MENSURAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DAS CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS
MEDIANTE A UTILIZAÇÃO DO ANALYTIC HIERARCHY PROCESS (AHP)
Cecilia Toledo Hernández
Professor Adjunto - Universidade Federal Fluminense
Avenida dos Trabalhadores, 420, Volta Redonda/RJ [email protected] Marcellus Henrique Rodrigues Bastos
Professor Auxiliar – CEFET
Rua Voluntários da Pátria, 30, Valença/RJ
[email protected]
RESUMO
O conceito de empreendedorismo tem sido discutido em diversas áreas, e no meio
acadêmico o termo tem ganhado maior força devido à realidade econômica brasileira e as
oportunidades do mercado. Portanto avaliar as características do perfil empreendedor dos
estudantes universitários que em um futuro se tornaram peça chave no desenvolvimento do país,
se torna necessário para estabelecer adequados programas de Educação Empreendedora. O
objetivo deste artigo foi determinar o tipo de escolha de carreira profissional segundo a
importância dada às características que definem o perfil empreendedor por um grupo de
estudantes que cursam engenharia, mediante a utilização do AHP e o AHP com ratings. Os
resultados evidenciaram que o comprometimento é considerado a competência pessoal
empreendedora de maior importância e que a utilização de ratings é uma maneira apropriada
quando a quantidade de critérios a serem analisados é muito grande já que reduz o número de
julgamentos requeridos ao decisor.
PALAVRAS CHAVE: Perfil empreendedor, Analytic Hierarchy Processes, Ratings
Área Principal: ADM – Apoio à Decisão Multicritério
ABSTRACT
The concept of entrepreneurship has been considered in diverse areas, and, in the
academic one, the term has become stronger given the Brazilian economic reality and the market
opportunities. Therefore, assessing the characteristics of the entrepreneurial profile of College
students and future key agents for the development of the country becomes fundamental to set
out suitable Entrepreneurial Education programs. The objective of this article is to determine the
kind of choice regarding professional career, according to the importance given to those
characteristics defining the entrepreneurial profile, in the case of a group of Engineering students,
by using the AHP and the AHP along with ratings. The results have revealed that ‘commitment’
is considered to be the most important personal entrepreneurial competence, and that it is suitable
to use ratings when the amounts of criteria to be analyzed is way too large, for it reduces the
number of choices to be made by the decision maker.
KEY-WORDS: Profile Entrepreneur, Analytic Hierarchy Processes, Ratings
1.Introdução
O conceito de empreendedorismo tem sido discutido em diversas áreas do
conhecimento e no meio acadêmico tem ganhado maior força porque uma cultura empreendedora
pode ser a chave para o desenvolvimento econômico de uma nação dada a capacidade dos
empreendedores de inovar e aproveitar as oportunidades de negócios (SCHUMPETER, 1985).
Neste sentido é cada vez mais importante identificar as características empreendedoras
das pessoas para poder fomentá-las. McClelland (1972) conduziu suas pesquisas na área de
empreendedorismo, identificando um forte elemento psicológico que caracterizava os
empreendedores bem-sucedidos: a “motivação por realizações” ou um “impulso para
aprimoramentos”. Isso resultou em uma abordagem do empreendedorismo como um conjunto de
comportamentos e práticas que podem ser observadas e adquiridas por meio de treinamento.
Sendo assim tem surgido cursos de empreendedorismo no mundo todo e há um grande
valor prático em poder identificar as características dos empreendedores (KOH, 1996). No Brasil
o ensino do empreendedorismo tem se difundido muito mediante a oferta de cursos específicos
ou incluindo no currículo de várias especialidades disciplinas afins. No entanto especialistas
consideram que ainda os programas educacionais existentes no Brasil não estimulam
suficientemente a promoção do espíritu empreendedor nas pessoas (GEM, 2013).
Diante destas opiniões, se faz necessário analisar os alunos universitários que num
futuro ocuparão posição de destaque no comando das empresas e do país sendo preciso
caracterizar o perfil empreendedor dos mesmos para poder melhorar os currículos universitários.
Desta forma o objetivo desta pesquisa é identificar quais características comportamentais
empreendedoras são melhor avaliadas por estudantes de cursos de engenharia de uma instituição
de ensino federal e estabelecer a importância dessas características segundo o tipo de carreira a
seguir.
Este tipo de pesquisa envolve múltiplos critérios de escolha, portanto acredita se que
métodos de tomada de decisão com múltiplos critérios, especificamente o Analytic Hierarchy
Process –AHP, seja adequado para tal fim.
O artigo está organizado em seis seções. Inicia-se pela introdução ao assunto
pesquisado, na seção 2 apresentam-se alguns conceitos sobre empreendedorismo assim como
uma breve caracterização do método de tomada de decisão utilizado nesta pesquisa, o AHP e
o AHP com ratings, na seção 3 aborda-se o método de pesquisa utilizado, a seção 4 mostra
os resultados da aplicação, já na seção 5 foram apresentadas as considerações finais da
pesquisa, contribuições e limitações, por fim aparecem as referências bibliográficas utilizadas.
2. Referencial Teórico
2.1 Empreendedorismo
Apesar do consenso da importância que tem o empreendedorismo no desenvolvimento
econômico de um país, esse consenso não existe quando a questão é caracterizar o conceito de
empreendedor.
Filion (1991) define o empreendedor como “alguém que concebe, desenvolve e realiza
visões”, Drucker (1992) diz que empreendedor é aquele indivíduo que tem capacidade de
vislumbrar uma oportunidade em situações que outros não percebem, para Dornelas (2002) “o
empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre
ela, assumindo riscos calculados”.
No intuito de entender o empreeendedorismo e a criação de novos negócios, vários
pesquisadores estudaram as característcas individuais dos empreendedores. McClelland (1972)
identificou um conjunto de competências pessoais empreendedoras entre as que se destacam:
busca de oportunidades e iniciativa, persistência, aceitação de riscos, exigência de eficiência e
qualidade, comprometimento com o trabalho, estabelecimento de metas, busca de informações,
monitoramento e planejamento sistemático, persuasão e rede de contatos, independência e
autoconfiança. Lópes Júnior et al. (2005) trabalharam com o conceito de atitude empreendedora
formada pelos fatores planejamento, realização, poder e inovação. Dolabela (1999) apresentou
um resumo do que seriam as preferências dos empreendedores quanto a forma de realizar as suas
atividades diferenciando as características de empreendedores e gerentes.
Como pode ser apreciado, as definições de empreendedores e características
empreendedoras são diversas e têm múltiplas facetas sem esquecer o desdobramento para o
conceito de intraempreendedor que é uma forma de empreendedor que concorre para expandir
oportunidades no interior de determinada empresa, mas que em geral precisa das mesmas
característcas do que o empreendedor. Dornelas (2003) afirma que os intraempreededores estes
“são pessoas ou equipes de pessoas com características especiais, que são visionárias, que
questionam, que ousam, que querem algo diferente, que fazem acontecer, ou seja, que
empreendem”.
Há vários trabalhos na literatura que têm analisado o perfil empreendedor de grupos e
ambientes (Guimarães, 2002; Carvalho, Zuanazzi, 2003; Peñaloza et al., 2008).
Alguns dos trabalhos publicados utilizaram métodos de Tomada de Decisão com
Múltiplos Critérios. Razaei et al. (2013) encontrou algumas aplicações no campo de
empreendedorismo e inovação utilizando o AHP, mas em um número muito menor ao se
comparar com as aplicações encontradas nos outros campos.
Han et al. (2012) desenvolveram um modelo de avaliação baseado na lógica Fuzzy e no
AHP e aplicaram em onze regiões na Província Hebei para a avaliar o ambiente empreendedor.
Como resultado obteve uma ferramenta eficaz no suporte de tomada a decisão.
Somsuk e Laosirihongthong (2014) identificaram fatores relacionados à recursos
internos que influenciam no sucesso de University Bsiness Incubators (UBIs) na Tailândia e
também utilizaram a lógica Fuzzy e AHP para categorizar e proirizar os quatorze fatores
encontrados.
2.2 Analytic Hierarchy Process
O Analytic Hierarchy Process (AHP), desenvolvido por Saaty, é um método prático e
útil de auxílio multicritério de tomada de decisão (SAATY, 1977). Segundo Ishizaka e Labib
(2011), este método é aceito e aplicado por indústrias em problemas de tomada de decisão.
Sua metodologia utiliza a comparação par a par para medir o grau de importância entre
critérios e/ou alternativas. Em seguida, as comparações são convertidas em números para calcular
os respectivos pesos durante a tomada de decisão. (BERNASCONI et al., 2010; DONG et al.,
2008).
Para Zahedi (1987); Moran et al. (2007); Swait e Adamowics (2001), o método requer
um menor esforço cognitivo para comparar pares de atributos e corroboram diversas razões que
justificam o amplo uso do mesmo:
i. é suportado por um background cognitivo;
ii. permite medir relações entre atributos quantitativos e qualitativos;
iii. concede a interpretação de um fenômeno;
iv. é caracterizado por sua matemática simples e clara;
v. pode ser aplicado tanto para decisões individuais quanto de grupos;
vi. possui um reduzido impacto cognitivo quando comparado com métodos
experimentais de escolha.
A aplicação do AHP pode ser dividida em quatro etapas (COLIN, 2007):
1. Representação da hierarquia: desenvolvimento da hierarquia de decisão vinculada
aos vários níveis relacionados. Esta etapa é fundamental para definir a meta ou objetivo
global desejado, colocado no primeiro nível hierárquico, que decomposto em objetivos
secundários, chamados de critérios e alternativas permitem formar uma estrutura
hierárquica de três ou mais níveis.
2. Comparação de pares: análise de preferências com relação a cada elemento de
decisão de cada nível de hierarquia. Nesta etapa é muito importante a participação de
especialistas, ou tomadores de decisão, com conhecimentos profundos da temática que permitam
declarar realmente a importância, ou a força de suas preferências ou até mesmo a possibilidade
real quanto aos critérios ou alternativas em análise;
3. Cálculo dos pesos relativos dos elementos do modelo: o método estima os pesos
relativos dos elementos de decisão em cada nível de hierarquia e avalia a consistência (CRConsistency Ratio) da comparação por pares. O CR é um indicador da coerência dos julgamentos,
que considera o afastamento entre λ (autovalor máximo) e n (número de critérios), conforme a
Equação 1, e considera também um erro aleatório associado à ordem da matriz de julgamento
dado pelo Índice de Coerência Aleatória (RI-Random Consistency Index).
(1)
CR = (λ − n)/(n − 1)⋅ RI
4. Agregação das prioridades: agregação das prioridades relativas para avaliar o
resultado obtido em relação ao objetivo.
Na aplicação tradicional do AHP, quando os critérios a comparar são qualitativos,
utiliza-se a medição relativa onde as alternativas são comparadas por pares e aplica-se a Escala
Fundamental, estabelecida por Saaty (1980) para tal comparação. Quando o número de
comparações é muito grande pode ser utilizada a medição absoluta ou ratings para a aplicação do
AHP.
Duarte Júnior (2005) define ratings como um conjunto de níveis de intensidade que
servem como base para avaliar o desempenho das alternativas em termos de cada critério. O uso
de ratings permite simplificar o processo de comparações de critérios qualitativos. Silva,
Belderrain e Pantoja (2010) utilizaram este procedimento para avaliar projetos aeroespaciais
visto que o mesmo reduz o número de julgamentos requeridos ao decisor.
Salomon et al. (2009) apresentam propostas para obtenção dos valores numéricos dos
ratings (vetores de prioridades):
1. Níveis de importância ou desempenho são estabelecidos e comparados entre si. Estes
níveis de desempenho são definidos pelo tomador de decisão segundo o caso específico a ser
analisado;
2. Valores de desempenho das alternativas podem ser obtidos associando-as a estes
níveis e um vetor de desempenho é obtido mediante um processo de normalização ou idealização.
Para a normalização cada componente de desempenho é dividido pela soma de todos os
componentes. Na idealização cada componente de desempenho é dividido pelo seu máximo.
Saaty (2006) aconselha que ao trabalhar com ratings, os vetores de prioridades sejam
idealizados, onde a melhor categoria recebe o valor igual a 1 e as outras seriam
proporcionalmente menor.
3. Procedimentos Metodológicos
A presente pesquisa tratou do estudo das características empreendedoras de um grupo
de alunos de Engenharias de uma Universidade Pública Federal e a determinação da relevância
destas características segundo o tipo de carreira profissional que os mesmos pretendem seguir no
futuro.
As variáveis de entrada foram coletadas através de questionários padronizados, que
incluíam nove características empreendedoras definidas por McClelland (1972) e que neste
estudo foram colocadas como critérios de decisão. Com o mesmo raciocínio foi colocado à
escolha, opções de cinco tipos de ocupação que foram determinadas como alternativas. Para o
trabalho de mensuração dos dados e melhor visualização do raciocínio hierárquico do AHP, os
critérios de decisão foram categorizados da seguinte forma: independência e autoconfiança - C1;
persuasão e rede de contatos - C2; monitoramento e planejamento - C3; estabelecimento de metas
- C4; busca de informações - C5; exigência de qualidade e eficiência - C6; correr riscos
calculados - C7; busca de oportunidade e iniciativa - C8; Comprometimento - C9. As alternativas
de tipos de ocupação foram colocadas da seguinte forma: empresa privada - A1; empresa pública
- A2; abrir negócio próprio - A3; carreira acadêmica - A4; continuar negócio familiar - A5. Todas
as alternativas eram opções de escolhas para cada critério, ou seja, para C1 as alternativas eram
A1, A2, A3, A4 e A5, assim como para C2, C3, ... C9, conforme Figura 1.
PERFIL EMPREENDEDOR
C1
C2
A1-Empresa
privada
C3
C4
A2-Empresa
pública
C5
C6
A3-Negócio
próprio
C7
C8
C9
A5-Negócio
familiar
A4-Carreira
acadêmica
Figura 1. Estrutura Hierárquica
O questionário foi aplicado aos estudantes de engenharia do quinto período de uma
universidade federal que cursavam a disciplina de Administração e Organização (80 estudantes
de cinco cursos de engenharia diferentes). O agrupamento dos julgamentos foi realizado usando a
média aritmética. De acordo com Forman e Peniwati (1998), quando os participantes são
de grupos distintos o princípio de agregação em grupo utilizado é a Aggregation of
Individual Priorities (AIP) com o uso da média aritmética para sintetizar as matrizes de
julgamentos.
O questionário utilizado permitiu obter informações que foram agregadas para formar
matrizes de comparação pareada e poder determinar os vetores de desempenho, assim como
obter uma medição absoluta (ratings) dos critérios. Para os efeitos do trabalho se utilizaram
ambos os métodos (AHP tradicional com medição relativa e AHP com uso de ratings) para
analisar as vantagens de cada um e extender a sua aplicação.
4. Resultados
4.1 Aplicação do AHP tradicional
Para aplicar o AHP tradiconal (medição relativa) primeiramente foram formadas as
matrizes de julgamento mediante a comparação pareada dos elementos e utilizando a Escala
Fundamental de Saaty.
A aplicação do prório questionário permitiu obter uma matriz de julgamento para cada
participante e posteriormente estes valores foram sintetizados mediante o AIP até obter a Tabela
1 que mostra a comparação entre os nove critério, assim como, o vetor de desempenho calculado.
Tabela 1. Prioridade dos critérios.
Critérios
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C1
1
C2
1/2
1
C3
1/3
1/4
1
C4
1/3
1/2
1
1
C5
1/4
1/3
1/3
1/3
1
C6
1/3
1/4
1/2
1/2
3
1
C7
1/2
2
2
2
4
3
1
C8
1/3
1/3
1
1
5
2
1/4
1
C9
1/7
1/8
1/5
1/6
1/2
1/4
1/8
1/5
1
Prioridades
0,030314959
0,043316750
0,079689485
0,067043315
0,198634188
0,125498337
0,037448937
0,080858384
0,337195646
Para avaliar a importância relativa de cada alternativa com respeito a cada critério foi
realizado o mesmo procedimento. Foram obtidas nove matrizes de comparação pareada. A
Tabela 2 resume a prioridade de cada alternativa para cada critério (cada coluna da tabela
representa o vetor resultante da comparação pareada de cada matriz).
Tabela 2. Prioridade de cada alternativa para cada critério.
Alternativas
A1
A2
A3
A4
A5
C1
0,1290
0,0457
0,4160
0,2062
0,2031
C2
0,2138
0,1256
0,3498
0,0734
0,2373
C3
0,1991
0,1011
0,3243
0,0704
0,3051
C4
0,1615
0,0842
0,4761
0,0565
0,2216
C5
0,0741
0,0933
0,2214
0,2061
0,4052
C6
0,4572
0,1484
0,1314
0,1229
0,1401
C7
0,1762
0,1116
0,2153
0,1680
0,3289
C8
0,1879
0,0504
0,5240
0,0759
0,1617
C9
0,0722
0,2094
0,1579
0,1979
0,3625
Em todos os casos os valores dos CR se mantiveram menores do que 0,1 portanto, os
julgamentos foram coerentes.
Dado que, para completar as matrizes de comparação são necessários n(n-1)/2,
julgamentos para uma matriz nxn, neste caso foram necessários 126 julgamentos em total o que
torna o processo demorado e cansativo. A Tabela 3, mostra o resultado final com as prioridades
das alternativas.
Tabela 3. Prioridade das alternativas (AHP tradicional)
Alternativas
A1
A2
A3
A4
A5
Prioridades
0,158099374
0,136547487
0,249669677
0,154350324
0,301300161
Segundo este resultado as alternativas de maior peso são A5 (continuar com o negócio
familiar) e a A3 (abrir negócio próprio), sendo que as características empreendedoras mais bem
avaliadas são: comprometimento (C9), busca de informações (C5) e qualidade e exigência (C6).
4.2 Aplicação do AHP com uso de ratings
Para utilizar o AHP com ratings na estrutura hierárquica foram adicionados quatro
níveis de desempenho (muito importante, importante, pouco importante e indiferente), como
mostra a Figura 2.
PERFIL EMPREENDEDOR
C1
C2
A1-Empresa
privada
C3
A2-Empresa
pública
C4
C5
C6
A3-Negócio
próprio
RATINGS
C7
A4-Carreira
acadêmica
Muito Importante
Importante
Pouco Importante
Indiferente
C8
C9
A5-Negócio
familiar
Figura 2. Estrutura Hierárquica com ratings
Estes quatro níveis de desempenho (muito importante, importante, pouco importante e
indiferente) foram comparados entre si pelos próprios decisores (autores) utilizando a Escala
Fundamental de Saaty como mostra a Tabela 4.
Tabela 4. Comparação entre níveis de desempenho
Muito Importante(I-1)
Importante(I-2)
Pouco Importante(I-3)
Indiferente(I-4)
I-1
I-2
I-3
I-4
Prioridades
1
3
1
5
3
1
7
5
3
1
0,564
0,263
0,117
0,056
Prioridades
Idealizadas
1,0000
0,4663
0,2074
0,0993
.Posteriormente cada alternativa foi avaliada para cada critério segundo o desempenho
da Tabela 4 (prioridades idealizadas). A modo de exemplo a Tabela 5 apresenta o desempenho
das alternativas com respeito ao critério C1.
Tabela 5. Prioridade das alternativas para o Critério C1
Alternativas
A1
A2
A3
A4
A5
C1
Pouco Importante (0,2074)
Indiferente ( 0,0993)
Muito Importante (1,0000)
Importante ( 0,4663)
Importante (0,4663)
Da mesma forma foi realizada a análise para avaliar cada alternativa com respeito a
cada critério. A Tabela 6 resume os desempenhos das alternativas perante todos os critérios.
Tabela 6. Desempenho das alternativas com respeito a cada critério.
Alternativas
A1
A2
A3
A4
A5
C1
0,2074
0,0993
1,0000
0,4663
0,4663
C2
0,4663
0,2074
1,0000
0,0993
0,4663
C3
0,4663
0,2074
1,0000
0,0993
1,0000
C4
0,2074
0,0993
1,0000
0,0993
0,4663
C5
0,0993
0,0993
0,4663
0,4663
1,0000
C6
1,0000
0,2074
0,2074
0,2074
0,2074
C7
0,4663
0,2074
0,4663
0,2074
1,0000
C8
0,4663
0,0993
1,0000
0,0993
0,2074
C9
0,0993
0,4663
0,2074
0,4663
1,0000
Os vetores de decisão apresentados na Tabela 7 foram obtidos com a multiplicação da
matriz de decisão (Tabela 6) pelo vetor de pesos dos critérios (Tabela 1).
Tabela 7. Prioridade das alternativas (AHP com ratings)
Alternativas
A1
A2
A3
A4
A5
Prioridades
0,144263435
0,117645459
0,234988159
0,150409182
0,352693765
Com a aplicação de AHP com ratings o resultado não é exatamente igual porque
métodos diferentes não necessariamente mostram os mesmos resultados, mas continuam as
mesmas alternativas com a maior prioridade e o número de julgamentos foi reduzido para 81.
4.3 Discussão de resultados
O estudo mostra que os critérios mais importantes avaliados pelos estudantes foram
comprometimento (C9), busca de informações (C5) e qualidade e exigência (C6). O resto dos
outros critérios tem pesos ou importâncias bem pequenas e similares entre si. Carvalho e
Zuanazzi (2003) em trabalho similar com estudantes de administração chegaram a mesma
conclusão com respeito ao critério de comprometimento e os critérios de exigência e busca de
informações também tinham pesos maiores. A diferença entre os dois estudos está básicamente
nos métodos utilizados e que mesmo se destacando alguns critérios de maior peso, no trabalho de
Carvalho e Zuanazzi (2003) não existem diferenças significativas entre os critérios
comportamentais.
Quanto ao tipo de ocupação pretendida: trabalhar em negócio familiar e abrir o próprio
negócio respectivamente foram as alternativas de maior peso. Da mesma forma para Carvalho e
Zuanazzi (2003) estes foram os tipos de atividades (em ordem inversa) que maior relação tiveram
com as características empreendedoras avaliadas e essa era a expectativa do resultado esperado
nesta pesquisa também.
5. Considerações finais
O objetivo deste trabalho foi determinar o tipo de escolha de carreira profissional
segundo a importância dada às características que definem o perfil empreendedor por um grupo
de estudantes que cursam engenharia, mediante a utilização do AHP e o AHP com ratings.
Quanto ao resultado do estudo pode se observar a importância dada a característica
comprometimento, em opinião de muitos necessária independente da escolha de tipo de ocupação
pretendida durante a vida profissional. O tipo de ocupação, segundo os resultados do trabalho,
não se corresponde com a expectativa esperada, por esse motivo foram realizadas entrevistas com
os participantes para tentar entender este comportamento e ficou evidenciado que a escolha
depende do horizonte de tempo, neste caso considerado no longo prazo e não após recem
formados.
Isto coloca o problema como relevante para as Instituições de Ensino Superior (IES)
que devem colocar nas matrizes curriculares disciplinas e atividades voltadas para o ensino e
treinamento do empreendedorismo, independentemente do do curso, já que na atualidade este
enfoque está mais atrelado aos cursos de administração.
Quanto aos métodos utilizados, tanto o AHP como o AHP com ratings, foram
adequados para a solução do problema em questão, mas o uso do segundo procedimento
possibilitou a redução do número de julgamentos requeridos ao decisor. Como outra vantagem
possibilita a inserção e a retirada de alternativas durante o processo decisório, sem ocasionar
inversão de ranking.
A construção da hierarquia com ratings associadas às alternativas permitiu a seleção
direta das mesmas de uma forma mais compreensível mas sem perder a análise dos critérios que
neste caso são as características que definem o perfil empreendedor.
Como principal limitação da pesquisa está que seus resultados (quanto ao conhecimento
do perfil empreendedor de estudantes) não pode ser generalizado dado o número de entrevistados
em somente uma IES.
Com respeito aos métodos, independentemente de se mostrarem adequados, pode ser
explorado o uso do ANP com ratings porque os critérios demonstraram que podiam ter relações
de influência entre eles.
6. Referências
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