ANO XVII - Nº 197 BIS BIMENSAL
MUHAMED ALI:
O Maior!
TONI MORENO:
Nunchaku avançado
ANO XVII - Nº 197 BIS BIMENSAL
A REVISTA MAIS INTERNACIONAL DAS ARTES MARCIAIS • KYUSHO • AIKIDO • NUNCHAKU
JON JONES:
O novo génio
do MMA
GURO DAVE GOULD:
Fases de integração
do Combate
EUGÊNIO TADEU:
Luta Livre vs Jiu-Jitsu
O Kyusho vai além de fazer pressão em um ponto vital
determinado, tem a ver com as habilidades no combate e suas
realidades implícitas. Sua eficácia e adaptabilidade permitem
ao praticante ir mais longe dos simples batimentos, pontapés e
agarres. Isto é especialmente valioso em situações em que as
nossas possibilidades estão limitadas pelo espaço, como um
autocarro, trem ou elevador. O que fazer nesses casos? Neste
DVD, o Mestre Pantazi realiza um estudo
avançado sobre a aplicação da compressão
e força direccional em diferentes partes
do corpo, para conseguir diversos
resultados. Tanto puxando como
empurrando, podemos controlar,
ou até incapacitar determinadas
zonas mediante o método da
compressão. Podemos ver
ideias similares em alguns
estilos Marciais, mas que
ainda não possuem a
quantidade de objectivos e
métodos presentes no
Kyusho. As compressões
podem ser perigosas e
causar graves danos quando
não
trabalhadas
apropriadamente. Por favor,
não tratem de fazer as
técnicas aqui mostradas,
porque são poderosas e
potencialmente muito perigosas.
Este DVD foi realizado para isto ficar
historicamente avisado.
REF.: • KYUSHO16
Todos os DVD’s produzidos por Budo
International são realizados em suporte
DVD-5, formato MPEG-2 multiplexado
(nunca VCD, DivX, o similares) e a
impressão das capas segue as mais
restritas exigências de qualidade (tipo de
papel e impressão). Também, nenhum dos
nossos produtos é comercializado através
de webs de leilões online. Se este DVD
não cumpre estas exigências e/o a capa e
a serigrafia não coincidem com a que aqui
mostramos, trata-se de uma cópia pirata.
Basta um CliC
para estar no melhor
que em Artes Marciais
existe no teu idioMA…
RIAL
O GUERREIRO IMPORTUNADO
Forte, não significa violento.
Firme, não significa rígido.
Fluido, não significa desordenado.
Relaxado, não significa displicente.
Alerta, não significa tenso.
Atento, não significa crispado.
Resoluto, não significa inquestionável.
Moderado, não significa descuidado.
Valente, não significa impulsivo.
Cortês, não significa submisso.
A
via do guerreiro, (como não
podia ser de outra maneira),
está cheia de pontos
escuros e contradições
funcionais. Se a mestria
fosse fácil, a verdadeira mestria, seria
abundante como papoilas em
Primavera, mas verdadeiramente ela é
uma rara e extraordinária avis no
firmamento Marcial.
O cenário onde se desenvolve a
nossa sociedade marcial é a fogueira
de vaidades, onde se queimam seres
cheios de complexos transformados
em exibicionistas, amedrontados
transformados em torturadores,
inseguros que acabam em tiranos. A
indispensável reflexão está ausente e
tanto como a auto-crítica é substituída
pela justificação…; crianças brincando
a homens, ignorantes exibindo-se
como sábios.
Tenho visto de tudo nestes quase 25
anos dirigindo a que de uma ou de
outra maneira, goste ou não, tem sido a
revista marcante do ritmo da
transformação do nosso mundo Marcial
a um novo paradigma. Lideramos um
difícil passo, o da ignorância supina
sobre outras artes que não fossem o
Judo, o Karaté ou o Taekwondo dos
anos 70, o tempo em que marcial se
identificava só com umas poucas
figuras de lenda, alimentadas pela
máquina de sonhos do cinema.
Assistimos em primeira fila - e por
que não dize-lo acompanhados como
pioneiros e cicerones -, à revolução
dos gladiadores, o mito da eficácia, o
2
questionamento dos credos e
dogmas tradicionais, forçando assim
uma nova avaliação que deixava a
descoberto as mentiras, para que
aquilo que de verdade houvesse nos
caminhos internos e antigos, tivesse
que sair à luz para encontrar um novo
espaço. Assistimos a como emergia o
as pec to desportivo, ao desafio da
Ocidentalização e ao Olimpismo, à
aparição em cena das artes policiais e
militares modernas, do sincretismo, a
mistura e a heterodoxia, do “ValeTudo” …e do “tudo vale”.
Mas o pano de fundo onde tudo isto
se encena, não mudou grande coisa
porque é eterno, isto é, a teimosia dos
egos, a crítica do vizinho, a ausência
de todo indício de sincera auto-crítica,
do autêntico respeito que surge da
certeza de que simplesmente
não sabemos tudo. Pelo menos
conseguimos envergonhar os mais
descarados, estabelecendo como
normal alguma nova ideia do que
deveria ser, mas isso, como tudo
quanto é exter no, apenas é um
remendo, uma má imitação do
verdadeiro remédio, ou seja, um
pouquinho de humildade.
Bem, dirá o leitor (e com razão)…, é
a condição humana. Assim é, mas eu
me resisto a que o efeito contágio em
positivo não vá mais além, para que a
transgressão seja mais e mais de
dentro para fora; por isso, desde este
foro, todo mês lanço ao infinito, como
um surdo gritando no deserto, a
minha pequena contribuição à reflexão
nos pessoais universos que transito,
observando com curiosidade como
a perseverança nesta tentativa
abre brechas no aparentemente
indissolúvel muro rochoso espiritual
dos guerreiros.
Os guerreiros como tipologia
estabelecem um molde estereotipado
com características bem definidas. Em
sua mais alta evolução Miyamoto
Musashi personifica como poucos a
transição do tosco guerreiro ignorante
e violento ao sábio. Nesse caminho,
as Artes guerreiras por analogia
descrevem similares níveis em sua
ascensão evolutiva, basta ter olhos
para ver. Quem ainda anda preso nas
suas primeiras fases, pouco ou nada
perceberá da sua exemplar vida e
apenas verá a conhecida tragédia que
resume o provérbio: Quem vive pela
espada, morre pela espada.
Transcender o que é simplesmente
marcial abre não obstante outras vias
para a consciência de ser, que
raramente possibilitam outras artes.
Mas para que a alquimia tenha lugar,
deve haver reflexão, questionamento e
acima de tudo, necessidade. Aqueles
que já estão em tal caminho poderão
tirar mais substância do texto que
abre este editorial. Sem pretensão de
dar todas as chaves, nem sequer as
que talvez sejam as mais importantes,
(quem sabe!), aí ficam, para proveito
do sábio e descrédito do sáfio. Que se
vejam as diferenças, mesmo que por
uma vez estejam a favor dos bons,
nada de mau vai acontecer.
Editorial
“Transcender o que é simplesmente
marcial abre não obstante outras
vias para a consciência de ser,
que raramente possibilitam outras
artes. Mas para que a alquimia
tenha lugar, deve haver reflexão,
questionamento e acima de tudo,
necessidade.
Aqueles que já estão em
tal caminho poderão tirar
mais substância do texto
que abre este editorial”
A reflexão à qual nos referimos, questiona lugares
comuns do Marcial, que frequentemente justificam
erros e inexactidões muito estendidas. Explicá-los
agora de maneira pormenorizada, tiraria toda a força
de ser o leitor a completar, por própria necessidade,
esses espaços que a repetitiva ladainha do texto leva
a realizar a cada um no seu silêncio; um vazio que o
próprio texto impõe, imerso nessa dialéctica tão
frequente nos textos taoistas, onde se infere mais que
se explica, dando assim um espaço à reflexão que a
prosa não promove.
Neste número a minha contribuição chega
quase em verso; necessitado pela falta de meios,
em viagem o mês inteiro por terras valencianas e
em coincidência com a “Mostra”, Festival de
Cinema, escrevi no meu iphone como sucinto
recordatório,
estes
pensamentos
necessariamente esquemáticos. Quando
retiramos todo ornamento resta o essencial e
para além da métrica, o que fica de alguma
maneira é poesia. Pelo menos é como eu gosto
de ver esta questão, talvez mais virado para os
conteúdos que para a musicalidade, encontro
neste resumo alguns pontos chave das
grandezas e misérias próprias da figura do
guerreiro, de seus particulares infernos, atrozes
contradições que reclamam atenção, para que o
admitido discurso geral seja mais uma vez
questionado e não sejam palavras ocas.
Se um só coração vibrar com elas, se um só
guerreiro as usar como espelho, a minha missão
estará cumprida. Mais um mês e vão uns tantos,
o grãozinho de areia deste surdo que grita no
deserto… com um sorriso nos lábios.
Alfredo Tucci é Director Gerente de
BUDO INTERNATIONAL PUBLISHING CO.
e-mail: [email protected]
3
KYUSHO
NUNCHAKU
Como é bem sabido, a
meta nas Artes Marciais é
sempre uma projecção de
eterna aprendizagem, mas
um bom sistema deve ser
capaz
de
levar-nos
rapidamente, directamente,
ao domínio do estilo, arma
ou técnica a aprender.
p. 06
As 6 mãos de Ji do Bubishi
aplicadas a técnicas específicas
sobre pontos vitais. Esta maneira de situar as
mãos permite aplicações extraordinariamente
efectivas em ataques sobre pontos vitais.
p. 12
UFC
MMA
p. 34
Así fue el “I Reto El Luchador
de Vale-Tudo”, realizado el día
19 de Diciembre de 1996 en el Canecão, la
mayor sala de fiestas de Río de Janeiro, que
por primera y única vez recibió un evento de
Vale-Tudo.
p. 24
Jon Jones é o
novo
“menino
mimado” do público dos E.U.A.
depois de vencer facilmente o
campeão Maurício Shogun,
tirando-lhe o cinto dos pesos
semi-pesados no UFC 128.
“CINTURÃO NEGRO”
é uma publicação de:
BUDO INTERNATIONAL PUBLISHING CO.
Central internacional:
C/ Andrés Mellado, 42 – 28015. MADRID.
Tel. (34) 91 897 83 40. Fax. (34) 91 899 33 19
CINTURAO NEGRO NO MUNDO
"Budo International" é um grupo Editor Internacional no âmbito das Artes Marciais, que
conta com as melhores empresas especializadas nessa área de todo o mundo, sendo, a
nível mundial, o único grupo editor a publicar revistas especializadas em Artes Marciais
em sete idiomas, chegando a mais de 55 países em três continentes.
Alguns destes países são: Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Reino
Unido, Estado Unidos da América, Canadá, Suíça, Luxemburgo, Bélgica, Holanda,
Croácia, Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, México, Peru, Bolívia, Marrocos,
Venezuela, Senegal, etc.
AIKIDO
p. 50
Em um combate real, uke é
o inimigo e portanto, tenho
de o dissuadir da sua atitude combativa
como seja! Por outras palavras, é preciso
escolher: vencer ou ser vencido!
BOXE
Em todas as artes e
ciências sempre se
destaca
alguém
emblemático que faz
mudar tudo e é lembrado
pelas gerações vindouras.
Sem nenhum género de
dúvidas. no Boxe foi
Mohamed Ali.
p.56
Presidente: Estanislao Cortés. Conselheiro Delegado e único Gerente: Alfredo Tucci. Direcção de Arte: Alfredo Tucci. Chefe de Produção:
Marga López-Beltrán García. E-mail: [email protected]. Chefe de Produção de Vídeos: Javier Estévez. Chefe de Distribuição e
Material: Fernando Castillejo Sacristán. Administração: José Luis Martínez. Tradutores: Brigitte de le Court, Cristian Nani, Celina Von Stromberg.
Publicidade: Tel. (34) 91 897 83 40. Colunistas: Don Wilson, Yoshimitsu Yamada, Cass Magda, Antonio Espinós, Jim Wagner, Coronel Sanchís,
Marco de Cesaris, Lilla Distéfano, Maurizio Maltese, Bob Dubljanin, Marc Denny, Salvador Herraiz, Shi de Yang, Sri Dinesh, Carlos Zerpa,
Omar Martínez, Manu, Patrick Levet, Mike Anderson, Boulahfa Mimoum, Víctor Gutiérrez, Franco Vacirca, Bill Newman, José Mª Pujadas,
Paolo Cangelosi, Emilio Alpanseque, Huang Aguilar, Sueyoshi Akeshi, Marcelo Pires, Angel García, Juan Díaz. Fotógrafos: Carlos Contreras,
Alfredo Tucci. Impressão: SERGRAPH. Amado Nervo, 11 - Local 4. MADRID. Distribui: MIDESA PORTUGAL – Distribuição de Publicações,
S.A. Rua da República da Coreia, 34. Ranholas, Sintra. Depósito Legal: M-7541-1989
As Seis
mãos do Ji
6
Reportagem
De entre os textos clássicos de Artes
Marciais mais antigos, o Bubishi brilha
com luz própria. O Mestre Pantazi
neste artigo apresenta seu novo
trabalho precisamente visando voltar
à tradição, em função de aplicações
sobre os pontos vitais: As 6 mãos de
Ji do Bubishi aplicadas a técnicas
específicas sobre pontos vitais. Esta
maneira de situar as mãos permite
aplicações extraordinariamente
efectivas em ataques sobre pontos
vitais.
Diz quem sabe que não há nada de novo
abaixo do sol. O Kyusho Jitsu é uma
dessas poucas práticas marciais modernas,
que para além do eclectismo, permite beber
das fontes de diferentes estilos, para nos
ilustrar de como surpreendentemente, os
antigos sabiam muito mais do que todos
pensamos em um primeiro momento.
Este estudo do Bubishi e os
pontos vitais é a viva
amostra disso. Um
DVD que não deve
ser ignorado!
7
6 Mãos Ji (do Bubishi*)
Nos últimos tempos muito se tem escrito, falado e filmado acerca do Kyusho, na sua maioria tratando dos ataques
anatómicos e seus efeitos. Entretanto, nada se escreveu das armas antigas para atacar estes pontos ou acerca da
maneira em que estas são utilizadas.
Acima de tudo temos de lembrar que as Artes Marciais modernas só são uma sombra das Artes antigas, devido à
debilidade das linhas de ensino (Linhagem), ao trespasso de informação “Secreta” e à aparição do desporto. As
Artes incluíram elementos mais complexos e acrobáticos ou atléticos. Além de tudo isto, com a chegada das
MMA (Artes Marciais Mistas), há muita mais matéria para estudar e praticar.
Muito tempo atrás os estilos se baseavam em umas poucas técnicas, mas obrigavam a um treino mais
especializado para a realização a essas poucas técnicas. Era habitual ter um estilo constituído
por 13, 36, 54 técnicas; de facto, aos Katas antigos ou formas era-lhes dado um
nome conforme o número de técnicas que os constituíssem. Havia nomes tais
como Seisan (13), Sanseiryu (36), Gojushiho (54) e muitos outros, alem dos
utilizados como métodos ou fontes de técnicas dos estilos. No entanto, o
que lhes faltava em quantidade era compensado com treino e preparo
físico.
Os estilos antigos criaram batimentos especiais com as mãos (que
agora apenas podem ser vistos nos Katas), no entanto dedicavam
muito tempo à preparação, fortalecimento e endurecimento destes
batimentos, para que magoassem. Forjavam as mãos até que
realmente eram sólidas ferramentas, com métodos dos que
poderíamos pensar que são extremos e até absurdos. Um
exemplo disso é a preparação dos dedos mediante o agarre de
pesadas vasilhas. Depois, paulatinamente o praticante ia
enchendo-as com água, o que levava a adquirir uma
inacreditável força de agarre, mas o mais importante é que
se começava a adquirir força nas mãos para um treino mais
avançado. A seguinte fase era encher um recipiente com
areia e lá meter repetidamente as mãos e os dedos; depois,
os métodos da “palma de ferro”, que consistiam em bater
na areia. Pouco depois, a areia era substituída por
pedras pequenas e mais tarde por pedras de
maior tamanho. Durante anos, se batia
incessantemente com os dedos, como treino
para desenvolver uma arma que permitisse
penetrar nas fascias, ou dito de outra
maneira, destruir partes do corpo e seus
componentes.
Na época actual não trabalhamos assim,
não necessitamos faze-lo, posto que nestes
momentos, os aspectos legais e da saúde não
nos permitem faze-lo. Não obstante, aplicando o
Kyusho moderno (ataques aos nervos) sobre as
veias, ossos e tecidos, podemos usar estas
armas com eficácia, para conseguir incapacitar o
nosso oponente sem lhe causar dano físico
aparente. De facto, estas posições antigas de mãos e
estes métodos são tão viáveis hoje em dia como eram quando foram
criados, mesmo se usados de forma ligeiramente diferente.
Reportagem
Bubishi
O historiador Patrick McCarthy escreveu no
admirável livro “Bubishi, a Bíblia do Karaté”, que
os ideogramas se podiam classificar literalmente
em Bu (Militar), Bi (preparação) e Shi
(documento) ou o que nós chamamos
“documento sobre a preparação militar”. Esta é a
informação real existente atrás dos mitos e
aparentes exagerações que se têm ido
transmitindo acerca desta matéria; agora não só
achamos o mesmo relevante, como também um
elemento primordial na informação acerca dos
métodos de luta antigos.
Pontos Vitais
Este segredo que uma vez foi guardado por uns poucos
Mestres de Karaté privilegiados, era um texto que só se
transmitia a uns determinados estudantes mais hábeis e
mais sábios. Presumivelmente, este texto de autor
desconhecido, chegado às costas de Okinawa desde
Fuzhou (China) a meados do século XIX, é a origem dos
métodos de combate de Okinawa. É um grande livro de
história, filosofia e estratégia, equiparável ao “Livro dos
Cinco Anéis” de Miamoto Musashi, ou à “Arte da Guerra”
de Sun Tzu, pois serve como uma autêntica fonte de
inspiração, assim como de documentação sobre o
batimentos de mãos eram ideais para atacar o
sistema de circulação de sangue do corpo,
causando não só uma imediata incapacidade
do oponente, como também hemorragias
inter nas que com o tempo provocariam
consequências fatais no indivíduo. A estes
objectivos se referem também neste texto
como “Portas do Sangue” ou zonas para ter
acesso aos importantes vasos sanguíneos ou
aos órgãos que mais sangue recebem. O texto
inclui as horas do dia em que os vasos
sanguíneos são mais vulneráveis ao ataque e
podem ser destruídos para causar a morte do
oponente.
Não obstante, apesar destas posições de
mãos serem únicas e seus efeitos muito
intrigantes, é impossível ou quase impossível
a sua prática com os métodos de hoje em dia.
Os preceitos éticos e legais acerca de matar,
mutilar ou causar danos permanentes a um
atacante, fazem inúteis seu uso e estudo.
Podem ser vistas em alguns estilos escuros e
ocultos nas Katas ou Formas tradicionais, mas
actualmente
são
profundamente
incompreendidas e ensinadas com uma
informação ou aplicação incorrecta, posto que
a sua verdadeira intenção não foi transmitida
em liberdade, especialmente aos ocidentais,
durante a ocupação das sociedades indígenas
encarregadas de salvaguardar a verdade
destes caminhos.
No entanto há esperanças, posto que estas
mãos Ji podem ser e de facto são o perfeito
método de transmissão da adaptação mais
moderna das aplicações Kyusho (Pontos
Vitais), razão pela que são adaptáveis a uma
Arte menos daninha mediante umas posições
e batimentos de mãos mais convencionais,
que é o “Ji” ou transferência de energia. Agora
bem, isto não se refere ao que se chama Chi
ou Ki, ou qualquer descrição metafísica de
força, mas sim à transferência da energia
10
verdadeiro Karaté. Inclusivamente, só neste texto se
encontram os métodos de luta, assim como as localizações
anatómicas, tempos para atacá-las, técnicas reais tiradas
dos dois Katas principais, assim como diversos
conhecimentos sobre medicina e a farmacologia de
herbanário da China.
Além disto, apenas neste texto podemos encontrar o
conjunto das 6 Posições das mãos (As 6 Ji, Mãos de
Energia). Todo isso foi criado para infligir o máximo dano no
oponente, junto com a arte específica do Dim Mak ou
Toque da Morte, ao qual também se alude. Estes
cinética ao sistema nervoso do corpo. As
acções exactas e os atributos de
desenvolvimento destes batimentos antigos,
são exactamente iguais à maneira em que o
Kyusho ataca o sistema nervoso para que
trabalhe e realmente se transfira a mensagem
neurológica na forma apropriada. De facto, os
objectivos que se descrevem no Bubishi são
os mesmos objectivos do Kyuso, só que de
uma maneira mais superficial; esta é a razão
pela qual o treino e a preparação das mãos no
estilo antigo não é o mesmo de agora. Já não
necessitamos penetrar fisicamente no corpo,
nem causar grandes feridas para conseguir
um efeito prejudicial.
Estes objectivos são também pontos de
acesso aos diferentes sistemas nervosos,
posto que o tecido vascular sempre está
acompanhado ou protegido por nervos ou
órgãos sensoriais. Atacando estas estruturas é
possível uma incapacitação mais imediata,
como acontecia com o antigo método do Dim
Mak, mas sem propriamente causar nenhuma
doença nem outros efeitos daninhos. Graças a
décadas de busca e de treino usando as mãos
nos métodos de Kyusho, estes segredos se
mostraram aptos para incapacitar e
representam o refinamento dos métodos de
ataque. Isso nos levou a dar a volta inteira
para compreender as formas antigas e evitar
que se percam com o tempo, ou por mandato
dos homens.
Energia
Para compreender melhor a “Energia” nas 6
mãos Ji (Energia), devemos perceber primeiro
a energia cinética tão falada na arte do
Kyusho (como se pode ver nas aulas,
seminários, vídeos e textos). Devemos ver a
verdadeira acção que afecta à superfície
atacada, adicionando de uma maneira
especial penetração e torção, à manipulação
que está sendo executada.
A fim de esclarecer isto um pouco, temos
três acções principais (além destas há outras)
que se usam predominantemente no Kyusho:
1. Pressão no nervo; não é uma pressão
lenta nem constante, é um toque rápido que
transmite uma veloz e aguda reacção
electroquímica no nervo manipulado.
2. Acção de esfregar (realmente trata-se de
esticar ou fazer uma tensão num receptor
anatómico determinado) é uma acção cortante
rápida e profunda para activar o acto reflexo.
3. Batimento, que é um estiramento,
compressão ou força cinética de vibração
para afectar o nervo.
Estes tipos de transferência de energia
cinética se conseguem com uns movimentos
apropriados e uma acção corporal
coordenada, usando as posições específicas
das mãos. Perceber a acção ou aplicação
correcta desta torção ou manipulação das
posições das mãos (junto com alguns
objectivos específicos) pode levar anos de
estudo e prática, entretanto, é possível treinar
durante um breve espaço de tempo para
conseguir um uso efectivo e sem precisar uma
preparação que possa ser causa de magoar
as mãos, como artritismo ou lesões nas
articulações.
Há seis variantes de torção nos movimentos
das mãos e por isso o nome de “Mãos de
Energia” é tão adequado. Estudando-as com
mais detalhe o leitor de certo poderá perceber
as posições específicas, assim como suas
diferentes possibilidades.
1. Mão de ossos de ferro - transferência de
rotação. (Imagem A)
Esta posição de mão utiliza o primeiro nó do
polegar para fazer o ataque. A maneira
apropriada de uso é com uma dupla rotação,
Reportagem
onde o pulso executa duas rotações simultaneamente. Quando
impacta no objectivo, o pulso gira simultaneamente para dentro e para
baixo, para que os dedos se afastem facilmente do objectivo. Isto faz
que a energia se concentre mais facilmente para baixo no objectivo e
mande uma descarga à estrutura do nervo. Alguns objectivos viáveis;
debaixo da sobrancelha, ST-5 por cima, St-5 por baixo, TW-17, ST-9,
SI-18, M-HN-14, M-HN-18, LV-13, LV-14, H-2, ST-17, GB-26, BL-23,
GB-20, SP-11, ST-34 e muitos outros.
2. Palma de areia de ferro - Estendendo a transferência (explodindo).
(Imagem B)
Usando a palma da mão (não os dedos). Esta é uma arma ideal para
superfícies duras onde o nervo é superficial, como no racimo-GB
(Vesícula biliar) da frente. O racimo-GB consiste realmente em dois
ramais do nervo que se estende desde o osso atrás do olho até a zona
transversal da esquina do olho, assim como à zona média da
sobrancelha, por cima da testa até a zona do cabelo, justamente
debaixo da pele e do outro tecido. O método para usar esta arma é
estender rapidamente a palma no impacto (enquanto se separam os
dedos). Isto causará uma descarga na zona em que se bate, a qual é
extensiva por natureza… Pensemos nas ondas que se produzem na
água quando um objecto bate nela. Isto também se adapta a
objectivos que se encontram debaixo da pele na parte mais dura do
crânio. Este outros objectivos viáveis são (mas não limitadamente), ST5, BL-10, ST-1, ST-3, M-HN-18, assim como há muitos outros.
3. Mão de espada (Mão de vento) - transferência
de batimentos. (Imagem C)
No livro e no DVD Top Ten, é
possível ver muito bem o seu
uso; esta arma tem grande força
de penetração devido à sua
velocidade. É usada a zona
conhecida como o calcanhar
da mão ou osso do pulso;
quando a mão ou o braço
estão em movimento em
direcção ao objectivo a uma
velocidade normal, a mesma
aumenta agitando o calcanhar
da mão sobre o objectivo,
provocando que haja uma
superfície mais afiada, assim como
um foco mais agudo de transferência
de energia. Alguns objectivos
específicos que reagem bem a este
ataque estão em zonas mais moles,
como o pescoço GB-20, LI-18 & ST9, ou inclusivamente em superfícies
mais duras, como a parte traseira da
mandíbula TW-15.
4. Mão de folha de erva Transferência de dupla direcção.
(Imagem E)
Podemos pensar na dupla direcção
como no clássico Yin e Yang, ou no
uso simultâneo de puxão e empurrão. Por exemplo, os dedos
dobrados podem realizar uma acção de puxar ou estender, assim como
os batimentos dos dedos estendidos no nervo esticado. Por exemplo,
agarrando a clavícula para activar o ST-10 ou 11, seria afectar o nervo
que está entre os ramais do músculo esternocleidomastoideo no ST-10
ou ST-9, para fazer uma penetração aguda com o dedo indicador
estendido. Isto é acompanhado com a torção do pulso, para conseguir
força de penetração com uma acção pequena e eficaz.
5. Mão de coagulação de sangue - transferência de rotação para
diante. (Imagem D)
Este é o ataque mais poderoso e devastador para
muitos objectivos. Está melhor delineado para
conseguir uma maior penetração nos pontos
do corpo que os outros ataques de mão. Fazse usando o movimento de rotação dos dois
primeiros nós. No entanto, não podemos
(assim como nas outras posições da
mão) negar a possibilidade de bater,
puxar ou comprimir com os
dedos, ou de esfregar
com a mão.
Alguns objectivos como o ponto K-27, justamente debaixo da
anca, justificam uma acção mais profunda de rotação (para esticar
ou comprimir). Por isso se usa este nome de “Mão de coagulação
de sangue”. Era uma ferramenta para atacar órgãos nos quais o
sangue realmente se concentra. Isto poderia interferir
severamente no baço, fígado, rins, ou mesmo no coração, ou no
primeiro objectivo mencionado o K-27, um tecido vascular crucial
que vai e vem do coração, assim como as artérias aorta e jugular.
6. Mão da garra de ferro - Transferência de puxão. (Imagem F)
Esta arma não é nova para a maioria das Artes, visto ser uma
das armas mais frequentes. No entanto, habitualmente não se usa
da maneira em que foi delineada, nem nestes tempos se ensina
como um dos típicos objectivos do Kyusho ou do Dim Mak. Não
obstante, é uma arma versátil que originalmente atacava estas
estruturas anatómicas débeis, como o pulso, o antebraço, o
braço, o pescoço, a cara, inclusive ainda que em menor maneira,
a perna. A correcta aplicação consiste em pressionar as
estruturas superficiais para expor o verdadeiro objectivo e então
comprimi-lo e girá-lo (“as garras”) na direcção da estrutura. Esta
arma é tão ampla que precisaríamos de fazer mais um artigo ou
mais um vídeo para poder mostrar em detalhe todas as suas
possibilidades.
O preparo físico
O preparo físico acontece de
maneira natural com a prática e o
treino e com o contacto real do Kyusho
para poder constatar os efeitos reais.
Por exemplo, quando se usa a garra de
ferro agarrando o pulso ou outras
zonas, usando o contacto e a força
para provocar uma resposta
neurológica, se está treinando
simultaneamente a velocidade, a
coordenação, a força, e as acções
apropriadas de agarre e torção,
desenvolvendo a sensibilidade e a
focalização. Já não é necessário
castigar as mãos tanto tempo, como
se fazia antigamente, posto que
evoluímos partindo da força destrutiva
do Dim Mak, até a arte mais subtil e
efectiva que é o Kyusho.
Aprendizagem
Fotos:
14
Texto: Toni Moreno
© www.budointernational.com
Nunchaku
Rara vez um Mestre Marcial alcança a
destreza em vários estilos e o êxito desportivo
como é o caso deste campeão mundial de
Taekwondo. Toni Moreno é um extraordinário
artista Marcial; não só está dotado
excepcionalmente para a prática e a
competição, como tem demonstrado em 30
anos de uma bem sucedida carreira, é
também um inteligente organizador de
métodos, um homem que pensa e delineou
um dos métodos mais eficazes e rápidos
para aprender a dominar uma arma tão
complexa e versátil como o
Nunchaku. Seus vídeos estão longe
do habitual exibicionismo de outros
autores, para concentrar-se no
método,
no
ensino
ao
estudante. Após o sucesso
obtido com o seu
primeiro DVD, eis
aqui a segunda
entrega para
estudantes
m
a
i
s
avançados.
15
A
evolução é a consequência lógica do progresso
em qualquer das suas possibilidades e neste
caso, com este segundo vídeo para aprender a
utilizar o Nunchaku, lançamos ao mercado a
evolução em um sistema que é
consequente com seus princípios,
aprendizagem, compreensão, criação e evolução.
Em meus trinta anos praticando Artes Marciais
acabei por compreender que o mais importante na
aprendizagem e no ensino do que é Marcial, é a
utilização de um sistema bem construído, para que
através do treino se possa chegar de maneira
segura, eficaz e o mais rápida possível à meta,
que não é outra que o domínio da Arte em
questão. Como bem sabemos, nas Artes
Marciais a meta é sempre uma projecção de
eterna aprendizagem, mas um bom sistema
deve ser capaz de nos levar rápida e
directamente, ao domínio do estilo, arma
ou técnica a aprender.
Neste, como em outros vídeos de
aprendizagem, quis deixar de lado
qualquer género de exibicionismo. O
meu objectivo é bem claro: ajudar a
aprender novas técnicas com esta versátil
arma.
Para que este vídeo seja ainda de mais
utilidade é importante ter estudado e treinado
as técnicas do primeiro volume “Nunchaku: THE
METHOD FROM 0 TO 100” que realizamos
aproximadamente um ano atrás.
No primeiro vídeo começamos de zero, sem nenhuma
experiência nem contacto prévio com o nunchaku; nele eu
entregava as bases para conhecer e aprender a usar esta arma;
também ensinava muitas e variadas técnicas, que iam desde uma
base prática e gradual, com grupos de movimentos que constituem
este sistema como: direcções de movimentos, mudanças de direcção,
mudanças de mão, rolamentos, dois nunchakus, direcções de
batimento, defesa pessoal, etc..
Com este segundo volume “ADVANCED NUNCHAKU” (“Nunchaku
avançado”) podem evoluir muitíssimo. Este é um método mais que
contrastado com múltiplos alunos; aplicado na maneira correcta, sem dúvida
alguma leva a aprender novos e complexos movimentos, novas técnicas,
algumas das quais se destacam por sua tremenda dificuldade. Outras serão
apreciadas por serem realmente espectaculares..., outras ainda, aparentemente
mais simples e práticas, abrirão novos caminhos a uma execução com novos
movimentos, posto que quando adaptadas a cada indivíduo permitem essa finalidade
tão desejada por qualquer praticante desta arma que tenha alguma experiência prévia
em seu uso. Poderá então obter domínio e destreza máximas, alcançar o que parece
impossível com naturalidade e com genuíno controlo das mais extraordinárias formas e
combinações.
“O meu objectivo
é claro:
Ajudar a aprender
novas técnicas
com esta
versátil
arma”
16
Análise do conteúdo do DVD “Advanced
Nunchaku”
técnica, que é de difícil execução e de
grande beleza plástica e vistosa.
seguinte passo na escala evolutiva da
utilização de dois nunchakus.
1. MUDANÇAS DE DIRECÇÃO
Seis novas técnicas e uma combinação de
todas elas. Neste capítulo destaca a
mudança de direcção sobre pulso com
rolamento, que surpreende por sua
simplicidade e possíveis aplicações.
4. LARGADAS
Novo grupo que não se tocou no primeiro
vídeo e que a muitos dos leitores será muito
espectacular, junto com os rolamentos e
dois nunchakus. Começo mostrando cinco
técnicas que exigem muita prática, mas
algumas delas, quando praticadas
assiduamente não são nada difíceis de
realizar.
6. DEFESA PESSOAL
Apresento seis combinações de
batimentos concatenados em diferentes
alturas, distâncias e direcções de batimento,
passo lógico para melhorar as técnicas
perante defesa pessoal real.
Naturalmente, sem esquecermos que não
é uma arma que se possa portar na rua para
a própria defesa, nem sequer os nunchakus
de espuma estão autorizados seu uso nem
sua comercialização em numerosos países.
2. MUDANÇAS DE MÃO
Oito novas técnicas e duas combinações
com algumas delas. Algumas técnicas deste
grupo são extremamente difíceis e outras
nem tanto, mas sendo muito espectaculares
e com grande capacidade para fazer
combinações conquistam os praticantes.
Disso não tenho a mais mínima dúvida.
3. ROLAMENTO
Neste capítulo apenas apresento
uma
nova
5. DOIS NUNCHAKUS
A finalidade no uso do nunchaku visando
a exibição é dominar a arma com as duas
mão ao mesmo tempo, por tanto não ter
dificuldade em seu uso com os dois braços,
em diferentes direcções, com largadas,
rolamentos, etc.. Neste vídeo
ensino seis novas técnicas com
dois nunchakus, introduzindo
movimentos opostos
dos
braços,
7. DEFESA PESSOAL PERANTE
AGRESSORES
Quatro situações imaginárias que mostram
às claras a contundência e a capacidade de
destruição do nunchaku. É tal a potência ao
impacto do nunchaku que na realização
deste vídeo nos vimos obrigados a utilizar
nunchaku de espuma com corda, que é o
menos pesado e por conseguinte
impacta com menos potência,
mas mesmo assim, os parceiros
que faziam de agressores
deviam usar capacetes com
protecção para o rosto.
Convencido e desejoso que
este vídeo sirva para que os
interessados possam continuar
aprendendo mais técnicas e possibilidades
com o nunchaku, apresento este segundo
volume do meu sistema. É conveniente
praticar primeiro com o primeiro volume
“THE METHOD FROM 0 TO 100” e dominar
todos os passos de cada técnica, antes de
continuar com a seguinte.
Como é lógico, cada um gozará ou
realizará mais facilmente umas técnicas que
outras, mas é importante de um modo geral
gozar com o treino, aproveitar o bem o
tempo e ir aprendendo com um bom
método.
Espero que gostem desta segunda
entrega para praticantes avançados.
Quero agradecer ao Sr. Tucci e a toda a
sua equipa a maneira como fomos recebidos
tanto os meus alunos como eu próprio,
assim como a possibilidade de chegar até
praticantes do mundo todo e serem eles a
julgar a validez do meu sistema.
17
“O domínio e a destreza
máximas permitem alcançar o
que parece impossível com
naturalidade e com genuíno
controlo das mais
extraordinárias formas
e combinações”
“Um bom sistema deve ser capaz
de levar-nos rápida e directamente
a dominar o estilo,
arma ou técnica a aprender”
18
Armas Marciais
19
Artes do Japão
O
Jujutsu, durante séculos, foi
uma das artes do exército
japonês, que a manteve em
seu currículo até a Segunda
Grande Guerra. A sua origem
se perde no tempo, nos
deixando rastros de que tenha surgido na
Índia ou mesmo vinda dos índios
japoneses.
De uma forma ou de outra, a arte suave
ou flexível, como é traduzido o Jujutsu,
difere muito da forma apresentada na
época contemporânea. O Jujutsu
tradicional está incluído no programa de
Koryu, que visa a conservação das formas
clássicas iniciais.
O antigo estava voltado à manutenção
do pensamento vivo do Bujutsu como
20
propriedade defensiva em campos de
batalha. Sendo assim, não pode ser
considerado esporte nem tão pouco
moderno.
Por definição, um método de combate
desarmado representa um modo
sistemático e engenhoso em aplicar o
corpo humano como arma.
Esse tipo de combate sem a utilização
de armas foi adoptado, em primeira
ordem, para resolução dos problemas de
confrontos violentos.
Combates armados e desarmados
parecem ter coexistido desde o princípio
da história suplementando, integrando, ou
substituindo um ao outro de acordo com a
demanda
do
tempo,
lugar
e
circunstâncias.
De facto, a observação mostrou que o
corpo humano poderia operar com
habilidade em combate como uma arma
primária e que a mestria de seus
elementos e funcionalidades seria capaz
de fazer com que um homem subjugasse
outro homem violentamente, enquanto
simultaneamente aplicasse isto em defesa
própria.
Cada escola segue bem a sua linha de
técnicas e Seiteigata que lhe foram
convenientes no passado. Esta
conservação nos dias actuais tem gerado
intensas dúvidas e conflitos entre mestres
e alunos. É natural e compreensível este
acontecimento, haja vista que com a
chegada da modernidade e os novos
métodos de aprisionamento - algemas,
21
Artes do Japão
presilhas -, o Torite, que representa o
passado em forma de técnicas, seja visto
através de uma visão efectiva como um
artefacto quase obsoleto e por
conseguinte, questionado ou abandonado.
O não entendimento gera um conflito. O
conflito gera a insatisfação com a prática.
No entanto, ninguém pode negar que
estamos em uma época de intensas
transformações e novas consciências no
mundo das artes marciais. O Oriente está
se ocidentalizando e o Ocidente se
orientalizando; talvez algo já previsto pelos
sociólogos e pensadores. Já não
possuímos mais a hegemonia, nem tão
pouco a supremacia de nenhuma raça ou
povo em nenhuma de suas características
culturais. É chegada, de facto, a era da
globalização; foi-se o tempo em que os
japoneses eram os melhores em suas
artes;
diversos
ocidentais
têm
demonstrado que uma coisa é tradição,
outra é realização, competência; haja vista
a quantidade de japoneses que buscam
em mestres ocidentais respostas para
suas ânsias e desejos. Já não existem
mais sonhos em se tornarem Uchi-Deshi
deste ou daquele mestre simplesmente
por dizer que faz parte de uma árvore
genealógica… Nossos espíritos e almas
estão cada vez mais exigentes; e isto é
bom! Excelente!
Podemos, sem dúvida, através da
história, dizer que o Jujutsu é uma das
pioneiras artes de guerra no Japão;
contudo, para os dias de hoje, sua
efectividade, como tudo, torna-se relativa;
tudo depende deste ou daquele factor.
Entretanto, posso dizer que o mais
interessante e que já não é mais relativo, é
seu teor investigativo dentro de suas
propriedades. Sua prática deve ser muito
mais investigativa que “instigativa” - para
fins irregulares.
Podemos dizer em profundidade que o
Jujutsu tem uma virtude a que nada falta,
ele é absoluto em si mesmo: por isto
mesmo, apesar dela estar firmemente
estabelecida como arte de guerra, está,
contudo, sempre se movendo. Busquemos
o que vem a ser este "movimento". Apenas
porque o movimento de sua relatividade
não é igual ao do ser humano. Este
"movimento" a que se referia Dokai, é a
essência
de
todo
movimento.
Esclareçamos o que significa esta
afirmação, "sempre se movendo". "Sempre
se movendo" indigita com isto a eternidade.
Este movimento mencionado aqui,
"sempre" é muito mais rápido que o próprio
vento, mas aqueles que estão vivendo no
Jujutsu nem notam que ele está se
movendo e nem estão de forma nenhuma
conscientes deste movimento. Ainda que a
história o conserve, suas formas intervêm
na modernidade, desencadeando uma série
de formas de Jiu Jitsu. Podemos ver pela
visão do Haragei que quem está
adormecido não tem consciência deste
22
movimento. O movimento, apenas corporal,
não é nada comparado ao movimento que
a mente proporciona. Contudo, ainda
assim, tudo é relativo!
No que se refere a técnicas antigas, é
necessário se considerar que estudar não
é meramente realizar um movimento, é
conhecer a sua essência. Todavia, há de
se lembrar que o valor histórico só existe
se o pensamento também for conservado.
Cada seguimento (RYU) de Seitei possui
uma explicação específica e uma directriz
que favorece a manutenção dos motivos
pelos quais aquela técnica é executada
daquela maneira, naquele ângulo, com
aquele braço, e etc.…
Torite se refere a aprisionar,
aprisionamento.
Realizar técnicas de Hayanawa,
aprisionamentos, ou mesmo sequências
como específicas não caracterizam o
factor antigo, nem desmerece o esforço de
quem os desenvolve nesta era
contemporânea. Entretanto, a função do
Seiteigata, principalmente do Torite, é
conservar a forma de actuação da
polícia da época. Manter como fundo
antropológico as diversas formas de
aprisionamento e manifestação
diante de uma situação corelacionada. Podemos fazer uma
pergunta: mas como saber se
este é o correcto ou
verdadeiro?
Seria muito difícil
comprovar o que real mente era feito em tais
períodos, apenas seguir a
corrente que chegou até
os dias de hoje. É por isso
que não se pode des merecer quem tenta,
de alguma forma,
realizar algo parecido.
Este era o caminho da
época e é natural que
encontremos
cada
professor realizando-o à
sua maneira. Contudo,
há de se lembrar
também que alguém
se esforçou para
mantê-los como
são.
O
mundo
evolui, e certa mente que com
ele, muitas novas
formas surgirão; e
é importante que
surjam para que
o novo possa
r e n o v a r
a n t i g o s
conceitos.
P o r é m ,
q u a n d o
falamos em
conservação,
nos remetemos à protecção contra a
deterioração. Muitos mestres acreditam que
a conservação deve surgir primeiramente no
interior de quem pratica as formas antigas.
Ou seja, devemos concentrar-nos, para
controlarmos o pensamento. Neste caso em
específico, concentrar-se é meramente
resistir, é construir um muro à volta de si
mesmo, para proteger uma focagem sobre
uma ideia, um princípio, uma imagem, ou o
que quer que seja, excluindo tudo o mais.
Obviamente que do momento em que estas
formas estão direccionadas a uma prática
real - Kakuto no Bujutsu - toda forma que
aprimora é bem vinda, tal como suas
modificações. Há de separar bem esses
dois aspectos.
Alguns afirmam que é uma
questão
de
moralidade para
com a prática.
REF.: • LONG6
REF.: • KYUSHO17
Novidades DVD´s de Artes Marciais
REF.: • TMNUN2
De entre os textos clássicos mais antigos
das Artes Marciais, o Bubishi brilha por si
mesmo. O Mestre Pantazi realiza este novo
trabalho precisamente visando voltar às
raízes tradicionais das “6 Mãos de Ji” do
Bubishi, aplicadas a técnicas específicas
sobre pontos vitais. Apesar destas posições
de mãos serem únicas e seus efeitos muito
intrigantes, é quase impossível praticá-las
com os métodos actuais, mas não percam a
esperança, posto que estas mãos Ji podem
ser o perfeito método de transmissão da
adaptação mais moderna das aplicações
Kyusho. Atacando estas estruturas é possível
uma incapacitação mais imediata, como
acontecia com o antigo método do Dim Mak,
mas sem propriamente causar nenhuma
doença nem outros efeitos daninhos. Graças
a décadas de busca e treino, estes segredos
se têm desvelado aptos para incapacitar e
representam o refinamento dos métodos de
ataque. Isso nos levou a dar a volta inteira ao
círculo para compreender as formas antigas
e evitar que se percam com a passagem do
tempo, ou por mandato dos homens.
PrEÇO:
35,00€
c/u
NOVIDADES
DO MÊ S!!!
Neste trabalho, que é uma continuação do
realizado em 1998 e que foi extensamente
criticado, o Mestre Longueira apresenta uma
nova maneira de interpretar o Aikido, o caminho
combativo que O'Sensei transmitiu a mestres
como Mochizuki. É por isso menos válido que o
transmitido a Doshu? Vejamos bem! Em um
combate real, Uke não é tolerante, não aceita
as técnicas, Uke é o inimigo e devemos
escolher entre vencer ou ser vencidos. É esta a
mudança de atitude que propõe o Aikido
Longueira-Ryu, não se vence com o Ki mas com
o pensamento e o corpo, combatendo com uma
ideia clara, vencer. Longueira recuperou parte
da esquecida identidade marcial neste DVD,
incorporando técnicas de chão, com
imobilizações e sutemis, e técnicas com luvas,
onde se pode apreciar não só a rapidez da
execução, como também uma verdadeira
intenção de Uke de magoar-nos. Uma amostra
do “Aikido Combat”, que acaba no combate
pleno, com ausência de protecções (pois os
conhecimentos técnicos e habilidades já o não
requerem) e onde respeitando toda a tradição,
se pratica um Aikido “marcial”, um Aikido
“eficaz”…, uma arte marcial!
Rara vez um Mestre Marcial alcança a destreza em vários estilos e o êxito desportivo como é o caso deste campeão mundial de Taekwondo. Toni Moreno não só está excepcionalmente dotado para a prática e a competição, é também um homem que concebeu um dos métodos mais eficazes e rápidos para aprender a dominar uma
arma tão complexa e versátil como é o Nunchaku. Neste DVD, como lógica evolução do seu primeiro trabalho, Toni entra em profundidade no sistema com
novas e mais complexas técnicas de mudanças de direcção, mudanças de
mão, rolamentos, duplo Nunchaku, batimentos concatenados, defesa pessoa, e inicia o ensino das largadas, a característica que no manuseio desta
arma mais chama a atenção.
Novas técnicas, algumas de tremenda dificuldade, outras verdadeiramente espectaculares, e outras aparentemente mais simples e práticas,
que abrem caminho a novas dimensões no domínio do Nunchaku. Resumindo, alcançar o que parece impossível com naturalidade e com genuíno
controlo das mais extraordinárias formas e combinações.
PEDIDOS:
CINTURAO NEGRO
Andrés Mellado, 42
28015 - Madrid
Tel.: (0034) 91 549 98 37
Fax: (0034) 91 544 63 24
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Todos os DVD’s produzidos por Budo International são
realizados em suporte DVD-5, formato MPEG-2
multiplexado (nunca VCD, DivX, o similares) e a
impressão das capas segue as mais restritas exigências
de qualidade (tipo de papel e impressão). Também,
nenhum dos nossos produtos é comercializado através
de webs de leilões online. Se este DVD não cumpre
estas exigências e/o a capa e a serigrafia não coincidem
com a que aqui mostramos, trata-se de uma cópia
pirata.
O NOVO GÉNIO DO MMA
As bolsas de apostas estavam certas,
mas ninguém poderia prever que de maneira
tão expressiva. No dia em que completava
23 anos e 8 meses de idade, Jon Jones
deixou o público em êxtase no UFC 128 com
a forma como passou por cima, sem dó nem
piedade, do então campeão Maurício Shogun
e tomou-lhe o cinturão dos pesos meiopesados 41 dias depois de sua última luta.
Na reportagem que você acompanha a
seguir, a Budo disseca o novo génio do
MMA.
Texto: Colin Foster & Marcelo Alonso
Fotos: UFC
““A ousadia,
tranquilidade e
confiança que ele
demonstrou me
impressionaram”
Minotauro
“Ele fez tanta coisa
incrível que só
faltou ter um bebé
no Octagon”
Dana White
24
Grandes Lutadores
Atropelando o Campeão
Jon Jones correspondeu com sobras às expectativas da
imprensa americana e mostrou técnicas que vão muito além
da sua especialidade, o wrestling. De cara, o então desafiante
presenteou Shogun com uma joelhada voadora que o deixou
tonto por toda a luta e sem pressa, castigou com um mix de
chutes altos, cotoveladas e socos rodados.
Dono da maior envergadura da história do UFC, com
2,15m de alcance, Jones manteve Shogun à distância como
um adulto faz com uma criança, apenas esticando o braço
e v en do so co s desferidos inutilmente no ar, até se
esgotarem pelo cansaço. Como que curtindo o êxtase do
público, se exibiu durante quase três rounds, mesmo
podendo ter mi n ar antes a luta, até que o brasileiro
desmontou no Octagon, totalmente consumido e
notoriamente derrotado.
Jones atingiu Shogun 102 vezes,
enquanto foi golpeado
em apenas 11 oportunidades
Ao término da luta, Jones mostrou o que aquele título
significava, acariciando o cinturão dos meio-pesados durante
todo o tempo que falava. Uma coisa era clara: consolidava-se
ali um fenómeno do UFC e do MMA, capaz de manter o
precioso troféu sob seu domínio por muitos anos. “Foi minha
performance mais completa, certamente”, reconheceu já nas
entrevistas.
O site de estatísticas das MMA, FightMetrics mostrou
números impressionantes: Jones desferiu 102 golpes nos
12min37seg de luta, enquanto apenas 11 o atingiram. O novo
campeão derrubou Shogun uma vez e o golpeou 70 vezes na
cabeça. Além de ser ofensivamente brutal, mostrou defesa
apurada nas raras vezes em que foi atacado, e só permitiu um
low-kick do brasileiro.
Queridinho da América
“Bones” foi recebido na semana seguinte por Jay Leno,
apresentador do “Tonight Show”, um dos programas de maior
audiência dos EUA e foi ovacionado pela plateia. Falou com
extrema desenvoltura, lembrou o episódio antes do UFC 128
quando correu atrás e parou um ladrão, contou curiosidades
de sua vida e brincou com a actriz Kirstie Alley, mostrando
todo seu carisma e potencial mediático, que o fazem ser a
nova “menina dos olhos” do UFC.
Quem é Jon Jones?
Fé para superar tragédia familiar
Nascido no vilarejo de Eddincont, Nova York, Jon Jones
teve criação voltada à fé. E foi assim, ouvindo sermões do pai,
pastor de uma igreja Pentecostal, que conseguiu superar a
perda de sua irmã mais velha, Carmen. Ela morreu de câncer
cerebral às vésperas de completar 18 anos. Jonny tinha
apenas 12.
Irmãos desportistas
Arthur Jones III, de 24 anos, actua na NFL, a liga de
futebol-americano dos EUA, pelo Baltimore Ravens.
Chandler também é jogador de futebol-americano e está
em seu primeiro ano em Syracuse, mesma faculdade
cursada por Arthur. Ao contrário dos dois, Jonny não
chegou à NCAA, mas fez sucesso no Junior College e
ganhou o campeonato colegial pela Iowa Central
Community College, em 2006. Por isso, ele está no Hall da
Fama do Wrestling.
25
Homenagens à irmã
Jon Jones faz diversas homenagens à
irmã. Sua segunda filha, nascida em 2009
(Leah foi a primeira), se chama Carmen. Ele
também tentou tatuar o nome em japonês
nas costelas, mas depois cobriu; teve
pintado “Guerreiro Pacífico”. No peito, tem
o versículo Filipenses 4:13 da Bíblia, o
preferido dela.
Carreira meteórica
Sua estreia no MMA aconteceu em
Abril de 2008, quando ganhou duas lutas
em cinco dias, sendo uma em cima do
b r a s i l e i ro C a r l o s E d u a rd o . U m a
sequência de seis vitórias seguidas o
alçou ao UFC e em sua primeira luta
derrotou outro brasileiro, André Gusmão.
A t é o t í t u l o , d e r ro t o u n o m e s c o m o
Brandon Vera, Vladimir Matyuschenko e
Ryan Bader.
A alcunha “bones” vem da época em
que jogava Futebol Americano na escola.
A armadura deixava suas pernas finas tão
e m d e s t a q u e q u e p a re c i a m a p e n a s
ossos.
Versátil e sujo?
É difícil descrever o jogo de Jon Jones.
Além do Wrestling, ele também é campeão
nacional de Kickboxing. Seus chutes altos,
socos e cotoveladas rodadas acabam com
qualquer plano de jogo. Sua única derrota,
para Matt Hamill, em 2009, lhe deu fama de
lutador “sujo”. Mesmo advertido e punido,
Jones utilizou cotoveladas ilegais de cima
para baixo diversas vezes, com o
adversário no chão e com o nariz já
quebrado. Foi desqualificado. Em outras
lutas, até mesmo contra Shogun, recebeu
críticas por sua violência nos golpes e pelo
excessivo uso dos cotovelos. Dana White o
considera “intimidador”.
Depoimentos explicam
porque ele é o cara...
A performance de Jon Jones foi assunto
recorrente entre os lutadores. Fomos atrás
de depoimentos de grandes nomes do
MMA mundial, que não hesitaram em dizer:
este jovem americano é o cara.
Dana White,
presidente do UFC
“Achei que a falta de experiência
f o s s e a t r a p a l h a r. I m p r e s s i o n o u s e u
domínio sobre Shogun, um lutador
ardiloso, esperto, que tem enfrentado
o s m e l h o re s c a r a s d a c a t e g o r i a n o s
últimos 10 anos e é um finalizador, vai
pr'a cima. Jones simplesmente tirou
isso tudo da sua frente, dominou a luta
e acabou com ele. Ele fez tanta coisa
incrível que só faltou ter um bebé no
Octagon”.
26
Junior Cigano,
2º lugar no ranking dos
pesos pesados
“Fiquei muito impressionado com a forma
como ele dominou a luta contra o Shogun,
em todos os aspectos. Depois do que vi,
acho que ele vai reinar nessa categoria por
um bom tempo”.
Rodrigo Minotauro
“A ousadia, tranquilidade e confiança que
ele demonstrou me impressionaram. Ele é
muito calmo, bem atlético, mantém bem a
distância pelo tamanho que tem e sabe
jogar na curta pelo backround de Grego
Jackson. Mas me impressionou mesmo foi
como melhorou no intercâmbio na última
luta. O garoto é completo!”.
José Aldo, campeão dos
pesos pena do UFC
“O Jon Jones mostra muita inteligência,
chegou numa fase muito boa a essa luta
contra o Shogun e aproveitou isso. O
Shogun estava sem ritmo, o que o Jones
soube usar a seu favor. Ele é um grande
campeão”
A voz do
novo Campeão
Jon Jones é
muito diferente da
maioria dos jovens
de 23 anos. Não
só
por
ser
campeão de MMA
da categoria mais
disputada
do
mundo,
mas
também
pela
facilidade para se
expressar e pela
maturidade. Assim
como nas lutas,
não foge das
perguntas. Abaixo
algumas
das
p r i n c i p a i s
declarações do
novo dono do
cinturão dos meiopesados do UFC,
logo após a vitória
sobre Shogun.
Humildade
“Há apenas três
anos eu estava na
faculdade
e
tentando ganhar
algum dinheiro.
Lembro de não ter
como viajar para
minha casa no
“A alcunha ‘bones’
vem da época em
que jogava
Futebol Americano
na escola.
A armadura
deixava suas pernas
finas tão em
destaque
que pareciam
apenas ossos”
Natal, então sei como é estar do outro lado
da cerca. Ter esse cinturão e ser campeão
mundial não me fazem melhor do que
ninguém, sei como lidar com isso. É parte
do meu sonho, representa segurança
financeira para a minha família e não vou
deixar ninguém tirá-lo de mim” - UFC.com
O NOVO GÉNIO DO MMA
“Ter esse
cinturão
e ser campeão
mundial
não me fazem
melhor
do que ninguém,
sei como l
idar com isso”
Possível “Era Jones”
"Não acredito nessa história de nova
era. Acredito em quem trabalha duro, faz
um 'training camp' forte, para ganhar, e
é para isso que me preparo. Me senti
bem, fenomenal, na luta. Sou
abençoado por saber usar esse dom
que recebi. Foi minha performance mais
completa" - ESPN
Variedade de golpes
utilizados em suas lutas
"Aprendi boa parte desses golpes sem
nenhum treinador, olhando no Youtube.
Enquanto as pessoas começam com o
básico, aquele '1-2, jab, 1-2 jab', eu
procurava imagens desses socos
rodados" - Colectiva de imprensa
Grego Jackson
“Ele é um grande treinador, tira o
máximo das nossas habilidades, trata de
cada atleta individualmente, mudando
pequenas coisas em cada um. Ele me
mostrou como ser imprevisível, alternar
golpes de cima para baixo, girando...”
Exposição excessiva
a contra-ataques
"Não me importo o quão em perigo eu
fico por causa desses golpes,
considero-os imprevisíveis. Assim que
você inicia o movimento deles, as
pessoas estão preocupadas mais em
defender suas cabeças do que em
contra-atacar você".
27
Look Mai Muay Thai
Erawan
e entre as numerosas estratégias de combate
desenvolvidas pelos mestres de luta siamesa
durante um período de vários séculos, desde os
começos dos anos 1600, até o século passado,
se destacam as técnicas avançadas,
normalmente denominadas genericamente como
Look Mai Muay Thai. Cada uma delas, de maneira parecida ao
que acontece com as mais simples estratégias Mae Mai (ou
técnicas básicas), encerra muitos princípios de combate que
quando já descodificados, proporcionam ao thai boxer uma
ampla bagagem técnica para usar em cada ocasião.
Agora vejamos em detalhe a Look Mai número 1
(segundo a codificação universalmente aceite por todos os
Arjarn tailandeses).
A técnica se denomina Erawan Soei Nga, que literalmente
quer dizer “Erawan (o elefante branco com três cabeças) bate
com o dente". Superficialmente analisada, esta acção consta
da aplicação de um ou mais punhos que quando levados de
baixo para cima ao rosto ou ao corpo do adversário, evitam
seu ataque impetuoso. Na realidade, cada Look Mai nos abre
o caminho a um exame detalhado de um mundo pleno de
tradições culturais ancestrais, de técnicas marciais
sofisticadas e conhecimentos médicos precisos.
D
A origem
O nome hinduísta de Erawan é Airavata, o mítico elefante
branco. O elefante é a cavalgadura dos reis e símbolo do
poder real, o poder do domínio; de facto, Indra, Rei do Céu,
cavalga sobre o elefante Airavata. Segundo a tradição
Airavate tem quatro dentes e sete trombas e é branco
albino. Está unido à água e à chuva, pois o poderoso
elefante mete a sua tromba na água do mundo subterrâneo
e manda-a borrifada para o céu, criando as nuvens que
Indra bate umas contra as outras fazendo chover e assim
pondo em comunicação os dois mundos, o mundo do céu
e subterrâneo. Erawan, a versão tailandesa de Airavata é
representado como um enorme elefante com três cabeças
(em algumas versões tem trinta e três), cada cabeça com
dois ou mais dentes de marfim; também nesta versão
Erawan é a cavalgadura do deus Indra.
O verdadeiro protagonista
Além de ter um papel fundamental nas actividades
práticas dos tailandeses, tradicionalmente e desde épocas
renotas os elefantes foram considerados em um sentido de
grande espiritualidade. Mencionados por primeira vez nos
textos hinduístas e budistas de muitos séculos atrás,
gozaram desde então de um prestígio maior que qualquer
outro animal. O significado espiritual dos elefantes é
atribuído a Ganesha, o deusa hindu do conhecimento, que
remove os obstáculos; sua tromba é curva, para simbolizar
que pode alcançar a meta suprema rodeando os
obstáculos. Entretanto, o sentido dos elefantes brancos, os
28
mais sagrados, têm suas raízes no Budismo. Na Tailândia
só o Rei podia possui-los. A importância do soberano, a
partir do Rei Ramkamhaeng (século XIII), era avaliada pelo
número de elefantes brancos que possuía.
A técnica
O elefante é um animal enorme, dotado de uma potência
excepcional, de facto pode inclusivamente arrancar de raiz
uma árvore. As técnicas assimiladas ao elefante nascem da
observação do emprego dos dentes para bater e a tromba
para desviar, bater, agarrar, partir.
O emprego da tromba para bater de maneira relaxada
mas poderosa, foi copiado pelos thais e utilizado para
desenvolver o mortal Tae, pontapé em rotação típico do
Muay Thai, em que a perna se lança sem ser contraída ou
dobrada e depois estendida, como acontece nas técnicas
de pontapé de outros estilos orientais (observar a execução
do ataque de pontapé no Mae Mai Hak Nguang Aiyara).
Os dentes do elefante são armas mortais e assemelhamse aos batimentos lançados com os punhos de baixo para
cima (como o Mahd Suhy em Erawan Soei Nga) ou com os
cotovelos para cima ou para baixo (no ataque duplo Chang
Prasan Nga).
Além dos batimentos, a tromba também se utiliza para
apalpar, agarrar e arrancar os ramos das árvores ou
qualquer objecto que se encontre em frente do elefante: da
mesma maneira se agarram as pernas do adversário e se
puxa delas para provocar a sua queda (como na técnica
Kotchasan Kwang Nguang).
Finalmente, o pé do elefante pode pisar qualquer coisa
com efeitos destrutivos: assim, o golpe de calcanhar contra
um adversário no chão, frequentemente resulta ser uma
técnica definitiva.
Os pontos vitais
A mandíbula ou osso maxilar inferior forma a parte inferior
do rosto e mantém no seu lugar os dentes. O nervo alveolar
inferior, ramo mandibular do nervo trigémeo, entra no
forame mandibular e se dirige em frente pelo canal
mandibular, proporcionando a sensibilidade dos dentes.
Um forte batimento nesta zona, especialmente se é com
um ângulo de 45° (tal como acontece quando se bate com
a técnica Erawan Soei Nga), pode levar a uma fractura da
mandíbula; quem padece esta técnica sofrerá dor aguda e
dificuldade para abrir a boca e pode ter um entorpecimento
dos lábios e do queixo. A luxação da mandíbula poderia
realizar-se com fractura. ou também com ausência de
fractura, se o golpe fosse directo à parte mais alta do osso
(na direcção do ouvido). Receber um golpe enquanto temos
a boca aberta (também ligeiramente), fará aumentar as
possibilidades de luxação mandibular. No pior dos casos,
um golpe seco à mandíbula também pode causar lesões
traumáticas do cérebro (lesão intra-craneal).
29
Fases de integração do combate
Existem numerosas diferenças entre aprender a lutar, treinar para lutar, lutar um combate real e
ensinar a alguém a lutar a efeitos práticos.
Em Lameco Eskrima temos quatro fases de desenvolvimento combativo; fase de aprendizagem,
fase de treino, fase de combate e fase de ensino. Todas são vitais para alcançar um desenvolvimento
combativo completo e cada fase dessa evolução é diferente e propriamente única.
N
a fase de aprendizagem construímos um sistema
efectivo e nele introduzimos uma série de
movimentos básicos de combate. Na fase de treino
reforçamos aquilo que foi construído na fase de
aprendizagem e actualizamo-lo mediante o método
de ensaio e erro, sempre de maneira realista e sob a
premissa causa/efeito, mudando constantemente a estrutura. Na
fase da luta medimos o efeito em combate das técnicas, pomos
nossas habilidades em jogo para nos enfrentarmos às incertezas de
uma situação real, enfrentando-nos às possíveis consequências das
nossas acções ou às nossas possíveis acções falidas. Na fase de
ensino nos encarregamos de polir e mostrar a nossa verdadeira
capacidade de combate, por quanto assumimos as duras condições
do combate e nos responsabilizamos por qualquer consequência
directa que tenham as nossas acções em combate. Seguidamente
abordarei mais detalhadamente de cada uma destas fases.
Fase de aprendizagem
Esta é a fase em que se desenvolvem os movimentos mais
básicos para o combate, as qualidades para o combate e finalmente
as técnicas do combate. A aprendizagem deve ser lenta ou rápida,
adequando-se à capacidade de cada estudante para aprender e
assimilar o que já foi ensinado e situar o material no adequado
contexto do combate.
Quando uma pessoa está treinando para o combate, na fase
da aprendizagem as áreas mais importantes para trabalhar
são: o desenvolvimento de um sistema efectivo de combate,
de movimentos efectivos de combate e de umas medidas
apropriadas dos movimentos para o combate.
Após um trabalho funcional para conhecer os
movimentos e os atributos, a pessoa começa a
desenvolver um currículo completo de técnicas práticas.
Aprendendo não só os pontos fortes como também os
pontos débeis inerentes a cada técnica, o que
rapidamente se torna algo necessário para a evolução do
potencial de cada pessoa e que também nos leva
conhecer as nossas debilidades, o que constitui um
factor que ajuda a calcular o risco das próprias acções.
O aspecto mais importante desta fase é alcançar uma
compreensão clara e concisa do material aprendido,
assim como desenvolver as bases funcionais e
fundamentais dos movimentos de combate e os
atributos através dos quais possamos tentar lançar um
ataque mortal quando surja a oportunidade. É um
momento em que se entra profundamente na relação
do movimento com a distância, a resposta ao contraataque, recuperação e a capacidade técnica para
conseguir o efeito apropriado na evolução combativa.
Fase de treino
A fase de treino tem como objectivo levar a
capacidade combativa de cada pessoa a uma
situação de combate real, ao mesmo tempo que se
enfrentam as consequências e os riscos que
implica. Nesta fase se introduzem os princípios de
agressão, não cooperação, contra-ataque,
percepção, reacção e recuperação, para conseguir
uma evolução adequada. Tudo se treina em tempo
real para melhorar os aspectos do combate, posto que
o governam as leis causa/efeito. Esta é a fase em que
começamos a enfrentar-nos às consequências das nossas
acções ou não acções. Posto que a evasão ou a dúvida são
acções deliberadas, não muito sábias, mas continuam sendo
30
acções, somos responsáveis por todas as coisas que escolhemos
fazer ou deixar de fazer no campo de batalha. Isso é responsabilidade
e um homem não pode ser um guerreiro se não se faz responsável
pelas suas acções e pelo que omite fazer.
Não se deve confundir a fase de treino com a fase de
aprendizagem, pois o efeito que se deseja conseguir em cada fase é
muito diferente. Na fase de treino simplesmente se pesquisa, se
experimenta, assimila e utiliza tudo
quanto se aprendeu e desenvolveu
na fase anterior, com uma
fórmula simples para uma
premissa
simples:
sobreviver.
No Lameco Eskrima o que é pequeno sempre se transforma para
se fazer grande, de maneira que os guerreiros mais efectivos
treinarão com a intenção de maximizar o mal causado e minimizar os
riscos. Quanto mais simples e natural seja o que se fizer, mais
efectivos serão os resultados que se consigam.
Depois dos atributos, o que deve ser assimilado são os
movimentos em geral e a técnica aprendida; tudo isto se leva a um
confronto baseado na realidade, consequentemente a enfrentar-se à
resistência e à adversidade; incluindo isto em qualquer das maneiras
de desenvolver um combate, se obtêm resultados mais realistas. A
maneira como se treina é a melhor maneira de mostrar como se
responderá no momento de enfrentar uma situação real de crise.
Uma regra dura e rápida da evolução do combate é que se
treinamos como se a nossa vida dependesse disso, lutaremos como
se a nossa vida dependesse disso… E simplesmente é assim!
Na fase de treino, a maneira de
desenvolver apropriadamente
o combate é questionar o
ambiente do mesmo e
dessa maneira nos
preparamos para
nos enfrentarmos
honestamente às
r e s p o s t a s
recebidas.
Começamos a
a g i r
consoante
as necessidades, em vez de agir conforme a nossa escolha. A
situação e o ambiente do treino começam a mostrar as realidades do
verdadeiro meio do combate, as quais nos servem como modelos
para criar qualquer ambiente, tudo isso para que o nosso ambiente de
treino se aproxime o mais possível à realidade de um combate. O que
pode acontecer numa situação da realidade na rua, deve ser tratado
da mesma maneira no nosso ambiente de treino de combate. Um
ambiente no qual se responde sob coacção e no meio do caos só será
útil quando se omitirem os elementos de conveniência e comodidade
e quando se responda sem ter demasiado tempo para isso.
Um homem sábio disse que tanto aquele guerreiro que pensa que
vai sobreviver como aquele que pensa que vai morrer em combate,
ambos têm razão. A pergunta que surge é: Qual dos dois guerreiros
somos nós? Viver ou morrer depende da nossa resposta e só a
nossa maneira de treinar nos prepara para sermos aquele que
queremos vir a ser. Treinamos para ter uma mente, um corpo, uma
vida visando uma meta…, que é sobreviver.
A fase de luta
Esta fase permite experimentar o caos, a violência e a destruição e
termos de uma maneira realista, uma resposta combativa e evitar
nada menos que a própria morte, permitindo-nos sobreviver a uma
situação de crise na nossa vida. A verdade combativa nos fala
claramente desta fase da evolução, quando as nossas verdadeiras
habilidades de combate, que de certeza aparecerão nesta fase,
literalmente nos possibilitem pôr em ordem o caos, ao mesmo
tempo que mostrarão qualquer erro das nossas capacidades quando
são mandadas pelas leis usadas no combate real.
Para nós é imperativo continuar com a evolução no combate, de
modo a aceitarmos as premissas de quem adquiriu um compromisso
durante esta fase em que passamos de sermos Artistas Marciais a
Guerreiros. Todos necessitamos ser cientes de que
inclusivamente quando o nosso inimigo cai agónico aos
nossos pés, não estará realmente morto até não ter exalado
o último alento. Até isto não acontecer continuará vivo e
continuará sendo um perigo para nós e se lhe damos uma
oportunidade poderíamos unir-nos a ele na morte.
Nesta fase do treino com sparring, a luta é um
indicador do combate que pode ser a melhor maneira
para saber quais são realmente os efeitos das nossas
habilidades. A realidade do evento propriamente dito e
as nossas experiências colectivas são os melhores
conselheiros nesta imitação da realidade. Neste
ambiente só podemos ser tão efectivos quanto possível
nesse momento e só as nossas habilidades
determinarão se vamos sobreviver ou sucumbir na rua,
se formos obrigados a defender a nossa vida.
Fase de ensino
A última meta de qualquer instrutor é ensinar o
necessário aos seus estudantes, mostrando-lhes
todas as suas fortalezas e nenhuma das suas
debilidades. A minha meta como instrutor é
preparar os meus estudantes para a realidade do
combate e mostrar-lhes a verdade do combate,
assim como apresentar-lhes todas as suas
consequências e fazer com que se
responsabilizem de todas as acções que
realizarem em combate. Eu próprio me farei
responsável não só das capacidades
combativas de cada estudante, como também
da arrogância ou falta de confiança nas suas
habilidades. Eles precisam ser conscientes de
qual é a sua verdadeira capacidade para o
combate e de não se enganarem a si próprios
pensando que são uma espécie de semideuses invencíveis por simples seres
humanos.
Quando pedimos a Deus fortaleza Ele nos
manda dificuldades e só trabalhando nessas
situações difíceis aprendemos delas e
31
“A última meta de qualquer
instrutor é ensinar o necessário
aos seus estudantes,
mostrando-lhes todas
as sua fortalezas e nenhuma
das suas debilidades”
crescemos para ser mais fortes. Deus nunca nos dá exactamente o
que queremos, mas sim nos dá o que necessitamos. Ele nos permite
conhecer aquilo que mediante o trabalho duro, a determinação e a
paciência, nós temos que transformar no que queremos. Mediante
as tarefas duras, provações e erros, sempre governados pela lei de
causa/efeito, aprendemos a ser mais fortes.
O treino não é diferente, queremos ser efectivos, mas para
conseguir isto temos que treinar intensamente em tempo real e
sermos capazes de enfrentar as consequências das nossas
acções, tanto as boas como as más. A maioria parece
querer tornar-se grandes guerreiros sem ter que lutar
ou desafiar-se a si próprios no processo. Isto é
impossível e só por meio da adversidade e
experimentando a dura realidade do combate,
passaremos de ser artistas marciais a ser guerreiros.
Existe grande diferença em saber como lutar
e ser realmente capazes de lutar. Muita gente
sabe como lutar mas poucos dos que dizem saber
seriam capazes de levar à prática com um certo
sucesso, aquelas coisas que dizem saber. Não há
caminhos fáceis para o êxito, não há atalhos, é
preciso suar e trabalhar diligentemente frente
a uma grande quantidade de adversidades,
desafiando-nos a nós próprios para
desenvolver o máximo potencial durante o
treino. Devemos lembrar que
32
integridade é fazer o que se espera de nós, mesmo quando ninguém
nos observa, portanto, temos de treinar pelos motivos devidos, não
para impressionar os outros mas para desenvolver um combate
efectivo, nem mais nem menos. Depende do instrutor dirigir e afastar
o estudante da ignorância, levando-o pelo caminho da autorealização, auto-confiança, habilidade e arte.
Fazendo um resumo final, realmente trata-se de percepção contra
realidade. A simples realidade de uma situação de combate deve ser
seguida e preparada para além do que nós percebemos como
realidade, para basear nela os exercícios de treino, os pontos de
vista dos conceitos para assumir o combate, e a antecipação. O
certo é que uma situação de combate evolui e adianta seus próprios
termos de tal modo que nos indica a melhor maneira de enfrentá-la;
não temos escolha, devemos enfrentar a situação em seus termos e
não nos nossos. Portanto, treinamos para nos enfrentarmos à
incerteza que proporciona uma situação de combate e nos
preparamos para responder a qualquer ameaça e tudo o que a
mesma supõe, tão rapidamente como nos seja possível.
Reportagem
Uma noite idealizada para ser de festa para três
grandes estrelas do Jiu-Jitsu: Amaury Bitetti, Jorge
Pereira e Crézio de Souza, mas que ficou lembrada pelo
confronto em que um aluno iniciante de Eugénio Tadeu
(Luta-Livre) venceu de maneira inquestionável um dos
maiores nomes da escola Carlson Gracie.
Assim foi o “I Desafio o Lutador de Vale-Tudo”,
realizado no dia 19 de Dezembro de 1996 no Canecão, a
maior casa de shows do Rio, que recebeu pela primeira e
única vez um evento de Vale-Tudo.
Eugénio Tadeu
segue receita Gracie
No ano em que o UFC finalmente chega
ao berço do MMA é interessante lembrar
das batalhas pretéritas que contribuíram
para que o Vale-Tudo evoluísse e
chegasse ao patamar desportivo actual.
No fim de 1996, Yan Bonder, principal
idealizador da revista Tatame, que
acabara de se desentender com um dos
sócios da revista, decidindo sair e criar
uma nova publicação de lutas (O Lutador)
se associou a Ricieli Santos, conhecido
promotor de campeonatos de Jiu-Jitsu da
época, para fazer um evento de ValeTudo. Nascia assim o “I Desafio o Lutador
de Vale-Tudo”.
O facto de Alan ser faixa
laranja e ter pouco mais de um
ano de luta, levou Crézio a
aceitar uma diferença de 8kg em
favor do aluno de Tadeu.
A rivalidade entre as duas
modalidades, ainda mais após as
3 vitórias do Jiu-Jitsu sobre a
Luta-Livre no sangrento ValeTudo do Grajaú em 1991,
transformou o Canecão num barril de
pólvora quando os dois lutadores
entraram no ringue.
A luta começou com um domínio claro
de Crézio, que passou boa parte dos 10
minutos do 1º round batendo da guarda
de Alan, que fazia uma táctica para minar
o faixa preta. Com a guarda fechada e
A noite em que a Luta-Livre roubou o show do Jiu-Jitsu
A ideia inicial do evento era fazer uma
super luta entre Crézio de Souza,
considerado o mais técnico peso leve de
Carlson Gracie e o maior ícone da LutaLivre, Eugénio Tadeu. “Quando me
trouxeram a ideia do desafio eu fiz como
os Gracie faziam. Eu já tinha uma história
na luta, havia lutado com Pitangui, Royler,
Walllid, achei que o Crézio precisava se
credenciar para lutar comigo. Então
propus que ele lutasse com o meu aluno
Allan Carvalho, caso vencesse, eu lutaria
no próximo evento com ele”, lembra
Eugénio Tadeu.
34
defendendo boa
parte dos golpes
de Crézio, o
aluno passou a
cansar
o
oponente, que já
não conseguia
mais derrubá-lo
no
segundo
round. Foi aí que
a história do
c o m b a t e
começou
a
mudar. Maior e
História
melhor preparado em pé, Alan passou a levar melhor no
intercâmbio.
Por volta de 3minutos do 2º round, já muito cansado e
já ensanguentado, Crézio sentou fazendo guarda. Neste
momento Eugénio, cercado por Bustamante e Wallid,
protagonizou uma cena histórica, entrelaçando os
braços com os dois rivais. “Não teve jeito, naquela hora
a cotovelada estava comendo de todo lado, então foi
melhor a gente segurar os braços, até para se proteger
uns dos outros e assistir a luta”, conta Tadeu, que
segundos depois veria seu aluno definindo a luta com
socos da lateral. Diante de um Crézio de quatro,
bastante machucado e sem esboçar reacção, Pinduka
interrompeu o combate e deu a vitória para o raçudo
aluno de Eugénio, que hoje mora nos EUA, mas não vive
mais da luta. “Ali o pessoal do Jiu-Jitsu passou a
respeitar mais a gente e eu passei a preparar um para
cada categoria do Jiu-Jitsu”, relembra Tadeu.
Jiu-Jitsu em noite pouco inspirada
E a noite realmente não foi das melhores para o JiuJitsu. Antes de Crézio perder para o aluno de Eugénio, o
faixa preta da Barra Gracie, Jorge Pereira perdeu várias
posições (montadas e costas) até chegar as costas de
Egídio Sombra da Noite e finalizá-lo com um mata-leão.
Já na luta principal da noite, entre Amaury Bitetti e o
kickboxer americano, Maurice Travis, Bitetti entrou
nitidamente desconcentrado após a derrota do amigo
Crézio e, mesmo sendo 10kg mais pesado, não
conseguiu vencer o americano com a facilidade que
todos esperavam. O faixa preta de Carlson Gracie
chegou a perder uma montada, mas depois derrubou
novamente, voltou a montada e, após uma sessão de
socos, finalizou Travis com um mata-leão a 3minutos de
luta. Nas outras duas lutas do evento, Henrique Lango
(Freestyle) obrigou Claudionor Fontinelli (Muay Thai) a
desistir com socos da montada a 10 minutos do 1º
round, enquanto o boxer Sérgio Gaúcho venceu Paulo
de Jesus (kickboxing) com socos da montada a 5min10
(Paulo escapou do ringue).
Computador para pagar as bolsas
No final do evento, como era comum na época, as
contas não fecharam. Contribui muito para isso a
mentalidade que imperava na comunidade do Jiu-Jitsu
na época (todo mundo é amigo então não paga
ingresso), o que acabou impedindo Yan Bonder e Ricieli
Santos de conseguirem o caixa suficiente para pagar as
bolsas. Mesmo com o Canecão quase cheio, Bonder e
Santos, amargaram parcos 130 pagantes, o que mal
dava para pagar a bolsa do americano Travis. Resultado:
Para pagar as outras bolsas, os promotores tiveram que
vender um carro as pressas. No final ainda ficou faltando
a bolsa da grande estrela do evento, Alan Carvalho da
Luta-Livre. “Eu senti que a corda ia arrebentar para o
lado mais fraco, pagaram todo mundo do Jiu-Jitsu, só
ficou faltando um do Dedé e o meu garoto, que deu o
principal show da noite e ia ficar sem receber. Então tive
que tomar uma atitude mais ríspida. Fui na redacção dos
caras e apreendi uns computadores. Graças a Deus logo
depois deu tudo certo e eles acertaram connosco”,
lembra Eugénio
Meses depois a revista O Lutador acabaria falindo e o
principal idealizador da revista Tatame, o talentoso e Yan
Bonder, acabaria deixando definitivamente o mercado
editorial de lutas.
35
Neste trabalho, que é uma continuação do realizado em
1998 e que foi extensamente criticado, o Mestre Longueira
apresenta uma nova maneira de interpretar o Aikido, o
caminho combativo que O'Sensei transmitiu a mestres como
Mochizuki. É por isso menos válido que o transmitido a
Doshu? Vejamos bem! Em um combate real, Uke não é
tolerante, não aceita as técnicas, Uke é o
inimigo e devemos escolher entre vencer
ou ser vencidos. É esta a mudança de
atitude que propõe o Aikido
Longueira-Ryu, não se vence com
o Ki mas com o pensamento e o
corpo, combatendo com uma
ideia clara, vencer. Longueira
recuperou
parte
da
esquecida
identidade
marcial
neste
DVD,
incorporando técnicas de
chão, com imobilizações e
sutemis, e técnicas com
luvas, onde se pode
apreciar não só a rapidez
da
execução,
como
também uma verdadeira
intenção de Uke de magoarnos. Uma amostra do
“Aikido Combat”, que acaba
no combate pleno, com
ausência de protecções (pois os
conhecimentos
técnicos
e
habilidades já o não requerem) e
onde respeitando toda a tradição, se
pratica um Aikido “marcial”, um Aikido
“eficaz”…, uma arte marcial!
REF.: • LONG6
Todos os DVD’s produzidos por Budo
International são realizados em suporte
DVD-5, formato MPEG-2 multiplexado
(nunca VCD, DivX, o similares) e a
impressão das capas segue as mais
restritas exigências de qualidade (tipo de
papel e impressão). Também, nenhum dos
nossos produtos é comercializado através
de webs de leilões online. Se este DVD
não cumpre estas exigências e/o a capa e
a serigrafia não coincidem com a que aqui
mostramos, trata-se de uma cópia pirata.
Weng Chun
38
"O trabalho corporal
secreto do Saam Pai Fat" 1ª Parte
Hong Kong 1986
- o Saam Pai Fat entra na minha vida
Aumente o seu poder marcial aprendendo o trabalho
corporal da arte secreta Weng Chun do Saam Pai Fat, “Três
reverencias a Buda”. Explore sua
sabedoria e seu significado
espiritual pela mão do
pioneiro do Weng
Chun, o mestre
Andreas Hoffmann,
voltando ao Hong
Kong dos anos
oitenta, em sua
i n t r é p i d a
aprendizagem
com os últimos
Mestres
de
Weng Chun.
O meu Mestre de Wing Chun queria apresentar-me a Wai
Yan, o Grão Mestre do Weng Chun Kung Fu. Nos
encontrávamos na transitada Waterloo Road, em frente de um
mercado. Exactamente aí, no meio de todas aquelas lojas, se
encontrava a Meca do Weng Chun, a Dai Duk Lan, onde
tantos mestres famosos tinham lutado e treinado.
Eu contava 19 anos de idade e o meu sonho era
aprender o Kung Fu original na China.
Em um daqueles locais, dois honráveis idosos
faziam Kiusao. Eu conhecia um exercício similar do
meu Wing Chun Chisao, mas estes Mestres estavam
realizando-o de uma maneira diferente, usavam todo
o seu corpo em cada movimento, mesmo quando se
tratava de um movimento pequeno, o que fazia que os
seus movimentos fossem muito flexíveis e
poderosos. Tudo parecia muito harmonioso e o
meu cérebro treinado no Wing Chun, duvidava de
que aquilo fosse efectivo. Era suficientemente
rápido? Não era o punho directo a ligação mais curta
com o meu oponente? Mas para além disto, era
impressionante ver como aqueles Mestres
combinavam sem esforço socos, pontapés,
derribamentos e agarres.
Depois, o Grão Mestre Wai Yan deu-nos as
boas-vindas, apresentou-me ao seu aluno o Grão
Mestre Lau Chi Long e convidou-me a fazer um combate de
treino contra ele. Eu logo aceitei, posto que com o meu
orgulho juvenil eu pensava: “Se soubessem que bom que
sou!…, mas terei cuidado com ele, porque é muito idoso…”
Quando me enfrentei com o idoso Mestre, a coisa foi
completamente diferente, tudo quanto eu fazia era utilizado
pelo GM Wai Yan, que usava a minha própria força contra
mim e usava o seu corpo como força de alavanca,
fazendo uns estranhos movimentos em arco para
me derribar, para me agarrar ou até para me
bater desde um ângulo melhor. Os meus
ataques directos sempre acabavam no ar e
o GM Wai Yan sempre parecia ter prazer
em me agarrar. Esta foi a primeira vez
que constatei o poder da aplicação do
Saam Pai Fat. Depois, passei a ser
um aluno do GM Wai Yan no
famoso Dai Duk Lan e seguindo a
tradição (Baisi), comecei a
treinar Saam Pai Fat no velho
boneco de madeira.
O nome Saam Pai Fat vem
dos Guerreiros Budistas de
Shaolim
Qual é o significado de Saam Pai Fat?
Para nós, Budistas praticantes de Chan
(Zen) o Saam Pai Fat era e é um
exercício diário básico de reverenciar
Buda, é Dharma e Sangha. Buda como
o símbolo do nosso potencial; Dharma,
as ensinanças para alcançar esse
potencial e Sangha, toda a gente que
está no mesmo caminho.
Os exercícios diários de reverência
fazem do nosso corpo uma máquina
poderosa e isso purifica e concentra a
nossa mente. Todos os caminhos de
sabedoria Shaolim se concentram numa
forma e daí este nome: Saam Pai Fat.
Saam Pai Fat = Saam - três vezes,
Pai- reverenciar, Fat - Buddha.
Saam - três posições para Buda com
um significado espiritual Dharma e
Sangha, posição para o conceito do
Céu do Weng Chun, Homem e Terra.
Pai - Fazer a reverencia proporciona
ao praticante um modelo da ferramenta
de treino que necessita para o combate,
a defesa pessoal e o trabalho corporal
para uma visão multidimensional.
Buda é o símbolo do despertar do
próprio potencial para proteger, curar,
inspirar e apoiar outros seres.
Saam Pai Fat no Weng Chun
Segundo a tradição oral do Mestre
Wai Yan e da família Lo, o Saam Pai Fat
se tornou a forma mais importante do
Weng Chun porque os conceitos do
Saam Pai Fat passaram a ser o coração
e a característica do resto das formas e
movimentos. Historicamente, os
guerreiros Shaolim ensinaram o Saam
Pai Fat nos juncos vermelhos e os
mestres dos juncos vermelhos o
ensinaram apenas a estudantes muito
selectos. O resto dos estudantes deviam
ficar a saber apenas outras formas e
conceitos.
Fun g Si u C h i n g , h eró i do Wen g
Chun, ensinou o Saam Pai Fat apenas
a uns seus estudantes especiais, os
irmãos Lo. Fung Siu Ching tinha estado
gravemente doente, sendo curado pela
família Lo, que eram herbanários. Foi
assim como depois escolheria estes
irm ã os co mo seu s su cesso res. A
família Lo e o GM Wai Yan fizeram
possível que outras linhagens do Weng
Chun/Wing Chun tivessem acesso ao
maravilhoso Saam Pai Fat na famosa
Meca do Weng Chun, o Dai DuK Lan,
em Hong Kong. Andreas Hoffmann
seria o último estudante do Dai Duk
Lan sob a tutela do GM Wai Yan e
actualmente continua ensinando o
Saam Pai Fat.
Saam Pai Fat
no Wing Chun?
É interessante que a gente de Wing
Chun denomine a sua terceira secção
Siu Lim Tao Saam Pai Fat. Além de tudo
o mais, podemos encontrar muitos
movimentos do Weng Chun Saam
Pai Fat simplificados, em
algumas formas do Wing
Chun. Aí podemos ver as
estreitas ligações que tem
havido entre o Weng Chun e
o Wing Chun.
O estudo
do Saam Pai Fat
Estão prontos para
a revolução? No
Saam Pai Fat o
praticante
de
Weng
Chun
a p r e n d e
movimentos
c o r p o r a i s
especiais, o que
constitui uma
revolução dos
s
e
u
s
conhecimentos
prévios de Weng
Chun. Graças à
compreensão dos mecanismos do
corpo e com a evolução do Qi é
possível desenvolver um enorme poder
e uma grande velocidade quase sem
esforço. A característica principal deste
nível é o movimento de rotação e
ondulação do corpo (Wan Wun Yiu Tiet
Ban Kiu), que lembra alguém fazendo
uma reverência.
O Saam Pai Fat ensina a orientar-se
na direcção do Céu, do homem e da
terra; são a expressão do espaço, a
força da gravitação e a energia do
Shaolim Chan e as Artes Marciais.
O espaço entre dois combatentes
divide-se em três distâncias e três
alturas: Céu (Tien), Terra (Yan), e
Homem (Dei). A consciência e a
sensibilidade são as habilidades
básicas para sentir todas as direcções e
todas as dimensões para controlar a
linha central (equilíbrio) do atacante e
para aplicar uma variedade de
ferramentas que o deixarão incapaz de
combater (Fok).
O Céu, o Homem e
a Terra do Saam Pai Fat,
fundamentos do combate
em três dimensões
O Céu, do ponto de vista da distância,
está representado pelos batimentos de
mãos e per nas numa situação de
combate sem contacto. Desde a altura
(céu) se age contra a parte alta do
corpo. O ponto de referência do Céu se
ensina através da técnica de Weng
Chung Kung Mei - ataque às
sobrancelhas - e é o Dan Tien mais alto
("campo de energia").
O Homem, do ponto de vista da
distância, está representado pelas
cotoveladas e as joelhadas numa
situação de combate em que há
contacto com o oponente. Desde a
altura homem se age contra a parte
média do corpo, o ponto de referência
do homem é o triângulo formado com a
garganta e os dois mamilos. Mais
especificamente é o ponto de
Acupunctura Ren 17, que é a porta ao
Dan Tien médio.
A Terra, do ponto de vista da distância
está representada pelos batimentos de
cabeça, de ombro e de anca, na
situação de combate em que se entrou
em contacto com o tronco do
adversário. Desde a altura terra se age
contra a parte baixa do corpo. O ponto
de referência da Terra é o ponto de
Acupunctura Qi Hai (abaixo o umbigo)
que é a porta ao baixo Dan Tien (do livro
Weng Chun Kung Fu,
39
Kung Fu
Hung Hee Gung - o Punho do Sul
A
linha de transmissão do nosso Shaolim (Siulam) Hung
Gar Kung fu, tal como o conhecemos hoje em dia,
começa com o já tantas vezes mencionado abade do
mosteiro de Shaolim do Sul, Chi Sim Sum Si. O melhor
aluno de Chi Sim e do mosteiro Shaolim, era Hung Hee
Gung. Segundo conta a tradição da escola de artes
marciais, deve destacar-se a importância de Hung Hee Gung na arte
marcial da China, como também a solidariedade e lealdade dos 10
melhores alunos de Shaolim. A arte ensinado nesta escola de Kung
Fu, mais tarde foi conhecida com a denominação de “Hung Gar” ou
“Hung Kuen”.
Hung Gar aprendeu muitas formas, técnicas e princípios com o
abade Chi Sim Hung. Na literatura especializada diz-se muitas vezes
que Hung Hee Gung teria aprendido o estilo de tigre de Chi Sim,
remetendo-se à conhecida forma “Fook Fu Kuen” (punho que vence o
tigre, 1ª forma principal). O tigre aqui se refere ao animal que
então, para o povo chão era o mais forte na serra de Ling
Nam, na China do Sul. Portanto, o nome da forma não se
refere às técnicas do tigre, mas sim
quer dizer que o aluno, quando
aprender correctamente esta
forma, será tão forte de será
capaz de vencer um tigre.
Hung Hee Gung aprendeu de
Chi Sim o autêntico Kung Fu de
Shaolim do Sul. Deixou o mosteiro
após ter passado o exame e com
a autorização do abade Chi
Sim. Mais tarde, Hung Hee
Gung conheceu através de
seu irmão no Kung Fu, Fong Sai Yuk, que viria a ser sua mulher, Fong
Wing Chun. Ela esteve aprendendo Kung Fu com seu tio, Fong Sai
Yuk (um dos 10 melhores alunos de Shaolim). Preferia principalmente
as técnicas do grou. Melhorou o seu Kung Fu ao longo de muitos
anos e chegou a ser uma versada na matéria. Hung Hee Gung
aprendeu da sua mulher as subtilezas do seu Kung Fu do grou e
assim desenvolveu a “Fu Hik Seung Yin Kuen” (forma dupla de tigre e
grou)*. Esta forma foi e continua sendo o emblema do Hung Gar Kung
Fu. Depois, ao longo da história veremos que esta forma também foi
importante no século passado em relação com o Wushu moderno.
A forma, Fu Hok Seung Yin Kuen, mais tarde foi compilada e
ordenada de outra maneira, pelo Grão Mestre Wong Fei Hung.
Um importante acontecimento na história do Hung Gar
Kung Fue, bem conhecido na Ásia, foi a abertura da
Luk Sin San Fong (escola), no ano de 1785 em
Guangjao, China do Sul.
“Guangjao era naquele
momento,
uma das grandes cidades
no sul de China,
que tinha vários centenas
de escolas de Kung Fu.
Os Mestres de Kung Fu
mantinham bons
contactos entre eles”
42
Luk = feliz
Sin = amável
San = decência
Fong = lugar de educação
Isto quer dizer: lugar de educação em
que se ensinam felicidade, amabilidade e
decência. Como ainda hoje acontece, os
alunos são preparados para usar a arte
marcial só para a autodefesa, umas regras
deviam ser aprendidas para poder aprender
nesta escola. Já nesse momento estavam a
saúde e a evolução mental em um primeiro
plano da formação.
Hung Hee Gung já tinha uns 52 anos
quando abriu a Luk Sin San Fong. Mais de
1000 alunos se inscreveram, mas apenas
uns 300 foram aceites, por suas
capacidades físicas e suas referências nos
âmbitos da moral e carácter. No dia da
abertura oficial, a 18 de Julho do 1785, teve
lugar uma grande festa de inauguração.
Todos os 10 melhores alunos do mosteiro
Shaolim do Sul se encontravam entre os
convidados de honra. Logicamente também
foram convidados os mestres locais do
Kung Fu (como por exemplo o Mestre Tit
Kiu Sam) e outras personalidades
importantes. Hung Hee Gung como
instrutor principal esteve à frente dos 10
melhores alunos. Todos os alunos e alunas
se reuniram perante o grande altar em
honra dos antepassados e juntos realizaram
as cerimónias Bai Si. Assim, os novos
alunos foram iniciados como Yap Moon Dai
Gee (alunos internos). Esta cerimónia hoje é
ainda conhecido e praticada, sendo
realizada em todas as escolas tradicionais
de Kung Fu. Nas minhas escolas se entrega
a faixa branca (1ª faixa) nesta ocasião.
Depois se faz uma exibição do baile do
leão, como é usado até os nossos dias em
festas de Kung Fu, seguido de
demonstrações de Kung fu dos Mestres e
alunos. Depois da grande inauguração,
ficou o Mestre Hung (como instrutor
principal), Mestre Luk, Mestre Wu, Mestre
Tit e Mestre Wong como professores na
escola; os o resto de Mestres voltaram para
as suas casas.
Esta escola de Kung Fu fez-se famosa
em muito pouco tempo e foi o ponto de
referência para Guangjao e arredores.
Muitos Mestres de Kung Fu muitíssimo
bons saíram dela, alguns dos quais também
foram muito activos no movimento Hung
Moon. Guangjao era nesse momento uma
das maiores cidades do Sul da China, com
várias centenas de escolas de Kung Fu. Os
Mestres de Kung Fu mantinham bons
contactos entre eles. É sabido que um dia
se fez uma selecção: queriam saber quais
eram os 10 melhores mestres de Kung Fu,
em base aos seguintes critérios de
selecção:
• Habilidades na Luta do Kung Fu
• Reputação
• Actividades na sociedade
Os 10 melhores Mestres de Kung Fu
foram conhecidos como os 10 Tigres de
Gungjao, uma tropa de guerreiros de
elite. Como número 1 escolheram o
Mestre Tit Kiu Sam, seguido por
Wong Kay Ying, So Huk Fu e Lei
Yen Hei (todos da escola Luk
Sin San Fong).
Luk Ah Choi
- um Manchu
Luk A h Cho i v iv eu
apro ximadament e
de
1760 a 1860 e foi um dos
últimos alunos do abade
Chi Sim, que foi quem o
mandou ir estudar com
Hung Hee Gung. Luk Ah
Choi chegou a ser um dos
melhores alunos de Hung
Hee Gun g. S egu iu a
fo rmação co mpleta e
assistia a Hung Hee Gung
nas aulas da escola Luk Sin
San Fong. Por sua vez, Luk
Ah Ch oi ti n ha t ambém
outros muitos alunos muito
bo ns .
De
des t acar
principalmen te Won g Tai ,
Wong Kai Ying e depois Wong
Fei Hu ng , qu e chego u a dar
aulas a três gerações da família
Wong; mas Wong Tai já devia ter
uma idade
mu it o av ançada
quando começou a aprender Hung
Gar com Luk Ah Choi.
43
Rara vez um Mestre Marcial alcança a destreza em vários
estilos e o êxito desportivo como é o caso deste campeão
mundial de Taekwondo. Toni Moreno não só está
excepcionalmente dotado para a prática e a competição, é
também um homem que concebeu um dos métodos mais
eficazes e rápidos para aprender a dominar uma arma tão
complexa e versátil como é o Nunchaku. Neste
DVD, como lógica evolução do seu
primeiro trabalho, Toni entra em
profundidade no sistema com
novas e mais complexas
técnicas de mudanças de
direcção, mudanças de mão,
duplo
rolamentos,
Nunchaku, batimentos
concatenados, defesa
pessoa, e inicia o ensino
das
largadas,
a
característica que no
manuseio desta arma
mais chama a atenção.
Novas
técnicas,
algumas de tremenda
dificuldade,
outras
verdadeiramente
espectaculares, e outras
aparentemente
mais
simples e práticas, que
abrem caminho a novas
dimensões no domínio do
Nunchaku. Resumindo, alcançar o
que
parece
impossível
com
naturalidade e com genuíno controlo das
mais extraordinárias formas e combinações.
REF.: • TMNUN2
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(nunca VCD, DivX, o similares) e a
impressão das capas segue as mais
restritas exigências de qualidade (tipo de
papel e impressão). Também, nenhum dos
nossos produtos é comercializado através
de webs de leilões online. Se este DVD
não cumpre estas exigências e/o a capa e
a serigrafia não coincidem com a que aqui
mostramos, trata-se de uma cópia pirata.
Nã o te sintas mal Vincent.
Qualquer homem no teu
lugar teria vivido como tu.
Realmente sinto inveja
de ti. Tu sempre tens vivido
completamente livre, sem
estar atado a nada.
Para
mim, este filme é a
minha oportunidade para
viver em liberdade. Dois
meses inteiros para
aprender.
acredita…,
estou ansiosa.
Nha Trang Vietname. Conhecido como um dos lugares
mais belos da Terra.
Esta
vai ser uma fita
fantá stica. Vai dar
trabalho, sim senhor, mas
quando tudo isto acabar
vamos jogar forte.
E…
aCç ão!
A ESTRELA DO KUNG-FU - Apresentação Especial
"Inspirado na vida de Sifu Vicent Lyn" - História e Argumento por Matt Stevens
Ilustrado por Chase Conley
Diálogos por Jaymes Reed
Vou
gozar de
cada minuto disto.
E…,
CoRTEm!
Ilha privada na costa de Nha Trang
Por
hoje é tudo!
Todos a coberto, vã o
secar-se. Voltamos
amanhã , bem cedo.
Vamos,
voltemos à vila.
agora
estou toda
molhada,
Yoko.
Está s
molhada até os ossos.
Vamos, podemos gozar dos
encantos da ilha…,
se tu quiseres…
(Continuação)
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Aikido
Atitudes Marciais…
O ser ou não ser do Aikido!
O Aikido, uma arte marcial em constante evolução e adaptação,
com forte variabilidade, provavelmente devido a uma falta de
regras ou ordenamentos desportivos, por ausência de competição
desportiva (competição não é o mesmo que combate). Acontece
que o Aikido é uma arte marcial como queria O'Sensei, um Aikido
sem regras, livre, dominado apenas pelo pensamento do combatente.
Faz alguns anos publiquei nesta revista o meu primeiro trabalho onde
mostrava uma série de técnicas com luvas, penso que foi
1998. Aquele trabalho foi extensamente criticado.
Hoje, quase treze anos passados, penso que as
pessoas estão marcialmente mais evoluídas que
nesse momento, pelo que apresento neste
trabalho uma nova maneira de interpretar o
Aikido, uma continuação do que iniciei naquela
época. Não está tudo quanto é, mas tudo quanto
está faz parte da introdução ao que nós chamamos
“Aikido Combat”, ou melhor, uma iniciação onde se
mostra um pouco mais, uma continuação do nosso
caminho, que acaba no pleno combate, com ausência de
protecções (posto que os conhecimentos técnicos e as
habilidades actuais já as não requerem) e onde se
pratica um Aikido “marcial”, um Aikido “eficaz”…, uma
arte marcial!
A nossa compreensão do Aikido difere das
maneiras de compreender o Aikido de outras
escolas, já não só pela incorporação de técnicas
antigas que o resto de programas esquece ou quer
esquecer, a nossa mais notável diferença é uma
questão de atitude. Ao contrário do que muita
gente acredita, a nossa escola está assente
sobre as bases da tradição, não por razões
filosóficas mas porque é na tradição onde
se encontra a verdadeira eficácia do
Aikido, o seu verdadeiro ser, esquecido
pela maioria das escolas de hoje ou
usado só em parte.
E qual é a tradição do Aikido?
Pois de certeza é uma
tradição marcial, uma arte
para sobreviver, para o
combate, para a protecção…
Não sejamos tão presunçosos
de acreditarmos que a prática do
Aikido faz de nós super-homens, que
nos
unimos
com
o
universo
compreendendo o ki, etc. O próprio bem estar que
transmite não é privativo desta arte marcial, pelo
contrário, é algo que se cultiva, ou pelo menos se deveria
50
Texto: Alfonso Longueira
www.aikido-longueira.com
De tempo conhecido dos nossos leitores,
magnifico aikidoka, com uma insigne carreira
em França como segurança dos mais altos
dignitários; Galego universal, insubornável
livre pensador do Aikido, revisionista,
astuto, atr evido nas suas opiniões,
Longueira volta à carga com um novo
DVD do que melhor faz, pôr o Aikido
no limite de suas possibilidades, sem
p u d o r, l e v a n d o a s t é c n i c a s a o
extremo
da
realidade,
demonstrando que a efectividade
não é só privilégio de alguns
estilos.
Um DVD que incorpora visões
surpr eendentes de técnicas
clássicas, nas quais leva os
princípios ao ponto máximo,
onde longe de se traírem a si
mesmos, se r eivindicam.
Quem faz Aikido e deixe
passar este trabalho, fará
mal, porque este Mestre
vale a pena e merece a
vossa atenção mais
atenta.
Para mim, sempre um
prazer apresentá-lo,
Longueira é já um
clássico do Aikido do
Século XXI. Atenção! Se
pensava que sabia tudo
em Aikido... vai ter umas
surpresas!
Alfredo Tucci
51
Aikido
cultivar em todas as artes marciais
conhecidas.
Por vezes, falando com conhecidos que
praticam Aikido de outras escolas, me dizem
que eles praticam Aikido o tempo todo,
quando andam na rua, quando viajam de
autocarro, no automóvel, trabalhando… Isto
não é bem assim. O que eles sentem é uma
sensação de bem estar proporcionada pela
prática do Aikido, uma atitude mental, neste
caso de tranquilidade e relaxação, que é
maior quanto mais se pratica uma arte
marcial e não é exclusiva do Aikido, é uma
questão de atitude.
Neste trabalho vou apresentar uma parte
da atitude que caracteriza a minha escola, o
Aikido Longueira-ryu. Respeitamos a
tradição, mas “toda” a tradição: a filosófica,
por ser necessária para a compreensão e
principalmente a marcial, que é onde se
52
encontra a verdadeira essência. Porque, o
que é o Aikido senão uma arte para o
combate? Em anteriores artigos tenho dito
que o Doshu se autodefinia como um guarda
da tradição transmitida pelo anterior Doshu,
tradição que por sua vez O'Sensei
transmitira a este. Mas significa isto que seja
verdadeira? Ou que seja completa? Quem
sabe se ignoraram mais a parte marcial e se
dedicaram mais à filosófica, à tolerência de
uke ao movimento, a aceitar as técnicas…,
consequentemente afastando-se da
realidade?
Vejamos bem! Em um combate, uke não é
tolerante, não aceita as técnicas, uke nos
ataca com toda a raiva que pode e
possivelmente até tenha conhecimentos
marciais. Em um combate real, uke é o
inimigo e portanto, tenho de compensar a
sua atitude combativa como seja! Por outras
palavras, tenho de escolher entre vencer ou
ser vencido. Esta é a mudança de atitude
que têm de realizar os praticantes de Aikido,
essa mudança de mentalidade de que não
se vence com o ki mas com o pensamento e
o corpo, que não se combate dançando e
sim lutando e que não se luta sem uma ideia
clara, vencer. Até que os aikidokas deixem
de concentrar-se na filosofia, a qual mesmo
que inerente à prática requer da parte
marcial para a sua total compreensão,
abandonem as formas, os prejuízos e as
invejas…, até então o Aikido não será
respeitado pelo resto das artes marciais.
Atenção, não é que eu esteja minimamente
preocupado, pois no que a mim diz respeito,
a minha escola sempre tem tido o respeito
do resto das artes marciais, inclusivamente
muito mais que o recebido por outras
escolas de Aikido.
53
Aikido
No entanto, eu penso que O'Sensei,
devido a ter sido a pessoa que foi, merece
que a sua arte marcial seja respeitada como
tal. E não porque naquela época o não
fosse, seria outro sim pela consideração que
hoje se tem pelo Aikido. Isto é
exclusivamente devido aos aikidokas.
Concentrando-se nessa parte filosófica com
tudo aquilo que requeria certo perigo ou
esforço físico, esqueceram o combate e
esqueceram inclusivamente a sua identidade
marcial. Nós recuperamos parte dessa
identidade para este trabalho. Técnicas de
chão, com imobilizações e sutemis,
respeitando toda a tradição do Aikido…, e
insisto, TODA.
Isto é uma continuação do meu primeiro
trabalho com umas técnicas de luvas, onde
se pode apreciar não só a rapidez da
execução, como também uma verdadeira
intenção de uke por nos magoar, devido a
que, como acostumo a dizer em alguns dos
meus artigos, os nossos atacantes não são
“irmãzinhas da caridade”. O uso de
protecções preserva o nosso corpo frente
golpes ou possíveis lesões e assim sendo,
podemos realizar ataques reais sem medo.
Mas não nos enganemos, aqui só é o início
do nosso caminho. O nosso verdadeiro
objectivo deve ser o combate real, sem
protecção alguma, preparando o corpo para
a dor, para sobreviver…
E agora, os leitores que tomam contacto
com este trabalho poderão dizer que não é
Aikido; então eu, como aikidoka, respondo a
esses pensamentos e narro certa história de
Minoru Mochizuki, cujas palavras resolverão
todas as dúvidas. E se após aprender do
sábio Mochizuki, ainda continuam firmes na
decisão, lamento muito… mas então nada
há a fazer!
Quando Mochizuki voltou da guerra, foi
visitar o Fundador e este, se sentia tão feliz
54
vendo-o voltar são e salvo, que convidou-o
a permanecer durante algum tempo na sua
casa, no seu dojo. Ali ele conheceu um
jovem karateka aluno de Ueshiba.
Antes de ir dormir, o dito jovem visitou
Mochizuki no seu quarto e disse que ele não
considerava que o Aikido fosse efectivo e
que com os seus conhecimentos seria
capaz de vencer O'Sensei em um combate,
o qual seria abatido ao primeiro golpe.
Mochizuki responde que o atacasse a ele,
para constatar se realmente era capaz de
vencer o Mestre Ueshiba. Quando o jovem
atacou, Mochizuki esquivou e contraatacando com um pontapé deixou-o sem
sentidos. Quando o Mestre o reanimou, o
karateka perguntou se no Aikido existiam
técnicas de pontapés, ao que Mochizuki
responde: “Não sejas parvo! O que queres
dizer com essa pergunta? Empregamos
técnicas de pontapeio ou o que fizer falta.
Eu até já empreguei artilharia. As artes
marciais, as armas, a artilharia, todas são
Aikido. O que pensas tu que é o Aikido?
Pensas que se trata de retorcer braços? É
um meio de Guerra…, uma acção de
Guerra! O Aikido é uma luta com sabres de
verdade. Empregamos a palavra 'Aiki'
porque podemos sentir o pensamento do
inimigo que vem atacar, de maneira que
podemos responder de maneira imediata.
(…) Quando uma pessoa enfrenta um
inimigo estando em um estado mental livre
de toda ideia ou pensamento e é
instantaneamente capaz de lidar com ele, a
isso chamamos 'Aiki'. Em tempos antigos
se chamava 'Aiki no Jutsu'. Assim, a
artilharia ou qualquer coisa se torna 'Aiki'
(Ver: Aikidojournal.com).”
A mesma resposta dou a todos aqueles
que pensam que o Aikido não é combativo…
Bem, não sou eu quem dá a resposta, é a
resposta do próprio Mochizuki Sensei.
“Aiki” é tudo o que nos une com o rival,
uma técnica, tanto seja de chão, de
projecção, de imobilização, um ataque, uma
arma (recordemos que qualquer arma deve
ser a prolongação do braço e do nosso
corpo, pelo que estamos unidos com a
nosso arma, sendo um com ela)…
Neste trabalho apresento o caminho
combativo transmitido por O'Sensei a
mestres como Mochizuki. De certo não é
menos válido que o transmitido ao Doshu!
Referindo-me agora à maneira pouco
responsável como foi criticada a minha
escola de Aikido, e digo pouco responsável
porque nenhum dos que empregaram tempo
e esforço tentando desprestigiar o Aikido
que eu pratico, soube dar-me uma
explicação válida de porquê o Aikido não
pode renascer no caminho do qual surgiu, o
caminho marcial. Isto sem ter em
consideração que a crítica não construtiva,
unida a um completo desconhecimento do
nosso método de trabalho, não faz senão
aumentar a imensa bola de neve da
ignorância e cresce e cresce! Quanto mais
critiquem o meu método, a minha escola, a
minha pessoa, o meu Aikido…, mais me
deixam saber que estou no bom caminho,
pois assim aconteceu com grandes mestres
que foram criticados ao máximo e hoje
chegaram a ser o que são, como é o caso
do próprio O'Sensei. Não me queixo disso; é
mais, prefiro que continuem a criticar pois
assim alimentam a minha convicção e
determinação de continuar lutando por um
Aikido mais marcial. Espero que esse dia
chegue e até então, as portas do meu dojo
estão abertas a todos aqueles que cheios de
curiosidade e respeito, queiram vir constatar
de primeira mão o que eu entendo por
Aikido, como Caminho da Harmonia e da
União com o Universo…
Até breve!
Reportagem
56
Em todas as artes e ciências
de tanto em tanto surge e se
destaca alguém emblemático
que origina uma grande
mudança e será recordado
como modelo nas gerações
futuras. Em física foi Albert
Einstein, nas Artes Marciais
Bruce Lee e no Boxe, indiscutivelmente foi Mohamed Ali. Na
opinião dos especialistas, historicamente, dos dez combates de Boxe mais destacados
por sua importância e qualidade, sete foram protagonizados
por Ali.
Hoje, de esta tribuna Marcial
rendemos justa homenagem a
quem foi o melhor de todos,
numa reportagem de um grande conhecedor e magnífico
repórter Marcial,
Pedro
Conde.
Muhamed Ali,
simplesmente o Maior
Muhammad Ali nasceu em Louisville
(Kentucky), a 17 de Janeiro de 1942. Foi
baptizado com o nome de Cassius
Marcellus Clay, nome que depois trocaria
por outro, devido às suas crenças religiosas.
Teve uma boa infância, decorrendo este
período da sua vida em um bairro de classe
média. A família Clay possuía alguns
veículos para transporte. Talvez a grande
diferença entre ele e o resto dos pugilistas
radicasse em que Cassius Clay entrou neste
desporto por gosto, não por necessidade,
apesar de que não desdenhasse obter fama
e dinheiro com ele.
Joe Martin, um de tantos polícias que
patrulhavam em Louisville, era proprietário
do ginásio Columbia, onde os jovens da
cidade treinavam com os poucos meios
disponíveis, batendo em sacos cheios de
remendos e realizando lutas com umas
luvas que pelo seu tamanho e peso (onças)
os faziam parecer ainda mais pequenos.
Este agente da lei foi fundamental para a
carreira do pugilista, possivelmente uma
das poucas pessoas a quem Ali deve parte
de seu êxito. Martin lembra com todo
detalhe aquele dia do Verão de 1954,
quando um garoto magrizela de 12 anos de
idade, entrou no seu ginásio. O pequeno
Cassius Marcellus Clay estava em pranto,
chorava porque alguém lhe roubara a sua
bicicleta de 60 dólares, que o pai tinha
comprado apenas dois dias antes. Martin
deixou o que estava a fazer e ajoelhou-se
p e r t o d o g a ro t o p a r a o c o n s o l a r. O
pequeno acabou de contar a sua história
dizendo uma coisa que o impressionou:
"Se apanho o garoto que roubou a minha
b i c i c l e t a , v o u d a r- l h e u m a b o a s o v a ! "
Martin respondeu que antes de tentar bater
em alguém, devia aprender a lutar… Este
foi o começo de uma relação que iria durar
o Maior
seis anos, entre Cassius Clay e Joe Martin.
Cassius passou a ser um garoto do ginásio
Columbia.
Joe Martin era muito exigente no seu
ginásio, suas palavras eram lei: "Se eu dizer
que na rua está a chover, não quero ver
ninguém indo à janela para ver se é verdade!"
Cassius comia e dormia em casa de seus
pais, onde recebia amor e carinho, mas
praticamente morava no ginásio, onde dava
atenção ao que lhe diziam e aprendia… "Eu
fiz com que ele e o seu irmão Rudy
aprendessem o que é a disciplina", lembra
Martin.
Texto e fotos de arquivo: Pedro Conde
57
Boxe
O jovem pugilista participava em todos os saraus da categoria
amador que organizava o seu treinador todas as semanas. Em
breve seria conhecido nas ruas de Louisville como "o garoto das
mãos rápidas". As suas vitórias nos ringues proporcionaram-lhe
uma certa fama, mas isso não modificou a sua relação com o
treinador.
"Esse garoto estava sempre a falar - lembra Martin - por vezes
tinha de gritar com ele para que se calasse. Se não se calava,
apanhava um bofetão. Precisava que alguém estivesse sempre a
lembrar-lhe o que era disciplina…”
Anos depois, quando Cassius estava prestes de obter o
Campeonato do Mundo na categoria dos Pesos Pesados, Martin se
encontrava em Miami assistindo aos treinos. Nesse momento o
treinador de Ali era Angelo Dundee e em dado momento, tentou pôr
o roupão nos ombros de Clay, mas este empurrou-o. Martin disse:
"Se me tivesse feito isso a mim, a pistola teria estado encostada na
sua cabeça"
Martin podia falar assim porque o certo é que além de ajudar
Cassius a ser disciplinado, o preparara conscienciosamente para a
Jogos Olímpicos realizados em Roma em 1960, onde conseguira a
medalha de Oiro na categoria de semi-pesados. Clay se sentira
comovido com tudo aquilo. Tinha ganho o máximo prémio, escutara
o hino americano tocado em sua honra e recebera os aplausos,
parabéns e outras demonstrações de adesão por parte de seus
compatriotas.
Clay percebeu de que se encontrava em um momento óptimo
para poder conseguir o que se quisesse, tinha obtido fama e êxito
inesperados, sentia que havia um monte de gente que o apoiaria de
maneira incondicional. Tudo em sua volta eram expressões de
patriotismo pelo que alcançara…
Quando regressou aos Estados Unidos, o recebimento foi
apoteótico, grandioso. Mas quando chegou a Louisville as coisas
mudaram. Um dia foi com uns amigos a um restaurante e foi-lhe
negada a entrada por ser negro. Este facto, junto com alguns
outros, levaram-no a perceber a realidade; uma tão grande
decepção não tinha nele precedentes…, acreditara que com a
medalha de oiro, os problemas raciais tinham acabado para ele.
Tinha sido uma ilusão!
Quando ganhou a medalha prometeu a si mesmo que sempre a
levaria consigo; mas quando descobriu esta série de
acontecimentos, sentiu vergonha. Tinha representado um país que
ele pensava que era diferente, um país onde existia a igualdade de
raças e credos, mas aquilo só era uma ilusão. Por isso, atirou a sua
medalha ao rio Ohio… Ele não tinha representado os Estados
Unidos para isso!
Além deste apreciado troféu, também conseguira o título de
Golden Gloves, máximo galardão da categoria amador e todos
prognosticavam que o aguardava um brilhante futuro na categoria
profissional.
Martin pensava que quando passasse a essa categoria
continuaria sob a sua tutela, mas levou uma decepção, pois Clay se
integrou em um sindicato formado por 11 homens de negócios por
10.000 dólares, um salário garantido de 4.000 dólares anuais
durante os primeiros dois anos e 6.000 durante os seguintes seis
anos.
William Faversham, executivo de uma importante companhia de
álcool, era o chefe do sindicato. Homem perspicaz e compreensivo,
Faversham queria que Cassius tivesse uma certa segurança
financeira. "Não queremos que acabe como Joe Louis, uma parte
de tudo quanto ganhar será destinada a um fundo de pensão que
não poderá usar até ter 35 anos ou quando deixar o Boxe e
cuidaremos de que se lhe seja pago devidamente".
Para o seu antigo preparador foi um golpe baixo, o seu critério
distava muito do que pensava Clay. Martin só via uma dúzia de
homens de negócios que pensavam que Clay era um bom
investimento e que aplicando nele alguns dólares podiam fazer-se
milionários, uns intrusos que vinham aproveitar o suor do seu
trabalho. Certamente, era preciso descartar qualquer ideia de
altruísmo…
Bill Faversham, que conhece Clay melhor que ninguém, declarou
uma vez: "Em geral, tem medo do mundo, mas em especial, o facto
de ser Cassius Clay é do que tem mais medo. Devem saber que
58
nele não há maldade alguma, para ele, para passar
um momento agradável bastam umas bolas de
gelado e um sumo de laranja".
Já consagrado como
pugilista abandonou
aquele sindicato e
também abandonou
Bill. Converteu-se ao
Islamismo, passando a
chamar-se Muhammad
Ali.
Desde então não quer
ouvir falar no nome de
Cassius
Clay,
por
considerar que é um nome de
"escravo". As suas estranhas
ideias, ou o nome com que seja
chamado, pouco importa, o
importante é a inacreditável
marca que deixou no
desporto profissional. Este
jovem
fanfarrão
que
chamava a atenção do
público recitando as suas
poesias e predizendo o
assalto em que ia nocautear o
seu rival, era chamado
palhaço e desapareceria tão
rápida e fugazmente como
surgira no mundo do Boxe.
Mas o fanfarrão nunca perdeu
uma luta e seus rivais
habitualmente
acabavam
nocauteados exactamente no
momento que tinha anunciado.
Acertando quase sempre suas
"predições" formou-se em seu redor
um certo ambiente de invencibilidade
e começou a dizer-se que
Muhammad Ali era melhor que
qualquer dos campeões que já eram
lenda: Johnson, Dempsey, Louis,
etc. Ali era qualificado como o
melhor pugilista da história, o que
ele não desmentia.
Bill Favershan e o sindicato
contrataram um treinador experiente
para que treinasse Ali, que não era
outro que o já legendário, Angelo
Dundee. As directrizes deste eram muito
específicas: "Fazer dele um campeão e
mantê-lo longe de qualquer género de
problemas”. Dundee não recebia um
grande salário porque esperava obter
grandes ganhos no futuro; mas até estes
chegarem, recebia apenas 125 dólares
semanais. Quando o lutador não estava
treinando, não recebia nada, mas os dias das
grandes remunerações acabaram por chegar, tal
como Dundee esperara. Era um bom negócio
para um pequeno treinador, que tinha uma certa
reputação de manter seus lutadores contentes,
inclusivamente durante os árduos treinos.
Angelo e Clay já se conheciam com anterioridade
a se unirem no grupo Faversham. Dundee lembrase bem do primeiro encontro:
“Em 1957, eu estava em Louisville com
Willie Pastrano. Willie era campeão do
mundo dos pesos semi-pesados.
Estávamos no quarto do hotel e
telefone tocou. Respondi e do outro
lado escutei uma voz que parecia ser
Grandes Lutadores
de uma criança. Disse-me chamar-se Cassius
Marcellus Clay e que ganhara a medalha de
oiro nas Olimpíadas. Perguntou se podia ir
até o quarto para eu a ver. Não parava de
falar, dizia um monte de coisas sobre mim e
sobre todos os meus lutadores, juntando que
me conhecia por me ver a televisão. Mandei
aquele garoto calar-se durante um minuto,
então disse a Pastrano que um maluco estava
lá em baixo e queria subir, ao que ele
respondeu: Deixa-o subir.
Cassius subiu com seu irmão Rudy.
Ficaram umas três horas e durante todo esse
tempo perguntava a Pastrano: Quantas
milhas corres por dia? O que comes à
refeição antes de uma luta? Quanto sumo de
laranja bebes quando treinas? e coisas deste
género…
Clay e Pastrano embirraram um com o
outro logo de entrada. Cassius me pediu que
o deixasse combater com ele e eu disse que
perguntasse a ele. Willie aceitou e no dia
seguinte se enfrentaram no ginásio Columbia,
de Joe Martin.
Clay parecia imenso e Willie muito mal. Só
se enfrentaram durante um assalto, porque
não os deixei continuar. Disse a Willie que
não estava em forma, que era melhor parar,
para justificar a que tinha acontecido. Mas ele
não aceitou nenhuma das minhas desculpas
e disse-me: Angie, este garoto é realmente
bom.”
“Nenhum lutador em
toda a história
treinou mais
arduamente que
Clay, chegou a fazer
uma média de
160 assaltos com
sparring,
quando preparava
um combate de
8 assaltos”
Sob a atenta vigilância de Angelo Dundee,
Clay aprendeu todos os pormenores do
Boxe, do treino e do negócio que existente
em redor. Dundee estava surpreso pela
inacreditável rapidez deste jovem, mas ainda
mais por sua grande ambição por chegar a
ser rico e famoso.
"Não podia tirá-lo do ginásio - assinalava
Dundee. Inclusivamente depois de apagar as
luzes ele ficava fazendo sombra. Queria fazer
Boxe com toda a gente do ginásio. Não se
importava se era um peso mosca ou um
pesado, dizia que precisava treinar."
Nenhum lutador em toda a história treinou
mais e mais duro que Clay. Chegou a fazer
uma média de 160 assaltos com sparring,
quando preparava um combate de 8
assaltos. A maioria dos lutadores faziam uma
média de 50 assaltos por cada combate de
10. A 29 de Outubro de 1960, Clay fazia a
sua estreia como profissional, combatendo
com o jovem Tommy Hunsacker, que era
como uma rocha. O encontro teve lugar em
Louisville. Nos seguintes seis meses
combateu e dançou enquanto se
encaminhava às suas seis vitórias
consecutivas, cinco delas por K.O.
Em Junho de 1961, Cassius e Dundee se
encontravam em Las Vegas para realizar um
combate a 10 assaltos com Duke Savedom.
O facto de Cassius vencer aos pontos não foi
um desmérito na sua carreira, o que
realmente marcou a sua aparição foi a
entrevista que deu antes do combate. Com
ele apareceu o famoso lutador de Luta-Livre
Georgeous George. Esta seria a última vez
que Cassius deixaria que alguém lhe tirasse
o protagonismo. Estava fascinado pela
maneira em que George falava, como se
vestia, como pintava de louro os cabelos e
acima de tudo pelo seu comportamento em
geral e foi vê-o lutar no dia seguinte. Ficou
fascinado ainda mais pela gente que ia
ver o homem dos cabelos dourados. A
experiência com George mudou
radicalmente a personalidade de Clay e
também a sua vida. Começou a imitá-lo.
Nunca parava de falar e de alardear da
sua grandeza. Modelou a sua figura e
começou a surgir o novo Cassius. O
mundo nunca voltaria a ser o mesmo.
Continuou vencendo os combates com
margens muito amplas. Os organizadores
de todo o país começaram a reparar
neste jovem das mãos rápidas de
Louisville, apesar de que falava muito.
Não obstante, existiam certas dúvidas,
um factor desconhecido e imprevisível.
Poderia encaixar um golpe na
mandíbula? Continuaria a bater depois de
tocado ou procuraria a primeira saída
para correr longe? Até aquele momento
ninguém o tinha tocado…
As respostas chegaram no combate
contra Alex Miteff, um sul-americano duro
e depois com Sonny Banks, o do golpe
de serpente. Miteff, conhecido por seu
brutal corpo a corpo, deixou cheias de
nódoas as costelas de Clay, mas ele
encaixou os golpes e continuou,
abatendo-o no sexto assalto. A
especialidade de Sonny era manter a
distância com o adversário batendo-lhe
com o punho direito. Sonny enganou
Cassius, pois em vez de bater-lhe com a
direita, batia com a esquerda, Cassius
caiu. Na opinião de Angelo Dundee e
outros especialistas em Boxe, tinha
chegado o momento da verdade. Iria
levantar-se Clay ou esperaria o arbitro
acabar de contar? Mas logo que Clay
tocou o chão, voltou imediatamente em
59
Boxe
pé. Dundee não só se tranquilizou como
também ficou espantado. "Foi fantástico",
lembrava Angelo. O alívio de Dundee tornouse alegria quando no 4º assalto Cassius
tombou Banks.
1962 foi um bom ano para Cassius.
Conseguiu seis K.O. em seis combates.
Antes de lutar com Archie Moore recitou um
dos seus famosos versos: "I'll say it again,
I've said it before. Archie Moore will fall in
four" (“Direi outra vez o que já antes disse:
Archie Moore vai cair em quatro”).
O idoso Archie gozava de grande
reputação apesar da sua avançada idade;
como curiosidade podemos dizer que este
pugilista já lutava na categoria de profissional
sete anos antes de Clay nascer. Por isto,
para os detractores de Cassius, este
combate era só uma montagem, onde um
profissional com grande prestígio, mas já
acabada a sua carreira pugilista, serviria de
lançamento a esta jovem promessa.
Os prognósticos se cumpriram sem
surpresas. Archie Moore caiu no quarto. A
quantia arrecadada no Arena de Los Angeles
foi recorde na Califórnia, 182.599 dólares,
mais um adicional de 223.455 dólares por
direitos de transmissão na televisão a cabo.
Na terceira fila estava o Campeão dos pesos
pesados Sonny Liston. Quando o vitorioso
Cassius se dirigia para o vestiário, parou
diante dele e assinalando com um dedo para
o nariz de Sonny, disse "Tem cuidado
pequenino. Preciso de ti, vou dar-te uma
surra como se fosse teu paizinho". Liston
levantou seu punho e gritou: "Vai dormir
criança, antes de eu te dar uns açoites no
rabo".
Cassius concentrava na sua pessoa todas
as atenções sempre que ia combater. Todos
riam com os seus versos mas ficavam
realmente surpreendidos quando acontecia o
que ele dizia. No entanto, Clay não tinha a
certeza de quando iria cair Doug Jones.
Desde que pisou o Madison Squear Garden
na noite do 13 de Março de 1963, mudou de
opinião três vezes. Primeiro disse que seria
no terceiro assalto, depois no sexto e mais
tarde diria que no oitavo. Esta incerteza não
era do agrado a Angelo Dundee. Precisavam
sair disso. Angelo deu com a resposta: "Puslhe um adesivo na boca - lembra Dundee - e
fizeram-lhe muitas fotografias que
apareceram em todos os jornais. Zangou-se
comigo por não poder anunciar o assalto,
mas penso que fiz bem". Jones ainda se
mantinha em pé no final do décimo assalto,
mas Clay venceu aos pontos.
Cassius marcou outro recorde de público
em Junho de 1963, em Londres, Inglaterra.
Mas teria de se levantar da lona antes de
nocautear o melhor pugilista inglês Henry
Cooper, no quinto assalto. O gancho da
esquerda que derribou Clay foi um dos
golpes mais duros que teve de encaixar
durante toda a sua carreira. Foi o golpe do
qual Dundee o vinha avisando. "Eu tinha dito
para se manter fora do alcance da mão
esquerda de Cooper - lembra Angelo - mas
teve de aprender isso da maneira mais dura".
De volta nos Estados Unidos, Clay mudou
suas críticas a Sonny Liston para uma
60
“O que me podes
dar, América?
Pretendes que eu
faça o que os
homens brancos
mandam, que vá
lutar contra gente
que desconheço?
Queres que consiga
um pouco de
liberdade para outra
gente, enquanto a
minha gente não tem
liberdade na sua
própria casa?”
maneira que chamava muito mais a atenção.
Tentou saltar ao ringue em Las Vegas, antes
de que Sonny Liston nocauteasse Floyd
Patterson, como numa tentativa de atacar o
campeão. Sonny quis responder a Clay mas
quatro polícias impediram isso. Então
Cassius pegou no microfone do ringue e
insultou Liston, tratando-o de covarde e urso
feio e velho. Tudo isto pertencia ao
espectáculo anterior ao combate que todos
esperavam. Caso se pensasse que Liston era
o homem que devia fechar a boca desse
garoto, não se apostaria tanto por Cassius.
Finamente chegou o grande momento.
Tudo aquilo pelo que Cassius Marcellus Clay
tinha trabalhado e sonhado desde que pela
primeira vez bateu no saco do ginásio de Joe
Martin, em Louisville, ia tornar-se realidade.
Cassius estava pronto para a grande prova.
Estava perfeitamente preparado: 1,95m de
altura, 100kg de peso, longos e definidos
músculos e nem uma grama de gordura no
corpo.
Ficou combinado que a grande luta teria
lugar na noite de 25 de Fevereiro de 1964, no
Convention Hall, em Miami Beach, Florida.
Antes do início da noite, Clay teve um
comportando um tanto histérico, a tal ponto
que Alexander Robins, o médico
encarregado do reconhecimento antes da
luta, esteve a pontos não deixar que Clay
participasse do evento, devido ao pulso
acelerado que mostrava ter nesses
momentos.
Enquanto seu irmão Rudy e seu amigo
Sugar Ray Robinson, que tinham viajado até
Miami para estar com Clay, tentavam
acalmar o aspirante, Liston se encontrava
confortavelmente sentado como se fosse
uma estátua de pedra, assistindo ao que
mais tarde chamaria "o melhor espectáculo
de circo que jamais tinha visto".
Uma nuvem de jornalistas chegados a
Miami vindos de todo o Mundo, esperavam
ansiosos à porta do vestiário de Clay, quando
faltavam segundos para as dez da noite. O
momento tinha chegado. O que viram
quando se abriu a porta, deixou-os atónitos,
Clay aparecia com uma expressão de
absoluta calma e a sua cara não mostrava
estar nada inquieto. Um de tantos repórter
disse: "De certeza tomou alguma coisa para
sair assim calmo do vestiário".
Clay esquivava os golpes de Liston e
chegava com suma facilidade à cintura
quando Liston tentava o corpo a corpo. No
segundo assalto, a esquerda de Cassius
começou a impactar no rosto de Sonny, no
nariz e nos olhos. Mas no quarto assalto,
Clay começou a esfregar seus próprios
olhos, dava a impressão de que nenhum dos
dois pugilistas podia ver bem. Quando
Cassius voltou para o seu canto finalizado o
assalto, disse a Dundee que pensava que
devia abandonar: "Não consigo ver". Dundee
respondeu que se acalmasse. Lavou os olhos
de Clay e quando o sinal anunciava o quinto
assalto, Dundee levantou Cassius e
empurrou-o para que saísse da esquina.
Clay se manteve em movimento até a
comichão nos seus olhos desaparecer. O
árbitro Barney Felix explicaria depois que
esteve a pontos de desqualificar Clay:
"Quando tocou o sinal para dar início ao
quinto assalto, Clay parecia não querer sair.
Eu gritei: “Com os diabos Clay, sai daí". Felix
também diria depois: "Se nesse momento
não tivesse saído, eu teria dado por finalizado
o encontro".
Menos de 10 minutos mais tarde Sonny
Liston estava acabado. Entretanto, Clay
estava pletórico e com vontade de lutar, mas
o campeão, ciente de que se tinha magoado
em um ombro lançando um soco, resolveu
não sair e abandonar no sétimo assalto.
Depois disto, Clay se dirigiu ao público
dizendo: "Sou o maior".
Talvez levada pela imprensa, surgiu uma
campanha contra Clay, que naquela época
estava muito influenciado por um predicador
de nome Malcom X, que era um Muslim
(homem que se entrega por inteiro a Ala e à
doutrina do Islão). A sua oratória girava em
torno à opressão que padecia a raça negra
nos Estados Unidos. Para muitos grupos,
todas estas declarações atentavam contra o
sentir patriótico dos norte-americanos, mas
Malcom X encontrou em Cassius Clay um
dos seus mais ferventes admiradores. Tão
influenciado estava que um dia, depois do
seu combate com Sonnv Liston, confirmou
ao mundo o que até então era um rumor, se
tinha convertido em um Muslim negro e o seu
"autêntico" nome era Muhammad Ali. "Não
quero que, nunca mais alguém me torne a
chamar por meu nome de escravo". Malcom
X morreu assassinado, tendo-se sentido Clay
um pouco desorientado até encontrar outro
predicador chamado Elijah Mohammad,
último mensageiro do “Found Nation of
Islam”.
Depois do combate com Liston lutaria em
Las Vegas com Floyd Patterson durante doze
assaltos, até que o seu adversário caiu por
61
Grandes Lutadores
K.O. A 29 de Março de 1966, em Toronto
enfrentaria George Chuvalo, a quem venceu
por decisão unânime após 15 assaltos.
Depois do combate Ali declarava: "A cabeça
de Chuvalo é a coisa mais dura em que
jamais bati".
No dia 21 de Maio do mesmo ano, em
Londres, combatia contra Henry Cooper, ao
qual venceu no sexto assalto e que acabou
com um olho em sangue.
Brian London seria outro pugilista que iria
cair sob o peso dos punhos de Ali, em 6 de
Agosto de 1966, no terceiro assalto.
Em turné que o levou pela Europa, em
Setembro do mesmo ano, teve ocasião de
combater contra Karl Mildenberger, a quem
nocauteava no 12º assalto.
Em Novembro, no dia 14 em Houston
(Texas), mandaria à lona Cleveland Williams
no terceiro assalto. "Talvez agora me
considerem como um bom lutador" - disse
Clay. A 6 de Fevereiro de 1967, também em
Houston, lutaria contra Ernie Terrell, Campeão
da WBA. Este pugilista não reconhecia o
mudança de nome de Muhammad Ali e
chegou a realizar várias declarações irónicas
acerca de suas crenças. Isto irritou
muitíssimo Ali, pelo que durante todo o
combate, enquanto não deixava de bater-lhe
humilhá-lo no ringue, ia perguntando: “Qual é
o meu nome?" É geralmente aceite o facto de
Clay não ter querido forçar o K.O. para poder
espancar Terrel.
Pouco tempo depois, Ali foi requerido para
fazer o Serviço Militar, ao que se negou,
sendo chamado a um tribunal militar onde a
15 de Maio de 1967 foi acusado de
insubmisso. Ali declarou:
“O que me podes dar, América? Pretendes
que eu faça o que os homens brancos
mandam fazer, que vá lutar contra gente que
não conheço? Queres que consiga um pouco
de liberdade para outra gente, enquanto que
a minha gente não tem liberdade na sua
própria casa? Queres que tenha medo do
homem branco, que pegue em fuzis, que
dispare e mate e então me darão dez
medalhas, me darão umas palmadinhas nos
ombros e dirão: "Bom garoto, lutaste pelo teu
país…"
Devido a esta sua negativa, os Presidentes
das diferentes associações de Boxe tiraramlhe o título de Campeão Mundial. Naquela
época foi a única maneira de lhe tirar o título,
pois não existia pugilista nenhum que
pudesse derrotá-lo. Por Sentença do Tribunal
Militar foi condenado a cinco anos de cadeia,
o que o afastou do Boxe por algum tempo.
Três anos depois saía da prisão pagando
uma fiança, voltando a preparar a sua
“Sob o vigilante
olhar de
Ângelo Dundee,
Clay aprendeu
todos os
pormenores
do Boxe,
do treino
ao negócio que
o envolve”
carreira pugilista, para muitos já acabada.
Clay tinha o firme convencimento e propósito
de voltar a conseguir o que lhe tinham tirado.
Para isso teve de vencer Jerrv Quarrv e
Oscar Bonavena, para disputar o
Campeonato do Mundo contra Joe Frazier,
no dia 8 de Março de 1971, que Ali perdeu
devido a um gancho dado por Frazier nos
últimos instantes do combate. Depois se
sucederam uma série de combates em que
cabe destacar seu encontro com Ken Norton,
quando Ali teve de retirar-se com a
mandíbula partida, devido de um terrível
soco de Ken Norton. Esta foi uma das
poucas derrotas da carreira de Ali. Com o
tempo teria um desquite com o mesmo
lutador, a qual só conseguiu vencer por
pontos.
Foreman tirou o título mundial a Frazier,
pelo que o desquite entre este e Ali teve de
ser adiado por um tempo. O objectivo
principal de Clay era conseguir o título. O
encontro entre ambos teve lugar em
Kinshasa, capital do Zaire, a 30 de Outubro
de 1974, sendo este o primeiro Campeonato
do Mundo de Boxe que se realizava num país
africano de raça negra. Este combate tinha
um matiz político que beneficiaria
enormemente Mobutu, Presidente daquele
país, sendo o objectivo deste e Ali, chamar a
atenção de milhões de pessoas para os
problemas do terceiro mundo.
Depois de desta luta ser adiada um mês,
devido a um corte que Ali sofreu em seu olho
esquerdo e com um Foreman em plena
forma, as apostas estavam três a um a favor
de Foreman. O combate foi provavelmente o
mais difícil da carreira de Ali, o qual venceu
devido à sua táctica. Sendo ciente de que
não tinha a fortaleza física de Foreman,
levou-o a se esgotar com o que ele
descreveu como “as cordas envolventes". Ali
se deixava empurrar pela elasticidade das
cordas realizando esquivas e descansando
sobre elas, enquanto Foreman lançava
continuadamente seus punhos, o que aos
poucos o levou ao cansaço, momento que
aproveitaria Ali para mandar seu adversário à
lona.
Já vencedor e em posse do Campeonato
Mundial, o público ansiava ver o desquite
contra Joe Frazier. Ali se preparou para lutar
contra o único homem com quem tinha
lutado e não tinha vencido. O combate
suscitou grandes expectativas em todo o
mundo e teve lugar a 1 de Outubro de 1975,
em Quezon City, Filipinas. O encontro foi
denominado "A Comoção de Manila” (“Thrilla
in Manila").
Neste combate, Ali tomou a iniciativa nos
primeiros assaltos, parando os ataques de
Frazier com séries de rápidas combinações à
cabeça; mas nos assaltos intermédios Frazier
pareceu despertar e começou a atacar
utilizando seu gancho de esquerda ao
queixo. Estes ataques, junto com o calor
reinante e a grande humidade do ambiente,
levaram Ali a pensar na retirada. Entretanto,
reagiu e utilizou ao máximo toda a sua
habilidade, dominando claramente nos
últimos assaltos, até que o treinador de
Frazier, Eddie Futch, parou o combate nos
começos do 15° assalto. Depois do combate
Frazier declararia: “Dei-lhe socos que teriam
derribado paredes". Por sua vez Ali diria:
“Isto foi o mais perto que estive da morte".
A partir de então, Ali não voltaria a ser o
mesmo, a sua carreira foi declinando. No dia
2 de Outubro de 1980 enfrentou o Campeão
Larry Holmes, mas teve de retirar-se no 11º
assalto dizendo: "Parem já este homem,
parem". Holmes tinha acabado com quem
fora seu grande ídolo. Para todos foi o
melhor de todos os tempos.
Faz anos que este campeão vem lutando
no mais difícil de seus combates, frente um
rival que não tem cara, nem corpo mas que
magoa muito mais que os socos de qualquer
outro, o "Parkinson", com o qual realiza o
combate mais difícil da sua vida.
Segundo a opinião de muitos e de quem
isto escreve, Mohamed Ali é o maior da
história do pugilismo. Poder-se-á estar o não
de acordo com esta valoração, mas o certo é
que no Boxe há um antes e um depois de Ali;
se ele não tivesse existido, o Boxe não seria
o que hoje é, pois Ali mudou muitos dos
registos do pugilismo, criando em seu
momento uma expectação pelo Boxe até
então desconhecida.
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NOVEDADE!
Atenção novo livro!
Pedidos
Cinturão Negro,
Andrés Mellado 42
28015 MADRID
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PVP.: 24,95€
¡Todo el mundo sabe quien es Bruce Lee! pero mas allá de la leyenda, había un hombre, un Maestro
de Artes Marciales, un pensador extremadamente curioso, incisivo y perspicaz, que dejó tras de si
mucho trabajo hecho y mucho mas sin hacer. Si hay una persona que sabe sobre esta materia, es sin
duda el autor de este libro. El dirigió una popular revista Marcial en España (Dojo) que lo fue durante casi
35 años, y 3 de ellos realizó otra con el nombre del propio Bruce Lee, una revista completamente dedicada a él. Sin embargo es ahora, libre de la esclavitud de preparar número tras número, cuando Pedro
Conde está desglosando lo mejor de si mismo, en sus habituales colaboraciones con Cinturón Negro,
una revista que si bien militaba en otra compañía, nunca le consideró como adversario. Hoy tengo el
gran placer de presentar esta obra magnífica sobre el pequeño Dragón, que además del cuidado texto
de Pedro, cuenta con una selección de fotos totalmente espectacular, incluyendo algunas muy raras,
incluso para nosotros que estamos en este negocio hace mas de 3 décadas. Un trabajo hecho con el
mimo que sabemos que merecen los amantes del pequeño Dragón, fieles a su figura, a su legado y
siempre atentos a todo lo que sobre él se publique.
Alfredo Tucci
Director de Citurón Negro
De entre os textos clássicos mais
antigos das Artes Marciais, o
Bubishi brilha por si mesmo. O
Mestre Pantazi realiza este novo
trabalho precisamente visando
voltar às raízes tradicionais das “6
Mãos de Ji” do Bubishi, aplicadas a
técnicas específicas sobre pontos
vitais. Apesar destas posições de
mãos serem únicas e seus efeitos
muito intrigantes, é quase
impossível praticá-las com os
métodos actuais, mas não percam
a esperança, posto que estas mãos
Ji podem ser o perfeito método de
transmissão da adaptação mais
moderna das aplicações Kyusho.
Atacando estas estruturas é
possível uma incapacitação mais
imediata, como acontecia com o
antigo método do Dim Mak, mas
sem propriamente causar nenhuma
doença nem outros efeitos
daninhos. Graças a décadas de
busca e treino, estes segredos se
têm desvelado aptos para
incapacitar e representam o
refinamento dos métodos de
ataque. Isso nos levou a dar a volta
inteira
ao
círculo
para
compreender as formas antigas e
evitar que se percam com a
passagem do tempo, ou por
mandato dos homens.
REF.: • KYUSHO17
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portada JULIO 07 España