Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça ECOLOGIA, POLÍTICA E A SUSTENTABILIDADE Dois antigos reis gostavam de jogar xadrez, com o vencedor exigindo um prêmio do perdedor. Após uma partida, o rei vencedor pediu ao rei perdedor que pagasse colocando um grão de trigo na primeira casa do tabuleiro, dois grãos na segunda, quatro na terceira, e assim por diante, sempre dobrando na casa seguinte o número de grãos da casa anterior, até que todas as 64 casas fossem preenchidas. O rei perdedor, achando que estava se safando, concordou com prazer. Foi o maior erro que cometeu. Ele levou seu reino à bancarrota, pois o número de grãos de trigo que prometera era provavelmente maior do que todo o trigo que já fora colhido! Essa história fictícia ilustra o conceito de crescimento exponencial, em que uma quantidade aumenta a uma taxa constante por unidade de tempo, tal como 2% ao ano. O crescimento exponencial é enganoso. Ele começa devagar, mas, após duplicar apenas algumas vezes, aumenta para números gigantescos, pois cada duplicação é maior do que o total de todo o crescimento anterior. Entre 1950 e 2011, a população mundial aumentou de 2,5 bilhões para 7 bilhões. A menos que as taxas de mortalidade aumentem consideravelmente, cerca de 8 a 10 bilhões de pessoas habitarão a Terra até o fim deste século. O gráfico mostra uma curva em J do crescimento exponencial anterior da população, com projeções até 2100. O crescimento exponencial começa devagar, mas, conforme o tempo passa, a curva se torna cada vez mais acentuada. Aqueles que não acreditam que a Terra está superpovoada apontam que a expectativa de vida média de 7 bilhões de pessoas é maior hoje que já foi em qualquer época do passado, e está previsto que aumentará ainda mais. De acordo com essas pessoas, o mundo pode suportar mais alguns bilhões de habitantes. Também acreditam que o crescimento populacional representa o recurso mais valioso do mundo para solucionar www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 1 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça problemas ambientais e outros, e para estimular o crescimento econômico em razão do aumento de consumidores. Alguns consideram qualquer forma de regular a população uma violação de credos religiosos. Outros veem isso como uma invasão da privacidade e liberdade pessoal para se ter o número de filhos que quiser. Determinados países em desenvolvimento e alguns membros das minorias de países desenvolvidos consideram o controle populacional uma forma de genocídio, cujo intuito é impedir que sua economia e suas forças políticas cresçam. Já os que propõem a diminuição e uma possível interrupção do crescimento populacional têm uma visão diferente. Elas apontam que falhamos ao suprir as necessidades básicas de cerca de um em cada cinco indivíduos. Aqueles que propõem a diminuição no crescimento populacional advertem que há duas sérias consequências caso as taxas de natalidade não declinem de forma drásticas. Primeira, em algumas áreas, a taxa de mortalidade pode aumentar em razão do declínio das condições de saúde e ambientais (algo que acontece hoje em determinadas regiões da África). Segunda, o uso de recursos e os danos ambientais podem se intensificar conforme mais consumidores aumentam suas já grandes pegadas ecológicas (é a quantidade de água e terra biologicamente produtiva necessária para fornecer a cada pessoa os recursos que ela usa e para absorver os resíduos gerados com o uso desses recursos) em países desenvolvidos e em alguns países em desenvolvimento, como China e Índia, que estão passando por um rápido crescimento econômico. Os que defendem este ponto de vista reconhecem que o crescimento populacional não é a única causa desses problemas. No entanto, eles argumentam que a adição de centenas de milhões de pessoas em países desenvolvidos e bilhões de pessoas em países em desenvolvimento só podem intensificar os problemas ambientais e sociais existentes. Estes analistas acreditam que as pessoas devem ter liberdade de gerar quantos filhos quiserem, mas somente se isso não reduzir a qualidade de vida das pessoas agora e no futuro, seja pelo enfraquecimento da capacidade da Terra de sustentar a vida, seja por rupturas sociais. Existe, então, esta perspectiva que reconhece o problema ambiental, mas atribui ao fator demográfico um papel secundário, procurando situar a questão em termos de instituições socioeconômicas, padrões de acesso à terra e desigualdades sociais. Neste veio também existem algumas tentativas de inverter os termos da equação, atribuindo à pressão sobre os recursos o papel positivo de promover o progresso técnico. A relação entre população e meio ambiente vem sendo interpretada predominantemente através da abordagem neomalthusiana, segundo a qual o equilíbrio ambiental apresenta-se como produto do tamanho e crescimento da população, havendo assim, uma relação direta entre crescimento demográfico e pressão sobre recursos naturais. Disso resulta a conclusão imediata da necessidade do controle populacional. Assim, para a linha de pensamento neomalthusiana, apenas a dimensão demográfica é considerada, colocando-se na esfera do crescimento populacional o centro dos problemas econômicos, sociais e ambientais. A redução do crescimento da população dos países subdesenvolvidos bastaria para eliminar os problemas ambientais, além de contribuir para uma diminuição da população pobre. Vivemos em um mundo dos que têm e dos que não têm. Apesar de o crescimento econômico ter sido multiplicado por cerca de oito entre 1950 e 2010, praticamente um em www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 2 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça cada dois trabalhadores no mundo tenta sobreviver com uma renda menor que US$ 2 por dia. Essa pobreza afeta a qualidade ambiental, pois, para sobreviver, muitos pobres exaurem e degradam as florestas, os campos, o solo e a vida selvagem local. Estima-se que as atividades humanas têm provocado a extinção prematura das espécies terrestres à taxa exponencial de 0.1% a 1,0% ao ano – uma perda irreversível da grande variedade de formas de vida, ou biodiversidade, da Terra. Em diversas partes do mundo, florestas, campos, áreas úmidas, recifes de corais e superfície do solo de plantações continuam a desaparecer ou são degradadas conforme a pegada ecológica humana se espalha exponencialmente por todo o globo. Há uma crescente preocupação de que o crescimento exponencial das atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de florestas, mudará o clima da Terra durante este século. Isso poderia arruinar algumas áreas agrícolas, modificar as reservas hídricas, alterar e reduzir a biodiversidade e influenciar a economia de diversas partes do mundo. Principais Problemas Ambientais e Suas Causas Básicas As principais causas dos problemas ambientais são: crescimento populacional, desperdício de recursos, pobreza, falta de responsabilidade ambiental e ignorância ecológica. Enfrentamos uma série de problemas conjuntos envolvendo o meio ambiente e os recursos naturais. O primeiro passo para tratar esses problemas é identificar suas causas básicas. Muitos consumidores em países desenvolvidos têm se tornado viciados em comprar cada vez mais, em busca de realização e felicidade. O termo affluenza é empregado para descrever o vício insustentável do superconsumismo e materialismo, refletido no estilo de vida de consumidores ricos nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos. Tal atitude baseia-se na premissa de que adquirir mais produtos pode, deve e realmente compra a felicidade. A maioria das pessoas infectadas com esse virulento e contagioso vírus do comprar até não poder mais apresenta alguns sintomas indicadores. Elas se sentem exaustas pelo excesso de trabalho, apresentam altos níveis de dívidas e falência, sofrem de crescente estresse e ansiedade, apresentam uma saúde em queda e sentem-se frustradas na busca por acumular cada vez mais bens. A globalização e a propaganda global estão disseminando o vírus pelo mundo. A affluenza acarreta um impacto ambiental enorme. São necessários cerca 27 tratores carregados de recursos para suprir um norte-americano por um ano, ou 7,9 bilhões de cargas de tratores por ano para suprir toda a população dos Estados Unidos. Se enfileirados, esses tratores conseguiriam ultrapassar o Sol. A pobreza é uma grande ameaça à saúde humana e ao meio ambiente. A maioria das pessoas pobres no mundo não tem acesso às condições básicas para uma vida saudável, produtiva e digna. Seu cotidiano limita-se a encontrar alimento, água e abastecimento suficientes para a sobrevivência. Desesperadas para que a terra produza alimento suficiente, muita dessas pessoas destroem e degradam as florestas, o solo, os pastos e a vida selvagem em troca da sobrevivência a curto prazo. Elas não podem se dar ao luxo de se preocupar com a qualidade e a sustentabilidade do meio ambiente a longo prazo. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 3 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça A pobreza também afeta o crescimento populacional. As pessoas pobres geralmente têm muitos filhos, como uma forma de segurança econômica. As crianças ajudam a buscar suprimentos (principalmente madeira) e água potável, cuidar de plantações e criações, trabalhar e pedir esmolas nas ruas. Os filhos também ajudam seus pais a sobreviver na velhice, antes de morrerem, geralmente aos 50 anos, nos países mais pobres. Os necessitados não dispõem de planos de previdência, seguridade social ou planos de saúde financiados pelo governo. Muitas das pessoas extremamente pobres no mundo morrem cedo em decorrência de problemas de saúde de fácil prevenção. O primeiro deles é a desnutrição, causada pela falta de proteínas e outros nutrientes necessários a uma boa saúde. O segundo problema é a crescente susceptibilidade a doenças infecciosas que normalmente não são fatais, como a diarréia e o sarampo, causadas pelo enfraquecimento ocasionado pela desnutrição. Um terceiro fator é a falta de acesso à água limpa e potável. Outro problema refere-se a graves doenças respiratórias e morte prematura em decorrência da inalação de poluentes, dentro da própria casa, que são produzidos com a queima de madeira ou carvão para aquecimento ou para cozinhar em fogo aberto ou em fogões pouco ventilados. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, esses quatro fatores causam a morte prematura de pelo menos 7 milhões de pessoas pobres a cada ano ou cerca de 800 pessoas por hora. A morte prematura de cerca de 19.200 seres humanos por dia é equivalente à queda diária de 48 aviões jumbo jet, com capacidade para 400 passageiros, completamente lotados e sem sobreviventes. Dois terços dessas mortes atingem crianças com menos de cinco anos de idade. É raro os noticiários darem cobertura a essa recorrente tragédia humana. A contribuição relativa dos diferentes países para os diversos problemas ambientais apresenta-se de forma diferenciada. Atualmente, pode-se concluir que os países de industrialização mais avançada possuem a maior parcela de responsabilidade, provocando a maioria dos problemas ambientais mais sérios, como o efeito estufa, a diminuição da camada de ozônio e o acúmulo de lixo tóxico. O crescimento da população, aliado a um consumo excessivo e a uma economia globalizada, tem trazido grandes preocupações por parte de ambientalistas, sociólogos, ecologistas, dentre outros setores. O planeta está no seu limite de suporte e seu capital natural/humano acaba sofrendo profunda alteração, cujos impactos socioambientais vão desde fome, miséria, desigualdade, violência e desemprego às reações adversas da natureza que por sua vez vêm castigando varias regiões em nível global. O capital natural da Terra vem sendo ameaçado a cada dia devido aos avanços de fronteira econômica, expansão agrícola, assentamentos humanos desordenados, desmatamentos e especulações imobiliárias que, por falta de projeto de prevenção, acabam remediando os danos depois de fragmentá-los. E o custo para inverter o problema é tão alto que fica impossível reconstruir os ecossistemas agredidos. Nessa abordagem, o modo como nos inserimos no ambiente resulta em um conjunto de relações sociais que, por sua vez, constrói um tipo específico de relacionamento com a dimensão natural. Relação essa, que se encontra em total descompasso em virtude do padrão societário atual. A riqueza não precisa levar à degradação ambiental. Pelo contrário, ela pode fazer com que as pessoas se preocupem mais com a qualidade do meio ambiente e ainda provê o www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 4 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça dinheiro para desenvolver tecnologias para reduzir a poluição, degradação ambiental e desperdício de recursos. Até aproximadamente 12 mil anos, éramos na maioria caçadores e coletores que se moviam conforme a necessidade de encontrar alimento suficiente para a sobrevivência. A partir daí, três grandes mudanças culturais ocorreram: a revolução agrícola (que começou há 10/12 mil anos), a revolução industrial-médica (iniciada há cerca de 275 anos) e a revolução da informação-globalização (iniciada há cerca de 50 anos). Essas importantes mudanças culturais aumentaram de forma considerável nosso impacto no meio ambiente. Por meio dessas mudanças, passamos a dispor de muito mais energia e novas tecnologias para alterar e controlar o planeta, visando atender a nossas necessidades básicas e crescentes desejos. Elas também permitiram a expansão da população humana, em especial devido à farta disponibilidade de suprimentos alimentares e maior expectativa de vida. Além disso, elevaram consideravelmente o uso de recursos, poluição e degradação ambiental, que ameaçam a sustentabilidade das culturas humanas a longo prazo. Recursos Do ponto de vista do homem, um recurso é qualquer coisa obtida do meio ambiente para atender necessidades e desejos. Como exemplos, temos alimentos, água, abrigo, produtos manufaturados, transporte, comunicação e lazer. Em nossa curta escala de tempo humana, classificamos os recursos materiais em perenes (como luz do sol, vento e água corrente), renováveis (como ar e água limpos, solo, produtos florestais e grãos) ou não renováveis (como combustíveis fósseis, metais e areia). Alguns recursos, como a energia solar, o ar limpo, o vento, a água superficial doce, o solo fértil e as plantas selvagens comestíveis estão diretamente disponíveis para uso. Outros recursos, como petróleo, ferro, água subterrânea e cultivos modernos, não estão disponíveis de pronto. Eles se tornam úteis para nós somente por meio de algum esforço e inventividade tecnológica. Por exemplo, o petróleo era um líquido misterioso até que aprendemos a encontrá-lo, extraí-lo e convertê-lo (refiná-lo) em gasolina, óleo de aquecimento e em outros produtos que pudéssemos vender a preços acessíveis. Em tais casos, os recursos são obtidos pela interação entre o capital natural e o capital humano. A energia solar é chamada de recurso perene, pois em uma escala de tempo humana ela é renovada continuamente. Isso também inclui formas indiretas de energia solar, como os ventos e a água corrente. Espera-se que esse capital solar dure pelo menos 6 bilhões de anos, conforme o Sol completa seu ciclo de vida. Em uma escala de tempo humana, um recurso renovável pode ser reposto bastante rápido (de horas a várias décadas) por meio de processos naturais, desde que não seja usado mais rapidamente do que é reposto. Os exemplos incluem florestas, campos, animais selvagens, água doce, ar limpo e solo fértil. Os recursos renováveis podem ser exauridos ou degradados. A taxa mais elevada na qual um recurso renovável pode ser usado indefinidamente sem reduzir seu suprimento disponível é chamada de produção sustentável. Quando excedemos a taxa de reposição natural de um recurso, as provisões disponíveis começam a diminuir - esse processo é conhecido como degradação ambiental. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 5 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça Entre os exemplos dessa degradação estão urbanização de terras produtivas, erosão excessiva da superfície do solo, poluição, desmatamento (remoção temporária ou permanente de grandes extensões de florestas para agricultura ou outros fins), uso exaustivo da água subterrânea, superutilização de campos pelo gado e redução das formas de vida selvagem (biodiversidade) em virtude da eliminação de habitat e espécies. Uma das causas de degradação ambiental é a superutilização dos recursos de acesso livre ou de propriedade comum. Ninguém é dono desses recursos, que estão disponíveis aos usuários gratuitamente ou a uma pequena taxa. Os exemplos incluem ar limpo, o oceano e seus peixes, aves migratórias, espécies selvagens, gases da baixa atmosfera e o espaço. Em 1968, o biólogo Carrett Hardin (1915-2003) chamou a degradação de recursos renováveis de acesso livre de tragédia dos recursos públicos. Isso acontece porque cada usuário pensa: "Se eu não usar este recurso, outra pessoa irá fazê-lo. O pouco que eu uso ou poluo não é suficiente para fazer diferença, e esses recursos são renováveis". Se forem poucos usuários, essa lógica funcionaria. No entanto, com o passar do tempo, o efeito acumulado de muitas pessoas tentando explorar um recurso de acesso livre acaba por exauri-lo ou arruiná-lo. Dessa forma, ninguém poderá se beneficiar dele - e essa é a tragédia. Uma solução é usar os recursos de acesso livre a taxas bem abaixo de suas taxas de produção sustentável pela redução da população, controlado acesso aos recursos ou ambos. Algumas comunidades estabeleceram regras e tradições para controlar o acesso aos recursos de propriedade comum, como viveiros em mares, pastos e florestas. Os governos também criaram leis e tratados internacionais para controlar o acesso a recursos de propriedade comum, como florestas, parques nacionais, pastagens e viveiros em águas litorâneas. Outra solução é transformar recursos de acesso livre em propriedade privada. O argumento é que, se você é dono de alguma coisa, tem mais chances de protegê-la. Isso parece bom, mas propriedade privada nem sempre é a resposta. Proprietários privados por vezes não protegem os recursos naturais que possuem quando esse objetivo entra em conflito com a proteção de seu capital financeiro ou com o aumento de seus lucros. Por exemplo, alguns proprietários de florestas podem ganhar mais dinheiro cortando as árvores, vendendo a terra degradada e investindo seus lucros em outras florestas ou empresas. Além disso, essa abordagem não é prática para recursos comuns globais – como a atmosfera, os oceanos, a maioria das espécies selvagens e as aves migratórias –, que não podem ser divididos e transformados em propriedade privada. Pegadas Ecológicas Fornecer recursos a cada pessoa e absorver os resíduos do uso desses recursos cria uma grande pegada ecológica ou impacto ambiental. A pegada ecológica per capita é a quantidade de água e terra biologicamente produtiva necessária para fornecer a cada pessoa os recursos que ela usa e para absorver os resíduos gerados com o uso desses recursos. As pegadas ecológicas da humanidade ultrapassam a capacidade ecológica da Terra de repor seus recursos renováveis e de absorver os resíduos em cerca de 21%. Se essas www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 6 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça estimativas estiverem corretas, estamos usando os recursos renováveis 21% mais rápido do que a Terra leva para renová-las. Em outras palavras, seriam necessários os recursos de 1,21 planetas Terra para sustentar indefinidamente nossa produção e consumo atuais de recursos renováveis. A pegada ecológica da maioria das pessoas nos países desenvolvidos é grande em virtude do enorme consumo de recursos renováveis. De acordo com os criadores do conceito de pegada ecológica, William Rees e Mathis Wackernagel, seria necessária uma área igual à cerca de quatro planetas Terra para que o resto do mundo atingisse os níveis de consumo dos Estados Unidos com a tecnologia existente. Os recursos não renováveis existem em uma quantidade ou estoque fixo na crosta terrestre. Em uma escala de tempo de milhões a bilhões de anos, os processos geológicos podem renovar tais recursos. Mas na escala de tempo muito mais curta dos seres humanos, de centenas a milhares de anos, esses recursos podem ser esgotados muito mais rápido do que são formados. Esses recursos extinguíveis incluem recursos energéticos (como carvão, petróleo e gás natural, que não podem ser reciclados), recursos minerais metálicos (como ferro, cobre e alumínio, que podem ser reciclados) e recursos minerais não-metálicos (como sal, argila, areia e fosfatos, que normalmente são muito difíceis ou muito caros para serem reciclados). Embora nunca esgotemos por completo um recurso mineral não renovável, ele se torna economicamente exaurido quando os custos da extração e uso do que restou ultrapassam seu valor econômico. Nesse momento, temos várias escolhas: tentar encontrar mais, reciclar ou reaproveitar os suprimentos existentes (exceto pelos recursos energéticos não renováveis, que não podem ser reciclados ou reaproveitados), desperdiçar menos, usar menos, tentar desenvolver um substituto ou esperar milhões de anos para que mais desse recurso seja produzido. Alguns recursos minerais não renováveis, como o cobre e o alumínio, podem ser reciclados ou reaproveitados para aumentar suas reservas. A reciclagem envolve a coleta de resíduos, seu processamento em novos materiais e a venda desses novos produtos. Por exemplo, latas de alumínio descartadas podem ser esmagadas e derretidas para fazer novas latas de alumínio ou outros produtos de alumínio que possam ser vendidos. O www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 7 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça reaproveitamento significa usar um recurso repetidas vezes sob a mesma forma. Por exemplo, garrafas de vidro podem ser coletadas, lavadas e reabastecidas várias vezes. A reciclagem de recursos metálicos não renováveis consome muito menos energia, água e outros recursos e gera muito menos poluição e degradação ambiental do que a exploração de recursos metálicos virgens. O reaproveitamento desses recursos consome menos energia e outros recursos e gera menos poluição e degradação ambiental do que a reciclagem. Um caminho para a sustentabilidade A sustentabilidade é a capacidade dos diversos sistemas da Terra, incluindo as economias e sistemas culturais humanos, de sobreviverem e se adaptarem às condições ambientais em mudança. A imagem a seguir mostra as etapas ao longo de um caminho para a sustentabilidade. A primeira etapa é conservar o capital natural da Terra – os recursos e serviços naturais que mantêm a nossa e outras espécies vivas e que dão suporte às nossas economias. O primeiro passo em direção à sustentabilidade é entender os componentes e a importância do capital natural e da renda natural ou biológica que ele fornece. Para os economistas, capital é a riqueza usada para sustentar uma empresa e gerar mais riqueza. O capital financeiro investido pode gerar renda financeira. Por exemplo, suponha que você invista US$ 100 mil e obtenha 10% de retorno sobre o valor aplicado. Em um ano você terá US$ 10 mil de rendimento e aumentará seu capital para US$ 110 mil. Por analogia, os recursos renováveis que compõem parte do capital natural da Terra podem nos fornecer uma renda biológica indefinidamente renovável, desde que não usemos esses recursos mais rápido do que a natureza os renova. Por exemplo, os serviços naturais, como a reciclagem de nutrientes e o controle do clima (incluindo a precipitação), renovam os recursos naturais, como a superfície do solo e os depósitos de água subterrâneos (aquíferos). A sustentabilidade significa sobreviver com essa renda biológica sem exaurir ou degradar o capital natural que a fornece. A segunda etapa em direção à sustentabilidade é reconhecer que muitas atividades humanas degradam o capital natural ao usar recursos normalmente renováveis mais rápido do que a natureza consegue renová-los. Por exemplo, em muitos locais, nossas atividades www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 8 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça provocam a erosão da superfície do solo antes de sua renovação. Retiramos água de alguns depósitos subterrâneos (aquíferos) mais rápido do que são renovados pela precipitação do sistema climático da natureza. Também cortamos (desmatamos) ou queimamos diversas florestas naturais para desenvolver uma cultura, criar gado e obter madeira e papel. Isso nos faz buscar soluções para esses problemas ambientais. Por exemplo, parar com o desmatamento de diversas florestas maduras poderiam ser uma solução. A busca por soluções frequentemente envolve conflitos e resolvê-los exige compromissos ou ajustes. Para obter madeira, papel e grãos, como o café, podemos promover o plantio de árvores e cafezais em áreas que já foram desmatadas ou degradadas. Ao buscar soluções, os indivíduos fazem a diferença. Às vezes, um indivíduo tem uma ideia para uma solução. Em outros casos, os indivíduos trabalham juntos para fazer as mudanças políticas ou sociais necessárias para resolver o problema. Alguns indivíduos encontraram formas de eliminar a necessidade de se usar árvores para produzir papel ao utilizar resíduos de grãos (como o arroz) e ao plantar espécies que crescem rapidamente para usar suas fibras na confecção de papel. Outros indivíduos atuam politicamente persuadindo as autoridades eleitas a acabar com o desmatamento de florestas antigas ao estimular a plantação de árvores e grãos em áreas que já foram desmatadas ou degradadas. Os cinco passos para a sustentabilidade devem ser fundamentados pela ciência consolidada – conceitos e ideias amplamente aceitos por especialistas em uma área específica das ciências naturais ou sociais. Por exemplo, a ciência consolidada nos diz que precisamos proteger e sustentar os diversos serviços naturais fornecidos pelas várias www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 9 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Fundamentos de Ecologia – Professor: Tibério Mendonça florestas maduras. Ela também nos orienta no planejamento e no manejo de plantações de árvores e café. Ir em direção à sustentabilidade também envolve integrar informações e ideias das ciências físicas (como química, biologia e geologia) com as das ciências sociais (como economia, política, ética). Uma sociedade sustentável do ponto de vista ambiental atende às necessidades atuais de sua população em relação a alimentos, água e ar limpos, abrigo e outros recursos básicos sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades. Viver de forma sustentável significa sobreviver da renda natural fornecida pelo solo, pelas plantas, pelo ar e pela água e não exaurir ou degradar as dotações de capital natural da Terra, que fornecem essa renda biológica. Imagine que você ganhou US$ 1 milhão na loteria. Se você investir esse dinheiro e obter 10% de juros ao ano, terá uma renda anual sustentável de US$ 100 mil sem exaurir seu capital. Se você gastar US$ 200 mil por ano, seu US$ 1 milhão acabará no início do sétimo ano. Mesmo que você gaste apenas US$ 110 mil por ano, estará falido em 18 anos. A lição aqui já é conhecida: proteja seu capital e viva da renda que ele oferece. Exaura desperdice ou esbanje seu capital e você sairá de um estilo de vida sustentável par um insustentável. A mesma lição aplica-se ao uso do capital natural da Terra. De acordo com muitos cientistas ambientais, estamos vivendo de forma insustentável aos desperdiçar, exaurir e degradar o capital natural da Terra em uma velocidade acelerada. Algumas pessoas discordam. Elas afirmam que a gravidade dos problemas da população humana, dos recursos e do ambiente tem sido exagerada. Elas também acreditam que podemos superar esses problemas com a inventividade humana, o crescimento econômico e os avanços tecnológicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COELHO; MOTTA. Fundamentos em ecologia. Porto alegre: Artmed, 2000. MILLER, G. TYLER. Ciência Ambiental. 11ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 10