PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO (PUC-SP) José Eduardo Nalini Mercado de Reciclagem do Lixo no Brasil: Entraves ao Desenvolvimento PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA SÃO PAULO 2008 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO (PUC-SP) José Eduardo Nalini Mercado de Reciclagem do Lixo no Brasil: Entraves ao Desenvolvimento PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Doutor Ladislau Dowbor SÃO PAULO 2008 2 Banca Examinadora ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ 3 AGRADECIMENTOS Dedico aos meus queridos pais, João Baptista Nalini e Maria De Lourdes Campos Nalini, pelos ensinamentos e princípios, que me ensinaram dar valor a tudo que tenho, mesmo que possa parecer pouco, e desta forma ter consciência econômica para desperdiçar o menos possível os recursos disponíveis. Agradeço primeiramente ao meu Professor e Orientador, Ladislau Dowbor, pelos comentários e pela confiança depositada em mim. Agradeço também ao Professor Julio de Mesquita pelos comentários e considerações durante a minha qualificação e também posterior a ela, a Dorli Martins do Sebrae-SP por ter permitido a minha participação no evento realizado no própria sede do Sebrae-SP em junho deste ano, ao Ricardo Lopes Garcia, diretor do departamento de meio ambiente do sistema FIESP, por ter me recebido, pelo material e pelas considerações acerca da visão da indústria sobre o mercado de reciclagem, a Elizabeth Grimberg do Instituto Pólis, por ter sido o meu primeiro e importante contato externo para obter diferentes pontos de vista sobre o mercado de reciclagem, e também pelas importantes observações sobre o escopo do minha dissertação. 4 RESUMO O objetivo deste trabalho é entender os principais entraves ao desenvolvimento do mercado de reciclagem no Brasil, comparativamente aos de outros países mais avançados nesse setor. A metodologia utilizada foi, partir da análise do potencial e da viabilidade econômica desse setor no Brasil, tese defendida por Sabetai Calderoni, na obra “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, e da comparação dos índides de reciclagem com outros países, para entender porque esse mercado ainda é incipiente no Brasil. Através também de contatos e entrevistas com representantes de entidades representantivas do setor, como MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos, Instituto Pólis, FIESP e SEBRAE, entre outras, entender os principais entraves ao desenvolvimento desse mercado no Brasil sob diferentes pontos de vista. O resultado obtido é que apesar da evolução desse mercado no Brasil nos últimos anos, ainda há muito a ser feito para alavancar o seu crescimento, tanto em termos de Política Nacional de Resíduos, conscientização e organização de todos os agentes, como um maior entendimento dos diversos ganhos potenciais da reciclagem, e maior foco e investimento das Prefeituras nos programas de coleta seletiva. Palavras-chave: lixo, desperdício, consciência, organização e reciclagem. 5 SUMMARY The objective of this work is to understand what are the main inhibitors to developing recycling market in Brazil compared to other more advanced countries. The methodology used was, starting from the analysis of the potential and economical viability of this market in Brazi, by Sabetai Calderoni, in “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, and a comparison of recycling indexes with other countries, to finally understand why this market is still so incipient in Brazil. Through contacts and interviews with representants of representative entities of this sector, like MNCS – Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos, Institulo Pólis, FIESP and SEBRAE, among others. The general result was besides the growth reached by this market in Brazil in the last years, there are still a lot to be done to take it to the next level, in terms of Waste National Policy, conscience and organization from all agents, as higher level of understanding of all recycling potential benefits and more focus and investiment from Mayors for selective collect programs. Key words: waste, wastefulness, conscience, organization and recycling. 6 Sumário INTRODUÇÃO....................................................................................................................11 CAPÍTULO 1 – Contexto da Reciclagem.............................................................................14 1. Problemáticas Ambiental e Econômico-Social.......................................14 2. Consumo e Meio Ambiente.....................................................................20 3. Conceitos sobre a Reciclagem.................................................................24 1. Conceitos de Reciclagem...................................................................24 2. Tipos de lixo......................................................................................25 3. Processo de Reciclagem....................................................................27 4. Destino dos Resíduos........................................................................29 CAPÍTULO 2 – Panorama do Setor no Mundo....................................................................31 CAPÍTULO 3 – Panorama do Setor no Brasil......................................................................45 1. Balanço da Reciclagem no Brasil............................................................45 2. Estrutura do Setor de Reciclagem no Brasil............................................50 3. Mapa da Reciclagem no Brasil................................................................59 1. Regulamentação Nacional..............................................................59 2. Índices Nacionais da Reciclagem...................................................61 CAPÍTULO 4 – Retrato do Município de São Paulo............................................................63 1. Disposição Final do Lixo.........................................................................66 2. Iniciativas da FIESP..............................................................................102 3. Programa de Gestão Ambiental do SEBRAE-SP..................................107 CONCLUSÃO....................................................................................................................114 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................117 7 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1.2 – Características dos Principais Materiais Recicláveis......................................27 Quadro 2.2 – Coleta e disposição de Resíduos Sólidos nas Cidades da AL&C...................35 Quadro 2.3 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita..........................................38 Quadro 2.4 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005).............................39 Quadro 3.1 – Formas de Disposição de Resíduos por Região no País.................................45 Quadro 3.2 – Estimativa de Geração de Resíduos Sólidos no Brasil...................................46 Quadro 3.7 – Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada)......................................50 Quadro 3.8 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%).................................62 Quadro 4.1 – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - Evolução da Quantidade Anual de Lixo Domiciliar – 1978 a 1996.....................................................................................................64 Quadro 4.2 – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução Histórica da Composição dos Resíduos Sólidos (%)............................................................................................................66 Quadro 4.3 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005).............................67 Quadro 4.4 – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução do Custo Operacional dos Aterros...................................................................................................................................69 Quadro 4.5 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita..........................................72 Quadro 4.12 – Tabela de Preços dos materiais recicláveis por grupo (R$/tonelada)............77 Quadro 4.13 – Tabela de Preços dos materiais recicláveis por grupo (R$/tonelada)............78 Quadro 4.14 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%)................................81 Quadro 4.15 – Município de São Paulo – Áreas de Interesse dos Participantes do Processo de Reciclagem.......................................................................................................................82 Quadro 4.16 – Município de São Paulo – Distribuição dos Ganhos Possíveis pela Reciclagem do Lixo..............................................................................................................83 Quadro 4.17 – Brasil – Economia Possível pela Reciclagem do Lixo.................................84 Quadro 4.18 – Município de São Paulo – Economia Possível pela Reciclagem do Lixo....85 Quadro 4.19 – Índice de Reciclagem de Latas de Alumínio – 1989 a 2008.......................87 8 Quadro 4.20 – Consumo Anual de Latas de Alumínio (em bilhões de latas).......................88 Quadro 4.21 – Índice de Reciclagem das Latas de Alumínio (%)........................................88 Quadro 4.22 – Índice de Reciclagem do Vidro (%)..............................................................90 Quadro 4.23 – Crescimento do Índice de Reciclagem de Vidro – 1991 a 2008..................90 Quadro 4.24 – Consumo de Vidro Per Capita (em kg per capita)........................................91 Quadro 4.25 – Índice de Reciclagem do Papel (%)..............................................................93 Quadro 4.26 – Crescimento do Índice de Reciclagem de Papel...........................................93 Quadro 4.27 – Índice de Reciclagem do Plástico (%)..........................................................95 Quadro 4.28 – Crescimento do Índice de Lata de Aço.........................................................96 Quadro 4.29 – Índice de Reciclagem da Lata de Aço (%)...................................................97 Quadro 4.30 – Participação dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%).....................................101 Quadro 4.31 – Índice de Reciclagem dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%)......................102 9 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.1 – Crescimento Demográfico Mundial 1830-2050 (em bilhões de pessoas).......14 Figura 2.1 – Estimativa Crescimento Demográfico Mundial versus Resíduos Sólidos Urbanos no Mundo (em bilhões de pessoas e bilhões de toneladas/ano).............................32 Figura 3.3 – Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva..................................48 Figura 3.4 – Participação da Coleta por Região (%).............................................................49 Figura 3.5 – Composição da Coleta Seletiva em Peso (%)...................................................49 Figura 3.6 – Índice Nacional de Reciclagem dos Principais Materiais em 2006..................49 Figura 4.6 – Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva..................................73 Figura 4.7 – Coleta por Região no Brasil..............................................................................73 Figura 4.8 – Composição da Coleta Seletiva (em peso).......................................................73 Figura 4.9 – Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada)........................................74 Figura 4.10 – Faturamento Anual da Indústria de Embalangens no Brasil (em bilhões de reais)......................................................................................................................................76 Figura 4.11 – Participação de cada material no faturamento total (%).................................76 10 Introdução O meu interesse pela questão do lixo se iniciou quando participei de um trabalho ainda na graduação de Economia, sobre as pessoas (adultos e crianças) que viviam do lixo e dentro dos grandes lixões, ou aterros sanitários, no início da década de 90. Na época visitei um deles, e presenciei a situação degradante daquelas pessoas. Recentemente, durante o meu trabalho de pesquisa de fontes para a minha dissertação, encontrei um artigo de 1999 do Instituto Pólis com apoio da UNICEF, sobre o Programa Lixo e Cidadania. O objetivo do programa era erradicar a coleta do lixo por crianças e adolescentes, capacitar seus familiares para que tenham trabalho e renda e, ainda, mudar a situação do destino final do lixo. Segundo o IBGE, na maioria dos municípios brasileiros há pessoas vivendo no (ou do) lixo. São catadores de rua ou coletores de sucata e papelão. Há famílias inteiras que sobrevivem nos lixões, recolhendo restos de comida e outros materiais. Mais de 100 mil pessoas, incluindo crianças e adolescentes, trabalham na coleta, tendo-se em alguns lugares, três gerações de uma mesma família vivendo no e do lixo. A situação destas pessoas é extremamente cruel: expostas a doenças atráves de vetores (moscas, ratos, baratas), mutilações e riscos de vida. Elas estão privadas de educação, lazer, moradia, saúde, afeto, e convivem com marginalidade, prostituição, uso indevido de drogas, sem qualquer perspectiva de um futuro digno. Desde então, o problema do destino do lixo só vem se agravando nos grandes centros urbanos, principalmente nos países onde a cultura da reciclagem de resíduos é pouco desenvolvida, como ainda é o caso do Brasil. O contexto atual é de previsões catastróficas para o planeta terra causadas pelo aquecimento global, no qual o homem é o agente responsável pelo efeito estufa, segundo últimos relatórios elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU)1. Além disso, as consequências serão rápidas e violentas em todos os continentes nas próximas décadas, mas atingirão principalmente as nações mais pobres. E muito precisa ser feito por todos para mudarmos esse cenário sombrio futuro. 1 Relatório do IPCC - International Panel on Climate Change, ONU. 11 Nesse contexto, e também considerando que os recursos naturais são esgotáveis, torna-se cada vez mais imprescindível o reaproveitamento dos resíduos orgânicos e não orgânicos gerados pela produção e consumo, tanto na forma de reciclagem, como na forma transformação em fontes alternativas de energia mais limpas, como o gás natural, gerado a partir de resíduos orgânicos. Na visão microeconômica, o lixo pode ser considerado uma externalidade negativa, que tornou-se um grave problema para a maioria das grandes metrópoles. Nos últimos anos, a reciclagem do lixo, está tornando-se uma atividade lucrativa, ajudando a melhorar a imagem das empresas que possuem esse programa. Dados dos Ibope de Julho de 2007 revelam que 53% dos consumidores deixariam de comprar uma marca preferida se soubessem que o fabricante fez algo prejudicial ao meio ambiente. E por último, também ajuda a solucionar esse grave problema da sociedade atual, o destino dos resíduos. A atividade de reciclagem do lixo é de fundamental relevância ambiental e econômica, seja na geração de empregos, na economia de recursos, na produção de energia e adubo. No Brasil, apesar dos recentes avanços, essa atividade ainda é pouca desenvolvida, basicamente por falta de educação, organização e consciência (consumo consciente). O objetivo deste trabalho é entender os principais entraves ao desenvolvimento do mercado de reciclagem no Brasil, comparativamente aos de outros países mais avançados nesse setor. A metodologia utilizada foi, partir da demonstração e conclusão do potencial e da viabilidade econômica desse setor no Brasil, pelo Professor Sabetai Calderoni, na obra “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, e da comparação dos índides de reciclagem com outros países, para entender porque esse mercado ainda é incipiente no Brasil. Através de contatos e entrevistas com representantes de entidades representantivas do setor, como MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos, Instituto Pólis, FIESP e SEBRAE, entre outras, entender os principais entraves ao desenvolvimento desse mercado no Brasil sob diferentes pontos de vista. O resultado obtido é que apesar da evolução desse mercado no Brasil nos últimos anos, ainda há muito a ser feito para alavancar o seu crescimento, tanto em termos de uma Política Nacional de Resíduos, conscientização e organização de todos os agentes, como um maior entendimento dos diversos ganhos potenciais da reciclagem, e maior foco e investimento das Prefeituras nos programas de coleta seletiva. 12 O referencial teórico utilizado, entre outros, são: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, de Sabetai Calderoni, Economista, “Os Empresários do Lixo: Um Paradoxo da Modernidade”, de Márcio Magera Conceição, Economista, e “Introdução à Economia Solidária”, de Paul Singer, Economista. A estrutura do trabalho, está dividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo, contextualiza as questões ambientais e sócio-econômicas, o consumo e o meio-ambiente e conceitos sobre a reciclagem. O segundo capítulo, é um panorama do mercado de reciclagem no mundo, destacando os países europeus, Estados Unidos e América Latina, comparando os principais índices reciclagem e outros indicadores. No terceiro capítulo, o foco é o Brasil, com os seus principais indicadores em níveis nacional e regional. O último capítulo é um retrato da cidade de São Paulo, a qual merece destaque pela sua representatividade em diversos aspectos, entre eles, populacional, nível de riqueza, produção, consumo, orçamento municipal, etc. 13 Capítulo 1 – Contexto da Reciclagem 1. Problemáticas Ambiental e Econômico-Social O momento atual é marcado pelo aquecimento global e suas consequências e pelas desigualdades sociais. Atualmente, a população mundial é de 6,6 bilhões de habitantes, com um crescimento exponencial. As previsões da ONU para 2050, é de uma população mundial de aproximadamente 9,5 bilhões de habitantes, ou seja, a população dobrou em 40 anos e crecerá nos próximos 50 anos mais 3,5 bilhões (ver figura abaixo). Figura 1.1 – Crescimento Demográfico Mundial 1830-2050 (em bilhões de pessoas) 9.5 10.0 8.0 6.0 6.0 4.0 4.0 2.0 3.0 2.0 1.0 0.0 1830 1930 1960 1977 1999 2050 Fonte: SEBRAE - Palestra sobre Desenvolvimento Sustentável da Proferssora Sílvia Maria Sartor no SebraeSP em junho de 2008 Quanto à questão ambiental, o Relatório Planeta Vivo2, publicado pela WWF (World Wild Foundation) em 2002, utiliza o conceito de “pegada ecológica” para qualificar a pressão populacional sobre o ambiente natural. Desenvolveu-se um método para medir o uso de recursos naturais pela humanidade e como isso se distribui pelos países e regiões. Constatou-se a partir deste instrumento que, devido ao tamanho da população mundial e de suas necessidades de alimentação básica, em nível de consumo de recursos, das tecnologias utilizadas e da quantidade de resíduos gerados, já foi ultrapassada em 20 por cento a capacidade de suporte da Terra. Ou seja , as sociedades estão usando mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. 2 Relatório Planeta Vivo, 2002. Disponível em http://www.wwf.org.br. 14 O planeta tem 11,4 bilhões de hectares de terra e espaço marinho produtivos, ou seja, 1,9 hectare de área per capita para produção de grãos, peixes e crustáceos, carne e derivados. E hoje, no mundo, estão sendo usado em média 2,3 hectares por habitante. Vale também destacar que, dos 6,2 bilhões de habitantes do planeta, cerca de 420 milhões vivem em países que não dispõem mais de terras agrícolas per capita suficientes para cultivar seus alimentos. Esta situação coloca os países mais pobres deste grupo em condições de dependência bastante preocupantes, o que força estas nações a importar alimentos. Quanto à produção de resíduos sólidos domiciliares no mundo, cerca de 2 milhões de toneladas eram geradas por dia, ou seja, 730 milhões de toneladas ao ano (Desafios do Lixo - TV Cultura, 2001). Segundo esse documentário, a contribuição de alguns países na produção mundial deste tipo de resíduos chama a atenção: só os Estados Unidos, por exemplo, geram 230 milhões de toneladas ao ano, o que representa 31% do total de resíduos domiciliares gerados no mundo. Somados aos do Canadá e países ocidentais da Europa atinge-se 56% do total mundial. Na América Latina3, são produzidas cerca de 120 milhões de toneladas de resíduos domiciliares anualmente, cerca de 15% do total mundial. Com base nos dados do CEMPRE, nos países do norte do hemisfério, a média de geração de resíduos por habitante é bastante superior a de países do sul: o Canadá chega a produzir 1,9 kg por pessoa/dia, os Estados Unidos, 2,00 kg/dia, já na Índia este valor desce para 0,4 g/dia e no Brasil a média é de 0,7 kg/dia. Em alguns segmentos sociais mais pobres, com poder aquisitivo mínimo, este número pode baixar para 0,3 g/dia ou até menos. Em geral, nos países mais pobres, a média oscila entre 0,4 e 0,9 g/dia por habitante. Já na questão econômico-social, a participação dos 10% mais ricos da população mundial, aumento de 51,6% para 53,4% do total da renda mundial. O brasil é o caso extremos da desigualdade, os 10% mais ricos da população tem renda per capita 32 vezes a dos 40% mais pobres. 3 Relatório sobre Produção Mais Limpa e Consumo Sustentável na América Latina e Caribe, 2004, relativo ao período de 2000 a 2003, o qual foi coordenado pela PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, p. 47. 15 Segundo o Projeto do Milênio4, da Organização das Nações Unidas, mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem com menos de um dólar por dia . Outros 2,7 bilhões lutam para sobreviver com menos de dois dólares por dia. A pobreza nos países em desenvolvimento, no entanto, vai muito além da pobreza de renda. Significa ter de caminhar mais de 1,5 quilômetros todos os dias, apenas para ir buscar água e lenha; significa sofrer de doenças que, nos países ricos, foram erradicadas há décadas. Todos os anos, morrem onze milhões de crianças , a maioria das quais com menos de cinco anos; e mais de seis milhões morrem devido a causas totalmente evitáveis como a malária, a diarréia e a pneumonia. Em alguns países extremamente pobres, menos de metade das crianças freqüentam o ensino primário e uma percentagem inferior a 20% passa para o ensino secundário. No mundo inteiro, 114 milhões de crianças não recebem instrução sequer ao nível básico e 584 milhões de mulheres são analfabetas. Seguem alguns dados elementares que revelam as causas e expressões da pobreza que afeta mais de um terço da população mundial: Fome Mais de 800 milhões de pessoas vão se deitar todas as noites com fome; dentre elas, 300 milhões são crianças. Desses 300 milhões de crianças, apenas 8% são vítimas de fome ou de outras condições de emergência. Mais de 90% sofrem de má nutrição prolongada e de um déficit de micronutrientes. A cada 3,6 segundos, mais uma pessoa morre de fome; em sua grande maioria, crianças com menos de 5 anos. Água Mais de 2,6 bilhões de pessoas - mais de 40% da população mundial – carecem de saneamento básico e mais de um bilhão continua a usar fontes de água imprópria para o consumo. Quatro em cada dez pessoas no mundo carecem de acesso a uma simples latrina. Cinco milhões de pessoas, na sua maioria crianças, morrem todos os anos de doenças relacionadas à qualidade da água. Agricultura Em 1969, a África era um exportador líquido de alimentos; hoje, o continente importa um terço dos cereais de que necessita. Mais de 40% dos africanos não têm 4 The Millennium Project. Disponível em http://www.pnud.org.br/milenio/numeroscrise.php. 16 capacidade de obter diariamente os alimentos suficientes. A decrescente fertilidade dos solos, a sua degradação e a pandemia da AIDS levaram a uma diminuição da produção de alimentos per capita da ordem dos 23%, nos últimos 25 anos, apesar de a população ter aumentado muito significativamente. O agricultor africano paga pelos fertilizantes convencionais entre três e seis vezes mais do que o seu custo no mercado mundial. Importante autores da Academia, como os citados abaixo, já na década de 90, escreveram sobre o impacto do acelerado crescimento econômico no século XX no meioambiente e suas prováveis consequências sobre nós num futuro próximo. Segundo Calderoni5, “o acelerado processo de transformação por que passa a sociedade contempôranea tem consequências ambientais que só recentemente – sobretudo a partir dos anos setenta – começaram a ser objeto de maior atenção por parte dos governos e das organizações comunitárias. A inclusão da questão ecológica na arena do debate público, ao longo de quase três décadas, produziu uma considerável elevação no grau de consciência social sobre o tema, como demonstrou a própria Conferência Mundial de 1992 no Rio de Janeiro”. Segundo também Hobsbawm6, “Uma taxa de crescimento econômico como a da segunda metade do Breve Século XX, se mantida indefinidamente..., deve ter consequências irreversíveis e catastróficas para o ambiente natural deste planeta, incluindo a raça humana que é parte dele...certamente mudará o padrão de vida na biosfera, e pode muito bem torná-la inabitável pela espécie humana. Além disso, o ritmo em que a moderna tecnologia aumentou a capacidade de nossa espécie de transformar o ambiente é tal que, mesmo supondo que não vão acelerar-se, o tempo disponível para tratar do problema deve ser medido mais em décadas do que em séculos”. Em “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, com sua primeira edição datada de outubro de 1997, Calderoni parte de um cenário em que os dados sobre esse setor são escassos, ou seja, praticamente as estatísticas no Brasil eram inexistentes, no qual basicamente a discussão gerava em torno da viabilidade econômica da coleta seletiva para as poucas prefeituras que implementaram esse sistema. Isso implicava desconsiderar totalmente os demais ganhos econômicos e ambientais que a reciclagem poderia trazer para a sociedade de forma geral. 5 6 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 31. In “Os Bilhões Perdios no Lixo”, 4ª edição, p. 31. 17 Além disso, esse setor já movimentava recursos na ordem de bilhões de dólares em outros países, como os Estados Unidos, muitos países da Europa e Japão. Segundo Calderoni, a reciclagem do lixo envolve um conjunto inter-relacionado de dimensões, econômica, tecnológica, ambiental, institucional, demográfica, social e espacial. Um aspecto fundamental de análise do setor de reciclagem do lixo é analisá-lo do ponto de vista microeconômico e também macroeconômico, abrangendo todos os atores sociais e institucionais envolvidos, indústria, prefeituras, sucateiros, catadores, governos federal, estadual e municipal e população em geral, chegando a medir a participação e o benefício de cada um dos agentes envolvidos na cadeia produtiva. Além disso, a reciclagem do lixo torná-se de extrema importância em função dos seguintes fatores: a) Exaustão das matérias-primas, pois na sua maioria são finitas; b) Custos crescentes de obtenção de matérias-primas; c) Economia de energia, devido aos custos crescentes de produção; d) Indisponibilidade e custo crescente dos Aterros Sanitários; e) Custos de transportes crescentes, entre os pontos de coleta e os aterros sanitários; f) Poluição e prejuízos à Saúde Pública, em função da disposição inadequada dos resíduos; g) Geração de emprego e renda com a reciclagem de resíduos; h) Redução dos custos de produção. Calderoni ainda discute alguns aspectos teóricos relevantes para a sua análise, entre eles, a estrutura desigual dentro desse setor, caracterizado praticamente por um modelo de concorrência perfeita no caso dos catadores e sucateiros, enquanto as indústrias recicladores estariam mais próximas de um modelo de monopólio e monopsônio. Outro fator relevante é a escassez de formulações teóricas econômicas sobre esse setor. Dois autores importantes citados são Bertolini7 e Duston8, os quais analisaram respectivamente o preço negativo do lixo (externalidade negativa) e o ponto de equilíbrio entre oferta e procura dos recicláveis, atráves dos benefícios e custos marginais para cada um dos materiais recicláveis. Um último aspecto teórico discutido foi sobre a atuação do Estado Brasileiro, o qual 7 8 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 65. In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 65. 18 evidenciava a falta de regulamentação em níveis federal e estadual, e no nível municipal incipientes programas de coleta seletiva, deixando claro a prevalência do laissez-faire. A metodologia utilizada e aperfeiçoada pelo Calderoni para calcular e provar a viabilidade econômica da reciclagem, foi inicialmente desenvolvida por Duston9, partindo somente da diferença (G) entre o montante com a venda dos materiais recicláveis (V) e (V’), já que na visão do conjunto a receita para uns é ao mesmo tempo despesa para outros, menos o custo envolvido na coleta e separação dos mesmos (C), depois incorporando o custo evitado de coleta, transporte, transbordo e disposição final (E), e chegando finalmente ao modelo geral que incorporou outras variáveis de ganho econômico, como economia no consumo de energia (W), economia de matérias-primas (M), economia de recursos hídricos (H), economia de controle ambiental (A) e demais ganhos econômicos (D)10. A equação completa é: G = (V-V’) – C + E + W + M + H + A + D. Pelos dados preocupantes apresentados acima, principalmente no tocante a escassez dos recursos naturais, torna-se imperativo, difundir a prática do reuso, da reutilização e da redução do desperdício, também por meio do consumo consciente. Adicionalmente, é extremamente necessário que as autoridades municipais, principalmente, invistam em programas de coleta seletiva e reciclagem. Essa atividade, além de ajudar na resolução da questão ambiental, através da economia de recursos naturais: matérias-primas, energia e água, também gera empregos, renda e inclusão social. 9 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 81. 19 2. Consumo e Meio Ambiente Na história moderna, o modelo de consumo é baseado na “mercadoria” e é geralmente ditado pela grandes nações industrializadas, atualmente os Estados Unidos. Países como China e Índia, entre outros em desenvolvimento, buscam cada vez mais ter o mesmo padrão de vida que os americanos, isso significa também ter o mesmo nível de geração de resíduos e consequentemente de poluição que os americanos. A atual sociedade apresenta dois grupos extremos em termos de consumo, ou seja, um quarto da população que vive nos países desenvolvidos e que consome três quartos dos recursos naturais do planeta. A questão do bem-estar e da qualidade de vida foram deixadas em segundo plano há muito tempo, o que realmente importa e faz bem é consumir, é acumular contínuamente mais riqueza e então transformar essa riqueza em mercadorias, mesmo que essas não sejam realmente necessárias. O papel da mídia é criar necessidades para que as empresas possam então satisfazer as necessidades criadas dos seus consumidores, com seus produtos e serviços. Segundo Hazel Henderson11, investir em comerciais realmente funciona. Anualmente, são gastos U$ 220 bilhões em publicidade nos Estados Unidos, e de acordo com muitos cientistas, a TV comercial é o programa de ensino mais eficaz desse país. Todos são alvos da mídia, incluindo as crianças que são expostas diariamente ao consumo, como potenciais compradores e também como influenciadores do consumo dos seus pais. Juliet B. Schor12, cita o termo “mercantilização da infância”, na literatura acadêmica, o termo é usado como sinônimo de comercialização, como na idéia de que as crianças estão cada vez mais envolvidas na cultura consumista ou cultura comercial, ou seja, anunciantes e marqueteiros, influenciam diretamente criação, educação, formação e molde das nossas crianças. A modalidade de pesquisa que mais cresce é a observação etnográfico-naturalista in situ com registro em vídeo. Não é pesquisa, a gente convive com eles, nem antropologia, nós estamos dentro do contexto, segundo Emma Gilding, marqueteira, entrevista por Juliet B. Schor, durante a elaboração do seu trabalho. 11 Desafios do Consumo – Reserva para garantia da verdade na publicidade, 2007, p. 30. Desafios do Consumo – A mercantilização da infância: Relatos da linha de frente da publicidade, 2007, p. 41. 12 20 O grande dilema atual, discutido por Flávio Tayra13, é continuar com a lógica produtivista que é composta pela tríade consumo de produtos, extração de recursos naturais e geração de resíduos, ou mudar nossa conduta de consumo, para um consumo sustentável, como pregam várias correntes de ecologistas. O autor cita que o raciocínio objetivo indica que a lógica produtivista deve ser continuada, pois gera crescimento econômico, o que levaria a mais atividades econômicas e geração de emprego. Porém, a premissa de seu trabalho é que os problemas ambientais são gerados pela lógica capitalista, ou seja, produção de excedentes e satisfação de necessidades. O autor ainda levanta uma interessantes discussão, da visão dos economistas ortodoxos, ligados à corrente clássica, de que o mercado se encarregaria de fazer os ajustes necessários também para solucionar os problemas ambientais, e de que o indivíduo é sempre racional e faz as suas escolhas com liberdade. Porém, o consumo vai muito além de uma pura satisfação de necessidades, ele envolve uma relação social, que é algo muito mais complexo, o que nos lembra Marx, que baseou a seu obra, o Capital para explicar as relações capitalistas através das relações sociais entre os indivíduos. No tocante ao fator motivador do consumo discutido pelos economistas, principalmente os ortodoxos, a crítica dos sociólogos é de que o discurso econômico tende a banalizar o ato do consumo, reduzindo-o à expressão de um ato de escolha racional com uma suposta previsibilidade axiomática. Além disso, o exercício da liberdade de escolha em uma sociedade de consumo é algo que pode ser questionado, e uma análise econômica parcial baseada somente no aspecto produtivo, mostra suas limitações quando abstrai os aspectos emocionais e sociológicos do consumo. Outro importante ponto de vista é de Pedro Jacobi14, na sua opinião o planeta já não suporta esse contínuo crescimento do consumo, para atender no próximo século dez bilhões de pessoas, e a mudança de conduta para um consumo sustentável faz-se necessário e urgente, gerar menos desperdício, reduzir o volume consumido e fortalecer as práticas de reciclagem. Porém, esse é o grande desafio, garantir um benefício social máximo a partir de uma utilização mínima de recursos. 13 Desafios do Consumo – Criação de necessidades e produção de satisfação: o papel econômico e cultural do consumo e seu impacto no meio ambiente, 2007, p. 247. 14 Desafios do Consumo – Consumo e sustentabilidade. Como pensar a aprendizagem social, 2007, p. 273. 21 Segundo o autor, o consumo sustentável representa um salto qualitativo de complexa realização, na medida em que agrega um conjunto de características que articulam temas como equidade, ética, defesa do meio ambiente e cidadania, enfatizando a importância de práticas coletivas como norteadoras de um processo que, embora englobe os consumidores individuais, prioriza ações na sua dimensão política. O grande desafio que se coloca é o da mudança na visão das políticas públicas, o que possibilitará desenvolver conceitos e estratégias de desenvolvimento que promovam efetiva redução de práticas pautadas pelo desperdício, pela superação de um paradigma que nos coloca cada vez mais numa encruzilhada quanto à capacidade de suporte do planeta e da habilidade que a sociedade tem de buscar em equilíbrio entre o que se considera ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível ou possível. Nesse processo de mudança de conduta para o consumo sustentável, o papel da comunicação social é de extrema importância para informar as pessoas com clareza, imparcialidade e de forma contínua. Segundo Gino Giacomini Filho15, as relações de consumo se formam a partir de diversas instituições, públicos e símbolos, cabendo à comunicação social importante papel nesse processo, inclusive quando trabalhar a condução do consumo sustentável. Porém, o setor de comunicação social, de um modo geral, ainda não se apresenta apto a atender às necessidades específicas do mercado de produtos e serviços ambientalmente corretos, os chamados “produtos verdes”, seja pela parcialidade de determinados grupos ou a descontinuidade da cobertura sobre fatos, movimentos ou problemas ambientais. A embalagem desempenha um papel central nessa problemática ambiental, desde as primeiras civilizações, já existia a necessidade de transportar, acondicionar e armazenar alimentos. Com a Revolução Industrial, veio a produção em série e a constante evolução das embalagens, com a incorporação de novos materiais e formas. A ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), tem plena consciência da importância das embalagens para conservação das mercadorias em seu transporte e armazenamento, porém também da extrema importância da preservação do meio ambiente, e contribui para o desenvolvimento da sociedade através de programas sociais e ambientais. 15 Desafios do Consumo – Comunicação organizacional e consumo no plano ecológico, 2007, p. 262. 22 Segundo a ABRE, o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos compreende a coleta integral do lixo de forma eficiente e abrangente, atendendo 100% da população e a disposição adequada do que não foi possível reaproveitar. O gerenciamento integrado é uma atividade que deve ser partilhada entre Governo, Indústria e População proporcionando resultados positivos e ganhos sociais, como geração de empregos e renda, através do incremento de novos negócios. A mudança de conduta para o consumo sustentável, é uma questão de cidadania, assim como a reciclagem dos resíduos também o é, e depende da consciência de cada invidíduo de que esse planeta é a nossa casa e que tem recursos limitados e condições mínimas que devem ser mantidas, para que nós e as gerações futuras (nossos filhos e netos) possamos continuar vivendo aqui, caso contrário iremos sofrer graves consequências das nossas ações. Diante do exposto acima, fica evidente que essa análise deve levar em conta outros aspectos além dos puramente econômico, principalmente sociológicos e que o consumo sustentável dificilmente se dará de forma voluntária, pois as pessoas têm uma vontade natural de manterem seus padrões de vida. Porém, uma mudança de conduta faz-se necessária para termos um consumo mais equilibrado e consciente, sustentável, que pode ser auxiliada por políticas públicas específicas. 23 3. Conceitos sobre a Reciclagem 3.1 Conceito de Reciclagem Segundo a Loga16, até meados do século XVIII, os resíduos (lixo) eram produzidos em pequena quantidade e constituídos essencialmente de sobras de alimentos e outros materiais orgânicos. A partir da Revolução Industrial, as embalagens foram introduzidas no mercado, aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos gerados nas áreas urbanas. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das metrópoles fez com que as áreas disponíveis para colocar os resíduos (lixo) se tornassem escassas. Nos últimos anos nota-se uma tendência mundial em reaproveitar cada vez mais os produtos jogados no lixo para fabricação de novos objetos, por meio do processo de reciclagem, o que representa economias de matéria-prima, água e de energia fornecidas pela natureza. Durante as minhas pesquisas, encontrei algumas definições sobre reciclagem/coleta seletiva, uma delas é de Vilmar Sidnei Demaman Berna17, a coleta seletiva do lixo pode ser definida pelos quatro Rs: 1. Repensar – repense seus hábitos de consumo e comportamentos. Veja onde você pode economizar e evitar produzir lixo. 2. Reduzir – reduza seu consumo e o uso de embalagens e produtos não recicláveis. 3. Reaproveitar – reaproveite materiais, papel, embalagens, etc., que muitas vezes vão para o lixo mas que poderiam continuar sendo usados ou doados para outras pessoas. 4. Reciclar – recicle seus resíduos ou doe-os para quem os recicla. 16 Loga – Logística Ambiental de São Paulo S/A, é a concessionária responsável pela região noroeste da cidade. Data de outubro de 2004 o início da concessão que regulamentou os serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde da cidade de São Paulo. 17 Fundador do Portal do Meio Ambiente – REBIA. 24 A outra é da ABRE (Associação Brasileira de Embalagens), a reciclagem se compõe de uma atividade industrial que processa matéria-prima transformando-a em outra matériaprima com maior valor agregado e posteriormente um novo produto. A reciclagem vista de maneira mais ampla é a criação de valor econômico, emprego e renda a partir da recuperação de produtos já utilizados. Essa atividade envolve de maneira indissociável fatores sociais, econômicos e ambientais. O Programa Brasileiro de Reciclagem (PBR) tem por objetivo estimular a reciclagem de embalagens e criar mecanismos para que ela se torne mais abrangente e efetiva, aumentando os índices já atingidos no Brasil. 3.2 Tipos de Lixo Segundo a Loga18, concessionária responsável pela região noroeste da cidade de São Paulo, o lixo pode ser classificado em diferentes tipos: 1. Urbano: resíduos sólidos em áreas urbanas, que engloba os domésticos, os efluentes industriais domiciliares (pequenas indústrias de fundo de quintal) e os comerciais; 2. Domiciliar: resíduos sólidos de atividades residenciais; grande quantidade de matéria orgânica, plástico, lata, vidro; 3. Comercial: resíduos sólidos das áreas comerciais, composto por matéria orgânica, papéis e plásticos de vários grupos; 4. Público: resíduos sólidos resultantes de limpeza pública (areia, papéis, folhagem, poda de árvores etc.); 5. Especial: resíduos geralmente industriais, merecem tratamento, manipulação e transporte especial; é composto por pilhas, baterias, embalagem de agrotóxicos, embalagens de combustíveis, de remédios, venenos etc.; 6. Industrial: possue características peculiares dependendo das matérias-primas utilizadas, e nem todos os resíduos produzidos pelas indústrias podem ser designados como resíduos industriais. Algumas indústrias, padarias, por 18 Loga – Logística Ambiental de São Paulo S/A, é a concessionária responsável pela região noroeste da cidade. Data de outubro de 2004 o início da concessão que regulamentou os serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde da cidade de São Paulo. 25 exemplo, produzem resíduos semelhantes ao doméstico. Os demais poderão ser considerados resíduos especiais e terem o mesmo destino; 7. Serviço de saúde: resíduos dos serviços hospitalares, ambulatoriais, farmácias etc. Denominados tecnicamente como RSSS - Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde, este tipo de resíduo deve ser incinerado, pois em contato com o meio ambiente ou misturado ao resíduo (lixo) doméstico poderá ser patogênico ou atuar como vetor de doenças; 8. Atômico: resultante da queima do combustível nuclear. A elevada radioatividade constitui um grave perigo à saúde da população e, por esta razão, deve ser enterrado em local próprio, inacessível; 9. Espacial: restos provenientes dos objetos lançados pelo homem no espaço, que circulam ao redor da Terra; são estágios de foguetes, satélites desativados, tanques de combustível e fragmentos de aparelhos que explodiram normalmente por acidente ou foram destruídos pela ação das armas anti-satélites; 10. Radioativo: resíduos tóxicos e venenosos formados por substâncias radioativas resultantes do funcionamento de reatores nucleares. Como não há um lugar seguro para armazená-lo, a alternativa é de que sejam colocados em tambores ou recipientes de concreto impermeáveis, à prova de radiação, e enterrados em terrenos estáveis, no subsolo. Além da classificação acima, o lixo também pode ser classificado como: a) Lixo Seco: é composto de materiais inorgânicos, como: PAPEL (jornal, caixas e embalagens de papel, revistas, cartuchos, papelão, carteira de cigarro, etc.); PLÁSTICO (saquinhos de leite, embalagens e frascos, sacos plásticos, brinquedos, etc.); METAIS (latas, tampinhas, tubos de pasta de dente ou de remédio, etc.); VIDRO (garrafas, frascos, lâmpadas, etc., inteiros ou quebrados). Todo o material separado para a reciclagem, deve estar limpo. b) Lixo Molhado: é composto de materiais orgânicos que são constituídos por restos de comida e sobras de cozinha. 26 3.3 Processo de Reciclagem A reciclagem é de extrema importância, pois os materiais consomem muitos recursos naturais, que são esgotáveis e alguns demoram muito tempo para se decompor na natureza, conforme quadro abaixo: Quadro 1.2 – Características dos Principais Materiais Recicláveis MATERIAL PRESERVAÇÃO DECOMPOSIÇÃO Lata de alumínio 5.000 kg minério 100 a 500 anos Garrafa PET Milhares litros petróleo 200 a 450 anos Embalagem longa-vida Corte 20 árvores 1 a 3 meses Papel branco Corte 20 árvores 1 a 3 meses Papelão Corte 20 árvores 1 a 3 meses Vidro incolor 1.300 kg areia 4000 anos Fonte: Departamento de Limpeza Urbana (LIMPURB), Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana (ABRELPE), Instituto Pólis e Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). a) PLÁSTICO: Origem: os plásticos sintéticos utilizados nas embalagens são produzidos a partir da nafta, um derivado do petróleo. Processos: reciclagem mecânica (conversão dos descartes plásticos pósindustriais ou pós-consumo em grânulos), energética (recuperação da energia contida nos plásticos através de processos térmicos) e química (reprocessamento de plásticos transformando-os em petroquímicos básicos) Produtos gerados: sacos de lixo, solados, pisos, conduítes, mangueiras, componentes de automóveis, fibras, embalagens não-alimentícias, carpetes, roupas, enchimentos, baldes, regadores, cabides, caixas de CD Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o plástico é um material 100% reciclável que, por ser inócuo, não é poluente. Cada tonelada reciclada poupa extração de milhares de litros de petróleo. A decomposição leva de 200 a 450 anos. A coleta e reindustrialização geram milhares de postos de trabalho, em especial para a população de baixa renda. b) VIDRO: Origem: a partir de processo químico 27 Processo: químico (reprocessamento de vidro) Produtos gerados: próprio vidro Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o vidro é um material 100% reciclável. A produção a partir do próprio vidro também consome menor quantidade de energia e emite menos resíduos particulados e CO2. Cada tonelada reciclada poupa a extração de 1,300 kg de areia. A decomposição leva cerca de 4,000 anos. A coleta e reindustrialização geram postos de trabalho, em especial para a população de baixa renda. c) ALUMÍNIO: Origem: a partir de bauxita Processo: químico (reprocessamento de alumínio) Produtos gerados: próprio alumínio Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o alumínio é um material 100% e infinitamente reciclável. A reciclagem economiza até 95% da energia utilizada para produzir alumínio a partir da bauxita. Cada tonelada reciclada poupa extração de 5 toneladas de minério. A decomposição leva de 100 a 500 anos. A coleta e reindustrialização geram postos de trabalho, em especial para a população de baixa renda. d) PAPEL: Origem: a partir da celulose Processo: químico (reprocessamento de papel) Produtos gerados: próprio papel Aspectos sociais, econômicos e ambientais: o papel/papelão é um material 100% reciclável. Cada tonelada reciclada pooupa extração de 20 árvores. A decomposição leva de 1 a 3 meses. A coleta e reindustrialização geram postos de trabalho, em especial para a população de baixa renda. e) MATERIAL ORGÂNICO: Origem: a partir da restos de material orgânico (restos de comida) Processo: químico (usinas de compostagem) Produtos gerados: adubo, energia 28 Aspectos sociais, econômicos e ambientais: Produção de adubo para agricultura e energia. A coleta e reindustrialização geram postos de trabalho, em especial para a população de baixa renda. 3.4 Destino dos Resíduos Conforme citado pela ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), não existe um modelo único de gerenciamento de resíduos. Cada região deve considerar suas particularidades sociais, econômicas, geográficas e de infra-estrutura, e individualmente ou por meio de parcerias com municipalidades próximas, contando com o apoio da indústria e da sociedade, estabelecer diretrizes para o gerenciamento dos seus resíduos sólidos urbanos. Segundo a Loga, concessionária responsável pela região noroeste da cidade de São Paulo, o destino final do lixo, teoricamente dependendo das suas características, pode ser: a) Lixões: todos os resíduos (lixo) coletados são transportados para um local afastado e descarregados diretamente no solo, sem qualquer tratamento. Os resíduos (lixo) a céu aberto atraem ratos, que são transmissores de inúmeras doenças, tais como raiva, meningite, leptospirose e peste bubônica. Outro sério problema causado pelos lixões é a contaminação do solo e do lençol freático, caso exista um no local, pela ação do “chorume”, líquido de cor negra característico de matéria orgânica em decomposição. Além disso, os lixões são visitados por pessoas carentes que buscam nestes locais um meio de sobrevivência, alimentando-se ou vendendo entulhos. b) Aterros Sanitários: processo de disposição final de resíduos sólidos, principalmente dos resíduos (lixo) domiciliares. Os resíduos (lixo) são tratados para evitar os aspectos negativos existentes nos lixões. O solo é impermeabilizado, os resíduos (lixo) são compactados e cobertos diariamente e o “chorume” é coletado e tratado para que sejam evitadas contaminações do solo e da água. O aterro sanitário pode ter uma vida útil de 29 até 50 anos, ao contrário dos lixões, que podem ser desativados em menos de cinco anos. c) Incineração: queima de materiais em alta temperatura (geralmente acima de 800ºC), em mistura com uma quantidade apropriada de ar e durante um tempo pré-determinado. Os compostos orgânicos são reduzidos aos seus constituintes minerais, principalmente dióxido de carbono gasoso e vapor d’água, e a sólidos inorgânicos (cinzas). A incineração ainda é um processo caro e exige o controle da emissão de gases gerados pela queima dos resíduos (lixo) para evitar a poluição do meio ambiente; é adequada para o tratamento de resíduos perigosos como os resíduos (lixo) hospitalares, os alimentos estragados e os remédios fora do prazo de validade. Pode ser utilizada também para a queima de dinheiro velho. d) Usinas de Compostagem: processo de decomposição da matéria orgânica contida no lixo por meio do qual os microrganismos convertem a parte orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU) em um material estável, conhecido como composto. Os resíduos (lixo), transformados em composto orgânico, podem ser misturados na terra, que adubada com este tipo de composto fica muito mais fofa, retém mais a umidade e as plantas crescem com muito mais vigor. e) Reciclagem e Reutilização: conjunto de técnicas que aproveita os detritos e os reutiliza no ciclo de produção de que saíram. Resultado de uma série de atividades pelo qual, materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são desviados, coletados, separados e processados para serem usados como matéria-prima na manufatura de novos produtos. Reduzir a quantidade de resíduos (lixo) é um compromisso importante e permanente. Como cada pessoa produz cerca de 180 quilos de resíduos (lixo) por ano, é fácil perceber que diminuir o desperdício depende muito de cada um de nós. Muitas vezes esquecemos que também somos parte da natureza e abusamos dela como se fosse algo muito distante ou infinito. Os recursos naturais, sempre tão abundantes, podem se esgotar caso não fizermos nada. 30 Capítulo 2 – Panorama do Setor no Mundo Segundo o capítulo 8 da Agenda 21 do Programa Ambiental das Nações Unidas19, a estimativa era que metade da população de 6,3 bilhões de pessoas viveriam nas cidades, sendo mais de 2 bilhões nas metrópoles dos países em desenvolvimento. No seu relatório em 1991, estimou que 720 bilhões de toneladas de lixo urbano eram gerados anualmente, e que destes 440 bilhões de toneladas (cerca de 61%) eram geradas pelos países desenvolvidos. Ainda entre 25% e 55% de todo o lixo gerado nas grandes cidades era coletado pelas autoridades municipais, e até 95% dos resíduos eram jogados em locais a ceú aberto. Cerca de 5 milhões de pessoas morrem anualmente por doenças relacionadas ao inadequado sistema de disposição final do lixo. O gerenciamento dos resíduos é um dos grandes desafios dos governos no mundo. Como tratar essa questão, principalmente no que diz respeito a disposição final dos resíduos, é um problema tanto dos países desenvolvidos como dos países em desenvolvimento. O quadro abaixo mostra uma estimativa conservadora, calculada a partir dos dados de 1999 para 200820 e 2050, mantendo a média mundial de 0,33kg/habitante/dia (720 bilhões de toneladas de lixo divididas por 6 bilhões de pessoas, e dividadas por 365 dias no ano). A estimativa nos leva de 720 bilhões de toneladas de lixo urbano em 1999 para 1.140 bilhões em 2050, ou um crescimento de aproximadamente 60%, porém sabemos que a medida que os países se desenvolvem, cresce o volume de resíduos gerados. A China atualmente com 1,3 bilhão de habitantes e crescendo a uma taxa aproximada de 10% ao ano, pode causar um grande impacto nessa média de 0,33kg/habitante/dia, elevando ainda mais a estimativa de lixo gerado para 2050. 19 20 The United Nations Environment Programme, 1996, chapter 8, Waste. Wordmeters, população mundial atual, em 10/08/2008. 31 Figura 2.1 – Estimativa Crescimento Demográfico Mundial versus Resíduos Sólidos Urbanos no Mundo (em bilhões de pessoas e bilhões de toneladas/ano) 1.140,0 1.200,0 1.000,0 800,0 804,0 720,0 População 600,0 Lixo 400,0 200,0 0,0 6,0 1999 6,7 2008 9,5 2050 Fonte: Crescimento Demográfico Mundial, SEBRAE - Palestra sobre Desenvolvimento Sustentável da Proferssora Sílvia Maria Sartor no Sebrae-SP em junho de 2008. Estimativa do lixo produzido foi calculada com base no relatório da UNEP (United Nations Environment Programme) Segundo a BBC21, nenhum organismo, independente de quão simples seja, é 100% eficiente, portanto à medida que ele consome recursos, inevitavelmente serão gerados resíduos. O mercado mundial de reciclagem atualmente movimenta cercade US$ 160 bilhões por ano e emprega 1,5 milhão de pessoas. O mercado de coleta e disposição também é muito representativo. Além disso, a reciclagem e reuso tem uma grande importância na área social, pois cria oportunidades de trabalho para aqueles que estão tentando voltar à economia, como é o caso do Brasil. Somente a União Européia produz anualmente cerca de 1,3 bilhão de lixo. Na Europa, a utilização de recursos é tema central da política ambiental22. Apesar da legislação ambiental adotada nos últimos 30 anos ter melhorado significativamente a gestão de resíduos, o volume total de resíduos continuar a crescer, acompanhando a taxa de crescimento econômico. O ojetivo é tornar-se uma sociedade de reciclagem, evitando o desperdício e utilizando os resíduos como se de recursos se tratasse. A estratégia prevê o desenvolvimento de programas nacionais de prevenção da produção de resíduos, a criação de um mercado estável para as atividades de reciclagem e a modernização da legislação. 21 BBC Home, Life/The Natural World/Ecology and the Environment, Waste, 5th October 200. Comissão Européia – Stavros Dimas, Comissãrio responsável pelo Ambiente, disponível em http://ec.europa.eu/commission_barroso/dimas/policies/waste/index_pt.htm, ultima atualização: 16/04/2008. 22 32 A União Européia quer reduzir a eliminação final de resíduos em 20% até 2010 e 50% até 2050, em relação aos valores de 200023. A estratégia está baseada nos seguintes princípios: 1) Prevenção; 2) Poluição-Pagador; 3) Precaução; e 4) Proximidade. Além disso, procura influenciar as decisões dos produtores e consumidores para que façam escolhas que protejam o ambiente, através dos seguintes meios: 1. Utilização de rótulos ecológicos; 2. Substituição das substâncias perigosas; 3. Concepção ecológica dos produtos; 4. Avalição do ciclo de vida; 5. Desenvolvimento de tecnologias mais limpas; 6. Publicação de folhetos informativos; 7. Organização de campanhas de sensibilização; 8. Adoção de diretrizes; e 9. Aplicação de regulamentação e imposição de taxas. E por fim, a União Européia tomou uma série de medidas em relação aos resíduos, a diretriz relativa às embalagens e resíduos de embalagens de 1994, estabeleceu metas para recuperação e reciclagem e está na base do êxito da coleta seletiva. A meta para 2008 é garantir entre 55% a 80% da reciclagem e pelo menos 60% de recuperação. Em 1999, uma diretriz tornou obrigatória a captura e o tratamento das emissões de metano proveniente dos aterros. Também foi estabelecida uma meta de 65% para a diminuição da quantidade de resíduos biodegradáveis nos aterros sanitários entre 2006 e 2016. Como veremos em outro capítulos, os índices de reciclagem na União Européia variam em função do material e do país, mas são relativamente altos comparados aos demais países. Nos últimos anos, o Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), fez dois levantamentos comparativos com números relativos à reciclagem no Brasil e em outros países. Os Estados Unidos em 2001 era a nação que mais gera resíduos sólidos urbano por habitante e não é o primeiro em termos de reciclagem, com exceção apenas da reciclagem dos resíduos orgânicos (59,3%), provavelmente esse quadro não deve ter se alterado muito nos últimos anos. De maneira geral, países como a Alemanha, França, Itália, Suécia e 23 Europa – Ambiente para Jovens Europeus – Lixo – O que faz a União Européia, disponível em http://ec.europa.eu/environment/youth/waste/waste_what_the_eu_does_pthtml . 33 ReinoUnido diminuíram a destinação de seus resíduos sólidos para aterros ou incineração com recuperação de energia, e ampliaram a participação da reciclagem. O maior crescimento do índice de reciclagem foi da Suécia que investiu em novas técnicas que utilizam materiais recicláveis e pesquisas alternativas para aplicação do vidro reciclado. Os elevados índices de reciclagem de plásticos de nações como Alemanha, Espanha, República Tcheca, Bélgica, Noruega e Luxemburgo, devem-se a inclusão da reciclagem energética desse material (uso dos resíduos plásticos como combustível na geração de energia elétrica e/ou calefação). Na América Latina24, a geração de resíduos sólidos é um dos principais problemas ambientais enfrentados pela sociedade. Considerando que a humanidade utiliza cerca de 40% de todos os recursos primários do planeta, tem-se que uma parcela significativa de resíduos sólidos, de origem domiciliar, industrial e de serviços (saúde, comercial, entre outros), é gerada diariamente, como resultado da conversão desses recursos. O processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis e/ou descartáveis, também vem provocando um aumento do volume e diversificação dos resíduos sólidos gerados. No ano de 1995, a população urbana da AL&C produziu cerca de 330.000 toneladas de resíduos sólidos diariamente. As três maiores cidades - Cidade do México, São Paulo e Buenos Aires – produzem juntas 50% desse total. O problema do resíduo sólido não é somente a quantidade produzida, mas a sua composição que, de densa e orgânica, tem se tornado volumosa, não biodegradável (ex: plásticos) e com nível crescente de tóxicos e patogênicos (ex: resíduos hospitalares, medicamentos vencidos, baterias, entre outros. 24 Relatório sobre Produção Mais Limpa e Consumo Sustentável na América Latina e Caribe, 2004, relativo ao período de 2000 a 2003, o qual foi coordenado pela PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, p. 47. 34 Quadro 2.2 – Coleta e disposição de Resíduos Sólidos nas Cidades da AL&C Cidade População Lixo Lixo per Coleta (em (ton/dia) capita/dia (%) milhões) Disposição Final (%) Aterro Aterro Sanitário Controlado Lixão AMÉRICA DO SUL Lima (a) 7,5 4.200 0,56 60 - 40 60 Buenos Aires (a) 12,0 10.500 0,86 91 100 - - São Paulo (b) 16,4 22.100 1,35 95 80 10 10 Santiago 5,6 4.600 0,87 100 100 - - Bogotá 5,3 4.200 0,75 99 100 - - Montevideú 1,4 1.260 0,90 97 - - 100 Quito 1,3 900 0,69 85 - - 100 Caracas 3,0 3.500 1,17 95 - 100 - Assunção 1,2 1.100 0,92 80 - - La Paz 0,7 380 0,54 92 100 - - AMÉRICA CENTRAL México (a) 15,6 18.700 1,19 80 50 25 25 Manágua 1,0 600 0,60 70 - - 100 Guatemala 1,3 1.200 0,92 80 - - 100 Tegucigalpa 1,0 650 0,65 75 - - 100 San José 1,0 960 0,96 90 100 - - Panamá 0,8 770 0,96 90 - 100 - San Salvador 1,3 700 0,54 60 - - - 100 - 100 - CARIBE Havana 2,0 1.400 0,70 Fonte: GEO AL&C, In UNEP 2003 - Relatório sobre Produção Mais Limpa e Consumo Sustentável na América Latina e Caribe Legenda: (a) região metropolitana / (b) dados de CETESB, 2004 Conforme a Tabela acima, a quantidade de resíduos sólidos gerada per capita mais que dobrou nos últimos 30 anos, passando de 0,2 a 0,5 kg/dia para 0,5 a1,2 kg/dia, com uma média na região de 0,92 kg/dia. A maior parte das cidades de maior densidade demográfica apresentam valores acima dessa média, por exemplo: São Paulo (1,35), Caracas (1,17), Cidade do Panamá (0,96) e San José (0,96). 35 Além disso, a maioria das cidades não conta com um sistema de coleta em toda a sua extensão, destacando-se aquelas com menor índice de coleta: a Região Metropolitana de Lima (60%), San Salvador (60%), Manágua (70%), Região Metropolitana da Cidade do México (80%), Cidade da Guatemala (80%) e Quito (85%). A coleta, por si só, não garante a disposição adequada, haja vista que para 43% desses resíduos não há mecanismo de disposição adequado – ex: na cidade da Guatemala, com mais de 3,2 milhões de habitantes, 80% de 1.200 toneladas, geradas diariamente, são dispostos a “céu aberto”. Em San Salvador, a segunda cidade mais populosa da América Central, com 1,3 milhões de habitantes, 60% das 700 toneladas, gerados diariamente, são coletados e encaminhados a lixões. Vale ressaltar que, embora, alguns países tenham uma estrutura legal para controle desses resíduos, falta um sistema de gestão adequado, com capacitação técnica, fiscalização e controle mais efetivos. Não há pesquisas sobre a geração e gerenciamento de resíduos sólidos industriais na AL&C. O Estado de São Paulo, área mais industrializada dessa região, estima que a cada ano são gerados cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos industriais, sendo 535 mil toneladas de resíduos perigosos. Desse último valor, 53% são tratados, 31% armazenados e os restantes 16% são dispostos em aterros . A destinação adequada de resíduos sólidos, seja de origem domiciliar, industrial e de serviços (saúde, comercial, entre outros), constitui um dos principais desafios ambientais das próximas décadas, pois há uma necessidade cada vez maior de minimizar esses resíduos, por meio de ações de redução, reuso, reciclagem e reaproveitamento energético, associado a procedimentos para o monitoramento e controle desses resíduos. Segundo o CEMPRE, o Brasil resumidadmente apresenta: a) nível relativo de geração de resíduos sólidos urbanos per capita inferior aos demais países; b) incipiente atividade de compostagem (1,5%), reutilizado na produção de fertilizantes; c) destaque na reciclagem de embalagens de alumínio 95,7%, vidro, papel/papelão e latas de aço com índices próximos de 50% e baixo índice para plásticos 16,5% e d) Somente cerca de 40% do volume de resíduos urbanos sólidos recebe tratamento adequado. Com base no CEMPRE, vale ainda destacar dois modelos de reciclagem. O primeiro dele é do Japão que reciclou 15% dos resíduos sólidos urbanos gerados em 2001. 36 Das cerca de 8 milhões de toneladas recicladas, 65,67% foram coletadas e separadas pelas prefeituras locais. O restante foi recolhido por grupos comunitários que se mobilizam para a coleta. A coleta doméstica representa 66,8% das fontes geradoras e a indústria/comércio pelo restante. Os Japoneses geravam em média 1,12 kg/habitante/dia e destinava somente 5,3% dos resíduos para aterros, 78,2% para incineração com recuperação de energia e 15% para reciclagem. O segundo modelo é o Alemão no qual cerca de 50% dos resíduos sólidos produzidos são reciclados, sendo que a maior parte desse total (30%) é direcionada para incineração com recuperação de energia. Mesmo frente a um desempenho tão significativo, o modelo é caracterizado por altos subsídios. O governo investiu 23,7 bilhões de euros na criação de uma empresa para gerir o sistema e divulgar a reciclagem junto à população, e apostou que a indústria verde pudesse gerar empregos e abrir mercados no exterior. Entretanto, a empresa vem sendo acusada de ineficiência e alguns setores têm reclamado que o excesso de leis ambientais prejudica a produtividade econômica. Para manter a reciclagem, o governo gasta 4 bilhões de euros por ano, o que torno o seu programa o mais caro do mundo. Outra importante nação que merece destaque, é a China, que definiu um plano plurianual (2001 a 2005), no qual metas de reciclagem por tipo de produto foram estabelecidas. O crescimento econômico ampliará o consumo de diversas matérias-primas e a reciclagem tornar-se-á importante para suprir essa demanda. Atualmente, porém, a indústria da reciclagem local ainda produz em baixa escala (índice aproximado de 7% em 2000) e com tecnologia defasada. Na composição do lixo doméstico chinês, predominam os resíduos orgânicos (sobras de comida), cerca de 110 milhões de toneladas em 2000. Papel, plástico, metal e vidro têm participação reduzida no volume total. O setor de reciclagem, em sua maioria, de resíduos sólidos industriais (650 milhões de toneladas em 2000), é coberto sobretudo por companhias públicas e empresas ligadas à Federação Nacional das Cooperativas de Suprimento e Mercado, a qual emprega cerca de 880 mil trabalhadores. Além disso, um setor informal, operado por trabalhadores autônomos que também atuam na lavoura, realiza coleta de porta em porta. No final de 1995, cerca de 3 milhões de pessoas estavam engajadas nessa atividade informal, respondendo por 80% do total de resíduos sólidos recuperados. Atualmente, a China tem 37 mais de 5 mil empresas de coleta de resíduos e cerca de 3 mil unidades para tratamento. A disposição em aterros (70%) continua sendo a solução mais comum para o gerenciamento de resíduos sólidos, e é feita na maioria das vezes em lixões, com emissão de gás metano para a atmosfera e ameaça aos lençóis freáticos, seguida da compostagem (20%). Os quadros a seguir mostram respectivamente dois importantes indicadores, o primeiro é a geração de resíduos sólidos urbanos per capita nos principais países, com destaque para os Estados Unidos, que produzem cerca de 2 kg/dia. No segundo, destino dos resíduos sólidos urbanos, o destaque é para o Brasil que ainda destina cerca de 90% dos resíduos em aterros e/ou lixões. Quadro 2.3 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita PAÍSES ANO 2003 ANO 2006 Brasil 0,70 kg/dia 0,78 kg/dia Uruguai 0,90 kg/dia N/D México 0,87 kg/dia N/D Estados Unidos 2,00 kg/dia N/D Canadá 1,70 kg/dia N/D Alemanha 0,90 kg/dia 1,55 kg/dia Suécia 0,90 kg/dia 1,36 kg/dia Polônia N/D 0,71 kg/dia Dinamarca N/D 2,02 kg/dia Reino Unido N/D 1,61 kgdia Itália N/D 1,50 kgdia Eslovênia N/D 1,18 kg/dia Fonte: CEMPRE (2006) e Eurostat – Statistical Office of the European Communities (2006) 38 Quadro 2.4 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005) PAÍS Aterros e/ou Lixões Incineração com Compostagem + Recuperação de Reciclagem Energia Brasil* 90% ---- 10% Bélgica 10% 35% 55% República Tcheca 70% 15% 15% Alemanha 20% 20% 60% Espanha 60% 5% 35% França 40% 35% 25% Itália 60% 5% 35% Polônia 95% 1% 4% Portugal 75% 20% 5% Suécia 10% 50% 40% Reino Unido 75% 10% 15% Grécia 90% ---- 10% Hungria 85% 5% 10% China** + de 70% N/D 20% (somente compostagem) Fonte: *CEMPRE / Eurostat – Statistical Office of the European Communities / **Circular Economy Committee (CEC) Segundo a revista Exame25, surge uma nova economia, a sombra do aquecimento global está mudando a vida de grande empresas, atraindo investidores, estimulando a criação de negócio e até de um pujante mercado de créditos de carbono. Alguns países e cidades estão empreendendo esforços para mudar a base energética de suas economias e aumentar o aproveitamento das matérias-primas por meio de programas gigantescos de reciclagem. Alguns exemplos são: Alemanha, criou subsídios para a energia eólica, que deverá representar 20% de toda a matriz energética do país até 2020. A indústria de energa renovável é a maior criadora de empregos e deverá abrir 100.000 novas vagas até 2020; Japão, definiu uma série de leis para punir quem joga equipamentos usados no lixo comum e obrigou as empresas a ter um percentual de reciclagem segundo o setor. A reciclagem no 25 Revista Quinzenal Exame, Estudo Exame Sustentabilidade, Ano 41, número 13, edição 897, 18/07/2007, p. 10-12. 39 Japão representa uma indústria de mais de 60 bilhões de dólares por ano, o dobro do tamanho do setor de tratamento de lixo no país; Califórnia, estabeleceu a meta de obter 20% de sua eletricidade de energias renováveis em 2017. Para 2020, o objetivo é ampliar esse percentual para 33%. A redução de consumo de energia na Califórnia vai gerar uma economia de até 59 bilhões de dólares por ano na próxima década. O caso do Japão merece um destaque especial, pois até pouco tempo atrás era comum ver televisores e computadores jogados nos lixões japoneses. Os consumidores do país, estimulados pelas novidades que as empresas lançam com velocidade cada vez maior, simplesmente descartavam os produtos usados sem se preocupar muito com o destino que teriam. Nos últimos sete anos, o governo japonês iniciou uma luta para acabar com as montanhas intermináveis de lixo que custam bilhões de dólares por ano para ser incineradas, e que não encontravam mais espaço no diminuto território do país. Hoje, a reciclagem atinge 49% do total de 570 milhões de toneladas de lixo geradas por ano no Japão, e movimenta 63 bilhões de dólares, o dobro do tamanho do setor de tratamento de lixo O programa de reciclagem japonês, iniciado em 2000, envolveu a instituição de regras de conduta para consumidores, varejistas e fabricantes. Uma série de leis começou a punir de maneira severa quem descartasse produtos usados em lugar público ou aterros ilegais, com multas de até 80.000 dólares ou cinco anos de cadeia. Os lojistas passaram a ter de receber aparelhos usados pelos consumidores e a remetê-los a centros de consolidação, operados por consórcios de fabricantes. São quase 200 centros, gerenciados por indústrias de eletroeletrônicos, como Daewoo, Hitachi, Sanyo, Sharp e Sony. Desses locais, os aparelhos seguem para mais de uma dezena de unidades de reciclagem existentes no país. A legislação é bastante complexa e chega à minúcia de indicar procedimentos específicos para cada um dos 33 produtos com reciclagem obrigatória, como televisores, aparelhos de ar-condicionado, geladeiras, máquinas de lavar roupa, computadores, carros, materiais de construção, embalagens e alimentos. Com todo esse patrulhamento26, passou a fazer parte da política de imagem das grandes companhias mostrar que elas não se limitam a cumprir as regras do governo, mas 26 Revista Quinzenal Exame, Estudo Exame Sustentabilidade, Ano 41, número 13, edição 897, 18/07/2007, p. 18-21. 40 vão além. No caso dos automóveis, por exemplo, o governo definiu as metas de reciclagem em 30% de todo o material utilizado em um veículo para 2005. O objetivo foi superado com folga pelas principais montadoras, que, pelo menos desde os anos 80, já usavam material reciclado de veículos velhos para fabricar seus novos produtos. A Toyota, por exemplo, já recicla quase 60% dos resíduos da trituração de carros usados. Nos próximos anos, esse índice deve se tornar ainda mais alto. A meta estabelecida pela Associação dos Frabricantes de Automóveis do Japão é reciclar 95% desses resíduos até 2015. Grandes corporações em todo o mundo estão economizando outros bilhões de dólares ao mudar a maneira como lidam com recursos como água e energia. Um novo pujante mercado de carbono começa a ganhar relevância. O que se vê hoje são sinais de que o cenário do aquecimento global está fazendo emergir uma nova economia. Empresas como Wal-Mart, HP, Unilever, DuPont e IBM possuem programas nesse sentido. A Wal-Mart, anunciou metas ambiciosas de redução do consumo de energia em suas lojas e uma ostensiva jornada com seus fornecedores para diminiur desperdícios nas embalagens dos produtos oferecidos em suas prateleiras. A HP no Brasil, uma das maiores fabricantes de impressoras no mundo, consome atualmente 1 tonelada de papel. Esse volume gigantesco, usado principalmente para realizar testes nas cerca de 10.000 impressoras fabricadas no Brasil todos os meses, durante alguns anos teve como destino a reciclagem. Já dávamos um fim adequado ao resíduo, mas achávamos que era possível ir além, diz o iraniano Kami Saidi, diretor de operações da HP para o Mercosul. Em 2006, depois de dois anos de estudos que envolveram quase uma dezena de profissionais, entre engenheiros da empresa, fornecedores e pesquisadores de universidades e centros de pesquisa, a HP colocou em prática uma solução para toda aquela montanha de papel usado. A saída encontrada foi utilizar a papelada para fabricar protetores internos para as embalagens das impressoras. Com isso, a HP não só reduziu drasticamente o uso do isopor, material derivado do petróleo e de difícil reciclagem, como obteve economia de 10% no custo de embalagem, transporte e armazenamento do projeto. Como os calços de isopor não podiam ser encaixados uns nos outros, acabavam ocupando um espaço valioso nos caminhões e na linha de produção de nossas montadoras, diz Saidi. Na fábrica de alimentos da Unilever em Goiânia, a maior que a multinacional tem no mundo, a corrida por melhorias aparentemente simples, mas contínuas, começa a dar 41 resultados. Ali, são produzidos diariamente 4.000 toneladas de alimentos, entre atomatados, catchup e maionese. Desde 2000, a Unilever vem substituindo o óleo combustível de suas caldeiras por biomassa. Atualmente, 95% do vapor gerado e usado nas máquinas é fruto da queima de resíduos, como bagaço de cana e lascas de madeira. A substituição do óleo combustível por fontes não poluidoras e renováveis gera à fábrica de Goiânia uma economia anual de 17 milhões de reais, diz Rogério Range, diretor agrícola da Unilever do Brasil. A cifra deve aumentar. Até o final deste ano, a unidade começará a usar também como biomassa as sementes e as cascas de 6.000 toneladas de tomate que processa por safra. Nenhuma das outras fábricas da empresa no mundo tem desempenho semelhante. A DuPont, referência mundial em ecoficiência, é outro bom exemplo, a empresa gasta 10% de todo seu investimento em pesquisa com tentativas de substituir as matériasprimas de origem fóssil que deram origem a muitos de seus produtos milionários, como o nylon, por insumos de origem vegetal. Uma dessas matérias-primas é o Bio-PDO, ingrediente obtido do açucar do milho e que teve sua primeira fábrica inaugurada no final de 2006, nos Estados Unidos. Ele é o principal componente do Sorona, um polímero que, segundo Charles O. Holliday, presidente mundial da empresa, se transformará no nylon verde da DuPont, e mudará radicalmente os negócios da secular companhia. O americano Ray Anderson, dono da fabricante de carpetes Interface, com vendas de 1 bilhão de dólares em 2006, com 35 fábricas espalhadas pelo mundo e presença em 150 países, é um dos pioneiros da sustentabilidade nos negócios nos Estados Unidos. Na última década, Anderson dedicou-se a transformar radicamente o modelo de negócios da companhia que fundou em 1973, depois principalmente da leitura do livro A Ecologia do Comércio, do americano Paul Hawken. Nesse período, ele tratou de rever todos os processos da Interface, do relacionamento com fornecedores ao pós-venda, de modo a aproveitar ao máximo os carpetes usados. Sua meta é eliminar totalmente os desperdícios até 2020. Anderson vem sendo cada vez mais requisitado por outros empresários e executivos, como o presidente do Wal-Mart. Ele fez mais de 150 palestras por ano mundo afora e criou, em janeiro de 2007, uma consultoria especializada no assunto, a InterfaceRaise. Em sua lista de dez clientes estão nomes como Toyota e GE. Para o empresário, o movimento de diversas empresas nessa direção faz parte de uma nova, e inexorável, fase 42 industrial. Algumas pessoas me acham radical, disse Anderson a EXAME. Mas sou tão orientado aos lucros como qualquer outro empresário. A lógica por trás de tanto esforço, como ressalta o empresário, vai além do discurso ambientalmente correto. Sua empreitada na redução dos desperdícios, por exemplo, resultou numa economia de 336 milhões de dólares nos últimos dez anos, apenas com a diminuição no consumo de água e energia na fábrica. O maior ganho, porém, está no aumento do uso de material reciclado ou de origem orgânica na linha de produção. Nos últimos cinco anos, o índice desse tipo de material no produto final passou de 3% para 21%. A mudança teve impacto direto nos resultados financeiros da companhia. De 1994 a 2006, o Ebtida (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) da Interface cresceu 82%. Nesse período, o mercado americano de carpetes diminuiu mais de 30%. “Nossa margem de lucro só tem aumentado, mesmo durante a recessão”, afirma Anderson. Nem por um minuto passou pela minha cabeça abandonar nossa estratégia baseada na sustentabilidade. Na IBM27, a responsabilidade sócio-ambiental já vem sendo discutida há 35 anos. Foi em 1971 que a IBM elaborou e aprovou sua política corporativa com foco na proteção do meio ambiente, passando mais recentemente para a conservação de energia e recursos naturais. Este conjunto global de processos e diretrizes, respeitando às legislações locais, determina as responsabilidades operacionais da companhina em cada país, assim como os procedimentos específicos para cada atividade da empresa. A IBM classifica seus resíduos em três categorias: não-perigosos (plásticos, madeiras, metais, papéis, etc.); perigosos (lâmpadas fluorescentes, óleo lubrificantes e produtos químicos); e especiais (equipamentos, etc.). A partir disso, define o destino de cada tipo de resíduo: redução na fonte; reciclagem através do reuso ou de outros métodos; tratamento (incineração, etc.); e disposição em aterros. Nos últimos dez anos, a IBM conservou aproximadamente 8,6 bilhões de Kwh e deixou de emitir 5,67 milhões de toneladas de CO2. Nos últimos três anos, a IBM obteve resultados significativos na gestão de resíduos não perigosos, e em 2006, reciclou 86% dos resíduos gerados. Além disso, possue iniciativas voltadas para a comunidade em geral, 27 Informações extraídas na página da empresa, w3.ibm.com/news/top_stories/2008/06/br_cidadania_meioambiente. 43 apóia projetos sócio-ambientais, como por exemplo, o projeto de educação ambiental “Reciclasa – Novos Usos para Antigos Materiais”, e desenvolve tecnologias para a redução do consumo de energia. Finalmente, segundo o Jornal Estado de São Paulo28, a geração de energia a partir do lixo urbano já é comum nos países desenvolvidos, que não dispõem de grandes áreas para confinar os resíduos. No entanto, esse aproveitamento energético é feito a partir da incineração do lixo, e não da captura do biogás. Em todo o mundo, existe em torno de 600 plantas de geração de eletricidade a partir de resíduos, em 35 países. Essas unidades tratam aproximadamente 170 milhões de toneladas de resíduos urbanos por ano. Na Europa, a energia produzida em 400 plantas é suficiente para abastecer 27 milhões de pessoas. Esse mercado movimenta nove bilhões de euros e deve crescer ainda mais. Uma diretiva da União Européia estabelece meta para que 22,1% da eletricidade produzida nos países venha de fontes renováveis até 2010, bem como 12% do consumo doméstico. 28 Jornal O Estado de São Paulo, Caderno de Negócios, 08/12/2007, p. B16A. 44 Capítulo 3 – Panorama do Setor no Brasil 1. Balanço da Reciclagem no Brasil É imporante ressaltar que a quantidade de resíduos gerada é diretamente proporcional ao número de habitantes e sua composição varia em função da economia, dos hábitos alimentares, da cultura e da existência ou não de programas de coleta seletiva, e que a responsabilidade pela prestação de serviços de limpeza urbana (resíduos de origem domiciliar, comercial e de serviços públicos) no Brasil é do município. Entretanto, na maioria das cidades brasileiras, a coleta de resíduos é realizada pela iniciativa privada, sob forma de concessão ou permissão (cerca de 60%), segundo a Secretaria de Meio Ambiente em 200429, e os pagamentos são em peso de resíduo depositado no aterro (R$/tonelada). Mais de 20% de todos os resíduos gerados no país em 2000, foram dispostos em lixões a ceú aberto ou lugares não fixos, como mostra o quadro abaixo: Quadro 3.1 – Formas de Disposição de Resíduos por Região no País Forma Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste (%) (%) (%) (%) (%) (%) 21,3 57,2 48,3 9,8 25,9 22,0 Aterro Controlado 37,0 28,3 14,6 46,5 24,3 32,8 Aterro Sanitário 36,2 13,3 36,2 37,1 40,5 38,8 Estação de 2,9 0,0 0,2 3,8 1,7 4,8 Estação de Triagem 1,0 0,0 0,2 0,9 4,2 0,5 Incineração 0,5 0,1 0,1 0,7 0,2 0,2 Locais Não-Fixos 0,5 0,9 0,3 0,6 0,6 0,7 Outra 0,7 0,2 0,1 0,7 2,6 0,2 Vazadouro a ceú aberto Compostagem Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico; IBGE (2000) In Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil – Revista Sustentabilidade, 21/08/2007 29 Artigo Gestão e Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil, Revista Sustentabilidade, 21/08/2007. 45 Com base no quadro acima, podemos ainda destacar o contraste entre duas regiões, a região Sudeste, e em particular o Estado de São Paulo, no qual cerca de 45% dos municípios (menos da metade) tratam seus resíduos de forma adequada, porém 70,4% das 20 mil toneladas geradas diariamente dentro do Estado foram dispostas adequadamente ou de maneira controlada. Isto pode ser explicado pela maior preocupação e incentivos para a disposição correta dos resíduos. Por outro lado, nas regiões Norte e Nordeste, praticamente 50% dos resíduos gerados foram dispostos de forma irregular, lixões a ceú aberto. Dados da última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 200030, apontam que dos 5,564 municípios brasileiros, 65% possuem lixões. Foram geradas diariamente nesse ano cerca de 228 mil toneladas de resíduos, e a estimativa para 2006 era de 240 mil toneladas diárias de resíduos para uma população de 180 milhões de habitantes. A região Sudeste era responsável por 62% de todos os resíduos gerados no país, conforme quadro abaixo: Quadro 3.2 – Estimativa de Geração de Resíduos Sólidos no Brasil Região PopulaçãoTotal Geração de Resíduos Geração (ton/dia) Percapita (kg/hab/dia) Quantidade Percentual Quantidade Percentual Brasil 169.799.170 100,0 228.413 100,0 1,35 Norte 12.900.704 7,6 11.067 4,8 0,86 Nordeste 47.741.711 28,1 41.558 18,2 0,87 Sudeste 72.412.411 42,6 141.716 62,0 1,96 Sul 25.107.616 14,8 19.875 8,7 0,79 Centro-Oeste 11.636.728 6,9 14.297 6,3 1,23 Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico; IBGE (2000) In Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil – Revista Sustentabilidade, 21/08/2007 30 Artigo - Gestão e Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil, Revista Sustentabilidade. 21/08/2007. 46 Segundo o CEMPRE, no Brasil há atualmente cerca de 500 mil a 1 milhão de catadores31, 405 cidades tem sistema de coleta seletiva, sendo que destas, 43,5% desenvolvem programas em parceria com cooperativas. Segundo o CEMPRE32, em 2006 foram geradas no Brasil 51,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos no Brasil (somente urbano), ou cerca de 140 mil toneladas diárias, com um índice de reciclagem total de cerca de 18% da fração do lixo seco urbano (metais, papéis, plásticos e vidros). Segundo o Institulo Pólis33, atingimos essa marca, graças aos catadores que estão presente em cerca de 90% das cidades brasileiras, já que 80% dos materiais utilizados nas indústrias de reciclagem chegam através dos mesmos. No ano de 2005, o índice global de reciclagem do lixo urbano no Brasil foi de 11%, esse total representou um retorno ao índice de 2003. Entretanto o volume reciclado passou de 5,2 milhões de toneladas anuais para 5,76 milhões de toneladas, uma elevação de 11%. A parcela de matéria orgânica representou 55% do lixo urbano brasileiro, e o volume diário gerado é de 140 mil toneladas ou aproximadamente 0,8 kg/habitante/dia. O desperdício no Brasil é considerado um dos maiores do mundo. O setor de reciclagem movimentou, em 2005, R$ 7 bilhões e as estimativas de crescimento são otimistas. O Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) projeta, para 2010, índice de 20% na transformação do lixo coletado no Brasil. Para 2015, a taxa deverá atingir 30%, o que colocaria o País no mesmo patamar dos países desenvolvidos. Para isso, será preciso adotar um conjunto de medidas que favoreçam o desenvolvimento da educação ambiental, a geração de emprego e renda e a formalização de boa parte das empresas do ramo. As prefeituras, por exemplo, têm a maior responsabilidade pela coleta e destinação do lixo, mas, em geral, são omissas diante da necessidade de instituir a coleta seletiva. Segundo estudo publicado34 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Panorama Nacional dos Resíduos Sólidos no Brasil, coletar e dispor adequadamente os resíduos sólidos ainda é um problema para 61% dos municípios brasileiros, apesar dos R$ 6 bilhões anuais gastos. Além disso, somente 39% dos municípios brasileiros dispõem de aterros sanitários para a destinação final do 31 Os números variam bastante de acordo com a fonte utilizada. Cempre informa – Número 99 – Maio/Junho 2008. 33 Artigo - Política Nacional de Resíduos Sólidos: o desafio continua, por Elisabeth Grimberg, 22/10/2007. 34 Artigo - Estudo da Abrelpe indica que 61% dos municípios não têm destino adequado para lixo In Revista Sustentabilidade por Dayane Cunha. 32 47 lixo, considerados os únicos locais adequados para o resíduo que não pode ser reciclado. A região Norte é a que mais sofre, com 85,2% dos resíduos depositados inadequadamente, seguida das regiões Nordeste (75%) e Centro-Oeste (65%). O Sudeste e Sul são as regiões com mais aterros sanitários, 47,3% e 58,1%, respectivamente, e pagam mais por isso. Com base na pesquisa Ciclosoft 2008, realizada pelo CEMPRE, cerca de 26 milhões de brasileiros têm acesso a programas de coleta seletiva. Os quadros abaixos mostram uma significativa evolução do número de municípios com coleta seletiva de 327 para 405, porém ainda a representatividade é muito pequena, cerca de 7%. O segundo, a participação da coleta seletiva por região (regiões Sul e Sudeste represetam 83%). O terceiro, a composição da coleta seletiva em peso, com papel/papelão e plástico representando mais da metade do volume (61%). O quarto, os índices nacionais de reciclagem dos principais materiais, com destaque para latas de alumínio com 94,4%. E por último, a evolução do custo médio da coleta seletiva de US$ 240 para US$ 221. Vale comentar também que no mesmo período o custo médio da coleta seletiva foi de 10 para 5 vezes o custo médio da coleta convencional. Figura 3.3 - Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 405 327 237 192 135 81 1994 1999 2002 2004 2006 2008 Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) 48 Figura 3.4 – Participação da Coleta por Região (%) Norte 2% Centro-Oeste 4% Nordeste 11% Sudeste 48% Sul 35% Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) Figura 3.5 - Composição da Coleta Seletiva em Peso (%) Longa Vida 3% Alumínio 1% Diversos 3% Metais 9% Papel e Papelão 39% Vidros 10% Rejeitos 13% Plásticos 22% Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) Figura 3.6 – Índice Nacional de Reciclagem dos Principais Materiais e m2006 100% 94.4% 80% 60% 40% 51.3% 40.0% 45.4% 46.0% 20.0% 20% 0% Embalagens de Aço Latas de Alumínio Plásticos PET Papel/Papelão Vidro Fonte: CEMPRE Informa – Número 99 – Maio/Junho 2008 49 Quadro 3.7 - Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada) Custo médio da coleta seletiva* Custo da coleta seletiva x custo da coleta convencional 1994 240 1999 154 2002 70 2004 114 2006 151 2008 221 10 vezes maior 8 vezes maior 5 vezes maior 6 vezes maior 5 vezes maior 5 vezes maior Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) - * US$ 1 = R$ 1,70 Após 15 anos de discussões e debates, a Comissão Especial da Câmara acolheu o parecer relacionado às práticas, tratamento e destinação dos resíduos sólidos para avaliação em caráter de urgência. O diretor-executivo do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem), André Vilhena, defende que é imprescindível a aprovação rápida deste Projeto de Lei, para que o setor possa se organizar, atrair novos investimentos e, consequentemente, se desenvolver. O principal objetivo desse projeto, é sistematizar a regulamentação do trato de resíduos sólidos, que ainda não existe em nível federal. Fruto de sugestões de companhias de diversos setores, como a indústria, a comunidade científica, o governo e entidades representativas, o Projeto de Lei defende, entre outros itens, a gestão integrada, que prega o envolvimento da sociedade, entidades governamentais e nãogovernamentais e das empresas no trabalho de encontrar um destino mais adequado aos resíduos sólidos. Outro marco importante foi a assinatura do Decreto, no dia 25 de outubro, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva representa mais um passo em busca da inclusão social dos catadores de lixo. A gestão pública federal assume nova perspectiva social e ambiental ao estabelecer a coleta seletiva em órgãos públicos e a destinação de materiais recicláveis para associações e cooperativas de catadores. 2. Estrutura do Setor de Reciclagem no Brasil (cooperativas, sucateiros e recicladoras) O catador é o principal personagem e responsável pelo avanço acentuado da coleta seletiva e reciclagem do lixo urbano no Brasil. Segundo o CEMPRE – Compromisso 50 Empresarial para Reciclagem, atualmente há cerca de 800 mil35 de catadores no Brasil. Muitos deles estruturados na forma de cooperativas. Graças a eles, alcançamos o índice de 18% de reciclagem de todo o lixo urbano gerado, maior índice entre os países em desenvolvimento. As prefeituras, responsáveis pela gestão do lixo urbano, passaram a inserir os catadores em seus modelos de coleta seletiva. O setor empresarial também considera o catador como parceiro ideal para exercício de parte de sua responsabilidade social e ambiental. A forma de cooperativas é defendida por Paul Singer36 como a melhor alternativa para a organização dos catadores de lixo, pois a cooperativa, possibilita compras em comum a preços menores e vendas em comum a preços maiores, e ainda seria uma oportunidade de resgate da dignidade humana do catador e desenvolvimento da auto-ajuda e da ajuda mútua, que permite constituir a comunidade dos catadores.. Segundo o autor, os catadores de lixo merecem uma atenção especial, devido ao seu significado social, os quais são explorados pelos sucateiros. Esse é o meio de vida que restou para muitas pessoas, extremamente pobres, uma boa parte delas, ainda vive em lixões, coletando tudo o que pode ser reaproveitado e expostas a diversos tipos de doenças. Acho interessante descrever o processo histórico do surgimento das cooperativas ou economia solidária e seus princípios. Segundo Paul Singer, a economia solidária nasceu pouco depois do capitalismo industrial, no início do século XIX, como uma reação a expulsão dos camponeses dos domínios senhorais, os quais se transformariam no proletariado moderno. Esse período também é conhecido como “cooperativismo revolucionário”, por evidenciar a ligação essencial da economia solidária com a crítica operária e socialista do capitalismo. Nesse período o grau de exploração dos trabalhadores era extremo, e por isso alguns industriais mais esclarecidos começaram a propor leis de proteção aos trabalhadores, entre eles, Roberto Owen37. Owen foi pioneiro em limitar a jornada e proibir o emprego de crianças, para as quais ergueu escolas. Mas principalmente, foi pioneiro, na criação de cooperativas, sua preocupação iria muito além de baratear o sustento dos pobres, implicava numa mudança no sistema social. O raciocínio econômico de Robert Owen era impecável, pois o maior 35 Os números variam de 500 mil a 1 milhão de catadores, dependendo da fonte utilizada. Revista Sustentabilidade por Dayane Cunha. 37 Robert Owen, proprietário de um imenso complexo têxtil em New Lanark. 36 51 desperdício, em qualquer crise econômica do tipo capitalista (devida à queda da demanda global), seria a ociosidade forçada de parte substancial da força de trabalho. As cooperativas teriam um caráter inclusivo nesses momentos, trazendo os excluídos da atividade econômica para dentro do sistema. Na França, merece destaque o autor, Charles Fourier, sua idéia central era que a sociedade se organizasse de uma forma que todas as paixões humanas pudessem ter livre curso para produzir uma harmonia universal, ou seja, ele defendia a idéia que todos deveriam viver em comunidades autogeridas, tornando o Estado dispensável. Sua proposta apresenta claramente ideais anarquistas. Fourier propõe ainda dois mecanismos para evitar que a sociedade se polarize entre ricos e pobres. Primeiro, as ações (distribuição dos resultados do trabalho) devem dar rendimento tanto maior quanto menor for o número delas possuído pela pessoa, e segundo, todos teriam uma renda mínima. Ainda segundo Paul Singer, Owen e Fourier foram, ao lado de Saint-Simon, os clássicos do Socialismo Utópico. O primeiro foi, além disso, grande protagonista dos movimentos sociais e políticos na Grã-Bretanha nas décadas iniciais do século XIX. O cooperativismo recebeu deles inspiração fundamental, a partir da qual os praticantes da economia solidária foram abrindo seus próprios caminhos, pelo único metodo disponível no laboratório da história: o da tentativa e erro. A economia solidária na figura do cooperativismo surge então como uma alternativa ao capitalismo, o qual é desigual por sua própria natureza, pois é baseado na competição e heterogestão através da propriedade individual e na liberdade individual, os melhores são vencedores e os demais são perdedores. Na economia solidária, a competição e a heterogestão são substituídas pela cooperação e autogestão (administração democrática), ou seja a união de iguais em cooperativas, o que pressupõe uma igualdade entre os seus participantes baseada na propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual. As cooperativas de consumo, que só vendiam aos seus sócios, foram as primeiras e tiveram um papel importante na difusão do cooperativismo pela Europa. A mais famosa cooperativa, considerada a mãe de todas as cooperativas, foi a Cooperativa dos Pioneiros Equitativos de Rochdale, um importante centro têxtil no norte da Inglaterra em 1844. Fundada por 28 operários de diversos ofícios, metade deles owenista, entre os seus 52 objetivos estava a criação de uma colônia auto-suficiente e o apoio a outras sociedades com este propósito. O impulso para a criação da cooperativa pode ter sido a derrota de uma greve de tecelões em 1844. O mais importante é que eles adotaram uma série de princípios que foram imortalizados como os princípios universais do cooperativismo: 1. Cada membro tem direito a um voto; 2. O princípio da “porta aberta”, qualquer poderiam aderir; 3. Sobre o capital emprestado a cooperativa pagaria uma taxa de juros fixa; 4. As sobras seriam divididas em proporção às compras de cada um; 5. As vendas da cooperativa seriam somente feitas à vista (inadimplência); 6. Os produtos vendidos seriam sempre puros, não adulterados; 7. A cooperativa se empenharia na educação cooperativa; 8. A cooperativa manter-se-ia sempre neutra em questões religiosas e políticas. O objetivo central dos Pioneiros e de ouras sociedades com o mesmo rastro ideológica, era constituir uma colônia comunista, ou Aldeia Cooperativa, partindo das cooperativas de consumo e chegando as de produção, que visam produzir bens ou serviços a serem vendidos em mercados. O cooperativismo de crédito também se desenvolveu logo após o de consumo, essa atividade seria de extrema importância para suportar o crescimento do cooperativismo, dando assim acesso ao crédito para os que anteriormente não o tinham. Nessa modalidade, o exemplo de sucesso mais importante, foi a criação do Grameen Bank (Banco da Aldeia), num dos países mais pobres do mundo, Bangladesh, por Mhammad Yunus, na década de 70, o que significou um retorno às raízes do cooperativismo de crédito. Yunus, conclui que a teoria econômica tradicional, não era suficiente para superar a questão da pobreza, ou seja, o mercado por si só não resolveria a desigualdade existente. O Banco da Aldeia se preocupa com que seus clientes sejam realmente pobres e tem como acionistas seus depositantes e mutuários. O Grameen está presente em mais da metade das comunas rurais de Bangladesh, em 1997, haviam 1.079 agências e 12 mil empregados. Ele pode ser considerado um banco cooperativo, mantido por dezenas de milhares de Centros, que equivalem de certa maneira às cooperativas primárias de crédito. Essa iniciativa inspirou vários programas de crédito por todo o mundo. No Brasil, há 30 “bancos do povo” apoiados pelo BNDES (Banco 53 Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e também experiências mais recentes de microcrédito. O cooperativismo de consumo, começou a entrar em decadência no mundo inteiro depois da Segunda Guerra Mundial, principalmente em função da concorrência com o varejo capitalista, que descobruiu que as vendas em massa poderiam reduzir drasticamente os custos de intermediação, mediante a mecanização e a automação de muitas operações. Outros fatores inovadores também intensificaram essa concorrência, como o surgimento da embalagem como elemento padronizador e o crescimento da propaganda. Como consequência, surgiram os shopping centers na periferia das cidades, impulsionado pelo fácil deslocamento, com o surgimento de um importante produto de massa, o automóvel. O cooperativismo de crédito também enfrenta a concorrência dos intermediários públicos e privados, de grande dimensão e capacidade de desenvolver e aplicar tecnologias avançadas de informática. Outro importante tipo de cooperativismo, em que podemos enquadrar os catadores de lixo, são as cooperativas de compras e vendas, nas quais pequenos e médios produtores ganham escala e poder de barganha, mediante a unificação de suas compras e/ou suas vendas. Elas geralmente foram e são formadas por agricultores, taxistas, caminhoneiros, comerciantes, profissionais liberais, etc. O grande perigo nessa modalide de cooperativismo seria que as relações sociais de produção acabem se tornando, para algumas atividades, capitalistas, à medida que assalariados executassem algumas atividades dentro dessas cooperativas, atingindo um modelo híbrido, ou seja, solidária e capitalista ao mesmo tempo. O resurgimento da economia solidária no fim do século XX, está associada ao retorno do desemprego a partir da década de 70. Entre o período do fim da Segunda Guerra Mundial até meados da década de 70, os ideais da economia solidária foram esquecidos, já que diversos direitos foram conquistados para os assalariados pelo movimento operário, liderado principalmente pelos sindicatos, os quais se tornaram organizações poderosas que tinham como objetivo a manutenção do emprego e não a busca por uma alternativa ao assalariamento. Na década de 70, grande parte da produção industrial mundial foi transferida para países em que as conquistas do movimento operário nunca se realizaram, assim os sindicatos perderam sua força e os que continuaram empregados, sofreriam as 54 consequências da “flexibilização” de seus direitos e a redução de salários diretos e indiretos, aumentando a competição entre trabalhadores. Como resultado, os princípios da economia solidária ressurgiram com mais força ainda. A retomada da economia solidária vem num momento em que não se acredita mais que o caminho alternativo ao capitalismo passe pela tomada do poder pelo Estado, principalmente por duas transformações. A primeira foi a crise dos Estados socialistas da Europa Oriental, em 1985 com a Perestroika e Glasnost na União Soviética e culminou em 1991 com a sua dissolução, a segunda foi o semifracasso dos governos e partidos socialdemocratas, principalmente na Europa e também na América Latina. No caso das cooperativas de reciclagem no Brasil, um marco importante foi a formação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em meados de 1999, com o I Encontro Nacional de Catadores de Papel. Em 2001, ocorreu o I Congresso Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em Brasília, evento que reuniu cerca de 1.700 catadores. Em 2003, foi realizado o I Congresso Latino-Americano de Catadores em Caxias do Sul – RS, e o mesmo se repetiu em 2005. Os catadores e o MNCR passaram a ter uma projeção internacional, e entre as suas principais conquistas nesses últimos anos, a inclusão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), foi o primeiro passo para o efetivo reconhecimento da categoria. No Brasil, a pesquisa do Ministério das Cidades de agosto de 200538, com dados de 2002, sobre o tratamentos de resíduos sólidos nos municípios brasileiros, revelou que as cooperativas de reciclagem e catadores estão presentes em 90% dos municípos consultados (108 cidades urbanizadas). Contudo a pesquisa não considerou o universo dos catadores não organizados. Segundo dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), em 200539, haviam cerca de 500 mil catadores em todo país. Porém, esse dado pode variar, pois a clandestinidade ou informalidade é grande nesse setor. Segundo Calderoni (In Os Empresários do Lixo40), as Cooperativas de Reciclagem de Lixo são frequentemente apresentadas como uma paradigma de inclusão social, porém 38 In Jornal do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recilável (MNCR), Número 3, Ano I, Outubro de 2005. 39 In Jornal do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recilável (MNCR), Número 1, Ano I, Agosto de 2005. 40 MAGERA, Márcio, Os Empresários do Lixo: um paradoxo da modernidade: análise interdisciplinar das Cooperativas de reciclagem do Lixo, 2005. 55 Márcio Magera, defende em sua obra que essa realidade está muito longe de ser verdade, e também muito distante dos princípios do cooperativismo, com base em sua pesquisa realizada junto às Cooperativas no interior de São Paulo. Segundo suas conclusões, os agentes da modernindade, “os catadores”, tornam-se paradoxalmente, também escória da sociedade. Sua obra aborda e discute principalmente duas problemáticas, a primeira é o crescimento ilimitado do lixo e a segunda a precarização do trabalho, no caso dos catadores lixo organizados em cooperativas. É uma denúncia à exploração dos catadores pelos comerciantes (atravessadores ou intermediários) e indústrias de reciclagem, ou seja, as cooperativas não conseguem reproduzir os princípios cooperativistas por dificuldades econômicas e a falta de uma gestão organizacional, criam um modelo de terceirização do trabalho de coleta e separação dos resíduos. Segundo o autor ainda, do ponto de vista das relações trabalhistas, porém, essa prática resgata um sistema de trabalho que se pensava estar no passado da Primeira Revolução Industrial (século XVIII). Segundo o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas (In Os Empresários do Lixo, p. 111), as embalagens têm vida efêmera, muitas não chegando a ter mais de 60 dias de vida entre a sua saída da indústria até sua chegada ao lixo. Só no Brasil se movimentam mais de 7 milhões de toneladas de embalagens por ano, representando mais de sete bilhões de dólares anuais somente em custos para embalagens descartadas após o consumo do produto interno, tendo como destino certo os lixões do país. É importante mencionar duas importantes análises empíricas e seus resultados na obra de Márcio Magera, a primeira é o estudo de caso no Município de Sorocaba: a Reciclagem do Resíduo Sólido (seco) e sua Viabilidade Econômica, e a segunda é a pesquisa de campo: as Cooperativas de Reciclagem de Lixo. No Estudo de Caso no Município de Sorocaba, foi utilizado o modelo41 proposto por Duston (In Os Empresários do Lixo, p. 111), aperfeiçoado e adaptado por Calderoni, o mesmo foi aplicado por Arendit (In Os Empresários do Lixo, p. 111) em 1998 na análise de viabilidade econômica da reciclagem do lixo na cidade de Campinas, SP. Esse modelo pressupõe que se conheça a quantidade reciclada e consumida, nesse estudo foram 41 Equação do Modelo: G= -C+E+W+M+H+A+D (G ganho é igual ao custo do processo de reciclagem + C custo evitado com a coleta + W economia de energia + M economia de matéria-prima + H economia de água + A economia de controle ambiental + D demais ganhos econômicos, imensurável). 56 considerados somente lata de alumínio, vidro, papel e papelão e plástico, pelos seus valores valores econômicos mais expressivos e pelo interesse mercadológico. Com base na quantia produzida, reciclada e disposta em aterros, torna-se possível mensurar a economia de matéria-prima, energia, água e a redução dos danos ambientais, coleta, transporte e arranjo final do lixo. Pela falta de informações sobre o custo do processo de reciclagem na cidade de Sorocaba, o autor utilizou um valor médio de algumas cidades, R$ 600,00/tonelada, multiplicado pelas 12.546,48 toneladas/ano, chegando num custo total de R$ 7.527.888,00 por ano. O gasto da prefeitura de Sorocaba com a disposição final é de R$ 32,21/tonelada coletada, já considerando a administração do aterro e infra-estrutura, portanto a economia com a reciclagem seria de R$ 32,21/tonelada x 12.546,48 toneladas igual a R$ 404.122,12 por ano. Somando-se ainda, a economia de energia elétrica consumida R$ 4.210.729,93, a economia de matérias-primas R$ 10.753.682,10 e economia de recursos hídricos R$ 1.832.793,58, já que não foi possível calcular os ganhos com a economia de controle ambiental e os demais, chega-se a uma economia obtida anualmente pela reciclagem do lixo no município de Sorocaba de R$ 9.673.439,63. Se todos os materiais sólidos consumidos considerados no estudo fossem reciclados, o custo total do processo seria de R$ 600,00/tonelada x 45.969,60 toneladas igual a R$ 27.581.760,00 por ano e a economia da prefeitura seria de R$ 32,21/tonelada x 45.969,60 toneladas igual a R$ 1.480.680,81 por ano. Somando-se os demais ganhos, chegaria-se numa economia perdida anualmente pela não-reciclagem do lixo no município de Sorocaba de R$ 44.962.253,13. Somando-se os valores obtidos pela reciclagem e pela nãoreciclagem, chega-se ao montante de R$ 54.635.692,76 por ano, ou seja, o valor total da economia possível com a reciclagem dos resíduos sólidos (secos). As conclusões desse estudo são: primeira, a cidade de Sorocaba com 550.000 habitantes que gera anualmente 120.000 toneladas de lixo urbano, é somente um caso, podemos estimar o potencial de economia em nível país em alguns bilhões de reais, gerados por 51 milhões de toneladas/ano de lixo urbano; segunda, a cidade deixaria de ter uma despesa e passaria a ter um receita com a reciclagem; terceira, a economia total representa cerca de 18% do orçamento da cidade (R$ 308 milhões). Segundo a Folha de São Paulo em 57 21/09/2001, p. C2 (In Os Empresários do Lixo, p. 129), os Brasileiros jogam no lixo, todo ano, R$ 10 bilhões em material reciclável. Na pesquisa de campo com as cinco Cooperativas de Reciclagem de Lixo no interior de São Paulo, o autor constatou que na maioria são formadas por desempregados e que a situação dos catadores não melhorou, continuam sendo explorados pelos demais agentes na cadeia produtiva, no caso os sucateiros que possuem infra-estrutura e consequentemente tem maior poder de barganha, e a indústria consumidora do material reciclável que exige grandes volumes nas suas negociações, favorecendo a manutenção do intermediários/atravessadores, no caso os sucateiros. Algumas características importantes do perfil dos cooperados são: o rendimento médio mensal bruto apurado foi de R$ 256,88 e o líquido de R$ 213,21; reciclam apenas 4,9% (248 toneladas/mês) do total que poderiam reciclar; 60% desconhecem o nome do Presidente da República; todas tem um “mentor intelectual”, o que inibe o desenvolvimento da autogestão; 34% são analfabetos, 32% com até 4 anos de estudo (analfabeto funcional pelo IBGE); 78% não entendem o significado de cooperativa; negros e pardos representam 70% dos cooperativados; 58% têm idade superior a 40 anos; 52% são originários do Estado de São Paulo, que em sua maioria trabalhavam em fábricas; 71% disseram que ganhavam mais nos empregos anteriores e a grande maioria tinha carteira assinada; 90% vivem na periferia da periferia e somente 24% pagam INSS. Além das características acima deixarem claro a falta de condições mínimas de sobrevivência desses cooperados, fica evidente também que essas cooperativas não seguem os princípios do cooperativismo, à medida que há presença de um “mentor intelectual”, de um patrão e certa hierarquia, há desconhecimento por parte dos cooperados sobre o cooperativismo e a operação da cooperativa, ausência de equipamentos de segurança e presença de menores em uma das cooperativas. Segundo o autor, essas cooperativas que atuam de forma improdutiva e ineficiente para sobreviverem ao lado de empresas privadas e internacionais que estão entrando no setor de reciclagem, necessitam de um novo modelo de gestão, baseado na aprimoração do modo de produção, utilização do aporte tecnológico, buscando agregar valor aos resíduos reciclados e na autogestão cooperativista. 58 Um passo muito importante na direção da autogestão e na tentativa melhorar a renda dos cooperativados, é a primeira indústria de catadores em Belo Horizonte - MG42. Esse sonho tornou-se realidade para catadores de oito cidades do Estado. Segundo Luiz Henrique da Silva, membro da Equipe de Articulação Nacional do MNCR e integrante da ASMARE (Associação de Catadores de papel, papelão e materiais recicláveis), a indústria é a primeira fábrica de reciclagem dirigida por catadores. Essa iniciativa sinaliza no sentido de atingir o domínio da cadeia produtiva da reciclagem pelos catadores, um objetivo que começa a ser concretizado. A indústria conta com cerca de 580 catadores e faz o beneficiamento do plástico, incrementando a renda dos cooperativados com a valorização do material, que além de ser coletado e separado, passa também a ser processado, eliminando assim intermediários na cadeia produtiva. A expectativa era de que a renda aumentaria em cerca de 60%. A capacidade inicial da usina no primeiro ano de funcionamento seria de 200 toneladas de plástico por mês, passando para 600 toneladas mensais no terceiro ano. A usina teve um investimento de R$ 4,5 milhões, financiado pela parceria entre a Fundação Banco do Brasil, Petrobrás, BrasilPrev e apoio do Ministério do Trabalho. A construção foi feita em um terreno cedido pela prefeitura de Belo Horizonte. A experiência de Minas Gerais é pioneira e é fruto da articulação do MNCR da região. 3. Mapa da Reciclagem no Brasil 3.1. Regulamentação Nacional Segundo Elizabeth Grimberg43, o processo de formulação de propostas para a criação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos iniciou-se há 15 anos. O Projeto de Lei 1991/07 ainda está em tramitação no Congresso, ele foi encaminhado no dia 6 de setembro de 2007 pelo governo federal. O Projeto tem apenas 33 artigos, nos quais estabelece diretrizes, instrumentos, responsabilidades e proibições para o gerenciamento de resíduos sólidos no páis. O objetivo principal é frear a irresponsabilidade de gestores 42 In Jornal do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recilável (MNCR), Número 2, Ano I, Setembro de 2005. 43 Política Nacional de Resíduos Sólidos: o desafio continua In Revista Sustentabilidade. 59 públicos municipais e ao mesmo tempo responsabilizar fabricantes, importadores, revendedores, comerciantes e distribuidores. O Projeto de Lei foi elaborado em conjunto pelos Ministérios do Meio Ambiente, das Cidades, da Saúde, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Fazenda e Casa Civil. E utilizou propostas debatidas ao longo dos últimos sete anos em seminários regionais e nacionais com diversos segmentos da sociedade civil. Entre eles, Fórum Nacional do Lixo e Cidadania, o Fórum Lixo e Cidadania de São Paulo e o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis. A proposta central do Projeto de Lei era tributar os geradores de resíduos (fabricantes, importadores, distribuidores, revendedores, comerciantes de produtos) como forma de responsabilização direta pelo passivo ambiental gerado. Os recursos auferidos com a tributação financiaria a estruturação dos sistemas de recuperação de resíduos, coleta seletiva, triagem, beneficiamento com inclusão dos catadores. Segundo Elizabeth Grimberg, “nesse sentido, para avançar rumo a uma sociedade sustentável defende-se a instituição de instrumentos que obriguem as indústrias a mudarem seu padrão de produção no sentido de colocarem no mercado produtos efetivamente duráveis, por um lado. E por outro lado, reivindica-se o estabelecimento de normas para a redução do consumo de recursos naturais nos processos industriais e para que os produtos pós consumo sejam passíveis de aproveitamento integral. Significa dizer, para se atingir um patamar de sustentabilidade é preciso responsabilizar toda a cadeia produtiva, do “berço ao túmulo”, ou seja, desde o momento da extração da matéria-prima até o momento em que o produto torna-se resíduo”. A instituição de outros importantes instrumentos ambientais só somariam para a tomada de decisões relativas às questões ambientias, os quais são citados por Elizabeth Grimberg abaixo: a) Análise e Avaliação do Ciclo de Vida do Produtos; b) Cadastro Técnico Federativo de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; c) Inventários de Resíduos Sólidos, em conformidade com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA); 60 d) Avaliação de Impactos Ambientais; e) Sistema Nacional de Informações Ambientais (SINIMA). Ainda segundo Elizabeth Grimberg, “um sistema de recuperação de materiais recicláveis que se pretenda avançar na direção de um novo paradigma pressupõe que se combine a responsabilidade dos produtores pelos resíduos sólidos gerados com a integração de catadores de forma autogestionária, no marco do que se considera gestão socioambiental sustentável. E para tal é preciso que o Estado, no caso as prefeituras, assumam o papel de coordenação desse processo para que o interesse público, no sentido amplo da palavra, seja garantido”. 3.2. Índices Nacionais da Reciclagem O Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem, fundado há 15 anos, é uma associação sem fins lucrativos, dedicada à promoção de reciclagem dentro do conceito de gerenciamento integrado do lixo, é mantida por grandes empresas de diversos setores. Em 2007, realizou pelo quarto ano consecutivo, uma detalhada pesquisa junto a organizações que acompanham a reciclagem de vidro, alumínio, embalagens longa vida, pneu, aço, plásticos, PET e papel. Mais uma vez, a consolidação desses dados dispersos tem como meta traçar microcenários setoriais que revelem os caminhos da reciclagem no Brasil. Os índices de reciclagem de embalagens longa vida e de aço cresceram, os de vidro mantiveram-se no mesmo patamar e os de alumínio, pneu e embalagens de aço para bebidas tiveram uma ligeira queda. Ainda evidenciam o estágio avançado no caso do alumínio com índice de reciclagem de 94% e 170 mil empregos gerados em 2006. 61 Quadro 3.8 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%) MATERIAL RECICLÁVEL PAPEL PLÁSTICO VIDRO LATA DE AÇO DÉCADA DE 90 ANO 2005 ANO 2006 31,7% 12,0% 35,1% 18,0% 46,9% 45,4% 20,0% 20,0% 45,0% 46,0% 29,0% 40,0% (só latas) (embalagens) LATA DE ALUMÍNIO 70,0% 96,2% 94,4% Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo” na década de 90 e CEMPRE dados mais recentes (2005/2006) Com relação ao lixo orgânico, a produção de energia em aterros sanitários ganha impulso no Brasil. O gás (metano) que emana do lixo em decomposição produz eletricidade. Crescem no Brasil os projetos de geração de energia elétrica a partir dos gás metano. Há vinte projetos de controle de emissão de metano em aterros (controlados) em andamento em todo o País, e metade deles está estruturada para geração futura de eletricicade. Todas as grandes capitais estão se mobilizando para transformar aterros em termoelétricas. É viável em municípios com mais de 500 mil habitantes e com grande produção de lixo urbano, explica Antonio Carlos Delbin, diretor técnico da Biogás Energia Ambiental. Um estudo feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), mostra que, em um cenário conservador, o Brasil até 2015, pode gerar 356,2 MW de energia elétrica. Em uma perspectiva mais otimista, esse número pode chegar a 440,7 MW. Municípios com população acima de um milhão de habitantes, com grande produção de resíduos, têm um potencial de geração médio de 19,5 MW. A equiparação dos custos de produção de energia, atualmente a eletricidade produzida nos aterros custa em média 35% mais que a energia hidrelétrica, também daria impulso aos projetos. A energia produzida a partir do lixo ainda é mais cara do que a energia produzida por hidrelétricas. Por enquanto, ela deve ser considerada mais pelos seus benefícios ambientais do que econômicos, mas isso pode mudar, dis Walter Capello Júnior, secretário geral da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Há 30 anos, o aproveitamenteo do lixo para fins energéticos era impensável. 62 Capítulo 4 - Retrato do Município de São Paulo Segundo a Secretaria Municipal de Serviços, atualmente a cidade de São Paulo produz diariamente cerca de 15 mil toneladas, sendo 9 mil toneladas somente de resíduos domiciliares, entre alimentos tais como, cascas de frutas, verduras, restos de comidas etc., produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico, fraldas descartáveis e uma grande diversidade de outros itens. Contém, ainda, alguns resíduos que podem ser tóxicos. No mês são 450.000 toneladas de lixo, e no ano cerca de 3,3 milhões de toneladas de lixo. Estima-se que cada paulistano produza 1 kilo de lixo por dia, metade do que um americano produz, ou um total de aproximadamente 15 mil toneladas de detritos (inclui lixo industrial e entulho) são geradas diariamente em São Paulo. A evolução da quantidade anual de lixo está diretamente ligada com o crescimento populacional e também no crescimento vertiginoso da utilização de embalagens. A tabela a seguir demonstra a evolução anual da quantidade de lixo domiciliar em São Paulo, a qual mais que dobra em praticamente três décadas. 63 Quadro 4.1 - MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - Evolução da Quantidade Anual de Lixo Domiciliar – 1978 a 1996 ANO LIXO DOMICILIAR T MIL 1978 1.550 1979 1.608 1980 1.638 1981 1.579 1982 1.779 1983 1.782 1984 1.530 1985 1.604 1986 1.948 1987 2.072 1988 2.297 1989 2.212 1990 2.258 1991 2.465 1992 2.368 1993 2.701 1994 3.033 1995 3.421 1996 3.600 2004 3.150 2005 3.227 2006 3.383 Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 109 e Limpurb In Artigo – Cruzada Contra o Lixo, Caderno Cidades/Metrópole, 11/11/2007, p. C6 Segundo Calderoni44, o programa de coleta seletiva foi inicialmente implantada na Administração Erundina e seguida pelos Prefeitos Maluf e Pitta, apenas quanto aos Postos de Entrega Voluntária (PEV), porém não foi uma experiência de grande envergadura, e creio que ainda hoje não é. Atualmente, a cidade tem um sistema de coleta seletiva na porta das casas feita pelo governo municipal, são 72 caminhões que não atendem toda a cidade, e levam os resíduos para os 15 centros de triagem, onde as cooperativas cadastradas pela Prefeitura separam e posteriormente vendem o lixo. Há também 18 ecopontos da Prefeitura, 44 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 96. 64 espaços de entrega voluntário onde o próprio morador pode levar seu lixo reciclável, pequeno volume de entulhos (até 1 metro cúbico) ou grandes objetos (como móveis ou restos de podas de árvores). Os serviços de limpeza urbana no município de São Paulo, custavam R$ 35 milhões no mês de agosto de 1996, ou cerca de R$ 420 milhões por ano, abrangendo a coleta domiciliar (26%), o transbordo (3%), a disposição final em aterros (15%) e incineradores, a compostagem e a varrição (30%), além das equipes responsáveis por sua administração (9%). Segundo Calderoni, essa evolução no dispêndio pode ser explicada pelo aumento populacional, pelo aumento no consumo de embalagens, mas principalmente por quatro fatores: a) Custo maior por tonelada nos Aterros (normas ambientais mais rígidas); b) Aperfeiçoamento no sistema de gerenciamento das informações da LIMPURB; c) Obras de manutenção; d) Possível elevação na remuneração dos serviços. Atualmente, segundo dados da Prefeitura45, em 2006 a despesa com urbanismo, especificamente o total gasto com limpeza urbana na município de São Paulo, foi de R$ 778 milhões, no ano passado R$ 772 milhões, o que representa cerca de 4% do orçamento total da Prefeitura. O quadro a seguir mostra a evolução da composição do lixo na cidade de São Paulo, e que cerca de um terço são materiais recicláveis. 45 Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo, balanços anuais de 2006 e 2007, demonstrativos consolidados - Adminisração Direta e Indireta, Despesa por Função, Subfunção e Programa conforme Vínculo com os Recursos. 65 Quadro 4.2 - MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução Histórica da Composição dos Resíduos Sólidos (%) COMPONENTES 1927 1947 1957 1965 1969 1972 1976 1989 1990 1991 1993 METAIS 1,7 2,2 2,2 2,2 7,8 4,2 4,0 3,3 5,3 3,5 3,2 VIDRO 0,9 1,4 1,4 1,5 2,6 2,1 1,7 1,5 4,2 1,7 1,1 PAPEL/PAPELÃO/JORNAL 13,4 16,7 16,7 16,8 29,2 25,9 21,4 17,0 29,6 13,9 14,4 PLÁSTICO 0,0 0,0 0,0 0,0 1,9 4,3 5,0 7,5 9,0 11,5 12,1 OUTROS 1,5 2,7 2,8 3,1 6,2 4,3 5,2 0,0 3,0 7,6 4,8 MATÉRIA ORGÂNICA 82,5 76,0 76,0 76,0 52,2 47,6 62,7 55,0 47,4 60,6 64,4 TOTAL 100,0 99,0 99,1 99,6 99,9 88,4 100,0 84,3 98,5 98,8 100,0 % NÃO EXPLICADO 0,0 1,0 0,9 0,4 0,1 11,6 0,0 15,8 1,5 1,2 0,0 RECICLÁVEIS 16,0 20,3 20,3 20,5 41,5 36,5 32,1 29,3 48,1 30,6 30,9 Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 112/114 de 1927 - 1993 e Limpurb 4.1. DISPOSIÇÃO FINAL DO LIXO: Conforme levantamento da Revista Saneamento Ambiental46, sobre as práticas de disposição final do lixo nos municípios brasileiros, 76% utilizam de “lixões”, 10% contam com aterros sanitários, 13% possuem aterros controlados e somente 1% empregam formas de tratamento para compostagem, a reciclagem e incineração. Com base no quadro a seguir, podemos observar que o Brasil concentra ainda praticamente todos os resíduos sólidos urbanos (90%) em aterros e/ou lixões, ou seja, deixar de aproveitar um grande potencial de energia através da incineração, no qual podemos destacar Suécia, França e Bélgica, por outro lado demonstra a incipiência da reciclagem no Brasil com um índice total aproximado de 10%, comparativamente muito abaixo de países, como Alemanha, Bélgica e Suécia. Provavelmente a situação não é diferente no Município de São Paulo, pois é praticamente inexistente outras formas de destino final de lixo (discutidas abaixo), além dos aterros sanitários e a coleta seletiva. Segundo a concessionária Loga, em meados de 2004, a prefeitura desativou a usina de compostagem de Vila Leopoldina. Um novo local, com capacidade para processar até mil toneladas de resíduos por dia, será construído pela concessionária. A primeira fase, com capacidade para processar 500 toneladas por dia, porém os investimentos foram suspensos pela Prefeitura Municipal de São Paulo em fevereiro de 2005, e até hoje não há nenhuma 46 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 117. 66 solução. Segundo comunicado da Subprefeitura do Ipiranga47 em 2006, o incinerador da usina de lixo Vergueiro também seria desativado pelo transtorno causado aos moradores da região, em função do cheiro que exalava pela chaminé. Quadro 4.3 – Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita (2005) PAÍS Aterros e/ou Lixões Incineração com Compostagem + Recuperação de Reciclagem Energia Brasil* 90% ---- 10% Bélgica 10% 35% 55% República Tcheca 70% 15% 15% Alemanha 20% 20% 60% Espanha 60% 5% 35% França 40% 35% 25% Itália 60% 5% 35% Polônia 95% 1% 4% Portugal 75% 20% 5% Suécia 10% 50% 40% Reino Unido 75% 10% 15% Grécia 90% ---- 10% Hungria 85% 5% 10% China** + de 70% N/D 20% (somente compostagem) Fonte: *CEMPRE / Eurostat – Statistical Office of the European Communities / **Circular Economy Committee (CEC) ATERROS SANITÁRIOS: Segundo a Secretaria Municipal de Serviços de São Paulo, os aterros sanitários são grandes áreas preparadas tecnicamente para receber os resíduos orgânicos coletados nas residências. Estas áreas contam com garantias de proteção ao meio ambiente, evitando a contaminação do lençol freático. Após o esgotamento dos aterros, a área é totalmente 47 Artigo, Usina de lixo vai virar pólo cultural de 21/07/2006, In página do Sistema FIESP. 67 coberta e poderá ser utilizada como área de lazer, depois que o nível de contaminação for praticamente zerado. A vida útil de um aterro sanitário é calculada geralmente a partir de dois fatores: a evolução dos volumes de descarga e a densidade média do lixo decorrente da compactação que se poderá efetivamente alcançar. No caso do Município de São Paulo a situação é crítica, os dois únicos aterros sanitários da capital já chegaram ao limite, o Bandeirantes e o São João, o último já invade a reserva de mata atlântica. Os demais aterros foram desativados ou continuam em manutenção, são eles: Sapopemba, Santo Amaro, Vila Albertina, Jacuí estão em manutenção e o aterro de São Mateus encontra-se desativado. O aterro São João, localizado na Estrada de Sapopemba km 33, em São Mateus, recebe os resíduos coletados pela EcoUrbis (área sudeste). O volume depositado nesse aterro diariamente é de 7 mil toneladas. A operação deste aterro foi iniciada em 1992. Já o aterro Bandeirantes, localizado na Rodovia dos Bandeirantes km 26, em Perus, recebe resíduos coletados pela Loga (área noroeste). O volume depositado nesse aterro diariamente é de 6 mil toneladas. A operação deste aterro foi iniciada em 1979. Segundo a concessionária Loga48, o Aterro Bandeirantes: propriedade da Prefeitura Municipal de São Paulo, é operado e administrado pela concessionária, encontra-se em fase final de encerramento dentro das cotas permitidas pela licença ambiental correspondente, recebia cerca de 85 mil toneladas por mês, atualmente as 6.000 toneladas diárias são destinadas a Central de Tratamento de Resíduos Caieiras, no interior de São Paulo. Existem também os Transbordos, que são pontos de destinação intermediários dos resíduos coletados na cidade, criados em função da considerável distância entre a área de coleta e o aterro sanitário. As Estações de Transbordo, portanto, são locais onde o lixo é descarregado dos caminhões compactadores e, depois, colocados em uma carreta que leva os resíduos até o aterro sanitário, seu destino final. O volume estimado de movimentação nos transbordos é em torno de 1.200 mil toneladas por dia. Hoje há três Estações de Transbordo na cidade de São Paulo: Vergueiro, Santo Amaro e Ponte Pequena. E não há alternativas: o único incinerador em operação na cidade não tem nenhum controle dos poluentes e só queima lixo hospitalar. Novos aterros ou pontos de reciclagem 48 Loga – Logística Ambiental de São Paulo S/A, é a concessionária responsável pela região noroeste da cidade. Data de outubro de 2004 o início da concessão que regulamentou os serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos domiciliares e dos serviços de saúde da cidade de São Paulo. 68 estão congelados até que se avance na renegociação do contrato com empresas de lixo. Do lixo gerado diariamente 89% são levados para os aterros, cerca de 10% vão para as usinas de compostagem e viram adubo, segundo a Prefeitura. A alternativa mais viável economicamente para essa situação crítica é o aumento da reciclagem, já que novos aterros serão instalados em regiões mais distantes e consequentemente o custo se elevará para a Prefeitura, pois o componente transporte é um dos custos mais representativos do valor total. Além disso, os custos operacionais são crescentes, à medida que são cada vez maiores as exigências técnicas por porte dos órgãos de controle ambiental. Em 200749, a Prefeitura gastou R$ 771 milhoes com limpeza urbana, cerca de 4% dos seus gastos totais. Quadro 4.4 - MUNICÍPIO DE SÃO PAULO – Evolução do Custo Operacional dos Aterros ANO US$/TONELADA 1980 2a3 1984 3a4 1988 4a5 1992 7a8 Fonte: PMSP/LIMPURB In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 124 Outro dado importante com relação ao lixo orgânico, o aterro sanitário Bandeirantes já atingiu 140 metros de altura, em São Paulo, recebeu ao longo de sua vida útil 30 milhões de toneladas de lixo, hoje produz 12 mil m3/hora de gás, que é usado para produzir energia elétrica. A cidade de São Paulo produz, desde 2003, 20 megawatts (MW) de energia a partir desse aterro. 49 Demonstrativos consolidados de 2007 da Prefeitura, Administração Direta e Indireta, Despesa por Função, Subfunção e Programa Conforme Vínculo com os Recursos. 69 INCINERAÇÃO: A incineração tem como objetivo principal, reduzir o volume dos resíduos sólidos, ou segundo Lima50, é “o processo de redução de peso e volume do lixo através de combustão controlada”, redução porque não há combustão do lixo sem que resultem resíduos. A redução de volume é geralmente de mais de 90%, e a de peso de cerca de 70%51, porém ela pode variar muito, pois depende da tencologia empregada e da natureza do resíduo. Essa prática tornou-se frequente em alguns países, como os Estados Unidos e principalmente o Japão, a utilização dos incineradores para geração de energia através da energia liberada com a queima dos materiais. Por outro lado, as normas estabelecidas com relação às emissões de gases tóxicos, são cada vez mais rigorosas para a construção e operação dos incineradores, associadas ao elevado investimento inicial e custo operacional inibem a sua proliferação. Para países como o Japão, podemos deduzir que essa alternativa faz-se necessária, pois não dispõe de grandes áreas para aterros sanitários. O único incinerador no Município de São Paulo que estava em funcionamento, o incinerador da usina de lixo Vergueiro foi desativado pelo transtorno causado aos moradores da região, em função do cheiro que exalava pela chaminé. COLETA SELETIVA: O orçamento para o programa de coleta seletiva no município de São Paulo, gira em torno de 1% , ou seja algo em torno de R$ 7 a 8 milhões. Segundo o Instituto Pólis52, cerca de metade do orçamento total de para limpeza urbana é destinado ao pagamentos das concessionárias que prestam serviços de coleta e destinação de resíduos ao município. Além disso, Elisabeth Grimberg, cita: não se tem mais como justificar que 90% dos resíduos sólidos, passíveis de recuperação pela compostagem (60%) e reciclagem (30%), sejam simplestemente enterrados. Das 10 mil toneladas levadas diariamente para os aterros pelo pode público, 2.700 (resíduos secos) poderiam ser coletados seletivamente, 50 Lima, 1991, p. 117 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 132. Corson, 1993 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 132. 52 Artigo Resíduos Sólidos de São Paulo: dilema e soluções, por Elisabeth Grimberg, 04/12/2007. 51 70 potencializando as atividades e a renda das cooperativas e associações já existentes ou alimentar novas organizações. Vale a pena descrever um breve histórico da coleta seletiva com base na obra de Calderoni53, no passado a coleta de lixo domiciliar não era responsabilidade das Prefeituras. O país pioneiro na coleta seletiva foi oficialmente a Itália em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial e foi resultado das dificuldades associadas ao período. Fato interessante é que na Europa a recuperação e reciclagem de resíduos alcançou os maiores índices nas situações de crise e de guerra. Os Estados Unidos, maior produtor de resíduos sólidos urbanos per capita (2,00 kg/dia/habitante), e a Europa são os pioneiros no campo da reciclagem de resíduos, porém o Japão é o líder em matéria de reciclagem, com um grande números de municípios que aderiram ao programa de seleta coletiva. É de conhecimento público que o Japão não dispõe de grandes áreas para disposição dos resíduos. Um aspecto muito importante citado pelo autor, “é a importância da participação social, nessa questão, alcança níveis muito elevados, iniciando-se na escola e permeando o cotidiano da população, desde os edifícios residenciais e comerciais até os supermercados e centros de lazer”. Na Austrália, a coleta seletiva teve início em 1990 através da iniciativa governamental. Na China, a coleta seletiva ocorre desde 1950. No Brasil, há importantes iniciativas em algumas cidades, a pioneira foi a cidade de Niterói no Rio de Janeiro. “Difere dos demais programas de coleta seletiva por sua ênfase sobre a descentralização e o caráter comunitário, privilegiando essencialmente a pequena escala”54. Além dessa, podemos citar também, Curitiba, a qual recebeu reconhecimento da ONU, Campinas e Brasília. O quadro a seguir compara a geração per capita de resíduos sólidos urbanos em diversos países. O destaque são os Estados Unidos com uma média de 2,00 kg/dia, muito acima dos demais países. 53 54 “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, 2003, p. 141. “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, 2003, p. 141. 71 Quadro 4.5 – Geração de Resíduos Sólidos Urbanos Per Capita PAÍSES ANO 2003 ANO 2005 Brasil 0,70 kg/dia 0,80 kg/dia Uruguai 0,90 kg/dia N/D México 0,87 kg/dia N/D Estados Unidos 2,00 kg/dia N/D Canadá 1,70 kg/dia N/D Alemanha 0,90 kg/dia 1,46 kg/dia Suécia 0,90 kg/dia 1,04 kg/dia Polônia N/D 0,78 kg/dia Dinamarca N/D 1,55 kg/dia Reino Unido N/D 1,36 kgdia Itália N/D 1,23 kgdia Eslovênia N/D 1,63 kg/dia Fonte: CEMPRE e Eurostat – Statistical Office of the European Communities Segundo a última pesquisa Ciclosoft, realizada periodicamente pelo CEMPRE, em 2008 são cerca de 405 municípios que possuem o programa de coleta seletiva num total de cerca de 5.500 municípios, cerca de 7%. Destaque importante deve ser dados para os municípios com menos de 100 mil habitantes. Em termos de abrangência populacional, cerca de 14% da população brasileira é atendida pelos programas de coleta seletiva, ou seja, 26 milhões de pessoas. A forma de organização dos programas está distribuída da seguinte forma: 201 municípios com modelo porta em porta; 105 com Postos de Entrega Voluntária (PEV) e 174 com Cooperativas de Catadores de materiais recicláveis. Os quadros abaixos mostram respectivamente, a evolução do programa ao longo das duas últimas décadas de 81 municípios em 1994 para 405 em 2008 e também um crescimento de 24% de 2006 para 2008, a coleta por região tendo Sudeste representando 48% e Sul 35% (total de 83%), a composição da coleta seletiva (em peso) e a evolução custo do programa de coleta seletiva, o qual partiu de 10 vezes o custo da coleta tradicional para 5 vezes nos últimos anos. A comparação entre 2006 e 2008 em dólares é fortemente impactada pela variação na taxa de câmbio, porém a proporção se manteve constante. 72 Figura 4.6 - Número de Municípios Brasileiros com Coleta Seletiva 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 405 327 237 192 135 81 1994 1999 2002 2004 2006 2008 Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) Figura 4.7 - Coleta por Região no Brasil Norte 2% Centro-Oeste 4% Nordeste 11% Sudeste 48% Sul 35% Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) Figura 4.8 - Composição da Coleta Seletiva (em peso) Longa Vida 3% Alumínio 1% Diversos 3% Metais 9% Papel e Papelão 39% Vidros 10% Rejeitos 13% Plásticos 22% Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) 73 Figura 4.9 - Custo Médio da Coleta Seletiva (US$ por tonelada) Custo médio da coleta seletiva* Custo da coleta seletiva x custo da coleta convencional 1994 240 1999 154 2002 70 2004 114 2006 151 2008 221 10 vezes maior 8 vezes maior 5 vezes maior 6 vezes maior 5 vezes maior 5 vezes maior Fonte: Pesquisa Ciclosoft 2008 (CEMPRE) - * US$ 1 = R$ 1,70 No caso da Cidade de São Paulo, a coleta foi implementada inicialmente no bairro da Vila Madalena em 1989 através de um projeto piloto na gestão da prefeita Luiza Erundina. Abrangia a coleta em residências e os Postos de Entrega Voluntária (PEV). Posteriormente a coleta foi estendida a outros bairros da cidade. Segundo matéria publicada recentemente na própria página da Prefeitura de São Paulo55, o Programa de Coleta Seletiva da cidade de São Paulo, nos últimos dois meses, aumentou de 4,9% para 5,6%, o total do resíduo passível de ser coletado no município. Atualmente dos 96 distritos existentes no Município de São Paulo, 71 são contemplados pela Coleta de Materiais Recicláveis realizada pelas Centrais e pelas Concessionárias (ECOURBIS e LOGA), ficando a sua coordenação sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Serviços, por intermédio do Departamento de Limpeza Urbana – Limpurb, estabelecendo normas e procedimentos para sua implementação, gerenciamento, fiscalização e controle. Regulamentado pelo Decreto nº 48.799 de 9 de outubro de 2007, o programa conta atualmente com 15 Centrais de Triagem concentradas em várias regiões da cidade. Com uma média de retirada/mês na ordem de R$ 600,00 são beneficiadas mais de mil pessoas que estavam à margem da sociedade. A importância do programa não se restringe ao seu caráter social, afinal, a preocupação ambiental acompanha as diretrizes que norteiam a coleta seletiva. Nesse sentido, os dados de material coletado pelas cooperativas e também 55 Notícia publicada no dia 10/07/2008 no site da Prefeitura, disponível em http//www.prefeitura.sp.gov.br. 74 pelas concessionárias Loga e Ecourbis, possibilitam uma sobrevida aos aterros sanitários e uma melhor destinação ao material que é gerado diariamente. Entre os equipamentos utilizados na Coleta Seletiva, são mais de 3.500 PEV´s instalados em locais específicos e a implantação da conteinerização através da instalação de PEV´s (Pontos de Entrega Voluntária) de 1.000 litros e 2.500 litros para material reciclável, em estacionamentos de bancos, supermercados, escolas municipais, estaduais e particulares, universidades e condomínios. Um tema essencial ligado ao programa de coletiva seletiva é o custo do mesmo comparado ao custo da coleta tradicional. Na época do levantamento56 (dados de 1992/1993), o custo da coleta seletiva em São Paulo era de US$ 294/tonelada (214 toneladas/mês), em Curitiba US$ 179/tonelada (804 toneladas/mês), enquanto o custo médio da coleta tradicional era de US$ 30/tonelada na Cidade de São Paulo. Alcides Edílio Valente57 afirmou que, “a coleta seletiva em São Paulo, caso viesse a ser bem estruturada e racionalizada, poderia ter um custo líquido de US$ 63/tonelada”. Os fatores principais apontados pelo autor para justificar os elevados custos da coleta seletiva comparados à coleta tradicional, são basicamente: 1. Baixa escala para diminuição do custo médio; 2. Espaço para armazenagem para venda em lotes; 3. Negociação (falta de oferta estável e morosidade do processo licitatório); 4. Ausência de terceirização por parte da Prefeitura; 5. Baixa otimização dos circuitos; 6. Transporte e beneficiamento = preços melhores; 7. Planejamento e Gestão. RECICLAGEM: Para falarmos sobre o mercado de reciclagem, vale ressaltar a importância e o tamanho do mercado de embalagens no Brasil. O mercado faturou R$ 32,5 bilhões no ano de 2007, um crescimento de 2,6% sobre o ano de 2006. Esse valor representou cerca de 1,4% do PIB nacional no mesmo ano. No fim de 2007, haviam 195.711 empregos formais 56 57 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 1997, 1ª edição. In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 2003, p. 156. 75 no setor, sendo a Região Sudeste que concentra maior parte dos trabalhadores, cerca de 58,5%. Em termos de balança comercial, em 2007, o setor de embalagens foi superavitário, com exportacões no valor de US$ 479,3 milhões e importações de US$ 368,5 milhões. Figura 4.10 – Faturamento Anual da Indústria de Embalangens no Brasil (em bilhões de reais) 35 28.5 30 32.5 30 29.5 34.2 25 20 15 10 5 0 2004 2005 2006 2007 2008* Fonte: Associação Brasileira de Embalagens (ABRE) Figura 4.11 – Participação de cada material no faturamento total (%) Vidro 4,9% Têxteis 2,9% Madeiras 2,3% Plástico 36,4% Papel 7,0% Metálicas 17,0% Papelão/Papelcartão 29,6% Fonte: Associação Brasileira de Embalagens (ABRE) O ciclo da cadeia produtiva de reciclagem é composto geralmente pelos seguintes agentes: 1) Catadores, 2) Atravessadores (Sucateiros), 3) Pré-Indústria de Beneficiamento, 4) Indústria e 5) Comércio/Comunidade. A quantidade e a estrutura depende e varia para cada tipo de material reciclável. O que iremos constatar posteriormente é que a grande maioria dos processos na cadeia produtiva de reciclagem são realizadas pelos Catadores, 76 porém os maiores benefícios (renda ou economias) ficam com os Atravessadores ou com a Indústria. O ciclo se inicia com o Catador que faz a coleta dos materiais recicláveis, depois separa os materiais e então os leva para um galpão, que é o local de entrega ou entreposto, dos quais são transportados para a equipe de triagem/administrativa comercial para triagem, prensa e organização, até esse ponto essas atividades são realizadas pelos Catadores. A partir daí, entram na cadeia os Atravessadores que recebem os materiais e vendem para a pré-indústria de beneficiamento que beneficia, moi, lava e processa os materiais para a venda final para a Indústria. No caso do Município de São Paulo, vale ressaltar que a reciclagem foi iniciada com a coleta seletiva implantada pela Prefeita Luiza Erundina, em duas frentes, com a coleta domiciliar em alguns bairros e também com os PEVs, atingindo 230 toneladas mensais num total de materiais recicláveis de 135 mil toneladas mensais58 (0,2%). Já na gestão posterior do Prefeito Paulo Maluf (1996), sob a alegação dos custos elevados da coleta seletiva, a coleta domiciliar foi abandonada e restou somente a coleta através dos PEVs, porém mesmo assim o volume de materiais recicláveis coletados atingiu 982 toneladas mensais59, ou seja, mais que quatro vezes o volume da gestão anterior. Os quadros a seguir demonstram as diferenças de preços auferidas entre catadores e sucateiros e o crescimento dos preços dos materiais recicláveis no período de 2001 a 2008. Quadro 4.12 - Tabela de Preços dos materiais recicláveis por grupo (R$/tonelada): Material Latas Alumínio Vidro Papel Plástico Grupo/Setor Catadores 252,00 28,00 60,00 48,00 Sucateiros 630,00 70,00 150,00 120,00 Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, capítulos 10 a 14, dados de 1996 58 59 Latas Aço 24,00 60,00 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 2003, p. 163. “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 2003, p. 165. 77 78 Calderoni através da sua obra “Os Bilhões Perdidos no Lixo”60, mediu os ganhos totais decorrentes (ordem de grandeza) da reciclagem dos resíduos primeiramente em nível nacional e posteriormente para o Município de São Paulo, com base em dados e algumas inferências, devido a inexistência de muitas estatísticas na época de sua pesquisa, utilizando-se basicamente: • Modelo desenvolvido por Duston61, porém estendido a outras variáveis; • Dos principais materiais: lata de alumínio, vidro, papel, plástico e lata de aço; • Das quantidades de materiais, produzidas, recicladas e disposta em aterros • Mensuração do ganho obtido com a reciclagem e do ganho “perdido” pela não reciclagem dos materiais. Os resultados de seus estudos, foram uma economia possível em nível nacional de cerca de R$ 5,8 bilhões, composta pela economia já obtida com a reciclagem de R$ 1,2 bilhão e a economia perdida pela não reciclagem de R$ 4,6 bilhões. Em nível Municipal, uma economia possível de R$ 1,1 bilhão, composta pela economia já obtida com a reciclagem de R$ 0,3 bilhão e a economia perdida pela não reciclagem de R$ 0,8 bilhão. Em função das quantidades e das características dos processos de produção, os valores de economia mais representativos de energia, matéria-prima e água, estão concentrados no papel e plástico62. Em um artigo publicado recentemente63, sobre a quantidade de lixo produzido no Brasil, segundo o IBGE em 2000 foram coletados diariamente 125.281 toneladas de resíduos domiciliares e 52,8% dos municípios destinaram seus resíduos em lixões64, coincidência ou não, de acordo com o portal Ambiente Brasil, o país perde R$ 4,6 bilhões por ano por não reciclar tudo o que poderia. Outro aspecto importante abordado no trabalho, foi distribuição dos ganhos entre os agentes do setor de reciclagem, os quais são, na esfera privada: indústria, sucateiros, carrinheiros e catadores e a população residente. Na esfera pública, temos as Prefeituras, os 60 Primeira edição data de outubro de 1997. Equação do Modelo: G= -C+E+W+M+H+A+D (G ganho é igual ao custo do processo de reciclagem + C custo evitado com a coleta + W economia de energia + M economia de matéria-prima + H economia de água + A economia de controle ambiental + D demais ganhos econômicos, imensurável). 62 Resina tremoplástica no período do estudo custava R$ 1.310 por tonelada, mais de sete vezes o custo da matéria-prima para o papel R$ 184 por tonelada In “Os Bilhões Perdidos no Lixo, 4ª edição, p. 257. 63 Jornal Estado de São Paulo, Informe Publicitário sobre o Dia do Consumidor de 15/03/2008, p.9. 64 Não há preparação anterior do solo e nenhum sistema de tratamento dos efluentes líquidos 61 79 Governos Estaduais e o Governo Federal. O primeiro quadro (página 82) a seguir demonstra as áreas de interesses e interrelações entre os agentes citados acima. O segundo (página 83) apresenta a distribuição dos ganhos totais entre os agentes, evidenciado uma repartição muito desigual dos benefícios da reciclagem. Considerando os ganhos possíveis com a reciclagem (ganhos obtidos + ganhos “perdidos”), a indústria é a grande beneficiária ficando com algo em torno de 80% dos benefícios totais da reciclagem, restando os demais 20% que possuem uma distribuição praticamente uniforme entre sucateiros, carrinheiros/catadores e a Prefeitura de São Paulo. Os demais quadros, páginas 84 e 85, mostram a economia total possível (obtida e perdida) no Brasil (R$ 5,8 bilhões) e no Município de São Paulo (R$ 1,1 bilhão). Outras importantes conclusões de Calderoni dizem respeito: 1. A importância de considerar todos os apectos e agentes do mercado de reciclagem, abordagem macroeconômica em substituição à visão microeconômica de cada agente da cadeia produtiva; 2. Grande poder de barganha da indústria frente aos demais agentes, o que pode ser confirmar nos percentuais de distribuição dos ganhos da reciclagem mencionados acima; 3. A existência de uma correlação considerável entre o grau de oligopolização no setor e o índice de reciclagem, corroborado pelo alto índice do aluminío e o baixo índice do plástico; 4. A necessidade de uma maior participação do setor público nas três esferas e maior interação entre a indústria, o setor público e a comunidade para intensificar o processo de reciclagem; 5. A importância da reciclagem para a Prefeitura, traduzido nos custos que podem ser evitados e também evitar incorrer em custos maiores, à medida que os custos para disposição final dos resíduos tendem a se elevar, pois as áreas para novos aterros são mais caras e mais distantes, elevando também o custo do transporte; 6. As perspectivas dos sucateiros e carrinheiros/catadores estão sujeitas ao crescimento do mercado de reciclagem, ao nível de preços e à estabilidade de tais preços; 80 7. A necessidade de maior organização dos carrinheiros/catadores em cooperativas, o que caracterizou uma inovação institucional importante, para proporcionar maior poder de barganha e melhor remunueração, e também para acabar com a situação de semi-clandestinidade em que a maioria se encontra; 8. Os fatores imperativos para desevolvimento do mercado de reciclagem são: proteção ambiental; aumento dos índices reciclagem; aumento da produção, expansão da coleta seletiva; pressão social; normas de proteção ambiental (política nacional de resíduos sólidos); 9. A taxação pode ser um efetivo instrumento para alavancar o mercado de reciclagem, o mesmo é utilizado na Europa. A incidência poderia ocorrer na préprodução (insumos das embalagens), na geração das embalagens ou no pósconsumo (responsabilidade após a vida útil do bem); 10. Finalmente, o mercado de reciclagem é economicamente viável pela cifras demonstradas, mas o seu desenvolvimento não será automático, apesar de todos os benefícios apontados no estudo, ele depende de todos nós, setor público, privado e sociedade. Como podemos observar no quadro abaixo, desde a a obra os “Bilhões Perdidos no Lixo”, com a primeira edição datada de 1997, houve uma grande evolução na reciclagem da lata de alumínio, pelo seu alto valor, porém para os demais materiais recicláveis, ainda há um grande potencial a ser explorado. Quadro 4.14 – Comparativo dos Índices de Reciclagem no Brasil (%) MATERIAL RECICLÁVEL DÉCADA DE 90 ANO 2005 PAPEL 31,7% 46,9% PLÁSTICO 12,0% 20,0% VIDRO 35,1% 45,0% LATA DE AÇO 18,0% 29,0% LATA DE ALUMÍNIO 70,0% 96,2% Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo” na década de 90 e CEMPRE dados mais recentes (2005) 81 82 83 84 85 Com base na obra do Professor Calderoni65, acho interessante fazer um breve descrição dos principais materiais recicláveis: RECICLAGEM DO ALUMÍNIO: O Brasil na época da obra66, já era líder mundial de reciclagem de latas de alumínio, passando até mesmo os Estados Unidos, o maior consumidor de latas do mundo. A lata de alumínio é o material reciclável com maior valor, atingindo preço superior a cinco vezes o do plástico, o segundo em valor. A produção de alumínio é eletro-intensiva, para a obtenção de uma tonelada de alumínio, são necessárias cinco toneladas do minério bauxita e 17,6 mil kWh. A economia de energia com a reciclagem chega a atingir 95% comparada a produção a partir da matéria-prima virgem, ou seja, de 17,6 mil kWh para 700 kWh. Outras características importantes da lata de alumínio são o pouco peso e que ela pode ser reciclada infinita vezes sem a perda de suas propriedades. O seu processo de reciclagem se inicia com a coleta pelos Catadores que depois são levadas aos Sucateiros para prensa, enfarda e então as repassam para as indústrias de fundição, para derretimento e transformação em lingotes de alumínio. Os mesmos são vendidos aos fabricantes de lâminas de alumínio que comercializam as chapas para indústrias de lata. A estrutura de mercado, em 1996, era caracterizada por uma forte concentração, na figura da LATASA67, que era a única fabricante brasileira de latas de alumínio e única compradora final da sucata. Formando-se assim simultâneamente monopólio e monopsônio. As empresas produtoras de alumínio primário no Brasil eram: Albras, Alcoa, Aluvale, Billiton, CBA e Alcan, sendo a Alcoa a líder no setor. Segundo a pesquisa realizada pelo CEMPRE em 2005, “Microcenários Setoriais”, o Brasil atingiu o índice de 96,2% de reciclagem de latas de alumínio (ABAL), o qual mantém o Brasil na liderança mundial. O preço estava em torno de R$ 2,5 a R$ 3,5 mil a 65 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, 2003. A primeira edição de “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, data de outubro de 1997. 67 LATASA – Latas de Alumínio S/A, é uma associação entre Reynolds Metals Co., Bancos Bradesco e J.P. Morgan. 66 86 tonelada e foram recicladas 127,6 mil toneladas, o equivalente a 9,4 bilhões de latas por ano. Um quilo equivale a 75 latinhas. Segundo o levantamento de Calderoni68, o preço recebido por tonelada pelo Catadores era de R$ 252,00, subia para R$ 630 para os Sucateiros e finalmente era cotado em Londres entre US$ 1.282 e 1.435/tonelada (12/11/1996). Os quadros a seguir demonstram a evolução índice de reciclagem das latas de alumínio no Brasil e em outros países, e também o consumo de latas de alumínio nos principais páises. Quadro 4.19 – Índice de Reciclagem de Latas de Alumínio no Brasil – 1989 a 2008 ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE LATAS 1989 40,4% 1990 45,8% 1991 36,9% 1992 39,4% 1993 49,8% 1994 56,3% 1995 63,0% 1996 70,0% 1997 64,0% 1998 65,2% 1999 72,9% 2000 77,7% 2001 85,0% 2002 86,5% 2003 89,0% 2004 95,7% 2005 96,2% 2006 94,4% Fonte: Giosa, José Roberto. “Reciclagem de Latas no Brasil – panorama e perspectivas”, In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 178 e ABAL – Associação Brasileira do Alumínio (1997 – 2006) 68 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 185. 87 Quadro 4.20 – Consumo Anual de Latas de Alumínio (em bilhões de latas) PAÍS TOTAL ANUAL CONSUMIDO TOTAL ANUAL EM 1995 CONSUMIDO EM 2005 Estados Unidos 101,0 N/D Reino Unido 8,70 N/D Itália 1,50 N/D Áustria 0,37 N/D Suécia 0,93 N/D França 1,62 N/D Espanha 3,45 N/D Portugal 0,28 N/D Turquia 1,2 N/D Grécia 0,90 N/D Brasil 3,70 9,70 Fonte: Giosa, José Roberto. “Reciclagem de Latas no Brasil – panorama e perspectivas”, In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 178 e ABAL Quadro 4.21 – Índice de Reciclagem das Latas de Alumínio (%) PAÍS 2002 2003 2004 2005 2006 Argentina 78,0% 80,0% 78,0% 88,1% 88,2% Brasil 86,5% 89,0% 95,7% 96,2% 94,4% Europa 46,0% 48,0% 48,0% 52,0% N/D EUA 53,4% 50,0% 51,2% 52,0% 51,6% Japão 83,1% 81,8% 86,1% 91,7% 90,9% Fonte: ABAL; ABRALTAS In CEMPRE RECICLAGEM DO VIDRO: No caso do vidro, que também pode ser reciclado infinita vezes sem perda de suas propriedades, assim como o alumínio, o Brasil está posicionado num nível intermediário entre os listados no quadro seguir, pois atualmente apresenta um índice de reciclagem de 45%69, merecendo destaque para os países europeus. A expectativa70 era que o Brasil atingisse o patamar de 60%, entre os países que mais reciclam vidro no planeta, mas até agora essa marca ainda não foi atingida, portanto podemos concluir que há ainda um grande 69 70 Em 1996 era de 35,09% In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 189. Revista Nova Embalagem número 69, 1996, p. 7 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 189. 88 potencial no vidro. Um componente chave no processo é o custo de transporte, já que o vidro é um material mais pesado. A reciclagem do vidro na Europa teve início em 1974, basicamente pelas crises do petróleo, crises econômicas e o crescimento da consciência ambiental da população. Desde então, muitos países mantém programas de reciclagem com destaque para Alemanha, França, Bélgica, Noruega e Suécia. Para se produzir uma tonelada de vidro são necessários 1.300 kg de matéria-prima virgem, sua composição básica é: areia 58%, barrilha 19%, calcário 17% e feldspato 6%. A produção a partir de vidro reciclado requer uma tonelada de cacos de vidro71. A economia de energia é bem menor comparativamente a do alumínio, porém é representativa também. À medida que se adiciona cacos de vidro a temperatura necessária do forno reduz-se, a adição de 30% de cacos baixa a temperatura de fusão de 1.500º C para 1.300º C72. Pela quantidade de empresas, esse mercado pode ser considerado como um oligopólio na produção de vidros para embalagem (17 empresas, ABIVIDRO, 1993) e de oligopsônio no consumo de cacos de vidro para reciclagem (7 empresas, ABIVIDRO, 1994)73. O vidro atualmente como matéria-prima para embalagem sofre a concorrência de outros materiais, principalmente plástico, papelão e o alumínio. Ainda, segundo o IPEA74, a determinação dos preços do caco do vidro encontra problemas no que se refere ao fluxo...entre sucateiros e recicladores, pois tal preço é substancialmente menos atrativo que o de outros materiais recicláveis..verifica-se uma tendência entre as empresas recicladoras de trabalhar abaixo de sua capacidade produtiva...e ainda com problemas com elevados custos de transporte, além da pesada carga tributária. Com base no levantamento do Professor Calderoni75, o preço recebido por tonelada pelo Catadores era de R$ 28,00 e subia para R$ 70 para os Sucateiros. Os quadros abaixo comparam os índices de reciclagem de vidro de vários países, a evolução do índice de reciclagem no Brasil e por último o consum per capita de vidro. 71 Rego 1990, p.2 , citado por Vieira, 1993 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 195. Castro, INTER, p. 54 In“Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 195. 73 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 200. 74 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 203 / CEMPRE. 75 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 199/200. 72 89 Quadro 4.22 – Índice de Reciclagem do Vidro (%) PAÍS 2004 2005 Brasil* 47,0% 45,0% Alemanha 99,0% N/D França 96,0% 71,0% República Tcheca 57,0% 80,0% Bélgica 99,8% N/D Noruega 84,0% 89,0% Polônia 20,5% 38,0% Suécia 92,0% 96,0% Portugal 28,7% 1,0% Luxemburgo 59,5% N/D Estados Unidos** N/D 21,6% Fonte: *Abividro/Pro Europe/**US Environmental Protection Agency In CEMPRE Quadro 4.23 – Índice de Reciclagem de Vidro – 1991 a 2008 ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE VIDRO NO BRASIL 1991 15% 1992 18% 1993 25% 1994 33% 1995 35% 1996 37% 1997 39% 1998 40% 1999 40% 2000 41% 2001 42% 2002 44% 2003 45% 2004 45% 2005 45% 2006 46% 2007 47% Fonte: ABIVIDRO – Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro 90 Quadro 4.24 – Consumo de Vidro Per Capita (em kg per capita) PAÍS França Turquia Alemanha Itália Reino Unido Grécia Porturgal Espanha NOR+FIN+SUE Suíca Áustria Bélgica+Dinamarca+Irlanda+Holanda Fonte: ABIVIDRO, In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, p. 191 KG PER CAPITA 1994 65,44 4,23 50,39 47,51 29,37 11,82 44,25 35,07 14,04 33,84 34,37 47,12 RECICLAGEM DO PAPEL: No caso do papel, a reciclagem pode ser feita também infinita vezes, porém diferente do alumínio e do vidro, há perda de suas propriedades a cada processo reciclagem. Apesar do Brasil estar muito próximo do patamar de 50% e dos demais países, ainda assim há um grande potencial, pois Coréia do Sul apresentou um índice de 84,3% em 2004 e Japão e Alemanha estão no patamar dos 68%. Uma característica importante citada pelo autor, é que nesse setor o grau de integração é muito elevado entre as produções de celulose e papel, abrangendo também a atividade de reflorestamento. Segundo a ANFPC76, os papéis produzidos no Brasil classificam-se em: papéis para imprensa; papéis para imprimir; papéis para escrever; papéis para embalagem; papéis para fins sanitários; cartões e cartolinas; e papéis para fins especiais. Somente os papéis para fins sanitários e especiais não podem ser reciclados, os quais representam cerca de 10% do total. A reciclagem do papel proporciona importantes economias de energia elétrica, consumo de água e também de matérias-primas. No caso da energia elétrica, a produção a partir de aparas reduz o consumo de 4,98 MWh/tonelada para 1,47 MWh/tonelada, ou 70% 76 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 210. 91 de redução em relação ao uso de matéria-prima virgem. No caso da água, a economia é de 29.202 litros por tonelada. E por último em termos de matéria-prima, a redução se aplica tanto na madeira quanto nos produtos químicos utilizados na produção de celulose fibracurta. Com base no levantamento do Professor Calderoni77, esse setor se caracteriza por uma estrutura piramidal, com a indústria recicladora no topo atuando em regime de oligopólio (consumidores de papel) e oligopsônio (compras de aparas), e abaixo os aparistas (mercado fragmentado), depositários, sucateiros, carrinheiros e catadores. Em 1995, eram 196 empresas fabricantes de papel no Brasil, sendo 67 instaladas em São Paulo, com um faturamento total de R$ 4,9 bilhões. Vale destacar as principais empresas, Klabin, Suzano, Votorantim e Ripasa, que representavam cerca de 40% do mercado. Esse mercado está sujeito a sazonalidade e a grande flutuação de preço78, dependendo da oferta de celulose, o preco da apara varia. O preço recebido em 1996 por tonelada pelo Catadores foi de R$ 60,00 e subia para R$ 150 para os Sucateiros. Nos quadros a seguir, podemos observar a evolução do índice de reciclagem em diversos países e também no Brasil. 77 78 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 216. IPT In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 220. 92 Quadro 4.25 – Índice de Reciclagem do Papel (%) PAÍS 2004 2005 2006 Brasil 45,8% 46,9% 45,0% Coréia do Sul 84,3% N/D N/D Japão 68,4% N/D N/D Alemanha 68,0% N/D 74,5% Espanha 54,0% 68,6% 58,9% Reino Unido 51,9% N/D 64,9% França N/D N/D 63,7% Itália 49,2% N/D 51,3% Finlânida N/D N/D 47,7% Estados Unidos 47,5% 50,0% 51,9% Argentina 44,7% 44,7% 46,4% México 41,9% 41,9% 39,0% Malásia 38,7% 38,7% 43,4% Polônia 33,2% 65% N/D China 30,4% 30,4% 34,3% Rússia N/D N/D 32,7% Fonte: BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel, Relatório Desempenho do Setor 2007 e Projeções Quadro 4.26 – Índice de Reciclagem de Papel ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE VIDRO NO BRASIL 1990 36,5% 1995 34,6% 2000 38,3% 2006 45,4% Fonte: BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel, Relatório Desempenho do Setor 2007 e Projeções RECICLAGEM DO PLÁSTICO: O índice de reciclagem do plástico no Brasil, em 1995, foi de12%, equivalente a 279 mil toneladas79, desde então o índice se elevou para 20% em 2005, porém ainda com 79 Revista Plástico Moderno, junho, 1996, pp. 8-9 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 224. 93 um grande potencial inexplorado. Para a produção de plásticos são utilizadas as seguintes resinas termoplásticas: PEBD (Polietileno de Baixa Densidade); PEAD (Polietileno de Alta Densidade); PS (Poliestireno); PVC (Policloreto de Vinila); PP (Polipropileno); e PET (Polietileno-tereftalato). O plástico possue algumas características importantes em relação aos demais materiais recicláveis, dentre elas: 1) impermeabilidade, maior resistência à perfuração e transparência; 2) inquebrabilidade e baixo peso; 3) baixo preço e transparência; 4) indeformabiliade e leveza; 5) através da incineração pode ser uma fonte alternativa de energia, entrentanto normas devem ser seguidas para evitar a emissão de gases tóxicos na atmosfera durante a queima do plástico. A reciclagem do plástico também proporciona, economia considerável de energia de 6,74 mil kWh/tonelada a partir da matéria-prima virgem para 1,44 mil kWh/tonelada com o uso de material reciclado, portanto uma economia na ordem de 80%. Há também economia de matéria-prima e principalmente de petróleo, pois utiliza somente metade do necessário80, principalmente nos dias atuais com a escalada do preço do petróleo no mercado internacional. Há algumas razões enumeradas na obra 81 para justificar o baixo índice de reciclagem do plástico, dentre as principais temos: 1. Dificuldades técnicas envolvidas no processo de reciclagem pela diversidade de produtos; 2. Grau de sujeira presente no plástico encontrado no lixo; 3. Baixa atratividade para os catadores em função da relação preço-volume; Esse mercado também é caraterizado pelo estrutura de oligopólio, a época da pesquisa, em 1995, haviam cerca de 20 grandes indústrias químicas que produziam as resinas sintéticas provenientes do petróleo que são matéria-prima para a produção de plásticos. A receita operacional líquida dessas empresas alcançou a cifra de R$ 2,6 bilhões. Já as principais produtoras de embalagens são em menor número, porém atingiram um faturamento no mesmo ano de cerca de R$ 2,3 bilhões. 80 81 IPEA, nov/95 In “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 227. “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 231. 94 No meio dessa cadeia, estão os catadores e carrinheiros que ficam com a menor parcela da renda da reciclagem, porém são os mais expostos as flutuações de preços. Com base no levantamento do Professor Calderoni82, o preço recebido por tonelada pelo Catadores era de R$ 48,00 e subia para R$ 120 para os Sucateiros. O quadro abaixo compara os índices de reciclagem do plástico de diversos países em 2004 e 2005. Quadro 4.27 – Índice de Reciclagem do Plástico (%) PAÍS 2004 2005 Brasil 16,5% 20,0% Alemanha 97,0% N/D Espanha 21,4% 25,9% França 9,2% 20,0% República Tcheca 34,0% 39,0% Bélgica 30,0% 31,7% Noruega 21,0% 27,0% Polônia 17,0% 30,0% Suécia 8,3% 20,4% Portugal 2,9% 32,0% Luxemburgo 30,6% 38,4% China 10,0% N/D Estados Unidos 21,6% 5,7% (somente PET) (total) Fonte: Plastivida / Associação Nacional de Embalagens PET / EUA (Napcor) / Pro Europe In CEMPRE RECICLAGEM DA LATA DE AÇO: O índice de reciclagem de lata de aço no Brasil em 1993 era de 18%83, em 2006 atingiu o patamar de 47%, mesmo assim bem atrás dos Estados Unidos (63%) e países da Europa, como Alemanha (86%), Bélgica (92%), Espanha (68%) e Itália (63%). E a lata de aço está ao lado do alumínio e vidro, pois pode ser reciclado infinita vezes sem a perda de suas propriedades, o que não acontece com o plástico e o papel. 82 83 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 233. “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 239. 95 A lata de aço apresenta algumas vantagens84 em relação aos outros materiais recicláveis, dentre elas, menor custo, maior resistência, maior facilidade de manuseio, maior inviolabilidade, opacidade e elevados índices de reciclabilidade. Por outro lado, a sua desvantagem relativa está associada ao seu peso. Com relação as economias85, o consumo de energia elétrica é reduzido na ordem de 74%, ou de 6,84 mil kWh/tonelada para 1,78 mil kWh/tonelada. O consumo de água é reduzido em cerca de 40% com a reciclagem, e também há economia de matéria-prima, minério. Em relação à estrutura desse mercado, no Brasil havia apenas dois fabricantes de folha de aço, a CSN e a USIMINAS. As aciarias, constituem o principal mercado associado à reciclagem do aço, tem como função derreter a sucata, transformando-a em produtos ou novas chapas de aço. Um importante aspecto das aciarias de porte médio com fornos elétricos, é que elas geralmente processam a sucata a um custo menor que o das siderúrgicas convencionais86. Com base no levantamento do Professor Calderoni87, o preço recebido por tonelada pelo Catadores era de R$ 24,00 e subia para R$ 60 para os Sucateiros. Os quadros a seguir mostram a evolução do índice de reciclagem de latas de aço no Brasil, com um crescimento expressivo de 18% em 1993 para 47% em 2006 e o comparativo entre alguns países. Quadro 4.28 – Crescimento do Índice de Lata de Aço ANO ÍNDICE DE RECICLAGEM DE LATA DE AÇO NO BRASIL 1993 18,0% 2003 26,0% 2004 26,0% 2005 29,0% 2006 47,0% Fonte: “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 242 e CEMPRE 84 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 240. “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 241. 86 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 247. 87 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, p. 245. 85 96 Quadro 4.29 – Índice de Reciclagem da Lata de Aço (%) PAÍS 2004 2005 (embalagens de aço) (só latas) Brasil 47,0% 29,0% Estados Unidos 70,7% 63,3% Alemanha 44,4% 86,0% Portugal 65,0% 23,0% (inclui outros metais) Espanha 64,0% 68,0% Finlândia 50,0% 55,0% Itália 55,0% 63,0% Noruega 61,0% 59,0% (inclui outros metais) Bélgica N/D 92,0% Fonte: Plastivida / Associação Nacional de Embalagens PET / EUA (Napcor) / Pro Europe In CEMPRE RECICLAGEM DO LIXO ORGÂNICO: Apesar do resíduo orgânico não ser objeto de estudo do Professor Calderoni88, considero de extrema relevância abordar esse tema, pois existem duas formas alternativas de destinação desses resíduos que além de serem ecologicamente corretas, podem também gerar benefícios econômicos. A primeira é a compostagem e a segunda, a geração de energia. Segundo o CEMPRE89, a compostagem é o processo de transformação dos resíduos sólidos orgânicos não perigosos, restos vegetais e animais, em adubo. O processo ocorre pela decomposição dos microorganismos presentes nos materiais orgânicos. O composto é um fertilizante de excelentes qualidades, melhorando as propriedades físicas, químicas e bioquímicas do solo. Além disso, é produzido praticamente sem custo nenhum, já que esses resíduos normalmente são descartados. Ainda com base na ficha técnica do CEMPRE, em 2006 somente 3% dos 60% dos resíduos sólidos orgânicos no Brasil foram reciclados. Lembrando que a grande parcela não reciclada vai para os aterros e/ou lixões e no processo de decomposição natural do lixo, 88 89 “Os Bilhões Perdidos no Lixo”, 4ª edição, 2003. CEMPRE, ficha técnica do composto urbano. 97 gera o “chorume”, que se for não devidamente tratado, irá contaminar os lençois freáticos e os cursos d’água das regiões próximas. Com relação à geração de energia a partir dos resíduos orgânicos sólidos, há um grande potencial também, apesar de alguns projetos já estarem em andamento no Brasil. Segundo artigo do jornal Estado de São Paulo90, o lixo depositado nos aterros do Brasil pode gerar até 440 megawatts de energia. O processo se dá através da decomposição do lixo que gera o gás metano. No período, haviam 20 projetos de controle da emissão de metano em aterros em andamento no país, e metade deles já estavam estruturados para geração futura de eletricidade. A geração de energia elétrica só pode ser feita em aterros sanitários controlados, que têm estrutura para captação do gás metano e do “chorume”. Ainda segundo o artigo, a cidade de São Paulo produz desde 2003, 20 megawatts (MW) por hora de energia a partir dos resíduos do aterro Bandeirantes, na região oeste da capital. Em um estudo realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), mostra que em um cenário conservador, o Brasil até 2015, pode gerar 356,2 MW de energia elétrica, já em um cenário mais otimista, esse número pode atingir 440,7 MW. Os municípios com contingente populacional acima de um milhão de habitantes, com grande produção de resíduos, têm um potencial de geração média de 19,5 MW por hora. O caso do aterro sanitário Bandeirantes é referência e merece destaque, ao longo de sua vida útil, recebeu 30 milhões de toneladas de lixo e atualmente ele produz 12 mil m3/h de gás que é usado para produzir energia. O processo é composto basicamente por 5 etapas: 1. O gás produzido pela decomposição do lixo é captado por tubulações e levado até a usina termoelétrica instalada no próprio aterro; 2. Na usina o gás é beneficiado, deixando-o livre de impurezas, através dos processos de condensação e resfriamento; 3. O gás então alimenta os 24 conjuntos de motogeradores, que possuem potência de 20 MW; 4. O gás excedente é queimado em flares (queimadores), o que evita a emissão na atmosfera; 90 Caderno de Negócios de 08/12/2007, p. B16A. 98 5. Finalmente a eletricidade produzida é conectada a uma estação da AES Eletropaulo e entra na rede de distribuição de energia. Segundo Antonio Carlos Delbin91, “todas as grandes capitais estão se mobilizando para transformar aterros em termoelétricas. É viável em municípios com mais de 500 mil habitantes e grande produção de lixo urbano”. Ele conta que esses projetos permitem a futura negociação de créditos de carbono no mercado internacional92, o que poderia ajudar a reduzir os custos de implantação. No caso do Aterro Bandeirantes, a venda de créditos de carbono feita em leilão na BM&F, permitiu à Prefeitura de São Paulo faturar R$ 35 milhões. O investimento na usina, em 2003, foi de US$ 25 milhões. Dois outros Aterros que entrarão em funcionamento em 2008, são os Aterros de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro, sua usina terá capacidade para gerar 19 MW por hora de energia e o São João, localizado na região leste de São Paulo, que recebe 7 mil toneladas de resíduos por dia, o qual também terá uma usina com capacidade para gerar 20 MW por hora de energia, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil a 300 mil habitantes. Segundo Walter Capello Junior93, “a equiparação dos custos de produção de energia, atualmente a eletricidade produzida nos aterros custa em média 35% mais que a energia hidrelética, também daria impulso aos projetos. Por enquanto, ela deve ser considerada mais pelos seus benefícios ambientais que econômicos, mas isso pode mudar. Há 30 anos, o aproveitamento do lixo para fins energéticos era impensável”. Nos países desenvolvidos é comum a prática de geração de energia através dos resíduos sólidos orgânicos, porém a geração é feita através da incineração e não da captura do biogás. Segundo o artigo94, são cerca de 600 plantas de geração de eletricidade a partir de resíduos, em 35 países. Essas plantas processam cerca de 170 milhões de toneladas de resíduos urbanos por ano. Na Europa, há 400 plantas que abastecem cerca de 27 milhões de pessoas, e esse mercado movimenta cerca de 9 bilhões de euros, e ainda não atingiu o seu 91 Diretor Técnico da Biogás Energia Ambiental, empresa responsável pela operação da usina no Aterro Bandeirantes e que vai operar também a usina do Aterro São João In entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de 08/12/2007, Caderno de Negócios, p. N16A. 92 Em 2007, o mercado mundial de carbono atingiu a cifra de US$ 64 bilhões, de acordo com levantamento do Banco Munidal In Jornal O Estado de São Paulo, 05/06/2008, Caderno Especial Meio Ambiente, p. X4. 93 Secretário Geral da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe In entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de 08/12/2007, Caderno de Negócios, p. N16A. 94 Caderno de Negócios de 08/12/2007, p. B16A. 99 limite. A meta da União Européia, estabelece que 22,1% da matriz energética venha de fontes alternativas/renováveis até 2010, assim como 12% do consumo doméstico. Vale ressaltar dois outros importantes projetos inovadores com relação tratamento de resíduos sólidos orgânicos no Estado de São Paulo, o primeiro é um projeto-piloto95 na Subprefeitura de Santo Amaro (zona sul)96, aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo que cria o Programa de Aproveitamento de Madeiras de Podas de Árvores (Pampa), com isso esses resíduos podem ser moídos e transformados em carvão e forragem e compensado, gerando receita adicional para programas sociais (repasse da Prefeitura para ONGs), e também dando um destino final mais apropriado para esses resíduos. A prefeitura estima que recolhe de 3,5 mil a 4 mil toneladas de resíduos de podas todos os meses, ou seja, são cerca de 50 mil toneladas ano que atualmente acabam se decompondo nos aterros sanitários. O segundo projeto inovador com relação ao tratamento de resíduos sólidos orgânicos, é o uso da biomassa para geração de energia97. Empresas usam resíduos como casca de arroz e de coco babaçu, bagaço de cana, cascalho e restos de madeira, como combustível nas calderias, substituindo assim os combustíveis fósseis (óleo e gás natural) ou como fonte alternativa de eletricidade. Essa prática é muito comum no setor de açucar e álcool, e agora está se expandido para outros setores, como o de alimento. Segundo estudos do governo federal, o País tem potencial para gerar até 8 mil MW de energia só com biomassa, mais da metade da capacidade da hidrelétrica de Itaipu. Segundo Ricardo Pretz98, “o número de projetos de termoelétricas que usam biomassa dobrou de dois anos para cá. Os motivos são econômicos e ambientais, pois as tarifas de energia elétrica vêm aumentando, ao mesmo tempo que os custos da implantação de uma termoelétrica pode ser compensados em parte com a venda de créditos de carbono. Há potencial para produzir, em curto espaço de tempo, pelo ao menos 3 mil MW de energia”. 95 O autor do projeto foi o vereador Gilberto Natalini do Partido PSDB. Jornal o Estão de São Paulo, 16/04/2008, Caderno Cidades/Metrópole, p. C6. 97 Jornal O Estado de São Paulo, 30/04/2008, Caderno de Negócios, p. B21. 98 Diretor da PTZ Bionergia, há 15 anos executa projetos de geração de energia com uso de biomassa. 96 100 Os principais exemplos de empresas citadas no artigo99, são: a Camil, produtora de arroz, que construiu uma termoelétrica dentro da sua fábrica em 2001, a planta produz 4,5 MW de energia, o suficiente para suprir o consumo da fábrica e vender o excedente no mercado. Segundo Jacques Quartiero100, “a empresa tinha de comprar áreas para armazenar o resíduo, que demora para desaparecer no ambiente. Hoje, virou uma fonte de renda, pois já permitiu a venda de 1,5 milhão de euros em créditos de carbono. São queimadas diariamente 180 toneladas de casca de arroz”. A AmBev, fabricante de bebidas, atualmente queima biomassa nas caldeiras da suas sete fábricas e estuda ainda a substituição do óleo combustível em uma outra fábrica. O tipo de resíduo varia conforme a região, de casca de arroz, casca do coco de babaçu a restos de madeira de reflorestamento. Segundo Beatriz Oliveira101, “os projetos tiveram início em 2003. Em 2007, a biomassa atingiu 34% da matriz energética da empresa e gerou uma redução de 15% nos custos com combustíveis, mesmo com o aumento do preço do petróleo no período. Os quadros abaixo respectivamente mostram a participação dos resíduos sólidos orgânicos nos resíduos sólidos totais em quatro países, e o índice de reciclagem em alguns países, incluindo o Brasil. Quadro 4.30 – Participação dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%) PAÍS 2006 Brasil 60,0% Estados Unidos 12,0% Índia 68,0% França 23,0% Fonte: CEMPRE, ficha técnica do Composto Urbano 99 Cresce o uso da biomassa para geração de energia, Jornal O Estado de São Paulo, 30/04/2008, Caderno de Negócios, p. B21. 100 Diretor de Marketing da Camil In entrevista ao Jornal Estado de São Paulo de 30/04/2008, Caderno de Negócios, p. B21. 101 Gerente Corporativa de Meio Ambiente da AmBev. 101 Quadro 4.31 – Índice de Reciclagem dos Resíduos Sólidos Orgânicos (%) PAÍS 2002 Brasil 1,5% Estados Unidos 59,3% Argentina, Paraguai e Uruguai < 5,0% China 20,0% Fonte: CEMPRE informa número 75, maio/junho 2004 4.2 INICIATIVAS DA FIESP: Em entrevista com Ricardo Lopes Garcia, Diretor do Departamento de Meio Ambiente da FIESP, que representa 127 setores industriais do Estado de São Paulo (atualmente o sistema Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, abrange os sistemas FIESP, SESI, SENAI e IRS), foi abordado o projeto de gestão de resíduos sólidos industriais desenvolvido em 2002. O projeto tinha como objetivo um novo posicionamento do setor produtivo, foi financiado com fontes governamentais internacionais e tinha um prazo de execução de 24 a 36 meses, e consistia nas seguintes etapas: 1. Plano diretor de localização de empreendimentos de tratamento e disposição de resíduos industriais; 2. Produção mais limpa e tecnologia para obtenção de matérias-primas derivadas de resíduos industriais; 3. A criação da Bolsa de Resíduos, a qual já havia sido implantada anteriormente. A relevância desse projeto para o país consistia em um modelo de gestão de desenvolvimento industrial com sustentabilidade ambiental; aumento da competitividade internacional; e incremento de novos negócios. Já do ponto de vista da indústria, consistia na redução de custos com descartes de resíduos e redução de desperdícios; geração de novos negócios; impacto social positivo; e ativação da economia. Com base nesse projeto e na entrevista com Ricardo Lopes Garcia, creio que seja interessante explorar um pouco mais duas frentes importantes, atualmente em vigor, com relação a reciclagem de resíduos sólidos industriais. 102 PROTOCOLO DE INTENÇÕES COM A PREFEITURA: A primeira é o Protocolo de Intenções assinado entre Paulo Antonio Skaf, Presidente da FIESP e pela Prefeitura de São Paulo na gestão atual do Prefeito Gilberto Kassab em julho de 2006, o qual está por vencer e dependederá do novo Prefeito para ser renovado. O objeto principal desse protocolo é: Estabelecer diretrizes básicas que deverão ser observadas em futuros instrumentos a serem firmados entre a Municipalidade, por meio da Secretaria Municipal de Serviços, e entidades e empresas vinculadas a FIESP, cujo escopo é o desenvolvimento e incremento do sistema de coleta seletiva e reciclagem de resíduos sólidos urbanos de embalagens do Município de São Paulo, por meio de ações no âmbito de atuação de cada partícipe, voltadas a melhoria da qualidade de vida da população, à preservação do meio ambiente e a inclusão social. O principal objetivo desse protocolo por parte da FIESP é estabelecer relações diretas com as cooperativas, e consequentemente eliminar os muitos atravessadores da cadeia produtiva de reciclagem que são responsáveis por poucas ou nenhuma atividade, porém elevam consideravelmente os preços finais dos materiais recicláveis para a indústria. Entretanto, para reduzir os preços dos materiais recicláveis para a indústria, faz-se necessário que as cooperativas incorporem uma gestão profissional, eliminando futuros possíveis passivos trabalhistas, fiscais e ambientais de co-responsabilidade das indústrias compradoras. No protocolo, a FIESP se compromete a viabilizar parcerias com Sindicatos e Associações Patronais e empresas do setor de embalagens para: 1. Capacitação técnica para coletores, operadores e separadores das cooperativas; 2. Orientação sobre coleta seletiva e reciclagem de embalagens através da rede de educação pública e do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); 3. Promoção de ações visando o fornecimento de maquinários e equipamentos à Municipalidade; 103 4. Identificação dos recicladores de embalagens localizados no Município de São Paulo para colocá-los em contato direto com as cooperativas conveniadas; 5. Criação de condições de aquisição de resíduos de embalagens; 6. Divulgação do projeto por mídia impressa e/ou eletrônica, com o logotipo dos partícipes do presente protocolo; 7. Modernização e implementação de processos e equipamentos visando agregar valores aos materiais triados; 8. Apoio ao Programa de Educação Ambiental e a instalação do “Centro Interdisciplinar de Educação Ambiental – CIEA” nas escolas municipais. Já a Prefeitura se compromete a: 1. Manter, nos termos da lei, o sistema de convênio com as Cooperativas de Trabalho; 2. Buscar a formalização de novos convênios; 3. Realizar a coleta seletiva de material reciclável no âmbito do Município; 4. Providenciar locais devidamente adequados para a triagem; 5. Promover a triagem dos materiais recicláveis coletados; 6. Supervisionar a realização das atividades das Cooperativas conveniadas; 7. Implementar um programa de divulgação e comunicação sobre coleta seletiva na cidade; 8. Desenvolver um programa de capacitação dos professores da rede pública sobre coleta seletiva. BOLSA DE RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS: A segunda importante iniciativa é a Bolsa de Resíduos102, inicialmente essa idéia surgiu no início da década de 80. Em 1984, surgiu a primeira proposta de implantação na FIESP. Criada efetivamente em março de 1986, a FIESP fazia a intermediação entre as indústrias, as quais participavam através de uma ficha de inscrição e de acordo com a 102 Os dados foram extraídos da apresentação Bolsa de Resíduos da FIESP, Seminário de Reciclagem e Valorização de Resíduos Sólidos, realizado na Poli-USP, maio de 2008. 104 classificação entre resíduos disponíveis e desejáveis. Operou nesse sistema até 1994, e somente em 2002 foi lançado novamente via internet. Há Bolsa de Resíduos espalhadas pelo mundo, na Alemanha, Estados Unidos, Austrália, Espanha, Portugal, Costa Rica e Chile. A Bolsa consiste em um serviço gratuito, que tem como objetivo geral disponibilizar para as empresas a divulgação de ofertas de compra e venda de resíduos industriais recicláveis. As indústrias descobriram que os resíduos são fontes de redução de custos de produção, ou ainda podem ser fonte de receita. Os objetivos específicos da FIESP são: 1. A preservação e a melhoria da qualidade do meio ambiente e da saúde pública; 2. O uso sustentável, racional e eficiente dos recursos naturais; 3. O aumento da conscientização de que resíduo não é lixo, e sim um subproduto com potencial de comercialização; 4. Valorização do resíduo que passa a ser utilizado como matéria-prima de outra empresa/setor; 5. Redução de custos diretos relacionados ao manuseio, armazenamento, transporte e destinação final; 6. Possibilidade de geração de receita direta; 7. Minimização de multas e/ou autuações; 8. Ganhos de imagem; 9. Ganhos sociais. No período de abril de 2002 a maio de 2004, eram 902 empresas cadastradas na Bolsa de Resíduos com 21 estados participantes. Em 2008, esses números estão em 2.103 empresas cadastradas com 24 estados participantes, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. O distribuição das empresas em termos de porte são: Micro 41%, Pequenas 41%, Média 12% e 6% Grande. Com relação ao perfil das empresas, temos: Indústrias 46%, Recicladoras 26%, Intermediários 20% e Sucateiros 8%. Entre abril de 2002 e maio de 2004, foram 73.000 acessos a página da Bolsa de Resíduos com 255 ofertas/procuras por resíduos. No período de abril de 2002 a maio de 2008, foram cerca de 200.000 acessos, ou uma média de 100 acessos diários, com 752 ofertas, sendo 66% ofertados e 34% procurados. O ranking dos produtos ofertados é: plásticos, resíduos químicos, metal/metalúrgico, borracha e madeira/mobiliário. Já o 105 ranking dos produtos procurados é: plásticos, resíduos químicos, metal/metalúrgico, madeira/mobiliário e outros. As quantidades e valores envolvidos no período de abril a julho de 2002103, foram de aproximadamente R$ 84 milhões, para uma quantidade de 17,3 mil toneladas, referentes aos resíduos ofertados na bolsa e R$ 19 milhões, para uma quantidade de 36,3 mil toneladas, referentes aos resíduos procurados na bolsa, e efetivamente 17% dos negócios foram negociados. Estima-se que o comércio de resíduos industriais movimente em torno de R$ 250 milhões por ano no Brasil, mas tem potencial para chegar a R$ 1 bilhão por ano. No Brasil104, o material reciclado também está trazendo lucro também para as grandes empresas. Além de preservar o meio ambiente, reciclagem virou bom negócio para empresas como a Embraer e a CST. Empresas como a Embraer estão aprendendo a usar a reciclagem não só para preservar o meio ambiente como para ganhar dinheiro. Quem visita a sede da companhia, em São José dos Campos, percebe como a fabricante de aviões está reaproveitando todo tipo de material. Em uma área destinada ao material de reciclagem, há uma montanha de resíduos metálicos, como limalhas de ferro e titânio. Ao lado, computadores antigos, motores e compressores sem uso. Um tanque recebe óleos da cozinha e outro, óleos industriais. Toneladas de lixo comum (papel, plástico e espumas) são separados, prensados e acondicionados em fardos. Todo esse material é encaminhando a empresas especializadas que o transformam em vários produtos, de ração animal a combustível. O aproveitamenteo de resíduos diversos rendeu à Embraer uma receita adicional de US$ 6,6 milhões em 2006, um aumento de 57,1% em relação ao ano anterior. Aqui, até o papel toalha usado nos banheiros é reciclado, diz Luiz Alberto Ladewig, gerente de suporte de serviços da Embraer. Segundo o executivo, a venda de resíduos existe na indústria desde meados da década de 1980, quando a legislação ambiental passou a vigorar no Brasil. De lá para cá, a indústria aperfeiçoou seus processos, e passou a adotar também a coleta seletiva para resíduos como papel, papelão e plástico. 103 Os dados foram extraídos da apresentação A Experiência da FIESP/CIESP no Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais, na VI-Semana do Meio Ambiente, Os Caminhos da Indústria, junho de 2004. 104 Artigo – Material reciclado traz lucro para as empresas, Jornal O Estado de São Paulo, Caderno de Negócios, 20/06/2007, p. B20. 106 Resíduos como a limalha de titânio, proveniente da fabricação de turbinas de aeronaves, são nobres: paga-se R$ 45 por quilo do material, dez vezes mais que outro resíduo nobre, o alumínio (R$ 4,5 o quilo). O papel vale R$ 0,08 o quilo, mas é gerado em volume na Embraer: 50 toneladas/mês. Resíduos perigosos, como solventes, são encaminhados para a indústria cimenteira, onde alimentam os alto fornos. A Embraer já consegue reciclar 79,6% dos resíduos que produz: foram 9,9 mil toneladas em 2006. Um índice considerado alto, em relação ao destino que é comumente dado ao lixo: o Brasil só recicla cerca 18% dos resíduos sólidos urbanos, segundo dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). Na Embraer, o que não é reciclado é um lixo ainda difícil de reaproveitar, como sobras de alimentos e papel higiênico. Na CST Arcelor Brasil, o reaproveitamento dos resíduos do processo de produção do aço rendeu US$ 41,6 milhões aos cofres da companhia em 2007. A empresa é considerada referência em aproveitamento de resíduos no setor siderúrgico: recicla 95% dos resíduos da produção de aço. As sobras do processo siderúrgico, lama, poeira, escória, são usadas como matéria-prima em doze diferentes indústrias. Servem para pavimentar estradas, na cerâmica, indústria química e agricultura, na correção de acidez do solo. Para garantir o uso correto dos resíduos nessas aplicações, a CST firmou parcerias junto a universidades e institutos de pesquisa. Foram R$ 2 milhões investidos em pesquisa e desenvolvimento na área de co-produtos nos últimos cinco anos. Não temos dúvida de que esse investimento traz retorno, diz Luiz Alberto Rossi, gerente de meio ambiente da CST. 4.3 PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL DO SEBRAE-SP: O Sebrae-SP tem progamas para o lixo, que orientam as empresas quanto à destinação, considerando o tipo de resíduo gerado. Na maioria das empresas, materiais que não servem mais são logo descartados. Mas esses resíduos podem virar lucro ao invés de problemas. O programa Sistema de Gestão Ambiental (SGA) do Sebrae-SP foi lançado em Setembro de 2007, ele já conta com 107 empresas dos mais diversos setores: oficina mecânica, plástico, cerâmica, couro e calçado, lavanderia industrial, entre outros. O programa surgiu com o conceito de “melhoria no sistema de gestão da empresa visando gerenciar também seus aspectos ambientais, baseado na norma NBR ISO 107 14001105”. Os princípios do programa eram construção conjunta e visão participativa, realizou a capacitação dos consultores nos quesitos ISO 14001, Projeto-Piloto e Auditorias Supervisionadas, envolvendo os setores de plástico, brinquedos educativos, oficinas mecânicas e cerâmica estrutural. Os associados do Sebrae são as micro e pequenas empresas106, lembrando que para esses portes de empresas, quaisquer ganhos ou reduções de perdas é determinante para a sustentabilidade. E também que essas representam cerca de 98% do universo de 4,5 milhões de empresas e empregam cerca de 60% da mão-de-obra. São responsáveis por 43% da renda gerada nos setores industrial, comercial e de serviços e contribuem com 20% do PIB nacional. As empresas participantes foram selecionadas de acordo com os setores considerados os que apresentam mais resíduos poluentes. “O principal objetivo é ensinar como fazer a coleta e como se livrar dos resíduos”, segunda a coordenadora do programa Dorli Martins. Os micro e pequenos empresários estão preocupados com a questão ambiental, mas muitos ainda não têm acesso a informações adequadas. No evento realizado em 26 de Junho de 2008 na própria sede do Sebrae-SP, tive a oportunidade de assistir a diversas palestras relacionadas ao Sistema de Gestão Ambiental lançado pelo Sebrae-SP. O slogan do evento foi: “Não importa o tamanho da sua empresa. O importante é o tamanho do compromisso que ela tem com o meio ambiente”. Os principais tópicos discutidos foram: 1. Resultado do Projeto Piloto do Sistema de Gestão Ambiental do Sebrae-SP; 2. Estudo de Caso da Coopermax (Cooperativa de reciclagem de resíduos); 3. Análise de Ciclo de Vida – ACV; 4. Histórico sobre o Programa de Gestão Ambiental do Sebrae no DF. O Projeto Piloto de Gestão Ambiental, partiu do entendimento da metodologia e dos processos das empresas, abrangendo o processo produtivo, ou seja, a entrada de insumos, o processamento e a saída de produtos, resíduos, efluentes e emissões. Em seguida, a montagem do diagnóstico, identificando os principais aspectos e impactos 105 A série de normas ISO 14000 (melhoria contínua) relacionam-se com o Sistema de Gestão Ambiental. Palestra sobre Desenvolvimento Sustentável da Proferssora Sílvia Maria Sartor no Sebrae-SP em junho de 2008. 106 108 ambientais significativos, os requisitos legais e regulamentações, riscos para a saúde e segurança dos trabalhadores, e finalmente oportunidades competitivas. Um exemplo prático do universo de 175 empresas pertencentes a 8 setores do Projeto Piloto, é uma indústria de brinquedos de madeira, atráves da consultoria que estudou o seu processo produtivo (produtos desejados e não desejados-resíduos), perceberam que seria possível reduzir o desperdiçio, planejando e melhorando a produção. Uma simples idéia foi mudar a forma de corte dos brinquedos na tábua de madeira, aproveitando melhor todo o espaço. Somente com essa alteração de corte, foi possível aumentar a produção em cerca de 20%, e ao mesmo tempo reduzir os resíduos gerados pelo processo produtivo. Esse caso serve como exemplo para as demais empresas, como uma forma de otimização dos recursos disponíveis, já o que é jogado fora em algum momento foi um custo no processo produtivo. Mas serve também para desmistificar os custos elevados relativos às questões ambientais, e principalmente para conscientizar os empresários sobre a importância do crescimento da produção andar na mesma direção da proteção ao meioambiente. O estudo de caso da Coopermax107 também é muito interessante, ela é uma cooperativa de prestação de serviços e produção de materiais recicláveis, que iniciou suas operações em 2000 com o apoio de voluntários, da iniciativa privada (patrocínio Petrobrás Fome Zero em 2005) e do poder público (capacitação de 40 pessoas). Realiza a coleta seletiva em 40% das residências do Município de São João da Boa Vista e em 8 empresas que fazem doações. A cooperativa conta com 33 cooperados que fazem a coleta, transporte, triagem e prensagem em fardos para venda aos sucateiros. Planeja ainda vender o material direto para as recicladores, para obter um preço de venda melhor, sem passar pelos sucateiros. Os objetivos para implantar o Sistema de Gestão Ambiental na empresa, foram: adequar-se às Leis e Normas Ambientais; preservar os recursos naturais; permanência no mercado; diminuir a geração de resíduos; racionalizar o uso de água e energia; melhor 107 Apresentação – Estudo de Caso Coopermax, Eliane Avilla Vasconcelos no Sebrae-SP em junho de 2008. 109 aproveitamento da matéria-prima; redução dos custos de produção; e melhoria da imagem da empresa. O diagnóstico do Sebrae-SP foi: grande desperdício de matéria-prima; recebimento de material orgânico; local sem pavimentação (poeira); matéria-prima armazenada à ceú aberto; alto consumo de água e energia; geração de resíduos em torno de 25% da produção; controle de documentos (licenças); e emissões aéreas (ruídos da prensa e esteira). Finalmente as recomendações do Sebrae-SP abrangeram três importantes áreas: 1. Gestão de resíduos, efluentes e emissões: melhor triagem dos materiais recicláveis; escolher melhor os fornecedores ou capacitá-los no fornecimento de matérias-primas mais bem segregadas; 2. Gestão da segurança e saúde ocupacional: disponibilizar procedimentos formalizados e documentos em casos emergenciais aos cooperados; delimitar as áreas de trabalho com marcações no piso; e sinalizar os extintores de incêndio; 3. Gestão de insumos: controlar, registrar e criar indicadores de consumo dos insumos; economizar água, com captação e uso da água da chuva; economizar energia, com o controle do uso do maquinário e dar manutenção constante; e melhor aproveitamento da iluminação natural Outro tema relativamente novo e muito relevante é a Análise do Ciclo de Vida – ACV dos produtos108, essa análise parte do princípio que todos os produtos, independente de que material seja feito, gera um impacto no meio ambiente, seja em função de seu processo produtivo, das matérias-primas consumidas ou pelo seu uso ou disposição final. Essa ferramenta, surgida inicialmente na década de 70 nos Estados Unidos e Europa, permite avaliar previamente todos os possíveis impactos ambientais durante todo o ciclo de vida de um produto. Essa ferramenta tem como principais objetivos: fornecer uma visão mais completa das interações entre uma atividade produtiva e o meio ambiente; melhor compreensão da natureza interdependente e geral das consequências ambientais das atividades humanas; fornecer aos tomadores de decisão e/ou formadores de opinião, parâmetros para definir os impactos ambientais dessas atividades e identificar oportunidades de melhorias ambientais. Resumidamente, a ACV é de extrema importânca para identificação dos possíveis impactos 108 Apresentação – Análise do Ciclo de Vida - ACV, Vera Lúcia P. Salazar no Sebrae-SP em junho de 2008. 110 ambientais, e também permite optar por matérias-primas e processos produtivos com menor impacto ambiental possível. Há algumas normas da série ISO 14000 relativas a ACV, como: ISO 14040 de 1997, estabelece princípios e requisitos para a realização e divulgação dos resultados de estudos de ACV; ISO 14041 de 1998, detalha os requisitos para estabalecer objetivos e o escopo de estudo de uma ACV e descreve as etapas de análise de inventário; ISO 14031 de 2000, apresenta os princípios gerais para realização de Avaliação de Impacto, os componentes obrigatórios, a seleção das categorias de impacto, descreve as etapas de classificação e de caracterização; ISO 14043 de 2000 também, apresenta requisitos e recomendações para interpretação dos resultados da Análise de Inventário ou Avaliação de Impacto. A norma ISO 14040, estabelece que a ACV de produtos deve considerar: 1. Definição do objetivo (propósito); 2. Escopo do trabalho (limites); 3. Análise do inventário (entradas insumos, saídas emissões, efluentes e resíduos, e coleta de dados); 4. Avaliação do impacto (saúde ambiental, humana ou exaustão de recursos naturais); 5. Interpretação dos resultados (principais problemas, avaliação e conclusões). As principais categorias de impacto são: consumo de recursos naturais; consumo de energia; efeito estufa; acidificação; toxicidade humana; ecotoxicidade; nutrificação ou eutrofização e redução da camada de ozônio. Finalmente foi apresentado um breve histórico sobre o Programa de Gestão Ambiental do Sebrae no Distrito Federal109. Esse programa é anterior ao do Sebrae-SP, porém seguindo os mesmos princípios e objetivos, de levar aos empresários informações sobre gestão ambiental, por meio de palestras, treinamento básico e formação de consultores para atuarem na aplicação de metodologias de gestão ambiental nas empresas. O principal objetivo é orientar os empresários na identificação de desperdícios no processo produtivo e na proposição de ações corretivas, visando diminuir custos de 109 Apresentação – Programa Sebrae de Gestão Ambiental, James Hilton Reeberg, Gerente da Unidade de Acesso a Inovação Tecnológica do Sebrae no Distrito Federal, no Sebrae-SP em junho de 2008. 111 produção, aumentar a produtividade e minimizar os impactos ambientais. No período de 2003 a 2006, a metodologia foi aplicada em 754 empresas no Distrito Federal em 54 segmentos empresariais. Brevemente vale ressaltar alguns estudos de caso que resultaram em redução de desperdícios ou produtivide para as empresas. 1. Marcenaria: redução de perdas com a implantação do Sistema de Orientação do Plano de Corte, como resultado a empresa saiu de uma perda anual de R$ 15.750,00 para um ganho de R$ 23.400,00; 2. Farmácia Homeopática: redução anual da perda de água depois da Consultoria, de cerca de 36%; 3. Confecção: redução de perdas no corte de tecidos, de 46% para 22%, além do ganho econômico potencial com o processo de compras direto na fábrica; 4. Pizzaria: 6,6% de redução do consumo de energia elétrica pela mudança no modo de utilização da refrigeração; 5. Restaurante: redução do desperdício de alimentos no buffet, ganho anual de R$ 33.830,00, redução do desperdício do buffet de frios, ganho anual de R$ 69.000,00 e redução do desperdício de chopp, ganho anual de R$ 99.600,00; O programa do Sebrae-DF é baseado nos 5 Menos Que São Mais, menos água, menos energia, menos matéria-prima, menos lixo e menos poluição que podem torna-se em mais lucro, mais competitividade, mais satisfação do consumidor, maior produtividade e mais qualidade ambiental. Possue diversas publicações sobre o tema, cartaz, folder, revista/gibi, vídeo, CD rom e livro, e repassou a metodologia de redução de desperdício para diversos estados: Rondônia, Rio Grande do Norte, Bahia, Amapá, Alagoas, Piauí, Distrito Federal, Sergipe, Acre, Espírito Santo, Mato Grosso Sul, Tocantis, Mato Grosso, São Paulo, Paraíba e Maranhão. Segundo a Secretaria de Agricultura de São Paulo110, o Brasil joga fora anualmente R$ 12 bilhões em alimentos, os Supermercados jogam fora 13 milhões de toneladas de alimentos por ano, equivalente a R$ 13 bilhões, e as residências jogam fora cerca de 30% de todos os alimentos comprados. 110 In Apresentação – Programa Sebrae de Gestão Ambiental, James Hilton Reeberg, Gerente da Unidade de Acesso a Inovação Tecnológica do Sebrae no Distrito Federal, no Sebrae-SP em junho de 2008. 112 Segundo o Sebrae-DF, apesar dos avanços já atingidos, os principais fatores limitantes para a redução dos desperdícios são: 1. Baixa capacitação gerencial; 2. Carência de informações operacionais relacionadas aos desperdícios e aos resíduos gerados, inclusive sobre o controle de processos e gastos de matériaprima e insumos; 3. Falta de metodologia para avaliar os resultados das ações de redução de desperdícios implementadas; 4. Controle de estoque deficiente para matéria-prima e insumos; 5. Carência de capacitação de mão-de-obra; 6. Insuficiência de profissionais capacitados no mercado interno para as atividades de manutenção preventiva; 7. Deficiência de comunicação entre os arranjos produtivos, que podem trabalhar processos complementares aproveitando os resíduos gerados pelas indústrias/empresas. 113 Capítulo 7 - Conclusão Mais uma vez na história, o Capitalismo parece transformar uma grave crise, a crise ambiental, em oportunidade para novos negócios, com o surgimento de um novo setor, o mercado de reciclagem de resíduos. As cifras calculadas pela não reciclagem (R$ 4,6 bilhões) para resíduos sólidos urbanos, pelo potencial de reciclagem dos resíduos industriais (US$ 1,0 bilhão), e principalmente pelo desperdício de alimentos (R$ 12 bilhões), são uma grande vergonha, e ao mesmo tempo oportunidade para o nosso país. Comparando o Brasil com os países desenvolvidos, ainda estamos atrasados nesse setor. Há várias iniciativas isoladas em andamento, principalmente conduzidas pelo setor privado, como a Fiesp, Sebrae e Cempre e empresas de todos os portes. O setor público no Brasil precisa ser mais atuante nesse setor, como de costume, se mostra lento e ineficiente, com algumas poucas iniciativas isoladas, ou seja, uma atuação muito tímida e consideradas por muitos autores, ainda omissa. Por outro lado, a sociedade brasileira ainda precisa avançar muito na conscientização e organização de cada indivíduo com relação à importância das decisões de consumo e seus impactos ambientais, o que contribuirá muito para o crescimento do setor de reciclagem de resíduos no Brasil, trazendo benefícios ambientias, econômicos e sociais. Pela quantidade de resíduos gerados diariamente no Brasil, existe um grande potencial de negócios nesse setor, pois atualmente o índice total de reciclagem está em torno de somente 18%. Sem mencionar, que há atualmente algo entre 500 mil e 1 milhão de catadores espalhados pelo país, a maioria em situação de clandestinidade, que precisam ser incluídos e organizados na forma de cooperativas com um modelo de autogestão profissional. Apesar do avanço dos índices de reciclagem dos principais materiais recicláveis desde a publicação da primeira edição (1997) dos “Bilhões Perdidos no Lixo”, e ainda comparando os índices em relação aos países mais desenvolvidos, há ainda um grande potencial a ser aproveitado, ficou evidente que existem alguns fatores impeditivos para o desenvolvimento desse mercado no Brasil, os quais são destacados abaixo: 114 1. Falta de foco das prefeituras nos programas de coleta seletiva, apesar do crescimento de 24% no número de municípios que implantaram a coleta seletiva, de 327 para 405, num total de cerca de 5.500 municípios brasileiros, representam somente 7%. Além disso, a escala e o orçamento ainda são muito pequenos, principalmente na cidade de São Paulo, que não chega a atingir 1% de todo o lixo gerado, deixando esse trabalho para o nosso contingente de catadores. 2. Grande quantidade de intermediários/atravessadores, a quantidade varia para cada tipo de material. Essa estrutura de mercado trava também o desenvolvimento do mercado de reciclagem pois eleva os preços finais dos materiais para a indústria, e por outro lado, impede o avanço das cooperativas na cadeia produtiva. 3. Falta de gestão profissional nas cooperativas, ainda persiste na maioria das cooperativas, muitas delas não seguem os princípios do cooperativismo, pois geralmente são geridas por representantes de órgãos públicos ou instituições não governamentais, não permitindo assim o sistema de autogestão, e também pela falta de capacitação e informação dos cooperados. Essa é uma preocupação também do lado da indústria, à medida que evita a proximidade da mesma com as cooperativas, pois possíveis passivos trabalhistas e ambientais podem ser de co-responsabilidade da mesma. 4. Lobby das empresas responsáveis pela coleta e disposição dos resíduos, os contratos de limpeza urbana são milionários, e os seus custos só tendem a crescer principalmente pelo esgotamentos dos aterros sanitários existentes. Com isso, os novos aterros serão mais distantes e o custo de transporte também o será. Portanto, essas poucas empresas possuem exercem uma grande influência sobre as Prefeituras, ou melhor, resistência contra a reciclagem dos resíduos. 5. Maior pressão e atuação da sociedade na coleta seletiva e no consumo consciente, o setor privado já percebeu que a gestão ambiental traz reduções de custos e produtividade, mas há muito a ser feito por eles ainda, como a Análise de Ciclo de Vida para cada produto novo, por exemplo. Porém, a sociedade precisa se conscientizar da 115 importância do consumo consciente, da separação os materiais recicláveis, e finalmente exercer pressão sobre as autoridades municipais para que a coleta seletiva mereça a devida atenção. 6. Pouco interesse pelo lixo orgânico para geração de energia e adubo, o lixo orgânico, apesar de representar cerca de 60% de todos os resíduos sólidos urbanos gerados, muitas vezes é deixado de lado das discussões e estudos. Entretanto há nele um grande potencial praticamente inexplorado, seja através das usinas de compostagem para fabricação do adubo, da incineração ou da utilização do gás metano para geração de energia elétrica, atualmente reciclamos somente cerca de 1,5%. 7. Falta de uma Política Nacional de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, o Projeto de Lei está em tramitação há 15 anos, e somente recentemente a Comissão Especial da Câmara acolheu o parecer relacionado às práticas, tratamento e destinação dos resíduos sólidos para avaliação em caráter de urgência. Essa regulamentação em nível nacional é imprescindível para se criar um novo paradigma de sustentabilidade ambiental, para que o setor possa se organizar, atrair novos investimentos e, consequentemente crescer de forma inclusiva, principalmente para os catadores. 8. Infra-estrutura capitalista para o setor (negócio lucrativo/leis ambientais), como há em muitos países desenvolvidos, principalmente na Europa, Estados Unidos e Japão, com a participação de todos os agentes públicos, privados e da sociedade. No Brasil essa infra-estrutura ainda é incipiente, a maioria das ações ou iniciativas ainda são isoladas, evidenciando esse negócio no Brasil ainda não é tratado de forma estruturada e capitalista. O avanço na conscientização da importância, necessidade e benefícios ambientais, econômicos e sociais da redução do desperdício, da coleta seletiva e da reciclagem de resíduos, por parte de todos os agentes, associada à maior organização da sociedade civil, pressionando as autoridades públicas ao cumprimento do seu papel, alavancarão o mercado de reciclagem no Brasil, levando os nossos índices de reciclagem na direção dos índices europeus. 116 Referências Bibliográficas ANTAS JR., R. M. (Org.). Desafios do Consumo. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002. SOUZA, A. R.; CUNHA, G. C.; DAKUZAKU, R. Y. (Orgs.). Uma Outra Economia é Possivel. Paul Singer e a Economia Solidária. São Paulo: Contexto, 2003. DOWBOR, L. Democria Econômica. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2007. DOWBOR, L. A Reprodução Social. São Paulo, 2001. CALDERONI, Sabetai. Os Bilhões Perdidos no Lixo. São Paulo: Editora Humanitas, 2003. 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Cresce o uso da biomassa para geração de energia. São Paulo, Caderno de Negócios, p. B21, 30/04/2008. 117 Relatórios da Organização das Nações Unidas. 2007, disponível em http://www.undp.org/ The Millennium Project - disponível em http://www.pnud.org.br/milenio/numeroscrise.php Relatório Planeta Vivo WWF, 2002 - disponível em http://www.wwf.org.br CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem). Fichas Técnicas dos principais materiais recicláveis; Informativos 2001-2008; Pesquisas Ciclosoft 2004, 2006 e 2008 – disponível em http://www.cempre.org.br/ FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A Experiência da FIESP/CIESP no Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais, na VI-Semana do Meio Ambiente, Os Caminhos da Indústria, junho de 2004 – disponível em www.fiesp.com.br FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). 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