ATIVIDADE DE ÁGUA PARA CONSERVAÇÃO DAS SEMENTES DE MAMONA Paulo de Tarso Firmino1; Vimario Simões Silva2; Gislayne Galdino dos Anjos2; Ayice Chaves Silva1; Dalany Menezes de Oliveira3 1 Embrapa CNPA, [email protected]; [email protected] 2 UFCG, [email protected], [email protected]; CENTEC-Cariri, [email protected] 3 RESUMO - Sabe-se que o crescimento e o metabolismo dos microrganismos demandam presença de água em forma disponível e a medida mais comumente empregada para expressar a estabilidade de um produto é a atividade de água (aw). Nesse sentido, objetivou-se estudar a atividade de água em sementes de mamona da variedade Mirante 10 (ano 2005), relacionando-a com a temperatura, mensuradas em um Thermoconstanter Novasina TH 200. As sementes de mamona obtiveram aw em torno de 0,73 a 50°C, com umidade em base seca 12,9%. Nestas condições, os microrganismos que podem se proliferar são os mofos xerófilos e leveduras osmofílicas, que não produzem micotoxinas. Porém, com a diminuição da temperatura houve um decréscimo da atividade de água, apresentando menor valor à temperatura de 20°C, sendo a melhor temperatura para armazenamento dessas sementes. INTRODUÇÃO A mamoneira (Ricinus communis L.) vem sendo uma oleaginosa de grande importância econômica e social no Brasil e no mundo, principalmente para a região de semi-aridez do Nordeste, onde tem se mostrado uma excelente alternativa, por ser geradora de ocupação e renda, por ser de fácil cultivo e ser resistente à seca, porém, é sensível ao excesso de umidade por períodos prolongados, em especial, na fase inicial e na frutificação (HEMERLY, 1981; SILVA,1981). O produto principal da mamona é o óleo, uma matéria prima de aplicações únicas em diversas indústrias químicas, como plásticos, fibras sintéticas, esmaltes, resinas, lubrificantes, além de produtos mais elaborados nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos e na aeronáutica, por apresentar características peculiares em sua molécula que lhe fazem o único óleo vegetal naturalmente hidroxilado, além de uma composição com predominância de um único ácido graxo, ricinoléico, o qual lhe confere as propriedades químicas atípicas. (FREIRE, 2001). Os alimentos, para serem conservados, devem impedir toda alteração devida aos micorganismos. O desenvolvimento dos microrganismos é possível somente em ambiente nutritivo, com taxa de umidade, oxigênio, temperatura e outras condições favoráveis, segundo espécie microbiana (GAVA, 1986) A água ligada aos constituintes tem comportamento diferenciado, pois não congela, não atua como solvente e “não” atua como reagente. O crescimento e a atividade metabólica dos microrganismos demandam presença de água em forma disponível e a medida mais comumente empregada para expressar a estabilidade de um produto é a determinação do nível de água em sua forma livre, que em alimentos, denomina-se Índice de Atividade de Água, aw,, que é determinada pela fórmula: aw = P/P0, define-se como a relação existente entre a pressão de vapor de uma solução ou de um material (é específico para alimento) (P) com relação à pressão de vapor da água pura (P0) à mesma temperatura. Portanto a água presente no material exerce uma pressão que depende da quantidade de água, da concentração de solutos na água e da temperatura. A atividade de água de todos os materiais é sempre inferior a um e a da água pura é a unidade (ORDOÑEZ, 2005). Neste sentido, como método de conservação, estudou-se a atividade de água em sementes de mamona da variedade Mirante 10, relacionando-a com a temperatura, objetivando-se modificar esse fator essencial, de modo que o meio se torne não propício a qualquer proliferação (GAVA, 1986). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Transferência de Meios Porosos e Sistemas Particulados da Unidade Acadêmica de Engenharia Química da Universidade Federal de Campina Grande, PB, entre os meses de maio e junho de 2006. Utilizaram-se as sementes de mamona da cultivar Mirante 10, produzida no Município de Carnaubais, RN, no ano de 2005, fornecida pela Embrapa Algodão. O aparelho utilizado para determinar os valores experimentais da atividade de água das mamonas foi o Thermoconstanter Novasina TH 200, que é um equipamento específico para se determinar a atividade de água (aw) com temperatura controlada em uma escala de trabalho que corresponde a temperaturas na faixa de 0 a 50°C, com variações inferiores a 0,2°C. No aparelho um sensor mede a aw à temperatura indicada de pequenas amostras e o transmissor RTD-20 converte os sinais da célula de medição, indicando os valores medidos de aw e de temperatura diretamente no mostrador frontal do mesmo (Fig. 1). De início, regulou-se a temperatura do aparelho para 50°C; tomou-se uma amostra de aproximadamente 2,0g de sementes trituradas manualmente, contida em uma pequena célula apropriada para o aparelho; a amostra permaneceu no equipamento até que a leitura da atividade de água, observada através do sensor, se estabilizasse, para então ser retirada e pesada em uma balança analítica; depois de pesada, esta amostra era levada novamente ao Novasina, ajustado a uma temperatura de 40°C, para nova determinação da aw. Então se repetia o procedimento, ajustando o aparelho em temperaturas menores (30°C, 20°C, 10°C e 0°C). Para determinação do teor de umidade da semente, utilizou-se o método descrito pela AOAC (1990), secando a amostra a 80 ºC em estufa, sem circulação forçada de ar, durante 19 horas, tempo suficiente para peso constante, e depois eram retiradas da estufa e colocadas em dessecador até atingirem a temperatura ambiente, quando então se procedia à pesagem. O teor de umidade foi calculado em base seca, mediante a equação: Xb s = (me – ms) / ms, em que: Xbs - conteúdo de umidade, expresso na base seca, g.g-1; me - massa da amostra no equilíbrio, g; ms - massa seca da amostra, g. RESULTADOS E DISCUSSÃO A sucessão das leituras das atividades de água das sementes para as temperaturas determinadas está citada abaixo (Tab. 1). A representação esquemática da relação entre a atividade de água e a temperatura de sementes de mamona, cultivar Mirante 10, é observada na Figura 2. A análise em sementes de mamona, cultivar Mirante 10, apresenta atividade de água em torno de 0,73 e umidade em base seca de 12,9%, a uma temperatura de 50°C, demonstrando que os microrganismos que se podem proliferar nessas condições, são os mofos xerófilos e leveduras osmofílicas, que não produzem micotoxinas. Verifica-se que a medida que a temperatura abaixa o mesmo ocorre com a atividade de água da semente de mamona, porque diminui a pressão de vapor, o que provoca também a diminuição do crescimento dos microrganismos, detendo-se totalmente a temperaturas abaixo de 20°C, cuja atividade é 0,384. CONCLUSÕES A análise em sementes de mamona, cultivar Mirante 10, apresenta atividade de água em torno de 0,73 e umidade em base seca de 12,9%, a uma temperatura de 50°C. Com a diminuição da temperatura a atividade de água da semente de mamona decresce, devendo-se conserva-las em temperaturas em torno de 20°C, cuja atividade de água é 0,384. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AOAC - Association of Analytical Chemistry, Official methods of Analysis. 15, Washington, 1990. 1115p. FREIRE, R.M.M. Ricinoquímica. In: AZEVEDO,D.M.P. de, LIMA, E.F. (Eds). O Agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p. 295-335. GAVA, A.J. Princípios de Tecnologia de Alimentos. 7ª ed. Nobel, São Paulo, 1986. p.129 HEMERLY, F.X. Mamona: comportamento e tendências no Brasil. Brasília, Embrapa – DID. 1981 (Embrapa –DTC. Doc. 2). ORDÓÑEZ, J.A. Tecnologia de Alimentos - Componentes dos Alimentos e Processos. Vol. 1. Tradução: Fátima Murad. Artmed Editora, Porto Alegre, p.25-31; 201-203. 2005. SILVA, W.J. da. Aptidão climáticas para as culturas do girassol, mamona e amendoim. Informe agropecuário, v. 7, n.82, p.24-33, 1981. Tabela 1. Valores obtidos da temperatura e da atividade de água na semente de mamona Mirante 10. T (°C) 49,2 39,9 30,2 20,2 10,6 3,3 aw 0,727 0,49 0,409 0,384 0,418 0,412 (a) (b) Figura 1. Thermoconstanter Novasina (a) aberto; (b) painel frontal 1 0,9 0,8 0,7 aw 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 10 20 30 40 50 60 T (°C) Figura 2. Gráfico da relação entre atividade de água e temperatura de uma amostra de semente de mamona, cultivar Mirante 10.