um deles pode impulsionar o descarte precoce de veículos
e embarcações.382 Ao mesmo tempo, os governos estão
instituindo regulamentações e incentivos para estimular a
adoção de transportes mais limpos, criando oportunidades
para que empresas respondam a esta demanda.383
Biodiversidade
Conforme crescem as preocupações com a biodiversidade e
com espécies invasivas, empresas de frete podem esperar o
aumento de regulamentações que requerem tratamento de
água de lastro para matar organismos invasivos, ampliando
as regras já adotadas pela IMO em 2009.384
Preocupações crescentes com a proteção de ecossistemas
com alto valor de biodiversidade podem resultar em
44
mais recusas regulatórias para propostas de expansão das
instalações de transportes (ex.: portos, aeroportos). Tais
negativas às licenças podem forçar empresas a cancelar
gastos investidos nos projetos e levar a potenciais quedas
nos preços das ações.385
Descarte de fim de vida
Preocupações com os fluxos de resíduos e a escassez de
recursos podem levar a mais regulamentações sobre o
tratamento de fim de vida para o setor de veículos (ex.:
desmanche e reciclagem de navios) e seus componentes (ex.:
baterias de veículos elétricos).386 De forma mais ampla, as
pressões crescentes sobre os recursos globais podem levar a
um maior foco regulatório sobre a promoção de processos
“de circuito fechado” que reutilizam e reciclam.387
Implicações à Reputação
Combustíveis / Comida / Florestas
Preocupações crescentes com as mudanças climáticas
(e com segurança energética) podem levar empresas de
transporte a incorporar mais biocombustíveis em seus
fornecimentos. A produção crescente destes combustíveis
tem o potencial de aumentar a conversão de florestas em
terras agrícolas, o que pode ter uma série de impactos
ambientais e nos preços dos alimentos. Consequentemente,
à reputação das empresas de transportes pode estar em
risco devido à maior pressão normativa e dos consumidores
para minimizar o uso de biocombustíveis ou para garantir a
proteção de floresta e terras agrícolas.388
Mudança climática
Preocupações crescentes com as mudanças climáticas
colocam em risco às reputações das empresas de transportes
que, segundo o público, não fazem sua parte para contribuir
com soluções. Empresas podem cada vez mais ver benefícios
ao aplicar ciência à tomada de decisões dos negócios e
objetivos corporativos. Por exemplo, os planos tecnológicos
da Ford se baseiam na análise de qual deveria ser a parte da
empresa na redução das emissões de dióxido de carbono
dos seus veículos leves para que se estabilize a concentração
atmosférica em 450 ppm.389
ConcluSÃO
4.Conclusão
Ao mesmo tempo em que os desafios são muitos, empresas
que pensam a frente – em muitos setores e em diversos
locais – estão ganhando vantagens competitivas ao entenderem as projeções ambientais e tomarem atitudes.
O caminho adiante
O cenário ambiental está mudando. Como consequência, o
cenário do setor de negócios também está. Dessa forma, como
os líderes de negócio podem garantir que os riscos e oportunidades impostos pelas projeções ambientais sejam entendidos,
discutidos e transformados em vantagens competitivas de
longo prazo? Nós apresentamos as seguintes recomendações:
O
GEO-5 mostra uma imagem assustadora do estado
e das projeções do meio ambiente global. A degradação está acontecendo em muitos ecossistemas e
já é visível em muitos indicadores ambientais. Embora haja
alguns pontos positivos, a falta de mudanças regulatórias
significativas, realizadas por ações combinadas de governo,
empresas e outros atores, nos leva a pensar que a situação
ambiental só poderá piorar, tanto no curto quanto no longo
prazo.
Para aqueles que ainda se perguntam por que o setor de
negócios deve agir, este relatório esclarece que, em cada
setor industrial, mudanças no ambiente global colocam
em risco o valor dos negócios. O relatório também deixa
claro que os riscos e oportunidades variam de setor para
setor. Apesar de haver poucas novidades neste relatório, a
figura completa que ele traz mostra que para cada setor, os
impactos das mudanças ambientais nos negócios variam e
são concretos e iminentes.
• Aplique as recomendações gerais para o especifico. Os
impactos identificados neste relatório são mais úteis para
empresas individuais quando se pensa nos impactos em
potencial. O próximo passo é aplicar este relatório ao
modelo de negócios, localização geográfica, operações, cadeia de suprimentos, produtos e consumidores específicos
de sua empresa. Considerando uma abordagem de ciclo de
vida, avalie como as mudanças ambientais vão afetar seu
negócio (ex.: classificação / rankeamento da relevância dos
impactos específicos). Feito isso, tal análise vai esclarecer
os riscos e oportunidades específicos que a sua empresa
enfrenta.
• Mitigue e se adapte. É crucial para as empresas minimizar
seus impactos negativos no meio ambiente. Quanto mais
eficiente a mitigação, menos severa será a adaptação
necessária e o peso das regulamentações. Continue a
procurar oportunidades para reduzir o impacto ambiental
da sua empresa em todo o ciclo de vida. Tais reduções
também podem aumentar a eficiência operacional, reduzir
os passivos e melhorar a reputação da empresa.
• Pense de forma estratégica. Adapte sua estratégia de
negócios para enfrentar as mudanças ambientais no futuro.
Integre informações sobre projeções ambientais ao planejamento e ao desenvolvimento de produtos, operações,
marketing, relações externas e outras funções.
• Seja transparente. As partes interessadas – incluindo
investidores, empregados, consumidores, comunidades
e ONGs – esperam um aumento de transparência das
empresas. Regularmente relate às suas partes interessadas os impactos da empresa sobre o meio ambiente,
assim como os riscos e oportunidades impostos pelas
tendências ambientais. Descreva estratégias tanto para
mitigar os impactos quanto
Em todos os
para se posicionar sobre as
setores, e em
condições em mudança, e
uma variedade de
também sobre o desempenho recente e os objetivos
formas, os impactos
futuros. Além de responder
das mudanças
às necessidades das partes
ambientais sobre
interessadas, transparência
os negócios são
e relatórios podem impulsionar melhorias internas de
numerosos, materiais
diversas formas•
e iminintes.
45
G E O - 5 PA R A O S E T O R D E N E G Ó C I O S
• Influencie políticas. As políticas públicas têm um papel
importante em direcionar as projeções ambientais.
Entretanto as empresas não devem simplesmente esperar
que os governos tomem as medidas necessárias. Dialogue
com legisladores e reguladores para moldar as políticas de
modo que permitam e recompensem estratégias progressivas e bons desempenhos ambientais.
• Colabore para soluções mais poderosas. Os desafios criados pelas mudanças no meio ambiente são muito grandes
para uma empresa resolvê-los. Identifique organizações
– governos, ONGs, competidores, fornecedores, clientes –
que têm interesses em comum para lidar com os desafios,
e juntos explorem como vocês podem colaborar para
46
achar soluções. Posteriormente, estabeleçam acordos que
alavanquem a força de cada organização para chegar a um
objetivo comum.
Os impactos das projeções ambientais sobre os negócios não
são mais preocupações futuras. Elas estão afetando empresas
hoje, tanto de forma positiva quanto negativa. Aquelas que
entenderem as pressões ambientais e levá-las em consideração em suas estratégias de negócio provavelmente estarão
em posições melhores para um futuro próspero.
N o ta s
Notas
1
United Nations Environment Programme, Global Environment
Outlook 5 (GEO-5): Environment for the future we want, 2012, p.36,
http://www.unep.org/geo/pdfs/geo5/GEO5_report_full_en.pdf; The
World Bank, Turn Down the Heat: Why a 4°C Warmer World Must be
Avoided, November 2012, http://climatechange.worldbank.org/sites/
default/files/Turn_Down_the_heat_Why_a_4_degree_centrigrade_
warmer_world_must_be_avoided.pdf; PwC, Too late for two degrees?
Low carbon economy index 2012, November 2012, http://www.pwc.
com/en_GX/gx/low-carbon-economy-index/assets/pwc-low-carboneconomy-index-2012.pdf
2 See generally Global Business Network, Impacts of Climate Change:
A System Vulnerability Approach to Consider the Potential Impacts
to 2050 of a Mid-Upper Greenhouse Gas Emissions Scenario, January
2007, http://media.washingtonpost.com/wp-srv/opinions/documents/
gbn_impacts_of_climate_change.pdf
3 GEO-5, pp.207-208
4 GEO-5, pp.5, 8
5 GEO-5, pp.5, 10, 16
6 GEO-5, pp.14, 428
7 GEO-5, p.18
8 GEO-5, p.19
9 GEO-5, pp.16-17
10 GEO-5, p.4
11GEO-5, p.xvii
12 GEO-5, pp.16, 20, 36, 38, 56-57, 59, 61, 429
13 GEO-5, pp.56-57
14 GEO-5, p.32
15 GEO-5, pp.41-46
16 GEO-5, pp.49-50
17 GEO-5, pp.51-52, 61
18 GEO-5, pp.54-56
19 GEO-5, p.77
20 GEO-5, pp.71-72
21 GEO-5, p.76
22 GEO-5, p.89
23 GEO-5, pp.73-74
24 GEO-5, pp.76-77
25 GEO-5, pp.436-438
26 GEO-5, pp.102-104, 436
27 GEO-5, pp.107-108
28 GEO-5, pp.107-108, 118
29 GEO-5, pp.109-113
30 GEO-5, pp.119
31 GEO-5, pp.119
32 GEO-5, pp.134, 145
33 GEO-5, pp.134, 139
34 GEO-5, pp.120, 134, 145
35 GEO-5, p.145
36 GEO-5, pp.142-143
37 GEO-5, pp.144-145
38 GEO-5, pp.140, 158
39 GEO-5, pp.152-153
40 GEO-5, pp.170, 172-173, 176, 185
41 GEO-5, p.174
42 GEO-5, pp.175, 184
43 UNEP, Are you a green leader? Business and biodiversity: making
the case for a lasting solution, 2010, p.50, http://www.uneptie.org/
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publication.pdf; Deloitte, Sustainability & climate change: Issues for
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Concrete Thinker website, http://www.concretethinker.com/solutions/
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44 TEEB, Joshua Bishop, ed., The Economics of Ecosystems and Biodiversity
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45 George Fisher, Current ‘Beetle Invasion’ and Some Timber Companies
Worth Watching, Seeking Alpha, July 1, 2010, http://seekingalpha.com/
article/212688-current-beetle-invasion-and-some-timber-companiesworth-watching; Housing Recovery and Canadian Pine Beetle Impact
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47 Deutsche Bank Research, Building a cleaner planet: The construction
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50 NOAA’s National Climatic Data Center Sectoral Engagement Fact
Sheet: CONSTRUCTION; NOAA’s National Climatic Data Center
Sectoral Engagement Fact Sheet: CIVIL INFRASTRUCTURE, June 2010,
http://www.ncdc.noaa.gov/sites/default/files/attachments/Civil%20
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51 Mark Snow and Deo Prasad, Climate Change Adaptation for Building
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http://bigstory.ap.org/article/after-sandy-nyc-eyes-moving-power-gearhigher
52 NOAA’s National Climatic Data Center Sectoral Engagement Fact
Sheet: CIVIL INFRASTRUCTURE; Mark Snow and Deo Prasad, Climate
Change Adaptation for Building Designers: An Introduction, p.2
53 NOAA’s National Climatic Data Center Sectoral Engagement Fact
Sheet: CONSTRUCTION; Mark Snow and Deo Prasad, Climate
Change Adaptation for Building Designers: An Introduction, p.2;
Roberto Acosta Moreno et al., Industry, Energy, and Transportation:
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1995: Impacts, Adaptations and Mitigation of Climate Change:
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54 ILO, Green Jobs Creation Through Sustainable Refurbishment in the
Developing Countries, p.18
55 Mark Snow and Deo Prasad, Climate Change Adaptation for Building
Designers: An Introduction, p.2
56 Terje Grøntoft, Climate change impact on building surfaces and
façades, International Journal of Climate Change Strategies and
Management, Vol. 3, Iss. 4, 2011, pp.374 – 385, http://dx.doi.
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57 UNEP, Towards a Green Economy, p.337
58 World Business Council for Sustainable Development, Vision 2050: The
new agenda for business, 2010, p.39, http://www.wbcsd.org/pages/
edocument/edocumentdetails.aspx?id=219
59 World Business Council for Sustainable Development, Vision 2050:
The new agenda for business, p.40; Ceres, Murky Waters? Corporate
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reports/corporate-reporting-on-water-risk-2010/at_download/file
60 Robert S. Eshelman, Cement producers, eyeing their bottom line,
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www.eenews.net/public/climatewire/2012/10/18/1; National Ready
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