RELATO DE CASO: RUPTURA ESPLÊNICA PATOLÓGICA POR DENGUE Autores: Luiz José Souza¹, Bruna Rodrigues Brandolini², Júlia Gomes Parente2, Fernanda Boechat Machado Costa Pires2 Luiza Nascentes Machado3 1-Professor da Faculdade de Medicina de Campos e diretor do Centro de Referência da Dengue; 2-Acadêmica do 12º período da Faculdade de Medicina de Campos 3-Acadêmica do 8º período da Faculdade de Medicina de Campos INTRODUÇÃO A ruptura espontânea de baço é uma complicação rara e de diagnóstico difícil. Muitas infecções são conhecidas por levar à esta complicação, incluindo a mononucleose infecciosa, malária, febre tifóide, varicela, endocardite infecciosa, febre Q, influenza, aspergilose e dengue. Supõe-se que uma combinação de diminuição de fatores de coagulação e trombocitopenia grave podem levar a esse fenômeno, no entanto, o mecanismo exato de ruptura do baço na dengue não é claro. OBJETIVOS Relatar um caso de ruptura esplênica espontânea em paciente com dengue, ressaltando a importância do diagnóstico precoce. Exame físico sem alterações e exame laboratorial apresentava apenas plaquetopenia de 119.000. Com quatro dias de evolução, paciente retornou ao CRD relatando fraqueza e dor abdominal em quadrante superior esquerdo. Ao exame físico apresentava desidratação e PA 70 x 50 mmHg. Os exames laboratoriais apresentavam hematócrito 36,7%; hemoglobina 12,4 g/dl; leucócitos 12.300 cél/µL/mm3; plaquetas 21.000; TGO 567 / TGP 604. Foi internado e evoluiu com distensão abdominal, icterícia, hipotensão, taquicardia, taquipnéia, aumento da leucocitose e diminuição do hematócrito. Realizou USG abdominal total que evidenciou ascite abdominal e pélvica, baço de difícil avaliação com contornos irregulares. Realizou tomografia computadorizada abdominal que visualizou hematoma esplênico subcapsular e líquido livre em cavidade. MÉTODOS Análise de prontuário, exames complementares e pesquisa bibliográfica. RESULTADOS Homem, 53 anos, compareceu ao ambulatório do Centro de Referência da Dengue (CRD) no segundo dia de evolução com queixa de anorexia, cefaléia, dor retro-orbitária, febre, mialgia, prostração/astenia e tosse seca. Figura 1 : tomografia abdominal Foi submetido a laparotomia de urgência, sendo encontrada volumosa quantidade de sangue na cavidade abdominal e ruptura de baço ao nível do hilo esplênico. Realizou esplenectomia total e drenagem de cavidade. A terapia depende da hemodinâmica do paciente. Observou-se que nos casos de transfusão superior a dois hemoconcentrados, ou piora clinica do quadro a esplenectomia é indicada. A vacinação para S.pneumoniae e H.influenzae tipo B devem ser aplicadas no pós operatório imediato. No caso relatado a esplenectomia foi realizada, sendo curativa. CONCLUSÃO Figura 2 : peça cirurgica Foram solicitados também PCR do soro evidenciando o sorotopo DEN1 e exame histopatológico do baço, exibindo áreas de necrose, hemorragia e congestão No caso relatado, o paciente teve um quadro de dengue grave e uma complicação pouco descrita na literatura. Acredita-se que a ruptura do baço seja causada pela infiltração esplênica, consumo de fatores de coagulação e severa trombocitopenia. Resultam em hemorragias intraesplênicas e subcapsulares com risco de ruptura. O tratamento de escolha é a esplenectomia. -- REFERÊNCIAS Tabela 1 : Evolução de exames laboratorias DISCUSSÃO A ruptura espontânea do baço pelo vírus da dengue pode ser mal interpretada na síndrome do choque hemorrágico. O sangue intra-abdominal comporta-se como um elemento irritativo. 1: de Silva WT, Gunasekera M. Spontaneous splenic rupture during the recovery phase of dengue fever. BMC Res Notes. 2015 Jul 2;8:286. 2: Mukhopadhyay M, Chatterjee N, Maity P, Patar K. Spontaneous splenic rupture: A rare presentation of dengue fever. Indian J Crit Care Med. 2014 Feb;18(2):110-2. 3: Gopie P, Teelucksingh S, Naraynsingh V. Splenic rupture mimicking dengue shock syndrome. Trop Gastroenterol. 2012 Apr-Jun;33(2):154-5. 4: Bhaskar E, Moorthy S. Spontaneous splenic rupture in dengue fever with non-fatal outcome in an adult. J Infect Dev Ctries. 2012 Apr 13;6(4):369-72. 5: Liyanage AS, Kumara MT, Rupasinghe DK, Sutharshan S, Gamage BD, Kulathunga A, de Silva WM. An unusual cause for shock in dengue fever. Ceylon Med J. 2011 Sep;56(3):120-1. 6: de Moura Mendonça LS, de Moura Mendonça ML, Parrode N, Barbosa M, Cardoso RM, de Araújo-Filho JA. Splenic rupture in dengue hemorrhagic fever: report of a case and review. Jpn J Infect Dis. 2011;64(4):330-2.